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TÓPICOS
I
1. Explique sucintamente o que entende por:
a) Critério da exterioridade
- um dos critérios apontados para distinguir o Direito da Moral (0,2)
- segundo este critério, o Direito parte do lado exterior da conduta, apenas atribui relevância à
dimensão externa da conduta e não à atitude interna da consciência do agente (contenta-se com a
mera observância externa das respetivas normas); pelo contrário, a Moral exige uma intenção ou
atitude interior do agente de adesão à norma, sendo essa a dimensão relevante (0,6)
- críticas/observações (0,2)
c) Revogação tácita
- modo de cessação de vigência da lei que pressupõe a entrada em vigor de uma nova lei (0,4)
- resulta da incompatibilidade entre as disposições novas e as antigas ou ocorre quando a nova lei
regula toda a matéria da lei anterior (0,4)
- art. 7.º, nº 2, CC (0,2)
e) Norma ad hoc
- procedimento metodológico para integração de lacunas (0,2)
- só pode ser utilizado na falta de caso análogo (0,1)
- previsto no artigo 10º, nº3, CC (0,1)
- traduz-se na formulação da norma (regra) geral e abstrata que o intérprete (julgador) criaria
dentro do espírito do sistema (coerência lógica e unidade) (0,4)
- a valer apenas para o caso sub judice, sem adquirir caráter vinculante para futuros casos ou para
outros julgadores (0,2)
2.
a) Identifique e caracterize a técnica legislativa presente no artigo 423º, do Código
Civil.
- remissão (0,50)
- a lei, em vez de regular diretamente a questão de direito em causa, manda aplicar outras normas
(0,25)
- intrassistemática, opera dentro do mesmo sistema jurídico (0,25)
- remissão-extensão, a disposição legal em causa prevê a extensão do regime de certo instituto a
outro ou outros (0,50)
II
O artigo 494º, do Código Civil, estabelece, no âmbito da responsabilidade civil por
factos ilícitos, que “quando a responsabilidade se fundar na mera culpa, poderá a
indemnização ser fixada, equitativamente, em montante inferior ao que corresponderia
aos danos causados (...)”.
A interpretação desta norma tem suscitado divergências:
a) Uma parte da doutrina considera que a norma deve valer para todas as situações em
que a responsabilidade do lesante seja fundada na mera culpa ou negligência,
independentemente do grau de culpa do lesante, ou seja, quer o lesante tenha atuado
com negligência grave ou grosseira, quer tenha atuado com negligência leve ou
levíssima, pois onde a lei não distingue não deve o intérprete estabelecer distinções.
b) Outros autores defendem, pelo contrário, que a norma apenas pode valer para as
situações em que o lesante tenha agido com negligência leve ou levíssima, por um lado,
porque a responsabilidade civil assume, no sistema jurídico português, a finalidade
essencial de reparar integralmente dos danos sofridos pelo lesado, como resulta do
princípio geral expresso nos artigos 483º e 562º, por outro, porque constituindo a
negligência grave uma conduta que revela um grau de culpa elevado, sendo
merecedora de um forte juízo de censura pela ordem jurídica, não faz sentido admitir
que o lesado seja privado da reparação de todos os danos que lhe foram causados,
beneficiando o lesante de uma redução da indemnização que contraria o referido
princípio geral, finalmente, porque, apesar de na linguagem técnica mera culpa ser
sinónimo de negligência, o próprio texto da norma, ao adotar a expressão “mera
culpa”, parece apontar no sentido de a fixação da indemnização em montante inferior
ao dos danos causados apenas poder ser equacionada nos casos de culpa leve ou
levíssima.
Tendo em conta os resultados da interpretação que estudou, identifique e caracterize
os diferentes resultados a que chega a doutrina e, se for o caso, explicite os respetivos
argumentos.
- Alínea a): interpretação declarativa; (1,0)
- o intérprete limita-se a eleger um dos sentidos que o texto direta e claramente comporta (o
intérprete escolhe, de entre os sentidos literais possíveis, o mais frequente ou mais comum); (0,5)
- a letra da lei refere-se a "mera culpa", que é sinónimo de negligência, sem especificar ou
distinguir os graus da mera culpa; é com esse sentido que a norma deve valer. (0,5)
III
1. A Lei X, publicada a 4 de setembro de 2020, introduziu várias alterações ao regime
da reforma, nomeadamente, veio estabelecer que os funcionários públicos só se podem
reformar aos 65 anos, com 40 anos de serviço, tendo direito a receber (a título de
reforma) unicamente um valor correspondente a 90% da última retribuição.
2. Suponha que a Lei X, alterando o regime da reforma nos termos descritos no ponto
1, continha ainda uma norma do seguinte teor: “Os funcionários públicos que
completem 62 anos até 30 de junho de 2021 podem reformar-se, tendo direito a 95% do
último vencimento”.
Qual a finalidade visada por uma norma deste tipo e como se designa a mesma?
1. a)
- Uma vez que a LN não define o seu início de vigência, aplicam-se os art. 2.º, n.º 2, e 1.º, n.º 2,
da Lei n.º 74/98, que estabelecem um prazo de cinco dias desde o dia da disponibilização do
diploma no sítio da internet da Imprensa Nacional para o início de vigência da lei (vacatio
legis), ou seja, a LN teria entrado em vigor no dia 9 de setembro de 2020. (0,5 v);
- Temos um conflito de leis no tempo: (i) existe uma sucessão de leis no tempo, (ii) a LN vem
regular de forma diferente a mesma questão de direito (idade para aceder à reforma e valor
desta), e (iii) temos uma situação jurídica em contacto com as duas leis, pois quando
iniciou/desenvolveu a sua atividade estava em vigor uma lei (LA) e antes de atingir a idade de
reforma prevista nesta lei e que lhe conferia o direito a reformar-se, entra em vigor a LN. (0,75
v);
- A nova lei é imperativa - abstrai do facto que lhe deu origem, pelo que se aplica a LN (Lei X) à
situação de Eduardo (este ainda não tinha qualquer direito mas uma mera expectativa – extra)
(0,5 v);
- Eduardo não se pode reformar a partir de Dezembro de 2020, mas só se poderá reformar
depois de perfazer 65 anos e se tiver 40 anos de serviço (0,5 v)
b) Neste caso, não haveria sequer um conflito de leis no tempo, pois quando entrou em vigor a
LN Fernando já tinha (a 6/9/2020) adquirido o direito a reformar-se pelo qie não há um a Sj em
contacto com as 2 leis (0,75 v) – assim, aplica-se a LA (Lei Y) que vigorava no momento da
aquisição do direito (0,75 v).