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(3) Redunda na desarmonia jurídica internacional, visto que a lei aplicável varia
de acordo com a qualificação dada em cada ordenamento jurídico;
Com base nestas dificuldades, a doutrina portuguesa rejeita este método de qualificação.
Será que o conceito-quadro “divórcio”, para efeitos da regra de conflitos do art 55.º
CC, significa o mesmo que o conceito técnico-jurídico “divórcio”, para efeitos da lei
material portuguesa?
Interpretação do conceito-quadro
De acordo com o nosso sistema, vamos interpretar o conceito quadro à luz da lei do
foro – mas isto não significa que vão ser interpretados à luz do direito material da lei do
foro.
O que significa que vamos interpretar o conceito-quadro através da lei formal do foro: a
regra de conflitos.
Exemplo:
Sr. A e Sra. B são portugueses e residem na Alemanha. Na Alemanha constituíram uma
parceria registada (figura que não existe em Portugal – algures situada entre o
casamento e a união de facto).
Entretanto, vêm a Portugal nas férias do Natal e pretendem comprar um prédio. No
entanto, só a Sra. A é que vai ao notário (Sr. B está em isolamento profilático).
Ora, neste caso, é preciso determinar se esse prédio será próprio da Sra. A ou se será um
bem comum dos parceiros.
Será, portanto, necessário determinar os efeitos patrimoniais desta parceria registada.
Ora, no sistema jurídico português não existe nenhuma regra de conflitos sobre a
parceria registada, porque essa figura/instituto não existe no nosso OJ.
VEJAMOS:
O art. 53.º CC é uma regra de conflitos pensada para regimes de bens DO
CASAMENTO.
Podemos utilizar esta regra de conflito para determinar a lei aplicável ao regime de bens
da parceria registada? Será que a parceria registada consegue subsumir-se no conceito-
quadro desta regra de conflitos?
Outro exemplo:
E se se tratar de uma adoção de facto feita por um marido e uma mulher, nos Estados
Unidos, através de contrato privado.
Adoção para efeitos do art. 60.º CC não é adoção para o direito material português,
porque, para efeito da regra de conflitos, fazemos uma interpretação autónoma e
teleológica do conceito-quadro regra de conflitos do art. 60.º CC – vamos abranger no
âmbito do conceito de “adoção” todas as figuras afins, próximas do conceito de adoção
da lei portuguesa.
Com esta interpretação ampla, podemos utilizar o art. 60.º CC para determinar a lei
aplicável a esta adoção ocorrida privadamente.
EM SUMA:
Vamos interpretar cada conceito quadro de forma autónoma, isto é, vamos ter um
conceito especial e diferente para as regras de conflito; e teleológica, isto é, de forma
mais ampla – de acordo com a intenção do legislador, para que possamos subsumir nele
as figuras que nos apareçam.
Assim, garantimos a paridade de tratamento.
Em cada caso não é escolhida apenas uma regra de conflitos, e muito menos uma única
lei competente: elencamos um conjunto de regras de conflitos, determinando que, para
certas matérias valerão as normas da lei competente que, pelo seu conteúdo material e
pela sua função político-legislativa nesse ordenamento jurídico, devam considerar-se
relativas ao instituto detetado (através da interpretação autónoma e teleológica) no
conceito-quadro.
Assim, nos termos do art. 15.º CC, a competência atribuída a uma lei abrange: «somente
as normas que (…) integram o regime do instituto visado na regra de conflitos».
Os elementos relevantes para fazer esta qualificação de normas materiais são o seu
conteúdo (os seus efeitos jurídicos) e a sua função (a sua ratio legis, política
legislativa).
O art. 15º não manda olhar para a inserção sistemática das normas – mas sim para
o conteúdo e função. Pode haver normas de direito da família que estejam na parte das
obrigações.
CONTEÚDO
Conteúdo = efeito jurídico
FUNÇÃO
Para qualificarmos a normas, vamos atentar na sua ratio legis. Isto é, temos de atentar
nas políticas legislativas das leis envolvidas para a podermos qualificar.
Exemplo:
Sr. A e Sra. B têm nacionalidade portuguesa e residem na Suíça.
Celebraram em Portugal o contrato de compra e venda de um prédio situado na Suíça.
Escolheram como aplicável ao contrato a lei portuguesa.
Esta é uma situação absolutamente internacional, pois está conectada com mais do
que um ordenamento jurídico: OJ português e o OJ suíço.
Logo, é objeto do DIP.
Utilizamos, em simultâneo, várias regras de conflitos e, cada uma delas vai mandar
aplicar uma lei, só em parte (parcialmente).
Como vamos aplicar, em simultâneo, várias regras de conflitos – chegados a este ponto
– temos de fazer uma leitura da regra de conflitos à luz do art. 15.º CC.
● Em matéria de direitos reais aplica-se a lei Suíça, mas não é toda a lei
Suíça. São somente as normas da lei Suíça que, pelo seu conteúdo e pela função
que desempenha na lei Suíça, digam respeito ao regime dos direitos reais.
Ora, de acordo com o método de qualificação português não qualificamos factos, mas
sim normas materiais de todas as leis que estejam dos OJ que estiverem a ser chamados.
IN CASU:
Quanto ao problema sub judice (a quem pertence, afinal, a propriedade do prédio) – a
lei portuguesa resolve esta questão através do princípio da consensualidade (art.
408.º/1 CC): de acordo com o qual os direitos reais constituem-se ou transferem-se por
mero efeito do contrato.
Art. 432.º do CCivil Suíço – determina que os direitos reais só se transferem depois da
celebração do contrato + (e) depois do registo (sistema de título e de modo).
Função (ratio legis) – o legislador estabeleceu esta solução para facilitar e simplificar o
comércio jurídico sobre coisas.
Vamos agora qualificar (caracterizar), isto é enquadrar esta norma num conceito-
quadro:
Esta é uma norma sobre direitos reais (o legislador regula matéria de direitos reais no
art. 408.º CC).
o Esta norma vai enquadrar-se no conceito-quadro do art. 46.º CC.
ASSIM:
Como em matéria de direitos reais aplicamos normas da lei Suíça, então a norma do
art. 408.º CC não pode aplicar-se neste caso.
Função (ratio legis) – a política legislativa por detrás desta norma é a de promover uma
maior segurança jurídica na situação do prédios.
Qualificação da norma:
Esta é uma norma sobre direitos reais – logo subsume-se no conceito-quadro do art. 46.º
CC.
Como em matéria de direitos reais aplicamos normas da lei Suíça, e esta é uma norma
Suíça sobre Direitos reais, pelo que aplicamos esta norma.
IN CASU:
No caso em apreço, o prédio ainda não se transmitiu a B, porque, segundo a lei Suíça, a
propriedade só se transmite depois de estar registado. Como o senhor B não registou o
prédio, então a propriedade ainda não se transmitiu.
A propriedade do prédio pertence a A.
Ainda assim, as matérias jurídicas não são estanques – portanto podem surgir estas
situações: são os conflitos de qualificações – que motivam uma parte dos autores a
tomar partido do método tradicional.
Ou podem ser negativos, quando aplicamos leis diferentes a matérias diferentes, mas
para uma das leis não exista norma sobre o caso concreto. Isto é, podemos não encontrar
nas leis competentes, normas da matéria pela qual foram chamadas.
NORMA ALEMÃ:
Conteúdo (efeito jurídico) – aponta para os requisitos substanciais da validade do
casamento (o conceito só é substancialmente válido se prestado perante uma autoridade
estadual).
Subsume-se na regra de conflitos do art. 49.º CC
NORMA GREGA:
Conteúdo (efeito jurídico) – é uma norma sobre a forma do casamento (que diz que a
forma do casamento é necessariamente a forma religiosa, celebrado perante um
sacerdote ortodoxo).
Subsume-se na regra de conflitos do art. 49.º CC
Este conflito nunca aparece na teoria tradicional da qualificação, porque de acordo com
este método, só se aplica um única regra de conflitos, logo, só se aplica uma única lei.
SOLUÇÃO: