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2023
Lacuna, de acordo com Santo Justo, é a ausência de uma norma jurídica que
permita resolver uma situação da vida social que reclama uma solução
jurídica.
Assim para determinar se existe uma lacuna jurídica, é necessário, antes de mais,
averiguar se se trata de uma omissão ou um vazio no ordenamento jurídico ou se
a relação da vida social requer uma disciplina de natureza diferente: moral,
religiosa ou de trato social. Se for uma relação de vida social diferente do
direito, então não podemos falar de lacuna mas sim de uma espaço ajurídico, isto
é, um espaço livre do Direito1. Ja integração é a actividade intelectual
destinadaa encontrar a solução jurídica para uma lacuna. Aqui, o juiz actua
“praeter legem”.
O fundamento da integração resulta da necessidade da paz social que o direito
deve irrecusavelmente assegurar para permitir a convivência humana. Fruto dessa
exigência social, o legislador proibiu a denegação da justiça, determinando que “
o tribunal não pode abster – se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei,
art. 8º CC.
Daí que nesse processo integração de lacunas de lei, o intérprete, diante de si,
dois mecanismos: o recurso a analogia e a criação de uma norma ad hoc. É isto
que dispõe o art. 10º do CC.
Assim, em sede do Direito Tributário, o artigo 6º. , nº. 1, do CGT dispõe que
"os casos não previstos nas Leis Tributárias são regulados pela norma tributária
aplicável aos casos análogos e, na ausência dela, por normas de outros ramos
de direito aplicáveis às relações tributárias" e nada mais. O que nos parece que
no Direito Fiscal o legislador não tem em conta a criação da norma “ad hoc”.
Este preceito acolhe um princípio geral de admissibilidade da analogia no direito
tributário formal. Este assenta no facto de que a analogia não cria direito novo,
podendo e devendo ser sensível à teleologia, lógica e racionalidade do sistema.
Dentro destes parâmetros, a analogia reforça significativamente a eficácia das
leis tributárias. A integração analógica é admissível quando não estejam em
causa os tais elementos fundamentais, integrados no âmbito da reserva (relativa)
de lei da Assembleia Nacional.
Dito de outro modo, a analogia não pode violar os princípios da reserva de Lei e
da tipicidade da lei tributária por força do princípio da legalidade que circunda o
1
A. Santo Justo, INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO, 4ª ed. Coimbra Editora, 2009, p. 348.
direito tributário. Do artigo 6º, nº. 2, do CGT resulta que as lacunas que possam
resultar de normas abrangidas pela reserva de lei da Assembleia Nacional, que,
nos termos do artigo 165º. nº. 1, alínea o) da CRA, é uma reserva relativa, não
são susceptíveis de integração analógica. Isto é, não se admite a integração
analógica quando em causa estejam os elementos fundamentais dos impostos,
enunciados no artigo 102º. , nº 1, da CRA- incidência, taxa, de imposto,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes. Esta exclusão da analogia nos
elementos essenciais dos impostos tem como justificação o carácter ablativo do
Direito Fiscal e os princípios democráticos de direito e da separação de poderes
ínsito na reserva de lei.
No domínio do chamado direito fiscal sancionatório, o artigo 6º. , nº. 2, do CGT
proíbe a aplicação analógica das normas que definem infracções tributárias e
respectivas sanções.
Admite-se, contudo, a interpretação extensiva. Por esse motivo há que distinguir
esta figura da analogia. Neste caso, pretende-se preencher uma lacuna mediante a
aplicação, a um facto não abrangido pelos conceitos do facto tributário, de
princípios aplicáveis a este. Como se disse, a mesma é incompatível com a
reserva de lei. Na interpretação extensiva procura-se o verdadeiro sentido de um
conceito utilizado pelo legislador, sendo compatível com a reserva de lei. O
recurso à interpretação extensiva está, contudo, vedado quando estejam em causa
normas que definem infracções e estabelecem as respectivas sanções (art. 5º. ,
nº.3, da do CGT).
A interpretação de normas tributárias pela Administração Tributária, através de
despachos, instruções, circulares ou actos internos equivalentes não tem eficácia
externa, vinculando apenas os funcionários dela hierarquicamente dependentes
(art. 7º. , nº. l, do CGT). Trata-se aqui de uma decorrência do princípio da
legalidade tributária. Procura-se deste modo limitar o poder discricionário da
Administração e evitar que, através de actos interpretativos, a mesma se substitua
ao legislador.
2
Manuel Henriques de Freitas Pereira, FISCALIDADE, 2ª Ed. Almedina, Lisboa, 2007, p. 205.
lei anterior, depois de várias controvérsias, ficou resolvida pela Constituição de
2010.
O art. 102º CRA passou a prever no nº 2, de que se retira que ninguém pode ser
obrigado a pagar impostos que tenham natureza retroactiva, ou seja, ficou
constitucionalmente consagrado o princípio da não retroactividade da lei fiscal,
salvo normais de caracter sancionatórias quando favoreçam o contribuinte,
também o artigo 8º o Código Geral Tributário, nos seus nºs 1,2 e 3.
3
Casalta Nabais, direito fiscal, 6ª ed. Coimbra, 2010, p.226.