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Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET)

Andressa da Silva Camargo

SEMINÁRIO I – DIREITO TRIBUTÁRIO E CONCEITO DE “TRIBUTO”

São Paulo
Março/2024
1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Com
base em sua resposta, critique a seguinte afirmação: “Direito tributário é o
ramo do Direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o Fisco
e os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e fiscalização de
tributos”, e propor definição para “direito tributário”.

Pela palavra “direito”, dentro do “dicionário”, definimos como “conjunto de leis


formais que estabelecem a maneira pela qual se cobram os direitos, e as normas
que devem reger os atos judiciários”1. Todavia, entendemos que o direito é muito
mais que isso, é o complexo ordenado de normas que rege o comportamento da
sociedade, em outras palavras, governa as relações entre indivíduos.

Nas palavras do Professor Paulo Carvalho de Barros “Sistema é o discurso da


Ciência do Direito, mas sistema também é o domínio finito, mas indeterminável, do
direito positivo2”, assim, temos dentro do sistema o direito positivo e a ciência do
direito, compreendemos que o direito positivo são normas organizadas de forma
hierárquica (teoria de Kelsen), interpretadas pelo “homem” de forma técnica (pg.
268) e que resultam na ciência do direito – uma decorre da outra.

Ademais, quanto aos termos “direito positivo” e “ciência do direito”,


compreendemos que há diferenças entre referidas modalidades, porquanto o “direito
positivo” é o conglomerado de normas, analisados em sua objetividade (tempo,
modo e lugar)3, a “ciência do direito” analisa a aplicação do direito positivo,
interpretando e estudando as suas nuances.

1
https://www.dicio.com.br/direito/
2
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8. ed. São Paulo: Noeses,
2021. Item 1.1 (Sistema Constitucional Tributário), pg. 267.
3
Citamos o Professor Paulo de Barros Carvalho: “O direito positivo está vertido numa linguagem, que
é seu modo de expressão. E essa camada de linguagem, como construção do homem, se volta para
a disciplina do comportamento humano, no quadro de suas relações de intersubjetividade. As regras
do direito existem para organizar a conduta das pessoas, umas com relação às outras. Daí dizer-se
que ao Direito não interessam os problemas intrassubjetivos, isto é, da pessoa para com ela mesma,
a não ser na medida em que esse elemento interior e subjetivo corresponda a um comportamento
exterior e objetivo”.
Assim, dadas as considerações acima em ponderação com a citação: “Direito
tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre
o Fisco e os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e fiscalização de
tributos”, entendemos que a “limitação” do direito tributário como um “direito público
positivo” seria um “erro”, posto que referida matéria se acha num campo da ciência
do direito, porquanto se impermeia com diversos ramos do direito, não se resumindo
em apenas “arrecadar” e “fiscalizar”.

Por tudo exposto, podemos arriscar dizer que “direito tributário” é uma
“ciência do direito” que busca estudar a aplicação da lei nas relações entre Estado e
contribuintes.

2. Diferenciar “termo”, “conceito” e “definição”, trazendo exemplos para cada


um deles. O que é “conceito” e “definição”? Há definições no âmbito da
Ciência do Direito? E no âmbito do direito positivo? E o que é tributo?
Explique apontando se há uma “definição” ou “conceito” de tributo no direito
positivo? Com base na sua definição de tributo, quais dessas hipóteses são
consideradas tributos? Não esqueça de fundamentar suas respostas. (Vide
anexos I, II, III e IV):

Dado o questionamento acima, entendemos que “termo” é uma palavra ou


expressão, como por exemplo “contribuinte” é um termo utilizado para identificar o
sujeito passivo no direito tributário. Agora, por “conceito”, podemos compreender
como uma noção, pensamento ou ideia sobre determinado tema, exemplo o
conceito de tributário como ciência do direito. Por sua vez, a “definição” é a
explicação abstrata de um termo.

Tendo em vista as argumentações acima, podemos concluir que na “ciência


do direito” há conceitos e não apenas definições abstratas, haja vista que dentro da
ciência aqui referida os juristas e estudiosos buscam a interpretação dentro das suas
concepções e ideias. Da mesma lógica, dentro do direito positivo, há definições
objetivas para aplicação da norma.
Dadas as ponderações acima, no Código Tributário Nacional, temos a
“definição” de “tributo” no artigo 3º: “tributo é toda prestação pecuniária compulsória,
em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato
ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada”. Agora, quanto ao “conceito” de “tributo”, podemos pontuar como o
resultado fático da hipótese e consequência da norma.

Ademais, o Professor Paulo de Barros Carvalho, em seus ensinamentos, nos


agracia que a palavra “tributo” tem seis significados, quando utilizado nos textos do
direito positivo. Vejamos: “tributo” como quantia em dinheiro; “tributo” como
prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo; “tributo” como direito
subjetivo de que é titular o sujeito ativo; “tributo” como sinônimo de relação jurídica
tributária; “tributo” como norma jurídica tributária e “tributo” como norma, fato e
relação jurídica4.

Assim, verifica-se a complexidade do estudo da norma tributário, porquanto


não se volta apenas ao direito positivo.

Por fim, embora o artigo 5º do CTN determine expressamente que os tributos


são impostos (IPI, IPTU, IPVA), taxas (exercício de polícia, etc.) e contribuições de
melhoria, sabe-se que há também os empréstimos compulsórios e as contribuições
especiais (PIS, COFINS), nos termos do Anexo I.

(i) valor cobrado pela União a título de ressarcimento de despesas com


selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda.

Entendemos que pode ser considerado um tributo, pois se enquadra na


definição de uma prestação pecuniária compulsória, exigida pelo Estado, sem a
necessidade de contraprestação direta.

(ii) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17).

4
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. Editora Saraiva, 2005, p. 19
Trata-se de contribuição destinada à manutenção dos sindicatos (entidade
privada), a qual era, até o advento da Lei 13.467/2017, considerada como tributo,
sendo obrigatória e devida por todos os trabalhadores sindicalizados ou não,
apresentando, atualmente, natureza facultativa. Assim, hoje, não consideramos mais
como “tributo”.

(iii) tributo instituído por meio de decreto (inconstitucional).

Entendemos que não é tributo, pois não se pode criar ou majorar tributo por
meio de decreto, conforme estipula o art. 150, inciso I, da CF/88: “Sem prejuízo de
outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios: I – exigir ou aumentar tributo sem lei que o
estabeleça”.

(iv) o tributo inserido na base de cálculo de outro tributo.

Interpretamos que é sim um tributo, desde que dentro das espécies


anteriormente mencionadas. Pontuamos, inclusive acerca da discussão quanto a
possibilidade de se inserir o tributo na base de cálculo de outro tributo, em modelo o
ISS na base de cálculo do PIS e da COFINS, conforme Tema nº 118 do STF –
onerosidade excessiva do contribuinte.

(v) prestação pecuniária exigida pelo solo criado (solo criado = solo criado
artificialmente pelo homem sobre ou sob o solo).

Considerando o Anexo II, entendemos que não. Vejamos: “Aparentemente


caberiam no interior do enunciado do artigo 3º do CTN todas as entradas
compulsórias de moeda nos cofres públicos, decorrentes de obrigação ex lege, que
não constituam sanção por ato ilícito. Um determinado ponto, todavia, é
unanimemente reconhecido pela doutrina: ele é objeto de uma relação jurídica de
natureza obrigacional. Aqui estão de acordo gregos e troianos: a relação jurídico-
tributária, é de natureza obrigacional. Logo, não é possível a afirmação da existência
de tributo onde não ocorra relação jurídica de natureza obrigacional.”
3. Diferencie “enunciado” de “proposição” e “proposição descritiva” de
“proposição prescritiva”. Com base na resposta aos dois questionamentos
anteriores, qual a relação entre proposição e norma jurídica?

Segundo Autora Tomazini, “enunciado é a expressão linguística, produto da


atividade psicofísica de enunciação, são sentenças, frases formuladas pelo conjunto
de fonemas e grafemas devidamente estruturados que tem por finalidade transmitir
um conteúdo completo, num contexto comunicacional”. Salvo melhor juízo,
entendemos das explicações, que “enunciado” é a gramática. Com relação
“proposição”, seria o sentido ou conteúdo dado ao enunciado, a construção da
interpretação que o enunciado se propõe.

Agora, quanto a “proposição descritiva”, trata-se de uma situação possível,


que pode ser verdade ou possibilidade de verdade dentro de um contexto social
(enunciado x realidade). E a proposição prescritiva é a vontade do legislador em
“prescrever” a norma.

Por fim, entendemos que “a proposição é o conteúdo da norma jurídica,


traduzida de uma forma que os receptores, sejam os contribuintes, autores, réus,
tenham a possibilidade de entender o dever / ser”.

4. Diferencie norma jurídica em “sentido amplo” e norma jurídica em “sentido


estrito”. O que é norma jurídica primária e norma jurídica secundária?

Com relação a distinção entre sentido amplo e sentido estrito,


compreendemos que a norma em sentido amplo são os enunciados e as
proposições prescritivas, ou seja, lato sensu (ex.: legislações, normas, princípio,
etc.). Agora, quanto a norma em sentido estrito (stricto sensu) refere-se apenas à
regra ou à norma de conduta.
Quanto a norma primária, entendemos que esta define o dever jurídico diante
de uma determinada situação fática, enquanto a norma secundária estabelece a
sanção aplicável para o caso de eventual violação do respectivo dever jurídico.

5. Dada a seguinte lei (texto fictício):

Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de 10/10/2017


A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a
seguinte lei:
Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de
Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como
fato gerador o exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades.
Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização
de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos.
Art. 3o. A alíquota é de 3%.
Art. 4º Contribuinte é a pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a
finalidade de exploração ou aproveitamento econômico.
Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da
guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do
aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo
devido.
Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte, a
autoridade fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”,
aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida.
Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e
consumo destinados à atividade agropecuária.
Art. 8º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Pergunta-se:
a) Aponte a concepção de “norma jurídica” adotada por você e indique
quantas e quais normas há nessa lei? Identifique-as.

Identificamos, salvo melhor juízo, sete normas jurídicas, vejamos


 Preambulo – norma de instituição / sancionamento
 Art. 1º - norma primária – prescritiva
 Art. 2º /Art. 3 /Art. 4º – norma técnica / organizadora / prescritiva
 Art. 5º - norma de conduta
 Art. 6º - norma secundária – sancionadora.
 Art. 7º - norma de isenção
 Art. 8º - Norma de competência

b) Qual dessas normas institui tributo?

Entendemos que o artigo 1º é a norma instituidora do tributo: “Art. 1º Esta


Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o
exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades.”

c) Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário?


Justificar.

Considerando que a ciência do direito busca o estudo da interpretação da


norma no direito positivado, entendemos que todas as normas serão analisadas pela
referida ciência, seja pela avaliação da constitucionalidade das disposições, seja
pelos enunciados prescritivos, seja pelas regras de competência, pelos princípios e
entre outras disposições.

d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justificar.

Entendemos que é uma norma positiva e conteúdo prescritivo que, por sua
vez, será estudado pelos analíticos através da ciência do direito.

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