Você está na página 1de 6

Aluno (a): Thalyta Colaço Rocha

Tributo e Segurança Jurídica

Seminário 1 - Direito Tributário e o conceito de tributo


Questões
1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito?

Explique.

R: Direito ou ao conjunto de normas jurídicas vigentes em um país (direito objetivo). Também pode
ter o sentido de íntegro, honrado. É aquilo que é justo, reto e conforme a lei. É ainda uma regalia,
um privilégio, uma prerrogativa. A ciência do direito é um ramo das ciências sociais que estuda as
normas obrigatórias que controlam as relações dos indivíduos em uma sociedade
Direito positivo pode ser considerado aquele conjunto de normas jurídicas criadas por decisão de
alguém – O Estado – é mutável, territorial, relativo. Direito positivo é um direito materializado nas
normas vigentes. Todo direito previsto em normas (leis, decretos, regulamentos, entre outros), são
direitos positivos. Tanto direito material como processual podem estar positivos.
Direito positivo é posto pelo Estado. Direito positivo é validado por determinado tempo (tem vigência
temporal) e base territorial. Direito positivo tem como fundamento a estabilidade e a ordem da
sociedade. Sendo direito um conjunto de regras que orientam a conduta das pessoas e que são
impostas pelo Estado, mas que são necessárias para a relação humana, pode-se destacar que o
Direito Positivo e a Ciência do Direito são constituídos por linguagens. Essas linguagens são
diferentes, ou seja, o que compõem a linguagem do direito positivo são as diferentes
características que compõem a linguagem da Ciência do Direito. Desta forma, o direito positivo é o
objeto e a sobre linguagem é a Ciência do Direito.
O direito positivo é constituído por linguagem prescritiva – o dever - ser. De outro modo, a Ciência
do Direito é constituída de forma descritiva. No Direito Positivo, o suporte físico são os textos de
lei lato sensu (artigos, incisos, alíneas). O significado são as condutas intersubjetivas que regulam
a convivência em sociedade. Quem lê e interpreta os textos de lei, identifica as normas jurídicas,
dessa forma a significação é a construção dessas normas jurídicas.
Na linguagem da Ciência do Direito, o suporte físico da linguagem são os textos descritivos que
compõem o texto da doutrina. Seu significado é o direito positivo.
Neste sentido: essas são as diferenças entre estas duas espécies do direito.

2. Que é tributo (vide anexo I)? Com base na sua definição de tributo, quais dessas hipóteses são
consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (I) valor cobrado pela União a título de
ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da Moeda (anexo II);
(II) contribuição sindical (considerar as alterações da lei 13.467/17) (anexo III); (III) tributo instituído
por meio de decreto (inconstitucional – vide anexo IV); (IV) o tributo inserido na base de cálculo de
outro tributo.

R: Conforme definição estabelecida no Código Tributário Nacional (CTN), tributo é “Toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção
de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.
Neste sentido podemos destacar que Tributo é o valor que se deve ao Estado, ao poder público;
taxa obrigatória paga pelos cidadãos ao Estado, imposto. Valor que o Estado impõe sobre produtos,
serviços, bens, taxa.

Conforme definição do art. 3º do Código Tributário Nacional acima se destacam seis pontos
principais para a caracterização de um tributo:
1. Prestação pecuniária (obrigação de se prestar dinheiro);
2. Compulsória (tributo não possui caráter de ser facultativo em relação ao seu cumprimento);
3. Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir (pecúnia);
4. Que não constitua sanção por ato ilícito (tributo não é uma penalidade);
5. Instituída em lei (somente a lei pode instituir tributo) e
6. Cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada (o lançamento do tributo é
imprescindível para a sua cobrança, já que ele delimita o marco inicial da exigibilidade do
tributo).
Neste sentido o chamado “ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI” fosse instituído
mediante lei, então sim, seria tributo. Trata-se claramente de uma prestação pecuniária, visto que se
estabelece para com o contribuinte uma obrigação de pagar dinheiro. Além disso, é uma prestação
compulsória, já que o contribuinte não possui a faculdade de optar por não arcar com a obrigação. A
cobrança é feita em moeda, com base em um fato lícito e que será devidamente lançada pelo Fisco.

A Reforma Trabalhista trouxe diversas alterações para o texto da CLT (Consolidação das Leis
Trabalhistas) e uma dessas alterações está no art. 545, que trata das contribuições devidas ao
sindicato. Antes da promulgação dessa lei, o art. 545 determinava que a contribuição sindical
devesse ser obrigatoriamente descontada do empregado na folha de pagamento, sem a
necessidade de sua prévia autorização. Com a entrada desta a Reforma, o mesmo artigo determina
que as contribuições devidas ao sindicato, inclusive a contribuição sindical, só podem ser
descontadas do empregado com a sua prévia autorização. Assim a contribuição sindical não pode
ser um tributo. Embora seja uma prestação pecuniária, expressa em moeda, instituída em lei, não
constituída em sanção de ato ilícito, a contribuição sindical é facultativa. Como resta ausente o
requisito da compulsoriedade, a contribuição sindical não pode ser caracterizada como tributo.

(III) Para ser considerado tributo é determinante que esteja seja instituído em lei, o art. 150, I, CF,
determina que seja vedado aos entes federativos exigir tributo sem lei que o estabeleça. Portanto,
não se pode admitir a instituição de tributo mediante decreto, sendo neste exemplo ainda um decreto
inconstitucional, a não possibilidade de instituição do tributo é ainda mais evidente. Um decreto que
é declarado inconstitucional, por óbvio, não possui validade.

3. Que é norma jurídica? E norma jurídica completa? Há que se falar em norma jurídica sem
sanção? Justifique.

Norma jurídica é o entendimento construído a partir da leitura, estudo e do entendimento dos textos
postos no direito positivo. Não há suporte físico para a norma jurídica, trata-se de algo que só existe
no imaginário daquele que interage com os textos do direito positivo (esse sendo o suporte físico). É
a significação que se constrói a partir desse suporte físico, mas não está contida nele, cabendo a
cada intérprete construir a sua significação (que pode ser a mesma, ou não). O Professor Paulo de
Barros Carvalho descreve que se experimentam as sensações visuais, auditivas e tácteis, que
suscitam noções. Estas, quando agrupadas em nosso intelecto, originam os juízos que se exprimem
verbalmente na forma de proposições. A norma jurídica, portanto, é exatamente o juízo que a
interação com o suporte físico (direito positivo) provoca no espírito daquele que interage com esse
suporte. A norma jurídica completa é formada pela união de duas normas: a norma primária e a
norma secundária. A norma primária é aquela que descreve um fato e o vincula a um dever, uma
consequência normativa, na forma “Se ocorrer A, deve ser B”. A norma secundária é aquela que
determina uma sanção hipotética que recairá sobre o sujeito que descumprir o disposto na norma
primária. Será dever se o Estado impor a referida sanção. Ela se estrutura na forma “Se ocorrido A e
descumprido B, deve se estabelecer a relação sancionatória entre o sujeito do dever e o Estado”.

4. Há diferença entre documento normativo, enunciado prescritivo, proposição e norma jurídica?


Explique estabelecendo a diferença entre o conceito de norma em sentido amplo e norma em
sentido estrito.

Documento normativo designa todo e qualquer suporte material onde a linguagem é registrada, ou
seja, determina o ato normativo em seu aspecto físico. Outra coisa são os enunciados prescritivos,
cuja função é a de prescrever condutas. Um enunciado prescritivo é o significado semântico dado
aos signos linguísticos que foram registrados nos documentos normativos. O termo “proposição”
designa a significação mental percebida por aquele que interage com os documentos normativos.

5. Com base em sua resposta dada na questão 2, responda:


a) O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em infrações de trânsito é
uma utilização do tributo como “sanção de ato ilícito”?

a) O artigo 3º do Código Tributário Nacional, ao determinar que tributo não possa ser constituído em
sanção de ato ilícito, quer dizer na verdade que o tributo não deve incidir sobre fato enquadrado
como crime ou infração, já que a natureza do tributo não é a de punir.

Nesse sentido, o IPVA é imposto que incide sobre a propriedade de veículos automotores fato que,
notadamente, não se enquadra em nenhuma hipótese criminal. Na hipótese analisada na questão, o
IPVA continuaria incidindo sobre um fato lícito, de modo que a determinação do Código Tributário
Nacional está sendo perfeitamente respeitada. O que se vê no caso concreto seria a adoção de um
benefício fiscal a um contribuinte que se amoldar a um comportamento eleito pelo ente tributante
como ideal, o que é perfeitamente possível. Aliás, é perfeitamente possível que o ente tributante
estabeleça benefícios fiscais com o intuito de se incentivar comportamentos específicos, não sendo
uma hipótese de uso do tributo como sanção de ato ilícito, ou seja, o uso do tributo com tal intuito se
trata de fazer uso da função extrafiscal daquele tributo, bem como utilizá-lo não com o intuito
meramente arrecadatório, mas sim o de induzir e/ou inibir comportamentos, garantindo a realização
de outros princípios constitucionalmente consagrados.

b) E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade? Responda


fundamentadamente e considere para sua resposta as seguintes afirmações do autor Fernando
Favacho: “a definição conoativado art. 3º do CTN conflita com a definição denotativa do art. 182 da
CF. Em suma, a Constituição traz um tributo (IPTU sancionatório progressivo) que, para o CTN, não
é tributo” e “o IPTU sancionatório progressivo é tributo, a pardo mandamento do CTN”.

b) O IPTU e o ITR, quando progressivos no tempo, são instrumentos utilizados com o intuito de se
atingir a função social da propriedade. Isto porque o tributo passa a incidir de forma mais gravosa
sobre propriedades que não se enquadrem nas diretrizes do Plano Diretor Municipal (no caso do
IPTU) ou mesmo sobre propriedades improdutivas (no caso do ITR). Todo tributo, em um grau maior
ou menor, possui caráter extrafiscal. Isso quer dizer que, a depender da situação, o tributo pode ser
utilizado prioritariamente para se moldar comportamentos, visando alcançar outros objetivos
constitucionais, que não o meramente arrecadatório. No caso do ITR, a utilização da sua função
extrafiscal é um importante instrumento de política agrária, que visa combater latifúndios
improdutivos e infrutíferos, auxiliando na persecução da reforma agrária e uma consequente
redistribuição dessas terras no país, estes últimos objetivos nacionais, elencados em nossa Carta
Magna. Desse modo, o ITR é, insista-se, utilizado não somente com o intuito arrecadatório, mas
também como instrumento necessário à persecução de outros objetivos de nosso país. No mesmo
sentido, o IPTU vem sendo utilizado não somente como instrumento arrecadatório, mas também
como ferramenta essencial para a política de desenvolvimento urbano executado pelo poder público
municipal. Ainda que o IPTU e o ITR possam e devam ser utilizados como mecanismos de incentivo
à persecução social da propriedade, em virtude de sua função extrafiscal, o tributo aqui não incide
de forma mais gravosa sobre um comportamento meramente reprovável, mas sim sobre um ilícito, já
que ele é cobrado em virtude do desrespeito ao princípio constitucional da função social da
propriedade. Nesse caso do IPTU/ITR progressivos, a ilicitude está no próprio fato jurídico que
enseja a incidência do tributo majorado: o desrespeito ao princípio constitucional da função social da
propriedade.

6. Que é direito tributário? Sob as luzes da matéria estudada, efetuar crítica à seguinte sentença:
“Direito tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as relações jurídicas entre o Fisco e
os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e fiscalização de tributos”, e propor
definição para “direito tributário”.

A Ciência do Direito Tributário visa compreender, estudar e descrever esse seu objeto (o direito
tributário positivo), externalizando proposições que permitam ao jurista interessado melhor
compreender os desdobramentos e as articulações lógicas desse núcleo normativo, que é parte de
um sistema jurídico uno. O direito positivo tributário não se presta a estudar as relações entre o
Fisco e os contribuintes, sendo que essa atividade será objeto da Ciência do Direito Tributário. O
direito tributário positivo possui natureza prescritiva, enquanto a Ciência do Direito Tributário adota
linguagem descritiva, enunciando proposições científicas a partir do estudo do seu objeto. Além
disso, como exposto anteriormente, muitas vezes às proposições jurídico-normativas presentes no
direito tributário positivo dependem do estudo e do entendimento de outras normas jurídicas,
pertencentes a outras matérias, de modo que o estudo do direito tributário positivo não pode ser
limitar a conceitos relacionados apenas à instituição, fiscalização e arrecadação de tributos.

7. Dada a seguinte lei (exemplo fictício): Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de
10/10/2017 A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a seguinte
lei: Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador o exercício do poder
de polícia do Estado sobre estas atividades. Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta
obtida com a comercialização de mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos. Art. 3º.
A alíquota é de 3%.

Art. 4º Contribuinte é Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a finalidade de
exploração ou aproveitamento econômico.

Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia de


recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do aproveitamento do
recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo devido.

Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte, a autoridade fiscal


competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50% sobre o
valor da taxa devida.

Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e consumo


destinados à atividade agropecuária.
Pergunta-se:

a)Quantas normas há nessa lei? Identifique-as.

b)Qual dessas normas institui tributo?

c)Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar.

d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justificar

a) Verifica-se a existência de 05 normas, as quais se destacam a seguir:

1. Aa norma que estabelece a obrigação de arca com a taxa estabelecida em lei em


decorrência do exercício de poder de polícia do Estado sobre as atividades ali citadas;

2. A norma que determina que a taxa seja apurada mensalmente e recolhida através do
preenchimento da guia de recolhimento até o último dia útil do mês seguinte ao da
exploração mineral;

3. A norma que estabelece o dever da autoridade competente de lavrar auto de infração em


caso da ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte;

4. A norma que estabelece o dever da autoridade fiscal de aplicar multa de 50% sobre o valor
da taxa devida em caso de ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte;
e.

5. A norma que define a base de cálculo e a alíquota do tributo.

b) A norma constante no artigo 1º da referida lei é a norma que institui o tributo, fazendo-o ao
determinar que a Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos tem como fato gerador o exercício do poder de
polícia do Estado sobre estas atividades.

c) A Ciência do Direito Tributário se dedica ao estudo do direito tributário positivo. Todas as normas
elencadas nessa lei estão ligadas de forma direta ou indireta à instituição, arrecadação e fiscalização
de um tributo, a própria Taxa ali estabelecida. Desse modo, todas elas serão alvo de estudo da
Ciência do Direito Tributário.

d) O texto legal acima é direito positivo, afinal ele possui linguagem técnica e prescritiva que visa
regular as condutas dos sujeitos que pertencem àquele contexto. Organiza-se em uma estrutura de
“dever ser”, onde “Se ‘A’, deve ser ‘B’”. A Ciência do Direito, por outro lado, possui linguagem
científica e descritiva, se propondo a estudar o direito positivado. Desse modo, o texto legal aqui
estudado não é Ciência do Direito.

Você também pode gostar