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SEMINÁRIO I - DIREITO TRIBUTÁRIO E CONCEITO DE “TRIBUTO”

1. Que é Direito? Há diferença entre direito positivo e Ciência do Direito? Com base
em sua resposta, critique a expressão: “Direito tributário é o ramo do Direito
público positivo que estuda as relações jurídicas entre o Fisco e os
contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e fiscalização de
tributos”, e propor definição para “direito tributário”.

No entendimento do professor Paulo de Barros Carvalho, Direito define-se como complexo de


normas jurídicas validas manifestadas linguisticamente com objetivo de disciplinar condutas
intersubjetivas, de modo a conduzir as pessoas à realização de valores consagrados
culturalmente. Quanto a diferença entre direito positivo e ciência do direito, podemos definir
nas palavras da autora Aurora Tomazini de Carvalho, que direito positivo é um corpo de
linguagem com função prescritiva, que se dirige ao campo das condutas intersubjetivas com
a finalidade de altera-las. Já a ciência do direito é um corpo de linguagem com função
descritiva, que tem como objetivo o direito positivo, caracterizando-se como metalinguagem
em relação a ele.

Na expressão, “Direito tributário é o ramo do Direito público positivo que estuda as relações
jurídicas entre o Fisco e os contribuintes, concernentes à instituição, arrecadação e
fiscalização de tributos”, e propor definição para “direito tributário” o direito tributário é muito
limitado apenas as relações do Fisco com os contribuintes, além de que não se dirige apenas
as instituições, arrecadações e fiscalização de tributo, como bem definido acima pelo
Professor Paulo de Barros Carvalho, direito é um complexo de normas jurídicas validas, com
objetivo de conduzir as pessoas, e neste ponto, podemos dizer que o direito tributário segue
nesta linha com um foco especifico no ramo tributário, mas além da limitação exposta na
expressão.

2. Diferenciar “termo”, “conceito” e “definição”, trazendo exemplos para cada um


deles. O que é “conceito” e “definição”? Há definições no âmbito da Ciência do
Direito? E no âmbito do direito positivo? E o que é tributo (vide anexo I)?
Explique apontando se há uma “definição” ou “conceito” de tributo no direito
positivo? Com base na sua definição de tributo, quais dessas hipóteses são
consideradas tributos? Fundamente sua resposta: (i) valor cobrado pela União
a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado
pela Casa da Moeda (anexo II); (ii) contribuição sindical (considerar as alterações
da lei 13.467/17) (anexo III); (iii) tributo instituído por meio de decreto
(inconstitucional – vide anexo IV); (iv) o tributo inserido na base de cálculo de
outro tributo.

Na terminologia de Pontes de Miranda, os termos, juntamente com as condições, indexam-se


às manifestações de vontade, para que o efeito ou os efeitos dos atos jurídicos somente
durem até que acontecimento futuro se dê.

Já o conceito pode ser entendido como uma forma mais completa e estruturada para
interpretação do termo, como exemplo o conceito um conhecimento mais geral a determinado
situação ou objeto.

Paulo de Barros Carvalho define conceito como a representação intelectual significativa de


determinada palavra, já definição é pôr em palavras o conceito.

Por fim, a definição temos um caráter mais objetivo, como intuito de delimitar o sentido do
termo e conceito.

De acordo com as delimitações do conceito de tributo adotado pelo STF, ADI n. 447, tributo
nas suas diversas espécies compõe o Sistema Constitucional Tributário brasileiro, que a
Constituição inscreve nos seus artigos 145 e 162. Ainda, encontramos a definição no artigo
3º do CTN, na qual define que Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda
ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei
e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Como definido acima o conceito de tributo, podemos afirmar que o valor cobrado pela União
a título de ressarcimento de despesas com selos de controle de IPI fabricado pela Casa da
Moeda pode ser denominado como tributo, uma vez que detém obrigação acessória quanto
a fixação e ao adquiri-los detém natureza de obrigação principal.

Atualmente, a contribuição sindical é opcional, bem como, depende de autorização por parte
do trabalhador, dessa forma, considerando que não preenche os requisitos para
caracterização de tributo não pode ser qualificado como tal.

Considerando a União não pode criar tributo por meio de decreto, conforme artigo 153, §1º
da Constituição Federal, o tributo que for instituído por decreto, que consequentemente será
declarado inconstitucional não é definido como tributo, uma vez que declarado inconstitucional
é alterado a natureza jurídica da prestação pecuniária, retirando do âmbito tributário,
passando a ser indébito com o Poder Público.

3. Diferencie “enunciado” de “proposição” e “proposição descritiva” de defina o


que uma “proposição prescritiva”. Com base na resposta aos dois
questionamentos anteriores, qual a relação entre proposição e norma jurídica?
Nas palavras de Priscila de Souza, enunciado é tido como o significado atribuído ao texto,
que é a forma, a materialização do enunciado em uso, e esse uso dos enunciados é o próprio
discurso, dessa forma, pode ser entendido como as leis, decretos, portarias, jurisprudências,
pareceres, atos e fatos de relevância para relação jurídica, ou seja, todos os meios essenciais
para a interpretação da norma jurídica A proposição é um extrato da linguagem, e dentro dela
temos como função, descritiva, expressiva ou prescritiva, no entendimento de Kelsen,
proposição faz alusão a proposição jurídica, como conteúdo dos enunciados descritivos
dentro do direito.

Para diferenciar a proposição descritiva da prescritiva, podemos seguir a linha adotada por
Norberto Bobbio, no qual leva em conta as características em três pontos: relação à função,
em relação ao comportamento do destinatário, e por fim, relação ao critério de valoração.

No que se refere a função: a proposição descritiva dirige quanto a informação, já a prescritiva


à modificação do comportamento dos destinatários. Quanto ao destinatário, pode ser
diferenciado pelo que se manifesta no fato em que se executa. E por fim, o critério de
valoração, entra no questionamento de que uma proposição prescritiva pode ser justa ou
injusta.

Na definição temos que a proposição está ligada ao conteúdo dos enunciados descritivos
dentro do direito, nesse sentido, a norma jurídica determina as condutas proibidas e a
proposição jurídica relata a existência da norma que proíbe, portanto, a norma é a extensão
da conduta com a sanção e a proposição é apenas a norma que liga a conduta.

4. Diferencie norma jurídica em “sentido amplo” e norma jurídica em “sentido


estrito”. O que é norma jurídica primária e norma jurídica secundária?

A norma jurídica em sentido amplo refere-se a um conjunto normativo formado por norma,
princípios e regras, regendo o ordenamento jurídico, já a norma jurídica em sentido estrito,
refere-se especificadamente a norma de conduta. Norberto Bobbio utiliza das expressões
norma primária e secundária para distinguir as regras que na hierarquia das fontes são
hierarquicamente superiores ou inferiores as outras, nesse sentido temos que a norma
primária é hierarquicamente superior as secundárias.

5. Com base em sua resposta dada na questão 2, responda:

a) O desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorreram em


infrações de trânsito é uma utilização do tributo como “sanção de ato ilícito”?
Não há possibilidade de interpretação como sanção de ato ilícito, considerando que o
desconto de IPVA concedido para contribuintes que não incorrerem em infrações de trânsito
vale se como um tipo de incentivo ou benefício fiscal ao contribuinte cumprir com as regras
de trânsito.

b) E a progressividade do IPTU e do ITR em razão da função social da propriedade?


Responda fundamentadamente e considere para sua resposta as seguintes
afirmações do autor Fernando Favacho: “a definição conotativa do art. 3º do CTN
conflita com a definição denotativa do art. 182 da CF. Em suma, a Constituição
traz um tributo (IPTU sancionatório progressivo) que, para o CTN, não é tributo”
1 e “o IPTU sancionatório progressivo é tributo, a par do mandamento do CTN”.

A progressividade do IPTU e do ITR pode dizer que é uma utilização do tributo como sanção
de ato ilícito, considerando que deve-se preservar a função social da propriedade e aquele
que não o fizer irá ser aplicada a progressividade, entendida como uma sanção.

Neste sentido, seguindo nas afirmações do autor Fernando Favacho, na qual afirma o conflito
entre o artigo 3° do CTN e o artigo 182 da CF. O artigo 182 da CF determina a política de
desenvolvimento urbano, tendo como objetivo ordenar o desenvolvimento das funções
sociais, alinhando-se com o princípio da progressividade dos referidos impostos, já no artigo
3° do CTN é determinado que tributo é toda prestação compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que NÃO constitua sanção de ato ilícito. Portanto, considerando que
o CTN determina de forma clara o que é tributo, bem como, o artigo 182 da CF somente
determina o objetivo e estabelecendo como princípio a função social, pode-se afirmar que a
progressividade não é tributo e sim uma sanção.

6. Dada a seguinte lei (exemplo fictício):

Estado de Minas Gerais, Lei Estadual nº 2.017, de 10/10/2017

A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais Decretou e eu sanciono a seguinte


lei:

Art. 1º Esta Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Atividades de Pesquisa,


Lavra, Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos, que tem como fato gerador
o exercício do poder de polícia do Estado sobre estas atividades.

Art. 2º A base de cálculo dessa taxa é a receita bruta obtida com a comercialização de
mercadorias ou de serviços que utilizem recursos hídricos.

Art. 3º A alíquota é de 3%.


Art. 4º Contribuinte é Pessoa, física ou jurídica, que utilize recursos hídricos com a
finalidade de exploração ou aproveitamento econômico.

Art. 5º A taxa será apurada mensalmente e recolhida, mediante preenchimento da guia


de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração ou do
aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo
devido.

Art. 6º Na ausência de apuração e recolhimento da taxa pelo contribuinte, a autoridade


fiscal competente deverá lavrar “Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando
multa de 50% sobre o valor da taxa devida.

Art. 7º É isenta do pagamento da taxa a utilização de recurso hídrico na captação e


consumo destinados à atividade agropecuária

(...)

Pergunta-se:

a) Aponte a concepção de “norma jurídica” adotada por você e indique quantas e


quais

Quantas normas há nessa lei.? Identifique-as.

As normas identificadas são:

A obrigação quanto ao fato gerador no exercício de poder de polícia sobre as atividades de


taxa de controle, monitoramento e fiscalização de atividade de pesquisa, lavra, exploração e
aproveitamento.

A norma quanto a obrigação de cobrar a taxa mensalmente e recolhida, mediante


preenchimento da guia de recolhimento, até o último dia útil do mês seguinte ao da exploração
ou do aproveitamento do recurso hídrico, sob pena de multa de 10% sobre o valor do tributo
devido.

A norma que se refere a ausência de apuração, devendo a autoridade fiscal competente lavrar
“Auto de Infração e Imposição de Multa”, aplicando multa de 50% sobre o valor da taxa devida.

Por fim, a norma quanto a base de cálculo e a alíquota.

b) Qual dessas normas institui tributo?

A norma jurídica que institui tributo está descrita no artigo 1º da referida Lei, na qual
descreve que o fato gerador da taxa é o exercício do poder de polícia do Estado sobre
as atividades.
c) Qual dessas normas é estudada pela Ciência do Direito Tributário? Justificar.

Podemos considerar todas, uma vez as normas afetam e influenciam diretamente o direito
tributário, uma vez que tratam de instituição, arrecadação e fiscalização, mais precisamente
a descrita no artigo 1º.

d) O texto legal, acima transcrito, é Ciência do Direito? Justificar.

O texto acima é parte da ciência do direito, mas não se pode afirmar que é a própria ciência
do direito, uma vez que a ciência do direito tributário é formada pelo conjunto dos enunciado
descritivos relativos a todas as normas tributárias. Portanto, o texto legal apenas faz parte do
complexo da ciência do direito.

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