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Capítulo 4 - INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO

DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Toda norma O texto não se confunde com a norma extraída do


precisa de texto. Não é verdade que “in claris cessat interpretatio”
interpretação (normas claras não precisam ser interpretadas).

CRITÉRIOS DE INTERPRETAÇÃO

Não são excludentes, complementam-se, sem hierarquia.

Literal ou Considera apenas o rigoroso significado léxico do


Gramatical texto legal. O CTN art. 111 determina que algumas
normas sejam interpretadas literalmente.

Sistemática Considera a norma como parte de um sistema no


qual se insere e busca a unicidade e harmonia,
afastando antinomias.

Teleológica Busca entender a finalidade, o propósito que levou à


criação da norma, de forma a concretizá-la.

Histórica Considera as circunstâncias políticas, sociais,


econômicas e culturais no momento da edição,
por meio da análise da exposição de motivos, da
discussão e da evolução do instituto disciplinado.

INTERPRETAÇÃO QUANTO À FONTE

Autêntica Pela mesma autoridade responsável pela edição


da norma interpretada. Ex: “lei expressamente
interpretativa” a que se refere o CTN art. 106

Doutrinária Observância não é obrigatória, mas orienta o


legislador, o juiz e a administração.
Judicial Não é sinônimo de jurisprudência. É a interpretação
emanada por juízes e tribunais nos processos.

Adminis- Realizada pela administração poe meio de seus atos


trativa gerais e abstratos ou individuais e concretos.

INTERPRETAÇÃO QUANTO AOS EFEITOS OU RESULTADOS

Considera se há ou não necessidade de se corrigir


o alcance da norma interpretada.

Declaratória Coincidência da intenção do legislador com o que


está disposto na norma, sem necessidade de correção.

Extensiva A norma diz menos do que o legislador pretendia.


Ex: o STF interpreta a vedação à utilização de tributo
com efeito de confisco extensivamente, aplicando-a às
multas tributárias.

Restritiva A norma diz mais do que o legislador pretendia.


Ex: o STF interpreta restritivamente o art. 195 § 6º
que impõe noventena à lei que institui ou modifica
contribuição para a seguridade (apenas modificações
que aumentem).

INTERPRETAÇÃO LITERAL (ART. 111)

Exceções CTN Art. 111 Interpreta-se literalmente a legislação


devem ser tributária que disponha sobre:
interpretadas y Suspensão
estritamente y Exclusão (isenção e anistia)
y Dispensa de obrigações acessórias

Entendimento Interpretação de norma isentiva deve ser estrita. Não


do STJ e STF cabe ao Judiciário legislar positivamente, incluindo
contribuintes não abrangidos pela lei.
Isenção do IR O STJ considerou inviável interpretação que incluísse
a inativos e a surdez, por analogia à cegueira.
pensionistas Impediu, também, que se interpretasse “cegueira” de
portadores forma restritiva. A isenção favorece qualquer tipo de
de doenças cegueira assim caracterizada por definição médica
Interpretação (inclusive a monocular).
estrita
O STF também não permitiu interpretação extensiva
que pretendeu incluir nos beneficiários os ativos
acometidos pelas mesmas enfermidades. Cabe ao
parlamento conceder isenções, discricionariamente.

Judiciário Em 2020, de forma inédita, o STF determinou


pode sanar que isenção do IPI sobre veículos fosse aplicada aos
omissões deficientes auditivos. Considerou inconstitucional
a omissão, por ofensa à dignidade, mobilidade,
inclusão, isonomia. Deu 18 meses para o Legislativo
sanar a omissão, o que foi cumprido.
O Relator afirmou que não se trata de interpretar
o benefício de modo extensivo, mas de adequar a
efetivação das políticas públicas aos preceitos da CF.

INTERPRETAÇÃO BENIGNA EM MATÉRIA DE INFRAÇÕES

In dubio Influência do Direito Penal no Direito Tributário Penal.


pro reo Na dúvida, adota-se a interpretação mais favorável

y define infrações
Lei que
y comina penalidades

Dúvidas y Capitulação legal, natureza, circunstâncias


quanto a materiais do fato
y Natureza ou extensão de seus efeitos
y Autoria, imputabilidade, punibilidade
y Natureza ou graduação da penalidade aplicável
Inaplicável STJ: Não havendo divergência acerca da
interpretação, o art. 112 não pode ser aplicado.

INSTITUTOS, CONCEITOS E FORMAS DE DIREITO PRIVADO

Uso dos O Direito Tributário é um ramo do direito público.


princípios Os princípios do Direito Privado só são usados para
de direito pesquisa de:
privado na y definição
interpretação y conteúdo dos institutos, conceitos, formas
da lei
y alcance
tributária
CTN Art. 109 Nunca para:
y definição dos efeitos tributários

Alteração A lei tributária não pode alterar institutos, conceitos


conceitos de e formas de direito privados quando utilizados,
direito privado (expressa ou implicitamente)
usados nas y pela CF, CEs ou LORGs
leis máximas y ou para definir ou limitar competências
CTN Art. 110 tributárias (redundante, pois isso é feito na CF)
Ou seja, a interpretação adotada pelo constituinte
deve ser respeitada pela lei inferior.

Incidência O STF, em 2016, asseverou que o art. 110 não veicula


do ISS sobre norma de interpretação constitucional, invocando
serviço de o pluralismo metodológico e o não exaurimento da
Administra- atividade interpretativa.
ção de planos Na discussão, alegava-se que a “prestação de serviços”
de saúde era o “cumprimento de obrigação de fazer”, conforme
o Direito Privado. O próprio STF então conceituou como:
“oferecimento de alguma utilidade material para
outrem, a partir de um conjunto de atividades
imateriais, com habitualidade e intuito de lucro.”
Conceitos de A contrario sensu, conceitos de Direito Privado não
direito privado usados pelas CFs, CEs e LORGs podem ser alterados
não usados pela norma infraconstitucional.
nas leis O CTN efetivamente disciplina alguns institutos de
máximas forma diferenciada do Direito Privado (ex: transação,
compensação, etc.)

STF sobre O STF declarou a inconstitucionalidade do §1º (depois


conceito de revogado) do art. 3º da Lei 9.718 que, ao ampliar
faturamento o conceito de receita bruta para toda e qualquer
receita, violou a noção de faturamento pressuposta
na redação original do art. 195, que equivaleria à
receita bruta das vendas de mercadorias e serviços.
Obs: A EC 20 incluiu “receita” na alínea, possibilitando
a incidência sobre todas as receitas a partir de então.

INTERPRETAÇÃO DA DEFINIÇÃO DO FATO GERADOR e CAPACIDADE PASSIVA

O FG é a ocorrência, no mundo dos fatos, da situação definida em


lei como necessária e suficiente para o nascimento da obrigação.

Verificação do y Validade jurídica do ato


FG abstrai y Natureza do objeto do ato
CTN Art. 118 y Efeitos do ato
Pecunia non olet y Efeitos dos fatos efetivamente ocorridos

Verificação da
y Capacidade civil
capacidade
y Sujeição a limitação de atividades civis
tributária
passiva abstrai y Se a PJ está regularmente constituída

Obs.: No Direito Civil, um negócio só é válido se tem agente capaz, objeto


lícito, possível e determinado/determinável e forma legal ou não
proibida por lei. No Direito Tributário esses requisitos são irrelevantes.
INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Princípio da Considera que as lacunas só existem quando as


plenitude normas são vistas de forma estática.
do Direito Aplicam-se regras de integração para garantir a
plenitude do Direito, em sua dinâmica.

Proibição do Decorre da plenitude do Direito o fato de o juiz ser


non liquet proibido de deixar de decidir com base na alegação
de não haver lei disciplinando a matéria.

Silêncio Silêncio da norma não se confunde com lacuna. O


eloquente silêncio deve ser interpretado como uma intenção da
norma, não permitindo o uso de analogia.

TÉCNICAS DE INTEGRAÇÃO

Legislação tributária (CTN art. 108) Regra geral (LINDB art. 2º)
Do menor para o
1. Analogia maior grau de y Analogia
discricionariedade
y Costumes
2. Princípios gerais de Dir. Tributário y Princípios gerais de Direito
3. Princípios gerais de Direito Público
4. Equidade

1. Analogia Fundamenta-se na isonomia.


Não se confunde com interpretação extensiva. Na
analogia, a situação está indiscutivelmente fora do
alcance da norma, mas, por ser semelhante, recebe
do aplicador o mesmo tratamento.
Ex: Aplicar prazo do RIR para contribuinte do ITR
prestar esclarecimentos.

Não pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei.


(na verdade, nenhuma técnica de integração pode)
2. Princípios Ex: isonomia, noventena, liberdade de tráfego,
gerais de capacidade contributiva, não confisco, etc.
Direito Tribu-
tário

3. Princípios Ex: indisponibilidade do interesse público, ampla


gerais de defesa, unidade de jurisdição, liberdade de exercício
Direito Público de trabalho, ofício ou profissão, etc.

4. Equidade Humanização do direito positivo, permitindo amplo


grau de discricionariedade à autoridade para
adequar a norma ao caso concreto.

Não pode resultar na dispensa de pagamento do tributo.*

*A integração serve para casos de ausência de norma.


Nunca para afastar a incidência de uma norma existente.

Embora na aplicação de cada técnica haja discricionariedade


(crescente), a escolha entre elas é absolutamente vinculada, não
permitindo valoração nem aplicação conjunta.

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