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Competência Tributaria

Competência legislativa no âmbito do Direito Tributário, analisando as técnicas


de repartição constitucional de competências. Os constitucionalistas fazem
referência à repartição horizontal e vertical de competências.

A repartição horizontal de competências é ilustrada por uma prateleira de livros,


em que os livros estão organizados lado a lado por assunto. No caso do Direito
Civil, o artigo 22, inciso I, da Constituição estabelece que a competência para
legislar sobre essa matéria é privativa da União. Isso significa que o livro de
Direito Civil é integralmente escrito pela União, salvo exceções em que a própria
União possa autorizar os Estados e o Distrito Federal a incluírem algumas
disposições específicas por meio de lei complementar.

Por outro lado, a competência para legislar sobre Direito Tributário foi repartida
entre a União, os Estados e o Distrito Federal. Para evitar conflitos, a
Constituição Federal optou por dividir a matéria em normas gerais, de
observância obrigatória por todos os entes federados, e normas específicas, que
são editadas regionalmente de acordo com as peculiaridades locais. Essa divisão
é denominada de repartição vertical de competências. As normas gerais
possuem um nível mais elevado de abstração e generalidade, enquanto as
normas específicas estão em um nível mais detalhado, mas devem estar em
consonância com as normas gerais.

O texto destaca a importância de compreender a diferença entre as técnicas de


repartição horizontal e vertical de competências legislativas, especialmente no
contexto do Direito Tributário.
A competência tributária é o poder atribuído pela Constituição Federal aos
entes políticos para editar leis que instituam tributos. A Constituição não cria
tributos diretamente, mas delega aos entes federados a competência para fazê-
lo. Cada ente político decide, de acordo com seus critérios, quando e como
exercer essa competência tributária.

A Lei Complementar 101/1999, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal,


estabelece requisitos essenciais para a responsabilidade na gestão fiscal,
incluindo a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos de
competência constitucional do ente federado. Essa lei também proíbe a
realização de transferências voluntárias para entes federados que deixem de
instituir os impostos de sua competência.

Essa proibição de transferências voluntárias funciona como uma sanção


institucional para os entes que não instituem os impostos de sua competência.
Se um ente possui competência para criar um imposto e não o faz, é razoável
negar o repasse de recursos posteriormente.

No entanto, é importante interpretar esse dispositivo com cuidado. O objetivo


da Lei de Responsabilidade Fiscal não é exigir a criação de tributos a qualquer
custo, mas sim estimular a criação de tributos economicamente viáveis. Há
situações em que a criação de determinado tributo pode não ser viável para um
ente federado, levando em consideração suas peculiaridades econômicas.

A competência tributária é indelegável, com exceção das funções de arrecadar


ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões
administrativas em matéria tributária. Isso significa que um ente federado não
pode editar norma que atribua a outro ente a competência para criar tributos
que lhe foram outorgados pela Constituição.

No contexto da competência tributária, é importante distinguir entre a


competência tributária em sentido amplo e a capacidade ativa. A competência
tributária em sentido estrito é política e se refere à possibilidade de editar leis
instituindo o tributo e definindo seus elementos essenciais. Já a capacidade
ativa decorre da competência tributária e tem natureza administrativa,
referindo-se às funções de arrecadar, fiscalizar e executar leis, serviços, atos ou
decisões administrativas em matéria tributária.

Normalmente, a competência tributária e a capacidade ativa estão reunidas na


mesma pessoa que institui o tributo e pratica os atos necessários à sua
administração. No entanto, o ente federado detentor da competência pode
delegar a capacidade ativa a outro ente político ou administrativo. Essa
delegação pode ser revogada a qualquer momento pela pessoa jurídica de
direito público que a conferiu.

Em resumo, a competência tributária é o poder constitucionalmente atribuído


de editar leis que instituam tributos. É uma faculdade, não uma imposição
constitucional, e cada ente político decide quando e como exercê-la. A
competência tributária é indelegável, exceto quanto às funções de arrecadar,
fiscalizar e executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria

Interpretação e Integração da Legislação

Noção geral de interpretação:


 Interpretação é a parte da ciência jurídica que estuda os métodos e
processos lógicos para definir o conteúdo e alcance das normas jurídicas.
 A hermenêutica jurídica é a teoria científica da interpretação.

Importância da interpretação:

 Toda norma requer interpretação, mesmo que seu texto seja claro.
 O entendimento de que normas claras não precisam de interpretação
pode levar a interpretações superficiais, ignorando o contexto, as
conexões históricas, as finalidades e outros aspectos relevantes.
 Um exemplo dado é o de uma placa que diz "Proibida a entrada usando
sungas, maiôs, biquínis e similares". Dependendo do contexto em que a
placa está localizada, o sentido da norma varia.

Exemplo de interpretação:

 Um exemplo mencionado é a interpretação do parágrafo único do art. 11


da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000). A norma parece indicar
que nenhum ente federado pode receber transferências voluntárias se
não observar o disposto no caput em relação aos impostos.
 No entanto, a interpretação teleológica sugere que é um requisito
essencial da responsabilidade fiscal a instituição, previsão e efetiva
arrecadação de todos os tributos economicamente viáveis da
competência constitucional de cada ente político.

Critérios de interpretação:

 A doutrina propõe vários critérios interpretativos, como a interpretação


literal (gramatical), sistemática, teleológica e histórica.
 A interpretação literal considera apenas o significado exato das palavras
no texto legal, sem levar em conta outros valores. O CTN exige que
certas normas sejam interpretadas literalmente.
 A interpretação sistemática analisa a norma como parte de um sistema
jurídico, buscando harmonia e unicidade no ordenamento jurídico e
evitando contradições.
 A interpretação teleológica busca compreender o sentido da norma
através da finalidade que ela pretende atingir.
 A interpretação histórica leva em consideração as circunstâncias políticas,
sociais, econômicas e culturais presentes no momento da criação da
norma.

Importante ressaltar:
 Os critérios de interpretação não são hierarquizados e não se excluem
mutuamente. Eles se complementam para se chegar ao conteúdo e
alcance preciso da norma, de acordo com o Direito.

Integração da Legislação Tributaria

Neste trecho, o autor aborda a integração da legislação tributária, ou seja, o


preenchimento de lacunas deixadas pela lei por meio de outros métodos
interpretativos. O texto destaca que as lacunas existem devido à impossibilidade
do legislador prever todas as situações que podem surgir na sociedade.

A maioria dos estudiosos da interpretação jurídica defende que o sistema


jurídico é completo e possui mecanismos para lidar com essas lacunas. Dessa
forma, quando a lei é omissa, o próprio ordenamento jurídico prevê regras para
colmatar essas lacunas e garantir a plenitude do Direito.

No entanto, é importante distinguir lacunas reais daquelas em que o legislador


intencionalmente deixou de abranger certas situações. Quando o legislador
estabelece uma norma para casos específicos, o silêncio da norma em relação a
outras situações deve ser interpretado como uma manifestação de que ela não
deve ser aplicada a casos não expressamente previstos.

O texto menciona as técnicas de integração previstas na legislação brasileira


para solucionar lacunas no Direito tributário. A regra geral está prevista no art.
4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), que estabelece
que, na ausência de disposição expressa, o juiz deve decidir o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito.

No âmbito tributário, a solução para lacunas é regida pela regra específica do


art. 108 do Código Tributário Nacional (CTN). Essa regra estabelece uma
sequência hierárquica de técnicas de integração a serem utilizadas, caso a
lacuna não possa ser preenchida por meio da analogia. A sequência é a
seguinte: analogia, princípios gerais de direito tributário, princípios gerais de
direito público e equidade.

A analogia consiste em aplicar uma norma existente a um caso não previsto,


mas essencialmente semelhante ao previsto. A solução aplicada ao caso
previsto é estendida ao caso semelhante não previsto.

Caso a lacuna não seja preenchida pela analogia, os princípios gerais de direito
tributário são utilizados como fonte de solução. Esses princípios são específicos
desse ramo do Direito e podem incluir a anterioridade, a capacidade
contributiva, a isonomia, entre outros.

Se nenhuma das duas técnicas anteriores resolver o problema, os princípios


gerais de direito público são empregados. Esses princípios são válidos para
diversos ramos do Direito Público e podem contribuir para solucionar a lacuna.

Por fim, se nenhuma das técnicas anteriores for adequada, a equidade pode ser
utilizada para buscar a solução mais justa para o caso concreto. A equidade
confere certa discricionariedade à autoridade responsável pela aplicação da
legislação tributária para adaptar o ordenamento jurídico às especificidades do
caso em questão.

Obrigação Tributaria

5.1 Considerações Iniciais O direito das obrigações é um ramo do Direito Civil


que trata do conceito de obrigação. Segundo Washington de Barros Monteiro,
uma obrigação é uma relação jurídica transitória entre um devedor e um credor,
envolvendo uma prestação econômica positiva ou negativa que o devedor deve
cumprir através de seu patrimônio. No contexto tributário, a relação jurídico-
tributária é uma forma de obrigação, onde o credor é um ente político ou
pessoa jurídica de direito público, e o devedor é um particular obrigado a
cumprir a obrigação. As obrigações tributárias podem ser classificadas como de
dar, fazer ou deixar de fazer algo, dependendo do objeto da obrigação. No
Direito Tributário, as obrigações podem assumir as três formas: de dar
(pagamento de tributos), de fazer (escrituração fiscal, entrega de declarações) e
de deixar de fazer (não rasurar escrituração fiscal, não receber mercadorias sem
documentos fiscais). Existem debates sobre a existência de uma quarta
modalidade de obrigação que consiste em permitir algo, como permitir o
acesso da fiscalização a livros, documentos e mercadorias. No entanto, essa
classificação é considerada uma obrigação de não embaraçar a fiscalização.
Além disso, o conteúdo econômico da prestação não é essencial para a
definição de obrigação no Direito Privado e pode ser alterado pelo Direito
Tributário. Nesta seção, serão analisadas as obrigações tributárias de acordo
com o Código Tributário Nacional.

Obrigação Tributária Principal No Direito Tributário, o termo "principal" é


utilizado de forma diferente do Direito Civil. Uma obrigação tributária principal
é aquela em que o objeto é o pagamento de tributo ou multa pecuniária. A
multa tributária não é considerada um tributo em si, mas a obrigação de pagá-
la é de natureza tributária. Essa classificação foi adotada para submeter tanto o
pagamento do tributo quanto da multa ao mesmo regime jurídico, com as
vantagens legais correspondentes. É importante ressaltar que, após a Lei de
Falências e a adaptação do CTN às suas regras, o crédito tributário da multa
tributária deixou de ter a mesma preferência que o crédito tributário do tributo
durante a falência. No entanto, se a obrigação tributária envolve o pagamento
em dinheiro, ela é considerada principal, independentemente de ser uma multa
ou um tributo.

Obrigação Tributária Acessória A obrigação acessória no Direito Tributário tem


como objeto prestações positivas ou negativas relacionadas à arrecadação ou
fiscalização dos tributos. Essas obrigações podem ser de fazer ou de deixar de
fazer algo. Diferentemente do Direito Civil, as obrigações acessórias não
dependem da existência de uma obrigação principal. Elas são criadas no
interesse da fiscalização e arrecadação dos tributos, facilitando o cumprimento
das obrigações principais e possibilitando sua comprovação. A inobservância
das obrigações acessórias

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