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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

104ª CIA ET

Nº 183.088-4, Sd 2ª Cl Bruno Lanna de Oliveira Ferrari – Turma 03

TRABALHO DE LEGISLAÇÃO APLICADA À ATIVIDADE POLICIAL

Juiz de Fora
2023
1 - Aponte o conceito de crime militar (formal, material e analítico), quais os
critérios, inicialmente, estabelecidos para classificar o crime militar. Ainda, diferencie
crime propriamente militar, impropriamente militar e crime militar por extensão.
(Valor 0,5 pts)
O crime militar conceitua-se como a infração da lei do Estado militar advinda
de um ato externo humano que causa prejuízo na ordem social. Em regra, o crime
pode ser classificado de três formas: formal, material e analítica. O conceito formal
considera que o crime é uma fato típico e antijurídico. Desse modo, basta a violação
da norma, não se averiguando se há, de fato, lesividade a um bem jurídico. Já o
conceito material diz respeito à relevância da violação a um bem jurídico. Portanto, o
conceito material de crime é a violação de um bem jurídico penalmente protegido.
Avalia-se o conteúdo da norma. Por último, tem-se o conceito analítico. O conceito
analítico serve, didaticamente, para analisar os elementos do crime, sendo eles três:
tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade.
Antes de abordar os critérios de classificação do crime militar, importante
destacar a diferença entre crime propriamente militar, impropriamente militar e crime
militar por extensão.
O crime propriamente militar é aquele que cujo bem jurídico tutelado é
inerente ao meio militar e estranho à sociedade civil (autoridade, dever, serviço,
hierarquia, disciplina) e somente pode ser praticado por militar da ativa. O delito
propriamente militar encontra previsão somente no CPM e o sujeito ativo só pode
ser militar. Como exemplo, cita-se o Motim, revolta, recusa de obediência e violência
contra superior.
Já o crime impropriamente militar é aquele cujo bem jurídico possui proteção
em ambas as esperas, militar e comum, podendo ser praticado por militar da ativa e
civil.
Por fim, com a inovação legislativa trazida pela Lei nº 13.491/17, crimes
previstos na legislação penal comum ( CP e Legislação extravagante), se cometidos
em algumas das circunstâncias previstas no art.9, inciso II, serão de competência da
Justiça Militar, sendo estes denominados crimes militares por extensão. Como
exemplo, cita-se a Lei de abuso de autoridade. Caso um militar da ativa cometa
qualquer conduta prevista na referida legislação, será julgado na Justiça Militar.
Entre os critérios previstos no art.9º, inciso II, temos:
- Ratione personae: sujeito ativo é militar.
- Ratione loci: crime militar é aquele que ocorre em lugar sujeito a
administração militar.
- Ratione materiae: exige-se a dupla qualidade de militar - no ato e no sujeito.
- Ratione temporis: cometido em determinada época ou circunstância (período
de manobras ou tempo de guerra).
Há, ainda, o critério legal, previsto no art.9º, inciso I que define como crime
militar todo aquele tipo penal expressamente previsto no CPM.
2 - Cite e explique as excludentes de ilicitude previstas no CPM. Ainda,
segundo a teoria diferenciadora adotada pelo CPM, diferencie estado de
necessidade exculpante de estado de necessidade justificante, e dê exemplo de
cada modalidade. (Valor 0,5 pts)
O Código Penal Militar dispõe sobre as excludentes de ilicitude no art.42,
conforme exposto a seguir:
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento do dever legal;
IV - em exercício regular de direito.
O estrito cumprimento do dever legal consiste em excluir a existência de
crime nos casos em que o desempenho de funções públicas venha a infringir direitos
como a liberdade de locomoção, integridade física, entre outros. Ou seja, a
intervenção de um agente público pautada na lei, não deve ser tida como crime,
ainda que cause lesão a bem jurídico de terceiro.
O exercício regular do direito “compreende ações do cidadão comum
autorizadas pela existência de direito definido em lei e condicionadas à regularidade
do exercício desse direito”. (SANTOS, Juarez Cirino dos. Op. cit., p. 163.)
A legitima defesa consiste em repelir injusta agressão, atual ou iminente,
utilizando de meios razoáveis e proporcionais para tanto. É cabível a legitima defesa
de direito próprio ou de terceiros. Interessante destacar a diferença entre legitima
defesa e estado de necessidade. Nos dizeres de Robson Coimbra Neves:
“A propósito deste último fundamento, notória a diferença em relação ao
estado de necessidade, já que nele se tem por requisito a inevitabilidade de lesão ao
bem jurídico protegido, devendo o autor do fato necessário verificar se não há outra
forma de repulsar o perigo e de atuar, inclusive a fuga, enquanto na legítima defesa
não se questiona essa situação, pois, como dito, o direito não pode retroceder
perante o injusto.” (NEVES, 2014, p.366)
Por fim, tem-se o estado de necessidade, que, no CPM, se divide em estado
de necessidade exculpante e justificante, variando de acordo com a supremacia ou
não do bem sacrificado em relação àquele que se almejava proteger.
No estado de necessidade exculpante (art.39, CPM), o bem jurídico salvo é
de igual ou menor valor que o bem jurídico sacrificado. Há, bem verdade, uma
inexigibilidade de conduta diversa. Como exemplo, menciona-se dois militares
naufragados disputando o último lugar no ultimo bote para salvar suas vidas. Quem
sobreviver está em estado de necessidade exculpante para o Direito Militar. Já para
o direito penal, há excludente de culpabilidade pela inexigibilidade de conduta
diversa.
Já no estado de necessidade justificante (art.43, CPM), o bem jurídico
protegido é de maior valor que o bem jurídico sacrificado. Como exemplo, menciona-
se um militar que subtrai veículo no interior do quartel para deslocar com mulher
grávida que acabara de iniciar trabalho de parto em direção ao hospital.
3. Explique o crime de abandono de posto, previsto no art. 195 do CPM,
citando quando ocorre a sua consumação. Ainda, diferencie o “posto” de “lugar de
serviço”. (Valor 0,5 pts)
O crime de abandono de posto está assim descrito: Art. 195. Abandonar, sem
ordem superior, o posto ou lugar de serviço que lhe tenha sido designado, ou o
serviço que lhe cumpria, antes de terminá-lo: Pena – detenção, de três meses a um
ano.
O referido tipo visa proteger o dever e o serviço militares. A sua consumação
ocorre quando o militar deixa, definitivamente, o posto no qual trabalhava de forma
clandestina, ou seja, sem anuência de superior. O militar se desincumbe da função
por vontade própria.
Além disso, importante ressaltar os conceitos de “posto” e “Lugar de serviço”.
De acordo com Robson Coimbra Neves, “posto é o local certo e determinado, fixo ou
não (se não for fixo, deve ter percurso demarcado e limitado), onde se cumpre
determinada missão, seja de vigilância, seja de controle, segurança (cercanias da
Unidade militar), seja de guarda (de local de crime ou de custódia de presos), ou
qualquer outra afeta à Força Militar.” Já lugar de serviço “é a área geográfica
delimitada, maior que o posto, a qual impede que o militar possa lhe dar cobertura
permanente, embora não afaste a missão de vigilância ou guarda.”
Um exemplo de abandono de posto é o do CPU, responsável pela supervisão
e apoio ao policiamento ostensivo de determinado setor (fiscaliza vários “postos” de
serviço”, ou seja, o seu “lugar de serviço” é amplo). Caso saia ele da área que lhe foi
atribuída sem qualquer justificativa legal, incorrerá no delito sob estudo.
4 - Explique e diferencie os crimes de falsidade documental (art. 311, CPM) e
falsidade ideológica (art. 312, CPM). Ainda, diferencie os crimes de uso de
documento falso (art. 315, CPM), uso de documento alheio (art. 317, CPM) e falsa
identidade (art. 318, CPM). (Valor 0,5 pts)
Os delitos previstos nos arts. 311 ( falsidade documental) e 312 (falsidade
ideológica) possuem diversos elementos em comum, como por exemplo: sujeito
ativo pode ser militar da ativa ou inativa, bem como o civil, desde que no âmbito da
Justiça Militar da União; sujeito passivo é a instituição militar atingida; o objeto
jurídico é a administração militar; ambos delitos só se consumam por meio de ações
dolosas.
No entanto, os referidos delitos se diferenciam no tocante aos elementos do
tipo, já que tutelam condutas diferentes. Na falsidade documental, também
denominada de falsidade material, o núcleo do tipo é “falsificar, ou seja, criar,
fabricar um documento que se passe por verdadeiro, ou então “alterar”, ou seja,
modificar um documento verdadeiro, transformando relevantemente, assim, a
informação nele constante”. Afeta-se a autenticidade do documento extrinsecamente
falando.
Já na falsidade ideológica, o núcleo do tipo é omitir, inserir ou fazer inserir.
“O documento, formalmente, está correto e qualquer perícia (exame)
realizada sobre ele nada irá detectar. O erro aqui não é material, mas sim de
essência. Portanto, a falsidade ideológica se demonstra por meio de fatos ou de
outros documentos que comprovem que a informação existente no documento sob
estudo não é verdadeira ou está incompleta, apesar de, materialmente, o objeto
estar impecável.” (NEVES, 2014, p.1354).
No tocante aos delitos dos artigos 315, 317 e 318, CPM, observam-se que as
seguintes diferenças.
No artigo 315 o autor faz uso de documento materialmente ou
ideologicamente falso. O autor apresenta, diante da Administração militar, os
referidos documentos para cumprimento de determinado fim.
O artigo 317 é mais específico que o 315, na medida em que o autor usa
documento de identidade (ou outro documento que permita identificação) verdadeiro
que, entretanto, não pertence ao autor. Na mesma pena incorre que cede o
documento próprio à outra pessoa. Em ambos os casos, é necessário que a
utilização deste documento atente contra a administração militar.
Por fim, no artigo 318 o núcleo do tipo é atribuir-se, isto é, o autor intitula a si
ou a terceiro identidade falsa, dizendo ser quem realmente não é, perante a
Administração Militar. Segundo Robson Coimbra Neves, “o autor apresenta--se ou
apresenta terceiro, por meio de uma informação de identificação falsa, à
Administração Militar escondendo a real identidade (sua ou de outrem) com o intuito
de obter vantagem (de qualquer ordem para si ou para terceiro) ou de prejudicar
alguém”. Não há uso de documento no cometimento deste delito, pois, se assim
fosse, estar-se-ia diante do delito previsto no art.315, CPM.

5 - Explique o crime de deserção (art. 187, CPM), apontado os casos


assimilados e especiais. Ainda, aponte quando se inicia a contagem do prazo, a
consumação do crime e no que consiste o período de graça. (Valor 0,5 pts)
A deserção está prevista no art.187, CPM: Art. 187. Ausentar-se o militar, sem
licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais
de oito dias: Pena – detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é
agravada.
O crime de deserção visa tutelar a efetiva prestação do serviço militar, bem
como o dever de comprometimento do militar no cumprimento de suas funções. É
caracterizado como um delito de mão própria, somente figurando como sujeito ativo
o militar da ativa (federal ou estadual). O sujeito passivo é a própria Instituição
Militar.
Segundo Robson Coimbra Neves, “a conduta nuclear é “ausentar-se”, que
significa afastar-se, furtar-se de estar no lugar em que devia por imposição do dever
e do serviço militar, obrigação constituída sob a forma de escala ou sob forma de
ordem específica (escrita ou oral)”. (p.860)
No que diz respeito à contagem do prazo, a deserção se verifica após
completar mais que oito dias inteiros da ausência do militar, sendo este um delito
formal, bastando a ausência do militar.
Período de graça consiste no período de oito dias da ausência do militar. Até
se consumar esse prazo, não se fala em desertor, mas sim, em ausente, sendo este
submetido somente a sanções disciplinares, conforme previsão no Código de Ética
aplicável à Instituição Militar. Nota-se, portanto, “que tanto a transgressão disciplinar
quanto o crime militar são violações do mesmo dever militar, ou seja, que a
deserção é uma infração (ou violação) progressiva, onde o militar evolui da simples
transgressão da disciplina para o cometimento do crime, sem solução de
continuidade”. (ASSIS – jus militares)
No tocante aos casos assimilados, verifica-se previsão no art. 188, CPM:
Art. 188. Na mesma pena incorre o militar que: I – não se apresenta no lugar
designado, dentro de oito dias, findo o prazo de trânsito ou férias; II – deixa de se
apresentar a autoridade competente, dentro do prazo de oito dias, contados daquele
em que termina ou é cassada a licença ou agregação ou em que é declarado o
estado de sítio ou de guerra; III – tendo cumprido a pena, deixa de se apresentar,
dentro do prazo de oito dias; IV – consegue exclusão do serviço ativo ou situação de
inatividade, criando ou simulando incapacidade.
O referido dispositivo possui como objetividade jurídica a mesma do artigo
anterior, aproveitando-se, ainda, as mesmas disposições relacionadas ao sujeito
ativo, passivo e elementos objetivos do tipo.
No entanto, “a principal diferença repousa no fato de que, enquanto a
deserção prevista no artigo anterior tinha como termo inicial a falta ao serviço, aqui,
particularmente nos incisos I a III, ela tem início com o não retorno de qualquer
afastamento regulamentar (por término do período ou por cassação), após
cumprimento de pena ou após a decretação de estado de sítio ou guerra”. (NEVES,
2014, p.885).
Já a deserção especial está prevista no “Art. 190. Deixar o militar de
apresentar-se no momento da partida do navio ou aeronave, de que é tripulante, ou
do deslocamento da unidade ou força em que serve”
O referido o delito se consuma no momento da partida da aeronave ou do
deslocamento da tropa, estando ausente o militar engajado. Tal dispositivo também
é denominado de deserção instantânea, a qual se consuma no momento da partida
estando o militar ausente.
6 - Diferencie os crimes: recusa de obediência (art. 163, CPM),
descumprimento de missão (art. 196, CPM) e desobediência (art. 301, CPM), (Valor
0,5 pts).
O delito de recusa de obediência está previsto no art.163, COM: “Recusar
obedecer a ordem do superior sobre assunto ou matéria de serviço, ou relativamente
a dever imposto em lei, regulamento ou instrução.”
O objeto jurídico é a preservação da ordem da autoridade superior, bem como
a disciplina militar, inerente ao pleno funcionamento das IMES. O sujeito ativo é o
militar inferior, ou seja, aquele subordinado hierárquico ou funcional, restringindo o
cometimento do delito somente para militares (crime próprio). Ressalta-se a
possibilidade de ser militar da ativa ou inativa, já que o tipo não restringiu,
abordando, genericamente, o termo superior.
Para a configuração do delito, o militar inferior deve se recusar a obedecer a
uma ordem imperativa, pessoal e concreta. O crime só se configura na modalidade
dolosa.
A consumação ocorre no momento em que o sujeito ativo recusa obediência à
ordem, por meio de ação ou omissão, sempre acompanhado de afronta à autoridade
que determinou ou que está fazendo cumprir a ordem, bem como afronta à
disciplina.
O delito previsto no art.196, CPM assim dispõe: Art. 196. Deixar o militar de
desempenhar a missão que lhe foi confiada: Pena – detenção, de seis meses a dois
anos, se o fato não constitui crime mais grave. § 1º Se é oficial o agente, a pena é
aumentada de um terço. § 2º Se o agente exercia função de comando, a pena é
aumentada de metade. Modalidade culposa § 3º Se a abstenção é culposa: Pena –
detenção, de três meses a um ano.
O delito visa a proteção da tutela e serviço militar.
Como elemento essencial do tipo, menciona-se o termo “missão”, que
significa atividade específica, certa, definida e inequívoca, evidentemente legal.
Em último plano, tem-se a desobediência, descrita no tipo penal do art. 301.
Desobedecer a ordem legal de autoridade militar: Pena - detenção, até seis meses.
A desobediência tutela a administração militar e a autoridade militar exercida
por quem emanou a ordem. A desobediência pode ser cometida por militares (ativa
ou inativa) e até mesmo por civil, em âmbito da Justiça Militar da União. “O núcleo
do tipo em análise é “desobedecer”, ou seja, não obedecer, não acatar, não atender
à ordem de autoridade militar, o que pode dar-se por ação – fazendo algo diverso do
que foi determinado – ou por omissão – negando-se, simplesmente, a fazer o que foi
determinado, sem adotar outra ação” (NEVES, 2014, p.1314).
Feita uma breve explanação sobre os delitos, explica-se a principal diferença
entre eles. De acordo com o doutrinador Robson Coimbra Neves, “os delitos de
desobediência ou de recusa de obediência, em nossa visão, exigem uma atitude
afrontadora, omissiva ou comissiva, mas que indique a afronta à ordem do superior
(recusa de obediência) ou da autoridade militar (desobediência). No
descumprimento de missão, por seu turno, não há a insurgência contra a ordem
emitida, até acatada pelo militar; porém, ainda que tenha assimilado a missão que
lhe foi confiada, não a leva a cabo, interrompendo a execução ou nem mesmo a
iniciando.”
Ademais, destaca-se que entre o delito de recusa de obediência e o delito de
desobediência há uma notória diferença em dois pontos. O primeiro diz respeito à
qualidade do sujeito ativo. No primeiro tipo, restringe-se ao militar inferior ou
subordinado hierárquica ou funcionalmente. Já no segundo, não há uma
especificação legal, sendo que qualquer um que desobedecer a ordem legal de
militar cometerá o delito.
Em segundo plano, a ordem emanada no crime de recusa de obediência é
uma ordem atinente ao serviço militar, já na desobediência, o tipo penal trata de
forma ampla. Conclui-se, portanto, que o art.163, CPM é mais especifico que o 301,
CPM.
REFERÊNCIAS
ROBSON, C. Manual de Direito Penal Militar. Saraiva Educação S.A., 2014, São
Paulo.
CÉSAR DE ASSIS, J. PRAZO PARA A CONSUMAÇÃO DO CRIME DE
DESERÇÃO: AFINAL, SÃO QUANTOS DIAS?Disponível em:
<http://jusmilitaris.com.br/sistema/arquivos/doutrinas/prazoconsumacao.pdf>.
Acesso em: 23 fev. 2023.

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