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Orientações para preparação e realização do Júri Simulado

1 Considerações Gerais
- Os/as discentes deverão realizar pesquisas teóricas, doutrinárias e de dados para
fundamentar as argumentações que serão apresentadas e sustentadas no dia da realização do
Júri.
- A turma será dividida em 13 (treze) grupos com 3 ou 4 integrantes cada (a depender
da quantidade de alunos/as) para assumirem as seguintes posições:
● 1 (um) grupo representará a Advocacia Geral da União que deverá redigir um
parecer se mostrando favorável ou não à tese do julgamento mostrando suas
razões, argumentos e fundamentação jurídica e teórica.
● 1 (um) grupo representará representantes da sociedade civil (ongs,
organizações, instituições etc) na condição de amicus curiae que deverá redigir
um parecer apontando os fundamentos, razões e argumentos teóricos e
jurídicos pela importância e defesa do caso a ser julgado.
● 11 (onze) grupos representarão os/as ministros/as do STF. Cada grupo redigirá
o voto de um/a ministro/a, demonstrando consistência argumentativa, teórica,
jurídica para a defesa de voto favorável ou não ao caso em discussão. No dia
da simulação, a escolha de quem do grupo representará o/a ministro/a é livre,
de modo que esta pessoa será a que fará a leitura do voto e sustentação oral do
posicionamento desenvolvido.
- Cada grupo deverá trabalhar em conjunto para a construção das argumentações
jurídicas a respeito da temática, cada um dentro dos limites do seu papel de julgamento ou
defesa/acusação. No dia da simulação, o grupo deverá enviar em arquivo pdf o seu
parecer/voto sustentado oralmente para fins de critério avaliativo da atividade.
- Serão realizadas ao longo do semestre reuniões de orientação com cada um dos
grupos para acompanhamento e auxílio no desenvolvimento das argumentações.
- Os/as discentes devem utilizar em suas participações as referências debatidas ao
longo do semestre que estejam relacionadas ao caso, apontando os debates sobre direitos
humanos a partir da bibliografia básica utilizada, bem como ampliando-a para demais leituras
encontradas nas pesquisas.

2 Do Procedimento
Iremos simular sessões de julgamento no Supremo Tribunal Federal a respeito do
tema: O perfilamento racial (validade de prova obtida em busca pessoal baseada na cor da
pele).
O júri seguirá a presente ordem:
● Dia 1 do julgamento: oitiva da AGU e amicus curiae
1) A sessão será aberta com uma breve exposição sobre o tema a ser julgado. A
professora estará na posição de ministra relatora para iniciar as sessões de julgamento.
2) Em seguida, será dada a palavra ao grupo de representantes da Advocacia Geral da
União (AGU) para oitiva do seu parecer sobre o tema. O grupo terá de 15 (quinze) a 30
(trinta) minutos para fazer a sustentação oral de sua tese acerca do perfilamento racial.
3) Em seguida, os/as representantes da sociedade civil na condição de amicus curiae
farão suas sustentações orais trazendo em sua argumentação dados, discussões teóricas e
doutrinárias, posicionamentos internacional, etc., para fundamentar seu posicionamento a
favor ou contrário ao reconhecimento do perfilamento racial. O grupo terá de 15 (quinze) a 30
(trinta) minutos para fazer a sustentação oral de sua tese acerca do perfilamento racial
4) Posteriormente, será concedida a palavra aos grupos representantes dos/as
ministros/as do STF, para as arguições consultivas que considerarem pertinentes em relação à
AGU e aos representantes da sociedade civil. A rodada de perguntas e respostas terá duração
máxima de 30 (trinta) minutos.
5) Findada a fase de sustentação oral das partes e arguição, a presidente da mesa
(professora) encerra a sessão indicando a continuidade do julgamento nas sessões seguintes.

● Dia 2 do julgamento: início do julgamento com a manifestação de parte dos/as


ministros/as
1) Reiniciada a sessão pela presidente da mesa (professora), será estabelecida a ordem
de votação dos/as ministros/as presentes.
2) 5 (cinco) ou 6 (seis) ministro/as farão a leitura dos seus votos. O grupo que iniciará
a votação refere-se ao do Ministro Relator do caso, o qual será definido previamente por
sorteio. Cada grupo terá de 15 (quinze) a 20 (vinte) minutos para fazer a sustentação oral do
seu voto.
3) A sessão será encerrada para continuidade da votação na sessão seguinte.

● Dia 3 do julgamento: continuação dos votos e encerramento do julgamento


1) Reiniciada a sessão pela presidente da mesa (professora), os/as demais ministros/as
farão a leitura dos seus votos dentro do prazo de 15 (quinze) a 20 (vinte) minutos.
2) Encerrada a fase de votação, será feita a computação dos votos. Após o cômputo,
o/a presidente da sessão deverá fazer a leitura da tese final fixada no julgamento e encerrar a
sessão de julgamento.

3 Do caso
No dia 20/09/2022 foi publicada a Instrução Normativa nº 123-DG/PF, de 18 de
setembro de 2022, a qual estabelece critérios e procedimentos para a realização de busca
pessoal em casos suspeitos de tráfico e uso de drogas.
Diante da publicação do ato normativo, a Defensoria Pública da União ajuizou a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 000.001, em 25/11/2022. Em
síntese, a ação proposta pela DPU sustenta:
1) Que o procedimento estabelecido na Instrução Normativa nº 123-DG/PF visa
legitimar critérios de filtragem racial para a realização de busca pessoal em casos de suspeita
de tráfico e uso de drogas, pois a expressão “fundada suspeita” (art. 2º, IN 123) ao considerar
os “indicadores étnico-raciais” (art. 2º, II, IN 123) como um critério de aferição do flagrante
reforça a prática de ações discriminatórias, pois a busca policial passa a ser fundada
essencialmente na cor da pele do suspeito.
2) Que não se pode ter como elemento ensejador da fundada suspeita a convicção do
agente policial despertada a partir da cor da pele ou da aparência física do suspeito
(vestimentas, corte e tipo de cabelo, tatuagens, acessórios etc.) sob o risco de ratificação de
condutas tirânicas violadoras de direitos e garantias fundamentais a configurar tanto o abuso
de poder, quanto o racismo. Assim, a autorização dada pela Instrução Normativa nº
123-DG/PF para a busca pessoal baseada em critérios raciais é inconstitucional, pois viola
direitos fundamentais dos cidadãos e normatiza o perfilamento racial.
3) Que a “fundada suspeita” dá margens para interpretações que reforçam a prática de
uma conduta policial estigmatizante e estereotipada que, apoiada no racismo estrutural, recai
sobre a criminalização dos corpos negros. Esse tratamento estigmatizado leva o Estado a
utilizar protocolos subjetivos e inconscientes, com comportamentos automatizados e práticas
sutis de desvalor, opressão e exclusão das pessoas negras.
4) Que a busca pessoal baseada em perfilamento racial autorizada pela Instrução
Normativa nº 123-DG/PF legitima condutas discriminatórias baseadas em racismo,
ocasionando violações de direitos humanos e causando insegurança jurídica aos cidadãos
brasileiros.
4) Que a Instrução Normativa nº 123-DG/PF é lesiva e violadora dos direitos
fundamentais, especialmente o direito à igualdade de tratamento (art. 5º, CF/88), não
discriminação (art. 3º, IV, CF/88) e a presunção de inocência (Art. 5º, LVII, CF/88).

A ADPF foi distribuída no âmbito do STF e, por sorteio, ficou sob a relatoria do
Ministro Alexandre de Moraes.

https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=503718&ori=1
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=503418&ori=1
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=503355&ori=1
https://www.youtube.com/watch?v=0ydHeb9SjtI

3.1 Ato normativo objeto de julgamento

Instrução Normativa nº 123-DG/PF, de 18 de setembro de 2022.

Estabelece critérios e procedimentos para a


realização de busca pessoal em casos suspeitos
de tráfico e uso de drogas.

CAPÍTULO I

DA FINALIDADE

Art. 1º Estabelecer os procedimentos relativos aos critérios e para a realização de busca


pessoal nos casos suspeitos de prática de crimes de drogas.

CAPÍTULO II

DOS CRITÉRIOS PARA A BUSCA PESSOAL

Art. 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte
consigo drogas, entendidas como substâncias ou os produtos capazes de causar dependência,
assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder
Executivo da União.
Parágrafo único: a fundada suspeita se baseia na aferição fática, por parte dos agentes
policiais, dos seguintes critérios, não cumulativos:

I- indicadores socioeconômicos;

II- indicadores étnico-raciais;

III - indicadores etários;

IV - indicadores de localidade, considerando dados quantitativos sobre bairros onde há maior


índice de violência e de tráfico de drogas;

V - a percepção agentes policiais acerca da potencial prática de infração penal, em razão de


circunstâncias específicas; e

VI - o comportamento dos indivíduos perante a atuação policial.

CAPÍTULO III

DOS PROCEDIMENTOS PARA A BUSCA PESSOAL

Art. 3º Presente um dos critérios indicados no parágrafo único do art. 2º desta instrução
normativa, os agentes policiais estão autorizados a realizar a busca pessoal.

Art. 4º. Se da busca pessoal resultar a verificação do porte de drogas, deverá ser realizada a
prisão em flagrante do indivíduo, o qual será encaminhado para respectiva delegacia, onde
será procedido o auto de prisão em flagrante, em conformidade com os trâmites especificados
no Código de Processo Penal.

Parágrafo único: o auto de prisão em flagrante deverá informar como foi realizada a busca
pessoal e especificar qual critério foi determinante para a realização de tal procedimento.

Art. 5º As substâncias deverão ser apreendidas pelos agentes policiais, que deverão elaborar
relatório descrevendo a quantidade apreendida e o local onde serão armazenadas dentro da
delegacia de polícia.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 6º As delegacias deverão manter base de dados que aponte qual ou quais indicadores
foram mais eficazes para a realização do procedimento de busca pessoal.
Art. 7º O perfilamento racial é medida compatível com a adoção do critério baseado em
indicadores étnico-raciais.

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