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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Proc. Ref.: 0004767-37.2022.8.26.0026

URGENTE

GUILHERME PEREIRA DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, advogado inscrito na


OAB/SP sob o nº 425.239, com endereço profissional à Rua Barão de Jaceguai, n 509,
sala 93, Edifício Empresarial Atrium, Bairro Centro, Mogi das Cruzes/SP, CEP: 08710-
160, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º,
inciso LXVIII, da Constituição Federal, e art. 647 e “ss” do Código de Processo Penal,
impetrar:

HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR

Em favor do Paciente SANTO COUTINHO DA SILVA, brasileiro, casado,


aposentado , portador do RG nº 16.845.197-9, inscrito no CPF sob o nº 010.030.918-
65, residente e domiciliado à Rua José Benedito, n 600, Bairro Itaguaçu, Ilhabela/SP,
indicando desde já autoridade coatora como o MM Juíz de Direito da Vara de Execução
Criminal da Comarca de Bauru/SP, Dr. Josias Martins de Almeirda Junior,
consubstanciado nos fatos e motivos que passo a aduzir:

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2 - Rua Barão de Jaceguai, 509, edifício empresarial Atrium, Centro, Mogi das Cruzes, CEP: 08710-160,
E-mail: info@oliveiraguilherme.adv.br, Tel.: (11) 93702-0234.
I – SÍNTESE DOS FATOS

Colhe-se dos autos do processo supra-aludido que o paciente fora


denunciado pelo Ministério Público Estadual, pela suposta prática do crime
previsto no artigo 217-A do Código Penal.

Durante a instrução, foram ouvidas as testemunhas Alyne dos Santos


Coutinho Silva, Ana Maria Martinelli, Maiara Lúcia da Silva Nunes, Sabrina dos
Santos Coutinho, Luiz Gustavo dos Santos Coutinho e Maria Silva Coutinho. Foi
realizado o depoimento especial da suposta vítima Valentina Santos Silva, sendo,
ao final, o paciente interrogado.

Após regular tramitação dos autos, o juízo condenou o paciente, fixando a


pena em 12 (doze) anos de reclusão, sendo o regime inicial de cumprimento de
pena o fechado, num processo eivado de graves injustiças e nulidades que serão
devidamente demonstradas por meio de revisão criminal que será proposta em
momento oportuno.

É, em suma, o relatório.

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II – DO MÉRITO.

II.1 – DA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA

O Ministério Público apresentou suas alegações finais pugnando pela


condenação nos termos da denúncia. Importante destacar que as provas
constantes nos autos não são suficientes para a condenação, pois não há provas
concretas que de fato evidenciem que o acusado é o autor do delito. Isto é o que a
defesa provará.

É cediço que a palavra da vitima tem papel fundamental como meio de prova
hábil a demonstrar a autoria nos crimes sexuais. Acontece que é necessário
amparo em outras provas, não sendo a palavra da vitima, de forma isolada,
suficiente para embasar decreto condenatório.

Acontece que os próprios argumentos do Ministério Público são controversos.


Vejamos trecho da denúncia:

Denúncia, fls 65-67

 Qual o ponto crucial da denúncia?


 Que no local do fato não havia mais ninguém além da criança e o réu.

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Acontece que em depoimento especial, a vítima narra situação completamente
diferente da apresentada na denúncia, senão vejamos:

Alegações Finais do MP, fls 144-150

Nem precisa ser um especialista em interpretação de texto para compreender


que “não havia muita gente no local” significa que tinha pessoas no local, só que não
muitas, mas havia.

Para corroborar com esta afirmação - que havia outras pessoas no local -, a
defesa apresenta (através do link abaixo) vídeos e fotos da festa no dia do fato:

 https://drive.google.com/drive/folders/1y6w7hWMvwDXbsv9
m26lNB_dbhmycQBAv?usp=share_link

Verifica-se através das mídias registradas na data do fato, que havia várias
pessoas na casa, entre adultos e crianças, entre 30 a 40 pessoas no total. Sendo
impossível que o paciente tenha cometido o crime que lhe foi imputado.

Segue alguns trechos das mídias colacionadas no link:

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Entrada da sala Parte da varanda

Parte da cozinha
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As fotos acima mostram que a casa é pequena, contendo apenas cozinha, sala,
quarto e varanda. As mídias colacionadas comprovam a veracidade dos depoimentos
dos informantes ao declararem que, aqueles que estivessem na cozinha ou na sala
conseguiriam visualizar o que estava acontecendo na varanda.

Vejamos o que a senhora Maiara Lúcia da Silva, sobrinha da paciente, ouvida


como informante, declarou:

 É possível que, quem esteja na área de lazer, veja e seja visto


por aqueles que por ventura estiverem na sala. Que na ocasião
havia bastante gente na casa, entre crianças e adultos.

Outrossim, foi ouvido o informante Luiz Gustavo dos Santos Coutinho, neto do
paciente:

 Informou que, estava presente na festa em que supostamente


os fatos ocorreram. Que a festa durou aproximadamente de
uma a duas horas, talvez mais. Que não percebeu a ocorrência
de nenhuma anormalidade no dia dos fatos. Que embora não
tenha permanecido exclusivamente na varanda, ficou no local
a maior parte do tempo. Que na varanda estavam algumas
crianças e alguns adultos. Que na varanda há uma escada, por
isso, sempre havia pelo menos um adulto presente.

Já a informante Sabrina dos Santos Coutinho, nora do acusado, declarou:

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 Que na festa havia aproximadamente umas oito a dez crianças,
bem como, esse mesmo número de adultos. Que as pessoas
ficavam entre a sala e a varanda. Que é fumante, e por isso,
rotineiramente se deslocava até a varanda para fumar. Que
ninguém presenciou nenhum fato estranho. Que não viu o
acusado permanecer sozinho com qualquer criança.

Para que não haja dúvidas, a própria vítima em seu depoimento especial
afirma: (parênteses nosso)

 Que ambos estavam expostos (na hora do suposto fato


criminoso) a vista de todos que ali se encontravam.

Os depoimentos dos informantes são verossímeis e uníssonos,


comprovando que em nenhum momento o réu ficou sozinho com a vítima,
tornando o crime impossível, haja vista que, como é cediço, os crimes de violência
sexual, por sua própria natureza, ocorrem quando não há ninguém por perto.
Como vimo-lo, devido as circunstâncias do fato, era impossível o paciente ter
praticado o crime de estupro e, ninguém, absolutamente ninguém, ter
percebido.

Salienta-se não haver confissão do acusado, assim, não se pode


aceitar, data vênia, que o acusado seja condenado por um delito, em que não há,
nos autos, provas que demonstrem que realmente o crime aconteceu, tendo em

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vista que uma sentença condenatória somente é possível se existir um juízo de
certeza.

Cabe salientar que, em juízo, em tese, foi produzida apenas uma única
prova, sendo ela a palavra da vítima. De fato, a doutrina e jurisprudência,
passaram a conferir um papel fundamental à palavra da vítima como meio de
prova hábil a demonstrar a autoria nos crimes sexuais. Não obstante, as
declarações do ofendido necessitam serem corroboradas pelos fatos e pelo
conjunto probatório. Portanto, mesmo em crimes sexuais, o depoimento da vítima
como prova isolada, sem amparo em outras provas, não pode ser apto a embasar
eventual condenação.

Este é o entendimento consolidado do Egrégio Tribunal de Justiça de São


Paulo. Vejamos os recentes julgados: (g.n)

APELAÇÃO CRIMINAL. Estupro de Vulnerável (artigo 217-A,"caput",


c.c. artigos 226, inciso II, e 61, inciso II, alínea f, todos do Código
Penal). Sentença absolutória. Recurso Ministerial. Pretensão à
condenação do réu. Impossibilidade. Fragilidade das provas
coligidas aos autos. Prova produzida em juízo insuficiente para
sustentar o édito condenatório. Aplicação do princípio do in dubio
pro reo. Absolvição que se impõe. Recurso não provido.

(TJ-SP - APR: 15019472020198260270 SP 1501947-


20.2019.8.26.0270, Relator: Freddy Lourenço Ruiz Costa, Data de
Julgamento: 17/02/2022, Data de Publicação: 17/02/2022)
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Neste mesmo diapasão, é o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça: (g.n.)

INTEIRO TEOR: Se a materialidade e a autoria vem respaldada


apenas nas palavras das vítimas que são irmãs, bem como
inexistindo nos autos testemunhas oculares do ocorrido ou
qualquer outro elemento a corroborar as declarações, impõe-se,
diante da precariedade do conjunto probatório, a reforma da
sentença para absolver o agente da prática do crime previsto nos
artigos 217-A do Código Penal, nos termos do art. 386, VII,
do Código de Processo Penal.

Ainda que se cuide de crime de natureza sexual em que


efetivamente não se ocorre às claras, um mínimo de elemento
probatório há que se exigir, sob pena de se
usar somente a palavra da vítima, interessada no feito, para
sedimentar uma condenação penal.

Com efeito, é requisito indispensável à condenação, a existência de


prova robusta e inquestionável, estreme de dúvida, prova esta que,
neste caso, não vejo presente, tratando-se de caso de aplicação do
inciso VII do artigo 386 do CPP, conforme recentes decisões dos
tribunais pátrios.
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(STJ - REsp: 1920413 MS 2021/0034406-3, Relator: Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Publicação: DJ 15/06/2021)

Por todo o exposto, considerando os depoimentos da vítima, a verossimilhaça e


unissonância das declarações dos informantes, não há outro caminho senão a
absolvição do paciente SANTO COUTINHO DA SILVA.

II.2 – DA ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIÇÃO

Como vimos nos autos, o paciente foi condenado a 12 (doze) anos de


reclusão, em início de cumprimento de pena em regime fechado, por
supostamente ter passada a mão na vagina da vítima e incorrido no crime previsto
no 217-A do Código Penal, que diz:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso


com menor de 14 (catorze) anos:

Em análise da estrutura típica do 217-A, se verifica que o termo “ato


libidinoso” está atrelado a “conjunção carnal”, ou seja, após a enumeração
casuística “conjunção carnal” segue-se cláusula genérica “ato libidinoso”, cuja
interpretação deve ser restritivamente, para abranger apenas atos com

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intensidade semelhante à conjunção carnal, quedando afastadas importunações
menores.

O modo de construção do tipo em análise revela que o legislador empregou


a técnica da interpretação analógica, o que faz exigir que o ato libidinoso tenha a
mesma potencialidade lesiva do coito vaginal.

Haveria, inclusive, ofensa ao princípio da proporcionalidade. Afinal, alguém


que passasse as mãos na perna de uma criança seria apenado com a mesma pena
destinada a quem praticou cópula vagínica ou anal.

Logo, para condenar alguém pela prática de estupro de vulnerável em


decorrência de ato libidinoso, será preciso concluir que o ato se reveste da
mesma gravidade da conjunção carnal. A atual redação do artigo 217-A não
permite outra interpretação. Ou o ato libidinoso é grave como a conjunção
carnal (v.g., sexo oral, anal) ou o fato é atípico.

Neste sentido, é o que a doutrina leciona. Vejamos o que diz Gustavo


Junqueira:

“Como argumento de reforço à interpretação restritiva da


expressão “ato libidinoso” para fins de configuração do estupro,
acrescentamos outro argumento: partindo da premissa que a lei
não usa palavras inúteis, é necessário esforço interpretativo para
entender por que a lei utiliza a expressão “conjunção carnal” “ou
outro ato libidinoso”, já que a conjunção é, em si, ato libidinoso,
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e a redundância seria desnecessária.” (Direito Penal. 10ª edição.
São Paulo, RT, 2010. p. 308-309).

Ademais, o paciente não praticou qualquer violência sexual contra a menor


ou outro crime de igual gravidade.

Diante da inserção no mesmo tipo penal, o ato libidinoso constitui formula


genérica que deve ser equiparada à conjunção carnal, a fórmula casuística.
Mesmo que este juízo entenda que os fatos narrados na peça acusatória sejam
verdadeiros, deve-se levar em consideração que o paciente não praticou nenhum
outro ato libidinoso revestido de gravidade equivalente a conjunção carnal.

II.3 – IN DUBIO PRO REO

Nesse importe, imperando dúvida, o princípio constitucional in dubio pro


reo impõe a absolvição.Esse princípio reflete nada mais do que o princípio da
presunção da inocência, também com previsão constitucional. Aliás, é um dos
pilares do Direito Penal, e está intimamente ligado ao princípio da legalidade.

Nesse aspecto, como corolário da presunção de inocência, o princípio do in


dubio pro reo pressupõe a atribuição de carga probatória ao acusador e fortalecer
a regra fundamental do processo penal brasileiro. Assim, não se pode condenar o
réu sem que sua culpa tenha sido suficientemente demonstrada.

Neste sentido, o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo:

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INTEIRO TEOR: Assim, embora haja indícios da autoria delitiva
praticada pelo recorrido, agiu bem o d. Magistrado a quo ao
entender pela insuficiência de provas, absolvendo-o com fulcro
no art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal , porquanto não se
pode condenar alguém quando não existe certeza da autoria,
devendo, nesta hipótese, prevalecer o princípio inserto na
parêmia in dubio pro reo.

(TJ-SP - APR: 00135988220148260405 SP, Relator: Paiva Coutinho,


Data de Julgamento: 23/03/2022, Data de Publicação: 25/03/2022)

Dessarte, vimos que não existem provas nos autos capazes de condenar o
paciente, nem mesmo que tenha ocorrido o crime.Bem sabemos que esse ônus é
da Acusação, e só dela, e assim não o fez satisfatoriamente, provar o quadrante
fático exposto na exordial acusatória, pois, obviamente, apenas àquela interessa.
(CPP, art. 156, caput).

Por essas razões, por falta de provas, não há outro caminho senão a
absolvição do paciente.

II.3 – PROVA DOCUMENTAL. PARECER TÉCNICO PSICOLÓGICO FORENSE.

No dia 23 de setembro de 2022, foi realizado Parecer Técnico (documento


em anexo) com fundamentação técnica e científica em psicologia forense, pela
Doutora Deise Cristina Gomes, perita judicial, com a finalidade de prestar
esclarecimentos técnicos para a Justiça, sobre o avaliando Sr. Santo Coutinho Da
Silva.

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Os motivos que ensejaram este parecer foram:

 Apresentar as características de personalidade do Sr. Santo


Coutinho da Silva, demonstrando tecnicamente a ausência
de agressividade, compulsividade, entre outras
características comumente encontradas em agressores
sexuais;

 Excluir diagnósticos de transtornos mentais,


frequentemente associados a casos de abuso sexual infantil,
como o transtorno pedofílico;

 Discutir elementos do depoimento da suposta vítima que


indiquem, do ponto de vista da psicologia forense,
características de falsasmemórias e improcedente
acusação;

 Demonstrar que a acusação de suposto crime sexual não


tem coerência biográfica com o histórico de vida do Sr.
Santo Coutinho da Silva.

Foi aplicado instrumentos de testes de avaliação psicológica, sendo um deles o


Teste das Pranchas de Rorschach, que permite o levantamento de dados sobre o
examinando em esferas psíquicas como as da afetividade, da sociabilidade,
daautopercepção, da cognição, do gerenciamento do estresse, entre outras.

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Após aplicação do teste, concluindo-se pela total impropriedade da acusação,
corroborando com o resultado do Teste aplicado pelo Método de Rorschach de que o
paciente não possui nenhum traço de personalidade mal adaptativa, que o tornaria
capaz de abusar de uma criança ou de qualquer outra pessoa, mostrando-se, assim,
psicologicamente saudável (página 8 do laudo).

Cabe aqui ressaltar, que o teste de Rorschach é um instrumento de difícil


manipulação pelo examinando, por isso é tão usado entre os psicólogos forenses.

No caso em pauta, o Sr. Santo não apresenta qualquer indício depersonalidade


hostil ou de insensibilidade afetiva, além de não atender aos critérios para nenhum
transtorno de personalidade.

Foi apresentado uma tabela com as características de personalidade


frequentemente encontradas em abusadores sexuais de crianças, em comparação e
análise, com o caso do paciente. Vejamos:

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Página 14 do laudo psicológico

O parecer conclui confirmando que o avaliando não apresenta ao longo da vida


e do tempo do evento da acusação qualquer transtorno mental ou características de
personalidade comuns a agressores sexuais de crianças. Também, com base nos dados

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analisados cientificamente, que o Sr. Santo não apresenta características de
adoecimento mental, comportamentos ao longo de sua história que indiquem mínima
possibilidade de ter cometido abuso sexual contra crianças.

III – NECESSIDADE DE REFORMA DA PENA IMPOSTA. PRINCÍPIOS DA


PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE

Em caso de não acolhimento do pleito de absolvição, persistindo o


entendimento de condenação do paciente, a título argumentativo, é salutar a
reforma do quantum de pena.

O paciente foi condenado a 12 (doze) anos de reclusão, em início de


cumprimento de pena em regime fechado, por supostamente ter passada a mão
na vagina da vítima:

“Na terceira fase, incide a causa de aumento de metade prevista


no artigo 226,inciso II, do Código Penal, considerando a
ascendência do acusado em relação a vítima(bisavô), conforme
os documentos juntados as fls. 78/81. Assim, fixo a pena final
em 12 (doze)anos de reclusão.”
Sentença, fl. 168

O suposto fato teria acontecido sobre os olhos de todos os presentes na


festa, tendo o paciente, supostamente, passado a mão na vagina da vítima. Por

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desconsiderar todos os depoimentos dos informantes e considerar somente a
palavra da vítima, o juízo condenou o paciente a 12 (doze) anos de prisão.

Se esta condenação imposta pelo juiz a quo prevalecer, consequentemente


os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade estarão sendo claramente
violados. Ora, uma pena de reclusão de 12 anos por supostamente passar a mão
na vagina da vítima, é desproporcional.

Portanto, em remoto caso de entendimento pela manutenção da


condenação do paciente, peleiteia a redução do quantum de pena, haja vista que
a sanção aplicada é desproporcional e desarrazoada.

IV – DA EXECUÇÃO DA PENA EM REGIME DOMICILIAR EM CARÁTER HUMANITÁRIO.


PACIENTE IDOSO.

Na busca do caráter ressocializador da pena, a justiça deve trabalhar para aplicar


aquilo que se coaduna com a realidade social. Hoje, infelizmente, nosso Sistema
Prisional é cercado de incertezas sobre a verdadeira função de ressocialização dos
indivíduos que lá são mantidos, onde em muitos casos trata-se de verdadeira “escola
do crime” e fabrica de criminosos.

Certo, também, que o sistema prisional não possui condições adequadas para
tratamento e dignidade de pessoa idosa, considerando a precariedade dos presídios.
Neste sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça para conceder prisão
domiciliar:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO


PRÓPRIO. NÃO CABIMENTO. PACIENTE EM REGIME FECHADO. PRISÃO

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DOMICILIAR. IDADE AVANÇADA E ESTADO DE SAÚDE DEBILITADO.
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. MEDIDA DE CUNHO HUMANITÁRIO.
4. A debilidade da saúde e sua condição de idoso, aliadas a
impossibilidade de o Estado viabilizar pronto, adequado e efetivo
tratamento médico-hospitalar no estabelecimento penal ao qual o
paciente encontra-se recolhido, enseja a concessão da prisão domiciliar
como medida de cunho humanitário lastreada no princípio da dignidade
da pessoa humana. 5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida,
de ofício, a fim de determinar a transferência do paciente para a prisão
domiciliar, em virtude do seu debilitado estado de saúde e da sua idade
avançada, com a advertência de que a eventual desobediência das
condições da custódia domiciliar importará novo encarceramento. (STJ
- HC: 418817 RS 2017/0254028-9, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, T5
- QUINTA TURMA, DP: DJe 24/04/2018)

Portanto, pleiteia-se que o tribunal considere o alegado e o entendimento do


STJ para converter pena de regime fechado para PRISÃO DOMICILIAR.

V – DO PEDIDO DE LIMINAR

O Habeas Corpus, como medida extrema de proteção da liberdade do


indivíduo, admite a concessão do pedido liminarmente, desde que presentes
o periculum in mora (a probabilidade do dano irreparável) e o fumus boni
iuris (elementos de impetração que indiquem a existência de ilegalidade no
constrangimento).

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A fumaça do bom direito encontra-se demonstrada pelos argumentos acima
expostos, considerando os depoimentos dos informantes e, também, tratando-se de
conduta atípica, conforme esmiuçado em tópico específico.

Já o perigo na demora encontra-se fundamentado na condição de idoso do


paciente, haja vista a situação alarmante de nova onda da COVID-19. Por isso,
outrossim, a necessidade da concessão do benefício da prisão domiciliar. O perigo na
demora se fundamenta também que o paciente é foi condenado a 12 (doze) anos de
reclusão de forma injusta, conforme demostrado em toda o desenrolar deste Habeas
Corpus.

Sendo assim, requer liminarmente a expedição de contramandado de prisão,


para que o paciente possa ser intimado previamente para dar início ao cumprimento
de pena, conforme determina o art. 23 da Resolução 474 do CNJ.

VI - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) A concessão de MEDIDA LIMINAR EM HABEAS CORPUS tendo em vista a


presença dos requisitos necessários à concessão de medida liminar em
habeas corpus, quais sejam: o periculum in mora (probabilidade de dano
irreparável) e o fumus boni iuris (elementos da impetração que indiquem
a existência de ilegalidade no constrangimento);

b) Conhecer o pedido de HABEAS CORPUS, para evitar a constrição prisional


do paciente, tornando definitivos os efeitos da liminar concedida.

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2 - Rua Barão de Jaceguai, 509, edifício empresarial Atrium, Centro, Mogi das Cruzes, CEP: 08710-160,
E-mail: info@oliveiraguilherme.adv.br, Tel.: (11) 93702-0234.
c) Sendo superada a primeira tese requer-se, o colhimento da ATIPICIDADE,
haja vista a sustentação jurídica supramencionada, por ser medida
de Direito e de Justiça.

d) Seja concedido ao réu o direito de cumprir a pena em REGIME


DOMICILIAR para que o paciente

Deverá prestar informações para o presente caso, a autoridade apontada como


coatora, o MM Juíz de Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Guarulhos – SP, Dr.
Caio Ferraz de Camargo Lopasso.

Termos em que, pede deferimento.

Bauru, data do protocolo digital.

GUILHERME PEREIRA DE OLIVEIRA

OAB/SP 425239

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