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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE


DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

I m p e t r a n t e : R o s a ng e l a M a g a l h ã e s de A l m e i d a
Paciente: Aline da Silva Ferreira
Autoridade Coatora: M M. Juiz Federal da Vara Criminal de Niquelândia/GO
Referente ao Protocolo nº 5225805-74.2021.8.09.0113

ROSANGELA MAGALHÃES DE ALMEIDA, brasileira,


divorciada, advogada re gularmente inscrita na OAB/GO sob o nº
10.590, com endereço profissional na Rua 5, nº 691, Sala 802,
Ed. The Prime, Setor Oeste, Goiânia - GO, Telefone (62) 98110-
2112, e-mail: rosangela.mag alhaes.adv@hotmail.com, vem, à
digna presença de Vossa Excelência, com o respeito e acatamento
devidos, perante esse Egrégio Tribunal Regional Federal, com
amparo no art. 5º, incisos LIV, LVII e LXVIII 1, da Constituição
Federal, e obse rvância dos artigos 647 2 e seguintes do Código de
Proce sso Penal, impetrar ordem de

HABEAS CORPUS,
com pedido LIMINAR,

1 A r t . 5 º, LI V - n i n g ué m s e r á p r i v a d o d a l i b e r d a d e o u d e se u s b e n s s em o d e v i d o p r o c e s s o
legal;
L V I I - n i n g u é m s e r á c on si d e r a d o c u l p a d o a t é o t r â n s i t o em j u l g a d o d e s e n t e n ç a p e n a l
c o n d e n a t ór i a ;
L XV I I I - c on c e d e r - s e- á h a b e a s co r p u s s e m p r e q u e a l g u é m s o f r e r o u s e a c h a r a m e a ç a d o d e
s o f r e r v i o l ên c i a o u c o a ç ã o em s ua l i b er d a d e d e l o c o m o çã o , p o r i l e g a l i d a d e o u a b us o d e
poder;
2 A r t . 6 4 7 . D a r - s e- á h a b ea s c o r p u s se m p r e q u e a l g u é m s o f r e r o u s e a c h a r n a i m i n ê n c i a

d e s o f r e r v i o l ê n c i a o u c o a ç ã o i l eg a l n a s u a l i b er d a d e d e i r e v i r , sa l v o n o s c a s os d e p u n i ç ã o
disciplinar.
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

em favor de ALINE DA SILVA FERREIRA, brasileira, solteira,


estudante, portadora do RG nº 6.558.556, expedido por SSP/GO,
inscrito no CPF sob o nº 706.220.481-12, nascida aos 19 de
setembro de 1999, em Niquelândia-GO, filha de Alex Alves da
Silva e de Neuza Primo Ferreira, residente e domiciliada na Rua
Machadinho, nº 14, Bairro Machadinho, Niquelândia, Goiás,
apontando como Autoridade Coatora o Juízo da Vara Criminal
da Comarca de Niquelândia/GO, em razão de coação ilegal que
deflui dos autos de Protocolo nº 5225805-74.2021.8.09.0113,
conforme as disposições fáticas e jurídicas a seguir delineadas.

DOS FATOS

A paciente foi presa em flagrante no dia 07 de


maio de 2021, em virtude da prática, em tese, da conduta pre vista
nos artigos 33, caput, da Lei 11.343/2006 e 288, parágrafo único,
do Código Penal e m razão de cumprimento de mandado de busca
e apree nsão na chamada “Operação De scarrilamento” (Protocolo
nº 5207953-37.2021.8.09.011), no endereço localizado na Rua
Paranaíba, Qd 13, Lt 11, Jardim Atlântico, 3ª etapa, em
Niquelândia-GO.

No local foram apreendidos entorpecentes e


armas, bem como presos VILMAR DE PAULA OLIVEIRA, KAIO
VICTOR RODRIGUES LIMA, LUCAS BARRETO DA COSTA E SILVA
e GUSTAVO SILVA LOBO, além da ora paciente, ALINE DA SILVA
FERREIRA, bem como apreendido um adolescente.
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ROSANGELA MAGALHÃES
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Após a prisão, realizada Audiência de


Custódia, foi esclarecido que a paciente é namorada (ou “ficante”)
de LUCAS BARRETO DA COSTA E SILVA, um dos detidos, e havia
dormido aquela noite na casa onde ocorreu a prisão, na
companhia dele, como ambos afirmaram na audiência de
custódia.

Em razão da ausência de motivos para que a


pacie nte tivesse sua libe rdade restringida, foi concedida liberdade
provisória em seu favor, sem o arbitrame nto de fiança, vez que
não possui condições econômicas, sendo pobre no exato sentido
da palavra.

Inclusive, ressalta-se que a paciente somente


não faz uso da Defensoria Pública, Excelências, em razão desta
defe sa ter sido constituída pelo seu tio, um trabalhador que
també m possui uma vida modesta, que presta serviços de
instalação e manutenção de ar-condicionado para esta advogada
em Goiânia, visto que nem a paciente tampouco seus demais
familiares podiam arcar com os honorários de um advogado.

Cumprido seu alvará de soltura aos 25 de


maio de 2021, a paciente re tornou para a sua residência, na qual
vive juntamente com sua avó materna, CÂNDIDA PEREIRA
FERREIRA, já idosa, por quem é responsável, tendo cumprido
todas as medidas cautelares diversas da prisão que lhe foram
impostas:

1. Proibição de f requentar lu gare s como bare s,


boates, c asas de show e prosti tui ção, ou qu alque r
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local que pro mova a venda de be bi das alcoólicas, e


outro s ambientes si milare s;

2. N ão se ausentar da co marca que re side por mais


de 08 (oito) dias, sem prévia e e spe cífica au torização
judicial ;

3. Reco lhime nto domiciliar no pe ríodo notu rno (das


20h00 às 6h00) nos dias úte is, e no p e ríodo inte gral
quando dos finais de semana e feriados, salvo qu ando
houver comprovação de que trabalh a ne ste s dias,
com j untad a do comprovante nos aut os.

4. Pro ibi ção de praticar inf raç ão pe nal/se e nvolve r


e m no va investi gação criminal .

No e ntanto, aos 06 de agosto de 2021,


portanto já passados me ses após a concessão da liberdade
provisória à paciente, período durante o qual não houve qualquer
irregularidade, o Ministério Público, ao oferece r denúncia nos
autos de referência, apresentou cota requerendo a decretação da
prisão preventiva da paciente, sob o fundamento de garantia da
ordem pública, sustentando que teria participação na alegada
associação criminosa, bem como suposto risco de reiteração de
conduta.

Ato contínuo, foi proferida decisão negando o


pleito da de fe sa, que havia requerido a flexibilização do horário
de seu recolhimento domiciliar noturno em razão do Curso
Técnico em Enfermagem para o qual se matriculou, bem como
decretando a sua prisão preventiva, nos seguintes termos:

2.3 – do pedido de decret ação de pri são preventiv a


da acusada Al ine Da Silva F err eira
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Em se de de oferecime nto de denúncia, o ó rgão


ministerial, diante dos no vos e le mentos e provas
carre ados nos autos reque re u a de cre tação da prisão
pre ve ntiva da acusada Aline da Silva Fe rre ira,
argume ntando a de monstração de su a ampla
participação nos delitos em apre ço.

Nesse senti do, verifica-se que a de cisão prola tada


e m mo v. 87 , acolheu o pe dido da de fe sa, be m como o
parecer do Mini stério Pú blico e re vogou a prisão
pre ve ntiva de ALINE.

Note -se que a re fe rida de cisão for a


consubstanciada n o f ato de a acu sada se r pri má ria e
que pe los depoimentos col hidos e m se de de audiê ncia
de cu stódia, e la era “ fi cante ” de LUC AS, de modo que
não havi a, naquele momento, comprovação de que o
grau de sua p ar ti ci pação fo sse de mai or proporç ão.

Contudo, t al como salie ntado pe lo M inisté rio


Públ ico os novos elementos de provas ju ngidos aos
autos demonstram que a p articipaç ã o de ALINE nos
crime s ora apu rad os, não é de me nor proporção .

Da análise dos relatórios e p rovas extraíd as dos


aparel hos celulares ap re endidos, de vidame nte
autorizado por este juízo, de pree nde-se que ALINE
trocou mensagem com a pessoa de JOEL moto-táxi,
solicitando que ele levasse drog as pa ra a pe ssoa de
“Ge ffi n”.

Em pr in ts , os qu ai s instrue m o re latório policial,


verifica-se ainda que ALINE t rocou dive rsas
mensagens com “G effi n” ocasi ão e m que e le afir mou
que pegou 1kg de maconha, e el a mostra-se
pre ocupada e m como ocultaria essa quantid ade de
drogas e m seu qu arto.

Ademais, pelas fotografi as e pr in ts que instrue m


o relatório policial final , é nítida a ati va pa rticipaç ão
de ALINE no gru po cri minoso ( fot os com arm a,
negociações etc) de modo que não é mais possíve l
acre ditar qu e sua par ti ci pação nos de litos apurados
seja de me no r prop orção.

Em casos como o prese nte , o art . 316 do Códi go


de Processo Pe nal au toriza:

Art. 316. O j uiz pod erá, de ofício ou a p e di do


das p artes, revogar a prisão pre ve ntiva se ,
no correr da investigação ou do proce sso,
verificar a f alta de motivo pa ra que e la
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subsista, bem como novame nte de cretá-l a,


se sobre vie rem razõe s que a justifiqu e m

Desta feita, pelos novos e le me ntos de provas


coligi dos nos auto s com a conclusão do inqué rito
policial , ente nde -se que a liberda de da autuada
colocaria em cheque a orde m públ ica, ante a cla ra
possibi lidade de que ve nha a dar c ontinuidade às
negociações para a ve nda dos e ntorpe ce nte s,
e specialmente neste mome nto, e m que os supostos
comparsas foram recolhidos ao cárce re e m prisão
provisória.

Alé m de evide nciado o risco de re ite ração de li tiva,


a orde m públ ica e staria abalada e m virtude da
prováve l continu idade da atuaç ão de uma
organizaç ão ap arentemente (segundo os eleme ntos
iniciais já col hidos) voltada à pr áti ca do c rime de
tráfico de drogas e ou tros c rime s com ligação co m a
venda de e ntorpecentes.

Vale lembrar a recome ndação le gal do ar t. 310, §


2º do C PP, no sentido de que de ve se r ne gada a
libe rdade provisóri a de presos com in dícios sé ri os de
e nvolvimento em organiz ação cri mi nosa a rmada, ou
que porte arma de fogo de uso re strito, situaç ão e sta
que se verifi ca do s autos, ai nda qu e a pe rse cução
pe nal este ja em fas e embrio nária .

Posto i sso, demonstrada a mate riali da de e


indícios suficientes de autoria , somados a s atisfação
dos requisitos do art. 313, inciso I, e art . 312 , ambos
do Código de Processo Pe nal, a de cre tação da prisão
pre ve ntiva da investigada é me dida que se impõe .

Conforme se constata na decisão retro


transcrita, foi de cretada a prisão preventiva da paciente, prisão
ainda não cumprida, sob os seguintes argumentos:

- novos ele me ntos de prova na investigação demonstrariam que a


participação da paciente nos crimes imputados não seria de
menor proporção;
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- existência de relatório policial relatando suposta troca de


mensagens da paciente com JOEL, moto-taxista, solicitando que
levasse drogas para a pessoa de “GEFFIN”;

- suposta conversa entre a paciente com “GEFFIN” em que este


teria afirmado que pegou um quilo de maconha e que ela teria se
demonstrado preocupada em como ocultaria essa quantidade de
drogas em seu quarto;

- fotografias e prints que instruem o relatório policial final


demonstrariam nítida participação da paciente no grupo
criminoso, sustentando a existência de fotos com arma e
negociações;

- que a liberdade da paciente colocaria e m risco a ordem pública


em razão da “clara possibilidade” de reite ração delitiva, dando
continuidade às negociações para a venda de entorpecentes e
especialmente no momento em que os comparsas foram
encarcerados;

- que a re comendação do artigo 310, § 2º do CPP seria pela


negativa da liberdade provisória a presos com indícios de sérios
envolvime ntos em organização criminosa armada ou que porte
arma de fogo de uso restrito, o que alega ser ve rificado nos autos;

- por fim, que teriam sido demonstrados indícios suficientes de


autoria e materialidade e dos requisitos do artigo 313, inciso I e
artigo 312 do CPP.
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Ocorre que a decisão em questão não deve


persistir, tendo em vista que não se verifica no caso concreto a
necessidade de imposição do constrangimento à liberdade da
pacie nte, a qual é uma jovem primária, estudante de Curso
Técnico em Enfermagem, com endereço fixo e bons antecedentes,
conforme se fundamenta adiante.

DOS FUNDAMENTOS

Primeiramente, cumpre ressaltar,


Excelências, que a paciente é pessoa íntegra e de bons
antecedentes, sendo uma jovem humilde, de apenas 21 (vinte e
um) anos de idade, que sempre trabalhou, estudou e cuidou da
avó materna, com quem sempre morou e tornou-se responsável,
já que é idosa e aposentada.

Na época de sua prisão encontrava-se


desempregada, enfrentando e norme dificuldade em encontrar um
emprego em razão da pandemia, embora já tivesse trabalhado,
como se vê da sua Carteira de Trabalho anexa. Também concluiu
o ensino médio, na capital do Estado, no ano de 2018, como
demonstram os documentos juntados e, recentemente,
matriculou-se no Curso Técnico em Enfermagem no Instituto
Tirade ntes, na Comarca de Niquelândia/GO, tendo decidido
retomar os estudos em busca de conquistar uma formação que
lhe permita ter mais viabilidade de atuação no mercado de
trabalho.
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Trata-se, portanto, Excelê ncia, de pessoa


honesta e voltada para a família e para o estudo, não tendo
qualquer relação com a suposta associação criminosa
mencionada, conforme será demonstrado no curso da instrução
criminal.

No dia de sua prisão havia acompanhado seu


aff air para a casa de um amigo dele para tomar cerveja e comer
carne assada. Como já era tarde, resolveram pernoitar e foram
acordados com a presença da polícia logo cedo, às 07h00min. Não
tinha conhecimento das drogas e armas existentes no local, tanto
o é que em seu inte rrogatório por ocasião da prisão em flagrante,
explicou as razões de ali estar. Na audiência de custódia voltou a
relatar o ocorrido, sem qualquer contradição.

Além disso, é estudante, primária e de bons


antecedentes. Faz parte de família pobre, na qual todos são
trabalhadores. Não há nenhum de seus familiares envolvido em
crimes ou práticas ilícitas. Jamais foi presa, indiciada ou
proce ssada. Se u erro foi estar em uma casa onde um ou outro
morador/convidado tinha a posse de drogas e/ou armas, que
sequer sabe a quem pertencem ou como lá foram parar. Tudo isso
ficou de monstrado nos interrogatórios feitos na audiência de
custódia.

Como dito, o fato de não estar trabalhando


deveu-se ao caos econômico instalado durante a pandemia, mas
que não faz da paciente uma pessoa suspeita tampouco voltada à
prática de crimes. São milhões de brasileiros na mesma situação,
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especialmente os jovens sem experiência. E por esse motivo,


Excelências, que e la decidiu retornar aos estudos e se matriculou
em Curso Té cnico em Enfermagem, com a esperança de que, com
a formação na área, principalme nte em razão da grande demanda
de profissionais da área da saúde na atualidade, possa ter
suce sso em ingressar no mercado de trabalho e promover o
sustento próprio e contribuir para com o de sua família.

Ainda, a paciente possui residência fixa, onde


vive desde o nascimento, mora na companhia da avó materna,
CÂNDIDA PEREIRA FERREIRA, já idosa, por quem é responsável.
Ressalta-se que os Tribunais já vêm permitindo que mulher
grávida ou com filho menor do qual seja responsável seja liberada
do cárcere, permitindo assim que prossiga com os cuidados
necessários em seu domicílio.

Embora não seja o caso da paciente, verifica-


se que ela se e ncontra em situação similar, já que é a
indispensável ao cuidado de sua avó, idosa. Não seria, portanto,
adequado impor à paciente um cumprimento antecipado de uma
pena sem o preenchimento dos requisitos constantes do artigo
312 do Código de Processo Pe nal, afastando-a de sua avó
materna, que lhe é dependente .

Convém destacar que de fato a lei exige como


requisito para a decretação da prisão preventiva a configuração
do f umus comissi delicti, que é a prova da existência do delito e
indício suficiente de autoria (artigo 312, in f ine, do Código de
Proce sso Penal), o que é evidente, tendo em vista que a lei não
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poderia autorizar a restrição da liberdade de um indivíduo quando


não houver crime e, ainda assim, em havendo, tampouco o pode
quanto àquele que não te nha qualquer re lação com o suposto
delito. Outra coisa é a análise se a liberdade do indivíduo ofende
a ordem pública. Trata-se de uma informação de extrema
importância ao caso da paciente.

Conforme se verifica na decisão que decretou


a prisão preventiva da paciente, o ilustre magistrado da Vara
Criminal da Comarca de Niquelândia/GO fundamentou a
necessidade da restrição cautelar de sua liberdade neste
momento atual, passados mais de dois meses da concessão de sua
libe rdade, com base em supostos indícios de que a participação
da paciente não seria de menor importância, consistente em
relatório policial em que te ria verificado trocas de mensagem com
as pessoas de JOEL em que teria solicitado que levasse drogas
para a pessoa de “GEFFIN”, seu ex-namorado.

Alegou ainda que teria fotos com armas e


negociações, muito embora as imagens apresentadas pelo
Parquet, conforme se verifica na sua manifestação be m como no
Inqué rito Policial, não permitam identificar as pessoas
envolvidas.

Em especial quanto à apontada como sendo a


pacie nte, se encontra usando uma “balaclava” ou “touca ninja”,
que deixa visível tão somente os olhos daquele que a utiliza. E no
caso, sequer se pode afirmar que se trata de uma mulher e não
de um homem, quanto mais que se ria a paciente. Atentando-se
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para a re fe rida foto citada pelo representante ministerial como se


se tratasse da paciente , verifica-se, em princípio, tratar-se de um
homem, com perfil bem diferente da paciente. Portanto, a
alegação de que a me sma esteja envolvida com a suposta
organização criminosa não passa de mera presunção, o que não
se mostra suficiente para ensejar a sua prisão cautelar.

Ademais, no curso dos mais de dois meses e m


que a paciente se encontra em liberdade após sua prisão em
flagrante, não houve qualquer conduta por parte de la que pudesse
indicar eventual risco à ordem pública. Pe rmaneceu durante todo
o tempo em sua casa, saindo apenas ocasionalmente para
acompanhar as aulas do curso para o qual se matriculou, ainda
obedecendo a restrição de horário fixada. Não houve, desde a
conce ssão de sua liberdade provisória, nenhum fato novo que
pudesse indicar que a liberdade da paciente pudesse,
efetivamente, pôr em risco a ordem pública.

Não obstante tanto o Ministério Público


quanto o juiz tenham se embasado no relatório policial, em que
foi apontada a existência de supostas conversas da paciente
envolvendo a comercialização de drogas, conforme apontado pela
própria denúncia tais mensagens remontam do começo do ano,
não havendo qualquer contemporaneidade que pudesse justificar
a necessidade da decretação da sua prisão.

Observa-se que eventual existência de prova


da materialidade do crime e indícios de autoria não implicaria
necessariamente na necessidade de garantia da ordem pública, a
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qual tem relação com o periculum libertatis, portanto com a


cautelaridade da situação, a qual deve ser devidamente
demonstrada para que se possa re stringir a liberdade da paciente.

Destaca-se que a prisão preventiva não deixa


de ser uma medida cautelar, portanto se encontra igualmente
subme tida às Disposições Gerais previstas no Capítulo I do Título
IX do Código de Processo Penal, em especial ao artigo 282, que
dispõe expressamente a nece ssidade de observância da adequação
da medida não apenas à gravidade do crime, mas também às
circunstâncias do fato e as condições pessoais do acusado.
Confira-se:

Art. 282. As me didas caute lare s pre vistas ne ste


Títu lo deverão ser aplicadas obs ervando-se a:
II - ade quação da me dida à g ravi dade do c rime ,
circunstâncias do fato e condi çõ es pesso ais do
indici ado ou acusado.

No caso, como dito, a pacie nte é estudante,


primária, com bons antecedentes, se ndo que nunca foi
investigada ou respondeu a qualquer ação penal. Não há nada que
a vincule à suposta associação criminosa que não apenas o fato
de ter um aff air com um dos suspeitos de integrá-la e uma
suposição da acusação em virtude de uma foto em que sequer é
possível identificar de quem se trata.

Assim, em que pese às condições subjetivas


favoráve is, por si só, não obstem a segregação cautelar, as
mesmas devem ser efetivamente consideradas quando da prolação
da decisão acerca da aplicação ou não de medidas cautelares,
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tendo e m vista que no ordenamento jurídico brasileiro, a restrição


cautelar da liberdade é exceção, a qual somente de ve se r aplicada
em situações em que as medidas alternativas não sejam
suficientes.

E no caso da paciente, Excelê ncias, se


encontrava em liberdade provisória, com aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão, as quais se demonstraram
totalmente e ficazes e suficientes. Tanto que, como dito, não teve
qualquer indício de prática de qualquer irregularidade desde a
sua soltura.

Portanto, não se verifica qualquer elemento


concreto que possa indicar que a paciente, caso mantida em
liberdade, vá se dedicar à prática delituosa. Sendo assim, a
medida imposta não se mostra adequada ao caso tendo em vista
as condições pessoais da paciente, não tendo sido demonstrado,
concretamente, o abalo da ordem pública que a liberdade da
pacie nte poderia causar ou mesmo que as medidas cautelares que
lhe haviam sido aplicadas anteriormente repentinamente já não
se mostram mais suficie ntes.

A garantia da ordem pública é uma expressão


extremamente vaga e indeterminada, que há muito gera
controvérsias na doutrina e na jurisprudência quanto ao seu real
significado e até mesmo quanto à sua constitucionalidade.
Segundo AURY LOPES JÚNIOR e ALEXANDRE MORAIS DA ROSA:

Trata-se de u m conce ito vago, impre ciso,


indete rminado e despido de qualq ue r re fe re ncial
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

semântico. Sua ori gem re monta a Al e manha na


dé cada de 30, perí odo e m qu e o nazifas cismo buscava
e xatamente isso: u ma au to rizaç ão ge ral e abe rta para
pre nder. Até hoje , ainda que de forma mais
dissimulada, tem servido a di fe re nte s senhore s,
adepto s dos discursos au torit ários e u til itaristas ,
que tão “bem” s abem u til iza r de ssas cl áusulas
gené ricas e inde termi nadas do Dir e ito para faze r
vale r seu s atos prepotentes 3.

Ainda quanto à garantia da ordem pública,


segundo Nestor Távora 4:

(.. .) não se te m u m conceito e xato do significado da


e xpressão ordem pública, o que te m l evado a
oscilações dou trinári as e ju risprude nciai s quanto ao
seu re al significado. Em nosso e nte ndimento, a
decretação da preventiva com bas e nest e
fundamento, o bjet iva evitar qu e o ag ente con tinue
delinquin do no tr ansco rr er da perse cução
crim inal . A ordem públ ic a é ex pressã o de
tr anquilid ade e paz no sei o s ocial . Em h aven do
risco demonstr ado de que o inf rator, se s olto
permanecer, con tinuará delinquind o, é sin al de
que a prisão cautelar s e faz ne cess ári a, pois não
se pode esperar o trânsito em julgad o da s en ten ça
condenatória. É n ecessário qu e se comprove est e
risco. A s e xpre ssões usuais, poré m e vasivas, se m
nenhuma demonstração probatória, de qu e o
indivíduo é um cr iminoso contu maz, possuidor de
uma pe rsonali dade voltada para o cri me e tc., não se
pre stam, sem verificação, a autorizar o
e ncarceramento. A mera ex istê ncia de ante ce de nte s
criminais també m não seria, por si s ó, um fato r de
segurança, afinal, de acordo com a ju rispru dê ncia d a
Suprema Corte, o simples fato de já te r sido indiciado
ou pro cessado, implica no re conhe cime nto de maus

3 L O P ES JR, Aur y; M OR AI S D A R OS A, Al exa n dr e. LI MI TE P E N AL: C r i se d e


i dent i dad e da " or de m púb l i ca" c om o f un d am ent o da pr i s ã o pr ev ent i v a. Di sp onív el
em : < ht t p s: // w w w . c onj ur . c om. br / 20 15- f ev - 06/l i m it e - pe nal - cr i se- i dent i dad e-
or d em - publ i c a- f un d a m e nt o- pr i s a o- pr e v en t i v a>.
4 TÁ VOR A, N e st or ; A LE N C AR , R os m ar R odr i g ue s. C ur so d e Di r eit o Pr o ce ss u al
Pe n al . 8ª. e d. r ev . , a m pl. e at u al . Sa l va dor : J us Po div m , 2 013 .
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

ante ce dente s. Obriga-se assim ao magis trado


contex tualizar a prisão e seu fund amento. S e os
maus an teced en tes, ou outros elem entos
probatórios , como testemunhas e documentos,
revelam que o indivíduo pauta o s eu
compor tamento na verten te c riminos a,
permi tindo-s e concluir que o crime apurado é mais
um, dentro da carr eira deliti va, é sinal d e qu e o
requisito en con tra-se atendid o.

Portanto, conforme demonstrado pe lo


doutrinador a garantia da ordem pública não pode ser
inte rpretada como clamor social provocado pe lo delito, tampouco
repe rcussão do crime na mídia, mas sim pela existência de
elementos concretos de que O INDIVÍDUO possui pre disposição
para a prática criminosa, O QUE NÃO SE VERIFICA NO CASO
EM COMENTO.

Portanto, verifica-se que no caso em questão,


em que pe se à decisão tenha sustentado suposta existência de
suposto abalo à ordem pública, não se verifica nenhum elemento
concreto que possa indicar eventual possibilidade de “reiteração
criminosa” por parte da paciente, até porque na fase atual sequer
se pode falar em prática de delito por parte da mesma, mas
tão somente na seara da suposição, de modo que não pode ter
seu direito constitucional à liberdade cerceado em razão de
uma mera suposição, sem o mínimo de certeza. Ou seja,
inexistindo certeza da prática do delito, como se pode falar em
possibilidade de reiteração de conduta criminosa?

O princípio da excepcionalidade das medidas


cautelares no processo penal dispõe que as me smas somente
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ROSANGELA MAGALHÃES
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serão aplicadas quando forem necessárias ao caso e ainda de


maneira adequada. Ou seja, tendo em vista que a prisão é a
medida mais gravosa, deve ser o ultimato final de todas as
medidas cautelare s disponíveis no ordenamento jurídico.

Como já mencionado, a prisão não é a regra,


mas a exceção no Brasil, de modo que não se pode presumir a
necessidade de restrição cautelar da liberdade do indivíduo, caso
contrário se estaria diante de uma prisão automática, estipulada
com base na gravidade em abstrato do delito.

Por isso a lei processual penal determina que


quando da imposição de tais medidas seja analisado não apenas
a gravidade do delito e as circunstâncias do fato, mas também as
condições pessoais do suposto autor do crime. Tal requisito
possui espe cial importância quando se trata de prisão preventiva
base ada na garantia da ordem pública, tendo em vista que os
elementos do tipo penal e as circunstâncias da prática
delituosa não são suficientes a respaldar a prisão preventiva,
sob pena de se configurar verdadeira punição antecipada, o
que é inadmissível.

Ressalta-se o que o doutrinador RENATO


BRASILEIRO DE LIMA leciona a respeito da garantia da ordem
pública:

(.. .) e ntende -se garantia da orde m públ ica como risco


conside rável de reiteração de açõe s de lituosas por
parte do acusado, c aso permane ça e m l ibe rdade , se ja
porqu e se trat a de pessoa propensa à prática
de lituosa, seja porque , se solto, teria os me smos
18
ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

e stímulos relacionados com o de lito come tido,


inclusive pela possibilidade de voltar ao convívio com
os parceiros do cri me 5.

A e stipulação da restrição à liberdade deve ser


reservada a casos em que seja demonstrada, efetivamente, sua
necessidade e, tendo em vista se tratar de medida caute lar, não
pode perdurar indete rminadamente, caso contrário configurará
verdadeira antecipação de pena, o que não é admitido sob pena
de violação do princípio da inocência.

Isso porque por se tratar de medida restritiva


da liberdade individual a prisão cautelar só pode ser utilizada em
estrita observância ao ordenamento jurídico, sob pena de
desrespeito à dignidade da pessoa humana, além da legislação
proce ssual penal.

Importante ressaltar o extremamente


relevante ensinamento de Hélio Tornaghi 6 acerca da prudência
que deve valer o juiz quando da decretação de prisões cautelares:

O ju iz deve ser prudente e até me smo avaro na


de cretação. H á alguns pe rigos contra os quais
de veriam p revenir-se todos os juíze s, ao me nos os de
be m: 1) o peri go do calo profissional, que
inse nsibiliza. De tanto mand ar pre nder, há juíze s que
te rminam e sque cendo os inconve niente s da pri são.
Faze m aqui lo como ato de rotina , como o caixe iro que
vende mercadorias ou o me nino que joga bo la
de spreocupado da sorte alhe ia. O juiz que cai no
hábito é o re ligioso que já não ate nta para o se ntido

5 LI M A, Renat o Br a si l e ir o d e. M a n ua l de pr oce s s o p en al: v ol um e úni c o – 4. ed.


r e v. , am pl . e at ual . – Sal v a d or : E d. J u s Podi v m , 20 16.
6 TOR N AG HI , Hé l i o B as t os . C ur s o de Pr oc es so Pe na l . 10 8 e d. São Pa ul o: Sar ai v a,
19 97. v . 2, p. 11.
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

das própri as o rações e as vai re pe ti ndo


mecanicame nte. (...) A conse quê ncia de sse
re laxame nto é a de trat ar pe ssoas c omo se fosse m
cousas, e cou sas desprezíve is; 2) o pe ri go da
pre cipi tação, do açodamento, que i mpe de o e xame
madu ro das ci rcu nstâncias e conduz a e rros . A
possibi lidade de soltar e tornar a pre nde r e soltar de
novo e mais uma vez p rende r, tudo ao talante do juiz,
faci lita a inconsideraç ão, pre sta-se à imprudência, e
o bom juiz deve acau telar-se contra e ssa facilidade ;
3) o perigo do exagero, que conduz o juiz a ve r
fantasmas, a temer danos imagi nários , a trans form ar
suspe itas vagas em indícios ve eme nte s, a supor que
é ze lo o que na verdade é exace rbação do e scrúpulo.

Verifica-se que o ensiname nto do respeitado


doutrinador se encaixa perfeitamente ao caso, sendo que na
hipótese em comento a acusação se baseia em suspe itas vagas e
não e m indícios veementes, as quais não seriam suficientes para
a decretação da prisão preventiva da paciente.

Ademais, não se verifica fundamento válido


para sustentar a necessidade da prisão preventiva em face das
medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal já fixadas, não tendo se desincumbido do ônus
de demonstrar, justificadamente, o motivo pelo qual as
mesmas não seriam adequadas ao caso.

Ne ste ponto, importante ressaltar a relevante


reflexão do doutrinador Aury Lopes Júnior 7 que

Nem o dire ito pe nal, menos ainda o proce sso, e stá


le gitimado à pseudotutel a do fu tu ro (que é abe rto,
indete rminado, im previsível). A lém d e inex istir um

7 L ope s Jr . , A ur y. Di r ei t o pr oce s sua l pe na l – 11. e d. – S ã o P au lo: Sar ai v a, 2 01 4.


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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

peri culosômetro (t omando empres tada a ex pressã o


de Zaff aroni), é um ar gumento in quisitório, pois
irrefut ável. C omo pro var qu e amanhã, se
permanecer solto, não comete re i u m cr ime? Uma
prova impossível de ser feita, tão imposs íve l como
a afi rmação de que aman hã eu o pr aticarei .
Trata-se de recu sar o pape l de j uíze s vide nte s, pois
ainda não equi par am os foros brasile i ros com bolas
de cristal.

A prisão cautelar deve ser decretada apenas


quando devidamente amparada pelos requisitos legais, bem
como com a devida observância aos princípios constitucionais
da presunção da inocência, da proporcionalidade ou
razoabilidade, do devido processo legal, do contraditório e da
ampla defesa, bem como da motivação das decisões.

Com a adoção do princípio da presunção de


inocência (ou da não-culpabilidade) pela Constituição da
República, a regra decorrente é que o investigado/acusado deve
responder em liberdade incondicionada até o trânsito em julgado
da sentença condenatória (ou, conforme a corrente dive rgente, até
a confirmação da conde nação em segunda instância). No caso em
comento ape nas foi oferecida a denúncia. Neste mome nto
proce ssual some nte situações e xcepcionais e concretas poderiam
justificar a limitação da liberdade de uma acusada por meio da
decretação de prisão preventiva.

Importante ressaltar que o princípio da


proporcionalidade ou razoabilidade, também denominado de
“proibição do exce sso” visa evitar que o Estado exceda os limite s
e interfira indevidamente nos direitos fundamentais dos cidadãos.
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

O artigo 282, § 6º, do Código de Processo


Penal estabelece que “A prisão preventiva somente será
determinada quando não for cabível a sua substituição por
outra medida cautelar, observado o art. 319 deste Código, e
o não cabimento da substituição por outra medida cautelar
deverá ser justificado de forma fundamentada nos elementos
presentes do caso concreto, de forma individualizada”. No
mesmo sentido dispõe o artigo 310, inciso II 8, da me ncionada lei,
o qual dispõe que a conversão da prisão em flagrante em
preventiva poderá ser realizada quando presentes os requisitos
constantes do artigo 312 do Codex Processual e se revelarem
inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da
prisão. Portanto, exigidos cumulativamente.

Sendo assim, caso houvesse a necessidade


de imposição de alguma medida cautelar, sua aplicação
deveria ser realizada de maneira proporcional à sua
finalidade, de modo que não causasse uma limitação excessiva
e arbitrária dos direitos, ocasionando à paciente um prejuízo
desproporcional e desnecessário. E assim o foi anteriormente
no caso em comento, sendo que à paciente foi concedida liberdade
provisória com aplicação de medidas cautelares diversas da
prisão que atendiam à finalidade da norma. Tanto que, como dito,
durante todo esse tempo não houve qualquer intercorrência que
pudesse indicar que tais medidas não se mostrariam suficientes.

8 Ar t . 3 10. Ao r ec e b er o a ut o de pr i sã o e m f l agr a nt e, o j ui z dev erá


f un d am e nt ad am e nt e:
I I - c onv er t er a pr i são e m f l ag r a nt e e m pr ev ent i v a, q uan do pr e se nt es o s r eq ui sit o s
c on st a nt e s d o ar t . 312 de s t e C ódi g o, e s e r ev el ar e m i na de qu ada s ou
i ns uf i ci e nt es as medi da s c au t el a re s d i ve rs a s da p r i sã o; ou
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

Portanto, não se verifica no caso em comento


qualquer motivo válido a embasar a necessidade da segregação
cautelar da paciente, privando-lhe de sua liberdade neste
momento, até porque não restou devidamente fundamentado o
motivo pelo qual as medidas cautelare s diversas da prisão não
seriam adequadas ou suficientes ao caso.

Ressalta-se que a paciente se encontra


matriculada e m Curso Técnico em Enfermagem, o qual será
afetado com a sua prisão, a qual impossibilitará sua formação
profissional e em seu futuro no exercício de tal profissão lícita.
Ademais, desde a concessão de sua libe rdade provisória veio
cumprindo devidamente as medidas cautelares impostas, que se
mostraram suficientes e adequadas ao caso, bem como, caso lhe
seja permitido responder à ação penal em libe rdade e demonstrar
sua inocência, se compromete a comprovar a frequência no curso
matriculada bem como a comparece r a todos os atos judiciais para
os quais seja intimada.

DA CONCESSÃO DA LIMINAR

A me dida pleiteada comporta prestação


preliminar, o que desde já se requer, eis que presentes todos os
pressupostos para o deferimento desta.

O f umus boni iuris foi fartamente demonstrado


pelos elementos fáticos e jurídicos trazidos à colação, sobretudo
pelo desrespeito ao princípio da excepcionalidade das medidas
cautelares, da proporcionalidade, da razoabilidade e da
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

presunção da inocência, bem como da ausência de observação das


condições pessoais da paciente, nos termos do artigo 282, inciso
II do Código de Processo Penal.

Restou demonstrado em tópicos anteriores


que a decisão que decretou a prisão preventiva não apresenta
fundamentação idônea, vez que não se exime do ônus de
comprovar, justificadamente, o risco concreto que a liberdade da
pacie nte possa ocasionar à ordem pública, bem como a
inadequação ou insuficiência das medidas cautelares diversas da
prisão no caso.

A incidência do periculum in mora reside no


fato de que grave prejuízo educacional, profissional, moral,
familiar, psicológico e financeiro para a paciente caso seja
privada de sua libe rdade. Repousa, ainda, no pre juízo que,
encarcerada, não poderá continuar a apoiar sua avó materna,
pessoa idosa e que depe nde do amparo e companhia de sua neta,
que como filha foi criada, ora paciente.

Assim, diante da ausência de fundamentação


idône a para o decreto de prisão (f umus boni juris) e ainda o
constrangimento que a paciente sofre com a sua prisão (periculum
in mor a), bem como face ao desrespeito ao ordenamento jurídico
vigente, requer a impetrante a concessão LIMINAR DA ORDEM
para revogar a prisão preventiva de cretada, determinando-se a
expedição de contra mandado de prisão ou alvará de soltura,
colocando a paciente imediatame nte em liberdade, se for
eventualmente o caso, substituindo-se a prisão preventiva por
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

outra(s) medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão tal como vinha


ocorrendo até então, sem qualquer tipo de alteração.

DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, requer a esse


Egrégio Tribunal de Justiça, LIMINARMENTE, a concessão da
ordem de HABEAS CORPUS, para que cesse imediatame nte o
constrangimento ilegal que está se ndo imposto à paciente,
revogando-se a prisão preventiva decretada e expedindo-se o
devido contra mandado de prisão ou alvará de soltura, a depender
de seu eventual cumprimento, colocando a paciente
imediatamente em liberdade. Ao final, requer o julgame nto
favoráve l do presente pedido, com a concessão definitiva da ordem
impetrada.

Ademais, requer ao final o julgamento


favoráve l do presente pedido, com a concessão definitiva da ordem
impetrada, permitindo que a paciente possa responder a todos os
atos do proce sso em liberdade.

Caso Vossas Excelências entendam


necessário, seja a prisão preventiva substituída por uma ou mais
medidas cautelares diversas da prisão, nos termos dos artigos
319 e 320 do Código de Processo Penal, tal como já vinha sendo
efetivado desde a concessão da sua liberdade provisória
anteriormente nos autos.
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ROSANGELA MAGALHÃES
ADVOCACIA

Por fim, requer ainda seja oportunizada a


realização de SUSTENTAÇÃO ORAL pela impetrante durante o
julgamento do mandamus em epigrafe, em Sessão a ser designada,
requerendo desde já a sua prévia intimação para os devidos fins.

Termos em que, cumpridas as necessárias


formalidades legais, pede e espera conhecimento, processamento
e acolhimento, como me dida de inteira justiça.

Goiânia, 18 de agosto de 2021.

- Assinado digitalmente -
ROSANGELA MAGALHÃES DE ALMEIDA
OAB/GO 10.590

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