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Teste de Direito Internacional Público

Direito 2º ano
19/04/2021
Laura Limão, a21901588
Turma: D

Grupo I

2. Espaço aéreo: Espaço aéreo designa a porção da atmosfera localizada sobre


o território ou mar territorial de um Estado, indo do nível do solo, ou do mar, até 100
quilômetros de altitude, onde o país detém o controle sobre a movimentação de
aeronaves. O direito Internacional reconhece a soberania exclusiva do Estado sobre o
espaço aéreo sobrejacente. Tal espaço, diferentemente do mar territorial, não comporta
direito de passagem inocente, razão pela qual, em princípio, uma aeronave estrangeira
somente pode sobrevoar o território de determinado Estado com o consentimento deste.
4. Regras de deliberação do Conselho de Segurança: O conselho de segurança é um
órgão principal das Nações Unidas que é constituído por 15 membros, sendo que 5 são
membros permanentes e 10 membros não permanentes.
Nos termos do artigo 27º da Carta, o conselho de segurança delibera por maioria
qualificada e é necessário para deliberar um quórum de 9 votos. Este artigo
ainda estabelece dois procedimentos: um procedimento de deliberação para as questões
processuais e um procedimento de deliberação para as questões não processuais. No nº2
do artigo 27º, as decisões do conselho de segurança em questões processuais devem ser
tomadas por voto afirmativo de 9 membros. Não pode ser aprovada por menos de 9
votos (não interessa saber quem votou). No nº3: as decisões do Conselho de Segurança
sobre quaisquer outros assuntos serão tomadas por voto favorável de nove membros,
incluindo os votos de todos os membros permanentes, e aquele que for parte numa
controvérsia se absterá de votar (ou seja, o voto é a abstenção, estamos perante um
veto).
Existindo um veto, a decisão não pode ser adotada. Sem duplo veto não há veto, isto é,
serias fácil tornear o veto estabelecendo que não é processual e adotando a votação
desse tipo. A abstenção de um membro permanente ou a ausência da votação, não está
presente na votação, não correspondem a um veto.

Grupo II
1. Discuta os requisitos essenciais para a existência de um Estado Soberano nos termos do
Direito Internacional (critérios de Statehood) e analise os efeitos da existência de estados
frágeis e falhados incapazes de exercerem a soberania

Os Estados são as pessoas jurídicas internacionais por excelência. Ao contrário de


outros sujeitos de Direito Internacional, cuja personalidade é criada e cuja capacidade é
delimitada por Tratado e muito raramente pelo Costume Internacional, os Estados são
sujeitos imediatos ou primários da ordem jurídica internacional. O Estado é hoje a
forma política essencial por meio da qual toda a coletividade tem acesso à vida
internacional. O reconhecimento é um ato unilateral e livre pelo qual um Estado
manifesta ter tomado conhecimento da existência de outro, como membro da
comunidade internacional.
A doutrina admite o carácter meramente declarativo do reconhecimento do Estado, ou
seja, o Estado nasce como sujeito de Direito Internacional assim que reunir os quatro
elementos constitutivos: População permanente, Território definido, Governo, e
Capacidade de entrar em relações com outros Estados.
O Estado é dirigido por um governo que possui soberania determinada tanto interna
como externamente.
Os regimes políticos caracterizam-se pela sua diversidade. Temos assim regimes
democráticos, autoritários, parlamentares, presidenciais, semi-presidenciais, federais,
etc. O Direito Internacional não se pronuncia sobre o regime político que deve vigorar
nos Estados. No entanto, o Direito Internacional admite o direito dos povos à
autodeterminação e a adotar o seu próprio regime político. O Estado deve revelar a sua
capacidade em exercer as suas funções estaduais incluindo a manutenção da ordem
pública, a segurança interna e o cumprimento dos compromissos.
A importância do Território como elemento constitutivo do Estado é muito grande. Por
um lado, marca o domínio dentro do qual o Estado exerce a sua soberania. Em segundo
lugar, e referindo-se agora a sua extensão, é fator de defesa militar e de defesa
económica, sobretudo quando à extensão se alia a fertilidade do solo ou a riqueza do
subsolo.
Todo o Estado deve obstar a que o seu Território seja utilizado para a prática de atos
contrários aos direitos de outros Estados. Podemos dividir o Território em Domínio
Terrestre, Domínio Fluvial, Domínio Marítimo, Domínio Lacustre e Domínio Aéreo.
A população de cada Estado é objeto da jurisdição deste. Assim, todas as pessoas
residentes num Território estão submetidas, em princípio, à competência do respetivo
Estado.
Portanto, a jurisdição do Estado exerce-se sobre os seus nacionais. A nacionalidade
pode definir-se como a “pertença permanente e passiva” de uma pessoa a determinado
Estado, sob cuja autoridade direta se encontra, reconhecendo-lhe estes direitos civis e
políticos e dando-lhe proteção quando se encontra para além de fronteiras.
A nacionalidade pode classificar-se em originária e adquirida. É originária, aquela que o
indivíduo toma pelo nascimento. É adquirida a que resulta de facto posterior ao
nascimento. A nacionalidade originária pode obter-se segundo o ius sanguinis, isto é, o
indivíduo que receba a nacionalidade dos seus pais independentemente do local em que
nasceu; e pode obter-se segundo o ius soli, ou seja, o local do nascimento é que
determina a nacionalidade. Os estrangeiros e os refugiados que se encontrem ou residam
em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português.
Como consequências de se ser Estado, existem direitos e deveres: Capacidade de
celebrar tratados internacionais (jus tractum); Responsabilidade pela violação ilícita do
direito internacional; Direito de reclamação internacional e demandar judicialmente
junto tribunais internacionais; Privilégios e imunidades face às ordens jurídicas
nacionais, imunidade de jurisdição.
Relativamente aos Estados catalogados como falhados (ente estatal caracterizado pela
condição de enfraquecimento das instituições estatais responsáveis pela ordem pública e
pela condição de inobservância das regras internacionais), adotando-se como referência,
para efeito das duas aceções, o modelo de Estado oriundo do contrato social há que
destacar dois fenómenos: um relacionado com a ameaça à segurança e à paz
internacionais decorrentes do desempenho precário das instituições estatais dos países
em desenvolvimento e de natureza ditatorial ou autoritária; outro referente aos danos
causados aos seus cidadãos em virtude da inobservância dos direitos humanos e da não-
provisão de serviços básicos.
O falhanço do Estado-nação ocorre: em virtude da ausência de segurança, fenómeno
decorrente da violência continuada; quando a infraestrutura é deteriorada e já não há o
controlo fronteiriço; quando não há a concretização de políticas públicas para a
população em decorrência da ganância dos governantes; em razão da ilegitimidade do
governo; em virtude da baixa atividade económica.

Grupo III

2. Francisco Vitória, “Dos Índios” e o jus naturalismo na génese do Direito Internacional

A figura e obra de Francisco de Vitória tiveram uma função decisiva nos destinos da
filosofia ética e política no seu tempo e para além do seu tempo. A leitura que faz dos
acontecimentos políticos do seu tempo e a sua abordagem da causa dos índios desde
uma antropologia fundada na ideia da dignidade de uma natureza única e universal do
homem, tiveram particular influência na constituição da moderna filosofia do direito
internacional.
De um ponto de vista cultural, o direito internacional tal como hoje o conhecemos
emerge no final do século XIX, como parte de uma expansão do liberalismo e do
interesse dos poderes políticos europeus para os impérios resultantes da anexação das
colónias, com base no critério de expansão civilizacional.
Francisco Vitória reafirma, por todos os meios, a natureza humana dos povos indígenas,
a sua condição de serem livres por nascimento, afinal, a sua igual natureza face aos
conquistadores espanhóis.
Desta maneira, a sua análise da origem do direito dos povos, na base acerca da
conquista dos territórios, do direito de navegação e migração, do direito de propriedade,
conjuga a natureza e liberdade, comunidade de princípio e exercício de consenso, como
garantes da legitimidade da prática das ações a que tal ius se refere. Face a esta comum
natureza racional, nem Rei nem Papa têm poder de legislar sobre os povos indígenas,
nem estes se podem submeter a uma autoridade que não é, para eles, a legitima. A lei
eclesiástica e a lei espanhola não se aplicam aos povos de um mundo recém-descoberto,
legítimos detentores dos seus territórios, da sua língua, cultura e religião.
Esta atitude humanista e a ideia de uma comum natureza e da necessidade de um
comum consenso para estabelecer e legitimar as relações entre indivíduos e
comunidades, e entre povos e nações, é considerada como inspiradora do direito
internacional.
O Estado é, segundo a conceção de Vitória, um organismo vivente, composto de muitos
órgãos com funções respetivas; o simples fato de vivermos em comunidade não
significa para ele que, dessa feita, estejamos a viver conforme os preceitos. É necessário
que haja um elemento formal. Daí que o Estado tenha uma unidade em si mesma porque
o homem é político por natureza.
Francisco Vitória negava tanto o poder absoluto e divino do Imperador, quanto o poder
supremo e universal do Papa em questões seculares.
O inovador em Vitória consiste na ideia de que a causa material, o lugar onde o próprio
poder reside é na mesma sociedade ou república, a quem compete governar-se por si
própria, administrar-se e dirigir todos os seus poderes para o bem comum, de potestate
civili.
Ao afirmar tal frase, Vitória não conclui que esse poder civil esteja em cada indivíduo,
mas na união entre eles politicamente organizada.
Para Vitória, Deus havia distribuído a sua autoridade para todos os povos, não só os
cristãos. Os índios também poderiam possuir terras e exercer soberania, pois estes
encontravam-se no seu domínio pacífico das suas coisas públicas e privadas. Logo,
deveriam ser considerados verdadeiros senhores e, nessas circunstâncias, não se pode
privá-los das suas posses.
 Francisco Vitória teria desenvolvido um conceito de  jus gentium, que regulamentaria
tanto os períodos de guerra como os de paz, e que incidiria sobre Estados soberanos;
essa soberania, porém, não se mostraria absoluta, porque haveria um princípio superior
que a limita: o totus orbis, uma comunidade internacional e orgânica de todos os povos,
que estabeleceria elos de solidariedade com vistas a um bem comum. Essa instância
mundial encontrar-se-ia acima das vontades particulares dos Estados, editaria normas
internacionais e asseguraria a sua execução. Os próprios Estados funcionariam como
órgãos do orbis e valer-se-iam da guerra justa para vindicar injustiças e corrigir enganos
      Essa conceção, segundo a qual Vitória já teria desenvolvido uma definição moderna
de direito internacional, funda-se no seguinte raciocínio, como um legítimo herdeiro de
Tomás de Aquino, Vitória compartilha da ideia da solidariedade natural do homem e da
consequente naturalidade do Estado. E a sociedade internacional forma uma
comunidade assemelhada a um Estado: “E o mundo todo, que de certo modo forma uma
república, tem o poder de prescrever, a todos os súditos, leis justas, como são as de
direito das gentes”.
Portanto, a soberania dos Estados estaria limitada por um poder superior: o bem
comum, o motivo pelo qual se constituiu o orbe. A solidariedade natural dos indivíduos
tornar-se-ia um princípio válido para as relações internacionais. Um evento político que
interessa a um Estado, afeta a todos. Assim, a justiça desse acontecimento deve ser
analisada de modo global. “Como cada república é uma parte de todo o mundo, e
sobretudo uma província cristã parte de uma república, se a guerra fosse útil a uma
província ou a uma república, mas fosse prejudicial ao mundo ou à cristandade, penso
que por esse fato ela seria injusta”.
Em termos de jus naturalismo, Francisco Vitoria, fundamentando-se em Tomás de
Aquino, estabelece uma clara distinção entre as ordens sobrenatural e natural. Para
Vitoria, a fé não destrói nem o direito natural nem o direito humano (positivo). A
ausência do estado de graça, seja por pecado mortal, seja por infidelidade, não exclui o
domínio civil e a posse de direitos, uma vez que estes pertencem ou ao direito natural ou
ao direito humano positivo. O domínio é, pois, dado ao homem pela natureza.
Pelo seu direito racional e pela sua vontade livre, é que o homem se constitui uma
pessoa moral e um sujeito de direitos, capaz de usar dos bens materiais para os seus
próprios fins e objetivos.
Esta obra de Vitoria é relevante à fundamentação de uma doutrina internacionalista,
uma vez que apresenta reflexões acerca do conceito que com tempo foi salientado com
o nome de soberania, bem como trata do direito dos estrangeiros, do comércio, da
guerra justa e do que hoje denominamos de crimes contra a humanidade, e tudo isso a
partir do ius gentium, o qual serve de fundamento para um Direito Internacional.

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