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Direito 2º ano
19/04/2021
Laura Limão, a21901588
Turma: D
Grupo I
Grupo II
1. Discuta os requisitos essenciais para a existência de um Estado Soberano nos termos do
Direito Internacional (critérios de Statehood) e analise os efeitos da existência de estados
frágeis e falhados incapazes de exercerem a soberania
Grupo III
A figura e obra de Francisco de Vitória tiveram uma função decisiva nos destinos da
filosofia ética e política no seu tempo e para além do seu tempo. A leitura que faz dos
acontecimentos políticos do seu tempo e a sua abordagem da causa dos índios desde
uma antropologia fundada na ideia da dignidade de uma natureza única e universal do
homem, tiveram particular influência na constituição da moderna filosofia do direito
internacional.
De um ponto de vista cultural, o direito internacional tal como hoje o conhecemos
emerge no final do século XIX, como parte de uma expansão do liberalismo e do
interesse dos poderes políticos europeus para os impérios resultantes da anexação das
colónias, com base no critério de expansão civilizacional.
Francisco Vitória reafirma, por todos os meios, a natureza humana dos povos indígenas,
a sua condição de serem livres por nascimento, afinal, a sua igual natureza face aos
conquistadores espanhóis.
Desta maneira, a sua análise da origem do direito dos povos, na base acerca da
conquista dos territórios, do direito de navegação e migração, do direito de propriedade,
conjuga a natureza e liberdade, comunidade de princípio e exercício de consenso, como
garantes da legitimidade da prática das ações a que tal ius se refere. Face a esta comum
natureza racional, nem Rei nem Papa têm poder de legislar sobre os povos indígenas,
nem estes se podem submeter a uma autoridade que não é, para eles, a legitima. A lei
eclesiástica e a lei espanhola não se aplicam aos povos de um mundo recém-descoberto,
legítimos detentores dos seus territórios, da sua língua, cultura e religião.
Esta atitude humanista e a ideia de uma comum natureza e da necessidade de um
comum consenso para estabelecer e legitimar as relações entre indivíduos e
comunidades, e entre povos e nações, é considerada como inspiradora do direito
internacional.
O Estado é, segundo a conceção de Vitória, um organismo vivente, composto de muitos
órgãos com funções respetivas; o simples fato de vivermos em comunidade não
significa para ele que, dessa feita, estejamos a viver conforme os preceitos. É necessário
que haja um elemento formal. Daí que o Estado tenha uma unidade em si mesma porque
o homem é político por natureza.
Francisco Vitória negava tanto o poder absoluto e divino do Imperador, quanto o poder
supremo e universal do Papa em questões seculares.
O inovador em Vitória consiste na ideia de que a causa material, o lugar onde o próprio
poder reside é na mesma sociedade ou república, a quem compete governar-se por si
própria, administrar-se e dirigir todos os seus poderes para o bem comum, de potestate
civili.
Ao afirmar tal frase, Vitória não conclui que esse poder civil esteja em cada indivíduo,
mas na união entre eles politicamente organizada.
Para Vitória, Deus havia distribuído a sua autoridade para todos os povos, não só os
cristãos. Os índios também poderiam possuir terras e exercer soberania, pois estes
encontravam-se no seu domínio pacífico das suas coisas públicas e privadas. Logo,
deveriam ser considerados verdadeiros senhores e, nessas circunstâncias, não se pode
privá-los das suas posses.
Francisco Vitória teria desenvolvido um conceito de jus gentium, que regulamentaria
tanto os períodos de guerra como os de paz, e que incidiria sobre Estados soberanos;
essa soberania, porém, não se mostraria absoluta, porque haveria um princípio superior
que a limita: o totus orbis, uma comunidade internacional e orgânica de todos os povos,
que estabeleceria elos de solidariedade com vistas a um bem comum. Essa instância
mundial encontrar-se-ia acima das vontades particulares dos Estados, editaria normas
internacionais e asseguraria a sua execução. Os próprios Estados funcionariam como
órgãos do orbis e valer-se-iam da guerra justa para vindicar injustiças e corrigir enganos
Essa conceção, segundo a qual Vitória já teria desenvolvido uma definição moderna
de direito internacional, funda-se no seguinte raciocínio, como um legítimo herdeiro de
Tomás de Aquino, Vitória compartilha da ideia da solidariedade natural do homem e da
consequente naturalidade do Estado. E a sociedade internacional forma uma
comunidade assemelhada a um Estado: “E o mundo todo, que de certo modo forma uma
república, tem o poder de prescrever, a todos os súditos, leis justas, como são as de
direito das gentes”.
Portanto, a soberania dos Estados estaria limitada por um poder superior: o bem
comum, o motivo pelo qual se constituiu o orbe. A solidariedade natural dos indivíduos
tornar-se-ia um princípio válido para as relações internacionais. Um evento político que
interessa a um Estado, afeta a todos. Assim, a justiça desse acontecimento deve ser
analisada de modo global. “Como cada república é uma parte de todo o mundo, e
sobretudo uma província cristã parte de uma república, se a guerra fosse útil a uma
província ou a uma república, mas fosse prejudicial ao mundo ou à cristandade, penso
que por esse fato ela seria injusta”.
Em termos de jus naturalismo, Francisco Vitoria, fundamentando-se em Tomás de
Aquino, estabelece uma clara distinção entre as ordens sobrenatural e natural. Para
Vitoria, a fé não destrói nem o direito natural nem o direito humano (positivo). A
ausência do estado de graça, seja por pecado mortal, seja por infidelidade, não exclui o
domínio civil e a posse de direitos, uma vez que estes pertencem ou ao direito natural ou
ao direito humano positivo. O domínio é, pois, dado ao homem pela natureza.
Pelo seu direito racional e pela sua vontade livre, é que o homem se constitui uma
pessoa moral e um sujeito de direitos, capaz de usar dos bens materiais para os seus
próprios fins e objetivos.
Esta obra de Vitoria é relevante à fundamentação de uma doutrina internacionalista,
uma vez que apresenta reflexões acerca do conceito que com tempo foi salientado com
o nome de soberania, bem como trata do direito dos estrangeiros, do comércio, da
guerra justa e do que hoje denominamos de crimes contra a humanidade, e tudo isso a
partir do ius gentium, o qual serve de fundamento para um Direito Internacional.