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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

04. O ESTADO COMO SUJEITO DO DIP:


CLASSIFICAÇÃO, FORMAÇÃO E EXTINÇÃO.
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO.
DIREITOS E DEVERES. A RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO.

Profa Dra. Adriana Biller Aparicio


Email: abaparicio2@uem.br
ROTEIRO

Sujeitos de direito internacional

Estado (Elementos, Surgimento, Classificação)

Reconhecimento de Estado e de Governo

Autodeterminação dos povos


TERMINOLOGIA:
atores internacionais: sentido amplo e refere-se a
qualquer pessoa ou entidade que tenha espaço ou voz no
cenário internacional (Relações Internacionais)

sujeitos de direitos: aqueles que possuem direitos e


obrigações, no que diz respeito ao plano do Direito.

Personalidade jurídica: aptidão para titularidade de


direitos e obrigações.
PERSONALIDADE JURÍDICA

no plano internacional é a capacidade para agir


internacionalmente, com diferentes graus de atuação.

Personalidade jurídica do Estado é originária e plena,


pois engloba todas as capacidades.
PRERROGATIVAS DOS SUJEITOS DE DIREITO
INTERNACIONAL

Produzir atos jurídicos internacionais;


Serem imputados por fatos ilícitos internacionais;
Ter acesso aos procedimentos contenciosos
internacionais;
Tornar-se membro das Organizações Internacionais;
Ter capacidade de estabelecer relações diplomáticas com
outros Estados.
SUJEITOS DE DIREITOS

“Os sujeitos de Direito, no sistema jurídico internacional,


como já destacou a CIJ (..) em relação às Nações Unidas,
não são necessariamente idênticos quanto à sua natureza ou
à extensão dos seus direitos”. (Mazzuoli)
SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL

Doutrina Clássica – apenas Estados e OI (F. Rezek)

Novos Sujeitos –ONG´S, indivíduos. (Mazzuoli, Portela)


ESTADO COMO SUJEITO DO DIPL
Estado – é a pessoa fundadora do Direito Internacional

“[..] ente formado por um território, uma comunidade


humana e um governo soberano, dotado de capacidade de
exercer direitos e contrair obrigações e não subordinado
juridicamente a qualquer outro poder, externo ou interno”.
(PORTELA, p. 167)

Elementos: População, Território e Soberania


CONVENÇÃO DE MONTEVIDÉU SOBRE DIREITOS E
DEVERES DO ESTADO (1933)

(Decreto 1570/73) - Artigo 1

O Estado como pessoa de Direito Internacional deve reunir


os seguintes requisitos.
I. População permanente.
II. Território determinado.
III. Governo.
IV. Capacidade de entrar em relações com os demais
Estados.
requisitos – população, território, governo soberania
(interna e externa)
CONVENÇÃO DE MONTEVIDÉU SOBRE DIREITOS E
DEVERES DO ESTADO (1933)
ELEMENTOS DO ESTADO

População: “o conjunto das pessoas instaladas em


caráter permanente sobre seu território” (Rezek).
Nacionais e estrangeiros.

“Povo”: conjunto das pessoas nacionais, natos ou


naturalizados. Conceito historicamente relacionado ao
princípio da autodeterminação.

“Nação” – “consciência política” de pertencimento. A


categoria nação surge com a Revolução Francesa e
desenvolvida no final do século XIX.
“NAÇÃO”
jurista italiano Pasquale Stanislao Mancini no contexto da
unificação política da península italiana

“A nacionalidade como fundamento do Direito dos Povos”,


apresentado em Turim, em 1851.

defendia o princípio da nacionalidade, segundo o qual os


Estados deveriam ser organizados tendo em consideração o
fator nação.

ideologia unificadora -“uma sociedade natural de homens


com unidade de território, de origem, de costumes e de
língua, configurados numa vida em comum e numa
consciência social”.
TERMO POVOS - “POVOS INDÍGENAS”

Convenção n° 169 da OIT sobre Povos Indígenas e Tribais.

Artigo 1.3 A utilização do termo "povos" na presente


Convenção não deverá ser interpretada no sentido de ter
implicação alguma no que se refere aos direitos que
possam ser conferidos a esse termo no direito
internacional.
ESTADO E HETEROGENEIDADE CULTURAL
Nacionalismo para formação do Estado
Maioria dos Estados são multiculturais
Papel dos intelectuais em forjar a nação
Concepção homogênea - Teoria política liberal indivíduos
e Estado

(STAVENHAGEN, Rodolfo. Antropólogo mexicano,


Relator Especial das Nações Unidas para os Direitos
Humanos e as Liberdades Fundamentais dos Povos
Indígenas)
TERRITÓRIO
Sobre seu território o Estado exerce jurisdição

Território: espaço no qual Estado exerce suas


competências (Leon Duguit)

é título de competência do Estado (Kelsen, Verdross).

domínio terrestre, aquático e aéreo.


SURGIMENTO DOS ESTADOS
Principais momentos
Independências no continente americano– final do século
XIX, África e Ásia, as potências europeias avançavam na
corrida imperialista.

Após 1 Guerra Mundial – esfacelamento dos impérios


Austro-Húngaro e Otomano;

Após 2 guerra mundial e o fenômeno da descolonização


(década de 1960 em diante);

Década de 1990 – fim da guerra fria , desmembramento da


URSS, Tchecoslováquia, Iugoslávia.
SURGIMENTO DOS ESTADOS
Modalidades (Accioly)

1) separação de parte da população e do território do


estado já existente, subsistindo personalidade
internacional da mãe-pátria (processos de Independência)

2) dissolução total do Estado, não subsistindo a


personalidade do antigo Estado. Iugoslávia;

3) fusão de dois ou mais estados em um estado novo


(Itália)
ESTADOS
Microestados: a qualidade de sujeito não depende da
extensão do território. (princípio da igualdade
jurídica)Exemplos Andorra, Liechtenstein, Mônaco,
Malta, San Marino.

Estado simples - soberanos em relação aos negócios


externos e sem divisão de autonomias, no tocante a
divisões internas.

Estado composto - associação de unidades estatais, que


têm autonomia interna, mas o poder soberano é exercido
externamente por uma pessoa jurídica apenas. ex Brasil.
RECONHECIMENTO DE ESTADO
“Reconhecimento significa a decisão do governo de um
estado existente de aceitar outra entidade como tal”
(Accioly)

Reconhecimento de outro Estado é um ato de soberania

Estados optam, livremente, por reconhecer ou não um


novo Estado.
RECONHECIMENTO DO ESTADO:
É preciso o reconhecimento do Estado para ele
existir?

doutrina constitutivista: Estado só existe com o


reconhecimento internacional. Jellinek, Triepel, Kelsen,
Anzilotti.
doutrina declarativa: a personalidade internacional de um
Estado não depende do seu reconhecimento como tal por
parte de dos demais Estados (maioria dos internacionalistas
George Scelle, Cassese, Accioly)
RECONHECIMENTO DO ESTADO:
Convenção de Montevidéu sobre direitos e deveres do
Estado (1933):

Artigo 3 - A existência política do Estado é independente


do seu reconhecimento pelos demais Estados [..]

Artigo 6 - O reconhecimento de um Estado apenas significa


que aquele que o reconhece aceita a personalidade do outro
com todos os direitos e deveres determinados pelo Direito
Internacional. O reconhecimento é incondicional e
irrevogável.

Reconhecimento é ato unilateral, declaratório,


discricionário, incondicional, retroativo. Tácito ou
expresso.
RECONHECIMENTO DE GOVERNO

a modificação de governo em violação da Constituição,


como no caso de guerra civil, golpes de estado ou
revoluções.

Os governos precisam ser reconhecidos pelos demais


Estados?
RECONHECIMENTO DE GOVERNO

Doutrina Tobar: entende que para o reconhecimento


internacional deve ter legitimidade popular. (Carlos
Tobar, ministro das rel. ext. Equador em 1907). adotado
pelo governo norte-americano ao tempo de Woodrow
Wilson (1913-1921).

Doutrina Estrada: Independe da análise da legitimidade


popular. (Genaro Estrada, ministro das rel. ext México,
década 1930). Princípio da não intervenção.
PRINCÍPIO DA AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS
principal argumento jurídico das guerras de descolonização

Resolução 1514 da ONU, 14 de dezembro de 1960 Busca


por fim ao colonialismo.
“Declaração sobre a Concessão da Independência aos
Países e Povos Coloniais”

ONU criou o Comitê Especial de Descolonização. 1962.


DECLARAÇÃO SOBRE A CONCESSÃO DA INDEPENDÊNCIA
AOS PAÍSES E POVOS COLONIAIS (1960)

1. A sujeição dos povos a uma subjugação, dominação e


exploração constitui uma negação dos direitos humanos
fundamentais, é contrária à Carta das Nações Unidas e
compromete a causa da paz e da cooperação mundial;

2. Todos os povos tem o direito de livre determinação;


em virtude desse direito, determinam livremente sua
condição política e perseguem livremente seu
desenvolvimento econômico, social e cultural.
DESCOLONIZAÇÃO

Descolonização: termo aplicado pelo Comitê para o


período de descolonização da África e Ásia.

Independência: aplicado à história da América.


EXTINÇÃO DO ESTADO
A diminuição de sua população, mudança de suas
instituições políticas: não ensejam o fim do Estado
EXTINÇÃO DO ESTADO
Divisão ou desmembramento do Estado em outros
(império austro-húngaro em 1919, com a criação da
Hungria, Áustria, Tchecoslováquia e Iugoslávia).

absorção completa de um estado por outro (como fez a


ex-União soviética com Estônia, Lituânia)

Fusão – união de estados (surgimento da Itália);

Reunificação (Alemanha)
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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

04. O ESTADO COMO SUJEITO DO DIP:


CLASSIFICAÇÃO, FORMAÇÃO E EXTINÇÃO.
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO.
DIREITOS E DEVERES. A RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO.

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RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE
GOVERNO
Casos Paradigmáticos:

Caso Palmas (1928);


Saara Ocidental (1975)
Caso Kosovo (2010).
CASO PALMAS, 1928 - NORMAS COLONIAIS AINDA
ACEITAS
Reflete o período de aceitação da colonização europeia, aceitação ainda
da ideia de descobrimento.

Estados Unidos e Holanda (Corte Permanente de Arbitragem).


Disputa territorial da Ilha de Palmas, hoje parte da Indonésia. (Pulau
Muangas)
Fora cedida aos Estados Unidos em 1898 pela Espanha (justificado no
título de descobrimento da Espanha)

árbitro Max Huber: título de descobrimento, dissociado da


continuidade e não exercício da soberania sobre o território descoberto,
fazia com que aquele perdesse efeitos jurídicos.
considerou a presença contínua e o exercício da soberania holandesa na
Ilha de Palmas, a Corte conferiu à soberania à Holanda.
CASO SAARA OCIDENTAL
Opinião Consultiva relativa ao Saara Ocidental, de 1975 – alterou o
entendimento do caso Palmas!

-Historicamente reconhecida como sendo domínio espanhol;


- processos de descolonização, advento da Resolução 2229 (XXI) da
Assembleia Geral, que determinou a realização de referendo sobre a
independência do Saara Ocidental (Organização das Nações Unidas,
1966)
1973 fundação Frente Polisario para Libertação Nacional
1975 Invasão pelo Marrocos e questionamento à CIJ
1975 Acordo de Madri Espanha anuncia sua retirada do Saara
Ocidental, transferindo a administração do território para o Marrocos e
a Mauritânia
NA CIJ – MARROCOS
“Saara Ocidental” - terra nullius, ou seja, um território que não
pertencia a ninguém, ao tempo da colonização por parte da Espanha?
Quais eram os laços jurídicos entre o território e o Reino do
Marrocos e Mauritânia?

Missão da ONU visitou a área e investigou a situação política,


constatando que a população em sua grande maioria era a favor da
independência tanto da Espanha quanto do Marrocos/Mauritânia.
Apesar dos laços, a Corte concluiu que não resultavam em um
elo de soberania ou direito de propriedade sobre o território
CASO KOSOVO
Década de 1990 inicio da fragmentação da Iugoslávia,
1999 Guerra Kosovo
2008 – declarou Independência da Sérvia
Estados Unidos e maioria dos estados europeus
reconhecem Kosovo. Rússia apoia a Sérvia.
Kosovo – aproximadamente 90% etnia albanesa. 5%
sérvia
PARECER CONSULTIVO DA CORTE INTERNACIONAL DE
JUSTIÇA (2010)
A pedido da Sérvia
legalidade da Declaração de Independência do Kosovo,
de 2008

Pergunta: a declaração unilateral de independência


por meio das instituições provisórias de autogoverno
do Kosovo está em conformidade com o Direito
Internacional?
CIJ

2010 a Corte emitiu o parecer que considera que não há


qualquer norma no Direito Internacional que proíba
declarações de independência e que o tema é
eminentemente político.
BRASIL
foi contra a legalidade da Declaração de Independência
do Kosovo, alegando que esta fere a autoridade do
Conselho de Segurança e às regras aprovadas na
resolução 1244 (1999) que estipula uma solução
acordada entre o Kosovo e a Sérvia.
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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

04. O ESTADO COMO SUJEITO DO DIP:


CLASSIFICAÇÃO, FORMAÇÃO E EXTINÇÃO.
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO.
DIREITOS E DEVERES. A RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO.

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DIREITOS E DEVERES DO ESTADO
Marcos normativos:

Convenção de Montevidéu sobre direitos e deveres do


Estado (1933).

Carta da ONU. Artigos 1 e 2

Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA)


contém capítulo denominado “Direitos e Deveres
Fundamentais dos Estados”
DIREITOS E DEVERES DO ESTADO

Direito à existência
Direito à liberdade
Direito ao respeito mútuo
Direito de defesa e conservação
Direito de jurisdição

Princípio da não intervenção


DIREITOS E DEVERES DO ESTADO
Direito à existência:
independente de reconhecimento. Dele decorrem os
demais direitos.

Direito à liberdade: relaciona-se com a noção de


soberania.

Soberania interna: organização política, legislação, jurisdição, de


domínio sobre território.

Soberania externa: celebrar tratados, diplomacia, cortes internacionais.


DIREITOS E DEVERES DO ESTADO
Direito à igualdade: pelo simples fato de sua existência
como pessoa do direito internacional.

artigo 4º da Convenção em Montevidéu (1933)


Carta da ONU
Carta da OEA
CARTA DA ONU - IGUALDADE

Artigo 2. A Organização e seus Membros, para a


realização dos propósitos mencionados no Artigo 1,
agirão de acordo com os seguintes Princípios:

1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de


todos os seus Membros.
CARTA DA OEA -IGUALDADE
Artigo 10 da Carta da OEA

Os Estados são juridicamente iguais, desfrutam de


iguais direitos e de igual capacidade para exercê-los, e
têm deveres iguais. Os direitos de cada um não
dependem do poder de que dispõem para assegurar o
seu exercício, mas sim do simples fato da sua existência
como personalidade jurídica internacional.
DIREITOS E DEVERES DO ESTADO

Direito ao respeito mútuo: em várias dimensões, tais


como territoriais, culturais.
DIREITO DE DEFESA E CONSERVAÇÃO
o direito de cada estado tem por limite o direito dos
outros estados

legítima defesa: existe em face de uma agressão injusta


e atual contra a qual o emprego da violência é o único
recurso possível.

Deve ser submetido ao Conselho de segurança (artigo 51


Carta da ONU).
CARTA DA ONU
Artigo 51. Nada na presente Carta prejudicará o direito
inerente de legítima defesa individual ou coletiva no
caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro
das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança
tenha tomado as medidas necessárias para a
manutenção da paz e da segurança internacionais. [..]
PRINCÍPIOS DE SOLIDARIEDADE CONTINENTAL (CARTA
OEA)

Artigo 29

Se a inviolabilidade, ou a integridade do território, ou a


soberania, ou a independência política de qualquer Estado
americano forem atingidas por um ataque armado, ou por
uma agressão que não seja ataque armado, ou por um conflito
extracontinental, ou por um conflito entre dois ou mais
Estados americanos, ou por qualquer outro fato ou situação
que possa pôr em perigo a paz da América, os Estados
americanos, em obediência aos princípios de solidariedade
continental, ou de legítima defesa coletiva, aplicarão as
medidas e processos estabelecidos nos tratados especiais
existentes sobre a matéria.
CARTA DA OEA
SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS

Artigo 24

As controvérsias internacionais entre os Estados membros


devem ser submetidas aos processos de solução pacífica
indicados nesta Carta.

Esta disposição não será interpretada no sentido de


prejudicar os direitos e obrigações dos Estados membros,
de acordo com os artigos 34 e 35 da Carta das Nações
Unidas. (Atribuições do Conselho de Segurança da ONU)
DIREITOS E DEVERES DO ESTADO

Direito de jurisdição: direito de exercer a sua jurisdição


no seu território e sobre a população permanente, com as
exceções estabelecidas pelo direito internacional.
DIREITOS E DEVERES DO ESTADO
Carta da ONU – Jurisdição

Art.2.7. Nenhum dispositivo da presente Carta


autorizará as Nações Unidas a intervirem em
assuntos que dependam essencialmente da jurisdição
de qualquer Estado ou obrigará os Membros a
submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da
presente Carta; este princípio, porém, não prejudicará a
aplicação das medidas coercitivas constantes do Capitulo
VII.
DIREITOS E DEVERES DO ESTADO
Carta da OEA – jurisdição

art. 1 A Organização dos Estados Americanos não tem


mais faculdades que aquelas expressamente conferidas
por esta Carta, nenhuma de cujas disposições a autoriza a
intervir em assuntos da jurisdição interna dos Estados
membros.
PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO
Convenção de Montevidéu de 1933
EUA, a princípio, não aceitou.
Posteriormente, aceitou em Protocolo Adicional relativo
a não intervenção, firmados em Buenos Aires a 23 de
dezembro de 1936.

"Art. 1.2 As Altas Partes Contratantes declaram


inadmissível a intervenção de qualquer delas, direta ou
indiretamente, e seja qual for o motivo, nos assuntos
internos ou externos de qualquer outra Parte."
INTERVENÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE:
Prática desenvolvida em especial na Revolução Francesa
para expansão dos ideias iluministas.
1936 – Guerra Civil Espanhola
1956 e 1968 – URSS na Hungria e Tchecoslováquia
1960 Vietnã
Conferência de Yalta e estabelecimento de “Zonas de
Influência” – em especial da URSS na europa do leste.
PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO

Carta da OEA - Artigo 2 b propósitos essenciais:


promover e consolidar a democracia representativa,
respeitado o princípio da não intervenção; artigo 19.

CF/88 Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se


nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
IV - não-intervenção;
CARTA DA OEA
ARTIGO 19 - Nenhum Estado ou grupo de Estados tem
o direito de intervir, direta ou indiretamente, seja qual for
o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer
outro. Este princípio exclui não somente a força
armada, mas também qualquer outra forma de
interferência ou de tendência atentatória à personalidade
do Estado e dos elementos políticos, econômicos e
culturais que o constituem.
PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO

Quando a intervenção é legal?


QUANDO AUTORIZADA PELO CONSELHO DE
SEGURANÇA DA ONU
Carta da ONU

Artigo 39. O Conselho de Segurança determinará a


existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou
ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que
medidas deverão ser tomadas de acordo com os Artigos
41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a
segurança internacionais.
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

A ampliação da noção de ameaça contra a paz para


intervir
Não consolidado no direito internacional
Surgiu na década de 1990, pós guerra-fria na
Ex-Yugoslávia.

Accioly/Portela: qualquer intervenção deverá ser


praticada na forma prevista pela Carta da ONU.
PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO
Orientações históricas

Doutrina Monroe
1823 - Presidente James MONROE.
temor da reconquista das colônias espanholas
inadmissível a intervenção de potência europeia nos
negócios internos ou externos de qualquer país americano;
Transformou-se em uma prática intervencionista dos EUA
na América
“DESTINO MANIFESTO”
expressão criada pelo jornalista John Louis O’Sullivan, em
1845

retratar a crença dos norte-americanos de que deveriam


cumprir a vontade divina e expandir seu domínio territorial,
cultural e religioso pela América do Norte ao longo do século
XIX

Livro “Destino Manifesto” de John Fiske 1885 – EUA


deveria espalhar por todas as regiões do mundo.

“Deveriam organizar os povos não civilizados”. (Celso A.


Mello)
DOUTRINAS

Doutrina Roosevelt (Big Stick) – mensagem de Theodore


Roosevelt, em 1904, EUA deveriam exercer o poder de
política internacional para a América Latina

Doutrina Truman 1947 – missão de defender os povos


livres contra o comunismo

Doutrina Johnson 1965 – não haveria distinção entre


guerra civil e guerra internacional no combate ao
comunismo. OEA deveria intervir. Legitimou a
intervenção na república dominicana.
DOUTRINA DRAGO – ACOLHIDA NA CONFERÊNCIA DE
HAIA (1907)
Doutrina Drago:
1902 - Luís Maria Drago (ministro das relações exteriores
Argentina) contra o emprego da força contra a Venezuela
por parte da Alemanha, Inglaterra e Itália para exigir
cobrança de dívida pública.

Necessidade de solução pacífica e proibição do emprego da


força para cobrar dívidas.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

04. O ESTADO COMO SUJEITO DO DIP:


CLASSIFICAÇÃO, FORMAÇÃO E EXTINÇÃO.
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO.
DIREITOS E DEVERES. A RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO.

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DIREITOS E DEVERES DO ESTADO

Princípio da não intervenção

Estudo de caso: Corte Internacional de Justiça -


atividades militares e paramilitares na Nicarágua. 1986
FUNDAMENTOS DO PRINCIPIO DA NÃO INTERVENÇÃO
Autodeterminação dos povos
Igualdade
Direito à jurisdição

“[..] a intervenção faz parte da realidade política internacional


e o direito trava uma luta realmente inglória tentando
reprimi-la”

“É A NORMA MAIS VIOLADA NAS AMÉRICAS” (Celso


A. Mello)

O DI Americano consagrou o princípio antes do DI universal


PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO

Definição – ingerência de um Estado sobre assuntos dos


outros, com finalidade de obter uma atitude determinada.

215 é o número de vezes que os EUA intervieram em


outros países entre 1945 a 1977 (Brookings Institution)

Intervenção não é apenas militar, pode ser diplomática,


econômica.
CASO NICARÁGUA
Intervenção é parte da politica externa americana, de
acordo com Celso A. Mello.

1961 – formação da Frente Sandinista de Libertação


Nacional (inspirada em Augusto Cesar Sandino -
1895-1934) – lutavam contra a ditatura de Anastasio
Somoza
1979 – derrubado Somoza
1983. Governo Reagan passou a prestar auxílio na
Nicarágua aos “Contras”
1984 realizadas eleições livres e o líder sandinista Daniel
Ortega foi eleito
CASO NICARÁGUA
Nicarágua era relevante para os Estados Unidos, tendo
em vista que o país era utilizado como centro para a
realização de intervenções na América Latina
CASO NICARÁGUA
1984 - Nicarágua impetrou uma ação contra os EUA
perante a CIJ, relativa às atividades militares e
paramilitares realizadas.
CIJ concedeu medidas provisórias para os EUA cessarem
os bloqueios de Portos e colocação de minas, cessar
atividades militares e paramilitares
rejeitou petição dos EUA para mover o tema para órgãos
políticos da ONU e sua declaração de exclusão da
jurisdição da corte nas controvérsias com qualquer
Estado da América Central.
ATOS CONTRÁRIOS AO DIREITO INTERNACIONAL
IMPUTADOS PELA NICARÁGUA:

(a) colocação de minas em seus portos e suas águas;


(b) realização de operações contra as suas instalações
petroleiras e a base naval, entre outros lugares;
(c) manobras militares na fronteira entre Nicarágua e
Honduras;
(d) realização de voos no seu espaço aéreo;
(e) imposição de sanções econômicas;
(f) criação de um exército de mercenários (os “Contras”)
para atuar contra o governo local
POSIÇÃO DOS EUA
considerou a Corte Incompetente e

No mérito que: (a) a Nicarágua dava apoio aos grupos


armados dos países vizinhos, especialmente El Salvador,
fato que justificava o exercício da legítima defesa coletiva
(art. 51 da Carta ONU) (b) que a Nicarágua estava fazendo
incursões militares contra os Estados vizinhos: Honduras e
Costa Rica; (c) que a Junta de Reconstrução Nacional não
havia cumprido as promessas, no que se refere a eleições
livres e respeito aos direitos humanos
CIJ
Entendeu que o fato de ser questão política não impede o
julgamento pela Corte

Carta da ONU- este artigo não se aplica à CIJ


Artigo 12. 1. Enquanto o Conselho de Segurança estiver
exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou
situação, as funções que lhe são atribuídas na presente
Carta, a Assembleia Geral não fará nenhuma
recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação,
a menos que o Conselho de Segurança a solicite.
1985 – EUA SE RECUSA A PARTICIPAR
ausência dos EUA não impediu a Corte de decidir o
mérito do caso, fazendo-o em respeito ao artigo 53 do
Estatuto, que estabelece as condições para o julgamento
no caso em que uma das partes não se apresenta.
ESTATUTO DA CIJ
Artigo 53. 1. Se uma das partes deixar de comparecer
perante a Corte ou de apresentar a sua defesa, a outra
parte poderá solicitar à Corte que decida a favor de sua
pretensão.

2. A Corte, antes de decidir nesse sentido, deve


certificar-se não só de que o assunto é de sua
competência, de conformidade com os arts. 36 e 37, mas
também de que a pretensão é bem fundada, de fato e de
direito.
CASO NICARÁGUA
1986 a CIJ julgou definitivamente o caso, analisando
cada alegação sustentada pela Nicarágua e proferindo
decisão favorável a esta Condenação pelo uso da força.

CIJ entendeu que restou provado que o objetivo dos


Estados Unidos, ao apoiarem os ‘Contras’, era o derrubar
o governo da Nicarágua, uma forma de retaliação por
entenderem que o país dava sustentação ao comunismo.
Dessa forma, ao apoiar financeira, militar e
logisticamente os “Contra”, inclusive privilegiando-os
com informações secretas, os EUA violaram o princípio
da não-intervenção.
INDENIZAÇÃO
INDENIZAÇÃO
"Para nós, este caso foi resolvido durante o governo
democraticamente eleito de dona Violeta de Chamorro
(1990-1997). Para nós, é um capítulo encerrado",
afirmou o embaixador americano em Manágua, Robert
Callahan em 2011.

Os dirigentes da Frente Sandinista de Libertação


Nacional (FSLN) asseguram que o montante que os
Estados Unidos devem pagar à Nicarágua pelos danos
causados à sua economia chega a 17 bilhões de dólares.
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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

04. O ESTADO COMO SUJEITO DO DIP:


CLASSIFICAÇÃO, FORMAÇÃO E EXTINÇÃO.
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO.
DIREITOS E DEVERES. A RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO.

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RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO
princípio fundamental do Direito Internacional Público
decorre da igualdade soberana de todos os Estados na órbita
internacional.

Fundamento – Estado - dever de cumprir obrigações


internacionais, dever de não causar dano.

Finalidade: reparação dos danos


- Classicamente, a responsabilidade perante os outros Estados;
atualmente, há também responsabilidade dos Estados perante
organizações internacionais e perante o indivíduo. (pós-guerra)
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO
Regras costumeiras

Projeto de Convenção: 1996 - a Comissão de Direito


Internacional das Nações Unidas aprovou o texto do
primeiro projeto de convenção internacional sobre
responsabilidade do Estado por atos internacionalmente
ilícitos (Projeto CDI)

encaminhado à Assembleia-Geral da ONU


CONCEITO
A responsabilidade internacional do Estado é o instituto
jurídico que visa responsabilizar determinado Estado pela
prática de um ato atentatório (ilícito) ao Direito
Internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade
de outro Estado [ou indivíduo], prevendo certa reparação a
este último pelos prejuízos e gravames que injustamente
sofreu.

Mazzuoli
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO.

a responsabilidade internacional do Estado –


responsabilidade civil.

responsabilidade penal é do indivíduo (voltada a


combater os crimes de guerra, crimes contra
humanidade).
PORTELA - TEORIAS
Subjetivista – Teoria da Culpa – formulada por Grócio –
deverá haver culpa ou dolo na ação ou omissão do
Estado

Objetivista – teoria do risco, independe de culpa. Basta o


nexo causal e o dano. (Triepel, Anzilotti e Rezek)

A jurisprudência internacional ainda continua se


utilizando da teoria subjetivista (ou teoria da culpa) que
protege mais o Estado do que a teoria objetivista ou do
risco.
ELEMENTOS = ATO, IMPUTABILIDADE E DANO

Para Celso A. Mello:

ilicitude do ato (violação à tratado, um costume


internacional ou a qualquer outra fonte do direito das
gentes)

imputabilidade do ato

prejuízo ocasionado pelo ato ilícito


ILÍCITO INTERNACIONAL
não serve de exclusão da ilicitude internacional do ato o
fato de ser ele um ato lícito na ordem interna do Estado
que o perpetrou

Artigo 27 da Convenção de Viena sobre Tratados.

Direito Interno e Observância de Tratados

Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito


interno para justificar o inadimplemento de um tratado.
Esta regra não prejudica o artigo 46.
LÍCITOS QUE GERAM DEVER DE INDENIZAR

“international liability”: independentemente de


ilegalidade ou proibição no direito internacional.

Em casos dos riscos iminentes e excepcionais (danos


nucleares, meio ambiente).
LEI Nº 6.453, DE 17 DE OUTUBRO DE 1977
(ANTERIOR À CF/1988)
Art . 4º - Será exclusiva do operador da instalação nuclear,
nos termos desta Lei, independentemente da existência de
culpa, a responsabilidade civil pela reparação de dano nuclear
causado por acidente nuclear.

Excludentes
Art . 8º - O operador não responde pela reparação do dano
resultante de acidente nuclear causado diretamente por
conflito armado, hostilidades, guerra civil, insurreição ou
excepcional fato da natureza.

(teoria do risco administrativo)


DANO NUCLEAR - CF/88

CF/88 Art. 21. Compete à União:

d) a responsabilidade civil por danos nucleares


independe da existência de culpa;

Adota a teoria do risco (administrativo ou integral? Foi


recepcionado o artigo 8 da Lei 6453/77? )
DANO NUCLEAR
Convenção de Viena sobre Responsabilidade Civil por
Danos Nucleares de 1963. (incorporado pelo Decreto
911/1993)

ARTIGO IV
1 - A responsabilidade do operador por danos nucleares,
de conformidade com a presente Convenção, será
objetiva.
EXCLUDENTES NA CONVENÇÃO - 1993
Artigo 4.3 a) De conformidade com a presente Convenção,
não acarretarão qualquer responsabilidade para o operador os
danos nucleares causados por acidente nuclear devido
diretamente a conflito armado, a hostilidades, a guerra
civil ou a insurreição.

b) Exceto na medida em que o Estado da Instalação dispuser


em contrário, o operador será responsável pelos danos
nucleares causados por acidente nuclear devido diretamente a
uma catástrofe natural de caráter excepcional.
(teoria do risco integral)
DANOS NUCLEARES CAUSADOS POR CATÁSTROFES
NATURAIS?

LEI Nº 6.453, DE 17 DE OUTUBRO DE 1977 – não


responde, teoria adotado o risco administrativo

CF/88 - doutrina administrativista não é pacifica com


ao tipo de risco

Convenção de Viena – sim, teoria do risco integral.


ACIDENTE NUCLEAR FUKUSHIMA - 2011
LÍCITOS QUE GERAM DEVER DE INDENIZAR

Convenção sobre Responsabilidade Internacional por


Danos Causados por Objetos Espaciais
(Decreto 71981/1973)

Problema dos “detritos espaciais” aumentam


dados da Agência Espacial Europeia (ESA) apontam que
entre 1957 e 2020 foram lançados aproximadamente
5560 foguetes;

2009 colisão entre os Satélites Iridium 33 (americano) e


o Kosmos 2251 (Russo)
LÍCITOS QUE GERAM DEVER DE INDENIZAR

Convenção sobre Responsabilidade Internacional por


Danos Causados por Objetos Espaciais
(Decreto 71981/1973)

ARTIGO 2º
Um Estado lançador será responsável absoluto pelo
pagamento de indenização por danos causados por seu
objetos espaciais na superfície da Terra ou a aeronaves
em vôo.
DANOS POR DERRAMAMENTO DE ÓLEO
Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por
Danos Causados por Poluição por Óleo, de 1969 (Decreto
nº 79.437 de 28.03.77)

1967 - 119.000 toneladas de petróleo despejadas do navio


Torrey Canyon poluíram parte da Grã-Bretanha e da região
da Bretanha, na França

responsabilidade civil objetiva dos proprietários de navios


petroleiros e suas seguradoras responsáveis pelos prejuízos
decorrentes do derramamento do conteúdo de suas cargas
FORMAS DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL
Responsabilidade por violação de tratado ou por violação
de costume.

responsabilidade direta ou indireta - responsabilidade


estatal é decorrência da falta de cuidado e atenção do
Estado, que não advertiu ou não puniu os seus
particulares pelos atos praticados
ÓRGÃOS INTERNOS E RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL

Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, quando da


prática de atos atentatórios ao Direito Internacional,
também geram para o Estado a responsabilidade
internacional
COMO SE DETERMINA A RESPONSABILIZAÇÃO?
mecanismos pacíficos de solução de controvérsia:

Meios diplomáticos
Órgãos jurisdicionais
EXCLUSÕES
Há imprecisões na doutrina internacional sobre o tema.

Danos provocados pelo Estado em legítima defesa


(artigo 51 da Carta da ONU);

Caso fortuito e força maior;

estado de necessidade (discutível pois a atuação mesmo


sendo feita sob estado de necessidade, para resguardar
bem próprio, pode ensejar a responsabilidade de
indenizar).
EXCLUSÕES –PROJETO CDI
cap IV - Elenca como causas de exclusão:
Consentimento, Legítima defesa, Contramedidas em
relação a um ato internacionalmente ilícito, Força maior
etc

Violação do Jus Cogens – não exclui ilicitude

Art. 26. Cumprimento de normas imperativas


Nada neste Capítulo exclui a ilicitude de qualquer ato de
um Estado que não esteja em conformidade com uma
obrigação que surja de uma norma imperativa de Direito
Internacional geral.
MEIOS DE REPARAÇÃO:

reparação é expressão genérica

Restituição
Indenização
Satisfação
PROJETO CDI
REPARAÇÃO PELO PREJUÍZO

Art. 34. Formas de reparação

A reparação integral do prejuízo causado pelo ato


internacionalmente ilícito deverá ser em forma de
restituição, indenização e satisfação, individualmente ou
em combinação, de acordo com as previsões deste Capítulo
PROJETO CDI
Artigo 35 Restituição: reestabelecimento à situação que
existia antes que o ato ilícito fosse cometido, se for
materialmente possível.

Art. 36 Indenização: cobrir qualquer dano susceptível de


mensuração financeira, incluindo lucros cessantes, na
medida de sua comprovação.

Art. 37. Satisfação: pode consistir em um reconhecimento


da violação, uma expressão de arrependimento, uma
desculpa formal ou outra modalidade apropriada
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

04. O ESTADO COMO SUJEITO DO DIP:


CLASSIFICAÇÃO, FORMAÇÃO E EXTINÇÃO.
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO.
DIREITOS E DEVERES. A RESPONSABILIDADE
INTERNACIONAL DO ESTADO.

Profa Dra. Adriana Biller Aparicio


Email: abaparicio2@uem.br
RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO
Caso Damião Ximenes Lopes vs Brasil

Primeira condenação do Brasil na Corte Interamericana


de Direitos Humanos

Brasil é Estado Parte na Convenção Americana desde 25


de setembro de 1992 e reconheceu a competência
contenciosa da Corte em 10 de dezembro de 1998.
BRASIL NA CORTE INTERAMERICANA
CASO XIMENES LOPES VERSUS BRASIL
Fatos

Local = Casa de Repouso Guararapes - Instituição


Psiquiátrica vinculada ao Sistema Único de Saúde
(SUS), Município de Sobral, CE.

4/10/1999 - Três dias após sua internação, Damião veio a


óbito por conta da submissão a condições desumanas e
degradantes que sofreu na Instituição;
CASO XIMENES LOPES VERSUS BRASIL
Peticionária - Irene Ximenes Lopes Miranda (irmã) e
Centro de Justiça Global

Demanda = Estado era responsável pela violação dos


direitos consagrados nos artigos 4 (Direito à Vida), 5
(Direito à Integridade Pessoal), 8 (Garantias Judiciais) e
25 (Proteção Judicial) da Convenção Americana de
Direitos Humanos.
POSIÇÃO ESTADO
reconheceu parcialmente sua responsabilidade internacional
por violação dos direitos à vida (artigo 4º da Convenção
Americana de Direitos Humanos) e integridade física (artigo
5º) de Damião.

Negou-se a reconhecer a violação do direito à integridade


psíquica dos familiares da vítima e tampouco o direito à
reparação dos danos materiais e morais.

Estado sustentou não ter ocorrido violações aos direitos de


proteção judicial e de acesso às garantias judiciais, dispostos
nos artigos 8 e 25 da Convenção Americana, em face dos
familiares da vítima.
PONTOS RELEVANTES
Perito - Eric Rosenthal, experto internacional na matéria
de direitos humanos das pessoas com deficiências mentais.

pessoas com deficiência mental – estão sujeitas a


discriminação e fortes estigmas, constituindo um grupo
vulnerável a violações de direitos humanos a nível global.

práticas violatórias que padrões similares em todo o mundo:


segregação arbitrária em instituições psiquiátricas, onde se
encontram sujeitas a tratamento desumano e degradante ou a
tortura.
PONTOS RELEVANTES
direito ao consentimento informado e o direito de
recusar tratamento.
o tratamento forçado – Medida excepcional, pode ser
justificado em uma situação de emergência, quando o
tratamento seja considerado por autoridade médica
necessário para evitar dano iminente para a pessoa ou
terceiros.
Contenção física em tratamentos psiquiátricos, deve ser
utilizada de maneira adequada, com o objetivo de
prevenir danos que o paciente possa ocasionar a si
mesmo ou a terceiros.
PERITA - LÍDIA DIAS COSTA, MÉDICA PSIQUIATRA

Participou da exumação do corpo


Constatou que Damião Ximenes Lopes teve uma morte
violenta, causada por lesões traumáticas, que poderiam
ser definidas, segunda a perita, como socos, pedradas ou
pontapés.
SENTENÇA - 2006
Reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro
por ato de particular sob a supervisão e fiscalização do
poder público

hipóteses de responsabilidade estatal por violação dos direitos


consagrados na Convenção podem ser tanto as ações ou
omissões atribuíveis a órgãos ou funcionários do Estado, quanto
omissão do Estado em evitar que terceiros violem os bens
jurídicos que protegem os direitos humanos.

por sua extrema vulnerabilidade das pessoas com deficiência


estas exigem do Estado maior zelo e prestações positivas de
promoção de seus direitos
SENTENÇA
Direito das pessoas com deficiência mental -
Presunção do livre-arbítrio da pessoa com deficiência
mental e a autodeterminação do tratamento

possível a “supervisão por ricochete” da Convenção


Interamericana dos Direitos das Pessoas Portadoras de
Deficiência – integra o sistema protetivo interamericano.
PRINCIPAIS PONTOS DA SENTENÇA
Violação à integridade psíquica dos familiares de Damião

A corte acabou por reconhecer que o sofrimento aos familiares pela


perda de Damião Ximenes Lopes constitui-se em violação do direito
à integridade psíquica. Ficou consagrado que os familiares das
vítimas de violações dos direitos humanos podem ser, por sua vez,
vítimas.
VOTO
juiz Cançado Trindade conclamou a corte a avançar e
reconhecer que o direito de acesso à Justiça em prazo
razoável constitui-se em parte do jus cogens
internacional

“No meu entender, na presente Sentença no caso Ximenes


Lopes, ao determinar as violações não só dos artigos 4 e 5
da Convenção (reconhecidas pelo próprio Estado), mas
também dos artigos 8 e 25 da Convenção, deveria ter ido
mais além quanto a estes últimos, estendendo o domínio do
jus cogens também ao direito de acesso à justiça lato
sensu, aí compreendidas as garantias do devido processo
legal”.
RESUMO SENTENÇA DAMIÃO XIMENES - JULHO DE
2006
Estado brasileiro foi condenado:
a) garantir investigação dos fatos e sanção dos responsáveis;
b) a publicar partes da sentença no Diário Oficial;
c) a continuar a desenvolver programas de formação e
capacitação para os médicos psiquiatras, psicólogos,
enfermeiros, auxiliares de enfermagem, observados os padrões
internacionais sobre a matéria;
d) pagar indenização por danos materiais aos familiares da
vítima;
e) pagar indenização por danos imateriais (morais) aos
familiares da vítima;
f) ressarcir as custas despendidas pelos familiares da vítima
com os processos no âmbito jurisdicional brasileiro e perante o
Sistema Interamericano de Direitos Humanos.
CONSEQUÊNCIAS

o caso Ximenes Lopes tornou-se um verdadeiro símbolo


de promoção da Lei 10.216/2001 (Lei de Reforma
Psiquiátrica), adotada enquanto o julgado ainda estava
tramitando.

“Ximenes Lopes está para o debate nacional sobre


saúde mental assim como o caso Maria da Penha está
para o combate à violência doméstica e a Lei
11.340/2006” (CNJ)
NO ÂMBITO PENAL:

A corte do Tribunal de Justiça do Ceará votou pela


extinção da punibilidade, uma vez que já havia
transcorrido mais de quatro anos entre o recebimento da
denúncia e a publicação da sentença condenatória.
AUDIÊNCIA ABRIL 2021
Passados 15 anos do julgamento na Corte, o Estado
brasileiro ainda não cumpriu todas as resoluções da
sentença condenatória.

Em especial identificar responsabilidades pelo atraso e


capacitação de pessoal.
TEXTO

LIMA PEREIRA, Tais Mariana. A responsabilidade civil do Estado no


ordenamento jurídico brasileiro e a responsabilidade internacional do
Estado perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos: uma
análise inter-relacional a partir do caso Ximenes Lopes versus Brasil.
Revista Digital de Direito Administrativo, v. 5, n. 1, p. 184-209, 28 jan.
2018. Disponível em
http://www.revistas.usp.br/rdda/article/view/134811. Acesso em
jul.2020.
TEXTO
RAMOS, André de Carvalho. Reflexões sobre as vitórias
do caso Damião Ximenes, 8 de setembro de 2006.
Disponível em
https://www.conjur.com.br/2006-set-08/reflexoes_vitoria
s_damiao_ximenes. Acesso em jul.2020.

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