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PROPÓSITO
Compreender os aspectos-chave da personalidade jurídica internacional e seu conceito, os
quais são importantes para construção do conhecimento relativo à formação das relações
jurídicas no plano internacional, o que auxiliará na aplicação do direito internacional público à
realidade.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o estudo deste conteúdo, tenha em mãos um Vade Mecum, que contém a
legislação de Direito Internacional e de direitos humanos.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
MÓDULO 4
INTRODUÇÃO
São perguntas de importância fundamental para o Direito Internacional:
MÓDULO 1
PERSONALIDADE JURÍDICA
INTERNACIONAL
O que é personalidade jurídica internacional?
Primeiro, cabe frisar que é possível levar à CIJ tanto casos contenciosos (Disputas entre
Estados, por exemplo.) quanto consultivos. No caso Bernadotte, a CIJ entendeu que a
Organização das Nações Unidas (ONU) teria personalidade jurídica própria para tutelar direitos
de seus funcionários. Para chegar a tal conclusão, a CIJ precisou responder a uma pergunta
precedente:
TERRITÓRIO
POVO
GOVERNO
Algumas vezes se inclui um quarto elemento, a soberania, que aparece como um grau de
governo.
TAIWAN
Taiwan, por exemplo, detém todos os elementos — território, povo e governo —, porém não é
reconhecida internacionalmente como um Estado. À época da fuga de Mao Tse Tung para
Taiwan, esta se declarava a verdadeira representante da China. Tanto foi assim que, por
muito tempo, Taiwan representava a China no Conselho de Segurança da ONU.
Posteriormente, com o reconhecimento dos Estados Unidos da América (EUA) de que a China
continental seria a verdadeira representante da China, Taiwan passou a se autoafirmar um
Estado independente. Ficou estabelecido que os acordos que os EUA estabelecem com
Taiwan serão contratos, mas serão assemelhados a tratados, por uma legislação de
Direito interno. Por meio de legislação interna, EUA e Taiwan conseguiram assemelhar as
suas relações às relações internacionais, mas isso não é normatizado pelo Direito Internacional
e, portanto, não está inserido no seu âmbito. Porém, Taiwan não possui tal reconhecimento por
parte dos outros Estados.
PALESTINA
Outro exemplo é a “Autoridade Palestina”. Tem povo, território e governo, inclusive tem
direito de voto na assembleia geral da ONU, mas não é um Estado.
ELEMENTOS DO ESTADO
• TERRITÓRIO
Trata-se do âmbito de validade espacial do exercício da soberania. As fronteiras (O início e o
fim do território.) são delimitadas pelo Direito Internacional, notadamente por meio de
tratados internacionais. É também o elemento material do conceito, sendo a base física do
Estado, em que ele exerce a sua soberania (MAZZUOLI, 2019).
Quanto ao âmbito de validade material, os Estados podem legislar, em seu território, sobre as
matérias de domínio reservado. Em outras palavras, os Estados podem legislar sobre temas
que não tenham sido tratados pelo Direito Internacional. Portanto, o domínio reservado é um
conceito dado por exclusão, abrangendo toda e qualquer matéria que não tenha sido objeto do
Direito Internacional. O domínio reservado encontra previsão no item 7 do art. 2º da Carta da
ONU.
Foto: Shutterstock.com
• POVO
Trata-se dos nacionais de um país. O Estado, no entanto, não possui ampla liberdade para
conceder nacionalidade a quem desejar, tendo em vista que o Direito Internacional apresenta
duas limitações:
JUS SOLIS
Direito de solo: indica um princípio pelo qual uma nacionalidade pode ser atribuída a um
indivíduo de acordo com seu lugar de nascimento.
JUS SANGUINIS
Direito de sangue: indica um princípio pelo qual uma nacionalidade pode ser atribuída a
um indivíduo de acordo com sua ascendência e origem étnica.
• GOVERNO
Nacional
Internacional
O Estado é quem representa o país perante outros Estados, participando das relações
internacionais e conduzindo a política externa.
Originária
Porque não é necessário nenhum ato jurídico para afirmar a existência do Estado.
Plena
Pois não se submete a quaisquer limitações, salvo as impostas pelo Direito Internacional.
JUS TRACTUM
Direito de celebrar tratados.
JUS LEGATIONEM
Direito de enviar e receber representação diplomática.
JUS AD BELLUM
Direito de fazer guerra.
(i) derivada, pois depende da reunião de Estados para que sejam criadas; e
(ii) restrita, porque não possuem (ou possuem de forma restrita) os direitos jus tractum,
jus legationem e jus ad bellum.
SAIBA MAIS
A única organização internacional que possui jus ad bellum é a ONU, por meio do Conselho de
Segurança. O jus tractum das organizações internacionais é altamente limitado às finalidades
para as quais a entidade foi criada. Ainda, as organizações internacionais não estabelecem
relações diplomáticas (e, por isso, não detêm jus legationem) — o máximo que realizam são os
chamados acordos de sede. Além disso, as organizações não governamentais são criadas por
instrumentos de direito público interno e não de direito internacional (como os tratados
internacionais, por exemplo).
ITAIPU BINACIONAL
Como foi criada por um ato jurídico de Direito Internacional (in casu, Tratado de Itaipu de
1973), é uma coletividade interestatal que tem personalidade internacional, podendo celebrar
tratados de cessão de energia elétrica com o Brasil e com o Paraguai.
Imagem: SaMi / self drawn based on Emblem of the ICRC / Wikimedia Commons / Domínio
Público
CRUZ VERMELHA
Também criada por um ato jurídico internacional, manifesta sua personalidade como
observadora geral da ONU, com direito a voz (e não voto) nas reuniões, e como fiscalizadora
das Convenções de Genebra, que versam sobre direito humanitário.
SANTA SÉ
Criada pelo Acordo de Latrão, celebrado entre Igreja Católica e o Estado da Itália, sua
personalidade jurídica internacional se manifesta pelo jus tractum e jus legationem irrestritos,
mas não conta com o jus ad bellum.
Para internacionalistas do século XVII, a dificuldade era tratar um Estado como sujeito do
Direito Internacional, discussão esta que não atingia o indivíduo, o qual era pacificamente
tratado como sujeito de Direito Internacional.
Por outro lado, os internacionalistas do século XIX entendiam, sem divergências, que o
Estado é um sujeito do Direito Internacional, mas possuem dificuldade para afirmar que assim
também são os indivíduos.
A discussão relaciona-se ao fato de que os indivíduos não podem celebrar tratados, mas
podem recorrer diretamente a algumas cortes internacionais ou, até mesmo, serem julgados
por tribunais internacionais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) A OIT não possui personalidade jurídica, pois é filiada à Organização das Nações Unidas e
é por ela representada.
D) A personalidade jurídica internacional das entidades interestatais é caracterizada por ser
derivada e restrita.
C) A personalidade jurídica plena se exprime em três direitos: jus tractum – direito de celebrar
tratados; jus legationem – direito a conceder asilo; e jus ad bellum – direito de fazer guerra.
D) A Cruz Vermelha não é sujeito de Direito Internacional, porque não pode celebrar tratados.
E) A Santa Sé foi criada pelo Acordo de Latrão, celebrado entre Igreja Católica e o Estado da
Itália, mas não possui personalidade jurídica internacional.
GABARITO
Quanto à alternativa d, a Cruz Vermelha é criada por um ato jurídico internacional e manifesta
sua personalidade como observadora geral da ONU, com direito a voz (e não a voto) nas
reuniões, e como fiscalizadora das Convenções de Genebra, que versam sobre direito
humanitário. Já a personalidade jurídica internacional da Santa Sé manifesta-se pelo jus
tractum e jus legationem irrestritos, mas não conta com o jus ad bellum, estando errada
também a letra e.
MÓDULO 2
RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE
GOVERNO
Assim como o Direito interno de cada Estado define quem são os seus sujeitos e o respectivo
início de sua personalidade por meio de leis, que possuem efeito erga omnes (Para toda a
comunidade internacional.) , o Direito Internacional deve regular a partir de que momento
ocorre o reconhecimento de uma coletividade como Estado. Nesse sentido, não existe uma
grande autoridade internacional central com a atribuição de reconhecer Estados com efeitos
erga omnes. Dessa maneira, o reconhecimento dos Estados no Direito Internacional produz
apenas efeitos interpartes – parte que reconhece e parte reconhecida.
Até o século XIX, entendia-se que o reconhecimento de um Estado tinha natureza jurídica
constitutiva, ainda que somente produzisse efeitos interpartes. Tal posicionamento, no entanto,
derivava do colonialismo, permitindo que o instituto do reconhecimento fosse utilizado com
excessiva manipulação política.
Atualmente, o reconhecimento de um Estado possui natureza jurídica meramente declaratória,
conforme dispõe a Convenção de Montevidéu, de 1933. A ideia de reconhecimento como ato
declaratório tem fundamento no princípio da efetividade do Direito Internacional: se, na
realidade fática, determinada coletividade tem povo, território e governo independente, trata-se
de um Estado de fato e, por conseguinte, é um Estado de Direito (MAZZUOLI, 2019).
EXPRESSO
TÁCITO
UNILATERAL
BILATERAL
EXPRESSO
Por meio de ato jurídico internacional que expressamente reconhece determinada coletividade
como Estado.
TÁCITO
Por meio de ato não formalmente expresso reconhecendo determinada coletividade como
Estado. Por exemplo, a forma como o Reino Unido reconheceu o Brasil, que ocorreu por meio
do Tratado de Comércio de Navegação e Amizade em 1810;
UNILATERAL
BILATERAL
Por meio de tratado entre o Estado que reconhece e o Estado reconhecido.
Para torná-lo um instituto menos aberto a eventuais manipulações políticas, foram criadas
algumas doutrinas com o objetivo de estabelecer critérios objetivos para o reconhecimento de
governos. A maioria delas, na verdade, acabou falhando. Apenas duas tiveram maior sucesso,
ainda que parcial:
DOUTRINA TOBAR
Criada por Carlos Tobar, Ministro das Relações Exteriores do Equador em 1907, tem como
fundamento o Princípio da Busca da Paz. Segundo ele, todo e qualquer governo que tenha
usado da força para tomar o poder seria ilegítimo, mesmo que fosse ideologicamente alinhado
com o Equador (MAZZUOLI, 2019).
DOUTRINA ESTRADA
Oriunda de Genaro Estrada, Ministro das Relações Exteriores do México em 1930, entende
que o reconhecimento de governo é um instituto imperialista. Com fundamento no Princípio da
Não Intervenção, a doutrina Estrada define que todo e qualquer governo deve ser reconhecido,
ainda que tacitamente (MAZZUOLI, 2019).
SUCESSÃO DE ESTADOS
A sucessão é uma matéria fruto de costume preexistente e, por isso, não há um nome
específico para suas formas. No entanto, podem ser identificadas as seguintes formas:
FUSÃO
Ocorre quando dois Estados se juntam para formar um terceiro. Por exemplo, a unificação
alemã de 1870.
INCORPORAÇÃO
Ocorre quando um Estado incorpora outro, este deixa de existir e aquele se torna um Estado
maior ainda. Por exemplo, a reunificação alemã de 1989.
DESMEMBRAMENTO
Ocorre quando um Estado grande, por um processo qualquer de revolta interna, permanece,
mas dele surgem outros Estados.
Em matéria de tratados
• EM MATÉRIA DE TRATADOS
Nesse caso, as regras decorrem exclusivamente do Direito Internacional geral (Estados não
podem definir quem fica obrigado a qual tratado).
O Estado sucessor é membro de todos os tratados que os Estados anteriores faziam parte.
Somam-se todos os tratados, inclusive aqueles que possuem obrigações incompatíveis entre
si.
Caso da secessão e do desmembramento
A regra é que os Estados sucessores serão membros de todos os tratados que o Estado
anterior fazia parte.
Nesse caso, as regras são oriundas de tratado e, na sua ausência, caberá ao Direito
Internacional costumeiro regular as situações.
Fusão e incorporação
Deve haver uma repartição ponderada dos bens e das dívidas de acordo com o critério da
destinação da dívida (REZEK, 2018).
EXEMPLO
Imagine-se que R tenha adquirido uma dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para
a construção de usina nuclear situada em BT, que consegue se tornar independente. BT,
mesmo sendo apenas 20% do antigo território de R, será responsável pela integralidade da
dívida com o FMI.
IMUNIDADES
IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO
Sobre o tema, vige o princípio par in parem non habet imperium/jurisdictionis (o par entre seus
pares não exerce império/jurisdição). Originalmente, tal brocardo utilizava a denominação
imperium, porém jurisdictionis é considerada uma versão mais moderna. Esse princípio é uma
decorrência direta da ideia de soberania.
O caso Ilha de Palmas (Scott, Relatórios do Tribunal de Haia 2d 83 (1932), (Perm. Ct.
Arb. 1928), 2 U.N. Rep. Intl. Arb. Prêmios 829) foi uma disputa territorial sobre a Ilha de
Palmas entre os Países Baixos e os Estados Unidos que foi ouvido pelo Tribunal
Permanente de Arbitragem. Palmas foi declarado como parte das Índias Orientais
Holandesas e agora faz parte da Indonésia.
É preciso entender que a imunidade de jurisdição não é do diplomata, mas sim do Estado
(REZEK, 2018).
RATIONE MATERIAE
Imunidade em razão da matéria ou imunidade.
RATIONE PERSONAE
Imunidade em razão da pessoa ou imunidade.
De todo modo, é o Estado que é imune — seus atos são imunes. Distinguem-se, apenas para
efeitos didáticos, as imunidades em razão da matéria do ato e as imunidades em razão da
pessoa.
O brocardo par in parem non habet imperium tem uma limitação, que é a chamada doutrina dos
atos de Estado, oriunda do Direito norte-americano. A ideia é que um Estado é capaz de
promover dois tipos de atos:
(atos de império)
(atos de gestão)
Quanto à ação militar no contexto de uma guerra, há julgados no sentido de que ela constitui
ato típico de império que confere ao Estado estrangeiro imunidade à jurisdição brasileira, para
responder à ação de indenização por danos morais e materiais.
EXEMPLO
Ainda, como segundo princípio importante para a matéria, o princípio da reciprocidade foi
fundamental para a criação das imunidades na forma como conhecidas atualmente. A sua ideia
é que o país A trate os representantes do país B da mesma forma que este trata os
representantes do país A.
Terceiro princípio, e novamente com a limitação par in parem non, é o primado do direito local.
A imunidade não significa extraterritorialidade, ou seja, o direito vigente no território é o
do próprio Estado. Sendo assim, a embaixada do país estrangeiro e seus representantes são
imunes, mas aplica-se o direito local a todo e qualquer contrato celebrado por eles no território.
SAIBA MAIS
O Brasil demorou a aderir tal regra de direito costumeiro, para não conceder imunidade de
jurisdição em matéria trabalhista (caso Geny de Oliveira – STF, Apelação Cível 9.696.
Tribunal Pleno. Relator Min. Sydney Sanches, j. 31/05/1989, DJe 12/10/1990).
CESSÃO ADMINISTRATIVA
Trata-se da cessão de território sem transferência de soberania. Não existe transferência de
soberania, pois a cessão é provisória. Um dia será revertida ao Estado que cedeu (ainda
que não tenha prazo fixado), como é o caso de Hong Kong.
OCUPAÇÃO MILITAR
Desde 1928, com o Pacto de Paris (ou Pacto Brien), a guerra foi proibida no Direito
Internacional, e não se aceita mais transferência de território pela conquista militar. Então,
quando há uma ocupação militar, essa ocupação também deverá ser provisória.
SERVIDÃO INTERNACIONAL
São os casos em que um Estado exerce prerrogativas soberanas sobre o território de outro
Estado, como é o caso da Áustria, que faz o papel de polícia marítima de Montenegro.
PROTETORADO
No protetorado, existe um Estado protetor e um Estado protegido. A ideia é que o Estado
protegido possui uma espécie de limitação da sua capacidade e precisa de outro Estado para
conduzi-lo. É um sistema mais leve de pacto colonial. Nele, o Estado protetor não exerce todas
as prerrogativas da metrópole, sendo responsável apenas pela:
MANDATO/TUTELA
Envolve a figura da metrópole e da colônia.
IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS
Tais familiares, ainda que recebam salário eventualmente por realizarem algum serviço à
família do diplomata (caso de doméstica que viajou para continuar seus serviços ao diplomata),
estão cobertos pela imunidade.
A residência pessoal de todo o corpo diplomático e dos adidos goza de inviolabilidade (REZEK,
2018).
Ainda, mala diplomática, correio, arquivos e quaisquer outros documentos são invioláveis onde
quer que se encontrem.
• IMUNIDADES PENAIS
Convenção de Viena de Relações Diplomáticas, de 1961, que foi promulgada no Brasil pelo
Decreto 56.435, de 8 de junho de 1965 — “Artigo 31: 1. O agente diplomático gozará de
imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado (...)”.
A imunidade penal é absoluta, sem exceções. A rigor, o diplomata não pode sequer ser tocado
pelo guarda, devido ao art. 29 do Decreto nº 56.435/1965.
VOCÊ SABIA
• IMUNIDADES CIVIS
Nas imunidades civis, o diplomata não tem tamanha extensão. Em regra, terá ampla imunidade
civil, salvo algumas exceções.
(Decreto nº 56.435/1965)
Um diplomata em Estado estrangeiro não pode trabalhar em qualquer outra função no Estado
acreditado, podendo ser somente diplomata. Há a possibilidade de se tornar sócio investidor
em eventuais sociedades existentes no Estado acreditado — podendo apenas comprar ações
preferenciais, que não proporcionam direito a voto. Tais vedações não se aplicam ao diplomata
no Estado acreditado.
Foto: Shutterstock.com
• IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS
A relação tributária é caracterizada pela sujeição, de modo que, como regra, a imunidade
tributária do diplomata é bastante ampla. Sobre a matéria, cabe a análise do art. 34 da
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas:
ARTIGO 34. O AGENTE DIPLOMÁTICO GOZARÁ DE
ISENÇÃO DE TODOS OS IMPOSTOS E TAXAS,
PESSOAIS OU REAIS, NACIONAIS, REGIONAIS OU
MUNICIPAIS, COM AS EXCEÇÕES SEGUINTES: A) OS
IMPOSTOS INDIRETOS QUE ESTEJAM
NORMALMENTE INCLUÍDOS NO PREÇO DAS
MERCADORIAS OU DOS SERVIÇOS; B) OS IMPOSTOS
E TAXAS SÔBRE BENS IMÓVEIS PRIVADOS SITUADOS
NO TERRITÓRIO DO ESTADO ACREDITADO, A NÃO
SER QUE O AGENTE DIPLOMÁTICO OS POSSUA EM
NOME DO ESTADO ACREDITANTE E PARA OS FINS DA
MISSÃO; C) OS DIREITOS DE SUCESSÃO
PERCEBIDOS PELO ESTADO ACREDITADO, SALVO O
DISPOSTO NO PARÁGRAFO 4 DO ARTIGO 39; D) OS
IMPOSTOS E TAXAS SOBRE RENDIMENTOS
PRIVADOS QUE TENHAM A SUA ORIGEM NO ESTADO
ACREDITADO E OS IMPOSTOS SOBRE O CAPITAL
REFERENTES A INVESTIMENTOS EM EMPRÊSAS
COMERCIAIS NO ESTADO ACREDITADO; E) OS
IMPOSTOS E TAXAS QUE INCIDEM SÔBRE A
REMUNERAÇÃO RELATIVA A SERVIÇOS
ESPECÍFICOS; F) OS DIREITOS DE REGISTRO, DE
HIPOTECA, CUSTAS JUDICIAIS E IMPÔSTO DE SELO
RELATIVOS A BENS IMÓVEIS, SALVO O DISPOSTO NO
ARTIGO 23.
O cônsul possui menos imunidades que o diplomata (MAZZUOLI, 2019). Como regra, sua
imunidade abrange apenas atos do ofício do consulado. Isso porque o cônsul tem uma função
relativamente menos importante do que a do diplomata:
Diplomata
Cônsul
Atua com o objetivo de zelar pelos interesses dos seus nacionais no Estado estrangeiro.
Trata-se de uma prerrogativa do Estado, cabendo a renúncia apenas pelo chefe da missão
diplomática. Ainda, a imunidade do cônsul não se estende à família e, apesar de a repartição
consular ser inviolável, a sua residência pessoal não é.
• IMUNIDADES PENAIS
Sobre o tema, aplica-se o art. 41 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, que foi
promulgada no Brasil pelo Decreto nº 61.078, de 26 de Julho de 1967:
ARTIGO 41. INVIOLABILIDADE PESSOAL DOS
FUNCIONÁRIOS CONSULARES. 1. OS FUNCIONÁRIOS
CONSULARES NÃO PODERÃO SER DETIDOS OU
PRESOS PREVENTIVAMENTE, EXCETO EM CASO DE
CRIME GRAVE E EM DECORRÊNCIA DE DECISÃO DE
AUTORIDADE, JUDICIÁRIA COMPETENTE.
O dispositivo trata tanto da imunidade de jurisdição quanto da inviolabilidade. Nos dois casos, o
cônsul somente é imune a crimes que não sejam considerados graves, portanto, pode ser
preso, inclusive de forma cautelar, quanto à prática de crimes graves. A Convenção não fez
qualquer definição sobre o conceito de crime grave, ou seja, é uma norma internacional em
branco, e a sua definição cabe ao Direito interno de cada Estado. No Brasil, não há uma
definição legal ou sumulada de crimes graves, então se aplica a jurisprudência do STF, que
utilizou algumas definições para crime grave.
Na decisão mais antiga, o STF equiparou crimes graves aos crimes hediondos. Sem dúvida,
crimes hediondos são graves, mas existem poucos crimes hediondos previstos em lei. Ocorreu,
então, um caso de um cônsul israelense que cometeu o crime de pedofilia, mas sem conjunção
carnal, o que retirava a configuração como crime de estupro e, portanto, hediondo. Na
oportunidade, o STF (HC nº 81.158), em voto da relatora Ellen Gracie, equiparou crime grave
aos crimes que não estavam incluídos na Lei dos Juizados Especiais Criminais, que julga
crimes cuja pena máxima em abstrato não ultrapasse dois anos, considerados crimes de
menor potencial lesivo (art. 61 da Lei nº 9.099/1995). Desse modo, todos os crimes fora da
competência do Juizado Especial Criminal seriam considerados graves.
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A grande crítica é que o Brasil utilizou uma definição de Direito Processual para interpretar o
Direito Material, gerando distorções em relação ao princípio da reciprocidade, uma vez que, por
exemplo, Israel possui uma definição em lei — crimes graves são aqueles contra a vida. Nesse
sentido, o Brasil interpretou uma norma de Direito Internacional com base em seu Direito
interno, o que é considerado um erro em termos de interpretação do Direito Internacional. O
art. 31 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 (Decreto nº 7.030/2009)
prevê que os critérios de interpretação a serem utilizados são o literal, o contextual e o
teleológico.
De todo modo, a regra é que um cônsul, se cometer crime cuja pena máxima em abstrato
é de mais de dois anos, pode ser processado, condenado e até mesmo preso. O único
tipo de prisão cautelar — antes do trânsito em julgado — que se aplica ao cônsul é a prisão
preventiva, pois ele somente pode ser preso por meio de mandado judicial. Sendo assim, não
se aplica a prisão temporária nem a prisão em flagrante.
VOCÊ SABIA
O cônsul pode depor desde que com hora marcada, para que não atrapalhe o ofício do serviço
consular. O depoimento é colhido no próprio consulado.
• IMUNIDADES CIVIS
No que se refere às imunidades civis, o cônsul possui menor proteção do que os diplomatas.
Não se aplica a imunidade para contratos realizados fora do ofício do cônsul nem para ação de
danos causados por acidente de veículo, navio ou transporte, na forma do art. 43 da
Convenção de Viena das Relações Consulares:
(Decreto nº 61.078)
• IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS
O cônsul tem as mesmas imunidades tributárias que os diplomatas, ou seja, não está
submetido ao poder do Estado estrangeiro tanto quanto o diplomata. O cônsul possui, ainda,
determinadas prerrogativas. Nesse sentido, detém três grandes grupos de liberdade:
LIBERDADE DE MOVIMENTO
Encontra previsão no art. 34 da Convenção de Viena das Relações Consulares. O cônsul
somente pode ter a sua liberdade de movimento restringida se houver lei de segurança
nacional sobre o assunto. Nesse sentido, não pode ter seu acesso limitado para trânsito em
repartições públicas, a não ser que haja lei de segurança nacional estipulando a restrição.
LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO
Encontra previsão no art. 35 a 38 da Convenção de Viena das Relações Consulares. Tal
liberdade se desdobra em dois direitos: direito do cônsul de falar com os seus nacionais e o
direito dos nacionais de serem assistidos pelo cônsul.
A) Fusão é quando dois ou mais Estados se unem para formar um terceiro diferente. O novo
Estado não assume nenhuma obrigação dos Estados originários.
C) Divisão ou cisão é quando um Estado se separa em outros dois ou mais, mas mantendo o
Estado originário.
D) Desmembramento é quando um Estado continua existindo, porém, sem perder seu território.
B) O Governo brasileiro poderia ter optado por não reconhecer formalmente a independência
de Montenegro e poderia ter simplesmente estabelecido relações diplomáticas com aquele
país, o que teria produzido o mesmo efeito jurídico do reconhecimento.
E) Ao Governo brasileiro caberá a última palavra na destinação a ser dada aos bens
(embaixada, terrenos) que eram anteriormente pertencentes à União dos Estados da Sérvia e
Montenegro e que se encontram em território brasileiro.
GABARITO
Na fusão, o novo Estado se obriga aos mesmos tratados que os dois ou mais anteriores que o
originaram, de modo cumulativo, estando errada a alternativa A. A alternativa C está incorreta
porque, quando há divisão, dois novos Estados se formam. No desmembramento, haverá
perda de território, portanto, a alternativa D está incorreta. A alternativa E também está
incorreta, pois, quando um Estado deixa de existir (a personalidade jurídica internacional), as
obrigações que ele criou não se extinguem, mas sim passam para os Estados sucessores, por
conta do princípio da continuidade.
MÓDULO 3
EXEMPLO
• ATO ILÍCITO
Entende-se ato ilícito como uma violação de uma norma de Direito Internacional (e não de
Direito interno).
Outra observação importante é que existe uma distinção entre crime e delito internacional,
ainda que tal distinção tenha perdido sentido na atualidade:
Tal divisão perdeu sua valia diante da ideia de crime internacional, que são crimes no sentido
penal do termo, atraindo a responsabilização internacional do indivíduo.
• IMPUTABILIDADE
Trata-se da relação entre a conduta delituosa e a pessoa que é responsável por ela. Não vai
ser necessariamente quem fez aquela conduta.
O Legislativo comete ato ilícito internacional toda vez que produz lei contrária a uma
norma internacional. No mesmo sentido, o Judiciário comete ato ilícito internacional quando
pratica a denegação de justiça, ou seja, dificulta a produção de provas, demora
desarrazoadamente no julgamento.
Como regra geral, a ação de particulares não acarreta responsabilidade internacional para o
seu Estado. No entanto, existem algumas exceções que, mesmo praticadas por particulares,
acarretam a responsabilidade internacional por imputação direta:
FUNCIONÁRIO DE FATO
MOVIMENTO INSURRECIONAL
AÇÃO DE PARTICULAR CONTRA PESSOA
INTERNACIONALMENTE PROTEGIDA
FUNCIONÁRIO DE FATO
MOVIMENTO INSURRECIONAL
Caso em que os particulares estão lutando contra o governo estabelecido. Este entende que os
particulares estão cometendo crimes tipificados no Direito interno, enquanto os particulares
entendem que eventual prática de crime é o único meio para derrubar o governo. Se o
movimento insurrecional tomar o governo e houver praticado atos ilícitos do ponto de vista do
Direito Internacional, pode haver responsabilidade internacional do Estado. Se o movimento
insurrecional perde força e não consegue tomar o poder, sua eventual responsabilização será
pelo Direito interno.
• IMPUTABILIDADE INDIRETA
Restituição
Com previsão no art. 35 do Projeto da ONU sobre Responsabilidade Internacional dos Estados.
Toda vez que a restituição for impossível ou insuficiente, é possível requerer a indenização.
Indenização
Satisfação
• EXCLUDENTES DE ILICITUDE
São aspectos que podem excluir a ilicitude de um ato estatal: consentimento; legítima defesa;
contramedidas; força maior e perigo extremo; dever de cumprimento de jus cogens. Veja cada
um deles:
a) Consentimento
Possui como exemplo clássico a França de Vichy. Nesse caso, a França foi invadida pela
Alemanha, e uma parte do território francês ficou com a Alemanha e a outra parte com o
governo francês de Vichy. O Estado francês, vítima no caso, concordou com a divisão, ainda
que possa ser considerado um consentimento viciado. Nas palavras de Mazzuoli:
Diante de uma injusta agressão, o Estado busca repelir por meio de agressão. No Direito
Internacional, para haver legítima defesa de terceiro, chamada de legítima defesa coletiva, não
se pode presumir nenhum ato, deve haver um liame entre os Estados, que será um tratado,
como é o caso da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
c) Contramedidas
Não há, no Direito Internacional, um órgão central que aplique as sanções. Os Estados,
quando lesados, oportunizam ao Estado violador restituir, indenizar ou satisfazer aquele dano.
Caso não seja o caso, podem aplicar sanções, sobretudo pecuniárias, que são consideradas
contramedidas. Devem ser contramedidas proporcionais, limitadas no tempo enquanto durar a
violação.
No Direito Internacional, não se distinguem caso fortuito e força maior. Nos termos da minuta
de projeto da ONU, será excluída a ilicitude de um ato estatal em desacordo com uma
obrigação internacional se o autor do ato em questão não dispõe de nenhum outro modo
razoável, em uma situação de perigo extremo, de salvar a vida do autor ou vidas de outras
pessoas confiadas aos seus cuidados (art. 24, § 1º).
Imagem: Shutterstock.com
A ilicitude, porém, não será excluída se: (a) a situação de perigo extremo decorrer, unicamente
ou em combinação com outros fatores, da conduta do Estado que a invoque, ou (b) for
provável que o ato em questão crie um perigo comparável ou maior (art. 24,§ 2º) (MAZZUOLI,
2019).
Quando o ato internacionalmente ilícito é uma violação de jus cogens, existem consequências
especiais:
Nesse caso, o Estado do nacional pode conceder o endosso, ou seja, a proteção diplomática,
de modo que a discussão migra do direito interno para o direito internacional, para ser julgada
por cortes internacionais. Tal instituto foi desenhado, sobretudo, para presos políticos. Existem
dois requisitos para a concessão do endosso:
O particular deve ser nacional do Estado para o qual requer a proteção diplomática; e
O professor Guilherme France faz um breve resumo sobre a responsabilidade internacional dos
Estados.
DOMÍNIO AÉREO
O interessante é que, em voos intercontinentais, o avião pode estar acima do balão atmosférico
e, no entanto, será regido pelo espaço aéreo atmosférico, ao passo que o balão será regido
pelo espaço aéreo cósmico.
Espaço aéreo acima do território terrestre e marítimo dos Estados. Nenhuma aeronave, salvo
as autorizadas pelo Estado, podem trafegar no espaço aéreo soberano. Inclusive, não há
direito de passagem inofensiva no espaço aéreo soberano.
Se não houver nenhuma norma jurídica regulando a situação e uma aeronave violar o espaço
aéreo de um Estado, a regra geral é o abate. As três convenções de Chicago de 1944
suavizam o direito de abate, ou seja, reduzem as suas possibilidades. Tais convenções
criaram o regime de navegação da aviação civil e estipularam o sistema das cinco liberdades,
justamente, com o objetivo de restringir as possibilidades de abate. Por meio desse sistema:
1. LIBERDADE DE SOBREVOO
Possível obter simplesmente sendo um membro das Convenções de Chicago de 1944. Por
meio dessa liberdade, os países permitem o sobrevoo de aeronaves estrangeiras sobre o seu
território soberano desde que respeitadas duas condicionantes: a) obedecer a determinadas
rotas pré-fixadas; e b) impossibilidade de sobrevoar determinadas áreas que são restritas por
razões de segurança nacional. Em 1984, foi assinado o Protocolo de Montreal. Todos os
Estados que forem membros da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) e do
Protocolo de Montreal de 1984 devem seguir a orientação de que, se uma aeronave se afastar
das rotas ou se inadvertidamente entrar em espaço aéreo restrito, ela não será derrubada, mas
terá o seu pouso forçado por meio de comunicação de rádio. No caso de ausência de resposta,
será possível o abate;
Todos os países membros da OACI podem, se assim quiserem, emitir uma declaração
unilateral dizendo que aceitam a liberdade de escala técnica. Tal liberdade permite que, se uma
aeronave tiver qualquer problema (como falta de combustível), ela poderá pousar nos países
que fizeram essa declaração. No entanto, nenhuma pessoa pode entrar ou sair do avião, a não
ser por autorização expressa da autoridade do país;
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uma convenção de tráfego é um tratado multilateral celebrado entre todos os países que
possuem tratados bilaterais entre si. Por exemplo, o Brasil possui tratados bilaterais com a
França, a Alemanha e o Marrocos para permitir a terceira e quarta liberdades. Tais países
possuem, respectivamente, tratados entre si também para a terceira e quarta liberdades.
Nesse caso, os Estados poderão celebrar uma convenção de tráfego.
Para as liberdades três e quatro, é necessário um tratado bilateral entre os países que fizeram
a declaração de que aceitam escala técnica.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) O TPI poderá impor à pessoa condenada pelos crimes que afetem a humanidade no seu
conjunto a pena de prisão perpétua se o elevado grau de ilicitude e as condições pessoais do
condenado o justificarem. Entretanto, esse tribunal poderá reexaminar a pena com vistas à sua
redução quando o condenado já tiver cumprido vinte e cinco anos de prisão.
B) O Estado exerce, sobre os ares situados acima de seu território e de seu mar territorial,
soberania, que só não é absoluta porque sofre restrição ditada por velha norma internacional: o
direito, reconhecido em favor dos aviões civis, de passagem inocente, que deve ser contínua e
rápida, proibindo-se tudo quanto não seja estritamente relacionado com o ato de passar pelo
espaço aéreo.
C) Segundo as regras internacionais, todo avião utilizado em tráfego internacional deve possuir
pelo menos uma nacionalidade, determinada por seu registro ou matrícula. A aeronave poderá
ter mais de uma matrícula — as de complacência —, mas, no caso de a companhia aérea ser
controlada pelo Estado, e não por particulares, cada avião deverá possuir uma nacionalidade
singular.
D) O TPI, instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes
de maior gravidade e funções complementares às jurisdições penais nacionais, constitui corte
internacional vinculada à ONU, não dispondo de personalidade jurídica própria.
E) Nos termos do Estatuto de Roma, o TPI só poderá exercer os seus poderes e funções no
território de qualquer Estado-parte, sendo-lhe defeso agir em relação a atos praticados no
território dos Estados que não tenham subscrito o Estatuto.
A) Consentimento.
B) Legítima defesa.
C) Contramedidas.
GABARITO
A resposta correta é a letra E. Quando o ato internacionalmente ilícito é uma violação de jus
cogens (direitos humanos), temos a excludente de ilicitude do dever de cumprimento de jus
cogens, na qual a comunidade internacional como um todo é considerada legitimada.
MÓDULO 4
O DIDH tem origem em 1945 com a Carta da ONU e com a Declaração Universal de Direitos
Humanos. O DIH é mais antigo, originado em 1864, com a criação da Cruz Vermelha.
Existem três correntes sobre como se estabelece a relação entre os dois sistemas:
Primeira tese
Defendida principalmente por militantes do DIH, entende que os dois ramos devem ser distintos
e devem ter o mínimo de relações possível, justamente para garantir a maior autonomia do DIH
— o DIH é considerado mais eficaz e não pode ser contaminado pelos modos de solução de
controvérsia do DIDH
Segunda tese
Entende que os dois ramos são dependentes, pois ambos devem ser para proteção de direitos
humanos, além de defender que direitos humanos em tempos de guerra e em tempos de paz
possuem o mesmo tratamento.
Terceira tese
O Direito Internacional dos Direitos Humanos se origina depois da Segunda Guerra Mundial,
com a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. Tal declaração foi emblemática,
pois é uma declaração da Assembleia Geral da ONU e, portanto, soft law, mas é uma soft law
que tem um valor histórico alto, tanto que Norberto Bobbio, no livro a Era dos Direitos, afirmou
que havia se tornado hard law.
Há uma ligação direta entre as atrocidades da Segunda Guerra Mundial e a reação que se fez
em relação à matéria de direitos humanos (PIOVESAN, 2019). A origem desse fenômeno é
jusnaturalista, pois o Direito positivo alemão autorizou o holocausto.
A declaração de direitos humanos possui uma estrutura pré-definida. Inicia-se sempre com
uma cláusula de não discriminação ou um non discrimini. Em seguida, são elencados os
direitos humanos de primeira geração. A formulação clássica de que “são os direitos que
exigem uma abstenção do Estado” pode induzir ao erro, pois, mesmo os direitos negativos
podem exigir uma prestação e não uma simples abstenção do Estado. Por exemplo, o direito à
vida, que é um direito negativo de primeira geração, propõe que o Estado não pode matar seus
súditos, mas deve também prover segurança.
SOFT LAW
HARD LAW
O hard law é o oposto do soft law: lei rígida e refere-se a instrumentos e legislações
vinculativas reais.
Portanto, direitos de primeira geração não são totalmente absenteístas. Desse modo, para
realizá-los, não há um esforço financeiro tão grande como nos direitos de segunda geração,
mas eles também não são absenteístas. Os direitos de primeira geração têm como foco o
homem em abstrato, enquanto os direitos de segunda geração analisam o homem em
concreto. Os direitos de terceira geração, chamados direitos difusos e coletivos no direito
interno, são titularizados pelas gerações futuras, ou seja, seu titular é totalmente abstrato.
1948
No próprio ano de 1948, surge o primeiro tratado, norma de hard law, de direitos humanos.
Trata-se da convenção para a repressão do crime de genocídio, tratando o crime de genocídio
como sujeito à jurisdição universal, ou seja, qualquer país pode ter competência para, em
querendo, processar e julgar um genocídio ocorrido em qualquer lugar do mundo e contra
qualquer povo.
1951
Em 1951, surge a Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados. Posteriormente, foi criado o
Protocolo do Estatuto dos Refugiados e a Convenção Internacional sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), com o objetivo de solucionar o apartheid,
que ocorria na África do Sul e na Namíbia. O apartheid é um crime de jus cogens, sendo
considerado mais grave que o racismo. O apartheid é uma política oficial do governo de
segregação, enquanto o racismo é um crime que pode ser cometido por qualquer ser humano,
independente de aparato estatal.
1966
No ano de 1966, surge o Pacto Internacional sobre Direito e Dever Político, bem como o Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Pouco tempo depois, surgem as
convenções regionais de direitos humanos.
1979
1984
No ano de 1984, foi criada a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanas ou Degradantes. Em 1989, surge a Convenção sobre os Direitos da
Criança.
2003 E 2007
Nos anos de 2003 e 2007, respectivamente, foram criadas a Convenção de Mérida: Convenção
das Nações Unidas Contra a Corrupção e a Convenção dos Direitos das Pessoas com
Deficiência. Todas essas convenções formam o Sistema Internacional de Direitos Humanos.
Trata-se de um sistema, pois é uma lógica: inicialmente, houve uma declaração universal —
declaração interpretativa da Carta da ONU, com força convencional mesmo sendo soft law.
DEPOIS DE 2007
UNIVERSALIDADE
UNIDADE
PRO HOMINE
Tal concepção ocidental e moderna de direitos humanos é universalizável, mas não universal,
ou seja, pode ser estendida para todas as culturas, mas tem seu nascimento atrelado a
pressupostos culturais específicos do ocidente. Por isso, outras culturas aderem aos direitos
humanos, porém tomando como base outros pressupostos.
EXEMPLO
Por fim, vale ressaltar que Direitos Humanos é uma matéria que perpassa outros ramos do
Direito. Então, há, por exemplo, direitos humanos em tratados de comércio e tributação. Por tal
razão, é dificultoso tentar criar artificialmente um ramo de Direito Internacional dos Direitos
Humanos, pois é estudado por diversas outras disciplinas.
SISTEMA DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL AO
ESTRANGEIRO
De um modo geral, uma violação a um estrangeiro que não seja pessoa internacionalmente
protegida não gera responsabilidade internacional para o Estado. A eventual violação a um
estrangeiro será resolvida de acordo com o Direito interno.
ATENÇÃO
Existe uma discussão se a obrigação do esgotamento dos recursos internos seria um elemento
da própria ideia de responsabilização internacional em matéria de direitos humanos e, portanto,
teria natureza substantiva, ou se seria uma questão meramente processual.
As fontes regionais dos direitos humanos têm entendido que o esgotamento dos recursos
internos é uma pré-exigência meramente processual, e não substantiva. A Corte
Interamericana de Diretos Humanos, por exemplo, tem jurisprudência consolidada nesse
assunto. A ideia, para o sistema interamericano, é que devem ser esgotados os recursos
internos, se eles existirem, evidentemente, e se eles forem justos.
O sistema de proteção universal dos direitos humanos divide-se em sistema universal e
sistemas regionais. O sistema universal é caracterizado, basicamente, pelo monitoramento e
pela conciliação, não sendo um sistema judicial, ou seja, de solução de conflitos.
VOCÊ SABIA
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Ao todo, oito convenções instituíram o sistema de relatórios periódicos, a ser realizado pelo
Conselho de Direitos Humanos, a saber:
Tais tratados criaram comitês no Conselho de Direitos Humanos. Cada um deles é formado por
18 especialistas do assunto, eleitos para mandatos de quatro anos. São especialistas
independentes de seus Estados e contam com diversas garantias, como de inamovibilidade e
irredutibilidade de vencimentos, para garantir a independência. O comitê elabora um parecer
inicial e requisita novas informações, inclusive de outros organismos internacionais.
ATENÇÃO
O Estado, assim que ratifica uma dessas convenções, tem o prazo de até um ano para criar um
relatório da situação dos direitos humanos em seu país relacionado ao tema da convenção
especificamente ratificada. Posteriormente, o relatório é entregue aos comitês do Conselho de
Direitos Humanos. O Estado, a partir desse momento, tem quatro anos para demonstrar a
evolução em matéria de direitos humanos. Esgotado tal prazo, deve apresentar um relatório de
dois em dois anos ao comitê respectivo.
petição de Estados contra outros Estados perante um dos três comitês para as
convenções referidas. Desenvolve-se um processo de conciliação;
UMA COMISSÃO
DE INQUÉRITO
UMA COMISSÃO
DE CONCILIAÇÃO
UMA COMISSÃO
DE MONITORAMENTO
COMENTÁRIO
• SISTEMA NORTE-AMERICANO
O Estado pode litigar diretamente na Corte Interamericana, mas não os indivíduos, que se
submetem às seguintes condições de admissibilidades (PIOVESAN, 2019):
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Universalidade.
B) Unidade.
D) Irretroatividade.
E) Territorialidade.
C) A admissão de qualquer Estado como Membro das Nações Unidas será efetuada por
decisão da Assembleia Geral, sem qualquer interferência do Conselho de Segurança;
D) A Corte Internacional de Justiça foi criada como o principal órgão judicial das Nações
Unidas, sendo composto por nove juízes.
E) Seus propósitos centrais são: (i) manter a paz e a segurança internacional; (ii) fomentar a
cooperação internacional nos campos social e econômico; (iii) promover os direitos humanos
no âmbito universal.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que não corresponde a uma das características dos direitos
humanos:
A resposta correta é a alternativa E. Justifica-se, portanto, a sua “correção” por não apresentar
um elemento caracterizador dos direitos humanos, eis que a territorialidade é justamente o
oposto. A principal característica dos direitos humanos: universalidade.
A alternativa E é a única que está de acordo com o art. 1º da Carta das Nações Unidas:.
Quanto às demais alternativas: (a) O Conselho de Direitos Humanos foi criado em 2006; (b):
Alemanha não é um membro permanente; (c): Deve haver a Recomendação do Conselho de
Segurança, na forma do art. 4º da Carta; (d) A Corte Internacional de Justiça é composta por
15 juízes.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste conteúdo, traçamos o panorama geral do tema do Sujeito de Direito Internacional, o qual
perpassa por diversos institutos tradicionais do Direito Internacional público. O conteúdo parte
do cerne para o desenvolvimento da disciplina: o Estado e seu desenvolvimento a partir da
personalidade jurídica internacional.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ACCIOLY, H.; CASELLA, P. B.; NASCIMENTO, G. E. Manual de Direito Internacional
Público. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
MAZZUOLI, V. O. Curso de Direito Internacional Público. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019.
REZEK, F. Direito Internacional Público – Curso elementar. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
EXPLORE+
No filme O Terminal (Diretor Steven Spielberg, 2004), a questão da nacionalidade é explorada
com foco no personagem de Viktor Navorski (Tom Hanks). O filme conta a história do
desembarque de Viktor, cidadão de um pequeno país europeu, nos Estados Unidos. A viagem
é interrompida na alfândega, em virtude de um golpe de Estado que o país de origem do
personagem sofreu. O passaporte e visto do rapaz, portanto, não eram mais válidos, e ele não
poderia voltar ao seu país, pois as fronteiras haviam sido fechadas.
CONTEUDISTA
Ana Luíza Fernandes Calil
CURRÍCULO LATTES