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CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 1
Olá, aluno!
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
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Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum,
trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.
Bons estudos
1
Abordaremos os assuntos da disciplina de Direito Internacional da seguinte forma:
CAPÍTULOS
2
SUMÁRIO
DIREITO INTERNACIONAL, Capítulo 1 .......................................................................................... 4
GABARITO .......................................................................................................................................... 26
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 28
3
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 1
O conceito de sujeitos é mais restrito que o de atores, que engloba também outras
entidades. Porém, eles serão usados como sinônimos neste material.
4
O Direito Internacional Público disciplina e rege a atuação e a conduta da sociedade
internacional, visando alcançar as metas comuns da humanidade, consubstanciando-se em um
conjunto de princípios e regras jurídicas que disciplinam as relações jurídicas internacionais.
Suportabilidade: a relação que os Estados devem ter entre si, sem uso da força, sendo
regulada pelo Direito Internacional e suas regras.
No entanto, destaca-se que os Estados ainda são soberanos, tendo várias competências
exclusivas no âmbito do território sob sua jurisdição. No plano internacional, isso pode ser
demonstrado através do exercício da vontade de cada nação, por exemplo, em celebrar ou
não tratados, bem como em aceitar submeter-se à jurisdição de órgãos internacionais para
resolver controvérsias, dentre outros.
Alguns dos temas que esta disciplina trata são: as relações internacionais entre Estados
e órgãos, os tratados internacionais, a questão da nacionalidade, a Lei de Migração brasileira,
as organizações internacionais, dentre outros.
5
poder (Estados e organizações), que não estão subordinados a qualquer outra
autoridade superior. Além disso, há também a descentralização quanto a
produção normativa internacional, que ocorre em vários âmbitos de
negociações.1
Proibição do uso da força: o uso da força deve ser evitado ao máximo, sendo
considerado o último recurso a ser utilizado, apenas sendo admitido em
situações específicas, como é o caso da legítima defesa.
1
Vide questão 1.
6
Humanização do Direito Internacional: os tratados internacionais têm o ser
humano como centro de proteção, especialmente após o fim da 2ª Guerra
Mundial, que culminou na criação da ONU e dos sistemas de proteção dos
Direitos Humanos, tanto regionais quanto internacionais. A proteção ocorre
pelos direitos internos e externos.
A priori, tais órgãos vinculam apenas os Estados que criaram os tratados e/ou que
aceitarem submeter-se a sua competência e jurisdição.
7
1.2. Conceito de Direito Internacional Público
Existem inúmeros possíveis definições para o que viria ser “Direito Internacional
Público”, levando-se em consideração tanto um viés mais clássico quanto um mais moderno,
que leva em consideração os mais recentes sujeitos da sociedade internacional. No entanto,
alguns elementos permanecem constantes nos diversos conceitos:
Desse modo, tem-se que o Direito Internacional Público consiste nas relações entre os
atores/sujeitos, as quais se regem através de um conjunto de vários princípios, costumes,
convenções, tratados etc., no âmbito internacional, tutelando seus interesses.2
O Direito Internacional Público, conhecido também como “direito das gentes” (jus
gentium do Direito Romano), é o sistema de normas jurídicas (incluindo-se também os
princípios e costumes) que visa disciplinar e regulamentar as atividades exteriores da
sociedade dos Estados, ou seja, a sociedade internacional, cujo conceito muda com o
surgimento de novos sujeitos nas relações internacionais.
2
Vide questão 7.
3
Vide questão 6.
8
1.3. Fundamentos do Direito Internacional Público
Teoria objetivista: o Direito Internacional existiria, pois tem fontes, princípios, costumes
e regras próprios, existindo independentemente da vontade dos Estados. Advém de
princípios e normas superiores àqueles presentes no direito interno, tendo prevalência
sobre estas. Ou seja, depende não da vontade dos Estados, mas sim da necessidade
advinda de fatores sociais e da realidade fática, sendo responsável pela existência da
sociedade internacional e também pelo seu desenvolvimento.
Essa doutrina é alvo de críticas, pois desconsidera totalmente o consentimento dos
Estados, que são sujeitos de Direito Internacional Público e que têm um importante
papel a ser desempenhado. Ao minimizar a vontade dos atores internacionais na criação
das normas internacionais, acaba por causar uma situação de insegurança,
proporcionando situações que não correspondem à vontade dos sujeitos.
4
Vide questão 8.
9
Teoria objetivista temperada (pacta sunt servanda):5 o Direito Internacional teria
caráter de regra objetiva e obrigatória, que impõe aos Estados o dever de cumprir com
a obrigação que foi acordada com consentimento e vontade, sem coerção, de boa-fé.
Tendo em vista a extremidade das doutrinas majoritárias, o que ocorre, na prática, é
um misto de ambas, na forma do pacta sunt servanda.
5
Vide questão 10.
10
matéria ampliou-se a ponto de incluir também a cooperação internacional a fim de se atingir
os objetivos comuns da sociedade internacional, disciplinando, para isso, os comportamentos
de todos os sujeitos nela inclusos.
Também é possível incluir no rol de objetos a tutela adicional a bens jurídicos aos
quais a sociedade internacional decidiu atribuir importância, como os direitos humanos e o
meio ambiente.
A sociedade internacional e a ordem jurídica interna não estão separadas, mas podem
trabalhar em conjunto. Muitos dos atos de Direito Internacional dependem, primeiramente, de
regras do direito interno (por exemplo, a competência para celebrar tratados) ou da ação de
autoridades estatais. Do mesmo modo, muitas regras de Direito Internacional precisam ser
incorporadas no âmbito do direito interno para garantir sua eficaz aplicação.
6
Vide questão 2.
11
ser humano. A despeito disso, ressalta-se que a Constituição Federal brasileira não disciplinou
acerca do reconhecimento do direito internacional pelo direito interno.
Dualista7: as duas ordens (interna e externa) não se misturam, visto que o Direito
Internacional Público e o direito interno apresentam diversidade de fontes, sujeitos e
objetos, sendo dois ordenamentos jurídicos independentes e distintos, embora
igualmente válidos. Como não se comunicam, jamais poderia haver confronto entre
suas normas.8
A eficácia de uma norma internacional não dependeria de sua compatibilidade com
a norma interna, nem o direito interno precisaria se conformar com os preceitos
internacionais.
Se um Estado quiser aplicar uma norma internacional como algo mais que uma
fonte para o direito interno, deve primeiro transformá-la em norma de direito interno
(“teoria da incorporação” ou “teoria da transformação de mediatização”). Com esse
processo de incorporação, eventuais conflitos seriam entre normas internas, e não mais
entre uma interna e uma internacional.
Em caso de eventual contradição entre normas, prevalecerá a norma interna (mesmo
que equivocada), até que se faça a conversão da internacional no âmbito interno.
7
Vide questão 4.
8
Vide questão 9.
12
ordenamento jurídico nacional. Isso caracteriza o dualismo moderado, posição aplicada pelo
Supremo Tribunal Federal.
9
Vide questão 3.
10
Vide questão 5.
13
se a norma interna for aplicada, será em decorrência de concessão pela norma
internacional, com base na hierarquia de valores (transdialogismo).
14
QUADRO SINÓTICO
15
DIVISÃO DA TEORIA MONISTA
Monismo nacionalista Monismo internacionalista Monismo internacionalista
dialógico
Norma interna > norma Norma internacional > norma Análise casuística
internacional interna
Superioridade da soberania Direito interno deriva do Aplicação da regra mais
estatal absoluta Direito internacional favorável ao ser humano
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QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Ano: 2010. Banca: CESPE. Órgão: OAB. Prova: CESPE - 2010 - OAB - Exame de Ordem - 3 -
Primeira Fase
Comentário:
Como visto, a soberania é uma característica dos Estados-nações, que são soberanos,
independentes e autônomos entre si. No entanto, do ponto de vista internacional, a soberania
funciona de modo diferente do que ocorre nos âmbitos internos, onde demonstra a
supremacia do Estado sobre as pessoas, bens e relações jurídicas dentro de seu território. No
âmbito internacional, a soberania funciona como uma qualidade de poder que o Estado
poderá exercer ou não, visto que o Direito Internacional é responsável por limitar, em certas
medidas, a soberania estatal, que antes era absoluta. Refere-se à igualdade entre os Estados,
que são todos soberanos, e à independência e autonomia de um em relação aos outros.
Ressalta-se também que as características da sociedade internacional impedem que haja
17
qualquer forma de autoridade ou coerção de um Estado sobre os outros, ou de um organismo
internacional sobre um Estado, o que exclui as demais alternativas da questão.
Questão 2
Ano: 2009. Banca: CESPE. Órgão: OAB. Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 2 -
Primeira Fase
Comentário:
No âmbito internacional, não há uma norma suprema, nem um órgão central legislativo
para todo o planeta, nem um governo central, que possui soberania sobre todas as nações.
Diferentemente do que ocorre no direito interno, em razão das supramencionadas
características da sociedade internacional, os Estados apresentam-se de modo soberano,
autônomo e independente nas suas relações internacionais, não havendo verticalidade,
hierarquia ou superioridade entre eles, nem nenhum tipo de órgão ou governo que lhes
controle. Contudo, existem tribunais com jurisdição internacional, responsáveis por atuar em
diversas demandas, de acordo com sua competência específica, criados no âmbito de
organizações internacionais, podendo ser de âmbito regional ou internacional. Pode-se citar,
como exemplos, a Corte Internacional de Justiça, o Tribunal Penal Internacional e a Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
18
Questão 3
Comentário:
Questão 4
Ano: 2006. Banca: ND. Órgão: OAB-DF. Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1
- Primeira Fase
Na relação entre o direito nacional e internacional, a teoria que entende que são sistemas
independentes e distintos é a:
A) dualista;
B) independentista;
C) unidade normativa;
D) monista.
Comentário:
A resposta correta é a letra A, pois é a teoria dualista que entende que o direito interno
e o direito internacional são dois sistemas diferentes e independentes entre si. Por sua vez,
para a teoria monista, o direito interna e o direito internacional misturam-se, sendo
interdependentes entre si. Assim, por exclusão, chega-se à resposta certa.
Questão 5
O Estado regulamenta a convivência social em seu território por meio de legislação nacional, e
a comunidade internacional também cria regras, que podem conflitar com as nacionais. A
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respeito das correntes doutrinárias que procuram proporcionar solução para o conflito entre
as normas internas e as internacionais, assinale a opção correta.
e) De acordo com a corrente monista, a norma interna sempre prevalece sobre a internacional.
Comentário:
A letra A está incorreta, pois, para a corrente dualista, é necessário que haja um
processo de incorporação de normas internacionais no âmbito interno, assim, eventuais
conflitos seriam entre normas internas, e não mais entre uma interna e uma internacional; já
para a corrente monista, existem 3 entendimentos: o nacionalista (a norma interna se
sobrepõe à norma internacional), o internacionalista (a norma internacional se sobrepõe à
norma interna) e o internacionalista dialógico (avaliação caso a caso). A letra B está incorreta,
pois a corrente doutrinária monista é considerada a majoritária. A letra C está correta, pois
basta que uma norma internacional seja aceita por um Estado para estar apta a ser aplicada
internamente, não sendo necessário ser transformada em direito interno, pois este integra o
internacional. A letra D está incorreta, pois a assertiva trata da doutrina monista, não da
dualista. A letra E está incorreta, pois, como visto, existem 3 possíveis entendimentos.
21
Questão 6
Câmara dos Deputados (CD) 2014. Cargo: Analista Legislativo - Área Consultor Legislativo.
Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB (CESPE/CEBRASPE). Nível:
Superior
O direito internacional público surgiu na Idade Moderna, como disciplina jurídica subsidiária
ao poder absolutista dos soberanos europeus e do Estado nacional moderno, a partir de
estudos sobre direitos referentes à guerra e à paz entre as nações.
Comentário:
A assertiva está correta, pois o início do Direito Internacional Público se deu durante a
Idade Moderna, como forma de os Estados Absolutistas tratarem das relações internacionais,
que, à época, além do comércio, resumia-se a questões de guerra. Foi a partir desse momento
que tratados começaram a ser firmados e a estrutura da sociedade internacional que se tem
hoje começou a ser formada.
Questão 7
B) as organizações internacionais;
22
C) as pessoas jurídicas e pessoas físicas, desde que de distintas nacionalidades;
Comentário:
Questão 8
Senado Federal (SF) 2002. Cargo: Consultor Legislativo - Área Relações Internacionais e
Defesa Nacional. Banca: Centro de Seleção e de Promoção de Eventos UnB
(CESPE/CEBRASPE). Nível: Superior
Comentário:
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A assertiva está incorreta, pois apesar de a teoria voluntarista ser baseada na vontade
dos Estados, para a qual o Direito Internacional só existiria pois é da vontade dos Estados
permitir que ele exista, a teoria objetivista não está fundamentada no preceito de uma norma
ou princípio acima dos Estados, mas nas fontes, princípios, costumes e regras próprios do
Direito Internacional, existindo independentemente da vontade dos Estados, mas dependendo
da necessidade advinda de fatores sociais e da realidade fática de dado momento histórico.
Questão 9
B) o monismo defende a primazia do direito interno do país, haja vista a aplicação do direito
ao caso em concreto.
E) o dualismo tem como preceito a ideia de que todos os Direitos emanam de uma única
fonte.
Comentário:
A alternativa A está correta, pois é esse o preceito do dualismo: a ordem jurídica interna
e a ordem jurídica internacional são coexistentes, independentes e autônomas, não se
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misturando ou confundindo. A alternativa B está incorreta, pois existem 3 possíveis
entendimentos da corrente monista sobre eventual conflito de normas: o nacionalista (a
norma interna se sobrepõe à norma internacional), o internacionalista (a norma internacional
se sobrepõe à norma interna) e o internacionalista dialógico (avaliação caso a caso). A
alternativa C está incorreta, como já visto na justificativa da assertiva “B”. A alternativa D está
incorreta, pois não há relação de subordinação, só de independência. A alternativa E está
incorreta, pois este é o entendimento da teoria monista.
Questão 10
Julgue o item a seguir: o princípio pacta sunt servanda, segundo o qual o que foi pactuado
deve ser cumprido, externaliza um modelo de norma fundada no consentimento criativo, ou
seja, um conjunto de regras das quais a comunidade internacional não pode prescindir.
Comentário:
25
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - C
Questão 3 - A
Questão 4 - A
Questão 5 - C
Questão 6 - Correta
Questão 7 - C
Questão 8 - Errada
Questão 9 - A
Questão 10 - Errada
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LEGISLAÇÃO COMPILADA
Constituição Federal:
Art. 1º, I
Art. 4º
Art. 27
Art. 53
27
JURISPRUDÊNCIA
CR 8279 AgR/AT-Argentina
“Mercosul – Carta rogatória passiva – Denegação de exequatur – Protocolo de
medidas cautelares (Ouro Preto/MG) – Inaplicabilidade, por razões de ordem
circunstancial – Ato internacional cujo ciclo de incorporação, ao direito interno do brasil,
ainda não se achava concluído à data da decisão denegatória do exequatur, proferida
pelo presidente do supremo tribunal federal – relações entre o direito internacional, o
direito comunitário e o direito nacional do brasil – Princípios do efeito direto e da
aplicabilidade imediata – Ausência de sua previsão no sistema constitucional brasileiro –
Inexistência de cláusula geral de recepção plena e automática de atos internacionais,
mesmo daqueles fundados em tratados de integração – Recurso de agravo improvido.
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A recepção dos tratados ou convenções internacionais em geral e dos acordos
celebrados no âmbito do Mercosul está sujeita à disciplina fixada na Constituição da
República" (CR 8279 AgR/AT-Argentina, Relator(a): Min. Celso de Mello. Julgamento:
17/06/1998, Publicação: DJ Data-10-08-00).
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.
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CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 2
SUMÁRIO
GABARITO .......................................................................................................................................... 35
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 37
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 2
Definir o que viria a ser “fontes” do Direito é uma dificuldade para toda a doutrina
desta ciência jurídica. Contudo, a doutrina internacionalista conceitua “fontes do Direito
Internacional Público”, dentre outras definições, como:
As fontes materiais são responsáveis por fazer surgir a norma jurídica, juntamente com
seu conteúdo, determinando sua elaboração. Referem-se à avaliação de todos os fatores
sociológicos, econômicos, culturais etc., pertencendo não à Ciência do Direito, mas sim à
Política do Direito.
3
Como exemplo de fonte material, pode-se destacar a 2ª Guerra Mundial, cujo estrago
foi responsável por despertar a necessidade de salvaguardar a dignidade da pessoa humana
acima de tudo, impulsionando o início do Direito Internacional Público que existe atualmente.
São, portanto, as bases teóricas, os valores e ideais que servem de inspiração para elaboração
das normas jurídicas internacionais, bem como de sua interpretação, sentido e alcance,
determinando o conteúdo ou a matéria do preceito jurídico.
As fontes formais, por sua vez, são os métodos ou processos de criação das normas
jurídicas, que vinculam os sujeitos para os quais as mesmas são dirigidas. São consideradas o
modo de exteriorização da norma e dos valores que ela tutela. Seu aparecimento geralmente
está relacionado ao surgimento das fontes materiais, uma levando à elaboração jurídica da
outra.
As fontes formais indicam as formas pelas quais o Direito pode desenvolver-se a fim de
impor suas normas para disciplinar as relações da sociedade internacional. Por este motivo, é
escopo do Direito Internacional Público o estudo das fontes formais, que são o modo como as
fontes materiais (conteúdo) dispõem-se na sociedade internacional.
Destaca-se que “hierarquia das fontes” não deve ser confundida com “hierarquia das
normas”. Enquanto as fontes são modos de manifestação das disposições jurídicas, normas
são os instrumentos responsáveis por exteriorizar as próprias regras de conduta. Assim, é
4
possível que normas, advindas da mesma fonte, ocupam níveis hierárquicos diferentes dentro
do ordenamento jurídico internacional.
Há exceções quanto à hierarquia entre as fontes. A primeira é relativa ao art. 103 da Carta
das Nações Unidas, que atribui primazia à Carta sobre todos os demais compromissos
internacionais realizados por quaisquer de seus membros. A segunda é com relação às normas
jus cogens (norma interpretativa geral), que prevalecem sobre as demais obrigações
internacionais, como será visto.
5
O Estatuto da Corte Internacional de Justiça utilizou “convenção” para referir-se ao
“tratado”. No entanto, apesar de serem empregados como sinônimos, destaca-se que, na
verdade, a convenção é apenas uma espécie de tratado, como será posteriormente visto.
Para fins didáticos, as fontes podem ser também divididas em primárias, ou principais,
e secundárias, ou novas fontes, ou meios auxiliares. As primárias seriam as clássicas, as
tradicionais, as mais antigas, efetivamente estabelecendo qual o direito aplicável no caso
concreto. Não obstante, as secundárias seriam as fontes mais recentes, relativas às
transformações ocorridas na sociedade internacional com o acréscimo de novos sujeitos nas
relações internacionais, bem como de novos meios de produção (ou seja, fontes formais) de
normas jurídicas internacionais, contribuindo para elucidar o conteúdo da norma jurídica a ser
aplicada. É o que será visto a seguir.
6
2. Fontes primárias
2.1. Tratados
Visto que o Direito dos Tratados possui especificações que as demais fontes de Direito
Internacional Público não têm, este será tratado com mais profundidade em capítulo próprio.
O costume é a fonte formal mais antiga do Direito Internacional Público, podendo ser
considerada a fonte-base deste ramo do direito. Pode ser definido como:
Uma prática geral, uniforme, reiterada e consistente a ponto de ser aceita como
direito, entendida como obrigação legal, válida e juridicamente exigível;
O conjunto de atos de consenso, em contexto universal, regional ou local (não
há limites máximos ou mínimos na geografia dos costumes);
A prova de uma prática geral (como previsto no Estatuto da Corte Internacional
de Justiça), mas também o seu resultado: o costume resulta da prática geral,
consistente, contínua e uniforme dos Estados;
A união de elemento objetivo ou material (a prática generalizada, reiterada,
uniforme e constante de um ato) e subjetivo ou psicológico (a aceitação da
prática que se entende ser obrigatória). Esse tema será aprofundado.
7
“Prática generalizada” não significa o mesmo que “unânime” ou “universal”. Basta que ela seja
compreendida como regra obrigatória por um grupo amplo e representativo, não precisando
também ser universal, podendo se tratar de uma prática regional ou local.
A maior importância dos costumes decorre do fato de não existir um “centro integrado”
de produção de normas de Direito Internacional, sendo mais amplamente difundido. É,
portanto, a fonte responsável por estabelecer um grupo de normas universalmente aplicáveis
no âmbito universal, além de permitir a criação de preceitos gerais de direito, mais facilmente
aplicáveis ao caso concreto. Ademais, apresenta também um caráter “residual”, no sentido de
poder regular as diversas matérias que os tratados ainda não disciplinaram, contribuindo
também para interpretação e aplicação do conteúdo que se encontra nos tratados.
A extinção do costume pode se dar por sua codificação ou normatização (ou seja,
quando é transformado em tratado, o que ocorreu com muitos costumes), quando é
substituído por um novo costume ou quando simplesmente deixa de ser aplicado.2
1
Vide questão 3.
2
Vide questão 11.
8
A positivação dos costumes em tratados não extingue completamente o costume, que
continua a ser considerado como tal para os sujeitos internacionais que não são partes deste
eventual tratado, e também para aqueles que vierem a se retirar do mesmo. A positivação de
um costume é meramente um modo de facilitar a verificação da concretude do costume.
Discussões doutrinárias
Não obstante essa discussão doutrinária, em caso de eventual litígio, a parte que alega
o costume deve provar sua existência e aplicação, podendo ser diretamente aplicável tanto na
ordem interna quanto na internacional. Geralmente, os costumes são “provados” através da
jurisprudência internacional ou pela confirmação da doutrina internacional.
3
Vide questão 4.
9
Ressalta-se, porém, que os costumes aos quais se aplicaria essa teoria são somente
aqueles que surgem posteriormente aos Estados. Contudo, para a corrente objetivista, esta
teoria apresenta uma ideia equivocada e superada, pois o costume já formado haveria de
valor igualmente para todos os sujeitos de Direito Internacional Público.
Ademais, caso surja um novo Estado, o efeito em relação aos costumes também é
objeto de discussão doutrinária. Para a corrente objetivista, o Estado estará obrigado aos
costumes já aceitos independentemente de sua vontade; para a subjetivista, a vinculação
apenas existirá pela concordância expressa ou tácita por parte do Estado.
Uma vez estabelecido o costume, ele valerá igualmente para todos os sujeitos de
Direito Internacional Público, independente de o ator ter se oposto a ele, ou ter deixado de
4
Vide questão 12.
5
Vide questão 9.
10
participar de sua elaboração. Existem métodos clássicos e contemporâneos de formação de
costumes, que atualmente coexistem, serão vistos a seguir:
a) Método clássico: quando surge uma nova relação ou algo ainda não
disciplinado entre os Estados esta relação passa a ser regulada através
dos princípios gerais de direito ou de acordo com o sentimento vigente à
época esta forma de disciplina repercute positivamente no ordenamento
jurídico internacional, sendo repetida a prática passa a ser aceita como
se fosse direito formação de um novo costume.
O conceito de “princípios gerais de direito” significa que eles são aceitos por todos os
ordenamentos jurídicos, são as normas de caráter mais genérico e abstrato, que incorporam
valores responsáveis por fundamentar diversos ordenamentos jurídicos internos.
Não obstante não existir hierarquia entre as fontes de Direito Internacional Público, sua
aplicação possui um caráter supletivo, devendo ser empregado para suprir lacunas nas regras
codificadas (tratados) ou nos costumes, ou ainda para interpretar tais regras de maneira mais
coerente com o caso concreto e o momento histórico em que ele ocorreu.6
Ressalta-se que a expressão “princípios gerais de direito” não se refere aos princípios do
direito internacional, mas sim aos princípios reconhecidos e aceitos por vários dos sistemas
6
Vide questão 6.
11
jurídicos nacionais ou estatais. Isso porque eles provêm da ordem estatal e ascendem para a
ordem internacional, geralmente através de sua aplicação por uma corte internacional em um
caso concreto, ganhando notoriedade regional ou até universal.
Os princípios gerais de direito também não podem ser confundidos com os princípios
gerais de direito interno, que podem variar de um sistema jurídico para outro, não tendo,
desse modo, a generalidade necessária para serem aplicados em âmbito internacional.
Assim como acontece com os costumes, muitos dos princípios gerais de direito foram
codificados em tratados internacionais, mas também existem aqueles que se tornaram em
direito costumeiro.
12
3. Meios auxiliares e novas fontes (secundárias)
3.1. Jurisprudência
Além disso, essa fonte também pode incluir decisões de outras cortes internacionais,
das quais se pode citar: o Tribunal Penal Internacional (TPI) e a Corte Interamericana de
13
Direitos Humanos (CIDH), bem como é possível incluir as decisões de tribunais ad hoc ou de
outros órgãos além dessas cortes, como os foros arbitrais e as comissões encarregadas de
executar tratados, por exemplo.
Não obstante, ainda que uma decisão jurídica internacional só atinja as partes litigantes
a respeito daquele caso concreto, não há obste para que o tribunal faça uso de sua própria
jurisprudência como modo de reafirmar um posicionamento seu previamente realizado.
3.2. Doutrina
A doutrina (“dos juristas mais qualificados das diferentes nações”, como dispõe o art. 38
do Estatuto da Corte Internacional de Justiça) é o conjunto de estudos, interpretações, teses,
entendimentos, dissertações etc., daqueles que estudam o Direito Internacional Público,
compiladas em trabalhos acadêmicos, e também o material proveniente de instituições
especializadas na pesquisa de Direito Internacional (por exemplo, a Comissão de Direito
Internacional das Nações Unidas e a Academia de Direito Internacional de Haia). Relevante
acrescentar também nesta lista a produção doutrinária das secretarias das organizações
internacionais.
Foi uma das fontes responsáveis pela efetiva criação do Direito Internacional que se tem
atualmente, mas, agora, sua principal função é a de contribuir na interpretação e na aplicação
14
da norma internacional. Desempenha um papel essencial para o ramo do Direito Internacional
Público, não gerando modelos jurídicos (ou seja, não possui o caráter vinculante ou
obrigatório), mas sim modelos dogmáticos ou hermenêuticos de direito.
Além disso, também tem como máxima importância a formulação de novos princípios e
novas normas, de modo a contribuir no desenvolvimento deste ramo da ciência jurídica em
consonância com os novos anseios, interesses e necessidades da sociedade internacional, bem
como os valores a serem salvaguardados. A doutrina faz isso ao esclarecer os significados dos
modelos jurídicos através do tempo, além de propor novas formas de interpretação
correspondentes aos valores e momentos históricos supervenientes.
Por fim, apesar de não ser propriamente uma “fonte”, mas um “meio auxiliar” de Direito
Internacional Público, a doutrina também é um meio de consulta para que os diversos
tribunais internacionais possam solucionar os litígios de modo mais condizente com o
entendimento geral da sociedade internacional.
3.3. Analogia
Ressalta-se que parte da doutrina não acredita que a analogia seja uma fonte do Direito
Internacional Público, mas meramente um meio de integração do ordenamento jurídico.
Tanto a analogia quanto a equidade (que será vista a seguir) objetivam encontrar
soluções eficientes para enfrentar a questão da falta de uma norma jurídica regulamentadora
15
para uma situação concreta, a fim de poder solucionar um conflito de interesses do modo
mais justo possível, dada a lacuna normativa.
3.4. Equidade
A equidade significa aplicar considerações tidas como justas a uma relação jurídica, quando
não há norma ou preceito cabível para regular e/ou solucionar tal situação de conflito, ou
quando ela existe, mas é ineficaz para soluciona-la com justiça e razoabilidade.
A equidade não vai preencher a falta de previsão legal num determinado caso concreto,
pois ela é o método a ser utilizado, e não a norma jurídica propriamente dita. Por isso, parte
da doutrina não acredita que ela seja uma fonte do Direito Internacional Público, pois seria
meramente uma forma de aplicação do direito pelas cortes internacionais.
Além de ser considerada um princípio geral do direito, a equidade é tida também como
meio de solução de controvérsias internacionais, a partir da anuência das partes conflitantes,
como disposto no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, requisito que
contribui, na prática, para o pouco uso que os tribunais internacionais fazem desse
instrumento na solução de conflitos.7
Para a doutrina voluntarista, os atos unilaterais dos entes estatais não poderiam ser
considerados fontes do Direito Internacional Público, em decorrência da premissa do
consentimento dos sujeitos internacionais. No entanto, apesar de não estar previsto no rol
(exemplificativo) do já citado art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, a atual
dinâmica das relações internacionais ocasiona em situações em que atos unilaterais acabam
por influenciar e produzir consequências jurídicas para outros atores internacionais,
independente do consentimento ou envolvimento destes, portanto, deve ser considerado
como uma das novas fontes de Direito Internacional Público.8
7
Vide questão 5.
8
Vide questão 7.
16
Tanto os atos unilaterais dos Estados quanto as decisões das organizações
internacionais (tema que será tratado a seguir), por serem expressão da vontade de um sujeito
internacional, são, portanto, considerados como modos de formação voluntários de Direito
Internacional Público, passíveis de produzir efeitos jurídicos, sejam eles erga omnes ou inter
partes, capazes de criar direitos e/ou obrigações. Desse modo, os atos unilaterais podem criar
precedentes de Direito Internacional.
Ato unilateral estatal seria a manifestação expressa de vontade formulada por uma
autoridade competente, a fim de produzir efeitos jurídicos numa relação jurídica internacional
(seja entre Estados ou entre um Estado e uma organização internacional), independente do
consentimento expresso da outra parte afetada. Portanto, são emanados de um único sujeito
de Direito Internacional Público, sem a participação de outras partes (mesmo que possa existir
o conhecimento da existência do ato).
Além do caso de vício de forma (onde o ato será nulo), a forma de expressar um ato
unilateral do Estado não tem muita importância, só sendo preciso que suas manifestações
sejam claras. Funciona o princípio do acta sunt servanda, onde todo ato unilateral em vigor
obriga o Estado que o formulou, devendo ser cumprido de boa-fé.
Os atos unilaterais dos Estados podem ser classificados em: expressos (seja na forma de
declaração escrita ou oral, mas sendo uma declaração formal) e tácitos (de modo implícito,
pelo silencio ou pela prática de ações compatíveis com o objeto do ato).
Quanto aos seus efeitos jurídicos, os atos podem ser divididos em: autonormativos (que
criam deveres e obrigações para os Estados que o manifestam) ou heteronormativos (aqueles
que atribuem direitos e prerrogativas a outros sujeitos de Direito internacional Público).
17
São considerados atos unilaterais dos entes estatais: protestos, notificações, renúncias,
denúncias, reconhecimentos, promessas, rupturas de relações diplomáticas, dentre outros.
Apesar de tais decisões não estarem previstas no rol (exemplificativo) do já citado art.
38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, devem ser consideradas como uma das
novas fontes de Direito Internacional Público, especialmente porque à época da criação do
Estatuto, as organizações internacionais estavam apenas começando a adquirir maior
importância e relevância no contexto internacional.9
As decisões das organizações internacionais são atos institucionais realizados com base
nas normas que disciplinam cada organização internacional específica, a partir de tratados
internacionais que as criaram e permitiram seu funcionamento nos termos acordados, inclusive
podendo prever eventuais sanções jurídicas. Desse modo, a participação dos Estados é apenas
indireta, pois votaram no momento de criação dessas organizações ou nas suas assembleias
gerais.
9
Vide questão 10.
18
Nesta seara, é importante mencionar que as referidas decisões podem ser:
Essas novas fontes são: obrigações erga omnes, jus cogens e normas de soft law.
10
Vide questão 1.
19
Essas obrigações têm a característica da obrigatoriedade relacionada ao seu âmbito de
aplicação universal, e não em decorrência de sua hierarquia. Desse modo, nem toda obrigação
erga omnes será incondicional e inderrogável, sendo essa a sua diferença para as normas jus
cogens. Não obstante, qualquer sujeito internacional pode reclamar o descumprimento de
uma dessas obrigações contra um sujeito infrator, a fim de se preservar os valores
fundamentais da sociedade internacional.
b) Jus cogens
Diferentemente do que ocorre com as obrigações erga omnes, as normas jus cogens11
são hierarquicamente superiores a todas as demais normas no plano internacional, tendo,
assim, uma noção mais ampla do que a anterior, já que se tratam de normas imperativas e
inderrogáveis (cuja aplicação é inafastável), quer por tratados, por costumes ou por princípios
gerais de Direito Internancional.
Todas as normas de jus cogens incluem obrigações erga omnes, mas a recíproca não é
verdadeira: nem todas essas obrigações constituirão àquelas normas.
Jus cogens são normas imperativas de Direito Internacional, cuja definição está prevista
no art. 53 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. Assim, trata-se de uma
norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional como uma norma da qual
11
Vide questão 2.
20
nenhuma confrontação é permitida, só podendo ser modificada através de outra norma
imperativa de Direito Internacional da mesma natureza.
A definição do que viria a configurar uma norma imperativa jus cogens é resultado de
um processo histórico, já que não está presente em nenhum tratado internacional, no qual a
sociedade internacional reconheceu a primazia de certos valores, a fim de salvaguardar a vida
e a dignidade humanas, bem como a coexistência pacífica e cooperativa dos sujeitos
internacionais.
Como exemplos, pode-se citar as normas que tutelam: os direitos humanos, o meio
ambiente, a paz e a segurança internacionais, o banimento de armas de destruição em massa,
dentre outras. O principal exemplo concreto de norma jus cogens é a Declaração Universal
dos Direitos Humanos (1948).
São, assim, características das normas jus cogens: a imperatividade de seus preceitos, a
rigidez no processo de alteração de seus preceitos e o conteúdo variável.
Portanto, em caso de eventual conflito de norma internacional com uma norma jus
cogens, a primeira será simplesmente inaplicável frente ao caso concreto. Afasta-se, assim,
critérios como o da especificidade e o cronológico de solução de conflitos de normas,
privilegiando apenas a hierarquia superior da norma jus cogens sobre todas as demais.
21
Neste sentido, segundo o art. 64 da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados, em caso de conflito entre norma de tratado e norma jus cogens superveniente, o
dispositivo do tratado será nulo a partir de seu aparecimento (o que não significa que haverá
efeitos retroativos, nem afetará a validade de acordos anteriormente realizados).
Apesar de ter inspiração jusnaturalista, as normas jus cogens não se confundem com as
normas de Direito Natural, pois não são preceitos imutáveis, mas que podem ser alteradas
conforme a evolução da sociedade internacional, desde que modificadas por normas ulteriores
da mesma natureza imperativa.
c) Soft law
O soft law consiste em uma nova modalidade normativa, de caráter mais flexível e
maleável, como indicado por sua nomenclatura (em oposição ao hard law, o direito
tradicional). É uma forma alternativa de orientar a conduta dos membros da sociedade
internacional, frente às transformações sociais de contexto global, que levaram à necessidade
de se estabelecer modos mais ágeis e maleáveis de disciplinar normas de convivência
internacional.
Desse modo, o soft law compreende todas as regras com valor normativo menos
obrigatório que o das normas jurídicas tradicionais, deixando aos seus destinatários uma certa
margem de aplicação no tocante ao seu conteúdo. A despeito de, por suas características,
existir a falta de meios que garantam sua efetiva aplicação, consiste em um instrumento que
privilegia noções como autonomia da vontade e arbitragem, a fim de atingir maior
flexibilização e rapidez na resolução de conflitos.
22
A priori, seriam regras de valor normativo limitado, seja por conta do seu instrumento
ou da disposição em causa, não criando obrigações de direito positivo, ou, caso venham a
cria-las, de modo menos constringente. No entanto, apesar de seu cumprimento estar mais no
sentido de “recomendação” do que de “obrigação”, isso não significa que não exista um
sistema de sanções, podendo repressões morais ou extrajurídicas.12
Tais normas incluem, muitas vezes, preceitos que ainda não chegaram ao nível de
norma internacional jurídica vinculante (ou pouco vinculante). Assim, podem posteriormente
vir a ser incorporadas a fontes tradicionais de Direito Internacional Público (como tratados), ou
até mesmo vir a gerar leis internas.
Por fim, tem-se que o conteúdo jurídico da soft law ainda se encontra em construção, e
sua natureza jurídica ainda não está totalmente formada, sendo um instrumento internacional
em desenvolvimento.
12
Vide questão 8.
23
QUADRO SINÓTICO
24
Estudos de especialistas na matéria Fonte auxiliar de Direito
Internacional
DOUTRINA Pode incluir ramos do direito interno
relacionados ao Direito Internacional
OBRIGAÇÕES
ERGA OMNES
25
Obrigatoriedade limitada ou Seu caráter de fonte não é
inexistente unânime, sendo o modelo mais
SOFT LAW
recente
Elaboração rápida e flexível
26
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
As obrigações erga omnes não estão expressas no Estatuto da CIJ, porém, sua violação
permite que se busque a responsabilidade internacional do Estado que as tenha descumprido.
Questão errada.
Questão 2
Comentário:
27
Como visto, todas as normas jus cogens consistem em obrigações erga omnes, então,
pode-se dizer que existe uma forte relação entre normas jus cogens e obrigações erga omnes.
Questão errada.
Questão 3
Comentário:
A assertiva está correta, pois costumes não estão sujeitos a um rito de internalização ao
sistema jurídico pátria, como os tratados internacionais, não sendo necessário qualquer
instrumento de incorporação ao ordenamento jurídico interno, pois a aceitação de um
costume ocorre de maneira tácita.
Questão 4
Comentário:
Aos juízes de Haia, autorizados pelo estatuto da Corte Internacional de Justiça, é conferido o
poder de aplicar, de forma automática, tanto normas escritas quanto normas não escritas,
além de costume, de equidade e de princípios gerais do direito.
Comentário:
A questão estaria correta, no entanto, a equidade não pode ser aplicada de forma
automática pela Corte Internacional de Justiça, somente sendo possível por expressa
concordância das partes, como previsto no art. 38 do Estatuto. Questão errada.
Questão 6
Comentário:
A assertiva está incorreta, pois o costume é uma prática geral, uniforme e constante
aceita como sendo o direito. Os costumes não têm hierarquia inferior às normas de direito
escrito (os tratados), pois não existe hierarquia entre as fontes de Direito Internacional Público.
Portanto, é plenamente possível que um costume revogue um tratado.
29
Questão 7
Comentário:
Os atos unilaterais dos Estados, embora não previstos no art. 38 do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça, são considerados novas fontes do Direito Internacional Público.
Questão correta.
Questão 8
Essas normas não têm o mesmo grau de atribuição de capacidades nem são tão
importantes quanto as normas restritivas, mas os Estados comprometem-se a cooperar e a
respeitar os acordos realizados, sem submeter-se, no entanto, a obrigações jurídicas. O
fragmento de texto citado acima refere-se a:
a) costumes.
b) soft norms.
d) umbrella conventions
30
e) tratados.
Comentário:
O enunciado refere-se à soft law (ou soft norms), compromissos não vinculantes feitos
pelos Estados. Gabarito: B.
Questão 9
a) De acordo com o Estatuto da Corte da Haia, a equidade constitui, apesar de seu caráter
impreciso, fonte recorrente e prevista como obrigatória na resolução judicial de contenciosos
internacionais.
b) A expressão não escrita do direito das gentes conforma o costume internacional como
prática reiterada e uniforme de conduta, que, incorporada com convicção jurídica, distingue-se
de meros usos ou mesmo de práticas de cortesia internacional.
c) As convenções internacionais, que podem ser registradas ou não pela escrita, são
consideradas, independentemente de sua denominação, fontes por excelência, previstas
originariamente no Estatuto da CIJ.
31
e) Ainda que não prevista em tratado ou no Estatuto da CIJ, a invocação crescente de
normas imperativas confere ao jus cogens manifesta qualidade de fonte da disciplina, a par de
atos de organizações internacionais, como resoluções da ONU.
Comentário:
Letra A: errada, pois a equidade não é fonte obrigatória para a solução de litígios
internacionais, só podendo ser empregada quando houver a concordância das partes
litigantes. Letra B: correta, pois costumes não são meros usos ou práticas de cortesia
internacionais. Além de ser uma prática reiterada e uniforme de conduta, os costumes
possuem também um elemento subjetivo: a convicção jurídica. Letra C: errada, pois os
tratados são fonte escrita do direito internacional público. Letra D: errada, pois as decisões
judiciais internacionais é uma fonte de Direito Internacional Público prevista no art. 38 do
Estatuto da Corte Internacional de Justiça. Letra E: errada, pois o jus cogens não pode ser
considerado uma fonte do direito internacional, significando apenas atribuir a uma norma um
qualificativo especial, por ser imperativa, inderrogável a não ser por outra de mesmo nível.
Questão 10
O estudo das fontes do Direito Internacional Público principia com a leitura do artigo
38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça. Ao citado dispositivo poder-se-ia acrescentar,
na hora atual, as seguintes fontes:
32
e) Determinados atos unilaterais dos Estados e algumas decisões de organizações
internacionais.
Comentário:
Letra A: contratos internacionais não são fontes de Direito Internacional Público, mas
decisões das organizações internacionais são consideradas fontes. Letra B: as Constituições dos
Estados não são fontes. Letra C: a lex mercatoria e as Constituições dos Estados não são
fontes. Letra D: os atos unilaterais dos Estados são considerados fontes e poderiam ser
incluídos no rol do art. 38, mas a lex mercatoria não é fonte de DIP. Letra E: tanto os atos
unilaterais quanto as decisões das organizações internacionais são consideradas fontes de
Direito Internacional Público, podendo ambas ser inclusas no rol do art. 38 do Estatuto da
Corte Internacional de Justiça.
Questão 11
O costume, fonte do direito internacional público, extingue-se pelo desuso, pela adoção
de um novo costume ou por sua substituição por tratado internacional.
Comentário:
Questão 12
33
Advogado da União-2006
Comentário:
34
GABARITO
Questão 1 - Errada
Questão 2 - Errada
Questão 3 - Correta
Questão 4 - Errada
Questão 5 - Errada
Questão 6 - Errada
Questão 7 - Correta
Questão 8 - B
Questão 9 - B
Questão 10 - E
Questão 11 - Correta
Questão 12 - Correta
35
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Art. 53
Art. 64
Art. 94
Art. 103
Art. 38
Art. 59
36
JURISPRUDÊNCIA
DECISÃO 1. Cuida-se de agravo interposto por NORDIC TRUSTEE ASA contra decisão
que negou seguimento ao seu recurso especial, por sua vez manejado em face de
acórdão do eg. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado: HIPOTECA
MARÍTIMA Embarcação destinada à exploração de petróleo na costa brasileira Bandeira
liberiana, com hipoteca em favor da agravante, registrada sob a lei liberiana Bem que é
penhorado em execução movida por terceiro Credora hipotecária que pretende a
preferência sobre o produto da arrematação Reconhecimento da hipoteca estrangeira
no Brasil Impossibilidade Estado da Libéria que não é signatário de tratados e
convenções internacionais a esse respeito, a que o Brasil tenha aderido Costume
internacional nesse sentido não verificado: Inviável o reconhecimento da validade no
Brasil de hipoteca registrada sob as leis liberianas, incidente sobre embarcação de
bandeira liberiana, para o fim de garantir ao credor hipotecário a preferência sobre o
produto da alienação da embarcação, penhorada em execução ajuizada por outro
credor, uma vez que a Libéria não é signatária de tratados e convenções internacionais
a esse respeito a que o Brasil tenha aderido, e que não se verifica a existência de
costume internacional nesse sentido. (...) (STJ - AREsp: 1074507 SP 2017/0065899-5,
Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 27/09/2017).
37
Jurisprudência do TST sobre doutrina internacional
38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2002.
39
CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 3
SUMÁRIO
DIREITO INTERNACIONAL, Capítulo 3....................................................................................... 3
4. Estrutura ............................................................................................................................... 11
5. Classificação ......................................................................................................................... 13
GABARITO .................................................................................................................................... 42
JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................................................... 45
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 3
Tratados são instrumentos que consistem em acordos escritos e formais (quer seja
através de um instrumento único ou em instrumentos conexos – anexos ou protocolos
Internacionais, regidos pelos ditames do Direito Internacional Público, a fim de produzir efeitos
jurídicos acerca de temas de interesse compartilhado por suas partes.
3
caráter vinculante (tanto em âmbito interno quanto internacional) para os sujeitos que são
Em virtude das características inerentes dos tratados, como ser um acordo escrito e,
logo, oferecer mais clareza, legitimidade, segurança e estabilidade jurídica aos atores, a maior
contratantes, devendo haver consentimento expresso com seu teor para que tal acordo seja
juridicamente vinculante, eles são regidos pelos preceitos do Direito Internacional Público,
conteúdo “livre”, os tratados não podem violar as normas jus cogens, que, como visto, são
Ademais, ressalta-se que a Convenção de Viena tem autoridade jurídica mesmo para os
Estados não signatários a ela. Além disso, foi estabelecido que os tratados não ratificados têm
1
Vide questões 1 e 4.
2
Vide questão 3.
4
Princípios norteadores da elaboração de tratados internacionais:
a) Livre Consentimento Mútuo: As partes são livres para pactuar as obrigações, não
podendo haver nenhum tipo de coação, sob pena de o tratado ser anulado.
b) Boa-fé: Deve haver comportamento com padrão ético de confiança e lealdade.
c) Pacta sunt servanda: Tudo o que for pactuado no tratado, de livre e espontânea
vontade, deve ser obrigatoriamente cumprido.
d) Solução Pacífica de Controvérsia: Os Estados devem cumprir com o que foi pactuado,
buscando tentar solucionar, pacificamente, eventuais conflitos, antes da adoção de
meios coercitivos e, até mesmo, extremos (como a guerra).
e) Continuidade do Estado: O Estado para sempre existirá, independentemente de
modificações expressivas em sua titularidade e soberania.
A Convenção de Viena de 1969 versou apenas sobre o direito do tratado entre Estados,
que era considerado o único sujeito de Direito Internacional Público à época. Porém, no
Assim, para disciplinar os tratados de que são partes organizações internacionais, foi
criada a Convenção de Viena de 1986 (Convenção de Viena Sobre Direito dos Tratados entre
Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais). No entanto,
destaca-se que ela ainda não entrou em vigor internacional por não ter atingido o quórum
5
2. Condições ou requisitos de validade dos tratados
tratado; ser capaz é ser sujeito de Direito Internacional Público, mas nem todo sujeito
internacional é capaz de celebrar tratados.
federativo responsável pela conclusão de tratados. Já o art. 84, incisos VII e VIII, da
Constituição Federal, prevê que o Presidente da República é a autoridade competente para
incorporação dos tratados internacionais no âmbito interno, que será analisada em breve.
decorrente da habilitação dada por seu ato constitutivo. É também uma capacidade derivada,
sujeito internacional. Cada Estado ou organização internacional têm competência para definir
para tal.
6
Com relação aos Estados, para o Presidente da República, este ato é delegável para
Internacionais, pois tal competência é exclusiva. No Brasil, essa competência pode ser
delegada para alguém “comum”, ou seja, sem essas titulações decorrentes de cargo; neste
caso, o Presidente da República deve conceder poderes especiais através de uma Carta de
Plenos Poderes. No entanto, um ato internacional praticado por quem não tem habilitação, em
regra, não produz efeitos jurídicos, a não ser que o ato seja posteriormente confirmado pelo
Estado mal representado. Ressalta-se que não precisam da Carta de Plenos Poderes: o
Deve haver concordância das partes, sem coerção, como expressão do fundamento da
vontade e do consentimento dos sujeitos no âmbito do Direito Internacional. A vontade deve
ser livre e não estar influenciada por vícios, sob pena de a norma ser considerada inválida.
quarta espécie está prevista no art. 50 da Convenção de Viena de 1969, onde se elucida que
O objeto do tratado deve ser lícito e possível, não podendo violar normas internacionais
já existentes, a não ser nos casos que seja possível substituí-las em decorrência das novas
serem mais justas e condizentes com a nova realidade internacional, nem violar normas de jus
cogens.
normas de âmbito universal, só sendo permitido ampliar as normas para que estas se
7
adequem as particularidades regionais a fim de fortalecer a norma, mas nunca para excluir
direitos.
8
3. Terminologia e espécies
denominar um tipo de tratado não retira dele seu caráter jurídico, sendo vinculante
independente da denominação.
A doutrina traz uma séria de terminologias, cada uma adequada para situações
diferentes nas relações internacionais, segundo o conteúdo ou o objetivo. São exemplos de
c) Acordo: costuma ser usado para compromissos com menor número de participantes e
menor importância política.
d) Pacto: são compromissos com grande importância política, mas com maior
especificação quanto ao tratamento do conteúdo abordado.
9
g) Carta: é o tipo de tratado que cria organizações internacionais, seus objetivos, órgãos e
modo de funcionamento (por exemplo, a Carta da ONU). O termo “estatuto” é utilizado
para os tratados que criam tribunais internacionais (por exemplo, Estatuto de Roma do
Tribunal Penal Internacional).
j) Declaração: termo usado para os tratados que consagram princípios, afirmando uma
posição comum entre os sujeitos contratantes acerca de certas circunstâncias e fatos.
10
4. Estrutura
a) Título
b) Preâmbulo ou exórdio
Consiste na enumeração dos contratantes, das partes do tratado, quem está pactuando,
dos sujeitos que fazem parte dele, e também das credenciais dos representantes a fim de se
comprovar sua competência para celebrar tratados internacionais. O preâmbulo não tem força
obrigatória ou vinculante, ou seja, não integra a parte jurídica do acordo, sendo mero
c) Articulado ou dispositivo
É a parte principal, das disposições, suas normas, seus artigos, obrigações e direitos.
11
Além disso, é costume ainda a menção do testemunho: “em fé do que...”.
d) Fecho
originais existem, em quais idiomas ele foi redigido (parte formal). Com isso, o instrumento
e) Assinaturas
com o sujeito internacional que representa. Já nos tratados multilaterais, as assinaturas são
postas de acordo com a ordem alfabética dos nomes dos negociadores. Há, ainda, a
possibilidade de sortear a ordem de disposição das assinaturas.
f) Selo de lacre
g) Anexos ou apêndices
12
5. Classificação
13
f) Quanto à natureza das normas: tratado-contrato (visa conciliar interesses convergentes
das partes, através de prestações, concessões e contrapartidas) e tratado-lei ou tratado-
normativo (estabelece normas gerais de direito a partir da vontade convergente das
partes, fixando um tratamento comum e uniforme a certa temática). O que
normalmente ocorre, na prática, é um tratado ter ambas essas características, podendo
ser chamado de “misto”.
14
6. Etapas do processo de elaboração dos tratados
são obrigatórias para sua preparação, só gerando efeitos quando cumpridas todas elas.
nacional de cada Estado serem diferentes, as etapas internacionais são padronizadas para
todos os sujeitos de Direito Internacional Público, conforme segue, na ordem:
a) Negociações preliminares
estabelecem os termos do acordo. É um processo que pode ter longa duração, variando de
acordo com a complexidade do objeto e o nível de convergência dos interesses dos sujeitos.
técnico e especializado de certos temas. Independente disso, o agente que for conduzir as
negociações deve saber coincidir os diversos interesses daqueles envolvidos na questão, como
b) Adoção do texto
c) Autenticação
d) Assinatura
No entanto, existem também tratados (aqueles que adotam a forma simplificada) que já
produzem efeitos a partir da assinatura das partes, vinculando suas partes a não atuarem de
Ademais, a assinatura impede que o texto acordado seja alterado de modo unilateral.
Antes da entrada em vigor do tratado, eventuais mudanças só poderão ser feitas com a
e) Ratificação
por suas normas. Enquanto a assinatura pode ser a anuência provisória, a ratificação é a
aceitação definitiva. 3
discricionário (não está vinculado a um prazo específico após a assinatura), mas condicionado
haverá a expedição da carta de ratificação para comunicar às partes que o tratado foi aceito
internamente e será cumprido. Depois, haverá a troca (tratado bilateral) ou o depósito (tratado
3
Vide questão 8.
16
f) Entrada em vigor em âmbito internacional
Existem várias formas pelas quais um tratado pode começar a gerar efeitos jurídicos; a
ratificação vincula o sujeito internacional a cumprir o tratado, mas não gerará efeitos no caso
de um tratado bilateral que ainda não foi ratificado pela outra parte, ou um tratado
multilateral que ainda não atingiu o número mínimo de ratificações para produzir efeitos, ou
ainda no caso de um tratado que tenha estabelecido a produção de efeitos depois de
confunde com a exigibilidade no âmbito interno, que depende de outros procedimentos que
serão posteriormente estudados.
multilaterais, há o processo do depósito, onde o depositário (que não precisa ser parte do
tratado) guardará os instrumentos de ratificação dos contratantes e, quando atingir o número
mínimo de ratificações estabelecido no tratado, este produzirá efeitos, mas apenas para
No Brasil, uma vez ratificado o tratado, este também deve ser promulgado através de
decreto executivo do Presidente da República, produzindo efeitos também dentro do
ordenamento interno.
g) Registro e publicidade
Parte da doutrina considera a disposição do art. 102 da Carta da ONU como condição
final para que o tratado entre em vigor. No entanto, na prática, o registro serve apenas para
contribuir na consolidação das normas de Direito internacional, dando publicidade ao ato para
verdade, em condição para que uma norma internacional seja invocada nos órgãos das
Nações Unidas.
Existem também outros instrumentos que podem vir a desempenhar papeis importantes
17
a) Adesão
se o tratado for multilateral, estiver em vigor e permitir o instituto da adesão (for aberto).
sujeitos que não participaram, por inúmeros motivos, das negociações inicialmente.
b) Emendas
Sabe-se que a sociedade internacional não é estática, mas está em constante mudança
e adaptação, segundo as necessidades de regulamentação e os interesses de seus membros.
Desse modo, se, para introduzir normas mais condizentes com esses novos anseios sociais,
fosse necessário iniciar um novo processo de elaboração de tratados, isso não seria nem
Por isso, existem instrumentos como a emenda, que consiste no meio pelo qual o teor
dos atos internacionais é revisto, podendo seu texto ser acrescentado de outros dispositivos,
ser alterado ou até ser suprimido do conteúdo normativo.
18
Internacionalmente, a emenda é regulamentada pelo próprio texto do tratado a ser
emendado, a partir da proposta de uma parte signatária deste tratado. Para entrar em vigor,
ambas as partes em um tratado bilateral devem concordar com seu teor e um número mínimo
de partes no compromisso multilateral. Já no âmbito interno, no Brasil, a emenda também
Destaca-se que, de acordo com o art. 40, § 1º, da Convenção de Viena de 1969, em
termos da emenda quanto àquelas partes que a ratificaram; quanto àquelas que não
c) Reservas
O instituto da reserva surge como forma de contribuir para que os atores internacionais
mas de modo a não obrigar totalmente todas as partes contratantes, ou ainda sem se
comprometer com todas as normas previstas no tratado.
quando há muitos interesses conflitantes dos mais diversos sujeitos internacionais, porém, não
reserva for realizada. Contudo, de acordo com o art. 19 da Convenção de Viena de 1969,
não será possível realizar uma reserva se este instrumento for proibido pelos dispositivos do
19
tratado, se for relativa a dispositivos sobre os quais o próprio tratado proíba reservas, ou
Público, ela não exigiria o consentimento das demais partes contratantes, porém, o art. 20 da
Convenção de Viena de 1969 prevê exceções a essa regra: no caso de a aplicação na íntegra
do tratado ser condição essencial para o consentimento das partes ou quando for um ato
d) Extinção
Em regra, os tratados internacionais podem ser extintos pela vontade comum das
partes, pela alteração das circunstâncias que motivaram sua celebração, pela vontade de uma
das partes (o que configura a denúncia), execução integral do tratado, condição resolutória,
redução do número de partes, ab-rogação por outro tratado, dentre outras eventuais
hipóteses. Ressalta-se que o descumprimento do tratado não é causa para sua extinção,
havendo apenas a possibilidade de sanções para o sujeito que tenha violado suas normas.
e) Denúncia
4
Vide questão 12.
20
internacional. Porém, ressalta-se que a denúncia produz efeitos ex nunc, não desvinculando as
denúncia (que também pode ser conhecida, nesse caso, como “retirada”) não influencia as
haver previsão expressa da permissão, mesmo que seja estipulado sem definir um prazo para
realizá-la. Pode estar previsto também procedimentos específicos para sua realização, a fim de
evitar prejuízos para as demais partes contratantes. Além disso, em regra, só é possível
denunciar o texto inteiro, e não apenas partes dele (sob pena de confundir este instituto com
o da reserva ou da emenda).
Em regra, de acordo com o art. 56, § 2º, da Convenção de Viena de 1969, o sujeito
antecedência mínima de 12 meses da data que pretende efetivar sua saída. É um prazo de
acomodação, dentro do qual o Estado pode até vir a retratar-se, desde que ainda não tenha
gerado efeitos jurídicos; porém, findo este prazo, o Estado só poderá retornar ao tratado por
No Brasil, a denúncia não está ainda regulada: a denúncia consiste em ato privativo e
21
Ressalta-se que quando se trata de tratados de direitos humanos que tenha sido
aprovado sob o mesmo quórum da emenda constitucional, como previsto no art. 5º, § 3º, da
Nacional.
22
7. Processualística constitucional de celebração de
tratados no Brasil
obrigação seja cumprida não apenas no âmbito externo, mas também no âmbito interno dos
entes estatais. Porém, para que essas normas internacionais possam ser melhores aplicadas no
âmbito interno, é necessário que haja sua incorporação no ordenamento jurídico nacional, ao
quando: primeiro, for ratificado pelo Estado e, depois, quando o tratado entrar em vigor em
âmbito internacional.
5
Vide questão 5.
23
Após a assinatura do tratado, é elaborada uma Carta com Exposição de Motivos, do
b) Referendo parlamentar
Segundo o art. 49, I, da Constituição Federal, é competência exclusiva (ou seja, não
O tratado é enviado primeiro para a Câmara dos Deputados, e depois para o Senado
votação no plenário de cada uma delas, em regra, em turno único, pela maioria dos votos,
decidir sobre a ratificação. No entanto, caso o Congresso não aprove o tratado, o Presidente
c) Ratificação ou adesão
sempre o Presidente que assina o tratado é o mesmo que o ratifica, portanto, ele não está
6
Vide questão 6.
24
obrigado a tal ato. O instrumento da ratificação é dirigido aos demais signatários do acordou
ou a seu depositário. 7
Quando os atos internacionais são postos em vigor, por meio do qual o Presidente
Ademais, o Presidente da República, nesta fase, não pode alterar as eventuais mudanças
realizadas no tratado pelo Congresso Nacional: ou ratifica como foi disposto pelo Congresso
Nacional ou não adere ao tratado.
d) Promulgação e publicação
Porém, destaca-se que há discricionariedade aqui também: além de não ser obrigado a
7
Vide questão 9.
8
Vide questão 11.
25
República também não é obrigado a realizar a promulgação e a publicação do Decreto que,
jurídico nacional.
enquanto não atingido esse número mínimo, sua entrada em vigor fica no aguardo . Assim, o
registro ou o depósito dos documentos oficiais de um tratado internacional ratificado
dessa revogação, se é que o ato consiste mesmo em uma revogação. Também se está
discutindo qual seria o nível hierárquico de tratados internacionais de matéria tributária, pois,
assim como os de direitos humanos, eles também têm superioridade no ordenamento jurídico
26
b) Tratados internacionais que versem sobre Direitos Humanos
status de emenda constitucional os tratados internacionais que versem sobre Direito Humanos,
eficácia de norma supralegal: estarão abaixo da Constituição Federal, mas ainda acima da
legislação infraconstitucional.
Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas para Pessoas Cegas de
O Pacto San José da Costa Rica, apesar de ser norma supralegal (não atingiu o
quórum de emenda constitucional), revogou tacitamente a previsão do art. 5º, LXVII, da
Constituição Federal, acerca do depositário infiel, onde “não haverá prisão civil por dívida,
salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia
e a do depositário infiel”, pois o Supremo Tribunal Federal entendeu que deveria vigorar a
9
Vide questões 2, 7 e 10.
27
Incidente de deslocamento de competência
Segundo o art. 109, § 5º, da Constituição Federal: ”nas hipóteses de grave violação de
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça
28
QUADRO SINÓTICO
29
REGISTRO E PUBLICIDADE Poder Executivo nacional, Dar publicidade ao ato para a
junto à ONU sociedade internacional
Condição para que a norma
do tratado seja invocada nos
órgãos das Nações Unidas
30
ASSINATURA E CARTA DE embaixadores, diplomatas, o elaborada uma Carta com
EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS Ministro das Relações Exposição de Motivos, do
Internacionais ou aquele Presidente da República pelo
detentor de uma Carta de Ministro das Relações
Plenos Poderes Exteriores, solicitando
eventual ratificação
31
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
dos Tratados de 1969, por meio do Decreto no 7.030. A Convenção codificou as principais
C) Um Estado não poderá invocar o seu direito interno para justificar o descumprimento de
obrigações assumidas em um tratado internacional devidamente internalizado.
D) Os tratados que conflitem com uma norma imperativa de Direito Internacional geral têm
sua execução suspensa até que norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza
Comentário:
Alternativa A está incorreta, pois os tratados são acordos internacionais concluídos por
escrito entre Estados, não envolvendo organizações internacionais como signatárias, de acordo
com o artigo 2º, § 1º, “a”, da Convenção de Viena. Alternativa B está incorreta, pois, ao
assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, os Estados podem formular
32
reserva, EXCETO: a) se a reserva for proibida pelo tratado; b) se o tratado dispor que só
possam ser formuladas determinadas reservas, entre as quais não figure a reserva em questão;
ou c) nos casos não previstos nas alíneas “a” e “b”, se a reserva for incompatível com o objeto
e a finalidade do tratado (artigo 19 da Convenção de Viena). Alternativa C está correta,
conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral. Para os fins da
presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita
e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da
qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de
Questão 2
A) Sempre terão a natureza jurídica de lei, exigindo a sua aprovação, pelo Congresso Nacional
B) Sempre terão a natureza jurídica de emenda constitucional, exigindo, apenas, que a sua
aprovação, pelo Congresso Nacional, se dê em dois turnos de votação, com o voto favorável de
C) Podem ter a natureza jurídica de emenda constitucional, desde que a sua aprovação, pelo
Congresso Nacional, se dê em dois turnos de votação, com o voto favorável de três quintos dos
respectivos membros;
D) Podem ter a natureza jurídica de lei complementar, desde que o Congresso Nacional venha
a aprová-los com observância do processo legislativo ordinário;
33
qualquer hipótese, à ordem jurídica interna.
Comentário:
Alternativa A está incorreta, pois nem sempre terão a natureza jurídica de lei. Os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados mediante o artigo 5º
dois turnos de votação, com o voto favorável de três quintos dos respectivos membros.
Alternativa C está correta, pois, de acordo com o art. 5º, § 3º, da Constituição Federal, os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
mesmas justificativas da alternativa A. Alternativa E está incorreta, pois nem sempre terão a
natureza jurídica de atos de direito internacional.
Questão 3
Comentário:
Questão 4
34
Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 1
- Primeira Fase
Com relação aos tratados internacionais, assinale a opção correta à luz da Convenção de
A) Reserva constitui uma declaração bilateral feita pelos Estados ao assinarem um tratado.
D) Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o
inadimplemento de um tratado.
Comentário:
A letra A está incorreta, pois a reserva é um ato unilateral de Estado. A letra B está
incorreta, pois não só o Chefe de Estado pode celebrar tratados, mas também Chefes de
Governo, Ministro das Relações Exteriores, chefes da missão diplomática, além daqueles que
têm carta de plenos poderes para a celebração (plenipotenciários). A letra C está incorreta,
Questão 5
Ano: 2006 Banca: ND Órgão: OAB-DF Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem -
1 - Primeira Fase
35
A) os tratados internacionais, segundo o entendimento jurisprudencial brasileiro, possuem
Comentário:
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, é que serão equivalentes às emendas constitucionais (art. 5º, § 3º, da
Constituição Federal). A letra B está correta, pois, de acordo com o art. 5º, § 4º, da
criação tenha manifestado adesão. A letra C está incorreta, pois o art. 5º, LI, da Constituição
letra D está incorreta, pois a competência não é exclusiva, mas sim privativa, podendo ser
Questão 6
Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2009 - OAB - Exame de Ordem - 3
- Primeira Fase
Tratados são, por excelência, normas de direito internacional público. No modelo jurídico
brasileiro, como nas demais democracias modernas, tratados passam a integrar o direito
interno estatal, após a verificação de seu iter de incorporação. A respeito dessa temática,
36
A) Uma vez ratificados pelo Congresso Nacional, os tratados passam, de imediato, a
C) Uma vez firmados, os tratados relativos ao MERCOSUL, ainda que criem compromissos
gravosos à União, são automaticamente incorporados visto que são aprovados por parlamento
comunitário.
Comentário:
letra B está correta, como visto na justificativa acima. A letra C está incorreta, estando correto
apenas se não acarretassem compromissos gravosos para a União, devendo haver, nesse caso,
Questão 7
Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2010 - OAB - Exame de Ordem - 3
- Primeira Fase
A) em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros.
37
B) em dois turnos, por maioria absoluta dos votos dos respectivos membros.
C) em único turno, por maioria absoluta dos votos dos respectivos membros.
D) em único turno, por três quintos dos votos dos respectivos membros.
Comentário:
A letra A está correta, em conformidade expressa com o art. 5º, § 3º, da Constituição
Questão 8
A) com ratificação;
Comentário:
A letra A está incorreta, pois a ratificação só torna o tratado obrigatório para o Estado
que realizou a ratificação quando o acordo já está em vigor. A letra B está incorreta, pois a
assinatura tem efeitos jurídicos limitados, não incluindo neles a obrigatoriedade de seus
dispositivos. A letra C está incorreta, pois o depósito só gera efeitos jurídicos para o Estado
depositante quando o tratado já está em vigor. A letra D está correta, pois só o número
38
Questão 9
Comentário:
A letra A está incorreta, pois o decreto legislativo que aprova a ratificação apenas
autoriza que o Presidente o ratifique. A letra B está incorreta, pois tais atos são condições de
vinculação ao tratado à nível internacional, e não no âmbito interno. A letra C está correta, em
consonância com o art. 84, VIII, da Constituição Federal. A letra D está incorreta, pois a
assinatura não exclui a necessidade das fases posteriores para conferir a efetiva incorporação
Questão 10
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes:
A) às leis complementares;
B) às emendas constitucionais;
C) às leis ordinárias;
39
D) às portarias;
E) às normas coletivas.
Comentário:
no art. 5º, § 3º, da Constituição Federal. Ademais, ressalta-se que tratado não pode regular
matéria reservado à lei complementar e que todos os demais tratados (exceto os de direitos
Questão 11
Comentário:
A assertiva acima está correta, visto que a entrada em vigor de um tratado no âmbito
interno pode depender ainda da ratificação do tratado pelo Brasil, e também da sua
Questão 12
Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2009 - TRF - 1ª
REGIÃO - Juiz Federal
40
entraria em vigor quando todos os Estados signatários o ratificassem. Os Estados A e B
D) podem exigir do Estado C que transforme o tratado em lei interna antes de ratificá-lo.
E) não podem cobrar do Estado C nenhuma obrigação, pois este goza de autonomia
Comentário:
pois a autonomia do Estado não é absoluta, a fim de que não sejam praticados atos que
venham a frustrar o objeto e a finalidade do tratado.
41
GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - C
Questão 3 - Errada
Questão 4 - D
Questão 5 - B
Questão 6 - B
Questão 7 - A
Questão 8 - D
Questão 9 - C
Questão 10 - B
Questão 11 - Correta
Questão 12 - C
42
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Art. 5º, § 3º
Art. 21, I
Art. 47
Art. 49, I
Art. 84, VII e VIII
Art. 109, § 5º
Art. 2º
Art. 7º
Art. 19
Art. 20
Art. 21
Art. 27
Art. 40, § 1º
Art. 50
Art. 56, § 2º
43
Carta das Nações Unidas
Art. 102
Nº 25: é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade
do depósito.
44
JURISPRUDÊNCIA
45
constitucional. Embora considere indiscutível que o Poder Executivo tenha papel de
destaque no âmbito das relações exteriores, na opinião do ministro “fica difícil
justificar que o presidente da República possa, unilateralmente, revogar tratados
dessa natureza”. (...).
exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados
internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema
adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação
(a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a
executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente então, a vincular e a
46
hierárquica sobre as normas de direito interno. A eventual precedência dos tratados ou
posterior derogat priori ") ou, quando cabível, do critério da especialidade. (STF -
ADI: 1480 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 26/06/2001, Data de
(...) Não obstante tais considerações, impende destacar que o tema concernente à
torno dos princípios que regem o monismo e o dualismo, pois cabe à Constituição da
República – e a esta, somente – disciplinar a questão pertinente à vigência
brasileiro – que não exige a edição de lei para efeito de incorporação do ato
internacional ao direito interno (visão dualista extremada) – satisfaz-se, para efeito de
se qualifica como típico ato de direito internacional público – não basta, por si só,
para promover a automática incorporação do tratado ao sistema de direito positivo
interno. É que, para esse específico efeito, impõe-se a coalescência das vontades
47
adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de
mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49,
I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos de direito
internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe – enquanto Chefe de Estado que é – da
competência para promulga-los mediante decreto. (...) (STF – CR 8279 AT, Relator: Min.
P-00034).
tributária nacional, que poderá adquirir aptidão para produzir efeitos se e quando o
tratado for denunciado. (...) O que ocorre, explica, é tão somente uma revogação
funcional, isto é, uma limitação de eficácia normativa que recai, exclusivamente, sobre
qualquer revogação ou derrogação. (...). Assim, o art. 98 do CTN deve ser interpretado à
luz do princípio da especialidade, não havendo, propriamente, revogação ou
48
2012/0010564-2, Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Data de Publicação: DJ
24/11/2016).
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.
50
CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 4
SUMÁRIO
2. Estado ........................................................................................................................................... 5
2.1. Introdução........................................................................................................................................................ 5
GABARITO .......................................................................................................................................... 37
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 39
Capítulo 4
A ordem jurídica internacional passou a regulamentar outros entes para além dos
Estados e das organizações internacionais, que passaram a exercer um papel mais ativo na
sociedade internacional, tendo direitos e obrigações estabelecidos por suas normas. Por isso, a
doutrina atual entende que os indivíduos, as empresas e as ONGs podem invocar normas
internacionais e devem cumpri-las, por possuírem personalidade internacional. Destaca-se,
porém, que esses são conhecidos como “sujeitos fragmentários”, pois sua capacidade é
limitada, não tendo todas as prerrogativas dos Estados e das organizações internacionais,
como a de celebrar tratados.
3
Ademais, a dinâmica das relações internacionais conta também com a participação de
coletividades não-estatais, como a Santa Sé, a Cidade do Vaticano, o Comitê Internacional da
Cruz Vermelha, dentre outros sujeitos não formais, que serão vistos posteriormente.
4
2. Estado
2.1. Introdução
O Estado é uma pessoa jurídica que rege a vida em sociedade em um local. É o ente
composto por um território onde vive uma comunidade humana governada por um poder
soberano e independente, cujo surgimento não depende da anuência de outros membros da
O ente estatal é o sujeito internacional que cria a maior parte das normas de Direito
Internacional, especialmente através dos tratados, forma as organizações internacionais,
Importante destacar que parte da doutrina ainda acredita ser necessário mais um
elemento para constituir o que viria a ser o Estado, qual seja, o reconhecimento por outros
entes estatais. No entanto, embora importante, acredita-se que a anuência dos outros Estados
não é essencial para que um Estado exista para a sociedade internacional. Esse entendimento
5
foi consagrado no art. 3º da Convenção de Montevidéu sobre Direitos e Deveres dos
Estados, para o qual a existência política de um Estado independe de seu reconhecimento.
a) Território
É o espaço geográfico no qual o Estado exerce seu poder soberano, a jurisdição estatal.
Consiste no espaço terrestre, marítimo (até 12 milhas náuticas), aéreo (que compreende a terra
(por exemplo, dentro de embaixadas) quanto em territórios de Estados estrangeiros (no caso
de embarcações e aeronaves oficiais).
Apesar de o ente estatal exercer jurisdição sobre esses lugares, não fazem parte do
território do Estado: as embaixadas e os consulados no exterior, as embarcações e aeronaves
Além disso, a norma estatal soberana tutela bens, relações jurídicas e pessoas presentes
dentro do seu território, independente de serem nacionais ou não, aplicando-se, portanto,
a toda população (que, como será visto, difere-se de “povo”). No entanto, essa
competência estatal não é absoluta, havendo exceções, quando diante dos casos de
6
imunidade gozados por Estados e autoridades estrangeiros e organizações internacionais,
além das hipóteses de regulamentação pelo Direito Internacional Privado.
b) Povo
pessoas apátridas e estrangeira, pois é composto por todas as pessoas presentes no território
do Estado, nem determinado momento, sendo um dado meramente quantitativo, a noção de
Ademais, ressalta-se que, de acordo com o Tratado de Latrão, o único Estado que não
soberania é o atributo do poder estatal para exercer suas vontades em seu território, para
aqueles que estão sob sua jurisdição, inclusive outros núcleos de poder (como estados-
Importante destacar que a noção de soberania não se confunde com “poder ilimitado e
absoluto”, prevalecendo a noção de Estado de Direito Democrático, no qual o ente estatal
atua dentro de limites impostos tanto pelo ordenamento jurídico nacional (no âmbito interno)
quanto internacional (no âmbito externo).
7
Assim, no âmbito interno, a soberania refere-se a um poder com supremacia sobre
pessoas, bens e relações jurídicas dentro de seu território. Por sua vez, no âmbito externo, a
soberania refere-se à igualdade entre os Estados, a independência do ente estatal com relação
aos outros Estados, vigorando também os princípios da igualdade jurídica entre os Estados
Uma questão importante é a dos microestados: Estados com território pouco extenso,
pequena quantidade de nacionais e prerrogativas estatais inerentes à soberania exercidas por
países vizinhos (como defesa, emissão de moeda e política externa). Exemplos desses
microestados seriam: Andorra, Liechtenstein e Mônaco. O entendimento majoritário (e também
da Corte Internacional de Justiça) é que não há a exigência de que o Estado tenha uma
extensão territorial mínima ou um número mínimo de nacionais para que o ente estatal seja
Surgimento de Estados
8
Porém, o surgimento de Estados pode ser influenciado também pelo próprio Direito
Internacional; como exemplo, há a descolonização da África e da Ásia e a criação do Estado
territórios etc. Esses são os mesmos modos em que um país pode ser extinto.
Reconhecimento de Estados
interdependência uma das principais características das relações internacionais. Desse modo,
tanto o reconhecimento de Estado quanto o de Governo é imprescindível para as relações
reconhecendo a possibilidade de manter relações com este novo Estado, como personalidade
internacional, segundo os preceitos do art. 8º da Convenção de Montevidéu sobre Direitos
e Deveres dos Estados.
vincular o ato a condições ou exigências, mas podem existir requisitos vinculados ao respeito
de normas que devem ser obedecidas por todos os membros da sociedade internacional: as
normas jus cogens. Assim, se o Estado surgiu a partir da violação grave de uma norma de
Direito Internacional, ele não deve ser reconhecido.
9
Ademais, o reconhecimento tem caráter retroativo, gerando efeitos a partir do instante
em que se forma o Estado, e é irrevogável. O reconhecimento pode ser solicitado (pelo novo
Estado) ou concedido (pelos demais Estados). O reconhecimento pode ser também expresso
(através de declarações) ou tácito (através de atos condizentes com o reconhecimento). Pode
novo governo como o devido representante daquele Estado nas relações internacionais.
Extinção de Estados
elementos constitutivos. No geral, se dá pelas mesmas hipóteses pelas quais um Estado pode
também surgir na sociedade internacional.
sucessão dos direitos e obrigações que este possuía, ou seja, a mudança do titular da
soberania sobre um território e/ou povo e/ou governo. Não existe uma regra exata definindo
o que ocorrerá em cada hipótese para cada direito ou obrigação do Estado, podendo a
decisão ficar a cargo das normas costumeiras, dos próprios Estados envolvidos (definindo os
termos da sucessão), ou das Convenções de Viena sobre a Sucessão de Estados em Matéria
10
de Tratados (de 1978; Decreto Legislativo nº 166 de 2018) e sobre Sucessão de Estados em
Matéria de Bens, Arquivos e Dívidas (1983).
Destaca-se que a sucessão não afeta as fronteiras estabelecidas com outros Estados,
nem as obrigações e os direitos relativos à zona fronteiriça. Além disso, não são válidas as
sucessões quando as mudanças de soberania sejam resultado da violação de normas de
Direito Internacional.
jurisdição está baseada na proteção das pessoas naturais e jurídicas, que atuam nas relações
internacionais, e tem a prerrogativa de exercer suas funções livremente, desde que não
1
Vide questão 2.
11
Não existem tratados, no Brasil, que tenham como objeto a imunidade de jurisdição de
Estados, sendo um tema regulamentado, no âmbito internacional, por normas costumeiras e,
A questão é: pode um Estado soberano ser julgado por outro Estado soberano contra a
sua vontade? Para responder essa pergunta, atualmente, existem duas correntes que
ponderam acerca da natureza da imunidade de jurisdição:
a) Teoria clássica
sua vontade, com base no princípio: “par in parem non habet judicium” (entre pares não há
jurisdição). 2
A teoria clássica, desenvolvida ainda na Idade Média (no Estado Absolutista), permitia
que um Estado se submetesse à jurisdição de outro no caso que haja consentimento daquele,
podendo haver renúncia da imunidade. Porém, em regra, o Judiciário estatal deveria declarar-
b) Teoria moderna
2
Vide questão 6.
12
Os atos de império (atos públicos) são aqueles praticados pelo Estado no exercício de
suas prerrogativas soberanas, gozando de imunidade total de jurisdição. Exemplos: atos
Por sua vez, os atos de gestão (atos privados) são aqueles em que o ente estatal pode
em ação trabalhista quanto à relação de trabalho com seu jardineiro), aquisição ou venda de
bens (comercial), casos que envolvam responsabilidade civil, dentre outros.3
Antes da Constituição Federal de 1988, vigorava no Brasil a corrente clássica; mas com o
Estados.
ou sua extinção.4
que, assim como ocorre com a imunidade de jurisdição, a de execução também deveria ser
relativa, a fim de dar seguimento ao processo.
Estado ser absoluta, com base na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961) e
na Convenção de Viena sobre Relações Consulares (1963), que consagram a inviolabilidade
dos bens das missões diplomáticas e consulares. Destaca-se, especialmente, o art. 22, § 3º, da
3
Vide questão 5.
4
Vide questão 4.
13
Convenção de 1961, que expressamente estabelece que os bens de missões diplomáticas não
podem ser objeto de busca, requisição, embargo ou execução.
absoluta, ou seja, mesmo no caso do Estado ser julgado, o mesmo não poderá ser executado,
pois todos os bens do Estado estrangeiro são protegidos por tratados internacionais.
O Estado pode ser executado caso haja renúncia da imunidade. Ademais, para pagar
um débito judicial, o Estado pode ser executado sobre bens não afetos às atividades
sua execução.
de modo expresso.
maneira mais livre, sendo estabelecidas no âmbito de seus atos constitutivos ou em tratados
específicos, celebrados com os Estados. Então, as regras sobre imunidade das organizações
internacionais podem ser estabelecidas por normas costumeiras, por tratados e até mesmo por
analogia (de normas celebradas por outras organizações e/ou outros Estados).
14
52.288/1963 (promulgou a Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Agências
Especializadas das Nações Unidas) e nº 59.308/1966 (promulgou o Acordo Básico de
Assistência Técnica com a Organização das Nações Unidas, suas Agências Especializadas e a
Agência Internacional de Energia Atômica).
Organização das Nações Unidas; ambos posicionaram-se no sentido de que a ONU goza de
imunidade de jurisdição e de execução, inclusive na seara trabalhista.
Segundo o art. 109, II, da Constituição Federal, compete à Justiça Federal processar e
ordinário.
que regula esta imunidade é a Convenção de Viena, a qual dispõe para o agente a prerrogativa
cível, penal e administrativa.
acreditado:
15
a) Uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o
agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da missão.
b) Uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome
do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário.
c) Uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente
diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais.
16
3. Organizações Internacionais
possuem interesses comuns, sendo interessante, para esses fins, estruturar esquemas de
cooperação permanentes para articular os esforços estatais dirigidos a fins objetivos. Assim, a
acredita que sua personalidade jurídica seja “derivada”, já que as organizações são estabelecidas
pelos Estados, entes que teriam personalidade jurídica originária7. Destaca-se também que as
organizações internacionais não possuem soberania, atributo conferido apenas para os Estados.
funcionar. Isso significa que as decisões das organizações internacionais não requerem a
aceitação unânime de seus membros.8
5
Vide questão 8.
6
Vide questão 3.
7
Vide questão 1.
8
Vide questão 7.
17
A personalidade jurídica internacional das organizações internacionais foi reconhecida a
partir do parecer da Corte Internacional de Justiça que reconheceu o direito da ONU à
reparação pela morte de seu mediador para o Oriente Médio, Folke Bernadotte, em Jerusalém,
no ano de 1948. 9
organização.
Apesar de cada estrutura dos organismos poderem ser diferentes entre si, é comum a
existência dos seguintes órgãos:
9
Vide questão 9.
18
Além da capacidade de auto-organização, as organizações internacionais também
podem exercer direito de legação e gozam de imunidade de jurisdição, como visto
anteriormente, regulada por seus atos constitutivos, pelos tratados firmados sobre a matéria
ou até mesmo por analogia.
3.3. Classificações
19
a) Universais: qualquer Estado do mundo pode fazer parte dessa organização;
b) Regionais: abarcam um espaço limitado, para determinada região, geralmente por
aproximação geográfica (EX: Mersocul) ou histórica-cultural (EX: Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa).
Após a Segunda Guerra Mundial se viu a necessidade de criar uma Organização que
buscasse impedir mais um conflito como aquele, bem como efetuar a manutenção da paz e
da segurança internacionais. Assim, foi criada, em 1945, a Organização das Nações Unidas
(ONU), formada por países que se reuniram voluntariamente em busca de mecanismos que
promovam o progresso das nações.
membros: 5 permanentes (Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia) e 10 rotativos
(a cada 2 anos). Já a terceira é o Secretariado-Geral da ONU, principal órgão administrativo,
chefiado pelo Secretário-Geral (o mais alto funcionário e representante da ONU), eleito pela
Assembleia Geral, a partir da recomendação do Conselho de Segurança, tendo funções
10
Vide questão 10.
21
4. Outros sujeitos
4.1. Indivíduos
Em decorrência da premissa de que a sociedade internacional era composta apenas por
entes estatais, a pessoa natural consistia em mero objeto das normas internacionais e da ação
estatal no âmbito externo, tendo uma atuação extremamente reduzida. No entanto, com a
doutrinária atualmente.
solução de controvérsias, exigindo, por exemplo, a observância de algum direito que lhe foi
conferido pela ordem jurídica internacional, estando o indivíduo, ainda, obrigado a observar as
Parte da doutrina não confere ao Vaticano como Estado com base na suposta
22
soberano, cuja autoridade maior reside na figura do Papa. Sua principal função é dar suporte
material para que a Santa Sé possa exercer seu papel.
Se for considerado o Vaticano como um ente estatal, este possui personalidade jurídica
Santa Sé.
Por sua vez, a Santa Sé teve sua personalidade internacional contestada a partir da
incorporação dos Estados Pontifícios à Itália. Porém, a partir do Tratado de Latrão (celebrado
entre a Itália e a Santa Sé em 1929), parte de um território em Roma foi cedido à Santa Sé,
onde foi criado o Estado da Cidade do Vaticano, diminuindo a corrente da doutrina que não
fins espirituais). Sua sede fica no Estado da Cidade do Vaticano, e seu poder não é limitado
por nenhum Estado. Sendo sujeito de Direito Internacional, pode celebrar tratados, participar
de organizações internacionais e exercer o direito de legação (direito de enviar e receber
agentes diplomáticos).
23
Os exemplos mais famosos de ONGs internacionais são: a Anistia Internacional, o
Comitê Olímpico Internacional, o Greenpeace, o Médicos Sem Fronteiros e o Comitê
podem celebrar tratados, mas apenas contratos entre as empresas e Estados ou organizações
internacionais.
Beligerantes
estado de beligerância deve ser reconhecido por outros membros da sociedade internacional,
geralmente através de uma declaração de neutralidade, mas é ato discricionário para os
Insurgentes
Os insurgentes, por sua vez, também são grupos contrários a governos, mas cujas ações
Estados, dentro do qual estão fixados seus efeitos (diferentemente da beligerância, não são
pré-determinados), geralmente no sentido de definir a obrigação de respeitar as normas
internacionais de direitos humanos.
24
Nações em luta pela soberania
pela soberania.
25
QUADRO SINÓTICO
IMUNIDADES ESTATAIS
IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO IMUNIDADE DE EXECUÇÃO
TEORIA CLÁSSICA TEORIA MODERNA
Imunidade absoluta Imunidade relativa Imunidade absoluta
(entendimento majoritário)
Princípio par in parem non Atos de império Convenções de Viena sobre:
habet judicium X Relações Diplomáticas e
Atos de gestão sobre Relações Consulares
26
FUNÇÕES DOS PRINCIPAIS ÓRGÃOS DA ONU
ASSEMBLEIA-GERAL CONSELHO DE SEGURANÇA SECRETARIADO-GERAL
Discutir os temas de interesse Manter a paz e a segurança Órgão administrativo da ONU
da ONU internacionais
Emitir recomendações sobre Investigar situações instáveis Funções diplomáticas
os temas deliberados e tomar as medidas cabíveis
27
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
aceitos na ordem internacional por tratados constitutivos de relações nas esferas públicas e
privadas; a personalidade jurídica das organizações internacionais decorre da fragmentação
28
E) o direito das gentes não identifica a personalidade jurídica das organizações
internacionais, dado que aplicado, especialmente, aos Estados, que detém natureza jurídica
Comentário:
Estados não depende dos tratados; quanto à personalidade das organizações internacionais,
esta se fundamenta em tratados feitos pelos Estados. A alternativa E está incorreta, pois as
Questão 2
Banca: FGV - Órgão: OAB - 2014:
A) Será julgado no Estado acreditado, pois deve cumprir as leis desse Estado.
B) Poderá ser julgado pelo Estado acreditado desde que o agente renuncie a imunidade de
jurisdição.
D) Poderá ser julgado pelo Estado acreditado, desde que o Estado acreditante renuncie
Comentário:
29
Alternativa A está incorreta, pois, para que o agente diplomático seja julgado, deverá haver
a renúncia à imunidade. Alternativa B está incorreta, pois apenas o Estado acreditante pode
renunciar à imunidade. Alternativa C está incorreta, pois o agente diplomático poderá ser
julgado, desde que haja a renúncia à imunidade. Alternativa D está correta, pois, após o
Questão 3
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois a soberania é atributo exclusivo dos Estados. A alternativa B
está incorreta, pois o reconhecimento das organizações internacionais como sujeitos de Direito
Internacional não decorrem das normas da Carta da ONU, mas sim da evolução das relações
Comentário:
alternativa B está correta, pois, para que seja possível estabelecer se o caso é ou não de
imunidade de jurisdição do Estado, é preciso que haja apuração processual. A alternativa C
está incorreta, pois, “falta de jurisdição” não é uma das hipóteses do processo civil para
Questão 5
Pedro, cidadão brasileiro, presta serviços como cozinheiro na embaixada do Estado X no Brasil.
Após constatar que vários dos direitos trabalhistas previstos na Consolidação das Leis do
Trabalho estavam sendo desrespeitados, Pedro decidiu ajuizar ação na justiça do trabalho
31
A) Deve ser seguido o procedimento descrito na Convenção das Nações Unidas sobre
Imunidades de Jurisdição e Execução do Estado.
cogens.
D) A competência para conhecer da ação é da justiça federal.
E) Em matéria trabalhista, não há imunidade de execução do Estado estrangeiro no Brasil.
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois não há normativa escrita (em convenções, tratados)
sobre imunidade do Estado, sendo decorrente do direito costumeiro. A alternativa B está
correta, pois os atos relacionados à matéria trabalhista são atos de gestão, e, de acordo com a
teoria moderna da imunidade de jurisdição, não há imunidade para o Estado para esse tipo de
ato. A alternativa C está incorreta, pois a imunidade de jurisdição do Estado não é mais
considerada absoluta, nem norma jus cogens. A alternativa D está incorreta, pois, de acordo
com o art. 114, I, da Constituição Federal, a competência é da Justiça do Trabalho. A
Questão 6
O aforismo par in parem non habet judicium dá fundamento à norma de direito internacional
B) desenvolvimento sustentável.
C) liberdade dos mares.
D) efetividade.
E) cláusula da nação mais favorecida.
32
Comentário:
Questão 7
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois nada impede que uma organização internacional faça
parte de outra. A alternativa B está incorreta, pois a base das imunidades das organizações
internacionais são os tratados, não o direito costumeiro. A alternativa C está incorreta, pois ter
personalidade de direito internacional não pressupõe ter capacidade para celebrar tratados. A
ONU, para a qual todos os membros da Assembleia Geral têm igual direito a voto.
33
Questão 8
Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: TRT - 6ª Região (PE) Prova: FCC - 2015 - TRT - 6ª Região
A) serão dotadas de personalidade jurídica internacional, desde que isso esteja expressamente
previsto em seu tratado constitutivo.
B) podem celebrar tratados internacionais entre si e com Estados, embora a esses acordos não
se apliquem as disposições da Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados de 1969,
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois não é o tratado constitutivo de uma organização que
lhe confere personalidade jurídica internacional, mas sim o mero ato de sua criação e efetivo
funcionamento. A alternativa B está correta, pois há a Convenção de Viena entre Estados e
Organizações Internacionais e entre Organizações Internacionais, de 1986, que regula a
matéria. A alternativa C está incorreta, pois não são fundadas no mesmo tipo de imunidade:
enquanto as imunidades dos Estados são formadas pelo direito costumeiro, as imunidades das
organizações são regulamentadas por tratados. A alternativa D está incorreta, pois o estatuto
da Corte Internacional de Justiça veda a demanda por organizações internacionais; apenas
Estados podem ser parte. A alternativa E está incorreta, pois não há impedimentos para que
uma organização internacional integre outra.
34
Questão 9
Internacional de Justiça no caso Reparação de danos a serviço das Nações Unidas acerca da
morte de Folke de Bernadotte, mediador que, no exercício de suas funções, foi assassinado
Comentário:
internacionais. Por exclusão, as demais alternativas estão incorretas. Destaca-se, porém, que a
Palestina é reconhecida como nação em luta pela soberania; o surgimento de um Estado não
depende de reconhecimento externo; a legítima defesa foi reconhecida nas normas da ONU.
Questão 10
PFN – 2006
c) é composta por cinquenta e quatro membros das Nações Unidas, eleitos pelo Conselho
Econômico e Social, respeitando-se a presença dos membros permanentes.
d) será constituída por todos os países signatários da Carta, com exceção da Suíça e de países
que estejam sob fiscalização internacional, no que toca ao desrespeito a pauta de direitos
humanos.
e) será composta pelos signatários originários da Carta, como membros permanentes, e por
signatários supervenientes, como membros aderentes, outorgando-se direito de voto àqueles
primeiros.
Comentário:
A alternativa C está incorreta, pois o Conselho Econômico e Social é que é composto por 54
membros da ONU. A alternativa D está incorreta, pois não há exceções: é composta por todos
36
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - D
Questão 3 - C
Questão 4 - B
Questão 5 - B
Questão 6 - A
Questão 7 - E
Questão 8 - B
Questão 9 - C
Questão 10 - B
37
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Art. 1º
Art. 3º
Art. 8º
Art. 22, § 3º
Constituição Federal
Art. 102, I, e
Art. 105, II, c
Art. 109, II
Art. 114, I
38
JURISPRUDÊNCIA
PROVIDO. (STF – RE Nº 1.034.840 - SP, Relator: MIN. LUIZ FUX, Data de Julgamento:
01/06/2017, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 30-06-2017).
jurisdição
39
ESTADO ESTRANGEIRO. IMUNIDADE JUDICIÁRIA. CAUSA TRABALHISTA. NÃO HÁ
IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO PARA O ESTADO ESTRANGEIRO, EM CAUSA DE
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2018.
41
CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 5
SUMÁRIO
DIREITO INTERNACIONAL, Capítulo 5 .......................................................................................... 3
GABARITO .......................................................................................................................................... 31
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 34
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 5
Apesar disso, o Direito Internacional limita a soberania estatal, fixando regras gerais de
nacionalidade, pautadas na proteção da dignidade humana e na estabilidade da sociedade
internacional.
1
Vide questão 6.
3
Ressalta-se que a nacionalidade é um direito humano consagrado na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, e ninguém pode ser arbitrariamente privado de sua
nacionalidade (art. XV, § 1º e 2º).
Por fim, nacionalidade também é diferente de nação; dentro de um só Estado, pode haver
4
c) Sistema misto: a nacionalidade é a junção do jus sanguinis com o jus soli, ou seja, há a
uma união das nacionalidades admitindo que o indivíduo tenha duas (polipátrida).
Alguns autores criticam o critério misto por defender que os dois são necessariamente
adotados, mas geralmente se escolhe os dois critérios para evitar choques de
nacionalidade (apátrida). Pode-se dizer que o Brasil adota esse critério.
a) Nascido na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país (jus soli).2
“A serviço de seu país” significa que deve ser um serviço público e relativo ao Estado
estrangeiro, não precisando ser permanente no Brasil, mas deve ser a serviço do país de sua
nacionalidade, devendo ambos ser estrangeiros (mesmo que apenas um dos pais com o
cargo). EX: um casal italiano prestando serviços para a França -> o filho será brasileiro.
b) Nascido no estrangeiro, mas que seja filho de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde
que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil (jus sanguinis).
Quem deve estar a serviço do Brasil deve ser brasileiro para o filho também ser. Se o
estrangeiro estiver a serviço não será brasileiro nato o filho, independente que o pai seja nato
ou naturalizado.
2
Vide questão 8.
5
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,
pela nacionalidade brasileira (jus sanguinis).3
3
Vide questões 1 e 4.
4
Vide questão 9.
6
A disciplina está prevista no art. 12, II, da Constituição Federal, segundo o qual é
considerado brasileiro naturalizado aquele:
7
Existem, porém, outras modalidades de naturalização especificadas na nova Lei de
Migração, que serão vistas a seguir:
Assim, criança estrangeira adotada por brasileiros só será nacional por naturalização.
Cumpre, por fim, salientar que uma vez naturalizada brasileira, a pessoa possui todos os
deveres e direitos concedidos ao brasileiro nato, exceto o exercício de algumas funções
públicas, conforme previsão do art. 12, § 3º, da Constituição Federal: Presidente e Vice-
Presidente da República; Presidente da Câmara dos Deputados; Presidente do Senado Federal;
Ministro do Supremo Tribunal Federal; carreira diplomática; oficial das Forças Armadas;
Ministro de Estado da Defesa.
8
A hipótese de perda de nacionalidade de brasileiro nato decorre do fato do brasileiro
adquirir outra nacionalidade através de uma naturalização voluntária. No entanto, existem
duas exceções para o caso do brasileiro adquirir outra nacionalidade e permanecer com a
nacionalidade brasileira:
O indivíduo que teve sua naturalização cancelada não poderá reaver seu status de
nacional brasileiro, a não ser que haja a revogação ou o cancelamento da perda da
nacionalidade através de ação rescisória. Já aquele que perdeu a nacionalidade brasileira por
naturalização voluntária poderá reavê-la através de Decreto do Presidente, se domiciliar no
Brasil, na forma do art. 36 da Lei nº 818/1949. A reaquisição terá a mesma natureza de uma
naturalização ordinária.
5
Vide questão 5.
9
a) Polipatridia: o indivíduo tem duas ou mais nacionalidades, sendo decorrência da
coincidência de critérios de atribuição de nacionalidades diferentes para a mesma
pessoa (por exemplo, a combinação do critério jus solis em um país e o jus sanguini em
outro).
10
Interna em Portugal), devendo a aquisição (e também a perda) do benefício ser comunicada
ao país de origem.
No âmbito da Constituição Federal, o art. 12, § 1º, estabelece que aos portugueses
com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão
atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. Para
essas hipóteses, o Estatuto não é aplicado.
11
2. Condição jurídica do estrangeiro: a Lei de Migração
Existem, porém, direitos que só se aplicam aos nacionais (sejam natos ou naturalizados),
como os direitos políticos (art. 14, § 2º, da Constituição Federal), além de outras previsões
constitucionais.
A Lei de Migração fixa alguns conceitos, logo no seu art. 1º, § 1º, que são:
12
Visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida no país para estadia de curta
duração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no Brasil.
Apátrida: pessoa que não é nacional para nenhum Estado (estatuto dos apátridas)
ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.
Percebe-se que, apesar do direito de ir e vir, os Estados exercem certo controle com
relação à entrada e permanência de estrangeiros em seus territórios, com fulcro no interesse
estatal (ato discricionário). Assim, dentre as condições jurídicas do estrangeiro, veremos:
deportação, expulsão, extradição (saída involuntária), vistos, asilo e refúgio.
a) Visto de visita: estada de curta duração, sem estabelecer residência, para turismo,
negócios, trânsito, atividades artísticas ou desportivas etc. É vedado ao estrangeiro com
esse visto exercer atividade remunerada no Brasil.
b) Visto temporário: imigrante no Brasil para estabelecer residência por tempo
determinado, como nos casos de pesquisa, ensino ou extensão acadêmica, tratamento
de saúde, acolhida humanitária, férias, atividade religiosa, serviço voluntário etc.
c) Vistos diplomáticos e oficiais: concedidos a autoridades e funcionários estrangeiros
que viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente,
13
representando Estado ou organismo internacional. Poderão ser transformados em
autorização de residência.
d) Visto de cortesia: o particular que o tenha só poderá exercer atividade remunerada
para o titular de visto diplomático ou oficial (de cortesia ao qual esteja vinculado).
Não há limite de tempo para ser migrante, desde que o visto seja renovado. Após certo
lapso temporal, pode-se requerer a nacionalidade, variando o tempo para cada país.
14
que se encontra em situação irregular. A Defensoria Pública da União prestará assistência ao
deportado, porém a ausência de manifestação da Defensoria não impedirá a deportação, nos
casos em que ela foi notificada.
Expulsão
O Poder Judiciário pode avaliar se a expulsão ocorreu conforme a lei, mas não pode
analisar sua conveniência e oportunidade, que configura controle de mérito, sendo
competência privativa do Poder Executivo, bem como um ato discricionário.
15
determinado, haja vista a pressuposição de que houve crime cometido pelo estrangeiro,
mesmo que sua situação como estrangeiro seja de legalidade no país.
Extradição
Segundo entendimento do STF, o indivíduo que, extraditado, foge do país a que foi
entregue e retorna ao Brasil, deverá ser preso e entregue novamente, após emissão de ordem
judicial nesse sentido (não é necessário novo processo de extradição, bastando nova decisão
determinando a prisão e viabilizando a entrega). “Em caso de reingresso de extraditando
foragido, não é necessária nova decisão jurisdicional acerca da entrega, basta a emissão de
ordem judicial” (STF Ext 1225/DF, Info 885).
Ademais, importante ressaltar que, de acordo com o art. 96 da Lei de Migração, o país
que solicita a extradição deve se comprometer com o Brasil a não realizar um rol de atos
atentatórios aos direitos humanos contra o indivíduo, bem como respeitar o devido processo
legal e o estado de direito, sob pena de a extradição não ser efetivada. Ou seja, tanto a
extradição quanto a expulsão e a deportação não ocorrerão se poderá vir a colocar em risco a
vida ou a integridade da pessoa.
16
Ademais, ressalta-se que, segundo o art. 5º, LI, da Constituição Federal, nenhum
brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei.6
De acordo com as Súmulas nº 1 e nº 421, do STF, ter filho brasileiro ou ser casado
com brasileiro impede a expulsão, mas não impede a extradição.
Para que seja possível a expulsão de estrangeiro refugiado, antes, ele deve perder a
condição de refugiado.
6
Vide questões 2, 3 e 10.
17
Esse direito é inclusive garantido no art. XIV da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para isso, o Direito Internacional conta com dois instrumentos: o asilo e o refúgio
O asilo é a proteção dada por um Estado a uma pessoa que tenha sua vida, liberdade
ou dignidade ameaçadas por autoridades estatais; independe a pessoa ser nacional desse
Estado ou não. Como essa perseguição geralmente tem viés político, também pode ser
denominado de “asilo político”. Seu objeto é justamente a perseguição além da adequada em
um estado democrático de direito, então, o asilo não pode se basear em crimes comuns.
Não obstante, não será concedido asilo se o indivíduo tiver cometido crime de
genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos do
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (Decreto nº 4.388/2002).
Por sua vez, o refúgio, apesar de ser um instituto muito parecido com o do asilo,
possui certas peculiaridades que permitem que a doutrina os distinga. Os mecanismos para a
implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951 e para o processo de refúgio estão
previstos na Lei nº 9474/1997.
7
Vide questão 7.
18
Enquanto a concessão de asilo é ato discricionário, a concessão de refúgio será
obrigatória para o Estado para atender as exigências definidas em eventuais tratados. A
concessão do refúgio pode se fundamentar em perseguições por motivo de raça, religião,
grupo social e penúria (asilo é só política). Para o refúgio, não importa se o ato que levou à
perseguição tem natureza política ou comum (no asilo, importa).
19
QUADRO SINÓTICO
NACIONALIDADE BRASILEIRA
BRASILEIROS NATOS BRASILEIROS NATURALIZADOS
Nascidos no Brasil, mesmo que de pais Naturalização ordinária: aos originários de
estrangeiros, se estes não estiverem a serviço países de língua portuguesa se exige
de seu país (critério solo) residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral
Nascidos no exterior de pai OU mãe Naturalização extraordinária: para estrangeiro
brasileira, estando qualquer deles a serviço de qualquer nacionalidade, residente no Brasil
do Brasil (critério sangue) há mais de 15 anos ininterruptos e sem
condenação penal
Nascidos no estrangeiro de pai OU mãe Hipóteses de naturalização previstas na Lei de
brasileira, se registrados em repartição Migração: especial e provisória
brasileira competente ou vir a residir no
Brasil e optem, na maioridade, pela
nacionalidade brasileira (critério sangue)
20
DEPORTAÇÃO EXPULSÃO EXTRADIÇÃO
Retirada compulsória de Retirada compulsória de Retirada de estrangeiro para
estrangeiro irregular estrangeiro que cometeu um outro Estado, onde tenha
crime cometido um crime
Ato discricionário, de ofício, Ato discricionário, de ofício, Ato que depende de pedido
não praticado contra nacionais não aplicado contra nacionais de Estado estrangeiro, não
(vedação ao banimento) cabível contra brasileiro nato
ASILO REFÚGIO
Concessão: ato discricionário e soberano Concessão: dever do Estado no caso de
(sem regulação por tratados) tratado ou promessa de reciprocidade
Fundamento: perseguições de caráter Fundamento: perseguições de caráter político,
político racial, religioso, social, sexual etc.
21
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Carlos, brasileiro naturalizado, tendo renunciado à sua anterior nacionalidade, casou-se com
Tatiana, de nacionalidade alemã. Em razão do trabalho na iniciativa privada, Carlos foi
transferido para o Chile, indo residir lá com sua mulher. Em 15/07/2011, em território chileno,
nasceu a primeira filha do casal, Cláudia, que foi registrada na Repartição Consular do Brasil.
A teor das regras contidas na Constituição Brasileira de 1988, assinale qual a situação de
Cláudia quanto à sua nacionalidade.
A) Cláudia não pode ser considerada brasileira nata, em virtude de a nacionalidade brasileira
de seu pai ter sido adquirida de modo derivado e pelo fato de sua mãe ser estrangeira.
B) Cláudia é brasileira nata, pelo simples fato de o seu pai, brasileiro, ter se mudado por
motivo de trabalho.
C) Cláudia somente será brasileira nata se vier a residir no Brasil e fizer a opção pela
nacionalidade brasileira após atingir a maioridade.
D) Cláudia é brasileira nata, não constituindo óbice o fato de o seu pai ser brasileiro
naturalizado e sua mãe, estrangeira.
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois caso um dos pais seja brasileiro (nato ou
naturalizado), o seu descendente poderá ser brasileiro nato. A alternativa B está incorreta, pois
22
seu pai foi transferido por empresa privada, ou seja, ele não está a serviço da República
Federativa do Brasil. A alternativa C está incorreta, pois esses requisitos não são necessários;
ela já pode ser considerada brasileira nata. A alternativa D está correta, pois, neste caso, não
há óbice.
Questão 2
Jean Oliver, nascido em Paris, na França, naturalizou-se brasileiro no ano de 2003. Entretanto,
no ano de 2016, foi condenado, na França, por comprovado envolvimento com tráfico ilícito
de drogas (cocaína), no território francês, entre os anos de 2010 e 2014. Antes da condenação,
em 2015, Jean passou a residir no Brasil. A França, com quem o Brasil possui tratado de
extradição, requer a imediata extradição de Jean, a fim de que cumpra, naquele país, a pena
de oito anos à qual foi condenado. Apreensivo, Jean procura um advogado e o questiona
acerca da possibilidade de o Brasil extraditá-lo. O advogado, então, responde que, segundo o
sistema jurídico-constitucional brasileiro, a extradição:
A) não é possível, já que, a Constituição Federal, por não fazer distinção entre o brasileiro nato
e o brasileiro naturalizado, não pode autorizar tal procedimento.
B) não é possível, pois o Brasil não extradita seus cidadãos nacionais naturalizados, por crime
comum praticado após a oficialização do processo de naturalização.
D) é possível, pois a Constituição Federal autoriza que o Brasil extradite qualquer brasileiro
quando comprovado o seu envolvimento na prática de crime hediondo em outro país.
Comentário:
23
A alternativa A está incorreta, pois, em relação à extradição, a Constituição Federal confere
tratamento distinto a brasileiros natos e naturalizados, de modo que os primeiros não serão
extraditados, enquanto os últimos podem ser extraditados nas hipóteses previstas no seu art.
5º, inciso LI. A alternativa B está incorreta, pois, em se tratando de crime comum, a
Constituição Federal autoriza a extradição de brasileiros naturalizados apenas se o crime
houver sido praticado ANTES da naturalização. A alternativa C está correta, estando essa
hipótese prevista no art. 5º, LI, da Constituição Federal, sendo aplicável aos brasileiros
naturalizados. A alternativa D está incorreta, pois não se admite a extradição de brasileiro
nato, em qualquer hipótese.
Questão 3
Comentário:
A assertiva está incorreta, pois, na forma do art. 5º, inciso LI, da Constituição Federal,
brasileiros natos não podem ser extraditados em nenhuma hipótese.
Questão 4
24
C) os nascidos, no estrangeiro, de pai e mãe brasileiros, desde que ambos estejam a serviço
da República Federativa do Brasil.
D) os nascidos, no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a
residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, antes de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois, de acordo com o art. 12, I, “a”, da Constituição
Federal, eles não serão brasileiros. A alternativa B está correta, pois de acordo com o preceito
do art. 12, I, “c”, da Constituição Federal. A alternativa C está incorreta, pois, de acordo com o
art. 12, I, “b”, da Constituição Federal, basta que um dos pais esteja a serviço do Brasil. A
alternativa D está incorreta, pois, de acordo com o art. 12, I, “c”, da Constituição Federal, a
opção só pode ser feita após atingida a maioridade, não antes.
Questão 5
Comentário:
Toda a fundamentação das alternativas dessa questão será feita de acordo com o art.
12, § 4º, da Constituição Federal. A alternativa A está incorreta, pois há previsão da perda da
25
nacionalidade. A alternativa B está incorreta, pois tanto o nato quanto o naturalizado podem
perder a nacionalidade brasileira. A alternativa C está incorreta, pois a residência não influi na
perda da nacionalidade. A alternativa D está correta, por expressa previsão legal no art. 12, §
4º, II, “b”, da Constituição Federal.
Questão 6
Ano: 2009 Banca: CESPE Órgão: BACEN Prova: CESPE - 2009 - BACEN - Procurador
Com relação aos princípios gerais da nacionalidade no direito internacional, assinale a opção
correta:
A) É discricionário dos Estados privar alguém de sua nacionalidade.
B) A nacionalidade rege-se pelo princípio da efetividade.
C) A nacionalidade dá-se apenas pelo jus soli.
D) É permitido aplicar o banimento a indivíduo com comprovado envolvimento no tráfico de
drogas ilícitas.
E) Nacionalidade originária é aquela que se adquire por naturalização.
Comentário:
Questão 7
26
Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2018 - OAB - Exame de Ordem Unificado
- XXVI - Primeira Fase
Um ex-funcionário de uma agência de inteligência israelense está de passagem pelo Brasil e
toma conhecimento de que chegou ao Supremo Tribunal Federal um pedido de extradição
solicitado pelo governo de Israel, país com o qual o Brasil não possui tratado de extradição.
Receoso de ser preso, por estar respondendo em Israel por crime de extorsão, ele pula o
muro do consulado da Venezuela no Rio de Janeiro e solicita proteção diplomática a esse
país. Nesse caso,
A) pode pedir asilo diplomático e terá direito a salvo-conduto para o país que o acolheu.
B) é cabível o asilo territorial, porque o consulado é território do Estado estrangeiro.
C) não se pode pedir asilo, e o STF não autorizará a extradição, por ausência de tratado.
D) o asilo diplomático não pode ser concedido, pois não é cabível em consulado.
Comentário:
A assertiva A está incorreta; primeiro porque o asilo diplomático não pode ser
concedido, segundo porque não há direito ao salvo-conduto: o asilo diplomático não
pressupõe que o indivíduo receberá o territorial. A assertiva B está incorreta, pois não é
cabível o asilo territorial (ele não está na Venezuela). A assertiva C está incorreta, pois o STF
pode autorizar a extradição, independente da ausência de tratado, havendo apenas “promessa
de reciprocidade”. A assertiva D está correta, pois o asilo diplomático só é cabível em missões
diplomáticas, embarcações ou aeronaves oficiais e acampamentos militares.
Questão 8
Ano: 2007 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2007 - OAB - Exame de Ordem - 2 -
Primeira Fase
Acerca do direito internacional atinente a nacionalidade e a extradição, assinale a opção
correta.
A) Nacionalidade é o vínculo entre o indivíduo e a nação.
27
B) Considere que, durante uma viagem de navio, um casal de argentinos, que deixara seu país
rumo a um passeio pelo Caribe, tenha uma criança no momento em que o navio transite no
mar territorial brasileiro. Nessa situação, a criança terá nacionalidade brasileira.
C) A perda da nacionalidade brasileira somente poderá ocorrer caso haja aquisição de outra
nacionalidade por naturalização voluntária.
D) A extradição é um ato estatal que obriga o estrangeiro a sair do território nacional, ao qual
não poderá mais retornar.
Comentário:
Questão 9
Ano: 2010 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2010 - OAB - Exame de Ordem
Unificado - I - Primeira Fase
Acerca da condição jurídica dos estrangeiros e dos nacionais no direito brasileiro, assinale a
opção correta.
A) A CF dispõe expressamente sobre a possibilidade de expulsão do estrangeiro que praticar
atividade nociva à ordem pública e ao interesse nacional, salvo se estiverem presentes,
simultaneamente, os seguintes requisitos: cônjuge brasileiro e filho brasileiro dependente da
economia paterna.
B) O Brasil, por ter ratificado integralmente o Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal
Internacional, tem o compromisso de entregar ao tribunal os indivíduos contra os quais
tenham sido expedidos pedidos de detenção e entrega, mesmo que eles possuam,
originariamente, nacionalidade brasileira.
28
C) Os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há
mais de quinze anos ininterruptos são automaticamente considerados brasileiros naturalizados,
independentemente de qualquer outra condição ou exigência.
D) É vedada a extradição de nacionais, salvo em caso de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes, em terrorismo ou em crimes definidos, em lei, como hediondos.
Comentário:
A assertiva A está incorreta, pois não são requisitos simultâneos: basta um ou outro
para ser proibida a expulsão. A alternativa B está correta por exclusão, mas se destaca que é
uma polêmica doutrinária: apesar de ter ratificado o Estatuto, e de que entrega é diferente de
extradição, há previsão constitucional de que o brasileiro nato não seria extraditado em
nenhuma hipótese. A assertiva C está incorreta, pois a naturalização não é automática,
devendo ser requerida. A assertiva D está incorreta, pois o art. 5º, LI, da Constituição Federal
só fala em tráfico de entorpecentes; os demais crimes só poderiam ser objeto de extradição se
fossem cometidos antes da naturalização.
Questão 10
Ano: 2011 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2011 - OAB - Exame de Ordem Unificado
- III - Primeira Fase
Pierre de Oliveira nasceu na França, filho de pai brasileiro (que à época se encontrava em
viagem privada de estudos) e mãe francesa. Viveu até os 25 anos em Paris, onde se formou
em análise de sistemas e se pós-graduou em segurança de rede. Em 2007, Pierre foi
convidado por uma universidade brasileira para fazer parte de um projeto de pesquisa
destinado a desenvolver um sistema de segurança para uso de instituições financeiras. Embora
viajasse com frequência para a França, Pierre passou a residir no Brasil, optando, em 2008,
pela nacionalidade brasileira. No início de 2010, uma investigação conjunta entre as polícias
brasileira e francesa descobriu que Pierre fez parte, no passado, de uma quadrilha
internacional de hackers. Detido em São Paulo, ele confessou que, entre 2004 e 2005, quando
29
ainda vivia em Paris, invadiu mais de uma vez a rede de um grande banco francês, desviando
recursos para contas localizadas em paraísos fiscais.
Com relação ao caso hipotético acima, é correto afirmar que
A) se a França assim requerer, Pierre poderá ser extraditado, pois cometeu crime comum
sujeito à jurisdição francesa antes de optar pela nacionalidade brasileira.
B) a critério do Ministério da Justiça, Pierre poderá ser expulso do território nacional pelo
crime cometido no exterior antes do processo de aquisição da nacionalidade, a menos que
tenha filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa
economicamente.
C) Pierre poderá ser deportado para a França, a menos que peça asilo político.
D) Pierre não poderá ser extraditado, expulso ou deportado em qualquer hipótese.
Comentário:
A alternativa correta é a letra D. Pierre tinha nacionalidade francesa, pois nasceu na França e
nenhum de seus pais estava a serviço do Brasil (art. 12, I, "b", da Constituição Federal), mas
optou pela nacionalidade originária brasileira, quando atingida a maioridade (art. 12, I, "b", da
Constituição Federal). Portanto, sendo brasileiro originário, não poderá ser extraditado, expulso
ou deportado em qualquer hipótese (art. 5º, LI, da Constituição Federal). As demais
alternativas estão incorretas, por exclusão.
30
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - C
Questão 3 - Errada
Questão 4 - B
Questão 5 - D
Questão 6 - B
Questão 7 - D
Questão 8 - B
Questão 9 - B
Questão 10 - D
31
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Constituição Federal
Art. 4º, X
Art. 5º, caput, XXXI, LI, LII
Art. 12
Art. 1º, § 1º
Art. 3º
Art. 6º
Art. 12
Art. 27 a 29
Art. 50 a 53
Art. 54 a 60
Art. 65 a 70
Art. 81 a 99
Art. 12 a 22
Lei nº 818/1949
Art. 36
32
Súmulas do Supremo Tribunal Federal
Art. XIV
Art. XV, § 1º e 2º
33
JURISPRUDÊNCIA
DECISÃO 1. Cuida-se de agravo interposto por NORDIC TRUSTEE ASA contra decisão
que negou seguimento ao seu recurso especial, por sua vez manejado em face de
acórdão do eg. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado: HIPOTECA
MARÍTIMA Embarcação destinada à exploração de petróleo na costa brasileira Bandeira
liberiana, com hipoteca em favor da agravante, registrada sob a lei liberiana Bem que é
penhorado em execução movida por terceiro Credora hipotecária que pretende a
preferência sobre o produto da arrematação Reconhecimento da hipoteca estrangeira
no Brasil Impossibilidade Estado da Libéria que não é signatário de tratados e
convenções internacionais a esse respeito, a que o Brasil tenha aderido Costume
internacional nesse sentido não verificado: Inviável o reconhecimento da validade no
Brasil de hipoteca registrada sob as leis liberianas, incidente sobre embarcação de
bandeira liberiana, para o fim de garantir ao credor hipotecário a preferência sobre o
produto da alienação da embarcação, penhorada em execução ajuizada por outro
credor, uma vez que a Libéria não é signatária de tratados e convenções internacionais
a esse respeito a que o Brasil tenha aderido, e que não se verifica a existência de
costume internacional nesse sentido. (...) (STJ - AREsp: 1074507 SP 2017/0065899-5,
Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Publicação: DJ 27/09/2017).
34
É possível conceder extradição para brasileiro naturalizado envolvido em tráfico de
droga (art. 5º, LI, da CF/88). STF. 1a Turma. Ext 1244 / República Francesa, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 9/8/2016 (Info 834).
Segundo o art. 12, § 4º, I, da CF/88, após ter sido deferida a naturalização, seu
desfazimento só pode ocorrer mediante processo judicial, mesmo que o ato de
concessão da naturalização tenha sido embasado em premissas falsas (erro de fato). O
STF entendeu que os §§ 2º e 3º do art. 112 da Lei n. 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro)
não foram recepcionados pela CF/88. Plenário. RMS 27840/DF, rel. orig. Min. Ricardo
Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 7/2/2013.
35
A situação irregular do estrangeiro no País não é circunstância, por si só, capaz de
afastar o princípio da igualdade entre nacionais e estrangeiros, razão pela qual a
existência de processo ou mesmo decreto de expulsão em desfavor do estrangeiro não
impede a concessão dos benefícios da progressão de regime ou do livramento
condicional, tendo em vista que a expulsão poderá ocorrer, conforme o interesse
nacional, após o cumprimento da pena, ou mesmo antes disto. HC 324.231/SP, Rei.
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca. Quinta turma, julgado em 03/09/2015, DJe
10/09/2015. 2. Agravo regimental improvido. AgRg no HC 321.157/SP, Rel. Ministro Nefi
Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 05/04/2016, DJe 18/04/2016.
A expulsão de estrangeiro que ostente a condição de refugiado não pode ocorrer sem a
regular perda dessa condição. Assim, mesmo que o refugiado seja condenado com
trânsito em julgado pela prática de crime grave, antes de ele ser expulso deverá ser
instaurado devido processo legal, com contraditório e ampla defesa, para se decretar a
perda da condição de refugiado, nos termos do art. 39, III, da Lei no 9.474/97. Somente
após essa providência, ele poderá ser expulso. STJ. 1a Seção. HC 333902-DF, Rel. Min.
Humberto Martins, julgado em 14/10/2015 (Info 571).
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2002.
37
Capítulo 6
SUMÁRIO
2.1. Introdução........................................................................................................................................................ 9
GABARITO .......................................................................................................................................... 23
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 25
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 6
1.1.1. Introdução
controvérsias internacionais.
3
A responsabilidade internacional pode ser decorrência também de atos inicialmente
lícitos, mas que sejam condutas perigosas, ou seja, tenham potencial de causar danos a outros
sujeitos internacionais. 1
1
Vide questão 1.
2
Vide questão 3.
4
c) Teoria mista: quando for o caso de omissão, deve-se verificar a existência de culpa, na
modalidade negligência, para que a responsabilidade internacional seja configurada. Já
no caso de uma ação comissiva, basta haver um nexo causal entre a conduta e o dano.
pessoa natural ser responsabilizada diretamente por desrespeitar norma internacional, tanto
ato realizado por Estado, seus órgãos, seus funcionários ou particulares que realizem
atividades imputáveis ao ente) ou indireta (ato cometido por entes que o Estado represente
3
Vide questão 5.
4
Vide questão 2.
5
internacional, mas apenas reparar um prejuízo. Além disso, a maioria das regras acerca da
responsabilidade internacional tem natureza costumeira, ou seja, não codificada em tratados.
a) Ato ilícito: é a conduta que viola a norma de Direito Internacional, seja ela comissiva ou
omissiva. O mero dano a um interesse não configura a responsabilidade internacional,
devendo necessariamente haver a infração de norma internacional. Ademais, o fato de o
ato ser lícito no âmbito interno estatal não o exime de ter praticado um ato ilícito no
âmbito internacional, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Direito dos
Tratados (art. 27).5
b) Imputabilidade: necessidade de que o ato ilícito possa ser atribuído ao ente
responsável, ou seja, deve existir um vínculo entre a violação da norma e seu
responsável. Pode ser direta (consequência de ato realizado por Estado, seus órgãos,
seus funcionários ou particulares que realizem atividades imputáveis ao ente) ou
indireta (ato cometido por entes que o Estado represente internacionalmente, como
estados-membros ou municípios).
c) Dano: consiste no prejuízo decorrente do ato ilícito causado a outro sujeito de Direito
Internacional (Estado, organização internacional, indivíduo etc.). Ademais, a natureza do
dano pode ser material ou moral, mesmo que não tenha expressão econômica: pode
atingir a honra e a dignidade, um território, bens, dentre outros.
internacional.
5
Vide questão 4.
6
O primeiro excludente de responsabilidade é a legítima defesa, ou seja, a reação a um
ataque armado, seja ele real ou iminente. Em condições normais, o uso da força nas relações
excluirá a responsabilidade se o ato que, a priori, seria ilícito seja a única maneira de
salvaguardar esses interesses essenciais, contra um perigo grave e iminente.
Existem também as hipóteses de força maior, caso fortuito e perigo extremo (ou seja,
o perigo de vida de pessoas sob a guarda estatal), que também podem excluir ou atenuar a
responsabilidade.
Por fim, se o Estado tomar as medidas cabíveis na tentativa de evitar o dano, ele
pode ter sua responsabilidade excluída ou, ao menos, mitigada.
7
1.4. Proteção diplomática
A priori, importante ressaltar que a proteção diplomática não tem relação com o
instituto dos privilégios e imunidades diplomáticos.
uma pessoa natural, por um Estado de que não é nacional, havendo a possibilidade de o
Estado de que é nacional acolher a reclamação do indivíduo, pleiteando reparação para o
Estado infrator (ato chamado de endosso). A partir desse ponto, o Estado assume a demanda
do indivíduo como se fosse dele própria.
Assim, existem três requisitos para que seja concedida a proteção diplomática: a
8
2. Solução pacífica de controvérsias
2.1. Introdução
A controvérsia internacional consiste no litígio entre sujeitos internacionais (Estados
mecanismos que visam promover a composição dos litígios internacionais. São: voluntários
(em regra, só podem ser acionados com o consentimento das partes), preventivos e
9
2.2. Meios de solução de controvérsias
A obrigação de solucionar as controvérsias pela via pacífica é um dos princípios
fundamentais do Direito Internacional Público, na condição de norma imperativa.
O art. 33 da Carta da ONU prevê um rol não exaustivo dos meios de solução de
das partes envolvidas. Assim, outros mecanismos não são excluídos, desde que pacíficos,
como os bons ofícios (previsto pela OEA). Ressalta-se que não existe hierarquia entre os
meios, podendo ser livremente escolhidos pelas partes interessadas, podendo ser definidos
antes dos conflitos (em tratados) ou após. Inclusive, admite-se o emprego de mecanismos que
Os meios diplomáticos são aqueles que mantêm um diálogo entre as partes, em busca
das organizações internacionais, podendo ocorrer sem o consentimento de uma das partes
envolvidas, nos casos de controvérsias graves e de difícil solução.
6
Vide questões 8 e 9.
11
2.2.2. Meios semijudiciais: arbitragem
arbitragem. É um instituto cada vez mais usado em âmbito internacional, em vistas da sua
celeridade e maior atenção aos aspectos técnicos da controvérsia.
Sua jurisdição tem formação específica para o caso concreto (ad hoc), sendo composta
por árbitros de países diversos, escolhidos pelos litigantes, com parâmetro de atuação jurídico,
conhecimento técnico na matéria e poderes predeterminados na cláusula compromissória ou
surgimento da lide, também feito por meio de tratado que estipula suas condições.
Assim, os Estados não estão obrigados a se submeterem à arbitragem, mas iniciada, sua
decisão vinculará às partes, devendo ser cumprida de boa-fé, segundo o princípio pacta sunt
servanda. O documento que formaliza a decisão é o laudo arbitral, contra o qual não é cabível
recursos, em regra: é definitivo, mas não é executório. Exceção: o Mercosul permite o reexame
de laudo arbitral pelo Tribunal Permanente de Revisão.7
A maioria dessas cortes só pode atuar com o consentimento expresso dos Estados, que
pode ocorrer no momento da criação desses órgãos por tratados (onde se concorda em
submeter-se à jurisdição da corte) ou com atos internacionais quando do surgimento de
7
Vide questão 6 e 10.
12
conflitos específicos, com a aceitação da competência contenciosa da corte. Assim, as partes
têm a obrigação de cumprir o que for decidido na sentença.
jurisdição de Tribunal Penal Internacional, mas ainda não se manifestou acerca da cláusula
facultativa de jurisdição obrigatória da Corte Internacional de Justiça.8
Os meios coercitivos têm cada vez menos prestígio no âmbito do Direito Internacional,
pois se prioriza a composição pacífica dos litígios. Eles visam, inicialmente, solucionar os
conflitos quando fracassam os demais meios, mas, na prática, ele é usado de acordo com os
8
Vide questão 7.
13
QUADRO SINÓTICO
14
MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS
15
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
conta de condutas perigosas, têm potencial de causar danos a outros sujeitos internacionais,
podendo deles decorrer a responsabilidade internacional.
Questão 2
Comentário:
A assertiva está incorreta, pois, como visto, a obrigação de reparar o dano ou indenizar
o prejuízo é do Estado. Por sua vez, o ente estatal pode (tem a faculdade, não é obrigação
Questão 3
16
AGU – 2004
O regime jurídico preponderante no sistema internacional de responsabilidade por
Comentário:
internacional objetiva não considera o dolo, a culpa ou qualquer outro motivo pelo qual o
sujeito interacional violou a norma. Para ela, basta que se configure o nexo causal entre o ato
Questão 4
AGU – 2004
O Estado não pode eximir-se de sua responsabilidade internacional pela violação de
obrigações relacionadas com a proteção do direito à vida e à pessoal por motivos de ordem
Comentário:
A assertiva está correta, pois, de acordo com o art. 27 da Convenção de Viena sobre
Direito dos Tratados, “uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para
justificar o inadimplemento de um tratado”. Ou seja, o fato de o ato ser lícito no âmbito
interno estatal não o exime se, praticado no âmbito internacional ele for ilícito, de
responsabilidade internacional.
Questão 5
Ano: 2007 - Banca: ESAF Órgão: PGFN Prova: ESAF - 2007 - PGFN - Procurador da
Fazenda Nacional
17
A respeito de responsabilidade internacional, considere as asserções abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta.
II. Uma lei de um dos Estados da federação não pode dar ensejo à responsabilidade
internacional do Brasil porque, no âmbito nacional, os compromissos são assumidos pela
União Federal.
III. A responsabilidade internacional do Estado deve ter sempre por base uma ação. Uma
omissão não pode dar ensejo à responsabilização do Estado no plano internacional.
Comentário:
cometido por entes que o Estado represente internacionalmente, inclusive seus Poderes). A
assertiva II está incorreta, pois quem assume os compromissos internacionais é a República
Federativa do Brasil (representada pela União), e esta não pode invocar normas internas para
se isentar de responsabilidades por obrigações assumidas. A assertiva III está incorreta, pois
pode haver responsabilização tanto por ação quanto por omissão. A assertiva IV está incorreta,
18
Questão 6
arbitragem.
C) proferida a sentença arbitral, esta tem efeito “erga omnes”, e é sempre definitiva, e sua
execução, após julgamento dos recursos, deverá ser processada perante a Corte Permanente
de Arbitragem.
Comentário:
controvérsias, e a arbitragem não precisa ocorrer dentro da citada Corte. A alternativa B está
incorreta, pois nem sempre o árbitro é membro permanente do foro, nem sempre a
arbitragem será fundada em tratado. A alternativa C está incorreta, pois a citada Corte não é
órgão executor de sentenças. A alternativa D está correta, ressaltando-se que há exceções
Questão 7
Ano: 2006 Banca: FCC Órgão: BACEN Prova: FCC - 2006 - BACEN - Procurador - Prova 1
19
B) uma vez aceita pelo Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdição da Corte em todos os
conflitos internacionais que envolvam aquele Estado, verificada a reciprocidade.
C) uma vez aceita pelo Estado-parte no Estatuto, garante a jurisdição da Corte em todos os
conflitos internacionais que envolvam aquele Estado, independentemente de reciprocidade.
Comentário:
se submeter à jurisdição da Corte Internacional de Justiça, ainda que contra sua vontade.
Ademais, todos os Estados-membros da Corte são parte de seu Estatuto.
Questão 8
denominado:
A) mediação.
B) conciliação.
C) bons ofícios.
D) inquérito.
E) troca de notas.
Comentário:
modalidade de tratado.
20
Questão 9
Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado
B) Os bons ofícios caracterizam-se pela oferta espontânea de um terceiro que colabora com a
solução de controvérsias podendo ser um Estado, um organismo internacional ou uma
autoridade.
C) A mediação caracteriza-se pelo envolvimento de um terceiro, que somente pode ser pessoa
natural.
D) A conciliação é muito semelhante à mediação. Entretanto, caracteriza-se pela possibilidade
de atuar como mediador pessoa natural, Estado ou organismo internacional.
Comentário:
incorreta, pois o terceiro na mediação não precisa ser apenas uma pessoa natural, podendo
também ser um Estado ou uma organização internacional. A assertiva D está incorreta, pois
descreve a mediação, enquanto a conciliação é realizada por um órgão conciliador que
emitem opiniões valorativas e formularem sugestões aos sujeitos litigantes, embora não sejam
obrigados a aceitarem a solução proposta.
Questão 10
21
Ano: 2013 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2013 - OAB - Exame de Ordem Unificado
- XI - Primeira Fase
D) Apenas os Estados que fazem parte da ONU e ratificaram o Estatuto da Corte Internacional
de Justiça (CIJ) podem apresentar seus contenciosos à mesma.
Comentário:
recurso, as decisões proferidas pelos tribunais arbitrais ad hoc (duplo grau de jurisdição para
solução de controvérsias no Mercosul), estando o recurso limitado a questões de direito
jurisdição obrigatória.
22
GABARITO
Questão 1 - Errada
Questão 2 - Errada
Questão 3 - Correta
Questão 4 - Correta
Questão 5 - A
Questão 6 - D
Questão 7 - C
Questão 8 - C
Questão 9 - B
Questão 10 - A
23
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Constituição Federal
Art. 5º, § 4º
Art. 27
Carta da ONU
Art. 33
Art. 41 e 42
Art. 51
Art. 96
24
JURISPRUDÊNCIA
causas trabalhistas, conforme afirmado pelo Plenário desta Corte no julgamento dos
RREE 578.543/MT e 597.368/MT, redator para o acórdão Ministro Teori Zavasck. [...].
Cumpre ressaltar que, no voto proferido nos autos dos precedentes supra mencionados,
consignei que os organismos internacionais são criados mediante tratados. A imunidade
de jurisdição e de execução não é atributo inerente a essas pessoas jurídicas de direito
quadro das Nações Unidas. Anotei, por fim, que os contratados pela ONU/PNUD
firmam contrato de prestação de serviço de natureza especial, regulado pelo
Decreto nº 27.584, onde há previsão de que eventuais conflitos sejam solucionados
por arbitragem. [...]. (STF – RE: 607211 DF, Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento:
15/05/2014, Data de Publicação: DJe-095 DIVULG 19/05/2014 PUBLIC 20/05/2014).
25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2002.
26
Capítulo 7
SUMÁRIO
GABARITO .......................................................................................................................................... 21
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................................... 23
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 7
Existem espaços geográficos que possuem grande importância para todos os Estados e
para a humanidade como um todo. Esses espaços são chamados de domínio público
internacional, pois incluem lugares que não estão sob a soberania de nenhum Estado ou que
são objeto de interesse internacional, mesmo que pertençam a um país específico. São esses
espaços: o mar (incluindo-se águas internas e rios internacionais), o espaço aéreo e extra-
Assim, qualquer espaço internacional pode ser usado por todos, desde que para fins
pacíficos. A utilização desses locais exige a cooperação internacional, sendo objeto de
As Zonas Polares são o Ártico (Polo Norte) e a Antártida (Polo Sul). O Polo Norte é um
grande oceano congelado, utilizado como corredor aéreo alternativo, uma área de livre
trânsito (alto mar). Não há regulamentação específica para a região, seguindo as normas
região continental.1
1
Vide questão 10.
3
Por sua vez, a Antártida é um continente congelado, usada para exploração científica
com fins pacíficos, sendo o único espaço terrestre internacionalizado. A necessidade de
regulamentação específica sobre a área (para impedir disputas pela região) levou à formulação
do Tratado da Antártida (1959), aderido pelo Brasil através do Decreto nº 75.963/1975, o
qual estipula que a área seja utilizada sempre para fins pacíficos e a importância das pesquisas
científicas, com a preservação dos recursos naturais, para o progresso da humanidade.
marítimo e aéreo, caça e pesca, recursos minerais, aspecto estratégico, dentre outros
interesses. Por isso, o referido Tratado só permite o estabelecimento de pessoal e
equipamento militar na área se for para fins pacíficos ou de pesquisa científica. Ademais, são
Muitos Estados mantêm reivindicações territoriais quanto ao Polo Sul, mas, enquanto o
Tratado da Antártida estiver em vigor, são proibidas novas reivindicações ou ampliações de
reivindicações existentes.
4
2. Direito do Mar, rios internacionais e águas interiores
O dispositivo que rege sobre o direito do mar é a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar de Montego Bay em 1982 (Decreto nº 1.530/1995), com o Tribunal
Internacional Marítimo em Hamburgo. Ademais, o Brasil também tem a Lei nº 8.617/1993
relativas aos padrões ambientais, assim como o cumprimento dos dispositivos que
regulamentam a poluição do meio ambiente marinho, promovendo a utilização equitativa e
eficiente dos recursos naturais, bem como sua proteção, preservação e fiscalização.
aos Estados costeiros a exploração econômica exclusiva numa aérea de 200 milhas marítimas.
O domínio estatal é exercido nas águas interiores (rios, lagos, baías, canais, mares
interiores), no mar territorial e na zona contígua. A partir das 12 milhas náuticas, há uma
relativização da soberania estatal; não se admite direito de passagem inocente (sem objetivos
além de navegar, sem escalas) dentro das águas interiores, só após da linha de base. No mar
territorial, mesmo que seja navio de guerra, não precisa de autorização estatal. Nas águas
interiores, precisa de autorização estatal.
2
Vide questão 3.
5
2.1. Águas Interiores, Mar Territorial e Zona Contígua
As águas interiores estão situadas no interior da linha de base do mar territorial. Nelas,
o Estado costeiro exerce sua soberania de forma plena, sem estar sujeito a qualquer limitação
da ordem jurídica internacional. Nesse sentido, elas abrangem também as águas doces dos
rios, lagos e poços existentes no território do país. Não se reconhece o direito de passagem
e os interesses econômicos nacionais. Em regra, a jurisdição penal do Estado costeiro não será
exercida a bordo do navio estrangeiro.
A zona contígua está após o mar territorial, com 12 milhas marítimas de extensão a
partir dele (24 milhas da linha de base). O Estado costeiro pode fiscalizar, defender, prevenir
ou punir infrações, conservar e explorar. Pertence ao alto mar. Seu regime é essencialmente o
de liberdade em alto mar, permitindo ao Estado alguns poderes de mera jurisdição.
A Zona Econômica Exclusiva tem extensão de 200 milhas marítimas contadas da linha
de base do mar territorial. Abrange a produção de energia da água, das correntes e dos
ventos, além de abranger jurisdição para o estabelecimento e a utilização de ilhas artificiais,
internacionalmente permitidos.3
3
Vide questão 5, 6 e 9.
6
2.3. Plataforma Continental e Fundos Marinhos
De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, a Plataforma
Continental engloba o leito e o subsolo das áreas submarinas para além do mar territorial do
Estado, pela extensão do prolongamento natural do território terrestre estatal, até ao bordo
exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de
base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo
exterior da margem continental não atinja essa distância.4
aproveitamento dos recursos naturais; outros Estados também podem fazê-lo, mas desde que
com o consentimento explícito do Estado costeiro, pois seus direitos à Plataforma Continental
Já os Fundos Marinhos são áreas que não pertencem a nenhum Estado (são patrimônio
comum da humanidade), pois compreendem as áreas subaquáticas, o leito e o subsolo das
águas internacionais. Sua exploração deve ser realizada considerando o benefício geral.
Os Rios Internacionais são aqueles que banham mais de um Estado, podendo ser
sucessivos (passam consecutivamente por Estados) ou contíguos (são limítrofes, separando
territórios). Não existe um tratado geral sobre a matéria, por isso, a regulamentação é feita
caso a caso. O Brasil faz parte dos seguintes tratados sobre a matéria: Tratado da Bacia do
Prata de 1969 (Decreto nº 67.084/1970) e Tratado de Cooperação Amazônica de 1978
(Decreto nº 85.050/1980).5
2.5. Alto-mar
parte do mar sobre a qual não existe nenhum poder soberano estatal, estando aberto a todos
4
Vide questão 1.
5
Vide questão 8.
7
os Estados, sempre com fins pacíficos, para navegar, realizar pesquisa científica e exercer
outras atividades lícitas. Existem também deveres: prestar assistência, impedir e punir o
8
3. Espaço aéreo e extra-atmosférico
O espaço aéreo compreende o espaço acima da área terrestre e do mar territorial (até
12 milhas náuticas) do Estado, bem como o espaço acima de áreas em que ele exerce sua
ultrapassar o espaço aéreo do país, informando de onde está vindo, para onde vai e o que
está sendo transportado, ainda que sobre o mar territorial.
O Estado exerce soberania sobre seu espaço aéreo de modo exclusivo e absoluto,
possuindo todos os direitos de soberania sobre o espaço aéreo acima de seu território
especifico e de seu mar territorial. Os Estados devem considerar a segurança de voo como um
dos princípios mais valiosos. No espaço aéreo internacional (acima das águas internacionais e
das zonas polares), é livre a navegação aérea, não incidindo nenhuma soberania. Liberdades
de uso comum para fins pacíficos, com cooperação internacional, revertendo benefícios para
toda a humanidade. A matéria é regulamentada pelo Tratado sobre Princípios Reguladores
das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, Inclusive a Lua e
questão do lixo aeroespacial (o satélite é lançado, mas não se consegue trazê-lo de volta).
6
Vide questão 7.
9
3.1. Situação jurídica das aeronaves e das embarcações
a) Brasileiras públicas (ou a serviço oficial do Brasil): aplica-se lei brasileira é aplicada
independente de onde esteja; princípio da extraterritorialidade.
b) Brasileiras privadas (ou pública com fins comerciais): aplica-se lei brasileira se estiver
em território brasileiro ou em águas ou espaço aéreo internacionais; estando em águas
estrangeiras, em regra, aplica-se a lei do respectivo Estado costeiro.
c) Estrangeiras públicas (ou a serviço oficial do governo estrangeiro): a lei estrangeira é
aplicada independente de onde esteja (princípio da intraterritorialidade), não lhes sendo
aplicada a lei brasileira mesmo se em águas nacionais (costume internacional).
d) Estrangeiras privadas: se estiverem no território brasileiro, aplica-se a lei brasileira; se
estiverem em seu espaço ou em espaço internacional, aplica-se a lei de origem do
país.7
Destaca-se que o espaço internacional é neutro, por isso, aplica-se a lei da bandeira da
embarcação ou aeronave.
Ademais, importante ressaltar que, de acordo com o art. 109, IX, da Constituição
Federal, compete ao Juízo Federal processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios
ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar. 8
7
Vide questão 4.
8
Vide questão 2.
10
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo
ou embarcações brasileiras privadas no exterior, mas que não são julgados nesse outro país,
na forma do art. 7º, II, “c”, do Código Penal.
11
QUADRO SINÓTICO
12
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Segundo a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar, o Brasil pode explorar os
Comentário:
A alternativa correta é a letra C. Segundo o art. 76, § 1º, da Convenção das Nações
por toda a extensão do prolongamento natural do território terrestre estatal, até ao bordo
exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de
base a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo
exterior da margem continental não atinja essa distância. Por isso, as demais estão erradas.
Questão 2
Comentário:
competência não será do Juízo Federal, de acordo com o art. 109, IX, da Constituição Federal.
Assertiva errada.
Questão 3
Ano: 2008 Banca: CESPE Órgão: OAB Prova: CESPE - 2008 - OAB - Exame de Ordem - 3 -
Primeira Fase
opção incorreta.
territorial.
B) Em sua zona econômica exclusiva, o Brasil tem o direito exclusivo de regular a investigação
científica marinha.
D) O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de duzentas milhas marítimas de largura,
Comentário:
Nações Unidas sobre Direito do Mar. No entanto, a alternativa D está incorreta, sendo o
gabarito, pois está em desconformidade com a referida Convenção e também com a Lei
14
8.617/1993, que revogou o antigo entendimento, reduzindo o mar territorial brasileiro de 200
para 12 milhas marítimas.
Questão 4
A) do juiz brasileiro;
D) da nacionalidade do navio.
Comentário:
A alternativa correta é a letra A, pois a Convenção das Nações Unidas sobre Direito do
Mar faculta ao Estado estabelecer sua jurisdição penal em hipóteses específicas. No caso,
Questão 5
Ano: 2017 Banca: PGR Órgão: PGR Prova: PGR - 2017 - PGR - Procurador da República
I - A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar reconhece, na zona econômica
exclusiva, os direitos do estado costeiro para exploração e aproveitamento, conservação e
gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do
15
leito do mar e seu subsolo, bem como sua jurisdição no tocante à colocação e utilização de
ilhas artificiais.
II - O Estado costeiro, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do
Mar, possui o direito de perseguição que só poderá ter início de execução quando o navio
infrator estiver nas águas internas, no mar territorial ou na zona contígua, podendo continuar
e terminar no mar territorial de terceiro estado desde que a perseguição tenha sido contínua
e não tiver sido interrompida.
III - De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em caso de
abalroamento entre navios mercantes em alto mar, a jurisdição penal pode ser exercida pelo
Estado da bandeira de qualquer um dos navios envolvidos ou ainda por Estado terceiro em
IV - De acordo com a Convenção sobre infrações e certos outros atos praticados a bordo de
aeronaves, o Estado contratante que não for o da matrícula da aeronave pode exercer sua
jurisdição penal em relação a infração cometida a bordo, caso tal exercício de jurisdição seja
necessário para cumprir obrigações internacionais multilaterais.
A) I e IV
B) I, III e IV
D) II e III
Comentário:
assertiva II está incorreta, pois a perseguição não pode continuar no mar territorial do seu
próprio Estado ou de Estado terceiro, devendo ser cessada. A assertiva III está incorreta, pois
os procedimentos penais e disciplinares contra essas pessoas só podem ser iniciados perante
as autoridades judiciais ou administrativas do Estado de bandeira ou perante as do Estado do
qual essas pessoas sejam nacionais. A assertiva IV está correta, em conformidade com a
Ano: 2016 Banca: FGV Órgão: CODEBA Prova: FGV - 2016 - CODEBA - Técnico Portuário -
Manutenção e Obras
De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, os países costeiros
têm direito a declarar uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE), é delimitada por uma linha
imaginária situada a
Comentário:
A alternativa incorreta é a letra C, pois, de acordo com a Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar de Montego Bay e a Lei nº 8.617/1993, a Zona Econômica Exclusiva
tem extensão de 200 milhas marítimas contadas da linha de base do mar territorial brasileira.
Questão 7
Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2011 - TRF - 1ª REGIÃO -
Juiz Federal
A) Nos termos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, os Estados sem
litoral devem ter direito reconhecido de participar do aproveitamento do excedente dos
17
recursos vivos das zonas econômicas exclusivas dos Estados costeiros da mesma região,
independentemente de acordos.
B) O Estado costeiro tem o direito de aplicar as suas leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de
C) Conforme a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, a soberania do Estado
costeiro sobre o mar territorial estende-se ao espaço aéreo sobrejacente a este, bem como ao
D) Os Estados exercem soberania sobre suas águas interiores, ainda que estejam obrigados a
assegurar o direito de passagem inocente em favor dos navios mercantes, mas não dos navios
de guerra.
desses direitos em qualquer de suas formas autoriza outros Estados ao seu exercício, ainda
que sem consentimento expresso.
Comentário:
inocente é a navegação pelo mar territorial com o fim de atravessá-lo, mas sem penetrar nas
águas interiores. A alternativa E está incorreta, pois, mesmo que não haja a exploração pelo
Questão 8
Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TRF - 5ª REGIÃO Prova: CESPE - 2011 - TRF - 5ª REGIÃO -
Juiz Federal
18
O domínio público internacional refere-se a espaços de interesse geral pertencentes a todas as
nações. A respeito desse assunto, assinale a opção correta com base nos tratados e
convenções pertinentes.
B) A Antártica é considerada domínio público internacional cujo uso deve destinar-se a fins
científicos e militares.
nenhum país.
E) Os rios internacionais, como, por exemplo, o Danúbio, na Europa, podem ser considerados
de domínio público internacional.
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois, como visto, o espaço aéreo é sim um domínio
público internacional. A alternativa B está incorreta, pois os fins da Antártica devem ser
sempre pacíficos, só sendo permitidas bases militares com o objetivo de pesquisa científica. A
alternativa C está incorreta, pois o domínio público internacional é o conjunto dos espaços
cujo uso interessa à sociedade internacional como um todo, mesmo que tais espaços estejam
e Uso do Espaço Cósmico, Inclusive a Lua e Demais Corpos Celestes. A alternativa E está
correta, pois o princípio que regula os rios internacionais é o da soberania dos Estados sobre
os trechos que correm dentro de seus respectivos limites.
Questão 9
19
Ao realizar um cruzeiro turístico, uma embarcação de pavilhão do Estado A parou em área
situada na zona econômica exclusiva do Estado B e lá permaneceu. Após dez dias, autoridades
do Estado B apreenderam a embarcação sob a alegação de que esta deveria ter informado
que permaneceria parada naquela área, sendo a ausência de informação motivo para suspeitar
Comentário:
Na sua Zona Econômica Exclusiva, o Estado pode exercer jurisdição, tendo soberania,
Questão 10
Comentário:
A assertiva está correta, pois o Polo Norte é um grande oceano congelado, utilizado
20
GABARITO
Questão 1 - C
Questão 2 - Errada
Questão 3 - D
Questão 4 - A
Questão 5 - A
Questão 6 - C
Questão 7 - C
Questão 8 - E
Questão 9 - B
Questão 10 - Correta
21
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Constituição Federal
Art. 109, IX
Código Penal
Art. 5º
Art. 7º, II, “c”
Art. 76, § 1º
22
JURISPRUDÊNCIA
Dentro dessas duas faixas de mar o Brasil exerce poderes sob limitações impostas
pela Convenção de Montego Bay. V – Pautado na convenção, na Lei n. 8.617/93, e
nos incisos III, IV, e V do art. 109 da CRFB/88, o crime ambiental cometido na zona
econômica exclusiva atrai a competência da Justiça Federal. Porém, essa atração
não altera a natureza jurídica da zona econômica exclusiva nem da plataforma
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2002.
24
CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 8
CAPÍTULOS
1
SUMÁRIO
QUESTÕES COMENTADAS.................................................................................................................................. 15
GABARITO ................................................................................................................................................................... 22
JURISPRUDÊNCIA....................................................................................................................................................... 24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................ 26
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 8
jurídicos entre pessoas que domiciliam em Estados diferentes, dentre outras hipóteses.
A regra geral é que o Direito interno de cada Estado regule as relações que ocorrem no
âmbito de seu território, e resolvam eventuais conflitos delas decorrentes. Os Estados possuem
normas jurídicas específicas para regular essas situações de conflito, conferindo segurança
jurídica ao desenvolvimento das relações internacionais privadas. Contudo, quando tais
relações privadas tem contexto internacional, pode existir conflito acerca de qual norma
aplicar, de qual ordenamento jurídico interno.
Desse modo, surge o Direito Internacional Privado (Conflict of laws, para o direito
anglo-saxão), o ramo do Direito que regula os conflitos de leis no espaço quanto as relações
de caráter privado com conexão internacional, indicando qual norma jurídica nacional deverá
ser aplicada àquele caso concreto. Por esse motivo, as normas de Direito Internacional Privado
são meramente indicativas (normas de sobredireito), pois só apontam qual o preceito jurídico
que deve ser aplicado ao caso concreto, seja ele estrangeiro, nacional ou internacional.
3
O Direito Internacional Privado pode ser considerado uma exceção ao princípio da
territorialidade, pelo qual, dentro do território de um Estado, aplicam-se suas leis, decorrência
direta da soberania estatal. Assim, o legislador, no exercício do poder soberano estatal, dispõe
de situações em que podem ser aplicadas normas estrangeiras dentro do território pátrio.
Ademais, a norma a ser aplicada no caso concreto deve vir da ordem jurídica do país
com a qual a relação privada internacional tenha maior conexão. É preciso avaliar, justamente,
jurídica) ou de uma situação com outro Estado ou ordem jurídica. Assim, cada Estado
determina seus “elementos de conexão” a serem aplicados em seu território, ou seja, cada
relações privadas com contexto internacional, sobre as quais incidiria mais de uma ordem
jurídica, disciplinando os conflitos de leis no espaço.
No entanto, ressalta-se que existem matérias que podem ser reguladas tanto pelo
Direito Internacional Privado quanto pelo Público, como aquelas relacionadas ao comércio
internacional.
do Direito Internacional Público, geralmente decorrem das próprias normas dos direitos
4
internos, fixadas pelos Estados e estabelecendo quais normas serão aplicadas em caso de
conflito. Desse modo, o controle de legalidade no Direito Internacional Privado ocorre não no
Internacional Privado são indicativas, ou seja, indicam que normas devem ser aplicadas no
caso concreto de um conflito de leis no espaço, seja interna, estrangeira ou internacional.
adquiridos no exterior.
Mais especificamente, é o ramo do Direito que tem como objeto disciplinar as soluções
para conflitos de leis no espaço, estabelecendo que ordenamento jurídico deve ser aplicado
no caso concreto que envolva relações privadas com conexão internacional. Seu objeto não é
regular o conflito, mas indicar qual norma deve ser aplicada.
Privado serão aplicadas em seus territórios, geralmente por meio de tratados. É assim que as
fontes do Direito Internacional Público passam a poder regular relações de Direito
Internacional Privado.
Desse modo, são consideradas fontes: leis, tratados, costumes, jurisprudência, doutrina,
princípios gerais do Direito, princípios gerais do Direito Internacional Privado, atos de
5
Assim, o que foi disposto sobre esse tema no capítulo acerca das fontes do Direito
Internacional Público também se aplica ao Direito Internacional Privado. Importante ressaltar,
a) Leis: são consideradas a fonte primária do Direito Internacional Privado, devendo ser
aplicada anteriormente às demais fontes. No Brasil, a principal lei sobre a matéria é a
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Lei nº 4.657/1942, com
redação dada pela Lei nº 12.376/2010), além do Código de Processo Civil.
b) Tratados: que sejam referentes a temas de Direito Internacional Privado, a fim de
uniformizar o tratamento de questões e conferir maior segurança jurídica às relações
privadas internacionais. Sobre a matéria, apesar de não ser muito aplicado e de ter
alguns preceitos derrogados por tratados ou leis mais novos, está em vigor no Brasil o
Código Bustamante de 1928 (Decreto nº 18.871/1929).
6
2. Aplicação da lei no espaço
como visto, o objeto do Direito Internacional Privado: indicar a norma que corretamente deve
ser aplicada para solucionar o conflito, de acordo com os “elementos de conexão”. Isso ocorre
uma norma meramente indicativa, não apresenta a conduta a ser seguida, apenas o
dispositivo, pois este indicará a conduta.
7
matéria; são exemplos de elementos: domicílio, nacionalidade, autonomia da vontade, dentre
outros que serão posteriormente estudados. Já o objeto de conexão consiste na descrição da
qualificador, informando o modo como a norma deve ser interpretada e aplicada, além de
preceitos que podem proibir sua execução.
para solucionar o conflito de lei no espaço que envolva um determinado objeto de conexão,
que é um tema de interesse jurídico.
Os elementos de conexão são, em regra, fixados pela lex fori, ou seja, pela lei do
Estado, mas podem também ser definidos pela autonomia da vontade e por tratados, quando
a lex fori permitir. Ressalta-se que pode haver mais de um elemento de conexão para o
8
e) Lex fori: é aplicável a lei do lugar do foro, a norma do lugar onde ocorre a relação
jurídica, em vigor na legislação interna do Estado. É a regra referente à aplicação do
Direito Internacional Privado e também quando o direito estrangeiro não for aplicado.
f) Local onde o ato ilícito foi cometido (elemento lex loci delicti comissi): aplicável em
questões relativas a poluição ambiental, concorrência desleal, dentre outras.
g) Local de celebração e/ou de execução de contrato ou obrigação (elemento lex loci
executionis/lex loci solutionis): prevista no art. 12 da LINDB.
h) Local de constituição da obrigação (elemento locus regit actum/lex loci contractus ):
diferentemente do anterior, consiste na aplicação da norma do local onde a obrigação
foi constituída, não onde ela deve ser executada. EX: art. 9º, caput, e art. 11 da
LINDB.1
i) Autonomia da vontade das partes (elemento lex voluntatis): se permitido pela lei do
Estado ou pelas normas de um tratado vigente, as partes podem escolher o direito
nacional aplicável a uma determinada relação privada com conexão internacional, desde
que também não viole a ordem pública ou os compromissos internacionais do Estado.
norma indicada pela lex fori, seja ela uma norma nacional ou estrangeira. No entanto, existem
outros institutos que devem ser estudados, pois eles podem determinar a forma pela qual a
1
Vide questão 4 e 10.
9
c) Reenvio: ocorre quando as normas de Direito Internacional Privado de um Estado
remetem às normas jurídicas de um terceiro Estado. Não é permitido no Brasil (art. 16
da LINDB).2
d) Direito adquirido: o direito adquirido no âmbito de um Estado acompanha a pessoa
em outro Estado, devendo ser reconhecido. Porém, não será permitido se ofender a
ordem pública do outro Estado.
prisma do direito interno, residência com animus definitivo. Entretanto, nos casos em que a
pessoa não tenha domicílio ou este seja desconhecido, deve-se aplicar a lei do país onde o
indivíduo tenha residência ou, por fim, do local onde a pessoa se encontre.
Contudo, caso a lei nacional do de cujus seja mais favorável, o inventário será feito no
exterior e a sentença deverá ser homologada no Brasil para que produza efeitos. Por esta
razão, no caso do inventário processado no Brasil, a regra traz consigo uma exceção, a qual
dispõe que deve prevalecer lei mais benéfica ao cônjuge e aos descendentes de nacionalidade
2
Vide questão 3.
10
Outra norma importante dispõe que “a lei do país em que domiciliada a pessoa
determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os
direitos de família” (art. 7º, caput, da LINDB), enquanto que “para qualificar os bens e regular
as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados” (art. 8º,
e § 1º, da LINDB). No entanto, ressalta-se que governos estrangeiros, bem como suas
organizações, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação,
somente podendo adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes
diplomáticos ou dos agentes consulares (art. 11º, § 2º e 3º, da LINDB).
estabelece que ela será competente: quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de
ser cumprida a obrigação (caput), para conhecer das ações relativas a imóveis situados no
Brasil (§ 1º) e para cumprir as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente,
observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências, concedido o exequatur (§ 2º).
Preceitua o art. 13 da LINDB que a prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-
se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os
tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça; ou seja, o ônus da prova e sua
produção são regidos pela norma do local onde ocorreu o fato que se deseja provar. No
entanto, no caso de não conhecer a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca
11
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal. (Vide art. 105, I, “i” da
Constituição Federal).
aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer
remissão por ela feita a outra lei.
Por sua vez, o art. 18 da LINDB trata da competência das autoridades consulares
brasileiras para celebrar o casamento e os demais atos de Registro Civil e de tabelionato para
brasileiros, inclusive o registro de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro nascidos no
advogado.
Por fim, o art. 19 da LINDB dá validade a todos os atos indicados no artigo anterior e
celebrados pelos cônsules brasileiros na vigência do Decreto-lei nº 4.657, de 1942, desde que
12
QUADRO SINÓTICO
ELEMENTOS DE CONEXÃO
NACIONALIDADE Em caso de conflito, aplica-se a norma do Estado da nacionalidade
de uma das partes
DOMICÍLIO Em caso de conflito, aplica-se a norma do domicílio de uma das
partes
RESIDÊNCIA Se a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar
de sua residência
LEX FORI Em caso de conflito, aplica-se a norma do Estado onde ocorre a
relação jurídica
LOCALIZAÇÃO DO Em caso de conflito, aplica-se a norma do lugar onde está situada a
BEM coisa (princípio da territorialidade)
LOCAL DO ATO Em caso de conflito, aplica-se a norma do lugar onde o ilícito foi
ILÍCITO cometido
13
LOCAL DE Em caso de conflito, aplica-se a norma do lugar onde a obrigação foi
CONSTITUIÇÃO DA constituída ou contraída
OBRIGAÇÃO
AUTONOMIA DA As próprias partes definem o Direito aplicável a uma determinada
VONTADE relação privada com contexto internacional, dependente da permissão
do ordenamento jurídico do Estado e de eventuais tratados
realizados
14
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
O juiz brasileiro pode, diante de um caso concreto, aplicar, de ofício, a lei estrangeira.
Comentário:
A assertiva está correta, pois, uma vez permitido pelo legislador pátrio em exercício do
poder soberano estatal, todas as autoridades competentes (inclusive juízes) podem aplicar, até
de ofício, a norma estrangeira. Ademais, caso não conheça a lei estrangeira, o juiz pode exigir
de quem a invoca prova do texto e da vigência, de acordo com o art. 14 da LINDB.
Questão 2
OAB – PE – 2002
São considerados pelas correntes doutrinárias como objeto do Direito Internacional Privado
todos os indicados nas alternativas, com exceção de:
Comentário:
15
Questão 3
I. Dá-se reenvio de 3º grau no caso de conflito de regras de Direito Internacional que envolva
quatro países.
II. Hipótese comum de conflito de regras de Direito Internacional ocorre quanto ao foro
competente para os inventários e partilhas de bens situados no Brasil, pertencentes a
estrangeiro.
III. São exemplos de regras de conexão ou elementos de conexão a lex patriæ (da
nacionalidade), a lex loci actus (do local da realização do ato jurídico), a lex voluntatis
(escolhida pelos contratantes), a lex loci celebrationis (do local da celebração do matrimônio).
IV. Para regular as relações concernentes aos bens, segundo as normas brasileiras de Direito
Comentário:
A assertiva I está correta, pois o reenvio nasce do conflito de leis no espaço, originando
um choque entre sistemas legais e buscando solução no ordenamento jurídico de outro país.
O reenvio tem três graus de complexidade de conflitos: o reenvio de 1º grau envolve dois
países, o de 2º grau três países e o de 3º grau quatro países. A assertiva II está incorreta, pois,
de acordo com o art. 12, § 1º, da LINDB, só a autoridade judiciária brasileira tem competência
para conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil. A assertiva III está correta,
apesar de o local da celebração do matrimônio não ser mais um elemento de conexão muito
empregado. A assertiva IV está correta, pois defini o elemento de conexão lex rei sitae,
16
Questão 4
Em controvérsia submetida ao juiz brasileiro sobre contrato firmado no exterior por brasileiro
domiciliado no exterior e estrangeiro domiciliado no Brasil, aplica-se ao mérito:
Comentário:
local de constituição da obrigação (elemento locus regit actum), na forma do art. 9º da LINDB:
para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. As
Questão 5
testamento.
Comentário:
17
A alternativa correta é a letra C, pois, de acordo com o art. 10, § 2º, da LINDB, a lei do
domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder. A alternativa A está
incorreta, pois obedece a lei do país em que era domiciliado o de cujus, tendo relevância com
relação à sucessão, mas não quanto a capacidade de suceder. A alternativa B está incorreta,
pois a LINDB não faz referência ao local de falecimento. A alternativa D está incorreta, pois
não é caso onde a lex fori permita a autonomia da vontade.
Questão 6
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJ-AM Prova: CESPE - 2019 - TJ-AM - Analista Judiciário -
Direito
No que concerne à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, à pessoa natural, aos
direitos da personalidade e à desconsideração de pessoa jurídica, julgue o item a seguir.
Comentário:
A assertiva está incorreta, pois, na forma do art. 7º da LINDB, “a lei do país em que
domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome,
a capacidade e os direitos de família”. Assim, são as leis do local de domicílio da pessoa que
Questão 7
Ano: 2019 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJ-MG Prova: CONSULPLAN - 2019 - TJ-MG -
Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento
18
B) A sucessão de bens de estrangeiros, situados no país, será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, mesmo nas hipóteses em que a lei pessoal do
obedecem à lei do Estado em que se constituírem, mas só poderão ter filiais no Brasil depois
que os seus atos constitutivos forem aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei
brasileira.
bens imóveis além daqueles destinados à sede de sua representação, desde que essa
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois, de acordo com o art. 10, § 2º, da LINDB, a lei do
hipótese prevista no art. 11, § 1º, da LINDB. A alternativa D está incorreta, pois, segundo o art.
11, § 2º, da LINDB, Governos estrangeiros não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou
Questão 8
José, de nacionalidade brasileira, era casado com Maria, de nacionalidade sueca, encontrando-
se o casal domiciliado no Brasil. Durante a viagem de “lua de mel”, na França, Maria, após o
jantar, veio a falecer, em razão de uma intoxicação alimentar. Maria, quando ainda era noiva
de José, havia realizado testamento em Londres, dispondo sobre os seus bens, entre eles dois
imóveis situados no Rio de Janeiro. À luz das regras de Direito Internacional Privado, assinale a
afirmativa correta.
19
A) Se houver discussão acerca da validade do testamento, no que diz respeito à observância
das formalidades, deverá ser aplicada a legislação brasileira, pois Maria encontrava- se
domiciliada no Brasil.
B) Se houver discussão acerca da validade do testamento, no que diz respeito à observância
das formalidades, deverá ser aplicada a legislação inglesa, local em que foi realizado o ato de
disposição de última vontade de Maria.
C) A autoridade judiciária brasileira não é competente para proceder ao inventário e à partilha
Comentário:
A alternativa A está incorreta, pois deverá ser aplicada a legislação inglesa, não a
brasileira, pois as obrigações convencionais e as decorrentes de atos unilaterais serão regidas,
quanto à forma, pela lei do local onde se originaram. A alternativa B está correta, pois, já que
o testamento foi realizado em Londres, a legislação inglesa será aplicável no que concerne às
formalidades do ato, em conformidade com o art. 9º, caput, da LINDB. A alternativa C está
incorreta, pois a autoridade será competente para proceder ao inventário e à partilha dos
bens situados no Brasil, já que o ordenamento jurídico pátrio prevê a competência absoluta
em relação aos bens, na forma do art. 23, II, do CPC. A alternativa D está incorreta, pois se
refere à regra geral da sucessão internacional prevista no caput do art. 10 da LINDB, segundo
a qual o regime sucessório será o da lei do país do último domicílio do falecido. Deste modo,
não importa qual a nacionalidade do de cujos, nem a natureza ou situação dos bens.
Questão 9
Brasil a uma empresa pertencente a François, francês residente em Paris, para a realização de
investimentos no mercado imobiliário brasileiro. O contrato possui uma cláusula indicando a
20
aplicação da lei francesa. Em ação proposta por Paulo no Brasil, surge uma questão
envolvendo a capacidade de François para assumir e cumprir as obrigações previstas no
Comentário:
O art. 7º da LINDB estabelece que a lei do país em que domiciliada a pessoa determina
Questão 10
Ano: 2006 Banca: ND Órgão: OAB-DF Prova: ND - 2006 - OAB-DF - Exame de Ordem - 1 -
Primeira Fase
Comentário:
21
GABARITO
Questão 1 - Correta
Questão 2 - D
Questão 3 - D
Questão 4 - A
Questão 5 - C
Questão 6 - Errada
Questão 7 - C
Questão 8 - B
Questão 9 - B
Questão 10 - D
22
LEGISLAÇÃO COMPILADA
23
JURISPRUDÊNCIA
24
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. PROCESSUAL CIVIL. HOMOLOGAÇÃO DE
SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVÓRCIO CONSENSUAL. PRELIMINAR DE NULIDADE.
firmado no sentido se (sic) rejeitar tal preliminar de nulidade se for evidenciada ativa
tentativa de localização da parte contrária, sendo lícita a citação por edital, prevista nos
art. 231 e 232 do Código de Processo Civil. Precedentes: SEX 9.386/EX, Rel. Ministro
Raul Araújo, Corte Especial, DJe 18.2.2015; SEC 2.845/EX, Rel. Ministro Gilson Dipp, Corte
25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2002.
26
CARREIRA JURÍDICA
Direito Internacional
Capítulo 9
CAPÍTULOS
1
SUMÁRIO
1.1. Introdução........................................................................................................................................................ 3
QUESTÕES COMENTADAS.................................................................................................................................. 21
GABARITO ................................................................................................................................................................... 31
JURISPRUDÊNCIA....................................................................................................................................................... 34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................ 38
2
DIREITO INTERNACIONAL
Capítulo 9
1.1. Introdução
O conjunto de preceitos que regulam a aplicação das normas de Direito Internacional
Privado é denominado Direito Processual Internacional, que se relacionará tanto com o
Assim, pode-se dizer que as normas de processo civil que se aplicam no âmbito do
Direito Internacional Privado são as da lex fori, apesar de que existe uma tendência de
Como visto, o ordenamento jurídico interno é que indica qual a norma, seja ela nacional
ou estrangeira, que deve ser aplicada para solucionar um conflito de leis no espaço.
Verificação e prova
A verificação e a prova do Direito estrangeiro são regidas pela lex fori. Segundo o art.
14 da LINDB, o juiz brasileiro pode aplicar a lei estrangeira mesmo que de ofício, mas
caso não a conheça, ou seja, quando existir a necessidade de comprovar a norma
3
O Brasil é signatário do Protocolo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em
Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa (Protocolo de Las Leñas,
Interpretação e incidência
Verificada e provada a lei estrangeira, pode existir dúvidas acerca de sua interpretação e
de sua incidência sobre as relações jurídicas que tutela. Na forma do art. 376 do
Código de Processo Civil, “a parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro
ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar”. Assim,
não deve ser aplicada, poder-se-á aplicar o Direito brasileiro. A interpretação da norma
estrangeira deve ser da forma mais completa, de acordo com os preceitos da doutrina e
Existem situações em que a norma estrangeira não pode ser aplicada no âmbito
interno, mesmo que norma indicativa de Direito Internacional Privado determine sua
incidência. Em regra, o art. 17 da LINDB estabelece que o Direito estrangeiro não
poderá ser aplicado se ferir a ordem pública (violar princípios fundamentais da ordem
jurídica brasileira), a soberania nacional (autoridade suprema do Estado em seu território
Direito estrangeiro; essa situação pode ser resolvida pela adaptação do instituto por
outro semelhante, reconhecido no âmbito interno) e a lei imperfeita (aquela que prevê
tanto a aplicação do Direito interno quanto do Direito estrangeiro; EX: art. 10, § 1º, da
LINDB).
4
2. Competência internacional do Brasil
Assim como podem surgir dúvidas acerca de qual norma aplicar em um conflito de leis
no espaço, pode haver dúvidas também a respeito de qual autoridade é competente para
conhecer o litígio resultante de uma relação privada com conexão internacional, se um juiz
nacional ou estrangeiro.
ressaltar que, já que cada Estado fixa suas normas a respeito do Direito Internacional Privado,
a competência internacional é definida e se fundamenta no Direito interno. Ou seja, cada
Estado pode fixar os poderes de seus órgãos jurisdicionais quanto ao tema.
a) Positivo: quando dois ou mais Estados estabeleceram que seus Poderes Judiciários são
internacionalmente competentes.
b) Negativo: quando nenhum Poder Judiciário for tido como competente.
(perpetuatio fori) e a regra geral segundo a qual o réu submete-se à competência do Poder
Judiciário do Estado onde ele tem domicílio ou se encontre, independente da nacionalidade.
Desse modo, inicialmente, deve-se analisar qual o juiz competente para julgar o caso,
pois, na competência internacional, deve-se observar primeiramente o Direito processual
nacional. Tal competência está elencada nos artigos 21, 22 e 23 do Código de Processo
Civil; os dois primeiros dispõem sobre a competência concorrente (com foros estrangeiros), já
5
o último dispõe sobre a competência exclusiva (do foro brasileiro). Após analisar o caso e
verificar a competência do juiz brasileiro, deve-se avaliar qual a legislação a ser aplicada, ou
Para saber qual é a localização da sede jurídica, deve-se analisar o caso sob três
situações jurídicas:
neste caso, o juiz brasileiro é competente para julgar o caso, entretanto, como o acordo foi
firmado no México, utiliza-se o quesito formal (onde a obrigação foi constituída), logo, o juiz
1
Vide questão 10.
2
Vide questões 1 e 2.
6
3. Cooperação jurídica internacional
Porém, o Estado não pode realizar esses atos fora de seu território sem configurar uma
violação à soberania estatal de outro Estado. Desse modo, surge a necessidade de um
instituto que possibilite uma colaboração entre os Estados soberanos para solucionar
processos judiciais.
Assim, a cooperação jurídica internacional pode ser entendida como um modo formal
de solicitar a outro Estado alguma medida judicial, investigativa ou administrativa, necessária
3
Vide questão 4.
7
Carta rogatória: são pedidos feitos pelo juiz de um Estado ao Poder Judiciário
de outro ente estatal, com o objetivo de buscar colaboração para prática de atos
processuais. Será mais estudada a seguir.
Auxílio direto: cabível quando a medida não decorrer diretamente de decisão
de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação no
Brasil. A solicitação de auxílio direto será encaminhada pelo órgão estrangeiro
interessado à autoridade central, cabendo ao Estado requerente assegurar a
autenticidade e a clareza do pedido. Compete ao juízo federal, do lugar em que
deva ser executada a medida, apreciar o pedido de auxílio direto passivo que
demande prestação de atividade jurisdicional.4
Autoridade central: trata-se de um ponto unificado de contato para a
tramitação dos pedidos de cooperação jurídica internacional, com vistas à
efetividade e à celeridade desses pedidos. No Brasil, o Ministério da Justiça
exerce essa função para a maioria dos acordos internacionais em vigor.
4
Vide questão 3.
8
4. Cartas Rogatórias
geralmente é feito por via diplomática, ou por algum outro modo especificado em eventual
tratado entre as partes.
requisitos fixados em seu ordenamento jurídico ou em tratados do qual seja signatário tanto o
Estado rogante (que solicita a cooperação) quanto o Estado rogado (o que é solicitado).
Ademais, se o pedido da rogatória for atendido, seu conteúdo será subordinado à norma do
executórios.
260 ao 263, 377; no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no art. 21, XI;
na Resolução nº 9 do STJ, de 2005, que dispõe sobre a matéria, em caráter transitório, sobre
a competência do STJ quanto às cartas rogatórias. Para a doutrina brasileira, existem dois tipos
de rogatórias:
9
a) Rogatórias ativas
São aquelas expedidas por autoridade judiciária brasileira, recebidas por Estado
estrangeiro. Seus requisitos, no âmbito interno brasileiro, são aqueles previstos nos
supramencionados artigos do Código de Processo Civil. Seu subscritor deve ser
vinculado ao Poder Judiciário. Além disso, seu objeto deve ser lícito à luz da legislação
brasileira. A expedição de carta rogatória suspende o processo quando a sentença não
puder ser proferida senão depois de verificado certo fato ou de produzida certa prova,
e quando, tendo sido requeridos antes da decisão de saneamento, a prova neles
solicitada for imprescindível. O prazo processual começa a correr a partir da data da
juntada da carta devidamente cumprida aos autos (art. 231, VI, do CPC); a carta
rogatória não devolvida no prazo ou concedida sem efeito suspensivo poderão ser
juntadas aos autos a qualquer momento (art. 377, parágrafo único, do CPC). Ademais,
lembra-se que o cumprimento da carta rogatória em Estado estrangeiro obedecerá às
normas processuais deste.
b) Rogatórias passivas
São aquelas expedidas por autoridade judiciária estrangeira, recebidas pelo Brasil. Para
serem cumpridas no Brasil, a rogatória dependerá do exequatur concedido pelo
Presidente do STJ, ou por sua Corte Especial, no caso da impugnação às rogatórias
decisórias (art. 105, I, “i”, da Constituição Federal, e art. 12, § 2º, da LINDB),
pendente o cumprimento dos requisitos estabelecidos pela Resolução nº 9 do STJ e
também por eventuais tratados. O exame da rogatória pelo STJ é meramente de
delibação (avaliar as condições de sua execução), não tratando do mérito nem das
razões da carta, sob pena de violar a soberania do Estado rogante.
São requisitos para a rogatória ser concedida: ser autêntica, não ofender a soberania
nacional ou a ordem pública brasileiras, não ser referente a processo de competência
exclusiva da autoridade judiciária brasileira (poderá ser cumprida se a competência for
concorrente), não implicar em atos executórios ou que dependa da homologação da
sentença que os determina.5
O art. 7º, parágrafo único, da Resolução nº 9 do STJ, estabelece que os pedidos de
cooperação jurídica internacional que tiverem como objeto atos que não ensejam juízo
de delibação pelo STJ, mesmo que sob o nome de “carta rogatória”, podem ser
5
Vide questão 5.
10
encaminhados para o Ministério da Justiça, para que seja cumprido o ato por meio do
auxílio direto. Porém, esse não é o entendimento jurisprudencial, que aplica no sentido
da obrigatoriedade da execução de diligências estrangeiras pelo processo da rogatória.
A parte interessada pode ser citada para, no prazo de 15 dias, impugnar a rogatória. O
Ministério Público também terá vista dos autos, pelo prazo de 10 dias, podendo
impugna-la também. Havendo impugnação, o processo poderá ser distribuído para
julgamento pela Corte Especial do STJ. A execução das rogatórias após o exequatur é
competência do Juízo Federal de 1º grau. Cumprida a rogatória, ela será devolvida ao
Presidente do STJ no prazo de 10 dias após sua execução, sendo remetida, também em
10 dias, através do Ministério da Justiça ou do Ministério das Relações Exteriores, para o
Estado rogante.
11
5. Homologação de sentença estrangeira
outros Estados que não o seu, porém, sua eficácia está condicionada ao consentimento do
outro Estado, onde a sentença deverá ser executada, geralmente através do instituto da
homologação de sentença estrangeira.
“Homologar a sentença estrangeira” pode ser traduzida por tornar tal sentença semelhante,
quanto aos seus efeitos, àquelas que são proferidas em âmbito nacional. Ou seja, uma vez
A decisão judicial de outro Estado só poderá ser homologada se não violar as restrições
referentes à aplicação de normas estrangeiras, como já visto. Não obstante, a homologação
visa facilitar as relações internacionais, evitando a necessidade de ter que iniciar um outro
processo judicial para o mesmo direito ser reconhecido, mas em Estados diferentes.
mérito da decisão a ser homologada, mas apenas examinando os pressupostos formais, salvo
nos casos de afronta à ordem pública, à soberania nacional e aos bons costumes.
na Constituição Federal, nos art. 105, I, “i”, e art. 109, X; no Código de Processo Civil, no
art. 960 ao art. 965; na LINDB, no art. 15 ao art. 17; na Resolução nº 9 do STJ, de 2005,
que dispõe sobre a matéria, em caráter transitório. Além disso, a matéria também pode ser
12
regulamentada através de tratados internacionais; além dos tratados bilaterais, também,
destacam-se, dentre outros: o Código de Bustamante (Decreto nº 18.871/1929), entre os
Não obstante, os atos que têm as mesmas características e os mesmos efeitos de uma
sentença judicial, ainda que não sejam tecnicamente sentenças, que não tenham essa
nomenclatura ou que não tenham sido proferidas por juízes, são passíveis de homologação.
Além de ser homologada pelo STJ, no geral, como requisitos para a homologação da
sentença estrangeira, ela deve ter sido proferida por juiz competente, respeitado o devido
processo legal (especialmente quanto à citação das partes), ter transitado em julgado e ser
passível de execução, estar traduzida por intérprete autorizado (tradutor oficial e juramentado)
e autenticada pela autoridade consular brasileira.6
6
Vide questão 7.
13
Ademais, ressalta-se que, além das sentenças estrangeiras que violam a soberania
nacional, a ordem pública e os bons costumes, também não serão homologadas as sentenças
relativas às hipóteses previstas no art. 23, do CPC, por ser de competência exclusiva do Brasil.
homologação, a partir do requerimento da parte interessada; a outra parte tem 15 dias para
contestar o pedido de homologação, e o Ministério Público tem 10 dias de vista dos autos,
pois decidem com base no Direito Internacional e não estão sob a soberania de nenhum
Estado.
7
Vide questão 9.
14
6. Litispendência internacional
A litispendência ocorre quando há, pelo menos, dois processos iguais (mesmas partes,
Os ordenamentos jurídicos internos dos Estados (lex fori) disciplinam as regras relativas
à litispendência internacional. Porém, o ordenamento jurídico brasileiro prevê que apenas a
litispendência no âmbito interno é que pressupõe a extinção do processo sem o exame de
Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não
obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são
conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos
bilaterais em vigor no Brasil.
Assim, o mesmo processo pode ser objeto de exame pelo Judiciário brasileiro e
também por Poder Judiciário estrangeiro, podendo a sentença estrangeira, inclusive, vir a
produzir efeitos no âmbito interno brasileiro, não havendo a extinção do processo.9
8
Vide questão 8.
9
Vide questão 6.
15
Se for o caso de competência exclusiva da autoridade brasileira, não haverá
prevalecer é a que transite em julgado primeiro: se a decisão estrangeira for homologada pelo
Superior Tribunal de Justiça (STJ) antes de transitada em julgada a decisão brasileira, aquela
valerá, sendo o processo brasileiro extinto. No entanto, outra corrente acredita que a
sentença estrangeira não pode se sobrepor à nacional quando aquela puder modificar esta,
sentido, se a sentença brasileira transitar em julgado, a sentença estrangeira não poderá ser
homologada, e eventual processo de homologação deverá ser extinto sem julgamento de
mérito.
16
7. Cláusula de eleição de foro estrangeiro
por determinar qual o foro competente para conhecer eventuais causas relativas ao
compromisso fixado no exterior.
Essa cláusula pode ser expressa (quando se faz presente em tratados internacionais) ou
tácita (ocorre quando o réu não arguiu, na forma da lei, a exceção declinatória de foro em
processo que já tenha iniciado). No entanto, importante ressaltar que a cláusula, em qualquer
um dos casos, deve resultar de alguma expressão inequívoca da vontade das partes, por
menor que seja, tendo resultado de um consentimento consciente e específico.
17
§ 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada
ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de
domicílio do réu.
Assim, se a cláusula de eleição de foro estrangeiro for válida, o réu domiciliado no Brasil
terá que se submeter à jurisdição estrangeira. Além disso, a eventual sentença condenatória
pode ser homologada para gerar efeitos no âmbito interno do Brasil.
18
QUADRO SINÓTICO
19
CARTAS ROGATÓRIAS
ATIVAS PASSIVAS
Devem obedecer ao disposto em tratados; Requerem exequatur do STJ
na falta deles, devem ser enviados por via
diplomática ou pelas autoridades centrais
Só podem emanar de órgãos do Poder Juízo de delibação: não há exame de mérito
Judiciário
Seu objeto deve ser lícito à luz da legislação Devem ser autênticas, sem violar a soberania e
brasileira a ordem públicas, não sendo cumpridas se
implicarem em atos executórios
Seu cumprimento no Estado estrangeiro Seu cumprimento no Brasil obedecerá à
obedecerá à norma processual deste norma processual deste
20
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
De acordo com o art. 21, inciso II, do Código de Processo Civil, compete à autoridade
judiciária brasileira processar e julgar as ações em que no Brasil tiver de ser cumprida a
obrigação. Por isso, o juiz brasileiro deve indeferir a inicial por falta de competência da Justiça
brasileira, pois ela não tem competência no caso de dívida fiscal com Estado estrangeiro.
Ademais, ressalta-se que tribunal superior também não possui competência, e o Ministério das
Relações Exteriores não é órgão jurisdicional. Gabarito: letra B.
Questão 2
Ano: 2013 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2013 - OAB - Exame de Ordem Unificado
contrato internacional de compra e venda com a sociedade empresária Voe Rápido Ltda, com
sede na Argentina. O contrato foi celebrado no Japão, em razão de uma feira promocional
21
que ali se realizava. Conforme estipulado no contrato, as aeronaves deveriam ser entregues
pela Airplane Ltda., na cidade do Rio de Janeiro, no dia 1º de abril de 2011, onde a sociedade
Voe Rápido Ltda. possui uma filial e realiza a atividade empresarial de transporte de
passageiros.
Diante da situação exposta, à luz das regras de Direito Internacional Privado veiculadas na Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) e no estatuto processual civil brasileiro
(Código de Processo Civil – CPC), assinale a afirmativa INCORRETA.
contrato.
B) No tocante à regência das obrigações, aplica-se, no caso vertente, a legislação japonesa.
C) O Poder Judiciário Brasileiro não é competente para julgar eventual ação por
inadimplemento contratual, pois o contrato não foi constituído no Brasil.
D) O juiz, não conhecendo a lei estrangeira, poderá exigir de quem a invoca prova do texto e
da vigência.
Comentário:
O gabarito é a letra C, que está incorreta. De acordo tanto com o art. 21, inciso II, do
CPC, e o art. 12 da LINDB, compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as
ações em que no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação. Portanto, apesar de o contrato ter
sido celebrado no Japão, sua execução (ou seja, a obrigação) deveria ter sido cumprida no
Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. A letra A está correta, pois a autoridade brasileira é
competente nesta ação. A letra B está correta, na forma do art. 9º da LINDB. A letra D está
22
Questão 3
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: VUNESP - 2019 - TJ-AC - Juiz de Direito
Substituto
A cooperação jurídica internacional pode ser entendida como um modo formal de solicitar a
outro país alguma medida judicial, investigativa ou administrativa, necessária para um caso
concreto em andamento. Uma das inovações trazidas pelo Código de Processo Civil de 2015
foi regular a cooperação internacional em seu texto, nos seguinte termos:
B) compete ao juízo federal do lugar em que deva ser executada a medida apreciar pedido de
auxílio direto passivo que demande prestação de atividade jurisdicional.
C) realizar-se-á, como regra, com base em reciprocidade, manifestada por via diplomática.
Comentário:
Justiça. A alternativa B está correta, pois em consonância com o art. 34 do CPC. A alternativa C
está incorreta, pois a regra é que a cooperação jurídica internacional será regida por tratado
de que o Brasil faz parte (art. 26 do CPC), sendo a reciprocidade a exceção (§ 1º). A alternativa
23
Questão 4
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado
outra jurisdição, nos termos das disposições dos tratados em vigor e das normas processuais
brasileiras.
Para instruir processo a ser iniciado ou já em curso, no Brasil ou no exterior, não é admitida,
no entanto, a solicitação de colheita de provas:
Comentário:
Estado, solicitando a colaboração deste para a prática de algum ato processual, que pode ser
ativa (o juízo do Brasil para o juízo estrangeiro) ou passiva (o estrangeiro pede para o
brasileiro) são instrumentos adequados para a colheita de provas (art. 36, CPC). A alternativa D
também está correta, pois o auxílio direto é cabível quando a medida não decorrer
diretamente de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de
Questão 5
país;
b) Seja oriunda de país que não tenha tratado para cumprimento de rogatória com o nosso
país;
24
c) Que ofenda a soberania nacional ou a ordem pública;
Comentário:
exequatur, de cartas rogatórias passivas, não ativas. A alternativa B está incorreta, pois não
necessariamente a concessão de exequatur dependerá de tratados, podendo ser concedida
pela mera promessa de reciprocidade. A alternativa C está correta, pois em conformidade com
Questão 6
Ano: 2017 Banca: TRF - 2ª Região Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: TRF - 2ª Região - 2017 -
ela impede que o juiz brasileiro dê curso à ação intentada no Brasil se a questão já tiver sido
submetida a juiz estrangeiro.
B) A litispendência internacional pode ser conhecida de ofício e impede que o juiz brasileiro
D) Se uma sentença brasileira decidir determinada questão que também tenha sido decidida
por sentença estrangeira, será sempre a sentença brasileira a que produzirá efeitos no Brasil.
E) A ação intentada no estrangeiro não impede que a mesma questão seja submetida a juiz
25
Comentário:
As alternativas A e B estão incorretas, pois, de acordo com o art. 24, do CPC, a ação
proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade
judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as
disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Desse modo, a alternativa E está correta. A alternativa C está incorreta, pois existem exceções,
já que a soberania de um Estado não é absoluta, podendo haver casos em que um Estado
Questão 7
Ano: 2015 Banca: CESGRANRIO Órgão: Petrobras Prova: CESGRANRIO - 2015 - Petrobras -
Advogado Júnior
A homologação de uma sentença estrangeira no Brasil tem, como requisito indispensável,
Comentário:
LINDB e no art. 5º da Resolução nº 9 do STJ. Dentre eles, está que a sentença deve ter sido
proferida por autoridade competente, portanto, o gabarito é a letra A. Assim, as demais
26
Questão 8
Ano: 2010 Banca: TRF - 4ª REGIÃO Órgão: TRF - 4ª REGIÃO Prova: TRF - 4ª REGIÃO - 2010
sentença estrangeira, contra essa é passível de arguição como defesa apenas a questão
relativa à observância dos requisitos para a homologação, sendo vedado à arguição versar
sobre outras questões.
estrangeira e sua homologação no Brasil, deverá ser extinto o processo no Brasil pela
ocorrência de coisa julgada estrangeira.
no Brasil.
A) Está correta apenas a assertiva III.
B) Está correta apenas a assertiva IV.
Comentário:
27
na Resolução nº 09 do STJ. A assertiva III está incorreta, pois a parte interessada poderá versar
sobre a autenticidade dos documentos, a inteligência da decisão, bem como a eventual
litispendência, quando esta é homologada, passa a ter eficácia no Brasil. não é passível de
homologação, já que é competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira conhecer de
Questão 9
Ano: 2015 Banca: NC-UFPR Órgão: ITAIPU BINACIONAL Prova: NC-UFPR - 2015 - ITAIPU
BINACIONAL – Direito (ADAPTADA)
A respeito da cooperação jurídica internacional, assinale a alternativa correta.
A) Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, incabível a concessão de cartas
Comentário:
alternativa C está correta, pois, de acordo com o art. 10, o Ministério Público terá vista dos
autos nas cartas rogatórias e homologações de sentenças estrangeiras, pelo prazo de dez dias,
podendo impugná-las. A alternativa D está incorreta, pois, de acordo com o parágrafo único
28
Questão 10
Ano: 2011 Banca: CESPE Órgão: TRF - 1ª REGIÃO Prova: CESPE - 2011 - TRF - 1ª REGIÃO -
Juiz Federal
Considerando a legislação brasileira relativa à competência jurisdicional nas relações jurídicas
concedida a sentença de qualquer natureza, com exceção das que sejam meramente
declaratórias do estado das pessoas.
C) A carta rogatória obedecerá, quanto à admissibilidade e ao modo de cumprimento, ao
disposto na legislação brasileira, devendo necessariamente ser remetida aos juízes ou tribunais
estrangeiros por contato direto entre as autoridades judiciárias dos Estados envolvidos.
D) Não conhecendo a lei estrangeira, o juiz brasileiro não pode exigir da parte que a invoque
o fornecimento de prova do seu texto e vigência, mas, sim, solicitar às autoridades de outro
Estado os elementos de prova ou informação sobre o texto, sentido e alcance legal de seu
direito.
território nacional.
Comentário:
29
Justiça ou do Ministério das Relações Exteriores, para o Estado rogante. A alternativa D está
incorreta, pois, de acordo com o art. 14 da LINDB, não conhecendo a lei estrangeira, poderá o
juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência. A alternativa E está correta, em
conformidade com o art. 21, II, do CPC.
30
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - C
Questão 3 - B
Questão 4 - C
Questão 5 - C
Questão 6 - E
Questão 7 - A
Questão 8 - B
Questão 9 - C
Questão 10 - E
31
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Art. 23
Art. 26 – art. 41
Art. 63
Art. 237, II
Art. 260 – art. 263
Art. 376
Art. 377
Art. 515, VIII
Art. 960 – art. 965
Art. 12
Art. 14 – art. 17
32
Súmulas do Supremo Tribunal Federal (STF)
Súmula 259: Para produzir efeito em juízo não é necessária a inscrição, no
Registro Público, de documentos de procedência estrangeira, autenticados por via
consular.
33
JURISPRUDÊNCIA
34
Brasil, com concordância das autoridades respectivas de ambos os Países, sem ressalvas,
encontra respaldo em convenções internacionais de cooperação jurídica das quais o
Brasil é signatário, pois há previsão de ampla cooperação entre os países. III – Não
obstante as alegações de nulidade deduzidas do presente writ, verifica-se que o e.
não faz restrições quanto ao uso das provas constantes de tal investigação, quando da
referida remessa. IV – Nos limites afetos ao âmbito de cognição do writ, afigura-se
teve como foto central delitos de corrupção e lavagem de capitais, valendo registrar
que não se impôs qualquer limitação ao alcance das informações e aos meios de prova
compartilhados. (...). Agravo Regimental desprovido. (STJ – AgInt no AgRg no HC:
35
Compete ao Superior Tribunal de Justiça, exclusivamente, como antes competia ao
Supremo Tribunal Federal, a análise dos requisitos para a concessão de exequatur às
cartas rogatórias, nos termos do art. 105 da Constituição da República e do art. 216-O
do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. 2. A carta rogatória e o auxílio
ordinária e força normativa. 4. Na carta rogatória passiva, existe decisão judicial oriunda
de juízos ou tribunais estrangeiros que, para serem executados em território nacional,
precisam do juízo de delibação do Superior Tribunal de Justiça, sem, contudo, adentrar-
de atividade investigatória, para que este preste as informações solicitadas ou, havendo
necessidade legal, submeta o pedido à Justiça Federal competente para julgar a
37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL JÚNIOR, Alberto do. Introdução ao direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2008.
MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direito internacional público. 9. ed. rev., atual. e
ampl. -- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
REZEK, Francisco. Direito internacional público – Curso Elementar. 17ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2018.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. São Paulo: Atlas,
2002.
38