Abrir portas onde se erguem

guem muross Director: M

Manuel Carvalho Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • Ano XXXIV • n.º 12.042 • Diário • Ed. Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€

C
Champions Teatro Nacional S. João
Ricardo Pais regressa a uma
B
Benfica diz casa que conhece para encenar
obra-prima de Eugene O’Neill
aadeus à Cultura, 28
E
Europa com Colectivo Afrontosas
eempate (3-3) Nova associação apresenta-se
para trazer um “olhar negro
eem Milão e queer” à arte e à educação
Desporto, 36/37
D Cultura, 29

Novo apoio do Governo vai beneƊciar

quem recebe pensões mais elevadas
Aumento de 3,57% dá rendimentos superiores aos previstos na lei, em especial nas pensões mais altas
O Governo adoptou nesta semana simples aplicação das regras de recebe pensões mais altas. O Gover- parte, a natureza da entrega extraor- pensão não num mero adiantamen-
uma solução que garante aos pensio- actualização das pensões previstas no avança com um aumento interca- dinária de meia pensão que tinha to de verbas, mas, em parte, num
nistas em 2022 e 2023 rendimentos na lei. Este apoio extraordinário é lar de 3,57% a ser pago a partir de feito em Outubro. O Governo acaba valor extra entregue aos pensionistas
superiores aos que resultariam da especialmente acentuado para quem Julho, o que altera, pelo menos em assim por transformar esta meia Destaque, 2/3

NUNO FERREIRA SANTOS

Geopolítica
PS, 50 anos China e Rússia
reforçam aposta
Partido que se fez na cooperação
contra a ditadura militar
promete luta Visita de ministro da Defesa chinês a
Moscovo tenta mostrar que a “coope-
contra populismo ração estratégica” entre os dois países
é sólida e tem futuro Mundo, 20
Política, 8/9

Europa
Seca, incêndios
e calor revelam
retrato de 2022
“assustador”
Relatório mostra que a Europa viveu
o Verão mais quente desde que há
registos Ciência e Ambiente, 26

Envelhecimento
Governo prevê
Maioria parlamentar pronta para ignorar dúvidas apoios a aldeias
comunitárias
de Marcelo confirmando lei da eutanásia na AR para idosos
O diploma que despenaliza a morte dúvidas do Presidente e confirmar o mulgar, mas “sem drama”, pondo nal e duas vezes objecto do veto pre- Plano de Acção do Envelhecimento
medicamente assistida estará prestes texto vetado sem atender às suas eventualmente termo a um processo sidencial. É hora de “ver respeitada Activo e Saudável prevê casas adap-
a ver a luz do dia, depois de o PS, BE preocupações. Marcelo Rebelo de legislativo que já foi duas vezes sujei- a vontade do Parlamento”, justificou tadas para idosos e apoio à vida autó-
e IL assumirem que vão ignorar as Sousa sublinha que é obrigado a pro- to à análise do Tribunal Constitucio- Isabel Moreira, do PS Política, 13 noma Sociedade, 15
ISNN-0872-1548
2 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Destaque Segurança Social

NUNO FERREIRA SANTOS

Nova solução
actualização das pensões para 2023
Sérgio Aníbal e Raquel Martins
irá ser aplicada integralmente, atra-

D
epois de, há oito meses, ter
anunciado uma medida que
punha os pensionistas em
risco de Æcarem com rendi-
mentos mais baixos no
vés de um aumento intercalar de
3,57% pago a partir de Julho.
Com esta medida, o Governo aca-
bou por alterar, pelo menos em par-
te, a natureza da entrega extraordi-

do Governo futuro, o Governo adoptou

esta semana uma solução que garan-
te que terão, durante os anos de
2022 e 2023, rendimentos superio-
res aos que resultariam da simples
aplicação das regras de actualização
nária de meia pensão que tinha feito
em Outubro do ano passado a cada
beneÆciário com um rendimento
mensal até 5318 euros (12 vezes o
Indexante de Apoios Sociais). Esse
complemento não era mais do que

favorece pensões
das pensões previstas na lei. Este
apoio extraordinário dado aos pen-
sionistas em tempo de crise é, con-
tudo, especialmente acentuado para
quem recebe pensões mais altas,
uma característica que contrasta
um mero adiantamento de verbas,
uma vez que os pensionistas acaba-
vam, na prática, por, ao longo de
2023, “devolver” a meia pensão rece-
bida. Isto acontecia porque, em
simultâneo, o executivo deixou de

mais elevadas
Pensionistas terão, em 2022 e 2023, rendimentos superiores
aos que resultariam da aplicação das regras de actualização
das pensões. Reformas mais altas saem beneÄciadas
com as ajudas focadas nos mais
pobres em que o Governo tem apos-
tado noutras áreas.
Na segunda-feira, algumas horas
depois de ter sido apresentado o Pro-
grama de Estabilidade para os próxi-
mos quatro anos, o primeiro-
-ministro, António Costa, e a ministra
da Segurança Social, Ana Mendes
Godinho, anunciaram que, ao con-
trário do que tinha sido deÆnido em
Outubro do ano passado, a regra de
aplicar integralmente a regra de
actualização prevista para as pensões
(que resultava num aumento de
8,42% para as pensões mais baixas)
e aplicou um aumento menor (4,83%
para as pensões mais baixas).
Nesse cenário, na prática, aquilo
que os pensionistas viriam a receber
ao longo dos anos de 2022 e 2023 era
exactamente igual ao que resultaria
da aplicação integral da regra de
actualização das pensões, com o pro-

85
Quem recebe uma pensão de
300 euros vai receber ao longo
destes dois anos mais 85 euros
com a medida desenhada agora
pelo Governo de António Costa
1143
Quem recebe uma pensão
de 4000 euros é beneficiado
com um rendimento ao longo
de 2022 e 2023 que é superior
em 1143 euros ao habitual
blema adicional de que o ponto de
partida para os aumentos de 2024
seria mais baixo.
Agora, ao decidir aplicar a fórmula
de actualização integralmente a par-
tir do próximo mês de Julho (garan-
tindo que os aumentos de 2024 terão
como base o valor correspondente à
aplicação das regras de actualização
de 2023, sem qualquer corte), o
Governo acaba por transformar a
meia pensão entregue em Outubro
não num mero adiantamento de ver-
bas, mas, em parte, num valor extra
entregue aos pensionistas.
Calculando o valor total que, com
a medida anunciada, acabará por
ser recebido pelos pensionistas ao
longo dos anos de 2022 e 2023 e
comparando-o com um cenário em
que o Governo se limitava, desde o
início, a aplicar as regras de actuali-
zação das pensões tais como estão
deÆnidas na lei, é possível veriÆcar
que há um ganho para todos os pen-
sionistas (excepto os que tinham
reformas superiores a 5318 euros e
que não receberam a meia pensão
em Outubro).
Assumindo que os subsídios de
férias e de Natal deste ano serão
pagos já com o aumento anunciado
esta semana, o montante recebido
nestes dois anos pelos pensionistas
será maior do que o cenário alterna-
tivo num valor equivalente a cerca
de 28% da pensão recebida em
2022.
Por exemplo, quem recebe uma
pensão de 300 euros vai receber ao
longo destes dois anos — incluindo a
meia pensão entregue em Outubro
de 2022 — um total de 8839 euros.
São mais 85 euros do que aquilo que
resultaria da simples aplicação do
mecanismo de actualização automá-
tica das pensões previsto na lei.
No caso de uma pensão de 400
euros, o valor adicional é de 113
euros, e, numa pensão de 500 euros,
de 143 euros.
Estes são, na prática, os apoios
O Governo de António Costa e
Fernando Medina passou, em
poucos meses, de uma medida
que provocaria perdas nas
pensões a partir de 2024 para
um bónus que beneficia as
reformas mais elevadas
Quanto ganham no total os pensionistas em 2022 e 2023
Em euros
Aquilo que vai acontecer com
a entrega de meia pensão em
Outubro de 2022 e a aplicação
integral da regra de actualização
em 2023 apenas a partir de Julho
Pensão mensal de 300€ em 2022
Pensão mensal de 400€ em 2022
Pensão mensal de 500€ em 2022
Pensão mensal de 1000€ em 2022
Pensão mensal de 4000€ em 2022
Fonte: Cálculos PÚBLICO
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 3
DANIEL ROCHA
adicionais dados pelo Estado a estes actualização das pensões em Janeiro
pensionistas durante a crise inÇacio- de 2023 e o aumento intercalar pago
nista. a partir de Julho resultará num ren-
A ministra do Trabalho já tinha dimento 25% acima do que resultaria
assumido, em entrevista à SIC, que da aplicação da fórmula de actuali-
a solução encontrada dará mais ren- zação. Contudo, este apoio, ao con-
dimento aos pensionistas, estiman- trário do que tem acontecido com
do que a soma entre o complemento outras medidas anticrise tomadas
pago em Outubro do ano passado, a pelo Governo, não é progressivo. A
ajuda é sempre proporcional ao ren-
dimento, sendo mais alta para quem
recebe mais, e vai até escalões de
rendimentos bastante elevados.
O que teria acontecido,
se o Governo se tivesse limitado
Assim, quem recebia uma pensão
a cumprir sempre as regras de 4000 euros mensais em 2022, por
de actualização das pensões exemplo, acaba também por sair
beneÆciado com um rendimento ao
Dif. longo de 2022 e 2023 que é superior
8839
85 ao normal em 1143 euros.
8754
Um apoio desta dimensão supera,
11.785 em termos absolutos, não só o dos
113
11.672 pensionistas com menores rendi-
mentos, mas também o que foi dado
14.732
143 aos não-pensionistas e que, por
14.589
exemplo, apenas tiveram como
29.414 apoio do Estado contra a crise inÇa-
286
29.128 cionista o cheque de 125 euros entre-
117.321 gue em Outubro do ano passado (a
1143
116.178 que se somou o apoio de 50 euros
por dependente até aos 24 anos).
Para os pensionistas com rendi-
mentos mais baixos, a opção que
acabou por ser seguida pelo Governo
pode, aliás, acabar por os prejudicar,
se se pensar que, caso não tivessem
recebido a meia pensão e tivessem
unicamente sido beneÆciados com
os aumentos previstos na lei, prova-
velmente também seriam elegíveis
para o apoio extraordinário de 125
euros dado ao resto da população.
É o que acontece, por exemplo, no
caso de uma pessoa com uma pensão
de 300 euros que tem um apoio adi-
cional de 85 euros, abaixo dos 125
euros pagos às restantes famílias.
Em Outubro do ano passado, o
Governo excluiu os pensionistas do
apoio dos 125 euros pelo facto de
receberem o adiantamento de meia
pensão. Mas criou uma cláusula de
salvaguarda para as situações em que
a meia pensão era inferior a esse
valor, pagando-lhes a diferença.
Assim, um reformado com uma pen-
são de 200 euros recebeu os 100
euros correspondentes a metade da
pensão e, depois, mais 25 euros.
Regras de actualização
Além de não saberem se perderiam
rendimento de 2024 em diante,
durante oito meses, os pensionistas
viveram na incerteza quanto à forma
como seriam actualizadas as suas
reformas no próximo ano.
Em Setembro do ano passado, a
ministra do Trabalho anunciou no
Parlamento que a comissão para a
diversiÆcação das fontes de Ænancia-
mento e sustentabilidade da Segu-
rança Social iria avaliar também a
fórmula de actualização das pensões.
Na altura, e perante as perguntas dos
deputados da oposição, Ana Mendes
Godinho não revelou o que iria acon-
tecer no próximo ano e disse que os
aumentos dependeriam da evolução
do ano de 2023 e dos contributos da
comissão.
Em Março deste ano, o secretário
de Estado da Segurança Social,
Gabriel Bastos, voltou a conÆrmar
que o Governo pretendia alterar os
parâmetros da fórmula de actualiza-
ção das pensões — para que seja
“menos sensível aos picos da inÇa-
ção” — e que a expectativa era ter
uma decisão a tempo do Orçamento
do Estado para 2024.
Na segunda-feira, o primeiro-mi-
nistro garantiu que, aÆnal, não será
assim. No próximo ano, não haverá
nenhuma alteração da fórmula de
actualização das pensões, que segui-
rá as regras previstas na lei.
“Aquilo que temos constatado,
durante os anos em que tivemos uma
inÇação anormalmente baixa, e em
que foi necessário haver aumento
extraordinário, ou no ano passado,
em que houve um pico absolutamen-
te anormal de inÇação, é que a fór-
mula não é adequada. Daí a haver
uma alteração vai um passo maior do
que a perna. Está a ser estudado e
depois se verá. Em 2024, não há
nenhuma alteração da fórmula”,
insistiu.
4 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Espaço público

Um segredo incompreensível na história da TAP

O
que terão os pareceres
Editorial jurídicos que estiveram na
base do despedimento da
CEO da TAP por justa causa
de tão relevante, sensível
ou ameaçador aos interesses do
Estado, ao ponto de o Governo se
Manuel Carvalho recusar a enviá-los à Comissão
Parlamentar de Inquérito à tutela
política da gestão da companhia? A
pergunta torna-se imperiosa depois da
acesa troca de acusações de ontem
entre o PS e o PSD. Se não houver
respostas claras, podemos com
Se não houver respostas legitimidade aÆrmar que o Governo
para a recusa em está a usar golpes de secretaria para
entregar os pareceres, obstaculizar o escrutínio da
Assembleia e o direito à informação
podemos aÄrmar que dos cidadãos. Não há aqui meio-termo.
o Governo está a usar Dizer, como diz o Governo, que os
golpes de secretaria documentos não serão entregues aos
para obstaculizar deputados porque o “horizonte
temporal do inquérito” vai de 2020 ao
o escrutínio da final de 2022, não colhe. Porque se
Assembleia e o direito trata de um expediente e um
à informação expediente de legitimidade duvidosa:
o despedimento tem, de facto, a data
de 6 de Março deste ano, mas teve
como causa actos de gestão praticados
no tal “horizonte temporal” da
comissão.
Pode-se ainda discutir sobre se a
documentação requerida pelo PSD é
ou não pertinente para o
esclarecimento da comissão, mas
também aí nada justiÆca a recusa do
Governo. Saber os fundamentos do
despedimento por justa causa de
Christine Ourmières-Wiedener é
crucial para se avaliar a qualidade e
legalidade da sua gestão. Constatar
que os fundamentos jurídicos são
objecto de dúvida fundada é
determinante para se saber se a CEO
foi ou não despedida por se ter
tornado o “bode expiatório numa
batalha política”, como a própria
aÆrmou.
A única porta de saída airosa para o
Governo neste diferendo, a razão que
o pode poupar ao risco de uma
queixa-crime por desobediência
qualiÆcada que o PSD reclama, é
explicar com argumentos a sua
posição. De dizer que age assim
porque, não o fazendo, coloca em
causa interesses públicos
incontornáveis. Aí, poderia aÆrmar
que a estratégia do PSD é “uma arma
de arremesso”, como a classiÆcou
Eurico Brilhante Dias. Servindo-se de
uma questão formal tão discutível
como a das datas, o PS e o Governo
Æcam vulneráveis à acusação de que
querem esconder a verdade.
Se uma acusação desse calibre já é,
de si, suÆcientemente grave para fazer
crescer o pântano do caso TAP,
torna-se politicamente ainda mais
sensível quando confrontada com a
promessa do primeiro-ministro de que
a prioridade é a verdade, “doa a quem
doer”. Seria bom que não se chegasse
aí. Tanto como desgastar o Governo,
esta história degrada a democracia.
Por uma ou outra razão, o PS e o
Governo têm de evitar o agravamento
desta ferida, cada vez mais infecciosa.

CARTAS AO DIRECTOR
Lula tomou partido
dos ditadores
Não compreendo esta súbita e
estranha aproximação do
Presidente da República brasileiro à
China de partido único e à Rússia
agressora de um Estado-membro
das Nações Unidas desde a sua
independência, aliás facto sempre
reconhecido por Moscovo.
Mais estranho ainda é ver este
senhor dar pancadas na NATO e na
UE, culpando estas organizações
pela guerra de agressão perpetrada
pela Rússia do, ao que parece, seu
grande amigo Putin.
Como cereja no topo do bolo, este
chefe de Estado visita um
Estado-membro das ditas
organizações que ele diz serem
responsáveis pela guerra e ninguém
tem a coragem de lhe dizer que
nada vem fazer a Portugal se, como
ele diz, o nosso país é
co-responsável pela guerra na
Ucrânia? É preciso muita lata
e acho piada e sinto mesmo uma
profunda mágoa por o Presidente
da República e o Parlamento
perderem tempo com um aliado de
Moscovo e da sua política.
O 25 de Abril, apesar das
frustrações que gerou, merecia
outra personagem na casa-mãe da
democracia portuguesa. Bem
oportuna foi a crónica de Nuno
Severiano Teixeira sobre a
personagem e os seus perigosos
desvios.
Manuel Alves, Lisboa
O desrespeito do Metro
pelos utentes
O Metropolitano de Lisboa
anunciou nos últimos dias que, com
efeito ao início desta semana, a
estação de Telheiras irá fechar até
meados de Julho devido às obras da
linha circular. O impacto é imenso.
Vários liceus (pelo menos quatro)
são abrangidos por esta estação,
onde se cruzam as linhas amarela e
verde. Será que esta interrupção
não poderia esperar até Julho,
quando o período de aulas
estaria Ænalizado? Alguém pensou
nisso? E a CML não tem uma palavra
a dizer ou será que nem se
apercebeu do facto?
Paulo Rebordão, Lisboa
Censura dos tempos
modernos
Vivemos tempos conturbados e
inquietantes. Predomina a
imposição do pensamento único,
repressivo e absolutamente
intolerante, para com todos que
ousam divergir em pensamento.
Essa visão pretensamente moralista
e ultramoderna representa a nova
censura dos tempos modernos. A
alteração de linguagem em livros e
músicas, a reescrita da história, a
destruição de monumentos
evocativos da história universal,
bem como a padronização de regras
e de comportamentos, supostamen-
te lesivos dos princípios básicos da
inclusão e da sensibilidade humana,
não são mais do que a imposição de
uma ditadura ignóbil de censura e
intolerância. Um vil ataque à
criatividade, ao direito ao
contraditório e à essência da
dúvida, para além de desaÆar a
própria inteligência de cada um.
A nós, compete-nos obedecer e
não questionar, como autómatos
programáveis e seguidistas. Aos
outros, são desconsideradas e
desacreditadas as suas opiniões e
menosprezado o direito à
diversidade de opinião. Este cenário
não poderá continuar, sob pena de
caminharmos para um labirinto
sem saída, nem escolha possível.
Compete-nos ser ousados,
levantando a voz, libertando o
pensamento, ousando criticar e
lutar contra este modelo concentra-
cionário que nos asÆxia e estupidiÆ-
ca. Não estamos condenados a
suportar este estado de escravatura
e censura modernas. Assim não!
Alfredo Fernandes, Rio Tinto
Acordo escondido
com Chega de fora?
Na ânsia de Ænalmente ser
encontrada uma garantia para um
cenário futuro, políticos e analistas
de direita mostraram-se, nos
últimos dias, aliviados por
Ænalmente — no seu entender — o
PSD ter descartado, pela palavra do
seu presidente, qualquer acordo
com o Chega. Mas será que isso
aconteceu de facto? A verdade é que
Luís Montenegro, em entrevista
televisiva, garantiu que, se o PSD
vier no futuro a formar governo, o
fará sem recurso a políticas ou
políticos racistas ou xenófobos.
Nunca, na ocasião, falou no Chega e
quando, mais tarde, jornalistas o
questionaram se era ao Chega que
se referia, iludiu a resposta e alegou
que era necessário um governo
novo com políticas novas.
O próprio André Ventura, ao
comentar as aÆrmações de
Montenegro na entrevista, disse,
numa primeira alusão às suas
declarações, pensar que era ao
Chega que se dirigia, mas sem que o
pudesse garantir. Como é que tudo
isto surgiu? Pelo facto de o
Presidente da República (PR) ter
dúvidas de que esse acordo não se
viesse a concretizar após eleições
que alegadamente convocasse. Este
foi assim o resultado de uma fuga
para a frente de Montenegro para
tentar convencer o PR a dissolver a
AR. Foi pouco assumido nas pala-
vras, de tal maneira que prevalece
uma dúvida de, lá no fundo, sempre
existir a possibilidade de um acordo
escondido com o Chega de fora...
apenas por conveniência.
Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
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ESCRITO NA PEDRA A apologia dos hotéis
O homem é um
animal sociável Ainda ontem
que detesta os
seus semelhantes
Eugène
Delacroix, pintor
H
Miguel Esteves Cardoso
oje estou muito vaidoso. Pela
primeira vez, o Baltazar
O NÚMERO adormeceu encostado à
nudez da minha perna. Isto
50
nunca tinha acontecido,
porque a textura da pele
humana é monótona para os gatos. É careca
e cheira a frango cru marinado em água de
sabonete.
Até aqui tem-se encostado sempre às
minhas calças, exigindo uma barreira
arranhável de algodão entre a cabeça dele,
que é felpuda ao ponto de ser uma caricatura
O PS fez ontem 50 anos, de si mesma, e a minha pele miserável, que
mas nem tudo são rosas nesta sangra ao mais frouxo passou-bem.
data tão relevante para Não adormeceu profundamente: os gatos
o partido, ao ponto de várias gostam de dormir com duas almofadas, em
figuras socialistas não que a primeira almofada é a cabeça deles.
terem ontem poupado o Mas dormitou. E pôs-me a pensar. Com todas
secretário-geral António Costa, as nossas insónias a convencer-nos que a
criticando o actual rumo solução talvez seja um colchão sueco que
ZOOM ÍNDIA
A reacção do CEO da Apple, Tim Cook, após ver um computador Macintosh SE transportado por um fã dos produtos
Apple, durante a inauguração da primeira loja de retalho da empresa em Bombaim, Índia
custa tanto como uma casa, não será mais
barato estudar as estratégias soníferas dos
gatos?
Os gatos têm fama de conservadores, mas
isso é só para disfarçar. Dizemos que eles
dormem sempre nos mesmos sítios, e é
verdade, mas quantos sítios são? Nove?
Quinze? Seiscentos?
Amílcar Correia, Andreia Sanches, David Pontes, Tiago Luz Pedro
Mas será assim? Cada vez que entra em
casa um objecto que possa concebivelmente
servir de ninho permanente — um saco, uma
caixa, um cesto de fruta, um colete-de-forças
— o que é que eles fazem? Aninham-se.
Fazem uma investigação rapidíssima —
caibo ou não caibo? Quantas pernas terão de
Æcar de fora para eu caber? — e entornam-se
para a nova cama, como se alguém lhes
tivesse tirado as medidas antes de a construir.
E o que é que se deduz de estudar o
comportamento aninhador dos gatos? Que
sociais), Patrícia Campos, Lucas Freitas; Rui Barros (jornalista de dados) Política
eles preferem experimentar uma cama nova,
mesmo dormindo um bocadinho pior, do
que estar sempre a dormir nas camas onde o
sono profundo está garantido.
Traduzindo para a esfera humana, a título
de exemplo: é bom ir a um hotel de vez em
quando. Vale a pena dormir mal, só pelo
prazer de dormir numa cama diferente.
Faria Moreira, Daniela Carmo, Joana Gorjão Henriques, Mariana Oliveira, Natália
Mas qual é o segredo dos gatos? É que eles
já têm 15 camas. O que são mais três ou
quatro ao pé disso?
(multimédia), Rodrigo Julião (webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/
FRANCIS MASCARENHAS/REUTERS
Bernardino, David Andrade, Diogo Cardoso Oliveira, Marco Vaza, Paulo Curado
Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA | Sede: Lugar do Espido, Via
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Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 5
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6 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Espaço público
Nomes que avivam memórias, neste outro 25 de Abril
Em Público
o próprio inventário. Independentemente do
N
Nuno Pacheco
a próxima terça-feira vão
celebrar-se 49 anos do 25 de
Abril, com maiúscula. Já não
são os 48 completados em 2019
e mais aparentados à duração
da ditadura (que durou
exactamente 47 anos, 10 meses e 27 dias) nem
o meio século que há-de festejar-se em 2024,
logo se verá como e com que disposição geral.
São 49, num meio-termo que não suscita
grandes alusões. Por isso, à medida de tal
número, de entre centenas de livros editados
desde 1974 com o 25 de Abril por mote,
tropeçámos num que faz agora dez anos e
que, sob um título anódino (25 Abril 1974
Liberdade), retrata em pequenos textos e
outros tantos retratos desenhados “80 Æguras
que marcaram os anos da revolução”.
Assinado por João Malheiro e Nuno
Pedreiro, o primeiro um jornalista e
comentador “com uma forte ligação à tribo
do futebol” (como nos é apresentado na
badana do livro) e o segundo um retratista
dedicado “à banda desenhada e à decoração
de interiores”, o mais curioso neste livro,
O agressor és tu!
E
Luísa Semedo
m 2019, mulheres de todo o
mundo cantaram a canção do
grupo feminista chileno
LasTesis Un violador en tu
caminho. De dedo em riste,
gritaram o refrão: “El violador
eres tú!” Em poucas palavras, LasTesis
conseguiram passar algumas das
mensagens mais essenciais sobre a violência
sobre mulheres, conseguiram aliar a crítica
à estrutura patriarcal e a colaboração das
instituições à denúncia do comportamento
individual, facilitado por esta mesma
estrutura. Uma ordem patriarcal que
permite a banalização da violência
e a sua impunidade. Para além disso,
LasTesis não se deixaram distrair pelo
ruído dos zelosos funcionários do
patriarcado. Colocaram o debate sobre as
violências feitas às mulheres no seu lugar.
editado pela Quidnovi em Abril de 2013, é o
juízo que possa fazer-se acerca dos seus
textos e retratos, a lista (obviamente
subjectiva e parcial, com omissões que
muitos apontarão e inclusões que outros
contestarão, a escrita obedecendo ao
malfadado acordo ortográÆco que
absurdamente nos persegue) leva-nos a
recordar 80 personagens que povoam a
memória colectiva pelas mais variadas
razões, positivas ou negativas, consoante o
juízo de cada qual.
Estruturada alfabeticamente (de Adelino da
Palma Carlos a Zeca Afonso), a lista de nomes
é composta maioritariamente de homens,
com apenas sete mulheres. Uns mais ligados à
política (27), outros às artes (29), à
comunicação social (6) ou à vida militar (18).
Mais de metade dos 80 tinha morrido antes da
edição. Um ainda nos anos 70 (Ramiro
Correia), nove nos anos 80 (Adriano Correia
de Oliveira, Ary dos Santos, Francisco Sá
Carneiro, José Gomes Ferreira, Maria Lamas,
Pinheiro de Azevedo, Ruy Luís Gomes,
Salgado Zenha e Zeca Afonso), 17 nos anos 90
(Adelino da Palma Carlos, Amália Rodrigues,
António de Spínola, César de Oliveira,
Fernando Lopes-Graça, Francisco Sousa
Tavares, José Cardoso Pires, Melo Antunes,
Miguel Torga, Natália Correia, Octávio Pato,
Pereira de Moura, Rogério Paulo, Salgueiro
Maia, Teixeira Ribeiro, Vasco da Gama
Fernandes e Virgínia Moura) e 22 já nos anos
2000 (Álvaro Cunhal, Carlos Fabião, Cónego
Todas sabemos. A culpa não é das
sobreviventes. O agressor és tu!
A cada escândalo sobre violência sexual,
saem do buraco, tal baratas tontas, os
zelosos funcionários do patriarcado. Todo o
sistema opressivo necessita destes
funcionários, são eles que suportam o
sistema, mantêm o statu quo, usufruindo de
vários instrumentos para a manutenção da
dominação machista. Um deles, talvez o
mais eÆcaz, é a distração. Os funcionários
do patriarcado vão criar distração no
debate público para que não se repare que
“o agressor és tu”.
São as mulheres violentadas que passam
para o banco dos réus. Porque se calaram?
Porque, onde, como falaram? Como
estavam vestidas? São as mulheres
agredidas que ainda são insultadas:
cobardes, aproveitadoras, histéricas,
mentirosas. São elas que vão ser atacadas
nos tribunais por difamação. Todo o espaço
mediático vai ser inundado por
comentários, publicações que vão forçar
mulheres a justiÆcar-se sobre o seu
comportamento. A própria existência da
violência contra mulheres vai ser posta em
causa. Assistimos aos mesmos debates ocos,
como os usuais sobre se o racismo existe.
Diversão. E, por Æm, mesmo admitindo que
Melo, Costa Gomes, Costa Martins, Fialho
Gouveia, Galvão de Melo, Henrique de Barros,
Jaime Neves, José Saramago, José Viana,
Magalhães Mota, Manuel Serra, Mário
Castrim, Óscar Lopes, Palma Inácio, Raul
Rêgo, Raul Solnado, Rosa Coutinho, Sophia de
Mello Breyner Andresen, Vasco Gonçalves e
Vítor Alves).
Nos dez anos de publicação do livro, que se
cumprem neste Abril, a lista original sofreu
ainda mais 13 baixas, com as mortes de
Almeida Santos, António Arnaut, Arnaldo de
Matos, Diniz de Almeida, Freitas do Amaral,
Gonçalo Ribeiro Telles, Jorge Sampaio, José
Mário Branco, Luís Filipe Costa, Mário
Soares, Nuno Teotónio Pereira, Otelo Saraiva
de Carvalho (que, aliás, assina o prefácio do
livro, intitulado “Para que a memória
prevaleça e o olvido não triunfe”) e Pires
Veloso. Do inventário citado, permanecem
bem vivos, neste 49.º aniversário do 25 de
Dez anos após a edição
de um livro com ‘80
Äguras que marcaram
os anos da revolução’, só
18 permanecem bem
vivos, entre nós
existe um problema, este passa a ser fruto
de um sistema abstrato, onde todos somos
culpados. Esquecendo quem são, em
esmagadora maioria, as vítimas e os seus
agressores. E assim se vai passando o
tempo. Crimes sem criminosos. Crimes
cujas culpadas são as vítimas. Crimes? Que
crimes?
Nas versões mais pró-feministas destes
funcionários, a preocupação exclusiva é a
de apagar o fogo. Como permitir que as
mulheres façam denúncias à porta fechada,
sem barulho. Em momento algum se
debruçam sobre a questão essencial: como
prevenir o fogo. A violência machista é dado
naturalizado. A masculinidade tóxica, a
virilidade, a cultura de propriedade não vão
ser questionadas. Eles têm lá as suas
pulsões. Como vão poder seduzir, coitados?
E a presunção de inocência? E a sua
reputação? E o seu legado? Os interesses de
agressores passam a ser o centro das
atenções morais, primam sobre as vidas das
sobreviventes.
Para as mulheres, todas as promessas de
igualdade do 25 de Abril ainda não foram
cumpridas. Precisamos de uma revolução
feminista, inevitavelmente benéÆca para
homens e rapazes. Não se pode resumir a
justiça à lei. O Governo não se pode demitir
Abril de 1974, um total de 18: António
Victorino D’Almeida, Carlos Cruz, Duran
Clemente, Fernando Tordo, Ferro Rodrigues,
Isabel do Carmo, Joaquim Letria, José
Barata-Moura, José Jorge Letria, Luís Cília,
Manuel Alegre, Manuel Freire, Maria Teresa
Horta, Paulo de Carvalho, Pinto Balsemão,
Ramalho Eanes, Sérgio Godinho e Vasco
Lourenço.
Assim, citados a eito, serão apenas nomes.
Mas se atentarmos em cada um deles, há
muitas histórias e memórias que lhes estão
associadas e que reavivam várias outras,
outros nomes, acontecimentos, coisas que dá
gosto lembrar ou que lembramos apenas para
que não voltem a acontecer. Por curiosa
coincidência, dois dos integrantes desta lista
receberam há dias das mãos do Presidente da
República a Ordem da Liberdade: os cantores
e compositores Fernando Tordo e Paulo de
Carvalho que, entre as muitas canções que
criaram ou interpretaram, deram voz a duas
que marcaram o Festival da Canção e o Ænal
da ditadura, respectivamente Tourada (que
em 1973 já prenunciava a queda do regime) e
E depois do Adeus, uma das senhas do 25 de
Abril. A mesma distinção recebeu o
cartoonista António (do Expresso), pela pena
do qual têm passado episódios inesquecíveis
da vida política portuguesa nos últimos 50
anos. Não faz parte da lista, mas a sua obra,
como a dos músicos citados, traz consigo a
palavra Liberdade.
Jornalista. Escreve à quinta-feira
das suas responsabilidades. Não se pode
permitir, por exemplo, que, na academia,
dinheiros públicos sejam utilizados por
predadores sexuais como instrumento de
poder.
Precisamos de considerar as violências
contra as mulheres como uma verdadeira
causa nacional urgente. De dar meios a
associações, não somente de apoio às
vítimas, mas também de prevenção e
formação. De educação prática nas escolas
através de ateliers sobre a violência sexista,
repetidos ao longo da escolaridade. De
inserção da questão da violência nos
programas de várias matérias, como a
História ou a FilosoÆa. De formação de
proÆssionais em contacto com mulheres
vítimas de violência, desde o ensino à
saúde, passando pela justiça. Não podemos
esquecer os vergonhosos acórdãos que têm
sido notícia em Portugal nesta matéria. De
formação nas empresas e universidades
sobre o assédio sexual e moral no trabalho.
De campanhas nacionais mediáticas de
prevenção para a população em geral. Etc.,
etc. A lista é longa, mas necessária. Todas
sabemos!
Professora de Filosofia do ensino
secundário. Escreve quinzenalmente
 Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 7

Uma Europa unida e autoconfiante face à ascensão da China

interesses partilhados, seguindo o espírito
da economia social de mercado.
As decisões fundamentais na política
externa europeia devem estar
constantemente associadas a uma “política
para as matérias-primas”, garantindo o
acesso económico aos recursos
indispensáveis. Temos de reduzir a
conjunto com os nossos aliados dos Estados
Unidos e apresentar-nos como uma aliança
económica e de segurança sólida perante a
China. Apesar de os EUA e a Europa estarem
em saudável concorrência económica, não
restam dúvidas de que a parceria estratégica
com os EUA é e continua a ser o alicerce da
nossa política externa e de segurança
representaria um terceiro polo no cenário
geopolítico é essencialmente errada.
Necessitamos de uma Europa sólida e
autoconÆante, que defenda o nosso modelo
europeu de liberdade, democracia, Estado
de direito e fair play. O modelo chinês — uma
autocracia sem liberdade, sem democracia,
sem igualdade perante a lei e sem

A
dependência das cadeias de abastecimento europeia. Esta parceria deve ser reforçada, perspetivas reais para o futuro — atingirá os
Manfred Weber e José Manuel Fernandes
chinesas. Precisamos de defender a considerando as ambições hegemónicas da seus limites e é incompatível com os nossos
tensão de guerra paira na Ásia. liderança tecnológica e o poder de inovação China. valores e o nosso “modo de vida europeu”.
Mais uma vez, Xi Jinping da Europa, protegendo o nosso Os valores europeus não são privativos da Os democratas de todo o mundo devem
desaÆa a postura europeia em conhecimento e infraestruturas cruciais Europa, mas antes comuns a toda uma manter-se unidos e apoiar-se mutuamente.
relação à China. Pouco tempo contra a inÇuência chinesa. aliança de democracias ocidentais. Neste Um Ocidente dividido apenas favorece os
depois da visita do Presidente Simultaneamente, como europeus, é contexto, a ideia de que a Europa autocratas em Moscovo e Pequim.
Macron a Pequim, a China crucial acelerarmos e fortalecermos os Se não for agora, quando é que a Europa
começou um exercício militar de grande nossos esforços na área da defesa. É agirá Ænalmente com Ærmeza e
dimensão perto de Taiwan, mostrando a sua imperativo estabelecer um pilar de defesa determinação para restaurar a sua unidade
força ao mobilizar bombardeiros europeu no quadro da NATO. Precisamos de face à China? O que está em jogo é o futuro
hipersónicos e navios de guerra ao redor da ponderar seriamente a criação de uma europeu, o futuro de todos nós. A Europa
ilha. Estes simulam ataques com mísseis a brigada conjunta de ciberdefesa e de um não necessita de mais discursos ou inúmeras
cidades de Taiwan e treinam novas sistema de defesa antimíssil comum. delegações económicas bilaterais, mas sim
estratégias ofensivas. A dúvida não parece Devemos encontrar uma maneira de uniÆcar
A ideia de que a Europa de uma perspetiva europeia coesa e
ser “se”, mas antes “quando” a China irá a voz da Europa e providenciá-la com os representaria coerente. Apenas uma Europa unida e
atacar Taiwan. meios necessários para se proteger. Apenas autoconÆante é uma Europa credível e forte,
A China aspira a ser a nova superpotência uma Europa forte, devidamente articulada
um terceiro polo no que será levada a sério pela liderança
mundial, em nosso detrimento, adotando no quadro da NATO, poderá evitar uma nova cenário geopolítico é chinesa. Precisamos nós e precisa o mundo
uma política externa cada vez mais firme. corrida global às armas. de uma Europa livre e forte e de um
Além disso, amplia o seu armamento militar, É tempo de a União Europeia
errada. (...) Um Ocidente Ocidente igualmente livre e forte.
emprega o seu poder económico para abafar corresponder às expectativas justas de um dividido apenas
críticas no âmbito global e chega a sancionar bloco conÆável em matéria de segurança e Presidente do Grupo PPE
parlamentares eleitos na Europa. política externa, avaliando de forma realista
favorece os autocratas no Parlamento Europeu;
No mar do Sul da China, ocupa ilhas, as suas próprias fraquezas. Devemos agir em em Moscovo e Pequim eurodeputado do PSD
desrespeitando o direito internacional para REUTERS
garantir o controlo da região. Além disso, a
China tem expandido bastante os seus
vínculos económicos estratégicos
relacionados com recursos valiosos, bens
alimentares e energia. Pequim adotou uma
política de competição intensa e até hostil,
desconsiderando normas internacionais e
perseguindo impiedosamente os seus
interesses, seja na área da inteligência
artificial, das tecnologias de comunicação,
da proteção do clima ou agricultura. Em
termos simples, a China é o “elefante na
sala”, ameaçando não apenas os seus
vizinhos, mas toda a ordem mundial, aí
incluídos os interesses da Europa e dos
aliados europeus.
Apesar dos alertas, os líderes europeus
optaram por ignorar riscos e perigos.
Inúmeras visitas individuais de chefes de
Governo europeus demonstraram ao mundo
que a Europa está, mais uma vez, dividida.
Os interesses nacionais sobrepuseram-se aos
europeus, debilitando a Europa e
fortalecendo os nossos concorrentes
estratégicos. Os países europeus apelam à
soberania europeia, mas agem
bilateralmente quando os seus interesses
económicos estão em jogo, permitindo à
liderança chinesa “dividir para reinar”,
prejudicando os nossos interesses
estratégicos.
As nossas relações com Pequim são
fundamentais; contudo, abordá-las sem uma
estratégia europeia é imprudente. No âmbito
do comércio, a Europa deve juntar-se a
parceiros fiáveis à escala global e estabelecer
uma área de comércio livre para o mundo
livre, assente em valores, regras e princípios
– uma união económica de Estados com
8 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Política Aniversário dos 50 anos do Partido Socialista

Nasceu contra
o fascismo,
agora o PS
quer combater
o populismo
Costa fez questão de recordar que foi
Ferro Rodrigues quem teve a primeira
maioria absoluta da história do PS
Maria Lopes
Foi um discurso em que percorreu
as principais marcas políticas do PS,
como o esforço para a adesão à então
Comunidade Económica Europeia,
a generalização do pré-escolar ou a
criação de apoios como o rendimen-
to social de inserção, mas António
Costa quis também passar a mensa-
gem de que “o PS não existe só quan-
do está no Governo”. Estaria o secre-
tário-geral socialista a preparar a
plateia do jantar dos 50 anos do PS
para um novo ciclo que se adivinha
com a direita no poder?
Ontem, num pavilhão Carlos
Lopes com 1200 socialistas (e uma
única bandeira do partido), António
Costa, secretário-geral, e Carlos
César, presidente do partido, procu-
raram espetar uma farpa na direita
e em especial no Chega sem nunca
nomearem qualquer partido.
António Costa citou o histórico
líder do PSOE, Felipe González, que
“Hoje somos o partido socialista
europeu com a maior representati-
vidade parlamentar e somos simul-
taneamente a força partidária sobre
a qual se tem a certeza que mais
pode e mais quer impedir a ascensão
ao poder e progressão da extrema-
direita”, defendeu Carlos César.
“Extrema-direita radical que, pese
embora a sua arrogância e estridên-
cia, está por enquanto abaixo da
dimensão eleitoral dos partidos con-
géneres da Europa”, acrescentou. E
então veio a bicada ao PSD sobre a
relação com o Chega, mas sem nun-
ca referir nem um nem outro: extre-
ma-direita “que tem a benevolência
e cumplicidade dos seus amigos mais
próximos, à direita do PS”.
A maioria de Ferro
António Costa salientou a marca do
PS em muitos momentos e decisões
históricas nacionais, de Mário Soa-
res até José Sócrates – sim, o antigo
primeiro-ministro veio várias vezes
Ex-governantes e dirigentes arrasam actual liderança e falam de “nepotismo”

disse que homens de idades diferen-
tes podem estar na mesma trinchei-
ra a combater a mesma guerra, para
avisar que depois do agora há uma
nova trincheira e a guerra que se
tem “pela frente é o combate ao
populismo”. Ainda houve tempo
para um outro remoque à direita,
que “tem a inveja no seu ADN” por-
que só se preocupa que os países
europeus menos desenvolvidos se
aproximem de Portugal, ao passo
que o PS está “satisfeito” por todos
na Europa crescerem. “Está ali a
Rosa Mota que só ganhou marato-
nas porque não olhou para trás, mas
para a meta. O nosso objectivo é
chegar à meta.”
Antes, coube a Carlos César acusar
o PSD de “benevolência” para com
a extrema-direita e defender que o
PS é o único partido que “se tem a
certeza que mais pode e quer impe-
dir a ascensão ao poder e progressão
da extrema-direita radical”.
à baila. Até numa referência espe-
cial à primeira maioria absoluta do
PS. Nos ecrãs gigantes, numa
sequência de imagens que retrata-
ram a história do partido e alguns
marcos no período democrático
português, chegaram a passar fotos
vitoriosas de Sócrates nas legislati-
vas de 2005 (identiÆcadas como a
“primeira maioria absoluta”), mas
António Costa haveria de clariÆcar:
“Recordar, porque às vezes nos
esquecemos, que foi mesmo com
Ferro Rodrigues que o PS teve a pri-
meira maioria absoluta da sua his-
tória, nas europeias de 2004, que
inÇigiu uma monumental derrota à
direita.”
No seu discurso, António Costa
procurou associar o PS à marca inde-
lével do Estado social e às principais
reformas. E sobre os primórdios pro-
curou vincar o papel do partido em
oposição ao PCP, seu recente parcei-
ro na “geringonça”. O PS cresceu
E
m dia de aniversário dos 50
anos do PS, houve várias
vozes socialistas a criticarem
o “nepotismo” que dizem
imperar no partido e a liderança
protagonizada por António
Costa, havendo mesmo quem
peça que no próximo congresso
haja uma candidatura forte
alternativa à do actual
secretário-geral.
“Estamos perante um partido
vazio de ideias e onde as
decisões são tomadas por um
petit-comité”, afirma Mota
Andrade, antigo deputado do PS.
“O PS meteu a ética republicana
na gaveta e entrou num processo
de lutas internas pela sucessão
de António Costa e hoje os
dirigentes do PS querem estar no
poder pelo poder e não pelos
valores do partido”, observa ao
PÚBLICO Mota Andrade,
lamentando que o PS se tenha
tornado “num partido de um
homem só”. Para Mota Andrade,
“o partido é dominado por um
grupo que tem pouca tolerância
junto dos militantes que
divergem ou que têm
perspectivas diferentes daquilo
que devia de ser o PS. Alguns
dirigentes estão longe daqueles
que são os valores da fundação
do Partido Socialista”.
Também José Junqueiro, que
foi secretário de Estadoo de
António Guterres e de José
Sócrates, aponta falhass à
liderança de Costa e diziz
que “o PS se afastou daa
ão tive
matriz ideológica”. “Não
nenhum convite para o
jantar em Lisboa, mas
também não tenho
motivos para celebrar. Não tenho
nenhuma razão para estar em
Lisboa no aniversário do partido.
Prefiro comemorar os 50 anos do
PS, em Viseu, num jantar
organizado a nível local,” revela,
dizendo não ter sido convidado
para o jantar, o que o PS nega.
“Estou descontente com esta
liderança. O PS desviou-se da sua
matriz ideológica, deixou de ter as
pessoas no centro das
preocupações, somou um
conjunto de erros e toma opções
internas que revelam nepotismo”,
aponta, insurgindo-se
ins ainda
contra a “grande arrogância
que existe
exist no PS”.
Igualm
Igualmente crítico
mostra-
mostra-se Victor Baptista,
qu
que pede uma
a
alternativa a António
C
Costa no próximo

” pavilhão Carlos Lopes com Olaf
congresso do partido. O antigo
deputado, que liderou a distrital
do PS-Coimbra, lamenta que o
partido se tenha “afastado dos
valores republicanos, da
solidariedade e da liberdade,
que eram os valores de
Mário Soares”, e afirma que
“seria saudável que num
próximo congresso nacional
se associem candidaturas
que possam permitir uma
alternativa forte [à actual
liderança] e que possam ajudar
a alinhar o PS nos valores
da sua fundação.”
Baptista estranha que, “à
medida que a idade [do PS]
avança”, o partido não evidencie
maior maturidade, o que o leva a
dizer: “Fica-se com a sensação
de que cada vez mais temos um
partido mais imaturo.” M.G.
NUNO FERREIRA SANTOS
nessa oposição ao regime e “cres-
ceu” nas ruas “da esquerda demo-
crática” quando, a seguir ao 25 de
Abril, foi necessário defender na rua
a liberdade e assegurar que a revolu-
ção não tinha nova deriva totalitá-
ria”. O PS era o partido que “dizia
que Portugal é do povo, Portugal não
é de Moscovo”.
Para mostrar as inovações da res-
ponsabilidade do PS e as liberdades
que trouxe ao país, Costa lembrou
que foi com Salgado Zenha que se
mudou a Concordata para permitir
o divórcio no casamento religioso;
que os socialistas sabem que “para
defender a democracia é preciso
combater a corrupção” e fez altera-
ções ao Ministério Público para
impedir intromissões políticas, além
das leis anticorrupção aprovadas por
António Guterres.
Foi com António Arnaut que se
constituiu o SNS; com Ferro Rodri-
gues que se criou o rendimento míni-
mo garantido; com José Sócrates
adicionou-se o complemento solidá-
rio para idosos; com Guterres e a
paixão da educação criou-se o pré-
escolar e apoios sociais para todos
os graus de ensino; com Mário Soa-
res aderiu-se à CEE, com Sócrates o
Tratado de Lisboa.
O secretário-geral do PS vestiu,
por momentos o fato de primeiro-
ministro quando falou de contas
certas, imprescindíveis para o Esta-
do social poder cumprir as suas tare-
fas. “Não nos confundamos: não há
Estado social forte sem Ænanças sóli-
das”, defendeu. “Sempre que as
contas não estão certas, o primeiro
a sofrer é o Estado social e quem
depende dele.”
E haveria de lembrar que em 2015,
o início do seu ciclo, alguns conside-
ravam que não era possível estar no
euro sem austeridade e outros que
para acabar com a austeridade era
preciso deixar o euro. Com a “gerin-
António Costa entrou no gonça” (que Costa não referiu), o PS
Scholz e Felipe González para
acabou por provar que era possível
permanecer na moeda única e virar
o jantar dos 50 anos do PS a página da austeridade.
No arranque do jantar, Carlos
César aÆrmou que todos os socialis-
tas se vêem “na Ægura tutelar” de
Mário Soares — “a nossa referência
de sempre, a nossa referência para
sempre” — e deixou uma “palavra
especial para os antigos líderes, a
todos eles, e todos eles [fez questão
de vincar]”, com uma referência
especial a Guterres. Na sala apenas
estiveram os ex-secretários-gerais
Ferro Rodrigues e Vítor Constân-
cio.
Já não há uma O presidente do PS admitiu que
houve “erros” no caminho, mas con-
ditadura que siderou que “tem valido a pena” cui-
persegue (…), dar do país – em cinquenta anos, o
partido governou Portugal em meta-
há um populismo de desse tempo – e “essa é a missão
que se impõe do PS e em que tem que voltar a ser
vencedor”. Carlos César defendeu
combater ainda que o PS “deve continuar a
António Costa procurar ser o porto de abrigo” da
Primeiro-ministro conÆança dos portugueses.
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 9
Garantia do chanceler alemão
Scholz admite que, se
não houvesse covid,
TAP já seria da Lufthansa
Maria Lopes
O chanceler alemão Olaf Scholz
admitiu ontem à tarde que se não
tivesse havido uma pandemia de
covid-19, “se calhar”, a TAP já teria
mesmo sido comprada pela Lufthan-
sa. O líder alemão admitiu que “o
interesse da Lufthansa na TAP não é
de ontem e que se não houvesse
covid se calhar tinha-se consumado”,
realçou que existe “complementari-
dade” entre os serviços de transpor-
te aéreo das duas companhias e, para
a empresa alemã, o hub que existe
em Lisboa é um bom “recurso”.
Olaf Scholz falava aos jornalistas ao
lado de António Costa, no Ænal da
reunião de hora e meia na residência
oÆcial do primeiro-ministro, em que
os dois terão abordado o tema da
reprivatização da TAP, mas também
as relações económicas entre os dois
países, as questões Ænanceiras euro-
peias, a estratégia energética e a situa-
ção da guerra na Ucrânia.
Pouco antes, o primeiro-ministro
português dera o mote: lembrou que
“o interesse da Lufthansa não é
recente”, uma vez que a transporta-
dora alemã “já esteve em negocia-
ções com o accionista privado para
tomar uma posição” há uns anos.
Agora, nas pré-consultas ao mercado
feitas no âmbito da preparação do
processo de reprivatização, “várias
empresas manifestaram interesse,
entre elas a Lufthansa”, assinalou
António Costa. “Temos de assegurar
um processo transparente onde
todos partem em posição de igual-
dade (...) O processo negocial permi-
tirá decidir quem chega à meta”,
realçou o primeiro-ministro.
“Mas, obviamente, a Lufthansa é
muito bem-vinda. É uma grande com-
panhia aérea, tem uma estratégia de
grande complementaridade relativa-
mente ao hub da TAP”, apontou.
Ainda a propósito da TAP, Costa foi
questionado sobre o parecer de fun-
damentação da demissão da ex-CEO
que o PSD exige que seja enviado ao
Parlamento, mas recusou fazer
comentários sobre a comissão de
inquérito e disse que o Governo tem
cumprido o seu “dever de transpa-
rência” de explicar a decisão.
António Costa e Olaf Scholz falaram
em uníssono de vários temas, mas se
o primeiro-ministro insistiu na defesa
de um novo mecanismo europeu per-
manente de resposta a crises, já o
chanceler Æcou-se pela defesa do fun-
do de recuperação da União Europeia
e outros instrumentos já existentes,
lembrando que ainda não se usaram
todos os meios do Plano de Recupe-
ração e Resiliência (PRR). “Temos de
continuar este caminho até que haja
Ænanças sãs”, defendeu, elogiando:
“Portugal foi um país que fez um
enorme esforço de consolidação das
suas Ænanças.”
Numa expressão de sintonia, o pri-
meiro-ministro português elogiou as
propostas da Alemanha e da Comis-
são Europeia para a revisão do Pacto
de Estabilidade e Crescimento. “Vão
no sentido de termos regras mais rea-
listas e efectivas”, defendeu Costa. “A
trajectória de redução da dívida por-
tuguesa cumpre as regras actuais da
UE e as novas propostas”, fez questão
de realçar. “Tendo em conta a expe-
riência do passado, as regras realistas
têm maior efeito nos mercados por-
que são mais credíveis”, acrescentou
o primeiro-ministro.
Mas fez questão de avisar ser pre-
ciso que “não tenham efeito contra-
producente no crescimento da eco-
nomia”, ao ponto de gerarem reces-
sões “que só diÆcultam o objectivo
Ænal de redução da dívida”. E puxou
os louros à sua política, dizendo que
Portugal foi um exemplo de redução
do peso da dívida no rácio do PIB,
fruto do crescimento económico.
A questão da guerra na Ucrânia
não poderia faltar, nem o passo em
frente: os esforços para os países
europeus dependerem cada vez
menos de outras geograÆas em ter-
mos energéticos.
Costa elogiou a rapidez alemã para
encontrar alternativas ao gás russo
e assinalou o “empenho pessoal” de
Olaf Scholz para desbloquear a cons-
trução de novas interconexões de
electricidade e gás para o centro da
Europa.
10 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Política
CPI reduz margem do Governo para voltar
a travar pareceres sobre demissões na TAP
Marta Moitinho Oliveira
A comissão de inquérito
à TAP vai dar uma segunda
oportunidade ao Governo
para enviar os documentos
para o Parlamento
Os 17 deputados da Comissão Parla-
mentar de Inquérito (CPI) à TAP
divergiram quanto ao modelo para
tentar obter do Governo o parecer
que fundamenta a demissão dos dois
ex-líderes da TAP, mas, a avaliar
pelas posições assumidas na reunião
de ontem da CPI, o executivo poderá
ter menos margem para voltar a
recusar o envio daquela informação
para a comissão de inquérito.
Isto porque os três argumentos
invocados pelo executivo para não
partilhar a informação não tiveram
apoio dos deputados, entre os quais
o de que este pedido do PSD extra-
vasa o objecto da comissão.
O Governo apresentou três argu-
mentos, que chegaram ao conheci-
mento público em dois momentos
diferentes. Primeiro, em resposta ao
requerimento do PSD que tinha sido
aprovado por todos os deputados,
três ministros (o das Finanças, Fer-
nando Medina, o das Infra-Estrutu-
ras, João Galamba, e a da Presidência,
Mariana Vieira da Silva) considera-
ram que na resolução que aprovou a
constituição da comissão de inquéri-
to “foi delimitado o respectivo objec-
to”, bem como o “horizonte tempo-
ral (período entre 2020 e 2022)”.
Os ministros concluem que “extra-
vasando o aludido objecto da comis-
são parlamentar de inquérito e/ou
reportando-se a factos posteriores à
respectiva constituição, as informa-
ções requeridas não recaem no esco-
po” das que podem ser pedidas pela
comissão de inquérito.
Um terceiro argumento surgiu
depois, através de uma nota à Lusa
do gabinete da ministra Adjunta e
dos Assuntos Parlamentares, e ainda
através de declarações aos jornalis-
tas feitas posteriormente pela pró-
pria Ana Catarina Mendes.
O executivo considera que, peran-
te a possibilidade de existir conten-
cioso entre o Estado e os ex-líderes
da TAP — a ex-presidente executiva,
Christine Ourmières-Widener, e o
presidente do conselho de adminis-
tração, Manuel Beja —, tem de prote-
ger a “posição jurídica” do Estado,
daí invocando também o “interesse
público” para recusar o envio de
informação para a CPI.
O tema gerou tensão política que
escalou entre o PSD e o PS ao longo
do dia de ontem, com declarações
públicas de ambos os lados. A meio
da tarde, já dentro da reunião da CPI,
os deputados chegaram a um resul-
tado: o presidente da comissão par-
lamentar de inquérito, o socialista
Jorge Seguro Sanches, vai enviar de
novo ao Governo um pedido para
obtenção dos pareceres, dando
assim ao executivo uma nova opor-
tunidade.
A lógica foi seguir a prática que a
CPI tem adoptado com outras enti-
dades que recusam enviar informa-
ção, mas o modelo para o fazer não
foi consensual. O PSD argumentou
que, segundo o regime jurídico dos
inquéritos parlamentares, devia ser
o presidente da Assembleia da Repú-
blica, Augusto Santos Silva, a liderar
o processo. Neste ponto, os sociais-
-democratas Æcaram isolados. Todos
os outros deputados defenderam
que, tal como tem acontecido em
casos anteriores, é enviado um pedi-
do novo.
O novo coordenador do PS na
comissão de inquérito, Bruno Ara-
gão, que tinha sugerido a solução que
vingou, pediu para que Æcasse regis-
tado que a insistência com o Governo
seguia a “bitola” que a comissão tem
usado face a outras entidades. O
deputado do Chega Filipe Melo disse
não perceber “porque é que neste
caso concreto [o PSD] quer fazer dife-
rente”. Melo lembrou, porém, que se
da próxima vez o Governo voltar a
não enviar, então será o Chega a par-
ticipar junto do Ministério Público
esta falta, deixando já esta ameaça
ao executivo.
Crime de desobediência
Já quanto à contestação das razões
do executivo, registaram-se menos
divergências entre os deputados das
várias bancadas. Sobre a crítica de
que a comissão estaria a extravasar
o objecto da comissão, foi o próprio
presidente da comissão de inquérito
que declarou: “Não me parece ocor-
rer de maneira nenhuma.”
Sobre o facto de os tais pareceres
serem referentes a factos ocorridos
depois de 2022, o deputado Filipe
Melo referiu que, embora a comissão
incida sobre o período entre 2020 e
2022, “não diz apenas” e, portanto,
“abre janela a 2023”, ano o em que
ocorreu a demissão dos ex-líderes
x-líderes
da TAP. Já antes, ainda foraa da reu-
nião, o deputado da IL Bernardo
rnardo
Blanco tinha criticado a
“dualidade de critérios”
do Governo, que já
enviou para a CPI docu-
mentos que não se refe-
rem àquele período.
Luís Montenegro criticou posição assumida por três ministros
Comissão de vencimentos “dificilmente”
vai decidir bónus a CEO demitida pelo Estado
O
presidente da comissão de
vencimentos da TAP disse
ontem que este órgão não
deliberou e “dificilmente”
vai deliberar sobre o pagamento
de um bónus à ex-presidente
executiva, destituída pelo
accionista. “A comissão de
vencimentos não deliberou
[sobre bónus à ex-CEO]. Tendo
em conta factos que são
conhec
conhecidos à data de hoje,
dificil
dificilmente [...] deliberará
sobre uma remuneração
variáv
variável a uma pessoa que
foi des
destituída pelo
accio
accionista”, respondeu
Tiag
Tiago Aires Mateus na
com
comissão de inquérito.
O deputado do Chega
RICARDO LOPES
Filipe Melo tinha questionado
o responsável da comissão que
fixa as remunerações dos
órgãos sociais da TAP sobre
declarações do ministro das
Infra-Estruturas, João Galamba,
que, em Fevereiro, antes da
demissão dos presidentes da
companhia, disse que “a
comissão de vencimentos
deliberou fixar, cumprindo o
acordado, as remunerações
brutas”, mas não fixou, em 2021,
quando a ex-CEO chegou à
empresa, “o bónus (...) porque o
bónus está inteiramente ligado
ao sucesso de reestruturação da
TAP”. “O facto é que nunca fui
chamado a deliberar sobre ele”,
garantiu. PÚBLICO/Lusa
Aliás, no sábado, o PÚBLICO noti-
ciou um desses casos. Perante um
pedido do PS, feito no âmbito da
Comissão de Economia, de acesso a
informação sobre a privatização da
TAP em 2015, o Ministério das Infra-
-Estruturas optou por enviar a docu-
mentação para a CPI, já depois de o
Ministério Público ter invocado
segredo de justiça.
“Não pedimos por favor”
Também a questão do interesse
público foi contestada. Paulo Moniz,
deputado do PSD, falou do historial
de “inexistência de fugas de informa-
ção, feita em sala própria com um
cofre”. “Não entendemos o risco do
compromisso de conÆdencialidade”,
disse. Também a deputada do BE
Mariana Mortágua sustentou que o
Governo tem de enviar os pareceres,
garantindo que a responsabilidade
de zelar pela conÆdencialidade dos
mesmos é “de cada um” dos deputa-
dos. Contra-argumentos que não
motivaram contestação por parte
dos deputados do PS.
Bruno Dias, o deputado do PCP na
CPI, resumiu: “O que nos importa é
ter o documento. O que é preciso é
que o Governo cumpra a lei. Não
estamos a pedir por favor.”
A recusa do envio da informação
para o Parlamento foi conhecida logo
pela manhã de ontem. Ao almoço, o
presidente do PSD, Luís Montenegro,
defendeu que os ministros das Finan-
ças, Infra-Estruturas e da Presidência
do Conselho de Ministros, respecti-
vamente, Fernando Medina, João
Galamba e Mariana Vieira da Silva,
incorrem no “crime de desobediên-
cia qualiÆcada”. E subiu o tom da
parada: “Este é um assunto demasia-
do sério. Coloca em causa o normal
relacionamento das instituições.”
Pouco depois, chegou a reacção
do PS. “Aquilo que o dr. Luís Monte-
negro fez hoje não foi defender o
interesse público”, disse o líder da
bancada socialista, acrescentando
que “essa ânsia de atacar o Governo
retira-lhe [ao presidente do PSD]
algum discernimento, colocando em
causa as instituições”.
O deputado Eurico Brilhante Dias
defendeu que “na política não vale
tudo. O que o dr. Luís Montenegro
fez hoje foi uma política de vale
tudo”. O socialista disse ainda que
Montenegro está a tentar “encontrar
instrumentos de conÇito institucio-
nal”. Um argumento que o Chega
comprou. Dentro da reunião da CPI,
Filipe Melo acusou o PSD de “arran-
jar mais um show oè, à imagem do
seu líder partidário”. e de “criar
guerras institucionais”.

Iniciativa Liberal quer legalizar produção
e venda de cannabis para uso recreativo
Maria Lopes
Segundo a proposta da
IL, qualquer loja (excepto
estações de serviço) poderá
vender, mas a pelo menos
300 metros de escolas
A Iniciativa Liberal vai assinalar aque-
le que é informalmente considerado
o dia internacional da cannabis (20 de
Abril) entregando um projecto de lei
que legaliza o seu cultivo, comercia-
lização e consumo recreativo. A inten-
ção dos liberais é ter a discussão e
votação na generalidade feita até ao
Ænal deste ano e um novo regime até
ao Verão do próximo ano, adiantou
ao PÚBLICO o deputado Carlos Gui-
marães Pinto.
A IL junta-se assim ao Bloco, que
entregou uma proposta idêntica em
Junho do ano passado, mas com
Carreiras clarifica a Lula
posição sobre Ucrânia
Henrique Pinto de Mesquita
Helena Carreiras, ministra da Defe-
sa, disse ontem que, quando con-
versar com Lula da Silva, Presiden-
te do Brasil, no contexto da sua
visita a Portugal, irá “esclarecer e
clariÆcar” qual a posição portugue-
sa face à guerra na Ucrânia, ou seja:
que “não estamos a dar armas à
Ucrânia para apoiar uma agressão,
mas para apoiar a resistência a uma
agressão”.
Questionada sobre o assunto à
margem do evento de apresentação
do Plano de Acção para a ProÆssio-
nalização do Serviço Militar
(PAPSM), a ministra da Defesa come-
çou por notar haver “vários aspec-
tos” em que está em “consonância”
com Lula. Depois, observou que
esta visita é uma “grande oportuni-
dade” para lhe explicar a posição
portuguesa, assim como ouvir a bra-
sileira. “O diálogo que vamos ter vai
permitir esclarecer e clariÆcar as
posições recíprocas”, disse.
Apesar de ter agora condenado a
invasão da Ucrânia pela Rússia, o
Presidente do Brasil aÆrmou recen-
temente, em Abu Dhabi, que “a
Europa e os Estados Unidos conti-
nuam contribuindo para a continua-
ção desta guerra”. Além disso, cri-
ticou o fornecimento de armas à
maiores restrições. “É uma questão
de liberdade; concordemos ou não
com o consumo, isso deve ser uma
decisão individual”, argumenta, com-
parando com o álcool e o tabaco. E
acrescenta ser necessário “garantir
que quem já consome o faça em segu-
rança e dentro da legalidade”.
“A produção já existe, sobretudo
para exportação, e está regulamenta-
da para o uso medicinal; o que está
ilegalizado é a distribuição e é impor-
tante que não esteja nas mãos de
redes criminosas”, diz o deputado da
IL. Prevê-se que cada cidadão possa
cultivar até seis plantas, mas terá de
as comprar no mercado oÆcial. A ven-
da é proibida a menores de 18 anos, a
quem tenha aparente anomalia psí-
quica ou “esteja visivelmente intoxi-
cado” e é limitada à “dose média
individual calculada para 30 dias”.
O comércio poderá ser feito em
todo o tipo de estabelecimentos
Ucrânia, rejeitou um pedido da Ale-
manha para enviar munições e rece-
beu, oÆcialmente, o ministro dos
Negócios Estrangeiros russo, Ser-
guei Lavrov, na passada segunda-
-feira.
Foi ontem apresentado, no Insti-
tuo de Defesa Nacional, o PAPSM — o
programa adoptado pelo Governo
para, entre outras ambições, atrair
mais jovens e melhorar as condições
das Forças Armadas. O documento
propõe 25 medidas e 82 acções, que
devem ser aplicadas até 2025.
No seu discurso, Helena Carreiras
Ministra da
Defesa pretende
“clarificar” junto
do Presidente do
Brasil a posição
de Portugal sobre
guerra na Ucrânia
considerou que “ingressar na vida
militar, como opção proÆssional,
não pode ser visto como uma fonte
de incerteza e de insegurança para
quem o decide fazer”. “Pelo contrá-
rio”, acrescentou, “deve constituir
uma oportunidade de crescimento
pessoal e proÆssional que toda a
sociedade reconheça e que permita
formar cidadãos habilitados a servir
Portugal em diversas funções”.
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 11
liberal”. A loja tem de estar a pelo
menos 300 metros das escolas e não
ser possível avistá-la a partir destas.
Sobre haver regras muito abertas
para a venda Guimarães Pinto alega
não querer um “processo de legaliza-
ção com regras tão restritivas que
depois ninguém acede”, mas diz-se
disponível para introduzir limitações
por consenso entre os partidos.
É proibido o consumo em locais
fechados de frequência pública, locais
destinados a crianças e jovens, nos
transportes públicos e estabelecimen-
tos de saúde.
A cannabis pode ser vendida na
IL prevê venda no supermercado forma botânica e derivados directos,
ou misturada com tabaco ou outras
(incluindo supermercados), excepto substâncias fumáveis; na forma de
de ensino, de saúde, desportivos, lúdi- bebidas, incluindo cafeinadas ou
cos (para crianças ou famílias) e esta- alcoólicas; na forma comestível e tam-
ções de serviço. Também se permite bém sob outras formas que “visem
a venda exclusivamente online. O alterar o carácter do produto, nomea-
deputado fala numa “visão realmente damente os aromas, sabores, a esté-
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As candidaturas estão abertas até ao dia
28 de abril.
Os interessados podem encontrar toda a
informação sobre os concursos em
www.ihruarrenda.portaldahabitacao.pt
Política
tica ou o perÆl de efeitos psicotrópi-
cos”. Caberá ao Governo, através da
área da saúde, “Æxar o limite máximo
ou concentração de tetrahidrocana-
binol (THC) nos produtos a comercia-
lizar”. E os produtores e comerciali-
zadores terão de comunicar o índice
de THC de todos os produtos.
O BE e a IL estão a contar com
apoio de boa parte da bancada do PS
e de alguns deputados do PSD — Bap-
tista Leite foi um dos autores de uma
moção aprovada no congresso de
2019 que defendia a legalização do
uso recreativo. Há quatro anos, o PS
absteve-se na proposta do BE, que
levou ao seu chumbo, alegando que
o assunto precisa de mais estudos e
de maior controlo. Mas agora a JS tem
uma proposta quase pronta, disse ao
PÚBLICO Miguel Costa Matos. O líder
da JS diz estar em “diálogo” com a
direcção da bancada sobre os moldes
em que a iniciativa pode avançar.
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Marcelo vetou diploma
mas eutanásia ficou
mais perto da promulgação
Sofia Rodrigues
PS, BE e IL dispostos a
contrariar veto do
Presidente sobre a
despenalização da morte
medicamente assistida
O diploma que despenaliza a morte
medicamente assistida estará agora
prestes a ver a luz do dia, depois de
uma maioria parlamentar (PS, BE,
IL) assumir que vai ignorar as dúvi-
das do Presidente da República e
conÆrmar o texto vetado sem aten-
der às preocupações de Marcelo
Rebelo de Sousa. O Presidente subli-
nha que é obrigado a promulgar, mas
“sem drama”.
O historial do diploma da eutaná-
sia, que agora dá primazia ao suicídio
assistido, já vai longo, em parte, por
causa da intervenção de Marcelo.
Pela sua mão, o decreto foi parar ao
Tribunal Constitucional (TC) por duas
vezes e noutras duas foi vetado em
Belém.
Desta vez, Marcelo optou pelo
segundo veto político, sabendo que
uma maioria absoluta de deputados
podia conÆrmar o diploma e obrigá-lo
a promulgar. Na mensagem de devo-
lução do decreto ao Parlamento,
assim que chegou a Belém, o Presi-
dente argumenta que era preciso
esclarecer quem é o médico que ates-
ta a incapacidade do doente para não
poder praticar o suicídio assistido e,
assim, poder recorrer à administra-
ção de fármacos letais por parte de
terceiros (eutanásia).
Mas o PS, BE, IL e PAN mostraram
que estão dispostos a conÆrmar o
diploma tal como está sem fazer qual-
quer alteração. “Assim como sempre
respeitámos uma e outra, e outra vez
Isabel Moreira (PS): “Chegou a vez de ver respeitada a vontade da AR”
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 13
a decisão legítima do Presidente da
República, os acórdãos do Tribunal
Constitucional, chegou a vez de ver
respeitada a vontade do Parlamento”,
disse a socialista Isabel Moreira, posi-
ção que foi secundada pelos restantes
partidos favoráveis à eutanásia.
Já o PSD aproveitou para reiterar a
necessidade de levar o tema a refe-
rendo, enquanto o Chega se voltou a
comprometer com a recolha de assi-
naturas junto de deputados da ban-
cada social-democrata com vista a
pedir ao TC a Æscalização sucessiva
do diploma, depois de promulgado.
O PCP, que também tem votado con-
tra a eutanásia, considerou que o veto
de Marcelo conÆrma as “diÆculda-
des” e “as dúvidas que uma matéria
desta sensibilidade levanta”.
A promulgação é já praticamente
certa e também seria essa a decisão
do Presidente caso o Parlamento
atendesse aos seus pedidos de altera-
ção. Pelo menos foi o que Marcelo
garantiu aos jornalistas, horas após
ser conhecido o veto e a posição dos
partidos. “Se ela for ao encontro do
que eu proponho, não vejo razão para
não promulgar”, disse.
Como a maioria está disposta a con-
O PS, BE, IL e PAN
mostraram que
estão dispostos a
conÄrmar o
diploma tal como
está sem fazer
qualquer alteração
e o Presidente é
obrigado a
promulgar
NUNO FERREIRA SANTOS
Política
Ærmar o texto, o Presidente é obrigado
a promulgar, aliás algo que o próprio
também sublinhou. Apesar de o diplo-
ma da eutanásia poder ter luz verde
durante a presidência de um chefe de
Estado católico, a futura lei não terá,
deste modo, qualquer marca da
impressão digital de Marcelo.
Numa altura em que se vive um
ambiente de alguma tensão entre o
Presidente e o Governo por causa do
cenário de legislativas antecipadas,
Marcelo desdramatizou a atitude da
maioria absoluta socialista de se mos-
trar disponível para contrariar o veto:
“Sem drama, é a vida.”
Desta feita, o Presidente optou por
não recorrer ao TC para a Æscalização
preventiva. “Não há ali nenhum pro-
blema de inconstitucionalidade e
outros problemas já foram vistos pelo
Tribunal Constitucional”, notou, refe-
rindo-se às suas dúvidas como “pro-
blemas de precisão”. Neste ponto,
Isabel Moreira também já tinha cons-
tatado que o Presidente “sabe que o
Tribunal Constitucional não encon-
traria, desta vez, qualquer problema
de inconstitucionalidade”.
Aos jornalistas, Marcelo fez questão
de não empolar as falhas apontadas,
argumentando que se a AR não alte-
rar o diploma, “obriga depois o regu-
lamento [da lei] a ter isso”. Questio-
nado sobre se Æca satisfeito com este
desfecho sobre a eutanásia, resistiu a
responder aÆrmativamente. “Não é
uma questão de Æcar satisfeito, estou
a exercer os meus poderes, jurei cum-
prir a Constituição.”
Se à tarde o Presidente mostrou
desprendimento perante o Ænca-pé
parlamentar ao veto, a mensagem que
enviou aos deputados era detalhada
e apelava à colaboração. “Como sem-
pre referiu, o Presidente da República
entende que, em matéria desta sensi-
bilidade, não podem resultar dúvidas
na sua aplicação, pelo que solicitou à
Assembleia da República que clariÆ#
casse estes dois pontos, tanto mais
que se trata de uma solução não com-
parável com a experiência de outras
jurisdições”, lê-se na nota.
Marcelo incidiu sobre “matéria
nova” introduzida na última versão,
após uma declaração de inconstitu-
cionalidade por parte dos juízes do
Palácio Ratton. “Como resultado des-
sa inovação, importa clariÆcar quem
reconhece e atesta tal impossibilida-
de. Por outro lado, convém clariÆcar
quem deve supervisionar o suicídio
assistido”, lê-se na mensagem, que
deixa mesmo a pergunta sobre o
papel dos proÆssionais de saúde:
“Qual o médico que deve intervir
numa e noutra situação?”
14 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Sociedade Contratações para suprir necessidades estão “em curso”

Há 18 mil alunos sem professor a uma

disciplina, diz o Ministério da Educação
Dados avançados pelo ministério são similares aos do ano passado. Educação Física
passou a estar entre os grupos que registaram mais colocações de docentes durante o 2.º período
DANIEL ROCHA

Clara Viana
Cerca de 18 mil alunos iniciaram o 3.º
período sem terem professor a uma
disciplina, revelou o Ministério da
Educação (ME) em resposta a per-
guntas do PÚBLICO, acrescentando
que o processo de contratação para
suprir estas necessidades “já se
encontra em curso”.
No ano passado, o número de estu-
dantes sem professor a pelo menos
uma disciplina andava, por esta altu-
ra, à volta dos 20 mil, um valor não
muito diferente do registado agora.
Em meados de Maio de 2022, este
número tinha caído para cerca de
sete mil, o que o ME atribuiu às medi-
das aplicadas no terceiro período
para conter os efeitos da falta de pro-
fessores, entre elas a transformação
dos horários a concurso em turnos
completos de 22 horas de aulas por
semana, em vez de só cobrirem
pequenos intervalos.
Ainda segundo o ministério, “ao
longo do 2.º período [deste ano lec-
tivo], houve uma média semanal de
500 pedidos de horários (completos
e incompletos)” para substituir pro-
fessores em falta, ou por estarem de
baixa ou por se terem aposentado.
Este ano vão reformar-se mais 3300
professores, numa vaga que conti-
nuará a aumentar pelo menos até
2034. Ministro admitiu que a falta de professores é preocupante e que, devido às baixas médicas, haverá sempre alunos nesta situação
Em declarações no Fórum TSF de
ontem, o ministro da Educação admi- dos 1436 horários por via da contra- sores em 12 dias, em vez de terem de vo, pela primeira vez, a candidatos
tiu que a falta de professores é preo-
cupante e que, devido às baixas
Aprendizagens: plano tação de escola. O ME não especiÆ#
cou quantos foram pedidos neste
esperar por mais de 30 dias para dar
início a este processo, como antes
detentores de cursos efectuados após
a reforma de Bolonha. Também há
médicas apresentadas por docentes, vai durar mais um ano concurso. Mas, segundo o ministério, acontecia. Olhando de novo para as candidatos com habilitação proÆssio-

O
haverá sempre alunos nesta situação.
“Se tivermos, um dia, um professor
a faltar em cada agrupamento do
país, isto gera de imediato 60 mil alu-
nos sem aulas. É um problema que
nos preocupa [e que também] nos
preocupa para o futuro”, disse.
Uma consulta às listas publicadas
pela Direcção-Geral da Administra-
ção Escolar (DGAE) permite consta-
tar que, durante o 2.º período, foram
colocados 3811 professores contrata-
dos nas 12 reservas de recrutamento
ocorridas entre Janeiro e o Ænal de
Março. Este valor corresponde ape-
nas a 48% dos horários que foram
pedidos pelas escolas nestes concur-
sos, que, segundo o ME somaram
7970. Ou, dito de outra forma, 52%
dos horários pedidos nas reservas de
recrutamento Æcaram por ocupar
nestes concursos.
No mesmo período foram ocupa-
O ministro respondeu
favoravelmente ao apelo
das duas associações de
directores, revelando
ontem que o plano de
recuperação das
aprendizagens, lançado em
2021, será “prolongado para o
próximo ano”. O prazo de
vigência do chamado Plano
21/23 Escola+ terminava no final
do ano lectivo, uma situação
que tem preocupado os
directores, já que, devido aos
efeitos da pandemia, este só
arrancou de facto a partir de
Fevereiro de 2022. As
associações alertaram no
Parlamento que o seu fim
retiraria às escolas os recursos
que se têm revelado essenciais.
a resposta aos pedidos de horários,
“entre colocação pelas reservas de
recrutamento e pela contratação de
escola, que foi acelerada neste ano
lectivo, tem permitido satisfazer as
necessidades”. As reservas de recru-
tamento e a contratação de escola
são os dois concursos de colocação
de professores que se mantêm aber-
tos durante todo o ano lectivo para ir
suprindo a falta de docentes. Os pri-
meiros são processados a partir de
listas nacionais, o segundo é feito por
resposta directa dos candidatos às
ofertas publicitadas pelas escolas,
sendo por isso mais eÆcaz em termos
de colocações concretizadas.
As escolas passaram, este ano lec-
tivo, a poder recorrer à contratação
de escola logo após a primeira colo-
cação recusada por candidatos nas
reservas de recrutamento, o que tor-
nou possível a substituição de profes-
listas da DGAE vê-se que perto de um
terço dos docentes (463) colocados
em contratação de escola no 2.º
período estiveram primeiro nas listas
das reservas de recrutamento. Como
estas listas estão ordenadas pela gra-
duação proÆssional (calculada com
base no tempo de serviço e na média
da formação inicial), só podem ter ali
lugar docentes com qualiÆcação pro-
Æssional, que actualmente é conferi-
da por um mestrado em ensino.
Haverá assim uma parte substan-
cial dos horários pedidos em contra-
tação de escola que está a ser ocupa-
da por candidatos sem aquele requi-
sito, o que, pela legislação em vigor,
é permitido em “situações excepcio-
nais”. Mais concretamente quando
não existam candidatos disponíveis
com habilitação proÆssional. Para
colmatar aquelas situações, as esco-
las puderam recorrer este ano lecti-
nal a serem colocados directamente
em contratação de escola por terem
acabado a sua formação já depois da
inscrição para os concursos nacio-
nais deste ano.
Os grupos de recrutamento da
Educação Pré-Escolar e 1.º ciclo con-
tinuaram a ser os com mais coloca-
ções durante o 2.º período. E Educa-
ção Física passou para o terceiro
lugar, uma posição que era ocupada
pelo grupo de Educação Especial. O
presidente do Conselho Nacional de
Associações de ProÆssionais de Edu-
cação Física e Desporto, Avelino Aze-
vedo, adianta que um dos motivos
“poderá ter que ver, tal como nos
outros grupos disciplinares, com a
população docente de EF estar mais
envelhecida” e lembra a propósito
que a leccionação desta disciplina
implica “um grande desgaste físi-
co”.

Governo promete casas adaptadas
para idosos e apoio à vida autónoma
Natália Faria
O cardiologista Nuno
Marques vai coordenar
o Plano de Acção do
Envelhecimento Activo
e Saudável
O Governo escolheu o actual presi-
dente do Observatório Nacional do
Envelhecimento, o médico cardiolo-
gista Nuno Marques, para coordenar
o Plano de Acção do Envelhecimento
Activo e Saudável. A nomeação con-
junta do Ministério do Trabalho, Soli-
dariedade e Segurança Social (MTSS)
e do Ministério da Saúde é publicada
hoje em Diário da República e, segun-
do adiantou ao PÚBLICO Nuno Mar-
ques, algumas das medidas previstas
naquele plano deverão começar a
chegar ao terreno já no segundo
semestre de 2023.
O apoio a projectos de cohousing e
à criação de aldeias comunitárias
para idosos (num exemplo muito
semelhante ao que já vigora em Espa-
nha) e a garantia da adaptação das
habitações para que os idosos consi-
gam retardar o momento de entrada
num lar são apenas algumas das
medidas previstas no novo Plano de
Acção do Envelhecimento Activo e
Saudável (PAEAS) previsto no Orça-
mento do Estado para 2023, embora
sem dotação especíÆca porque, como
sustenta Nuno Marques, “as medidas
a implementar são multissectoriais e
estão repartidas por várias áreas”.
“Uma crítica que era feita há déca-
das prendia-se precisamente com a
falta de articulação entre os ministé-
rios da Saúde e do Trabalho, Solida-
riedade e Segurança social, que agora
vão deixar de estar de costas volta-
das”, enfatizou Nuno Marques, segun-
do o qual as propostas contidas no
plano de acção seguem de perto as
recomendações do livro verde do
envelhecimento, uma directiva que
une os vários Estados-membros na
adaptação à transição demográÆca e
que foi aprovado durante a presidên-
cia portuguesa da União Europeia.
Num país em que os idosos com 65
e mais anos de idade já representam
23,4% da população (e que, segundo
os últimos Censos, soma já 182 idosos
por cada 100 jovens), o novo plano de
acção promete estar muito focado na
prevenção e no envelhecimento sau-
dável. “O que queremos é que os ido-
sos sejam independentes e autóno-
mos o máximo de tempo possível, o
que implica áreas que vão da adapta-
ção dos domicílios à adaptação das
cidades”, adiantou o médico.
“Uma pessoa que tenha artroses ou
Plano promete apostar em estruturas onde os idosos possam preservar autonomia
até uma fractura associada à osteopo-
rose e que por isso tem diÆculdade
em levantar-se da cama pode evitar a
institucionalização se formos adaptar
a casa em que vive às suas necessida-
des, colocando, por exemplo, uma
barra e um apoio que lhe permitam
pôr-se de pé”, exempliÆcou. Medidas
como esta ganham importância acres-
cida se nos lembramos de que as pes-
soas com 65 e mais anos de idade
representam metade dos mais de um
milhão de portugueses que vivem
sozinhos, segundo os Censos 2021.
Equipas domiciliárias
Claro que o combate à institucionali-
zação dos idosos não poderá ser bem-
sucedido sem a criação de equipas
domiciliárias capazes de assegurar o
apoio necessário. Por isso, o novo pla-
no contempla a criação de equipas
multidisciplinares, “com terapeutas,
psicólogos, nutricionistas…”, que até
já têm verbas deÆnidas no Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR), onde
vêm identiÆcadas como serviço de
apoio domiciliário 4.0. Com a ajuda
destas equipas, e em articulação com
as autarquias e as juntas de freguesia,
será possível “construir fatos à medida
de cada idoso”, o que pressupõe que
o foco de actuação passe a “estar nas
pessoas em vez de nos serviços”.
Quando o idoso ainda preserva
autonomia, mas não é possível man-
tê-lo em sua casa, por questões de
saúde ou até de isolamento social, a
solução passará por reforçar “a cria-
ção de estruturas de acolhimento
inovadoras, nomeadamente de
aldeias comunitárias onde as pessoas
podem fazer a sua vida normal, mas
com o apoio necessário, à semelhan-
ça do que já vemos em Espanha”.
O PRR também tem Ænanciamento
previsto para a melhoria dos lares de
idosos, bem como para projectos de
cohousing (um modelo de habitação
colaborativa originário da Dinamarca)
e estruturas intergeracionais, que per-
mitirão “responder à necessidade de
apoio aos idosos e às diÆculdades de
acesso à habitação dos jovens, em
simultâneo”, adianta o mesmo respon-
sável. Portugal apresenta o ritmo mais
acelerado de envelhecimento do con-
junto dos países da União Europeia,
apresentando uma taxa de crescimen-
to médio anual do índice de envelhe-
cimento da ordem dos 3,6%. E pode-
rá chegar a 2080 com 317 idosos por
cada 100 jovens, segundo as projec-
ções do Instituto Nacional de Estatís-
tica, o que dá nota da urgência na
implementação de soluçõess capa-
zes de assegurar um envelheci-
heci-
mento activo da população. o.
Nomeação de
Nuno Marquess
pela Saúde e
Segurança
Social sai hoje
em Diário
da República
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 15
PAULO PIMENTA
Portugal já tinha, de resto, ensaiado
uma Estratégia Nacional para o Enve-
lhecimento Activo e Saudável 2017-
2025, mas esta nunca chegou a ser
implementada. Agora, Nuno Marques
garante que o problema não vai poder
continuar a ser adiado. Aliás, para a
implementação das medidas vai ser
criado um centro de competências
dedicado ao envelhecimento activo,
também com Ænanciamento do PRR.
O reforço do número de camas dedi-
cadas aos cuidados continuados e
paliativos surge como outra das gran-
des apostas do plano. Na área da pre-
venção, está prevista a adaptação dos
locais de trabalho, “para que tenham
o mínimo impacto possível na saúde
e no bem-estar das pessoas”, ainda
segundo Nuno Marques.
A esperança de vida aos 65 anos
está actualmente estimada em 19,3
anos. Mas os portugueses têm das
menores expectativas de vida sau-
dável após os 65 anos de idade: 7,3
anos, isto é, menos três anos do que
a média
méd europeia que é de 10,3
anos. E porque a pobreza afecta
17% dos
d idosos em Portugal,
segun
segundo o último inquérito
sobr
sobre os rendimentos e condi-
ções de vida do INE, feito em
çõ
2022 com base nos rendi-
2
mentos do ano anterior, o
plano prevê a criação de
projectos-piloto de apoio à
p
concepção e desenvolvi-
co
mento de pequenos negócios
me
para pessoas com mais de 60
par
anos de idade.
Sociedade
Adolescente
que esteve à
deriva no mar
já teve alta
Jovem desaparecida no mar
durante mais de 20 horas,
tinha quadro de hipotermia
e foi encaminhada para o
Hospital de Faro
A jovem que esteve à deriva no mar
durante mais de 20 horas, no Algar-
ve, teve ontem alta do Hospital de
Faro, onde estava em observação
desde domingo ao Ænal da tarde,
disse à Lusa fonte hospitalar.
Érica Vicente estava internada no
serviço de Pediatria da unidade de
Faro do Centro Hospitalar Universi-
tário do Algarve (CHUA), onde deu
entrada após ter sido resgatada do
alto-mar pela Força Aérea, no domin-
go, cerca das 18h, a 25 milhas a sul de
Vila Real de Santo António.
A jovem desapareceu depois das
20h de sábado, empurrada pelo
vento, quando praticava paddle na
praia do Coelho, em Monte Gordo,
no concelho de Vila Real de Santo
António.
Foi encontrada com vida mais de
20 horas depois, a 25 milhas (cerca
de 46 quilómetros) a sul de Vila Real
de Santo António, por um navio
mercante que navegava a caminho
de Tânger, em Marrocos.
Um helicóptero da Força Aérea
Portuguesa foi enviado para reco-
lher a jovem, que se encontrava
num elevado estado de hipotermia,
tendo sido depois transportada para
o hospital de Faro.
Na segunda-feira, o director clíni-
co do Centro Hospitalar Universitá-
rio do Algarve, Horácio Guerreiro,
descreveu o estado de saúde da
jovem como estável, sem apresentar
lesões graves, estando apenas com
manifestações de prostração, sono-
lência, algumas dores e uma quei-
madura solar na pele.
A jovem esteve numa unidade de
alta vigilância, quase equivalente a
uma unidade de cuidados intensi-
vos.
Questionado pelos jornalistas
sobre se a sua resistência, após tan-
tas horas à deriva no mar, tinha sur-
preendido a equipa médica, Horá-
cio Guerreiro respondeu que a
situação era surpreendente para
todos.
“Com tanto tempo no mar, em
condições, penso eu, de stress máxi-
mo, é normal que seja surpreenden-
te para todos. É preciso um instinto
de sobrevivência, um autocontrolo,
não entrar em pânico. Esta miúda é
uma heroína, sem dúvida nenhu-
ma”, referiu. Lusa
16 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Sociedade
Advogados contra Governo no novo estatuto:
“Recorreremos às instâncias europeias”
Hora da Verdade
Helena Pereira e Liliana
Monteiro (Renascença) Texto
Matilde Fieschi Fotografia
Fernanda A. Pinheiro
Bastonária diz que edifício
da Justiça está “a ruir” e
acusa Governo de tentar
responsabilizar advogados
Em entrevista ao PÚBLICO-
-Renascença, Fernanda de Almeida
Pinheiro endurece as críticas ao
Governo sobre a proposta de novo
estatuto da Ordem dos Advogados.
Pode ouvir entrevista na ínetgra
hoje às 23 horas na Renascença.
O prazo para responder ao
Governo sobre o novo Estatuto
da Ordem dos Advogados (AO)
no seguimento da nova Lei das
Ordens Profissionais já
terminou. O que acabou a
Ordem por responder ?
Houve umas conversas, não houve
um documento apresentado pelo
Governo que nos indicasse qual é a
intenção em termos legislativos. A
OA foi obrigada a fazer um
contributo para uma proposta de lei
[sobre o estatuto] que desconheço
na íntegra. Nós temos a Lei dos
Actos Próprios, que está em vigor
desde 2009, e foi isso que dissemos:
que essa lei tem de ser transposta
para o estatuto. Nem isso nos
conseguiram garantir, coisa que
achamos muito estranho e que nos
deixou logo alerta para a
possibilidade de haver alguma ideia
de restringir os actos que até agora
foram actos próprios dos advogados
e dos solicitadores.
Que linhas vermelhas é que
traçaram?
Estas mesmas. Não pode haver
alteração dos actos próprios. Não
vai ser possível que alguém venha
com a ideia de que podem
inscrever-se na Ordem dos
Advogados não licenciados em
Direito. A questão também do artigo
quarto: as deontologias não podem
ter uma maioria de membros que
não sejam os inscritos na proÆssão.
E se as linhas vermelhas da OA
não forem aceites?
Teremos de apelar às instâncias
europeias. Na Áustria, por exemplo,
um estágio pode levar até cinco
anos. Como é que nós podemos
admitir que em Portugal um estágio
tenha 12 meses? Esta proÆssão é
uma proÆssão com uma
elevadíssima componente técnica,
uma complexidade enorme. Um
licenciado em Direito não é um
advogado, tem um diploma e
depois para exercer uma proÆssão
tem de ter a componente dessa
proÆssão do ponto de vista prático e
de saber o que é a proÆssão de
advogado.
Para facilitar o acesso à Justiça,
não admite nenhum acto que
pudesse ser feito por outro tipo
de profissional?
Não, repare: se não tiver a formação
adequada, como é que se dirige a
um tribunal? São coisas que se
aprende e que são parte do
patrocínio forense de um advogado.
Não é suposto um arquitecto saber
disso. Não é suposto um curioso
saber disso.
Qual acha que pode ser a
intenção do Governo ao querer
mexer nesse assunto?
Não sei. Disseram-nos que
poderiam inscrever-se na Ordem
dos Advogados administradores de
insolvência. Os administradores de
insolvência, na sua maioria, são
economistas e licenciados em
Gestão. E a pergunta que faço é: o
que é que um licenciado em Gestão
e economista sabe de leis?
E qual foi a justificação dada
para isso?
Porque é uma proÆssão jurídica.
O Governo faz isso para atacar os
advogados?
Sinceramente, acho que se criou
uma narrativa para dar a entender
que a Justiça é inacessível ao
cidadão por culpa dos proÆssionais,
o que é uma coisa absolutamente
espantosa, porque não corresponde
minimamente à verdade. A Justiça é
um bem de luxo para a esmagadora
maioria dos cidadãos. E isso não é
responsabilidade dos advogados,
que passam a vida a dizer que é
muito caro qualquer processo de
taxas de justiça. Um cidadão ou
uma cidadã que se queira divorciar
e discutir regulações de
responsabilidades parentais tem de
pagar ao Estado 612 euros cada um.
O Governo está a transferir, no
fundo, as responsabilidades?
Não tenho dúvidas nenhumas – para
todos os proÆssionais. Não é só para
os advogados. Quando se fala na
morosidade, normalmente
responsabiliza-se os advogados, as
manobras dilatórias que vêm nos
media, mas que representam uma
ínÆma parte de tudo aquilo que está
em tribunal. Responsabiliza-se os
magistrados judiciais, os
magistrados do Ministério Público,
quando o que está a montante é
falta de meios. De quem é a
responsabilidade dos meios da
Justiça? É do Governo.
Há uma promessa feita pela
ministra da Justiça que dava
conta de que o Governo
precisava de assumir as suas
obrigações para reformular o
apoio judiciário e mexer na
tabela de honorários. O que é
que percebeu que está ou não a
ser feito nesta matéria?
Penso que existe da parte desta
ministra uma grande vontade de
melhorar o acesso. Nós propusemos
na nossa primeira reunião criar um
sistema nacional de aconselhamento
jurídico que é absolutamente
fundamental, para ser colocado à
disposição de toda a população e de
todo o território nacional.
Seria gratuito?
Seria gratuito ou com o pagamento
de uma taxa moderadora para
aceder ao serviço. Se existe um
Serviço Nacional de Saúde em que o
cidadão não tem de provar a sua
insuÆciência económica para poder
aceder a cuidados de saúde básicos,
entendemos que aqui também não
o deveria fazer. E propusemos
interligar esse sistema de
aconselhamento jurídico com a
parte do acesso ao direito
propriamente dito, porque o
Não é susposto
um curioso
fazer isso
[actos próprios
de advogados]
O edifício da
Justiça está a ruir
proÆssional faria essa consulta
prévia, ou seja, encaminharia para
o sistema aquilo que deve ir ao
sistema, para ser depois averiguado
pela Segurança Social da
incapacidade ou incapacidade
económica do cidadão e cidadã.
Nos primeiros 100 dias deste ano
houve sempre greves e, no caso
da Justiça, houve um parecer do
Conselho Consultivo da PGR a
considerar ilegal a greve dos
funcionários judiciais. Como vê
esta situação? São os sindicatos
que estão a agir na ilegalidade ou
a lei da greve deve ser mudada?
O que deve ser mudado é a origem
das greves. Os funcionários judiciais
têm carradas de razão. Sem
funcionários judiciais, tal como sem
advogados, sem procuradores e
juízes, não há Justiça. Nós não
conseguimos fazer andar a Justiça,
se não temos funcionários. As
necessidades que o país tem são
cerca de 1000. Abriu um concurso
para 200. Ora, nós sabemos que vão
sair este ano para aposentadoria
cerca de 300. O concurso abriu com
uma remuneração de 846 euros.
A questão da Caixa de
Previdência dos Advogados e
Solicitadores, CPAS, é uma
batalha perdida?
Não, de maneira nenhuma. Os
meus aliados são o próprio
Governo e o MJ. Entregámos logo
no início do mandato uma
proposta de alteração legislativa
para suspender os prazos,
inclusivamente processuais, para
aquilo a que chamamos “a lei do
nojo”, para que os advogados
possam, quando falece um Ælho,
um pai, uma mãe, nos mesmos
termos que foram alterados agora
no Código de Trabalho, beneÆciar
dessa situação, beneÆciar da
licença de parentalidade, que deve
deixar de ser os 60 dias para os 120.
E a proposta foi naturalmente
muito bem recebida pelo Governo.
Essa alteração vai ser feita pelo
Governo?
Tem de ser um decreto lei
governativo.
E relativamente à liberdade nos
descontos dos advogados para
escolherem a Caixa de
Previdência ou o regime geral? O
Governo deu alguma garantia?
Não. Ainda não deu garantia
nenhuma, porque esse assunto
ainda não está a ser estudado. Já nos
reunimos também com vários
partidos. Temos uma reunião esta
semana com o PS, que apresentou
uma resolução para que o Governo
crie esse grupo de trabalho.

Juiz Ivo Rosa desiste da candidatura
ao cargo de procurador europeu
Mariana Oliveira
José Ranito ficou candidato
único e Parlamento
suspendeu a sua audição.
Regras exigem um mínimo
de três candidatos
O juiz Ivo Rosa desistiu da candidatu-
ra ao cargo de procurador europeu,
numa decisão que chegou pouco
antes da sua audição na Assembleia
da República, deixando, assim, o pro-
curador José Ranito como único can-
didato. Tal constitui um problema, já
que as regras legais exigem um míni-
mo de três candidatos.
Face a esta situação, o Ministério da
Justiça (MJ) informou, em comunica-
do, que vai contactar os dois conse-
lhos superiores, o do Ministério Públi-
co e o da magistratura, “para que
sejam por estes indicados novos can-
didatos”. O ministério liderado por
Catarina Sarmento e Castro reitera
que compete ao Conselho Superior
da Magistratura (CSM) e ao Conselho
Superior do Ministério Público (CSMP)
proceder à selecção e indicar ao
Governo os candidatos ao exercício
das funções de procurador europeu
nacional. “É aos conselhos que cabe
indicar os candidatos que serão apre-
sentados pelo Governo à Assembleia
da República para audição, também
Grupo exige investigação imparcial ao caso do CES de Coimbra
Um grupo de mulheres enviou uma
carta aberta ao Centro de Estudos
Sociais (CES) de Coimbra a exigir que
a comissão de investigação seja total-
mente independente e imparcial,
para que se sintam seguras a denun-
ciar e juntar provas.
“É necessário que a investigação
dos casos seja segura e garanta às
vítimas sigilo e um espaço de escuta
e acolhimento, em que possam tes-
temunhar sem medo de retaliações.
Consideramos absolutamente
necessário que a comissão de inves-
tigação do caso seja totalmente
independente e imparcial em rela-
ção ao CES e que sejam criados
mecanismos para receber outras
denúncias e materiais probatórios”,
lê-se no documento.
Três investigadoras que passaram
pelo CES da Universidade de Coimbra
denunciaram situações de assédio
num capítulo do livro intitulado Má
Conduta Sexual na Academia — Para
Decisão de Ivo Rosa comunicada na manhã de ontem ao Parlamento
cabendo aos mesmos conselhos apre-
ciar o cumprimento dos critérios esti-
pulados no regulamento europeu e na
lei”, sublinha o ministério na nota.
Fonte ligada ao processo conÆrmou
à Lusa que a decisão do juiz Ivo Rosa
— que enfrenta dois processos disci-
plinares no Conselho Superior da
Magistratura — foi comunicada ontem
de manhã à Comissão de Assuntos
Europeus, onde estava prevista a sua
audição perante os deputados a par-
tir das 12h00. Ivo Rosa, segundo noti-
cia a RTP, terá feito chegar ontem
uma carta ao presidente da comissão
parlamentar, justiÆcando a desistên-
Uma Ética de Cuidado na Universida-
de, publicado pela editora internacio-
nal Routledge.
As autoras do capítulo, a belga Lie-
selotte Viaene, a portuguesa Catarina
Laranjeiro e a norte-americana Myie
Nadya Tom, estiveram no CES, como,
respectivamente, investigadora de
pós-doutoramento (com uma bolsa
Marie Curie) e estudantes de douto-
ramento. Os investigadores Boaven-
tura de Sousa Santos e Bruno Sena
Martins acabaram por ser suspensos
de todos os cargos que ocupavam no
CES, até ao apuramento das conclu-
sões da comissão independente que
a instituição está a constituir para
averiguar as acusações de que são
alvo. Após surgirem notícias sobre o
capítulo, os dois investigadores nega-
ram todas as acusações.
Esta carta aberta de um “colectivo
internacional de mulheres” foi
enviada na terça-feira a responsá-
veis e associados do CES, com o
MARIO CRUZ/EPA
cia com o facto de ter sido nomeado
juiz de um colectivo no Tribunal Penal
Internacional num caso de genocídio
e de crimes contra a humanidade.
Segundo o canal público de televi-
são, esse julgamento vai arrastar-se
mais do que o inicialmente previsto,
o que impediria o juiz de começar as
funções de procurador europeu, se
tivesse sido escolhido para tal. A
Comissão de Assuntos Europeus deci-
diu por unanimidade não ouvir o
procurador José Ranito, já que as
regras legais exigem um mínimo de
três candidatos e, se a audição decor-
resse, o magistrado Æcaria em desvan-
Centro funciona em Coimbra
título Não É Difamação, nem É Vin-
gança. Sempre Foi Assédio.
Em declarações à agência Lusa, a
representante legal deste grupo de
mulheres, a advogada Daniela Félix,
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 17
tagem face aos outros candidatos, que
poderiam ter acesso prévio às pergun-
tas feitas e às respostas dadas.
A selecção dos candidatos come-
çou com o lançamento de dois con-
cursos públicos, por parte de dois
conselhos superiores das magistratu-
ras, o do Ministério Público e o dos
juízes. Apenas José Ranito, que lide-
rou a equipa que investigou o colapso
do universo Espírito Santo e é actual-
mente procurador europeu delegado,
é que se candidatou ao concurso lan-
çado pelo Conselho Superior do
Ministério Público.
Os procedimentos no Conselho
Superior da Magistratura (CSM) foram
bem mais atribulados. No primeiro,
apenas concorreu o juiz Filipe César
Marques, que dirigiu até ao Ænal do
ano passado a associação MEDEL —
Magistrados Europeus pela Democra-
cia e Liberdades. Contudo, o CSM não
aceitou a candidatura de Filipe César
Marques por este não preencher um
dos requisitos exigidos: experiência
mínima de 20 anos de exercício efec-
tivo como magistrado judicial.
No segundo concurso, Filipe César
Marques voltou a concorrer e voltou
a não ser aceite, surgindo, nessa altu-
ra, a candidatura do juiz Ivo Rosa,
validada pelo conselho, que foi duran-
te anos juiz de instrução no Tribunal
Central de Investigação Criminal
(TCIC). Este juiz foi promovido no ano
explicou que esta carta pretende
“dizer que estas violências existiram”
e que “é importante ser criado um
canal de denúncia, que garanta o sigi-
lo”. “Este canal deve garantir que não
haja retaliação, que as vítimas se sin-
tam seguras para fazer denúncias e
para juntar provas para a investiga-
ção”, acrescentou.
A causídica explicou que, depois da
publicação do capítulo do livro no qual
são denunciadas situações de assédio
no CES, chegaram “testemunhos de
outras vítimas” à rede de advogadas
feministas no Brasil, à qual pertence.
“São três vítimas, uma portuguesa
e duas brasileiras, que se sentiram na
obrigação de relatar a veracidade do
artigo. Não se trata de vingança, can-
celamento público ou deslegitimação
de toda a vida e obra do professor
Boaventura, mas de uma denúncia de
que esses assédios ocorreram”, ale-
gou. De acordo com Daniela Felix, as
três alegadas vítimas terão sido alvo
Sociedade
passado ao Tribunal da Relação de
Lisboa, mas a colocação está suspen-
sa enquanto se aguarda o desfecho
dos processos disciplinares.
O CSM considerou que a existência
de um só candidato válido inviabili-
zava o segundo concurso, tendo lan-
çado um terceiro, em que se candida-
taram Ivo Rosa e José Rodrigues da
Cunha, antigo presidente da comarca
do Porto, que entrou na corrida para
ocupar o cargo de procurador euro-
peu em 2020. O nome de Rodrigues
da Cunha também foi aceite, mas este
acabou por desistir da sua candidatu-
ra, deixando apenas Ivo Rosa e José
Ranito. Ontem, com a desistência de
Ivo Rosa, Ranito Æcou sozinho.
O actual procurador europeu
nacional é José Guerra, que cessa fun-
ções em Ænais de Julho na nova Pro-
curadoria Europeia, um órgão inde-
pendente da União Europeia compe-
tente para investigar, acusar e
sustentar a instrução e o julgamento
contra criminosos que lesem os inte-
resses Ænanceiros da União (por
exemplo, casos de fraude ou corrup-
ção com prejuízos superiores a 10
milhões de euros). Guerra tomou pos-
se em Setembro de 2020, apesar da
polémica à volta da sua nomeação,
relacionada, em parte, com o facto de
não ter sido o preferido de um painel
europeu de selecção, que deu um
parecer no processo. com Lusa
de “assédio moral, assédio sexual e
extractivismo académico com perdas
económicas”, num período entre
2000 e 2019.
“Estes três relatos, de que damos
conta ao CES em carta aberta, são
baseados em provas materiais, tais
como e-mails, mensagens, documen-
tos e provas testemunhais. Não são
denúncias vazias, pois recebemos
outros relatos de violência sem prova,
que Æcaram de fora neste primeiro
momento”, evidenciou.
A advogada conÆrmou ainda que
em nenhum destes três casos se regis-
tou uma queixa formal no CES ou na
polícia, porque “as vítimas estavam
em posição de vulnerabilidade”.
“Nas vítimas brasileiras falamos de
vulnerabilidade extrema, porque
estavam dependentes de bolsa e lon-
ge da família. Falamos também de um
processo em que é muito difícil reco-
nhecerem-se enquanto vítimas”, jus-
tiÆcou. Lusa
18 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Local Especialista defende necessidade de implementar novas medidas
Estas alterações são uma oportunidade
para mudar o trânsito em Lisboa
Nunes da Silva, especialista em mobilidade, diz que medidas da autarquia para resolver condicionamentos
criados pelas obras podem “resolver problemas adiados”, como a redução de emissões poluentes
Luciano Alvarez
Nunes da Silva, responsável pela área
disciplinar de Planeamento, Urbanis-
mo e Ambiente do Instituto Superior
Técnico (IST), vê nas novas regras
para o trânsito na cidade de Lisboa,
apresentadas pelo executivo da autar-
quia na terça-feira, “uma excelente
oportunidade para resolver alguns
problemas que têm sido adiados”.
Porém, diz ser necessário fazer algu-
mas intervenções no corredor alter-
nativo de circulação.
O executivo da Câmara Municipal
de Lisboa apresentou na terça-feira
um conjunto de medidas que vai
fazer com que a zona entre as ave-
nidas Infante Santo e Mouzinho de
Albuquerque Æque apenas aberta a
trânsito local (moradores e traba-
lhadores) das 8h às 20h já a partir
do próximo dia 26 e por pelo menos
um ano.
Vai também ser proibida a circula-
ção na Baixa e zona ribeirinha de
veículos com mais de 3,5 toneladas,
o que signiÆca que deixarão de passar
nestas ruas durante o dia autocarros
turísticos e muitos dos veículos da
distribuição.
Esta é a resposta que a autarquia
encontrou para os constrangimentos
provocados pelas muitas obras que
estão a ser levadas a cabo na capital
do país e que se vão intensiÆcar em
breve. Algumas das medidas podem
vir a ser deÆnitivas.
“Estas medidas coincidem com a
primeira tentativa para criar as Zonas
Emissões Reduzidas [ZER] em 2012”,
aÆrmou ao PÚBLICO Nunes da Silva,
que foi vereador com a responsabili-
dade pela mobilidade (2009/2013)
durante parte do mandato de Antó-
nio Costa como presidente da CML.
Entre as medidas do executivo
camarário está a criação de um cor-
redor alternativo de circulação, ape-
lidado de 5.ª circular, que tem entra-
da e saída pela Avenida 24 de Julho
junto a Alcântara e pela Avenida
Infante D. Henrique junto ao Parque
das Nações. A via passa pela Estrela,
Rato, Conde Redondo, Praça do Chi-
le e Paiva Couceiro.
Uma zona que, segundo o profes-
sor do IST, “tem de ser mais bem con-
trolada e alvo de algumas interven-
ções”. Nunes da Silva destaca a neces-
sidade de fazer “uma alteração
profunda ao funcionamento dos
semáforos da cidade” e, “em particu-
lar, agora na 5.ª circular”. Ou seja,
Parte da Baixa de Lisboa e da zona ribeirinha só vai ficar aberta a trânsito local
Alterações à circulação na zona ribeirinha
Circulação alternativa/5.ª circular
Área de circulação condicionada
Área com vias cortadas ao trânsito
Entradas proibidas a não
residentes e trabalhadores
A Infante Santo
B Av. Álvares Cabral
C Av. Alexandre Herculano
D Rua Conde Redondo
M. POMBAL
E Av. Almirante Reis
F Rua Morais Soares
G Av. Mouzinho
Albuquerque
ALCÂNTARA
A portes públicos” – Baixa e zona ribei-
Fonte: CML
aumentar o tempo de circulação “e
assim permitir ganhar maior Çuidez
para quem está a fazer as circulares,
em detrimento das radiais”.
“Isto iria também diminuir o pára-
MIGUEL MANSO
rado do estacionamento em segunda
Æla”, dando como exemplo o que se
veriÆca diariamente na Escola João
de Deus”, junto à rotunda do Jardim
da Estrela e por onde vai passar a cha-
mada “5.ª circular”.
O especialista em mobilidade diz
ainda ser necessário fazer algumas
alterações à circulação, nomeada-
M. ALTO mente no cruzamento da Av. Almi-
DE S. JOÃO rante Reis com o Bairro dos Açores,
F
E e acabar com a viragem à direita na
D Av. Alexandre Herculano para a
rotunda do Marquês de Pombal.
C
B G Nunes da Silva acrescenta que se o
ROSSIO trabalho na 5.ª circular “for bem-
feito” vai permitir condicionar o aces-
so a uma zona bem servida de trans-
Rio Tejo
rinha – e passar “de um sistema [de
circulação automóvel] fortemente
PÚBLICO radial para um sistema cada vez mais
circular”, o que considera muito posi-
arranca que é um grande responsável tivo. Dar à população “muita infor-
pela produção de emissões” poluen- mação” sobre as alterações é outra
tes, acrescenta. das práticas que diz serem necessá-
Nunes da Silva diz também que é rias levar a cabo.
preciso acabar “com o abuso desca- “Esta pode ser uma boa oportuni-
dade para retomar a estratégia das
emissões reduzidas, mas tem de ser
bem-feita. Se o não for, todo o sistema
colapsa”, conclui.
BE fala em “caos do trânsito”
Um dia depois de Carlos Moedas ter
apresentado as alterações à circula-
ção e ao trânsito de Lisboa, o BE acu-
sou o presidente da autarquia de ser
o responsável pelo “trânsito parado
por falta de planeamento” e por ter
deixado “propostas na gaveta”.
Em comunicado, o BE diz que a sua
vereadora Beatriz Gomes Dias “exi-
giu” na reunião de câmara de ontem
“respostas para o caos do trânsito em
que a cidade está e que irá piorar por-
que Moedas não planeou”.
“Em Abril de 2022, Beatriz Gomes
Dias reuniu-se com Carlos Moedas
para tratar desta matéria e em Outu-
bro de 2022 apresentou propostas
para resolver o problema do trânsito
que estava anunciado pelas grandes
obras que a cidade iria realizar. Carlos
Moedas ignorou as regras da CML
uma vez mais e não agendou a pro-
posta do BE, recusando-se a planear
a mobilidade nestes meses”, acres-
centa o comunicado.
Por sua vez, a Associação Valoriza-
ção do Chiado (AVC) considerou
ontem que os condicionamentos à
circulação automóvel na baixa lisboe-
ta, vão ter um impacto negativo, quer
para moradores, quer para comer-
ciantes e empresas. “O Chiado está a
tornar-se numa ilha e isto, qualquer
dia, não sei como se tem aqui acesso”,
disse o presidente da AVC, Victor Sil-
va, à agência Lusa.
De acordo com o responsável, tem
havido “um afastamento do acesso
automóvel e dos portugueses” ao
centro histórico, criticando também
a falta e constrangimentos dos trans-
portes públicos.
“Ficámos sem o eléctrico 24 aquan-
do das obras no Largo do Rato, que
já acabaram, e nunca foi reposto inte-
gralmente o serviço. Ficamos conÆ#
nados ao metro porque não há um
transporte público para a parte alta
do Chiado”, explicou.
Para Victor Silva, a cidade dos 15
minutos “é uma caricatura”, já que
as pessoas são impedidas de circular,
tendo em conta “os preços caríssimos
do estacionamento”.
“Continuamos a ver na zona os
turistas, porque esses não andam de
carros, já que os portugueses estão a
ser afastados”, sublinhou.

Chumbada proposta de Moedas
para o alojamento local
Luciano Alvarez
Maioria dos partidos da
oposição aprovou uma
proposta alternativa que
exige que se espere pelas
decisões do Governo
A proposta da presidência da Câmara
Municipal de Lisboa (CML) para fazer
alterações às regras ao alojamento
local (AL) foi chumbada ontem em
reunião de executivo pelos partidos
da oposição (abstenção do PCP), que
viram uma sua proposta aprovada.
A proposta subscrita pelos verea-
dores do PS, BE, Livre e Cidadãos
por Lisboa foi votada em alternativa
à proposta do executivo de Carlos
Moedas durante a discussão do
Regulamento do Alojamento Local
e foi aprovada com oito votos a
favor, com sete contra (dos Novos
Tempos, que forma o executivo) e a
abstenção dos vereadores do PCP.
Esta proposta defende que, antes da
alteração ao Regulamento Munici-
pal do Alojamento Local (RMAL),
seja aprovada a carta de habitação.
A reunião à porta fechada não con-
tou com a presença do presidente
da CML, Carlos Moedas.
A proposta do executivo camarário
previa limites ao AL deÆnidos pelas
fronteiras das freguesias, embora a
última palavra coubesse sempre à
CML. Surgiu na sequência do relató-
rio de caracterização e monitorização
do sector por realizado pela autarquia
e tinha como maior novidade a
mudança para uma monitorização
baseada nos limites das freguesias, ao
invés das zonas turísticas homogé-
neas, como vinha sendo feito até ago-
ra. Além disso, as juntas de freguesia
passavam a estar envolvidas na super-
visão e na emissão de pareceres não
vinculativos na atribuição de autori-
zações excepcionais.
A vereadora do Urbanismo da
CML, Joana Almeida, lamentou a
decisão da oposição de adiar a dis-
cussão sobre a alteração ao Regula-
mento Municipal do Alojamento
Local (RMAL), defendendo que a
proposta da liderança “é equilibra-
da e moderada”.
“Lamentamos que o PS e os demais
partidos de esquerda tenham prefe-
rido adiar a decisão sobre o Aloja-
mento Local. A solução que apresen-
támos em reunião de câmara é o
resultado do trabalho de um ano de
estudo, de monitorização e de auscul-
tação de todas as partes interessa-
das”, aÆrmou a autarca, numa decla-
ração escrita enviada à Lusa.
“Fizemos um trabalho muito rigo-
Só as propostas que a oposição tem vindo a apresentar sobre o AL têm sido aprovadas na câmara
roso e muito sério, que se traduziu
numa proposta equilibrada, mode-
rada, que restringe o Alojamento
Local onde faz sentido restringir e
permite onde faz sentido permitir”,
sublinhou Joana Almeida.
“Brincar aos regulamentos”
Os vereadores do PS emitiram, entre-
tanto, um comunicado em que aÆr-
mam que “não faz qualquer sentido
aprovar um novo regulamento quan-
do a Carta Municipal de Habitação
deÆnirá as carências habitacionais em
Lisboa e as intervenções a desenvol-
ver pela CML para inverter a gentriÆ#
cação na cidade”, e “enquanto a
Assembleia da República tem em dis-
cussão um novo quadro legislativo
“A solução que
apresentámos em
reunião de câmara
é o resultado do
trabalho de um
ano de estudo, de
monitorização e de
auscultação de
todas as partes
interessadas”,
disse a vereadora
do urbanismo
para o alojamento local que reforçará
o quadro de competências dos muni-
cípios”. Facto que, acrescentam,
“obrigaria a CML a alterar o arremedo
de regulamento”, que Moedas apre-
sentou ontem, “dois ou três meses
depois de este entrar em vigor”.
“Não vale a pena andar a brincar
aos regulamentos, sabendo que qual-
quer mudança neste momento será
letra morta umas semanas depois,
introduzindo instabilidade adicional
numa matéria sensível, apenas para
Carlos Moedas fazer mais um número
político e dizer que está preocupado
com o investimento imobiliário”,
salienta ainda a nota dos socialistas.
Recordam também que “Lisboa
não emite licenças de alojamento
local em 15 das 24 freguesias de Lis-
boa, uma suspensão que contou
sempre com a oposição e o voto
vencido de Carlos Moedas, não exis-
tindo por isso qualquer efeito nega-
tivo pela discussão do Regulamento
ser feita após a aprovação da Carta
Municipal de Habitação”.
Por isso, dizem que “a prioridade
actual deve ser manter a suspensão
de novas licenças de alojamento local,
que afecta neste momento 15 das 24
freguesias da cidade, garantindo que
não há qualquer vazio entre a pro-
mulgação da legislação sobre Aloja-
mento Local e as medidas de suspen-
são que estão em vigor em Lisboa”.
Já o BE, também em comunicado,
diz que a proposta apresentada por
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 19
MATILDE FIESCHI
Carlos Moedas “permitia o aumento
da oferta de AL numa cidade que já
ultrapassou Barcelona e onde, numa
única freguesia, o AL ocupa 70% dos
fogos”.
“A proposta permitia aumentar o
AL nas freguesias e acrescentava
novas excepções, desprotegendo o
direito à habitação e contrariando o
acórdão do Supremo Tribunal de Jus-
tiça que aÆrma que os fogos com
licença de habitação não podem ser
usados para Æns comerciais.”
Já o PCP emitiu um comunicado a
explicar a sua abstenção às duas pro-
postas. Relativamente à apresentada
pelo executivo camarário, diz que,
“apesar das contribuições do PCP
para a versão agora submetida à apro-
vação, que melhoraram a versão ini-
cial”, a mesma “contém ainda aspec-
tos problemáticos, nomeadamente
no que toca a uma excessiva permis-
sividade de novos registos”.
Já no que respeita à proposta
alternativa, diz que “limita-se a adiar
a alteração do regulamento do AL,
atribuindo precedência à conclusão
da Carta Municipal de Habitação”.
“Se é certo que esta Carta poderá
contribuir de forma positiva para
melhorar a proposta de regulamen-
to que agora se propõe aprovar, não
será menos certo que este critério
de precedência não poderá signiÆ#
car adiar eternamente a conclusão
de um regulamento de que a cidade
precisa”, acrescenta a nota.
Local
Bares
encerrados
por actividade
criminosa
Espaços nocturnos em
Albufeira, Almada e
Porto foram mandados
encerrar pelo prazo
máximo de seis meses
Os espaços de diversão nocturna
Club Vida, em Albufeira, Kady’s Bar,
em Almada, e After Porto, no Porto,
vão ser encerrados devido a “práti-
cas de natureza criminal”, anunciou
ontem o Ministério da Administra-
ção Interna.
O encerramento, pelo prazo máxi-
mo de seis meses, foi determinado
pelo ministro da Administração Inter-
na “na sequência de a GNR e a PSP
terem recolhido a prova da prática de
factos graves, designadamente de
natureza criminal, que, estando direc-
tamente associados à actividade des-
tes estabelecimentos, coloca em cau-
sa a ordem, a segurança e a tranquili-
dade públicas”, refere um comunicado
do gabinete de José Luís Carneiro.
O despacho do ministro que
decreta o encerramento refere,
segundo o comunicado, que “devem
ser tomadas as medidas necessárias
para o seu normal e regular funcio-
namento, nomeadamente em maté-
ria da criação de condições de segu-
rança que viabilizem a reabertura
dos estabelecimentos”.
O ministro da Administração Inter-
na solicitou ainda às câmaras muni-
cipais de Almada, Albufeira e Porto
que controlem a actividade dos refe-
ridos espaços de diversão nocturna,
nomeadamente em questão de lota-
ção e horários de funcionamento.
O comunicado adianta que as for-
ças de segurança e a Autoridade
Nacional de Emergência e Protecção
Civil Æcarão encarregadas de Æscali-
zar o cumprimento das normas de
funcionamento dos estabelecimen-
tos, nomeadamente no que diz res-
peito à segurança dos edifícios contra
incêndios.
Segundo fonte do Ministério da
Administração Interna, os encerra-
mentos surgem na sequência de epi-
sódios de violência ocorridos este
mês em Albufeira, em Almada e no
Porto. No domingo, uma jovem de 19
anos morreu após ser esfaqueada por
um casal na zona da Oura, Albufeira,
enquanto em Almada um jovem de
19 anos morreu e outros dois sofre-
ram ferimentos ligeiros depois de
atingidos a tiro junto a um bar no
Monte da Caparica. No Porto, um
homem de 31 anos Æcou ferido no dia
1 de Abril, na sequência de uma rixa
entre grupos rivais. Lusa
20 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Guerra na Ucrânia
China e Rússia anunciam expansão
e reforço da sua cooperação militar
Visita do ministro da Defesa chinês a Moscovo culmina com promessa de maior cooperação entre
academias, comandos operacionais e Forças Armadas — bem como de “expandir” o comércio de armas
António Saraiva Lima
A Federação Russa e República Popu-
lar da China continuam a dar sinais
de que a sua “parceria sem limites” é
sólida e está para durar, tendo reve-
lado ontem o reforço da “cooperação
estratégica” entre as respectivas For-
ças Armadas e justiÆcado a visita de
quatro dias do ministro da Defesa
chinês a Moscovo como uma forma
de “mostrar ao resto do mundo” o
“elevado nível” das suas relações.
“É importante que os nossos países
estejam de acordo sobre a questão da
transformação em curso da paisagem
geopolítica global”, enfatizou Serguei
Shoigu, ministro da Defesa da Rússia,
num comunicado divulgado pelo seu
ministério, citado pelo South China
Morning Post.
As declarações de Shoigu foram
proferidas num encontro, realizado
na terça-feira, com o general Li
Shangfu, seu homólogo chinês, no
qual assinaram um acordo de coope-
ração reforçada entre academias mili-
tares, comandos operacionais e os
diferentes ramos das suas Forças
Armadas.
Apesar de não terem sido revelados
muitos pormenores sobre o acordo,
ele inclui a realização de mais exercí-
cios e operações de patrulhamento
envolvendo as respectivas forças
aéreas e marinhas — já prometido
pelos presidentes Xi Jinping e Vladi-
mir Putin, num encontro, também
em Moscovo, há cerca de um mês —,
uma comunicação bilateral mais
regular, a partilha de tecnologia mili-
tar e o aumento da compra e venda
de armamento.
Esta última intenção é particular-
mente relevante, tendo em conta que
o Governo chinês tem respondido,
repetidamente, às suspeitas dos Esta-
dos Unidos e do Ocidente do apoio
chinês à Rússia, aÆançando que
Pequim não faz tenções de fornecer
armamento a nenhum dos lados
envolvidos na guerra da Ucrânia.
“Relativamente à exportação de
artigos militares, a China adopta uma
atitude prudente e responsável. Não
vai fornecer armas às partes envolvi-
das no conÇito e vai gerir e controlar
as exportações de produtos de utili-
zação dupla, de acordo com as suas
leis e regulamentos”, garantiu na sex-
ta-feira passada o ministro dos Negó-
cios Estrangeiros chinês, Qin Gang.
Entre os documentos conÆdenciais
do Pentágono que foram divulgados
Li Shangfu (à direita) foi
recebido em Moscovo por
Serguei Shoigu e também teve
um encontro com Vladimir Putin
Pequim insiste que
não vai fornecer
armas a nenhum
dos lados da
guerra
na Ucrânia
nos últimos dias — na fuga de infor-
mação que tem como principal sus-
peito o lusodescendente Jack Teixeira
— há, entanto, alegadas comunicações
secretas dos serviços de informação
russos interceptadas pelos EUA que
dão conta de um alegado plano entre
a Rússia e Pequim para o “forneci-
mento de ajuda letal” chinesa ao
Exército russo, disfarçada de merca-
doria civil.
Estreia de Li
“As forças armadas da China e da Rús-
sia irão concretizar os acordos alcan-
çados pelos chefes de Estado e expan-
SPUTNIK VIA REUTERS
REUTERS
dir a cooperação militar, os laços
técnico-militares e o comércio de
armas. Iremos, garantidamente, ele-
var [a cooperação] para um novo
nível”, aÆrmou Li, nas declarações
iniciais do encontro com Shoigu.
“Estou convencido de que a vossa
enorme experiência de interacção
com a Federação Russa irá contribuir
tanto para o desenvolvimento das
Forças Armadas da República Popular
da China, como para a expansão da
cooperação entre os nossos países”,
respondeu-lhe o ministro russo.
Naquela que foi a sua primeira visi-
ta oÆcial a um país estrangeiro — foi
nomeado ministro da Defesa em mea-
dos de Março, na remodelação gover-
namental que distribuiu os aliados de
Xi pelos principais cargos políticos
chineses —, Li Shangfu fez questão de
que a sua passagem pela Rússia fosse
alargada.
Para além do encontro com o seu
homólogo russo, reuniu-se com
Putin, visitou a Academia Militar da
Rússia e um memorial de homena-
gem a soldados russos mortos em
combate.
A escolha da Rússia para sua estreia
diplomática fora de portas não pare-
ce ser fruto do acaso, tendo em conta
o investimento que Moscovo e
Pequim têm feito, nos últimos meses,
para enfatizar a dimensão revisionis-
ta do seu posicionamento conjunto
anti-EUA, favorável a uma ordem
internacional multipolar.
Por outro lado, o próprio Li foi alvo
de sanções norte-americanas em
2018, por causa do envolvimento na
aquisição de caças Su-35 e de sistemas
de mísseis terra-ar S-400 à Federação
Russa, por parte do Departamento de
Desenvolvimento de Equipamento
chinês.
Para além de integrada na rivalida-
de económica e geopolítica muito
própria entre EUA e China, a descon-
Æança de Washington e dos seus alia-
dos em relação a Pequim tem cresci-
do à luz da posição ambígua chinesa
sobre a invasão russa da Ucrânia,
entendida pela NATO, pela União
Europeia e por países como o Japão,
a Coreia do Sul ou a Austrália como
um apoio tácito a Moscovo.
O Governo de Xi Jinping recusa
condenar o Kremlin pela agressão
territorial contra a Ucrânia e, particu-
larmente à boleia do embargo dos
países ocidentais ao gás natural russo,
intensiÆcou as relações e concluiu
novos acordos comerciais e de coo-
peração em matéria energética e eco-
nómica desde o início da invasão —
segundo as contas da Associated
Press, as trocas comerciais sino-rus-
sas aumentaram 30% desde Feverei-
ro do ano passado.
Por outro lado, antes da assinatura
deste novo acordo de cooperação
militar, a China já tinha aumentado a
regularidade dos exercícios conjuntos
com as Forças Armadas russas,
nomeadamente na Ásia Central e no
Extremo Oriente.
Paralelamente a todas estas inicia-
tivas e contactos, a China decidiu
apresentar, recentemente, um plano
de paz genérico e vago, no qual suge-
re 12 princípios para que seja alcan-
çada uma solução diplomática para
pôr cobro ao conÇito na Ucrânia, e
que põe invasor e invadido no mesmo
prato da balança.
“Li e Shoigu reiteraram que se irão
apoiar Ærmemente, quando estiver
em causa a salvaguarda dos interesses
fundamentais dos respectivos países,
e, acima de tudo, aqueles que dizem
respeito à soberania, à integridade
territorial, à segurança e ao desenvol-
vimento”, escreveu ontem o Global
Times, jornal do Partido Comunista
Chinês em língua inglesa. “E opõem-
se de forma determinada à interferên-
cia de forças externas nos seus assun-
tos internos.”
 Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 21

Mundo

Retirada aérea de portugueses no Sudão

é “impossível”. Novo cessar-fogo acordado
Samuel Santos
Pelo menos 20 cidadãos
nacionais estão retidos no
Sudão. Com os aeroportos
fechados, a solução poderá
passar por viajar de carro
soas com passaporte português reú-
nam condições alimentares e de
higiene suÆcientes, a ordem transmi-
tida é para permanecer em casa e
poupar energia, face ao contexto,
“que está a mudar de hora a hora”.
Além disso, lembrou Suliman
Abdelmagid, os hospitais sudaneses
planos para viajar de carro até países
vizinhos e, depois, por avião, para
Portugal. Contudo, ressalvou o côn-
sul, “a prioridade é manter os portu-
gueses seguros e com mantimentos
A embaixada suÆcientes, só depois vamos pensar
na retirada”. A retirada está a ser
recomenda aos planeada em conjunto com a delega-
continental). A trégua prevista para
terça-feira foi violada.
O Ministério dos Negócios Estran-
geiros (MNE) português assegurou
que não existe registo de cidadãos
nacionais afectados e que está a
acompanhar a situação através da
embaixada no Cairo (Egipto), respon-

Pelo menos 20 pessoas com naciona-

lidade portuguesa continuam retidas
no Sudão, que nas últimas semanas
vive sob confrontos entre o Exército
e o grupo paramilitar Forças de Apoio
Rápido (RSF, na sigla em inglês).
Ao PÚBLICO, o cônsul honorário
de Portugal no Sudão, Suliman Abdel-
magid, conÆrmou que “o número [de
portugueses identiÆcados no país] vai
aumentar”, uma vez que várias pes-
soas possuem nacionalidade portu-
guesa e brasileira, o que poderá levar
alguns cidadãos com dupla naciona-
lidade a recorrer ao passaporte por-
tuguês para tentar sair do país.
Numa altura em que documentos,
localizações e informações conti-
nuam a ser reunidos para aferir quan-
tas pessoas irão precisar de apoio
diplomático, o cônsul informou que,
entre os portugueses identiÆcados a
trabalhar no Sudão, “alguns acaba-
ram de chegar, há três meses, outros
estão no país há três anos”.
O cônsul sublinhou a importância
de avaliar as necessidades dos portu-
gueses, uma vez que “80% de Cartum
está há cinco dias sem electricidade”.
Ainda que, até ao momento, as pes-
foram também afectados pelos con-
frontos. Os jornalistas da Reuters no
Sudão descrevem hospitais com falta
de água, sem mantimentos e sem
electricidade para as máquinas de
apoio médico. A ausência de segu-
rança nas imediações leva os proÆs-
sionais de saúde a enviar os doentes
para casa.
O líder regional da Organização
Mundial de Saúde, Ahmed al-Mandha-
ri, revelou à Reuters a sua “extrema
preocupação” face às denúncias de
“ataques armados contra instituições
de saúde e sequestros de ambulân-
cias durante o transporte de doentes
com os médicos no interior”.
Segundo os dados mais recentes do
Ministério da Saúde do Sudão, pelo
menos 270 pessoas foram mortas e
mais de 2600 feridas desde o Æm-de-
semana, em resultado dos combates
entre o Exército e os paramilitares.
Uma vez que há confrontos junto
a zonas nevrálgicas, como os aero-
portos, em especial o de Cartum, de
onde saem os voos internacionais e
que está encerrado, Suliman Abdel-
magid conÆrma que a retirada via
aérea é “impossível”. Por isso, em
alternativa, podem ser delineados
portugueses (...) ção da União Europeia no Sudão.
O Sudão faz fronteira com Repú-
que se mantenham blica Centro-Africana, Chade, Repú-
no interior das blica Democrática do Congo, Ugan-
da, Quénia, Egipto, Líbia, Eritreia e
suas residências Etiópia.
ou dos espaços Segundo a Reuters, o RSF e o Exér-
cito sudanês acordaram ontem um
onde se encontram novo cessar-fogo de 24 horas, com
Embaixada de Portugal no Cairo início às 18h locais (16h em Portugal
REUTERS
Fumo de aviões a arder no aeroporto de Cartum
sável pelo contacto com os portugue-
ses no Sudão, país onde Portugal não
tem representação permanente.
No seu site a embaixada portugue-
sa no Egipto recomenda aos emigran-
tes no Sudão “se mantenham no inte-
rior das suas residências ou dos espa-
ços onde se encontram”, uma vez que
“não estão reunidas condições míni-
mas de segurança para que as pessoas
se possam deslocar ao exterior”. Aos
interessados, o Ministério dos Negó-
cios Estrangeiros disponibiliza no site
da embaixada vários contactos de
emergência, entre os quais o do côn-
sul honorário.
Os confrontos começaram no
sábado entre as Forças Armadas,
comandadas pelo líder de facto do
país desde o golpe de Estado de
Outubro de 2021, o general Abdel
Fattah al-Burhan, e as RSF, cheÆadas
pelo general Mohamed Hamdane
Daglo, conhecido como “Hemedti”,
que orquestraram em conjunto o
golpe de 2021, mas que se tornaram
entretanto inimigos.
Os dois generais eram aliados des-
de o golpe que levou ao derrube do
ditador Omar al-Bashir, em 2019, que
estava no poder há três décadas.

Fox paga fortuna por mentir mas sem pedir desculpa no ar

António Rodrigues
A Fox News Network chegou a acordo
no processo de difamação que lhe foi
colocado pela empresa Dominion
Voting Systems, aceitando pagar 787,5
milhões de dólares (718,5 milhões de
euros) por ter ajudado a difundir
mentiras sobre a adulteração das
urnas de voto electrónicas, naquele
que é o maior montante conhecido
para um acordo judicial num caso de
difamação nos Estados Unidos.
Ao chegar a acordo com a empresa
que vilipendiou, reconhecendo a cul-
pabilidade por ter ajudado a difundir
a teoria falsa e várias vezes rebatida
em tribunal de que as urnas electró-
nicas produzidas pela Dominion
tinham alterado o resultado da elei-
ção presidencial de 2020, a favor de
Joe Biden e em detrimento de Donald
Trump, a Fox admite a sua má condu-
ta. Mas será que, para uma empresa
habituada a pagar indemnizações
milionárias em acordos extrajudiciais,
este acordo irá mudar a política edi-
torial que a transformou no canal
privilegiado da direita nos EUA?
Justin Nelson, advogado da Domi-
nion, mostrava-se triunfante no
comunicado relativo ao acordo. Refe-
rindo que “a verdade importa” e as
“mentiras têm consequências”, Nel-
son sublinha que este acordo “repre-
senta vindicação e responsabilidade”
por “dois anos” de uma “torrente de
mentiras que varreu a Dominion e os
responsáveis eleitorais de toda a Amé-
rica para um universo alternativo de
teorias da conspiração”.
O entendimento da Fox News pare-
ce diferente, a julgar pelo comunica-
do sobre o assunto: “Reconhecemos
a decisão do tribunal de que certas
alegações sobre a Dominion são fal-
sas. Este acordo reÇecte o permanen-
te compromisso da Fox com os mais
altos padrões jornalísticos.”
A “torrente de mentiras” e o “uni-
verso alternativo de teorias da cons-
piração” da Dominion contrastam
com as “certas alegações” “falsas” da
Fox News, apenas um mau desvio no
seu “permanente compromisso” com
o melhor jornalismo.
O facto de o acordo não contemplar
sequer a obrigação do canal de Rupert
Canal de Rupert
Murdoch pagará
o maior montante
conhecido
num caso de
difamação nos
Estados Unidos
Murdoch de reconhecer no ar que
mentiu sobre a alegada fraude eleito-
ral, deixa a maioria da sua audiência
Æel — que muitos usam como única
fonte de notícias — sem o imprescin-
dível mea culpa sobre as mentiras
difundidas.
É, por isso, que Erik Wemple, no
The Washington Post, refere que,
embora “o tamanho do pagamento”
seja um reÇexo das “atrocidades jor-
nalísticas” cometidas, não deixa
“tudo de parecer um pouco vazio”.
Se “o dinheiro é responsabilidade”,
disse à saída do tribunal outro advo-
gado da Dominion, Stephen Shackel-
ford, citado pelo The New York Times,
“tivemos isso hoje [terça-feira] da
Fox”. No entanto, se pensarmos nos
mais de 26 anos que a Fox News leva
“a encher a praça pública de mentiras
e histórias mais ou menos cozinha-
das”, como diz Wemple, o dinheiro,
por mais milhões que sejam, não
recompensa os efeitos nefastos na
democracia nos Estados Unidos.
“Há alguma possibilidade de a
humilhação da Fox poder vir a repa-
rar alguns danos das consequências
desastrosas das eleições de 2020?”,
pergunta Stephen Collinson na CNN.
“Será que o acordo faz alguma coisa
para mudar um modelo de media
conservador que ganha dinheiro com
falsidades?”
Como disse Jimmy Kimmel, uma
das estrelas dos programas de humor
nocturnos da televisão, sinal de que
pouco irá mudar é que, ao anunciar
o acordo, a Fox News sublinhara os
“altos padrões jornalísticos” que
regem a sua política editorial: “Já
estão a mentir no seu comunicado
sobre mentir.”
22 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Mundo
“Não queremos
gastar dinheiro
dos contribuintes
alemães em
energia nuclear”
Entrevista
Maria João Guimarães Texto
Matilde Fieschi Fotografia
Anna Lührmann
Secretária de Estado
alemã garante que “uma
boa política do clima
é a melhor política social”
A secretária de Estado para os
Assuntos Europeus e o Clima, Anna
Lührmann, esteve esta semana em
Lisboa para o Fórum
Portugal-Alemanha. Ao PÚBLICO,
falou sobre a razão que leva a
Alemanha a opor-se ao nuclear e
quer uma classiÆcação clara sobre a
origem do hidrogénio, questão em
que Alemanha e Portugal estão em
sintonia. Diz também que é
responsabilidade da União Europeia
mostrar que “é possível ter
economia industrial totalmente
baseada em renováveis”.
A guerra na Ucrânia acelerou a
utilização de renováveis, mas
também implicou o recurso a
fontes poluentes como o carvão,
etc. Como vê estas duas
tendências contrárias?
No ano passado, tornou-se muito
claro que o gás que a Alemanha
importava da Rússia não era, na
verdade, barato, pagávamos um
extra por ele, na forma de falta de
independência e segurança: vinha,
sim, ligado a uma falta de
independência energética.
Por isso fomos forçados a, num
espaço de tempo muito curto,
substituir o gás e o petróleo russo
por energia de outras fontes.
O que Æzemos foi: primeiro,
acelerar realmente a transição para
as renováveis, com muitas leis para
acelerar a transição para uma
economia baseada a 100% em
renováveis; segundo, poupámos
energia, conseguindo diminuir o
consumo de gás em cerca de 20%
em comparação com o ano
anterior; e, Ænalmente, tivemos
alguma diversiÆcação de
fornecimento de gás, comprando
de outras fontes, construindo
terminais LNG.
Mas isto é apenas uma transição
de curto prazo. É claro que em 2035
vamos ter 80% de energia de fontes
renováveis e vamos conseguir a
neutralidade carbónica em 2045.
Algumas pessoas previam que o
primeiro Inverno depois do
início da guerra da Rússia na
Ucrânia e dos cortes de
abastecimento poderia ser mais
fácil e o segundo mais
problemático. Como prevê que
seja o próximo Inverno?
No próximo Inverno já vai haver
alguma capacidade adicional de
fontes renováveis a funcionar, e já
teremos completado os terminais
LNG. Também teremos um sistema
de compras conjuntas de gás [uma
plataforma para empresas
promovida pela UE], o que quer
dizer que não vamos ver estas
subidas de preço que têm estado a
acontecer. Penso que estamos
muito bem preparados. os nossos recursos nas renováveis. em energia nuclear. unido e claro à guerra de agressão
As três últimas centrais A Alemanha — e Portugal Espero que consigamos ter estas russa, já congelámos alguns dos
nucleares a funcionar na também — não querem que a fronteiras claras: o mix energético é fundos para a Hungria devido a
Alemanha fecharam este energia nuclear conte para a uma prerrogativa nacional, mas tem questões do Estado de direito e eu
fim-de-semana. Mas há percentagem de energia de haver uma classiÆcação clara e própria também fui muito clara
sondagens a dizer que uma renovável, segundo uma carta, não haver verbas para o nuclear. quando estive em Budapeste, há
maioria de pessoas na Alemanha citada pela agência Reuters, de Além disso, na transição para as cerca de um mês, que espero que a
é contra este encerramento... vários países a pressionar a renováveis também temos uma Hungria se junte ao consenso da
A questão com o nuclear, da nossa Presidência sueca da UE. Como responsabilidade enquanto União política europeia, quer em relação
perspectiva, é que não é uma vê que esta questão se Europeia, que é mostrar aos países ao Estado de direito, quer em
tecnologia segura. Primeiro, porque desenvolva, tendo em conta a em desenvolvimento que é possível relação à Rússia.
também é preciso importar grande divisão que está a ter industrialização com base Em relação ao papel da
materiais da Rússia, por exemplo provocar na Europa? totalmente em renováveis. Alemanha na União Europeia,
barras de combustível, e por isso De facto, está. Primeiro, temos uma Não queremos dar uma alguns países têm-se queixado
não é algo que nos ajude a atingir o posição na UE de que cada país perspectiva de que será preciso ter
objectivo de chegar à soberania decide sobre o seu mix energético, centrais nucleares por toda a África,
energética. que temos de respeitar. Mas, em por exemplo, além de que isso
Em segundo lugar, sabemos que termos de classiÆcação, temos de demoraria imenso tempo, e neste
temos um problema de falta de água nos assegurar de que, se momento não há verbas, os
na Europa e em vários países importamos hidrogénio (que investidores querem ir para as
europeus em que é preciso água queremos importar também de renováveis.
para arrefecer os reactores, isso Portugal e de Espanha), este é Mencionou a dependência da
Espero que a
provocou um grande problema no produzido com renováveis e não Rússia. Ainda na semana Hungria se junte
Verão passado [obrigando a reduzir com nuclear. Os nossos passada a Hungria fechou
a energia produzida]. consumidores também querem acordos de energia com a Rússia,
ao consenso da
Finalmente, na Alemanha, apesar isso, querem poder conÆar na levando a Ucrânia a pedir à política europeia,
de procurarmos há anos, não classiÆcação, por isso ela tem de ser União Europeia para cortar
conseguimos ainda encontrar um clara. financiamento à Hungria…
quer em relação
depósito Ænal seguro e permanente E temos muita relutância em usar É muito importante que, enquanto ao Estado de
para os resíduos. Por isso, achamos verbas europeias. Estamos a sair do União Europeia, falemos a uma só
que é melhor para a nossa nuclear e não queremos gastar voz sobre este tema. Conseguimos
direito, quer em
independência energética pôr todos dinheiro dos contribuintes alemães responder de um modo muito relação à Rússia

de mudanças de última hora na
posição alemã — recentemente,
na questão dos motores de
combustão, na de limites à
dívida. Como vê a percepção da
Alemanha pelos parceiros
europeus?
Fico contente que tenhamos
ultrapassado a regulamentaçãodos
motores a combustão. Foi muito
claro desde o início que não estava
em cima da mesa mudar esta norma
ou bloqueá-la totalmente, mas a
Comissão foi orientada a criar
possibilidades para a aprovação de
motores que utilizem combustíveis
sintéticos (e-fuels). A questão era a
Comissão dar passos credíveis nesse
sentido, e está neste momento em
vias de o fazer.
Penso que é importante aprender
com este caso que as preocupações
devem ser referidas no início do
processo e discutidas com os
parceiros europeus.
Faz parte de um governo de uma
coligação que nunca tinha sido
tentada, com o Partido Social
Democrata, os liberais, e o seu
partido, os Verdes. Há quem diga
que nesta coligação o SPD tem
estado mais próximo dos liberais
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 23
do que dos Verdes, ao contrário
do que era habitual até agora.
Concorda com essa perspectiva?
É realmente a primeira vez que
temos na Alemanha esta coligação
com estes três partidos, e temos um
compromisso muito forte para que
resulte. Temos relações de trabalho
fortes e válidas, e há questões em
que há diferenças de opinião.
Quando houve acordo para a
coligação, ninguém imaginava que
ia começar uma guerra na Europa,
as circunstâncias históricas põem
uma grande pressão sobre nós.
Para mim, é muito claro que a
prioridade máxima deve ser
mostrar que conseguimos lidar com
estes desaÆos como democratas,
trabalhar juntos para superar as
diferenças. Nem sempre é possível
um consenso, há opiniões
diferentes na sociedade, e o nosso
papel é moderar e chegar a
soluções.
Para nós, como partido os Verdes,
a protecção do clima é a prioridade
máxima, mas esta é também o
compromisso da Alemanha, feito já
pelo Governo anterior, de conseguir
a neutralidade carbónica em 2045,
e agora temos de agir e estamos a
Mundo
sublinhar muito isto dentro da
BIBLIOTECA DA CENSURA
Obras Apreendidas e Proibidas no Estado Novo
coligação.
Na Alemanha e na Europa há a
questão mais alargada entre a
necessidade de promover fontes
alternativas de energia, mas PARA QUE NÃO SE REPITA
B&B
também proteger os que vão ser
“deixados para trás” com esta
25 livros. Colecção mensal, ao dia 25 de cada mês. Entre 25 de Abril de 2022 e 25 de Abril de 2024. PVP unitário 9€. Preço total da colecção 225€. Stock limitado.
transição. Como fazê-lo?
É essencial não deixarmos ninguém DUAS CONFERÊNCIAS EM NOME DA PAZ 1950
para trás, e em especial proteger
quem está a sofrer com a subida dos
preços da energia — que se devem,
MARIA LAMAS, TEIXEIRA DE PASCOAES
por sinal, à crise fóssil que temos. As
fontes de energia que estão a fazer
subir os preços neste momento são
+ CONGRESSO MUNDIAL DE MULHERES 1945
o carvão, o gás e, de algum modo,
também o nuclear, por exemplo,
por causa dos problemas com a
Vol13+
água para o arrefecimento. Por isso
a transição para as energias
renováveis também seria boa para
estabilizar os preços.
E também temos de ter em conta
que os que estão a sofrer mais com
esta crise também são normalmente
os mais pobres, e são os que
contribuíram menos para a crise
climática, por isso é realmente
injusto. Para mim, uma boa política
do clima é a melhor política social.
Mas para isso é preciso
investimento, em no Governo da
Alemanha, o ministro das
Finanças tem insistido em não
aumentar a despesa e manter a
dívida controlada. Como
equilibrar estas duas posições?
Sim, é verdade, mas, por outro lado,
precisamos também de capital e
investimento privado neste sector.
Na Alemanha, neste momento a
nossa prioridade está a ser retirar a
grande quantidade de burocracia
que é necessária no campo das
+9€
renováveis, porque há investidores,
e há dinheiro, que querem ir para
este campo, mas o processo leva
demasiado tempo.
Em relação à questão social, TERÇA, 25 ABR
mostrámos, no Inverno, com o
aquecimento, que a melhor
maneira de ajudar as pessoas com
os altos custos [da energia] assim O activ
activismo político e feminista foi duramente suprimido
como o melhor para o clima é pelo re
regime. A proibição flagrante de um título historica-
melhorar a eÆciência energética das mente importantíssimo, «Congreso Mundial de Mujeres»,
casas, com melhor isolamento.
Para a transição verde há uma 25 LIVROS publicado no Rio de Janeiro (1945), que compilava
depoimentos de um conjunto internacional de delegadas
dependência demasiado grande
da China. Como pode ser 25 MESES num congresso em Paris “contra o fascismo, pela paz,
pela democracia e pela defesa dos direitos da mulher”
resolvida?
é um exemplo flagrante. Em Portugal, Maria Lamas e
É uma questão-chave. A nossa
Teixeira de Pascoæs, ao publicarem «Duas Conferências
ministra [dos Negócios
em Defesa da Paz« (1950), sofreram também a proibição
Estrangeiros], Annalena Baerbock,
esteve mesmo agora na China e
do seu opúsculo, Maria Lamas foi encarcerada e a editora
sublinhou que queremos continuar e organização, a Associação Feminina Portuguesa para a
o comércio com a China, mas temos Paz, seria desmantelada pela ditadura.
de identiÆcar as áreas em que a Das obras que a Censura autorizava com cortes ou
dependência é demasiado alta e proibia, mostramos uma seleção desses raros
temos de reduzir o risco e artefactos culturais que falam do controlo da vida
diversiÆcar. E ao nível da União cultural desse período, que são reproduções dos
Europeia temos agora várias originais censurados guardados na BNP e que incluem
propostas em cima da mesa, de os relatórios de censura, carimbos, selos e rasuras.
semicondutores (chips), Uma colecção comissariada por Álvaro Seiça.
matérias-primas cruciais, que nos
ajudarão a conseguir ter
indústrias-chave também na União
Europeia.
24 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Economia Juros e subida do custo de vida penalizam rendimentos
Mais de 64% dos pedidos de ajuda à Deco
são sobre reestruturação de créditos
No último ano, o Gabinete de Protecção Financeira da associação de consumidores registou 31.500
pedidos, o número mais elevado de sempre. Famílias a trabalhar têm, em média, cinco a seis empréstimos
Rosa Soares
O Gabinete de Protecção Financeira
(GAF) da Deco recebeu, em 2022,
31.500 pedidos de informação,
aconselhamento ou ajuda para rees-
truturar dívidas e/ou reorganizar o
seu orçamento familiar. Trata-se do
número mais elevado desde que foi
criado, em 2000, aumentando 5%
em relação a 2021 — um crescimen-
to não muito signiÆcativo, mas que
é o culminar de três anos “maus”,
acima dos 30.000 pedidos, destaca
Natália Nunes.
Para a directora do GAF, o mais
importante é analisar as causas dos
pedidos, e a esse nível há novidades
em 2022, que se estão a acentuar no
primeiro trimestre deste ano. São elas
a subida do custo de vida e das taxas
de juro, e não tanto, como já aconte-
ceu no passado, a situações de desem-
prego e quebra de rendimento,
penhoras e insolvências pessoais.
No total dos pedidos do último
ano, 52% foram relativos à reestrutu-
ração de créditos, entre os quais o
crédito à habitação, de forma a redu-
zir os encargos mensais. Uma percen-
tagem que nos 7500 pedidos recebi-
dos no primeiro trimestre de 2023
sobe para 64%.
Para Natália Nunes, o aumento das
despesas com alimentação e de
alguns serviços essenciais, e a subida
das prestações dos empréstimos à
habitação estão a levar mais famílias,
de forma preventiva, a procurar aju-
da. Mas também porque, e à seme-
lhança dos dois anos anteriores (de
pandemia), também aumentam os
pedidos de informação relacionados
com novas medidas de apoio.
Relativamente aos pedidos de aju-
da com vista à reestruturação de cré-
ditos como forma de reequilibrar o
orçamento familiar, a directora do
GAF destaca, como positivo, o facto
de a maioria dos casos corresponder
a uma antevisão de diÆculdades,
quando no passado estavam muito
associadas a situações de desempre-
go, o que diÆcultava esse recurso.
Devido a essa antevisão, torna-se
mais fácil fazer as reestruturações
antes de entrada em situação de
incumprimento, que tem consequên-
cias mais graves.
A este nível, considera que há uma
mudança de conhecimentos e men-
talidade, lembrando que antes de
2012 as pessoas tinham vergonha de
chegar ao banco e dizer que estavam
RUI GAUDÊNCIO
Famílias estão a pedir ajuda para com diÆculdades para pagar o ou os
reestruturar créditos mais cedo, empréstimos, e a receptividade dos
prevenindo a entrada em bancos também melhorou. Para estas
incumprimento, afirma Natália duas situações contribuiu muito a
Nunes, directora do GAF criação do Plano de Acção para o Ris-
co de Incumprimento (PARI), através
do Decreto-Lei n.º 227/2012, de 25 de
Rendimento médio Outubro, “que veio derrubar grandes
barreiras que existiam entre os ban-
das famílias que cos e consumidores”.
pediram ajuda E dá o exemplo dos mais de 7000
pedidos de ajuda recebidos entre
situou-se em 1200 Janeiro e Março, que deram origem à
euros e uma taxa abertura de 640 processos, mas que,
na maioria dos casos, foi “só para
de esforço de 69% prestar aconselhamento”, uma vez
PAULO PIMENTA
que “as famílias estão a conseguir,
pelos seus próprios meios, renegociar
os créditos”, aÆrma.
Número de créditos sobe
Dos 31.500 pedidos recebidos em
2022, que deram origem à abertura
de 2700 processos de intervenção
directa, 52% têm origem em famílias
que moram nos distritos de Lisboa,
Porto e Setúbal, e 42% são de pessoas
casadas ou que vivem em união de
facto, sendo, em média, o agregado
composto por dois elementos.
Os dados do GAF revelam ainda
que 72% dos pedidos são de pessoas
que estão no activo e que 24% apon-
taram o aumento do custo de vida
como a causa das suas diÆculdades.
A despesa média em alimentação,
água, luz, gás e telecomunicações foi
de 489 euros (440 euros em 2021).
Nos pedidos no primeiro trimestre
deste ano, sobe para 44% a percenta-
gem de famílias a alegar o “peso” do
custo de vida, apesar da despesa
média em alimentação água, luz, gás
e telecomunicações ter caído 19
euros, para 470 euros.
Outras causas para as diÆculdades
das famílias são a perda de rendimen-
tos, mas a cair de 32% em 2021 para
23% no último ano, e ainda o desem-
prego (de 23% para 15%) e doença (de
18% para 15%), pela mesma ordem.
Em 2022 e 2023, o maior número
de pedidos foi apresentado por famí-
lias dos distritos de Lisboa, do Porto
e de Setúbal (52%), e o agregado fami-
liar com maior incidência composto
por dois ou três elementos (47%).
Em média, as famílias continuam a
apresentar cinco créditos: um à habi-
tação, dois pessoais e dois cartões de
crédito. Contudo, veriÆca-se um
aumento, nas famílias que se encon-
travam a trabalhar, para seis ou mais
créditos: um à habitação, três cartões
de crédito e dois créditos pessoais, ou
crédito automóvel, mas com peso
inferior. Os valores médios destes
créditos são 84.000 euros no da habi-
tação, de 21.500 euros nos créditos
pessoais e um saldo de 7100 euros
nos cartões de crédito.
O rendimento médio das famílias
situou-se em 1200 euros, semelhante
ao ano anterior, e com um montante
de prestações com crédito de 825
euros, o que corresponde a uma taxa
de esforço de 69% — cerca do dobro
do que deveria ser, uma vez que não
deveria ultrapassar os 35%.
O rendimento médio das famílias
que pediram ajuda no primeiro tri-
mestre de 2023 caiu para 1100 euros,
mas, isolando as que se encontravam
a trabalhar, o rendimento é de 1400
euros. E 68% das famílias estavam a
trabalhar, abaixo dos 72% em igual
período de 2022.
Mais ajudas e automáticas
Em relação a medidas já tomadas,
como a que está em curso relativa-
mente à boniÆcação temporária de
juros dos empréstimos à habitação
associados às taxas Euribor, que têm
acumulado fortes subidas, a directora
do GAF defende que “Æcam aquém
do que era necessário face às diÆcul-
dades Ænanceiras das famílias” e
deviam ser aplicadas “de forma auto-
mática”, por se tratar de “matéria
complexa, em relação à qual a maio-
ria dos bancos ainda não disponibili-
za informação, e nem sempre quem
está no atendimento aos balcões con-
segue prestar informação correcta”.
Para a responsável, e uma vez que
o Governo limitou o cálculo da taxa
de esforço das famílias (percentagem
do rendimento, líquido de impostos
e contribuições, afecto ao pagamento
de créditos) ao empréstimo à habita-
ção, não faz sentido que o acesso a
medida não seja de aplicação auto-
mática, como já acontece no PARI,
que foi reforçado no Ænal de 2022.
 Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 25

Economia

CP devia “ter autonomia para gerir” Subscrições

trabalhadores, reclamam sindicatos
Rafaela Burd Relvas
Sindicatos querem reabrir
processos negociais com
a empresa, que, garantem,
não tem dado resposta
às reivindicações salariais
Em greve desde o início deste mês, os
trabalhadores da CP — Comboios de
Portugal continuam sem perspectivas
de ver as suas reivindicações atendi-
das, numa altura em que o processo
negocial permanece parado. Mas os
lucros alcançados pela empresa em
2022, os primeiros da sua história,
mostram que a transportadora “deve-
ria ter autonomia para gerir os seus
trabalhadores, sem ser manietada
pelo Governo”, defendem os sindica-
tos representativos do sector.
Os resultados da CP, avançados
ontem pelo PÚBLICO, foram alcan-
çados num ano em que a empresa
registou 148 milhões de passageiros,
o maior número contabilizado nos
últimos 20 anos. Ao mesmo tempo,
foi aplicado o Contrato de Serviço
Público assinado entre a empresa e
o Estado, que a compensa pela pres-
tação de serviços que dão prejuízo.
Foi nesse cenário que, em 2022, a
CP alcançou lucros de oito milhões
de euros, naquele que é o primeiro
resultado líquido positivo da sua
história.
As contas são conhecidas numa
altura em que a CP enfrenta uma gre-
ve que se prolonga durante todo o
mês de Abril, convocada por uma
plataforma de sindicatos, que reivin-
dica “aumentos salariais efectivos”,
a “valorização da carreira da tracção”
e a “humanização das escalas de ser-
viço”, bem como a “redução dos
repousos fora da sede” e um “efectivo
protocolo de acompanhamento psi-
cológico aos maquinistas em caso de
colhida de pessoas”, entre outras exi-
gências. Até agora, contudo, a admi-
nistração da empresa não tem dado
qualquer resposta às reivindicações
e não há, sequer, negociações a decor-
rer. “Não há, neste momento, qual-
quer data para se retomar as negocia-
ções”, resume José Manuel Oliveira,
coordenador da Federação dos Sin-
dicatos dos Transportes e Comunica-
CP alcançou lucros históricos de oito milhões de euros em 2022
ções (Fectrans), ao PÚBLICO. Tam-
bém Luís Bravo, presidente do Sindi-
cato Ferroviário da Revisão Comercial
Itinerante (SFRCI), refere que “as
negociações estão a ser diÆcultadas
[A obtenção de pela administração da CP, que não
está a reconhecer o esforço dos tra-
lucros em 2022] balhadores”. E reforça: “Estamos a
só demonstra que falar de melhores condições de traba-
lho, e a empresa tem vindo a diÆcul-
há condições para tar. Estamos a Æcar preocupados, a
a CP fazer a sua empresa não dá resposta.”
Mas, acrescenta o coordenador da
gestão sem ser Fectrans, os resultados da CP revelam
manietada pelo a capacidade da empresa para dar
resposta às exigências dos trabalha-
Governo dores. “A notícia de hoje só demons-
José Manuel Oliveira tra que a CP deveria ter autonomia
Coordenador da Fectrans para fazer a gestão dos seus trabalha-
MATILDE FIESCHI
dores. Estes resultados foram alcan-
çados num ano de desvalorização dos
salários, com menos trabalhadores
do que o necessário, com diÆculdade
em recrutar novos trabalhadores por-
que os salários são baixos, com uma
frota envelhecida e sem se vislumbrar
quando começará a ser renovada.
Isto só demonstra que há condições
para a CP fazer a sua gestão sem ser
manietada pelo Governo.”
Para 8 de Maio, está marcada uma
reunião entre o Ministério das Infra-
Estruturas e um conjunto de organi-
zações laborais e sindicais das empre-
sas públicas de transportes. A expec-
tativa é a de que, à luz da decisão do
Governo de aprovar uma subida inter-
calar de 1% para os trabalhadores da
administração pública, sejam reaber-
tos os processos negociais.
de certificados
somam 9,3 mil
milhões
Rosa Soares
Valor aplicado no produto
de dívida do Estado, com
rentabilidade superior à
dos depósitos, foi de
3,6 mil milhões em Março
Mantém-se a corrida aos CertiÆcados
de Aforro (CA), produto de poupan-
ça do Estado que actualmente garan-
te uma taxa de remuneração muito
superior aos tradicionais depósitos
a prazo. Em Março, as novas subscri-
ções ascenderam a 3675 milhões de
euros, mais cerca de mil milhões do
que os 2664 milhões de euros veriÆ#
cados em Fevereiro.
Desde o início do ano, esta aplica-
ção já atraiu 9353 milhões de euros,
grande parte dele por transferência
de depósitos para este produto de
dívida pública, elevando o stock
total para 28.642 milhões de euros,
o valor mais elevado desde pelo
menos 1998.
A taxa de juro garantida, actual-
mente de 3,5% brutos, o tecto máxi-
mo Æxado, explica o forte aumento
das novas subscrições, que atingi-
ram em Março o valor mais alto do
corrente ano, depois de, em Janeiro,
também já terem superado os três
mil milhões de euros (3014 milhões
de euros).
O aumento crescente das novas
subscrições e a taxa atractiva podem
levar o Governo a alterar as condi-
ções da actual série E, ou, como já
aconteceu no passado, a lançar uma
nova série, com menor rentabilida-

Taxa média dos empréstimos à habitação
recentes subiu para 3,5%
Rosa Soares
A taxa de juro dos contratos à habi-
tação celebrados no período de três
meses entre Dezembro de 2022 e
Fevereiro resultou numa subida da
média trimestral para 3,507% em
Março, mais 9,8 pontos-base (ou
0,098 pontos percentuais) face aos
3,409% registados em Fevereiro. O
aumento da taxa de juro no conjun-
to dos contratos foi ainda mais
expressivo: mais 29,7 pontos-base
(ou 0,297 pontos percentuais), para
2,829%, o valor mais elevado desde
Junho de 2009, revelam os dados
ontem divulgados pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE).
A subida das taxas implícitas nos
contratos de crédito à habitação
recentes e nos antigos reÇecte, essen-
cialmente, o aumento das taxas Euri-
bor, que mantêm tendência de subida
nos últimos meses, e em menor esca-
la a taxa Æxa, cujos valores também
têm subida nos últimos meses.
O capital médio em dívida do con-
junto dos contratos aumentou 166
euros, para 62.699 euros, um valor
que compara com 58.723 euros veri-
Æcados em Março de 2022.
A prestação média da totalidade
dos créditos Æxou-se em 331 euros
em Março, traduzindo uma subida
de nove euros face a Fevereiro e de
76 euros (29,8%) comparativamente
com Março de 2022. E, deste valor,
148 euros (45%) corresponde a paga-
mento de juros e 183 euros (55%) a
capital amortizado. No período
homólogo, a componente de juros
representava apenas 16% do valor
médio da prestação, que era de 255
euros.
Nos contratos celebrados nos três
meses entre Dezembro e Fevereiro
de 2023, o valor médio da prestação
subiu sete euros, para 576 euros, e
o montante médio em dívida foi
O capital médio
em dívida
do conjunto
dos contratos
aumentou
166 euros, para
62.699 euros
125.170 euros, menos 45 euros do
que a média trimestral que tinha
sido registada em Fevereiro (e rela-
tiva ao trimestre de Novembro de
2022 a Janeiro de 2023).
O montante médio em dívida dos
novos contratos tem vindo a cair
desde Dezembro de 2022, (130.202
euros), a reÇectir a aquisição de
imóveis por valores mais baixos e o
seu Ænanciamento com recurso a
poupança ou outro tipo Ænancia-
mento, como ao consumo.
A tendência das taxas Euribor
continua a ser de subida. Ontem, a
taxa a seis meses Æxou-se nos
3,587%. A três meses subiu para
3,205%, e a 12 meses para 3,825%,
todas em máximos de 2008.
de. Esta semana, o ministro das
Finanças, Fernando Medina, já admi-
tiu essa possibilidade: “Teremos de
avaliar a forma como as subscrições
ocorrem ao longo dos próximos
meses”, aÆrmou segunda-feira,
admitindo que a preferência dos par-
ticulares é explicada “por não encon-
trarem no mercado uma oferta do
ponto de vista da poupança que seja
compatível com uma remuneração
adequada”. A taxa média dos novos
depósitos, para todos os prazos,
situou-se em 0,65% em Fevereiro.
A rentabilidade dos CA Æcou mais
atractiva com a forte subida da Euri-
bor a três meses. A fórmula de cál-
culo Æxa para este produto é com-
posta pela média desta taxa Æxada
nas últimas dez sessões, até ao ante-
penúltimo dia útil de cada mês,
acrescida de 1%.
À taxa-base podem ainda acrescer
prémios de permanência, que na
série E, a única que aceita novas
subscrições, vão de 0,5% a 1%.
26 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Ciência e Ambiente Relatório anual O Estado do Clima na Europa
Alerta na Europa: secas, incêndios e calor
em 2022 revelam retrato “assustador”
A Europa viveu em 2022 o Verão mais quente de que há registo, com direito a grandes incêndios Åorestais,
condições de seca e ondas de calor intensas, revela relatório anual do programa Copérnico
Andréia Azevedo Soares
O ano passado foi um ano escaldante
para a Europa: o continente testemu-
nhou em 2022 o Verão mais quente
de que há registo, com direito a dife-
rentes fenómenos climáticos extre-
mos, incluindo grandes incêndios
Çorestais, condições de seca hidroló-
gica e ondas de calor intensas. Estas
são algumas das conclusões do rela-
tório anual O Estado do Clima na Euro-
pa, divulgado hoje pelo serviço do
programa europeu Copérnico para as
alterações climáticas.
O relatório apresenta dados que
são, “de alguma forma, assustado-
res”, mas “é importante saber a ver-
dade” para que se possa “agir e tomar
as medidas adequadas”, aÆrmou
Mauro Facchini, chefe da Observação
da Terra na Direcção-Geral da Indús-
tria e Espaço de Defesa da Comissão
Europeia, durante a conferência de
imprensa virtual para apresentar o
relatório. “Basta ligar o televisor e ver
os noticiários para testemunhar os
efeitos das alterações climáticas”,
constatou o responsável.
Em termos mundiais, os oito últi-
mos anos foram os mais abrasadores,
sendo 2022 o quinto mais quente de
que há registo. Diferentes regiões do
planeta testemunharam temperatu-
ras recorde — e a Europa é um bom
exemplo disso, tendo vivido o Verão
mais quente de que há notícia, com
1,4 graus Celsius acima da média.
A Europa é, aliás, o continente
onde o termómetro está a subir mais
rapidamente ao longo das últimas
décadas: as temperaturas em solo
europeu têm subido a um ritmo duas
vezes mais rápido do que a taxa glo-
bal. Há vários factores que contri-
buem para isso, mas Rebecca Emer-
ton, a autora principal do relatório,
explicou que isto ocorre porque a
maior parte da Europa é composta
por território — e o solo aquece mais
rapidamente do que as massas de
água. “As dinâmicas atmosféricas
também exercem inÇuência”, expli-
cou a cientista, durante a conferência
de imprensa virtual.
Grande parte da Europa ocidental
experimentou ondas de calor em
2022. As temperaturas mais altas nes-
sa parte do continente chegaram a
patamares dez graus Celsius mais
altos do que as temperaturas máxi-
mas típicas do Verão. As temperatu-
ras no Reino Unido ultrapassaram a
barreira dos 40 graus Celsius pela
A Europa é o continente onde o primeira vez. O Sul da Europa teste-
termómetro está a subir mais munhou um número recorde de dias
rapidamente. Incêndios e secas com “stress térmico muito forte”. A
são duas consequências disso temperatura média da superfície da
água dos mares europeus foi a mais
quente de sempre.
Estes cenários climáticos abriram
espaço para combinações indeseja-
O Sul da Europa das: temperaturas mais altas do que
registou um o habitual que, conjugadas com a fal-
ta de chuva, agravaram os episódios
número recorde de seca hidrológica na Europa. Esta
de dias com conjuntura também favoreceu a mul-
tiplicação e a intensidade de incên-
“stress térmico dios. 2022 foi o ano em que os países
muito forte” europeus registaram a segunda maior
MIGUEL MANSO
DANIEL ROCHA
área ardida desde que há registos. As
emissões de carbono resultantes des-
ses fogos no Verão foram as mais altas
em 15 anos.
“São tendências preocupantes”,
disse Carlo Buontempo, director do
Serviço Copérnico para as Alterações
Climáticas, na mesma ocasião.
Menos neve, solos secos
Há ainda o problema da seca, que
tanto aÇigiu a Europa em 2022. Hou-
ve não só baixa precipitação ao longo
do Verão, mas também singulares
ondas de calor, dando origem a con-
dições de seca prolongada que afec-
taram sectores como a agricultura, os
transportes Çuviais e a energia. Para
Mauro Facchini, é importante planear
e colocar em prática medidas de
adaptação ligadas à gestão da escas-
sez hídrica, como, por exemplo, a
criação de “diferentes modos de
armazenar água”.
A anomalia anual da humidade do
solo foi a segunda mais baixa no últi-
mo meio século. Samantha Burgess,
subdirectora daquele serviço do
Copérnico, acrescentou que os países
mediterrânicos — Portugal incluído
— “tendem a continuar a enfrentar
condições de seca esta Primavera e
no Verão também”. “Os solos nos paí-
ses mediterrânicos estão incrivelmen-
te secos”, aÆrmou. “Muito provavel-
mente, vamos ter uma colheita agrí-
cola reduzida este ano...”
No Inverno de 2021/2022, houve
menos neve do que o habitual. Por
outro lado, a chuva durante a Prima-
vera também Æcou abaixo da média
em grande parte do continente. Esta
combinação perigosa de pouca neve
no Inverno e muito calor no Verão
favoreceu uma perda recorde de gelo
dos glaciares nos Alpes, algo equiva-
lente a cinco quilómetros cúbicos.
Durante a conferência de imprensa,
Rebecca Emerton comparou este
gigantesco volume de gelo à Torre
Eièel. Se colocarmos este cubo ima-
ginário em Paris, veremos que ele
teria 5,4 vezes a altura do monumen-
to francês.
As duas regiões polares enfrenta-
ram um aquecimento fora do habitual
em 2022. O gelo no mar Antárctico
atingiu a extensão mínima mais baixa
registada em Fevereiro. No Ænal do
ano, a Gronelândia testemunhou um
recorde de derretimento do manto
de gelo, com pelo menos 23% da área
total impactada durante uma das três
ondas de calor registadas em Setem-
bro. No que toca ao Árctico, 2022 foi
o sexto ano mais quente da região,
sendo que Svalbard (a área noruegue-
sa do Árctico) viveu o Verão mais
quente de que há registo. Este degelo
contribui, para a subida do mar. Os
dados disponíveis para os últimos seis
meses de 2022 mostram que o nível
médio do mar alcançou um novo
recorde no ano passado.
O documento divulgado hoje tam-
bém avalia o potencial de geração de
energia renovável na Europa. Em
2022, a Europa recebeu a maior quan-
tidade de radiação solar de superfície
em quatro décadas, o que aumentou
a capacidade de gerar energia solar
fotovoltaica. Já a a velocidade média
anual do vento na Europa manteve a
média dos últimos 30 anos.
No que toca à emissão de gases de
efeito de estufa, o relatório indica
que, em 2022, as concentrações
médias anuais globais de dióxido de
carbono (CO2) e metano (CH4) atin-
giram os níveis mais altos alguma vez
medidos por satélite.
“O relatório O Estado do Clima na
Europa constitui uma ferramenta
essencial para apoiar a União Euro-
peia na agenda de adaptação climáti-
ca e no compromisso de alcançar a
neutralidade climática em 2050”,
conclui Mauro Facchini, citado na
nota de imprensa.
 Público ClassiÄcados • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 27

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de

Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição
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promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos. resolutivo incerto, ao abrigo do Código do Trabalho, na Universidade do Minho,
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Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org REQUISITOS DE ADMISSÃO: Ref.ª CIT-18/21-USFP(1).
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Tel. 214 525 145 Possuir grau de Licenciatura em Arquitetura, Arqueologia, Artes Visuais, Design, REQUISITOS DE ADMISSÃO:
E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org Geografia, História ou áreas afins. Possuir grau de Licenciatura em Contabilidade, Gestão, Administração Pública,
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 21/04/2023 Economia ou áreas afins.
- E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 21/04/2023 a
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org a 27/04/2023.
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL 26/04/2023.
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3,
Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org A Diretora de Serviços, Sara Patrícia Costa Rodrigues A Diretora de Serviços, Sara Patricia Costa Rodrigues

AVISO (M/F)
Beneficiação do Pavimento CARGO DE DIREÇÃO INTERMÉDIA DE 2.º GRAU –
Dá-se conhecimento público de que se encontra DIVISÃO CONTRATAÇÃO PÚBLICA (DCP) DA DIREÇÃO
aberto processo de recrutamento de pessoal A2/A12 - Alto da Guerra – Setúbal (A12)
FINANCEIRA E CONTRATAÇÃO PÚBLICA (DFCP) DA
em regime de contrato de trabalho por tempo Durante os meses de abril a setembro de 2023
REITORIA DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA)
indeterminado para a Faculdade de Ciências e A Brisa Concessão Rodoviária (BCR) informa que irá efetuar obras de beneficiação do pavimento,
na Portagem de Plena Via de Setúbal, no Sublanço A2/A12-Alto da Guerra e no trecho Dá-se conhecimento público de que se encontra
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para:
entre o km 23+220 e o km 23+720, do sublanço Ligação ao Alto da Guerra-Setúbal, aberto procedimento com vista à contratação, em
da A12 – Auto-estrada Setúbal/Montijo, pelo que irão existir constrangimentos, regime de comissão de serviço, nos termos do
1 vaga de técnico superior (m/f), referência: por meio de implementação de cortes de via e/ou basculamentos de tráfego. Código do Trabalho, de um dirigente intermédio de
CT-ND-005-2023-DAT; Os trabalhos ocorrerão durante cinco meses. 2.º grau, para a Divisão de Contratação Pública da
Direção Financeira e Contratação Pública, da Reitoria
ao qual podem candidatar-se os indivíduos que A Brisa agradece antecipadamente a compreensão e colaboração dos automobilistas
da Universidade NOVA de Lisboa.
reúnam as condições fixadas no aviso disponível e espera contribuir para reduzir eventuais inconvenientes decorrentes desta operação,
estando certa de que os possíveis incómodos serão largamente compensados Podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as
no endereço: pelo nível de qualidade, segurança e conforto que resultam de uma autoestrada condições fixadas no aviso disponível no endereço:
https://www.fct.unl.pt/faculdade/concursos/nao-docentes melhor adaptada às necessidades de quem a utiliza.
http://www.unl.pt/nova/nao-docentes
Para informação de trânsito atualizada poderá consultar o site www.brisaconcessao.pt.
O prazo limite para submissão das candidaturas é O prazo limite para submissão das candidaturas é
Melhoramos a pensar em si de 6 dias úteis a contar da data da publicação do
dia 17 de maio de 2023.
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MASSAGEM DE RELAXAMENTO. EDITAL N.º ED/183/2023

Experiência Imersiva: A Viagem pelo Mundo da Mente.
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Lx-Parque das Nações PROCESSO N.º 1/2001/14729/0 – E/15295/2023
918047446 JOÃO VASCONCELOS BARROS RODRIGUES, Vereador do
Pelouro do Urbanismo, Ordenamento e Planeamento, da Câmara
Municipal de Braga, no uso de competências subdelegadas por
despacho do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Braga de
2021/10/18:
FAZ SABER QUE, nos termos do art.º 27º, n.º 2, ex vi art.º 22º,

CONHEÇA
A NOSSA Direção-Geral da
n.º 2 do Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de dezembro, alterado e
republicado pelo Decreto-Lei n.º 136/2014, de 9 de setembro e
alínea e), do n.º 1 e n.º 4, do art.º 112.º do Decreto-Lei n.º 4/2015,
se encontra aberto um período de discussão pública, pelo prazo
AVISO
SELECÇÃO DE
de 15 dias, tendo por objeto a alteração ao lote 58, do alvará
Administração da Justiça de loteamento n.º 78/2002, sito no Lugar de Gaião ou Igreja

AUTO-ESTRADA A8
ou Bouça, da freguesia de Nogueiró, deste concelho, em que é
VINHOS

requerente GRACE CAROLINE ALVES DA SILVA e estabelece o

AVISO seguinte: a definição de um polígono possível de implantação para

a construção, mantendo-se o nº de pisos e áreas anteriormente
previstas; a construção de uma piscina a implantar no logradouro
Faz-se público que será publicado principal do lote com as dimensões de 4,90m2x10,40m2; a
alteração do uso no piso abaixo da cota de soleira e no piso acima
na Bolsa de Emprego Público, no da cota de soleira. Consequentemente, o referido lote passa a ser Devido a trabalhos a efetuar na A8, informa-se que, durante
constituído por 1 piso, abaixo da cota de soleira, para habitação
endereço eletrónico www.bep.gov.pt, e 1 piso, acima da cota de soleira, para garagem e habitação o período compreendido entre 26 de abril de 2023 e 11 de
até ao 2.º dia útil após a publicação modificando a tipologia para 1H+1G/H, com a área de implantação

do Aviso n.º 7961/2023, II Série, do

de 318,40m2, com a área total de construção de 547,00m2, dos
quais 52,80m2 destinados a garagem e 494,20m2 destinados a
agosto de 2023, existirão condicionamentos na circulação
Diário da República de 19/04/2023,
habitação; volumetria de 1 641,00m3; alteração da cota de soleira
para 253.95 e da cota de implantação do 1º piso para 250.50. As entre o Nó de Campelos e o Nó de Bombarral e entre o Nó de
referidas alterações, implicam modificações aos valores globais
o anúncio de concurso para o cargo do loteamento, alterando a área total de implantação para Obidos e o Nó das Gaeiras, em ambos os sentidos.
de Direção Intermédia de 2.º grau, 10 258,77m2; mantendo-se as restantes prescrições do alvará em
vigor. Durante o referido prazo, contado a partir da publicação do Para minimizar os eventuais incómodos os trabalhos
de chefe da Divisão de Planeamento presente edital no Diário da República, poderão os interessados

e Organização, do mapa de pessoal

apresentar por escrito as suas reclamações, relativamente à
pretendida operação urbanística. Mais se torna público que o
decorrerão maioritariamente em período noturno. Todos os
da Direção-Geral da Administração processo respeitante à alteração à operação de loteamento,
acompanhado da informação técnica elaborada pelos Serviços trabalhos estarão devidamente sinalizados.
da Justiça. Municipais, se encontra disponível para consulta, na Direção
Municipal de Gestão do Território (DMGT), sita no Edifício do
Pópulo, Braga. Para constar se mandou passar o presente edital
Lisboa, 19 de abril de 2023 e outros de igual teor que vão ser afixados nos lugares de estilo, Respeite a sinalização, viaje em segurança.
publicitado no site do Município, publicado em Diário da República
A Diretora-Geral e num jornal de âmbito nacional.

loja.publico.pt da Administração da Justiça, Braga, Direção Municipal de Gestão do Território (DMGT), 14 de

abril de 2023.
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28 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Cultura Um clássico do teatro de câmara norte-americano
Ricardo Pais junta as famílias (a real e a
do teatro) para encenar o lar quebrado
O encenador volta ao Teatro Nacional São João, que durante muitos anos dirigiu, para levar a palco
Longa Jornada Para a Noite, obra-prima de Eugene O’Neill sobre as crises de um agregado fragmentado
Daniel Dias Texto
Paulo Pimenta Fotografia
Quando hoje, às 19h, apresentar no
Teatro Nacional São João (TNSJ) a pri-
meira de 14 récitas de Longa Jornada
Para a Noite (em cena até 7 de Maio),
Ricardo Pais estará a cumprir um
desejo antigo. Numa instituição que
conhece intimamente — foi director
artístico da casa portuense entre 1995
e 2000 e depois novamente entre
2002 e 2009 —, com um elenco que
constitui a sua segunda família (e em
parte também a primeira), Ænalmen-
te levará a palco uma encenação do
texto maior do dramaturgo Eugene
O’Neill (1888-1953), ao cabo de pelo
menos 15 anos com a ideia de traba-
lhar esta obra na cabeça.
Falamos de um clássico do teatro
de câmara americano, um drama
sobre uma família abastada que, ape-
sar do conforto Ænanceiro, se vê fus-
tigada por vários problemas. O pai fez
muito dinheiro interpretando até à
exaustão o mesmo papel numa peça
de teatro famosa, mas acabou arrui-
nando a sua carreira de actor, ao não
ter procurado abraçar outros projec-
tos — resta-lhe agora lidar diariamen-
te com o arrependimento. A mãe,
viciada em morÆna desde o difícil
segundo parto, passa as noites a dor-
mir mal e os dias a lembrar saudosa-
mente as vidas que um casamento
infeliz a impediu de viver.
O mais velho dos dois Ælhos é um
mulherengo alcoólico, actor como o
pai, mas prejudicado pela fama de
irresponsável e difícil de “domesti-
car”. Mantém uma relação de amor-
-inveja com o irmão, que escreve
poesia para um jornal local, mas cujas
aspirações parecem ameaçadas por
uma saúde frágil — a tosse persistente
sugere um problema grave.
No texto de Eugene O’Neill, uma
obra com muitos traços autobiográÆ#
cos que só viu a luz do dia após a mor-
te do autor, os problemas da família
Tyrone culminam num dia especial-
mente tumultuoso, em que, desde o
amanhecer até ao início da madruga-
da, os quatro discutem sobre os seus
vícios e inaptidões, demonstram des-
conÆar profundamente uns dos
outros e revelam, naquelas relações
interpessoais, fragilidades de difícil
superação (embora o amor que ape-
sar de tudo não deixa de existir seja
também expressado).
“Esta é a seminal peça de teatro de
câmara sobre uma família disfuncio-
Emília Silvestre e João Reis, dois nal, um tema que, de resto, abunda
actores que têm um longo nos Estados Unidos”, opina Ricardo
passado com Ricardo Pais, Pais em declarações ao PÚBLICO após
compõem um casal disfuncional um ensaio. Aquilo que torna a obra
“realmente importante”, diz, é o seu
“desenvolvimento dramático”: “Este
“Sou pelos sistema de caixas, colocadas umas
por cima das outras, que vão revelan-
públicos que se do coisas cada vez mais terríveis sobre
comovem [e esta o passado desta gente.”
O encenador de 78 anos, que decla-
peça] serve esse ra recorrer muito à “rede psicológica
propósito [das personagens] para a deÆnição
das acções”, entende que “os seres
fantasticamente”, que povoam o palco fazem teatro
diz Ricardo Pais quando as tensões são claras”. Longa
Jornada para a Noite é uma “sequên-
cia massacrante de diálogos e cenas
de conjunto” que dão conta de um
permanente “espírito de condena-
ção” em pleno seio familiar, o que
permite aos espectadores identiÆca-
rem-se com o que se passa em palco.
Um teatro próximo, “o mais próximo
de nós que é possível”.
“Eu sou pelos públicos que se
comovem”, confessa Ricardo Pais,
dizendo sentir que algo não está bem
quando ao sair do teatro o público
não sente “uma comoção qualquer,
nem que seja psicológica, racional”.
Esta peça “serve esse propósito fan-
tasticamente”, argumenta.
Coisas por dizer
O encenador comenta com o PÚBLI-
CO que a ideia de trabalhar Longa
Jornada Para a Noite “já estava há mui-
to na calha”. Lembra os tempos em
que ainda era director artístico do
TNSJ e já desejava “fazer uma coisa
forte que pudesse ombrear com os
Strindbergs e os Ibsens”, dois drama-
turgos incontornáveis na história do
teatro ocidental.
Por motivos diversos, as “várias
tentativas” para estruturar o projecto,
até mesmo depois da sua segunda
saída do TNSJ, foram caindo. Mas há
tempos, numa reunião, o actual direc-
tor da instituição, Nuno Cardoso, que
também já fez a sua versão de Longa
Jornada Para a Noite, convidou-o a
encenar o espectáculo, numa parce-
ria entre o TNSJ e o Ensemble — Socie-
dade de Actores.
O elenco que se formou inclui três
actores que o encenador conhece
bem: João Reis (o patriarca, James
Tyrone), Emília Silvestre (a mãe,
Mary) e Pedro Almendra (o Ælho mais
velho, Jamie). O trio, que tem na actriz
alguém com quem Ricardo Pais esti-
ma ter feito quase duas dezenas de
peças, já se juntara em Turismo Infini-
to, exploração teatral de textos de
Fernando Pessoa, levada a cabo pela
dupla Ricardo Pais/António M. Feijó.
“Foram 13 anos a fazer esse espec-
táculo”, lembra Ricardo Pais. “Este
elenco foi ganhando história. E está-
vamos num momento em que tínha-
mos de deitar a mão a uma coisa de
cariz rigorosamente psicológico.
Resolvemos reunir a família outra
vez.” Há também a família biológica.
O leque de intérpretes de Longa Jor-
nada completa-se com o Ælho de
Ricardo Pais, Simão do Vale Africano
(o irmão mais novo, Edmund), e com
a sua nora, Joana Africano (Cathleen,
a governanta da casa de Verão dos
Tyrone, onde a acção decorre).
Neste encontro entre a sua família
do teatro e a de sangue, Ricardo Pais
tentou simpliÆcar. “Não quis fazer
nenhum gesto especial com a ence-
nação — estou muito pouco numa de
encenador-autor”, esclarece.
A preocupação maior consistiu em
criar, no mesmo espaço cénico, a car-
go de Pedro Tudela, “um território
entre a paisagem mental e o realis-
mo”. As personagens ora estão na
sala dos Tyrone, a trocar de forma
ácida as suas farpas, ora estão num
outro lugar — o lugar para o qual a
mente de Mary derrapa quando con-
some mais um pouco de morÆna, por
exemplo. A sonoplastia de Joel Aze-
vedo e o desenho de luz de Filipe
Pinheiro contribuem para a criação
destes sítios imaginados.
De resto, Ricardo Pais passou mui-
to tempo “quieto”, a permitir que o
projecto se desenvolvesse de forma
lenta e subtil. “Foi uma opção volun-
tária”, a de se pôr “num lugar diferen-
te do normal”: “Falei sempre mais
tarde [nos ensaios], deixei coisas por
dizer… Isso deu-me um espaço que
gostei imenso de ter, com todas as
tensões que isso também cria.” Resul-
tou? “Nós conhecemo-nos muito bem
uns aos outros”, responde.

O colectivo Afrontosas quer
trazer um olhar “negro e cuír”
à arte e à educação em Portugal
Mariana Duarte
Lançamento da nova
associação cultural
realiza-se hoje, no Espaço
Alkantara, em Lisboa.
A entrada é gratuita
Em 2019, a Djass — Associação de
Afrodescendentes organizou, no
Espaço Alkantara, em Lisboa, o
encontro Afrontosas, em torno do
universo da negritude queer em Por-
tugal, nas suas movimentações polí-
ticas, artísticas, académicas. A partir
dali formaram-se alianças entre as
várias pessoas presentes: uma delas
deu origem ao colectivo e associação
cultural Afrontosas, que é hoje apre-
sentado no Espaço Alkantara, para
reiniciar, e propagar, o que ali se
começou. No fundo, pensar sobre a
importância da negritude queer e
diaspórica em Portugal, “em con-
Çuência com os trânsitos migratórios
da América Latina, África e outras
regiões”, activando mecanismos de
mudança.
“Pretendemos estabelecer uma
agenda cultural para Portugal a par-
tir de um olhar negro e de um olhar
cuír que se mistura entre a produção
de novos conhecimentos, novas esté-
ticas sobre a arte e novas formas de
celebrar nossas identidades e nossos
corpos”, começa por dizer o núcleo
duro do Afrontosas, constituído por
Antonyo Omolu, Di Candido (DIDI)
e Rodrigo Ribeiro Saturnino (ROD),
artistas, investigadores e activistas
brasileiros a residir em Portugal.
“‘Cuír’ é um neologismo que deci-
dimos usar como forma de demarcar
nossa expressão enquanto colectivo.
No Brasil, a palavra tem sido usada
como forma de estabelecer uma
posição no mundo sobre a resistên-
cia decolonial de pessoas LGBTQIA+”,
explicam ao PÚBLICO. “Uma forma
de subverter essa ideia da palavra
‘queer’como algo indeÆnido, esse
grande chapéu que serve para tudo,
mas que no Ænal continua sem signi-
Æcado.”
A actividade do Afrontosas passará
pela promoção de workshops, publi-
cações, exposições, performances e
festas, num circuito cultural com
cada vez mais artistas negros, entre
imigrantes e afro-portugueses (colec-
tivos interdisciplinares como a União
Negra das Artes, The Blacker The
Berry, Dengo ou Kriativu são tam-
bém prova disso). Contudo, apesar
de a produção artística em Portugal
estar a crescer nas suas pluralidades
e multiplicidades, o ecossistema da
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 29
Rodrigo Ribeiro Saturnino,
Di Candido e Antonyo Omolu
arte, sobretudo o institucional, “con-
tinua a ser um ambiente fechado e
restrito”, com dinâmicas de poder,
acesso e privilégio demarcadas “pelo
passado colonial”.
“Embora já existam algumas, pou-
cas, iniciativas que procuram dar
conta de uma falta de representati-
vidade de pessoas negras, ainda é
gritante como o comando dos meios
de produção da cultura, da arte e da
educação em Portugal continua nas
mãos do mesmo grupo de pessoas”,
faz notar o colectivo.
“O que presenciamos é uma tenta-
tiva de manutenção do poder das
pessoas brancas a partir do uso das
pessoas negras como um símbolo de
diversidade. Trata-se de uma lavagem
de consciência para criar uma sensa-
ção de que os tempos de reparação
O ecossistema
artístico
português, diz
o colectivo, é um
circuito fechado,
com dinâmicas
demarcadas “pelo
passado colonial”
Cultura
já começaram. Isso não é verdade.
Falta em Portugal a criação de novas
posições de liderança nesses sectores
que dêem espaços para nós, pessoas
negras e pessoas negras LGBTQIA+,
decidirem o que fazer.”
O Afrontosas procura, precisa-
mente, actuar nesse sentido, dese-
nhando estratégias em cinco áreas:
“arte e pesquisa”, para “fomentar e
divulgar” as criações de artistas
negros LGBTQIA+ e criar um espaço
interseccional e aberto “para a inter-
locução entre agentes do campo da
arte contemporânea e da academia”;
“acolhimento e ancestralidade”,
com projectos e encontros orienta-
dos para a saúde mental destas
comunidades; “consultoria e ensi-
no”, a Æm de “promover a educação
decolonial e anti-racista a partir de
um recorte interseccional que inclua
a questão diaspórica e a identidade
de género”; “cultura e celebração”,
com a realização, e o apoio à produ-
ção, de eventos ligados à “cultura
negra cuír” e suas heranças; e
“lifestyle e fashion design”, desen-
volvendo “espaços para produção de
moda como elemento político de
aÆrmação de cultura”.
Em alguns destes eixos, o colectivo
pretende propor consultorias, de
modo a que instituições e eventos
culturais em Portugal se tornem
espaços mais plurais, acessíveis e
justos, estimulando “mudanças
estruturais” nos seus modelos de O que é o azul?
organização.
Este é o único jornal em Portugal com
Nestas articulações, uma das prin-
cipais metas do Afrontosas é tentar uma secção inteiramente dedicada
que “a arte e a educação sejam ali- à urgência da crise climática.
nhadas, a Æm de gerar mais espaços O Azul é um projecto jornalístico que alia
de debate sobre o papel da arte na
a actualidade à ciência de forma a contribuir
produção de pensamento crítico,
que seja consumido não só por para o equilíbrio entre a humanidade e o planeta.
nichos artísticos mas por outras Há um ano que, no Azul, a agenda é sempre a do ambiente.
comunidades”. Para o colectivo, em Conheça-nos em publico.pt/azul
Portugal ainda há pouca porosidade
entre a arte e a academia, o que
resulta em dois clubes restritos.
“Pretendemos estabelecer diálo-
gos entre artistas, instituições artís-
ticas e académicas no sentido de
pensar modelos contemporâneos de
gestão da arte e da educação e abrir
novos espaços para a produção do
conhecimento e da arte que não este-
jam atrelados de modo tão forte ape-
nas a um tipo de classe social, pes-
soas hetero-euro-brancas”, explica
o colectivo. O JORNALISMO QUE FAZ BEM AO PLANETA
O lançamento do Afrontosas no
Espaço Alkantara, pelas 18h30, conta OBRIGADO AOS PARCEIROS QUE NOS APOIAM
com uma conversa entre os fundado-
res e pessoas convidadas, a perfor-
mance Iabás de Antonyo Omolu e um
DJ set de DIDI. A entrada é gratuita.
30 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Cultura

DR

Porto Design Seu Jorge em

Biennale Portugal entre
quer reflectir Pixinguinha
sobre o clima e Tom Jobim

Mariana Duarte Nuno Pacheco

A terceira edição da Porto Design
Biennale decorrerá de 19 de Outubro
a 3 de Dezembro entre Porto e Mato-
sinhos, com curadoria de Fernando
Brízio, e terá como tema Ser Água —
Como fluímos e nos moldamos colec-
tivamente, anunciou a organização
em conferência de imprensa.
Através de um programa alicerça-
do em exposições, conferências,
workshops e publicações, a bienal
organizada pela esad-idea, em par-
ceria com os municípios do Porto e
de Matosinhos, parte de um dos qua-
tro elementos, a água, para reÇectir
sobre o papel do design no actual
cenário de emergência climática.
A água “é uma poderosa lente atra-
Num momento em que o conhecido
cantor e compositor brasileiro está de
volta aos palcos portugueses com o
espectáculo Seu Jorge & Daniel Jobim
cantam Tom Jobim, com sessões em
Lisboa (Altice Arena, amanhã, às 22h)
e Guimarães (Multiusos, sábado, às
22h), chega ao Porto, numa sessão
especial, o Ælme Pixinguinha — Um
Homem Carinhoso, de Denise Sarace-
ni. É, na prática, uma antestreia,
embora o Ælme de 2021 não tenha data
de estreia comercial em Portugal. Terá
lugar no Cinema Trindade, às 19h de
amanhã.
Mais conhecido pela sua carreira
Três actores exemplares transportam para o palco uma alegria desbragada na música, que iniciou nos Farofa
Carioca em 1997 e que se estendeu a

Os que vão rir te saúdam, Chapitô

vés da qual pensamos o mundo e a
adaptabilidade do design às rápidas
e incessantes transformações que se
têm vindo a operar na realidade,
onde o mundo que conhecemos está
a desintegrar-se e ainda não sabemos
como vai ser o próximo”, argumenta
Fernando Brízio na sua proposta
curatorial, assinalando que se prevê,
para 2030, “um déÆce de 40% de
água em relação à procura”.
Num evento que procura posicio-
nar-se como espaço de “diálogo
entre a sociedade civil, a academia,
a indústria, as instituições e agentes
culturais”, esta terceira edição pro-
põe-se constituir uma “plataforma-
laboratório transdisciplinar, de
observação, pensamento, criativida-
de e aprendizagem”.
“Além de projectar melhores e
mais eÆcientes usos da água, deve-
mos conceber modelos de coabita-
ção alternativa, simbiótica, entre
humanos e mais que humanos, uma
relacionalidade vantajosa e susten-
tável para todos”, faz notar o cura-
dor, que lecciona na Escola Superior
de Artes e Design de Caldas da Rai-
nha. “Relações cooperativas, ecoló-
gicas, que abracem os vários espec-
tros da realidade e da água, nas suas
várias formas e lugares.”
Esta bienal terá Espanha como
país convidado, num eixo programá-
tico que irá debruçar-se sobre a rela-
ção de proximidade com este terri-
tório e a indústria da Galiza, sob
curadoria do curador e crítico de
arte espanhol David Barro.
De resto, o dia de ontem marcou
também a abertura das open calls
para as Actividades Satélite, que con-
vidam designers e agentes culturais
a apresentar propostas que “explo-
rem diversas formas de acção na
forma de debates, workshops, publi-
cações, intervenções”.
Crítica de Teatro
Júlio César
mmmmn
Pela Companhia do Chapitô.
Encenação de José C. Garcia e Cláudia
Nóvoa. Chapitô, Lisboa. Até dia 28
Plutarco, Shakespeare e mais outros
já lhe contaram a vida com a gravida-
de merecida por uma Ægura histórica
da sua dimensão. Agora é a vez de a
Companhia do Chapitô dedicar a sua
39.ª criação colectiva ao mais conhe-
cido dos imperadores romanos. Em
jeito de farsa, claro.
Medeia, Drácula, Édipo, Macbeth,
Electra, Dr. Jekill e Mr. Hyde, Antígo-
na, até A Tempestade, obra tão esti-
mada de William Shakespeare, e
mais uma mão-cheia de tragédias
clássicas já passaram pelo Æltro dis-
torcido através do qual esta trupe de
comediantes vê a história e a mitolo-
gia, e que lhe permite transformar
em surpresa e riso o que antes era
seriedade e respeitinho. Ora, como
seria de esperar, é com a mais eleva-
da falta de respeito que chegou a
altura de Júlio César receber os seus
tratos de polé nesta encenação de
José C. Garcia e Cláudia Nóvoa, inter-
pretada por Jorge Cruz, Pedro Diogo
e Susana Nunes.
Só para recordar quem faltou
naquele dia às aulas, o herói desta
comédia requintada, que viveu entre
100 a.C. e 44 a.C., chegou através dos
seus feitos militares a homem de
Estado e, na habitual confusão de
intriga, conspiração e traição que
marcaram a vida política e social do
Império Romano, fez (mais ou
menos 60 anos antes do nascimento
do Messias cristão) parte do Primei-
ro Triunvirato, com Crasso e Pom-
peu. A ascensão dos militares ao
poder, dividindo entre si as provín-
cias do império, embora aprovada
— a modos que à força, mas aprovada
—, enfraqueceu o poder do Senado
e, para muitos, os princípios da
República. Digamos que o conquis-
tador da Gália foi, como agora se diz,
o mais proactivo. Isto é: aproveitou
a guerra civil entretanto desenca-
deada, derrotou o exército de Pom-
peu, encostou Crasso às cordas e
autoproclamou-se nem mais nem
menos do que Ditador Perpétuo de
Roma. Não durou muito no cargo,
pois a retaliação dos senadores que
porÆavam pela restauração da Repú-
blica e dos aristocratas que não apre-
ciavam tal acumulação de poder
resultou primeiro numa conspiração
e depois no assassinato colectivo,
diz-se que maquinado por Bruto, seu
discípulo dilecto.
Passado este momento Wikipédia,
interessa o que a companhia fez com
o enredo. Este, como todos os ante-
riores, aliás, foi tratado com o talen-
to de quem prefere expor inconsis-
tências históricas e tomar a liberda-
de de não levar nada a sério, ou seja,
como dizem os seus criadores, con-
tribuindo, neste caso, para a “des-
consagração” de César sem querer
realmente saber se a morte do tirano
foi merecida ou se o Ditador Perpé-
tuo foi um herói vítima de conspira-
dores ansiosos por recuperar o
poder. Por outras palavras, entre
estas personagens não há Çor que se
cheire e na sua presença é preciso
muito cuidado, quando se expõem
as costas — porque, é quase certo, há
sempre um facalhão à espera de
oportunidade. Portanto, não se
espere neste espectáculo encontrar
heróis e vilões. São todos, sem
excepção, gente que aproveita as
circunstâncias, ou, citando mais
uma vez a companhia, “gente ardi-
losa que faz pela vida” sem olhar a
métodos.
José C. Garcia e Cláudia Nóvoa não
têm uma receita, mas seguem um
método — que muito deve ao trabalho
de John Mowat, durante anos ence-
nador de serviço à Companhia do
Chapitô —, criador de uma herança
rica que os actuais encenadores pros-
seguem e desenvolvem. Mas volte-
mos ao método, que primeiro encon-
tra o lado absurdo da narrativa, des-
envolve-o em grande equilíbrio
dramático e, através da pantomina e
de outras técnicas do teatro físico,
com um par de adereços adaptáveis
a qualquer situação e uma ilumina-
ção adequada (Bruno Boaro e José C.
Garcia), transforma o que noutras
mãos foi e é um pastelão em deliran-
te e absurda comédia. Mérito também
da forma como os actores exploram
as suas expressões faciais e corporais,
usando tanto as suas limitações como
as suas potencialidades e caracterís-
ticas, assim representando uma varie-
dade de coreograÆa cómica. E, nesse
aspecto, Jorge Cruz, Pedro Diogo e
Susana Nunes são exemplares na ale-
gria desbragada que põem em cena.
Rui Monteiro
uma bem-sucedida aventura a solo,
Seu Jorge participou já em mais de
duas dezenas de Ælmes e, mais recen-
temente, em duas longas-metragens
nas quais foi protagonista: Marighella
(Wagner Moura, 2019), onde deu
corpo ao célebre escritor e guerri-
lheiro baiano que foi um dos princi-
pais resistentes à ditadura militar
brasileira, e este Pixinguinha — Um
Seu Jorge
encarna
Pixinguinha num
filme biográfico
sobre esta figura
maior da música
brasileira
Homem Carinhoso, onde interpreta
aquele que foi um dos maiores músi-
cos e compositores de sempre no
Brasil, Alfredo da Rocha Vianna Filho
(1897-1973).
O Ælme conta com 44 músicas,
numa banda sonora construída a par-
tir de novos arranjos para as músicas
de Pixinguinha a cargo do maestro
Cristóvão Bastos. A curadoria musical
é do produtor Carlos Moletta. “Pixin-
guinha é um génio da música popular
brasileira e não só não havia nada em
Ælme sobre ele, como há pouquíssi-
mas imagens dele jovem. Só há aque-
les Ælmes que a gente pôs lá, especial-
mente um de 1974, já lançado depois
da morte dele, com ele de pijama,
andando em casa. Aí pensei: a lem-
brança desse cara vai morrer. Os
jovens não vão saber quem é. Foi isso
que me guiou”, explicou Carlos
Moletta ao PÚBLICO.
Maestro, Çautista, saxofonista,
compositor e arranjador, Pixinguinha
morreu a 17 de Fevereiro de 1973, em
pleno Carnaval. A data do seu nasci-
mento, 23 de Abril, é no Brasil, desde,
2021 o Dia Nacional do Choro.
 Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 31

Guia

ímpar publico.pt/impar

A crise não afecta a cosmética

e perfumaria de luxo, revelam marcas
Sector do luxo tem crescido, aparentemente imune ao aumento da inÅação ou das taxas de juro.
O fenómeno não é novo e até tem um nome que vem dos tempos da Grande Depressão: “índex do bâton”
DR

Bárbara Wong
Num pequeno-almoço no espaço do
Palácio do Grilo, em Lisboa, a L’Oréal
Luxe reúne mais de duas dezenas de
jornalistas para anunciar as novida-
des do ano e para declarar que a crise
económica não passa pelo luxo. AÆ#
nal esta é a primeira divisão do grupo
francês, é aquela que mais vende, que
tem crescido durante 12 anos conse-
cutivos e continua a crescer.
A L’Oréal Luxe não está sozinha,
outras empresas de cosmética e per-
fumaria, como a japonesa Shiseido,
a francesa Clarins ou a portuguesa
Ignae, juntam-se a ela no mesmo dis-
curso de imunidade à crise. Há muito
que é assim — em 2001, Leonard Lau-
ren, herdeiro da Estée Lauder,
cunhou o termo “índex do bâton”
para referir que até durante a Grande
Depressão, nos EUA, há praticamen-
te um século, a crise não se fez sentir
no sector, pois as vendas dos bâtons
subiram numa altura em que muitos
não sobreviveram.
“Os sectores de luxo têm-se mos-
trado mais resilientes e em cresci-
mento em cenários de crise económi-
ca e a cosmética não é excepção”,
declara Patrícia Serrano, gestora da
Shiseido Portugal, ao PÚBLICO.
Miguel Pombo, da portuguesa Ignae,
conÆrma que o caminho é de cresci-
mento, porque os seus clientes não Há a ideia de que a crise só afecta o consumidor que se preocupa mais com o preço do que com a qualidade, o serviço e a conveniência
são afectados com subidas de taxas
de juro ou o aumento da inÇação. No caso da Clarins, o crescimento divisão de supermercado e em ter- Quanto ao mercado português, a Patrícia Serrano, da Shiseido, acres-
Recentemente, a Shiseido com mais tem sido feito de “forma consistente ceiro, a do luxo, mas, com o passar Shiseido refere que, além da retoma centa que as marcas trabalham com
de 150 anos e presente em Portugal há e sustentada” nos últimos 15 anos. dos anos e a chegada ao mercado do turismo, a “instalação de algumas produtos que são utilizados como
30, apresentou, também em Lisboa, “Cresceu em 2020 e mantém um asiático, a divisão do luxo assumiu a comunidades estrangeiras” justiÆcam “forma de autocuidado, que se torna
as novidades do ano, que passam por crescimento de dois dígitos desde primeira posição, contextualiza o seu crescimento. especialmente importante em alturas
uma nova fragrância, que chega num então”, informa, explicando que não Nuno Seabra, general manager da de incerteza e de preocupações”.
frasco cujo design foi patenteado, de esmoreceu por altura da pandemia, L’Oréal Luxe, durante o pequeno- Cuidados e investimento Comprar produtos que tratam da
tal maneira é minucioso e inovador; com as pessoas em casa. almoço, acrescentando que, no top O sucesso da cosmética e perfuma- pele, do cabelo, perfumes ou maqui-
e pelo melhoramento das fórmulas Nenhuma das marcas que o 10 das marcas mais vendidas no ria junto dos consumidores não se lhagem não é visto como algo supér-
dos seus produtos para a pele e que PÚBLICO contactou revela números. mundo, quatro são da sua divisão: prende apenas com a preocupação Çuo, mas como cuidados e investi-
prometem regenerá-la. A Dior não está autorizada a fazê-lo, Lancôme, YSL, Armani e Kiehl’s. com a beleza, defendem as marcas. mento. Os clientes preferem gastar
Essa aposta na melhoria e na cria- a Shiseido justiÆca que, como o Destas, só a última não tem vendas Estes procuram também o bem- mais num produto que tem maior
ção de novos produtos é uma das “mercado do luxo não é auditado, as signiÆcativas em Portugal, diz. estar. durabilidade e eÆcácia, concordam
razões por que são caros, lembra a marcas optam por não revelar” essas Também a açoriana Ignae, que A Clarins lembra que a pandemia os responsáveis das marcas.
Clarins, em resposta por escrito ao informações. Também a L’Oréal está nos principais grandes arma- veio potenciar essa preocupação. “Hoje a beleza insere-se numa
PÚBLICO. “As marcas não descem Luxe não avança dados do sector. zéns norte-americanos, bem como “O facto de termos mais tempo e visão holística e de bem-estar”,
o padrão de qualidade, mantendo No grupo L’Oréal, durante anos, a nos spas de muitos hotéis de cinco disponibilidade para cuidar de nós, escreve a Clarins em declarações ao
um investimento considerável em divisão que mais vendia era a de estrelas, tem a expectativa de entrar aliado à necessidade de contrariar PÚBLICO. “A crise só afecta o con-
investigação e desenvolvimento, cabelos — algo natural, uma vez que no mercado chinês com os seus pro- a ansiedade do momento, obrigou- sumidor que procura preço em
para melhorarem os produtos, com a origem da marca está na venda de dutos feitos com matérias-primas nos a aprender a tratar de nós”, detrimento de qualidade, serviço e
novas tecnologias e ingredientes.” produtos de coloração —, depois, a oriundas das ilhas atlânticas. contextualiza. conveniência”, conclui.
32 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 214221030
As Bestas M14. 21h25; Quero Falar
Sobre Marguerite Duras M12. 15h;
Great Yarmouth: Provisional Figures
M14. 19h20; Nação Valente 15h05, 17h35,
19h15, 21h40; Escola de Coelhos M3.
13h15 (VP); Regresso a Seul M14. 16h55;
As Oito Montanhas M12. 21h35; Super
Mario Bros. O Filme M6. 13h20, 15h20,
17h20 (VP); Sombras Brancas M14.
13h30, 20h; Para Sempre Mulher M12.
19h35; Soldado Nobre M12. 13h30, 20h
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 214221030
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo 21h10; A Baleia M16. 17h40; John
Wick: Capítulo 4 M16. 21h; Dungeons e
Dragons M12. 21h45; Astérix e Obélix M6.
15h30, 17h50 (VP), 19h (VO); Air M12. 13h15,
17h20, 19h30, 21h40; Super Mario Bros.
O Filme M6. 13h20, 15h20, 16h, 17h20, 19h20
(VP), 13h40, 15h40, 17h40, 19h40, 21h40
(VO); O Exorcista do Vaticano M16. 13h30,
15h35, 19h55, 22h; Os Mundos de Mia:
O Filme M3. 13h15, 15h25; Evil Dead Rise
Despertar M18. 13h45, 15h45, 17h45, 19h45,
21h30; Suzume M12. 15h15, 17h55, 21h25
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Letrux: Viver é um Frenesi M12. 18h45;
Toda a Beleza e a Carnificina M14.
14h15; Nação Valente 16h30, 21h15;
Cinemateca Portuguesa
R. Barata Salgueiro, 39. T. 213596200
À Beira do Fim M12. 19h; Não Se Brinca com
o Dinheiro 21h30; O Hotel do Alpinista
Morto 15h30; Um Ninho ao Vento 19h30;
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Benedetta M16. 19h30; Toda a Beleza
e a Carnificina M14. 12h30; Nação
Valente 17h; Close M12. 15h, 22h;
Sala Fernando Lopes - Universidade
Lusófona
Cp. Grande. T. 217515500
Ice Merchants M6. 19h; Interdito a Cães
e Italianos M12. 19h30; Independência 21h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo M14. 14h20, 21h15; Tár M12. 18h;
A Baleia M16. 13h25, 18h45; John Wick:
Capítulo 4 M16. 15h50, 21h50; Dungeons
e Dragons 13h20; Astérix e Obélix M6.
13h55, 16h25, 19h05, 21h45; Close M12.
14h05, 16h35, 19h05, 21h35; As Oito
Montanhas M12. 14h20, 21h15; Air M12.
14h, 16h40, 19h15, 21h55; Super Mario Bros.
O Filme M6. 14h25, 16h55, 19h10, 21h25
(VP/2D), 21h40 (VO/2D), 13h35 (VP/3D),
19h25 (VO/3D); Nayola M14. 14h10, 19h25;
O Exorcista do Vaticano M16. 14h30, 17h,
19h30, 22h; Sombras Brancas M14. 13h45,
16h25, 18h55, 21h40; Beautiful Disaster
- Um Desastre Maravilhoso M14. 13h40,
16h10, 19h, 21h30; Evil Dead Rise O
Despertar M18. 14h15, 16h45, 19h20,
21h45; Suzume M12. 16h30, 21h30; Medida
Provisória M12. 13h50, 16h20, 18h50, 21h20
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo 21h; John Wick 4 M16. 15h35,
21h15; Astérix e Obélix M6. 15h30, 17h50
(VP), 19h (VO); Air M12. 17h30, 19h40,
21h50; Super Mario Bros. 15h20, 16h, 17h20,
18h20, 19h20, 21h10 (VP), 15h40, 17h40,
21h35 (VO); O Exorcista do Vaticano M16.
21h45; O Exorcista do Vaticano M16. 15h35
(VP); Evil Dead Rise O Despertar M18.
15h45, 17h45, 21h30; Suzume M12. 15h15,
17h55, 21h25; Medida Provisória M12. 19h55
Estreias
Close
De Lukas Dhont. Com Eden
Dambrine, Gustav De Waele,
Émilie Dequenne, Léa Drucker,
Igor van Dessel. BEL/FRA/HOL.
2022. 104m. M12.
Depois de um Verão de inúmeras
aventuras e partilhas, Léo e Rémi
Æcam radiantes por terem sido
colocados na mesma turma. Mas a
proximidade entre eles é mal
interpretada pelos colegas, que os
começam a atormentar com
insinuações maliciosas. Para evitar
ser ostracizado, Léo decide
afastar-se.
Sombras Brancas
De Fernando Vendrell. POR. 2023.
114m. Drama, Biografia. M14.
Aos 71 anos, José Cardoso Pires
sofreu um acidente vascular
cerebral, que o levou a perder a
capacidade de se relacionar com o
mundo. O livro “De Profundis, Valsa
Lenta“ (1997) relata a sua
experiência do AVC, as suas
consequências e o processo de
recuperação. Este Ælme tem como
ponto de partida esta obra e o que
ela signiÆca.
Suzume
De Makoto Shinkai. JAP. 2022.
122m. Animação, Aventura. M12.
Certo dia, a caminho da escola,
Suzume encontra um rapaz em
busca de zonas abandonadas. Ao
acompanhá-lo, depara-se com uma
porta antiga e, impelida por uma
força invisível, abre-a. Nesse
momento, outras se abrem em
diversas regiões do Japão, causando
todo o tipo de catástrofes naturais.
Casa do Prazer
De Anissa Bonnefont. Com Ana
Girardot, Aure Atika, Rossy de
Palma, Yannick Renier. FRA/BEL.
2022. 89m. Drama. M16.
Emma decide escrever um romance
sobre prostituição. Num esforço de
imergir no dia-a-dia de mulheres e
homens envolvidos no negócio do
sexo, vai trabalhar para um bordel.
Mas a questão que a assombra é: terá
ido trabalhar para lá um busca de
inspiração ou a escrita foi apenas um
pretexto?
Evil Dead Rise O Despertar
De Lee Cronin. Com Alyssa
Sutherland, Lily Sullivan, Morgan
Davies, Nell Fisher. EUA/IRL/Nova
Zelândia. 2023. 97m. Terror. M18.
Esta nova aventura da saga “Evil
Dead” conta a história Beth e Ellie,
duas irmãs que se vêem
confrontadas com um caso de
possessão demoníaca depois de
abrirem um livro com passagens
capazes de despertar espíritos
malignos.
Medida Provisória
De Lázaro Ramos, Flávia Lacerda.
Com Alfred Enoc, Taís Araújo, Seu
Jorge, Adriana Esteves, Renata
Sorrah, Diva Guimarães. BRA.
2020. 103m. Drama, Ficção
Científica. M12.
Num futuro não muito distante, o
Cartaz, críticas, trailers
cinecartaz.publico.pt
Brasil transformou-se num país onde
as desigualdades se tornaram mais
evidentes e onde as pessoas negras
perderam os seus direitos mais
básicos. Num esforço de impedir uma
escalada de problemas, o Governo
implementa uma medida provisória
de reparação da História referente
aos escravos trazidos de África.
Nação Valente
De Carlos Conceição. Com João
Arrais, Anabela Moreira, Gustavo
Sumpta, Leonor Silveira, Miguel
Amorim. POR/FRA/Angola. 2022.
118m. Drama, Guerra.
Vencedor do prémio Europa
Cinemas Label e do Junior Jury
Award no Festival de Cinema de
Locarno (Suíça), um drama sobre as
feridas da Guerra Colonial, com
argumento e realização de Carlos
Conceição.
Os Mundos de Mia: O Filme
De Adam Gunn. Com Margot
Nuccetelli, Dave Willetts, Vivien
Battley, James Dyke (Voz), Alex
Beauman (Voz), Julian Maroun
(Voz). ALE/Índia/Austrália/BEL.
2022. 85m. Animação, Fam. M3.
Realizado por Adam Gunn, este
Ælme de aventura para os mais
pequenos mistura “live-action” com
animação CGI e adapta a série
infantil homónima criada por
Gerhard Hahn que, em Portugal, se
estreou no canal Panda em 2012.
Letrux: Viver é um Frenesi
De Marcio Debellian. BRA. 2022.
37m. M12.
Um documentário que acompanha a
trajectória da cantora, poeta e
escritora brasileira Letícia Pinheiro
de Novaes, mais conhecida pelo
nome artístico Letrux.
UCI Cinemas - Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
Astérix e Obélix: O Império do Meio
M6. 13h20, 16h10; Air M12. 13h50, 18h50,
21h35; Super Mario Bros. O Filme M6.
13h30, 16h05, 18h45 (VP/2D), 19h, 21h25
(VO/2D); O Exorcista do Vaticano M16.
16h50, 19h25, 21h55; Os Mundos de Mia
: O Filme M3. 14h, 16h40, 19h05; Beautiful
Disaster - Um Desastre Maravilhoso M14.
13h35, 19h10; Evil Dead Rise O
Despertar M18. 14h25, 16h45, 19h15,
21h45; Suzume M12. 16h30, 21h30;
Medida Provisória M12. 14h20, 21h40
Sintra
Castello Lopes - Alegro Sintra
Alegro Sintra, Alto do Forte. T. 219184352
John Wick: Capítulo 4 M16. 20h50; Astérix
e Obélix: O Império do Meio M6. 13h50,
16h10 (VP), 18h30 (VO); Super Mario Bros.
O Filme M6. 13h10, 15h10, 17h10, 19h10 (VP),
20h10 (VO); O Exorcista do Vaticano M16.
14h45, 17h, 19h15, 21h30; Beautiful Disaster
- Um Desastre Maravilhoso M14. 13h10,
15h15, 17h20, 21h30; Evil Dead Rise O
Despertar M18. 13h10, 15h15, 17h20, 19h25,
21h35; Medida Provisória M12. 19h25
e passatempos em
Leiria
Cinema City Leiria
Ponte das Mestras. T. 244845071
Nação Valente 15h30; John Wick 4 M16.
21h15; Astérix e Obélix M6. 15h50, 18h10
(VP), 15h35 (VO); Air M12. 21h35; Super
Mario Bros. O Filme M6. 13h35, 15h20, 16h,
17h20, 19h20, 21h20 (VP/2D), 18h20 (VP/3D),
13h20, 17h50, 21h50 (VO/2D); O Exorcista
do Vaticano 17h45, 19h45, 21h45; Sombras
Brancas M14. 19h30; Beautiful Disaster
19h30; Evil Dead Rise M18. 15h30, 17h30,
21h30; Suzume M12. 15h25, 17h55, 21h25
Cineplace - Leiria Shopping
C.C. Leiria Shopping. T. 244826516
John Wick: Capítulo 4 M16. 21h25; Escola de
Coelhos 14h50 (VP); Dungeons e Dragons
M12. 20h55; Astérix e Obélix: O Império do
Meio M6. 14h10, 16h35 (VP), 18h50 (VO); Air
M12 19h; Super Mario Bros. O Filme M6.
15h10, 16h, 17h10, 18h, 19h10 (VP/2D), 14h
(VP/3D), 20h50 (VO/2D); O Exorcista do
Vaticano M16. 21h10; Os Mundos de Mia: O
Filme M3. 15h05, 17h05, 19h05; Beautiful
Disaster - Um Desastre Maravilhoso M14.
16h35; Evil Dead Rise O Despertar M18.
14h10, 16h40, 19h10, 21h40; Medida
Provisória M12. 14h15, 16h15, 18h15, 21h30
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
Astérix e Obélix 14h20, 16h50 (VP); Air
M12. 21h45; Super Mario Bros. O Filme
M6. 15h (2D), 17h, 19h (3D); O Exorcista
do Vaticano M16. 21h; Os Mundos de
Mia: O Filme M3. 14h, 15h50, 17h40,
19h35; Beautiful Disaster M14. 21h40; Evil
Dead Rise O Despertar M18. 14h10, 16h40,
19h10, 21h25; Suzume 14h05, 16h35, 19h05,
21h35; Medida Provisória 19h20, 21h20
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
John Wick: Capítulo 4 M16. 14h05, 17h25,
20h45; Astérix e Obélix M6. 14h30, 16h50,
19h10 (VP), 21h30 (VO); Super Mario Bros.
O Filme M6. 13h10, 15h10, 17h10, 19h10 (VP),
21h10 (VO); O Exorcista do Vaticano M16.
14h45, 17h, 19h15, 21h30; Os Mundos de
Mia: O Filme M3. 15h35, 17h30; Beautiful
Disaster M14. 13h30, 19h25, 21h30; Evil
Dead Rise O Despertar M18. 13h10, 15h15,
17h20, 19h25, 21h35
Setúbal
Cinema City Alegro Setúbal
CC Alegro Setúbal. T. 214221030
Shazam! Fúria dos Deuses M12.
18h40; Nação Valente 19h40; John Wick
4 M16. 21h10; Dungeons e Dragons M12.
15h45 (VP); Astérix e Obélix 15h30, 17h50
(VP), 21h (VO); Air M12. 21h35; Super Mario
Bros. O Filme M6. 15h20, 16h, 17h20, 18h20,
19h20, 21h20 (VP), 15h40, 17h40, 21h40
(VO); O Exorcista do Vaticano M16. 15h45,
19h45, 21h45; Sombras Brancas M14.
19h30; Os Mundos de Mia 15h50 ; Beautiful
Disaster - Um Desastre Maravilhoso M14.
17h45, 22h; Evil Dead Rise O Despertar M18.
15h35, 17h35, 19h35, 21h30; Suzume 15h15,
17h55, 21h25; Medida Provisória M12. 17h45
Seixal
Cineplace Rio Sul Shopping
C.C. Rio Sul Shopping.
Astérix e Obélix 14h (VP); Super Mario
Bros. O Filme M6. 15h10, 17h10, 19h10 (VP),
20h20 (VO); O Exorcista do Vaticano M16.
21h15; Os Mundos de Mia: O Filme M3.
14h50, 16h40, 18h30 (VP); Evil Dead Rise
O Despertar M18. 16h25, 18h55, 21h25

Lazer
DANÇA
Último Acto
LISBOA Teatro Tivoli BBVA.
Dia 20/4, às 21h. M/6. 15€ a 35€
Depois de se ter apresentado em
Duelo com o pianista Marcelo
Bratke, em 2019, o bailarino
brasileiro Thiago Soares (n.1981)
volta a Portugal para estrear
Último Acto. O novo espectáculo
propõe-se a revelar de forma
“diferente, versátil e interactiva”
os bastidores da carreira do artista
(que traz no currículo, entre
outros créditos, o lugar de
bailarino principal do Royal Ballet
de Londres), misturando
referências do ballet clássico, do
hip-hop, do afrobeat e da dança
contemporânea, sem esquecer as
artes plásticas. É também aqui que
se inicia a digressão internacional
para se despedir dos palcos.
FESTIVAIS
Sons pela Cidade
— Música em Festa
LISBOA Vários locais.
De 20/4 a 21/5. Grátis
Ajuda, Avenidas Novas, Beato,
Belém, Carnide, Parque das
Nações, Santo António e São
Vicente são as oito freguesias que
dão o corpo ao manifesto no
festival dedicado à música erudita.
Cabe à Orquestra Metropolitana
de Lisboa levar as suas notas
musicais a vários lugares da
capital. A série de oito concertos
comentados abre hoje, às 19h, no
Centro Social de Belém, com o
violino de Diana Tzonkova e o
contrabaixo de Ercole de Conca.
Seguem-se, ainda este mês,
recitais na Igreja da Boa Hora
(amanhã às 21h30) e na Igreja
Paroquial do Espírito Santo
(sábado às 15h).
Ronda Poética
LEIRIA Vários locais.
De 20/4 a 25/4.
Com o tema Poesia em tempo
de guerra e a inspiração do
verso “A paz sem vencedores e
sem vencidos” escrito por
Sophia de Mello Breyner
Andresen, o festival convida a
reÇectir sobre a relação entre
poesia e guerra. Comissariado
por Luís Filipe Castro Mendes,
o programa desÆa-se entre
poemas, música, conversas,
artes visuais, apresentação de
livros, roteiros literários e
actividades comunitárias. Mais
informações em
leiriapoetryfestival.com.
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 33
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, Totoloto 5 29 36 41 44 7
bridge e sudoku em
1.º Prémio 5.600.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 12.042 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais: 1. Discute autodeterminação de género nas escolas e práticas de conversão.
2. Interjeição designativa de dor. Situação de vigilância. 3. Onde aconteceu a grande
manifestação contra a influência comunista em Portugal realizada 18 de Julho de 1975. Aqui
está. 4. Prefixo (repetição). Pequeno ferimento. Menciona. 5. Ouro (s. q.). Muito grande. 6.
Foi descoberta uma nova espécie deste animal marinho, com 24 olhos. 7. Antes de Cristo.
Fileira. Interjeição que designa nojo ou desprezo. 8. Internet Protocol. União Europeia.
Palpável. 9. Árvore utilizada nas esculturas criadas por Álvaro Siza para a Santa Sé. 10.
Completa. Nome feminino. 11. Interjeição que designa afirmação, admiração ou satisfação.
Põe só.
Verticais: 1. Queixar-se (gíria). Dedicado. 2. Fiel. Proveito. 3. A massa popular (fig.).
Interjeição que designa cansaço. Viagem. 4. Capital do Peru. Preencher. 5. Prefixo
(separação). Extraterrestre. 6. Onde foi confirmado um caso de lepra. Sufixo nominal que
traduz a ideia de semelhança ou origem. 7. Esclerose Lateral Amiotrófica. “O (...), bailando
se quer”. Ministério da Administração Interna. 8. Símbolo de nordeste. Trastes velhos e
sem valor. 9. Exercita-se. Equívoco. 10. Inflamação do ouvido. A “ilha azul” do arquipélago
dos Açores. 11. Pega. Excesso na comida e bebida.
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Brasil. Alor. 2. Iate. Eirado. 3. NE. Reitores. 4. Graal. 5. Cl. Ilhal. 6. Pa. Cria. UE.
7. Máscara. 8. Ovar. Peca. 9. Ril. Maioral. 10. Ida. Alviela. 11. Morar. Assar.
Verticais: 1. Bingo. Morim. 2. Raer. Pávido. 3. AT. Acasalar. 4. Seral. Cr. 5. El. Ca. Mar. 6. Lei. Irreal.
7. Itália. IVA. 8. Aro. Ha. Pois. 9. Larga. Teres. 10. Ode. Lu. Cala. 11. Rosa. Exalar.
Bridge João Fanha
Sudoku © Alastair Chisholm 2008
bridgepublico@gmail.com www.indigopuzzles.com
Dador: Sul possibilidade razoável, mas não serve.
Problema 11.856 (Fácil)
Oeste tomaria a vaza com o Rei de ouros e
Vul: Todos jogaria o Ás de espadas e espada para o
NORTE Rei de Este, que, por sua vez, jogaria outro
Ƅ J2 ouro para promover o 10 de trunfo de
Ɔ 963 Oeste.
Ƈ Q9642 A melhor hipótese e que permite fazer
ƅ AJ2
face àquela promoção de trunfo é
OESTE ESTE começar por jogar o Valete de ouros à
Ƅ AQ84 Ƅ K1053 terceira vaza, sem tirar o respectivo Ás!
Ɔ 1072 ƆQ A defesa não terá resposta. Se depois de
Ƈ K3 Ƈ 10875 fazer o Rei de ouros, a defesa decidir jogar Solução 11.854
ƅ 9843 ƅ Q1065 três voltas de espadas, teremos ainda um
trunfo no morto para cortar — as restantes
SUL
vazas são nossas. Se a defesa atacar outra
Ƅ 976
Ɔ AKJ854 coisa qualquer, teremos tempo para
acabar de destrunfar, desbloquear o Ás de
Ƈ AJ
ƅ K7 ouros e ir ao morto no Ás de paus para
encaixar a Dama de ouros para baldar uma
Oeste Norte Este Sul espada perdente da mão.
1Ɔ
passo 1ST passo 3Ɔ Considere o seguinte leilão:
passo 4Ɔ Todos passam Oeste Norte Este Sul
1Ƈ 1Ɔ X 2Ɔ
Leilão: Equipas ou partida livre. 2Ƅ passo passo ?
Carteio: Saída: 2Ɔ. Aparece a Dama de O que marca com a seguinte mão? Problema 11.857 (Difícil)
copas em Este que Sul prende com o Ás. ƄA86 ƆJ1032 ƇQ4 ƅ9764
Na segunda vaza do jogo Sul joga o Rei de
trunfo no qual Este balda o 5 de espadas. Resposta: Estamos perante um problema
clássico de marcação. Passamos ou
Como continuaria?
marcamos 3 copas? A resposta para esta
Solução: A saída a trunfo impossibilita que pergunta envolve um conceito que se tem
o carteador possa vir a realizar um corte tornado fundamental para o bridge de
de uma espada no morto. Assim, hoje em dia: a lei das vazas totais. Larry
contamos com três perdentes a espadas e Cohen pegou neste conceito e
uma a ouros. Se o Rei de ouros estiver bem desenvolveu algumas máximas bem Solução 11.855
importantes. Aquela que é mais usada e
colocado, não haverá problemas em
cumprir esta partida; por isso, temos de que produz melhores resultados é a
equacionar a possibilidade contrária. Se seguinte: “8 never, 9 ever.” Esta expressão
extrairmos o trunfo que resta de Oeste, diz respeito ao número de trunfos com
estaremos também a eliminar o último que devemos encarar competir ao nível de
trunfo do morto, deixando o naipe de 3: com 8 nunca, com 9 sempre. No
espadas aberto aos adversários. Portanto, exemplo de hoje a resposta é fácil. Se
seguirmos esta máxima, sabemos que
deixamos para já esse trunfo de fora. Bater
o Ás de ouros e de seguida o Valete, com o existem 9 cartas de copas na nossa linha,
intuito de apurar a Dama do morto para logo devemos competir em 3 copas. A boa
baldar uma das espadas da mão, é uma voz: 3 copas.
34 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Terça-feira, 18
RTP1 11,2% DOCUMENTÁRIOS
De Olhos Bem Fechados
Jornal da Noite
% Aud. Share
SIC 9,7 20,4
RTP2 1,2 A Odisseia do Lobo
TVCine Action, 14h05
A derradeira obra de Stanley
Festa é Festa VI TVI 9,1 18,2 SIC 15,1 RTP2, 16h02
Vincent Steiger Ælma a dura e
TVI
O Preço Certo RTP1 8,0 21,4
Kubrick (1928-1999), a partir de Jornal Nacional TVI 8,0 16,8 16,3 épica viagem de Slava, um jovem

uma novela de Arthur Schnitzler.
O Ælme tornou-se um projecto
pessoal dos então casados Tom
Cruise e Nicole Kidman.
Encarnam um casal que entra em
crise, quando a mulher revela
ter-se sentido atraída por outro
homem. O marido decide
experienciar a sensualidade e o
risco do desejo para além das
fronteiras da Ædelidade. A mestria
de Kubrick é posta em cena num
baile de máscaras orgíaco, clímax
operático para as deambulações
deste homem pelos seus próprios
labirintos.
Sibéria
AXN, 15h39
Mais uma colaboração entre o
realizador Abel Ferrara e o actor
Willem Dafoe, num Ælme
dramático escrito por Ferrara e
Christ Zois. Clint, um
norte-americano solitário,
muda-se para a Sibéria em busca
de paz e tranquilidade. Um dia,
mete-se num trenó e avança sem
destino pela neve. Ao encontrar
uma gruta, deixa-se Æcar. Ali
acaba por fazer uma análise do
passado, mergulhando numa
intensa jornada interior.
Sombra
RTP1, 22h51
Com realização e argumento de
Bruno Gascon, Sombra inspira-se
em casos reais — em especial, o de
Filomena Teixeira e do seu Ælho,
Rui Pedro, desaparecido em 1998
— para retratar a superação e o
amor incondicional de uma mãe
que recusa fazer o luto por uma
criança que acredita ainda estar
viva, quando todos a pressionam a
desistir. Os actores Ana Moreira,
Miguel Borges, Vítor Norte e
Tomás Alves têm os papéis
principais.
INFORMAÇÃO
Linha da Frente
RTP1, 21h01
Como era D. Dinis? O que comia?
De que morreu? São questões
suscitadas pelo primeiro estudo
forense de um rei português que
levou uma vasta equipa técnica a
abrir o túmulo do monarca-poeta
— sepultado com a sua espada no
Mosteiro de Odivelas —, a
estudá-lo por dentro e por fora, e
ainda a restaurá-lo. A reportagem
O Milagre de D. Dinis documenta o
processo. É assinada pelo
jornalista Armando Seixas
Ferreira, com imagem de Nuno
Tavares e edição de Luís Vilar.
RTP1
6.09 Manchetes 3 6.30 Bom Dia
Portugal 10.00 Praça da Alegria 12.59
Jornal da Tarde 14.24 Os Nossos Dias
15.06 A Nossa Tarde 17.30 Portugal
em Directo 19.08 O Preço Certo
19.59 Telejornal
21.01 Linha da Frente
21.43 Porquinho Mealheiro
22.51 Sombra
bra
1.12 Grande Entrevista: Pedro Santana
Lopes
2.07 A Nossa Tarde
SIC
6.00 Manhã SIC Notícias 8.15 Alô
Portugal 10.05 Casa Feliz 12.59
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta
16.05 Júlia 18.10 Flor do Caribe 18.40
Cheias de Charme
19.15 Jornal da Noite
19.55 Futebol:
bol:
Sporting x
Juventus
(Liga
Europa)
22.05 Sangue Oculto
22.50 Flor sem Tempo
0.30 Um Lugar ao Sol 1.05 Pantanal
1.40 Resumo Liga Europa/Liga
Conferência 2.00 Passadeira
Vermelha 3.30 Investigação Criminal:
Los Angeles
Cabo
Sangue Oculto SIC 7,4 15,5
FONTE: CAEM
RTP2
6.01 A Fé dos Homens 6.32 Repórter
África 7.00 Espaço Zig Zag 10.41 Joga
Quem Quizzer 11.03 Engenharia
Antiga 11.56 Ridley Road 12.57
Biosfera 13.27 Começar de Novo
14.00 Sociedade Civil 15.02 A Fé dos
Homens 15.36 Fabrico Internacional
16.02 A Odisseia do Lobo 16.58
Espaço Zig Zag 20.32 Folha de Sala
20.36 O Arco doTriunfo: Paixão
de Uma
Nação
21.30 Jornal 2 22.01 Os Crimes de
Sommerdahl 22.43 Folha de Sala
22.52 12 de Outubro de 1972: O Dia em
Que Perdemos o Medo 23.50
Cinemax 1.06 Folha de Sala 1.12
Sociedade Civil 2.14 O Que
Escondiam os Seus Olhos 3.38
Nheengatu: A Língua da Amazónia
5.30 Biosfera
TVI
6.15 Diário da Manhã 6.59 Esta Manhã
10.05 Dois às 10 12.58 TVI Jornal 14.55
A Única Mulher 16.05 Goucha 18.10 O
Triângulo 19.05 Vai ou Racha
19.57 Jornal Nacional
21.55 Festa É Festa
22.30 Queridos Papás
23.25 Para Sempre
0.00 O Triângulo
2.10 Mundo ao Contrário
41,9
TVCINE TOP
17.20 Bullet Train: Comboio Bala 19.30
Mães Paralelas 21.30 Os Hyperions
23.00 Sem Hora Marcada 0.35 The
East: Em Nome da Paz
FOX MOVIES
18.17 Bala Certeira 19.48 Stratton:
Forças Especiais 21.15 O Legado de
Bourne 23.23 Velocidade Furiosa -
Ligação Tóquio 1.02 Procurado
HOLLYWOOD
18.05 Assalto a Londres 19.45 MIB -
Homens de Negro 3 21.30 Transgressão
23.05 Rixa no Bloco 99 1.25 Até ao
Último Combate 3: Sem Rendição
AXN
17.20 Free Fire 18.54 S.W.A.T.: Força de
Intervenção 20.27 Mentes Criminosas
22.00 Investigação Criminal 22.52
Accused 23.45 Os Perdedores 1.22
Investigação Criminal
FOX
17.17 C.S.I. Miami 18.50 Investigação
Criminal: Los Angeles 20.31 Hawai
Força Especial 22.15 Investigação
Criminal: Hawai’i 23.05 Investigação
Criminal: Los Angeles 23.50 300: O
Início de Um Império
DISNEY CHANNEL
17.40 Miraculous - As Aventuras de
Ladybug 18.30 Hamster & Gretel 18.55
Os Vilões de Valley View 19.15 Ultra
Violeta & Escorpião Negro 19.40 Marvel
Moon Girl e o Dinossauro Diabólico
20.00 Os Green na Cidade Grande
DISCOVERY
17.00 Regresso às Origens 19.00
Aventura à Flor da Pele XL 21.00 Irmãos
Diesel 23.00 Texas Metal 1.00 Irmãos
Diesel
HISTÓRIA
17.13 Encontros com Ovni 19.29
Mistérios na Selva 22.15 Forjado no Fogo
0.43 Mistérios na Selva
ODISSEIA
17.39 Inteligência na Quinta 18.32
A História dos Felinos 19.25 Treino de
Cães 20.15 Cães Muito Mal-Educados
22.30 Grandes Rios da Terra 23.21
Planeta Verde
lobo solitário que, depois de ser
rejeitado pela sua matilha,
atravessa grande parte da Europa
(mais de 3600 quilómetros por 11
países, da Çoresta romena até à
costa atlântica) em busca de um
lugar onde possa estabelecer-se e
constituir a sua própria família. Do
documentário transparece a sua
extraordinária capacidade de
adaptação, mesmo quando se
cruza com o ser humano.
Nike’s Big Bet
TVCine Edition, 17h20
Em 2019, quando se encontrava
nos Mundiais de atletismo, em
Doha, o treinador Alberto Salazar
foi suspenso, na sequência de uma
investigação da Agência
Norte-americana Antidopagem,
por instigar os seus atletas ao
consumo de substâncias
dopantes, em parceria com o
médico Jeèrey Brown. Salazar era
o mentor do projecto Oregon, um
grupo de treino de alto nível
Ænanciado pela Nike, entretanto,
interrompido pela marca. O caso é
descrito neste documentário
escrito e dirigido por Paul Kemp.
Calls from the Inside
ID, 22h
Começa a segunda temporada da
série que analisa casos de
homicídio à luz do conteúdo de
telefonemas protagonizados por
reclusos. Mesmo sabendo que as
chamadas são gravadas, vão
deixando pistas, revelações e até
ameaças que, não raras vezes,
permitem solucionar crimes e
identiÆcar os responsáveis.
12 de Outubro de 1972: O Dia
em Que Perdemos o Medo
RTP2, 22h52
Diana Andringa assina este
trabalho sobre o impacto do
assassinato de José Ribeiro Santos,
que marcaria o ímpeto
revolucionário estudantil
anti-regime. Foi baleado por um
agente da PIDE, quando
participava numa reunião de
universitários contra a repressão.
DESPORTO
Futebol: Sporting x Juventus
SIC, 19h55
Directo. Depois de terem sido
derrotados pela Juventus (1-0) na
primeira mão dos quartos-de-Ænal
da Liga Europa, em Turim, os
“leões” recebem o clube italiano
na segunda ronda da eliminatória.
O apito está nas mãos do árbitro
francês François Letexier.
 Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 35

Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Sexta-feira, 21 Sábado, 22 Domingo, 23

QUE HISTÓRIAS
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1,2m 18 º 7º
9º

NOS CONTAS,
Viseu
Guarda
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Aveiro 24 º
19º 6º 25º Mauna Loa, Havai Portugal
9º 7º Partes por milhão Porto Coimbra
(ppm) na atmosfera
Coimbra Valores por semana Lisboa Évora
21º

LISBOA? *
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Castelo Branco Faro
Semana de 2 Abr. 422,54
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9º Há dez anos 397,93
20º Excelente Razoável
9º
Nível de segurança 350 Mau Não é saudável
Nível pré-industrial 280 Nada saudável Perigoso
Santarém
Portalegre
26 º
9º 25º
10º SOL LUA
Lisboa 20 Abr. 05h12
23 º 27 Abr. 22h20
11º Évora
Setúbal 26º
10º 5 Mai. 18h34
22º Nascente Poente Nascente Poente
10º
06h54 20h18 12 Mai. 15h28 07h03 20h55
O número 5 do jornal Artéria chega
com o PÚBLICO de 22 de Abril

Sines Beja EUROPA

27º Helsínquia
Jacinto Silva, encadernador de livros: “Há muitos
22º 9º Estocolmo
16º 12º Oslo
Talín clientes que me pedem para não desistir”
1,2m Riga
Copenhaga SOL, medicina dentária gratuita para jovens
Vílnius e crianças, na Alameda
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 22º
13º Bruxelas Memórias de um comércio local.
21º Faro Praga
12º Paris Quem não se lembra das lojas Custódio’s?
Viena Budapeste
17º Genebra
0,8m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Neste sábado, grátis com o
Graciosa 17º
16º Atenas
PÚBLICO no distrito de Lisboa.
13º 3,0m
São Jorge 16º Leia também em arteria.publico.pt
p p
17º 11º
3,0m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
17º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
17º 13º Amesterdão 8 11 Roma 8 19
2,8m Atenas 11 20 Viena 7 16
Ponta Delgada
Berlim 7 14 Bissau 23 36
Sta Maria Bruxelas 5 8 Buenos Aires 13 19
Madeira Bucareste 9 18 Cairo 15 27
Porto Santo Budapeste 8 19 Caracas 19 31
Copenhaga 4 16 Cid. do Cabo 11 17
Madeira
20º 21º 21º 19º Dublin 6 12 Cid. do México 13 29
16º 16º
1m 1,5m Estocolmo 5 16 Díli 21 30
Frankfurt 7 12 Hong Kong 24 29
Funchal Genebra 4 10 Jerusalém 10 20
Istambul 11 17 Los Angeles 10 22
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 8 12 Luanda 25 30
Londres 6 15 Nova Deli 21 35
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 11 27 Nova Iorque 13 20
09h54 0,4 09h27 0,6 09h23 0,4 Milão 11 14 Pequim 12 21 * Tem uma história para nos contar? Quer participar no projecto?
16h06 3,6 15h40 3,6 15h46 3,5 Moscovo 4 15 Praia 21 28 Envie-nos um e-mail para arteria@publico.pt
Oslo 4 19 Rio de Janeiro 19 26
22h11 0,4 21h43 0,6 21h39 0,4 Paris 3 12 Riga 4 15 Uma iniciativa de informação comunitária
Praga 6 13 Singapura 25 31 lançada pelo PÚBLICO com o apoio da
04h25* 3,6 04h00* 3,6 04h07* 3,5
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
36 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023
Desporto Segunda mão dos quartos-de-Ɗnal da Liga dos Campeões
A crise
foi atrás
do Benfica
para Milão
“Encarnados” fora da Liga dos Campeões
após empate com o Inter de Milão.
Musa salvou equipa de Roger Schmidt
de somar quatro derrotas consecutivas
Crónica de jogo
Marco Vaza
O BenÆca chegou a fazer os seus adep-
tos acreditarem que esta podia ser
uma época especial na Europa, mas
aquilo que mostrou ontem foi o espe-
lho do que tem vivido nas últimas
duas semanas: crise. A precisar de
recuperar dois golos de desvantagem,
os “encarnados” marcaram três, mas
a verdade é que também sofreram
três no empate (3-3) com o Inter de
Milão no Giuseppe Meazza. Os “encar-
nados” podem ter salvo, de alguma
forma, a sua honra nesta segunda
mão, mas não foi o suÆciente para
chegar às meias-Ænais da Liga dos
Campeões.
Havia urgência, mas o BenÆca
entrou sem urgência. Havia o impe-
rativo de marcar um golo, mas o Ben-
Æca não se conseguia aproximar da
baliza de Onana. Tal como acontece-
ra há uma semana na Luz, o Inter era
uma equipa confortável na sua pele,
com a segurança acrescida de estar
em vantagem e tacticamente mais do
que equipada para contrariar um
BenÆca que depende muito de tran-
sições e pouco equipada para o ata-
que planeado. E sem ganhar duelos
para ter superioridade no ataque,
tudo o que Roger Schmidt apresen-
tava no Giuseppe Meazza era inútil.
Mesmo que no plano estratégico as
coisas não funcionassem, poderia
sempre haver individualidades para
resolver. Mas nem isso o BenÆca
tinha. E o Inter, cuja única responsa-
bilidade no jogo era defender e deixar
passar o tempo, agradeceu aquilo que
os “encarnados” lhe ofereceram —
que não era bem o domínio do jogo,
mas um controlo perfeito da elimina-
tória.
O Inter tinha marcado na Luz ape-
nas na segunda parte, mas levou bem
menos que isso a marcar na sua casa.
Tudo começou num duelo que Dzeko
ganhou a Otamendi aos 14’. Lautaro
Martínez voltou a ganhar no duelo
com o central argentino do BenÆca e
meteu para Barella. O italiano chegou
primeiro que Grimaldo, devolveu a
Lautaro e recebeu à entrada da área.
Tirou Chiquinho da jogada e, de pé
esquerdo, atirou a contar. No primei-
ro remate que fez, o Inter marcou. E
não pareceu estranho.
O choque do golo sofrido não deu
maior urgência ao BenÆca, que con-
tinuou sem criar o que quer que fosse.
A excepção aconteceu aos 31’, num
livre directo de Grimaldo que obrigou
Onana a sujar os calções. E aos 38’,
num raro ataque com sentido dos
“encarnados”, Rafa criou superiori-
dade a partir da direita, fez o cruza-
mento e Aursnes, de cabeça, fez o
O lance do segundo golo do Benfica, depois de António Silva ter cabeceado a bola que só parou dentro da baliz
Inter de Milão 3
Barella 14’,
Lautaro Martínez 66’,
J. Correa 78’
Benfica 3
Aursnes 38’,
António Silva 86’,
Musa 90’+4’
Jogo no Estádio Giuseppe Meazza, em
Milão.
Assistência 75.380 espectadores
Inter de Milão Onana, Darmian, Acerbi
e Bastoni; Dumfries (D’Ambrosio, 80’),
Barella (J. Correa, 76’), Brozovic,
Mkhitaryan e Dimarco (Gosens, 80’);
Lautaro Martínez (Lukaku, 76’) e Dzeko
(Çalhanoʼnlu, 76’). Treinador Simone
Inzaghi.
Benfica Vlachodimos, Gilberto (Neres,
46’ a90’+4’), António Silva, Otamendi
e Grimaldo; Florentino e Chiquinho
(João Neves, 81); João Mário
(Schjelderup, 89’), Rafa a49’ (Musa,
81’ a81’) e Aursnes; Gonçalo Ramos
(Gonçalo Guedes, 75’). Treinador
Roger Schmidt.
Árbitro Carlos del Cerro Grande
(Espanha)
VAR Juan Martínez Munuera (Espanha)
empate. Foi inesperado, mas era o
que o BenÆca precisava para voltar a
erguer os braços.
O golo do empate provocou algo
incaracterístico em Schmidt: depois
do intervalo, o alemão arriscou, tiran-
do um desastrado Gilberto (Bah faz
muita falta, de facto) para lançar
Positivo/Negativo
Dimarco
Bela exibição do
lateral-esquerdo do Inter,
sobretudo no capítulo
ofensivo. Fez duas
assistências para golo e foi
sempre um problema para
o flanco direito do Benfica.
Lautaro
Com Dzeko a fazer de pivot,
cabe ao argentino ser o
avançado móvel na linha
ofensiva. Marcou um golo e
participou noutro.
Otamendi
Mais um jogo desastrado
do central argentino (têm
sido vários nos últimos
tempos). Perdeu muitos
duelos e tem culpa directa
em dois dos três golos.
Quartos-de-final
Segunda mão
Chelsea-Real Madrid 0-2
Nápoles-AC Milan 1-1
Inter Milão-Benfica 3-3
Bayern Munique-Man. City 1-1
Reacção
Já tinha acontecido em
Lisboa, as decisões dos
árbitros também
influenciaram esta
eliminatória. Houve um
penálti por marcar, tal
como na semana passada.
Tivemos algum azar com
isso. Fizemos uma grande
Champions, 14 jogos só
com uma derrota,
infelizmente num jogo
muito importante. Mas o
futebol é assim. Gostei do
que vi aqui
Roger Schmidt Benfica
David Neres, um daqueles que tem
nos pés o poder de resolver. E o Ben-
Æca, como ainda não se tinha visto
nesta eliminatória, andou por cima,
com mais bola, com mais intenção
atacante, agora sim, com urgência.
Mas o Inter, repetimos, nunca per-
deu o controlo. Aguentou o embate,

ROBERTO BREGANI/EPA
za do Inter de Milão
deixou o BenÆca perder a moral e,
aos 65’, fez o 2-1. A jogada começou
na direita, onde Aursnes estava como
lateral adaptado. Mkhitaryan combi-
nou bem com Dimarco e este serviu
na perfeição Lautaro para um golo
fácil. Este golo como que garantia ao
Inter um encontro nas meias-Ænais
com o seu rival AC Milan, para uma
dose dupla do “derby della Madonni-
na” em contexto Champions.
O Inter, superior ao BenÆca a todos
os níveis e no conjunto dos dois jogos,
ainda marcou outra vez, aos 78’, num
excelente remate cruzado de Correa,
após mais um passe de Dimarco,
tirando Otamendi do caminho. Já era
demasiado para os “encarnados” ain-
da acreditarem num milagre que
nunca esteve perto de acontecer.
Neres ainda acertou no poste aos
83’, após um erro de Brozovic na saí-
da para o ataque, e António Silva, aos
86’, ainda fez o 3-2, num cabeceamen-
to após livre de Grimaldo. Já no tempo
de compensação, Musa, um homem
com poucos minutos, mas sempre
impactante, empatou. O jogo termi-
nou pouco depois.
E assim se despediu o BenÆca da
Liga dos Campeões, onde amealhou
muitos milhões e fez grandes exibi-
ções frente a grandes equipas. Mas a
última imagem que deixou foi de uma
equipa em crise. E os golos que mar-
cou não disfarçam essa condição.
Norueguês ainda falhou um penálti
Haaland faz história
e ajuda Manchester City a
eliminar Bayern Munique
João Cancelo foi titular
na equipa alemã enquanto
Rúben Dias e Bernardo
Silva também o foram
na formação inglesa
Um empate a um golo em Munique
foi mais do que suÆciente para o Man-
chester City eliminar o Bayern nos
quartos-de-Ænal da Liga dos Cam-
peões. Uma eliminação que já estava
alinhavada, depois do triunfo dos
ingleses na partida da primeira mão
por 3-0. Ontem, tratou-se apenas de
conÆrmar o apuramento dos “citi-
zens” para as meias-Ænais, onde terá
o Real Madrid à sua espera. Haaland
falhou um penálti e marcou um golo
atingindo os 35 remates certeiros na
Champions. Um recorde... de rapi-
dez.
João Cancelo foi titular no Bayern
Munique, tal como Rúben Dias e Ber-
nardo Silva no Manchester City, e viu
o clube alemão Æcar perto de inaugu-
rar o marcador aos 17’, quando Sané,
lançado por Musiala e pressionado
por Stones, rematou ao lado quando
tinha só Ederson pela frente.
Sané voltou a incomodar o brasilei-
ro (21’), num remate que obrigou o
guarda-redes do City a defender para
canto. Até que Gundogan protagoni-
zou a reacção inglesa. À entrada da
área, rematou em direcção à baliza
bávara mas a bola bateu no braço
esquerdo de Upamecano. Penálti
para o City que Haaland… desperdi-
çou (37’). O avançado norueguês
rematou ao centro da baliza mas fez
a bola passar por cima da barra.
O falhanço do goleador nórdico
serviu de estímulo para o Bayern que
chegou ao intervalo a dominar o seu
Erling Haaland continua a ser uma máquina de marcar golos
adversário e a criar perigo num rema-
te de Coman (42’) e, depois, num
lance confuso na área do City em que
Rúben Dias evitou que bola entrasse
na baliza dos ingleses, já na compen-
sação.
Mas pouco depois do intervalo sur-
giu o golo dos “citizens”. Na sequência
de um contra-ataque, que começou
praticamente em cima da linha de
baliza à guarda de Ederson, a bola foi
bombeada para a frente e acabou nos
pés de Haaland, que aproveitou uma
escorregadela de Upamecano para,
de pé esquerdo, na área, fuzilar a bali-
za adversário.
Foi o 35.º golo de Haaland na Liga
dos Campeões (48 em todas as com-
petições nesta época) o que o torna
no jogador que mais rapidamente
atingiu essa marca (precisou de ape-
nas 27 jogos — o anterior melhor regis-
to estava na posse de Van Nistelrooy,
que chegou a esse número de golos
após 42 jogos).
Já sem ilusões quanto a um even-
tual apuramento e com o Manchester
City a controlar as operações, o
Bayern marcou o seu golo de honra
no jogo e na eliminatória. Kimmich,
de penálti (83’), não falhou o castigo
máximo a punir um braço na bola de
Akanji após cruzamento de Mané.
PÚBLICO
35
Erling Haaland é o mais rápido
a atingir os 35 golos na Liga
dos Campeões. O norueguês
só precisou de 27 jogos
CHRISTIAN BRUNA/EPA
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 37
O que mudou para o
Liverpool parar de perder
Diogo Cardoso Oliveira
Foi preciso “inventar”
qualquer coisa para tornar
os “reds” menos previsíveis.
Agora, Alexander-Arnold
é médio e lateral
A sabedoria popular diz que a neces-
sidade aguça o engenho e Jürgen
Klopp tem tido necessidades bem
prementes. Uma delas é a de conse-
guir bons resultados, outra é a de ter
a equipa a jogar bom futebol — precei-
tos longe de reais na temporada
2022/23. Nessa medida, o treinador
alemão decidiu ser criativo, depois de
cinco jogos sem vencer.
Em rigor, podemos dizer que adap-
tou uma ideia já aplicada por outros
treinadores — e mais celebrizada por
Pep Guardiola —, mas talvez até tenha
um jogador tão ou mais competente
para a “invenção” do que o catalão.
O que está em causa é a passagem
de um dos laterais para a posição de
médio quando a equipa está em pro-
cesso ofensivo. Trent Alexander-Ar-
nold está a desempenhar essa função
e parece estar a funcionar.
Nos últimos dois jogos do Liver-
pool, frente a Arsenal e Leeds, o late-
ral inglês assumiu posições interiores
em momento ofensivo, posicionan-
do-se como um segundo médio-de-
fensivo, ao lado de Fabinho, num
sistema que, com bola, Æca qualquer
coisa como um 3x2x5, com Robertson
a fazer um trio de defesas do lado
oposto.
O objectivo passa por ter um joga-
dor a mais para construir pela zona
central e ligar o jogo para os criativos
sem ter de tirar um jogador do ataque
para essas funções. Traz ainda a van-
tagem de confundir as referências de
pressão do adversário no sentido em
que obriga o ala a defender mais por
dentro, já que no corredor não tem
nenhum lateral para cobrir.
Alexander-Arnold tem sido apon-
tado como um lateral único no prisma
ofensivo, mas sofrível no defensivo.
Concordemos ou não com a premis-
sa, o certo é que, recebendo a bola na
zona média, mais por dentro, tem
conseguido desequilibrar por espaços
em que tem mais impacto no jogo.
Frente ao Leeds, por exemplo,
Arnold andou mais do que nunca por
zonas interiores e tocou 153 vezes na
bola, mais do que qualquer outro
jogador.
Mas não é apenas Arnold que pare-
cer beneÆciar. Frente ao Arsenal, o
primeiro jogo com Arnold tão evi-
dentemente médio, Mo Salah tocou
mais vezes na bola e rematou mais
Desporto
A nuance táctica que deu outro
papel a Alexander-Arnold
do que em qualquer outro jogo da
época, algo que teve que ver com a
forma como Arnold “desbloqueava”
o egípcio.
Estando em zonas mais centrais,
Arnold provoca um dilema aos adver-
sários. Se não saem na pressão ao
inglês, ele usa a capacidade de passe
e de progressão com bola para dese-
quilibrar no último terço. Se saem ao
jogador, então vão deixar espaço para
a bola entrar no corredor direito, em
Salah, que teve mais acções de um
contra um do que tinha com Arnold
como lateral mais convencional.
“Abre-nos mais possibilidades (...)
podemos fazer o primeiro passe logo
para o Salah”, constatou Klopp, que
diz, citado pelo The Athletic, que o
plano é não fazer da procura de zonas
interiores uma mera espontaneidade
de Arnold, mas sim uma ideia mais
frequente. “Aconteceu mais frequen-
temente porque queríamos que acon-
tecesse mais frequentemente”.
Desvantagens? Existem, natural-
mente. Uma delas, ofensiva, é a de o
Liverpool usar menos a capacidade
de Arnold no cruzamento, predicado
que aplica com qualidade em posi-
ções mais lateralizadas.
Defensivamente, esta dinâmica
também pode criar problemas na
recuperação após a perda da bola, já
que Arnold tem de baixar rapidamen-
te para a posição de lateral-direito.
Quando não o faz, a “fava” calha a
Konaté, central do lado direito, que
Æca com uma porção de campo mui-
to grande para cobrir. Se abre dema-
siado, para compensar a ausência de
Arnold, abrirá espaço entre si e Van
Dijk. Se não abre, mantendo a posi-
ção, vai acabar por deixar embalar
alas e laterais adversários vindos do
corredor.
38 • Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

Desporto

Sporting terá de ser paciente para dar

à Juventus o mesmo destino do Arsenal
RUI MINDERICO/LUSA

Augusto Bernardino

Amorim destaca a força

da equipa em momentos
marcantes e confia nas
boas sensações de Turim
para discutir a eliminatória
Ciente da relação difícil da palavra
“impossível” com o dicionário do
futebol, como Æcou bem patente na
eliminatória anterior com o Arsenal,
o Sporting enfrenta esta noite (20h,
SIC) a Juventus, em partida da segun-
da mão dos quartos-de-Ænal da Liga
Europa, com a obrigação de anular
o golo de Gatti, pormenor que fez
toda a diferença no jogo de Turim.
Perante um adversário que precisa
tanto de se agarrar à “tábua de salva-
ção” europeia quanto os “leões”,
Rúben Amorim identiÆcou as prin-
cipais diÆculdades de mais uma noi-
te na UEFA e deixou o competente
aviso à tripulação. Sobretudo para
alguns aspectos críticos, sem, contu-
do, ignorar as próprias virtudes,
apesar da ineÆcácia que ausências
como a de Paulinho ou de uma alter-
nativa credível na “carreira de tiro”
ajudam a minar.
Uma das mensagens mais relevan-
tes entre as que foram sendo passa-
das nos últimos dias ao grupo diz
respeito à forma como o técnico
entende que a equipa tem lidado
com situações semelhantes nos pal-
cos internacionais, exceptuando os Rúben Amorim destacou a força do grupo de jogadores em momentos marcantes, lembrando que “já demonstrou ser capaz de superar-se”
jogos com o Marselha, ainda na fase
de grupos da Liga dos Campeões, de imprensa que antecedeu o duelo pressão nociva do próprio estádio, melhor marcador da Liga na época
decisivos para a despromoção à Liga com os italianos, opositor para quem algo que o técnico português vê 2020-21, e a excelência do jogo aéreo
Europa. transfere a maior dose de responsa- como potenciador de uma estratégia do capitão Sebastián Coates, a quem
Sem hesitar, o treinador do Spor- bilidade, numa última tentativa de em que os “bianconeri” parecem ser não hesita destacar para as áreas
ting destaca a força do grupo em nivelar a balança da pressão. peritos: “Há pormenores em que a contrárias sempre que os adversá-
momentos marcantes, como o que Juventus é muito experiente, como rios insistem em fechar os caminhos
se aproxima e que podem garantir a Juventus sem pressão controlar os jogos quando está em da baliza.
presença numa meia-Ænal, fase que Em Alvalade foram, entretanto, ava- vantagem. Por isso, vão estar em Esse será, também, um pouco o
o emblema de Alvalade não atinge Estamos preparados para liadas todas as cambiantes tácticas vantagem desde o primeiro minuto, papel da Juventus em Alvalade. Algo
desde a época 2011-12, quando for- vários cenários. Por aí, não do jogo da Juventus, tarefa comple- pelo que teremos de ser inteligentes ainda mais relevante porque o con-
mou, juntamente com uma “armada
espanhola”, a última meia-Ænal de
seremos surpreendidos. xa, atendendo à variabilidade dispo-
nível na qualidade de cada elemento,
e saber que dispomos de 90 minutos
para empatar a eliminatória”, assu-
junto italiano surge “sem a pressão
dos próprios adeptos”, alerta Rúben
perÆl ibérico. Temos é que ser eficazes o que ajuda a encriptar quaisquer miu o treinador do Sporting, incapaz Amorim, contrabalançando com as
Onze anos depois, o Sporting assu-
me os equívocos da temporada,
a defender e a atacar... intenções de Massimiliano Allegri,
cujo discurso vai dando algumas pis-
de resistir a uma alfinetada.
“E, se for como com o Arsenal, 120
“sensações do jogo de Turim”, em
que o Sporting se orgulha de ter cria-
sobretudo a nível doméstico, sem ou não teremos hipóteses. tas a Rúben Amorim numa espécie minutos e penáltis”, declarou, rela- do oportunidades de golo como a
abdicar de uma forte convicção: a de
que a grande diferença entre os
A Juventus tem plena de jogo do gato e do rato.
O técnico português detectou
tivizando a questão dos avançados
com o “faro” de Pedro Gonçalves,
que poderia ter dado o empate numa
finalização de Pedro Gonçalves em
desempenhos nas provas nacionais noção das dificuldades. padrões tanto no jogo quanto nas pleno período de compensação.
e internacionais reside, essencial- Eles são muito bons declarações de Allegri, esperando Sensações igualmente transmiti-
mente, nos resultados e não tanto
nas exibições.
em vantagem e temos um 3x5x2, sem descurar o 4x3x3,
apesar de o posicionamento de cer- Quartos-de-final
das pela forma como a equipa terá,
segundo Amorim, controlado os
“Esta equipa já demonstrou ser uma grande montanha tos jogadores alterar a dinâmica e de
Segunda mão
pontos fortes da Juventus. No fundo,
capaz de superar-se e ter muito à-
vontade, de ser atrevida e consisten-
para escalar o próprio Allegri poder fazer um
pequeno bluff. Mas um detalhe não
Roma-Feyenoord
Sevilha-Manchester United
20h, SPTV
20h, SPTV
tudo virtudes apenas traídas pela
ineficácia. “Temos sensações boas,
te. Somos fortes nestes jogos!”, asse- Rúben Amorim passou despercebido a Amorim, que Sporting-Juventus 20h, SIC mas foi dito aos jogadores que este
verou Rúben Amorim na conferência Treinador do Sporting antecipa uma Juventus liberta da St. Gilloise-Bayer Leverkusen 20h, SPTV jogo é completamente diferente.”

Djokovic quase
surpreendido
por Van Assche
na Bósnia
Pedro Keul
Sérvio precisou de mais
de duas horas e meia para
afastar o francês no Srpska
Open. Tsitsipas e Sinner
avançam em Barcelona
Luca van Assche estava há um ano no
389.º lugar do ranking, antes de che-
gar à final do Lisboa Belém Open e
encerrar a época com o seu primeiro
título no Challenger Tour, na Maia.
Em 2023, ganhou mais dois e juntou-
se a Carlos Alcaraz, Felix Auger-Alias-
sime, Jannik Sinner e Holger Rune na
lista de jogadores da nova geração a
conquistar três challengers antes dos
19 anos. Agora, é, aos 18 anos, o mais
jovem do top 100, no 87.º posto.
Esta semana, no Srpska Open, vol-
tou a somar mais uma vitória num
torneio ATP 250, a primeira sobre um
top 100 e logo diante do famoso Stan
Wawrinka. Como bónus, teve a opor-
tunidade de defrontar o número um
mundial e, frente a Novak Djokovic,
confirmou o que anunciara: ia tentar
vencer. As intenções do francês cau-
saram algum incómodo em Djokovic
que, só ao fim de mais de duas horas
e meia, pôde celebrar com os adep-
tos, maioritariamente sérvios.
“Durante um set e meio, ele estava
em todas as bolas até eu conseguir
encontrar o meu ritmo. Estou conten-
te com a forma como acabei o encon-
tro. Sei que posso jogar melhor, mas
uma vitória é uma vitória”, salientou
o sérvio, após vencer, por 6-7 (4/7),
6-3 e 6-2. Djokovic queixou-se das
condições muito lentas que encon-
trou em Banja Luka, onde é a princi-
pal atracção. Este torneio estava
anunciado para Belgrado, cidade
natal do tenista, mas devido a obras
que decorrem no Novak Djokovic
Tennis Centre mudou-se para a
segunda maior cidade da Bósnia.
O evento já entrou para a história
do ténis, pois foi aqui que Abdullah
Shelbayh (267.º) se tornou o primeiro
tenista da Jordânia a ganhar um
encontro no ATP Tour. O tenista nas-
cido em Amã há 19 anos e radicado na
Academia de Rafa Nadal derrotou o
também qualifier Elias Ymer, por 6-1,
7-5, para avançar para a segunda ron-
da do Srpska Open.
No Barcelona Open Banc Sabadell,
Stefanos Tsitsipas (5.º) derrotou
Pedro Cachin (69.º), por 6-4, 6-2 para
chegar aos oitavos-de-final do ATP
500, onde está igualmente Jannik
Sinner (8.º), que eliminou Diego
Schwartzman (48.º), por 6-2, 6-4.
Justiça desportiva investiga
suspeitas de aliciamento em
benefício do Benfica em 2016
Miguel Dantas
Comissão de Instrutores da
Liga abriu inquérito “de
natureza sigilosa”, pedindo
ao DCIAP a certidão de
acusação contra Boaventura
A Comissão de Instrutores da Liga
Portugal está a investigar suspeitas de
aliciamento de jogadores de Rio Ave
e Marítimo em benefício do BenÆca,
apurou o PÚBLICO através da consul-
ta do processo que tem como princi-
pal arguido o empresário César Boa-
ventura. O órgão de natureza discipli-
nar abriu um inquérito — de “natureza
sigilosa” — que versa sobre práticas
de aliciamento no futebol.
Foi devido a esta investigação que,
no passado dia 6 de Abril, a Comissão
de Instrutores pediu a emissão de
certidão da acusação deduzida no
processo contra o empresário com
laços de proximidade à antiga direc-
ção do BenÆca. O PÚBLICO questio-
nou a Comissão de Instrutores rela-
tivamente à tramitação e prazo para
o inquérito, mas os responsáveis pelo
órgão optaram por não prestar decla-
rações sobre o tema.
No pedido remetido para o Depar-
tamento Central de Investigação e
Acção Penal (DCIAP), os instrutores
adiantam que o processo se encontra
“pendente” e que “tem por objecto
a averiguação da factualidade que se
julga coincidir, pelo menos em par-
te”, com a presente nos autos. Espe-
ciÆcam ainda que o inquérito se
relaciona com “uma eventual tenta-
tiva de aliciamento de jogadores no
âmbito das competições proÆssio-
nais de futebol”.
Queriam evitar BenÄca
César Boaventura é o principal argui-
do do processo que tem por base
suspeitas de aliciamento de jogadores
de Rio Ave e Marítimo em benefício
do BenÆca. O empresário é acusado
de três crimes de corrupção activa e
um crime de corrupção activa na for-
ma tentada. Boaventura é ainda argui-
do num outro processo, que envolveu
a Operação Malapata, no qual são
investigados crimes de fraude Æscal e
branqueamento de capitais.
Os rio-avistas Marcelo, Cássio e
Lionn e ainda o maritimista Salin acu-
sam Boaventura de lhes ter proposto
avultadas somas de dinheiro para
facilitarem nos jogos contra o BenÆca.
As abordagens descritas pelos joga-
dores aconteceram nos dias que ante-
Liga Portugal pediu certidão da acusação contra César Boaventura
cederam as respectivas partidas fren-
te às “águias” e tinham, como pretex-
to inicial, alegados interesses de
clubes estrangeiros.
Os jogadores decidiram falar com
o treinador Pedro Martins, chegando-
-se a realizar uma reunião entre os
capitães e os responsáveis do clube.
Os jogadores em causa pediram ao
técnico para Æcarem de fora contra o
BenÆca, por medo de que um erro
involuntário pudesse levantar suspei-
tas. Aceitaram depois de Pedro Mar-
tins assegurar a conÆança neles.
Lionn acabaria por nem ir a jogo, res-
sentido de uma lesão.
De acordo com o relato de Lionn,
Boaventura terá dito que Luís Filipe
Vieira “queria pagar” 80 mil euros ao
jogador para “levar amarelo na pri-
meira parte, fazer um penálti e ser
expulso na segunda parte”. Já Marce-
lo diz que Boaventura lhe perguntou
se queria “fazer um penálti” em pre-
juízo da própria equipa. Cássio alega
que Boaventura lhe terá revelado que
Lionn e Marcelo também tinham sido
abordados, garantido que os colegas
de equipa tinham aceitado a oferta.
No caso de Salin, a alegada aborda-
gem para facilitar contra o BenÆca
ocorreu no Funchal. O guarda-redes
relata que se encontrou com Boaven-
tura a poucos dias do jogo frente às
O inquérito relaciona-se
com “uma eventual
tentativa de aliciamento
de jogadores no âmbito
das competições
profissionais de futebol”
Público • Quinta-feira, 20 de Abril de 2023 • 39
NELSON GARRIDO
“águias” de 8 de Maio de 2016, com o
empresário a mencionar uma propos-
ta de um clube estrangeiro com salá-
rio anual de 300 mil euros. Por um
lado, garante não ter dado credibili-
dade à proposta por não conhecer
César Boaventura, mas diz que o que
mais pesou foi a “forma inusitada”
como lhe foi apresentada.
“ConÄança” com Vieira
Apesar de a investigação concluir
que o alegado aliciamento foi para
benefício do BenÆca, o clube não foi
formalmente acusado neste proces-
so. As magistradas consideram não
terem sido recolhidos indícios suÆ#
cientes de que César Boaventura
“tenha sido incumbido de qualquer
tarefa” por parte de alguém na lide-
rança do BenÆca, arquivando o pro-
cesso neste ponto.
Durante a investigação, uma das
preocupações do inspector titular do
processo foi justamente a ligação de
Boaventura com a cúpula dirigente
da Luz. Foram analisadas mensagens
de texto e de correspondência elec-
trónica trocadas entre o intermediá-
rio e o ex-presidente Luís Filipe Vieira.
Em alguns casos, Boaventura inter-
mediou negociações de jogadores em
nome do BenÆca, pedindo para ser
apresentado em algumas conversas
como agente do clube.
Da análise à correspondência elec-
trónica, a Polícia Judiciária conside-
ra Æcar provada a “demonstração
inequívoca de uma relação de inte-
resse e conÆança pessoal” entre Viei-
ra e Boaventura, justamente pelo
peso que o empresário aparenta ter
no mercado de transferências
“encarnado”.
Desporto
Breves
Ciclismo
Pogacar vence Flèche
Wallonne e completa
“tríptico das Ardenas”
O ciclista esloveno Tadej
Pogacar (UAE Emirates)
completou ontem o “tríptico
das Ardenas”, ao impor-se nos
metros finais do Muro de Huy,
para vencer a Flèche
Wallonne, somando a terceira
vitória em clássicas esta
época. “Pogi” acelerou nos
metros finais dos 194,3 km
desde Herve para cortar a
meta em 4h27m53s, à frente
do dinamarquês Mattias
Skjelmose (Trek-Segafredo)
e do espanhol Mikel Landa
(Bahrain-Victorious), segundo
e terceiro com o mesmo
tempo. Aos 24 anos, o
bicampeão do Tour (2020
e 2021) completou o “tríptico
das Ardenas” no palmarés,
depois de ter conquistado a
Liège-Bastogne-Liège de 2021.
Futebol
Avançado Toni
Martínez renova
com FC Porto até 2027
O avançado espanhol Toni
Martínez renovou ontem
contrato com o FC Porto até
Junho de 2027, ao adicionar
mais dois anos ao anterior
vínculo. “Estou muito feliz
e a viver um dia realmente
especial, como se fosse o
meu primeiro cá. Estou mais
nervoso do que quando
cheguei, pois criei uma
ligação sentimental. Quero
continuar cá por muitos anos
e estou radiante”, disse, em
declarações publicadas no
sítio oficial dos “dragões” na
Internet. Com 11 golos e cinco
assistências somados em 41
jogos, Toni Martínez, de 25
anos, está a viver a sua melhor
campanha com o FC Porto,
ao qual chegou em 2020,
oriundo do Famalicão.
Quinta-feira, 20 de Abril de 2023

BARTOON LUÍS AFONSO

Mais mil milhões de despesa. E todos os partidos aplaudiram

PAULO PIMENTA
página da austeridade. Mas, pelo
O respeitinho menos, era um truque com algum
não é bonito sentido de responsabilidade. Já o
aumento actual não faz sentido
nenhum. Ora, no meio disto, houve
algum político — um só, para
amostra — que tenha considerado o
aumento uma insensatez, dado o
PRR —, e a inÇação se situar nos
5,5%, isso signiÆca que
assistiremos no próximo ano a
mais um brutal aumento
extraordinário de pensões. Nas
reformas mais baixas, ele poderá
atingir os 9% (!). Estamos a falar de
aumentos de 18% em dois anos,

A
João Miguel Tavares
pós meses horríveis
de desgaste político,
António Costa
apareceu a dar boas
notícias: os
pensionistas vão ter
um aumento intercalar de 3,57% a
partir de Julho. Numa altura em
que já ninguém esperava tal coisa,
o Governo anunciou que irá
respeitar a fórmula de cálculo
prevista na Lei de Bases da
Segurança Social de 2007.
Na prática, os pensionistas que
ganham abaixo de 5765 euros
brutos mensais (convém
dizê-lo: um valor astronómico
quando comparado com o salário
médio português) vão receber em
2023 um aumento que varia entre
os 8,4% (pensões mais baixas) e os
7,46% (pensões mais altas).
O trauma da troika e as
consequências que o corte de
pensões teve para a popularidade
de Passos Coelho transformaram o
pensionista português numa
espécie de vaca sagrada da
democracia. O pensionista vota
muito, zanga-se muito e não admite
que lhe vão ao bolso. E é por isso
que todos os partidos — da
esquerda à direita, incluindo PSD e
Iniciativa Liberal — parecem ter
achado o aumento uma excelente
ideia, limitando-se a criticar o
“truque” de 2022, quando o
Governo ofereceu meia pensão aos
reformados para poupar no
aumento de 2023.
Não há qualquer dúvida de que
em 2022 António Costa se armou
em cuco nas explicações
(correu-lhe mal) e que o tal truque
contradizia o paleio da viragem da
estado da pirâmide demográÆca e
o déÆce da Segurança Social? Que
eu visse, não houve nenhum.
Ninguém se manifestou.
Mais. António Costa aÆrmou que
a tal fórmula de cálculo, criada
num tempo em que não existia
inÇação, não sofrerá este ano
quaisquer alterações — apesar de
essas alterações estarem
prometidas há muito, dado o peso
desmesurado que a fórmula coloca
nas contas públicas, em função da
actual pressão inÇacionista.
Em Setembro do ano passado,
António Costa recordou, e bem,
que em 16 anos a fórmula
Estamos a falar só foi aplicada quatro vezes. Mais
de aumentos uma vez, ganharam os
pensionistas, que viram os
de 18% em dois rendimentos aumentar 14% nesse
anos, num sistema período, muito acima da inÇação
(inexistente) e do crescimento
que toda a gente (quase inexistente).
sabe estar à beira Só que, entretanto, o mundo
mudou. Se as previsões do Banco
da falência de Portugal se conÆrmarem e o
crescimento em 2023 for de 2% — à
boleia dos milhares de milhões do
num sistema que toda a gente sabe
estar à beira da falência. Sim, há
inÇação. Mas faz algum sentido o
valor das pensões aumentar muito
mais do que os salários de quem
está a trabalhar?
O ministro das Finanças aÆrmou
que o colossal aumento de 2023 vai
custar mil milhões de euros ao
Estado. É mais uma despesa
permanente, que Æca até ao Æm
dos dias. Com os aumentos de
2024, passará para dois mil
milhões. O Governo diz que tal só é
possível devido aos baixos
números de desemprego. Mas o
desemprego está a aumentar. O
que acontecerá quando chegar a
próxima crise? António Costa tinha
inÆnitos defeitos, menos um —
sabia da importância das contas
certas. Com a necessidade
desesperada de o PS sobreviver às
europeias de 2024, temo que até
isso ele esteja a perder.
Jornalista
jmtavares@outlook.com

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