Edição Porto • Ano XXXI • n.º 10.

979 • 1,70€ • Sábado, 16 de Maio de 2020 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

SEGUNDA, 18 DE MAIOO
NO DIA INTERNACIONALL
DOS MUSEUS Reserve já
o jornal
A ARTE GANHA no seu
quiosque
VIDA E SAI À RUA
Receba de oferta com o jornal PÚBLICO umaa
de mais de 20 máscaras sociais assinadas
por alguns dos mais importantes museus, monumen-
tos e fundações nacionais. (Ver págs. 50/51)1)
Ao proteger-se, está a proteger a culturaa OFERTA VÁLIDA PARA EDIÇÃO IMPRESSA

Novo Banco: créditos com perdas

estiveram três anos “esquecidos”
Auditores, reguladores, Governo e gestão ignoraram, até à entrada do Lone Star, os créditos problemáticos
que obrigaram a injectar dinheiro do Estado desde 2017. Ajudas chegam a 2,7 mil milhões Economia, 34/35

Congresso do PS
adiado para
depois das
presidenciais
Carlos César diz que a
reunião em Portimão é para
discutir o país e não
“personalidades” p26
Uma bússola
que há 20 anos Lar do Comércio
nos guia por motiva queixas
ao Ministério
bons caminhos Público
Câmara de Matosinhos
reencaminha para a Justiça
queixas sobre instituição onde
morreram 22 pessoas p31

HOJE Livro Batman

— O Último
Cavaleiro da Terra
Batman está de regresso
para a sua
derradeira
Economia portuguesa cai mais do aventura,
assinada por
que o previsto pela Comissão Europeia Scott Snyder
e Greg Capullo

Contracção do PIB no primeiro trimestre foi de 3,9% • Praias abrem a 6 de Junho Por +
• Faltas às aulas regressam na segunda-feira • Os preparativos para abrir escolas 24,90€
e restaurantes • Brasil perde segundo ministro da Saúde Destaque, 2 a 19 e Editorial ISNN-0872-1556
2 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
País reabre mais
portas mas sem
brincar na areia
A segunda fase de desconÄnamento arranca na segunda-feira,
com mais conÄança e Åexibilidade do que o expectável no início
da reabertura da economia. O dever cívico de alerta mantém-se,
mas há ganhos na frente sanitária e o saldo é positivo
Liliana Borges
M
ais optimista, mais conÆan-
te e até mais Çexível. Foi
assim que António Costa
conÆrmou o arranque da
segunda fase de desconÆ#
namento a partir da próxi-
ma semana. E se quando iniciou o
desconÆnamento o primeiro-ministro
avisou que não hesitaria em recuar
caso a evolução da pandemia o justi-
Æcasse , desta vez o passo de António
Costa é Ærme. A conÆança assenta na
“tendência de estabilidade” da evo-
lução da pandemia, explicou ontem
o chefe de Governo. Depois da habi-
tual reunião do Conselho de Minis-
tros, Costa anunciou que “não há
razão para adiar ou retroceder” quan-
to às “medidas previstas para entrar
em vigor”. “Pelo contrário”.
Apesar de os ministros terem deci-
dido renovar a situação de calamida-
de pelo menos até ao Ænal do mês, a
evolução da pandemia em Portugal
parece continuar estabilizada. A que-
da do número de casos registados, a
par do aumento de testes (Portugal é
o 4.º país com mais testes por milhão
de habitantes na Europa) deram ao
Governo a segurança para avançar
para a segunda fase de desconÆna-
mento com um optimismo superior
ao registado no início do relançamen-
to da economia.
“O aumento signiÆcativo de casos
registado na última semana prende-se
com um surto bem localizado, e não
com um surto disseminado na comu-
nidade. Há 15 dias tivemos um foco
semelhante num hostel em Lisboa,
desta vez foi numa unidade empresa-
rial na Azambuja”, relativizou Antó-
nio Costa, afastando preocupações
quanto ao pico de casos registados na
região de Lisboa e Vale do Tejo.
Além disso, o país aumentou a sua
capacidade de testagem, sem que isso
tenha signiÆcado um aumento da
conÆrmação de infectados. No início
do mês, e ainda antes da primeira fase
de desconÆnamento, o país registava
5,6% de casos positivos (no conjunto
de pessoas testadas). Ontem, apesar
do aumento do número de testes, o
número de casos conÆrmados era de
4,3%, o que demonstra existir uma
queda do número de infectados,
interpretou o chefe do Governo.
O primeiro-ministro destacou tam-
bém a descida do número de doentes
internados na última quinzena caiu
de 968 para 673 , do número de
doentes em cuidados intensivos e do
número de mortes diárias. A estas
descidas, soma-se o aumento do
número de doentes que recuperam
em casa (de 86% para 97,2%), o que
alivia a resposta exigida ao Serviço
Nacional de Saúde e permite avançar
“sem medo” na estratégia de descon-
Ænamento, justiÆcou Costa.
Ainda que mantenha a “necessi-
dade de se manter o escrupuloso
cumprimento, pela população por-
tuguesa, das medidas de distancia-
mento físico indispensáveis” ao com-
bate ao vírus, a partir da próxima
semana haverá mais portas abertas
e menos restrições, incluindo a rea-
bertura das creches, a autorização
de visitas a lares de idosos (um visi-
tante por utente, mediante marcação
prévia e no máximo durante 90
minutos), o regresso às aulas presen-
ciais para alunos do 11.º e 12.º ano (a
que Costa chamou treino para o pró-
ximo ano lectivo) e a reabertura de
restaurantes e cafés.
Uma das novidades é a possibilida-
de de as lojas com mais de 400m2
também poderem abrir já a partir de
segunda-feira, na condição de limita-
rem a área total de circulação a este
Praias reabrem a 6 de Junho com novas regras e
U
ma sinalética tipo
semáforo vai ser mesmo ser
usada nas praias neste
Verão. Não serão os
tradicionais semáforos que
vemos nas cidades, mas uma
sinalética que pode passar por
bandeiras ou cartazes. A
Agência Portuguesa do
Ambiente actualizará também a
aplicação para
telemóvel Info Praia, para que
os cidadãos possam ver, antes
de se deslocarem aos areais, se a
praia que pretendem frequentar
está no vermelho (ocupação
plena), amarela (elevada, dois
terços de ocupação) ou verde
(baixa, um terço de ocupação).
As praias serão abertas a 6 de
Junho, mas com muitas regras
novas. O anúncio foi feito ontem
por António Costa, no final do
Conselho de Ministros, que
analisou o primeiro período
de desconfinamento e
anunciou as novas medidas para
o segundo.
No que respeita às praias, não
haverá proibição absoluta de as
pessoas se deslocarem a uma
praia assinalada a vermelho (a
aposta vai para a pedagogia),
mas serão aconselhadas pelos
concessionários,
nadadores-salvadores ou polícia
marítima a não o fazerem. “Cada
um se vigiará a si próprio. Temos
de ser fiscais de nós próprios.
Não é possível estar na praia
com um polícia para cada um de
nós”, afirmou Costa. Alertou,
porém, que uma praia pode ser
“simplesmente interditada”, por
motivos de saúde pública, se
existir excesso de ocupação.
Nas praias não concessionadas,
cabe às autarquias colocar a
sinalética física tipo semáforo
nestes locais. Costa revelou
também que podem ser
colocadas câmaras de vigilância
nessas praias e haver até
contagem electrónica do

e ameaça de interdição em caso de abusos
número de telemóveis presentes,
para se saber quantas pessoas
estão ali. O distanciamento
aconselhado vai ser de 1,5 metros
entre cada pessoa, família, ou
grupo, não se aplicando a regra
aos grupos que se deslocarem
juntos à praia. Já a distância
entre chapéus de sol, toldos ou
colmos terá de ser de três metros.
O aluguer destes equipamentos
será feito, em regra, por turnos.
Cada pessoa ou grupo só pode
alugar de manhã (até às 13h30),
ou à tarde (a partir das 14h). Só
serão permitidos cinco utentes
por toldo, colmo, ou chapéu.
Serão ainda interditas
actividades desportivas com
duas ou mais pessoas (excepto
actividades náuticas, aulas de
surf e desportos similares).
Devem ser também criados
corredores de circulação de
sentido único, paralelos ou
perpendiculares à linha de costa.
Os espaços de utilização
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 3
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
Não há motivo Situação em Portugal
para recuar ou
adiar a
Em 15 Maio às 13h00 Casos
confirmados 28.583 Novos
casos 264
reabertura Novos casos diários
gradual da Anúncio do plano
economia, diz de desconfinamento
1000
Costa. “Pelo 1190 3328 30 de Abril
contrário” 500 *
0
Mortes Recuperados
2 Mar. Abr. Mai. 15
espaço, mediante autorização das *Surtos da Azambuja e rastreios na região de Lisboa e Vale do Tejo
autarquias.
Outro dos sinais de conÆança dados
Risco de transmissibilidade
pelo Governo foi para a reabertura dos Número médio de pessoas que um infectado pode contagiar
restaurantes e cafés, que nesta fase
estará condicionada a uma limitação Escolas fecham Anúncio do fim do
Anúncio do fecho
de 50% da lotação máxima. Reconhe- estado de emergência
de escolas Anúncio do estado de emergência
cendo as consequências económicas R (t) Estado de
Estado de emergência calamidade
dessa contingência para o sector, o 3
primeiro-ministro apelou para que
nestes 15 dias se criem condições para 2
que, já a partir de Junho, se possam 1
levantar estas restrições de lotação,
ainda que “mantendo um distancia- 0
mento e protecção amigáveis”. 2 Mar. 12 16 18 22 1 Abr. 28 2 Mai. 12
Passando das toalhas de mesa para
as toalhas de praia, o primeiro-minis-
Percentagem de casos positivos em relação aos testes realizados
tro anunciou também um pacote de
medidas de segurança para o início 20
da época balnear a partir de 6 de Anúncio do plano
Junho (ver caixa). E apesar das várias 15 de desconfinamento
proibições que estarão em vigor 30 de Abril
Æcam proibidos jogos com bola, 10
raquetes ou disco , o primeiro-mi-
nistro revelou que a estratégia para 5
5,6 4,3
as fazer valer não passa tanto pela
intervenção das autoridades (que 0
1 Mar. 1 Abr. Mai. 13
estarão concentradas nas praias não
vigiadas), mas mais pelo apelo “ao
Doentes tratados em casa/internados/em unidades de cuidados intensivos
bom senso” da população. “Temos Em %
de ser os Æscais de nós próprios”,
defendeu, “até porque as férias são N.º de casos internados N.º de internados em UCI N.º de casos em
também para relaxar”. isolamento domiciliário
100
O Governo aproveitou também
para clariÆcar que o uso obrigatório
90
de máscaras nos transportes públicos 80
Anúncio do plano
comum, como bares ou se aplica em crianças a partir dos dez 70 de desconfinamento
restaurantes, têm de ser anos e conÆrmar o Æm da obrigatorie- 30 de Abril
60
higienizados pelo menos quatro dade do teletrabalho para 1 de Junho,
vezes ao dia e têm de cumprir a ainda que ressalve que o regresso aos 50
limitação de clientes aplicada aos postos de trabalho deva ser feito atra- 40
restaurantes em geral. Já os vés de escalas diárias ou semanais e
30
funcionários destes espaços são com horários diferenciados. 97,2
obrigados a usar máscara e Por esclarecer Æca a realização da 20
viseira. Esta medida aplica-se Festa do Avante!. À noite, em entre- 10 2,3
também aos vendedores vista na CMTV, Costa lembrou que a 0,5
0
ambulantes, que devem fazer a proposta de lei do Governo ainda
4 Mar. 1 Abr. 1 Mai. 15
sua actividade pelos corredores está em discussão no Parlamento e
de circulação. Por fim, as realçou que “há actividades que o Óbitos (evolução diária)
autoridades vão dar particular Estado tem direito a restringir e
atenção ao estacionamento de outras que não tem”, nomeadamen- 40
viaturas fora dos parques junto te a actividade política.
às praias e à ocupação dos Costa insiste que o Governo conti- 32 Anúncio do plano
parques por autocaravanas, bem nuará a apelar “ao dever cívico”, de desconfinamento
30 de Abril
como ao estacionamento em atento à evolução da pandemia e ao 24
geral. O PUBLICO apurou que foi comportamento dos portugueses —
já enviado para as autarquias um oposição incluída. “Tem havido aqui 16
manual com as linhas momentos muito difíceis, com a cons-
orientadoras dos cuidados que ciência de que está toda a gente de 8
devem ter com a utilização das acordo, mas, quando a crise passar,
praias no contexto da pandemia, estarão cá para apresentar a factura”, 0
que tem como título “Ir à Praia em disse. com Maria Lopes 18 Mar. 1 Abr. 1 Mai. 15
Segurança”. lalvarez@publico.pt
Fonte: Plano de Desconfinamento/Conselho de Ministros PÚBLICO
liliana.borges@publico.pt
4 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
Espectáculos
vão ter lotação
fortemente
reduzida
Sérgio C. Andrade
A
redução da lotação vai ser
o denominador comum do
regresso dos recintos de
espectáculos, previsto
para 1 de Junho. Ao ar livre,
caberão a cada espectador
20 metros quadrados e os lugares
terão de ser previamente identiÆca-
dos com uma marcação no chão. Já
nas salas fechadas, o público ocupa-
rá cadeiras separadas por dois luga-
res vazios e uma Æla de intervalo ou,
em alternativa, três lugares de per-
meio em Ælas seguidas, mas com
ocupação desencontrada. Excepções
apenas para grupos do mesmo agre-
gado familiar ou coabitantes, a quem
serão destinados os camarotes, no
caso dos teatros clássicos.
Estas são algumas das regras que
constam dos documentos, ainda pro-
visórios, destinados a preparar a rea-
bertura de cinemas, teatros e auditó-
rios. Os planos foram remetidos pela
Secretaria de Estado da Cultura aos
produtores de espectáculos e a com-
panhias de teatro e dança, que deve-
rão devolver o seu parecer até segun-
da-feira. A ministra da Cultura, recor-
de-se, anunciou há três dias que os
planos de contingência para estes
equipamentos serão divulgados na
próxima semana. O manual agora
apresentado, soube o PÚBLICO, resul-
tou já de uma primeira auscultação
dos teatros nacionais D. Maria II e São
João e do Opart, organismo que gere
o Teatro Nacional de São Carlos e a
Companhia Nacional de Bailado.
A simpliÆcação da bilhética (privi-
legiando a venda online) e a elimina-
ção de intervalos são outras das regras,
que prevêem ainda a separação entre
a plateia e a boca de cena, eventual-
mente com a desactivação das primei-
ras Ælas, e, nos concertos, a proibição
de uso do fosso de orquestra.
sandrade@publico.pt
As aulas síncronas passam a ser de presença obrigatória
Excesso de faltas volta
a dar direito a chumbos
Clara Viana
A
partir de segunda-feira, os
alunos do ensino básico e
secundário voltam a poder
ser penalizados quando
tiverem faltas injustiÆcadas,
seja às aulas presenciais do
11.º ou do 12.º ano ou às sessões sín-
cronas no âmbito do ensino à distân-
cia, cuja frequência passará a ser
obrigatória. Estas são as últimas infor-
mações enviadas às escolas pela
Direcção-Geral dos Estabelecimentos
Escolares (Dgeste).
“Nenhuma das questões” elenca-
das pela Dgeste é referida pelo diplo-
ma que estabelece as medidas excep-
cionais para a educação, publicado a
13 de Abril e que foi alterado agora
para especiÆcar as condições do
regresso às aulas presenciais, alerta
o director da Escola Secundária
Camões, em Lisboa, João Jaime. Que
frisa ainda: “É um documento elabo-
rado por alguém que acha que pode
passar por cima da autonomia das
escolas!”
O documento diz o seguinte: com
o Æm do estado de emergência, e mes-
mo continuando a pandemia da covid-
19, “as actividades lectivas implicam
o cumprimento do previsto no Esta-
tuto do Aluno” no que respeita aos
“deveres de assiduidade e de pontua-
lidade”. Caso contrário, há lugar a
RUI GAUDÊNCIO
sanções que vão desde o “cumpri-
mento de actividades que permitam
recuperar atrasos na aprendizagem”
até à “retenção no ano de escolarida-
de em curso, no caso de frequenta-
rem o ensino básico, ou a exclusão na
disciplina ou disciplinas em que se
veriÆque o excesso de faltas, tratan-
do-se de alunos do ensino secundá-
rio”. O Ministério da Educação (ME)
fala da necessidade de manter “os
dispositivos de controlo de assiduida-
de, que servem, em primeiro lugar,
de instrumento de sinalização de ris-
co de abandono escolar”.
As orientações “não têm objectivos
persecutórios, mas pedagógicos”, fri-
sa o presidente da Associação Nacio-
nal de Dirigentes Escolares, Manuel
Pereira. “Tem de haver normas que
os alunos conheçam e que possam ser
aplicadas pelas escolas”, para que este
“não seja um tempo perdido” em ter-
mos de aprendizagens, sublinha. Já o
professor do 2.º ciclo Paulo Guinote
entende que “nada faz grande sentido,
até porque foi sempre dito que a assi-
duidade não contaria para as aulas
não presenciais”. Ainda em relação às
sessões síncronas, a Dgeste diz que em
caso de incumprimento das medidas
de recuperação ou continuação das
faltas, é obrigatório comunicar o facto
à comissão de protecção de crianças
e jovens.
cviana@publico.pt
Rendas não habitacionais
terão um ano para ser
regularizadas
Luísa Pinto
O
s inquilinos de espaços
comerciais que tenham
sido obrigados a encerrar
ou suspender a actividade
por determinação legal ou
administrativa no âmbito
da pandemia da doença covid-19
vão ter até Junho de 2021 para
poder regularizar as rendas. No
comunicado que saiu da reunião do
Conselho de Ministros, o Governo
refere a intenção de manter diferi-
das as rendas daqueles contratos de
arrendamento, “retomando-se os
pagamentos com o limite do perío-
do de regularização da dívida de
Junho de 2021”.
Depois de ter anunciado a inten-
ção de monitorizar em permanên-
cia os impactos que as medidas de
mitigação da pandemia teriam no
mercado habitacional, o Governo
levou agora a Conselho de Ministros
a primeira alteração, avançando
com uma nova “proposta de lei que
estabelece a alteração do regime
excepcional para as situações de
Mais tempo para regularizar
mora no pagamento da renda devi-
da nos termos do contrato urbano
habitacional e não habitacional”.
A medida anunciada pelo Gover-
no na área do arrendamento habi-
tacional é prorrogar até 1 Setembro
de 2020 “a vigência do apoio Ænan-
ceiro previsto relativo ao arrenda-
mento, de modo a assegurar que as
famílias têm o tempo e as condições
necessárias para retomar as suas
vidas com normalidade”, prevendo
que a regularização dos valores em
dívida seja dilatada no tempo e evi-
tando a sobrecarga com os encargos
habitacionais.
Em comunicado, o Governo refe-
re-se também à garantia que é dada
aos senhorios de que vão receber
atempadamente as rendas devidas.
Esse apoio é possível com a linha de
empréstimos que está a ser conce-
dido pelo Instituto de Habitação e
Reabilitação Urbana (IHRU), que o
executivo já admitiu reforçar.
Ontem, o gabinete do Ministério
das Infra-estruturas e Habitação
(MIH) anunciou a intenção de pro-
por à Assembleia da República o
prolongamento desta concessão de
empréstimo para pagamento de
rendas por parte do IHRU.
De acordo com informação do
MIH, neste primeiro mês de vigên-
cia da linha de empréstimos, o
IHRU recebeu 1806 pedidos de
empréstimos: 1796 por parte de
arrendatários e 10 de senhorios. O
valor global dos apoios solicitados
ascende já a cerca de 3,5 milhões de
euros.
O IHRU recebeu requerimentos
de cidadãos residentes em 143 con-
celhos do país, sendo os distritos de
Lisboa, Porto e Setúbal aqueles
onde se registaram mais pedidos de
apoio, seguidos de Braga e Faro. Os
arrendatários e senhorios com com-
provada quebra de rendimentos
podem recorrer aos empréstimos
sem juros do IHRU para pagamento
de rendas desde o dia 15 de Abril.
luisa.pinto@publico.pt

COVID-19: O DOENTE ONCOLÓGICO
NO CENTRO DO DEBATE
Como é ser doente oncológico em tempos de pandemia? Esta foi a questão que deu o
mote para o webinar “Cancro em Debate”, uma iniciativa do Público em parceria com a
MSD e a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC), com o objectivo de ajudar os doentes
oncológicos e os seus cuidadores.
O
debate, que durou cerca de
uma hora, focou os desafios dos
doentes oncológicos nestes dias
em que a Covid-19 tem ameaça-
do o mundo, e contou com
o contributo de Filipe Froes, médico pneumo-
logista e coordenador do gabinete de crise
da Ordem dos Médicos para a Covid-19; Vítor
Rodrigues, presidente da Liga Portuguesa
Contra o Cancro (LPCC); Luís Costa, coordena-
dor da Comissão de Coordenação Oncológica
e director do Departamento de Oncologia do
Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) e San-
dra Ponte, enfermeira e membro da direcção
da Associação de Enfermagem Oncológica
Portuguesa (AEOP).
Filipe Froes começou por confirmar que
os doentes oncológicos têm maior risco de
contrair a doença e que a taxa de mortalida-
de também é maior. “Com base em estudos
publicados na China e com disseminação na
Europa, cerca de 5,6% de doentes com neo-
plasia e com infecção por Covid-19 acaba por
falecer”, afirmou, reforçando que as medidas
de prevenção deste vírus são ainda mais
importantes para pessoas com cancro.
Concomitantemente, Sandra Ponte alertou
para as medidas que os doentes oncológicos
em tratamento activo devem assegurar. Além
da importância de monitorização do estado
de saúde, a higienização das mãos é fulcral.
Relativamente às máscaras – que devem ser
usadas por todos os doentes oncológicos, sem
excepção – é crucial saber utilizá-las de forma
correcta. “O mais importante é ensinar os
doentes a colocarem bem a máscara, a cobrir
o queixo, o rosto e o nariz e a retirá-la adequa-
damente”, explicou. Os doentes oncológicos
que se desloquem a uma instituição de saúde
recebem uma máscara e “devem permanecer
com a mesma até à sua saída”, disse a enfer-
meira, sublinhando que o uso exclusivo de
viseira, por si só, “não é suficiente nem seguro”.
E será que ir ao hospital actualmente é pru-
dente? Sandra Ponte sugeriu a teleconsulta
como uma alternativa viável, nos casos em
que tal seja possível. Luís Costa acrescentou
que “a teleconsulta é possível para consultas
de seguimento e de revisão”. No entanto, em
casos em que os doentes tenham queixas ou
sintomas suspeitos, “há que complementar
com uma consulta presencial”. O médico
oncologista reforçou a ideia de que foi preciso
reorganizar os serviços, mas mantendo
o funcionamento: “nós não cessámos a nossa
actividade. Todos os doentes oncológicos que
precisavam de tratamento, não deixaram de
o fazer”. Em simultâneo, passou a haver um
FOTO: D.R.
rastreio clínico prévio à chegada e todos estão
a ser testados antes e durante o tratamento.
Por último, outra das medidas dos hospitais
passou por concentrar exames e consultas de
um mesmo doente num único dia para evitar
várias visitas ao hospital.
Para Vítor Rodrigues, foi clara “esta adaptação
dos serviços hospitalares em todo o País e a
respectiva articulação com os cuidados de
saúde primários”.
O caminho a seguir
O grande desafio, neste momento, é preparar
o período pós-Covid. “Como é que os doentes
podem retomar a sua vida normal?”, questio-
nou Luís Costa, afiançando que “há uma série
de situações para as quais ainda não temos
resposta”. Alguns leitores questionaram o
painel sobre dúvidas que se colocam no dia-
-a-dia, enquanto doentes ou cuidadores. Re-
lativamente às visitas de pessoas internadas,
Sandra Ponte reforçou que “para segurança do
próprio doente, dos seus familiares e dos pro-
fissionais, foi preciso restringir a circulação de
pessoas”. A enfermeira antevê, no entanto, que
a retoma das visitas venha a acontecer nesta
fase de maior desconfinamento, ainda que
de “forma faseada e com algumas limitações”.
Filipe Froes compreende a preocupação
CONTEÚDO
COMERCIAL
relativamente às restrições de visitas durante
o internamento, mas explicou que “houve a
necessidade de intercalar este período com
medidas temporárias que promovam a maior
segurança dos doentes. Mal a situação o per-
mita, tendencialmente iremos caminhar para
a maior humanização dos serviços”.
Os doentes oncológicos que estejam devida-
mente controlados e com a doença estável
podem visitar familiares ou trabalhar? Esta foi
uma das questões mais colocadas pelos leito-
res que assistiram ao webinar. Dependendo
do tipo de trabalho, Luís Costa considera que
é possível retomar a rotina desde que sejam
salvaguardadas as medidas de protecção
contra a Covid-19.
Recomeçar em segurança
Com quase 80 anos de existência, a LPCC dedi-
ca-se a múltiplas actividades de apoio a doen-
tes e cuidadores. Entre elas, o Programa de
Rastreio do Cancro da Mama, implementado
em 1986 e que se encontra temporariamente
suspenso. Vítor Rodrigues anunciou que é pro-
vável que a iniciativa seja retomada em Junho,
assegurando, para tal, todos os cuidados ne-
cessários a nível de segurança e de protecção
individual dos técnicos e dos utentes. “Temos
tudo preparado para recomeçar os rastreios
de cancro da mama a partir do momento em
que seja seguro fazê-lo. Numa fase inicial,
o número de pessoas a rastrear será menor
do que o habitual.”
Sandra Ponte concluiu o webinar a elogiar
um dos projectos da LPCC que consiste no
“fornecimento de medicamentos em casa
evitando que os doentes tenham de o fazer
na farmácia hospitalar”. Luís Costa terminou
reforçando que “o maior investimento deve
ser feito em recursos humanos e na reformula-
ção de espaços no hospital para promover um
maior distanciamento físico entre os doentes
em tratamento“. A situação de calamidade não
traz menos desafios do que o estado de emer-
gência. Pelo contrário. “A pandemia está agora
a testar-nos, em tempo real, nesta dualidade
de Covid e não Covid”, rematou Filipe Froes.
No dia 6 de Maio, o Público, a MSD e a
Liga Portuguesa Contra o Cancro jun-
taram-se para realizar o webinar ‘Can-
cro em Debate’. Esta iniciativa deba-
teu como é ser doente oncológico em
tempo de pandemia. O evento reuniu
vários especialistas que deram o seu
contributo sobre o tema.
6 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Preparar o
regresso é mais
“fácil” numa
escola pequena
Em Arga e Lima, Viana do Castelo, há
apenas duas turmas do ensino
secundário. A principal preocupação
é assegurar o transporte dos alunos
Reportagem
Samuel Silva
C
omo num cruzamento
entre duas estradas, há
setas com indicações
divergentes. Os alunos do
11.º ano devem virar à
esquerda. Para os do 12.º
ano, o caminho é em frente. Além
da sinalização visual, haverá
também indicações verbais
quando, na segunda-feira, os
estudantes voltarem às aulas na
Escola Básica e Secundária de Arga
e Lima, em Viana do Castelo. “Vai
estar aqui um funcionário para os
orientar”, antevê o director, José
Costa Leme.
Dos 700 alunos que aqui
estudam, menos de 60 regressam
às aulas presenciais na próxima
semana. O agrupamento só oferece
um curso cientíÆco-humanístico do
ensino secundário, o de Ciências e
Tecnologias, e tem apenas uma
turma por ano de escolaridade. Por
isso, diz o director, foi “fácil”
garantir o cumprimento das
orientações dadas pelo Ministério
da Educação para o regresso às
aulas presenciais dos alunos do 11.º
e 12.º ano.
O edifício da escola foi dividido
em dois, atribuindo metade a cada
turma, garantindo que os alunos
nunca se encontrarão. Terão
também acessos distintos,
separados por cerca de uma
centena de metros. Em cada uma
das portas está aÆxada a indicação
da sala de aulas que será usada,
bem como o Código de Conduta
que os estudantes devem seguir
para prevenir a contaminação por
SARS-Cov-2: “O uso de máscaras no
interior da escola é obrigatório”;
“Desinfectar as mãos ao entrar na
escola”; “Cada aluno deve manter
lugar Æxo na sala de aula”.
Depois de entrarem na porta
reservada ao 11.º ano, os alunos
encontram à sua direita a sede da
associação de estudantes. Está
inacessível por causa de uma
muralha de cadeiras e bancos
corridos, dispostos de pernas para
o ar.
À sua frente há duas mesas de
pingue-pongue e até um bilhar.
Aquele é um espaço de encontro
durante os dias de aulas, mas o seu
uso está agora interdito. Também o
bar e a cantina estão fechados,
seguindo as indicações das
autoridades de saúde.
“Não haverá espaço para
convívio”, aÆrma José Costa Leme.
Uma vez na escola, o único
caminho possível para os alunos é
em direcção às salas, onde terão
aulas nas próximas semanas. Todos
os outros acessos, incluindo às
No agrupamento Arga e Lima tudo foi feito para que os alunos se cruzem o menos possível e não haverá espaço
escadas que levam aos pisos
superiores, estão cortados por Ætas
plásticas vermelhas e brancas. O
mesmo acontece nas áreas
exteriores.
Há sempre o auditório
A Escola Básica e Secundária de
Arga e Lima tem também oferta de
ensino proÆssional, cujas aulas
presenciais são também
retomadas em vários pontos do
país a partir de segunda-feira. Não
será, porém, isso que acontecerá
aqui.
“Não se justiÆcava virem por
uma semana”, explica o director.
Os módulos teóricos dos três
cursos existentes (Electrónica,
Automação e Computadores no 2.º
ano; Turismo e Técnico Auxiliar de
Saúde no 3.º) são concluídos na
Diário daa
pandemia
mia
próxima sexta-feira. Até lá, os
alunos mantêm-se, como até aqui,
em ensino à distância.
Já os colegas do
cientíÆco-humanístico têm que se
deslocar à escola, em Lanheses,
uma vila de 1700 habitantes a cerca
de 15 quilómetros da sede do
concelho, três vezes por semana,
no caso do 12.º ano, ou quatro para
os alunos do 11.º, que têm mais
disciplinas.
À quinta-feira, a escola vai estar
vazia. As aulas acontecem apenas
de manhã, das 9h00 às 12h10. São
dois blocos de 90 minutos, com um
intervalo de dez minutos pelo meio.
A turma do 11.º ano Æcará na sala
22. A do 12.º ano usará a sala 30.
São duas antigas oÆcinas de cursos
proÆssionais e, por isso, as duas
maiores salas da escola. A direcção
Fenprof volta a criticar
reabertura das escolas
“Os peritos da área não estão
convictos. A abertura no dia 18 de
Maio é uma decisão política, se as
coisas correrem mal também será
o Governo a arcar com as
consequências”, reafirmou ontem
o secretário-geral da Fenprof,
Mário Nogueira.
criou 26 lugares individuais em
cada uma, conseguindo evitar ter
que dividir as turmas em turnos
como está a acontecer em muitos
agrupamentos. Os corredores
entre as Ælas de secretárias têm
uma distância de 1,5 metros, como
é recomendado pelas autoridades
de saúde. A distância vertical entre
as Ælas é, porém, inferior. Terá
cerca de um metro.
“Os alunos estão de costas, não
haverá problemas”, acredita Leme.
Além disso, a direcção espera que
muitos acabem por faltar,
sobretudo às disciplinas em que
não terão exames nacionais, o que
reduzirá a lotação das salas.
“Em último caso, podemos usar
o auditório”, aponta. Com espaço
para mais de 100 pessoas, Æca
mesmo em frente à sala reservada

PSP lança operação Escola
(ainda mais) Segura
O regresso às aulas dos alunos do
11.º e do 12.º ano será
acompanhado de perto pela PSP
com a operação Escola (ainda
mais) Segura em todo o país.
Haverá mais vigilância, acções de
sensibilização e fiscalização do
cumprimento das regras.
ANDRE RODRIGUES
os para convívio
para o 11.º ano e foi também
higienizado, antevendo a
necessidade de utilização.
Estarão as salas bem?
Certo é que, além das orientações
emanadas do Ministério da
Educação, há pouco mais de uma
semana, a escola não tem quem
consultar para perceber se a
disposição encontrada para as
salas de aula é a mais indicada.
Das autoridades de saúde, não
houve qualquer contacto. A única
visita recebida foi a de uma
equipa das Forças Armadas, que
fez uma acção de formação sobre
higienização.
De qualquer das formas, dois
dias úteis antes do regresso dos
alunos, a escola “está pronta”. Foi
higienizada a fundo no início da
60
pessoas foram multadas desde
4 de Maio por não usarem
máscaras ou viseiras nos
transportes colectivos
semana. Em alguns espaços, um
nariz mais sensível ainda sente o
cheiro a lixívia.
Até à reabertura, bastará fazer “a
limpeza normal”. Depois, as salas
serão higienizadas todos os dias,
logo após a saída dos alunos, à hora
de almoço, deixando o espaço
imediatamente preparado para o
dia seguinte.
À espera dos transportes
Em vésperas do regresso às aulas
presenciais, a grande preocupação
da direcção do agrupamento
prende-se com a mobilidade dos
alunos. A escola serve uma zona
rural no limite entre os concelhos
de Viana do Castelo e Ponte de
Lima, encravado entre a serra
d’Arga e o rio Li ma. Tal como
acontece num ano lectivo normal,
dois terços dos alunos precisam
de transporte público para chegar
até ao estabelecimento de ensino.
A diferença é que, em lugar de
450 alunos, apenas 40 precisarão
dele nas próximas semanas.
“Pedimos duas carreiras, uma
para cada uma das margens do rio.
Mas ainda não tivemos resposta”,
queixa-se o director. Não é caso
único no país.
Na quinta-feira, a bancada
parlamentar do PSD anunciou ter
recebido alertas de várias
entidades de regiões suburbanas e
do interior do país sobre a falta de
transporte para os alunos do
ensino secundário, tendo
questionado o Ministério da
Educação sobre o tema.
A responsabilidade dos
transportes escolares é, porém, das
autarquias. No caso da escola de
Arga e Lima, da Câmara Municipal
de Viana do Castelo.
Quando recebeu a lista dos
alunos que precisavam de
transporte, o município percebeu
que as linhas desenhadas para este
ano lectivo “não se adequavam” às
necessidades das próximas
semanas. Teve que criar um novo
trajecto e um novo horário para
servir os estudantes, que ia ainda
ser comunicado à escola.
“A partir de segunda-feira, está
tudo garantido”, assegura fonte do
gabinete do presidente da
autarquia, José Maria Costa, ao
PÚBLICO.
samuel.silva@publico.pt
Lojas violam regras
Desde 4 de Maio e até
quinta-feira, a GNR e a PSP
identificaram 1698 situações de
incumprimento do uso
obrigatório de máscaras ou
viseiras em espaços comerciais
ou incumprimento da distância
social. Foram encerrados 262
estabelecimentos.
O Camões reabre para “a teimosia” dos exames
Reportagem
João Pedro Pincha
V
ai uma azáfama no grande
pátio interior do Liceu
Camões. Os funcionários
varrem as últimas folhas
que caíram dos plátanos
imponentes e preparam
bidões com água e lixívia, que estão
a ser usados nos corredores da
centenária escola lisboeta.
“Então?”, pergunta o director João
Jaime Pires a uma assistente que
lava o chão junto à biblioteca.
“Prontos para o desaÆo. Para o
grande desaÆo”, responde ela, e o
curto diálogo termina com ambos a
encolherem os ombros.
Na segunda-feira, o Camões é
uma das escolas secundárias que
reabrem portas aos alunos dos 11.º e
12.º anos, que, apesar da pandemia,
continuam com exames nacionais
marcados. Como a covid-19 não
desapareceu, quer-se distância
entre estudantes em todos os
momentos, mas garanti-la numa
escola em obras é um
quebra-cabeças. “Estamos
conÆnados a um terço da escola”,
diz o director. Uma parte está em
profundas obras de reabilitação
desde o Verão, depois de anos e
anos de protestos sobre a crescente
degradação do edifício, inaugurado
há 110 anos. Os trabalhos de
construção civil não pararam.
“Ninguém pode Æcar indiferente a
que se aceite que num edifício
destas dimensões se possam
receber 600 pessoas”, critica.
Com 26 turmas e cerca de 600
alunos que vão fazer exames, a
escola teve de inventar salas de aula
em espaços incomuns, até porque
os monoblocos em que a actividade
lectiva tem decorrido não garantem
a devida distância entre pessoas.
No velhinho ginásio estão
alinhadas as mesas grandes e
inclinadas para os alunos de
Desenho e Geometria Descritiva. Na
biblioteca antiga, as cadeiras usadas
em conferências e palestras estão
arredadas para um canto e há mesas
individuais a ocupar todo o espaço.
Ao todo estão 21 salas preparadas,
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 7
mais o auditório. “Os horários
foram feitos para que os alunos do
12.º venham duas vezes por semana
e os do 11.º até três vezes e para que
a escola nunca tenha mais de 300
ao mesmo tempo.” Quantos virão,
não sabe. “A maioria vem de longe,
tem de apanhar vários transportes.
Muitos vivem com familiares idosos
ou com pessoas doentes. Nós
podemos garantir a segurança aqui
dentro, mas o que acontece antes e
depois já depende de cada um”, diz
a directora adjunta Catarina Leal.
Ao seu telemóvel têm chegado
diariamente relatos de estudantes
assustados com o regresso e
inquietos por terem de fazer
exames nestas circunstâncias.
Muitos não compreendem a decisão
do Governo. “A teimosia de haver
exames condicionou todas as
medidas”, critica João Jaime. “O
erro foi ter-se decidido a 30 de Abril
que os alunos com exames
nacionais voltavam às aulas. Em 12
anos de escolaridade prejudica
assim tanto se um aluno não tiver
actividade lectiva durante dois
meses? Isto devia ser um regresso
progressivo e alguém decidiu isto
num gabinete.”
Em várias escolas de Lisboa
coloca-se o mesmo problema que
tem o Camões — ter de acomodar 25
a 30 turmas em condições que não
ponham a saúde de ninguém em
causa. É isso que leva o director da
O Liceu Camões tem 600 alunos que vão fazer exames
Açores testam quem
está de quarentena
O Tribunal de Ponta Delgada está
a avaliar um pedido de habeas
corpus apresentado por um
cidadão em confinamento num
hotel. As autoridades de saúde já
decidiram testar todos os que
estão na mesma situação,
antecipando uma possível saída.
escola a declarar que está “a fazer
um serviço público”, uma espécie
de ensaio da reabertura do país em
que alunos, professores e
funcionários são as cobaias.
Enquanto Catarina Leal lê no
pátio as recomendações emanadas
pelo Ministério da Educação e ajuda
a misturar água com lixívia — que a
escola comprou em quantidade
antes que esgotasse —, João Jaime
vai mostrando algumas salas. Pouco
mudou na sua disposição, a
diferença é que dezenas de cadeiras
estão empilhadas e em cada divisão
só vão estar 12 a 13 alunos, o que
obriga a partir as turmas ao meio.
Ainda assim, em nenhuma das salas
há dois metros entre carteiras. Os
laboratórios de Física e Química,
que permanecem nos monoblocos,
só podem ter quatro a cinco alunos
de cada vez. A escola vai ter de
contratar oito professores para
fazer face às ausências de docentes
que pertencem a grupos de risco.
E o trabalho arrancará com
grande incerteza, porque o Instituto
de Avaliação Educativa, que
organiza os exames, “ainda não veio
dizer aos professores e alunos qual
é a matriz das provas, o que é que
vai ser diferente”, lamenta o
director. “Não achamos isto nada
simpático, para não usar outra
palavra.”
joao.pincha@publico.pt
MIGUEL MANSO
8 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
Médicos de saúde pública querem receber
horas extras. ARS diz que já têm suplemento
O presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública diz que há proÄssionais “que esgotaram
num mês o limite anual máximo” de trabalho suplementar e pede bom senso por parte da tutela
Alexandra Campos
A
Associação Nacional dos
Médicos de Saúde Pública
(ANMSP) exige que as admi-
nistrações regionais de saú-
de paguem as horas extraor-
dinárias que os especialistas
no terreno têm vindo a fazer para
assegurar a vigilância epidemiológica
do surto de covid-19 em Portugal. Há
muitos médicos que “esgotaram num
mês o limite anual máximo” de traba-
lho suplementar, argumenta o presi-
dente da associação, Ricardo Mexia,
que espera que haja “bom senso por
parte da tutela” e que garante que vão
“exigir que seja pago o que é devido”.
“Tem havido tantas palavras elogio-
sas. Esperamos que agora isso se
materialize no pagamento justo pelo
trabalho desempenhado”, aÆrma.
Mas pelo menos a Administração
Regional da Saúde (ARS) do Norte
decidiu já que não vai pagar o traba-
lho extraordinário, alegando que não
o pode fazer, uma vez que os médicos
de saúde pública já recebem “um
suplemento mensal de 800 euros ilí-
quidos” por estarem em “regime de
disponibilidade permanente”. Este
suplemento é “incompatível com
pagamento de trabalho suplemen-
tar”, justiÆcou ontem a ARS em comu-
nicado.
A ARS invoca, a propósito, o artigo
21.º do decreto-lei de 2009, que esta-
belece que os médicos de saúde
pública têm o direito de receber o
referido suplemento por estarem
disponíveis em permanência. “Por
este regime, entende-se a obrigato-
riedade de apresentação ao serviço
sempre que seja solicitado, mesmo
que fora do horário normal de traba-
lho”, lê-se no decreto-lei.
Um regime que Ricardo Mexia
defende que deve ser equiparado ao
A ARS do Norte diz que os médicos já recebem 800 euros ilíquidos para estarem disponíveis
Mais de 70% dos profissionais de saúde exaustos
Q
uase três em cada quatro
(72,2%) profissionais de
saúde apresentam níveis
médios ou elevados de
exaustão emocional e valores
semelhantes de burnout. Esta é
uma das conclusões do
questionário de Saúde
Ocupacional do Barómetro
Covid-19, da Escola Nacional de
Saúde Pública (ENSP). Os
profissionais de saúde dizem
estar cansados, mas consideram
que a disponibilidade de
equipamentos de protecção
individual melhorou ao longo da
pandemia. O terceiro e último
questionário recolheu, entre os
dias 30 de Abril e 8 de Maio, 532
respostas. No total, participaram
5365 profissionais de saúde. A
ENSP refere que os dados
recolhidos neste último inquérito
revelam “um agravamento dos já
elevados níveis reportados”.
Segundo os resultados, 42,6%
dos profissionais disseram que
dormem menos de seis horas
PAULO PIMENTA
por dia, valores semelhantes aos
obtidos no segundo
questionário. E 58% disseram ter
uma sensação de fadiga intensa
ou muito intensa, “testemunham
uma situação próxima da
exaustão ou ‘esgotamento’”.
Sobre a carga de trabalho,
“30,6% consideram o seu nível
de fadiga semelhante ao da
semana anterior, enquanto
45,3% apresentaram maiores
níveis de fadiga e 12,7% fadiga
extrema”. Ana Maia
Lares sem visitas até Junho
A maioria dos lares de idosos
alentejanos não deve retomar
visitas na segunda-feira, segundo
o provedor da Santa Casa da
Misericórdia de Alcáçovas, em
Viana do Alentejo. “Estávamos a
apontar para o princípio de Junho.
Há investimentos a fazer em
protecção e pequenas obras.”
da prevenção e que não é “uma carta
branca para prestação de todas as
horas”. O presidente da ANMSP nota
ainda que, ao contrário da decisão da
ARS do Norte — “a única que, até ago-
ra, explicitamente escreveu que não
iria pagar” —, alguns agrupamentos
de centros de saúde (ACES) do Norte
e de Lisboa e Vale do Tejo pagaram
horas extraordinárias aos médicos de
saúde pública. Agora, há quem receie
que tenha de repor o valor que rece-
beu, lamenta.
Considerando que está aqui em
causa “uma gritante injustiça”, os
dirigentes do Sindicato Independen-
te dos Médicos (SIM) decidiram entre-
tanto interpelar “formalmente” o
secretário de Estado da Saúde sobre
esta questão. “Desde o início de Mar-
ço que os médicos de saúde pública,
especialistas e internos da especiali-
dade, vêm desenvolvendo, ininter-
ruptamente, incluindo aos Æns-de-
semana, e sem folgas, uma actividade
de vigilância em saúde pública que foi
fundamental à gestão da primeira
onda pandémica de covid-19 no nosso
país”, lê-se no site do SIM.
Ricardo Mexia conÆrma e especiÆ#
ca que há médicos que dizem ter tra-
balhado “200 horas a mais num
mês”, várias nos dias úteis e 12 ao Æm-
de-semana. O presidente da ANMSP
já tinha criticado na quinta-feira a
falta de pagamento de horas extraor-
dinárias por algumas ARS durante o
webinar sobre “O impacto da covid-19
nos cuidados de saúde pública”.
Para o médico, citado pela Lusa,
“os aplausos e as palmadinhas nas
costas são importantes, mas é bom
que os proÆssionais de saúde vejam
o reconhecimento do seu trabalho
esforçado e que muitas vezes foi
desempenhado em condições muito
adversas”.
acampos@publico.pt

Máscaras aos 10 anos
O uso das máscaras ou viseiras
por crianças nas escolas e nos
transportes públicos passa a ser
obrigatório a partir dos dez anos,
foi hoje clarificado no
comunicado do Conselho de
Ministros. Na primeira fase de
desconfinamento, a idade mínima
era de seis anos.
“O número de casos vai
aumentar, não nos iludamos”,
dizem especialistas
Diogo Cardoso Oliveira
A
prioridade é, daqui para a
frente, evitar o aumento de
mortes, aÆrmou ontem
Alexandre Abrantes, pro-
fessor de Políticas e Admi-
nistração de Saúde, numa
visão partilhada num webinar do
PÚBLICO e da Escola Nacional de Saú-
de Pública (ENSP), que juntou vários
especialistas. Já o aumento de casos,
fruto do desconÆnamento em curso,
é inevitável, defendeu.
“Poderá haver a expectativa de
que o desconÆnamento vai passar
sem aumentar os casos, mas é claro
que vai aumentar, não nos iludamos.
O foco é evitar mortes”, explicou.
Sendo os idosos o grupo mais afec-
tado pela doença, os países, em geral,
e Portugal, em particular, deveriam
ter reagido de forma mais rápida — e
mais eÆcaz — na aplicação de medidas
de contenção do vírus na parte desta
população, sobretudo na que vive em
lares, defendeu-se também. “Tivemos
casos de idosos que tinham de ser
hospitalizados e que, quando volta-
ram do hospital, voltaram covid posi-
tivos e contaminaram funcionários.
Já tínhamos indicadores de que a
Lares têm de ser acompanhados
4
milhões de máscaras foram já
distribuídas pelas Forças
Armadas em escolas de todo o
país, disse António Costa
doença seria problemática para estas
pessoas, pelo que a resposta de fechar
os lares chegou um pouco tarde”,
aÆrmou José Luiz Telles, professor de
Promoção da Saúde, na área do enve-
lhecimento.
A directora da ENSP, Carla Nunes,
aponta, porém, uma atenuante: “No
início da pandemia, em Portugal, não
era a população idosa a mais afectada
e o vírus ainda não tinha chegado aos
lares. Depois, fechou-se de repente
todos os lares [a visitas], mas já com
algum atraso”, admitiu. Ter proÆssio-
nais de saúde a trabalharem em vários
locais também não ajudou no contro-
lo do contágio inicial nestas institui-
ções.
Sobre o impacto na evolução da
epidemia das duas primeiras semanas
do plano de desconÆnamento traça-
do pelo Governo, a análise global é a
de que ainda não é possível tirar con-
clusões claras. Desde logo porque,
como lembrou, “os dados que temos
é de que este desconÆnamento foi
leve, as pessoas não mudaram os seus
hábitos — ou mudaram em cerca de
10%”, muitas continuam em casa, em
teletrabalho, e não estão a ir a sítios
diferentes. A segunda fase, que come-
ça dia 18, já terá outra dimensão. E
será preciso monitorizá-la de forma
rigorosa.
Teresa Maia, médica psiquiatra e
professora de Promoção da Saúde ,
deixou ainda um desaÆo para o futu-
ro próximo. “O esforço dos proÆssio-
nais de saúde foi signiÆcativo e per-
mitiu controlar boa parte do impac-
to do vírus na saúde mental”,
contudo, “daqui para a frente, pode-
rão vir quadros depressivos pelo
isolamento e pela quebra de rendi-
mentos” provocada por situações de
desemprego. É preciso um reforço
urgente de proÆssionais de saúde
mental e de equipas multidisciplina-
res, sublinhou. “Não adianta dar anti-
depressivos, se a pessoa continuar a
não ter emprego. É preciso uma abor-
dagem mais global.”
diogo.oliveira@publico.pt
Taxa de letalidade nos 4,2%
A taxa de letalidade global é de
4,2%, e sobe para 15,4% acima dos
70 anos. Graça Freitas afirmou
que 86,6% dos óbitos são acima
dos 70 anos e na grande maioria
pessoas com outras condições,
“muitas vezes graves”. Houve
situações “muito pontuais” de
morte sem doença associada.
DIÁRI DA QUARENTENA, 60
“O que será deles, se não estivermos lá”?
Dina Ribeiro
F
aço parte do projeto Idosos
em Segurança, tal como a
minha colega Patrícia
Pereira, que foi criado, em
2013, pela Polícia Municipal
de Matosinhos. Se antes já
fazia sentido, em tempos de
covid-19 mais sentido faz.
Idosos — uma palavra que diz
tanto na sociedade em que
vivemos. Estamos a falar do
maior grupo de risco de infeção
com covid-19 e é importante que
se mantenham isolados.
Antes de mais, é preciso
explicar que, antes da pandemia,
os 54 idosos que integram este
projeto eram visitados, pelo
menos, uma vez por semana.
Para saber se estavam bem, para
transmitir alguns conselhos de
segurança, passando também
pelo auxílio, por exemplo, nas
contagens de leituras de água e
luz e até na articulação com as
instituições que lhes prestam
alguns cuidados de limpeza e
higiene, quando é o caso.
Com o início do estado de
emergência, tivemos de adaptar
as nossas funções às
necessidades crescentes.
Diariamente, são feitos contactos
pela dr.ª Alice Pereira, assistente
social que integra esta equipa,
que avalia as necessidades destas
pessoas. Muitas vezes, uma
simples chamada telefónica pode
fazer a diferença, tanto para se
manterem em casa como para
sabermos quais os alimentos de
que precisam, os medicamentos
em falta e muitas vezes para
alguns minutos de conversa,
para que se sintam mais seguros.
Houve um dia em que uma das
“nossas” idosas nos ligou,
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 9
desesperada: “Meninas, as minhas
pernas não param de tremer e
acho que preciso de ir ao
hospital.”
Deslocámo-nos de imediato à
sua habitação, em Sta. Cruz do
Bispo, e, após dois dedos de
conversa, percebemos que se
tratava de uma crise de ansiedade
pelo facto de ouvirem, ela e o
marido, demasiadas notícias.
Tudo acabou bem, e não foi
necessária qualquer intervenção
médica.
Também a Câmara Municipal de
Matosinhos criou mais um
“reforço”, a Linha de Apoio ao
Isolamento, para que as pessoas,
por razões de idade, de saúde ou
de carências económicas, possam
Houve um dia em
que uma das
‘nossas’ idosas
nos ligou,
desesperada:
‘Meninas, as minhas
pernas não param
de tremer.’
Deslocámo-nos
à sua habitação,
percebemos que se
tratava de uma crise
de ansiedade pelo
facto de ouvirem,
ela e o marido,
demasiadas notícias
Criança teve alta
O caso da criança portuguesa
com síndrome de Kawasaki
associado à covid-19 foi reportado
e surge nas estatísticas
internacionais do Centro Europeu
de Prevenção e Controlo das
Doenças. “Evoluiu bem e, tanto
quanto sabemos, já teve alta”,
disse Graça Freitas.
ter acesso às principais
necessidades básicas. E aqui
entramos também, a equipa dos
Idosos em Segurança.
Todos os dias o telefone da dr.ª
Alice Pereira toca vezes sem
conta (os pedidos repetem-se e
cada um exige uma avaliação
técnica da situação de carência
em que a pessoa se encontra:
compra de alimentos, o pão, os
medicamentos e até refeições
quentes que alguns restaurantes
do concelho generosamente
oferecem).
Bem cedinho, e até muitas
vezes no dia anterior, vemos o
mail que a nossa colega
assistente social enviou com o
resultado de todas as avaliações
realizadas no dia anterior. Às 9h,
eu e a minha colega Patrícia
Pereira saímos para a rua.
Devidamente protegidas com
máscara e luvas e já com a
viatura devidamente
higienizada, pomos “mãos à
obra” sempre com os minutos do
relógio contados, porque se, por
um lado, não podemos começar
muito cedo, uma vez que os
idosos gostam de dormir até
mais tarde, por outro, ao
meio-dia, é preciso terem a
alimentação necessária.
Ao terminar, resta-me
desabafar que se no início da
pandemia também eu tive medo,
com as pernas a tremer como as
daquela idosa, com o desejo de
Æcar em casa pelo receio de
contaminar a minha família,
rapidamente o meu pensamento
foi preenchido pela preocupação
com os “meus idosos”, que é
assim que muitas vezes os trato.
O que será deles, se não
estivermos lá? E a coragem
venceu o medo. Porque é
gratiÆcante e saímos de coração
cheio quando fazemos a
diferença na vida daqueles que
mais necessitam.
Polícia Municipal de Matosinhos
10 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
Eurogrupo conÄrma linhas de crédito
de emergência para saúde e emprego
Criada nova linha de crédito condicionada, de 240 mil milhões de euros. “As decisões políticas que
tomámos estão a ser traduzidas em realidades jurídicas em tempo-recorde”, assinalou Mário Centeno
Rita Siza, Bruxelas
P
ouco depois de chegar o
carimbo do conselho dos
governadores do Mecanis-
mo de Estabilidade Europeu
(MEE), os ministros das
Finanças da zona euro assi-
naram no tracejado para criar oÆcial-
mente a nova linha de crédito condi-
cionada, de 240 mil milhões de
euros, disponível para todos os
Governos que precisem de Ænancia-
mento adicional para suportar as
despesas directa ou indirectamente
relacionadas com a resposta sanitá-
ria à crise de coronavírus.
O novo instrumento de apoio à
crise pandémica, como foi designa-
do, servirá de rede de segurança de
emergência para os países que pre-
cisem de ajuda na sua resposta à
crise, declarou o presidente do con-
selho de governadores do MEE e
também do Eurogrupo, Mário Cen-
teno. “É um instrumento inovador,
com termos Ænanceiros muito favo-
ráveis e sem condicionalidade
macroeconómica”, lembrou.
Como acertaram os ministros, os
países que desejem recorrer à linha
de crédito não Æcam necessariamen-
te obrigados a levantar o dinheiro
(num montante que pode ascender
aos 2% do respectivo Produto Inter-
no Bruto). Caso decidam fazê-lo, os
empréstimos terão uma maturidade
média de dez anos e uma taxa anual
de 0,1%, à qual se acrescenta uma
taxa de acesso de 0,25% e custos de
manutenção de 0,005% ao ano.
O acordo político para a nova linha
de crédito já tinha sido fechado na
reunião da semana passada, tal como
para as outras redes de segurança do
pacote de emergência de mais de
500 mil milhões de euros anunciado
pelo Eurogrupo depois de uma lon-
guíssima reunião em Abril — e que
Presidente do Eurogrupo relembrou que novo instrumento não tem condicionalidade macroeconómica
passam por outros programas de
protecção do emprego, assegurado
pela Comissão Europeia, e de liqui-
dez para as pequenas e médias
empresas, através do Banco Europeu
de Investimento.
“As inovadoras decisões políticas
que tomámos há um mês estão a ser
traduzidas em realidades jurídicas
em tempo-recorde”, assinalou Mário
Centeno. “Os Estados-membros
estão a fazer tudo o que é preciso
para controlar o impacto desta pan-
demia”, acrescentou.
Ontem, os representantes perma-
nentes no Conselho da UE deram luz
verde à constituição do SURE, o pro-
grama desenhado pela Comissão
para salvaguardar os postos de tra-
balho e preservar a capacidade pro-
dutiva apesar da paralisação provo-
cada pelo conÆnamento. Trata-se de
um instrumento temporário, que
permitirá aos Estados-membros
obter empréstimos em condições
favoráveis para cobrir as despesas
dos regimes excepcionais aprovados
por causa da pandemia, como, por
exemplo, o layoff simpliÆcado.
O regulamento deste instrumento
será formalmente adoptado na pró-
xima semana. Prevê que a Comissão
aceda aos mercados para obter fun-
dos em nome da UE, com os emprés-
timos a serem caucionados pelo
orçamento comunitário e pelas
garantias dadas pelos Estados-mem-
bros em função do seu Rendimento
OLIVIER HOSLET/EPA
Nacional Bruto, até um montante de
25 mil milhões de euros. O SURE
tem uma duração prevista de dois
anos, e só Æcará operacional depois
de avançadas as garantias — a expec-
tativa é que isso possa acontecer
ainda em Junho.
Portugal candidato ao SURE
Segundo o secretário de Estado
Adjunto e das Finanças, Ricardo
Mourinho Félix, assim que o progra-
ma Æcar disponível, Portugal irá sub-
meter uma candidatura para cobrir
todas as despesas elegíveis assumi-
das pelo Governo para a protecção
do emprego: não só aquelas que já
estão em curso, como o layoff simpli-
Æcado, mas também as que serão
anunciadas para a fase de recupera-
ção da economia.
Mas além dos programas de emer-
gência, os ministros do Eurogrupo
também falaram sobre as “priorida-
des estratégicas” para o relançamen-
to da economia europeia — uma
discussão ainda “preliminar” e
“exploratória”. Segundo Centeno,
apesar de haver vários matizes nas
posições dos diferentes países rela-
tivamente às características, ao
Ænanciamento e ao valor global do
futuro fundo de recuperação, existe
um “largo consenso” sobre a forma
como esse dinheiro deve ser aplica-
do, nomeadamente “na aceleração
da modernização das economias,
com a dupla transição verde e digi-
tal”, e na “preservação da integrida-
de das cadeias de abastecimento”.
Em relação ao fundo de recupera-
ção, a posição do Eurogrupo é que
deve ser um instrumento temporá-
rio, direccionado e que assegure a
solidariedade com os Estados mais
afectados pela pandemia. Para o
Governo, “o fundo deve ter uma
dimensão suÆcientemente grande
para fazer face aos desaÆos, ser adi-
cional face ao quadro Ænanceiro plu-
rianual, com uma estrutura Ænancei-
ra baseada eminentemente em sub-
venções e não em dívida, e garantir
a integridade do mercado interno,
priorizando os sectores mais afecta-
dos”, aÆrmou Mourinho Félix.
A Comissão vai avançar no próxi-
mo dia 27 de Maio a sua proposta de
revisão do próximo quadro Ænan-
ceiro plurianual para 2021-27 e tam-
bém o desenho do que será futuro
instrumento/fundo de recuperação.
“Trata-se de um exercício comple-
xo, e o debate no Eurogrupo reve-
lou-se muito útil”, comentou o
comissário europeu da Economia,
Paolo Gentiloni.
rsiza@publico.pt
 Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 11

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12 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
Bastaram 11 dias
para mostrar
força do choque
na economia
Economia portuguesa caiu no primeiro
trimestre mais do que o previsto por
Comissão Europeia. Previsões de
contracção do PIB em torno de 7% este
ano começam a parecer optimistas
Sérgio Aníbal
N
um cenário de grande incer-
teza, em que quem faz previ-
sões económicas está a ser
forçado a reavaliar constan-
temente as suas estimativas,
os primeiros dados oÆciais
para o PIB português ontem conheci-
dos acabaram por ser mais negativos
do que aquilo que foi projectado
como cenário base pela Comissão
Europeia na semana passada. E, des-
te modo, mesmo a contracção da
economia portuguesa de 6,8% no
total deste ano, antecipada por Bru-
xelas, pode começar a ser vista como
demasiado optimista.
Até agora, a Comissão Europeia foi
uma das poucas instituições a avan-
çar, para as diversas economias da
zona euro, com projecções, não só
relativas à variação do PIB no total
deste ano, como também para cada
um dos trimestres. E, no caso de Por-
tugal, o cenário traçado por Bruxelas
apontava para que, em termos
anuais, a contracção do PIB fosse de
6,8% — sendo que, no primeiro tri-
mestre do ano, a economia registaria
uma quebra de 1,8% face ao trimestre
imediatamente anterior e uma dimi-
nuição de 0,3% face ao homólogo.
Estes números passaram a estar,
desde ontem, e apenas nove dias
depois de terem sido apresentados,
bastante desactualizados. A estimati-
va rápida do Instituto Nacional de
Estatística (INE) para os valores do
PIB do primeiro trimestre veio revelar
que a economia se contraiu 3,9% em
cadeia, colocando a variação homó-
loga negativa em 2,4%, resultados
consideravelmente mais negativos.
As estimativas para o primeiro tri-
mestre feitas pela Comissão para as
principais economias europeias até
bateram certo com a realidade — Bru-
xelas antecipou uma queda de 5,7%
na França, de 5,1% em Itália, de 5%
em Espanha e de 1,7% na Alemanha,
e os resultados oÆciais foram descidas
de 5,8%, 4,7%, 5,2% e 2,2%, respecti-
vamente — mas para Portugal as pre-
visões para os primeiros três meses
falharam, pela negativa.
Embora a incerteza ainda seja mui-
ta — e a surpresa negativa do primeiro
trimestre possa vir a ser compensada
por surpresas positivas nos trimestres
seguintes —, o que é certo é que apon-
tar para uma contracção da economia
portuguesa de “apenas” 6,8% para o
total do presente ano, como fez a
Comissão Europeia, tornou-se agora
mais arriscado.
O mesmo tipo de conclusão está a
ser retirado noutras entidades que
produzem previsões económicas. O
gabinete de estudos do BPI, que avan-
çou com uma previsão de variação
negativa do PIB de 8,1% no total do
ano, também estava a contar com um
PIB português abalado pela pandemia Lojas de rua até 400m2 vão
Variação do PIB (em %) poder abrir portas
O Conselho de Ministros aprovou
4 ontem um conjunto de medidas
3 2,6% com vista à segunda fase de
Variação homóloga desconfinamento, que terá início
2
a 18 de Maio. Entre elas, a abertura
1 1,1%
das lojas até 400m2, desde que
0 não estejam inseridas num centro
-1 Variação em cadeia comercial.
-2
-2,4% resultado menos negativo no primei-
-3
ro trimestre: uma contracção de 2%
-4 em cadeia (e homóloga de 0,4%).
-5
-3,9% Perante a informação do INE, os
2007 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2020 analistas do BPI reconheceram, em
Choques diferentes nas economias europeias
Variação em cadeia do PIB no 1.º trimestre de 2020 (em %)
nota ontem publicada, que, embora
os factores de incerteza ainda sejam
muitos, podem ter de vir a rever a sua
previsão para o total do ano. “Os
Bulgária
Roménia
Finlândia
0,3%
0,3%
0,1%
dados agora publicados sugerem que
o ritmo de contracção no conjunto do
ano poderá superar a nossa actual
Lituânia
Suécia
Hungria
-0,2%
-0,3%
-0,4%
estimativa de -8,1%”, escrevem,
salientando em particular a forte per-
da que se deverá ter veriÆcado na
actividade económica a partir de 20
Polónia -0,5% de Março (após a decisão de encerra-
Chipre -1,3% mento de escolas e universidades).
Países Baixos -1,7% Nesses 11 dias até ao Æm do mês, deci-
sivos para o resultado negativo do
Dinamarca -1,9%
Alemanha -2,2%
primeiro trimestre, o valor do PIB ter-
se-á contraído 25%, estimam.
Áustria -2,5% De facto, não foram necessários
Letónia -2,9%
União Europeia -3,3%
mais do que esses 11 dias de conÆna-
mento restrito para que o primeiro
República Checa -3,6% trimestre deste ano conquistasse um
Zona euro -3,8% lugar de destaque na lista dos momen-
Bélgica -3,9% tos mais negativos da história da eco-
PORTUGAL -3,9%
nomia portuguesa. Olhando para as
séries longas do PIB trimestral dispo-
Itália -4,7%
nibilizadas pelo INE e Banco de Por-
Espanha -5,2% tugal (e nas quais é possível aceder a
Eslováquia -5,4% dados que remontam até 1977), a con-
França -5,8% tracção de 3,9% no PIB deste trimes-
0 tre é a mais forte de que há registo.
Fonte: INE; Eurostat PÚBLICO O INE detalha que a quebra do PIB
de 3,9% tem um contributo de dois
PAULO PIMENTA
pontos percentuais da procura exter-
na líquida (as exportações caíram
mais do que as importações) e um
contributo de 1,9 pontos da procura
interna, num cenário de quebra do
consumo e do investimento.
Mas os recordes negativos, tudo
indica, não deverão Æcar por aqui. No
segundo trimestre deste ano, ainda a
decorrer, a variação do PIB, tanto em
cadeia como homóloga, deverá ter
sido consideravelmente mais negati-
va, uma vez que se acumulam já as
perdas sentidas no primeiro trimes-
tre. E que, em vez dos 11 dias de con-
Ænamento registados no primeiro
trimestre, a economia passou em
Abril e Maio bastante mais tempo
limitada pelas restrições impostas aos
movimentos, não sendo ainda claro
como é que irá decorrer o desconÆ#
namento. A Comissão, por exemplo,
prevê no seu cenário base (de con-
tracção anual de 6,8%) que, no segun-
do trimestre do ano, a queda do PIB
seja, face aos três meses imediata-
Economia portuguesa contraiu-se 3,9% em cadeia

Teletrabalho a partir de Junho
implica acordo com empresa
A partir de 1 de Junho, o
teletrabalho deixa de ser
obrigatório e serão retomadas as
regras laborais normais, havendo
a possibilidade de os
trabalhadores e as empresas
acordarem entre si a manutenção
do regime de teletrabalho.
mente anteriores, de 11,8% e que a
variação homóloga negativa atinja os
12,5%. O BPI, por seu lado, está para
já a trabalhar com um cenário em
que, no segundo trimestre, a variação
homóloga atinge um valor próximo
de 15%, podendo no entanto ter de vir
a reavaliar esse valor.
O Governo optou, no Programa de
Estabilidade que divulgou esta sema-
na, por não apresentar novas previ-
sões para a economia, limitando-se a
estimar que, por cada 30 dias úteis de
conÆnamento, a variação do PIB de
2020 sai penalizada em 6,5 pontos
percentuais.
Quando se olha para os resultados
económicos registados no primeiro
trimestre, é possível detectar uma
divergência signiÆcativa, por exem-
No segundo
trimestre do ano, a
variação do PIB, em
cadeia e homóloga,
deverá ter sido
consideravelmente
mais negativa
plo, entre centro e periferia, curiosa-
mente o mesmo tipo de divisão geo-
gráÆca que tem marcado os debates
sobre a forma como a Europa deve
responder à crise.
De acordo com os dados ontem
publicados pelo Eurostat, o PIB da
zona euro registou nos primeiros três
meses do ano uma variação negativa
de 3,8%. Itália, Espanha e França des-
tacam-se pela negativa, com contrac-
ções trimestrais do PIB próximas de
5%. Depois, entre as maiores econo-
mias da UE, Alemanha e Holanda são
as que registam um efeito mais mode-
rado no PIB. Portugal Æca, para já, a
meio caminho entre estes dois grupos
de países, mas mais próximo dos seus
parceiros periféricos.
Na altura em que tiverem de deba-
ter que plano de recuperação deve a
Europa lançar e como é que ele será
Ænanciado, os responsáveis de cada
país, seja na periferia, no centro, no
leste ou a norte, vão certamente levar
em conta o estado em que se encon-
tra a sua economia.
sergio.anibal@publico.pt
-10%
Valor dos novos créditos ao
consumo caiu em Março para
551,6 milhões de euros, menos
10,6% face ao homólogo de 2019
Há sinais de retoma, mas “muito tímidos”
Alguns indicadores estão a recuperar
C
om as estatísticas oficiais
do PIB ainda a darem conta
daquilo que aconteceu à
economia nos primeiros
dias de confinamento, as
esperanças começam a virar-se
para aquilo que poderá estar a
acontecer agora que se entrou
na fase de desconfinamento. Há
alguns sinais de retoma, no
entanto, são bastante tímidos e
ainda insuficientes para retirar
conclusões quanto à velocidade
de saída crise.
Nas suas últimas intervenções
públicas, talvez numa tentativa
de melhorar os níveis de
confiança dos agentes
económicos, Mário Centeno tem
feito sempre referência a um
indicador: os pagamentos feitos
pelos portugueses com os seus
cartões multibanco. Este
indicador passou, durante esta
crise, a ser divulgado com uma
periodicidade semanal pela SIBS
— a entidade que gere a rede de
terminais e caixas automáticas
com a marca Multibanco — e
constitui, pela rapidez com que
é divulgado, uma das poucas
informações disponíveis sobre
aquilo que pode estar a
acontecer quase em tempo real
ao consumo. Depois de na
semana entre 23 e 29 de Março
as compras físicas com cartão
multibanco terem atingido um
mínimo (correspondendo a 44%
das compras registadas nas
semanas antes do primeiro caso
de coronavírus em Portugal),
tem-se assistido a uma
recuperação progressiva deste
indicador, que na semana de 4 a
10 de Maio (aquela em que
Portugal saiu do estado de
emergência), já registou um
volume de compras equivalente
a 69% da média anterior à crise.
O que isto revela é que, no
que diz respeito às compras por
multibanco, ainda se está longe
de um regresso à normalidade,
mas o momento mais negativo
aconteceu no final de Março e
desde aí a tendência é de
Inspecções automóveis e aulas
de condução retomadas
A reabertura dos Centros de
Inspecção Técnica de Veículos
é uma das medidas previstas
para a segunda fase de
desconfinamento, que se inicia
a 18 de Maio. A partir dessa data,
também será retomado o ensino
teórico e prático da condução.
melhoria. Será suficiente para
pensar que uma retoma está já
em curso? E tirar conclusões
sobre o tipo de retoma que
vamos ter, uma rápida em forma
de “V”, ou uma bem mais lenta,
quase em forma de “L”?
João Borges Assunção,
professor na Universidade
Católica e coordenador do
NECER, centro que publica
previsões para a economia
portuguesa, é muito céptico em
relação à possibilidade de fazer
leituras conclusivas sobre o
andamento da economia com
base em dados tão preliminares.
Principalmente no meio de uma
crise que é diferente das outras.
“As compras com multibanco
nunca foram um indicador fiável
para estimar o PIB. E, nesta fase
em particular, é muito difícil
estabelecer qual é a correlação
entre os indicadores e a
verdadeira evolução da
economia”, afirma, dizendo ser
“demasiado cedo” para falar já
de uma recuperação.
Paula Carvalho, economista
chefe do BPI, reconhece que nos
indicadores que acompanha “e
que medem como a actividade
está a evoluir em tempo real, já
há alguns sinais visíveis, embora
muito tímidos, de recuperação
ligeira pós período de
confinamento”. Para além das
compras com multibanco,
destaca ainda o consumo diário
de electricidade, que aumentou
esta semana face à semana de 4
a 18 de Maio, mas abaixo da
média diária de Abril, e o
número de viagens diárias de
comboios realizadas. Ainda
assim, assinala o grande grau de
incerteza ainda existente e
afirma que “as evoluções até
agora observadas nestes
indicadores não permitem ainda
tirar conclusões consistentes
quanto à velocidade da retoma,
pois os dados apenas dizem
respeito à primeira semana de
desconfinamento, e o processo
tende a ser muito gradual”. S.A.
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 13
“Procura avassaladora” leva a
duplicar incentivos às empresas
Luísa Pinto
O
s dois avisos de investimento
lançados pelo Governo para
incentivar o sistema empre-
sarial e cientíÆco a avançar
para o desenvolvimento e
produção de bens e equipa-
mentos de protecção e combate à
pandemia tiveram uma “procura
avassaladora”.
Com uma dotação de 69 milhões de
euros (quase 47 milhões para o Siste-
ma de Inovação Empresarial e cerca
de 23 milhões para o Sistema Investi-
gação e Desenvolvimento Tecnológi-
co), as intenções de investimento
superaram a oferta em mais de 20
vezes. Só no sistema de inovação
empresarial já surgiram 824 candida-
turas e uma intenção de investimento
de 584 milhões de euros. Resultado:
“Estamos a pensar reforçar o aviso de
inovação produtiva para 100 milhões,
para já”, avançou ao PÚBLICO a minis-
tra da Coesão Territorial, Ana Abru-
nhosa.
Os dois avisos foram lançados a 20
de Abril com o duplo objectivo de
evitar que algumas empresas caíssem
em layoff para poderem reestruturar
as suas operações de forma a produ-
zir os bens que se tornaram de pri-
meira necessidade, e de forma a
incentivar os centros de investigação
e empresas a desenvolverem e a pro-
duzirem equipamentos de segurança,
necessários também para a actual
fase de desconÆnamento.
“Acreditávamos que podíamos até
estar a dar uma oportunidade para as
empresas se especializarem e encon-
trarem aqui nichos de mercado numa
área que, infelizmente, vai ter procura
durante os próximos tempos em qual-
quer parte do globo. Mas não estáva-
mos à espera de ser inundados de
candidaturas”, admitiu a ministra.
Os apoios atingem 80% das despe-
sas elegíveis a fundo perdido, tendo
o Governo acrescentado um incenti-
vo de 15% a projectos cuja execução
se concretize no espaço de dois
meses, elevando o nível de apoio para
os 95%. De acordo com Ana Abrunho-
Banca recebeu 300 mil pedidos
de moratórias de créditos
Os bancos já receberam mais de
300 mil pedidos de moratórias no
pagamento de créditos, avançou
ontem a Associação Portuguesa
de Bancos. Correspondem a
créditos superiores a 25 mil
milhões de euros, ou 10% do total
do crédito concedido.
sa, no sistema de inovação empresa-
rial, já foram aprovados 78 projectos,
que correspondem a um investimen-
to de 42 milhões de euros — e a dota-
ção do aviso é de 46 milhões.
No caso do aviso destinado ao sis-
tema cientíÆco e tecnológico, já foram
submetidas 40 candidaturas, com
uma intenção de investimento de 12,4
milhões de euros (este aviso tem uma
dotação de 23 milhões de euros), mas
ainda nenhuma foi aprovada. “Vamos
aprovar candidaturas em breve e o
aviso está longe de estar esgotado,
pelo que se vai manter em aberto”,
disse Abrunhosa.
O mesmo não acontece com os avi-
sos do Compete, e do Programa Ope-
racional Norte, que já fecharam, e
com o do Centro que deve ser o pró-
“Não estávamos
à espera de ser
inundados de
candidaturas”,
admitiu
a ministra Ana
Abrunhosa
ximo a fechar. As candidaturas no
Alentejo e Algarve manter-se-ão aber-
tas até ao dia 29 de Maio, como inicial-
mente previsto.
A ministra enalteceu o espírito de
iniciativa e de resiliência dos empre-
sários portugueses que “estão atentos
e, mesmo em tempos de incerteza,
não cruzam os braços e são os primei-
ros a arriscar”. “Mesmo que estes
incentivos apoiem a produção a 80%
é indesmentível que os empresários
estão a correr riscos”, recorda.
Este Ænanciamento destina-se a
projectos que terão de ser concluídos
no prazo de seis meses, devendo ter
início a partir de 1 de Fevereiro de
2020. A urgência com que foi lançado
também está reÇectida nos prazos de
aprovação, cuja decisão deve ser dada
em apenas dez dias úteis. “Tenho a
sensação de que se conseguiu fazer
em meses aquilo que normalmente
demora anos a fazer”, concluiu, a
ministra, em jeito de desabafo.
luisa.pinto@publico.pt
14 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
Os restaurantes
do futuro estão
prontos a abrir
portas
Ainda há alguma apreensão, mas os
restaurantes, dos maiores aos pequeninos,
adaptaram-se para, dois meses depois,
voltar a receber clientes
Alexandra Prado Coelho
e José Augusto Moreira
M
áscaras, distância de dois
metros entre pessoas,
limpeza constante. Tudo
recomeça na próxima
semana. Fomos ver como
será numa tasca de bair-
ro, num restaurante médio, num
grande e com mais meios e num
clássico de Matosinhos.
O Cardoso do Estrela
de Ouro
No bairro da Graça, em Lisboa, as
portas da popular tasca O Cardoso
do Estrela de Ouro têm estado fecha-
das. Fernando Cardoso optou por
não fazer take-away durante o esta-
do de emergência. “Para servir qua-
tro ou cinco refeições, não adianta-
va pôr a funcionar. ”
Agora, a poucos dias da reabertura,
há já preparativos dentro do restau-
rante junto à entrada do bairro ope-
rário Estrela d’Ouro, mas, ao telefone,
a voz do senhor Cardoso surge desa-
nimada. Dos 24 lugares que costuma
ter, poderá usar apenas “dez ou 11”.
As regras de distanciamento entre
clientes são complicadas num restau-
rante que se assemelha a um corre-
dor, com o balcão à esquerda de
quem entra, as mesas alinhadas à
direita, junto à parede de azulejos,
e os clientes muitas vezes a senta-
rem-se lado a lado com outros. É
isso, para além da muito apreciada
comida caseira — e dos afamados
caracóis —, que faz o encanto de uma
tasca de bairro. E é precisamente
isso que mais difícil será conseguir.
Não vai funcionar com reservas
nem com turnos, espera que os
clientes habituais, “que sempre vie-
ram de sítios mais longe” para aqui
comer, compreendam a situação e
não se importem de esperar no
exterior até haver lugar. Está a pre-
ver “uma quebra de 60 a 70%” na
facturação. O que, a somar-se ao
que já perdeu nos dois meses de
encerramento — “uns 15 mil euros”
—, explica o compreensível desâni-
mo na voz.
Apesar disso, está a preparar tudo
para o regresso ao trabalho. “Vamos
usar máscara e temos o desinfectan-
te à porta”, explica. “Vamos ver o
que vai dar, as pessoas ainda têm
muito medo, principalmente as que
têm mais idade.” Conta também
com o bom senso de todos. “Os
clientes sabem o que é devido fazer
quando entram. Claro que depois
não podem comer com máscara.”
Mas quando entrarem ou circula-
rem no espaço, devem mantê-la. “E,
consoante se levantam, limpamos
sempre a mesa e as cadeiras.”
Suspira. “Vamos ver o que vai dar.
Isto é uma coisa que nunca me passou
pela cabeça em mais de 40 anos de
comerciante.”
Estrela da Bica
Rita Borges pega numa métrica e
mede o espaço entre duas mesas. “Se
sentar quatro pessoas aqui, já não
posso sentar outras ali”, demonstra,
exempliÆcando a ginástica que tem
de fazer para conseguir garantir pelo
menos 12 lugares sentados em vez dos
46 que o restaurante Estrela da Bica,
junto ao Elevador da Bica, em Lisboa,
costuma ter.
Rita e Marta Figueiredo, as duas
proprietárias, fecharam as portas
por causa da pandemia com estados
de espírito muito diferentes. “A Mar-
ta achava que ia ser horrível e que
íamos cair na miséria, e eu achava
‘daqui a 15 dias, abrimos e vai ser
óptimo e em Junho fazemos os
arraiais’.” A meio dos dois meses de
encerramento, inverteram os esta-
dos de espírito, mas foram perce-
bendo que era preciso reagir.
A pausa forçada acabou por lhes
dar tempo para concretizar projec-
tos que já tinham mas para os quais
nunca parecia ser o momento certo.
Um deles acaba de nascer e estará
disponível assim que reabrirem por-
tas, no dia 20: é a Mercearia da Estre-
la da Bica, onde vendem pão caseiro
de fermentação lenta (que já tinha
um sucesso tão grande, que as levou
a abrir a padaria Terrapão, em
Arroios) com os brioches e os cookies
de chocolate, e ainda o café da Brava
Coèee Roasters.
A paragem inspirou-as também a
explorar a hipótese do take-away (às
sextas e sábados) com menus diferen-
tes todas as semanas, que podem ir
desde os petiscos pensados para o 25
de Abril até uma feijoada à brasileira
vegan ou uma refeição de taquitos.
Mas não esqueceram que a Estrela
é, antes de mais, o espaço do restau-
rante e por isso já têm um dispensador
de álcool à porta, uma barreira para
travar entradas mais repentinas, e
todas as medidas de segurança e higie-
ne aconselhadas pela Direcção-Geral
de Saúde. O grande objectivo agora é
que, mesmo com toda a higienização,
a Estrela não perca o ambiente des-
contraído e de festa, que é, na verda-
de, a sua principal razão de ser.
JNcQUOI Ásia
Quando decidiram fechar, a 13 de
Março, os restaurantes do grupo
JNcQUOI (o Avenida e o Ásia, ambos
em Lisboa) lançaram o serviço
JNcQUOI at Home, com entrega pró-
pria ao domicílio, refeições emba-
ladas em vácuo, “com todas as
garantias de segurança alimentar”,
e instruções para uma Ænalização
muito simples em casa.
PAULO PIMENTA
A experiência correu bem, permi-
te manter o contacto com os clientes
e é para continuar. Mas por estes
dias, o foco dos responsáveis do
JNcQUOI Ásia é a reabertura do dia
18. O espaço é enorme, pelo que será
muito mais fácil do que noutros
garantir a distância de dois metros
entre clientes, explica o director de
operações, Ricardo Felgueiras.
Dos 287 lugares que tinham, pode-
rão utilizar cerca de 130. Preferiram
manter todas as mesas na sala, mas
acabaram com os lugares aos bal-
cões, quer o do sushi quer o do bar,
precisamente por ser impossível
garantir a distância de dois metros.
A preocupação principal, salienta
Ricardo Felgueiras, é fazer com que
os clientes se sintam seguros. Para
isso, há uma pessoa a abrir a porta
do restaurante, evitando a necessi-
dade de tocar em puxadores ou
outras superfícies. Quem entrar terá
um tapete para desinfectar os sapa-
tos e será convidado a higienizar as
mãos com álcool-gel. Tal como todos
os funcionários, os clientes deverão
usar máscaras — se não tiverem, o
restaurante disponibiliza uma — sem-
pre que circularem no espaço.
Não haverá nada em cima das
mesas, que serão limpas, assim como
as cadeiras, à vista do cliente. Só
depois, serão trazidos pratos, copos
e talheres, colocados dentro de uma
bolsa de papel. O menu poderá ser

consultado por QRCode, ou, para
quem o desejar, em versão clássica,
mas plastiÆcada e que é limpa após
cada utilização. O pagamento será
preferencialmente por QRCode ou
MBWay. As casas de banho serão lim-
pas sempre que forem utilizadas.
Na cozinha, o chef executivo
Mário Esteves fez alterações na car-
ta, tentando, sempre que possível,
substituir por alternativas nacionais
produtos que eram importados.
“Estamos a trabalhar com os produ-
tores nossos parceiros para passar-
mos a produzir algumas coisas em
Portugal”, conta.
Gaveto
Depois do comportamento exemplar
dos portugueses durante o período
de conÆnamento, João Carlos Pinhei-
ro não espera outra coisa que não
seja a postura responsável e de bom
senso. “As pessoas foram exemplares
nas idas aos supermercados ou às
farmácias, e acho que, quando che-
gar a nossa vez, isso também vai
acontecer”, conÆa o representante
da segunda geração à frente do Gave-
to, o clássico restaurante de Matosi-
nhos, que está preparado para, a
partir de segunda-feira, começar a
receber a clientela tradicional que ao
longo de décadas tem enchido a
casa. “Começámos logo a ter marca-
ções quando se soube a data para a
Os restaurantes
preparam-se
para abrir mas
para isso
acontecer têm
de pôr em prática
um conjunto
de regras
VERA MOUTINHO
reabertura”, avança o gerente.
A sala está reduzida a cerca de um
terço dos habituais 70 lugares, o pes-
soal tem recebido formação intensi-
va e foi até desenvolvida uma aplica-
ção para que o cliente aceda à carta
a partir do seu smartphone. “É claro
que também vamos ter algumas
cópias descartáveis, mas vamos pro-
curar incentivar os meios electróni-
cos e a marcação prévia.”
Com a sala limitada a um máximo
de 25 lugares, vai ser necessária tam-
bém uma adaptação constante. “Se
é uma família ou um grupo que vem
no mesmo carro, não vamos ser nós
aqui a separá-los”, mas as mesas
estão preparadas de forma indivi-
dual, sendo desinfectadas, tal como
as cadeiras, a cada utilização.
Todo o serviço é feito com luvas e
máscaras e as mesas estarão apenas
cobertas, sendo depois colocados
toalhetes e guardanapos (em algo-
dão) para cada cliente. Nas instala-
ções sanitárias, deverá estar só uma
pessoa de cada vez.
Outra mudança substancial é no
serviço. O Gaveto sempre seguiu o
modelo tradicional, com tacho e tra-
vessas à mesa, mas agora virá tudo
empratado da cozinha. O serviço ao
balcão, do agrado de tantos dos
clientes habituais, vai desaparecer.
O take-away, uma experiência com
resultados positivos durante o con-
Ænamento, “veio para Æcar”.
Testes serológicos: a balança
entre o risco e o benefício
Opinião
Luís Graça e Ruy M. Ribeiro
N
as últimas semanas, tem
havido um crescente
interesse na realização de
testes serológicos para
estimar a proporção de
pessoas que contactaram
com o SARS-CoV-2 sem o saberem.
Estes testes fazem parte da primeira
linha da luta contra a covid-19, mas
a sua utilização deve ser criteriosa.
A aplicação de testes serológicos
numa população com
previsivelmente poucas pessoas
que já foram infetadas irá produzir
resultados a que chamamos falsos
positivos.
Esta é uma questão muito bem
conhecida na aplicação de testes de
rastreio. E é um assunto em que a
ciência colide com o senso comum:
pensamos que podemos conÆar
num teste com uma sensibilidade
de 99%, isto é, em 100 testes
positivos, um caso é um falso
positivo que nunca foi infetado.
Infelizmente, um teste desses
utilizado numa população com
poucos casos de infeção será muito
pouco conÆável. Isto porque nestas
circunstâncias espera-se que a
maioria dos casos positivos seja
falsos positivos.
É mais fácil de compreender este
aparente paradoxo com um
exemplo. Esta semana, foi
anunciado que se realizaram cerca
de 1300 testes numa região do
Algarve, que resultaram em cerca
de 30 casos positivos. Foi noticiado
que, apesar de esta região ter
apenas 0,2% de casos de covid-19
diagnosticados, cerca de 2% da
população já tinha sido infetada.
Será que esta conclusão é válida?
Vejamos.
Se um teste tem uma
sensibilidade de 98%-99%, isto
signiÆca que se tivessem sido
testadas as mesmas 1300 pessoas o
ano passado, antes da pandemia,
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 15
quando todos seriam negativos,
ainda assim 1% a 2% dos testes
seriam positivos (falsos positivos).
Isto é, entre 13 e 26 pessoas teriam
testes positivos sem nunca terem
sido infetadas. O valor que foi
obtido é próximo do valor esperado
de falsos positivos — logo, é possível
que muitas dessas pessoas nunca
tenham sido de facto infetadas.
Estes resultados podem ser
contraproducentes ao dar uma
sensação de segurança
(imunidade), que não é real.
Contudo, o mesmo teste pode ser
muito útil se utilizado numa
população onde se espera uma alta
taxa de exposição ao vírus — por
exemplo, entre proÆssionais de
saúde. Nessas circunstâncias, o
número de testes positivos será
muito superior ao valor esperado
de falsos positivos, e nesta
população a maior parte destes
casos serão verdadeiros positivos.
Deste modo, o teste poderá ajudar a
mostrar quem são os indivíduos
que já estiveram infetados mesmo
não tendo tido qualquer sintoma.
Com efeito, a utilidade dos
resultados do teste não depende
apenas da sensibilidade e
especiÆcidade (proporção de falsos
positivos e falsos negativos), mas
também do seu valor preditivo. Este
valor preditivo depende da
frequência de casos na população
em estudo. Por esta razão, é normal
que o mesmo teste possa ser muito
útil para diagnóstico de casos
suspeitos (onde a frequência de
positivos é alta), mas pouco
informativo para rastreio da
população geral, especialmente em
regiões com regras de
conÆnamento obrigatório (onde a
frequência de casos positivos será
baixa). Para sabermos se a
frequência de casos é realmente
pequena, é importante as
autoridades de saúde efectuarem
rastreios aleatórios, mas se os
resultados forem uma proporção
de positivos baixa, é preciso
cuidado na interpretação de
resultados positivos individuais.
Por exemplo, será que essa mesma
pessoa já teve um teste de
diagnóstico positivo?
Em geral, a utilização de testes
serológicos em populações com
baixa taxa de infeção esperada
pode ser indesejável: empresas ou
autarquias que realizem estes testes
podem Æcar com a ideia de que há
mais casos de pessoas que já
contactaram com o vírus do que a
realidade. Mais grave é a
possibilidade de algumas pessoas,
ao saberem que o teste foi positivo,
adotarem comportamentos de
risco decorrentes de uma falsa
sensação de segurança.
Mais ainda, no caso de uma
pessoa que testou positivo, sendo
falso positivo, venha a ser infetada,
poder-se-á induzir a ideia de que as
pessoas que já foram infetadas
pelos vírus SARS-CoV-2 (porque
apresentam anticorpos contra o
vírus) podem contrair novamente
infeção.
Como conclusão, apesar de estes
testes serem um importante
recurso para acompanhar a
evolução da luta contra a covid-19, a
sua utilização deve ser
devidamente planeada. O balanço
entre o risco e o benefício na
utilização destes testes em
populações não expostas, como
acontece na generalidade das
empresas, deve ser tomado em
conta. Nestas situações, é
expectável um benefício baixo e um
risco elevado se o teste potenciar
uma falsa sensação de segurança.
Professor de imunologia da
Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa e
investigador do Instituto de
Medicina Molecular João Lobo
Antunes
Professor de bioestatística da
Faculdade de Medicina da
Universidade de Lisboa
16 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
Bolsonaro
perde o segundo
ministro da
Saúde e o Brasil
Äca ainda mais
perdido
na pandemia
A pressão do Presidente por causa
da hidroxicloroquina levou à demissão
de Nelson Teich, que não completou um
mês no cargo. Esperam-se tempos de
maior desordem na resposta à covid-19
João Ruela Ribeiro
O
s brasileiros foram brinda-
dos ontem com mais um
episódio de uma novela que
parece não ter Æm. Antes de
completar um mês no cargo,
o ministro da Saúde, Nelson
Teich, apresentou a demissão, em
desacordo com o Presidente, Jair Bol-
sonaro, dando mais uma machadada
no combate à pandemia da covid-19
no país, que é caso único no planeta,
com a saída de dois ministros em ple-
na crise sanitária.
Não durou mais que 15 minutos
a reunião matutina entre Teich e
Bolsonaro no Palácio do Planalto,
em Brasília, em que Æcou assente a
saída do médico oncologista ao Æm
de 29 dias como ministro da Saúde,
mostrando que pouco havia a sal-
var de uma relação que se degra-
dou em poucos dias. Assim que
saiu do encontro, Teich disse ser o
“pior dia” da sua vida, de acordo
com a CNN Brasil.
A nota do Ministério da Saúde que
anunciava a demissão não fornecia
qualquer justiÆcação para a demissão
de Teich e, na conferência de impren-
sa que concedeu durante a tarde, o
próprio nada disse sobre as razões
que o levaram a sair. Mas os episódios
de confronto com Bolsonaro acumu-
lavam-se. O principal ponto de dis-
córdia foi a pressão crescente do
Presidente para que a prescrição da
hidroxicloroquina para os pacientes
infectados com o novo coronavírus
fosse ampliada.
Este medicamento usado para tra-
tar a malária e algumas doenças
auto-imunes tem em Bolsonaro um
dos seus grandes adeptos, mas tam-
bém o Presidente dos EUA, Donald
Trump, e, ironicamente, o Presiden-
te venezuelano, Nicolás Maduro, no
pólo ideológico oposto. O sucesso do
Bolsonaro teve vários episódios
de confronto com Teich por
causa da hidroxicloroquina
tratamento em alguns casos de pes-
soas infectadas com a covid-19 é visto
como mais do que suÆciente para
que Bolsonaro defenda a alteração
do protocolo referente à hidroxiclo-
roquina, apesar de a generalidade
dos estudos já realizados apontar
dúvidas quanto à sua eÆcácia e até a
possibilidade de potenciar ou causar
outros problemas de saúde.
A posição actual do Ministério da
Saúde referente à hidroxicloroquina
determina que “as evidências iden-
tiÆcadas ainda são incipientes para
deÆnir uma recomendação”. Mas
no mês passado o Conselho Federal
de Medicina emitiu uma nota em
que permitia a prescrição do trata-
mento se médico e paciente estive-
rem de acordo. O organismo admi-
tiu a falta de estudos que compro-
vem a eÆcácia, mas decidiu
autorizar a sua utilização à luz da
emergência criada pela covid-19.
A demissão abrupta de Teich mos-
tra que a convicção de que este tra-
tamento deve ser prescrito aos
doentes da covid-19, mesmo que
não exista suporte cientíÆco, passou
a ser requisito obrigatório para ser
ministro da Saúde.
Humilhações
A semana do agora ex-ministro já
tinha começado de forma humilhan-
te, quando foi surpreendido com
uma lista de estabelecimentos e acti-
vidades comerciais que deveriam ser
retomados, como cabeleireiros e
ginásios, para a qual não tinha sido
consultado. Teich já tinha pedido
cautelas quanto ao levantamento das
medidas de restrição impostas na
maioria das cidades, contrariando os
apelos diários de Bolsonaro que quer
a reabertura da economia.
OMS alerta para segunda vaga
de coronavírus na Europa
A Organização Mundial da Saúde
(OMS) avisou que a Europa deve
preparar-se para uma segunda
vaga do novo coronavírus no
Outono. “Agora é altura de se
prepararem, não de celebrarem”,
avisou Hans Kluge aos países que
estão a aliviar o desconfinamento.
Durante a tarde, Teich fez uma
declaração curta e morna em que se
limitou a agradecer ao Presidente o
convite, dizendo que acreditava que
podia “ajudar o Brasil e as pessoas”.
Sem explicar por que saiu de forma
tão prematura durante uma das pio-
res crises de saúde pública da histó-
ria recente, Teich deixou o cargo
sem nunca sair da irrelevância a que
pareceu votado desde o primeiro
dia. “Ele já entrou caído”, dizia à
Folha de São Paulo o presidente da
Sociedade Brasileira de Clínica
Médica, Antônio Carlos Lopes.
Para o lugar de Teich foi promovi-
do, de forma interina, o secretário
executivo Eduardo Pazuello, um
general que tem o apoio da ala militar
do Governo. Mas o favoritismo recai
sobre a médica Nise Yamaguchi, uma
defensora da prescrição de hidroxi-
cloroquina, que foi recebida por Bol-
sonaro minutos antes da demissão de
Teich. O nome de Yamaguchi já tinha

190
milhões de mortes é quanto o
novo coronavírus pode fazer em
África, diz um novo estudo da
Organização Mundial da Saúde
JOEDSON ALVES/EPA
sido ponderado depois da demissão
de Luiz Henrique Mandetta e agora
volta a ganhar força.
A instabilidade política que parece
não dar tréguas no Brasil vem com-
plicar ainda mais a resposta à pande-
mia da covid-19, que caminha, a pas-
sos largos, para ser um dos aconteci-
mentos mais catastróÆcos dos
últimos anos no país. Os dados oÆ#
ciais mostram uma aceleração do
número de casos e a perspectiva é de
que a curva de contágios continue a
subir até Julho (ver texto ao lado),
numa altura em que em várias cida-
des os hospitais já esgotaram a sua
capacidade de internamento.
“A gente não podia imaginar um
cenário pior que esse”, dizia a presi-
dente da Associação Brasileira de
Medicina Intensiva, Suzana Lobo,
citada pela Folha. “Um cenário [difí-
cil] baseado em ciência já estava
previsto do ponto de vista epidemio-
lógico, mas o efeito da intervenção
Carne e covid-19
de mão dada nos EUA
Cerca de metade das zonas de
alta transmissão do novo
coronavírus nos EUA (12 em 25)
está relacionada com unidades de
transformação de carne onde
porcos, vacas e aves são abatidos
e a carne embalada. Há muitos
apelos à reforma desta indústria.
política não só nessa crise, mas nos
tratamentos que os médicos vão
usar, é temeroso”, aÆrmou.
“Paralisia e atraso”
A saída de Mandetta já tinha atrasado
a resposta à crise, com a entrada de
uma nova equipa e várias substitui-
ções na cadeia de comando da saúde,
não só a nível federal, mas também
nos estados, diz ao PÚBLICO o inves-
tigador da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Daniel Soranz, entrevista-
do ainda antes da demissão de Teich.
“Isso também gera paralisia e atraso
na tomada de decisões, o que preju-
dicou certamente a organização do
SUS [Serviço Único de Saúde]”, aÆr-
ma o especialista.
Uma das características que estão
a marcar a evolução da pandemia no
Brasil é a ausência do Governo fede-
ral da maioria das acções de comba-
te. A iniciativa tem partido sobretu-
do dos governos estaduais e dos
municípios, criando por vezes situa-
ções caricatas, como a encomenda
pelo governo do Maranhão de ven-
tiladores chineses que contornou a
própria Receita Federal para evitar
que fossem conÆscados — algo que
já tinha acontecido.
“Nas epidemias anteriores, o
Governo central e o Ministério da
Saúde sempre ditaram as normas e
as directrizes”, diz Soranz, lembran-
do o caso da H1N1, em 2009, em que
foi o Governo a adquirir o TamiÇu, o
medicamento para tratar a doença.
“Nesta epidemia especiÆcamente, o
Ministério da Saúde não utilizou o
poder de compra do Estado para
comprar testes, por exemplo, e dei-
xou para os municípios e estados,
competindo entre si, quando o neces-
sário seria uma compra centralizada
e depois uma distribuição para quem
mais precisa”, explica.
A demissão de Teich foi recebida
com um coro de críticas, sobretudo
por parte dos governadores mais
críticos do Governo federal. “O bar-
co está à deriva”, aÆrmou o gover-
nador de São Paulo, João Doria,
acrescentando que Teich “é mais
um ministro que acredita na ciên-
cia” a deixar o Governo.
O antecessor de Teich, que desde
que saiu do Governo não se tem coi-
bido de criticar Bolsonaro, também
se pronunciou, pedindo orações,
ciência, paciência e fé.
joao.ruela@publico.pt
Casos confirmados
no mundo
Valores às 21h00
de 15 de Maio
1.622.354
Recuperados
Fonte: Universidade de Johns Hopkins
Só em Julho se deve atingir o pico
de infeccções pelo coronavírus
João Ruela Ribeiro
Em muitas cidades, os
hospitais já não dão conta
de tantos doentes de
covid-19, mas a situação
vai agravar-se no Brasil
A
saída do segundo ministro
da Saúde em menos de um
mês acontece numa altura
em que a pandemia da
covid-19 no Brasil se propa-
ga a uma velocidade eleva-
da. A ausência de testes em massa e o
colapso do sistema de saúde em
várias regiões pintam um cenário
dramático que a contínua crise polí-
tica apenas pode agravar.
Ao contrário do que acontece na
Europa e nos EUA, no Brasil a epide-
mia começa agora a entrar na fase de
crescimento do número de infecções
e tudo indica que esta se irá prolongar
nos próximos meses.
“Estamos numa curva ascenden-
te no número de casos, que prova-
velmente deve aumentar bastante
em Maio, chegar no pico nas princi-
pais capitais em Junho, e no interior
e em capitais mais afastadas em
Julho”, prevê o investigador da Fun-
Paciente de covid-19 a entrar num hospital em Manaus
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 17
2.587.955
Casos ainda
activos
4.516.360
Total de casos 306.051
confirmados Mortes
dação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Daniel Soranz, em entrevista ao
PÚBLICO.
Com o achatamento da curva ainda
longe do horizonte, o Brasil debate-se
com uma série de problemas, a come-
çar, desde logo, pela falta de informa-
ção sobre a dimensão da pandemia.
O país continua a fazer muito pou-
cos testes, o que prejudica a tomada
de decisões para controlar a epide-
mia. De acordo com o modelo elabo-
rado pelo Laboratório de Inteligência
em Saúde (LIS) da Faculdade de Medi-
cina de Ribeirão Preto da Universida-
de de São Paulo (USP), que tenta pre-
ver o aumento real do número de
casos de infecção pela covid-19, o Bra-
sil já terá mais de 2,7 milhões de casos,
mais de 1% da população total.
“Somos um dos países que menos
fazem testes e por isso não temos
noção das causas da epidemia, que
são os assintomáticos e os sintomáti-
cos leves, que não sabem que estão
doentes”, explica o professor do LIS,
Domingos Alves, numa conferência
de imprensa em que o PÚBLICO par-
ticipou esta semana.
Segundo os dados oÆciais, foram
realizados 735 mil testes (em Portu-
gal, foram 600 mil, por exemplo), o
que coloca o Brasil na cauda entre os
países mais afectados.
RAPHAEL ALVES/EPA
A Basílica de S. Pedro
foi limpa e desinfectada
A Basílica de S. Pedro, no
Vaticano, foi ontem alvo de uma
profunda operação de limpeza e
desinfecção, em preparação para
a reabertura, que se espera para
breve. Líxivia, ozono, álcool e
sais de prata foram usados para
limpar preciosas obras de arte.
“Houve um atraso na tomada de
decisão pelo Ministério da Saúde em
relação à compra de testes para
serem feitos em larga escala”, nota
Daniel Soran.
Mas actualmente existem dois
milhões de testes prontos para serem
usados em breve, que devem oferecer
um panorama mais aproximado da
dimensão da pandemia. Ainda assim,
há muitos locais onde continuam ape-
nas a ser testados pacientes em inter-
namento hospitalar, observa o espe-
cialista da Fiocruz.
A subnotiÆcação também se esten-
de ao número de mortes, avisa Alves,
que estima que o número real possa
ser o dobro. Um dos sinais é a explo-
são de óbitos atribuídos à síndrome
respiratória aguda, que, na ausência
de uma conÆrmação de infecção pela
covid-19, é usada para justiÆcar mui-
tas das mortes. A análise feita pela
equipa de Domingos Alves aos bole-
tins dos cartórios mostra um cresci-
mento de quase 2000% destes casos
face ao ano passado.
O colapso da capacidade de inter-
namento em várias cidades brasilei-
ras obrigou-as a decretar isolamento
obrigatório na semana passada,
encerrando os estabelecimentos
comerciais e até ruas, para diminuir
ao máximo as deslocações.
Para Domingos Alves, esta era a
“única medida plausível” e o inves-
tigador defende que muitas outras
devem seguir pelo mesmo caminho,
incluindo São Paulo e Rio de Janei-
ro.Porém, “falta todo o incentivo”
para que a população Æque em casa,
diz Alves. “Sou contra esse discurso
de que a população tem de colabo-
rar, que não está a respeitar, Ælmam
as pessoas a andar na rua. Se andam
na rua, é porque não existe uma
política adequada para manter as
pessoas em casa”, observa o espe-
cialista.
Cita como exemplo de uma política
mal deÆnida a entrega, pelo Governo
federal, de 600 reais aos trabalhado-
res informais, que gerou Ælas e aglo-
merações de pessoas em muitos locais
à espera de receber o subsídio.
18 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESTAQUE
CORONAVÍRUS
CO
O problema chinês do “lixo estrangeiro”:
racismo e xenofobia em tempos de pandemia
Opinião
Gonçalo Santos
U
ma lei importante em
antropologia e em estudos
sociais de ciência e
tecnologia é a ideia de que
os desastres humanos ou
naturais afetam as pessoas
de forma desigual dependendo das
suas posses e capacidades. A
desigualdade é o grande problema
ético levantado pelo desastre e a
questão fundamental para um
governo justo e responsável é tentar
aliviar os efeitos negativos da
desigualdade. Isto parece-me uma
questão fundamental na atual
pandemia covid-19, mas há uma
outra lei antropológica igualmente
importante que tem sido menos
falada na imprensa portuguesa: a lei
da xenofobia e do racismo. Se é
verdade que os desastres têm a
capacidade de gerar vagas de
compaixão e entreajuda
humanitária que ultrapassam
distâncias e fronteiras, também é
verdade que os desastres são
terreno fértil para o crescimento do
racismo e da xenofobia, e quando
os desastres têm uma escala global
como é o caso da atual pandemia,
esse racismo e xenofobia pode
atingir proporções planetárias e se
tornar num instrumento de lutas
geopolíticas.
Meados de janeiro de 2020: a
China anuncia a primeira morte
causada por covid-19 na cidade de
Wuhan, alertando o país e o mundo
para a existência de uma nova
epidemia de coronavírus. Este
alerta deveria ter acontecido umas
semanas antes à luz de revelações
subsequentes, mas, apesar destes
soluços iniciais, o Governo central
conseguiu responder de forma
suÆcientemente célere para evitar
que a conjuntura de
hipermobilidade das celebrações do
ano novo chinês ampliÆcasse a
velocidade e a escala do processo de
contágio. Foi um momento difícil
para a China e não faltaram
manifestações de apoio e de
solidariedade vindas de várias
partes do mundo, mas também
houve uma vaga crescente de
mensagens antichinesas a circular
por plataformas sociais
internacionais como WhatsApp e
Facebook. Foram estas mensagens
que transformaram a covid-19 numa
“doença chinesa” e o SARS-Cov-2
num “vírus chinês” causado pelos
costumes “bárbaros” dos chineses,
incluindo a sua predileção
gastronómica por animais
selvagens.
Foi neste contexto de
comentários racistas e xenófobos
crescentes, e numa altura em que a
China ainda estava no epicentro do
surto, que o mundo começou a ser
confrontado com as primeiras
notícias de ataques físicos e abusos
verbais a chineses e asiáticos na
Europa, Estados Unidos e outras
partes do mundo. Muitos destes
incidentes racistas e xenófobos
dirigiram-se a pessoas de aparência
asiática portadoras de máscaras
cirúrgicas e identiÆcadas pelos
atacantes como chinesas. Estes
incidentes antichineses
culminariam em meados de
fevereiro num episódio algo
caricato no qual é divulgada numa
rádio holandesa uma canção
paródica sobre o coronavírus com
uma mensagem claramente
antichinesa. A letra da canção não é
muito criativa mas ajuda a capturar
o espírito antichinês que estava
então a emergir no mundo sob a
inÇuência do comportamento de
dirigentes como Donald Trump:
“Nós não precisamos do vírus no
nosso país, é tudo causado por esses
chineses malcheirosos”, ou “[o
vírus] vai chegar em breve ao arroz
Um dos desafios
do século XXI será
encontrar formas de
reduzir as retóricas
racistas e xenófobas
no contexto das
lutas geopolíticas
xau-xau, não comam comida
chinesa”.
Fast-forward para Ænal de março
de 2020: a mudança do epicentro
da pandemia de covid-19 para a
Europa e os EUA ocorreu de forma
gradual, e os chineses não foram
indiferentes a este
desenvolvimento, expressando a
sua solidariedade através de atos
Ælantrópicos e manifestações de
apoio transcontinental. O próprio
Governo chinês esteve envolvido
em várias iniciativas internacionais
de apoio médico e logístico,
mostrando a sua capacidade de
liderança. A verdade é que estes
THOMAS PETER/REUTERS
atos de generosidade diplomática
coexistiram com estratégias
políticas domésticas indo na
direção contrária. Já em fevereiro
de 2020, em resposta às
provocações de Donald Trump, a
máquina de propaganda do
Governo chinês começou a espalhar
a ideia de que o surto de covid-19 é
uma fabricação americana
destinada a questionar a crescente
inÇuência da China no mundo. Esta
contranarrativa tornou-se popular
na China no espaço de algumas
semanas. Mas o sucesso desta
contranarrativa não foi apenas o
produto de propaganda; foi
também o resultado de troca de
ideias entre cidadãos no mundo das
redes sociais em redor daquilo que
Æcaria conhecido no Ænal de março
de 2020 como o problema do “lixo
estrangeiro” (yang laji).
O termo “lixo estrangeiro” é
normalmente usado pelos chineses
para falar dos riscos de poluição
associados à indústria doméstica de
reciclagem de lixo oriundo de
países “estrangeiros” ricos. Mas,
neste caso, o termo começou a ser
usado metaforicamente em redes
sociais para descrever o perigo de
contaminação que decorre da
entrada na China de pessoas
“estrangeiras” vindas de países com
muitos casos de covid-19. Se a China
abrir as portas a este “lixo
estrangeiro,” especialmente o “lixo
americano,” o Governo terá de ser
muito vigilante no trabalho de
monitorização por forma a evitar
uma nova vaga de covid-19. É
importante notar que o uso da
expressão “lixo estrangeiro” não é
considerado aceitável por muitos
chineses, mas isso não impede a sua
circulação, à semelhança do que se
passa na Europa e nos EUA com
expressões derrogatórias como
“chineses bárbaros”. A proliferação
de termos como “lixo estrangeiro”
nas redes sociais chinesas reÇete o
espírito antiestrangeiro (e
antiamericano) de parte da
população chinesa, mas o Governo
tem um papel importante neste
processo. O Governo não encoraja o
uso de expressões racistas e
xenófobas, mas promove a
disseminação de narrativas
ultranacionalistas cujos efeitos são
ampliÆcados no atual clima de
pânico pandémico.
Donald Trump e Xi Jinping não
são assim tão diferentes neste
aspeto. Estes dirigentes não hesitam
em disseminar narrativas
nacionalistas, racistas e xenófobas
nas suas respectivas esferas de
inÇuência porque ambos estão a
participar numa corrida pela
supremacia tecnológica e
económica. Estas rivalidades
nacionais foram recentemente
ilustradas de forma particularmente
contundente com as polémicas em
torno da Huawei e 5G, e um dos
desaÆos do século XXI será
encontrar formas de reduzir a
utilização de retóricas racistas e
xenófobas de facionalização no
contexto destas rivalidades. Um
primeiro passo em frente seria
reorientar estas rivalidades da
questão da supremacia tecnológica
e económica para a questão da
sustentabilidade planetária.
Sinólogo e professor de
Antropologia na Universidade
de Coimbra

Espanha e França entram em conflito devido a fronteiras
Ricardo Cabral Fernandes
O
Verão está à porta e, preocu-
pada com o turismo, a
Comissão Europeia delineou
uma estratégia para norma-
lizar as viagens dentro e fora
do espaço europeu e prome-
teu que vai haver época turística. Há
Estados que se preparam para levan-
tar as restrições fronteiriças, coorde-
nando-se, enquanto Espanha e Fran-
ça entram em conÇito.
A ideia da Comissão é que os Esta-
dos-membros com situações epide-
miológicas semelhantes, controladas,
levantem as restrições às viagens para
permitir o regresso do turismo, sector
muito debilitado com a pandemia. A
circulação dentro da UE será gradual-
mente suavizada até 15 de Junho,
criando-se “bolhas turísticas” entre
os Estados-membros, e os turistas de
fora do Espaço Schengen não pode-
rão entrar no continente até essa data.
E, quando o Æzerem, deverão ter de
cumprir 14 dias de isolamento.
Espanha decidiu impor uma
medida de quarentena. Não
sabíamos. Vamos actuar
com reciprocidade
Fonte do Palácio do Eliseu ao El País
Espanha, que no início da pande-
mia foi apresentada como um exem-
plo por ter coordenado o encerra-
mento da fronteira com Portugal,
impôs, porém, 14 dias de quarentena
a todos os cidadãos da UE que entrem
no seu país vindos de França.
O Governo francês, surpreendido,
não gostou e, argumentando com a
reciprocidade, impôs a mesma medi-
da a quem chegar de Espanha, quan-
do, até agora, nenhum cidadão do
Espaço Schengen e do Reino Unido o
tinha de fazer em solo francês.
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 19
“Espanha decidiu [terça-feira]
impor uma medida de quarentena.
Não sabíamos, descobrimo-lo”, disse
ontem uma fonte do Palácio do Eliseu
aos jornalistas. “Vamos actuar com
reciprocidade”.
O Governo espanhol optou por des-
valorizar o caso, dizendo que a medi-
da não é discriminatória para com os
franceses, por afectar todas as nacio-
nalidades. “A quarentena é uma res-
posta normal que não representa
problemas sérios. Há 15 países no
Espaço Schengen que o impõem aos
cidadãos que chegam às suas frontei-
ras, inclusive a espanhóis”, disse uma
fonte do executivo ao El País.
As decisões sobre as fronteiras
nacionais são responsabilidade dos
Governos, mas Bruxelas apelou a que
se coordenassem. “A nossa mensa-
gem é que vamos ter época turística
este Verão, mesmo que com medidas
de segurança e limitações”, disse na
quarta-feira o comissário europeu da
Economia, Paolo Gentiloni.
ricardo.fernandes@publico.pt
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20 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

ESPAÇO PÚBLICO
O negociador da Comissão Europeia para o
“Brexit” disse ontem que continua a não
haver qualquer progresso nas questões
difíceis nas reuniões que tem mantido com o Reino
Unido. A parceria económica e política continua a
ser uma miragem, embora Barnier diga que o seu
objectivo é encontrar um acordo de livre comércio,
com zero quotas e zero taxas, mas avisa Londres de
que a UE não sacrificará os seus princípios para que
Michel Barnier isso aconteça. (Pág. 37) J.J.M.
Karl-Heinz Rummenigge
O campeonato alemão de futebol é o
primeiro a arrancar na Europa e terá de
cumprir uma série de regras devido à
pandemia de covid-19. A expectativa é muita, já que
cerca de dois meses sem futebol nas principais ligas
deixou os adeptos desejosos de ver acção nos
relvados. Daí que o director executivo da Bundesliga
espere uma audiência televisiva de mil milhões neste
fim-de-semana, já que nas bancadas não estará
ninguém. Impressionante. (Pág. 52) J.J.M.

Bolsonaro, um remédio contra o populismo

saiu por defender o conÆnamento
contra a vontade de Bolsonaro; o
outrora santiÆcado Sergio Moro saiu
da Justiça por se opor à ingerência do
Presidente na polícia criminal.
Manuel Carvalho Quando o Brasil precisava de tino,
Editorial vê-se entregue aos desmandos de um
no desespero, ao vender soluções
simples para problemas difíceis.
O manual do populismo funcionou
e Bolsonaro chegou ao poder. O
manual da História também
funcionou e Bolsonaro é hoje a prova
mais acabada de que o populismo é
enredado nas suas quezílias.
Bolsonaro arrisca-se a ser um vírus
contra o populismo que o criou
porque, para lá de todos os abusos, é
manifestamente incompetente,
inculto e com uma visão do mundo
reduzida à caserna onde germinou.

D
ias depois de assumir a pasta da
Saúde, o ministro Nelson Teich
bateu com a porta a Jair
Bolsonaro. O seu gesto é o mais
recente exemplo do custo da
contradição entre o discurso dos
populistas quando disputam o poder
e a sua acção quando o exercem.
Teich sai por se recusar mudar o
protocolo médico e aceitar, contra a
opinião da ciência, o uso
generalizado de cloroquina para
travar a pandemia; Henrique
Mandetta, seu antecessor na Saúde,
incendiário.
Bolsonaro foi eleito com base na
presunção de que a tenda da
corrupção montada nos Governos do
PT seria demolida. Com a crença de
que o seu discurso agressivo e básico
era fundamental para o resgate da
soberania popular. Com a certeza de
que um homem sintonizado com a
raiva do povo contra os políticos
tradicionais só poderia servir a causa
do povo. Com a condescendência de
que os seus apelos ao autoritarismo
da ditadura eram apenas discursos
de circunstância. Bolsonaro seduziu
uma ilusão pestilenta. O Brasil
sofreria sempre imenso com a
covid-19, mas dispensava um
Presidente que se arroga dizer que,
agora, “essa questão da cloroquina
passa por mim”, que festeja com
apoiantes enquanto médicos e
ministros pedem distância social, que
manda abrir lojas contra a vontade de
governadores, que resume o perigo
da pandemia a uma “gripezinha ou
resfriadinho”. Numa altura em que o
Brasil precisava de rumo e unidade,
tem a conduzi-lo um arruaceiro
afundado na sua incompetência e
Terá sempre com ele uma fatia do
Brasil que o consagra com igual
fervor ao que dirige a pastores
evangélicos do quilate de Edir
Macedo. Mas há muito Brasil para lá
dessa caricatura. O Brasil
cosmopolita, moderno, vibrante e
culto, o Brasil hoje desorientado e
ansioso aprendeu uma terrível lição.
O ódio ou a desilusão com as
mentiras do PT não justiÆcam a
aposta em tão sinistro personagem.
Que sirva de exemplo.
manuel.carvalho@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
Proíbo que me chamem
“idosa”
As línguas que falamos e a
linguagem que usamos não são
meros instrumentos. Uma língua
diz um mundo, uma maneira de o
ver e de estar nele com os outros.
Por isso, as mudanças de
linguagem são tão signiÆcativas da
evolução das sociedades e das
relações sociais. Venho, assim,
apoiar inteiramente o que Esther
Mucznik escreveu anteontem no
PÚBLICO sobre o insuportável
paternalismo, condescendência e
comiseração contidos na expressão
os “nossos idosos”.
Tenho 70 anos, sou saudável,
estou activa como investigadora,
leio, estudo, faço ginástica, convivo
com a família e os amigos, tenho
saído todos os dias para beber a bica
à porta dos cafés da minha zona e
fazer caminhadas no maravilhoso
Monsanto. Isto é ser “idoso”?
Marcelo Rebelo de Sousa é “idoso”?
Francisco Louçã é “idoso”? E até
Jerónimo de Sousa, gostaria ele que
lhe chamassem “idoso”? O Papa
Francisco é “idoso”? A resposta, em
parte, está em que “os lares estão
cheios de idosos”. Dá que pensar.
Paremos com os anátemas e
sejamos capazes de diferenciar.
Teresa Seruya, Lisboa
Sara Ocidental
Colaboro na área do ensino
superior com a Universidade de
Tifariti, nos campos de refugiados
do Sara Ocidental em Tindouf, no
Sudoeste da Argélia. Em Fevereiro,
visitei a região de Tifariti, na Zona
Libertada do Sara Ocidental, junto
à Mauritânia, no âmbito das
minhas actividades de professor. O
reino de Marrocos, depois da
invasão de 1975, continua a ocupar
mais de dois terços do Sara
Ocidental, a última colónia de
África tal como é reconhecida pelas
Nações Unidas. Em Tifariti,
pernoitei junto a um dos quartéis
da Minurso, a Missão das Nações
Unidas para o Referendo no Sara
Ocidental. A situação está num
total impasse, enquanto Marrocos
continua a explorar os ricos
recursos do subsolo sarauí. Estive
junto ao muro de mais de 2000
quilómetros construído por
Marrocos, que separa as zonas
libertadas e ocupadas do Sara
Ocidental, uma das zonas mais
minadas do mundo. Como fui
professor na Universidade Nacional
de Timor Lorosa’e, penso que os
casos de Timor e do Sara são
idênticos, duas grandes violações
da legalidade internacional e dos
direitos humanos de todo um povo.
Os campos de refugiados de
Tindouf são dos mais próximos de
Portugal. A França e a Espanha —
ironicamente, a potência
colonizadora e que mais se deveria
preocupar em levar a cabo o
processo de descolonização —
constituem os grandes apoiantes
internacionais do Governo de
Marrocos e da ocupação.
Augusto Joaquim de Carvalho
Lança, Beja
Crise política
Crise política? O país necessita de
uma crise política? Com que Æm?
Serve a quem? Qual o seu custo,
em termos de juros da dívida? Fico
perplexo ao observar a direita, a
esquerda e a Presidência da
República — esta imiscuindo-se
nos assuntos do Governo — a tecer
uma crise política, quando agora
não há nada que o justiÆque.
Lamentável! Como cidadão,
acuso-os e responsabilizo-os do
que daí resultar de danoso para
todos.
Alberto Eleutério Diniz,
Figueira da Foz
 Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 21

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

O constitucionalista português Jorge O Conselho Independente para as Queixas

Umaro Sissoco Embaló
Miranda, que participou na elaboração da
carta magna da Guiné-Bissau, foi envolvido
numa notícia falsa em que aparecia a defender a
revisão da Constituição anunciada pelo Presidente
Embaló. Um exemplo de como tudo vale para criar
uma narrativa que apoie a decisão do Presidente,
mas Jorge Miranda não a suporta: diz que a comissão
criada por Embaló é inconstitucional e que a revisão
é da competência do Parlamento. (Pág. 36) J.J.M.
sobre a Polícia de Hong Kong estudou o
comportamento dos agentes após Junho de
2019, quando protestos violentos pararam parte da
cidade, e concluiu que agiram segundo as regras,
ilibando-os das acusações de brutalidade contra os
manifestantes pró-democracia. Quem nomeia o
conselho? Carrie Lam, chefe do governo local, o que
mostra quanto o inquérito aos incidentes foi
Carrie Lam imparcial. (Pág. 37) J.J.M.

ESCRITO NA PEDRA
Não se queixar nunca;
Um Simão
a queixa traz sempre descrédito
Baltasar Gracián y Morales (1601-1658), calão
escritor e pedagogo

SEM COMENTÁRIOS PAÍSES BAIXOS

PIROSCHKA VAN DE WOUW/EPA

EM PUBLICO.PT
Tudo diferente
na Estrela da Bica
Rita Borges e Marta Figueiredo
preparam-se para reabrir o Restaurante
Estrela da Bica, mas com muitas mudanças
publico.pt/multimedia/videos
Volta ao mundo em 20 imagens
de Nelson Garrido
Os fotógrafos do PÚBLICO celebram os 20
anos da Fugas com a sua escolha de
grandes fotos e grandes viagens
publico.pt/fugas
E
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
stava eu a a tomar o
pequeno-almoço, a ouvir Simon
Armitage no Desert Island Discs,
quando me ia dando um treco: o
poeta, depois de escolher a
obra-prima Atmosphere, dos Joy
Division, explicou que tinha
conhecido a música através da
série Peaky Blinders.
Se ainda não está chocado,
deixe-me esclarecer. Simon Armitage, o
actual poet laureate, nasceu em Maio de
1963 em HuddersÆeld, a 40 quilómetros de
Manchester. Foi na Universidade de
Manchester que fez um mestrado. Em
Maio de 1980, Ian Curtis, o vocalista e
letrista dos Joy Division, suicidou-se. Nesse
mesmo mês, foi lançado Atmosphere,
gravado em Março. Simon Armitage estava
a fazer dezassete anos. Não concebo como
é que um rapaz nortenho de 17 anos com
queda para a poesia e para a música tenha
deixado passar o ano de 1980 sem ouvir
Atmosphere.
Mais grave ainda é ter chegado a
Setembro de 2019, já com 56 anos e meio
de vida, presumivelmente com os olhos e
os ouvidos abertos, sem conhecer talvez a
canção mais bonita de sempre da música
popular britânica. No Desert Island Discs
Armitage, disse que a música tem o seu
quê de requiem. Esta clarividência,
surgida exactamente quatro décadas
depois da estreia de Atmosphere, talvez se
deva ao facto de a música ter
acompanhado, naquele tal episódio do
A pandemia é o “grito de alerta” Peaky Blinders, um funeral.
do planeta Dirão que o Peaky Blinders é de
Birmingham e que Armitage é de Yorkshire
Proteger e investir na natureza é a “melhor — e terão razão. Os Joy Division eram de
e mais barata vacina” que poderemos ter Salford, em Manchester, no Lancashire. Às
contra futuras pandemias vezes, as mais pequenas distâncias são as
publico.pt/p3 maiores de todas. Mas mesmo assim...!
22 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

ESPAÇO PÚBLICO

A pandemia da ignorância
a propósito do “marxismo cultural”
O RUÍDO DO MUNDO

José Pacheco Pereira

Temos de suportar duas
pandemias, a da ignorância
e a do vírus. Convenhamos

À
que é demais
s vezes nem vale a pena bater no
ceguinho, porque para bater em
ceguinhos em Portugal arranja-se
sempre uma multidão. De
preferência quando o ceguinho já
está mesmo ceguinho, porque
mesmo só com um olho, o estilo
reverencial abunda e o país é
muito pequeno para haver
independência crítica. E então se
for anónima a pancada, os praticantes são mais
que muitos.
Mas a ignorância atrevida, essa, sim, merece
azorrague, até porque nos dias de hoje, de
pensamento mais do que exíguo, a coisa tende
a pegar-se pelas “redes sociais”, o adubo ideal
da ignorância. Temos de suportar duas
pandemias, a da ignorância e a do vírus.
Convenhamos que é demais. Nestas alturas,
tenho um surto de pedantismo incontrolável.
Bom, não sei bem se a classiÆcação de
pedantismo é a melhor, mas que por lá anda,
tenho a certeza.
Vem isto a propósito do actual uso e abuso
da expressão “marxismo cultural”, muito
comum hoje à direita mas também usada
muitas vezes erradamente à esquerda, que, na
sua globalidade, é cada vez menos marxista,
mas ainda não deu por ela. Porém, o uso à
direita é uma espécie de vilipêndio e insulto e,
em muitos comentadores de direita, é comum
para caracterizar uma espécie de polvo
omnipresente, que lhes rouba as artes, as
letras, o jornalismo, algumas universidades, as
ciências sociais, a comunicação social, a
educação e o ensino, e os obriga a refugiar-se
nos espaços “livres” dos colégios da Opus Dei,
no Observador, nos blogues de direita, na
Universidade Católica, nos lobbies ideológicos
empresariais com acesso à comunicação,
nalgumas fundações, nalguns articulistas, na
imprensa económica, etc. Para bunker contra o
“marxismo cultural” já parece muito espaçoso,
mas eles acham-no apertadinho.
Nuno Melo escreveu recentemente um
artigo com o título sugestivo de “A supremacia
do marxismo cultural”, que é um bom
exemplo de quem não percebe nada do que
está a falar. Começa com uma citação de Marx,
A Parábola dos Cegos, Pieter Bruegel, o Velho (1568)
esquerda aprendeu: “As ideias da classe
dominante são, em todas as épocas, as ideias
dominantes, porque a classe que é a força
material dominante da sociedade é, ao mesmo
tempo, a sua força intelectual dominante.”
Muito bem. A frase quer dizer exactamente o
contrário do que ele pretende. Quer ele dizer
que é o proletariado a “classe dominante” nos
dias de hoje e que é por isso que a “força
intelectual dominante” é o marxismo?
Interessante, ele vai certamente explicar-me
quando é que houve mudança de “força
material dominante”, ou seja, quando é que
houve uma revolução. Na interpretação de
Marx, são escritos como o de Melo que revelam
a “força intelectual dominante”, ou seja, a da
burguesia.
O que é essencial na interpretação do
marxismo é que a seta do poder, que explica a
sociedade, a cultura, a economia, a cultura, se
faz a partir “de baixo”, das relações de
produção, do modo de produção, das classes
dominantes a cada momento da história, e que
nesse terreno é a luta de classes que deÆne essa
outra seta que é o sentido da história. Como
Lenine e Trotsky disseram de forma mais
bruta, de um lado está o “caixote do lixo da
história” e do outro o futuro, a base da
teleologia marxista. E embora haja “acção
recíproca” entre a superestrutura e a
infra-estrutura, ela faz-se sempre a partir da
interpretação de Marx é a essência da sua artes, nas letras, em certa comunicação social,
teoria, e mesmo quando, nas escassas páginas mas acrescente-se duas coisas: primeiro, a
que escreveu sobre a “cultura”, Shakespeare, maioria dessa esquerda e desse esquerdismo
em particular, admitiu uma “autonomia não é marxista; segundo, já teve mais força do
relativa da cultura”, nunca admitiu que essa que hoje tem e, mesmo a que subsiste, está
autonomia fosse absoluta. Ou seja, na cada vez mais acantonada. Por exemplo, nos
interpretação marxista, nunca o “marxismo anos da troika, muito do discurso público em
cultural”, seja lá o que isso for, podia ser matérias de sociedade e economia era
dominante numa “neoliberal” (não gosto desta designação, mas
sociedade capitalista, e vai por facilidade), e uma das grandes vitórias
isto é o bê-á-bá da coisa. ideológicas da direita foi conseguir
Nem Lenine, nem Rosa interiorizá-lo de forma “dominante”. Devo
Luxemburgo, nem dizer que eu troco todo o esquerdismo cultural
Gramsci, nem Lukács, se no teatro pela reversão dessa invasão
Nuno Melo afastaram deste ponto inconsciente de muitas cabeças pela TINA.
escreveu um essencial.
E, mesmo
Eu não sou guardião da ortodoxia de Marx,
mas sei o que ele disse e o que ele não disse e
artigo com o aceitando-se a não participo neste abastardamento das ideias
título ‘A ambiguidade da pelas palavras e pela propaganda. O problema
supremacia do expressão, seria um
absurdo dizer que
é que gente como Nuno Melo, e muita direita,
acha que bater no André Ventura é uma
marxismo qualquer forma de expressão do “marxismo cultural” e só não se
cultural’, que é “marxismo cultural”
tem hoje “supremacia”
apercebe de como está a digniÆcar o exercício,
porque precisa de um papão com um nome
um bom na sociedade ilustre para gloriÆcar a vaidade própria. Não é
exemplo de portuguesa. É verdade
que há muita força da
muito ediÆcante ser vítima da sua ignorância,
mas já é outra coisa ser vítima de uma universal
quem não esquerda e do conspiração marxista que, vinda das trevas do
percebe nada esquerdismo (que não é comunismo, os persegue pelas ruas de
do que está a a mesma coisa) em
determinados sectores
Bruxelas.

aquilo a que ele chama a “lição” que a “determinação” da infra-estrutura. Esta falar da “superestrutura”, nas Historiador. Escreve ao sábado

O sacrifício de Centeno
Francisco Assis
Na germânica Autoeuropa, as
mais altas figuras do Estado
deixaram claro que há temas
N
que queimam e proximidades
que contaminam
a semana em que o país iniciou
tranquilamente o processo de
desconÆnamento, o mundo
político ensombreceu-se numa
Çoresta de equívocos e de
contradições. É sinal de que
estamos a regressar à
normalidade. Nunca me
comoveram as declarações
proféticas daqueles seres dados
a arrebatamentos místicos que antecipam
em cada crise a miragem da chegada à terra
prometida. O vírus despertou-lhes o
narcisismo, mas não lhes libertou a
imaginação. Advogam mudanças radicais
estranhamente coincidentes com as
representações utópicas com que se
inebriam desde que se conhecem. Não há
pandemia que os transforme. Tudo deve ser
objecto de profundas metamorfoses, à
excepcão dos próprios e dos seus delirantes
devaneios.
Regressemos, assim, ao universo mais
prosaico da nossa vida política. Comecemos
pelo óbvio: Mário Centeno não foi uma peça
menor na coreograÆa da denominada
“geringonça”. Com o prestimoso contributo
do próprio, devidamente encandeado pelas
luzes de uma ribalta pública inacessível a
um competente quadro do Gabinete de
Estudos do Banco de Portugal, o
economista doutorado em Harvard
desempenhou o papel imprescindível de
garante da seriedade de uma solução
política de consistência e de probidade
duvidosas. Centeno, o casto cultor do
conservador princípio das “contas certas”,
por contraposição às esfuziantes jovens do
Bloco de Esquerda e às esfíngicas múmias
do PCP, era apresentável na pérÆda Europa
e frequentável na pequena aldeia Ænanceira
portuguesa. O ministro das Finanças era o
chaperon perfeito para os idílios perigosos
entre o PS e as suas aparentemente
impetuosas companhias da esquerda
extremista. Nesta combinação, tudo parecia
correr no melhor dos mundos. O chaperon
desviava o olhar nos momentos mais
conspícuos e os transes amorosos
prosseguiam na propositada ignorância de
observador tão desatento. Até a subtil
Europa pareceu cair em tal engodo.
Rendidos às palavras e aos números
exibidos pelo apregoado mago das Ænanças
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 23
ESPAÇO PÚBLICO
MANUEL DE ALMEIDA / LUSA
português, elevaram-no a uma condição até
então só alcançada por indefectíveis
servidores da ortodoxia em que se declina o
discurso económico-Ænanceiro europeu.
Nesse dia, o brilhante chaperon percebeu
duas coisas:
que poderia ambicionar a ter vida própria
e que, no fundo, o seu posicionamento
e o seu pensamento em quase nada
destoavam das do seu criador político.
O sucesso da “geringonça” assentou, em
grande parte, na prodigiosa imaginação
especular dos seus criadores. Nisso, nem
Orson Welles foi tão longe na célebre cena
dos espelhos no Ænal de A Dama de Xangai.
No caso português, a realidade expandiu-se
em múltiplos e contraditórios reÇexos
especulares. Num espelho, observava-se o
corte com a austeridade, num outro, a
resistência à irresponsabilidade das
reivindicações salariais dos professores,
noutro, a brutal contracção do investimento
público, noutro ainda, a ruptura com as
terríveis imposições europeias, num
derradeiro espelho a plena concordância
com o discurso em voga na União Europeia.
Mário Centeno foi uma peça-chave neste
processo que tem tanto do domínio da
prestidigitação
como do da
realidade. Aliás, o
sucesso deste
processo resulta da
astuta combinação
Um ministro das destas duas
Finanças só dimensões. Não
durante um importa agora
averiguar se daí
espaço de resultaram
tempo muito vantagens ou
inconvenientes para escândalo do BES tem o condão de heteronomia, ser ao mesmo tempo o
curto pode o país. Nunca nos incendiar as paixões humanas. Não é, de campeão das cativações e o herói do
cultivar a entenderemos nesse
plano.
resto, caso para menos.
Mário Centeno, economista bem
discurso antiausteridade. Há um momento
em que há necessidade de optar. Os 850
extravagância Aqui chegados, e preparado, mas político de primeira milhões relativos ao Novo Banco
da ainda mais no viagem, sucumbiu ao seu próprio discurso. simbolizam a opção feita. Nessa ocasião,
Centeno Æcou irremediavelmente sozinho.
heteronomia, contexto de uma
grave crise sanitária,
O funambulismo não está ao alcance de
qualquer um. Foram inúmeras as vezes em Na germânica Autoeuropa, as mais altas
ser ao mesmo nada parecia que o ainda ministro das Finanças, Æguras do Estado deixaram claro que há
tempo o apontar para a
eclosão de uma crise
extasiado pelos aplausos provenientes da
bancada parlamentar e das estruturas
temas que queimam e proximidades que
contaminam. Marcelo excedeu-se na
campeão das tendo por epicentro intermédias do PS, se excedeu na tentativa condenação de Centeno. Costa
cativações e o a Ægura de Mário
Centeno. A vida,
de menorização da acção prosseguida pelo
Governo de Pedro Passos Coelho. Nalguns
desconÆnou-se excessivamente na apologia
do Presidente da República. Centeno, ao
herói do porém, reveste-se de momentos, Centeno deu mostras de ter que consta, ponderou demitir-se. Acabou
discurso contornos chegado a acreditar na veracidade das suas por não o fazer. Esperemos que tal recuo
antiausteridade shakespearianos nas
horas e nos lugares
próprias palavras. Foi sincero por uma vez,
quando em declarações prestadas, salvo
não seja o resultado de um entendimento
perverso. O futuro o dirá. Uma coisa é
mais inesperados. erro ao Finantial Times, reconheceu que a verdade: o mundo não vai mudar tanto
Só isso explica os ruptura com o passado recente não era quanto o reclamam os pregadores das
acontecimentos aÆnal tão profunda quanto se alardeava. utopias terrestres, mas a vida política
desta semana. É Terá percebido agora os limites do seu portuguesa está a mudar a cada dia que
verdade que tudo o próprio papel. Um ministro das Finanças só passa.
que envolve o durante um espaço de tempo muito curto
requentado pode cultivar a extravagância da Militante do PS. Escreve ao sábado
24 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
ESPAÇO PÚBLICO
É vergonha ter fome?
Insegurança alimentar em Portugal
Isabel do Carmo
Actualmente, pode não se
morrer de fome, mas vive-se
A
em insegurança alimentar e
com carências específicas
s imagens que nos chegam dos
que actualmente procuram
comida mostram cidadãos que
tapam o rosto e se escondem
porque têm vergonha. É assim e
sempre foi assim por todo o lado.
Só aqueles que já chegaram à
desumanização da desnutrição e
da caquexia em países de fome é
que já não têm energia para se
esconder das fotograÆas e das câmaras de
televisão. Tal como os que mendigam na rua
nas zonas urbanas dos países desenvolvidos.
Mas por trás há uma multidão, que não tem
com que se alimentar e tem vergonha.
Quando quem devia ter vergonha são os que
são responsáveis por não haver repartição.
Mas este sentimento tão generalizado de
esconder a fome, como se ela atingisse a
própria dignidade, é caso para um
aprofundamento social, antropológico e
histórico, porque decerto diz respeito às
estruturas humanas de forma profunda.
Estamos neste momento no nosso país na
altura de olhar para uma situação de fome, de
insegurança alimentar e de carências. Uma
situação nova porque há novos pobres. O
vírus desta pandemia pode causar doença e
morte. A falta de alimentos, que a acompanha
e vai acompanhar, diz respeito à
sobrevivência do corpo e da saúde. Morria-se
de fome em Portugal até ao 25 de Abril de
1974, tal como constava em declarações de
óbito. Actualmente, pode não se morrer de
fome, excepto em casos de grande
marginalização social. Mas vive-se em
insegurança alimentar e com carências
especíÆcas. Elas estão já a ser enormes. As
causas estão nas desigualdades e no sistema
que tem um nome — capitalismo.
Há pois fome, insegurança alimentar e
carências especíÆcas. As consequências não
dizem respeito ao Ministério da Saúde, mas a
todos os ministérios, ao Governo, à
Assembleia, e sobretudo à Comissão
Europeia. Estivessem todos à altura da
capacidade do SNS português. E as soluções
têm de ser urgentes! Ao Æm de cerca de
quarenta dias de greve da fome, morre-se.
Mas a comer uns bocadinhos, uma certa
quantidade mínima de calorias, sobrevive-se
anos. E adoece-se durante anos, mais fraco,
com menos energia, com menos capacidade
cognitiva, com mais vulnerabilidade à
depressão e às infecções. A tirar de si próprio
NUNO FERREIRA SANTOS
apenas 10%. Mas talvez se possa dizer que a
maioria destes 50% não compra fruta e
vegetais, porque os considera dispensáveis e
não “enchem”.
Neste momento, o Banco Alimentar está a
entregar estes alimentos perecíveis, até
porque não têm tempo de “perecer” porque
ao Æm do dia já desapareceu tudo. Mas
habitualmente os apoios das várias fontes
não incluem fruta e hortícolas. No entanto,
o inquérito alimentar baseia-se no que as
pessoas dizem que comem e aí também
funciona a vergonha e o socialmente
desejável, como em todos os inquéritos.
Mas outra coisa é o que têm de facto dentro
do corpo.
Já no século XX, investigadores de países
escandinavos, da Holanda e do Reino Unido
foram dosear vitaminas e sais minerais no
sangue de uma amostra de cidadãos e
concluíram pela existência de carências numa
para dar aos Ælhos. A ganhar vergonha e a empresas que são empresas sem certa percentagem. Estamos a falar de países
perder dignidade. É isto que está a acontecer. trabalhadores ( José Maria Castro Caldas, ricos. Inspirada pela leitura desses trabalhos,
Em 2017, o 2.º Inquérito Alimentar Nacional entrevista de Daniel Oliveira, podcast a elaborei com outros investigadores um
e de Actividade Física (IANAF) (coordenado 6.5.2020). Isto signiÆca que o “patrão” é ao projecto para avaliar a situação portuguesa
por Carla Lopes, do Instituto de Saúde Pública mesmo tempo o gerente e o trabalhador. Não com doseamentos no sangue. Estendi a mão
do Porto) apresentava os resultados dos pôde entrar em layoff, nem está (é o termo) a várias instituições e fui
dados colhidos entre 2015-2016 (estávamos a desempregado. Uma espécie de “Olívia patroa recebendo várias negativas. A questão das
sair da crise), que se passa a transcrever: “Dez e Olívia empregada”, criação da Ivone Silva carências não é suÆcientemente atractiva.
por cento das famílias em Portugal em tempos passados. Há todos os Desistimos. Nesta área, apenas a Sociedade
experimentaram insegurança alimentar, ou trabalhadores do espectáculo, alguns em Portuguesa de Hematologia fez uma
seja, tiveram dificuldade, durante esse período, layoff, outros precários. Há os trabalhadores investigação durante a crise da troika e
de fornecer alimentos suficientes a toda a do turismo, a maior parte sazonais e concluiu pela existência de uma percentagem
família devido à falta de recursos financeiros. A precários. As empregadas domésticas, que, importante de anemias por falta de ferro. E o
maioria destas não tendo contrato, não podem ter direito a grupo do Prof. Pedro Moreira doseou a
famílias tem menores layoff, mesmo descontando para a Segurança vitamina D em idosos e concluiu pela sua
de 18 anos.” Social. E os que estão em algumas empresas carência. Mas essa era sobretudo por falta de
Admitamos que em layoff total ou parcial, reduzindo muito os sol e por estarem “conÆnados” em lares. Não
este número desceu, rendimentos, sabem que “lá em cima” são entra o sol, mas entrou a covid-19.
Assumo que visto que o
desemprego baixou e
distribuídos dividendos. Vergonha!
Tudo isto que se descreve é multidão. São
Por enquanto, ainda só temos os dados do
trabalho e ainda não temos, que eu saiba, os
os portugueses a taxa de pobreza os que tapam a cara na Æla da Amadora a dados da oferta alimentar, que não tem
que já são passou de 25% para caminho do centro islâmico, são os que vão ao faltado. Mas sabemos que a crise será também
17% (Farinha Banco Alimentar, são os descartados dos da oferta e, portanto, do custo. Entretanto a
pobres e mais Rodrigues). Mas são bairros pobres do Pragal, são os que tentam Comissão Europeia delonga-se em discussões,
os novos 17%. Ou seja: eram, organizar-se no bairro da Cova da Moura. São ajustes, burocracias, tribunais.
pobres ‘bem até início de Março
de 2020.
as “pessoas normais” (como se diz!) que
pedem aos amigos e à família. E desta
O tempo passa e os sentimentos políticos
também. Em 1890, um grande escritor
vestidinhos’ Actualmente, há esperam muitas vezes a factura: norueguês, Knut Hamsun, que veio a receber
terão muito mais 75.000
desempregados, há
culpabilizações e conselhos.
Mas não há só insegurança alimentar. Há
o prémio Nobel em 1920, escreveu um
extraordinário e dramático livro chamado
mais um milhão de algo mais escondido, mas muito alastrado Fome baseado no que então se passava na
insegurança trabalhadores em que são as carências especíÆcas em Noruega pobre antes da descoberta do
layoff, mas só nutrientes. Volto aos resultados do IANAF: petróleo. Só morreu em 1952, mas ainda viveu
alimentar, 200.000 vão receber “Uma em cada 2 portugueses não consome a o suÆciente para se tornar pró-nazi. São
muito mais nas próximas quantidade de fruta e hortícolas recomendada também estes perigos que existem.
carências semanas, por natural
atraso
pela Organização Mundial da Saúde.” Ou
seja, pode calcular-se que metade dos
Com todos estes dados, assumo que os
portugueses que já são pobres e mais os novos
administrativo, portugueses não come vitaminas e sais pobres “bem vestidinhos” terão muito mais
apesar do grande minerais em quantidade suÆciente para ter insegurança alimentar, muito mais carências,
esforço dos uma boa saúde. Isto basta para dar o retrato muito mais reÇexos na saúde a longo prazo. E
funcionários da da situação e não é preciso ir aos detalhes da vergonha. Que deviam perder.
Segurança Social. E carne, do peixe e dos lacticínios. Não se
há os novos pobres. poderá dizer que metade dos portugueses Médica; professora da Faculdade de
Há um milhão de têm insegurança alimentar, eles eram Medicina de Lisboa; activista política

A indignidade ética das Ubuntu: para aprender
certidões de imunidade a vivermos juntos
D C
M. Patrão Neves
epois de um duro e longo
conÆnamento, a ânsia de
desconÆnar era geral. Sabíamos
que poderia aumentar o risco de
infecção, mas, até ao presente, não
há sinais negativos, pelo que se
anuncia a segunda fase do
desconÆnamento na próxima
semana.
Também, então, os testes
serológicos deverão ganhar dimensão
nacional. Estes vêm a ser realizados há algum
tempo, por diversas entidades, mas só agora se
inscrevem num projecto de ampla cobertura
da população. Os testes serológicos medem a
presença de anticorpos contra um vírus,
avaliando as defesas próprias no sistema
imunitário de um indivíduo. Podem, pois,
determinar se uma pessoa esteve em contacto
com o coronavírus, mesmo que se tenha
mantido assintomática. Quando os testes são
realizados a uma população, visam também
avaliar a imunidade de grupo que, uma vez
alcançada, permitiria que se passasse de uma
situação pandémica para um estado endémico
(semelhante a outras doenças
infectocontagiosas). Muito há ainda que se
desconhece, como a duração da imunidade
adquirida. A OMS alerta também para a
ausência de prova cientíÆca de que os
pacientes de covid-19 recuperados estejam
totalmente imunes a nova infecção, além de
haver relatos de recuperados que mantêm
sintomas fortes da doença.
As incertezas incentivam a implementar o
teste e a alargá-lo à população e ditam também
os alertas de prudência na sua perspectivação
que entidades responsáveis, como a DGS, têm
repetido.
Não obstante, circula muita informação que
converte os meritórios contributos das ciências
biomédicas e das tecnologias digitais para um
desconÆnamento mais seguro em pueris
talismãs. Foi assim com a divulgação dos
projectos cientíÆcos para criação da vacina
cuja iminência prematuramente anunciada
fazia crer que seria a solução para o
desconÆnamento. Tem sido assim com a
disseminação da ideia de que o progresso
tecnológico nos permite identiÆcar todos os
nossos contactos com infectados com o
coronavírus, sem prejuízo da privacidade
pessoal. Está a ser assim com os testes
serológicos perspectivados como certiÆcação
de imunidade e vulgarizados como
“certiÆcados livres de risco” ou “passaporte da
saúde”, numa política de linguagem tão hábil
quanto eticamente ignóbil.
A desinformação reveste-se de diferentes
roupagens. Por vezes aparece sob o signo do
optimismo, como aconteceu com a vacina:
havia que dar esperança às pessoas e servir
interesses de algumas empresas de
biotecnologia. Mas um optimismo infundado
ou exacerbado infantiliza. Por vezes aparece
sob o signo da simplicidade, como aconteceu
com o rastreamento digital em aplicações
móveis: havia que mostrar a capacidade de a
tecnologia arranjar soluções fáceis para
situações difíceis e servir interesses de algumas
empresas de tecnologia digital. Mas um
simplismo ingénuo e acrítico é manipulador.
Em ambos os casos, criam-se falsas
expectativas, gera-se confusão, e corrói-se a
conÆança necessária no conhecimento
cientíÆco e nas instituições que o desenvolvem.
Por vezes também aparece sob o signo da
eÆcácia, como ameaça acontecer com os testes
de imunidade, propagandeados como cartas
de alforria.
Quando falha a integridade ética da
informação e da comunicação pelas entidades
competentes, mas
também quando falha
a responsabilidade
moral dos cidadãos
de consultarem
Marcar pessoas fontes Ædedignas,
assistimos,
já teve muitas impotentes, a
versões na interpretações
abusivas e utilizações
história da arbitrárias da verdade
humanidade e dos factos, tal como
acontece com as
todas narram famosas “festas
discriminação covid”, em que
e exclusão pessoas saudáveis
convivem com
infectados na
expectativa de se
infectarem também e
na ilusão de que
apenas ganharão
imunidade, mas não
os sintomas e os riscos associados à doença.
Assistimos, estupefactos, ao aproveitamento
manipulador de virtualidades biomédicas para
desígnios indignos e esconsos de identiÆcar as
pessoas de acordo com o seu suposto nível de
imunidade à covid-19, conferindo a benesse da
liberdade aos novos puros da sociedade e
restrições de circulação aos demais, num
regime de castas que supúnhamos
incompatível com a democracia.
E não vale a pena enunciar os países que
estão a ponderá-lo, como se o bem ou o
correcto fosse decretado por maioria (aliás,
inexistente nesta matéria); nem adianta
invocar o peso de países que o ponderam,
como se os maiores e mais poderosos tivessem
mais razão. Marcar pessoas por uma
periclitante imunidade já teve muitas versões
na história da humanidade e todas narram
discriminação e exclusão.
Professora catedrática de Ética
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 25
ESPAÇO PÚBLICO
através dela. Vivermos juntos exige um
Rui Marques exercício contínuo de construção de pontes e,
por mais difícil que seja, vale a pena regressar
elebra-se hoje mais um Dia ao otimismo de Edgar Cardoso: “Em todo o rio
Internacional Viver Juntos em Paz, há sempre um lugar onde se pode construir
uma iniciativa das Nações Unidas uma ponte; há que encontrá-lo.”
através da qual se procura O caminho não será fácil. As dinâmicas dos
“mobilizar os esforços da vários populismos são fogo em seara seca.
comunidade internacional para Explorando ressentimentos e preconceitos,
promover a paz, a tolerância, a parece imparável o discurso de nacionalismos
inclusão, a compreensão e a loucos, de localismos irracionais e de
solidariedade”. Em tempo de “justicialismos” básicos. Sobem-se muros,
covid-19, comemorar este dia tem levantam-se fronteiras, queimam-se pontes e
particular signiÆcado. vende-se a ilusão de que, assim, estaremos
A “era do risco”, a par com a incerteza, a seguros.
insegurança e a desconÆança, foi-se Mas é mentira.
adensando e hoje vivemos reféns de O único caminho para a paz é termos menos
sucessivos ciclos de medo, ora da “invasão de “outros” e mais “nós”. Precisamos de ser
estrangeiros”, ora do terrorismo, ora agora da capazes de alargar o perímetro de um “nós”
“pandemia”. De ciclo em ciclo, numa plural, nunca esquecendo que somos todos
sucessão cada vez mais rápida, há um eixo “braços da mesma árvore”. Precisamos de
comum nestes processos de reaÆrmar que somos uma só raça, uma
amedrontamento: a “outriÆcação”, enquanto mesma família, um só destino: juntos nos
criação artiÆcial de um “outro” que afundaremos ou juntos nos salvaremos.
representa uma ameaça. Em cada crise, este “Estamos todos no mesmo barco”,
movimento tenebroso vai-se diversiÆcando
nos alvos e é acompanhado por uma reação
recordava-nos, há dias, Francisco.
Vale a pena recuperar aqui a sabedoria de
de hostilidade que facilmente se transforma Margaret Mead quando identiÆcava num
em agressão irracional. A atualização da
dinâmica de “bode expiatório” continua
antigo fémur, com marcas de uma fratura
cicatrizada, o
tragicamente presente no nosso quotidiano. primeiro sinal de
Buscam-se culpados pela pandemia nos civilização. Explicava
chineses que “libertaram” o vírus ou nos que que no reino animal,
vieram “de fora” do nosso sítio e o trouxeram. se se partir a perna, a
Ouvimo-lo nas nossas ruas, nas nossas O único morte é certa.
cidades. Foi sempre assim e tende a ser pior,
porque o medo domina-nos cada vez mais,
caminho para a Nenhum animal
sobrevive, em
porque os perigos são à escala global e não paz é termos ambiente selvagem, o
param de nos surpreender e — infelizmente —
porque não nos cansamos de repetir os erros
menos ‘outros’ tempo suÆciente para
que um osso
do passado. e mais ‘nós’. fraturado possa sarar.
Que narrativas para enfrentar estes
processos de desumanização, devastadores
Precisamos de Não se poderia fugir
do perigo, ir beber
nas suas consequências? reafirmar que água, ou caçar. Um
Das raízes ancestrais da África subsariana somos uma só fémur com uma
podemos recuperar o conceito ubuntu, que
signiÆca “eu só posso ser pessoa através das
raça, uma marca de
consolidação
outras pessoas” e inspirou Mandela e Tutu na mesma família, pós-fratura é sinal de
sua extraordinária peregrinação em busca de
uma “nação arco-íris”, na qual todos
um só destino que alguém cuidou
daquela pessoa até
pudessem viver juntos, sem diferença de que ela recuperasse.
dignidade, nem de direitos, nem de E aí, diz Mead,
oportunidades. Esta ética social que a começou a
Academia de Líderes Ubuntu recuperou e hoje civilização.
celebra com o seu primeiro Ubuntu Leaders Esta encruzilhada
World E-Summit, contrapõe a um egoísmo será particularmente
perigoso e suicida a aÆrmação corajosa de evidente nas etapas
uma interdependência radical e aÆrma uma futuras da crise da pandemia que vivemos.
nova ética do cuidado face ao perigoso vírus Precisamos de saber escolher a única via que
da indiferença. oferece futuro. Hoje, a verdadeira civilização
Aprender a vivermos juntos, como caminho nascerá de sabermos viver juntos em paz,
para a paz, será sempre concretizado através cuidando e servindo.
de um processo de reconhecimento e cuidado
mútuo, de apreço pela diversidade cultural, Presidente do Instituto Padre António
étnica e religiosa e de crescimento com ela e Vieira/ Academia de Líderes Ubuntu
26 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

POLÍTICA
Congresso do PS adiado
para depois das presidenciais
“O congresso deverá discutir o país que estamos a construir, e não uma personalidade”, aÄrma Carlos
César. A eleição das direcções das federações será retomada em novos moldes, explica José Luís Carneiro
RUI GAUDÊNCIO

Partidos
São José Almeida
O XXIII Congresso do PS só se deve-
rá realizar no primeiro trimestre de
2021, anunciou ao PÚBLICO o presi-
dente dos socialistas, Carlos César.
Ficam assim para o próximo ano as
eleições do secretário-geral, da pre-
sidente e da comissão política das
Mulheres Socialistas e dos delegados
ao conclave nacional, que deveriam
ter decorrido ontem e hoje.
“A situação pandémica obriga
necessariamente a adaptação às
características de um congresso
para ocasiões e modos diferentes”,
começou por declarar César, reve-
lando: “Não teremos, certamente,
as melhores condições para desen-
volver o congresso este ano. Penso
que poderá realizar-se no primeiro
trimestre de 2021, na mesma em
Portimão.”
O presidente do PS defende que
fazer a reunião magna “no último
trimestre deste ano resultará em
prejuízo quanto à participação e
transformará o congresso num
debate sobre presidenciais”. César
é peremptório em recusar essa dis-
cussão sobre o apoio do PS à recan-
didatura de Marcelo Rebelo de Sou-
sa, na prática lançada pelo primeiro-
ministro, António Costa, na
quarta-feira. “O congresso deverá
discutir o país que estamos a cons- O último congresso do Partido Socialista decorreu em 2018, em Lisboa
truir, e não uma personalidade”,
defende César. gressos, que estavam marcados poderá ser adoptada “a realização por parte do PS não preocupa Car- fase de preparação do processo elei-
Outra alteração defendida pelo respectivamente para 13 e 14 de Mar- presencial dos actos eleitorais para neiro. “Mesmo em estado de emer- toral”. Concluindo que “os partidos
presidente do PS é à representativi- ço e para 4 e 5 de Abril e foram adia- as lideranças federativas, delega- gência e de calamidade, fomos capa- estão a demonstrar grande capaci-
dade do conclave. Mesmo passado dos. A direcção do PS está a prepa- dos, moções de orientação estraté- zes de demonstrar que os nossos dade de adaptação e continuam
para o próximo ano, o XXIII Con- rar o retomar do processo, respei- gica e órgãos, a par do debate digital direitos constitucionais e a nossa como fontes importantes de escolha
gresso, defende Carlos César, terá tando o distanciamento social. As das moções”. democracia representativa, e a qua- democrática das lideranças locais,
de contar “com um número de dele- decisões serão tomadas “entre o Æm lidade do seu exercício, têm sido distritais e nacionais”.
gados inferior” ao que é normal. do mês de Maio e início de Junho”, Outras alterações garantidos”, sublinha o número dois Carneiro considera ainda que “a
Será, assim, necessário rever os declarou ao PÚBLICO o secretário- Mais difícil será organizar os con- do PS, assumindo que “os partidos democracia representativa é uma
rácios de representatividade de geral adjunto, José Luís Carneiro. gressos federativos. A solução pode- políticos são esteios muito relevan- das expressões essenciais das demo-
cada delegado em relação ao uni- Está a ser avaliada a possibilidade rá passar pela redução do número tes” em democracia. Não só porque cracias liberais”, razão pela qual “a
verso dos militantes, o que deverá de a eleição das direcções das fede- de delegados, à semelhança do con- “estão estruturados a vários níveis”, sua adaptação às circunstâncias
ser feito pela comissão nacional em rações serem feitas em vários dias, gresso nacional. Carneiro admite mas também porque “têm actos elei- novas” devido à pandemia “é funda-
próxima reunião. presencialmente, em espaços que “pode haver necessidade” de se torais de dois em dois anos”. mental”, não apenas em relação “à
A preparação de um congresso do amplos e com regras sanitárias, sou- compatibilizarem as duas possibili- E garante que, “no caso do PS, a transição digital, mas também a for-
PS inclui a eleição prévia das direc- be o PÚBLICO. Até porque o recurso dades”, a presencial e a digital. base desta estrutura política foi mas novas de participação, quer na
ções das estruturas concelhias, o à votação digital pode excluir mui- O problema é garantir a eleição objecto de renovação política”, uma prestação de contas, quer na cultura
que decorreu no início deste ano, tos militantes. “Todas essas hipóte- periódica, que assegura a renovação vez que se procedeu à eleição dos de responsividade”.
mas também das direcções das fede- ses têm estado em cima da mesa”, da legitimidade política em demo- órgãos concelhios. Quanto aos
rações e a realização dos seus con- conÆrma Carneiro, adiantando que cracia, questão cujo cumprimento outros níveis, frisa que “estão em sao.jose.almeida@publico.pt

União da dupla
Marcelo-Costa
provocou arrepios
à direita
Presidenciais
Sofia Rodrigues
Há quem apele a uma
candidatura que vá ao
encontro de quem não se
revê no actual Presidente
nem em Ventura
O momento em que, na quarta-feira,
António Costa abriu caminho à recan-
didatura de Marcelo Rebelo de Sousa
e o Presidente respondeu com a ideia
de manter “o espírito de equipa” agi-
tou as águas à direita. Sobretudo
naquela direita que não se revê em
Marcelo nem em André Ventura no
que diz respeito às presidenciais de
2021. Há quem apele a uma terceira
via. E no CDS já é assumido o desagra-
do pelo “apoio” do Presidente ao
Governo socialista.
Miguel Poiares Maduro, antigo
ministro de Passos Coelho, viu o
momento como uma “coligação”
mais conjuntural e de conveniência.
“Ambos têm interesse: António Costa
não tem alternativa, caso contrário
tem de aceitar Ana Gomes; e Marcelo
tem interesse em aparecer como o
Presidente que atravessou fronteiras
político-ideológicas”, sustenta o pro-
fessor universitário, admitindo um
“um certo desconforto” com a actua-
ção do Presidente. “Talvez o profes-
sor Marcelo Rebelo de Sousa não
tivesse de ser tão amigável e próximo
do actual primeiro-ministro e pudes-
se manter algum distanciamento.
Pode cooperar com o Governo sem
Carlos Guimarães Pinto põe-se
fora e sugere Mesquita Nunes
ser apoiante do Governo”, defende.
Com o fantasma de uma crise inter-
na no Governo, o episódio da recan-
didatura presidencial foi, nas palavras
de Miguel Morgado, antigo adjunto de
Passos Coelho, uma “jogada” que
“alimenta a expectativa” de uma ter-
ceira candidatura à direita, de “todas
as pessoas que não se revêem neste
bloco central nem em André Ventu-
ra”. O fundador do Movimento 5.7
não adiantou nomes e o dirigente
nacional do CDS Raul Almeida tam-
bém não o faz, embora não esconda
o desagrado sobre o que se passou.
“A partir do momento em que o
Presidente da República apoia o pri-
meiro-ministro e o primeiro-ministro
o transforma no candidato do PS, as
personalidades da direita que aspiram
a uma candidatura presidencial têm
obrigação de se apresentarem e não
esperarem por momentos tactica-
mente previstos, e o PSD e o CDS terão
de dialogar em torno de uma perso-
nalidade forte e consensual à direita,
que se queira apresentar”, defende.
Raul Almeida alerta para outro risco.
“O Presidente, ao encostar-se extem-
poraneamente à esquerda, corre o
risco de Æcar com a responsabilidade
de gerar um voto de descontentamen-
to que inÇacione um candidato da
área do populismo”, aÆrma, numa
alusão ao deputado do Chega.
Mas também há, no CDS, quem
entenda que não é preciso procurar
mais candidatos. “A direita deve estar
muito satisfeita por ver o candidato do
seu espaço político ser capaz de alar-
gar eleitorado”, aÆrma Diogo Feio.
No rescaldo da união Costa-Marce-
lo, o antigo líder da Iniciativa Liberal
(IL), Carlos Guimarães Pinto, surgiu
como o favorito entre os liberais para
entrar na corrida a Belém. Ao PÚBLI-
CO, o próprio disse que “há um espa-
ço político a ser preenchido”, mas
descartou, para já, ocupá-lo e até lan-
çou um nome alternativo: Adolfo
Mesquita Nunes.
O social-democrata José Eduardo
Martins diz que quem procura um
“protagonista credível” entre Marce-
lo e Ventura vive na “bolha das redes
sociais”. O antigo deputado desvalo-
riza o episódio político desta semana,
mas evidencia o efeito da iniciativa de
Costa: “O primeiro-ministro pode não
saber do que nós precisamos, mas
sabe do que precisa e precisava de
tirar Ana Gomes do caminho.”
srodrigues@publico.pt
Centeno cumpriu as obrigações
do Estado. Marcelo, Costa, Rio
e o BE cavalgaram a demagogia
A Semana Política
São José Almeida
Sejamos claros, o ministro de
Estado e das Finanças, Mário
Centeno, não fez nada de errado ao
autorizar a transferência do
empréstimo de 850 milhões de
euros do Fundo de Resolução para
o Novo Banco. Apenas cumpriu a
sua obrigação e a do Estado
português de libertar o
Ænanciamento anual que estava
acordado desde a venda daquela
instituição bancária ao fundo Lone
Star. Empréstimo aprovado, aliás,
no Orçamento do Estado para
2020.
Se em todo este folhetim,
transÆgurado em crise política e
governativa, houve quem estivesse
mal, esses foram o
primeiro-ministro, António Costa,
o Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, e alguns partidos
da oposição, sobretudo o líder do
PSD, Rui Rio, e a deputada do BE
Mariana Mortágua, demonstrando
algum desespero na tentativa de
desgastar o Governo. Todos eles se
deixaram levar pela politiquice
mediática de ocupar espaço nos
noticiários e pela tendência para
surfar espuma dos dias da onda da
demagogia, provocando uma
situação de tensão que poderia ter
levado à demissão do ministro de
Estado e das Finanças, quando o
país vive um gravíssimo momento
de crises de saúde pública, da
economia e da sociedade. E que,
sem dúvida, fragilizou António
Costa e Mário Centeno.
Esteve mal o primeiro-ministro
ao não ter em conta que havia
compromissos assumidos pelo
Estado que tinham de ser
cumpridos e ao ter dado a garantia
ao BE, no Parlamento, a 22 de Abril
e a 7 de Maio, de que não seria feita
nenhuma transferência sem que a
auditoria em curso fosse feita.
Um erro grave de António Costa,
quando o próprio, no Ænal de
Fevereiro, tinha assumido: “Da
parte do Estado, o Estado
contribuirá única e exclusivamente
com aquilo que consta do
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 27
Orçamento do Estado e foi
aprovado pela Assembleia da
República e contribuirá — e reitero
— numa modalidade de
empréstimo, como tem sido até
agora.”
Mas esteve também mal o
Presidente da República ao, na
quarta-feira, em directo da
Autoeuropa, aproveitar uma
pergunta de jornalistas para tirar o
chão a Mário Centeno, ao aÆrmar:
“O senhor primeiro-ministro esteve
muito bem no Parlamento, quando
disse que fazia sentido que o Estado
cumprisse as suas
responsabilidades, mas
naturalmente se conhecesse
previamente a conclusão da
auditoria.”
Seria sensato
e benéÄco um
ministro com
a obra, o currículo
e o prestígio
de Mário Centeno
sair do Governo?
Cavalgando a demagogia, Rui Rio
que sabe de certeza do que estava a
falar, esteve mal também ao dar o
salto em frente e declarar: “O
primeiro-ministro é que entende se
demite o ministro. Se eu estivesse
no lugar dele, se [ele] não se
demitisse, seria demitido.” Assim
como, Mariana Mortágua ao
comentar: “Ou estamos a assistir a
uma remodelação em directo e o
ministro das Finanças sairá do
Governo, porque considera o seu
primeiro-ministro ‘irresponsável’,
ou já assistimos a uma remodelação
e o ministro das Finanças passou a
dirigir o Governo”.
Mário Centeno pode até, de
facto, querer sair do Governo. O
“folhetim”, como o próprio
ministro de Estado e das Finanças
lhe chamou, das notícias sobre a
sua saída dura há um ano e o
próprio nunca as desmentiu. Pelo
contrário, alimentou-as pela
ambiguidade de respostas que deu,
POLÍTICA
em entrevista ao Expresso, sobre o
seu possível regresso ao Banco de
Portugal, como presidente. Tal
como tem sido ambíguo sobre a
recandidatura à presidência do
Eurogrupo, cujo mandato acaba a
13 de Julho. Se o desejo de voltar ao
Banco de Portugal é real, não se
percebe o passo, pois signiÆca
“descer de cavalo para burro”,
passe a expressão.
Mas a verdade é que quem tem o
mínimo de informação sobre o
assunto percebe que o Estado
português não pode deixar de
cumprir o acordo que fez ao vender
o Novo Banco. Se o Presidente da
República, o primeiro-ministro e os
partidos parlamentares não
querem enterrar mais receitas
Æscais do Estado no Novo Banco,
renegoceiem o acordo com a Lone
Star. Assim como, se não querem
que sejam pagos prémios de
dividendos aos accionistas do
banco, o façam de forma legal.
Agora, lançar a confusão e fazer
demagogia, baralhando os níveis
de auditoria em jogo e fazendo de
conta que Mário Centeno decidiu,
por sua alta recriação, emprestar
850 milhões ao Novo Banco, sem
Æscalização prévia, é que não é
politicamente sério. Houve três
auditorias prévias previstas, como
conÆrma o comunicado do
primeiro-ministro de quinta-feira —
em que António Costa reaÆrma a
conÆança pessoal e política em
Mário Centeno — e como o
PÚBLICO tinha noticiado no
sábado passado. Não são a
auditoria posterior a cada
empréstimo, a qual Æca pronta em
Julho, mas o Novo Banco tem sido
Æscalizado.
Insisto. O rigor e a seriedade na
política são essenciais. De que
servem ao país estas falsas
polémicas? Seria sensato e benéÆco
um ministro com a obra, o
currículo e o prestígio de Mário
Centeno sair do Governo? Faz
sentido deixar de respeitar o
compromisso contratual de
injecções de empréstimos anuais
no Novo Banco, provocando com
isso uma crise bancária, que iria
adensar as graves crises de saúde
pública, economia e de sociedade
que vivemos?
Jornalista. Escreve ao sábado
sao.jose.almeida@publico.pt
28 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

POLÍTICA

“O responsável pelo Ministério das

Finanças sou eu”, diz Mário Centeno
Esta história começou com um pedido de desculpa de António Costa à coordenadora do Bloco
de Esquerda. E acabou com uma reunião de três horas em São Bento. Acabou mesmo?
NUNO FERREIRA SANTOS

Governo
Sónia Sapage
O ministro das Finanças esteve uma
semana debaixo de fogo, incluindo
do Presidente da República, mas não
aceita que tentem arrastar para a cri-
se — que dá por encerrada — mais
nenhum membro da sua equipa.
“Quem é responsável pelo Ministério
das Finanças sou eu. Desde que che-
gou o pedido, acompanhei de perto
aquele empréstimo, que estava pre-
visto no Orçamento do Estado apro-
vado”, diz Mário Centeno ao PÚBLI-
CO sobre os 850 milhões de euros
injectados recentemente no Fundo
de Resolução do Novo Banco.
A frase é mais complexa do que
parece. Desde logo, da cuidadosa esco-
lha de palavras resulta uma lição de
economia: o dinheiro injectado não é
uma mera transferência, mas sim um
empréstimo que terá de ser pago (aliás,
o Estado já recebeu 500 milhões de
euros de juros). Mais, esse movimento
de capital estava previsto e contabili-
zado no Orçamento do Estado para
2020 que o Parlamento aprovou em
Fevereiro. Finalmente, Centeno escla-
rece que não há mais ninguém a res-
ponsabilizar pelas decisões e pelas
falhas de comunicação já assumidas a
não ser ele próprio — muito menos
pode responsabilizar-se o secretário Mário Centeno diz que acompanhou sempre a questão da transferência dos 850 milhões para o Novo Banco
de Estado das Finanças, Ricardo Mou-
rinho Félix, hipótese que chegou a ser Nem um pedido de demissão. Mas do século, que culminará numa crise
levantada por supostamente este
governante ter passado recentemente
Crise “resolvida”, diz Costa houve um comunicado do gabinete
do primeiro-ministro com explicações
económica para a qual o ministro das
Finanças está a preparar uma respos-
a gerir o polémico dossier. sobre auditorias em curso e que ter- ta: o Orçamento Suplementar que será

E
Na última semana, o ministro das
Finanças deu entrevistas e desdo-
brou-se em explicações na Assem-
bleia da República com o objectivo de
demonstrar que nunca pisou a lei
nem desobedeceu a nenhuma ordem
do primeiro-ministro. “Acharia
extraordinário que aparecesse o
seguinte título num jornal: ministro
das Finanças sai do Governo por cum-
prir a lei”, ironiza, Ærmemente empe-
nhado em encerrar a novela que o
pôs a ele de um lado e ao bloco Costa/
Marcelo do outro.
Ao longo destes dias em que a polí-
tica se desconÆnou, não terá havido
um “irrevogável” nas conversas entre
Mário Centeno e de António Costa.
m entrevista à CMTV, o
primeiro-ministro, António
Costa, repetiu ontem à noite
a narrativa dos últimos dias:
a “crise” com o ministro das
Finanças, Mário Centeno, está
esclarecida “e resolvida”.
O chefe do Governo
reconheceu que a auditoria da
Deloitte ao Novo Banco ainda
não está concluída e deverá
ficar pronta apenas em Julho,
mas sublinha que se refere a
factos ocorridos até 2018. “O
empréstimo feito diz respeito às
contas de 2019”, distingue.
“Não vou estar aqui a reabrir
um debate com Pedro Passos
Coelho ou Carlos Costa sobre o
Fundo de Resolução em 2014.
Aquilo que nos competiu fazer,
depois de tudo isso estar feito,
foi encontrar uma solução [para
o antigo Banco Espírito Santo]. A
qualidade da venda [à Lone Star]
depende da qualidade do
produto”, considera o
primeiro-ministro.
António Costa disse ainda que
o Governo “precisa de outro
grau de certeza” para poder
tomar mais decisões em
resposta è crise provocada pela
pandemia de covid-19. L.B.
minou com uma mensagem de apoio
a Centeno. “O primeiro-ministro rea-
Ærma publicamente a sua conÆança
pessoal e política no ministro de Esta-
do e das Finanças, Mário Centeno.”
Os dois membros do Governo
demoraram uma semana, mas con-
seguiram chegar a um entendimento.
Chegaram, até, a uma frase Ænal
comum: “Não há crise, está tudo
ultrapassado”, garantiu ontem Antó-
nio Costa no brieÆng do Conselho de
Ministros que deÆniu as regras da
segunda fase do desconÆnamento.
Centeno já o dissera, ao Expresso, um
dia antes.
O Governo surge agora determina-
do a voltar à tratar da crise sanitária
entregue até ao Verão. António Costa
fez referência a esse momento no mes-
mo comunicado, emitido depois de
uma reunião de três horas com Mário
Centeno na sua residência oÆcial.
“O primeiro-ministro e o ministro
de Estado e das Finanças tiveram hoje
uma reunião de trabalho, no quadro
da preparação da próxima reunião do
Eurogrupo, que terá lugar sexta-feira,
e da deÆnição do calendário de elabo-
ração do Orçamento Suplementar que
o Governo apresentará à Assembleia
da República durante o mês de Junho”,
começa por dizer a nota. Tudo o resto,
no comunicado, é passado.
sonia.sapage@publico.pt

PÚBLICO & NOTÓRIO
DR
Bastidores
Máscaras na AR? É
preciso saber usá-las
“Então nós íamos mascarados
para o 25 de Abril?” A pergunta
foi feita por Ferro Rodrigues, há
três semanas, quando se
discutiam as regras de
protecção individual na
cerimónia do 46.º aniversário
do 25 de Abril no Parlamento.
Na semana passada, porém, o
presidente da Assembleia da
República mudou de opinião e
passou a proibir — por
despacho — “a entrada,
circulação ou permanência
nas instalações da AR a quem
não usar máscara social ou
cirúrgica devidamente
colocada (podendo esta ser
substituída por viseira)”.
Mas talvez algo tenha de
mudar outra vez, porque,
entretanto, a directora-geral
da Saúde fez saber que isso de
máscaras e viseiras não é tudo
a mesma coisa. “A viseira não é
um método que dispense
utilização de uma máscara.
Protege muito bem os olhos e
o nariz, mas, por ser aberta em
baixo, já não protege muito
bem a boca de espirros”, disse
Graça Freitas.
E por falar em boca e nariz...
Quem não tinha a máscara
bem posta, no primeiro
plenário em que ela se
tornou obrigatória (menos
durante as intervenções), era o
secretário da mesa da
Assembleia Duarte Pacheco.
Por alguns momentos, o
parlamentar do PSD
esqueceu-se de tapar o nariz,
deixando assim de fora uma
das partes que podem servir de
eventual emissor-receptor do
novo coronavírus.
FOTO DA SEMANA
Na noite de quarta-feira, depois
de ter recebido Mário Centeno
em São Bento, António Costa
colocou cinco fotos no Twitter.
Ficámos logo a saber que o
encontro foi divertido. Na
primeira foto, estão os dois
governantes de pé, na sala de
A POUPANÇA PARLAMENTO AUMENTA PÉ-DE-MEIA
Por altura da apresentação do
Orçamento do Estado para este
ano, em final de 2019, ficou a
saber-se que a Assembeia da
República tinha um pé-de-meia de
17,5 milhões de euros.
Mas, em tempos de crise, esta
poupança pode crescer a olhos
vistos. Só no mês de Março, e
fruto da redução da frequência
dos trabalhos parlamentares, a
Assembleia da República gastou
menos 288 mil euros em subsídios
de deslocação entre a residência
dos deputados e o Parlamento e
nos círculos eleitorais. Números
divulgados pelo Jornal de Notícias
e fornecidos pela secretaria-geral
80.560
reuniões da residência oficial, a
sorrir. Na segunda, estão
sentados, mas igualmente de
sorriso no rosto. Na terceira,
voltam a estar de pé, mas só
Costa ri, embora o homem das
Finanças não esteja com ar de
maldisposto. Na quarta, já estão
do Parlamento mostram que a
poupança foi de 253 mil euros nas
deslocações de casa para São
Bento e de 35 mil euros nas
restantes deslocações.
Mais de 280 mil em Março e outro
tanto em Abril já aumenta o
pé-de-meia em mais de meio
milhão de euros.
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 29
POLÍTICA
Entre os dias 18 de Março e 3 de
Maio, enquanto vigorou o estado
de emergência, a Segurança
Social recebeu 80.560 pedidos
de subsídio de desemprego. Os
dados foram disponibilizados
pelo Gabinete de Estratégia e
Planeamento do Ministério do
Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social
AS FRASES
“Como não há duas
sem três, cá temos
de voltar outra vez”
António Costa
Primeiro-ministro
“O primeiro-ministro
esteve muito bem
no Parlamento”
Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República
“Mário Centeno não
passou a ter condições
para continuar”
RuiRio
Líder do PSP
“Seria prudente que
o Presidente (...)
evitasse ser arrastado
para o conflito”
Francisco Rodrigues dos
no hall do palácio, mas Santos
igualmente de pé: Costa Líder do CDS
continuar a sorrir e Centeno
solta uma gargalhada. Por fim,
na quinta foto, estão já na rua e “[Transferência]
ambos vão a rir. Parece que,
afinal, os dois governantes
não foi feita à revelia
sabem divertir-se juntos! de ninguém”
Mário Centeno
Ministro das Finanças
A MODA MINISTRA FASHION
Depois do sucesso da viseira “[Estas novelas]
personalizada do ministro procuram apenas
Eduardo Cabrita, o prémio
máscara fashion vai para Ana cavar divergências
Mendes Godinho, que se dentro do Governo”
apresentou em público com um Carlos César
tapa-nariz e boca de tecido com Presidente do PS
desenhos da pintora mexicana
Frida Kahlo. Dias depois, a
máscara escolhida para a
governante sair à rua era
diferente, com flamingos. Se
estivesse em curso um concurso
de máscaras, a ministra do
Trabalho — ao escolher vários
modelos exclusivos — ganharia,
por muito, aos colegas do
Governo.
30 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
SOCIEDADE
Tribunais improvisam para
cumprir regras de abertura
Lugares marcados a régua, tapetes com desinfectante e muitas dúvidas. “Não se pode anunciar
o regresso à normalidade se não forem criadas condições”, diz presidente da comarca judicial do Porto
Justiça
Ana Henriques
Maria da Luz faz um gesto de impa-
ciência e atira outra vez o corpo con-
tra a bancada dos advogados até o
móvel Æcar de quina, desalinhado
com a secretária mais próxima da sala
de audiências. “Alguém voltou a
mexer nisto”, enerva-se, pronta para
se atirar ao empurrão à bancada
seguinte. Encarregue da gestão de um
dos edifícios do Campus da Justiça,
em Lisboa, Maria da Luz e muitos
outros funcionários judiciais país fora
engendram mil e uma maneiras de
Æntarem o vírus. Enviesar bancadas
dos advogados nas salas de audiên-
cias, de forma a que possam Æcar
mais afastadas das secretárias dos
funcionários, é só uma delas.
“Mandei serrar uma régua e andei
a medir tudo”, conta o juiz que presi-
de à comarca de Setúbal, Manuel
Sequeira. Entre cada cadeira das salas
de audiências onde se sentam os juí-
zes, Æcaram dois metros bem medi-
dos. Mas um dos colectivos de juízes
trocou-lhe as voltas: “Quando lá voltei
no dia seguinte, duas das cadeiras
estavam outra vez juntinhas”.
O regresso dos tribunais à activida-
de regular deverá ocorrer já para a
semana. O Ministério da Justiça defen-
de que esta normalização é crucial
para o funcionamento da economia
e para garantir os direitos dos traba-
lhadores afectados pela crise. Manuel
Sequeira estima porém que recuperar
o trabalho acumulado durante estes
cerca de dois meses possa demorar
até Novembro, devido à burocracia
inerente à actividade judicial.
Mas a tradição não voltará já a ser o
que era. Estar nos tribunais de cara
descoberta não será permitido, e nas
salas de audiências em que não se
revele possível garantir um afastamen-
to de dois metros, os intervenientes
têm de usar viseira por cima da más-
cara. Caso contrário, o julgamento
terá de ser por videoconferência.
“Será que os serviços do Ministério
da Justiça nos vão fornecer viseiras
para todos os intervenientes, uma vez
que o seu uso não é obrigatório?”,
interrogava a meio da semana o juiz
que dirige as comarcas de Leiria e de
NUNO FERREIRA SANTOS
Coimbra, Carlos de Oliveira. “Já per-
guntei, mas ainda não tive resposta.”
As interrogações acumulam-se. Os
novos acrílicos para separar o público
dos oÆciais de justiça nos locais de
atendimento são pequenos demais,
mas ninguém sabe dizer se chegarão
outros que cubram todo o balcão.
Maria da Luz olha para o interior
da máquina de vending. No meio das
águas e chocolates, nasceram frasqui-
nhos de gel desinfectante e pacotes
de máscaras cirúrgicas, a um euro
por embalagem. “Assim, ninguém
tem desculpas. Mas vou ter de enco-
mendar mais, estas são poucas.” Na
parede ao lado, foi instalado um dis-
pensador de gel, para quem usa a
máquina, e a maioria das cadeiras da
sala de espera foram inutilizadas com
avisos improvisados: “Não sentar”.
Outras, nas salas de audiência, Æca-
Os microfones têm
toalhetes das mãos
presos com um
elástico. A solução
foi totalmente
improvisada
ram de castigo, viradas para a parede.
As diÆculdades aguçam o engenho, e
quando percebeu que a película de
Ælme plástico que lhe chegou para
proteger os microfones diÆcultava a
gravação dos julgamentos, a funcio-
nária substituiu-a por toalhetes de
mãos surripiados aos WC e presos
com elásticos. Assim que o micro
muda de utilizador, é tirar o toalhete
e meter um novo.
A exiguidade de espaço não vai per-
mitir manter todos os funcionários a
trabalhar em simultâneo. Parte con-
tinuará em teletrabalho, num sistema
de rotatividade. Quem é de grupo de
risco Æca em casa. No Departamento
de Investigação e Acção Penal de
Almada, os funcionários trabalham
em dois turnos. No intervalo, tudo é
desinfectado. Mas na maioria dos tri-
bunais, não existem estes piquetes de
limpeza. A higienização acrescida,
nomeadamente em salas com mais
de um julgamento por dia, implicará
Sala de audiências do Campus da Justiça em Lisboa gastos anuais de seis milhões.
Em Santarém, foram colocados
tapetes à entrada dos edifícios embe-
bidos em desinfectante industrial. “Se
nos forem fornecidos os equipamen-
tos de protecção individual, Æcamos
prontos a funcionar. De outra forma,
não podemos usar as salas mais
pequenas, que apesar de tudo não são
a maioria”, observava a meio da sema-
na o presidente das comarcas de Leiria
e Coimbra, a quem até essa altura ain-
da não tinham sido entregues másca-
ras cirúrgicas. Um ajuste directo feito
pela Direcção-Geral da Administração
da Justiça nesta quarta-feira poderá
ajudar a resolver o problema. Foram
compradas 296 mil unidades por 163
mil euros, o que dá 55 cêntimos por
máscara — valor que, não sendo dos
mais elevados entre os contratos Ær-
mados pelo Estado neste período,
também não é dos mais baixos.
Questionado sobre a razão de não
ter promovido um concurso público,
quando há um mês que a Direcção-
Geral da Saúde alertou para a neces-
sidade de utilização de máscaras em
espaços fechados frequentados por
várias pessoas, o Ministério da Justiça
responde que só este procedimento
permitia “dar resposta tempestiva às
necessidades prementes que se colo-
cam”. No total, a tutela diz ter com-
prado até agora 340 mil máscaras, 12
mil viseiras e 785 separadores de acrí-
lico. “Não há escassez de máscaras.”
O uso do ar condicionado é desa-
conselhado. Só que há salas que nem
janelas têm. “Vai ser muito difícil no
Verão usar equipamentos de protec-
ção individual sem ar condicionado”,
antecipa a presidente da comarca de
Lisboa Oeste, Rosa Vasconcelos. José
Rodrigues da Cunha, que dirige a
comarca do Porto é mais taxativo:
“Não se pode anunciar o regresso à
normalidade se não forem criadas
condições. O espaço não estica.” Até
ao momento, não conseguiu conven-
cer o Ministério da Justiça a ceder-lhe
mais instalações.
Em Lisboa, a funcionária do Campus
da Justiça olha em redor uma vez mais,
para conÆrmar se está tudo no sítio
antes de fechar a porta: “As salas estão
todas em condições de voltarem a
funcionar. Palavra de Maria da Luz.”
ana.henriques@publico.pt

TVI multada
em 500 euros
por dia no
caso IURD
Media
Maria Lopes
Conflito entre a Igreja e a
TVI arrasta-se há dois anos
e meio. Regulador fez
queixa à PGR pelo crime de
desobediência qualificada
A ERC — Entidade Reguladora para a
Comunicação Social decidiu em Abril
multar a TVI em 500 euros por cada
dia de atraso por não ter emitido os
dezoito direitos de resposta da IURD
(Igreja Universal do Reino de Deus)
que deviam ter sido transmitidos no
início de Março. A decisão da data de
22 de Abril e a multa aplicavam-se a
partir do dia em que a TVI foi notiÆ#
cada, que o PÚBLICO apurou ter sido
a 29 de Abril — o que signiÆca que a
factura já vai em 8500 euros. Entre-
tanto, a TVI instaurou uma providên-
cia cautelar à decisão da ERC para
suspender os efeitos da sua decisão.
O regulador deliberou também
fazer queixa da TVI à Procuradoria-
Geral da República (PGR) por “indí-
cios de prática de um crime de deso-
bediência qualiÆcada” por a televisão
se ter recusado a acatar a ordem. E
ainda instaurar por si um novo pro-
cesso pela mesma razão.
Em causa a transmissão em 2017 de
nove reportagens sobre casos de
adopções alegadamente ilegais de
crianças. A IURD argumenta que não
foi ouvida para expor a sua versão dos
acontecimentos. A série motivou
queixas da IURD no regulador, que
ilibou o canal de televisão, e proces-
sos em tribunal — em que a ERC per-
deu duas vezes. Em Fevereiro, o
Supremo Tribunal Administrativo
obrigou a ERC a garantir que a TVI
transmitia os direitos de resposta nos
programas dos dois canais: TVI (Jor-
nal das 8) e TVI24 (21.ª Hora). O regu-
lador dava então 24 horas para a TVI
começar a emiti-los mas esta não o
fez. E a IURD fez nova queixa à ERC.
Esta recusa, de acordo com os estatu-
tos do regulador, constitui crime de
desobediência punível com pena de
prisão até dois anos ou multa até 240
dias. O regulador diz ainda que são
responsáveis por esta recusa os mem-
bros dos órgãos executivos — ou seja,
a administração da TVI — assim como
o director de informação.
maria.lopes@publico.pt
Vários idosos foram retirados do lar para ser feita uma desinfecção
MP vai receber
queixas sobre Lar
do Comércio
Coronavírus
Mariana Correia Pinto
Câmara de Matosinhos vai
participar ao Ministério
Público as queixas relativas
à instituição privada onde
já morreram 22 pessoas
Todas as queixas enviadas à Câmara
de Matosinhos relativamente ao Lar
do Comércio vão ser participadas ao
Ministério Público, garantiu ontem a
presidente da autarquia, Luísa Sal-
gueiro. “Tal como a câmara já fez em
situações onde havia relatos muito
menores, participaremos. E o Minis-
tério Público fará o desenrolar do pro-
cesso conforme entender”, aÆrmou a
autarca na primeira vez que falou
publicamente sobre o Lar do Comér-
cio, onde já morreram 22 pessoas.
Apesar de não ter responsabilidade
directa sobre a instituição privada,
que como IPSS recebe dinheiro públi-
co, a autarquia tem acompanhado o
processo. E, com o conhecimento que
tem da situação, pode falar-se de
negligência por parte da instituição,
questionou o PÚBLICO. “Não fui ao
Lar do Comércio. Pelos relatos que
tenho recebido, podemos”, respon-
deu, categórica, a responsável máxi-
ma pela Protecção Civil Municipal.
A acusação é refutada, também de
forma categórica, pelo lar, num
comunicado: “Não houve qualquer
negligência no Lar do Comércio.
Houve crise. E houve quem lutasse,
e muito, contra ela. Fizemos, faze-
mos muito mais do que nos compe-
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 31
SOCIEDADE
PAULO PIMENTA
Caso positivo
de funcionária
leva a desinfecção
do TCIC
nas a ocorrência do caso e que de
Tribunais facto o tribunal estava a funcionar.
Sónia Trigueirão Além do material de protecção que
foi distribuído aos funcionários e
Uma empregada de limpeza do Tri- magistrados, o acesso Æcou mais res-
bunal Central de Instrução Criminal trito.
(TCIC), em Lisboa, testou positivou Até ao dia 6 de Abril, apenas quatro
para a covid-19, segundo noticiou tribunais tinham sido obrigados a
ontem o Expresso. Mas ao que o encerrar para proceder a desinfec-
PÚBLICO apurou junto de fonte judi- ções após casos conÆrmados de
cial, apenas os magistrados e os polí-
cias foram testados e terão dado nega-
tivo. Os restantes funcionários não
covid-19. Aconteceu no Supremo Tri-
bunal de Justiça e nos tribunais de
Angra do Heroísmo, nos Açores, da
terão ainda feito qualquer teste e nem
se sabe se vão fazer.
O caso foi conhecido no dia 13 de
Maia e de Cascais. Havia apenas regis-
to de três procuradores e três funcio-
nários judiciais infectados com a
Maio e o edifício do Tribunal foi desin-
fectado logo nessa noite para que os
serviços não precisassem de encerrar.
covid-19, além de um segurança e
uma empregada de limpeza. O caso
mais grave ocorreu no Tribunal da
Amélia Catarino, juiz presidente da Maia, onde havia três proÆssionais
Comarca de Lisboa, conÆrmou ape- infectados com o novo coronavírus.
tia.” Na quinta-feira, depois de a
instituição ter pedido ajuda mais uma
PUBLICIDADE
vez, dizendo precisar de mais 30 pro-
Æssionais para garantir a segurança
dos idosos, a Comissão Municipal de
Protecção Civil de Matosinhos iniciou
uma operação de retirada de 59 uten-
tes. Os 48 dependentes, acamados ou
em cadeira de rodas com teste nega-
tivo à covid-19 foram transferidos
para a Cruz Vermelha, em Gaia, e
para o Hospital Militar do Porto. Os
11 utentes infectados acabaram por
não sair como estava previsto, por-
que, à hora marcada para o início da
intervenção, o lar não tinha concluí-
da a lista de pessoas que deviam ser
movidas e as Æchas clínicas de alguns
pacientes estavam trocadas.
A operação foi concluída ontem,
passando esses 11 utentes para o Cen-
tro de Apoio Comunitário de Matosi-
nhos. Os 70 idosos que permanecem
no lar transitaram para a creche da
instituição. De seguida, o Exército
entrou no edifício para fazer uma
avaliação do espaço. Na segunda-fei-
ra, vai iniciar a desinfecção, que
decorre até quarta.
Luísa Salgueiro recordou que é à
Segurança Social que cabe a “res-
ponsabilidade formal” sobre o lar,
mas garantiu que o executivo assu-
mirá uma “responsabilidade ética”
e continuará a acompanhar o caso.
Se a instituição deve perder os
apoios públicos ou a direcção se
deve demitir, a autarca não quis
comentar. “Agora é preciso retirar
as pessoas, pô-las em segurança e
tratá-las devidamente.”
mariana.pinto@publico.pt
32 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
LOCAL
O painel de Vasco Berardo na
Cruz de Celas tem solução à vista
Conjunto de azulejos com cenas da vida do Mosteiro de Celas está a degradar-se há quase 20 anos.
Associação Vasco Berardo está a preparar projecto para o restauro
Coimbra
Camilo Soldado
Desde a viragem do milénio que o
painel de azulejos que Vasco Berardo
desenhou para o Largo da Cruz de
Celas, em Coimbra, está a cair aos
pedaços. O conjunto que ilustra várias
cenas da vida do vizinho Mosteiro de
Celas teve uma instalação deÆciente,
agravada pela ausência de manuten-
ção desde 1991. As amplitudes térmi-
cas a que o painel de 40 metros qua-
drados está sujeito não têm ajudado
e as dúvidas sobre a responsabilidade
do restauro também não. Mas agora
há um projecto estimulado pela Asso-
ciação Vasco Berardo (AVB) para
devolver as peças em falta a este tra-
balho do pintor, escultor, medalhista
e ceramista conimbricense que mor-
reu em 2017.
É preciso recuar aos anos 1980 para
perceber a origem deste painel Æxado
à beira da principal via que liga o cen-
tro da cidade ao Hospital Universitá-
rio de Coimbra. O hospital foi retirado
da Alta universitária e instalado num
novo edifício, numa zona periférica
de Coimbra, arrastando nessa direc-
ção o crescimento da cidade, ligando-
a ao núcleo urbanizado em torno do
Mosteiro de Celas.
A Construções Ramos de Carvalho,
fundada por três irmãos, fez parte
dessa onda de expansão urbanística
e o prédio da Cruz de Celas, um híbri-
do de espaços comerciais e consultó-
rios na base com uma torre de apar-
tamentos por cima, foi um dos edifí-
cios. Desenhado o prédio, era
necessário vencer o desnível entre as
ruas que o circundam. A solução pas-
sou pela construção de um muro
virado para o Largo de Celas e esca-
das de acesso. É aqui que entra Vasco
Berardo, artista nascido em 1933, con-
ta o engenheiro João Ramos de Car-
valho, que era então director-geral da
empresa familiar detida pelo pai e
dois tios, que já morreram.
“Começámos aquele prédio na
Cruz de Celas em 1988. Fui eu que
entrei em contacto com o Vasco
Berardo. Encontrei-o no centro de
Saúde de Celas, ele viu o local, fez o
orçamento e assim Æzemos”, recorda.
O resultado foi um rectângulo com
O painel está fixado à beira da principal via que liga o centro ao Hospital Universitário de Coimbra
cenas da vida das irmãs da Ordem de
Cister no Mosteiro de Celas. “Imagine
aquela parede toda amarela. É um
bocadinho diferente de estar lá um
painel de uma pessoa querida de
Coimbra”, prossegue.
Colapso parcial
Mas a obra não Æcou intacta durante
muito tempo. A construtora está sem
actividade desde a viragem do milé-
nio e foi também nessa altura que o
painel começou a apresentar sinais
de degradação. Há uma fotograÆa de
um inventário da Direcção Regional
da Cultura do Centro, com a data de
2004, que já mostra o painel com
vários azulejos em falta. Apesar de
não conseguir apontar com precisão,
João Ramos de Carvalho situa o início
do processo em 2003, quando “come-
çou a embicar”. Quem observasse o
painel com mais atenção veria “uma
espécie de circunÇexo”. “De repente,
colapsou e caiu uma mancha de sete
ou oito azulejos”, explica. Não seriam
os últimos e hoje o conjunto tem
várias manchas em falta.
O primo, Pedro Ramos de Carva-
lho, que então vivia no prédio, conta
que chegou a apanhar alguns azulejos
do chão e a guardá-los. Também
Nuno Berardo, Ælho de Vasco Berardo
e presidente da recém-nascida asso-
ciação com o nome do artista, conta
que o pai, que por acaso vivia e tinha
um estúdio nas imediações, chegou
também a recolher alguns azulejos.
Um gesto que o artista suportava com
alguma amargura, lembra.
Em princípio, um painel instalado
FOTOS: ADRIANO MIRANDA
em 1991 não deveria começar a cair
pouco mais de dez anos depois. O
motivo? Defeito de concepção. Ou de
instalação. Ou ambos, concedem as
várias pessoas com quem o PÚBLICO
falou. “Não criámos ali juntas de dila-
tação devidas”, recorda João Ramos
de Carvalho. “Mas também foi um
bocado por imposição do Vasco, que
não queria juntas, para não retalhar
o desenho”, acrescenta. Esse aspecto,
refere o engenheiro, somado à grande
amplitude térmica a que os azulejos
estão sujeitos, proporcionou as con-
dições para a queda. Outro problema
original, acrescenta, foi a instalação:
“não foi nenhum especialista, foi um
assentador de azulejos”.
Uma das chaves para perceber o
período de abandono a que este tra-
balho foi votado é a propriedade. João
Ramos de Carvalho diz que, apesar
de a empreitada ser privada, o painel
passou depois para o domínio públi-
co, uma ideia reforçada pelo primo,
Pedro. No entanto, em resposta ao
PÚBLICO, a Câmara de Coimbra não
conÆrma esta informação. Pelo cami-
nho Æcam vários contactos informais
junto de presidentes e vereadores ao
longo dos anos, referem os primos
Ramos de Carvalho. O próprio Vasco
Berardo chegou a fazer um orçamen-
to, por volta de 2010, conta o Ælho,
mas não chegou a avançar.
Hipótese de Recuperação
A Associação Vasco Berardo, que nas-
ceu para preservar e promover o tra-
balho do artista, “ainda anda de fral-
das”, menciona o seu presidente. Foi
fundada em 2018 e tem recursos limi-
tados, mas já tem um projecto de
restauro e um orçamento para o levar
a cabo. Para devolver o painel de
Celas ao seu aspecto original, serão
precisos cerca de 15 mil euros. “Pode
oscilar, ali há muito material que está
muito Æssurado”, ressalva Nuno
Berardo, que diz também que a AVB
está a tratar do processo de candida-
tura a um apoio da autarquia. No
espólio do artista há estudos porme-
norizados do painel, que podem ser-
vir de base aos trabalhos.
Ao PÚBLICO, o gabinete de comu-
nicação da câmara responde que “já
foram desenvolvidas várias reuniões”
com a associação, mostrando abertu-
ra para avançar com o restauro.
Mais próximo parece estar o restau-
ro do Monumento à Praça da Canção,
também da autoria de Berardo, e este
assumidamente “propriedade muni-
cipal”. Neste caso, o projecto de inter-
venção e a obra estão a cargo da
autarquia, “mas com o acompanha-
mento artístico e técnico da AVB”.
camilo.soldado@publico.pt

As 30 mil colectividades do
país precisam de um apoio
de 123 milhões para recuperar
Associativismo
Jorge Talixa
As associações e clubes
que existem no país terão
sofrido um impacto
negativo de cerca de
395/400 milhões de euros
As cerca de 30 mil colectividades,
associações e clubes existentes em
Portugal precisam de um apoio do
Estado da ordem dos 123 milhões de
euros para conseguir recuperar e
relançar as actividades afectadas pela
pandemia da covid-19. A estimativa
foi feita pela Confederação Portugue-
sa das Colectividades de Cultura,
Recreio e Desporto (CPCCRD) e pelo
Conselho Nacional do Associativismo
Popular (CNAP), que enviaram, esta
semana, uma proposta de plano de
emergência para o sector ao Presi-
dente da República, ao primeiro-mi-
nistro e às associações nacionais de
municípios e de freguesias.
O objectivo, sublinham a CPCCRD
e o CNAP, é “salvar as cerca de 30 mil
colectividades, associações e clubes
que existem no país” que, segundo
aqueles dois organismos, terão sofri-
do um “impacto negativo de cerca
de 395/400 milhões de euros” duran-
te o período de conÆnamento. A
esmagadora maioria destas 30 mil
colectividades, associações e clubes
encerrou totalmente as suas portas
e CPCCRD e CNAP consideram que é
urgente deÆnir um pacote de medi-
das para apoiar este sector.
Nesse sentido, a direcção da
CPCCRD (organismo com assento no
Conselho Económico e Social) ela-
borou uma proposta de plano de
emergência que contempla 13 medi-
das. Mas a CPCCRD lamenta, desde
já, que uma carta que enviou, no
início de Abril, à ministra do Traba-
lho, Solidariedade e Segurança
Social, alertando para estas preocu-
pações, não tenha tido resposta
“nem tão-pouco tenha sido acusada
a sua recepção”.
“De 15 Março a 30 de Abril, foram
suspensas, adiadas ou anuladas mais
de 120.000 actividades, que envol-
veriam cerca de 3 milhões de parti-
cipantes”, salienta a CPCCRD, frisan-
do que “foram tomadas medidas
para que os órgãos sociais mantives-
sem o funcionamento à distância” e
foi possível organizar iniciativas para
Do desporto à cultura, todos fecharam as portas
“apoiar os associados, os vizinhos, a
comunidade e muitas entidades
sociais de primeira linha”. “Contri-
buímos com a feitura de refeições e
equipamentos de protecção indivi-
dual para hospitais, distribuímos
bens alimentares e medicamentos,
disponibilizámos transportes e espa-
ços físicos para hospitais de campa-
nha”, aÆrma a confederação.
Considerando que deve haver um
compromisso para o futuro deste
sector em Portugal, a CPCCRD deci-
diu, por isso, avançar para a elabo-
ração de um Plano de Emergência
Nacional (PEN), que foi, entretanto,
subscrito pelas entidades que com-
põem o CNAP, uma plataforma infor-
mal que reúne, também, as confede-
rações das Casas do Povo e do Volun-
tariado e as federações de Campismo
e Montanhismo de Portugal, do Fol-
clore Português, de Jogos Tradicio-
nais e de Teatro.
Impacto negativo
“Estima-se que o encerramento das
instalações e a suspensão das activi-
dades a 100% (Março, Abril e Maio)
tenha um impacto negativo de cerca
de 395 milhões de euros. Milhares de
trabalhadores efectivos foram para
layoff. Milhares de prestadores de
serviços/trabalhadores independen-
tes fornecedores de serviços ao asso-
ciativismo Æcaram sem actividade.
As despesas Æxas e permanentes
mantiveram-se. Para o arranque e
recuperação das actividades associa-
tivas, estima-se que sejam necessá-
rios cerca de 123 milhões de euros”,
prossegue o PEN a que o PÚBLICO
teve acesso, vincando que estas
RUI GAUDÊNCIO
estruturas sem Æns lucrativos “não
têm reservas ou fundos bancários e
não podem hipotecar o seu futuro
com dívidas, correndo o risco de
encerrar por insolvência”.
Das câmaras municipais, o docu-
mento diz esperar um apoio extraor-
dinário às pequenas e médias colec-
tividades, até ao valor de mil euros
por mês, para satisfação de paga-
mentos de despesas de funciona-
mento, “sendo, posteriormente, as
autarquias reembolsadas pelo Orça-
mento do Estado”. Defende um
reforço extraordinário das verbas
afectas aos regulamentos munici-
pais de apoio ao associativismo.
Sugere, igualmente, a isenção de
pagamento de renda de instalações
municipais, a isenção de IMI e a
isenção do pagamento de água, tari-
fas e taxas associadas.
O PEN propõe, ainda, a cedência
gratuita de máscaras e álcool gel para
a retoma das actividades associativas
e a criação de um guia/manual de
desconÆnamento das colectividades,
associações e clubes. Para as grandes
colectividades, preconiza a disponi-
bilização de uma linha de crédito e
pretende, ainda, que o Governo
garanta o acesso imediato ao layoè,
total ou parcial, dos trabalhadores
das colectividades e que estas sejam
isentas do pagamento de IRC até aos
30 mil euros.
A aplicação do IVA reduzido (6%)
nos espectáculos associativos com
entradas pagas e a negociação/sensi-
bilização para o estorno de seguros
nos meses de Março, Abril, Maio e
Junho são outras medidas propostas
pela CPCCRD e pelo CNAP.
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 33
Câmaras do Porto
e de Matosinhos vão
fazer testes serológicos
aos trabalhadores
Covid-19
Mariana Correia Pinto
Medida aplica-se a quem
esteve “na primeira linha
de combate à covid-19”. São
mais de 1500 no Porto e
500 em Matosinhos
Mais de 1500 funcionários da Câmara
do Porto vão realizar, a partir de
segunda-feira, “testes serológicos
para avaliar a presença de anticorpos
ao vírus SARS-Cov-2”. A medida des-
tina-se a “trabalhadores do município
e empresas municipais” que tenham
estado “na linha da frente no contex-
to actual de pandemia”, esclarece a
autarquia em comunicado.
Os testes, feitos em parceria com o
i3S — Instituto de Investigação e Ino-
vação em Saúde (através do Ipatimup
Diagnósticos), vão decorrer no par-
que de estacionamento desta institui-
ção e serão feitos em modelo drive-
through. Os ensaios foram feitos na
manhã de ontem, com testes feitos a
Rui Moreira e aos seus vereadores.
A mesma medida será tomada em
Matosinhos, também numa parceria
com o i3S, onde serão feitos testes a
500 trabalhadores, também os da
“primeira linha de combate” ao SARS-
Cov-2: “funcionários municipais,
agentes da Polícia Municipal, bombei-
ros das quatro corporações do con-
celho e funcionários das uniões de
freguesias”. Para estes funcionários,
os testes serológicos arrancam uma
semana depois, a 25 de Maio.
Em parceria com a Faculdade de
Autarquias querem avaliar a presença de anticorpos na população
LOCAL
Medicina da Universidade do Porto,
os trabalhadores do município lide-
rado por Rui Moreira vão também
integrar um “estudo epidemiológi-
co”.A recolha de dados será feita
“através de um inquérito de rápido
preenchimento (cerca de dois minu-
tos), que integra dados demográÆcos,
proÆssionais e clínicos através da aná-
lise à imunidade à covid-19”, continua
o comunicado.
Mediante os resultados dos testes,
será avaliada a necessidade de adop-
tar mais medidas no desenvolvimen-
to das actividades municipais ou
adequar os actuais procedimentos.
Com esta amostra pretende-se
também “estabelecer um ponto de
partida para avaliar a presença de
anticorpos na população do conce-
lho do Porto, o que permitirá aferir,
de forma alargada, qual a proporção
de pessoas no distrito que eventual-
mente tiveram contacto com o vírus
e assim estimar a resposta imunoló-
gica e a dispersão do vírus na
região”, explica Claudio Sunkel,
director do i3S.
Para preparar o regresso gradual
ao trabalho em Matosinhos, aÆrma a
presidente da autarquia, Luísa Sal-
gueiro, “é útil e necessária a realiza-
ção destes testes serológicos para
perceber o grau de imunidade” dos
trabalhadores e “adequar as medidas
de segurança”. Como no Porto, estes
testes permitem estabelecer “um
ponto de partida para avaliar a pre-
sença de anticorpos na população do
concelho de Matosinhos”, refere o
director do i3S, Claudio Sunkel.
mariana.pinto@publico.pt
RUI GAUDÊNCIO
34 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
ECONOMIA
Novo Banco: Créditos com perdas
estiveram três anos “esquecidos”
Empréstimos que estão a ser vendidos
com desconto a fundos — e a gerar as
injecções do Estado — foram ignorados,
até à entrada do Lone Star, por auditores,
reguladores, Governo e gestão
Banca
Cristina Ferreira
Durante três anos — em 2014, 2015 e
2016 —, o Banco de Portugal, as admi-
nistrações do Novo Banco e a audito-
ra PwC consideraram que as carteiras
de créditos herdadas do BES estavam
devidamente provisionadas, não
colocando ênfases ou reservas às con-
tas, nem alertas para eventuais neces-
sidades adicionais de capital.
A partir de Outubro de 2017, assim
que o banco passou para a esfera do
Lone Star, com uma almofada de
capital de 3,9 mil milhões de euros, a
gestão começou a reconhecer perdas
do “antigamente” e a vender carteiras
de créditos problemáticos a grande
desconto, sustentando sucessivos
pedidos de capital de 2,7 mil milhões
ao Fundo de Resolução, que detém
25% da instituição. E são estes crédi-
tos, entre outros, que estão a ser
escrutinados pela auditoria externa
da Deloitte que geraram a polémica
política que marcou esta semana.
Em 2015, cerca de seis meses
depois da resolução do BES, o então
presidente executivo (CEO) do Novo
Banco, Eduardo Stock da Cunha,
defendeu que, embora ainda com
“trabalho de limpeza pela frente”, a
instituição estaria em condições de
apresentar lucros no ano seguinte.
Quando António Ramalho assumiu
o cargo de CEO do Novo Banco, veio
logo garantir que a instituição tinha
as contas devidamente auditadas e
Æscalizadas, sujeita “a grande exigên-
cia nos critérios de análise de consti-
tuição de imparidades” e seguindo as
regras para evitar repetir erros do
passado. A situação estava controla-
da, sem necessidade de capital adi-
cional, dirá nos meses seguintes.
Declarações feitas antes de Outubro
de 2017, quando o Novo Banco entrou
na esfera do Lone Star, com a tal almo-
fada de verbas públicas de 3,9 mil
milhões. A partir dali, e logo no fecho
das contas de 2017, e ainda nas de 2018
e de 2019, a gestão desatou a reconhe-
cer uma sucessão de “descobertas”
de créditos mal provisionados, de 2,7
mil milhões de imparidades, e que
António Ramalho tem vindo a impu-
tar “ao antigamente”, o termo que usa
para se referir a Ricardo Salgado.
Mais 850 milhões
Em 2018 e 2019, o auditor mudou
para a Ernst & Young. O que levanta
questões: o que justiÆca que entre
2017 e 2019, num período de maior
saúde económica do país, com melho-
ria do preço dos activos, estejam a ser
descobertos créditos mal provisiona-
dos, que não foram reconhecidos no
ciclo de menor crescimento econó-
mico, de 2014 a 2016?
Isto porque, dos relatórios de
contas dos exercícios de 2014
(de Agosto a Dezembro), de 2015 e
de 2016, reportados ao mercado, e
que o PÚBLICO leu, não constam
ênfases, nem reservas do auditor, a
PwC, a chamar a atenção para uma
insuÆciência de provisionamento
sobre activos do antigo BES, com
implicações em novas necessidades
de capital.
Ou seja, a PwC, os órgãos de Æsca-
lização internos do Novo Banco,
incluindo o conselho de administra-
ção, consideraram que, nos três anos
mencionados, o banco constituíra
correctamente o nível de imparida- António Ramalho permaneceu na liderança do Novo Banco após a sua venda aos americanos do Lone Star
des para cobrir eventuais perdas nos
créditos. Questionada pelo PÚBLICO, tores até 2016 e posterior vaga de exigidos pelas autoridades, que
fonte oÆcial da PwC respondeu que imparidades. desencadeiam os pedidos ao Fundo
“de acordo com as nossas regras pro- O que também se sabe é que, nos de Resolução.
Æssionais e de conÆdencialidade, não últimos três anos, em que se veriÆcou São os prejuízos da alienação “a
comentamos os trabalhos que reali- uma valorização acentuada dos acti- saldo” dos seus activos e o reconhe-
zamos para os nossos clientes”. No Novo Banco, vos imobiliários e não imobiliários, o cimento de novas provisões que sus-
E como as contas foram aprovadas Novo Banco tem vindo a intensiÆcar tentam as chamadas do Novo Banco
pelo Banco de Portugal e não suscita- o crédito vencido a venda de carteiras de créditos com ao Fundo de Resolução para injectar
ram dúvidas à CMVM (o Novo Banco a mais de grande desconto — nalguns casos, capital. E o Fundo de Resolução, que
não está no mercado, mas tem activos com descontos de mais de 50%. é risco público, em dois anos e meio,
cotados em bolsa), signiÆca que as 90 dias tem Dali, resultam duas coisas: lucros já meteu na instituição cheÆada por
autoridades também não antecipa- uma cobertura elevados para as sociedades de recu- António Ramalho 2,976 mil milhões
ram insuÆciências de capital, para peração de crédito que os adquiri- de euros, 2,1 mil milhões dos quais
além dos 4,9 mil milhões injectados de 100% ram; e perdas para o vendedor, o Ænanciados pelos contribuintes a títu-
a 3 de Agosto de 2014. O supervisor António Ramalho banco. E a consequência é uma queda lo de empréstimo a 40 anos (o resto
bancário não respondeu ao PÚBLICO Presidente do Novo Banco, no valor patrimonial do banco e redu- são contribuições dos bancos).
sobre a ausência de alertas dos audi- em Outubro de 2016 ção dos níveis mínimos de capital No Ænal, fazem-se mais perguntas:

o que mudou para o Novo Banco,
assim que foi vendido, ter desatado a
reconhecer imparidades sobre crédi-
tos que diz serem do BES? Se as impa-
ridades remontam de facto a créditos
concedidos antes da resolução, nesse
caso, o que levou a gestão, entre Agos-
to de 2014 e 2016, a renovar ou a rene-
gociar essas dívidas que de repente se
tornaram problemáticas? Decisões
essas com luz verde do BdP.
Finalmente, falta saber: se a audi-
toria extra pedida pelo Governo (cuja
conclusão é esperada no Verão) é
constituída por auditores indepen-
dentes, sem relação com o BdP, com
a Resolução, com o Novo Banco, ou
MIGUEL MANSO
com antigos e novos auditores; e se o
trabalho se vai debruçar sobre as aná-
lises que fundamentaram a resolu-
ção; e ainda se vai procurar saber o
nome dos titulares das sociedades
que têm estado a comprar créditos ao
Novo Banco, bem como estas empre-
sas, consideradas como “abutres”,
que ganharam com o negócio?
No início, era o BES
As polémicas em torno do dossiê
Novo Banco não param desde 2014 e,
de tempos em tempos, dominam o
debate político. Discussões renovadas
na semana que agora terminou, com
as diferentes forças da oposição a ata-
carem António Costa e o ministro das
Finanças, Mário Centeno, por falta de
controlo político e por má articulação
entre gabinetes.
Em causa esteve a informação
avançada pelo Expresso de que as
Finanças tinham emprestado 850
milhões ao Fundo de Resolução para
este injectar no Novo Banco, sem
cumprir a condição imposta pelo pri-
meiro-ministro, de só libertar os fun-
dos depois de avaliadas as conclusões
da auditoria esperada para o Verão.
Todos concordam que há um pro-
blema no dossiê Novo Banco, quer
por efeito da resolução de 3 de Agos-
to de 2014, quer pelas condições da
alienação, em 2017, aos norte-ameri-
canos do Texas. Mas as culpas são
atribuídas a pessoas e partidos dife-
rentes. A oposição questiona os ter-
mos do negócio assinado com o pri-
vate equity que Æcou protegido por
3,9 mil milhões de euros, almofada
que António Costa, ao revelar o enten-
dimento, classiÆcou de uma espécie
de seguro, que não esperava que fos-
se accionado. Entretanto, do bolo de
3,9 mil milhões, já foram levantados
2,7 mil milhões.
Por seu turno, o actual Governo
acusa o ex-primeiro-ministro Passos
Coelho e o BdP de má condução na
resolução do BES, que deu origem a
um banco “mau” e a outro alegada-
mente “bom”, agora designado por
Novo Banco. Mas que aÆnal eram os
dois maus. A divisão resultou de uma
auditoria realizada em cima da hora
no BdP, com apoio da PwC, que levou
a estimar as necessidades acima dos
4,9 mil milhões. Tal como o PÚBLICO
avançou, a equipa de Carlos Costa
pediu à então ministra das Finanças,
Maria Luís Albuquerque, uma injec-
ção de 5,5 a 6 mil milhões de euros,
que esta recusou. Quer a ministra
quer o governador Carlos Costa
defenderam na altura que era possí-
vel vender o banco de transição “rapi-
damente, talvez mesmo por 70% ou
90% do que vier a ser injectado” e o
Fundo de Resolução ia “conseguir
recuperar o que lá meteu.”
Lucros em 2016?
A fotograÆa só Æca composta quando
se recuperam as declarações produ-
zidas pelos dois últimos responsáveis
do Novo Banco: Stock da Cunha e
António Ramalho.
A 2 de Fevereiro de 2015, Eduardo
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 35
O Novo Banco
terá capacidade
para apresentar
lucro em 2018
Eduardo Stock da Cunha
Ex-CEO, a 6 de Junho de 2016
Stock da Cunha foi ao Parlamento
dizer: o Novo Banco “já não está nos
cuidados intensivos” . A 26 do mesmo
mês, no almoço conferência promo-
vido pelo American Club of Lisbon,
declarou: “Vamos voltar aos lucros
em 2016”. A 15 de Novembro de 2015,
o Banco Central Europeu (BCE) detec-
tou uma insuÆciência de capital no
Novo Banco de 1,398 mil milhões.
Para resolver a situação, o BdP trans-
feriu para o BES 1,985 mil milhões de
euros em obrigações seniores que
estavam no Novo Banco, e concluiu
que o banco Æcou folgado de capital.
A 31 de Dezembro de 2015, numa nota
interna, Stock da Cunha garantiu que
o Novo Banco “está solvente”. Dois
meses mais tarde, em Fevereiro de
2016, na divulgação das contas anuais
do exercício anterior, anunciou pre-
juízos de 980,6 milhões.
A 6 de Junho de 2016, antes de ser
substituído por António Ramalho,
Stock da Cunha proclamou: “O Novo
Banco terá capacidade para apresen-
tar lucro em 2018”. Ao Negócios, expli-
cou o que queria dizer por “limpar a
7,876
Desde Agosto de 2014,
o Fundo de Resolução
já injectou 7,876 mil milhões
de euros no Novo Banco
má herança deixada” pelo BES:
“Quando digo limpar, signiÆca gerir
as situações.”
No segundo semestre de 2016, já na
qualidade de CEO do Novo Banco,
António Ramalho baptizou o então
presidente da CGD, António Domin-
gues, de “talibã” das imparidades,
por ter registado em 2016 imparida-
des de três mil milhões de euros. Era
demais, pensou Ramalho.
Quando em Outubro do mesmo
ano, na SIC, foi confrontado com cer-
ca de três mil milhões de euros de
créditos parcialmente em risco no
Novo Banco, desvalorizou: “No Novo
Banco, o crédito vencido a mais de 90
dias tem uma cobertura de 100% e a
cobertura do crédito em risco (NPE)
é de 45%, em linha com os 41% da
média europeia”. E garantiu que
“hoje em dia” (em 2016), no Novo
Banco, “os critérios de análise quer
das imparidades necessárias, mas
também do ponto de vista de segui-
mento, são extremamente exigentes,
na tentativa de evitar que circunstân-
cias do passado se voltem a repetir.”
À pergunta sobre qual era a razão
por que não executava grandes clien-
tes como Luís Filipe Vieira, Teixeira
Duarte, Tecnovias ou Carlos Saraiva,
António Ramalho sustentou que não
era conveniente fazer falir os devedo-
res: “É tão importante ser criterioso
na concessão de crédito, como no
seguimento, como na recuperação e
gestão dos créditos em risco”, isto,
para impedir, por exemplo, que no
caso dos clientes do sector turístico
“haja quebra da oferta”.
Reagindo então à questão se tam-
bém não executava os clientes sem
negócio de interesse para a econo-
mia, como José Guilherme (suspeito
de ter pago comissões ao anterior
presidente do BES, Ricardo Salgado)
ou Joe Berardo (o accionista do BCP
que colocou na presidência Santos
Ferreira, de que Ramalho foi adminis-
trador-Ænanceiro), para não criar
problemas, o CEO defendeu: “Não
podemos deixar que a narrativa de
exemplos concretos que são muito
mediáticos transforme os bancos em
Dom Quixote em defesa de uma eco-
nomia totalmente sã que não tenha
risco” — os banqueiros “não podem
ter medo do insucesso”, disse.
Seis meses depois de prestar estas
declarações, a 31 de Março de 2017,
foi anunciado que o Governo tinha
acordado vender o Novo Banco ao
Lone Star, com uma almofada de pro-
tecção. E na altura o primeiro-minis-
tro assegurou que não foram dadas
garantias públicas à venda do Novo
Banco e que não haveria nem impac-
to nas contas públicas, nem novos
encargos para os portugueses.
O negócio só foi concretizado a 18
de Outubro de 2017. Passados dois
meses e meio, a instituição revelou
prejuízos de 1,4 mil milhões, os maio-
res desde 3 de Agosto de 2014. Seguiu-
-se a comunicação de que o Lone Star
manteria no cargo António Ramalho
e que ia accionar o mecanismo de
capital contingente, requisitando 792
milhões ao Fundo de Resolução. Tra-
tou-se da primeira chamada de capi-
tal para cumprir os rácios. E foi só a
partir daqui que Ramalho começou
a falar em buracos abertos por “cré-
ditos do antigamente”, os mesmos
que, até à entrada do Lone Star, a
mesma gestão, PwC e BdP diziam
estar devidamente provisionados.
cferreira@publico.pt
36 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

MUNDO
Para Jorge Miranda, comissão
de Embaló “é inconstitucional”
“Eu critico o Presidente” da Guiné-Bissau, diz ao PÚBLICO o constitucionalista, apanhado de surpresa
por uma notícia falsa em que aparecia a defender a revisão da Constituição anunciada pelo Presidente
RODRIGO ANTUNES/LUSA

Guiné-Bissau
Ricardo Cabral Fernandes
O constitucionalista português Jorge
Miranda considera que a comissão
criada pelo Presidente guineense
para rever a Constituição é “incons-
titucional”. Miranda, que participou
na elaboração da Constituição da
Guiné-Bissau, acusa Umaro Sissoco
Embaló de estar a agir à margem da
Constituição, ao demitir o Governo
eleito e agora a querer liderar o pro-
cesso de revisão constitucional que é
da exclusiva competência do Parla-
mento e dos deputados.
Umaro Sissoco Embaló “tem de
respeitar a Constituição antes de
mais nada e a maioria parlamentar
que não é coincidente com a maio-
ria que o elegeu”, aÆrmou Jorge
Miranda ao PÚBLICO, negando que
alguma vez tenha prestado declara-
ções em sentido contrário, como dá
a entender uma notícia falsa que
começou a circular ontem na Guiné-
Bissau.
“Nunca defendi nenhuma propos-
ta constitucional na Guiné-Bissau”,
garantiu. “Não sei como apareceu
essa ideia.”
A imagem falsa, com o logótipo do
jornal PÚBLICO e uma fotograÆa de
Jorge Miranda, partilhada pelo blo-
gue Fala de Papagaio, mostra uma Umaro perigo de entrar em convulsões, quando Sissoco Embaló ganhou as
entrevista forjada com este a defen- Sissoco numa crise da democracia, até em eleições, de acordo com a Comissão
der que a proposta de Embaló é Embaló e, à conÇitos militares”. Nacional de Eleições e a CEDEAO,
“legal e legítima” e que “se não hou- esquerda, a Em causa está o anúncio e decreto mas cujo resultado foi contestado
ver vontade por parte do poder entrevista assinado pelo Presidente sobre a cria- pelo candidato do PAIGC, Domingos
legislativo para tal revisão, o Presi- forjada, com o ção de uma comissão técnica para Simões Pereira, que pediu recurso ao
dente da República pode tomar a logótipo do proceder a uma revisão constitucio- Supremo Tribunal de Justiça, que
iniciativa baseado nos seus poderes PÚBLICO, nal, uma vez que essa prerrogativa detém as funções atribuídas aos tri-
discricionários”. que começou não compete ao chefe de Estado, mas bunais constitucionais.
Na verdade, o constitucionalista a circular sim aos deputados, como dita o artigo Embaló tomou posse com o apoio
tem precisamente a opinião contrária ontem na 127.º da Constituição. Ou seja, Umaro do aparelho militar, que ocupou os
sobre a crise política que se vive no Guiné-Bissau Sissoco Embaló não tem poder para edifícios públicos — o Governo em
país africano. “O que eu critico é o alterar a lei fundamental e, ao fazê-lo, funções foi impedido de continuar
Presidente”, aÆrma Miranda. “Foi alerta a Liga Guineense de Direitos a trabalhar — tendo a CEDEAO num
eleito sem ter havido uma pronuncia- Humanos, está a ir contra o princípio primeiro momento considerado
ção do Tribunal Constitucional da separação de poderes. Mas a revi- que se tratava de um “golpe de Esta-
[Supremo Tribunal], tomou posse e magna da Guiné-Bissau, a Assembleia semipresidencial e é esse sistema que são constitucional, submetida a refe- do”. Sissoco Embaló já aÆrmou que-
demitiu o Governo. Agora quer criar Nacional Popular tem uma maioria deve ser respeitado e deve funcionar, rendo até ao Ænal do ano, é uma exi- rer antecipar as eleições legislativas,
uma comissão de revisão constitucio- que apoia o Governo de Aristides tal como funciona em Cabo Verde e gência da Comunidade Económica mas a CEDEAO deu-lhe um prazo
nal, isso é que é inconstitucional. É Gomes, demitido por Sissoco Emba- em São Tomé e Príncipe”, aÆrma, dos Estados da África Ocidental até 22 de Maio para que tome posse
inconstitucional a atitude do Presi- ló, e que a atitude do chefe de Estado antes de alertar que “quando há ten- (CEDEAO). um executivo assente na maioria
dente”, aÆrma Jorge Miranda. está a pôr em perigo o país. dência presidencialista ou presiden- A Guiné-Bissau está envolta numa parlamentar.
Para o professor de Direito que “A Guiné-Bissau tem uma Consti- cializante, como já aconteceu mais crise desde a segunda volta das pre-
participou na elaboração da carta tuição que estabelece um sistema que uma vez no país, há o gravíssimo sidenciais, a 29 de Dezembro de 2019, ricardo.fernandes@publico.pt

Relatório iliba polícia
de Hong Kong de acusações
de brutalidade e envia recado
China
Jessie Pang
Era aguardado com
expectativa o documento
do observatório policial
sobre os protestos
pró-democracia de 2019
O observatório da polícia de Hong
Kong pediu que sejam revistas as
regras para o uso de gás lacrimogé-
neo e o treino dado aos agentes, num
muito aguardado relatório que os
deputados pró-democracia já des-
creveram como “superÆcial”. Houve
acusações generalizadas de uso
excessivo da força contra os mani-
festantes que protestaram no ano
passado contra o governo da região
chinesa de administração especial.
No relatório de 999 páginas, o
Conselho Independente para as
Queixas sobre a Polícia (IPCC) estu-
dou o comportamento dos agentes
após Junho de 2019, quando protes-
tos violentos pararam partes da
cidade, na maior crise política em
décadas. O IPCC diz que a polícia
agiu segundo as regras, embora haja
margem para as melhorar. Acres-
centa que as acusações de brutali-
dade policial não devem ser usadas
“como arma de protesto político”,
porque se trata de “uma questão
legal e não política” — uma referên-
cia que parece responder aos mani-
festantes, que exigiam um inquérito
independente.
Nos comentários a um dos episó-
dios mais controversos, o IPCC diz
não ter encontrado provas de conluio
entre a polícia e membros de gangs
num ataque no Bairro de Yuen Long,
a 21 de Julho. Porém, o relatório iden-
tiÆcou deÆciências na mobilização da
polícia e noutras acções nesse dia,
quando um grupo de homens de
camisa branca espancou manifestan-
tes e outras pessoas com bastões.
O ataque em Yuen Long deu ori-
gem a mais protestos e gerou um sen-
timento antipolícia, acusada de ter
respondido tardiamente à agressão.
O deputado da oposição Kenneth
Leung, que já fez parte do IPCC, diz
que o relatório não satisfaz a exigên-
cia da população, que pedia uma
comissão de inquérito independente.
“Muitas destas recomendações são
superÆciais e genéricas”, disse Leung.
“Não podem pensar que com este
A polícia usou gás lacrimogéneo, canhões de água e outros meios
Não podem pensar
que com este
relatório o assunto
está arrumado
Kenneth Leung
Deputado pró-democracia
de Hong Kong
relatório o assunto está arrumado.”
Muitos manifestantes estão zan-
gados com o que classiÆcam de vio-
lência policial e com a detenção de
oito mil pessoas. Grupos como a
Amnistia Internacional acusaram a
polícia de uso desproporcionado da
força e de ter cometido outros abu-
sos durante as manifestações pró-
democracia.
“O relatório fez vista grossa à bru-
talidade policial”, disse o deputado
pró-democracia Fernando Cheung.
“Este relatório eliminou o pouco que
restava da credibilidade do IPCC.”
O relatório diz que a antiga coló-
nia britânica parece ter sido arras-
tada para uma “era de terrorismo”,
ecoando comentários do Governo
de Pequim e de altos funcionários
de Hong Kong. A polícia tem dito
que foi contida na resposta a “altos
níveis de violência”.
Nos confrontos mais intensos dos
protestos, manifestantes — muitos
usando máscaras e vestidos de negro
— atiraram bombas incendiárias con-
tra a polícia e contra edifícios do
THOMAS PETER/REUTERS
governo, entraram no Conselho
Legislativo (o parlamento local), des-
truíram estações de metropolitano
e bloquearam estradas.
A polícia respondeu com gás lacri-
mogéneo, balas de borracha,
canhões de água e disparou salvas
de fogo real para o ar, por vezes
advertindo antecipadamente os
manifestantes de que iam fazê-lo,
através de bandeiras.
Sobre a entrada no Conselho Legis-
lativo, o relatório diz que a polícia
poderia ter impedido a acção erguen-
do melhores barreiras de protecção.
A pandemia de covid-19 e as ordens
rígidas de conÆnamento para impe-
dir o alastramento na China Æzeram
os protestos perder ímpeto, mas o
movimento está a regressar, à medi-
da que o isolamento é levantado.
Os protestos eclodiram devido a
uma proposta de lei de extradição
que permitiria que suspeitos fossem
enviados para a China continental,
para serem julgados, mas transforma-
ram-se rapidamente num grande
levantamento pró-democracia e inde-
pendência em relação a Pequim.
A chefe do governo local, Carrie
Lam, insistiu que o IPCC seria capaz
de conduzir um inquérito imparcial.
Os membros do IPCC, um observa-
tório que é um departamento da
polícia, são nomeados por Lam. A
credibilidade do painel sofreu um
revés em Dezembro, quando cinco
especialistas estrangeiros saíram,
por duvidarem de que o observató-
rio tivesse “capacidade para fazer
uma investigação independente”.
com Sarah Wu e Marius Zaharia/
Reuters
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 37
Barnier mantém a
“determinação” mas não
o “optimismo” quanto a
acordo com Reino Unido
“Brexit”
Rita Siza, Bruxelas
Bruxelas e Londres
endurecem posições.
A ambiciosa parceria
económica e política
permanece uma miragem
A União Europeia não vai sacriÆcar
os seus princípios nem relaxar as suas
condições em nome da assinatura de
um acordo para a futura parceria eco-
nómica e política com o Reino Unido,
avisou ontem o negociador para o
“Brexit”, Michel Barnier, no Ænal da
terceira ronda negocial entre os dois
blocos, que classiÆcou como “muito
desapontante”.
“À excepção de aberturas modes-
tas, não foi possível nenhum progres-
so nas questões difíceis”, lamentou o
diplomata europeu, num resumo das
mais de 40 sessões em videoconfe-
rências realizadas durante esta sema-
na entre as equipas técnicas, compos-
tas por 250 especialistas e negociado-
res de ambos os lados. O processo
será retomado em Junho.
Barnier aÆrmou ontem que se man-
tém “determinado” em encontrar um
compromisso que conduza à assina-
tura de um acordo de livre comércio,
com zero quotas e zero taxas, entre a
União Europeia e o Reino Unido. “Mas
não estou optimista”, revelou, dizen-
do que, se o lado britânico não mudar
de estratégia, o desfecho inevitável
deste processo será o no-deal e um
“Brexit” caótico no Ænal do período
Michel Barnier: não houve
progresso nas questões difíceis
MUNDO
de transição, em Dezembro de 2021.
“Do nosso lado, estamos prepara-
dos para as duas opções: tanto para
o no-deal como para as mudanças que
vão acontecer de qualquer maneira”,
em resultado da decisão do Reino
Unido de se desligar do mercado úni-
co e da união aduaneira. “As conse-
quências do ‘Brexit’ continuam a ser
subestimadas no Reino Unido, mas
são automáticas”, insistiu Barnier,
lembrando que a saída da UE implica
o controlo de todos os produtos em
todas as fronteiras.
A apreciação do lado britânico é
muito semelhante, embora o líder da
equipa negocial do Reino Unido,
David Frost, responsabilize os euro-
peus pelo impasse, por insistirem no
chamado level playing field (respeito
pelos mesmos standards laborais,
ambientais, Æscais e de ajudas de
Estado) em troca da eliminação de
todas as quotas e tarifas no comércio
entre os dois blocos, ou por exigirem
o statu quo em termos de acesso às
águas e deÆnição de totais admissíveis
de captura para o ano de 2021.
O Reino Unido recusa negociar com
a UE uma “extensão” do quadro da
política comum de pescas, insistindo
que agora é um “Estado costeiro inde-
pendente”. “É difícil perceber a abor-
dagem ideológica da UE, que diÆcul-
ta que se possa chegar a um acordo
benéÆco”, disse Frost. Em termos das
garantias tangíveis de transparência
e equilíbrio concorrencial exigidas
pelos europeus, o britânico foi ainda
mais longe, descrevendo as propostas
relativas ao level playing Æeld como
“um grande obstáculo” para a con-
clusão de um acordo.
Na resposta, Michel Barnier salien-
tou que é também na base da sua
soberania que a UE está a negociar, e,
num tom inusitadamente duro, vin-
cou que os 27 “nunca vão deixar que
seja um país terceiro a determinar as
condições de acesso ao seu merca-
do”. “Os nossos modelos são todos
diferentes. Não estamos a falar de
mercados iguais, por isso temos sem-
pre de encontrar as melhores solu-
ções que equilibrem os interesses de
ambos os lados”, observou, pondo de
lado uma replicação dos acordos assi-
nados com o Canadá, a Coreia do Sul
ou o Japão, que na argumentação dos
britânicos criam um “precedente”
que permite ao Reino Unido estabe-
lecer as suas próprias regras.
rsiza@publico.pt
38 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
CIÊNCIA
Rasto com milhares de anos
sugere divisão de tarefas por sexo
É o maior conjunto de pegadas humanas descobertas em África, mais precisamente em Engare Sero, na
Tanzânia. Têm entre 19 e cinco mil anos e indicam que, nesta altura, já existia divisão de tarefas por género
Evolução humana
Andrea Cunha Freitas
No rasto deixado na terra de Engare
Sero, na Tanzânia, contam-se 408
pegadas. O tamanho, as distâncias e
orientações das marcas no chão indi-
cam que por ali passou há muito
tempo um grupo de humanos
modernos que caminhavam em
direcção a sudoeste. Entre os vestí-
gios, foi possível identiÆcar um gru-
po especíÆco que seria composto
por 14 mulheres adultas, dois
homens adultos e um jovem. A des-
coberta é descrita num artigo publi-
cado na última edição da revista
Scientific Reports.
Kevin Hatala, da Universidade de
Chatham, em Pittsburgh, nos EUA,
é o primeiro autor do artigo que par-
te da análise de um conjunto de anti-
gas pegadas para tirar algumas con-
clusões sobre a anatomia, locomoção
e comportamento dos humanos que
viveram no período do Pleistoceno
Superior (de há 126 mil a 12 mil anos).
As marcas no chão foram descober-
tas por uma comunidade local de
massais, uma tribo que habita o Qué-
nia e o Norte da Tanzânia. As análises
dos investigadores permitiram datar
estes vestígios que terão entre 19.100
e 5760 anos.
São centenas de pegadas que per-
mitiram que os cientistas “escreves-
sem” uma história sobre aquelas
pessoas. “Todas as pegadas parecem
ter sido produzidas por humanos
descalços, já que as impressões indi-
viduais dos dedos dos pés são facil-
mente visíveis. Devido à sua aparen-
te morfologia humana e à idade do
Pleistoceno Superior, atribuímos
estes trilhos ao Homo sapiens”, expli-
cam os investigadores, acrescentan-
do que calculam que possam existir
mais rastos naquele local, sendo
necessário estabelecer um plano de
conservação do local a longo prazo
para prosseguir com as escavações
no sítio.
Assim, entre outras ilações que
retiraram da posição e do tamanho
destas marcas, os autores do artigo
sugerem que as mulheres se encon-
travam juntas à procura de alimento
e seriam visitadas ou acompanhadas
Marcas de 408 pegadas humanas foram encontradas em Engare Sero, na Tanzânia, próximo de um lago
por (poucos) homens. Num grupo
especíÆco que foi identiÆcado pela
velocidade estimada dos seus passos
e orientação das pegadas contavam-
-se 14 mulheres e apenas dois homens
adultos e um jovem. O rasto indica
que estas comunidades já pratica-
CYNTHIA LIUTKUS-PIERCE
WILLIAM HARCOURT-SMITH
vam uma divisão do trabalho basea-
da no sexo, deixando para as mulhe-
res esta tarefa de procura de alimen-
tos numa zona da região que Æca
próximo de um lago. O facto de não
existir qualquer rasto de crianças
leva os investigadores a presumir
que os mais jovens seriam deixados
nos locais onde dormiam, nos acam-
pamentos, quando as mulheres par-
tiam em busca de alimento.
Janelas para o passado
Entre as centenas de marcas e pistas
foi ainda possível distinguir seis fai-
xas de pegadas orientadas para nor-
deste, onde os investigadores encon-
traram sinais de uma maior variação
na velocidade da caminhada, que
poderá indicar que não foram cria-
das por um grupo de humanos que
Estes vestígios viajava ao mesmo tempo, mas por
indivíduos que, em diferentes altu-
dão-nos janelas ras, passaram pelo local a correr ou
para a anatomia a andar a ritmos distintos.
“O conjunto de pegadas de Engare
e comportamento Sero dá-nos um retrato dos movi-
de grupo mentos de um grupo de humanos
que vivia na África Oriental durante
o Pleistoceno Superior. Estes vestí-
gios fósseis dão-nos janelas para a
anatomia, locomoção e comporta-
mento de grupo que ajudam a com-
plementar o que é conhecido através
de outros fósseis e outros dados
arqueológicos”, concluem os autores
do artigo. Olhando para as pegadas,
os investigadores apresentam uma
série de estimativas — com um maior
ou menos grau de probabilidade —
sobre o sexo, tamanho, peso e até
velocidade da caminhada de cada
um dos indivíduos. Os investigadores
admitem que as pegadas atribuídas
aos dois homens são as que deixam
menos margem para dúvidas, apre-
sentando uma probabilidade supe-
rior a 90%. Sobre o tamanho destes
humanos, as estimativas apontam
para estaturas que vão desde o mais
pequeno com 1,40 metros (presumi-
velmente um jovem) até 1,83 metros
(um dos homens).
Este rasto único representa o
maior conjunto de pegadas de regis-
to fóssil humano em África, salien-
tam os autores. “As pegadas são mui-
tas vezes efémeras, mas, quando
preservadas no registo geológico,
esses fósseis podem fornecer retra-
tos únicos sobre as vidas de organis-
mos antigos”, escrevem, notando
que estes dados fósseis são “criados
e preservados em escalas de tempo
muito mais curtas do que outras for-
mas mais vulgares de dados fósseis
(como, por exemplo, ossadas)”.
O local de Engare Sero foi desco-
berto em 2008, por membros de
uma comunidade massai. “Quando
os membros da nossa equipa de
investigação visitaram o local pela
primeira vez, em 2009, encontraram
um conjunto de 56 pegadas humanas
exposto à erosão natural da superfí-
cie”, recordam. De 2009 a 2012, as
escavações já abrangiam mais 175
metros quadrados e tinham sido
identiÆcadas mais 352 pegadas
humanas. O terreno guarda também
marcas da passagem de animais,
nomeadamente bovinos (cujo rasto
se encontra próximo dos humanos)
e de zebras e búfalos, a uma distân-
cia de alguns metros para sudoeste.
acfreitas@publico.pt
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40 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
CULTURA
O que aconteceu, aƊnal, à tiara de
4000 diamantes de D. Estefânia?
Será esta a estrutura, há muito perdida,
do diadema que D. Pedro V ofereceu à
mulher. Uma jóia pesada que lhe feria a
cabeça e que, segundo a lenda, teria ido
com a jovem rainha para o túmulo
Artes
Lucinda Canelas
D. Pedro V e D. Estefânia não se
conheciam quando casaram por pro-
curação, em Abril de 1858, fenómeno
comum entre a realeza europeia.
Tinham os dois 20 anos. Cultos e cos-
mopolitas, apaixonados pelas artes e
pelas letras, preocupados com o
apoio aos mais pobres e algo reserva-
dos, pareciam feitos um para o outro.
O jovem monarca, que herdara o tro-
no da mãe, D. Maria II, aos 16 anos,
não mostrava grande interesse em
casar, mas aceitou a mulher que os
reis de Inglaterra, Vitória e Alberto,
seus tios, ajudaram a escolher e não
se poupou a esforços para receber a
princesa alemã em Lisboa, com pavi-
lhões de festa no Terreiro do Paço e
ruas engalanadas.
“Não dissemos nada, demos as
mãos, ele beijou-me na testa, eu cho-
rei, ele tinha lágrimas nos olhos, Æcá-
mos a olhar-nos por muito tempo, sem
nada dizer, mas compreendemo--
nos”, diz D. Estefânia ao descrever,
numa carta à mãe, o momento em que
os dois se viram pela primeira vez.
A cerimónia religiosa teve lugar
na Igreja de S. Domingos, a 18 de
Maio, e nela D. Estefânia (1837-1858)
usou a coroa que o marido mandou
fazer para lhe oferecer, uma jóia
carregada de diamantes, que, de tão
pesada, chegou a ferir-lhe a testa,
acabando, de acordo com os relatos
da época, por ser substituída por
uma grinalda de rosas.
O paradeiro deste diadema de que
não se conhecem imagens Æéis e a
que se perdeu o rasto durante mais
de 100 anos terá sido agora identiÆ#
cado. A jóia em si já não existe, mas
a estrutura de prata forrada a ouro
onde estariam cravejados entre 3500
e 4000 diamantes foi encontrada em
múltiplos fragmentos nas reservas
do Palácio Nacional da Ajuda por um
dos consultores externos que nos
últimos anos se juntaram aos conser-
vadores da casa para estudar as
colecções e preparar a sua instalação
no futuro Museu do Tesouro Real,
que nascerá na fachada poente do
monumento e cuja construção está
ainda em curso.
Foi João Júlio Teixeira, especialista
em jóias antigas e autor do estudo A
Tiara com 4000 Diamantes, recente-
mente disponibilizado online, quem
se apercebeu de que aqueles frag-
mentos dispersos, acondicionados
em várias caixas de cartão arruma-
das sob um pequeno letreiro em que
se lia “descravadas”, pertenciam a
uma mesma peça.
“Sabia-se que havia fragmentos de
jóias naquelas caixas, levadas direc-
tamente do quarto da rainha para as
reservas do palácio depois de D.
Maria Pia partir para o exílio [em
1910], mas não se tinha feito a ligação
— nem entre eles, nem da estrutura
que formavam à tiara que D. Pedro V
ofereceu a D. Estefânia”, explica este
investigador que trabalhou no mer-
cado leiloeiro durante dez anos.
Pouco a pouco, João Júlio Teixeira
foi reparando que estes fragmentos
tinham muitas aÆnidades e até uns
encaixes quadrados semelhantes.
Quando descobriu a base do diadema,
não teve dúvidas de que formavam
uma só peça, apesar de alguns, os
maiores, terem já uns alÆnetes por trás
porque, depois de separados da base,
foram usados como pregadeiras.
“Fui juntando os fragmentos como
se estivesse a fazer um puzzle”, conta.
“Depois de montada, percebi que a
tiara era enorme, pesada. Sabendo que
a encomenda de peças desta enverga-
dura na casa real portuguesa era coisa A coroa que D. lhou para a casa real, depositado na À medida que ia cruzando a docu-
rara a partir de meados do século XIX, Biblioteca de Arte da Fundação mentação e que aprofundava a análi-
fui à procura de documentação que Pedro V ofereceu Calouste Gulbenkian. se material da armação em que esta-
me ajudasse a perceber que jóia era à rainha chegou Juntando as descrições da tiara pro- riam incrustados os 4000 diamantes,
aquela, tendo sempre em mente a tia- duzidas na época, que nos dizem, por a esta hipótese juntou-se outra — a de
ra perdida de D. Estefânia.” a feri-la — acabaria exemplo, que a peça podia fechar-se, que a referida tiara, tendo passado
por ser substituída, formando um círculo, para que ser- para as mãos de D. Luís I, que depois
Paga a prestações visse também de coroa, àquilo que da morte de D. Pedro V (1837-1861),
A pesquisa de fontes escritas foi feita na cerimónia estava a observar, João Júlio Teixeira provavelmente com tifo, sucedeu ao
no próprio Palácio da Ajuda, que tem de casamento, foi formulando a hipótese de se tratar irmão, tivesse estado na origem do
uma riquíssima biblioteca, na Torre da “jóia lendária” que D. Pedro V diadema Çoral de D. Maria Pia.
do Tombo e no espólio da Leitão & por uma grinalda pagou a prestações e ofereceu à sua “Entre a morte de D. Pedro e o
Irmão, Ærma de joalheiros que traba- de rosas mulher na chegada a Lisboa. casamento de D. Luís com D. Maria

TERESA MARANHAS/PALÁCIO NACIONAL DA AJUDA
Pia de Sabóia, em 1862, passam ape-
nas 11 meses. Não havia tempo para
fazer uma tiara com a qualidade que
esta teria para a nova rainha e é mui-
to natural que D. Luís lhe tenha ofe-
recido a que pertencera a D. Estefâ-
nia”, diz o perito, apoiando-se em
descrições que dão conta de que a
princesa piemontesa que viria a
casar com D. Luís se queixou dos
mesmos problemas anteriormente
identiÆcados pela mulher de D.
Pedro V. “Maria Pia usa-a em Turim
nas comemorações da sua união com
D. Luís, embora ainda não estivesse
casada. De acordo com relatos da
época, a princesa, que adorava jóias,
teve de sair três ou quatro vezes do
baile para que as suas aias lhe puses-
sem gelo na testa e assim aliviar o
peso da tiara”, acrescenta.
Este diadema de D. Estefânia era
difícil de usar, e se a isso juntarmos o
facto de na época ser comum desmon-
tar umas jóias para fazer outras, temos
dois dados que ajudam a explicar o
facto de, em 1873, ano em que se faz
uma avaliação pessoal das jóias de
Maria Pia, a tiara que pertencera à
princesa alemã estar já dividida em 14
pedaços e parcialmente descravada.
“Na altura, não havia qualquer
preocupação em manter a integri-
dade destes objectos. As jóias eram
frequentemente desmontadas para
criar outras, mais ao gosto da nova
dona ou da época”, explica José
Alberto Ribeiro, director do Palácio
Nacional da Ajuda, “muito satisfei-
Na foto principal, a estrutura
reconstituída do diadema. Em
baixo, representação da tiara
original e o diadema que D.
Maria Pia terá feito a partir dela
CORTESIA: JOÃO JÚLIO TEIXEIRA
ESPÓLIO LEITÃO & IRMÃO
“A história do
tesouro real
português está
cheia de buracos”,
diz João Júlio
Teixeira, o autor
desta descoberta
to” com as conclusões a que chegou
João Júlio Teixeira.
A equipa do palácio está a estudar
de forma sistemática todo o tesouro
real — algo que não se fazia desde
1991-1992 — na esperança de que a
exposição do futuro museu possa
trazer novos dados sobre o percurso
das peças e o contexto em que foram
produzidas e usadas. Contando ain-
da com a experiência de vários con-
sultores externos, o director acredi-
ta que esta investigação poderá
vir a preencher algumas das lacunas
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 41
da história do próprio tesouro.
“O tesouro real, que tem estado
todos estes anos longe da vista, tem
uma história fascinante que poucos
conhecem. Queremos que os visitan-
tes do futuro museu percebam que
funções tinham as peças que fazem
dele um dos mais importantes da
Europa e como é que conseguiu man-
ter-se até aos dias de hoje, apesar de
todas as vicissitudes: guerras, revolu-
ções, mudanças de regime…”, conti-
nua o director.
No caso do destino da tiara de D.
Estefânia, o que agora começa a des-
vendar-se é certamente mais prosaico
do que a lenda que em torno dela se
criou, mas nem por isso menos
importante, ressalva José Alberto
Ribeiro: “Fala-se sempre do amor
trágico de D. Pedro e de D. Estefânia,
que morreram muito novos, e duran-
te muito tempo insistiu-se que a rai-
nha teria sido enterrada com a tiara
na cabeça… Às vezes não estamos
preparados para abrir mão destes
romantismos, mas o facto de eles
serem postos em causa não quer dizer
que não tenham tido uma função.”
De uma tiara nasce outra
João Júlio Teixeira acredita que D.
Maria Pia começou a desmontar a
coroa da anterior rainha praticamen-
te logo depois de casada, usando
alguns dos elementos centrais como
alÆnetes de peito.
A tiara de D. Estefânia foi encomen-
dada ao ourives Raimundo Pinto e é
de inspiração arabizante, ao gosto da
época. “Tem muito a ver com a coroa
que a Garrard [prestigiada casa de
jóias londrina] fez para a rainha Vitó-
ria de acordo com um desenho do
príncipe Alberto, tio que D. Pedro
estimava muito. Está ligada a uma
visão romântica do Oriente, um
Oriente das Mil e Uma Noites, que
domina a grande Exposição de Lon-
dres de 1851, uma aÆrmação do impé-
rio britânico”, diz o especialista.
Se ainda existisse intocada, com-
pleta, esta tiara seria certamente uma
das mais importantes do seu tempo
em termos europeus, defende este
investigador, explicando em seguida
que foi produzida antes da descober-
ta das riquíssimas minas de diaman-
tes na África do Sul, que entre 1860 e
1890 inundaram o mercado destas
pedras preciosas, levando, natural-
mente, a uma certa desvalorização.
“Da contagem possível, salvaguar-
dando os elementos em falta ou de
difícil leitura, foi possível concluir que
toda a estrutura, de prata forrada a
ouro, estava cravejada com entre
3500 e 4000 diamantes. Os maiores,
em talhe brilhante, estavam coloca-
dos em cravações abertas e os meno-
res, em talhe rosa, eram exibidos em
cravações fechadas”, detalha no estu-
do agora divulgado.
A dimensão, a erudição do desenho
e a carga gemológica fariam dela
“uma peça de altíssima qualidade,
extraordinária”, sublinha. “Teria um
valor astronómico em pedras.”
Quando a De Beers, conglomerado
de empresas ligado à exploração
mineira e ao comércio de diamantes,
monopolizou as minas da África do
Sul, no Ænal do século XIX, “fechou a
torneira das pedras que chegavam ao
mercado” e elas voltaram, como seria
de esperar, a ser mais caras.
Tendo o diadema de D. Estefânia já
em fragmentos, mas ainda cravejados
de diamantes, e precisando de fazer
uma jóia nova para o casamento do
seu Ælho mais velho, D. Carlos, “é natu-
ral que a rainha Maria Pia tenha deci-
dido reconvertê-lo”. João Júlio Teixei-
ra acredita que a tiara Çoral que foi
encomendada à casa Leitão & Irmão
em 1886, e de que há imagens, foi feita
com pedras que pertenceram à que D.
Pedro V oferecera à sua mulher.
“É outra jóia de grande qualidade.
Não traz nada de novo, já que está den-
tro de uma das maiores tendências do
século XIX [as jóias inspiradas na botâ-
nica], mas tem uma execução primo-
rosa, é uma ‘escultura’ muito atraen-
te”, acrescenta, lembrando que tam-
bém este diadema que Maria Pia levou
ao casamento do seu primogénito com
Amélia de Orleães se perdeu.
Foi dado pela rainha como garantia
de empréstimos bancários e vendido
em leilão pela República, em 1912, a
um grande negociante de jóias de
Madrid, mas ninguém sabe onde está
hoje. “Pode também ele ter sido des-
montado para fazer outras jóias, não
sabemos. Mas seria fantástico que
ainda existisse e o localizássemos.”
João Júlio Teixeira gosta de pensar
que o actual proprietário não sabe
que a jóia que tem em casa pertenceu
à casa real portuguesa. “O que mais
me intriga é que se perde tão rapida-
mente tamanha memória de um pas-
sado tão próximo. A história do tesou-
ro real português está cheia de bura-
cos. É preciso continuar a contá-la.”
lucinda.canelas@publico.pt
42 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
CULTURA
A música e os novos media
em tempos de pandemia
Opinião
João Pedro Cachopo
Também eu anseio pelo momento
em que poderemos de novo
assistir a música, teatro ou ópera
ao vivo. E ir ao cinema. E circular
num museu. Também eu estou
convencido de que, perante uma
crise desta dimensão, o sector das
artes, e das artes performativas
em particular (na medida em que
for mais afectado), deve ser alvo
de uma atenção especialmente
cuidadosa por parte do Estado. É,
por isso, de louvar a iniciativa e o
abaixo-assinado Artes Alerta.
Dito isto, enquanto musicólogo,
considero um erro partir para este
debate com a ideia de que a música
é uma arte cuja essência se joga em
ser feita e experienciada ao vivo.
Como se a mediatização da música
a transformasse num produto de
segunda, algo que se ouve porque
se não tem acesso à “real thing”,
algo que nos alegra, que nos
consola, que nos faz “likar”, mas
também encolher os ombros e
suspirar: “são cópias, meras cópias
do original, de um original que
hoje — hélas! — nos é inacessível.”
Pensar assim, entender que a
música é uma arte cuja essência se
joga em ser feita e experienciada ao
vivo, é não só ignorar um século de
interacção entre música e
tecnologia, fazendo vista grossa ao
alargamento do conceito de música
que decorre dessa interacção,
como é, também,
contraproducente.
Não ignoro que a presente
situação é particularmente ingrata
para a música. O que hoje está em
causa não é apenas que o público
esteja impedido de se juntar numa
plateia ou num relvado para assistir
a um concerto de música ao vivo. O
que se passa é que os próprios
músicos, excepto os que actuam a
solo ou em agrupamentos
reduzidos, não se podem reunir
nem para actuar nem para ensaiar.
Nesse sentido, partilho a
preocupação de quem lembra que
a dinâmica de um ensaio
presencial não é integralmente
reprodutível em plataformas
online. Mas, tal como apreciar um
recital de Sokolov não nos impede
de fruir uma gravação de Gould, ou
tal como admirar os concertos
improvisados de Keith Jarrett não
nos obriga a menosprezar os
álbuns de estúdio dos Beatles,
também o facto de não ignorarmos
as desvantagens da não-co-
-presença entre músicos e entre
músicos e assistência não nos
obriga a reconhecê-la, a essa
co-presença no espaço e no tempo,
É importante
partir para o
combate a esta
crise sem os
espartilhos de uma
concepção
essencialista, logo,
estreita, de música
NELSON GARRIDO
como condição sine qua non da
produção e da recepção musicais.
A discussão tende a polarizar-se.
E é a dicotomia que subjaz a essa
polarização que importa
desconstruir: de um lado, os
nostálgicos do “ao vivo” como
essência temporariamente
inacessível; do outro, os arautos da
mediatização como admirável
mundo novo. Se, para os
primeiros, nada é bom, ou
suÆcientemente bom para estar à
altura da essência da música, se
não permitir a co-presença entre
músicos e público, para os
segundos nada pode ser mau se
envolver algum tipo de mediação
tecnológica. Aqui, não se trata de
tomar partido. O pranto de quem
chora a perda do original faz tão
pouco sentido como a satisfação de
quem exulta assim que vê um ecrã
esquadrinhado pelo Zoom. Ou
seja, para que Æque claro: recusar a
identiÆcação da música como uma
arte cuja essência se joga em ser
feita e experienciada ao vivo não é
nem defender a priori a
mediatização da música, nem
recusar a especiÆcidade da música
ao vivo, nem ignorar que as
condições para a realização de
espectáculos ao vivo devem ser
hoje protegidas.
A música, disso não haja
dúvidas, é uma arte performativa.
A sua vertente material, e amiúde
física, corporal, gestual e vocal,
não pode ser ignorada. No entanto,
enquanto arte performativa,
atravessa o campo do sonoro,
diluindo fronteiras entre
“gravação” e “ao vivo”, “original” e
“cópia”, “improvisação” e
“interpretação”, “tradição” e
“inovação”. É isto que nos ensina
mais de um século de diálogo entre
práticas musicais e tecnologias de
captura, Æxação, reprodução,
manipulação, transmissão e
geração sonoras: da música
concreta e da música electrónica
aos fenómenos recentes do
“turntablism” e do “sampling”.
Não podemos evitar esta crise.
Mas podemos e devemos
combatê-la. Iniciativas como a do
abaixo-assinado referido acima são
louváveis por isso mesmo. E são-no
tanto mais quanto o problema do
subÆnanciamento das artes, que
hoje as torna ainda mais
vulneráveis, não é de agora. Mas, se
é importante combater a crise,
também o é partir para esse
combate sem os espartilhos de
uma concepção essencialista, logo,
estreita, de música. Nem a música
ao vivo ganhará com isso, nem o
que possa emergir de novo desta
crise merece ser imediatamente
menorizado, como mero penso
descartável para estancar uma
ferida que, para o bem o para o
mal, deixará as suas marcas.
Mais do que um piscar de olhos à
suposta impermeabilidade entre
artes em presença e tecnologias de
remediação, deve orientar-nos, na
resposta a esta crise, uma atenção
muito concreta e circunstanciada
às enormes diÆculdades por que
passa o sector da cultura (incluindo
artistas e não-artistas, técnicos,
produtores, companhias,
agrupamentos, festivais). Este
combate, no qual a inventividade
terá uma palavra a dizer, deve ser
feito, pensando no que se exige do
Estado, com determinação e
pragmatismo — evitando, porém, a
retórica da essência e da
autenticidade.
Musicólogo
Mesmo sem
final, o show
da Eurovisão
continua
Televisão
Rodrigo Nogueira
Competição foi cancelada,
mas hoje há programa
especial com as 41 canções
que iam a concurso. Passa
na RTP, a partir das 21h
Se este fosse um ano normal, decor-
reria hoje, na Holanda, a Ænal da
Eurovisão. Elisa, a vencedora portu-
guesa do Festival da Canção, com
Medo de sentir, composição de Marta
Carvalho, teria actuado pelo menos
na semiÆnal de anteontem. Só que,
pela primeira vez desde que o con-
curso começou, em 1956, a Eurovisão
foi cancelada por causa da pandemia.
Em vez de uma Ænal, contudo, a Euro-
pean Broadcasting Union, que tem a
tutela do espectáculo, montou, jun-
tamente com os organizadores holan-
deses, uma emissão alternativa.
O formato especial preparado para
este estranho 2020, Eurovision: Euro-
pe Shine a Light, será transmitido em
directo de Hilversum no canal de You-
Tube da Eurovisão, a partir das 19h,
bem como na RTP1 e na RTP Play, às
21h, com comentários de Nuno Galo-
pim. ABBA Para Sempre?, um docu-
mentário sobre os lendários e eurovi-
sivos ABBA, passará a seguir.
Sem votações, sem pontos dados
por cada país e sem qualquer compe-
tição, a emissão dará a ouvir, ao longo
de duas horas, as 41 canções que
teriam participado no concurso, bem
como várias homenagens ao passado,
com vencedores anteriores e versões
de canções antigas, interpretadas ou
não pelos artistas originais.
Do especial constarão nomes
como o alemão Michael Schulte, a
israelita Gali Atari, o sueco Måns
Zelmerlöw, o holandês Duncan Lau-
rence, que ganhou no ano passado,
ou a Orquestra Filarmónica de
Roterdão. Juntos, os 41 artistas que
seriam os concorrentes deste ano
interpretarão também uma versão
de Love shine a light, de Katrina + the
Waves, a canção britânica que ven-
ceu o concurso em 1997.
Haverá também espaço para
a participação do apresentador bri-
tânico Graham Norton e de uma
estrela de YouTube holandesa,
NikkieTutorials.
rodrigo.nogueira@publico.pt
 Público ClassiÄcados • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 43

º ANIVERSÁRIO º ANIVERSÁRIO º ANIVERSÁRIO

1970 - 2020 1970 - 2020 1970 - 2020

FIM DO LEILÃO: 15 DE JUNHO, 2ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 29 DE MAIO, 6ª FEIRA ÀS 11H00
Insolvência de Paulo Sérgio Dinis Silva Cabral Insolvência de Letras e Cabeçalhos, Lda. FIM DO LEILÃO: 8 DE JUNHO, 2ª FEIRA ÀS 11H30
Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso – Juiz 6 Trib. Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo de Comércio de Aveiro – Juiz 1 - Proc. nº 3386/19.0T8AVR
Processo nº 3462/18.6T8STS www.cparaiso.pt
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Insolvência de Rosana Maria Coelho Ribeiro
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste - Juízo de Comércio de Sintra – Juiz 1
Processo nº 12766/19.0T8SNT

(c/ arrumos e lugar de garagem)

74.411,42€
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Rua do Lameiro nº 61, 3880-759 São João de Ovar
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º ANIVERSÁRIO º ANIVERSÁRIO
1970 - 2020 1970 - 2020 7*-"
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FIM DO LEILÃO: 8 DE JUNHO, 2ª FEIRA ÀS 12H00 FIM DO LEILÃO: 8 DE JUNHO, 2ª FEIRA ÀS 11H00
CASA (AC 98m2)
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4.900€
Insolvência de Construtorres – Construções SA Insolvência de AL.FREEZE, LDA
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Norte - Juizo de Comércio de Vila Franca Xira Tribunal Judicial da Comarca de Évora - Juízo Local Cível de Évora – Juiz 1
Juiz 4 – Processo n.º 144/19.5T8VFX Processo nº 137/18.0T8EVR

28 ARMAZÉNS ARMAZÉM
12 Livres, 16 Arrendados por 12.578,81€ mensais
Rendas de 140€ a 1400€, contratos de 6 meses a 5 anos
Inícios entre 2004 a 2018
(AT 3093,75m AC 1469,10m ) 2 2
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340.000,00€ CASA (AC 37m2)
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VALOR DE VENDA: 3.081.100€

TORRES VEDRAS
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Visitas por marcação prévia: António Florindo 919458349 Zona Industrial de Arraiolos, lotes nº 31, 31-A e 33
CA TÁ L O G O O N L I N E
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44 • Público ClassiÄcados • Sábado, 16 de Maio de 2020

INSOLVÊNCIA DE COMPANHIA AGRÍCOLA DE PENHA GARCIA, S.A.

Proc. n.º 657/17.3T8FND - Tribunal Judicial da Comarca de Castelo Branco - Juízo de Comércio do Fundão

VENDA POR RECEÇÃO DE PROPOSTAS EM CARTA FECHADA

No âmbito do processo supramencionado, vem o Administrador Judicial, Dr. Jorge Calvete ouvido o credor garantido por hipoteca sobre o bem imóvel, promover a venda extrajudicial da forma considerada mais con-
veniente, de acordo com o disposto nos Art.º 162.º e 164.º do CIRE, e conforme as condições expressas no presente anúncio:

Estabelecimento Comercial designado por Herdade de Vale Feitoso, correspondentes a lote único, composto pelos bens móveis e imóveis correspondentes às verbas:
Imóveis:
VERBA N.º 1 - Prédio urbano composto por terreno para construção, com área total de 1.560,00m2, sito em Herdade do Couto de Baixo (Zona Industrial) - Lote n.º 7, Penha Garcia, Idanha-a-Nova, descrito na Conser-
vatória do Registo Predial de Idanha-a-Nova sob o n.º 1010/Penha Garcia e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 1609 da freguesia de Penha Garcia.
VERBA N.º 2 - Prédio urbano, destinado a habitação, composto por uma casa térrea com a fachada por rebocar, de construção antiga e em mau estado, possuindo 1 vão e 2 divisões, com área total de 26,50m2, sito
em Rua do Castelo n.º 7, Penha Garcia, Idanha-a-Nova, descrito na Conservatória do Registo Predial de Idanha-a-Nova sob o n.º 2044/Penha Garcia e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 49 da freguesia de
Penha Garcia.
VERBA N.º 3 - Prédio misto, cuja parte urbana é composta por várias edificações em condições muito deficientes de habitabilidade e a parte rústica composta por cultura arvense, pinhal, eucaliptal, olival, prado natural e
dependência agrícola, confronta a norte com Ribeiro da Bazágueda, Carlota Pina Ferraz e Ornelas e José Justino, a sul com freguesia de Monfortinho, a nascente com Espanha, rio Erges e a ponte com Mariana Reynol-
des da Fonseca de Castro, José Pedro Baleiras, António André Pires, Alexandre Chamusca, António Ramos Serrano, Maria do Rosário Claro e Filhos, Manuel Serrano André e outros, com área total de 72.878.253,00m2,
sito em Sitio da Granja ou Vale Feitoso - limite das freguesias de Penha Garcia e Penamacor, Penha Garcia, Idanha-a-Nova, descrito na Conservatória do Registo Predial de Idanha-a-Nova sob o n.º 105/Penha Garcia
e inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 1 secção BAB12, e na matriz predial urbana sob o artigo 418, 419, 420, 421, 422, 423, 424, 425, 426, 427, 428, 429, 430, 431, 432, 433, 434, 435, 436, 437, 438, 439, 440,
441, 442, 819, 820, 821, 822, 823, 824, 825, 826, 827, 828, 829, 830, 831, 832, 833, 834, 835, 836, 837, 838, 839, 840, 841, 842, 843, 844, 845, 846, 847, 848 da freguesia de Penha Garcia.
VERBA N.º 4 - Prédio rústico composto por construção rural, cultura arvense, castanheiros, oliveiras, sobreiros, mato, pinhal e leito curso de água, confronta a Norte com Ribeiro da Bazágueda, a Sul com limite do
concelho de Penamacor e António Alberto Justino, a Nascente com limite do concelho de Penamacor e Ribeiro da Bazágueda, e a Poente com Instituto Social Cristão Pina Ferraz, José Cigano, José Joaquim Canilho e
António Alberto Justino, com área total de 4.386.000,00m2, sito em Granja ou Vale Feitoso, Penamacor, descrito na Conservatória do Registo Predial de Penamacor sob o n.º 502/Penamacor e inscrito na matriz predial
rústica sob o artigo 1 secção BC da freguesia de Penamacor.
VERBA N.º 5 - Prédio rústico composto por castanheiros e prado natural, com área total de 4.000,00m2, sito em Vale Trovelho, Penha Garcia, Idanha-a-Nova, não descrito na Conservatória do Registo Predial de Idanha-
-a-Nova e inscrito na matriz predial rústica sob o artigo 18 secção D da freguesia de Penha Garcia.
Móveis:
VERBAS 1 a 49 – Bens móveis melhor descritos no Auto de apreensão (Anexo 1).
Nota: Trabalhadores (Anexo 2) - obrigatoriedade de incorporação dos trabalhadores com vínculo à data da transmissão do estabelecimento, conforme listagem a fornecer, com indicação da categoria profissional,
salário auferido e antiguidade.
Regulamento e Condições de Venda:
1. Os interessados na aquisição dos bens integrantes do lote único devem remeter a sua proposta reduzida a escrito, por carta fechada, enviada por correio registado com aviso de receção, contendo a referência “Insolvência de Companhia
Agrícola Penha Garcia, S.A.”, dirigida ao Tribunal Judicial da Comarca de Castelo Branco – Juízo do Comércio do Fundão, para a morada Palácio da Justiça – Rua Dr. Alfredo Mendes Gil, 6230-287 Fundão, a ser rececionada no referido local
até às 14h30 do dia 22/06/2020. Em alternativa, a proposta poderá ser entregue em mão, no mesmo prazo, na referida morada do Tribunal.
2. O Lote único será vendido no estado físico e jurídico em que se encontra, livre de ónus e encargos, sendo da responsabilidade do comprador todos os custos inerentes à compra.
3. As propostas deverão ser apresentadas em envelope em carta fechada, contendo, sob pena de exclusão, os seguintes elementos: i) identificação do proponente (nome ou denominação social, morada, número de identificação fiscal ou de
pessoa coletiva, telefone, fax e e-mail); ii) termo de aceitação integral das presentes condições; iii) identificação do preço oferecido por extenso, expresso em euros.
4. Caso a proposta seja apresentada por uma sociedade, deve a proponente identificar eventuais sociedades participantes e participadas respeitando as condições acima descritas, os respetivos acionistas e as participações de cada um, e
bem assim os seus beneficiários últimos, sob pena de exclusão da mesma. (Esta obrigatoriedade resulta do facto de estarmos perante a venda de um estabelecimento que contém um conjunto de ativos imobiliários, que à data de hoje são
objeto de arresto preventivo em processo crime, e a libertação de tal arresto carecer da apreciação da identificação do comprador).
5. Em simultâneo com a apresentação da proposta, o proponente deverá entregar caução à ordem da Massa Insolvente da Companhia Agrícola Penha Garcia, S.A., num valor correspondente a 20% do valor da sua proposta e, adicionalmente,
a favor da Clearwater International, S.A., o valor relativo à comissão de venda, acrescido de IVA à taxa legal, sob pena de exclusão automática da mesma. A caução e a comissão de venda deverão ser prestadas através de cheque bancário
ou cheque visado emitido por ou sacado sobre instituição de crédito de primeira ordem com sede em Portugal ou por sucursal portuguesa de instituição de crédito estrangeira ou através uma garantia bancária autónoma, incondicional e à
primeira solicitação prestada por uma instituição de crédito com as mesmas características.
6. No ato de abertura de propostas, será dada a possibilidade de licitação entre os três proponentes com as propostas válidas mais elevadas, e presentes ou representados nesse ato, abrindo-se um espaço de leilão, presidido pelo juiz do
processo.
7. Caso se verifique aumento das propostas no ato de leilão, o valor da caução permanece 20% da proposta inicial, sendo o pagamento final efetuado no ato da escritura, assim como permanecerá o valor já adiantado de comissão, que será
calculado sobre o preço final, devendo ser liquidado o diferencial no mesmo momento.
8. A adjudicação do Estabelecimento será feita pelo Administrador Judicial à proposta válida de valor mais elevado, após o ato referido no número 6. e verificação da condição expressa no número 19.
9. As propostas mantêm-se válidas por período de 30 dias, após o ato de abertura de propostas, permanecendo os cheques relativos à caução e comissão, na posse do Tribunal, até decisão definitiva, devendo ser devolvidos aos proponentes
não vencedores.
10. A retirada de alguma proposta entregue ou o incumprimento pelo proponente do dever de celebração do contrato de compra e venda implica a perda do valor da caução apresentada pelo respetivo proponente nos termos do número 5.
anterior, a favor da Massa Insolvente da Companhia Agrícola Penha Garcia, S.A., podendo a caução ser acionada para este efeito.
11. Em caso de retirada da proposta vencedora ou de incumprimento do dever de celebração do contrato de compra e venda do Estabelecimento pelo proponente vencedor, a Massa Insolvente da Companhia Agrícola Penha Garcia, S.A.
reserva-se no direito de celebrar o contrato de compra e venda com o proponente que se tenha posicionado com a proposta de valor mais elevado, imediatamente seguinte e desde que considerada como válida nos termos do números 3 e
4 das presentes condições de venda.
12. As propostas serão abertas na presença do Juiz do Processo de Insolvência, no Tribunal Judicial da Comarca de Castelo Branco, Juízo de Comércio do Fundão, às 14h30 do dia 22/06/2020. Ao ato de abertura das propostas poderá
assistir qualquer credor da Insolvente e qualquer proponente, sem prejuízo de também poder estar presente qualquer servidor da justiça que intervenha no processo-crime já referido. Alternativamente, será assegurada a participação através
de meios eletrónicos à distância a qualquer sujeito processual que o requeira ao Tribunal expressamente e com uma antecedência de, pelo menos, 4 dias.
13. Da sessão de abertura de propostas e ato de leilão previsto, será lavrada uma ata, na qual se mencionará a identificação das pessoas que estiverem presentes ou representadas, o nome dos eventuais proponentes, as propostas com
indicação dos respetivos preços oferecidos e valor de sinal e o resultado do leilão. A ata e as propostas serão de imediato remetidas aos autos do processo de insolvência para consulta pelos credores e demais interessados.
14. Eventuais direitos de preferência serão acautelados e respeitados nos termos legais.
15. O Lote único apenas poderá considerar-se transmitido ao proponente vencedor depois de paga a totalidade do preço oferecido e celebrado o competente contrato de transmissão do Estabelecimento, a celebrar, em data e local a indicar
pelo Administrador Judicial, no prazo de 60 (sessenta) dias contados da data da abertura das propostas, salvo motivo justificativo que leve a Massa Insolvente da Companhia Agrícola Penha Garcia, S.A. (e apenas esta) a ter de dispor de um
prazo adicional para celebração da contrato. O pagamento do valor remanescente pelo proponente vencedor deverá ser efetuado por cheque bancário, cheque visado ou transferência bancária, já confirmada no momento da celebração do
contrato de transmissão, sob pena de rejeição imediata da proposta e de se considerar vencedora a proposta que tenha sido classificada no lugar imediatamente abaixo.
16. Valor Mínimo de Venda: 32.000.000,00€ a que acresce a comissão de venda de 2,25% (dois virgula vinte e cinco por cento) e IVA, sobre a comissão de venda, à taxa legal de 23% (vinte e três por cento).
17. O valor mínimo de venda de 32.000.000,00€ corresponde aos valores dos imóveis do lote único supra descritos como verbas 1 a 5, com os valores unitários de 20.516,01€, 4.162,99€, 30.094.289,56€, 1.841.499,02€, 3,57€ respetivamente,
acrescido de 39.528,85€, relativo aos Bens Móveis.
18. Poderão ser analisadas propostas de valor inferior ao Valor Mínimo de Venda, pelo Administrador Judicial, ouvidos o credor garantido por hipoteca e o Juiz do processo, com vista a poder ser consideradas e ser efetuada
adjudicação em conformidade. Em todo o caso, a proposta terá de ser acrescida da comissão de venda de 2,25% (acrescido de IVA) sobre o valor de aquisição proposto.
19. A adjudicação só será efetivamente concretizada, mesmo que seja ultrapassado o valor mínimo de venda, após validação do comprador pelo Administrador Judicial, pelo Juiz do processo de insolvência e pelo juiz do processo-crime, em
virtude do arresto preventivo em processo-crime, que incide sobre os bens imóveis e que, após a venda, irá incidir sobre o seu produto.
20. Todas as informações sobre a venda serão prestadas pelo Administrador Judicial, podendo o mesmo ser contactado através dos contactos adiante referidos. As visitas ao Estabelecimento far-se-ão de segunda a sexta-feira, entre as
10h00m e as 18h00m, por marcação prévia junto Clearwater International Portugal, através de telefone ou e-mail, e agendadas por ordem de chegada, preferivelmente de 18 de Maio de 2020 a 19 de Junho de 2020, podendo ser considerado
outra data a acordar.
Clearwater International Portugal
Telefone: 225 323 680
Morada: R. Aristides de Sousa Mendes 225 A6, 4150-088 Porto
E-mail: dallas@cwicf.com
Consulta e download do auto de apreensão do lote em venda e outra informação adicional:
www.jorgecalvete.pt
Administrador da Insolvência: Jorge Calvete
Telefone: 244801349 - 916891918 – 919052599
Morada: Rua Arq. Camilo Korrodi, Terraços do Marachão, Bloco 4, 2.º E 12, 2400-111 Leiria
E-mail: calvete@causaefeito.pt Público, 16/05/2020
 Público ClassiÄcados • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 45

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Capital Social: 1.256.723.284 Euro
1(*2&,$d­23$57,&8/$5 Matriculado na Conservatória do Registo Comercial de Lisboa
sob o N.º 500 844 321 de Pessoa Colectiva
WZ/K Sede: Rua Áurea, 88
1100 - 063 Lisboa
Zj^d/K
ĐŽŵϯϬ͕ϳ Tendo sido convocada a Assembleia Geral Anual de
ŚĞĐƚĂƌĞƐ Accionistas do Banco Santander Totta, S.A. para o dƌĂďĂůŚŽƐĚĞĞŶĞĮĐŝĂĕĆŽ
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próximo dia 26 de Maio de 2020, torna-se pública, nos
termos e para os efeitos do disposto no artigo 110º do
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&KmRFRPSRVWRSRUFXOWXUDDUYHQVHPRQWDGRGHD]LQKR
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DJUtFRODGHVFULWRQD&RQVHUYDWyULDGR5HJLVWR3UHGLDOGH
$OWHUGR&KmRVRERQž&KDQFHODULDHLQVFULWRQDUHV
Regime Geral das Instituições de Crédito e Sociedades ;ϴͬϭϳͿͬ&ŝŐƵĞŝƌĂĚĂ&Žnj;ϭϰͬϭϳͿ
'W^͗ϯϵ͘ϮϰϲϲϵϰE SHWLYDPDWUL]FRPRDUWLJRGD6HFomR. Financeiras a relação de accionistas cujas participações
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9$/250Ë1,02'(9(1'$ excedem 2% do capital social: ƌŝƐĂůƵƚŽͲƐƚƌĂĚĂƐĚŽ>ŝƚŽƌĂů͕^͘͘ŝŶĨŽƌŵĂƋƵĞŝƌĄĚĂƌŝŶşĐŝŽĂƚƌĂďĂůŚŽƐĚĞďĞŶĞĮĐŝĂĕĆŽ
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WKZd>'Z .! Santander Totta, SGPS, S.A.: ;ϭϰͬϭϳͿĚĂϭϳʹƵƚŽͲƐƚƌĂĚĂDĂƌŝŶŚĂ'ƌĂŶĚĞͬDŝƌĂ͕ŶƵŵĂĞdžƚĞŶƐĆŽĂƉƌŽdžŝŵĂĚĂĚĞϲϬŬŵ͘
3523267$6 - 1.241.179.513 Acções, que correspondem a 98,76% do
'(9(5­26(5(175(*8(61$µ/(,/29$/25/'$¶ ƐƚĞƐƚƌĂďĂůŚŽƐƚĞƌĆŽŝŶşĐŝŽŶŽŵġƐĚĞŵĂŝŽĐŽŵƵŵĂĚƵƌĂĕĆŽĂƉƌŽdžŝŵĂĚĂĚĞϲŵĞƐĞƐ͘
&$'(6,*1$d­2'2352&(662120(025$'$1,)(7/) capital social.
$WpjVKGR'LDGH0DLRGH ƌŝƐĂůĂŐƌĂĚĞĐĞĂŶƚĞĐŝƉĂĚĂŵĞŶƚĞĂĐŽŵƉƌĞĞŶƐĆŽĞĐŽůĂďŽƌĂĕĆŽĚŽƐĂƵƚŽŵŽďŝůŝƐƚĂƐĞĞƐƉĞƌĂ
A sociedade Santander Totta, SGPS, S.A., é detida, direta ĐŽŶƚƌŝďƵŝƌƉĂƌĂƌĞĚƵnjŝƌĞǀĞŶƚƵĂŝƐŝŶĐŽŶǀĞŶŝĞŶƚĞƐĚĞĐŽƌƌĞŶƚĞƐĚĞƐƚĂŽƉĞƌĂĕĆŽ͕ĞƐƚĂŶĚŽĐĞƌƚĂĚĞƋƵĞ
e indiretamente, em 99,85% pelo Banco Santander S.A., ŽƐƉŽƐƐşǀĞŝƐŝŶĐſŵŽĚŽƐƐĞƌĆŽůĂƌŐĂŵĞŶƚĞĐŽŵƉĞŶƐĂĚŽƐƉĞůŽŶşǀĞůĚĞƋƵĂůŝĚĂĚĞ͕ƐĞŐƵƌĂŶĕĂ
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sociedade cotada em diversos mercados regulamentados.
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7HO)D[

CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA

ANÚNCIO
CONCURSO PÚBLICO
A Câmara Municipal de Coimbra informa que se encontra aberto concurso público com as seguintes ca-
racterísticas:
1 - Entidade promotora: Câmara Municipal de Coimbra - Praça 8 de Maio, 3000-300 Coimbra, telefone
239857500; fax 239820114; correio electrónico: geral@cm-coimbra.pt.
2 - Objeto: Atribuição do direito de exploração espaços para estabelecimentos de restauração, bebidas ou
afins no Mercado Municipal D. Pedro V, em Coimbra. Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos
3 - Documentação:
a) O programa de concurso e o caderno de encargos estão disponíveis: de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social.
- na página oficial do Município (www.cm-coimbra.pt), onde podem ser consultados e copiados gratuita-
mente (em transparência/compras públicas); É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, especificamente constituída para promover a
- nas instalações de Divisão de Compras e Logística, sita nos Paços do Município, Praça 8 de Maio, onde
podem ser examinados, durante as horas de expediente, até ao termo do prazo fixado para a apresenta- qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil
ção das propostas.
4 - Entrega das propostas: As propostas deverão ser entregues na Divisão de Relação com o Munícipe da associados em todo o país.
Câmara Municipal de Coimbra, até às 16h30m do dia 15/06/2020.
5 - Acto público do concurso: As propostas serão abertas em acto público, que decorrerá no dia útil Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário,
imediato à data limite para a entrega das propostas, pelas 15 horas, na Divisão de Compras e Logística
da Câmara Municipal de Coimbra, na mesma morada, podendo nele intervir os concorrentes ou os seus
Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
representantes devidamente credenciados nos termos do n.º 9.2. do programa de concurso. Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial
6 - Critério de adjudicação do contrato: Proposta economicamente mais vantajosa, com os seguintes
fatores: preço, linha estética, valências da oferta de serviços, atividades complementares a desenvolver no e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a
espaço, experiência do gestor do projeto.
Coimbra, 14 de maio de 2020 Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e
O Presidente da Câmara, Manuel Machado
tratamentos.

EMPREGO Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril

PESQUISE EMPREGO AQUI Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org

Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra
Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
INSCREVA-SE EM EMPREGO.PUBLICO.PT Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
EM PARCERIA COM Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro
Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org

FARMÁCIAS
Porto - Serviço Permanente Amares - Pinheiro Manso Anadia - Óscar Alvim (Moimenta da Serra), Martins (Vila Nova de de Ferreira - Moderna Pampilhosa da Serra - do Sernancelhe - Confiança , Mota (Vila da Ponte)
Costa Cabral - R. de Costa Cabral, 1832 - Tel. Arcos de Valdevez - Da Lapa Arganil - Moderna Tazem) Guarda - da Sé Guimarães - Nobel (São Zêzere (Dornelas do Zêzere) , Central Paredes - Sever do Vouga - Terra (Couto de Esteves) Soure
225020780 Pombeiro - Campo dos Mártires da Armamar - Batista Ramalho , Lúcio Arouca - Paio) Ílhavo - Diniz Gomes Lamego - Fontoura Ferreira de Vales (Rebordosa) Paredes de Coura - - Ygeia Tábua - Simões Ferreira Tabuaço - D’Ouro
Pátria, 151 - Tel. 222051295 Santo António (Stª Eulália - Arouca) Aveiro - (Portelo) Lousã - Torres Padilha (Serpins) Da Calçada Penacova - Alves Coimbra Penafiel - Tarouca - Augusta (Salzedas) , Moderna Terras de
Vila Nova de Gaia - Serviço Permanente Saúde (Glória) Baião - Queirós Cunha (Campelo) , Lousada - Lopes Caçola Macedo de Cavaleiros - Miranda Penalva do Castelo - Silveira Penedono Bouro - Alvim Barroso (Covas) Tondela - Moura
Serra do Pilar - R. de Antero de Quental, 78/80 Rocha Barros (Eiriz) Barcelos - Filipe Boticas - S. Nova Maia - do Castelo (Castelo da Maia) - Rua Penela - Penela Peso da Régua - Almeida Torre de Moncorvo - Martins Trancoso -
(Mafamude) - Tel. 223750914 Aliança (Pedroso) - Cristovão Bragança - Confiança Cabeceiras de Mangualde - Feliz , Beirão (Chãs de Tavares) (Godim) Pinhel - Central , Da Misericórdia Misericórdia , Pereira (Vila Franca das Naves)
R. do Padrão, 294 (Carvalhos) - Tel. 227822007 Basto - Azevedo Carvalho Caminha - Beirão Manteigas - Bráulio Monteiro Marco de (Alverca da Beira), Moderna (Pínzio) Ponte da Vagos - Tavares Vale de Cambra - Teixeira da
Matosinhos - Serviço Permanente Rendeiro , Brito (Vila Praia de Âncora) Canavezes - Abílio de Miranda e Filho Mealhada - Barca - Moderna Ponte de Lima - Brito Póvoa de Silva Valença - Central Valongo - Nova de Alfena
E. Falcão - R. do Moinho de Vento, 227/33 (Leça Cantanhede - Cruz Carrazeda de Ansiães - Miranda, Suc. Meda - Pereira Melgaço - Lanhoso - S. José Póvoa de Varzim - Mariadeira (Alfena) Valpaços - Nova de Valpaços Viana do
da Palmeira) - Tel. 229952680 Rainha Carregal do Sal - Ramos (Cabanas de Gonçalves (Castro Laboreiro) Mesão Frio - Resende - Avenida Ribeira de Pena - De Cerva Castelo - São Domingos Vieira do Minho - Freitas
Coimbra - Serviço Permanente Viriato) Castelo de Paiva - Adriano Moreira , Pinho Correia Mira - Matilde Soares Miranda do Corvo - (Cerva) , Borges de Figueiredo Sabrosa - Macedo Vila do Conde - Ramos (Azurara) Vila Flor - Do
Barros (Eiras) - R. da Cruz Nova - Tel. 239431643 Lopes (Oliveira do Arda), Marques Lopes (Santa Lima Natário , Borges (Semide - Miranda do Morais , Vieira Barata Sabugal - Aldeia Velha Hospital Vila Nova de Cerveira - Cerqueira, Suc. ,
Universal (Santa Cruz) - Pç. de 8 de Maio, 35 - Tel. Maria de Sardoura) Castro Daire - Da Misericórdia Corvo) Miranda do Douro - Miranda (Mirando do (Aldeia Velha) , De S.Miguel (Cerdeira do Coa), Nova de Cerveira Vila Nova de Famalicão -
239823744 Celorico da Beira - Nova (São Pedro) Celorico de Douro) Mirandela - Bragança Mogadouro - Higiene (Souto) Santa Comba Dão - Vasco da Valongo Vila Nova de Foz Côa - Moderna Vila
Braga - Serviço Permanente Basto - Alves Dias Chaves - Costa Gomes Central Moimenta da Beira - Ferreira , César Gama , Sales Mano (S.João de Areias) Santa Maria Nova de Paiva - Galénica Vila Nova de Poiares -
Sousa Gomes (Sé) - R. de D. Frei Caetano Cinfães - Vieira Marques Condeixa-a-Nova - S. (Leomil) Monção - Vale de Mouro (Tangil) da Feira - Araújo Santa Marta de Penaguião - Martins Pedro (S.Miguel de Poiares) , Santo André
Brandão, 34/42 - Tel. 253614319 Tomé Espinho - Paiva Esposende - Gomes Mondim de Basto - Oliveira Montalegre - Canedo Santa Eulália (Cumieira) , Douro (Santa Marta Vila Pouca de Aguiar - Figueiredo Vila Real -
Outras Localidades - Serviço Permanente Estarreja - Leite Fafe - Ferreira Leite Felgueiras - Montemor-o-Velho - Abel Brandão Mortágua - Penaguião) Santo Tirso - Salutar , Moreira Padrão Seixas Vila Verde - Fátima Marques Vimioso -
Águeda - Ala Aguiar da Beira - Dornelas , Portugal Mendes Figueira da Foz - Jardim Figueira de Baptista Melo (Vale de Açor) Murça - Saúde (Trofa) São João da Madeira - Laranjeira São João Barreira , Ferreira (Argozelo) Vinhais -
Albergaria-a-Velha - Martins Ferreira Alfandega Castelo Rodrigo - Bordalo Fornos de Algodres - Murtosa - Júlio Baptista Nelas - Albino Pais da Pesqueira - Tavares São Pedro do Sul - Dias Albuquerque , de Rebordelo (Rebordelo) Viseu -
da Fé - Trigo Alijó - Do Hospital , de Favaios Central Freixo de Espada à Cinta - Guerra Góis - Oliveira de Azemeis - Moderna Oliveira de Sátão - Santo André (Lamas) , Andrade Seia - Pinto de Campos Vizela - Campante (Caldas de
(Favaios), Nova Vilar de Maçada (Vilar de Maçada) Coroa , Santiago, Frota Carvalho (Vila Nova do Frades - Pessoa Oliveira do Bairro - Tavares de Coelho , Popular (Loriga), Paranhense (Paranhos Vizela) Vouzela - da Torre (Alcofra) , Ana
Almeida - Cunha , Moderna (Vilar Formoso) Ceira) Gondomar - Central (Rio Tinto) Gouveia - Castro Oliveira do Hospital - Santos (Seixo da da Beira), Neves Rodrigues (Pinhanços), do Alva Rodrigues Castro (Campia), Teixeira Vagos - Viva
Amarante - Campo da Feira (São Gonçalo) Patrício , Central (Melo - Gouveia), Albuquerque Beira) Ovar - Manuel Joaquim Rodrigues Paços (Sandomil), De São Romão (São Romão) Vouzela - Vieira
46 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
FICAR
CINEMA
Sniper Americano
Hollywood, 19h45
Depois do 11 de Setembro, Chris
Kyle foi para as linhas da frente
contra o terrorismo, onde se
revelou um atirador furtivo fora
de série. Entre 1999 e 2009,
obteve o maior número de baixas
como atirador da história militar
norte-americana, Chamavam-lhe
“A Lenda”. Mas vivia batalhas tão
ou mais difíceis na sua vida
privada. Realizado por Clint
Eastwood e protagonizado por
Bradley Cooper, o Ælme foi
nomeado para seis Óscares e
acabou por arrecadar um, pela
Melhor Montagem de Som.
Enquanto a Guerra Durar
TVCine Top, 21h30
Espanha, 18 de Julho de 1936. Um
grupo de militares liderados pelos
generais Emilio Mola e Francisco
Franco realiza um golpe de Estado
contra o Governo da Segunda
República. O escritor e Ælósofo
Miguel de Unamuno assume
publicamente o seu apoio —
posição que começará a
questionar mais tarde. Escrito e
realizado por Alejandro
Amenábar, um drama histórico
baseado em factos reais, com
Karra Elejalde, Eduard Fernández,
Santi Prego, Nathalie Poza e Tito
Valverde, entre outros.
Mulher Polícia
RTP2, 23h22
Para evitar que mandem o Ælho
para um reformatório, Tânia
(Amélia Corôa) resolve fugir com
ele para Lisboa. É a história dessa
fuga, do sentido de recomeço e da
reconciliação entre mãe e Ælho
que é contada na segunda
longa-metragem de Joaquim
Sapinho, estreada na Secção
Panorama do Festival de Berlim e
galardoada no Festival de Cinema
Europeu de Lecce (Itália).
Vedações
Fox Life, 00h18
Denzel Washington protagoniza e
realiza esta adaptação ao cinema
da premiada peça de August
Wilson. Troy Maxson era um
jogador de basebol prodigioso,
mas nunca chegou a jogar nas
ligas principais porque, no seu
tempo, os atletas negros Æcavam
de fora. Hoje, trabalha como
homem do lixo e não consegue
evitar que a amargura o consuma,
ao ponto de tomar decisões
nocivas à sua própria família.
Destaque para a participação de
Viola Davis, no papel que lhe
valeu o Óscar de Melhor Actriz
Secundária.
Televisão
lazer@publico.pt
RTP 1
6.06 Mundo Maravilhoso: Alimentar os
gigantes 6.30 Espaço Zig Zag 8.00
Bom Dia Portugal Fim de Semana
10.05 Os Reis do Bioko 11.01 Verão M
11.53 Aqui Portugal - Best of 13.00
Jornal da Tarde 14.40 Aqui Portugal -
Best of 19.08 O Preço Certo 19.59
Telejornal 21.00 Eurovision: Europe
Shine a Light 23.20 Abba para Sempre
0.20 Ponto sem Retorno 1.57 Não Me
Sai da Cabeça 2.52 Anos a Viver
Perigosamente
RTP 2
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00
Euronews 7.58 Espaço Zig Zag 13.02
Drama Total em Acção 13.47 Os
Daltons 14.03 Tufão 14.17 Chovem
Almôndegas 14.39 Folha de Sala 14.46
As Crianças de Windermere 16.06 Dez
por Cento 16.59 Europa Minha 17.27
Biosfera 17.56 Eco-Lógica 18.28 Faça
Chuva Faça Sol 18.59 Os Mistérios de
Frankie Drake 19.46 As Grandes
Mentiras da História 20.40 Fora do
Baralho 21.30 Jornal 2 22.04 Folha de
Sala 22.13 Alma 23.22 Mulher Polícia
0.46 Três Meninas 1.41 Julie Andrews
para Sempre 2.34 João Penalva,
Personagem e Intérprete 3.30 Fora do
Baralho 4.17 Euronews
SIC
6.20 Etnias 6.55 Marvels Spider Man
7.40 O11ze 8.10 Uma Aventura 9.05
Olhó Baião 12.15 O Nosso Mundo:
Africa´s Deadliest 13.00 Primeiro
Jornal 14.15 Alta Definição 15.05
E-Especial 15.30 Regresso à Lagoa Azul
17.20 O Físico 19.57 Jornal da Noite
21.55 Olha por Mim 22.31 Quem Quer
Namorar com a Agricultora? - A
semana 23.00 Quem Quer Namorar
com o Agricultor? - A Semana 1.30
Passadeira Vermelha
TVI
6.25 Campeões e Detectives 7.10 O
Bando dos Quatro 8.35 Detective
Maravilhas 9.25 Inspector Max 12.15
Querido, Mudei a Casa! 13.00 Jornal da
Uma 14.25 Morangos com Açúcar
15.25 Velozes e Furiosos 17.15 Jason
Bourne 19.15 Anti-Stress 19.57 Jornal
das 8 21.55 Quer o Destino 23.00
Mental Samurai 0.25 A Vida Lá Fora
1.10 Big Brother: A Semana 2.30 GTI
3.00 Chicago PD 3.40 Saber Amar
Os mais vistos da TV
Quinta-feira, 14
Nazaré
% Aud. Share
SIC 15,9 27,0
Terra Brava SIC 14,2 27,5
Jornal da Noite SIC 14,0 24,5
Quer o Destino TVI 11,4 19,7
Telejornal RTP1 10,7 19,1
FONTE: CAEM
TVCINE TOP
10.15 Grinch (VP) 11.40 Viúvas 13.45
Pokémon Detetive Pikachu (VP) 15.30
Programa da Noite 17.15 A Distância
Entre Nós 19.15 Melhores Inimigos
21.30 Enquanto a Guerra Durar 23.15 O
Candidato Principal 1.05 A Rapariga
Apanhada na Teia de Aranha 3.05 Vida
por Vida 5.05 Skin, História Proibida
FOX MOVIES
10.22 Homens sem Medo 11.52
Ousadia 13.15 Os 3 Padrinhos 15.01 A
Última Caçada 16.51 O Irresistivel
Forasteiro 18.16 O Caçador de Índios
19.40 Honra a um Homem Mau 21.15 El
Dorado 23.15 Mulheres Acorrentadas
0.37 Drive - Risco Duplo 2.09 Viagem
Selvagem 3.56 Conspiração Explosiva
CANAL HOLLYWOOD
9.10 Abelha Maia - O Filme (VP) 10.40
Como Cães e Gatos 12.10 Gru - O
Maldisposto 2 (VP) 13.50 Páginas de
Liberdade 15.50 Bons Rapazes 17.45
Mundo Jurássico 19.45 Sniper
Americano 22.00 Resident Evil:
Apocalipse 23.35 Apanha-me Esse
Gringo 1.10 Raiva Silenciosa 2.55
Gritos 4 4.45 O Agente Secreto
AXN
14.08 Pixels 15.57 Resident Evil:
Ressurreição 17.38 Invasão Mundial:
Batalha Los Angeles 19.39 Invictus
21.55 Nascer para Morrer 23.47 Guerra
1.35 2012 4.09 Batalha do Pacífico
AXN MOVIES
13.29 O Lado Selvagem 15.52 Uma
Mente Brilhante 18.04 Hotel
Transylvania (VP) 19.36 A Minha
Namorada Tem Amnésia 21.15 Um
Demónio Vestido de Azul 22.58 Amor e
Mentiras 0.44 Cody Banks 2 - Missão
em Londres 2.24 Desafio Total 4.19
Step Up 2 5.52 Dreamgirls
AXN WHITE
13.04 Inesquecível 13.55 Momentos
Perdidos 15.25 Dispensáveis 16.55
Estranhos Companheiros 18.25 A Loira
Virtual 19.55 A Caça ao Assassino de
BTK 21.25 Mentiras à Vista 22.55 Arrow
0.25 Limites da Loucura 1.55
Outlander 2.45 Pan Am 3.35 O Grande
C 4.35 A Teoria do Big Bang
RTP1 12,2%
% SÉRIE
RTP2 1,3
SIC 20,1
TVI
14,0
Cabo
36,6
FOX
9.54 Madagáscar 3 (VP) 11.23 O
Hobbit: Uma Viagem Inesperada 14.31
Robin Hood 17.17 Geostorm - Ameaça
Global 19.23 Hércules 21.20 Warcraft:
o Primeiro Encontro de Dois Mundos
23.45 Artemis: Hotel de Bandidos 1.18
Sicario: Guerra de Cartéis 3.20 O
Rebelde Salvador
FOX LIFE
9.16 Ossos 12.06 The Resident 15.51
Sincerely, Yours, Truly 17.37 Starting Up
Love 19.02 Forever In My Heart 20.38 A
Chefe 22.20 A Escolha do Amor 0.18
Vedações 2.39 Rainha do Sul
DISNEY
15.20 A Raven Voltou 15.45 Gabby
Duran Alien Total 16.10 Miraculous - As
Aventuras de Ladybug 17.00 Gravity
Falls 17.50 Sadie Sparks 18.38 Os
Green na Cidade Grande 19.26
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
20.12 Gravity Falls 21.00 Gabby Duran
Alien Total 21.22 A Raven Voltou 21.45
Coop & Cami
DISCOVERY
17.45 Duo de Sobreviventes 19.20 O
Segredo das Coisas 21.00 Mistérios
Por Explorar 22.00 Curiosidades da
Terra 0.40 Mistérios por Explorar 1.30
Curiosidades da Terra 3.00 Já Estavas
Avisado! 4.30 A História do Universo
5.00 Guerra de Propriedades
HISTÓRIA
17.18 Forjado no Fogo 20.46 Forjado no
Fogo: Internacional 23.46 Man at Arms
1.15 Alienígenas 2.42 Roma e o Vício
4.14 A Construção de Um Império
ODISSEIA
17.42 A Grande Barreira de Coral com
David Attenborough 18.33 Mistérios
dos Gigantes Extintos 19.27 O Clã dos
Cachalotes 20.19 Fora de Controlo
21.09 Os Feitos Mais Estranhos das
Guerras Mundiais 21.54 Dark Net 22.48
Operação Narco 23.31 Será Que as
Mulheres Têm Um Maior Desejo
Sexual? 0.21 The Trixie And Katya Show
1.07 Os Feitos Mais Estranhos das
Guerras Mundiais 1.52 Dark Net 2.54
Operação Narco 3.40 Guerra de
Drones 4.38 Alimentos 3.0
Três Meninas
RTP2, 00h46
Estreia. Produzida pela BBC e
baseada em factos verídicos, a
minissérie de três episódios conta
a história de três vítimas de uma
rede de abuso e tráÆco sexual em
Rochdale, Inglaterra, e da sua
revolta e frustração face à inacção
das autoridades.
MÚSICA
Eurovision: Europe Shine a Light
RTP1, 21h
Pela primeira vez na sua história,
o Festival Eurovisão da Canção foi
cancelado. Mas a 65.ª edição, que
tinha Ænal marcada para hoje, na
cidade holandesa de Roterdão,
não deixa de se fazer ouvir. A
organização oferece uma versão
alternativa, focada nas canções
seleccionadas. Também convida
participantes do passado a
entoarem Love shine a light, o
tema que deu a vitória a Katrina
and the Waves em 1997. A
competição sai de cena e “os 12
pontos Æcam para todos os que
estão do outro lado dos ecrãs”,
sublinha Nuno Galopim, o
comentador português de serviço.
TEATRO
Alma
RTP2, 22h13
Encenada por Nuno Carinhas, que
também co-assina a dramaturgia
com Pedro Sobrado, a peça
baseia-se no auto de Gil Vicente
para propor “um pequeno teatro
da vida humana”, apresentado
como uma viagem acompanhada
cheia de provação, mudança e
descoberta. É enquadrada pela
cenograÆa do artista plástico
Pedro Tudela, com Ægurinos do
próprio encenador e com Leonor
Salgueiro como protagonista,
naquele que foi o seu primeiro
grande papel. A produção é do
Teatro Nacional de São João, onde
Alma se estreou em 2012.
INFANTIL
SpongeBob
Nickelodeon, 11h
Uma maratona de três horas e
meia com SpongeBob, o amigo
Patrick Star e as suas melhores
fugas, seja de uma ilha tropical,
de uma cápsula do tempo ou do
congelador de Mr. Krabs. O
especial culmina na estreia de um
novo episódio, A Fuga do Mundo
Luva. Repete amanhã, às 15h15.

EM DESTAQUE
Ciência
Dia Nacional dos Cientistas
a “informar, inspirar e cativar”
Muda-se o meio, mantém-se o
propósito: assinalar a data com
uma série de iniciativas que
celebrem a ciência e os cientistas.
A fórmula encontrada para esta
fase de recolhimento
recomendado é um Festival de
Ciência Online. São três horas
non stop com investigadores,
experiências, demonstrações e
intervenções de quase 40
especialistas nas mais diversas
áreas — astronauta incluído.
Andreas Mogensen, que esteve
em missão na Estação Espacial
Internacional, é um dos oradores
convidados. Outros são a
Cinema
Quarentena
Cinéfila com
Mike Leigh e
Nanni Moretti
Com reabertura marcada para o
dia 10 de Junho, o Cinema Nimas
(Lisboa) prossegue a sua
Quarentena CinéÆla com a Medeia
Filmes. Nesta que é a nona
semana da iniciativa que leva o
cinema a casa, estão em destaque
obras de grandes realizadores do
cinema europeu contemporâneo.
Minha Mãe (2015) ocupa a tela no
site da Medeia, entre o meio-dia
de hoje e o meio-dia de terça, dia
19 de Maio. Com assinatura do
italiano Nanni Moretti, o
melodrama versa sobre as crises
existenciais de três gerações de
mulheres: Margherita, uma
presidente da Agência Espacial
Portuguesa Chiara ManÇetti, o
físico e Prémio Nobel da Paz
Mohan Munasinghe, a engenheira
de materiais Elvira Fortunato, o
virologista Pedro Simas, o
patologista Sobrinho Simões e o
biólogo marinho José Xavier.
Convocado está também o
público, seja com desaÆos para
testar em casa com a família, seja
com quizzes que dão prémios.
O festival decorre hoje, das 16h
às 19h, em www.cienciaviva.pt/
festival e no YouTube do
Pavilhão do Conhecimento.
Sílvia Pereira
realizadora de sucesso
assoberbada com as rodagens da
mais recente obra; a sua mãe,
doente e hospitalizada; e a sua
Ælha, em plena crise de
adolescência. No elenco, além de
Moretti, estão Margherita Buy,
John Turturro e Giulia Lazzarini.
Até às 12h de hoje é ainda
possível espreitar
Segredos e
Mentiras (1996), a
cópia digital
restaurada do Ælme
do britânico Mike
Leigh, com Marianne
Jean-Baptiste, Brenda
Blethyn, Timothy Spall e
Phyllis Logan nos principais
papéis. O próximo capítulo é
dedicado ao cineasta japonês
Yasujirô Ozu, com a exibição
de A Flor do Equinócio (19 a
21 de Maio), O Fim do
Outono (21 a 23 de Maio) e
Bom Dia (23 a 26 de Maio).
C.A.M.
Culinária
Cozinha q.b.
A pensar em todos os que não
têm um especial gosto pelas lides
culinárias mas querem manter os
hábitos alimentares num nível
saudável, nasceu a plataforma
Cuizeat. Num só local online, é
possível ter acesso a “receitas
saudáveis, um mercado de
produtos frescos, biológicos e de
produtores locais, e cabazes
feitos de acordo com as
necessidades alimentares de cada
um”, referem em comunicado.
Dá para quem não gosta de
cozinhar, mas também para
quem quer simpliÆcar e não quer
pensar em receitas, listas de
compras ou Ælas de
supermercado. Nesta “mercearia
online inteligente”, há um
plano de
refeições
desenvolvido
em conjunto
com
nutricionistas,
chefs e bloggers
de comida, com
receitas que vão
da bebida de
curcuma às rodelas
de chèvre panadas com
framboesas, passando
pelos noodles de arroz
com beringelas, tomate e
tomilho, pelas pataniscas
de legumes ou pelo tofu à
Brás. A lista é variada e
abrangente, integrando opções
para refeições de várias dietas
(baixas calorias, paleo, bio,
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 47
mediterrânea), a sós ou
acompanhados. Cada receita vem
com uma lista de ingredientes,
que podemos adicionar, num só
click, a um carrinho de compras,
com a particularidade de
optimizar as quantidades:
“jamais os produtos serão
duplicados desnecessariamente
se as quantidades nas receitas
não o justiÆcarem”, asseguram.
Além das receitas, o site tem
também um mercado, cabazes e
uma secção dedicada às dicas dos
experts. A Cuizeat faz a recolha
dos ingredientes junto dos 30
produtores locais e 90 marcas
nacionais associadas, e a
respectiva entrega no domicílio
(por enquanto, o serviço está
disponível nas áreas da Grande
Lisboa e do Grande Porto).
C.A.M.
Concurso
Quando a arte
de trazer por
casa vai parar
ao rótulo de
uma garrafa
A casa Niepoort lança mais um
desaÆo a quem está por casa.
Desta vez, o convite é para pintar
uma versão do rótulo da garrafa
de vinho Nat Cool, naquela que é
a primeira edição do concurso
internacional Nat Cool Art.
DeÆnido pelo conceito “fresco,
funky e cool”, o vinho servirá de
FICAR (EM CASA)
inspiração para as propostas
artísticas a apresentar, tomando
o rótulo como tela. A ideia
nasceu com o rótulo que o
designer Francisco Providência
criou para as garrafas de Drink
Me, a primeira referência do
universo Nat Cool. Nele, Ægurava
apenas a impressão de um olhar
e espaço em branco, convidando
ao desenho espontâneo de
rabiscos e mensagens à medida
da imaginação de cada um.
Cumprindo a tradição de cartazes
promovidos pela casa, o
concurso pretende pôr no papel
o espírito da marca: um vinho
natural, leve e elegante, “com
orgulho e sem elitismos”. As
obras de arte deverão ser
enviadas até 31 de Maio (máximo
de três trabalhos por pessoa, em
tamanho A4), para o mail
natcoolart@niepoort.pt. Quem
não tiver uma garrafa à mão pode
descarregar o rótulo no site www.
natcoolart.com. O autor da
proposta que melhor traduz o
espírito da casa receberá um
prémio de 500 euros em vinhos
Niepoort e terá o seu rótulo
colado nas garrafas da próxima
edição limitada de Nat Cool.
C.A.M.
48 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

JOGOS

CRUZADAS 10.979 TEMPO PARA HOJE

Horizontais: 1. Tem um papel central nas Verticais: 1. Foi inventada por Thomas
nossas vidas, inclusive há uma expressão Edison em 1879 mas só um ano depois
que a relaciona com o parto. Elemento de passou a ser produzida em massa. Dez
formação de palavras que exprime a ideia vezes dez. 2. Juntei. O tom de voz mais Viana do Bragança
de luz. Terceira nota musical. 2. Alento. agudo de mulher ou de rapaz muito novo Castelo 6º 20º
Repetição. 3. Ameaçador. Roufenho. (Mús.). 3. O maior grau de intensidade. 12º 23º
Braga
4. Prefixo que exprime a ideia de priva- Cavaleiro do exército alemão ou austríaco,
10º 25º Vila Real
ção. Doutor (abrev.). Cloreto de sódio. armado de lança. 4. Fórmula sagrada (no
5. Elas. (...) Maiman, em 1960, construiu o budismo e no bramanismo). 5. Boca de um 17º Porto 8º 22º
primeiro laser operativo, facto que deu rio. Forma portuguesa mais fiel à palavra 13º 23º
origem ao Dia Internacional da Luz (assi- grega que lhe deu origem, utilizada quan-
Viseu
nalado hoje). 6. Dê cor do ouro a. do se “faz luz”. 6. Preposição que designa
7º 20º Guarda
Sociedade Anónima. Observei. 7. Ovação. posse. Espécie de bisca em que cada 1-1,5m Aveiro
Na mitologia grega, deus dos rebanhos, parceiro joga com dez cartas e obriga a 5º 18º
13º 23º Penha
das campinas e dos bosques. 8. Rádio (s. naipe. 7. Que tem cor, aparência ou natu-
Douradas
q.). Ruténio (s.q.). Proveito. 9. «O pé do (...) reza de terra. Itinerário Complementar.
Coimbra 3º 9º
é o pior iluminado». 10. Elemento de for- 8. Vazio. «De» + «a». Presidente da
mação de palavras que exprime a ideia de República (abrev.). 9. Tenho a ousadia. 12º 24º
Castelo
vinho. Numeração romana (300). A sua Forma de falar ou escrever sem obediên- Branco
luz é utilizada pelas plantas na fotossínte- cia a medida nem a rima. 10. Portugal não Leiria 11º 22º
se. 11. Molibdénio (s.q.). Letras que desi- o usa para produzir energia há mais de 50
10º 23º
gnam a pilha de menor diâmetro. Fundo dias, o que reduziu as emissões de CO2
lodoso do rio, mar, etc. em quase um milhão de toneladas. Eles.
11. Deixei só. (...) da Silva, viu o seu recurso Santarém
Portalegre
ser rejeitado pelo tribunal. 12º 24º
11º 21º
Lisboa
Solução do problema anterior: 14º 24º
Horizontais: 1. Famílias. De. 2. Ela. Netos. 3. Arensar. AC. 4. Há. Pra. 5. Acata. Lar. 6. Ror.
Ga. Roma. 7. Epi. Escola. 8. Nadam. Eno. 9. Trai. Dia. Gr. 10. Aa. Degenera. 11. Passional. Setúbal
Verticais: 1. Fe. Parental. 2. Ala. Copara. 3. Margarida. 4. Aida. 5. Linhagem. Es. 6. Sá. As. 13º 24º Évora
DGS. 7. Ana. Criei. 8. Ser. Aro. Ano. 9. Prole. EN. 10. Doar. Mangra. 11. Escava. Oral. 10º 23º
AMANHÃ

17º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 12º 21º
10º 22º

Dador: Sul 1-1,5m

Para maximizar essa possibilidade de “mise en
main”, ao mesmo tempo que deixamos em aber-
Problema
Vul: EO
to as outras que já existiam (as passagens a es- 9282 Sagres
padas e a copas, e a distribuição 3-3 das espa- Faro
NORTE das), temos de começar por entrar com o Rei de Dificuldade: 13º 21º
12º 22º
Ƅ AQ52 paus da mão, encaixar o Ás do morto e cortar o 2
de ouros na mão (deixando ainda a Este a possi-
Fácil 18º
Ɔ J7
Ƈ AQ92 bilidade de entrar com o Rei de ouros). Agora, vi- 0,5-1m
ramos a nossa atenção para os naipes ricos: a
ƅ A87
melhor forma de manejar o naipe de espadas é Açores
começar por bater o Ás e seguir com uma pe- Corvo
quena em direcção ao Valete. Graciosa
OESTE ESTE Este manejo garantirá o cheleme nas seguintes Terceira
Ƅ K9 Ƅ 10843 condições: Flores
S. Jorge 17º 19º
Ɔ K962 Ɔ 10543 a) Este tem o Rei de espadas – se o jogar, passa- 15º 21º
mos a ter duas baldas para as copas: o Ás de ou- Solução do
Ƈ K10654 Ƈ J873 17º
ros e a Dama de espadas. Se não o jogar, faze- problema 9280 18º Pico
ƅ J6 ƅQ mos o Valete e vamos ao morto em trunfo para
baldar a última espada da mão no Ás de ouros, Faial 1m
cedemos apenas uma copa. b) As espadas estão 15º 20º
SUL 3-3 – Se Oeste capturar o Valete com o Rei e jo- 1,5m S. Miguel
gar ouro para a Dama do morto e o Rei de Este,
Ƅ J76 15º 19º
cortamos e testamos as espadas. Se estiverem
Ɔ AQ8 Ponta
3-3, teremos duas baldas para as copas da mão. 17º Delgada
Ƈ- c) Oeste tem o Rei de espadas à segunda e o Rei
ƅ K1095432 de ouros, consumou-se o “mise en main”. Se jo- 1m
gar copas ou ouros, oferece uma vaza, o Ás de Madeira Sta Maria
ouros fará a vaza que falta.
d) A passagem a copas está bem. Em suma, esta
Oeste Norte Este Sul Porto Santo
linha permite melhorar consideravelmente as hi-
1ƅ
1
póteses iniciais.
Problema 15º 20º
passo 1Ƈ passo 2ƅ
2
9283 19º
passo 2Ƅ passo 3ƅ Considere o seguinte leilão:
passo 4ƅ
3
passo 4Ɔ
4
Oeste Norte Este Sul
Dificuldade:
Funchal
passo 6ƅ Todos passam 1Ƈ passo 1Ɔ Difícil 1m
0,5m
20º 15º 21º
passo 1ST passo ?
Leilão: Qualquer forma de bridge. 1. Atrevido,
mas aceitável 2. Melhor do que marcar 2ST 3.
O que marcaria, com a mão seguinte?
Forcing, tentativa de cheleme 4. Controlo, me- Sol Lua Nova
lhor do que marcar a chicana no primeiro naipe ƄK2 ƆK109652 ƇAQ3 ƅ102
do parceiro Nascente 6h23
Resposta: Marque quatro copas. A voz de 1ST do Poente 20h43 22 Maio 18h39
abridor promete 12 a 14 pontos com uma distri-
Carteio: Saída: 6ƅ. Qual o seu plano de jogo?
buição regular, ou seja, pode contar com duas
ou três cartas de copas na sua mão. Havendo fit Solução do
Solução: Abrir com dez pontos é prática corren-
te do bridge de competição. Contudo, aceita-se
a copas e pontos suficientes para jogar partida, problema 9281 Marés
mas insuficientes para um cheleme, não perca
melhor se o naipe comprido for rico. Depois de
tempo e marque directamente a partida que Leixões Cascais Faro
abrir esta mão, o seu parceiro colocou-o ao leme
sabe que quer jogar.
de um cheleme que é, no mínimo, razoável.
Como optimizar este cheleme? Preia-mar 12h03 2,6 11h39 2,6 11h33 2,5
Não existem entradas suficientes no morto para 00h12* 2,8 23h51 2,8 23h49 2,7
eliminar definitivamente o naipe de ouros, tere-
mos de nos contentar com um só corte a ouros Baixa-mar 18h01 1,4 17h37 1,5 17h32 1,4
(preservando o Ás no morto, por não sabermos
ainda o que baldar). Mesmo assim, existe uma 06h35* 1,2 06h14* 1,3 06h07* 1,2
boa possibilidade de colocar Oeste em mão – se
ele tiver o Rei de ouros, não terá uma boa saída João Fanha (bridgepublico@gmail.com Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
de mão. e fanhabridge.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
 NO DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS,
A ARTE GANHA VIDA E SAI À RUA.
“Estadia em Piacenza e retiro na floresta”
Jorge Leal/Cristóvão de Utreque(?)

SEGUNDA,
Óleo sobre madeira 128 X 119 cm

18 Maio,
Museu de São Roque

OFERTA COM O PÚBLICO

Portugal, c. 1520

No dia 18 de Maio, receba de oferta com o jornal Público uma

de mais de 20 máscaras sociais assinadas por alguns dos mais
importantes museus, monumentos e fundações nacionais.
Ao proteger-se, está a proteger a cultura.

Parceiros principais

Parceiros de comunicação Instituições associadas Produção

Ao abrigo do Ministério da Cultura

Stock limitado. Máscara social (não cirúrgica) em tecido, lavável e reutilizável, com certificação do CITEVE. Não nos responsabilizamos pela sua incorrecta utilização. Leia atentamente as instruções que se encontram na embalagem.
Conceito da autoria do editor João Pinto de Sousa.
50 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
INICIATIVAS
AGENDA
Segunda, 18 de Maio
Oferta de uma máscara social
lavável e reutilizável certificada
pelo Citeve
Receba gratuitamente com o
seu jornal uma das 21 máscaras
sociais disponíveis em banca.
Uma iniciativa do PÚBLICO, com
conceito do editor João Pinto de
Sousa, em parceria com o
Ministério da Cultura, Fundação
Calouste Gulbenkian, Museu
Berardo, Museu de Arte
Contemporânea da Fundação de
Serralves, Museu de São Roque,
Museu Arqueológico do Carmo
e Fundação Millennium bcp.
Apoio de comunicação da
agência Fuel e da RTP, apoio à
produção da Oxray.
Oferta válida apenas para a
edição impressa
Tem questões?
Contacte-nos para
coleccoes@publico.pt
ou para 808 200 095/210 111 020
A arte que
ganha vida
No Dia Internacional Cultura
dos Museus a arte Segunda-feira, 18 de Maio
ganha nova vida e sai Máscaras sociais de protecção
certificadas
à rua… em segurança. Oferta com o jornal impresso
Com o PÚBLICO Segundo o dicionário Priberam, um
receba as máscaras, museu é um “lugar destinado ao estu-
do das ciências e das artes”, um espa-
devidamente ço “onde se reúnem curiosidades de
certiÄcadas pelo qualquer espécie ou exemplares cien-
tíÆcos, artísticos”. Já o International
Citeve, que celebram museu
Council of Museums (ICOM) deÆne o
como “uma instituição perma-
21 dos mais nente, sem Æns lucrativos, ao serviço
da sociedade e do seu desenvolvi-
emblemáticos mento, aberta ao público e que adqui-
re, conserva, investiga, difunde e
monumentos, expõe os testemunhos materiais do
museus e fundações homem e do seu meio ambiente, para
educação e deleite da sociedade”.
nacionais Independentemente da área de
conhecimento a que esteja veicula-
do, um museu é sempre uma cele-
bração do melhor que a Humanida-
de produziu ao longo dos sécu-
los, um testemunho da nossa
história, da nossa cultura e
daquilo que nos diferencia,
mas, sobretudo, nos aproxima
enquanto seres humanos.
Numa altura em que somos
postos à prova como nunca,
celebrar aquilo que somos e
lembrarmos o que nos fez che-
gar até aqui talvez nunca tenha
sido tão importante.
Todos os anos, desde 1977, o
ICOM assinala, a 18 de Maio, o Dia
Internacional dos Museus, um
momento único para a comunidade
museológica. “O objectivo do Dia
Internacional dos Museus é chamar a
atenção sobre o facto de que ‘os
museus são um importante meio de
intercâmbio cultural, enriquecimento
de culturas e desenvolvimento de
entendimento mútuo, cooperação e
paz entre os povos’”, pode ler-se no
site do ICOM Portugal.
No ano passado, mais de 37 mil
museus participaram neste evento em

cerca de 158 países e territórios. Este
ano, em Portugal, a data adquire um
signiÆcado ainda mais especial, uma
vez que, após o período de conÆna-
mento, marca o início da reto-
ma do normal funciona-
mento de muitos dos
museus e monumentos
nacionais.
Para celebrar esta
data e relembrar aos
seus leitores a impor-
tância que a Cultura —
sector tão violentamen-
te impactado nos últi-
mos meses pelas restri-
ções impostas pela pande-
mia mundial que vivemos
— o PÚBLICO, em parceria
com diversas identidades,
entre as quais o Ministério da
Cultura, assinalará esta data ofe-
recendo máscaras sociais. Na pró-
xima segunda-feira, todos os jornais
distribuídos terão uma máscara
incluída, cuja total segurança será
garantida, já que cada jornal será
devidamente embalado. As másca-
ras, de tecido, laváveis e reutilizáveis,
devidamente certiÆcadas pelo Cite-
ve, serão ilustradas com 21 imagens
diferentes representativas de alguns
dos mais emblemáticos monumen-
tos nacionais, assim como obras que
integram o espólio dos mais reputa-
dos museus e fundações do país. No
Dia Internacional dos Museus a arte
ganha nova vida e sai à rua… em
segurança.
Numa época em que somos postos
à prova como nunca, as máscaras
com imagens do Panteão Nacional,
do Mosteiro dos Jerónimos, da Torre
da Belém ou do Museu Arqueológico
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 51
do Carmo trazem-nos as memórias de
Æguras que se distinguiram na história
nacional, assim como de tempos de
coragem e descoberta. Ou, simples-
mente, recordações de passeios em
família junto ao luminoso rio Tejo ou
pelo centro de Lisboa.
Se algumas imagens como o Políp-
tico de São Vicente de Fora, do Museu
Nacional de Arte Antiga, a obra The
Vivian Girls on the Farm, de Paula
Rego, que integra a colecção da Fun-
dação de Serralves — Museu de Arte
Contemporânea, ou a pintura Tigre,
de Júlio Pomar, da colecção da Fun-
dação Millenium bcp, fazem já parte
da memória colectiva da produção
artística nacional, a sugestão do
Museu de Arte Popular é Primavera,
uma peça de autor desconhecido que
parece festejar os dias quentes que
agora estão a chegar.
Columbano Bordalo Pinheiro, com
o quadro O Grupo do Leão, em expo-
sição no Museu Nacional de Arte Con-
temporânea — Museu do Chiado, faz-
nos ansiar pelos longos jantares e
tertúlias entre amigos, enquanto o
Museu Nacional de Etnologia, repre-
sentado por uma escultura antropo-
mórÆca, da ceramista moçambicana
Reinata Sadimba Passema, nos traz a
imagem de um tão desejado abraço.
Também as propostas do Museu
Berardo e do Palácio Nacional da Aju-
da são de dois artistas internacionais,
respectivamente Tableau (amarelo,
preto, azul, vermelho e cinzento), de
Piet Mondrian, e Santa Face, de El
Greco.
Igualmente de inspiração religiosa
são as obras escolhidas pelo Museu
Nacional de Machado de Castro, com
O Apóstolo, de Filipe Hodart, do Mos-
teiro de Alcobaça, cuja ilustração
seleccionada é uma imagem da Cúpu-
la da sua Capela Relicário, e da Santa
Casa Museu de São Roque com a tela
Estadia em Piacenza e Retiro na Flores-
ta, de Jorge Leal e Cristóvão de Utre-
que, alusiva ao percurso do São
Roque, santo protector da peste.
O Palácio Nacional da Ajuda está
representado pelo quadro Enferma-
ria e o Museu Nacional de Soares dos
Reis pela imagem da estátua O Dester-
rado, em que António Soares dos Reis
parece retratar um sentimento que a
muitos foi comum durante a quaren-
tena.
Postura mais conÆante tem o guer-
reiro galaico retratado na obra esco-
lhida pelo Museu Nacional de
Arqueologia, reforçando bem a ati-
tude necessária para enfrentar o
momento que vivemos e podermos
recuperar o Ballet Noite sem Fim, de
José Almada Negreiros, pintura esco-
lhida pelo Museu Nacional do Teatro
e da Dança. Já o Museu Calouste Gul-
benkian traz o padrão cheio de cor e
movimento de Espaço Ilusório, de
Eduardo Nery, para ilustrar a sua
máscara.
Aos poucos, a vida vai retomando
a normalidade. Entrar em livrarias,
visitar museus, participar em eventos
culturais são actividades essenciais e
estas máscaras vão permitir fazê-lo
com mais segurança. Esta iniciativa
do PÚBLICO, cujo conceito é da auto-
ria do editor João Pinto de Sousa,
contou ainda com a campanha de
comunicação desenvolvida pela FUEL
e apoiada pela RTP, bem como apoio
à produção por parte da Oxray. Pro-
teja-se a si e aos outros. Juntos, vamos
proteger a cultura.
52 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020

DESPORTO
Bundesliga espera audiência de
mil milhões neste Ɗm-de-semana
O número foi avançado por Karl-Heinz Rummenigge, director executivo da Liga alemã. Ansiedade pelo
regresso do futebol e ausência de jogos de outras Ligas europeias concorrentes explicam o entusiasmo
Futebol internacional
Jorge Miguel Matias
Cerca de dois meses sem futebol nos
principais campeonatos europeus foi
tempo mais do que suÆciente para
deixar os adeptos desejosos de acção
nos relvados. E quem vai tirar maior
partido desta ansiedade é a Bundes-
liga, que hoje retoma a sua competi-
ção 66 dias depois da interrupção a
que foi forçada pela pandemia de
covid-19 — sem público nas bancadas
(uma das muitas condicionantes para
o regresso do campeonato germâni-
co) mas com a bola no relvado e
milhões a assistir um pouco por todo
o mundo.
Nas palavras de Karl-Heinz
Rummenigge, director executivo da
Bundesliga, serão mesmo mil
milhões os que hoje (a partir das
14h30 de Portugal continental — Ele-
venTV) irão acompanhar pela televi-
são os cinco primeiros encontros da
26.ª jornada da Liga alemã. Uma cifra
gigantesca e que nunca estaria ao
alcance do campeonato germânico
por si só — prova ganha pelo Bayern
Munique nos últimos sete anos e à
qual falta a aura que acompanha a
Liga inglesa ou a rivalidade entre dois
colossos do futebol mundial como
são Real Madrid e Barcelona na Liga
espanhola.
Só que os adeptos do mais popular
desporto planetário estão “esfomea-
dos” e a Bundesliga vai tirar partido
disso e da ausência de concorrência
que, neste momento, existe no mer-
cado europeu, preparando-se para
alcançar uma audiência televisiva
nunca vista na sua história.
E nem a ausência de público nas
bancadas, nem a impossibilidade de
os jogadores festejarem juntos os
golos ou as vitórias, nem o silêncio
nos estádios impedirá que isso ocor-
ra.
Aliás, os clubes já prepararam
estratégias para mitigar a falta de
entusiasmo nos recintos desportivos.
Desde o recurso ao sistema de som
para transmitir os cânticos de adep-
tos até bonecos de cartão que servi-
rão de réplicas para preencher os
lugares vazios. Tudo está pensado
para proporcionar o melhor espec-
táculo possível.
E também haverá novidades. Isto
porque a Bundesliga decidiu adoptar
a norma temporária aprovada pelo
International Board (IFAB) e que per-
mite a realização de cinco substitui-
ções por jogo, em vez das actuais
três, embora em apenas três momen-
tos do jogo (também podem ser rea-
lizadas ao intervalo).
Uma solução que pretende prote-
ger os jogadores que regressam à
actividade após uma período de
paragem imprevisto e que serão sub-
metidos a uma sobrecarga competi-
tiva devido à necessidade de termi-
nar a competição até ao Æm de
Julho.
Mesmo assim há dúvidas. Hans
Flick, treinador que assumiu o
comando do Bayern Munique em
Dezembro, substituindo Nico Kovac,
disse ontem existir a dúvida sobre se
a equipa aguentará a bom nível todo
um jogo, após a paragem de cerca de
dois meses.
“Não sabemos se a equipa dá para
90 minutos, mas é claro que, como
todos os outros, não sabemos em que
nível estamos”, explicou o técnico.
Treinadores sem máscaras
Impossível é mesmo controlar a hipó-
tese de algo correr mal, embora os
esforços tenham sido imensos. Para
além dos testes de despistagem a que
todas as equipas foram submetidos
WOLFGANG RATTAY/REUTERS
nas últimas semanas, as comitivas de
cada clube estão obrigadas a se con-
centrar em hotéis onde permanecem
em isolamento pelo menos uma
semana.
Também os apanha-bolas irão usar
máscara, algo a que os treinadores
escaparam, sendo aliás os únicos
elementos presentes nos bancos de
suplentes que estão livres desta obri-
gação.
Alguns técnicos explicaram que a
máscara dificultaria o trabalho a par-
tir do banco, uma situação a que a
Liga alemã acedeu.
Contudo, a dispensa da máscara
vai obrigar os técnicos ao cumpri-
mento rigoroso de uma distância de
segurança de cerca de um metro e
meio relativamente aos restantes
elementos presentes no banco de
suplentes.
jmatias@publico.pt

REGRESSO DO FUTEBOL
Maio
Hoje — Alemanha
23 — Hungria
23 — Rep. Checa
28 — Dinamarca
30 — Croácia
30 — Israel
30 — Sérvia
30 — Ucrânia
30 — Lituânia
Junho
1 — Montenegro
3 — Albânia
4 — Portugal
5 — Bulgária
6 — Eslovénia
6 — Eslováquia
8 — Suíça
12 — Turquia
12 — Espanha
12 — Inglaterra
13 — Islândia
14 — Grécia
14 — Suécia
16 — Noruega
17 — Finlândia
21 — Rússia

Os adeptos do Borussia
Dortmund são conhecidos por
lotarem constantemente o
estádio, mas, desta vez, vão ter
de ficar em casa

Planisférico
Quebraram-se as regras sanitárias no adeus
ao adepto número um do Godoy Cruz
Futebol internacional
Nuno Sousa
“Loco” Julio morreu aos 80
anos, mas deixou para trás
uma história invulgar, que
inclui a doação ao clube
de um prémio da lotaria
Não houve distanciamento social
nem o cuidado de evitar aglomera-
dos de pessoas no funeral de “Loco”
Julio, Ægura incontornável do Godoy
Cruz. Julio não foi um jogador de
renome, nem um presidente caris-
mático ou um treinador de sucesso
no clube argentino. A homenagem
em massa que lhe foi prestada pelos
hinchas do emblema de Mendoza
teve como alvo um dos seus. Um
adepto. Mas não um adepto qual-
quer, até porque não é todos os dias
que se ganha um prémio chorudo na
lotaria e se o oferece, na totalidade,
ao clube do coração.
A despedida do adepto número
um do Godoy Cruz aconteceu já ao
Ænal da tarde de quarta-feira, com o
carro fúnebre a percorrer algumas
ruas da cidade devidamente escolta-
do por centenas de adeptos, alguns
de máscara no rosto, mas sem o cui-
dado de manterem a distância obri-
gatória em tempo de covid-19. Apesar
dos pedidos expressos do clube para
que se respeitassem as medidas sani-
tárias, o protocolo foi quebrado —
também porque não havia presença
policial no local da concentração.
Julio Roque Pérez tinha 80 anos
quando sucumbiu a problemas res-
piratórios (que, ao que se sabe, nada
tiveram a ver com infecção pelo novo
coronavírus). A sua ligação ao clube
durava desde os 12 anos, altura em
que deixou a casa dos avós para se
mudar para Mendoza, a 60 quilóme-
tros de distância. Desde então, ena-
morou-se pelo Godoy Cruz.
Entre as peripécias que protagoni-
zou, destaca-se um jogo com os bra-
sileiros do Santos, em 1964, durante
o qual invadiu o relvado para pedir
explicações ao árbitro depois da
expulsão de um jogador do clube
argentino. Uma reacção que terá
contribuído para a alcunha de
“Loco”. Mas o momento deÆnidor
da sua ligação ao Godoy Cruz acon-
teceu aos 15 anos, quando foi con-
templado com um prémio da lotaria.
E o que fez Julio? Decidiu doá-lo ao
O rosto de Julio Roque Pérez está espalhado pelas paredes e pelas bandeiras em volta do estádio
“Eu casei-me com
o Godoy Cruz.
E casei-me porque
decidi segui-lo
para todo o lado.
Levo-o sempre
no coração”
clube, para a construção do Estádio
Feliciano Gambarte, que avançou
com obras de melhoramento graças
à quantia que inesperadamente
entrou nos cofres.
Se este já seria um gesto invulgar
em qualquer contexto, ainda mais
incomum se tornou dadas as diÆcul-
dades de Julio, que viveu na rua
durante uns anos e sobrevivia da
recolha de ferro-velho e de outras
peças abandonadas no lixo. Aos 23
anos, conseguiu um emprego como
funcionário de limpeza na Câmara
Municipal de Godoy Cruz: “Varría-
mos todo o dia, desde o bairro Tra-
piche até ao bairro Bancario”, con-
tou numa entrevista ao jornal Los
Andes, em 2013. E manteve as fun-
ções até ao dia da reforma.
Mas voltemos ao prémio, explica-
do pelas palavras do próprio. “Aos 15
anos, ganhei a lotaria de San Juan e
saí de Mendoza com a polícia, que
me acompanhou para ir levantar o
dinheiro”, recordou, sem saber pre-
cisar o montante. “Sei que uma tri-
buna do estádio e parte da ilumina-
ção do relvado são minhas, pagaram-
-nas com o dinheiro que eu
ganhei”.
O gesto não passou despercebido.
E quando o grupo de hinchas Pasion
Tombina decidiu erguer uma estátua
em homenagem ao adepto do Godoy
Cruz, pensou imediatamente em
“Loco” Julio. Foi ele que serviu de
modelo à escultora Daiana Lazzarin,
que em três meses deu forma ao
monumento à paixão pelo futebol
que desde 4 de Junho de 2016 assen-
tou arraiais nas imediações do está-
dio. “Enquanto cidadã de Godoy
Cruz, é uma honra enorme ter sido
escolhida para esta obra”, assumiu,
na altura da inauguração.
O que Æca de Julio Pérez, no teste-
munho de muitos dos seus pares, é
a simplicidade, a candura, a lealdade
a uma causa, a devoção. O coração
enorme de um homem cujo analfa-
betismo nunca foi um empecilho
para interpretar o papel de embaixa-
dor de um clube que foi sempre a sua
primeira casa. Também por isso
Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 53
DR
tenham também atribuído, em
Novembro de 2013, o seu nome à
avenida que separa o estádio do
complexo de treinos do Godoy Cruz.
Durante a cerimónia, não conseguiu
conter as lágrimas.
Foi este impulso feito de paixão
clubística que elevou a aura de Julio
e o transformou no adepto mais
reconhecido de um clube que nunca
se sagrou campeão da Argentina.
Até aos derradeiros dias de vida,
alimentou esse sonho, construído à
força de centenas de jogos vividos in
loco e viagens por todo o país. Tudo
em nome do Godoy Cruz, um amor
maior eternizado em algumas pare-
des nas imediações do estádio e em
inúmeras bandeiras que ostentam o
seu rosto nas bancadas. O rosto de
um clube. “Eu casei-me com o
Godoy Cruz. E casei-me porque
decidi segui-lo para todo o lado.
Levo-o sempre no coração”.
nsousa@publico.pt
Planisférico é uma
rubrica semanal sobre
histórias e campeonatos
de futebol periféricos
Ver mais em
www.publico.pt/planisférico
DESPORTO
Breves
Futebol internacional
Liga belga termina
e Clubb Brugge
é declarado campeão
O campeonato belga terminou
oficialmente ontem. Os
emblemas reuniram-se em
assembleia e decidiram dar
por concluída a época,
promulgando a actual
classificação como válida.
Assim, e a uma jornada de
terminar a fase regular, o Club
Brugge foi declarado
campeão. O emblema Philippe
Clément liderava a prova com
70 pontos (mais 15 que o Gent)
e conquistou assim o 16.º
título do seu palmarés. No que
toca às vagas europeias, Club
Brugge (fase de grupos) e
Gent (3.ª pré-eliminatória) vão
jogar na Champions; Charleroi
(fase de grupos), Antuérpia
(3.ª pré-eliminatória) e
Standard (2.ª pré-eliminatória)
seguem para a Liga Europa.
Finanças
Sporting prolonga
layoff por mais
30 dias
O Sporting solicitou o
prolongamento por mais 30
dias do layoff que afectava
95% dos funcionários desde
Abril, em consequência da
suspensão das actividades
desportivas devido à
pandemia de covid-19. O
prolongamento destas
medidas extraordinárias, que
suspenderam o trabalho de
alguns colaboradores e
levaram à redução do tempo
de serviço e do salário de
outros, foi comunicado aos
profissionais do clube na
quinta-feira. O recurso ao
layoff dos “leões” seguiu-se ao
acordo com os futebolistas
para uma redução salarial de
40% nos meses de Abril, Maio
e Junho e ao corte para
metade dos vencimentos dos
administradores da SAD
durante esses três meses.
54 • Público • Sábado, 16 de Maio de 2020
DESPORTO
Rebelião dos clubes
italianos contra
exigências
do Governo
Futebol internacional
Alguns dos pontos
do protocolo sanitário para
o regresso da Liga “são
difíceis de aplicar”, dizem
emblemas transalpinos
Poucos dias depois do momento em
que os clubes que competem na
Serie A votaram, por unanimidade,
o regresso, no próximo dia 13 de
Junho, do principal escalão do fute-
bol italiano, tudo voltou a ficar em
causa novamente.
Isto porque os 20 clubes que com-
petem na Serie A reuniram-se ontem
através de videoconferência, tendo
uma larga maioria defendido que
não dispõe das condições necessá-
rias para cumprir com o protocolo
de segurança delineado pela federa-
ção e pelas autoridades sanitárias
italianas.
“Foram analisados alguns pontos
do protocolo [para o regresso do
campeonato] que são difíceis de apli-
car e, com espírito construtivo,
foram incorporadas medidas que
podem ajudar a ultrapassar estas
questões”, refere o comunicado
divulgado pela Serie A.
A “revolta” terá sido liderada por
Beppe Marotta, director executivo
do Inter de Milão. Segundo informa-
ções avançadas pelo jornal italiano
Tuttosport, Moratta defendeu que
era impossível regressar aos treinos
conjuntos com as medidas impostas
A Liga italiana quer regressar no dia 13 de Junho
e terá mesmo dito: "Assim, não trei-
namos". Uma posição que terá mere-
cido o apoio de Nápoles, AS Roma,
Fiorentina, Verona, Bolonha,
Sampdória, Brescia e Génova.
A discórdia assenta no facto de a
maior parte dos emblemas transal-
pinos não terem centros de treino
suficientemente grandes para alber-
gar os cerca de 50 elementos que
será necessário ficarem em isola-
mento, caso um jogador do plantel
seja diagnosticado com covid-19.
As instalações do Inter de Milão,
por exemplo, dispõem de apenas 26
quartos, ou seja, sensivelmente
metade daquilo que seria necessário
numa situação como a indicada no
protocolo sanitário.
Segundo o comunicado da Serie
A, as alterações ao documento suge-
ridas pelos clubes “visam assegurar
uma retoma dos treinos colectivos
em total segurança”, e vão ser agora
remetidas aos ministros do Despor-
to, Vincenzo Spadafora, e da Saúde,
Roberto Speranza, bem como para
a Comissão Técnico-CientíÆca que
está a colaborar com o Governo de
Itália para o regresso à normalidade
possível.
Os clubes da Série A foram autori-
zados pelo Governo italiano a regres-
sar aos treinos individuais a 4 de
Maio e a retomar os treinos colecti-
vos na próxima segunda-feira.
A Liga italiana foi interrompida em
9 de Março, quando estavam decor-
ridas 26 jornadas, devido à crise de
saúde pública motivada pela pande-
mia de covid-19. PÚBLICO/Lusa
MATTEO BAZZI/EPA
O Estádio dos Arcos, casa do Rio Ave, foi um dos recintos vistoriados
Madeira dada como
hipótese para final
da Taça de Portugal
Futebol
Vistorias a todos os estádios
da I Liga já foram
concluídas e até
segunda-feira serão
anunciadas decisões
A sugestão surgiu pela boca do pre-
sidente do Marítimo, Carlos Pereira,
que anunciou ter desaÆado a Fede-
ração Portuguesa de Futebol (FPF) a
realizar a Ænal da Taça de Portugal,
entre BenÆca e FC Porto, no estádio
do clube, na Madeira.
Inicialmente marcada para dia 24
de Maio e ainda sem data para se
realizar, pois está dependente da
conclusão do campeonato nacional,
a Ænal da segunda mais importante
prova do calendário futebolístico
português foi colocada em segundo
plano pelos responsáveis federati-
vos. Isto porque, sendo o troféu dis-
putado pelos dois mais que prová-
veis campeão e vice-campeão nacio-
nais, não terá inÇuência na atribuição
de um lugar na próxima edição da
Liga Europa.
Correndo mesmo o risco de vir a
realizar-se em pleno mês de Agosto,
uma coisa é certa. O Estádio Nacio-
nal, em Oeiras, não será o palco da
prova, dada a falta de condições do
recinto para acolher um jogo no qua-
dro da pandemia de covid-19.
E foi por causa desta incerteza que
Carlos Pereira sugeriu o estádio do
Marítimo para acolher o evento. Uma
sugestão nada inocente face à posi-
ção publicamente assumida pelo
FERNANDO VELUDO/LUSA
líder maritimista de querer que os
insulares joguem no Funchal as par-
tidas caseiras das dez jornadas que
faltam disputar do campeonato.
A estratégia do dirigente madeiren-
se é simples: se o recinto tem condi-
ções para acolher a Ænal da Taça de
Portugal, também terá para receber
os jogos que o Marítimo ainda tem
para disputar como anÆtrião.
Para já, estão concluídas as visto-
rias aos estádios e até segunda-feira
serão anunciadas as conformidades
e desconformidades das instalações
com base nas exigências estipuladas
pelo protocolo que a Direcção-Geral
da Saúde (DGS) elaborou para que
seja possível o regresso do futebol
em Portugal, no próximo dia 4 de
Junho.
Quem já excluiu os seus recintos
para acolher partidas da I Liga foram
o Famalicão, Moreirense e Belenen-
ses SAD (que recorre ao Estádio
Nacional), enquanto o Santa Clara
optou por disputar os seus jogos
caseiros na Cidade do Futebol para
mitigar os riscos de contágio devido
às viagens de e para o arquipélago
dos Açores.
Esta solução não é, contudo, bem
vista pelo Marítimo, que já ameaçou
impugnar o campeonato se for for-
çado a disputar fora da ilha da Madei-
ra os seus jogos caseiros.
Impugnação é também o caminho
escolhido pelo Feirense por causa da
decisão da FPF de indicar o Nacional
e o Farense como os clubes a ser pro-
movidos à I Liga, alegando que ainda
seria possível ao clube de Santa
Maria da Feira ocupar uma das duas
primeiras posições da II Liga.
Ténis
prolonga
suspensão
até Agosto
Ténis
Decisão afecta os torneios
ATP de Hamburgo, Bastad,
Newport, Los Cabos,
Gstaad, Umag, Atlanta
e Kitzbühel
A suspensão dos circuitos masculino
e feminino de ténis foi, ontem, pro-
longada até 31 de Julho, devido à
pandemia de covid-19, com uma
nova actualização do calendário a
ser remetida para meados de
Junho.
“Devido às incertezas relacionadas
com a pandemia de covid-19, lamen-
tamos anunciar a decisão de esten-
der a suspensão do circuito. Tal
como os adeptos do ténis, os jogado-
res e os organizadores de torneios
em todo o mundo, partilhamos a
decepção pelo facto de o circuito
[ATP] continuar a ser afectado desta
maneira”, declarou o presidente da
Associação de Tenistas ProÆssionais
(ATP).
Citado em comunicado, Andrea
Gaudenzi disse que a ATP continua a
avaliar “todas as opções” para reto-
mar a competição “assim que for
seguro fazê-lo”, admitindo a possibi-
lidade de “reagendar” torneios mais
tarde na temporada.
A decisão anunciada ontem afecta
os torneios ATP de Hamburgo, Bas-
tad, Newport, Los Cabos, Gstaad,
Umag, Atlanta e Kitzbühel, além dos
torneios “challenger” e ITF agenda-
dos até 31 de Julho.
Para já, os torneios agendados a
partir de 1 de Agosto continuam a
Ægurar no calendário. Uma reavalia-
ção da situação provocada pela pan-
demia de covid-19 e a consequente
actualização do calendário do circui-
to ATP serão conhecidas em “mea-
dos de Junho”.
Também a Associação de Ténis
Feminino (WTA) e a Federação Inter-
nacional de Ténis (ITF) deram conta,
em comunicados distintos, do pro-
longamento da suspensão dos tor-
neios até 31 de Julho.
O ténis está completamente para-
do desde o início de Março devido à
pandemia da covid-19, o que levou já
ao adiamento de Roland Garros para
Ænais de Setembro e ao cancelamen-
to da edição de 2020 de Wimbledon,
agendada para decorrer entre 29 de
Junho e 12 de Julho.
 Público • Sábado, 16 de Maio de 2020 • 55

DESPORTO

Silverstone tem princípio Carlsen

de acordo para realizar
dois GP no Verão
Automobilismo
Corridas estão sujeitas
à aprovação do Governo
britânico, que pretende
impor quarentena a quem
chegar a solo britânico
O director do circuito de Silversto-
ne, Stuart Pringle, anunciou ontem
um princípio de acordo com os pro-
motores do Mundial de Fórmula 1
para a realização de dois Grandes
Prémios no circuito inglês, no
Verão, e à porta fechada.
“No entanto, essas corridas estão
sujeitas à aprovação do Governo, na
medida em que a nossa prioridade é
garantir a segurança de todos os envol-
vidos e respeitar escrupulosamente
as regras relativas à pandemia de
covid-19”, disse Stuart Pringle à BBC.
Um dos principais obstáculos à
concretização desse projecto está
relacionado com o período de qua-
rentena de duas semanas que o
Governo britânico pretende impor a
quem chega de avião a solo britânico,
a menos que seja proveniente de
França ou da República da Irlanda.
Também o Grande Prémio da Bél-
gica pode ser realizado à porta fecha-
da, a 30 de Agosto, no circuito de
Spa-Francorchamps, apesar da proi-
bição de eventos de grande escala até
31 de Agosto no país, anunciaram as
autoridades locais. E também Portu-
gal, nomeadamente o Autódromo do
O regresso da F1 às pistas
está previsto para 5 de Julho
Algarve, já surgiu como sendo uma
das hipóteses para receber uma cor-
rida de F1 no caso do Mundial Æcar
circunscrito ao território europeu.
A pandemia do novo coronavírus
suspendeu o arranque da temporada
de Fórmula 1, previsto para 15 de Mar-
ço, que teve as dez primeiras corridas
do calendário de 2020, que prometia
ser o mais preenchido de sempre,
adiadas ou canceladas.
No total, os dez primeiros grandes
prémios foram cancelados (Austrália,
Mónaco e França) ou adiados para
uma data indeÆnida (Bahrein, China,
Vietname, Países Baixos, Espanha,
Azerbaijão e Canadá).
A Fórmula 1 espera começar a tem-
porada a 5 de Julho, com o Grande
Prémio da Áustria.
é o favorito
no memorial
Steinitz
Xadrez
Jorge Guimarães
A Federação Internacional de
Xadrez aproveitou a data da reali-
zação do primeiro Campeonato do
Mundo oficial para homenagear
a memória de William Steinitz,
que venceu esse confronto, realiza-
do em 1886, perante Johanes Zuker-
tort.
Este evento prevê apenas três
minutos para cada partida, tendo
como cabeça de cartaz e favorito
ao triunfo final o norueguês
Magnus Carlsen, que, concluído o
primeiro dia, com seis das 18 jorna-
das realizadas, lidera a prova com
quatro pontos.

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imbatível Apesar das contrariedades do momento, o Público não abriu mão
da sua edição impressa. Perante o encerramento de muitos pontos de venda
por força das circunstâncias, estamos a fazer todos os esforços para continuarmos
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Sábado, 16 de Maio de 2020

BARTOON LUÍS AFONSO

O RESPEITINHO NÃO É BONITO

Os números da covid-19 não justificam tanto medo

PAULO PIMENTA
seu desaparecimento. A opção 2 económica e social. Claro que a
não é uma boa ideia. Achatar a pandemia tem de ser mantida sob
curva tem como objectivo impedir controlo — mas é assim que ela está
o crescimento exponencial das há já várias semanas. Agora chegou
infecções, evitando a debacle do a hora de sair à rua, voltar ao
SNS. Alisar a curva até ao ponto do trabalho, retomar a vida, não
João Miguel Tavares

E
u percebo a necessidade de
ter cuidados. Percebo que
não se deixem as pessoas ir
para a rua de qualquer
maneira. Percebo que se
façam alertas, que se
estabeleçam regras, que se
recomende prudência — percebo
até que se exagere um pouco na
retórica. Não percebo, contudo,
que se continue a alimentar um
discurso escusadamente medroso,
cheio de cenários catastróÆcos,
quando o número de mortos e de
doentes internados que temos
neste momento em Portugal com
covid-19 pura e simplesmente não
o justiÆcam. Pior: a diminuição
contínua do R0 e do número de
infectados pode parecer uma boa
notícia à primeira vista, mas para
quem acredita que a imunidade de
grupo é o nosso melhor caminho,
ela tem tudo para ser uma má
notícia no futuro.
Existe uma enorme diferença
seu desaparecimento pode parecer exagerando nas medidas restritivas
uma grande vitória, e dar e, sobretudo, não continuando a
excelentes aberturas de telejornal, alimentar o medo. As ruas
mas expõe a população a permanecem assustadoramente
sucessivas ondas epidémicas, dada vazias.
a percentagem extremamente No dia 9 de Abril, escrevi um
baixa de pessoas que contactam artigo intitulado “Meter as pessoas
com o vírus. dentro de casa foi fácil. E tirá-las?”.
Estamos tão obcecados com o Essa pergunta nunca foi tão
putativo disparo dos contágios pertinente. Pode parecer duro
devido à lenta reabertura da aÆrmar isto, mas a capacidade
economia que nos esquecemos de instalada para enfrentar a
que o combate à covid-19 sempre pandemia existe para ser
foi um jogo de equilibrismo — não aproveitada enquanto se tenta
abrir de mais, nem abrir de menos; ainda que uma vacina possa vir a atingir a imunidade de grupo. É ela
proteger a saúde comprometendo ser criada, os especialistas não o amortecedor da abertura
o mínimo possível a economia; acreditam que ela chegue em económica. Esvaziámos os
conÆnar grupos de risco enquanto menos de um ano, ano e meio. hospitais por causa da covid-19, e o
se assegura que os trabalhadores Manter as actuais medidas de resultado é haver mais gente a
essenciais mantêm intactas as
cadeias de distribuição. E, sendo
Daquilo que se sabe da segurança e distanciamento social
durante 18 meses seria recuar
morrer por causa desse
esvaziamento do que por causa do
um jogo de equilibrismo, convinha letalidade da covid-19, décadas em termos de PIB. Talvez vírus. Isto não faz sentido. Portugal
não colocar todos os pesos num não vejo como ela possa dez anos. Talvez vinte. Seria o Æm teve indiscutível sucesso na
único prato da balança. do turismo, do circuito cultural, primeira fase do combate à
Em bom rigor, ninguém sabe se justificar tamanha dos melhores restaurantes, do pandemia. Agora é preciso impedir
vai existir uma vacina para esta destruição económica desporto, do comércio como o a catástrofe económica. E não é
doença. A OMS levantou há dias a
hipótese de a covid-19 se tornar
e social. As ruas conhecemos hoje.
Daquilo que se sabe da letalidade
com ruas vazias que vamos lá.

estratégica entre 1) achatar a curva endémica nas nossas sociedades, e permanecem da covid-19, não vejo como ela Jornalista
ou 2) alisar a curva até ao ponto do nunca chegar a desaparecer. Mas, assustadoramente vazias possa justiÆcar tamanha destruição jmtavares@outlook.com

Esta informação não dispensa a

consulta da lista oficial de prémios Euromilhões 11 23 32 34 39 1 6 1.º Prémio
72.000.000€ M1lhão SQJ 10445
Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
9E9B1B96-9A66-4AB4-9D70-BCC79B63EFAD
E-mail publico@publico.pt Estatuto Editorial publico.pt/nos/estatuto-editorial Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial
210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Rua Júlio Dinis, n.º270, Bloco A, 3.º, 4050-318 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade,
Distribuição 226151011 Madeira Telef.: 963388260 e/ou 291639102 Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social €4.050.000,00.
Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impressão Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Empresa Gráfica Funchalense,
SA, Rua da Capela de Nossa senhora da Conceição, nº. 50- Morelena – 2715-029 Pêro Pinheiro Telf.: 219677450 Distribuição VASP – Distribuidora de Publicações, SA, Quinta do Grajal - Venda
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