Abrir portas onde

nde se erguem
m muros
murro
mu os Director: Manuel Carvalho
Direct alho Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.344 • Ediçã
Edição
ão Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,30€

Te
Televisão
ão
o Dia Internacional
Intte dos Museus
Inauguraaç da intervenção artística
Inauguração
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Filomenanaa de Pires VViVie
Vieira na fachada do MNAC HOJE, 17h
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Cautela Hoje
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CChh de café
volta à RTP
vo RT A Brasileira
Brasssii do Chiado-MNAC
co oggraamaa
com Programa Edição comemorativa
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d Pires Vieira para o MNACC Por+
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Cautelarr Nove modelos
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Cultura, 29
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Regresso dos turistas britânicos faz

com que hotéis reabram mais cedo
Procura aumenta também entre franceses e alemães: Algarve e Madeira são as regiões mais beneÄciadas
A reabertura das viagens dos turistas ves previstas, 16 tinham origem no que foram retomadas as viagens não tugal estar, por enquanto, “sozinho” de Junho”, diz Cristina Siza Vieira,
britânicos para Portugal foi marcada Reino Unido. O regresso dos britâ- essenciais entre o Reino Unido e no mercado de férias de sol e praia. vice-presidente executiva da Asso-
pelo número de aviões que aterra- nicos ao Algarve devolveu a espe- Portugal. Hoteleiros dizem que se O maior impacto na hotelaria “só ciação da Hotelaria de Portugal
ram ontem em Faro: das 30 aerona- rança ao sector turístico, no dia em deve aproveitar a vantagem de Por- deverá começar a sentir-se a partir Economia, 22/23 e Editorial

REUTERS

Guiné-Bissau
Manifestações
e ausências
na visita oficial
de Marcelo
Ex-combatentes da guerra colonial
querem compensações. PAIGC não
vai ao Parlamento Política, 10

Novo Banco
Foi como
“vender cabaz
de fruta
apodrecida”
Ex-governador defendeu a forma
como a instituição foi vendida ao
Lone Star Economia, 24

Aumenta pressão para cessar-fogo após
novos bombardeamentos violentos em Gaza
O conÇito entre Israel e o Hamas
entrou na segunda semana e na sua
fase mais violenta. Até ao momento,
já morreram 201 palestinianos, entre
os quais 58 crianças, e dez israelitas,
incluindo duas crianças. John Lyn-
don, director executivo do Allmep,
uma aliança de ONG em Israel e
Palestina, disse, em entrevista ao
PÚBLICO, que quer em Israel, quer
no Hamas, “as lideranças não têm
nenhuma ideia para uma solução, e
Reino Unido
Consulados sem
resposta para
pedidos de
a violência é a expressão dessa reali-
regularização
dade”. França, Egipto e Jordânia Mais de 380 mil portugueses já se
tentam pressão diplomática para candidataram ao novo estatuto de
obter cessar-fogo Destaque, 2 a 4 imigrante Sociedade, 16
ISNN-0872-1548

08c35700-b58d-456e-bddc-8e66b61321cd
2 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Destaque Conflito entre Israel e o Hamas entrou na segunda semana
IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS
Aumenta pressão O
Maria João Guimarães
conÇito entre Israel e o
Hamas entrou ontem na
segunda semana, em mais
um dia de fortes ataques na
para cessar-fogo
Faixa de Gaza que se inten-
sificaram no fim-de-semana.
No território palestiniano morreram
um total de 201 pessoas, entre as
quais 58 crianças, e mais de mil foram
feridas, segundo as autoridades de
saúde. O Exército israelita diz que
após mais ataques
matou mais de 130 membros do
Hamas e da Jihad Islâmica na Faixa
de Gaza. Do lado israelita foram regis-
tadas dez mortes, incluindo duas
crianças, pelos rockets lançados pelo
Hamas e Jihad Islâmica — mais de
violentos em Gaza
3000, a maioria interceptados pelo
sistema de defesa área Iron Dome.
Apelos a um rápido cessar-fogo
começaram a ser mais audíveis, com
França e Egipto na frente. O Presi-
dente francês, Emmanuel Macron,
disse que conversará com o Presiden-
te egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, e o
rei Abdallah, da Jordânia, para che-
gar a uma proposta concreta.
Do lado dos EUA, que segundo
relatos de diplomatas têm estado a
Morreram já mais de 200 pessoas no território palestiniano, bloquear uma resolução do Conselho
de Segurança da ONU que pediria um
e dez em Israel. França, Egipto e Jordânia tentam pressão cessar-fogo e criticaria Israel, o secre-
tário de Estado, Antony Blinken,
diplomática para um acordo para suspender as hostilidades pediu ontem a todas as partes que
protegessem a vida dos civis. O con-
selheiro de Segurança Nacional, Jake
Sulivan, disse que “os Estados Unidos
estão envolvidos em diplomacia
silenciosa, intensiva, e os [seus] esfor-
ços vão continuar”.
O secretário-geral das Nações Uni-
das, António Guterres, lamentou que
a situação se estivesse a aproximar
de uma “crise de segurança e huma-
nitária incontrolável”.
Mas não parecia que a pressão esti-
vesse a resultar.
O primeiro-ministro israelita, Ben-
jamin Netanyahu, voltou a dizer que
a acção militar iria “demorar”, já que
Israel quer fazer o Hamas “pagar um
preço elevado” por ter começado um
ataque com rockets contra Israel. O
movimento islamista fez, na segun-
da-feira passada, um ultimato, quan-
do crescia a tensão em Jerusalém por
causa da expulsão de famílias pales-
tinianas do bairro de Sheikh Jarrah,
em Jerusalém Oriental, em território
ocupado por Israel, e de limites no
acesso ao Pátio das Mesquitas duran-
te o Ramadão. Aumentava também
a violência da polícia israelita no local
— chegou a disparar gás lacrimogé-
neo para o interior da mesquita.
O conÇito Æcou mais complexo
com violência em cidades israelitas
com população árabe signiÆcativa,
como Haifa, Lod, ou Acre, onde hou-
ve motins, carros incendiados e sina-
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 3

MOHAMMED SALEM/REUTERS
gogas atacadas, por um lado, e tam-
bém com grupos de judeus extremis-
tas a atacar árabes — houve tentativas
de linchamento dos dois lados, uma,
de um árabe por um grupo de judeus,
foi mostrada em directo numa televi-
são israelita. A vítima Æcou em estado
grave. Ontem morreu um homem
que estava também em estado grave
depois de ter sido alvo de outro lin-
chamento, por parte de um grupo de
árabes, em Lod.
Estavam entretanto marcadas para
hoje greves gerais em cidades árabes
israelitas e também palestinianas na
Cisjordânia.
Em relação a Gaza, o brigadeiro-
general Yaron Rosen, antigo coman-
Armas
O que é o sistema de defesa antimíssil
israelita Iron Dome?
Adam Taylor
Exército israelita diz que
o Iron Dome tem uma taxa
de sucesso de 90% contra
os rockets disparados
a partir de Gaza
a fazer mais mal do que bem”, escre-
veu o cientista político Yoav Fromer
num ensaio para o The Washington
Post em 2014. “A capacidade do Iron
Dome para proteger os israelitas dos
ataques periódicos com rockets nun-
ca irá pôr Æm à discórdia e ao des-
contentamento que estão na origem
dos motivos daqueles que, em pri-
sos suÆcientes noutros equipamen-
tos de defesa, como abrigos.
Que problemas colocam
os rockets de Gaza ao Iron
Dome ?
Embora o Iron Dome já seja usado
há uma década, os rockets continuam

Não houve ainda uma trégua
que permitisse retirar
feridos ou corpos de alguns
locais bombardeados na
Faixa de Gaza
As IDF [Forças de
Defesa de Israel]
dante de uma unidade da Força
Aérea, disse que não há previsão de
que os ataques diminuam. “As IDF
[Forças de Defesa de Israel] podem
continuar assim para sempre. E eles
[Hamas] podem continuar a disparar
os seus rockets, infelizmente, duran-
te muito tempo. Mas o preço que
estão a pagar é cada vez mais caro”,
declarou.
Alvos civis
Os bombardeamentos israelitas em
Gaza não pararam sequer para tré-
guas temporárias para permitir o
acesso a equipas de resgate para reti-
rarem vivos ou mortos dos escom-
bros de edifícios atingidos em alguns
locais, diz o diário britânico The
Guardian.
Vários edifícios altos têm sido bom-
bardeados, incluindo aquele onde
estavam as redacções da agência
noticiosa norte-americana Associa-
ted Press (AP) e da estação de televi-
são Al-Jazira, com Israel a dizer que
albergava uma unidade do Hamas.
Ninguém estava no local, já que o
Exército avisou um pouco antes do
ataque, mas a televisão e a agência
perderam todo o material e arquivo,
mesmo tendo pedido apenas dez
minutos mais para retirar material, o
que não lhes foi concedido.
Na semana passada, enumerava o
Guardian, Israel atacou em Gaza:
uma clínica de saúde, a casa de um
trabalhador humanitário, várias tor-
res residenciais, uma fábrica de col-
chões, além do mais aparatoso, e
polémico, ataque ao edifício da AP e
Al-Jazira. Israel acusa o Hamas de pôr
operacionais e armas em zonas habi-
tadas, e de disparar daí.
Q
uase sempre que há relatos
de rockets, ou outro tipo de
artilharia, disparados a par-
tir da Faixa de Gaza, na
direcção do território israe-
lita, ouvimos falar do Iron
Dome (“Cúpula de Ferro”) e vemo-lo
em acção através de fotograÆas e
vídeos com imagens sugestivas dos
céus iluminados de Israel.
O que é o Iron Dome ?
O Iron Dome é um sistema de defesa
antiaéreo desenvolvido pelas empre-
sas israelitas Rafael Advanced Defen-
se Systems e Israel Aerospace Indus-
tries, com apoio Ænanceiro e técnico
dos EUA. Estreado em 2011, foi con-
cebido para travar rockets de curto
alcance e artilharia semelhante à que
está a ser disparada a partir de Gaza.
Outros dois sistemas — o David’s Sling
e o Arrow — foram criados para inter-
ceptar disparos de armamento de
médio e de longo alcance, incluindo
aviões, drones, rockets e mísseis.
O Iron Dome depende de um sis-
tema de radar e de análise para
determinar se um rocket corre o ris-
co de atingir uma área habitada ou
alguma infra-estrutura importante.
Os interceptores — que são dispara-
dos verticalmente a partir de unida-
des móveis ou de um centro estático
de lançamento — foram projectados
para detonar o rocket no ar, provo-
cando explosões nos céus, que cos-
tumam ser acompanhadas pelo som
das sirenes de alerta.
Responsáveis israelitas dizem que
o hardware do sistema ainda não foi
modiÆcado desde a primeira utiliza-
ção, mas revelam que algumas alte-
meira instância, os disparam tão
impiedosamente.”
Quão bem sucedido é o Iron
Dome a travar os ataques?
Os dirigentes e as empresas de defe-
sa israelitas dizem que o sistema já
impediu milhares de rockets e arti-
lharia de atingirem os seus alvos e
que tem uma taxa de sucesso de
90%. Contudo, alguns analistas ques-
tionam estes números, dizendo que
os dados israelitas de intercepções
bem sucedidas são pouco Æáveis e
argumentando que grupos como o
Hamas ou a Jihad Islâ+mica já se
adaptaram ao Iron Dome.
O Iron Dome mudou a vida de
muitos israelitas nos conÇitos mais
recentes, permitindo um certo grau
de normalidade em algumas regiões
no Sul do país que em tempos esta-
vam ao alcance dos ataques com
rockets.
Defensores do sistema dizem que
esta travou a necessidade de Israel
enviar tropas para a Faixa de Gaza
em tempos de conÇito.
O custo reduzido do sistema — só
dispara perante ameaças a vidas
humanas ou a infra-estruturas e pre-
cisa de poucos interceptores — tam-
bém o torna atractivo para governos
estrangeiros, incluindo o dos EUA,
que comprou duas baterias para si.
Mas alguns israelitas dizem que o
Governo depende em demasia do
Iron Dome e que não investe recur-
a ser disparados durante os períodos
de tensão. Mesmo tendo em conta as
melhores estimativas, alguns chegam
a atingir áreas povoadas.
Os especialistas que monitorizam
os arsenais do Hamas e da Jihad Islâ-
mica acreditam que estes devem ter
dezenas de milhares de rockets, cons-
truídos com pouco mais do que
explosivos e revestimento metálico.
Os dois grupos foram, inicialmente,
ajudados pelo Irão, com material
contrabandeado através do Egipto.
Agora muito do trabalho pode ser
feito dentro de portas.
O Hamas começou a produzir um
rocket chamado Qassam em 2001,
durante a segunda Intifada. Inicial-
mente, os rockets tinham um alcance
de apenas duas ou três milhas [três
a cinco quilómetros], mas as versões
mais recentes, como o Qassam 3,
têm um alcance de 10 milhas [16 km].
Alguns rockets chegam mais longe:
em 2019, o Exército israelita decla-
rou que um rocket que atingiu uma
casa perto de Telavive tinha um
alcance de 75 milhas [120 km].
Apesar de os rockets serem nor-
malmente rudimentares e muitos
carecerem de sistemas de orienta-
ção, o elevado número fabricado a
um custo reduzido é uma vantagem
contra o Iron Dome. Um rocket pode
custar pouco mais do que algumas
centenas de dólares, ao passo que
cada interceptor custa cerca de 80
mil dólares. Exclusivo PÚBLICO/The
Washington Post
AMIR COHEN/REUTERS

podem continuar Foram também destruídas casas

de Æguras importantes do Hamas,
rações feitas ao longo dos anos no
seu software tornaram-no mais eÆ#

assim para sempre. incluindo do líder no território,

Yahya Sinwar. O Hamas e a Jihad Islâ-
caz.
Moshe Patel, director da secção do

E eles [Hamas] mica reconheceram 20 mortes de

combatentes no conÇito. Israel divul-
gou nomes e fotos de mais de 20 ale-
podem continuar a gados operacionais que disse ter
Ministério da Defesa em Homa,
explica ao Israel Hayom que o Iron
Dome tem “capacidade para respon-
der a mísseis de cruzeiro, a drones e

disparar rockets “eliminado”.

Este é o mais grave conÇito entre
muito mais”, incluindo “ameaças
que ainda não existem por esta altu-

durante muito Israel e o Hamas desde 2014, a tercei-

ra guerra entre os dois, quando mor-
ra, mas que irão emergir nos próxi-
mos meses”.

tempo reram, segundo a ONU, 2251 palesti-

nianos, dos quais 1462 eram civis. Do
Yaron Rosen lado israelita morreram 67 soldados
Brigadeiro-general (na reserva) e seis civis.
Mas os críticos do Iron Dome
dizem que este serve fundamental-
mente para prolongar o conÇito.
“Com o tempo, o Iron Dome pode vir Israel diz que o Iron Dome já interceptou milhares de rockets
4 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Destaque Conflito entre Israel e o Hamas entrou na segunda semana
“Israel tem eleições a mais, Palestina a menos”
“As lideranças não têm nenhuma ideia
para uma solução”, a violência mostra-o
Entrevista
Maria João Guimarães
John Lyndon, do Allmep,
uma aliança de ONG em
Israel e na Palestina, diz
que é urgente ter uma
abordagem de médio prazo
O
director executivo da
Allmep, aliança de
organizações dedicadas à
resolução de conÇito e
sociedade partilhada em
Israel e na Palestina, John
Lyndon, diz que os políticos não
têm incentivo para resolver o
conÇito. A comunidade
internacional passou 30 anos com
uma estratégia de curto prazo e
chegou a altura de mudar, defende.
Já assistiu a muitos ciclos de
violência em Israel e na
Palestina. O que é semelhante, e
o que é diferente, no conflito
actual?
A dinâmica entre Israel e o Hamas
é infelizmente muito familiar, mas
a parte realmente nova é o impacto
no terreno nas relações entre os
cidadãos árabes e judeus de Israel.
A violência em Jaèa, Lod, Ramle,
Acre, Haifa, que são centros de
parcerias políticas árabes e
israelitas e cooperação, isso é
novo. Israel já lidou com rockets,
não são uma ameaça estratégica
para Israel. Mas a relação entre os
cidadãos árabes e judeus é.
Também é nova a ligação de
Jerusalém ao que está a acontecer
em Gaza. Isto torna este conÇito
muito diferente. Se não tivermos
um cessar-fogo urgentemente, basta
um rocket perdido, um ataque aéreo
especialmente devastador, e as
coisas podem explodir na região
inteira.
Nunca houve uma guerra entre
Israel e o Hamas em que um
pudesse reivindicar vitória.
Como vê as estratégias de saída
para ambos, de momento?
Acertou no cerne do problema. Não
há modo de Israel ter sucesso em
termos militares em Gaza. O
máximo que pode esperar ao
prolongar o curso desta guerra é
diminuir mais as reservas materiais
de armas do Hamas, talvez eliminar
algumas pessoas na elite da
liderança. Ambas vão ser repostas.
Esta não é uma estratégia para
resolver a questão. E, como isto
afectou a relação entre os cidadãos
de Israel, o risco é maior.
Do lado do Hamas, a estratégia é
tentar estabelecer-se como uma
entidade de resistência e não uma
organização de terrorismo,
fortalecendo a sua posição
internacional e interna em relação à
Autoridade Palestiniana, já que
devia haver eleições agora, mas o
Presidente Abbas cancelou-as.
Essa também não é uma via para
melhorar a situação das pessoas em
Gaza, que há mais de uma década e
meia vivem sob bloqueio.
Nenhum dos lados tem uma
estratégia viável para o uso da força
melhorar a situação para o seu
povo.
Entretanto, em Israel, a questão
palestiniana tem desaparecido
do debate público…
É verdade, a única coisa em que o
Hamas parece estar certo é que a
violência é um modo eÆcaz de pôr a
questão palestiniana de novo na
agenda. Não só em Israel, mas
internacionalmente, entrou nas
prioridades. E é um conÇito vivo e
ABIR SULTAN/EPA
intenso, que consegue lembrar ao
mundo que se mantém por resolver.
Em Israel, desde o assassínio de
Yitzhak Rabin e da segunda Intifada,
tem havido uma ideologia de gestão
de conÇito, que Netanyahu encarna
na perfeição. A retórica são talking
points requentados dos anos 1990,
que não têm em conta como o
conÇito está hoje.
Na comunidade internacional, há
20 anos que se repete “solução de
dois Estados” como se fosse uma
política, mas não houve nenhuma
estratégia para a conseguir.
E se não criarmos um Estado
palestiniano, o que estamos a fazer
em vez disso? Como estamos a
ajudar a tornar a vida menos dura
em Gaza, para os habitantes do Sul
de Israel, para os palestinianos sob
ocupação na Cisjordânia? Nada,
porque dizemos que queremos uma
solução de dois Estados. A média
das idades na Cisjordânia é de 19
anos, em Gaza é de 16/17, uma
geração que cresceu a ouvir “a
solução de dois Estados”, e Æzemos
pouco pelas suas vidas.
Há quem diga que a revolta
árabe acabou com a ideia de um
Estado binacional, como antes se
argumentava que a janela para
dois Estados já se fechara…
Acho as conversas sobre soluções
um pouco cansativas, porque
servem para substituir o que
devemos fazer agora. Temos
membros [na Allmep] que
acreditam numa solução de dois
Estados, outros num Estado, outros
numa confederação. O que é mais
importante é ser baseada no que
querem israelitas e palestinianos,
que são iguais, e na igualdade.
Por isso é que a sociedade civil é
essencial. As lideranças não têm
nenhuma ideia para uma solução, e
a violência é a expressão dessa
realidade.
Se virmos como foram resolvidos
outros conÇitos, investir e apoiar
estes grupos para terem ideias, para
conseguir refrescar o pensamento,
para haver líderes que sejam
capazes de levar as coisas em frente,
isso devia estar no centro de
qualquer estratégia internacional.
Na Irlanda do Norte, a
comunidade internacional criou um
fundo e Ænanciou-o com 1,5 mil
milhões de dólares nesses projectos,
12 anos antes dos acordos de paz. É
isso que temos de fazer na Palestina
e Israel — criar estes espaços em que
possam discutir ideias juntos,
porque estas ideias não vão surgir
do Knesset ou do Conselho
Legislativo Palestiniano, se este
alguma vez voltar a funcionar.
A paralisa política alimenta o
conflito?
Os políticos já mostraram que não
são parte da solução, são parte do
problema. São disfuncionais nos
dois lados: em Israel há eleições a
mais, na Palestina eleições a menos.
Que tal mudar, e em vez de uma
cimeira numa localização
glamourosa na Europa ou nos EUA,
dar poder à sociedade civil? No
mínimo, vamos ter ideias
inovadoras. Talvez até assustar os
líderes para mudarem. Se olhar
para o eleitorado israelita, e o
mesmo do lado palestiniano, os
mais jovens apoiam menos a
solução de dois Estados; em Israel
os jovens votam na direita, os
israelitas mais velhos são de
esquerda. Isto é uma receita para o
desastre. Se achamos que as coisas
estão difíceis politicamente agora,
esperem até mais pessoas destas
entrarem no eleitorado, e as mais
velhas saírem.
Temos de questionar essa
dinâmica, não pensar que vai surgir
um líder mágico, porque não há
incentivos políticos para esse líder
aparecer.
É preciso uma abordagem de
médio e longo prazo. Uma das
tragédias deste conÇito é que
durante 30 anos tivemos uma
abordagem de curto prazo.
Podemos mudar a estratégia agora,
para que nos próximos dez a 15 anos
a situação possa melhorar e não
continuar a piorar.
6 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021

Espaço público

Ser o oásis turístico da Europa é um perigo

N
o dia em que milhares de
Editorial turistas britânicos
aterravam no aeroporto
de Faro, o director da
Região de Turismo do
Algarve deixava no ar uma
constatação que tanto serve de
Manuel Carvalho regozijo, como assusta. “Toda a
Europa está a falar na vantagem de
Portugal”, dizia João Fernandes.
Depois de longos meses de
isolamento que levaram o sector do
turismo ao limite e causaram danos
irreparáveis na economia, veriÆcar
que a Europa olha para o controlo da
pandemia como uma “vantagem”
para as suas férias é animador. Depois
de nove meses de estados de
Não podemos negar emergência e de situações de
na realidade actual calamidade até que o esforço dos
que, com esta cidadãos foi capaz de vergar o
abertura escancarada número de infecções para uma
dimensão invejável à escala europeia,
de fronteiras, o nível o assalto de estrangeiros a praias,
de risco da pandemia hotéis ou restaurantes é uma
no país aumentou preocupação.
É caso para se recordar que não
podemos ter o sol na eira e a chuva
no nabal, como é caso para dizer que
Portugal está a beneÆciar do seu
sucesso e pode tornar-se vítima dele.
Ser o primeiro país da Europa do Sul
com a pandemia controlada torna o
país um oásis; estar nessa condição
torna-o um refúgio. Não se trata de
ser pessimista ou de recusar a
oportunidade de recuperar a um
sector crucial da economia. Trata-se
apenas de perguntar se o
desconÆnamento não está a ser
rápido de mais; se o Governo não
está a confundir a calmaria, que
existe, com o Æm da tempestade, que
não aconteceu; se depois da
desobediência patrocinada pelo
laxismo dos poderes públicos na festa
do Sporting não haverá uma
tendência geral para o facilitismo; se
a abertura de portas a turistas da
forma descontrolada (deixando de
fora na Europa apenas dois países
importantes, a Holanda e a Suécia)
não será um daqueles casos em que a
ânsia se sobrepõe à prudência e a
necessidade económica à protecção
dos cidadãos.
Ter a situação controlada exigiu um
preço elevadíssimo. É esse preço que
justiÆca a discussão sobre se abrir as
fronteiras sem outras exigências senão
um teste a turistas vindos de países
ainda em sobressalto, onde as taxas
de vacinação continuam baixas e nos
quais a disseminação de variantes
com a indiana gera ainda aÇição foi ou
não uma boa escolha. Estamos,
obviamente, a insistir numa discussão
especulativa por incapacidade de
prever o que vai acontecer. Há bons
argumentos para defender a escolha
feita. O que não podemos negar na
realidade actual é que, com esta
abertura escancarada de fronteiras, o
nível de risco da pandemia no país
aumentou. Oxalá em Julho, no auge da
temporada turística, haja razões para
dizer que a “vantagem” de hoje foi
bem aproveitada.

CARTAS AO DIRECTOR
Calamidade ou
emergência?
Passados mais de dez anos da
criação dos agrupamentos
escolares e da alteração do
modelo de gestão do ensino
básico e secundário é importante
que se faça a avaliação dos
benefícios destas alterações. O
Governo diz que o insucesso
educativo tem diminuído de
forma continuada. Por outro lado,
os professores de uma forma geral
queixam-se do facilitismo e da
falta de exigência. Quem tem
razão?
Os responsáveis do Ministério da
Educação elogiam as novas
disciplinas, que valorizam o
trabalho de equipa e a discussão de
temas candentes da actualidade.
Muitos professores acham que
essas disciplinas são redundantes e
que apenas contribuem para o
falsear do sucesso escolar,
atendendo aos critérios e peso
avaliativo das mesmas. Quem tem
razão? É também crucial averiguar
a pertinência do actual modelo de
gestão escolar e que se reÇicta se o
estado do ensino básico e
secundário público é de
emergência ou de calamidade.
João Pereira, Oeiras
Ainda dá para salvar
a lusofonia?
Rui Tavares faz a pergunta no
PÚBLICO de 14 de Maio último,
mas a resposta só pode ser: não
dá. E não dá, porque sendo a
lusofonia uma criação cultural
que tem por base a língua
portuguesa nascida neste
rectângulo da Península Ibérica e
desenvolvida ao longo de
centenas de anos pelos povos que
nele se foram instalando, com a
introdução do acordo ortográÆco
a língua matricial vem sendo
abastardada pelos que a ele
aderiram. Sendo assim, defender
a lusofonia sem recusar o que
destrói a sua génese será
pretender remendar o que já não
tem conserto. Tendo Rui Tavares
aderido ao AO de que é que está à
espera, e porque é que se queixa?
Maria das Dores Vicente Pereira,
Funchal
Corrupção investigada
Ao longo dos anos, Portugal tem
somado vários casos de
corrupção cuja complexidade
no seu combate tem gerado
vários debates na Assembleia da
República na procura de uma
eventual forma de pôr um Æm a
esses casos. Sabemos que
empobrecem a imagem do país,
visam o enriquecimento de
alguns, com a cumplicidade de
algumas inÇuências. Porém, o
combate à combate é também
uma questão de vontade
política.
Quando ouvimos que este é um
Governo que mais fez no combate
à corrupção, mas ao mesmo
tempo temos conhecimento de
que os gabinetes governamentais
Æcam de fora das investigações da
corrupção, há aqui uma questão
de alguma sensibilidade; aos
envolvidos nestes processos não
convém criar inimizades que
possam ser prejudiciais no avanço
de determinados projectos, em
que o favorecimento se sobrepõe
ao cumprimento das leis.
O facto de existir um governo
com dois pesos e duas medidas no
que diz respeito à investigação de
actos de corrupção não favorece a
opinião positiva dos cidadãos.
Estes Æcam com a ideia de que a
classe política está imune aos
actos de corrupção, quando a
verdade é que as inÇuências
políticas são como que o rastilho
para a existência daquela. Os
casos de corrupção tenham a
origem que tiverem não servem o
país.
Américo Lourenço, Sines
Imagens inconcebíveis
Em pleno século XXI são
inconcebíveis as imagens que nos
chegam dos continuados e
mortíferos ataques e
contra-ataques entre
palestinianos e israelitas, com
acusações beligerantes de parte a
parte. E, sem tomarmos parte na
defesa de uns ou de outros,
diremos somente que
defendemos a vida humana a
todo o custo. Portanto, urge que
se ponha um férreo travão a
tanta continuada mortandade e
destruição e se encontre uma
rápida solução pacíÆca a
contento de todos.
José Amaral, Vila Nova de Gaia
A irresponsabilidade
do Hamas
A solução do conÇito
israelo-palestiniano só pode ser
política. O Hamas sabe que não
tem capacidade militar para
entrar em conÇito bélico com
Israel. Mesmo assim, faz o jogo
sionista da provocação. O Hamas
não cuida dos civis palestinianos
que Æcam à mercê dos
bombardeamentos israelitas.
Estará o Hamas inÆltrado por
agentes israelitas? É que custa a
entender o motivo que leva o
Hamas a atingir Israel com
rockets e mísseis que só levam a
uma resposta musculada de
Benjamin Netanyahu. Enquanto
isso, Joe Biden não tem coragem
de publicamente se opor à
desproporcionada resposta
militar israelita.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
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BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“Estar com raiva é vingar-se das falhas
dos outros em nós mesmos” Alexander
Pope (1688-1744), poeta
[Processo de venda do Novo Banco] é como
‘vender um cabaz de fruta que parcialmente es-
tá apodrecida’ [e em que o] ‘custo de não vender
seria deixar apodrecer a fruta toda’ Carlos Costa
O NÚMERO NESTE DIA 18 DE MAIO
9
1890 Inauguração da Estação Central do Rossio,
em Lisboa 1911 Morre, aos 50 anos, o compositor
austríaco Gustav Mahler 1974 A Índia passa a 6.ª
potência nuclear, ao efectuar, no deserto do
Rajastão, a primeira explosão subterrânea 1998
Maria José Ferro Tavares eleita reitora da Uni-
versidade Aberta. É a primeira mulher a presidir
a uma universidade pública portuguesa 2000
Alpinista português João Garcia atinge o cume
do Monte Everest 2001 Boavista sagra-se
Human Rights Watch: 9 em cada campeão nacional de futebol, pela primeira vez
10 crianças e jovens em idade es- na história do clube 2013 Bispo do Porto Manuel
colar no mundo tiveram a educa- Clemente, de 64 anos, nomeado patriarca de
ção prejudicada pela pandemia Lisboa, sucedendo a José Policarpo
De ladrão
a ladrão
Ainda ontem
tem
A
Miguel Esteves Cardoso
vantagem da leitura é
poder conhecer
pessoas sem as aturar.
Entre os meus
autores favoritos há
tanta gente
desagradável que é um alívio poder
cingir-me ao melhor que têm para
dar: o que escrevem.
Diz-se muito que é sempre um
erro conhecer as pessoas de quem
gostamos à distância. E é verdade: é
raro não ser uma grande desilusão.
Em primeiro lugar, essas pessoas
dão o melhor que têm àquilo que
fazem em público: trabalham,
aperfeiçoam, seleccionam, cuidam
das aparências.
Fazem-no não tanto por
profissionalismo (ou para ganhar
dinheiro), mas por vaidade e
inteligência: como estão a trabalhar
para muitas pessoas, faz sentido que
dediquem mais tempo e cuidado ao
que fazem.
Quando lhes aparece uma só
pessoa, esse esforço torna-se
absurdo e então dão-se ao luxo de se
poderem comportar como lhes
apetece — ou, mais francamente,
como realmente são.
A imagem pública não é falsa, mas
é pública: é feita para ser vista por
pessoas diferentes e, como tal, tem
de ser artificial no esforço que faz
para transcender essas diferenças.
Dito isto, é provável que haja um
defeito de carácter nas pessoas que
se apresentam em público através
da escrita.
Escrever é uma maneira de nos
escondermos, de não termos de
aparecer, de podermos ficar
rigorosamente sozinhos — mas
podendo à mesma falar.
Só lendo é que se pode estar com
alguém sem ter de o ver ou ouvir. E,
para mais, à velocidade que
escolhermos, onde quisermos e, já
agora, sem ser preciso bateria ou
electricidade.
Ler é uma forma de roubo
legitimada por ser um ladrão que é
roubado. O escritor-ladrão
dispensou a nossa presença e, logo,
nós podemos dispensar a presença
dele e ficarmos só com o que ele
deixou.
E fazermos disso o que quisermos.
É por isso que ler é tão bom.
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 7
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8 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Espaço público
#somospanascas
“A
André Lamas Leite
questão da
homossexualidade pode
ser vista como uma janela
que se abre para a vasta
área do comportamento
humano normal ou
patológico”, escreveu, em 1988, Richard C.
Friedman na fundamental obra Male
Homosexuality. A etiologia do tema é
procurada desde os alvores da
humanidade e este estudo revela-nos que
se a componente biológica não é
despicienda, há um conjunto de outras
variáveis sociais, psicológicas e culturais
que não podem ser esquecidas, tornando
qualquer orientação sexual naquilo que
ela é: um todo biopsicossocial em que
nenhuma parte é cientiÆcamente
assumida como prevalente.
Relembre-se que o DSM (Diagnostic and
Statistical Manual) da Associação
Americana de Psiquiatria — um repositório
das patologias mentais reconhecidas pela
comunidade cientíÆca — apenas deixou de
considerar a homossexualidade como
doença em 1973, após uma muito séria
discussão cientíÆca, como assevera
Friedman. Por seu turno, só em 1990 a OMS
retirou esta orientação da ClassiÆcação
Estatística Internacional de Doenças e
Pedro Lains (1959-2021), um grande historiador económico
O
José Luís Cardoso
s seus livros Æcarão como
testemunho de uma carreira e
de uma vida dedicada à
investigação e ao ensino sobre
temas de história económica.
Questionou e pensou as
razões estruturais do atraso económico
português nos séculos XIX e XX. Com a
ironia suave que era seu timbre, percebeu
como ninguém as diferentes interpretações
dadas para esse atraso, escrevendo sobre o
progresso da historiograÆa do atraso.
Para Pedro Lains, Portugal não era uma
ilha. Os seus estudos situam o país no
contexto internacional que ajuda a explicar
Problemas Relacionados com a Saúde.
Ontem assinalou-se o Dia Internacional
contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.
Na Covilhã, onde Adolfo Mesquita Nunes é
candidato a presidente da assembleia
municipal, circularam panÇetos,
corajosamente anónimos, em que se
“parodiava” com o slogan da candidatura
em termos inaceitáveis e reproduzindo o
estereótipo que numa relação
homossexual há sempre o homem e a
mulher. Na sequência de escritos em
cartazes de campanha, Mesquita Nunes
entendeu revelar a sua orientação sexual.
Sou daqueles que entende que se trata de
algo profundamente íntimo e merece-me
igual respeito quem fala ou não sobre o
tema. A igualdade na diversidade reclama
que sejamos avaliados pelo que somos e
pelo que fazemos na vida. Nada me
interessa de quem gosta ou com quem
dorme um político, um médico, um
professor, um canalizador ou um trolha. O
que releva é a sua competência,
honestidade e capacidade de ser cidadão,
na plena dimensão da palavra. É triste que
alguém pense que vai conquistar uns votos
por via do preconceito, com jogos de
palavras do tempo das cavernas e
acreditando que os portugueses ainda
vestem, na sua maioria, o estereótipo do
macho latino de palito ao canto da boca,
coçando as partes baixas e, quantos deles,
dando depois largas à sua “imaginação”
com homens em casamentos hetero
aparentemente “normais”.
A hipocrisia mata não apenas o
hipócrita, mas sobretudo aqueles que
experienciam na pele o que pode ser um
doloroso processo de auto e
as diferenças e, sobretudo, as
convergências e divergências em relação a
países com melhores indicadores de
crescimento económico. Privilegiou
abordagens de longo prazo e análises
comparativas que permitem compreender
melhor continuidades e descontinuidades
nos processos de desenvolvimento
económico. Por isso, ganhou credibilidade
na esfera académica para além das
fronteiras nacionais, participando e
dirigindo inúmeros estudos que muito
contribuíram para colocar a história
económica portuguesa no mapa da
investigação internacional. Cruzou e fez
cruzar olhares europeus sobre a história da
agricultura, do comércio externo, das
Ænanças públicas e do Estado Æscal.
Mobilizou vontades diversas para projetos
de análise sistemática da história da
economia portuguesa, visando públicos
eruditos, mas também uma ampla
comunidade de leitores não especializados.
Manteve sempre grande interesse em
comunicar e partilhar as suas ideias,
hetero-aceitação. Quando ouço dizerem
que “eles escolhem essas coisas”, dá-me
sempre vontade de rir, pois parto do
princípio que o ser humano é inteligente:
quem iria “escolher” um caminho que é
habitualmente mais espinhoso, que pode
ainda trazer problemas no trabalho e
segregação a vários níveis? Será assim tão
difícil de entender que tal como um
heterossexual distraído numa Æla de
trânsito olha para uma mulher bonita, um
homossexual olha para um belo homem? E
porquê? Porque é a sua natureza, em
alguns casos cunhada por um caldo de
variados factores associados a todas as
mulheres e homens. Não somos só
biologia, mas também cultura, psicologia,
resultado da nossa história pessoal. Não
quero voltar a ter os olhos marejados
quando um estudante me apareceu a
chorar compulsivamente e acabou por me
conÆdenciar que tinha vergonha de se
olhar ao espelho, que tinha nojo de si
mesmo por sentir “coisas impróprias”.
A hipocrisia mata não
apenas o hipócrita, mas
sobretudo aqueles que
experienciam na pele o
que pode ser um
doloroso processo de
auto e hetero-aceitação
transpondo para o debate corrente e para a
esfera pública o conhecimento profundo
que a história económica lhe
proporcionava.
Um dos últimos projetos editoriais em
que estava envolvido foi (e será) a
organização de uma história económica
ibérica desde a Idade Média até Ænais do
século XX. Um projeto de grande ambição e
arrojo que envolve cerca de 70 autores, não
exclusivamente portugueses e espanhóis.
Quem alguma vez tenha ensaiado
semelhante ousadia sabe bem a diÆculdade
de levar a bom porto este tipo de
empreendimento. Mas o Pedro conseguiu, e
a obra está quase pronta. Nos meses Ænais
da sua vida, tragicamente perturbada pela
doença que lhe retirou capacidades, Pedro
Lains deu aos amigos que mais de perto o
acompanharam um exemplo notável da
vontade de manter viva a chama da sua
paixão pela vida académica, que sabia estar
por um Æo. Pedia que lhe lessem livros de
história (e não apenas de história
económica) e ditava para um gravador
Vão no bom sentido, creio, também por
isto, os projectos de lei que, à semelhança
do que sucede no Reino Unido, visam
proibir as chamadas “terapias de
reorientação sexual”, criminalizando-as,
como o faz o Bloco (de modo
cientiÆcamente mais perfeito) ou a
deputada Cristina Rodrigues. É inegável a
dignidade criminal do bem jurídico
protegido, que é o livre desenvolvimento
da personalidade, e não se me oferecem
dúvidas que, mesmo quando alguém as
procura, de modo supostamente “livre”,
tal não corresponde a uma liberdade
plena, para além de se publicitarem e/ou
aplicarem “terapias” que as competentes
organizações cientíÆcas consensualizaram
serem não apenas ineÆcazes, como
altamente prejudiciais para o corpo e a
psique dos “doentes”. Aliás, embora o
Conselho Superior da Magistratura tenha
manifestado algumas dúvidas no seu
parecer, julgo que o seu correlato do
Conselho Superior do Ministério Público
lhes responde de modo
jurídico-penalmente acertado.
É inegável a importância do movimento
#metoo. Diria que a melhor forma de
assumirmos em pleno que somos humanos
passa por aceitar que a sexualidade não é
branca ou preta, mas comporta tantos
matizes que, como sempre, nos levam a
concluir que rotular é empobrecer.
#somospanascas, na Covilhã, em Portugal
ou no mundo: aqui está um bom mote para
uma luta que é de todas e todos.
Professor da Faculdade de Direito
da Universidade do Porto.
Escreve à terça-feira
impressões e ideias que pudessem dar
forma e conteúdo aos textos que já não
conseguia escrever.
A entrega do Pedro à instituição onde
sempre trabalhou — o Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Lisboa — é
testemunhada por todos os que guardam
bem viva a sua presença nos seminários
académicos e reuniões de trabalho, assim
como a sua participação nas rotinas de
gestão do ICS. O seu porte discreto e
amigável, de lápis erguido, perguntando
qual era a pergunta de investigação, ou se a
pergunta não podia ser outra, será sempre
recordado por todos os que beneÆciaram
da sua generosa e genuína vontade de
aprender e partilhar conhecimentos. É
muito triste perder um colega e grande
amigo, no auge das suas capacidades. Foi
um privilégio trabalhar com o Pedro.
Saberemos seguir o seu exemplo.
Historiador, investigador coordenador e
ex-director do Instituto de Ciências
Sociais de Universidade de Lisboa

Estado de direito em Bruxelas: Kelsen ou Schmitt
Palavra
e poder
Paulo Rangel
Conflito israelo-árabe
Uma tragédia é um drama
em que todos os
protagonistas têm (a sua)
razão. A morte de civis
de um lado e do outro,
o terrorismo do Hamas
e a desproporção da reacção
israelita são intoleráveis
Eduardo Cabrita
e António Costa
O caos na festa do
campeonato é mais um
motivo para a demissão de
Cabrita. A defesa que Costa
fez dele na AR é mais um
capítulo na useira confusão
de laços pessoais com
critérios políticos
1.
A propósito da conferência que a
presidência lusa organiza em
Coimbra sobre o Estado de
direito, vale a pena revisitar o
“estado da arte”. Não sem antes
registar o paradoxo de o Governo
português ter desrespeitado ostensivamente
esses valores no processo de designação do
procurador europeu. E de o mesmo
primeiro-ministro que faz juras de amor aos
valores fundamentais ter declarado em
Julho, ao lado de Viktor Orbán, que a
protecção do Estado de direito não devia ser
misturada com a regulação do então
chamado “fundo de recuperação”. Esta
posição de Costa casa, aliás, com o seu
silêncio sepulcral, de anos a Æo, sobre
situações paralelas. Não me reÆro só aos
conhecidos casos polaco e húngaro, em que
já foi activado o art. 7.º e sobre os quais
nunca lhe ouvimos uma palavra. Reporto-me
às situações de Malta e da Eslováquia, em
que jornalistas que investigavam casos de
corrupção ligados ao topo dos respectivos
governos (socialistas) foram assassinados. Ou
à Roménia, em que se queria aprovar leis de
amnistia para os líderes políticos (socialistas)
entretanto condenados por corrupção. Para
usar uma expressão da liturgia jurídica, “aos
costumes”, Costa “disse nada”.
2. Os Estados-membros têm de respeitar
os valores do art. 2.º do Tratado da União
Europeia, a saber, genericamente
englobados na designação sintética de
“Estado de direito”. É uma condição
essencial para a adesão à UE, mas também
deve sê-lo para a permanência na União. O
mencionado art. 7.º existe para proteger
estes valores e velar pelo seu cumprimento.
Em 2017, a Comissão desencadeou o
processo relativamente ao Governo polaco e,
em 2018, o Parlamento iniciou-o contra o
Governo húngaro. Depois desta activação,
nada mais aconteceu. Os restantes passos
cabem ao Conselho e ao Conselho Europeu,
ou seja, aos governos nacionais e aos seus
líderes. Os líderes têm-se desculpado com
um pretenso requisito de unanimidade. Mas
ela não é exigida para várias das etapas
previstas, que, uma vez veriÆcadas, teriam
decerto uma enorme repercussão. O
Conselho nunca fez nada; nem fez a
presidência portuguesa. Ontem mesmo, o
ministro Santos Silva disse que ia dar
seguimento aos processos do art. 7.º. Mas, na
prática, o que quereria dizer com essa
aÆrmação? Será que a presidência lusa vai
promover a votação da medida prevista no
art. 7.º, n.º 1, em que o Conselho pode
determinar que existe um risco manifesto de
violação do art. 2.º? Para esta medida,
requer-se “apenas” uma maioria de quatro
quintos. Se a presidência tiver a coragem de
promover essa votação, então, sim, há
Ænalmente um progresso! Se não, como
parece resultar dos termos tíbios, esquivos e
abstractos do ministro, tem de concluir-se
que, mais uma vez, quis fazer-nos de tontos.
É fundamental que esclareça: vai realmente
promover a votação? Ou vai simplesmente
empatar e adiar até que venha nova
presidência, que voltará a adiar e empatar?
3. Diante desta inércia, o Parlamento
Esta década prova que
a cumplicidade dos
líderes nacionais foi e é
mais forte do que o seu
zelo pela democracia
propugna a criação de um mecanismo global
de avaliação do Estado de direito. O
mecanismo, a adoptar com base num acordo
interinstitucional tripartido
(Parlamento-Conselho-Comissão),
estabeleceria critérios de avaliação de vários
itens do Estado de direito, que seriam
identicamente aplicáveis a todos os
Estados-membros. Com esse exame geral,
evita-se a diabolização, a ostracização e
ainda a vitimização de Estados singulares.
Esta solução inspirar-se-ia no “semestre
europeu”, postulando um relatório
periódico, que culminaria na proposta de
medidas de correcção (vinculantes ou não),
quiçá de sanções. Até aqui este avanço não se
mostrou viável, essencialmente por falta de
vontade política dos governos nacionais no
Conselho. À míngua deste novo mecanismo,
a Comissão enveredou por um caminho mais
doce e suave, organizando um relatório
anual, aplicável a todos os Estados-membros.
Apesar de representar um adianto, não deixa
de ser um remendo. A julgar pela primeira
amostra, o conteúdo revelou-se demasiado
“próximo” das narrativas justiÆcativas de
cada governo.
4. Foi por causa destas fragilidades que, no
ano passado, quando se começou a discutir o
desejado “fundo de recuperação”, uma vasta
maioria de grupos políticos no Parlamento e
alguns governos nacionais Æzeram Ænca-pé
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 9
NELSON GARRIDO
na designada “condicionalidade do Estado
de direito”. Com esta condicionalidade,
queria garantir-se que nenhum
Estado-membro pudesse receber verbas
advindas daquele fundo, se não cumprisse os
valores fundamentais da União. São bem
conhecidas a polémica e a divisão originadas
no Conselho Europeu de Julho de 2020 que
aprovou o fundo e aceitou uma fórmula vaga
de condicionalidade. Mas, depois disso, nem
o Parlamento nem alguns governos — entre
os quais não se contava o português —
desistiram. E acabaram a impor a
condicionalidade. Eis o que nos levou ao
momento-chave de Dezembro em que
Merkel tirou a ferros um acordo que
viabilizasse o fundo, agora conhecido como
Next Generation EU. A condicionalidade é
restrita, por um lado, por estar ligada
unicamente aos “interesses Ænanceiros da
União”. Por outro lado, parece ter Æcado
politicamente dependente de decisão
próxima do Tribunal do Luxemburgo sobre a
conformidade aos Tratados dessa conexão.
Apesar de os governos polaco e húngaro já
terem recorrido ao Tribunal, o Parlamento
continua a sustentar que a condicionalidade
está em plena vigência. Agora ou mais tarde,
é um avanço.
5. Por mais desculpas que se arranjem e
de que o Governo português, aliás, abusou,
tudo podia ser resolvido na esfera política.
Foi assim em 2000, com o Governo
austríaco e a extrema-direita de Haider a
serem postos de quarentena pelos restantes
Estados-membros. Podia ser assim, se
houvesse vontade política. Não quero dar
razão a Schmitt contra Kelsen sobre quem
deve defender a Constituição e os valores:
as instâncias políticas ou as jurídicas? Mas
não restam dúvidas de que esta década
prova que a cumplicidade dos líderes
nacionais foi e é mais forte do que o seu zelo
pela democracia.
Eurodeputado (PSD).
Escreve à terça-feira
10 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Política Há 32 anos que um chefe de Estado português não ia à Guiné-Bissau
Manifestações e ausências ensombram
visita de Marcelo à Guiné-Bissau
Visita oÄcial do Presidente português decorre sob o signo da polémica. PAIGC vai faltar ao encontro no
Parlamento e ex-combatentes guineenses das forças portuguesas vão estar na rua a pedir compensações
Leonete Botelho
São pouco mais de 24 horas, mas a
visita oÆcial do Presidente da Repú-
blica portuguesa à Guiné-Bissau está
a decorrer sob o signo da polémica.
De um lado, os ex-combatentes gui-
neenses que serviram o Eexército
português durante a guerra colonial
prometeram estar na rua a acompa-
nhar a visita de Marcelo Rebelo de
Sousa para lhe entregar o seu caderno
reivindicativo. Por outro, o maior par-
tido da oposição, o PAIGC, já anun-
ciou a sua ausência no encontro do
chefe de Estado português com os
líderes parlamentares.
O partido fundado durante a Guer-
ra Colonial por Amílcar Cabral entre-
gou ontem à Embaixada de Portugal
uma carta aberta endereçada ao Pre-
sidente da República, em que mani-
festa a discordância com a visita de
Marcelo, numa conjuntura de insegu-
rança e de diversos atropelos à lei e à
ordem democrática na Guiné-Bissau.
A notícia foi avançada pelo Expresso
e dá eco das críticas à visita presiden-
cial por “legitimar o Presidente eleito
[Sissoco Embaló], mas que se recusa
a ser empossado pela Assembleia
Nacional Popular”, tal como dispõe
a Constituição do país, alegam os
signatários.
Há uma semana, em comunicado,
o Movimento de Cidadãos Conscientes
e Inconformados (MCCI) da Guiné-Bis-
sau vem “denunciar e condenar com
total veemência a visita do Presidente
da República Portuguesa, Marcelo
Rebelo de Sousa”, por “contribuir
para o “reforço da legitimação e manu-
tenção de um golpe de Estado”. Para
a organização, aquilo que Marcelo
Rebelo de Sousa está a fazer, e que o
primeiro-ministro, António Costa,
também já fez, ao receberem o “auto-
proclamado e golpista Umaro Sissoco
Embaló”, Presidente da Guiné-Bissau,
em Portugal por duas vezes, é “legiti-
mar” a “violação de direitos humanos
do povo guineense”.
Também a candidata presidencial
Ana Gomes critica a visita do Presi-
dente da República à Guiné-Bissau,
considerando que vai, com esta des-
locação, “respaldar” Sissoco Embaló,
que acusa de se ter “autoproclama-
do” chefe de Estado “violando a Cons-
tituição”, e de ter sido um “serventuá-
rio do terrorista KhadaÆ, que nada
melhorou as condições do povo, que
persegue jornalistas e facilita a vida a
traÆcantes de droga”.
DANIEL ROCHA
Marcelo vai Esta não é a primeira vez que Ana
Gomes lança suspeitas sobre Sissoco
“respaldar” um Embaló. Em Junho do ano passado,
“indivíduo que no seu habitual comentário dominical
na SIC-Notícias, a antiga eurodeputa-
tem antecedentes da tinha aÆrmado que o Presidente
de narcotráÄco, português “escolheu respaldar” um
“indivíduo que tem antecedentes de
até de ligações a narcotráÆco, até de ligações a grupos
grupos terroristas, terroristas, etc”. “Estou a falar de Sis-
soco Embaló”, vincou. Estas declara-
etc”. “Estou ções custaram-lhe um processo-crime
a falar de Sissoco por difamação instaurado pelo Presi-
dente da Guiné-Bissau.
Embaló”, diz Confrontado com as críticas na
Ana Gomes entrevista que deu na semana passada
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
à RTP, Marcelo Rebelo de Sousa aÆr-
mou, peremptório: “Nunca tive dúvi-
das nenhumas em ir”. “Se a política
externa circunscrevesse o relaciona-
mento entre Estados àqueles que per-
Ælham sempre e apenas a nossa con-
cepção de sistema político económico
e social, eu não tinha ido a muitos paí-
ses a que fui — eu e os meus anteces-
sores todos —, nem tinha recebido
chefes de Estado de países que foram
recebidos por mim e pelos meus ante-
cessores. Por maioria de razão, sendo
um país da CPLP”, argumentou.
Flores para todos
Já a Lusa ouviu o presidente da asso-
ciação guineense de deÆcientes de
guerra, formada por homens que ser-
viram o Exército português, anunciar
que cerca de dois mil ex-combatentes
e familiares vinham de vários pontos
do país para “saudar” Marcelo, mas
também para lhe entregar um cader-
no reivindicativo “que deve ser cum-
prido por Portugal”.
“Vamos colocar cerca de dois mil
ex-militares e seus familiares nas ruas
para saudar o Presidente Marcelo,
mas também vamos aproveitar o
encontro com ele para lhe apresentar
o nosso caderno reivindicativo”,
notou Amadu Djau. Nele exigem de
Portugal a devolução da nacionalida-
de portuguesa aos ex-militares gui-
neenses, o pagamento da sua pensão
de reforma, de sangue e de invalidez
e o acesso ao tratamento médico aos
ex-combatentes e seus familiares em
Portugal.
Exigem ainda que Portugal provi-
dencie a recolha dos restos mortais
dos ex-Comandos Africanos, uma for-
ça de elite do então exército colonial,
formado essencialmente por guineen-
ses, assassinados pelas novas autori-
dades da Guiné-Bissau, a partir de
1974. Amadu Djau acredita que serão
cerca de 600 homens, cujos corpos
se encontram actualmente em valas
comuns em localidades do Norte do
país. “É preciso que Portugal dê digni-
dade a estes homens”, defendeu.
Os ex-combatentes vão acompa-
nhar a visita que Marcelo Rebelo de
Sousa fará hoje à campa dos soldados
portugueses no cemitério municipal.
“É uma grande oportunidade para
que as nossas reivindicações sejam
resolvidas”, sublinhou Amadu Djau
à Lusa.
No cemitério de Bissau, estão sepul-
tados 436 combatentes nascidos em
Portugal e na Guiné-Bissau que com-
bateram lado a lado na Guerra Colo-
nial, informa o adido de Defesa junto
da embaixada no país. “Até 1967, eram
maioritariamente nascidos em Portu-
gal, mas depois desse ano a maioria é
de recrutamento local”, disse o coro-
nel Nuno Duarte.
Os talhões e a capela com os túmu-
los dos ex-combatentes têm um tra-
tamento especial no cemitério. Com
fundos da Liga dos Combatentes, há
um jardineiro a tempo inteiro que,
todos os dias, cuida de afastar as
cabras que ali vivem, de manter as
campas em boas condições e de fazer
a manutenção, antes e depois da épo-
ca das chuvas.
“As ervas crescem rapidamente e
queremos manter a dignidade das
campas. Há muitos ex-combatentes
que viajam anonimamente para vir
prestar homenagem aos companhei-
ros e queremos que vejam que a sua
memória é preservada”, sublinha
Nuno Duarte.
Numa breve cerimónia religiosa,
Marcelo depositará uma coroa de
Çores em homenagem aos antigos
combatentes no cemitério de Bissau.
Mas horas antes, logo de manhã, visi-
tará o Forte de Amura, para deixar
outras duas coroas de Çores, nos
túmulos de Amílcar Cabral e de João
Bernardo “Nino” Vieira, em homena-
gem aos heróis da libertação.
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 11

Política

Rio prepara-se para endurecer Chega quer

ver gastos da
oposição ao Governo presidência da
UE fiscalizados
MANUEL FERNANDO ARAUJO/LUSA

Margarida Gomes
A menos de seis meses das
autárquicas, o líder do PSD
admite que a “degradação
acentuada da governação”
o obriga a mudar de tom
Com a pandemia controlada e a legis-
latura quase a fazer dois anos, Rui
Rio admite ajustar a forma como o
PSD faz oposição ao Governo de
António Costa por entender que o
país está “numa fase de degradação
acentuada da governação”.
Embora reconheça que para as
sondagens o Governo socialista está
“altamente pujante e com forte apoio
no eleitorado”, Rio considera que,
neste momento, o país está “numa
fase de degradação acentuada da
governação”, competindo ao PSD
acentuar a sua posição.
As declarações do presidente dos
sociais-democratas, feitas ontem,
no Porto, visam responder a Alber-
to João Jardim, que, num artigo de
opinião, intitulado Novo rumo para
o PSD nacional, faz críticas à sua
liderança, reclamando uma “oposi-
ção efectiva”. “O PSD tem de ‘acor-
dar’ e ‘mudar já’ e ‘não esperar
pelos resultados das eleições autár-
quicas’”, defende Jardim, frisando
que é preciso “desmontar as menti-
ras de Costa” (ver pág.12).
Esta é a segunda vez que Rui Rio
comenta as declarações do ex-pre-
sidente do Governo regional da
Madeira — a primeira foi na sexta-
-feira, dia em que saiu o artigo — e
das duas vezes deu-lhe razão. “Tive
oportunidade de ver com atenção e
reconheço que em algumas coisas
Rio não confunde Jardim com aquela “gente com agenda”, à procura do “melhor ângulo para dizer mal”
que ele [Alberto João Jardim] diz
tem razão” admitiu ontem Rio no
Porto, em declarações aos jornalis-
tas à saída de uma visita ao Museu
do Holocausto.
Reconheço que Perante as críticas do ex-presiden-
te do Governo regional, Rio prome-
o dr. Alberto teu ajustar o posicionamento do PSD
João Jardim “às circunstâncias em cada momen-
to”. “Reconheço que compete ao
tem alguma razão partido da oposição, quando a situa-
no que diz ção se está a degradar da forma que
se está a degradar, acentuar a sua
Rui Rio oposição”, declarou, salvaguardan-
Presidente do PSD do, porém, que “há momentos para
tudo”, numa referência ao início da
pandemia e ao início de uma legisla-
tura. “Outra coisa — disse — é a meio
da legislatura e estar o ambiente a
degradar-se fortemente. São coisas
diferentes e, portanto, reconheço
que o dr. Alberto João Jardim tem
alguma razão no que diz.”
O líder social-democrata não vê o
artigo de opinião de Jardim como
uma crítica à sua liderança e explica
porquê: “Não posso olhar para qual-
quer opinião e achar que é desde
logo uma crítica. As coisas não são
assim, vivemos em democracia, há
liberdade, desde que as ideias sejam
genuínas e sentidas, como é o caso,
nós devemos respeitar. Quando é
gente com agenda, (...) a ver o melhor
ângulo para dizer mal, isso não mere-
ce qualquer credibilidade.”
Liliana Borges
O presidente e deputado único do
Chega, André Ventura, pediu ontem
à Inspecção Geral de Finanças —
Autoridade de Auditoria uma inves-
tigação sobre as despesas realizadas
pelo Governo no âmbito da presi-
dência da União Europeia.
Em carta enviada a António
Manuel Ferreira Santos, presidente
da Inspecção Geral de Finanças, o
deputado recordou exemplos de
gastos que considerou “despropor-
cionais” — desde “vinhos a fatos para
motoristas” — e que foram objecto
de notícia pela comunicação social,
nos últimos meses.
“Estamos perante gastos absolu-
tamente incompreensíveis e imorais,
para além de desnecessários e des-
proporcionais face às Ænalidades
pretendidas e compreensíveis no
âmbito da manutenção de encontros
e reuniões nas mais altas instâncias
comunitárias”, considerou.
André Ventura acrescenta que
“algumas das compras foram feitas
a empresas criadas poucos dias ou
semanas antes, levantando assim
fundadas suspeitas de favorecimen-
to ou, pelo menos, de violação das
regras de concorrência”.
Na carta, cujo assunto descreve
como “denúncia para investigação”,
o deputado do Chega defende que é
preciso avaliar a “adequação destas
despesas por parte do Governo por-
tuguês” e, ao mesmo tempo, apurar
se “tiveram algum impacto no orça-
mento nacional e se foram cumpri-
das as regras de natureza Ænanceira
a que o Governo da República Portu-
guesa se encontra obrigado”.

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Saída de Cabrita é Circulação Condicionada | A7 e A42

urgente, diz líder do BE Concessão Norte

Estamos a trabalhar para melhorar a infraestrutura

Em entrevista à Antena 1, Catarina
Martins aÆrmou ontem que o minis-
tro da Administração Interna está
“numa situação insustentável” e é
“muito difícil explicar que se mante-
nha em funções”.
Já em Dezembro do último ano, a
coordenadora do Bloco de Esquerda
defendia que o ministro da Adminis-
tração Interna tinha perdido “as
condições” para se manter no lugar,
dada a forma como havia lidado com
o caso da morte de Ihor Homenyuk
no Serviço de Estrangeiros e Fron-
teiras. Catarina Martins apontou
Para melhorarmos as condições de circulação na A7 entre o nó da Póvoa e o nó de Basto
Eduardo Cabrita como uma das
mudanças mais urgentes no Gover- e na A42 no nó de Lousada, entre o nó de Felgueiras e o nó de Longra, realizaremos
no, mas esclareceu que as negocia- uma intervenção de manutenção dos pórticos de sinalização vertical. Esta intervenção
ções para o Orçamento do Estado decorrerá entre os dias 18 de maio e 2 de junho, entre as 09h e as 18h, e implicará alguns
para 2022 não dependem de remo-
delações.
condicionamentos de tráfego, em ambos os sentidos dos referidos sublanços.
“O Governo é um. Agora, é verdade Pedimos a sua compreensão para os transtornos causados
que há ministros que estão numa
Os condicionamentos estarão devidamente assinalados no local. Recomendamos que parta
situação insustentável há já largos
meses”, disse. A líder do Bloco de com maior antecedência e que circule com maior precaução para chegar ao seu destino
Esquerda acusou ainda o Governo do em segurança. Para mais informações ligue 229 767 767 (24H) ou consulte www.ascendi.pt.
PS de ter dado “pouca atenção aos
Ascendi Norte, Auto Estradas do Norte, S.A.
problemas” e ter “agido tarde”. L.B.
12 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021

Política
Livro
António José Seguro Opinião Jardim desafia PSD a “mudar já”
apresenta biografia
de Guterres
DANIEL ROCHA
O antigo líder do PS António
José Seguro e a directora do
Fundo das Nações Unidas para
a População, Mónica Ferro, vão
apresentar, no dia 24, o livro O
Mundo Não Tem de Ser Assim:
Uma Biografia de António
Guterres. Pedro Latoeiro e Filipe
Domingues escreveram a obra,
que é lançada às 12h no Centro
de Acolhimento para
Refugiados, na Bobadela
(Lisboa). Será a segunda vez em
pouco tempo que Seguro faz
uma intervenção pública.

Mudança
Alguns ministérios
podem mudar
para edifício da CGD
O Governo estará em
conversações com a Caixa
Geral de Depósitos (CGD) sobre
se existe disponibilidade por
parte da instituição bancária
para instalar no seu
edifício-sede, em Lisboa, alguns
ministérios que estão dispersos
pela cidade. “Em matéria de
remodelações [no Governo],
para já, só mesmo a novidade
da remodelação de
instalações", disse Marques
Mendes, na SIC, ao anunciar as
conversas em curso.
O antigo presidente do
Governo Regional da Madeira,
Alberto João Jardim, defendeu
ontem que o PSD nacional tem
de “acordar” e “mudar já” e
“não esperar pelos resultados
das eleições autárquicas”. Num
artigo de opinião no Jornal da
Madeira, intitulado “Novo fumo
para o PSD nacional”, Jardim
avisou: “O PSD nacional tem de
mudar. E já! E estar
quotidianamente na luta
política”.
“Neste momento, condeno o
sentimentalismo de o PSD ter
confundido ‘patriotismo’ com o
‘não fazer ondas’ nesta época de
crise. Quando precisamente é
necessária uma oposição
efectiva, a tempo de corrigir os
muitos erros, a tempo de
acautelar a correcta resolução
dos problemas gravíssimos que
aí vêm, a tempo de reformar o
sistema político”, acrescentou.
Para o ex-presidente do
PSD-Madeira, “erradamente,
tem-se abandonado à
extrema-direita o monopólio da
contestação do sistema, apesar
de já no congresso nacional de
Viana do Castelo se perceber
que Costa, ‘bonzo’ dos
‘interesses’ situacionistas e de
apetite hidrófito pelo poder”,
nada mudaria. “Porventura
ambiciona ser um Nicolás
Maduro à europeia, veja-se
agora a ocupação de
propriedade privada em
Odemira”, sustentou. “Exorto
todos os sociais-democratas
portugueses a não estarem
rotineiramente à espera das
eleições autárquicas, para então
se mexerem. Acordem!”, avisou
ainda.

Sondagem Justiça I Justiça II Convenção

PSD 16 pontos abaixo
do PS e em mínimos
desde 2019
A distância entre PS e PSD
alargou-se agora para 16
pontos, com os
sociais-democratas a chegarem
ao patamar mais baixo pelo
menos desde as legislativas de
2019. A sondagem da
Intercampus ontem divulgada
para o Correio da Manhã e o
Jornal de Negócios mostra o
PSD abaixo dos 22% e o PS a
roçar nos 38%. A chamada
“geringonça” (PS, BE e CDU)
continua muito acima da direita
unida (PSD, Chega, CDS e IL).
Maria das Dores Meira
começa amanhã a ser
julgada em Setúbal...
A presidente da Câmara
Municipal de Setúbal, que
também é candidata autárquica a
Almada, pela CDU, começa hoje a
ser julgada por dois crimes de
peculato de uso e mais dois de
abuso de poder. Em causa está a
distribuição, em 2017, de
milhares de folhetos pagos pelo
município que a Comissão
Nacional de Eleições considerou
passarem “mensagens
político-partidárias” e violarem
“especiais deveres de
neutralidade e imparcialidade”.
... e Rui Moreira sabe Moção da líder do BE
hoje se será julgado elege 68,4%
no “caso Selminho” dos delegados
A juíza do Tribunal de Instrução Os apoiantes do Bloco de
Criminal do Porto, Maria Antónia Esquerda elegeram entre
Ribeiro, revela hoje se Rui Moreira sexta-feira e domingo os 339
vai ou não a julgamento. O delegados à XII Convenção
autarca do Porto está acusado Nacional do partido, reduzidos
pelo Ministério Público do crime a metade devido à pandemia,
de prevaricação por, tendo a moção da actual
alegadamente, beneficiar a liderança de Catarina Martins
imobiliária da família em conseguido 232 (68,4%). A
detrimento do município ao qual reunião magna de dirigentes e
preside. A decisão é conhecida aderentes bloquistas decorre
19 dias depois do debate no próximo fim-de-semana, dias
instrutório do “caso Selminho”, 22 e 23 de Maio, num pavihão
durante o qual o MP pediu de congressos em Matosinhos,
autarca para que vá a julgamento. no distrito do Porto.
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 13
As Novas Cartas Portuguesas
somos todas nós
Opinião
Rosa Monteiro
Há livros que são a revolução —
mesmo quando não nascem com
esse propósito, sentem-lhe a
chegada e são dela a marca. Este
foi, desde o primeiro momento,
transgressão e por isso acabou
censurado e perseguido.
Corajosamente escrito por três
mulheres, chamaram-lhes Marias —
Teresa, Fátima e Isabel —, e
corajosamente publicado por
outra, Natália, o livro foi literatura
tornada ação política, manifesto
feminista, manifesto de
contestação a um país a rebentar
de hipocrisia, injustiça e repressão.
As Três Marias desnudavam um
“país amordaçado”, os horrores da
guerra colonial, as situações de
desigualdade e pobreza; as Três
Marias davam liberdade à voz, à
denúncia, aos corpos e à
sexualidade das mulheres.
Transgrediram também do ponto
de vista literário, nos géneros e nas
autorias, “na forma nova de dizer a
pessoa humana e o seu modo de
estar no mundo”, como refere
Maria de Lourdes Pintasilgo no
genial prefácio que lhe fez.
Acabou apreendido pelo regime e
as suas autoras levadas a
julgamento por crime, acusados de
imorais e pornográÆcos os seus
textos. Acabou censurado e
perseguido.
Foi em 1971 que num dos seus
almoços semanais no Treze, e
reagindo à brutalidade da agressão
que Maria Teresa Horta acabara de
sofrer por publicar Minha Senhora
de Mim, Maria Isabel Barreno e
Maria Velho da Costa se
questionaram: “Se um livro escrito
Política
por uma mulher gera tamanho ódio
e reação da PIDE, que faria se fosse
escrito por três?!” Foi há 50 anos
que começaram a escrever as suas
cartas e a encontrar-se
semanalmente para as trocar;
Æzeram-no em nove meses, e só
depois disso se aperceberam.
Acabou censurado e perseguido.
Na verdade, o livro foi sim
censurado e perseguido, mas não
acabou. A obra das Três Marias não
acabou porque a sua mensagem e
importância se mantêm. Por isso,
no ano em que celebramos o seu
cinquentenário, desaÆamos-vos ao
seu conhecimento, à sua leitura, à
sua partilha. Por ser “uma obra
fundamental na nossa literatura e
cultura contemporânea”, resgatada EPISÓDIO 12
pela fantástica edição anotada de
Ana Luísa Amaral, em 2010, é 18 MAIO ÀS 17H00
urgente trazê-la de novo ao
conhecimento geral, de modo
participado e abrangente. Pelo seu
valor, pela sua absoluta atualidade,
SAÚDE MENTAL EM TEMPOS
porque nela estamos todas nós, nós
todas a sermos escritas, e ainda hoje
DE PANDEMIA
nos emocionamos com as Cartas.
Foi nesse espírito que desaÆei as
Uma conversa sobre psiquiatria e pedopsiquiatria
mulheres que integram o XXII
Governo Constitucional a lerem Ansiedade, depressão, obsessões, angústia, perturbações de sono...Para alguns foram
uma das Cartas, num pequeno condições e sintomas agravados. Para outros foram novas patologias nunca diagnostica-
vídeo que começamos a divulgar das que vieram à tona. Num ano de solidão, incertezas, alteração de rotinas e medo do
hoje, dia 18, até ao Ænal da semana. futuro, a saúde mental dos portugueses foi fortemente afectada.
Começamos hoje porque é a data de
uma das mais instigantes Cartas, O
Corpo, exemplo máximo da diluição Transmissão no site, Facebook e Youtube do Público
de barreiras e de fronteiras, e que
nos é lido no vídeo de abertura pela
própria Maria Teresa Horta.
O que queremos é criar uma
corrente de leitura das Novas Cartas
Portuguesas, por todas as pessoas,
9DPRVS³UDVD¹GHHPGLD"
para que leiam, gravem e
publiquem, nas suas redes sociais,
esta obra maior da nossa literatura,
que foi um dos mais fortes ataques
ao regime do Estado Novo, mas que
é ainda hoje tão mais do que isso.
Reconheçamos e valorizemos
este trabalho, símbolo máximo do
feminismo em Portugal, como
alavanca de consciência social e
política contra as desigualdades e
opressões, que gerou a maior onda Paulo Farinha
de solidariedade feminista e de Jornalista
reconhecimento literário no
estrangeiro, e que queremos mais
reconhecido entre nós. É preciso
garantir que as cartas não acabam.
Assim respondemos à questão da Dr.ª Ana Margarida Mota Dr.ª Áurea de Ataíde
terceira Carta V “Minhas irmãs: Mas Psiquiatra no Hospital Garcia de Orta Pedopsiquiatra no Hospital Lusíadas
o que pode a literatura? Ou antes: o e nas Clínicas Lusíadas do Parque das Lisboa
que podem as palavras?” É com Nações e Sacavém
muito orgulho e emoção que lanço
com as minhas colegas de Governo
este movimento e esta cadeia
#VamosLerAs3Marias.
Secretária de Estado para
a Cidadania e Igualdade
14 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Sociedade Fim do estado de emergência dita Ɗm da limitação a saídas
ProƊssionais de
saúde já podem
deixar o SNS
Acabou proibição de mudança entre
unidades e de saídas. Sindicatos criticam
falta de condições para Äxar proÄssionais
Ana Maia
Com o Æm do estado de emergência
deixou de estar em vigor a limitação
imposta aos proÆssionais de saúde
de não poderem deixar o SNS ou
serem transferidos para outras uni-
dades do SNS? Foi esta a pergunta
colocada ao Ministério da Saúde pelo
PÚBLICO. “ConÆrma-se que, com o
Æm do estado de emergência, a exi-
gência referida na questão deixa de
se veriÆcar”, respondeu o ministério.
Sindicatos de enfermeiros e de médi-
cos lamentam que nada tenha sido
feito para dar condições de trabalho
aos proÆssionais de saúde e Æxá-los
no SNS e admitem que, à semelhança
do que já acontecia antes da pande-
mia, mais saídas aconteçam.
A limitação foi criada durante a
segunda vaga da pandemia. Um des-
pacho do Ministério da Saúde previa
que durante o estado de emergência,
as instituições pudessem mobilizar
proÆssionais considerados essenciais
que pedissem a cessação dos contra-
tos de trabalho, tendo de fundamen-
tar a decisão. A medida, que foi de
imediato contestada pelos sindicatos,
deixou de existir. Fica a questão de
qual o impacto que terá. Os sindica-
tos contactados pelo PÚBLICO dizem
não conseguir prever o impacto do
Æm da limitação, mas lembram que
antes da pandemia esta era já uma
realidade. E que durante a mesma,
nada se fez para Æxar os proÆssionais
de que o SNS precisa.
“Neste momento não há espaço
para interpretações dúbias”, aÆrma
Lúcia Leite, presidente da Associa-
ção Sindical Portuguesa dos Enfer-
meiros, referindo que durante o
estado de emergência esta limitação
foi sofrendo algumas evoluções,
tendo culminado na versão em que
as entidades tinham de “fundamen-
tar a imprescindibilidade dos pro-
Æssionais”. “A maior parte das enti-
dades rejeitou a saída dos enfermei-
ros, mas todos os que contactaram
connosco acabaram por conseguir
a cessação dos contratos”, aÆrma.
Diz que cerca de metade, sobretudo
na zona de Lisboa, foram para enti-
dades privadas e que no Norte
foram mais casos de transferência
MANUEL ROBERTO
entre entidades do SNS.
“Não há legitimidade para nin-
guém impedir a cessação de contra-
to”, aÆrma Lúcia Leite, que admite
que possam agora acontecer mais
saídas. “Muitas entidades privadas
não tinham os seus quadros perma-
nentes reforçados e perceberam o
risco que estavam a correr quando
se percebeu que não havia enfermei-
ros para contratar. Os privados estão
a oferecer boas condições, maior
estabilidade, uma adaptação à vida
familiar mais ajustada”, diz, defen-
dendo que “é preciso que o Governo
e o Ministério da Saúde trabalhem
para resolver as injustiças e na reten-
ção dos proÆssionais no SNS”.
Guadalupe Simões, do Sindicato
dos Enfermeiros Portugueses, não
tem ideia se o impacto do Ænal da
restrição vai ser grande, mas lembra
que nas contas do sindicato o núme-
ro de enfermeiros que existe no SNS
ainda é insuÆciente para as necessi-
dades. Recorda que foram contacta-
dos por vários colegas que queriam
mudar de instituição dentro do SNS.
“Fizemos uma intervenção referin-
do que não fazia sentido, já que
todos os hospitais do SNS precisa-
vam de enfermeiros, que não fosse
autorizado.”
(In)capacidade de retenção
“Se vai signiÆcar alguma coisa de for-
ma imediata, não sabemos. Mas não
aconteceu nada em contrário para
preservar médicos no SNS. Se nada
for feito para contrariar a tendência,
vamos continuar a ter médicos que Tutela tinha proibido saída de tério , nos últimos quatro anos, nada cuidados de saúde primários”.
não Æcam quando terminarem a profissionais das unidades fez para inverter a tendência crescen- O PÚBLICO perguntou ao Ministé-
especialidade e médicos especialistas te de saída dos médicos. Não é com rio da Saúde se as contratações
que vão sair. Não há motivo para jul- medidas administrativas que se con- anunciadas nos últimos tem-
gar que esta situação vai melhorar”, seguem Æxar proÆssionais”, diz Jorge pos serão suÆcientes para repor saí-
aÆrma Noel Carrilho, presidente da Roque da Cunha. das e transferências que venham a
Federação Nacional dos Médicos. O Ministério da saúde, acrescen- acontecer. O ministério aÆrma que
O médico lembra a possibilidade ta, “não tem tido uma política de estas “encontram-se alinhadas com
da dedicação plena, prevista na Lei Os privados estão recursos humanos séria”. “Têm de o previsto no Plano de Melhoria da
de Bases da Saúde e no Orçamento
de Estado para este ano. “Não tive-
a oferecer boas se criar condições para as pessoas
serem respeitadas. É fundamental
Resposta do SNS”, aprovado em 2019
e que deÆniu a contratação de até
mos uma palavra em relação a isto. É condições e uma que o ministério trate bem os pro- 8400 proÆssionais de saúde em 2020
incompreensível como não se aposta
nesta necessidade absoluta de man-
adaptação à vida Æssionais e não escravize”, aÆrma,
lembrando que em concursos ante-
e 2021. E que a lei do Orçamento do
Estado para este ano “vem dar con-
ter médicos no SNS”, reforça. familiar mais riores para a contratação de recém- tinuidade ao compromisso de melho-
Também o secretário-geral do Sin-
dicato Independente dos Médicos
ajustada especialistas perderam-se “mais de
40% de médicos hospitalares e cer-
ria do SNS, estabelecendo, em diver-
sas disposições, a necessidade de
alerta para o mesmo risco. “O minis- Lúcia Leite Presidente da ASPE ca de um terço dos médicos dos reforço dos recursos humanos”.
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 15

Covid-19
Regiões do Algarve, Madeira e Açores com menos imunidade
Ana Maia
Inquérito Serológico
Nacional conclui que há
uma menor concentração
de anticorpos três meses
depois da infecção
De acordo com os resultados da
segunda fase do Inquérito Serológi-
co Nacional, elaborado pelo Institu-
to Nacional de Saúde Dr. Ricardo
Jorge (Insa), as regiões do Algarve
(7,7%), da Madeira (6,2%), dos Aço-
res (5,8%) e o grupo etário entre os
70 e os 79 anos (8,9%) são os grupos
com menor seroprevalência. O estu-
do concluiu ainda que há uma
menor concentração de anticorpos
três meses depois da infecção, o que
indica uma redução dos mesmos
após esse período. O secretário de
Estado e adjunto da Saúde refere
que para já, seguindo a indicação de
estudos realizados, mantém-se o
intervalo de seis meses para os
doentes recuperados de covid
serem vacinados.
Os dados preliminares já tinham
sido revelados, mas ontem foi apre-
sentado o relatório da segunda fase
do Inquérito Serológico Nacional,
que contou com dados de 8463 pes-
soas, com idades entre 1 e 79 anos,
estudadas entre 1 de Fevereiro e 31
de Março deste ano. Em termos
nacionais, a seroprevalência de anti-
corpos para o SARS-CoV-2 detectada
nesta segunda fase foi de 15,5%, a
maior parte proveniente da infec-
ção, já que na fase em que o estudo
foi feito a campanha vacinal ainda
tinha pouco tempo.
Segundo as conclusões, são as
regiões do Algarve, dos Açores, da
Madeira e as pessoas entre os 70 e os
79 anos os grupos que apresentaram
menor seroprevalência. “O maior
número de pessoas susceptíveis nes-
tes grupos contribuí para que pos-
sam ter um maior risco de infecção,
sendo por isso grupos aos quais deve
ser prestada especial atenção na
Situação em Portugal taxa de incidência acumulada. No
Em 17 de Maio de 2021, às 14h15 caso das regiões autónomas, o con-
Internados (total) Em UCI Mortes Recuperados Activos trolo da infecção poderá ter sido
246 72 17.009 803.191 22.181 facilitado pela dimensão do territó-
rio. As diferenças detectadas pode-
+1 -4 +2 +291 -94
rão também estar relacionadas “com
NOVOS CASOS DIÁRIOS Total de casos diferenças na estrutura da popula-
17000 842.381 +199 ção, de actividades económicas”,
entre outras possíveis explicações.
12750 Quanto à população com menos
8500 de 20 anos, o risco de infecção “não
parece ser inferior ao da população
4250 adulta”, conclui a avaliação.
0 A análise concluiu também que as
M A M J J A S O N D J F M A M pessoas com duas doses da vacina
Fonte: DGS PÚBLICO apresentaram elevados níveis de
anticorpos, mais do que aquelas que
tinham apenas uma dose e do que
implementação do Plano de Vacina- -Geral da Saúde, do sistema de moni- aquelas que foram infectadas pelo
ção contra a covid-19”, defendem os torização de casos de covid-19. As vírus. Segundo os resultados, 98,5%
investigadores no relatório. Já as regiões Norte e Lisboa e Vale do Tejo das pessoas com o esquema vacinal
regiões Norte (16,6%), Centro tiveram maior expressão de casos e completo tinham anticorpos ao vírus
(15,7%), Lisboa e Vale do Tejo (16,5%) apresentam maior seroprevalência”, e com elevadas concentrações, o
e Alentejo (15,9%) foram as que regis- explicou a investigadora Irina Kis- que faz esperar um aumento do
taram maior seroprevalência. laya, referindo que as regiões que número de pessoas com imunidade
“O que veriÆcámos foi muito con- apresentaram menos seroprevalên- à medida que o plano de vacinação
sistente com os dados da Direcção- cia foram as que registaram menor decorre de forma mais acelerada.

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16 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Sociedade
Manifestação contra o “Brexit” organizada por defensores da continuação do Reino Unido na UE , em Outubro de 2019
Corrida dos portugueses a estatuto
entope consulados no Reino Unido
Natália Faria
Mais de 380 mil já se
candidataram ao novo
estatuto de imigrante.
Postos consulares não estão
a conseguir dar resposta
A corrida dos portugueses à regulari-
zação do estatuto de imigrante no
Reino Unido está a gerar atrasos na
resposta dos serviços consulares por-
tugueses naquele território. E, numa
altura em que o prazo começa a esgo-
tar-se, dado que a partir do dia 1 de
Julho ninguém poderá continuar a
viver ou a trabalhar naquele território
sem o novo estatuto de imigrante, o
desespero começa também a aumen-
tar. “Há gente que vive cá há 20 ou 30
anos e que não consegue requerer o
settled status, porque tem os docu-
mentos caducados e não conseguem
vaga para atendimento. E receiam ir
tratar da documentação a Portugal,
porque podem não conseguir voltar
a entrar”, relatou ao PÚBLICO Domin-
gos Cabeças, proprietário da única
agência de recrutamento portuguesa
de mão-de-obra em Londres, a Neto
Recruitment Agency, dando conta de
uma preocupação generalizada entre
os portugueses emigrados no Reino
Unido que correm assim o risco de
Æcar ilegais e, consequentemente, de
serem expatriados, caso não consi-
gam obter o estatuto de residente
permanente (settled status) ou provi-
sório (pre-settled status), consoante
estejam há mais ou menos de cinco
anos naquele conjunto de territó-
rios.
Ao PÚBLICO a secretária de Estado
das Comunidades Portuguesas, Ber-
ta Nunes, que iniciou uma visita ao
Reino Unido precisamente no mes-
mo dia em que se soube que pelo
menos dois cidadãos portugueses
foram proibidos de entrar naquele
território por não disporem do visto
de entrada (casos que foram referen-
ciados aos consulados gerais portu-
gueses de Londres e Manchester no
dia 5 de Maio), não negou os atrasos
no atendimento, mas aÆançou que
“o apoio necessário para a apresen-
tação de candidaturas será garantido
a todos”.
Desde que abriram as candidatu-
ras, mais de 380 mil portugueses já
requereram o novo estatuto de resi-
dente no Reino Unido, segundo o
gabinete de Berta Nunes. É um valor
muito superior quer ao número de
cidadãos nacionais com morada
declarada no Reino Unido, quer aos
portugueses inscritos na Segurança
Social britânica, mas que não sur-
preende o coordenador cientíÆco do
Observatório da Emigração, Rui
Nunes. “Quando o Reino Unido esta-
va na União Europeia, muitos portu-
gueses entravam naquele território e
não sentiam necessidade de se regis-
tar em nenhum serviço do país de
destino: era uma situação irregular,
mas nada que gerasse uma multa.
Agora, com o “Brexit”, haverá certa-
mente milhares de portugueses que
estão a querer regularizar a sua situa-
ção”, adiantou ao PÚBLICO. Atribuiu
ao mesmo medo de deportação a
explicação para o aumento dos por-
tugueses que requereram a naciona-
lidade britânica: de 672 em 2016, ano
em que a saída da União Europeia
ganhou no referendo, com 51,8% dos
votos, para 2227, em 2019.
O investigador diz-se igualmente
HENRY NICHOLLS/REUTERS
pouco surpreendido com o entupi-
mento dos serviços consulares. “Os
serviços já não estavam preparados
para o aumento rápido da emigração
para o Reino Unido, que triplicou nos
últimos anos, e a pressão de utilização
dos consulados intensiÆcou-se ainda
mais agora com o ‘Brexit’”, sustenta.
Admite que as cerca de 24.500 entra-
das de portugueses naquele território
em 2019 decorram precisamente de
iniciativas de regularização de uma
permanência mais antiga. Aquele
número representou um aumento de
“O apoio necessário
para a
apresentação de
candidaturas será
garantido a todos”,
assegura a
secretária de
Estado das
Comunidades
Portuguesas
mais de 30% relativamente ao ano
anterior e que elevou para 166 mil o
número de imigrantes no Reino Unido
nascidos em Portugal.
Hostilidade crescente
Consciente desta realidade, a secre-
tária de Estado das Comunidades
Portuguesas lembra que os postos
consulares no Reino Unido “dispõem
hoje de 48 funcionários, o dobro dos
existentes em 2015”. Em 2019 foi tam-
bém criado o Centro de Atendimento
Consular para o Reino Unido, com 11
operadores, e prevê-se agora, ainda
neste mês, “novo reforço de recursos
humanos”. Em Manchester, o consu-
lado geral retomou o atendimento aos
sábados, ainda de acordo com o gabi-
nete de Berta Nunes, e o consulado
geral em Londres passou a funcionar
em horário alargado, e desde o dia 24
de Abril e até 26 de Junho, abre tam-
bém portas aos sábados de manhã.
Independentemente de a docu-
mentação estar ou não em ordem,
Maria da Luz Conceição, que, aos 72
anos, trabalha como voluntária no
Centro Português de Apoio à Comu-
nidade Lusófona, em Londres, relata
um ambiente de crescente hostilida-
de para com os imigrantes como ela.
“O meu landlord [senhorio] ainda há
tempos recusou-se a consertar uma
torneira da minha casa e andava por
aí a dizer à boca cheia que os imigran-
tes iam ser todos postos fora”, relata.
E conta ainda um outro episódio em
que uma britânica pretendeu passar-
lhe à frente na entrada para o auto-
carro, com o argumento de que os
imigrantes entravam em último. “Esta
sensação de que não podemos abrir
a boca para nada Æcou… mais visível”,
descreve, descartando, contudo, a
ideia de regressar a Portugal, porque
para os Ælhos e para os netos, “que já
nasceram em Londres”, a “adaptação
seria muito difícil”.
A enfermeira Sílvia Nunes, em
Thetford, a cerca de 140 quilómetros
de Londres, desde 2014, não sentiu
na pele nenhum crescendo discrimi-
natório, mas Susana Forte Vaz, que
desde 2005 vive de resolver a buro-
cracia aos imigrantes portugueses
que chegam àquela cidade, nomea-
damente mão-de-obra pouco quali-
Æcada e que vai trabalhar na indústria
agro-pecuária, assevera que a
“menor simpatia pelos imigrantes é
palpável”. “Não há uma hospitalida-
de declarada, até porque os ingleses
não mostram, mas depois do ‘Brexit’
as coisas tornaram-se diferentes: na
rua, nas lojas, as pessoas tornaram-
se menos simpáticas, mais trombu-
das. E mesmo nas escolas tornou-se
mais comum os miúdos ouvirem
alguém dizer-lhes que voltem para o
seu país”, descreve. Também porque
isto traduz uma vulnerabilidade
acrescida, Susana condena os imi-
grantes que “conÆaram na sorte e
não trataram da papelada” e que por
isso “correm agora um risco muito
sério de Æcarem ilegais e de serem
expulsos”.
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 17

Sociedade

Vale e Azevedo Ɗnta Justiça e alega falta

de notiƊcação para não ir a julgamento
Sónia Trigueirão
O antigo presidente do
Benfica está acusado de
prestar garantias falsas de
três milhões e de tentar
burlar o BCP
O julgamento de João Vale e Azevedo,
por crimes relacionados com o facto
de ter apresentado três milhões de
euros de falsas garantias em três pro-
cessos judiciais e por tentar burlar o
BCP, também com garantias falsas,
para conseguir um crédito de 25
milhões de euros, estava Ænalmente
marcado para 13 de Abril, mas acabou
por ser adiado sine die.
O arguido reside e trabalha em Lon-
dres desde Junho de 2018 e o Juízo
Central Criminal de Lisboa não rece-
beu a tempo, por parte das autorida-
des britânicas, a conÆrmação da sua
notiÆcação para julgamento, o que
obrigou ao adiamento da diligência.
Foi, agora, enviada nova carta roga-
tória a solicitar às autoridades britâ-
nicas que informem o estado do cum-
primento da missiva anterior que
pedia a notiÆcação do arguido.
Mas João Vale e Azevedo sabia que
o julgamento estava marcado para 13
de Abril, porque na véspera chegou
ao processo uma informação da sua
advogada Luísa Cruz a dar conta ao
juiz de várias situações que inviabili-
zariam a realização do julgamento.
Em primeiro lugar, a própria não
podia comparecer por motivos de
doença. Em segundo, a advogada
alegou que fez contacto com o argui-
do, “que a informou que não irá [iria]
comparecer na audiência, pois não
terá sido notiÆcado através das ins-
tâncias judiciais inglesas, como é exi-
gência da lei, da carta rogatória e do
seu teor”. Informou ainda o tribunal
de que se encontra em vigor o princí-
pio da especialidade e que o pedido
de alargamento para o julgamento
deste processo já foi negado por sen-
tença transitada em julgado pelos
tribunais do Reino Unido.
A questão do princípio da especia-
lidade, assim como a questão da pres-
crição dos crimes cometidos têm sido
os argumentos que a defesa de Vale e
Azevedo tem alegado junto do Tribu-
nal da Relação para impedir a conti-
nuidade deste e de outros processos.
O princípio da especialidade é uma
norma que prevê que uma pessoa
entregue em cumprimento de um
mandado de detenção europeu “não
pode ser sujeita a procedimento
penal, condenada ou privada de liber-
dade por uma infracção praticada em
momento anterior à sua entrega e
diferente daquela que motivou a
emissão do mandado”.
Assim, o mandado de detenção
europeu que levou as autoridades
britânicas a entregar, em Novembro
de 2012, João Vale e Azevedo a Portu-
gal apenas se destinava a que este
DANIEL ROCHA
Julgamento estava marcar para o dia 13 de Abril
cumprisse uma pena de prisão de 11
anos e meio resultante da junção de
várias condenações nos processos
Dantas da Cunha, Ribafria, Ovchin-
nikov e Euroárea.
Não irá Já o argumento da prescrição
valeu ao arguido o Æm de dois outros
comparecer na processos sem julgamento: um em
audiência, pois que estavam em causa crimes de
peculato e falsiÆcação de documen-
não terá sido tos relacionados com o desvio de
notiÄcado através cerca de 1,2 milhões de receitas pro-
venientes de direitos de transmissão
das instâncias de jogos europeus entre 1998 e 1999;
judiciais inglesas e outro em que estava acusado de
desviar cerca de cinco milhões de
Luísa Cruz euros relativos a transferências de
Advogada de Vale e Azevedo jogadores do BenÆca.
Mas, neste processo, estes argu-
mentos não lhe valeram junto do Tri-
bunal da Relação de Lisboa, que, a 21
de Fevereiro, lhe negou mais um
recurso para tentar evitar que o jul-
gamento se realizasse. Por isso, o
julgamento foi marcado.
Neste processo, Vale e Azevedo
está acusado de oito crimes de burla
qualiÆcada, dois de burla qualiÆcada
na forma tentada e quatro de falsiÆ#
cação de documento autêntico.
A acusação do Ministério Público
remonta a Dezembro de 2012, mas
tudo começou em 2006, com um
pedido de Ænanciamento no valor de
25 milhões de euros ao BCP, por par-
te da empresa Vale e Azevedo Capital.
A sociedade apresentou ao banco
uma “garantia autónoma emitida pela
PMRE Seguros” — uma suposta repre-
sentante da Swiss Re Group em Paris
— e aÆrmou que o dinheiro seria uti-
lizado para comprar a Companhia
Portuguesa de Amidos.
Depois de a Unidade da Análise de
Crédito do BCP ter contactado a Swiss
Re Group constatou que não existia
uma sucursal da empresa em França
e que, embora as assinaturas de Eric
Guyon e Richard Botella fossem ver-
dadeiras, os dois homens não tinham
qualquer ligação à empresa suíça. O
mesmo esquema foi utilizado para
burlar outras empresas com as quais
Vale e Azevedo mantinha negócios,
entre as quais a PêMais, a Vencimos,
a Eurolondons e a Futurbelas.

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Defesas dos Comandos dizem LEI SOBRE SERVIÇOS FINANCEIROS 2019

que os recrutas “sabiam ao que iam”
Ana Dias Cordeiro
Os instruendos “sabiam ao que iam”,
logo, “consentiram”, quando esco-
lheram treinar para serem Coman-
dos. Esta foi a tese apresentada
ontem pela advogada do capitão Rui
Passos Monteiro, um dos principais
arguidos no julgamento de 19 milita-
res, enquanto comandante de com-
panhia de formação do curso 127,
cuja Prova Zero foi fatal e motivou
uma investigação criminal que cul-
minou com este julgamento.
Raquel Alves referia-se aos dois
instruendos que morreram em
Setembro de 2016 — Hugo Abreu e
Dylan da Silva — e aos 65 voluntários
que ingressaram num curso de uma
tropa especial. Na terceira sessão das
alegações finais do julgamento no
Tribunal de Monsanto, a advogada
argumentou que “a personalidade
dos dois instruendos” também con-
tribuiu para o trágico desfecho, resul-
tante de “uma conjugação de facto-
res” alheios aos instrutores e militares
responsáveis pelo curso.
Hugo Abreu e Dylan da Silva eram
jovens que, além de sonharem ser
Comandos, “estavam ali para cum-
prir” e ir além dos seus limites. “Ouvi-
ram tarde de mais os sinais que o
corpo lhes tinha dado”, afirmou.
A advogada pediu, como os três
colegas que a antecederam, a absolvi-
ção dos arguidos, voltando, na con-
clusão, a invocar “o consentimento
dos recrutas” como algo a ter em con-
ta pelo colectivo de juízes quando
decidir condenar ou absolver.
“Nenhum deles merecia estar aqui
sentado. Nenhum deles sem excep-
ção”, declarara horas antes Alexandre
Lafayette, defensor de dois dos cinco
arguidos para quem o Ministério
Público pediu uma condenação por
ofensas à integridade física tendo
como resultado o perigo para a vida.
O causídico teceu elogios aos seus
dois clientes — o 1.º sargento Ricardo
Rodrigues, que o Ministério Público
quer ver condenado pelo “cometi-
mento do crime por acção”, e o
tenente-coronel Mário Maia, que diri-
giu a prova, para quem a procurado-
ra promoveu uma condenação por
omissão. Lafayette lamentou o aban-
dono por parte do Exército destes
militares assim que foram constituí-
dos arguidos. “O Exército portou-se
muito mal” ao não assumir “o dever
de tutela”, afirmou.
AVISO DE APROVAÇÃO DE TRANSFERÊNCIA
DE NEGÓCIO DE SEGUROS GERAIS
MILLENNIUM INSURANCE COMPANY LIMITED
E
MIC INSURANCE COMPANY, SA
TENHA EM CONTA QUE um pedido para a transferência do negócio geral de seguros
da Millennium Insurance Company Limited, uma companhia de seguros registada em
Gibraltar com o número de incorporação 82939 e com sede social em PO BOX 371 13
Ragged Staff Wharf Queensway Quay Gibraltar (“MICL”), a MIC Insurance Company, SA,
uma sociedade anónima constituída em conformidade com as leis da França perante o
Registo Comercial de Paris com o número 885.241.208 e cuja sede social se encontra
em 28 rue de l’Amiral Hamelin, 75116 Paris, França (“MIC Insurance”), em conformidade
com a Parte 23 da Lei sobre Serviços Financeiros de 2019 foi aprovada pela Comissão
de Serviços Financeiros de Gibraltar (a “Transferência”).
PELA PRESENTE AVISA-SE QUE todos os contratos de seguro subscritos pela
MICL ou pelos quais a MICL era responsável, no âmbito do alcance da Transferência,
incluindo os direitos e as obrigações derivados da mesma, foram transferidos para
a MIC Insurance em 30 de abril de 2021, em conformidade com um instrumento de
transferência executado entre a MICL e a MIC Insurance.
MAIS SE AVISA QUE os direitos dos segurados em Portugal, no âmbito do alcance da
Transferência, não são afetados pela Transferência. No entanto, os titulares de apólices
da MICL podem exercer os seus direitos de cancelar as suas apólices no espaço de um
mês a seguir à publicação no diário oficial.
Millennium Insurance Company Limited
PO BOX 371 13 Ragged Staff Wharf
Queensway Quay Gibraltar
Incorporação da empresa Nº. 82939
18 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Local Força Aérea organizou exercício internacional
Voltou
Reportagem
a ouvir-se
Carlos Dias
Durante duas semanas, a
população de Beja e de outros
concelhos alentejanos voltaram a
o rugido familiarizar-se, entre os dias 2 e 15
de Maio, com as passagens
estridentes das aeronaves
das esquadras
militares de Portugal, Grécia,
Itália, Polónia, Suíça e da NATO
que se concentraram na Base
Aérea nº 11 (BA-11) para realizar o
Tiger no céu
exercício internacional NATO
Tiger Meet 2021.
Mais de meia centena de
aparelhos F-16, F-18/D Hornet,
de Beja
EuroÆghter-2000 Typhoon, aviões
radar e helicópteros puseram as
pessoas de nariz no ar, levando a
intuir que o desconÆnamento já se
estava a traduzir na recuperação de
alguma normalidade. Na primeira
semana do Tiger Meet foram
realizadas mais de 480 horas de
voo, num total de 116 operações, em
30 saídas de manhã, 53 saídas
durante a tarde e 33 saídas
O exercício militar foi um desaÄo à nocturnas.
No entanto, a pandemia não foi
capacidade de organização da Força esquecida. O “inimigo” oculto
obrigou cerca de um milhar de
Aérea Portuguesa. Cerca de um milhar militares nacionais e estrangeiros
de militares e mais de meia centena que participaram no Tiger Meet a
cuidados acrescidos. Um elemento
de aeronaves puderam treinar durante que integrava a delegação
holandesa teve um teste positivo à
duas semanas covid-19 quando chegou à BA-11,
obrigando ao cancelamento da
participação da esquadra deste país
no Tiger Meet. A origem do foco foi
atribuída a uma sua familiar. Uma
semana após o início dos exercícios,
a Cruz Vermelha Portuguesa fez 725
testes a outros tantos militares e não
foi identiÆcado um único caso
positivo de covid-19.
E quando, na passada semana, o
PÚBLICO entrou na unidade militar,
Æcou patente que muito pouco do
que se podia partilhar era
comparável com o Tiger Meet
realizado há precisamente 25 anos
no mesmo local. A covid-19 forçou
ao afastamento dos civis do
ambiente de festa, do convívio, da
curiosidade de poder olhar de
perto, de tocar e até impediu as
pessoas de se sentarem no cockpit
das poderosas máquinas da aviação
militar dos países da NATO.
O exercício que deveria ter-se
realizado em Maio de 2020 foi
adiado, quando a primeira vaga da
covid-19 se apresentava na sua
máxima força. E este ano
prevaleceu a vontade da Força
Aérea Portuguesa (FAP) e da
Esquadra 301 — Jaguares de o levar
por diante, apesar das fortes
apreensões que condicionam a
presença de esquadras da NATO.
A jovem alferes Carmen Moreiras,
do Gabinete de Relações Públicas
(GRP) da FAP, deixou claro logo à
entrada da base que as regras da
Direcção-Geral de Saúde eram para
cumprir sem desvios.
DR
O depoimento do comandante
da esquadra italiana de EuroÆghter
é eloquente: “Eu não apostava
nem um único euro na execução
deste exercício devido à covid-19,
mas, se eu tivesse apostado, teria
perdido. A organização do evento
foi uma obra de arte. A FAP deve
estar orgulhosa.”
Inédito teatro de operações
O Tiger Meet foi-se adequando às
circunstâncias e “a pandemia
permitiu aferir a nova realidade
num inédito teatro de operações”,
explicou ao PÚBLICO a alferes
Carmen Moreiras. A novidade
esteve na adequação do exercício
ao contexto pandémico. Mas, ao
contrário do que aconteceu em
eventos anteriores, “os militares
não podiam andar a passear nas
ruas da cidade de Beja. Tudo o que
conduzisse ao ajuntamento de
pessoas tinha de ser evitado”,
reforçou a oÆcial.
O major Nuno Paixão, também do
GRP, observa: “Já não se realizavam
exercícios conjuntos há muito
tempo. Na Europa pararam,
sobretudo os que têm uma
dimensão multinacional.” Em
Portugal foram adiados vários
exercícios conjuntos com o Exército
e a Marinha e com países parceiros.
Romper com este
condicionalismo foi o objectivo a
que a FAP se propôs. O militar
realça a importância da partilha de
conhecimentos e de experiências

com aliados e parceiros no âmbito
da NATO. “Todos querem treinar.”
A ausência de exercícios conjuntos
podia vir a revelar consequências
nefastas em cenários verdadeiros de
operações militares.
O ambiente no interior dos quase
mil hectares que tem o perímetro da
BA-11 é discreto. Só o barulho
infernal da descolagem das
aeronaves (alguns exercícios
chegam a envolver quase três
dezenas de uma assentada) bule
com a tranquilidade da unidade
militar. Destaca-se o F-16 da
Esquadra 301 — Jaguares da FAP, de
“pelagem” amarela, coberta por
pequenas manchas redondas de
coloração preta, pintadas ao longo
de toda fuselagem.
O pessoal que faz a sua
manutenção apresenta-se em
conformidade. No lugar do
equipamento normal de trabalho,
envergam uma vestimenta de
jaguar e saúdam reverentes a
aeronave, quando esta sai da placa
de estacionamento para descolar. O
PÚBLICO observa esta imagem ao
longe. Há zonas vermelhas, onde
não se pode ir ou estar. A alferes
Moreiras, que acompanhou o
PÚBLICO ao longo da sua
permanência no interior da base,
tem o ingrato papel de chamar
atenção para que não se pise o risco.
Ruído como Beethoven
O barulho da descolagem é
ensurdecedor. Um piloto de F-16
O F-16 da Esquadra 301 —
Jaguares da FAP, de “pelagem”
amarela, coberta por pequenas
manchas redondas de
coloração preta, pintadas ao
longo de toda fuselagem,
destaca-se
480
Na primeira semana do Tiger
Meet foram realizadas mais de
480 horas de voo, num total de
116 operações: 30 saídas de
manhã, 53 à tarde e 33 à noite
57
Eram para estar 110 aeronaves
de 14 países através de 18
esquadras. Foi metade do
previsto: 57 aeronaves de nove
países e nove esquadras
não dispensa um desabafo
singular: “Isto para mim é como se
ouvisse Beethoven.” A força que
transmite a potência dos reactores
signiÆca para si “um hino à
liberdade de poder voar”.
O coronel Carlos Lourenço, chefe
do Estado-Maior do Comando
Aéreo, diz: “Queremos colocar um
selo de competência na nossa
organização e evitar reticências.”
“[E para que o Tiger Meet não fosse
uma marca de insucesso na história
da FAP], realizamos o Real Thaw
2021, exercício nacional que não
estava planeado para este ano.”
Decorreu na BA-11 entre os dias 15 e
26 de Março para testar acções de
apoio no combate à covid-19 e
assegurar a eÆcácia dos meios
humanos e aéreos. “Colocámos o
exercício em pé no lapso de um mês
e incluiu Exército e Marinha”,
explica o coronel Carlos Lourenço,
salientando a experiência recolhida
após muitos meses sem qualquer
treino. “[Face aos resultados],
confrontámos as esquadras dos
países da NATO com o desaÆo [de
concretizar o Tiger Meet.]”
Vários países dos que tinham
anunciado a sua participação em
2020 desistiram. Eram para estar
110 aeronaves de 14 países através
de 18 esquadras. Foi metade do
previsto: 57 aeronaves de nove
países e nove esquadras. Os alemães
informaram em Janeiro que não
vinham e os espanhóis declinaram a
participação poucas semanas antes
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 19
JOÃO MIGUEL SILVA BRITO
da realização do Tiger Meet.
A inovação tem marcado o
evento, realizando operações
multidomínio de dia e de noite. E,
pela primeira vez, as esquadras
treinaram o voo nocturno para
aperfeiçoar técnicas, tácticas e
procedimentos, num ambiente em
que se observa um elevado grau de
complexidade devido às poucas
referências externas que, mesmo
com a utilização de óculos de visão
nocturna (NVG), são reduzidas.
“Permite às aeronaves não serem
identiÆcadas, conferindo-lhes
maior protecção contra fogo
inimigo”, realça o coronel Carlos
Lourenço. E destaca um pormenor:
“Não chega o poder bélico. Temos
de intervir suportados na
cibersegurança e na obtenção de
capacidade espacial.”
Exercícios fundamentais
Este aspecto aÆgura-se cada vez
mais como um elemento
fundamental para a garantia da
segurança nos meios de
comunicações, comando e
controlo. Dada a sua importância,
os exercícios militares, como o
Tiger Meet 2021, incorporam o
treino de capacidades nas áreas da
ciberdefesa, nomeadamente a
segurança informática, num tipo
exercício que integra várias nações
pertencentes à NATO.
“[Como a FAP tem poucos
aviões], convidámos os nossos
aliados e assim dispomos de mais
aeronaves para fazer os exercícios e
melhorar a nossa capacidade de
intervenção”, prossegue o coronel
Carlos Lourenço. Neste caso, a
quantidade é fundamental para
alcançar a qualidade. “Voar um
contra dois ou dois contra quatro é
diferente de ter 20 contra 40
aeronaves. Obtém-se muito
conhecimento”, observa o coronel
Carlos Lourenço. E sublinha um
objectivo maior: preparar a
próxima geração de pilotos
adaptando os conceitos à mudança
dos tempos.
A realização do Tiger Meet
concentrou, entre militares e civis,
“cerca de 1500 pessoas”, revelou ao
PÚBLICO o coronel Paulo Costa,
comandante da BA-11. O militar
acredita que este número terá tido
“algum impacto na vida económica
da cidade” num contexto de crise,
sobretudo no sector da hotelaria e
restauração. “Há 500 quartos
alugados até Évora por militares
que aqui permanecem entre duas a
três semanas”, reforça o
comandante da BA-11.
Preparar toda a logística, para
além dos “500 militares [nacionais],
mais cerca de 500 das esquadras
estrangeiras, implicou muitos
meses de trabalho”, sublinha o
coronel Paulo Costa, assumindo o
empenho da FAP em proporcionar
condições para que as esquadras
intervenientes no Tiger Meet
pudessem executar “treino de
muito boa qualidade”. Os militares
estrangeiros “estão muito
agradados com a forma como têm
sido recebidos e tratados”,
acrescenta.
A escolha da base de Beja para
exercícios de média e grande
dimensão deriva da sua capacidade
estrutural. “Temos muitos hangares
e placas, acesso facilitado ao espaço
aéreo de qualidade, meteorologia
favorável ao desempenho aéreo,
que “é único em Portugal e até na
Europa já há poucos espaços
assim”, assinala o coronel Paulo
Costa.
O comandante da esquadra
italiana, major Fabrizio N., disse ao
PÚBLICO que não conhecia as
características da base de Beja, mas
considerou-as “impressionantes em
comparação com as de uma base
europeia padrão”. A conclusão que
retira do exercício é que lhe foi
possível “comparar técnicas e
procedimentos com nações
parceiras”. “[É] a única maneira de
detectarmos e corrigirmos os erros
de treino que poderíamos
cometer”, conclui o militar italiano.
A Esquadra 301 — Jaguares passou
a representar Portugal no Tiger
Meet em 1978. Ganhou o Silver
Tiger, o troféu que reconhece a
melhor esquadra de voo em cada
exercício, em quatro edições: 1980,
1985, 2011 e 2019. A BA-11 já acolheu
o evento em três das quatro vezes
que se realizou em Portugal.
20 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Mundo Independentistas querem evitar repetição eleitoral em Julho
ERC e Junts
chegam
a acordo para
governar
a Catalunha
Republicanos Äcam com a presidência
e dividem as pastas com o partido
de Carles Puigdemont
António Saraiva Lima
Noventa dias volvidos da realização
das eleições legislativas na Catalunha,
depois de duas votações parlamen-
tares de investidura fracassadas e ao
Æm de semanas de negociações ten-
sas e desgastantes, os dois principais
partidos independentistas da região
autonómica espanhola anunciaram
ontem um acordo de princípio para
um governo de coligação, liderado
por Pere Aragonès.
Negociado durante o Æm-de-sema-
na pelo cabeça-de-lista e coordena-
dor da Esquerda Republicana da
Catalunha (ERC, esquerda) e pelo
secretário-geral do Juntos pela Cata-
Cronologia
14 de Fevereiro
Eleições sorriem à ERC, que,
com 33 deputados eleitos,
lidera o bloco independentista
no Parlamento catalão
26 de Março
Abstenção dos deputados do
Junts inviabiliza tomada de
posse de Aragonès, da ERC
30 de Março
Segunda votação parlamentar
e o mesmo desfecho:
Aragonès falha investidura
26 de Maio
Data limite definida pela lei
eleitoral para os partidos
representados no Parlamento
da Catalunha investirem um
novo presidente do governo
da Generalitat
QUIQUE GARCIA/EPA
lunha ( Junts, centro-direita), Jordi
Sànchez, o acordo pressupõe a cata-
logação dos objectivos da “amnistia”
dos presos catalães envolvidos na
organização do referendo e da pro-
clamação de independência de Outu-
bro de 2017 e da “autodeterminação”
da Catalunha como “inevitáveis”.
Para além disso, implica a distri-
buição equitativa das pastas e a pro-
messa de investimento claro e deci-
sivo no combate às crises provocadas
pela pandemia de covid-19.
“O objectivo não é outro senão o
de servir o país, governar para todo
o mundo e poder alcançar a inde-
pendência da Catalunha”, lê-se no
comunicado conjunto dos dois par-
tidos. “Comprometemo-nos a cons-
truir um governo que procure
reconstruir a conÆança com a cida-
dania da Catalunha.”
Em conferência de imprensa, Ara-
gonès pediu ainda desculpa “à cida-
dania” por ter demorado “provavel-
mente demasiado tempo” a chegar
a acordo com o partido do ex-presi-
dente do Governo catalão, Carles
Puigdemont, mas garantiu que ERC
e Junts estão agora determinados em
apresentar “uma agenda transforma-
dora no âmbito económico e social”,
para responder à crise económica e
sanitária na Catalunha. Pere Aragonès (ERC) deve ser nas de negociações entre o Junts e os Cultural — e outras entidades de rele-
“Fomos capazes de nos entender investido como presidente republicanos — que chegaram a suge- vo — como o grupo dirigido por Puig-
para evitar uma repetição eleitoral. rir governar sozinhos —, em grande demont — poderão discutir e imple-
É um bom acordo, que assegura um
governo forte”, aÆrmou o dirigente
um Governo minoritário da ERC.
O acordo deverá também contar
medida motivadas pelas divergências
dos dois partidos sobre a estratégia
mentar estratégias rumo à secessão.
No que toca à distribuição das pas-
da ERC — o partido independentista com o apoio parlamentar da Candi- para a independência catalã e, parti- tas, para além da presidência do
mais votado a 14 de Fevereiro. datura de Unidade Popular (CUP, cularmente, sobre o papel do Conse- Governo, a ERC vai Æcar com o Inte-
Antes de poder ser agendada nova anticapitalistas), que não entrará, lho pela República, uma espécie de rior, a Educação, a Energia, a Cultura,
sessão de investidura no parlamento ainda assim, no Governo. Juntos, os governo paralelo, liderado por Puig- a Empresa e o Feminismo. Já o Junts
catalão — a data limite é o dia 26 deste partidos independentistas têm 74 demont, em auto-exílio na Bélgica. Æcará com a vice-presidência, a Eco-
mês —, o acordo ainda terá, no entan- deputados, mais do que suÆcientes O Junts aceitou dar mais dois anos nomia, a Saúde, a Justiça, o Territó-
to, de ser validado pelas bases dos para alcançar a maioria num parla- de vida à mesa de diálogo com o rio, os Assuntos Externos, os Assun-
respectivos partidos. À partida, tudo mento que conta com 135 membros Governo de Espanha e a ERC acedeu tos Sociais e as Universidades.
indica que será aprovado. Sànchez e investir Aragonès como sucessor de em criar um “espaço de coordena- A gestão dos fundos europeus Æca-
adiantou, porém, que, caso os mili- Quim Torra. ção” do independentismo, em que rá nas mãos de uma comissão pró-
tantes do Junts chumbem o compro- Ultrapassados os obstáculos que todos os partidos, as principais orga- pria, que envolverá elementos dos
misso, os deputados do partido vão estavam a bloquear uma solução nizações civis — como a Assembleia vários departamentos e de ambos os
votar favoravelmente a investidura de política, Æcam para trás longas sema- Nacional Catalã (ANC) e a Òmnium partidos.

Direita Ɗca em minoria
na Assembleia Constituinte chilena
João Ruela Ribeiro
Candidatos independentes
obtiveram quase um terço
dos lugares na assembleia
que vai redigir a nova
Constituição chilena
Os candidatos independentes foram
os grandes vencedores das eleições
para a Assembleia Constituinte do
Chile e terão um papel fundamental
na elaboração da nova Constituição.
Os partidos tradicionais, especial-
mente a direita, foram muito penali-
zados, levando o Presidente, Sebas-
tián Piñera, a reconhecer o falhanço
da classe política.
Os chilenos foram chamados este
fim-de-semana a escolher a compo-
sição da assembleia encarregada de
redigir a nova Constituição, que irá
substituir o texto que vigora desde
1980, ainda durante a época da dita-
dura de Augusto Pinochet. A abertu-
ra do processo constitucional foi o
resultado da grande onda de contes-
tação social de Outubro e Novembro
de 2019, marcada por violentos con-
frontos e por uma crise política sem
precedentes no Chile.
Cumprindo com esse espírito con-
testatário, uma parte considerável
dos eleitores conÆou em candidatos
independentes, sem qualquer liga-
ção a partidos políticos e frequente-
mente defensores de causas progres-
sistas, como a ecologia, o feminismo
ou os direitos LGBT. Com mais de
Supremo Tribunal dos EUA aceita julgar
caso que pode reverter direito ao aborto
Decisão dos juízes pode pôr
em causa no futuro
o direito constitucional
à interrupção voluntária
da gravidez
O Supremo Tribunal dos EUA aceitou
julgar um caso cuja sentença pode vir
a pôr em causa o direito constitucio-
nal ao aborto. Tendo em conta a
maioria conservadora que compõe
actualmente o tribunal, a decisão é já
vista como uma vitória dos movimen-
tos antiaborto norte-americanos.
O julgamento ontem aceite pelo
Supremo Tribunal vai debruçar-se
sobre queixas à constitucionalidade
de uma lei aprovada pelo Congresso
Os chilenos votaram em dois dias por causa da covid-19
98% dos votos contados — a eleição
decorreu sábado e domingo por cau-
sa das contingências associadas à
covid-19 —, os candidatos indepen-
dentes ocupam quase um terço (48)
dos 155 lugares na assembleia.
As duas principais listas à esquer-
da — Apruebo, de centro-esquerda,
e Apruebo Dignidad, que reúne o
Partido Comunista e a Frente Ampla
— conseguiram eleger mais de 50
deputados, obtendo também uma
boa representação na Assembleia
Constituinte.
A grande derrota da noite coube à
lista Vamos por Chile, que, apesar de
ter concorrido agrupando pratica-
mente toda a direita do país, conse-
guiu apenas 38 lugares, um número
do Mississipi. Em 2018, o governa-
dor republicano Phil Bryant ratiÆ#
cou uma lei que proíbe o aborto em
casos cuja gravidez exceda as 15
semanas. Apenas foram considera-
das excepções para situações de
risco de vida para a mãe ou quando
o feto apresentasse malformações
“profundas”.
A lei foi imediatamente posta em
causa pela única clínica onde é pos-
sível fazer abortos no Mississipi, a
Jackson Women’s Health Organiza-
tion. Os tribunais do estado rejeita-
ram a lei, argumentando que põe em
causa o direito constitucional ao
aborto, consagrado numa histórica
decisão do Supremo Tribunal, de
1973, no caso conhecido como “Roe
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 21
JUAN GONZALEZ/REUTERS
insuÆciente para bloquear a aprova-
ção de artigos.
Na sua composição Ænal, a Assem-
bleia Constituinte deverá ser paritá-
ria entre homens e mulheres, bem
como contemplar 17 lugares para
candidatos representantes dos
povos indígenas.
Piñera, que esteve no centro da
contestação em 2019, reconheceu o
falhanço das forças políticas tradicio-
nais. “Não estamos sintonizados
adequadamente com as exigências
e os anseios dos cidadãos; estamos a
ser interpelados por novas expres-
sões e novas lideranças”, aÆrmou o
chefe de Estado.
A partir da tomada de posse da
assembleia, os seus elementos têm
um ano para redigir a nova Constitui-
ção, que será sujeita a referendo no
próximo ano. Os resultados permitem
antever a possibilidade de entendi-
mentos entre os deputados indepen-
dentes e as bancadas da esquerda.
“Estão criadas as condições para
Não estamos poder promover processos de
mudança muito mais substantivos.
sintonizados È o que se espera e é possível”, disse
adequadamente à agência Efe o professor da Faculda-
de de Ciências Sociais da Universida-
com as exigências de do Chile Octavio Avendaño.
e os anseios dos Entre os defensores da redacção
de uma nova Constituição — exigên-
cidadãos cia que contou com o apoio de 80%
Sebastián Piñera dos chilenos num referendo no ano
Presidente do Chile passado —, persiste a ideia de que o
actual texto mantém o país preso ao
modelo de Pinochet, sobretudo a
nível económico.
contra Wade”. O caso sobe agora ao
Supremo Tribunal, cujas sentenças
têm valor constitucional e Æxam o
entendimento sobre inúmeros assun-
tos para os restantes tribunais a nível
nacional. O maior desaÆo à jurispru-
dência sobre o aborto desde 1973 foi
há quase duas décadas, quando o
Supremo Tribunal decidiu manter o
entendimento que vigora até hoje.
A divisão ideológica entre os nove
juízes dá vantagem à ala conservado-
ra, o que pode indiciar que a futura
decisão do Supremo sobre este caso
pode reverter o entendimento que
regula o aborto desde 1973. O caso
“Roe contra Wade” veio, na prática,
proibir os estados de aplicarem leis
“Roe contra Wade” em causa antiaborto muito restritivas.
Mundo
China proíbe
estrangeiros
de dirigirem
escolas
A nova lei impede também
as escolas privadas,
da creche ao nono ano,
de terem currículos
estrangeiros
O Conselho do Estado da China
anunciou novas medidas para os
currículos escolares e para as escolas
privadas, entre elas a proibição do
ensino de currículos estrangeiros e
a proibição de entidades estrangeiras
serem proprietárias de instituições
privadas. Segundo a Reuters, esta é
a mais recente medida das autorida-
des chinesas para exercer um con-
trolo mais apertado sobre um sector
que está em crescimento.
A nova lei, que entra em vigor a 1
de Setembro, proíbe o ensino de cur-
rículos estrangeiros desde as creches
até ao nono ano de escolaridade;
veda a qualquer entidade estrangeira
ser proprietária de uma escola de
ensino obrigatório — até ao nono ano;
e prevê que os membros da direcção
ou de outro órgão dirigente devem
ser chineses e incluir representantes
das entidades reguladoras.
As escolas vão deixar de fazer tes-
tes ou recrutamento de alunos ante-
cipadamente e podem ser aplicados
tectos nos valores das matrículas
pelas autoridades regionais, porque,
de acordo com o Conselho de Esta-
do, as escolas não devem ser lucrati-
vas. A abertura ou conversão de
escolas privadas também vai ser
banida.
Numa nota do banco norte-ame-
ricano Citibank enviada aos clientes,
lê-se que a nova lei “é mais restrita
do que o que era esperado para o
ensino obrigatório”, cita a Reuters.
Na mesma nota, refere que as alte-
rações terão impacto nas receitas do
mercado do ensino até ao 12.º ano,
em que a tutoria é um recurso recor-
rente no exigente e competitivo
ensino chinês — em 2016, 75% dos
alunos recorreram a estes serviços,
segundo a Sociedade de Educação
Chinesa.
Pequim tem feito leis restritas para
o ensino privado em crescimento,
também numa tentativa de aliviar a
pressão sobre os alunos e para incen-
tivar o aumento da natalidade, bai-
xando os custos das famílias.
Todas as escolas de ensino obriga-
tório passam a seguir as directrizes
do Partido Comunista, num esforço
mais alargado de fortalecer o papel
do Estado e do Partido Comunista na
sociedade e de restringir o papel do
ensino privado nos primeiros anos
de ensino. PÚBLICO
22 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021

Economia TAP diz que reservas do Reino Unido mais do que duplicaram

Turismo
britânico
“veio antecipar
reabertura de
muitos hotéis”
Regresso dos turistas britânicos foi
marcado pelo número de aviões que
aterraram em Faro: das 30 aeronaves
previstas, 16 vieram do Reino Unido
Luís Villalobos
Ontem foi um dia diferente dos que
se viveram nos últimos meses no
aeroporto de Faro, com um aumen-
to expressivo do número de aviões a
chegarem à cidade com turistas a
bordo. E, das 30 aeronaves previstas
para aterrarem, 16 tinham origem no
Reino Unido (um voo foi cancelado),
o que expressa bem a importância
deste dia e deste mercado emissor
para a região do Algarve e para o
turismo nacional.
Os britânicos têm “via verde” para
Portugal desde que Londres dispen-
sou a quarentena no regresso ao Rei-
no Unido (a lista de países incluídos
é pequena) e o executivo português
alargou a permissão de viagens às
deslocações de turismo, com efeitos
a partir da meia-noite de segunda-
feira, o que teve logo efeito na procu-
ra e no aumento das reservas nas
companhias aéreas — a TAP aÆrmou
ontem que as reservas para os voos
entre os dois países mais do que
“é preciso não esquecer que a pan-
demia não acabou” e que é necessá-
rio um esforço colectivo para “garan-
tir todas as condições de segurança”.
“Um retrocesso”, alerta, “seria desas-
troso”. E recorda que os espaços de
animação nocturna ainda estão
fechados e a restauração tem limites
de horários e de capacidade. Neste
Verão, o sector ainda vai “continuar
a contar muito com o mercado inter-
no”, mas, com a abertura de circula-
ção a estrangeiros — já se notam
reservas do mercado espanhol e do
alemão, diz — a esperança é de que
esta temporada “seja bem melhor do
que a do ano passado” e que se pro-
longue mesmo até ao Outono.
Cristina Siza Vieira, vice-presiden-
te executiva da Associação da Hote-
laria de Portugal, diz, por seu turno,
que ainda não é possível quantiÆcar
o efeito do regresso do turismo bri-
tânico, seja porque a abertura ocor-
Porto de Lisboa tem programadas cerca de 50 escalas de cruzeiros
reu só ontem, seja porque “conti-
nuam a cair reservas em massa”. “O Cruzeiros já podem regressar às águas de Portugal continental
maior impacto na hotelaria só deve-

duplicaram de 7 a 11 de Maio, em ven-
das no site, face ao mesmo período
da semana anterior.
O início do regresso dos britânicos
— ainda não há números exactos dos
turistas que aterraram — foi saudado
pelas associações do sector como um
marco importante, com a secretária-
geral da Associação da Hotelaria,
Restauração e Similares de Portugal
(AHRESP), Ana Jacinto, a aÆrmar que
“esta situação veio antecipar a rea-
bertura de muitos hotéis que não
estavam a contar abrir já”, embora
não consiga ainda quantiÆcar o
número de unidades envolvidas.
Com isso, diz, espera-se também
a recuperação do posto de trabalho
de vários proÆssionais que foram
para o desemprego. Sublinhando
que o turismo português ganhou
“um novo alento”, diz também que
rá começar a sentir-se a partir de
Junho”, explica, adiantando que as
regiões mais beneÆciadas são o
Algarve e a Madeira. Além dos britâ-
nicos, esta responsável diz que tam-
bém “já se sente a procura por parte
de turistas franceses e alemães”.
“Se a situação da pandemia se
mantiver controlada no espaço euro-
peu, a imunidade da população se
alcançar no tempo previsto e o ‘cer-
tiÆcado europeu Covid-19’ for efecti-
vamente aprovado com regras
comuns pelos Estados-membros e
abertura a países fora da UE, não só
as reservas irão em crescendo, como
se prolongarão para além de Outu-
bro, obviamente com outros merca-
dos para lá do britânico”, aÆrma
Cristina Siza Vieira.
Eduardo Miranda, presidente da
Associação do Alojamento Local em
D
epois de terem sido
interrompidas logo em
Março do ano passado pela
pandemia de covid-19, as
viagens de cruzeiro puderam
voltar aos portos de Portugal
continental a partir de ontem.
No caso do Porto de Lisboa, que
disputa a liderança deste
segmento com o Porto do
Funchal, fonte oficial diz que até
ao final da semana que vem
ainda não há nada programado,
mas que estão alinhavadas
“perto de 50 escalas de Junho a
Agosto”. A realização dessas
escalas, diz a mesma fonte,
“irá depender da capacidade
de as companhias
reorganizarem os seus
itinerários tendo em conta os
países que já têm as suas
fronteiras marítimas abertas”.
Assim, diz, é preciso “confirmar
todos os agendamentos de
forma a actualizarmos o nosso
planeamento e preparar com a
devida antecipação a realização
das operações portuárias com a
segurança necessária”. Quanto
aos principais mercados
emissores, estes têm sido o
britânico, o alemão, o
americano, o italiano e o francês.
Na Madeira, o primeiro passo
para uma abertura já tinha sido
dado pelo Governo Regional da
Madeira, que avançou com a
primeira abertura em Outubro
do ano passado (tendo recebido
apenas uma escala desde
então). A presidente da
administração da Portos da
Madeira, Paula Cabaço, recorda
que “a grande maioria das
companhias de cruzeiros ainda
não retomou a actividade” e que
até à data tem havido apenas
“algumas operações, muito
pontuais”. Sobre a perspectiva
para os meses de Verão, esta
responsável diz que, no caso
específico da Madeira, isso
tradicionalmente coincide com
a época baixa. “Esperamos que
a partir de Outubro a actividade
retome de forma gradual”, diz.

Portugal (Alep) também refere que o
“aumento imediato” de reservas do
Reino Unido que se seguiu à inclusão
de Portugal na “lista verde” de Lon-
dres foi “essencialmente sentido no
Algarve” e com “uma intensidade
menor” na Madeira. Nos casos de
Lisboa e Porto, “até pode não ter um
grande signiÆcado económico ime-
diato como nos destinos de sol e
praia, mas é importante, pois ajuda a
trazer alguma motivação”, diz.
Por outro lado, não deixa de des-
tacar que “é preciso ter também
alguma cautela”, isto porque “a nor-
ma do mercado agora são as reservas
com cancelamento gratuito, ou seja,
são acima de tudo intenções de
reserva que em alguns casos podem
não se conÆrmar mais tarde”.
Questionado sobre eventuais
reservas de outros mercados emis-
sores, o responsável da ALEP diz que
“o mercado inglês foi o que acordou
primeiro”, mas “estas notícias que
correm o mundo acabam também
por criar alguma conÆança e motivar
turistas de outras nacionalidades a
PEDRO NUNES/REUTERS
Ontem eram esperados
entre três e quatro mil
passageiros
no aeroporto algarvio
começar a reservar para o Verão”.
A inclusão na “lista verde” foi um
factor distintivo referido por todos os
responsáveis contactados pelo PÚBLI-
CO, que deve ser potenciado. No caso
da Easyjet, fonte oÆcial aÆrmou que
já se registou um “aumento das reser-
vas para os meses de Verão para Por-
tugal, pelo facto de ser dos poucos
países” a integrarem essa lista.
Neste momento, diz Eduardo
Miranda, o grande desaÆo é “o custo
e logística dos testes” à covid-19 que
têm se ser feitos para poder viajar.
“Há muitos casos de reservas que
depois são canceladas quando as
pessoas fazem as contas ao custo
adicional que terão com os testes.”
A importância do Reino Unido é
destacada por Cristina Siza Vieira,
quando recorda que, em 2019, este
mercado “foi responsável por cerca
de 33% das dormidas de estrangeiros
em Portugal e por proveitos globais
superiores a 1200 milhões de euros”.
Números que hoje parecem perten-
cer a um passado distante, mas que
o sector quer tentar recuperar.
Algarve
O regresso dos turistas britânicos:
“Estamos a apanhar o cliente
de outros destinos concorrentes”
Idálio Revez
O regresso dos britânicos ao Algarve
devolveu a esperança ao sector
turístico. “Estão cá todos”, congra-
tula-se o director da Região de Turis-
mo do Algarve (RTA). João Fernan-
des referia-se ao elevado número de
jornalistas, portugueses e estrangei-
ros, que aguardavam ontem de
manhã a chegada dos turistas.
Ao longo do dia, em que se retoma-
ram as viagens não essenciais entre
Reino Unido e Portugal, eram espe-
rados 17 voos do Reino Unido, mais
oito de outros destinos. No total,
serão entre três e quatro mil passa-
geiros. “É uma lufada de ar fresco”,
diz o taxista António Pinto. “A man-
ter-se este ritmo, já dá para remediar
os meses sem trabalho.”
João Fernandes acredita que, desta
vez, Portugal está a bater a concor-
rência: “A Espanha, o principal desti-
no dos britânicos, ainda está na lista
vermelha. Nós vamos à frente. Criá-
mos as condições de segurança para
receber os turistas”, argumenta.
Por isso, as expectativas são de
recuperação económica em alta, “se
tudo correr bem”, adverte o director
da Região de Turismo, recordando
que é preciso manter as regras sani-
tárias. É que o vírus não foi de férias,
embora os dias de sol sejam convi-
dativos ao relaxamento e o passado
Æm-de-semana já tenha sido de
praia, a fazer lembrar os meses de
Verão.
À chegada ao Aeroporto de Faro,
a RTA tinha para oferecer aos passa-
geiros uma caixa com duas máscaras
coloridas, um frasco de álcool gel e
um folheto informativo. Em paralelo,
a entidade oÆcial de turismo dispo-
nibilizou aos operadores turísticos
dois números de telefone, a utilizar
pelos visitantes para qualquer escla-
recimento complementar. Do outro
lado da linha, estão funcionários da
Região de Turismo.
A RTA fez com a Administração
Regional de Saúde um levantamento
de todos os locais capacitados para
fazer testes à covid-19: entre labora-
tórios, hotéis e outros espaços, são
agora 126.
Um Verão muito bom
Os seis hotéis Tivoli, no Algarve, “já
estão ao nível de 2019, nesta altura
do ano”. O administrador do grupo,
Jorge Beldade, considera que, a man-
ter-se a onda crescente dos ingleses,
“vamos ter um Verão muito bom”.
De resto, adianta, os cenários para o
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 23
Outono — época alta do golfe — são
igualmente animadores. Para os
meses de Setembro e Outubro, “já é
difícil conseguir reservas”.
Além dos clientes habituais, diz
Jorge Beldade, “estamos a apanhar o
cliente de outros destinos concorren-
tes”. Dos países emissores habituais
de turistas para a região, apenas cin-
co ainda não abriram o corredor
aéreo para Portugal. Este grupo é dos
que celebraram acordo com os labo-
ratórios privados para que o teste
covid fosse efectuado na própria uni-
dade hoteleira. “Disponibilizamos
uma sala, a equipa vem cá, faz a reco-
lha e trata de todos os procedimentos
Toda a Europa
está a falar
da vantagem
de Portugal
João Fernandes
Director da Região de Turismo
do Algarve
Os ingleses fazem
a diferença
no Algarve.
Estamos sozinhos
no mercado
Elidérico Viegas
Presidente da Associação
dos Hotéis e Empreendimentos
Turísticos do Algarve
Bom tempo já está a marcar o arranque do ano turístico algarvio
para que o turista possa regressar em
segurança.”
“Estamos sozinhos”
António Pinto, delegado da Antral
— Associação Nacional dos Transpor-
tadores Rodoviários em Automóveis
Ligeiros, diz ter “informações segu-
ras” de que no Ænal do mês já estão
previstos cem voos diários, vindos
de Inglaterra. João Fernandes subs-
creve o optimismo, mas não arrisca
avançar com números: “Toda a Euro-
pa está a falar da vantagem de Portu-
gal [em relação aos destinos concor-
rentes], por ter criado condições de
segurança”, enfatiza.
A notícia, sublinha, está a ter
impacto não apenas no Reino Unido,
“mas também na Alemanha, França
e Holanda, e os operadores estão a
dar importância ao facto de sermos
um destino seguro”.
O presidente da Associação dos
Hotéis e Empreendimentos Turísti-
cos do Algarve (AHETA) lembra as
vantagens comparativas de Portugal
no mercado. “Nenhum dos países do
Sul da Europa integra a lista verde do
Reino Unido, e os ingleses fazem a
diferença no Algarve. Estamos sozi-
nhos no mercado”, sublinha Elidéri-
co Viegas. O dirigente associativo
defende, no entanto, que a retoma
vai processar-se de forma “gradual”
e que só em Junho, quando os ope-
radores promoveram os “pacotes de
férias”, será possível traçar cenários
para o Verão. No mês de Agosto de
2019, recordou, o Aeroporto de Faro
registou uma média de 30 mil turis-
tas por dia. Agora, são esperados
entre três e quatro mil, mas, para
quem se habituou a ver os hotéis e
bares vazios, por culpa da pandemia,
o sol da esperança voltou a brilhar.
RUI GAUDÊNCIO
24 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Economia
Empresas
pouparam na
energia com
o teletrabalho
Victor Ferreira
Vice-presidente da CIP
diz que debate sobre
trabalho remoto “está
enviesado” e que só se fala
nos custos e benefícios
Se o barómetro mensal da Confede-
ração Empresarial de Portugal (CIP)
espelhasse a realidade do tecido
empresarial, então 79% das empresas
diriam que o teletrabalho trouxe pou-
panças nada ou pouco signiÆcativas
às empresas. O problema é que a
amostra do inquérito de Abril tem
mais empresas industriais e da ener-
gia, com uma enorme sobrevaloriza-
ção das grandes empresas. O que
signiÆca que, além de não ser repre-
sentativa do todo nacional, a amostra
está enviesada para o lado da indús-
tria, precisamente um sector que terá
menos possibilidade de recorrer ao
trabalho remoto.
Com efeito, das 441 empresas inqui-
ridas para o barómetro de Abril, ape-
nas 33% declararam ter funcionários
em teletrabalho, sendo estes 28% da
força laboral. Entre estas empresas,
a avaliação do impacto nas contas
repartia-se por diferentes rubricas. As
mais referidas do lado da poupança
para as empresas foram a energia
(mencionada por 21% das empresas
em teletrabalho), os custos com ins-
talações e limpezas (mencionados
por 10% dos gestores) e as despesas
de deslocação e de natureza comer-
cial, como viagens, estadias, gasóleo
ou estacionamento (referido por 8%).
Tudo somado, no entanto, a conta
geral no Æm do mês não teve grandes
alterações com estas poupanças, dis-
se a maioria dos inquiridos.
Para Armindo Monteiro, vice-pre-
sidente da confederação, o debate
sobre o teletrabalho está “enviesado”.
A situação actual foi “uma resposta
de improviso” a uma crise sanitária.
“Houve necessidade de o utilizar
para prevenir o contágio. Foi uma
medida sanitária e não como medida
de trabalho para futuro”, aÆrma Mon-
teiro, que representa a Associação
Nacional das Empresas das Tecnolo-
gias de Informação e Electrónica na
direcção da CIP.
“Apenas se falou de custos e bene-
fícios. Creio que, sem um sentido
ideológico, ninguém pode dizer que
ganhou com o teletrabalho”, insiste
Armindo Monteiro. “Para evitar per-
das maiores, trabalhadores e empre-
sas tentaram adaptar-se, mas verda-
deiramente todos perdemos, con-
cluiu.
Carlos Costa foi ao Parlamento pela 13.ª vez, para dar explicações sobre o sucessor do BES
Carlos Costa: vender Novo Banco
foi como “vender fruta apodrecida”
Sérgio Aníbal
Ex-governador defendeu
a forma como a instituição
foi vendida. E criticou o
relatório que lhe apontou
falhas na queda do BES
Na defesa do processo de venda do
Novo Banco, concretizado durante a
sua liderança no Banco de Portugal,
Carlos Costa reaÆrmou ontem que o
custo de não alienar o banco seria
“incomparavelmente maior”, descre-
vendo a operação como “vender um
cabaz de fruta que está parcialmente
apodrecida”, tentando evitar um
cenário em que se “deixa apodrecer
a fruta toda”.
Naquela que é, segundo as suas
contas, a 13.ª vez que participa numa
audiência parlamentar para falar
sobre o Novo Banco, o ex-governador
do Banco de Portugal começou por
responder às questões que lhe foram
colocadas pela deputada do CDS,
Cecília Meireles, sobre a forma como
se processou a venda do Novo Banco
ao fundo norte-americano Lone Star,
nomeadamente pelo custo que repre-
sentam para o Estado as injecções de
capital que têm vindo a ser feitas des-
de 2017, o ano de venda do banco.
Carlos Costa defendeu a necessida-
de de ter Æcado previsto o mecanismo
de capital contingente, aÆrmando
que “qualquer processo de aquisição,
seja entre privados ou seja o resultado
de uma resolução, tem cláusulas de
contingência onde o vendedor dá
garantias ao comprador sobre contin-
gências futuras”, assinalando ainda
que o modelo escolhido foi, em larga
medida, “aquele que a lei permitia na
altura” e que ainda assim teve a van-
tagem de deÆnir “um duplo travão”
para as injecções: os 3890 milhões de
euros e o valor do rácio de capital.
“Havia dois anos para vender o
banco, havia o risco de liquidação do
banco, liquidação essa que iria cor-
responder a um custo muito supe-
rior”, disse, argumentando que neste
caso o que é importante perceber é
Reacções
[Relatório] tem oito
capítulos meritórios, um
capítulo que falta e tem
uma contradição
Se o dr. Costa Pinto
tivesse tido o cuidado
de falar comigo, saberia
que tive certamente
15 reuniões com
o dr. Ricardo Salgado
Carlos Costa
Ex-governador
do Banco de Portugal
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
que “o processo foi transparente e
competitivo”. “A comissão, ao dizer
que não há auxílio do Estado, o que
está a dizer é que o preço foi justo.”
Carlos Costa foi também questio-
nado sobre as conclusões do relatório
da comissão de auditoria indepen-
dente cheÆada pelo ex-vice-governa-
dor João Costa Pinto, que critica a
forma como o Banco de Portugal
actuou na supervisão do BES, defen-
dendo que a autoridade monetária
poderia ter actuado mais cedo e que
teria o poder legal para afastar mais
rapidamente a família Espírito Santo
da administração do BES.
Carlos Costa criticou as conclusões
do relatório. “Tem oito capítulos
meritórios, um capítulo que falta e
tem uma contradição entre o capítu-
lo oitavo e as conclusões”, disse, aÆr-
mando que as conclusões são “basea-
das naquilo que seria o enquadra-
mento legal desejável” e não no
enquadramento legal existente.
O capítulo que Carlos Costa defen-
de estar em falta seria um relativo ao
departamento especíÆco de acompa-
nhamento do BES que foi criado pelo
Banco de Portugal e que o ex-gover-
nador considera não ter sido suÆcien-
temente valorizado pelo relatório.
“Se o dr. Costa Pinto tivesse tido o
cuidado de falar comigo, saberia que
tive certamente 15 reuniões com o dr.
Ricardo Salgado. Se o dr. Costa Pinto
tivesse tido o cuidado de falar comigo,
saberia da grande proximidade entre
o conselho de administração e os ser-
viços”, garantiu.
BCP diz que
que injecção
no Novo Banco
está a evoluir
Presidente do banco
sublinha, sobre nova ajuda
ao Novo Banco, que
“não é o BCP que atrasa
o que quer que seja”
O presidente do BCP disse ontem
que o dossier do Ænanciamento ban-
cário ao Fundo de Resolução está a
evoluir de forma favorável, mas escu-
sou-se a dar mais informações sobre
o crédito que permitirá capitalizar o
Novo Banco.
“As coisas estão a evoluir de forma
muito favorável nos contactos que
temos tido”, disse Miguel Maya,
acrescentando apenas que o banco
já tomou as decisões que tinha a
tomar e “não é o BCP que atrasa o
que quer que seja”.
O gestor não quis dar mais deta-
lhes quer sobre quando será feita a
operação de crédito (dizendo que
não será o banco a fazer qualquer
anúncio) quer quanto à participação
do BCP nesse Ænanciamento.
O Jornal Económico noticiou há
duas semanas que o sindicato ban-
cário composto por sete bancos
deverá disponibilizar 475 milhões de
euros ao Fundo de Resolução, dos
quais cerca de 430 milhões de euros
serão usados já para capitalizar o
Novo Banco. Os bancos que terão
maior fatia do empréstimo serão
CGD e BCP, tendo os restantes uma
participação menor. Já no ano pas-
sado, foi negociado um empréstimo
dos bancos ao Fundo de Resolução
para capitalizar o Novo Banco, mas
acabou por não avançar.
O BCP divulgou, entretanto, lucros
de 57,8 milhões de euros no primeiro
trimestre, mais 63,8% do que os 35,3
milhões de euros registados nos mes-
mos três meses de 2020.
O resultado do primeiro trimestre
inclui 112,8 milhões de euros de pro-
visões para riscos legais de créditos
em francos suíços na operação do
BCP da Polónia. Já as imparidades e
provisões foram reforçadas em 242,8
milhões de euros.
A margem Ænanceira caiu 2,5%
para 376 milhões de euros e as comis-
sões cederam 1% para 177,9 milhões
de euros, ao passo que os custos ope-
racionais caíram 9,2% para 259,3
milhões de euros, contribuindo para
sustentar os lucros.
O BCP fechou Março com 7004
funcionários em Portugal, menos
nove do que em Dezembro passado.
Já em termos de sucursais, o banco
contava no Ænal de Março com 476
balcões, menos dois do que no Æm
de 2020. Lusa
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 25

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Procedimento concursal prévio à eleição do Diretor
CONVOCATÓRIA PARA
Torna-se público que se encontra aberto, nos termos da legislação
ASSEMBLEIA GERAL Condicionamento de Trânsito em vigor, por publicação do Aviso n.º 9265 da II série do Diário
Nos termos do disposto nos artigos 21.º, alínea a), 23.º, 24.º, 26.º e 28.º da República de 17 de maio de 2021, e publicitação na página do
dos Estatutos, e tendo em conta as medidas excecionais e temporárias A23 no troço entre os km 25,4 e o km 37,5
agrupamento, http://aevallislongus.pt, bem como na Escola Sede
relativas à situação de pandemia da doença Covid-19 estabelecidas no Trabalhos de reparação do pavimento do Agrupamento, o concurso para Diretor do Agrupamento de
artigo 18.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 10-A/2020, de 13 de março, repristinado
pelo artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 22-A/2020, de 17 de março, convoco a A Infraestruturas de Portugal está a realizar trabalhos de Escolas de Vallis Longus, pelo prazo de 10 dias úteis a partir do
Assembleia Geral ordinária do Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado reparação do pavimento na A23, no troço entre o km 25,4 e o dia seguinte ao da publicação do aviso no DR.
e Entidades com Fins Públicos (STE) para reunir no dia 8 de junho de km 37,5, localizado nos concelhos de Vila Nova da Barquinha, O Presidente do Conselho Geral, Adriano António Moura da Silva
2021, pelas 18:00 horas no Continente e na Madeira e pelas 17:00 horas Constância e Abrantes.
nos Açores, com a seguinte ordem de trabalhos:
A intervenção decorre em período noturno, entre as 21h00 e
Ponto único – Examinar e votar o relatório e contas de 2020 e parecer do
as 7H00 do dia seguinte, e estima-se que seja concluída até ao
Conselho Fiscal, e proposta de orçamento para o ano de 2021.
dia 12 de julho.
CARTÓRIO NOTARIAL DE ÓBIDOS
A Assembleia Geral funcionará nos locais abaixo indicados, onde estarão à Notário
disposição dos associados os referidos documentos para consulta: Para a segurança dos automobilistas e dos trabalhadores da António Alberto Machado Bértolo
• Na sede do STE, na Rua Braamcamp, n.º 88, 2.º Drt.º, 1269-111, Lisboa; obra, torna-se necessário proceder ao condicionamento da EXTRACTO
• No secretariado regional do Porto, na Rua da Alegria, n.º 248, 1.º Esq.º, circulação rodoviária, através da supressão uma via, à Certifico narrativamente, para efeitos de publicação, que por escritura
4000-034, Porto; passagem no local onde estão a ser executados os trabalhos de hoje, iniciada a folhas dezanove do Livro de Notas número cento e
• No secretariado regional de Coimbra, na Av. Fernão de Magalhães, n.º Agradecemos a melhor compreensão para os eventuais doze - F, deste Cartório Notarial, MARIA DA PIEDADE FORTUNATO
676, 3.º, sala 3, 3000-174, Coimbra; VIEIRA DOS SANTOS, POR SI e como PROCURADORA de seu marido
transtornos que o condicionamento de trânsito possa provocar, FERNANDO MARQUES DOS SANTOS VIEIRA, residentes na Rua da
• No secretariado regional de Viseu, na Rua do Gonçalinho, n.º 53, 1.º sendo este, no entanto, necessário para garantir a boa Escola Nova, número 25, Moita, Alvorninha, Caldas da Rainha declarou,
Esq.º, sala 6, 3500-137, Viseu; execução da obra de beneficiação da infraestrutura rodoviária. que ela e o seu marido, são com exclusão de outrem, donos e legítimos
• No secretariado regional da Guarda, na Rua Almirante Gago Coutinho, possuidores do seguinte imóvel: PRÉDIO URBANO, sito na Rua da Escola
n.º 10, 1.º andar, Centro Dtº. Fte, 6300-507, Guarda;
Número de Apoio ao utente: 707 500 501 Nova, sem número, Moita, Alvorninha, freguesia de Alvorninha, concelho
• No secretariado regional da Madeira, na Rua Câmara Pestana, n.º 6, 1.º de Caldas da Rainha, não descrito na Conservatória do Registo Predial
de Caldas da Rainha, composto de casa de rés-do-chão para habitação,
andar, sala D, 9050-017, Funchal;
dependências e logradouro, com a área total de mil e duzentos metros
• No secretariado regional dos Açores, na Rua do Rego, n.º 24, 1.º andar, quadrados (1.200m2), sendo a área coberta de duzentos e cinquenta e oito
9700-161, Angra do Heroísmo. metros e oitenta centímetros quadrados (258,80 m2) e a área descoberta
Lisboa, 13 de maio de 2021 Câmara Municipal de Valongo de novecentos e quarenta e um metros e vinte centímetros quadrados
A Presidente da Mesa da Assembleia Geral (941,2 m2), a confrontar do Norte e Nascente com estrada, do Sul com
Maria Laura Maia e Silva AVISO N.º 91 José da Costa e do Poente com Albino Henriques Vieira, inscrito, em nome
da outorgante, na matriz predial urbana da freguesia de Alvorninha sob o
Corredor Ecológico de Alfena - Instalação de uma área artigo 3987.
TRIBUNAL JUDICIAL de Lazer e de Recreio no Parque do Rio Leça, Alfena” O prédio foi doado aos Justificantes pelos pais da outorgante, Balbina
DA COMARCA José Manuel Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal de Valongo, faz público: da Nazaré Fortunato e Albino Henriques Vieira, residentes que foram em
DE LISBOA OESTE Nos termos do art.º 17.º da Lei n.º 168/99, de 18 de Setembro (Código Moita, no ano de mil novecentos e oitenta. Desde a data em que o prédio
Juízo Local Cível de Mafra de Expropriações), que por despacho do Secretário de Estado da lhes foi doado que a outorgante e o seu marido entraram na sua posse,
Processo: 276/21.0T8MFR
MUNICÍPIO DE CORUCHE Descentralização e da Administração Local de 20 de março de 2021, publicado tendo feito as obras de conservação e reparação necessárias, pintando-o e
CÂMARA MUNICIPAL
ANÚNCIO no Diário da República 2.ª Série, n.º 72 de 14 de abril de 2021, a declaração de pagando os respectivos impostos, tendo residido no prédio e agricultando
Acompanhamento de Maior utilidade pública, a favor da Câmara Municipal de Valongo, da expropriação, a parte descoberta, tendo aí procedido à plantação de árvores e colhendo
Contratação de Pessoal Requerente: Ministério Público
Requerido: José António Pedro sob os prédios sitos na freguesia de Alfena, assim identificados: os seus frutos. Como a doação foi verbal, os justificantes não ficaram a
Nos termos do aviso de abertura dos Procedimentos
Alcarva Parcela 1 - inscrito na matriz predial rústica da freguesia de Alfena sob o dispor de título que lhes permita registar o referido prédio em seu nome
FAZ-SE SABER que foi distribuído
Concursais Comuns, para ocupação de 1 posto neste tribunal, o processo de artigo 2237 e descrito na Conservatória do Registo Predial sob o número na Conservatória.
Acompanhamento de Maior em 2107/19940111, pertencente a SAGA - Empreendimentos Imobiliários, Lda., Que ela e o seu marido possuem o referido prédio, em nome próprio, há
de trabalho na carreira e categoria de Assistente que é requerido José António
Pedro Alcarva, nascido em 17-03-
com área de 2.880,00m2; mais de vinte anos, como proprietários e na convicção de o serem, sem
Técnico e 2 postos de trabalho na carreira e 1961, filho de José Maria Alcarva e Parcela 2 - inscrito na matriz predial rústica da freguesia de Alfena sob o a menor oposição de quem quer que seja, desde o seu início, posse que
categoria de Técnico Superior, na modalidade de de Fernanda da Conceição Pedro
artigo 2233 e descrito na Conservatória do Registo Predial sob o número
Alcarva, nacional de Portugal, com sempre exerceram sem interrupção e ostensivamente, com o conhecimento
Contrato de Trabalho em Funções Públicas por domicílio na Asfe de Saúde, Rua 2106/19940111, pertencente a Maria Goretti dos Santos Marques Costa, com de toda a gente da freguesia de Alvorninha, lugares e freguesias
Tempo Indeterminado, publicados na 2ª série do da Bela Vista N.º 30, Encarnação, área de 13.682,00m2; vizinhas, traduzida em actos materiais de fruição, conservação, defesa e
2640-224 Encarnação, com vista
Diário República nº. 95 de 17 de maio de 2021, à determinação de medidas Parcela 3 - inscrito na matriz predial rústica da freguesia de Alfena sob o demarcação, com a convicção de não lesarem o direito de quem quer que
encontram-se abertas inscrições para admissão adequadas à gestão de sua pessoa artigo 2234 e descrito na Conservatória do Registo Predial sob o número seja, agindo sempre pela forma correspondente ao exercício do direito de
e bens, mediante representação
aos mesmos até ao dia 31 de maio de 2021. geral. 1525/19920114, pertencente a SAGA - Empreendimentos Imobiliários, Lda., propriedade, sendo, por isso, uma posse pacífica, pública, contínua e de
Habilitações literárias e profissionais exigidas: N/ Referência: 130710206 com área de 4.300,00m2 boa fé, pelo que adquiriram o mencionado prédio por USUCAPIÃO.
Mafra, 10-05-2021 Nestes termos, vai proceder-se em conformidade com o preconizado na citada Óbidos, onze de Maio de dois mil e vinte e um
Procedimento com a referência A – 12.º ano. A Juíza de Direito, lei, a fim de se efetuar a posse administrativa das parcelas acima identificadas.
Procedimento com a referência B – Licenciatura Paula Ferreira Pinto O Notário
O Oficial de Justiça, Valongo e Paços do Concelho, aos 19 de abril de 2021
em Engenharia Civil ou Análogo e inscrição em Alberto Ribeiro António Alberto Machado Bértolo
Público, 18/05/2021 O Presidente, José Manuel Pereira Ribeiro Público, 18/05/2021
vigor na respetiva Ordem Profissional.
Procedimento com a referência C – Licenciatura
em Engenharia do Ambiente ou Análogo e CONSULTÓRIO ANNE THERAPY
inscrição em vigor na respetiva Ordem Profissional. A simbiose entre a psicoterapia biodinâmica e
Paços do Município de Coruche, massagem biodinâmica. Quando as palavras
17 de maio de 2021 cessam a análise da reação física é imperativa. Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de
A Vereadora com competência delegada, “Metamorfose”. Unissexo Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal,
Drª Célia Maria Arsénio Barroso Lx - Parque das Nações. Tel. 918047446 de âmbito nacional, especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus
familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e
Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as
demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu
estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org

OFEREÇA Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril
Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org

FILMES & SÉRIES Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010 Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro - Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org
26 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Ciência Divisão celular
Proteína que fabrica
maquinetas das células
apanhada finalmente
em flagrante
A colaboração entre cientistas em três países — Portugal, EUA e Índia — permitiu viajar
ao mais íntimo das nossas células. Aí, a equipa observou agora que uma proteína na
dose certa, nem a mais nem a menos, é a ténue diferença entre a saúde e a doença
Teresa Firmino
A
vancemos sem receio das
palavras, para podermos
viajar de forma acessível
até às entranhas das célu-
las: aí se encontram os
centrossomas, estruturas
fundamentais na multiplicação e
movimento celulares. Dentro dos
centrossomas estão, por sua vez,
os centríolos. A estas duas maqui-
netas com um papel crítico na saú-
de e na doença das células a bio-
química Mónica Bettencourt-Dias,
a directora desde 2017 do Instituto
Gulbenkian de Ciência (IGC), em
Oeiras, tem dedicado anos de
investigação. A última viagem da
sua equipa a estas engrenagens
celulares permitiu compreendê-las
a um nível ainda mais profundo,
em observações em directo agora
relatadas na revista The Journal of
Cell Biology, graças a uma série de
acasos e encontros entre cientistas.
O Ænal, como se depreenderá, é
feliz.
Parte da equipa internacional
que assina este artigo cientíÆco
encontrava-se no IGC, como o suí-
ço Ivo Telley, que coordenou o
trabalho juntamente com Mónica
Bettencourt-Dias. Era também aí
que estava Catarina Nabais — a pri-
meira autora do artigo, que fazia o
doutoramento orientada por
Mónica Bettencourt-Dias e Ivo
Telley —, bem como Jorge Carneiro
e Delphine Pessoa. A equipa que-
ria avançar na compreensão de
como se formam os centríolos.
Cada centrossoma contém dois
centríolos, estruturas em forma de
cilindro, rodeados por uma matriz
de proteínas.
Durante a divisão celular, os cen-
trossomas interagem com o material
genético e ajudam a distribuí-lo de
forma igual pelas duas células-Ælhas
resultantes desse processo. Tinham
sido observados pela primeira vez no
século XIX, por Alexander Fleming,
o descobridor da penicilina. Ainda
nos Ænais desse século, o biólogo
alemão Theodor Boveri percebeu
que os centrossomas são o órgão
especial de divisão celular e levantou
também a hipótese de que poderiam
estar envolvidos no cancro, onde
ocorre uma multiplicação anormal
das células.
No momento em que a célula se
prepara para se dividir, tem de criar
tudo em duplicado, e a maior parte
das células também duplica os cen-
trossomas. Surgem então dois cen-
trossomas, cada um com os seus dois
centríolos. Depois, como se existisse
uma corda entre os dois centrosso-
mas, cada um deles puxa para seu
lado os cromossomas, que contêm
os genes.
Se ocorrerem anomalias no pro-
cesso de divisão celular, há instabi-
lidade do genoma e o resultado não
é bom. Nas células cancerosas, há a
presença de centrossomas a mais e,
por conseguinte, de centríolos a
mais. “O número de centrossomas
tem de ser muito controlado. Quan-
do está descontrolado, pode levar
ao cancro”, sublinha Mónica Betten-
court-Dias. “A função dos centros-
somas requer que as células tenham
sempre o número certo de centrío-
los”, acrescenta um comunicado do
IGC sobre o trabalho.
Os centríolos e os centrossomas
estão igualmente na base da forma-
ção de pequenas antenas nas células
— os cílios e Çagelos —, que são res-
ponsáveis pelo movimento celular.
Por exemplo, os espermatozóides
movimentam-se graças a uma dessas
antenas, a cauda. Também há muitos
cílios nos oviductos para moverem
o óvulo em certa direcção. Por isso,
estas antenas são relevantes na fer-
tilidade. Há igualmente muitos cílios
nas células que movem o muco nos
pulmões. Ou na traqueia, para expe-
lir partículas que entrem nas vias
respiratórias.
Geralmente, durante a divisão
celular, os centrossomas e os centrío-
los seguem um “molde” para a for-
mação, que é dado pelos seus congé-
neres mais antigos. Ou seja, tendo já
por perto centríolos (que surgem
primeiro) e um centrossoma. Mas
nem sempre é assim. Em algumas
circunstâncias, conseguem montar-
se centríolos e centrossomas sem que
existam outros a servir de molde. Isto
ocorre, de forma natural, em vários
organismos, como, por exemplo, em
abelhas, nas primeiras multiplicações
celulares do embrião dos ratinhos e
em algumas plantas. É possível que
também aconteça no cancro, acele-
rando o aparecimento de uma doen-
ça oncológica. Ainda assim, muito
continua sem se saber sobre o pro-
cesso de formação de centríolos e
centrossomas sem molde prévio.
Outra visão do óvulo
A equipa de cientistas do IGC quis
então compreender melhor como se
formam os centríolos de raiz, a partir
do nada — ou seja, de novo, na expres-
são em latim. Para tal, Æzeram-se
experiências em óvulos de moscas-
da-fruta (ou moscas-do-vinagre), que
não têm nem centríolos nem cen-
trossomas, uma vez que são os esper-
matozóides que os fornecem na
altura da fertilização.
“No nosso laboratório, há já muito
tempo tínhamos percebido que era
possível induzir a formação de cen-
tríolos de novo, manipulando uma
proteína que descobrimos em 2005
chamada PLK4”, conta, citada no
comunicado, Mónica Bettencourt-
Dias, acrescentando que esta proteí-
na que controla a formação normal
dos centríolos está desregulada no
cancro.
A bioquímica refere-se a uma des-
coberta que veio a publicar em 2007
na revista Science e que foi então a
fotograÆa principal da primeira
página do PÚBLICO. Noticiávamos
que investigadoras portuguesas —
Mónica Bettencourt-Dias, na altura
com 33 anos, e a aluna de doutora-
mento de co-orientou, Ana Rodri-
gues Martins — esclareciam um mis- Os centrossomas são as
tério biológico com mais de cem estruturas nas imagens a
anos. Os centríolos e os centrosso- cor-de-rosa mais claro.
mas não precisavam, aÆnal, do tal Em baixo: 18 minutos e 15
molde, como demonstravam as suas segundos (tempo indicado no
experiências em óvulos de moscas- topo da imagem) após a
da-fruta: embora os óvulos não aplicação da proteína PLK4,
tenham centríolos nem centrosso- começam a surgir os
mas, quando a equipa lhes introdu- centrossomas e, no seu interior,
zia a proteína PLK4 (antes designada encontram-se os centríolos.
SAK), de repente Æcavam cheios des- Ao lado: os cientistas Mónica
tas estruturas. Bettencourt-Dias em 2007,
“Esta descoberta foi importantís- quando anunciou as
sima porque, até à data, se desco- descobertas sobre a proteína
nhecia que a simples presença da PLK4; Ivo Telley junto ao
PLK4 (numa quantidade um pouco microscópio usado no trabalho;
mais elevada do que o habitual) era e Catarina Nabais

suÆciente para desencadear todo o
processo de formação de novo, isto
é, sem um molde, de centrossomas”,
recorda Catarina Nabais, de 32 anos,
que anos depois daquela descoberta
retomaria, entre 2014 e 2019, esta
questão no seu doutoramento em
biologia celular. Foi “um artigo pio-
neiro na área da biologia dos centros-
somas”, sublinha a jovem investiga-
dora. “Ainda mais importante, a
estrutura formada de novo é tão ela-
borada e perfeita como quando for-
mada a partir de ‘duplicação’ de
outra já existente”, nota.
“Os níveis desta molécula são crí-
ticos para controlar o aparecimento
DANIEL ROCHA
de centríolos e consegue até que se
façam sem ter centríolos lá perto.
Queríamos perceber como isto
acontecia”, prossegue Mónica Bet-
tencourt-Dias. O problema, frisa a
investigadora, é que “na altura não
tínhamos a tecnologia” para fazer
este tipo de observações, “o que era
muito frustrante”. Embora a desco-
berta inicial também tenha sido
feita em óvulos não fertilizados da
mosca-da-fruta, acrescenta por sua
vez Catarina Nabais, “o processo
não pôde ser visualizado desde o
início nem ‘em directo’, porque a
microscopia dita convencional não
o permite”. Até porque são proces-
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 27
DANIEL ROCHA
sos que ocorrem a grande profun-
didade dentro do óvulo.
As limitações de microscopia ópti-
ca acabaram por Æcar resolvidas com
o tempo. Ivo Telley tinha desenvol-
vido, entretanto, uma nova técnica
de microscopia e publicou esse tra-
balho em 2013, ano em que também
veio para Portugal, para o IGC. E isto
permitiu continuar o que, desde
2007, tinha Æcado pendente.
“Esta técnica consiste em extrair,
de forma extremamente controlada
e cuidadosa, o conteúdo de um óvu-
IVO TELLEY lo com uma microsseringa e deposi-
tar esse ‘recheio’ intracelular em
gotas de volume reduzido — a que
chamamos ‘extracto’ —, que podem
assim ser visualizadas [num micros-
cópio confocal] com grande resolu-
ção”, explica Catarina Nabais. “Deste
modo, conseguimos ver ‘em directo’
eventos que acontecem no interior
do óvulo que, de outra forma, são
praticamente invisíveis”, salienta a
investigadora, dizendo que esta “foi
a resposta perfeita para tornar visível
o que mais ninguém conseguia ver”.
“A partir do momento em que adap-
DR támos esta técnica ao estudo dos
centrossomas, conseguimos fazer
uma série de experiências que nos
permitiram descobrir mais sobre a
regulação da sua formação.”
As experiências, após a junção da
proteína PLK4 aos óvulos das mos-
cas-da-fruta, passaram por ver ao
microscópio tudo o que acontecia
como se fosse um Ælme. “Permitiu-
nos, pela primeira vez, visualizar o
início da formação dos centríolos e
monitorizar a sua dinâmica ao longo
do tempo com uma grande resolu-
ção no espaço”, sublinha ainda a
IGC primeira autora do artigo na revista
The Journal of Cell Biology. “Quise-
mos observar em detalhe a dinâmica
no espaço e no tempo da formação
de centríolos, para perceber como
ocorre este processo e como as quan-
tidades da proteína PLK4 ou outros
factores podem afectá-lo”, completa,
no comunicado, Ivo Telley.
QuantiÄcar a proteína
Quis ainda o acaso que Mónica Bet-
tencourt-Dias e Catarina Nabais fos-
sem dar um curso à Universidade da
Califórnia em Santa Barbara (EUA) e
conhecessem o cientista indiano
Satyajit Mayor. Deste contacto viria
a surgir outra novidade cientíÆca do
deste trabalho.
O investigador indiano, do Centro
Nacional de Ciências Biológicas (em
Bangalore), também autor do artigo
Muitas vezes, na The Journal of Cell Biology, utili-
zava uma nova forma de microsco-
a ciência avança pia que permitia medir quantidades
ínÆmas de moléculas. Graças aos
porque pessoas novos contactos, Catarina Nabais foi
passar parte do doutoramento a
de laboratórios Bangalore para medir a molécula
diferentes discutem PLK4. Descobria que os níveis da
PLK4 nas células são muito peque-
uma questão nos, o que permite um controlo (ou
descontrolo) a um nível muito Æno
Mónica Bettencourt-Dias do número de centrossomas.
“A Catarina pôde perceber que o
aumento das doses da PLK4 é bas-
tante pequeno, em comparação
com os níveis normais, para haver
mais centríolos. Esta molécula tem
mesmo de ser controlada, senão é
um perigo”, nota Mónica Betten-
court-Dias. “Os níveis são baixíssi-
mos. Nunca tinha sido assim quan-
tiÆcado.”
Na parte seguinte do trabalho, de
modelação matemática, entraram
Jorge Carneiro e Delphine Pessoa,
agora para prever como diferentes
concentrações da proteína PLK4
afectam a dinâmica da formação
dos centríolos e centrossomas.
Ver em tempo real o que aconte-
cia nos óvulos ao juntar-se-lhes a
proteína PLK4 trouxe ainda outras
novidades sobre a coreograÆa alta-
mente complexa da formação dos
centríolos e centrossomas. “Nor-
malmente, o centríolo aparece
primeiro e depois aparece a matriz
– que é o material que rodeia o cen-
tríolo, é uma espécie de casaco à
volta do centríolo. Esta matriz tem
também um papel na formação dos
centrossomas”, explica Mónica
Bettencourt-Dias.
O que Catarina Nabais observou
ainda nas experiências com as
moscas-da-fruta é que a importân-
cia daquele casaco não é menor.
“Se se retirasse a matriz do óvulo
da mosca-da-fruta, apareciam
muito menos centrossomas”,
explica Mónica Bettencourt-Dias.
“Esta matriz está altamente des-
controlada em muitos cancros. O
seu descontrolo também pode
estar associado ao aumento do
número de centrossomas, que
sabemos que estão associados ao
cancro, nomeadamente ao cancro
da mama”, adianta a directora do
IGC.
“Muitas vezes, a ciência avança
porque pessoas de laboratórios
diferentes discutem uma ques-
tão”, remata Mónica Bettencourt-
Dias. “Esta história é um exemplo
disso”, acrescenta Ivo Telley: “Bio-
logia, física e modelação matemá-
tica juntaram-se para resolver
perguntas feitas há mais de um
século.”
Da procura de respostas resultou
agora uma viagem não só às maqui-
netas internas das células, apanha-
das em Çagrante a formarem-se,
como à forma de trabalhar dos
cientistas, tantas vezes feita de aca-
sos felizes, que desta vez passaram
por Portugal, pelos Estados Unidos
e pela Índia. Quanto a Catarina
Nabais, após o doutoramento,
mudou-se para a Alemanha e tra-
balha agora no Instituto Max Planck
de Biologia Celular e Genética
Molecular, em Dresden. “Fui inca-
paz de me despedir da microscopia
e por isso estou a trabalhar como
especialista na unidade de micros-
copia óptica, ajudando outros cien-
tistas a utilizar diferentes micros-
cópios nos seus projectos.”
28 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Cultura Novos directores do Museu Gulbenkian e do Centro de Arte Moderna
“Se já passeiam
no jardim da
Gulbenkian,
porque é que
não entram
dez minutos
no museu?”
Após uma fusão “episódica”, Centro de
Arte Moderna e Museu Gulbenkian são
de novo entidades distintas. Benjamin
Weil quer mais visitantes, António Filipe
Pimentel quer mais curadores
Isabel Salema
A experiência dos últimos cinco
anos, em que o Museu Gulbenkian
esteve unido ao Centro de Arte
Moderna (CAM), está deÆnitivamen-
te enterrada, esclareceu ontem Isa-
bel Mota, presidente da Fundação
Gulbenkian, no Ænal da conferência
de imprensa de apresentação dos
novos responsáveis pelos espaços
museológicos da instituição.
Ladeada pelos novos directores
do Museu Gulbenkian e do CAM,
respectivamente António Filipe
Pimentel, ex-director do Museu
Nacional de Arte Antiga (Lisboa), e
Benjamin Weil, ex-director artístico
do Centro Botín (Santander), Isabel
Mota respondeu a uma pergunta do
PÚBLICO sobre as razões que leva-
ram a reverter aquela união, asse-
gurada nos últimos cinco anos pela
britânica Penelope Curtis: “O rever-
ter, no fundo, foi para o modelo que
sempre existiu. A razão principal
é que as redes internacionais
museológicas e universitárias do
Museu Gulbenkian são umas e as da
arte contemporânea são outras.
Obviamente que temos de fazer o
diálogo entre as duas colecções,
mas ele não é em si o propósito. Esta
é uma solução com mais possibili-
dades de abrir caminhos para as
nossas colecções e para o público.”
E concluiu: “A mudança foi episódi-
ca na vida da fundação.”
Guilherme d’Oliveira Martins,
administrador com o pelouro dos
museus, lembrou que “houve tam-
bém uma alteração de circunstân-
cias” após a decisão de ampliar os
jardins e o CAM. Com um projecto
do arquitecto japonês Kengo Kuma
e do paisagista libanês Vladimir Dju-
rovic, essa aposta traz novos desa-
Æos e ambição ao centro de arte: “O
novo CAM obriga a responder a
essas questões.”
Novas formas de cultura
As obras de reconversão do CAM ini-
ciaram-se, aliás, precisamente ontem,
estando previsto que acabem em
meados de 2022: “Ao termos a pro-
priedade do jardim desde a Rua Mar-
quês de Fronteira, pudemos ter a
satisfação de ainda ouvir dizer o sau-
doso arquitecto [paisagista] Gonçalo
Ribeiro Telles que estava muito satis-
feito, porque se reconstituía aquilo
que ele pensava que devia ser o par-
que Gulbenkian.”
Com um discurso em que mostrou
familiaridade com a história da Gul-
benkian, o francês Benjamin Weil, 58
anos, chegado há dois meses a Lisboa,
recordou a ligação do CAM à arte mais
experimental, nomeadamente atra-
vés do já extinto serviço Acarte, “que
foi capaz de cruzar fronteiras artísti-
cas, aproximando música, dança,
poesia e artes visuais”. Weil quer que
o CAM seja, como sempre foi, um
espaço comprometido com as novas
formas de cultura, procurando ao
mesmo tempo novas perspectivas de
olhar o passado, e para a história do
próprio CAM, a partir do presente.
“Não acredito nessa ideia de preen-
cher lacunas históricas”, explicou
mais tarde ao PÚBLICO.
Benjamin Weil vê também o CAM
como um ecossistema, inspirado nas
palavras de Vladimir Djurovic sobre
o parque. “Penso que é muito interes-
sante pensarmos como o jardim vai
ser acrescentado ao sul do edifício.
Vai mudar completamente a forma
como nos aproximamos da cultura.
Até agora entrávamos no CAM pela
rua, chegando directamente do con-
texto urbano a um espaço cultural,
mas vamos passar a ter de atravessar
o jardim. Através desse caminho,
vamos provavelmente abrandar o
ritmo e relacionar-nos com o espaço
e o tempo de maneiras diferentes.”
O seu programa, acrescentou, vai
basear-se na ideia de quanto tempo
cada pessoa pode gastar em cultura
num dia-a-dia cheio de solicitações:
dez minutos, meia hora, talvez duas?
“A ideia é que aos poucos o CAM faça
parte da vida quotidiana e não seja
apenas algo que se faz uma vez por
mês ou de seis em seis meses. Tal
como passeamos pelo jardim, tam- Benjamin Weil, o novo director
bém podemos passear pela institui- do Centro de Arte Moderna, e
ção.” O objectivo é desconstruir a António Filipe Pimentel, o novo
ideia de que as pessoas precisam director do Museu Gulbenkian
sempre de duas horas para visitar
um museu. “Se já passeiam no jar-
dim, porque é que não entram por
dez minutos?”
O francês terá como directora-ad-
junta Ana Botella Diez del Corral,
uma espanhola que trabalhou no
FACT de Liverpool e no londrino
Wellcome Trust e que deverá chegar A ideia é que
a Lisboa em Julho.
o CAM faça parte
Mais curadores? da vida quotidiana
António Filipe Pimentel, 61 anos, qua-
se dispensa apresentações, uma vez e não seja apenas
que passou a última década à frente algo que se faz
do Museu Nacional de Arte Antiga
(MNAA) e se tornou uma das vozes uma vez por mês
mais ouvidas da museologia nacional Benjamin Weil
(por vezes com alguma polémica à Director do CAM
mistura). “O Museu Gulbenkian tem
o privilégio de ter na sua colecção
highlights que vêm nos livros de his- O grande desaÄo
tória de arte, por isso as pessoas têm de um museu
de ter a noção do privilégio que isso
representa. Entre este museu e o destes é ter uma
MNAA têm os dois melhores museus interlocução
de Belas-Artes de Lisboa.”
Tal como quando chegou ao museu internacional ao
das Janelas Verdes em 2010, António nível da colecção
Filipe Pimentel, que só dará início à
sua programação temporária em António Filipe Pimentel
Outubro do próximo ano (Faraós Director do Museu Gulbenkian

Superstar ainda não decorre das suas
escolhas), quer também que o Museu
Gulbenkian faça parte “da vida quoti-
diana” e da “higiene mental” dos por-
tugueses. “Nessa altura terei cumpri-
do o meu objectivo”, disse, não dei-
xando também de referir a
importância do circuito turístico.
O novo director terá como adjunto
João Carvalho Dias, que até aqui fazia
parte da equipa curatorial do museu.
Dispondo actualmente de quatro
curadores, o mesmo número do
CAM, Pimentel espera ver esse núme-
ro reforçado: “O museu tem de cres-
cer humanamente. A equipa já era
muito pequena quando estava unida
e agora, ao ser dividida, [as lacunas]
expõem-se ainda mais. Isso é uma
consciência que a administração tem
e está na linha do horizonte.” Mas
como a colecção é muito diversiÆca-
da, nem todos os que vão trabalhar
com ela precisam de pertencer à
casa: “Importa fazer [esse trabalho]
a três níveis: alguns curadores [senio-
res], poucos; assistentes de curado-
res, mais jovens; e consultores exter-
nos, alguns com obrigação de produ-
ção cientíÆca e outros com
colaboração mais pontual. O grande
desaÆo de um museu destes é ter uma
interlocução internacional ao nível da
colecção. É fundamental fazer cres-
cer a equipa com essa capacidade.”
Isabel Mota aproveitou o momento
JOSÉ FERNANDES
para apresentar algumas mexidas
noutras direcções: Miguel Magalhães
chegou de Paris para dirigir o Progra-
ma Gulbenkian Cultura, que dá
apoios nas áreas da Literatura, das
Artes Performativas e do Cinema;
Nuno Vassallo e Silva substitui-lo-á na
delegação em França.
Numa apresentação em que todos
falaram na importância da diversida-
de cultural — a nova campanha da
fundação tem como lema Art Matters,
inspirada no movimento Black Lives
Matter —, a presidente da Fundação
Gulbenkian reconheceu que as quatro
novas cheÆas, todas homens brancos,
não espelham essas preocupações,
depois de o Museu Gulbenkian ter
sido dirigido durante cinco anos por
uma mulher: “Claro que é uma preo-
cupação nossa, mas também é impor-
tante não perder a noção de quem é
a melhor pessoa que pode desempe-
nhar o lugar naquele momento.”
Para assinalar o Dia Internacional
dos Museus, que se comemora hoje,
o Museu Gulbenkian vai reabrir a
renovada Sala Lalique, dedicada às
jóias e aos vidros do artista francês, a
quem acabou de dedicar uma expo-
sição temporária. Será a quarta reor-
ganização do espaço, que teve aqui
como mecenas exclusivo o banco
BFF, para uma colecção que conta
200 obras de René Lalique (1860-
1945), um inventor da jóia moderna.
Filomena Cautela
volta à RTP1 com
Programa Cautelar
Rodrigo Nogueira
Após 5 para a Meia-noite,
o formato que se estreia
no dia 29 junta informação
e humor, dissecando um
tema por episódio
Foi em Junho do ano passado que
Filomena Cautela se retirou da apre-
sentação do programa 5 para a Meia-
noite, deixando Inês Lopes Gonçal-
ves sozinha aos comandos do talk
show nocturno da RTP. Ontem à tar-
de, Æcou a saber-se tudo sobre o
novo formato televisivo que a apre-
sentadora e actriz terá na RTP1. Cha-
ma-se Programa Cautelar e tem
estreia marcada para um sábado, dia
29, às 21h. O programa de 45 minu-
tos juntará informação e humor; em
cada um dos seus episódios, abor-
dará, com factos e análise, um tema
importante do momento.
O episódio de estreia será dedica-
do à desinformação online, explicou
a apresentadora ao PÚBLICO, por
telefone. Os seguintes abordarão “a
guerra das audiências”, numa ten-
tativa de “tentar perceber se o que
se consome na televisão é ou não um
retrato do nosso país”, e o racismo.
O terceiro Programa Cautelar con-
vocará opiniões de “especialistas” e
procurará os “factos” disponíveis
“para detectar se há ou não um pro-
blema de racismo institucional em
Portugal”.
A equipa de escrita do programa,
diz a apresentadora, inclui “jorna-
listas e guionistas”, sendo a poule de
jornalistas constituída por Marisa
Feio, Tiago Palma, Tiago Durão e
Arlindo Costa e estando a escrita de
Debater temas complexos não é só para a elite, diz Filomena Cautela
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 29
argumento a cargo de Susana Roma-
na, Maria João Cruz, Ana Ribeiro,
Mariana Garcia e Pedro Durão. “A
dinâmica de trabalho passa sempre
por uma pesquisa inicial, aprofun-
dada, em relação ao tema”, conta
Filomena Cautela. Após “várias reu-
niões de discussão”, decide-se qual
é “o busílis”, ou seja, “uma explica-
ção do tema que possa chegar ao
máximo de pessoas possível”.
Um debate acessível a todos
“Partimos da premissa de que infor-
mações e assuntos complexos
podem e devem chegar a todos e que
aprofundar assuntos não tem de ser
só para elites, principalmente numa
era em que todas as pessoas podem
ter uma opinião pública sobre um
assunto”, argumenta Filomena Cau-
tela. “O objectivo” do novo progra-
ma, aÆrma, “é que as pessoas pos-
sam divertir-se e sorrir enquanto
estão a pensar”.
Cautela afasta as comparações que
a sinopse do programa pode sugerir
com um formato como Last Week
Tonight with John Oliver, o popular
programa da HBO. “O único ponto
comum que podemos estabelecer é
que ele fala dos assuntos de uma for-
ma mais aprofundada do que os
outros talk shows. De resto, não há
grandes semelhanças. Além de ele
desenvolver mais do que um tema
durante cada programa”, comenta
a apresentadora.
Cada Programa Cautelar contará
com um ou mais convidados. Virão
eles mais do entretenimento e do
humor, como costuma acontecer na
emissão de John Oliver, do que da
informação? “Às vezes sim, às vezes
não”, responde a apresentadora.
RICARDO LOPES
Cultura
Discovery e
AT&T unem-se
contra Netflix
e Disney+
Fusão de 43 mil milhões de
dólares surge numa altura
em que os espectadores se
viraram para o streaming
durante o confinamento
A AT&T, dona da HBO e dos estúdios
da Warner Bros, e a Discovery, que
engloba canais televisivos de lifestyle
como a HGTV e a TLC, anunciaram
ontem que vão juntar conteúdos para
criar um negócio de entretenimento
e de media independente.
O chefe executivo da Discovery,
David Zaslav, vai liderar a nova empre-
sa, que terá na sua esfera um dos estú-
dios mais poderosos de Hollywood,
cuja carteira inclui os franchises das
sagas Harry Potter e Batman, o canal
noticioso CNN, programas desporti-
vos e programação da Discovery
sobre culinária, natureza e ciência.
Após o anúncio, as acções da Dis-
covery, que deterá 29% da nova
empresa, subiram 16%, para 41,3
dólares, enquanto as da AT&T, que
controlará 71% do negócio, subiram
cerca de 4%, para 33,67 dólares.
A AT&T já declarou que vai usar 43
mil milhões de dólares, obtidos com
a isenção de impostos do desmem-
bramento dos seus activos de media,
para pagar dívidas de mais de 160 mil
milhões de dólares.
O nome da nova empresa vai ser
revelado esta semana, mas outros
detalhes, incluindo o futuro papel do
CEO da WarnerMedia, Jason Kilar,
ainda terão de ser acertados, segundo
avançaram alguns executivos depois
do anúncio do negócio.
A decisão de ontem representa um
novo patamar após a compra da Time
Warner em 2018 pela AT&T, e acom-
panha a passagem dos espectadores
de televisão para o streaming, campo
no qual é necessária uma grande
escala para ultrapassar a NetÇix e a
Walt Disney [Disney+]. No total, a
nova empresa vai gastar cerca de 20
mil milhões de dólares em conteúdos,
mais do que os 17 mil milhões que a
NetÇix investirá este ano.
“A combinação horizontal propos-
ta vai criar um gigante distribuidor
de conteúdo global, unindo os
melhores conteúdos noticiosos e o
entretenimento da Warner Media
com a programação líder da Disco-
very”, diz Keith Snyder, da CFRA
Reasearch. O negócio não é sur-
preendente, acrescenta, devido à
pressão sobre a televisão tradicional
que a pandemia trouxe, ao pôr os
espectadores a assistir incessante-
mente a programas em plataformas
de streaming. Reuters
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MECENAS PARCEIROS APOIOS


“Raspadinha” do património avança hoje,
Dia Internacional dos Museus
Sérgio C. Andrade
Ministério da Cultura e
Santa Casa da Misericórdia
desvalorizam possíveis
impactos sociais da nova
lotaria, que custa um euro
Sem qualquer aviso prévio ou cam-
panha publicitária, mas de acordo
com o que tinha sido anunciado e em
cumprimento do Orçamento do
Estado, a Santa Casa da Misericórdia
de Lisboa (SCML) põe hoje à venda a
“raspadinha” do património.
Numa parceria com aquela orga-
nização que já fez correr polémica,
o Ministério da Cultura (MC) propõe-
se reforçar os meios de salvaguarda
e valorização do património cultural
do país, para o qual prevê angariar
com a “raspadinha” lançada neste
Dia Internacional dos Museus cinco
milhões de euros anuais.
“ConÆrma-se que, a partir [de
hoje], a Lotaria Instantânea do Patri-
mónio começará a estar disponível
nos mediadores dos Jogos Santa Casa
que tenham efectuado a respectiva
encomenda”, respondeu ao PÚBLI-
CO o gabinete de comunicação da
SCML, acrescentando não estar pre-
vista “qualquer campanha especíÆ#
ca, para além da exposição nos pos-
tos de mediação dos Jogos”.
De facto, no site da SCML, nada
Morreu Paulo Gaio Lima, o violoncelista que respirava música
Sérgio C. Andrade
Músico e professor
aclamado, era uma
referência na interpretação
e na pedagogia do
violoncelo em Portugal
Paulo Gaio Lima, um dos mais con-
ceituados violoncelistas portugueses,
professor da Academia Nacional
Superior de Orquestra, morreu
ontem, aos 60 anos, de doença onco-
lógica. Estava internado no Hospital
da Luz, em Lisboa.
“Mais do que o seu primeiro-vio-
loncelo durante cerca de uma déca-
da [1992-2000], o Paulo Gaio Lima
foi co-responsável, com o maestro
Miguel Graça Moura, pelo projecto
e pela dimensão também pedagógica
da [Orquestra] Metropolitana de Lis-
boa [OML]”, realça o maestro e com-
anuncia a emissão desta nova “raspa-
dinha”, que passará a ser vendida ao
preço unitário de um euro. Muito
menos há qualquer alusão à polémi-
ca que em torno dela se criou, na
sequência dos alertas de alguns estu-
dos — nomeadamente do Serviço de
Intervenção nos Comportamentos
Aditivos e nas Dependências (SICAD)
— que apontam para a dependência
do jogo em várias camadas da popu-
lação, nomeadamente as de maior
carência económica e social.
Foi nesse sentido que se manifes-
tou, de resto, o presidente do Conse-
lho Económico e Social (CES), o socia-
lista Francisco Assis, que anunciou,
em Março, o lançamento de um estu-
do sobre os impactos sociais destes
jogos. A direcção desse projecto foi
conÆada ao economista Luís Aguiar-
Conraria, acompanhado pelo psiquia-
tra Pedro Morgado, ambos investiga-
dores da Universidade do Minho.
Ao PÚBLICO, Aguiar-Conraria diz
que o projecto “está quase ultima-
do”, faltando apenas “alguns porme-
nores em relação ao inquérito”, e
também “o Ænanciamento para ele
poder avançar”, responsabilidade
que remete para o CES. Até ao fecho
desta edição, o PÚBLICO não conse-
guiu falar com Francisco Assis.
O coordenador do projecto avança
ainda que a equipa incluirá mais dois
elementos, um psicólogo e um eco-
nomista, a quem caberá realizar “um
positor Pedro Amaral. “Foi um gran-
de professor e uma referência na
pedagogia do violoncelo em Portu-
gal”, acrescenta o também ex-di-
rector artístico da OML.
Nascido no Porto, formou-se no
Conservatório de Música da cidade,
com Madalena Sá e Costa, e comple-
tou a sua formação no Conservatório
Superior de Paris, onde foi aluno de
Maurice Gendron. “Foi um dos pri-
meiros grandes instrumentistas por-
tugueses da geração do último quar-
tel do século XX a ir para o estrangei-
ro e a formar-se na capital francesa.
Aí trabalhou sobretudo associado a
grupos de música contemporânea
como os ensembles Alternance, 2E2M
e L’Itinéraire, ligados ao movimento
espectral”, nota Pedro Amaral.
No regresso a Portugal, em para-
lelo com a sua carreira de instrumen-
tista (fundou com Aníbal Lima e
António Rosado o Artis Trio e mais
estudo profundo”, incluindo uma
primeira avaliação médica, “para
perceber qual é a prevalência do jogo
patológico na população portugue-
sa”. “Numa segunda fase, iremos
contactar pessoas que jogam e tentar
fazer ressonâncias magnéticas para
perceber como é que o cérebro delas
funciona” face ao apelo das “raspadi-
nhas’”, adianta.
Ao PÚBLICO, em Março, o prove-
dor da SCML, Edmundo Martinho,
desvalorizou o fenómeno. Mas mos-
trou-se disponível para ceder ao CES
a informação que a instituição tem
recolhido. “Não temos qualquer
Receita da nova “raspadinha” destina-se à salvaguarda patrimonial
tarde, em 2006, o Trio.pt), Paulo
Gaio Lima “devolveu aquilo que o
destino lhe proporcionou com uma
formação de altíssimo nível, que pas-
sou a três gerações de novos violon-
celistas”, sublinha o maestro e com-
positor, citando como exemplos
dessa descendência os actuais pri-
meiros-violoncelos da Orquestra
Gulbenkian, Marco Pereira, e OML,
Nuno Abreu. “Muitos dos violonce-
listas que hoje dão cartas em Portu-
gal estudaram com o Paulo, que lhes
trouxe uma exigência de formação
absolutamente ímpar.”
“É uma notícia muito triste, por-
Paulo Gaio Lima
foi discípulo de
Madalena Sá
e Costa e viria
a tornar-se
também um
pedagogo
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 31
O lançamento da
nova “raspadinha”,
que será vendida
ao preço unitário
de um euro, não
foi precedido
de qualquer
campanha
publicitária
PAULO PIMENTA
que o Paulo fez parte da minha vida
musical desde muito novo. Respirava
música por todos os lados”, diz por
sua vez o pianista Pedro Burmester,
que começou a cruzar-se com Paulo
Gaio Lima, quando ambos eram
estudantes, na casa das irmãs Sá e
Costa (Pedro foi aluno de Helena;
Paulo, de Madalena).
Viriam depois a tocar juntos mui-
tas vezes, especialmente em trio,
com o violinista Gerardo Ribeiro.
Foi, de resto, com esta formação, e
com a OML dirigida por Miguel Gra-
ça Moura, que gravaram o Triplo
concerto para piano, violino e violon-
celo em Dó maior op 56 de Beethoven,
um dos discos que Burmester mais
guarda na memória.
“O Paulo era daquelas raras pes-
soas com quem se cria logo uma
empatia pessoal e musical. Era um
talento, alguém para quem a música
era tão natural como respirar”,
Cultura
estudo que indique que a ‘raspadi-
nha’ é um vício, o que não quer dizer
que não possa haver pessoas com
esse problema”, disse então.
A SCML disse ontem ao PÚBLICO
ter tido “conhecimento da realização
do anunciado estudo através dos
meios de comunicação social, não
tendo recebido qualquer contacto
prévio por parte do CES ou de qual-
quer investigador”. E reaÆrmou a
disponibilidade para “colaborar e
prestar toda a informação necessá-
ria”. Acrescentou ter sido já “contac-
tada por um dos investigadores a
solicitar informação aos Jogos Santa
Casa, mas não sobre a Lotaria do
Património em concreto”.
Luís Aguiar-Conraria conÆrma ter
pedido o estudo que a SCML diz rea-
lizar habitualmente sobre os hábitos
de jogo da população portuguesa,
mas sem sucesso. “Disseram que só
o disponibilizariam ao presidente do
CES”, diz, considerando que essa
recusa conÆgura “uma interferência
inaceitável” no trabalho que a sua
equipa se propõe realizar.
O investigador separa a sua opi-
nião “política” sobre a “raspadinha”
do património do estudo que agora
vai coordenar. “Enquanto cidadão,
acho que não deviam ter avançado,
mas, enquanto investigador, [isso] é
irrelevante. As ‘raspadinhas’ existem
há vários anos, e vão continuar a
existir.”
acrescenta o pianista. “Ao longo da
vida, cruzamo-nos com grandes ins-
trumentistas, mas aqueles com quem
a gente se senta a fazer música e qua-
se não precisa de dizer nada são
raros, e o Paulo era um deles. Tinha
uma força tão grande e tão intensa
que tocar com ele era fácil.”
Burmester recorda também a últi-
ma vez que tocaram juntos, no Outo-
no de 2019, em Gondomar, com uma
sonata de Rachmaninoè. “As memó-
rias que Æcam são tão felizes que vou
lembrar-me sempre dele com um
sorriso”, despede-se o pianista.
Da discograÆa de Paulo Gaio Lima,
destacam-se ainda gravações de con-
certos de L. Boccherini, Brahms
(com Gerardo Ribeiro) e Schumann,
assim como obras do repertório
camerístico português. Devem-se-
lhe ainda primeiras audições de
obras de Pascal Dusapin, Philippe
Hersant e Carlos Marecos.
32 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Guia
leituras
publico.pt/leituras
Entrem a bordo,
convida Patti Smith!
Isabel Coutinho
Uma newsletter, um diário
da pandemia (só para
assinantes) e mensagens
num podcast são as
novidades que Patti nos traz
Quando a cantora, compositora e
escritora Patti Smith anunciou ao
mundo o seu novo projecto, a sua
newsletter e podcast na plataforma
online Substack, que facilita a vida a
escritores que queiram iniciar uma
newsletter por email com a qual
podem ganhar dinheiro através de
subscrições, fê-lo através de um
vídeo na rede social Instagram.
São nove minutos e meio, onde,
entusiasmada, na véspera de tomar
a segunda dose da vacina contra a
covid-19, nos explica que semanal-
mente enviará posts que poderão ser
pequenos ensaios sobre um livro
que leu ou um Ælme que viu, uma
explicação sobre determinada can-
ção que escreveu, algumas imagens
das fotograÆas que tira (como das
suas meias preferidas com uma abe-
lha bordada, feitas no Japão), do
livro de recortes que a sua mãe fazia
juntando tudo o que se relacionava
com a carreira da Ælha ou dos seus
caderninhos… Este material está
disponível para quem se inscrever
na plataforma, gratuitamente, colo-
cando lá o seu email (que só ela vê,
assegura). São “ruminações sema-
nais, fragmentos de poesia, música
e reÇexões sobre qualquer assunto”,
como explica numa das suas news-
letters a artista de 74 anos.
Mas há outra modalidade, a das
assinaturas (“não é muito dinheiro,
mas é dinheiro”, aÆrma no vídeo),
com acesso ao “diário da minha pan-
demia”, que iniciou a 7 de Abril de
2020. Quem assinar o projecto que
se iniciou a 31 de Março passado, por
sete dólares por mês, receberá mate-
rial original que Patti Smith escreveu
em 2020, durante o primeiro ano da
pandemia de covid-19, em que no
conÆnamento mais severo, contou
num dos textos no Substack, sonha-
va que estava a bordo de aviões.
“Ninguém viu ou leu este material
além de mim, mas os assinantes
terão acesso a ele. Estou a escrever
os meus livros, e eles são preciosos,
mas também escrevo todos os dias
A cantora, compositora e escritora Patti Smith
no café, ou onde for, nos meus
cadernos de apontamentos. Desta
maneira, se vocês assinarem, os lei-
tores serão o meu caderno de apon-
tamentos, deixarei de estar a escre-
ver só para mim, estarei a escrever
para os leitores. Espero que entrem
a bordo, estou feliz com isto”, vai
dizendo Patti Smith, que explica
também que, apesar de gostar de
estar no Instagram, onde criou uma
“boa comunidade”, o Substack vai
permitir-lhe que possa escrever
“uma meditação sobre Sylvia Plath”
ou um texto sobre “as propriedades
curativas da curcuma” sem limita-
ções de espaço. Tudo isto no meio
de gargalhadas (dela e nossas) pela
sua incapacidade de escrever a
morada da plataforma pattismith.
substack.com num papel sem que a
imagem aparecesse invertida quan-
do a queria mostrar no vídeo.
São “ruminações
semanais,
fragmentos de
poesia, música
e reÅexões sobre
qualquer
assunto”,
diz a artista
DAN HIMBRECHTS/EPA
Foi no dia 6 de Abril que Patti
Smith enviou aos assinantes a pri-
meira parte de The Melting, aquilo a
que chama o seu primeiro trabalho
em folhetim, tal como Arthur Conan
Doyle e Charles Dickens faziam. Já
com seis partes publicadas, é possí-
vel agora ir andando virtualmente
para a frente e para trás do folhetim
como se de um livro se tratasse. Mas
o email com The Melting chega às
caixas do correio às terças-feiras e
os posts 100 Cities series às sextas-
feiras (um deles é sobre a cadeira de
Roberto Bolano, que ela fotografou
na Catalunha).
E quando passou um mês da aber-
tura do Patti Smith Substack, tive-
mos May Day, uma mensagem em
áudio com um poema de Philip
Larkin declamado por Patti Smith,
que em 2010 recebeu o National
Book Award por Just Kids, que está
traduzido em português pela Quet-
zal, que lhe publica por cá a obra,
como Apenas Miúdos (2011), e depois
desse livro de memórias já editou M
Train (2016), Devoção (2019) e O Ano
do Macaco (2020). Este mês de Maio
tem sido dedicado a Bob Dylan, tem
contado algumas histórias que se
passaram com os dois, divulgado
algumas fotograÆas, uma maneira
de celebrar os 80 anos que o Prémio
Nobel da Literatura 2016 vai fazer no
próximo dia 24 de Maio.
Daqui a um mês
Nos dias 17, 18 e 19 de Junho, acontece o Lisbon Revisited – Dias
de Poesia, online e na Casa Fernando Pessoa. Conceição Lima
(São Tomé e Príncipe), Jan Wagner (Alemanha), Luís Fillipe Castro
Mendes (Portugal), Miguel-Manso (Portugal), Regina Guimarães
(Portugal), Rita Taborda Duarte (Portugal), Ron Padgett (EUA)
e Samira Negrouche (Argélia) são os poetas convidados
Grand Hotel
Europa
Autoria: Ilja
Leonard Pfeijffer
(Tradução de
Maria Leonor
Raven, Editora
Livros do Brasil,
568 págs., 22€
Nas livrarias a 20 de Maio)
Ilja Leonard Pfeijffer é um autor
dos Países Baixos que vive em
Itália, escreveu por isso um
romance, Grand Hotel Europa,
que nos fala de um amor vivido
em Veneza, de uma busca da
última pintura de Caravaggio, da
identidade europeia, nostalgia e
turismo de massas. No seu
Facebook, o linguista e escritor
Fernando Venâncio, que se
doutorou e viveu nos Países
Baixos, disse ser este um
romance excepcional e escreveu:
“São 568 páginas duma história
que nos leva de entusiasmo em
entusiasmo, de encantamento
em encantamento, este Grand
Hotel Europa, do romancista
holandês Ilja (leia “ília”) Leonard
Pfeijffer (leia “pfáifer”), numa
excelente tradução de Maria
Leonor Raven”.
O Desassossego
da Noite
Autoria: Marieke
Lucas Rijneveld
(Tradução de
Patrícia Couto
Ed. Dom
Quixote; 272
págs., 15,50€,
nas livrarias a 18 de Maio)
Marieke Lucas Rijneveld (n.
1991), natural dos Países Baixos e
que se identifica como pessoa
não-binária, venceu o Man
Booker International Prize em
2020, com a tradução inglesa
deste romance. O Desassossego
da Noite, que nos conta a história
de uma família, conservadora e
devota, que se desmorona a lidar
com uma tragédia e a sobreviver
ao luto, recebeu também o ANV
Debutantenprijs. Marieke
trabalha numa vacaria e, em
2015, estreou-se com a
colectânea de poemas Kalfsvlies,
galardoada com o Prémio C.
Buddingh para melhor estreia.
Pelo segundo livro de poesia,
Fantoommerrie (2019), recebeu o
Prémio Ida Gerhard e este ano
desistiu de traduzir Amanda
Gorman, depois da polémica que
surgiu por ter sido escolhida
uma pessoa branca para traduzir
uma autora negra.
Bairro
Sem Saída
Autoria:
Fernando
Ribeiro
(Editora Suma
de Letras; 208
págs., 17,70€,
Nas livrarias
a 18 de Maio)
Bairro Sem Saída é o primeiro
romance de Fernando Ribeiro, o
vocalista da banda Moonspell,
que já publicou três livros de
poesia e um de contos. A acção
de Bairro Sem Saída decorre no
bairro da Brandoa, nos
arredores da Amadora, onde o
músico e escritor foi criado. Diz
a editora que no livro o realismo
mágico é transformado em
“matéria suburbana, pintada em
tons de profundo negro.”
Começa assim: “Não leves a
manta, não. Nunca saí do Bairro.
Desta terra onde o sangue
nunca seca. Aqui estou. Sinto o
sujo da calçada. Sinto os fios de
água que escorregam pelas
frestas entre as pedras. Sinto-os
como se fossem o sangue que
me circula acima-abaixo pelas
veias.”
Mundo
Subterrâneo:
Uma Viagem
Pelas
Profundezas do
Tempo
Autoria: Robert
Macfarlane; Ed.
Elsinore; 464 págs., 24.99€)
“Sabemos tão pouco acerca
dos mundos sob os nossos pés.
Se olharmos para cima numa
noite sem nuvens, talvez
vejamos a luz de uma estrela a
milhares de biliões de
quilómetros de distância ou
descortinemos as crateras
deixadas pelo impacte de
asteróides na superfície da Lua.
Se olharmos para baixo, os
nossos olhos não passam do
húmus, do alcatrão ou da ponta
dos pés”, escreve o escritor
britânico Robert Macfarlane em
Mundo Subterrâneo, que
venceu o Prémio Stanford
Dolman para Melhor Livro de
Viagens de 2020 e foi vencedor
do National Outdoor Book
Award. Macfarlane conduz-nos
“numa viagem épica de
exploração ao mundo
subterrâneo da Terra, tal como
ele existe no mito, na literatura,
na memória e na ciência”,
descreve a editora.

Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040
Nomadland - Sobreviver na América 15h35,
17h45, 20h; Minari M12. 15h25, 17h40, 19h55;
O Pai M12. 15h30, 17h30, 19h45; Caros
Camaradas! 17h20; Mais Uma Rodada
20h10; Tom e Jerry M6. 15h20 (V.P.)
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 17h35,
20h30; Nomadland 15h20, 17h30, 20h20; O
Pai M12. 15h50, 17h50, 20h10; Godzilla vs.
Kong M12. 15h15, 17h45; Mais Uma Rodada
20h; Uma Miúda com Potencial M16. 20h05;
Tom e Jerry M6. 15h45 (V.P.); Aqueles Que
Me Desejam a Morte M14. 15h25, 17h25,
20h25; Raya e o Último Dragão M6. 15h40,
17h55
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Nomadland - Sobreviver na América
20h45; Minari M12. 18h30; Caros
Camaradas! 16h15; Mais Uma Rodada 14h
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 13h45,
16h50, 19h50; Jantarada de Amigos 14h05,
16h30, 19h; Monster Hunter M12. 14h, 16h45,
19h35; Mortal Kombat M16. 19h25;
Nomadland 13h15, 16h15, 18h55; Minari
M12. 13h25, 16h, 18h40; O Pai M12. 14h20,
17h, 19h40; Godzilla vs. Kong M12. 13h40,
16h40, 20h; Mais Uma Rodada 13h35, 16h25,
19h05; Santuário das Sombras M16. 14h30,
17h20, 20h10; Tom e Jerry M6. 13h20, 15h50
(V.Port./2D), 18h50(V.Orig./2D); Aqueles Que
Me Desejam a Morte M14. 14h10, 16h55,
19h45; Raya e o Último Dragão M6. 13h50,
16h35 (V.Port./2D)
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Nomadland 14h, 16h50, 19h40; Minari M12.
13h20, 16h, 19h10; O Pai M12. 13h20, 15h40,
18h, 20h20; Godzilla vs. Kong M12. 13h40,
16h30, 19h30; Mais Uma Rodada 20h10;
Tom e Jerry M6. 13h, 15h20, 17h40 (V.
Port./2D); Aqueles Que Me Desejam a
Morte M14. 14h30, 17h20, 20h;
Charlatão M16. 19h50; Raya e o Último
Dragão M6. 14h10, 17h (V.Port./2D)
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 13h20,
15h40, 18h, 20h20; Monster Hunter M12.
12h50, 15h20, 17h40, 20h; Mortal Kombat
M16. 19h40; Nomadland 14h, 17h; O Pai M12.
13h05, 15h35, 18h05, 0h05; Godzilla vs.
Kong M12. 13h, 16h10, 19h20; Santuário das
Sombras M16. 13h40, 16h, 20h30; Tom e
Jerry M6. 13h10, 15h30, 17h50 (V.P.); Aqueles
Que Me Desejam a Morte M14. 14h10, 17h20,
19h50; Monster Hunter M12. Sala IMAX -
13h30, 15h50, 18h10, 20h35
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 13h10,
15h50, 18h15, 20h40; Nomadland -
Sobreviver na América 20h20; O Pai M12.
13h20, 15h40, 18h, 20h30; Godzilla vs. Kong
M12. 14h30, 17h30, 20h10; Tom e Jerry M6.
15h20, 17h50 (V.Port./2D); Aqueles Que Me
Desejam a Morte M14. 13h50, 16h40,
20h; Raya e o Último Dragão M6. 13h40 (V.
Port./2D)
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
O Criado M12. 12h30; Eva M12.
20h; Monsieur Klein 15h; Minari M12.
10h15; Charlatão M16. 17h30
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 14h20,
16h35, 20h25; Manual da Boa Esposa 16h05,
18h40; Monster Hunter M12. 14h30, 17h10,
20h10; O Amor é Uma Aventura M12. 13h30,
17h35; Nomadland 13h45, 16h40,
Estreias
Jantarada
de Amigos
Minari
De Lee Isaac Chung. Com Alan
Kim, Yeri Han, Noel Kate Cho.
EUA. 2020. 115m. Drama. M12.
Década de 1980. David, de sete
anos, muda-se com os pais,
imigrantes sul-coreanos, para
uma zona rural do Arkansas. A
vida ali é difícil e os pais arriscam
todas as poupanças ao tentar
criar uma quinta em solo
inexplorado.
Charlatão (na foto)
De Agnieszka Holland. POL/
IRL/Eslov./República Checa.
2020. 118m. Drama. M16.
Nascido em 1889, desde muito
jovem que Jan Mikolášek se
dedicou a curar todo o tipo de
enfermidades, usando
maioritariamente plantas
medicinais.
Jantarada de Amigos
De Nicol Paone. CEUA. 2020.
95m. M12, Comédia. M12.
Decididas a curar as feridas de
uma separação recente, duas
amigas optam por comemorar
juntas o Dia de Acção de Graças.
Monster Hunter
De Paul W. S. Anderson. ALE/
China/JAP. 2020. Acção. M12.
Um grupo de soldados está numa
missão de resgate de uma equipa
que desapareceu. Durante as
buscas, vêem-se transportados
para um mundo desconhecido.
Spiral - O Novo Capítulo de Saw
De Darren Lynn Bousman. EUA.
2020. 93m. Terror. M18.
Dois detectives são incumbidos de
investigar vários homicídios que
parecem estar relacionados com
um assassino em série que já antes
revelou níveis de extrema
crueldade.
The Reckoning
O Derradeiro Julgamento
De Neil Marshall. GB. 2020. 110m.
Drama, Acção, Histórico. M16.
O ano é 1665. Em Londres, vive-se o
terror da Grande Peste.
Conhecendo a pobreza em que uma
jovem viúva se encontra, o senhorio
tenta seduzi-la. Ela recusa-o, e ele,
por despeito, acusa-a de bruxaria.
Aqueles Que
Me Desejam a Morte
De Taylor Sheridan. CAN/EUA.
2021. 100m. Thriller. M14.
Connor, de 12 anos, assiste ao
assassinato do pai por dois
desconhecidos. Na fuga, cruza-se
com uma bombeira que se
encontrava na torre de vigia quando
tudo aconteceu.
O Mensageiro
De Joseph Losey.
GB. 1970. 113m. Drama. M12.
Esta história de um amor não
correspondido, desaÆando a
inÇexível estrutura social, passa-se
em Norfolk, um meio rural, e é
contada por Leo Colston.
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 33
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
19h40; Minari M12. 14h50, 16h20, 17h25,
20h; O Pai M12. 14h, 15h40, 18h, 19h20,
20h20; Godzilla vs. Kong M12. 14h45, 17h20,
19h55; Mais Uma Rodada 13h35, 16h15,
19h; Uma Miúda com Potencial M16. 15h55,
19h10; Santuário das Sombras M16. 15h15,
20h05; Tom e Jerry M6. 13h50, 16h25 (V.
Port./2D), 18h50 (V.Orig./2D); Aqueles Que
Me Desejam a Morte M14. 15h20, 17h55,
20h15; Charlatão M16. 14h10, 16h50, 19h30
Barreiro
Castello Lopes - Fórum Barreiro
Campo das Cordoarias. T. 212069440
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 15h25,
17h30, 19h35; Godzilla vs. Kong M12. 15h35,
17h55, 20h15; Tom e Jerry M6. 15h20, 17h30,
19h40 (V.Port./2D)
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
CascaiShopping-EN 9, Alcabideche. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 12h50,
15h20, 17h55, 20h30; Monster Hunter M12.
14h, 17h20, 19h55; Nomadland - Sobreviver
na América 20h10; O Pai M12. 13h15, 15h30,
17h45, 20h15; Godzilla vs. Kong M12. 13h30,
17h, 19h45; Santuário das Sombras M16.
18h, 20h25; Tom e Jerry M6. 12h45, 15h05,
17h30 (V.Port./2D); Aqueles Que Me
Desejam a Morte M14. 13h45, 16h30,
19h20; Raya e o Último Dragão M6. 13h05,
15h40 (V.Port./2D); Monster Hunter M12.
Sala IMAX - 13h, 15h25, 17h50, 20h20
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I. T. 215887311
Nomadland - Sobreviver na América 14h10,
16h15, 18h20, 20h25; Minari M12. 15h45, 18h,
20h15; O Pai M12. 14h50, 16h45, 18h40,
20h35; Caros Camaradas! 17h30, 20h; Mais
Uma Rodada 15h15
Sintra
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 15h10,
17h15, 19h20; Monster Hunter M12. 15h55,
18h10, 20h25; Mortal Kombat M16. 17h45;
Nomadland - Sobreviver na América 15h20,
17h30, 19h40; Godzilla vs. Kong M12. 15h35,
17h55, 20h15; Tom e Jerry M6. 15h20, 17h30,
19h40 (V.Port./2D); Raya e o Último
Dragão M6. 15h50, 18h, 20h15 (V.Port./2D)
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 16h30,
18h40, 20h50; Monster Hunter M12. 15h30,
18h10, 20h30; Nomadland 18h20; O
Pai M12. 17h40; Godzilla vs. Kong M12.
15h10, 17h50, 20h20; Santuário das
Sombras M16. 20h10; Tom e Jerry M6.
15h50, 18h (V.Port./2D); Aqueles Que Me
Desejam a Morte M14. 16h, 20h40; The
Reckoning M16. 15h20, 20h
Montijo
Cinemas Nos Alegro Montijo
C. C. Alegro Montijo. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 12h40,
15h, 17h20, 20h10; Monster Hunter M12.
12h55, 15h20, 17h40, 20h; Nomadland 13h,
20h25; O Pai M12. 13h20, 15h40, 18h,
20h20; Godzilla vs. Kong M12. 13h50, 16h40,
19h50; Santuário
das Sombras M16.
20h30; Tom e
Jerry M6. 13h30,
15h50, 18h10 (V.
Charlatão Port./2D); Raya
e o Último
Dragão M6.
Guia
15h30, 17h55 (V.Port./2D)
Odivelas
Cinemas Nos Odivelas Strada
C.C. Strada Shopping. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 14h30,
17h, 20h; Monster Hunter M12. 14h, 16h30,
19h30; Mortal Kombat M16.
20h10; Nomadland - Sobreviver na
América 18h, 20h20; Godzilla vs. Kong M12.
13h40, 16h, 18h45; Tom e Jerry M6. 12h50,
15h, 17h30 (V.Port./2D); Raya e o Último
Dragão M6. 13h20, 15h40 (V.Port./2D)
Oeiras
Cinemas Nos Oeiras Parque
C. C. Oeirashopping. T. 16996
Nomadland 13h45, 16h15, 19h; Minari M12.
14h30, 17h, 20h; O Pai M12. 13h20, 15h45,
18h10, 20h30; Godzilla vs. Kong M12. 14h45,
17h30, 20h10; Mais Uma Rodada
19h30; Tom e Jerry M6. 14h, 16h30 (V.
Port./2D); Aqueles Que Me Desejam a
Morte M14. 13h10, 15h20, 17h50, 20h20
Torres Novas
Castello Lopes - TorreShopping
Bairro Nicho - Ponte Nova. T. 249830752
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 15h25,
17h30, 19h35; O Pai M12. 15h20, 17h30,
19h40; Godzilla vs. Kong M12. 15h35,
20h15; Tom e Jerry M6. 17h55 (V.Port./2D)
Torres Vedras
Cinemas Nos Torres Vedras
C.C. Arena Shopping. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 13h45,
17h, 20h, 20h15; Monster Hunter M12. 13h30,
16h30, 19h30; Nomadland - Sobreviver na
América 14h, 20h15; O Pai M12. 14h30, 17h15,
19h45; Godzilla vs. Kong M12. 14h15, 16h45,
19h15; Tom e Jerry M6. 17h30 (V.Port./2D)
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 15h10,
17h15, 19h20; Monster Hunter M12. 15h55,
18h10, 20h25; Nomadland 18h; O Pai M12.
15h30, 17h40, 19h50; Godzilla vs. Kong M12.
15h35, 17h55, 20h15; Uma Miúda com
Potencial M16. 20h15; Tom e Jerry M6.
15h20, 17h30, 19h40 (V.Port./2D); Raya e o
Último Dragão M6. 15h45 (V.Port./2D)
Faro
Cinemas Nos Fórum Algarve
C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
Nomadland - Sobreviver na
América 19h40; Minari M12. 12h50, 17h50,
20h15; O Pai M12. 13h10, 15h40, 18h10,
20h30; Godzilla vs. Kong M12. 12h40, 15h10,
17h40, 20h10; Tom e Jerry M6. 12h30, 14h55,
17h15 (V.Port./2D); Aqueles Que Me Desejam
a Morte M14. 13h, 15h30, 18h, 20h20
Tavira
Cinemas Nos Tavira
R. Almirante Cândido dos Reis. T. 16996
Spiral - O Novo Capítulo de Saw M18. 14h40,
17h30, 20h20; Jantarada de Amigos 14h10,
17h, 19h50; Monster Hunter M12. Sala 4DX -
14h, 16h50, 19h40; Nomadland
19h20; Godzilla vs. Kong M12. 13h50, 16h40,
19h30; Santuário das Sombras M16. 14h20,
17h10, 20h; Tom e Jerry M6. 13h10, 16h (V.
Port./2D); Aqueles Que Me Desejam a
Morte M14. 13h20, 15h30, 17h40,
20h30; Raya e o Último Dragão M6. 13h30,
16h20 (V.Port./2D); Monster Hunter M12.
14h30, 17h20, 20h10
34 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Guia
Lazer
ÓPERA
Il Tabarro
LISBOA Teatro Nacional de São
Carlos. De 18/5 a 22/5. Terça e
quinta, às 20h; sábado, às 16h.
M/6. 15€ a 40€
A ópera de um acto integra O
Tríptico de Giacomo Puccini, onde
entram também Suor Angelica e
Gianni Schicchi e cujo Æo condutor
é uma morte. Apresentada em
versão de concerto pela Orquestra
Sinfónica Portuguesa e Coro do
Teatro Nacional de São Carlos, sob
a batuta de Antonio Pirolli, Il
Tabarro centra-se num “pôr-do-sol
num cais parisiense, onde a
paixão e traição caminham lado a
lado, culminando num crime
passional”. Nos papéis principais
estão Elisabete Matos, Kiril
Manolov e Marco Berti. Maria
Luísa de Freitas, Marco Alves dos
Santos, José Corvelo, Bruno
Almeida e Susana Vieira
completam o elenco.
CICLO
VOLver - Programação Cultural
em Rede
ENTRONCAMENTO,
TORRES NOVAS
e VILA NOVA DA BARQUINHA
Vários locais.
De 18/5 a 11/12. Grátis
(levantamento prévio do bilhete)
Música, exposições, dança, teatro,
arte urbana, cinema e
conferências dão corpo à iniciativa
tecida pelos municípios do
Entroncamento, Torres Novas e
Vila Nova da Barquinha. Alinhados
pela história, as tradições e o
património militar, os territórios
do Médio Tejo serão palco de
quase uma centena de eventos
culturais, num convite ao regresso
das rotinas culturais
desconÆnadas e às visitas ao
passado, por marcos da história
colectiva. O programa abre com as
exposições Box, Uma Caixa de
Histórias: da Escola Prática de
Cavalaria à Escola Prática de
Polícia (na E.P.P de Torres Novas,
de terça a domingo, das 15h às 18h)
e Sempre Fixe! - O Batalhão de
Sapadores de Caminhos de Ferro
(no Museu Nacional Ferroviário do
Entroncamento, de terça a
domingo, das 10h às 18h). Neste
último, no mesmo horário e até 2
de Junho, pode ver-se A Cidade e o
Ferro - I Simpósio de Escultura do
Entroncamento, que inclui
workshops e criação de esculturas
ao vivo. O programa completo está
disponível em www.vol-ver.pt.
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, Lotaria Clássica 5 9 2 8 3
bridge e sudoku em
1.º Prémio 600.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 11.344
HORIZONTAIS: 1 - Após quase sete meses de interdição, pode ser pescada. Mililitro (abrev.).
2 - Autoridade Tributária e Aduaneira. Artigo antigo. Cabo ou corda com que se puxa ou
segura alguma coisa. 3 - Também não. Cabeludo. 4 - A tua pessoa. Desafiou o PSD a “mudar
já” e acusou Costa de querer ser “um Nicolás Maduro à europeia”. 5 - Vurmo. Pegas.
6 - «Duro de cozer, duro de (...)». Viagem. Preposição que indica lugar. 7 - Corda de reboque.
Devorador. 8 - Abismo (fig.). Sódio (s. q.). De viva voz. 9 - Carl (...), é talvez o jornalista de
ciência mais conhecido. Doutora (abrev.). 10 - Continente perdido. Correia que prende a
canga ao cabeçalho do carro, do arado, etc. 11 - Pronome pessoal masculino (pl.). Modelo.
VERTICAIS: 1 - Onde são investigadas situações “em tudo semelhantes” às de Odemira.
A mim. 2 - Aquele que nega a existência de Deus. Cerúleo. 3 - Elemento de formação
de palavras que exprime a ideia de pedra. 4 - Preposição que designa posse. Rendimento
do dinheiro emprestado. Senão. 5 - Ficam fora dos apoios para fazer regressar emigrantes.
Associação Nacional de Municípios Portugueses. 6 - Seguir até. Associação de
Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo. 7 - Propriedade rústica, normalmente
constituída por montados, terra de semeadura e casa de habitação. Laguna. 8 - Que tem
siso. Símbolo do rad (Física). 9 - Mamífero carnívoro da América, da família dos felídeos, com
afinidades com o leão. Sensação de calor intenso. 10 - Mitologia (abrev.). Enxugar. 11 - País do
Sudoeste Asiático, península da Indochina, cuja capital é Vienciana. Adoçado com mel.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1 - Homofobia. 2 - Ovil. Ebro. 3 - Modo. Honrar. 4 - Epi. Noreena. 5 - DI. Eu. UCI.
6 - Empresas. 7 - Coa. Ló. Apre. 8 - Imo. Cri. 9 - Ri. Icor. 10 - Sinwar. Omo. 11 - Hodierno. Sr.
VERTICAIS: 1 - Humedecer. 2 - Opimo. Iso. 3 - Modi. Pai. ID. 4 - Ovo. Er. Mini. 5 - Fi. Nuelo. We.
6 - Olho. Só. Bar. 7 - Orla. Rn. 8 - Iene. Sari. 9 - Abreu. Pico. 10 - Rancor. OMS. 11 - Morai. Error.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul custa verificar que vazas poderá Problema 10.462 (Fácil)
Vul: NS perder nesse momento. Se esse
número for superior ao que
NORTE efectivamente pode perder, então é
Ƅ 94 a altura certa para ajustar esse plano.
Ɔ KJ82 Aqui, a ideia é a de usar uma das
Ƈ KJ75 ganhantes de ouros do morto para
ƅ A65 baldar a perdente a paus, mas para
OESTE ESTE isso terá de correr o risco de jogar
Ƅ A532 Ƅ K1076 os ouros antes de destrunfar. Solução 10.460
Ɔ 53 ƆA Portanto, depois de fazer o Ás de
Ƈ 643 Ƈ 10982 paus, jogue o 5 de ouros para o Ás
ƅ KQ109 ƅ 8432 e de seguida a Dama de ouros.
SUL Dado que não existem entradas
Ƅ QJ8 rápidas para o morto, é
Ɔ Q109764 fundamental cobrir essa Dama
Ƈ AQ com o Rei do morto, para jogar
ƅ J7 ainda o Valete de ouros baldando o
Valete de paus. Agora, e só agora,
é que podemos jogar trunfo. A
Oeste Norte Este Sul defesa fará apenas o Ás de trunfo e
1Ɔ Ás e Rei de espadas.
passo 2ST1 passo 4Ɔ Problema 10.463 (Difícil)
Todos passam Considere o seguinte leilão:
Leilão: Equipas ou partida livre. 1 – Oeste Norte Este Sul
Jacoby: forcing a partida com pelo 1Ƈ 1ST ?
menos quatro cartas de apoio
O que marcaria, com a mão
Carteio: Saída: Kƅ. Qual a melhor seguinte?
linha de jogo?
Ƅ2 ƆJ104 Ƈ75 ƅKQ109863 Solução 10.461
Solução: Pode ser tentador
começar desde logo a destrunfar, Resposta: Marque três paus.
mas Este pode fazer o Ás de copas Mesmo que a voz de dois paus seja
e jogar um pau para a Dama de natural, o mais eficiente é barrar
paus de Oeste e a defesa poderá em três paus com um naipe desta
ainda encaixar o Ás e o Rei de qualidade. Tenha presente que isto
espadas para um cabide. não mostra uma mão forte, pois
Quando estiver a considerar jogar nesse caso usaria o dobre de
trunfo no início do jogo, de nada castigo sobre 1ST.

CINEMA
Despojos de Inverno
AXN, 15h26
Nomeado para quatro Óscares, o
Ælme de Debra Granik adapta o
romance homónimo de Daniel
Woodrell, contando com
actuações de Jennifer Lawrence,
John Hawkes e Isaiah Stone e
Ashlee Thompson. Ree Dolly, de 17
anos, é a alma da família e o único
apoio dos irmãos mais novos. A
mãe está em depressão profunda.
O pai, depois de dar a casa como
Æança num negócio obscuro,
desapareceu sem deixar rasto e é
procurado pela polícia. Para não
perder a casa, Ree terá de o
encontrar, custe o que custar.
Vitória e Abdul
Cinemundo, 17h20
Escrito e realizado por Stephen
Frears, Vitória e Abdul adapta a
obra escrita por Shrabani Basu,
sobre a relação entre a Rainha
Victória ( Judi Dench) e o seu
empregado indiano, Abdul Karim
(Ali Fazal) — uma amizade que fez
com que a soberana mudasse a
sua forma de estar no mundo.
As Brancas Montanhas
da Morte
Fox Movies, 17h44
Nomeado para a Palma de Ouro
em Cannes, em 1972, o Ælme de
Sydney Pollack foi rodado no Utah
e está cheio de paisagens que
enchem o ecrã. Segue Jeremiah
Johnson (Robert Redford), um
homem que se torna eremita nas
montanhas brancas do Colorado.
O Farol
TVCine Edition, 22h
Um drama sobre isolamento e
loucura, assinado por Robert
Egger e centrado no deteriorar da
relação entre um faroleiro (Willem
Dafoe) e o seu ajudante (Robert
Pattinson). Destaca-se o trabalho
de fotograÆa, que concorreu ao
Óscar e ao BAFTA.
E Agora, Onde Vamos?
RTP1, 1h30
Numa aldeia remota do Líbano
vive uma comunidade dividida
entre a religião cristã e islâmica,
onde as duas fés têm convivido
paciÆcamente. Mas um evento
vem alterar essa situação. As
mulheres, empenhadas em
impedir um conÇito, decidem
contratar dançarinas ocidentais
e drogar os homens com bolinhos
de haxixe, enquanto escondem as
armas da aldeia. Realizado
pela libanesa Nadine Labaki,
esta comédia dramática ganhou
o Prémio do Público no Festival
de Cinema de Toronto e foi a
escolha do Líbano na corrida à
nomeação ao Óscar de melhor
Ælme internacional.
Televisão Os mais vistos da TV
Domingo, 16
Isto é Gozar...: S. Coates
% Aud. Share
SIC 16,8
Isto é Gozar...: 3.ª Dose SIC 15,8
Jornal da Noite SIC 13,5
Hell's Kitchen: Semifinal SIC 13,4
Hell's Kitchen: A Surpresa SIC 13,2
FONTE: CAEM
RTP1 RTP2
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da 6.32 Repórter África 7.00 Espaço Zig
Alegria 12.59 Jornal da Tarde 14.23 Os Zag 10.18 O Regresso de Lucas 11.05
Nossos Dias 15.06 A Nossa Tarde Mundos Perdidos 12.00 Escola
17.30 Portugal em Directo 19.06 O Nocturna - Os Sonhos Nunca Dormem
Preço Certo 12.46 Visita Guiada 13.24 Gente da
Minha Rua 13.53 Folha de Sala 14.00
Sociedade Civil 15.03 A Fé dos
19.59 Telejornal Homens 15.37 Prazer de Criar 16.08
Água e Não Armas - Pintar o
Afeganistão de Verde 16.58 Espaço
21.01 Joker Zig Zag 20.37 Tesouros da Europa
22.08 Festival Eurovisão 21.30 Jornal 2
da Canção 2021
22.01 Folha de Sala
0.34 Resgatados do Fogo
22.05 Norskov, Cidade Sombria
1.30 E Agora,
Onde Vamos?
22.51 Nada Será Como Dante 23.22 O
Rei Zarolho 0.47 The Highschool of the
Dead - A Escola dos Mortos 1.12
Eurodeputados 1.43 E2 - Escola
Superior de Comunicação Social 2.13
3.07 Europa Minha Sociedade Civil 3.17 Euronews
SIC TVI
6.00 Edição da Manhã 8.30 Alô 6.05 Curious George 6.30 Diário
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00 da Manhã 7.00 Esta Manhã
Primeiro Jornal 14.50 Linha Aberta 10.15 Dois às 10 13.00 Jornal da Uma
com Hernâni Carvalho 16.10 Júlia 14.50 A Única Mulher 16.10 Goucha
18.30 Viver a Vida 18.10 Ver p’ra Crer
19.15 Orgulho
o 19.10 Cristina
a DISCOVERY
e Paixão ComVida
19.40 Êta Mundo Bom 19.57 Jornal das 8
19.57 Jornal da Noite 21.40 Festa É Festa
21.40 Amor Amor 22.15 Bem Me Quer
22.25 A Serra 23.20 Tempo de Amar 23.05 Amar Demais 0.00 Mulheres
0.15 Golpe de Sorte - Edição Especial 1.25 Chicago Fire 3.00 Doce Tentação
1.10 Passadeira Vermelha 1.55 Linha 3.25 Fascínios
Aberta com Hernâni Carvalho
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 35
RTP1 10,6%
30,1
RTP2 0,9
28,0 SIC 20,6
TVI
25,4
24,9 15,1
Cabo
25,7
35,6
TVCINE TOP
17.40 O Caso de Richard Jewell 19.50 21
Pontes 21.30 Zombieland: Tiro Duplo
23.05 Os Órfãos de Brooklyn 1.25 A Ex
da Porta ao Lado
FOX MOVIES
17.44 As Brancas Montanhas da Morte
19.34 Justiça de Cahill 21.15 O Solitário
do Rio Grande 22.53 A Quadrilha de
Spikes 0.34 100 Armas ao Sol
HOLLYWOOD
17.05 O Senhor dos Anéis - As Duas
Torres 20.00 Blindado 21.30 Lugares
Escuros 23.20 Skin Trade - Em Busca de
Vingança 1.00 Sala de Pânico
AXN
17.04 Red: Perigosos 18.53 Chicago Fire
21.09 The Good Doctor 22.52 The
Blacklist 23.41 The Good Doctor 2.07
The Blacklist
FOX
17.22 Investigação Criminal: Los
Angeles 18.54 Chicago P.D. 20.34
Hawai Força Especial 22.15 MacGyver
23.02 Missão Impossível 3 1.20
Investigação Criminal: Los Angeles
DISNEY CHANNEL
17.15 Lab Rats 18.25 Gravity Falls 19.15
Os Green na Cidade Grande 20.00 Casa
da Coruja 20.25 Lab Rats 21.35 Gravity
Falls 22.25 A Irmã do Meio
17.15 No Meio do Nada 19.05 Segredos
das Catacumbas 21.00 The Aquarium
22.55 Aventura à Flor da Pele 0.40 The
Aquarium 2.15 Segredos do Universo
HISTÓRIA
17.14 Oak Island: Mais Além 18.40 A
Maldição de Oak Island 20.48 Forjado
no Fogo 0.55 História do Nazismo
ODISSEIA
17.05 Ataque e Defesa 17.30 Escola de
Orangotangos 18.19 Resgate na Praia
18.43 Escola de Cachorros 19.07 Clima
Extremo 19.56 Red Arrows: Pilotos
Acrobáticos 20.42 Guerreiros do Ar
22.30 Pan Am: Cruzar o Pacífico 23.29
Guerreiros do Ar 1.01 Red Arrows:
Pilotos Acrobáticos 1.17 Pan Am: Cruzar
o Pacífico 2.16 Guerreiros do Ar
Guia
MÚSICA
Festival Eurovisão da Canção
2021
RTP1, 22h08
Depois do cancelamento inédito
do ano passado, o Festival
Eurovisão da Canção está de volta.
A cidade holandesa de Roterdão
acolhe a 65.ª edição. Hoje, na
primeira semiÆnal, vão a palco as
canções representantes dos
seguintes países (por ordem de
actuação): Lituânia, Eslovénia,
Rússia, Suécia, Austrália,
Macedónia do Norte, Irlanda,
Chipre, Noruega, Croácia, Bélgica,
Israel, România, Azerbaijão,
Ucrânia e Malta. A segunda
semiÆnal, em que participarão os
portugueses The Black Mamba,
com Love is on my side, está
marcada para quinta-feira; a Ænal,
para sábado. As emissões na RTP
têm como comentadores José
Carlos Malato e Nuno Galopim.
Elisa, a vencedora do Festival da
Canção 2020, será a porta-voz do
júri português no momento de
anunciar a pontuação.
DOCUMENTÁRIO
Água e Não Armas — Pintar
o Afeganistão de Verde
RTP2, 16h08
Esta é a história do contributo
dado por Tetsu Nakamura à
reconstrução de um país
devastado pela guerra, o
Afeganistão. O médico japonês
envolveu-se pessoalmente (e no
terreno) no esforço de recuperar o
país através da aposta na
agricultura. Liderou uma
organização humanitária numa
empreitada de construção de um
canal de irrigação que viria a
transformar desertos em zonas
verdes e cultiváveis. Este
documentário relata 15 anos desse
trabalho. Nakamura, que não
acreditava nas armas como forma
de resolver conÇitos, viria a
morrer no Afeganistão (que fez
dele cidadão honorário), em 2019,
baleado num ataque.
DESPORTO
Ciclismo: Volta à Andaluzia
Eurosport 1, 13h
Directo. Arranca em Mijas a 67.ª
edição da prova regional
espanhola, também conhecida
como Ruta del Sol. Rui Oliveira é o
único atleta português em prova.
Pela frente, há mais de 800
quilómetros a percorrer em
direcção à meta instalada em
Pulpí, onde o pelotão chegará no
sábado. O canal acompanha todas
as cinco etapas, sempre a seguir
aos directos de outra prova: a
Volta a Itália (esta, até 30 de Maio).
 36 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021

Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS LISBOA
Viana do Castelo Quarta-feira, 19 Quinta-feira, 20 Sexta-feira, 21
Bragança
11 º
18º
21º
14º 24º 14º 29º 14º 25º
Braga 4º
20 º Índice UV Muito alto Índice UV Muito alto Índice UV Muito alto
Vila Real

Portugal
8º Vento Fraco Vento Fraco Vento Fraco
16º Porto
1,8m
20º Humidade 49% Humidade 50% Humidade 62%
18 º 6º
10º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 20 º

100 recomendações 19º 6º 20º Mauna Loa, Havai Portugal

9º 8º Partes por milhão
(ppm) na atmosfera Porto Muito

para produzir Coimbra Valores por semana Bom

23º Coimbra Bom
10º Semana de 02 Mai. 418,48
Castelo Branco

mais e melhor
Semana de 25 Abr. 419,53 Lisboa Médio
Leiria 25 º Há um ano 417,09
9º Há dez anos 393,32
21º Évora Fraco
13º
Nível de segurança 350
Portugal não pode aspirar a desenvolver-se sem Faro Mau
Nível pré-industrial 280
Santarém
um sector industrial robusto. É imperativo fazê-lo Portalegre
agora, apostando em empresas industriais modernas 26 º
11º 25º
e competitivas, tecnologicamente actualizadas
10º SOL LUA
e economicamente rentáveis, aproveitando Lisboa 19 Mai. 19h13

os fundos europeus que aí vêm. 24 º 26 Mai. 11h14

13º Évora
Neste livro é enunciada uma centena de Setúbal 25º 2 Jun. 07h24
24º 10º Nascente
Nascen Poente Nascente Poente
recomendações de nomes experientes no 13º
06h22 20h44 10 Jun. 10h53 11h39 02h28
ramo para que este trabalho seja bem-sucedido. *de amanhã

Sines Beja EUROPA

22º 27º Estocolmo
Helsínquia
14º 11 º Oslo
16º Talín

1,2m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 27º
16º Bruxelas
21º Faro Praga
16º Paris
Viena Budapeste
17º Genebra
0,8m
Açores Milão

Corvo Roma

+ 6 € IO
Flores
Graciosa 18º
Lisboa
Madrid
Istambul

QUINTA, 20 MA
21º Atenas
19º 1,2m
21º
COM O PÚBLICO 19º São Jorge 18º
1,8m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
21º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
19º 18º Amesterdão 8 14 Roma 14 22
1,2m Atenas 16 29 Viena 11 17
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Berlim 8 16 Bissau 24 33
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coleccoes@publico.ptt Sta Maria Bruxelas 7 14 Buenos Aires 12 16
210 111 020 Madeira Bucareste 10 20 Cairo 19 34
Porto Santo Budapeste 9 17 Caracas 18 26
Copenhaga 7 15 Cid. do Cabo 10 19
Stockk lilimitado
St it do Madeira
21º 23º 22º 20º Dublin 5 14 Cid. do México 13 26
18º 18º
1m 1,5m Estocolmo 7 18 Díli 23 32
Frankfurt 6 14 Hong Kong 27 34
Funchal Genebra 5 16 Jerusalém 16 25
Istambul 13 25 Los Angeles 15 22
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 10 19 Luanda 25 30
Londres 8 15 Nova Deli 24 31
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 13 27 Nova Iorque 17 27
07h59 2,6m 07h34 2,6 07h33 2,6m Milão 8 19 Pequim 19 31
13h52 1,4m 13h27 1,5 13h16 1,4m Moscovo 18 29 Praia 22 29
Oslo 5 13 Rio de Janeiro 19 26
20h18 2,8m 19h56 2,9 20h00 2,7m Paris 8 15 Riga 8 13
02h50* 1,3m 02h27* 1,4 02h16* 1,3m Praga 7 16 Singapura 26 30
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL

Bancadas continuam vazias na última jornada do campeonato Desporto
Liga encerra a época sem público
Recuo na intenção inicial foi conÄrmado pela direcção do organismo que tutela o futebol proÄssional,
que lamenta ausência de enquadramento, de tempo e a iniquidade que o plano em causa iria promover
Nuno Sousa
Prosseguem os avanços e recuos em
torno de um potencial regresso do
público aos estádios ainda nesta tem-
porada. Depois do anúncio de que a
última jornada do campeonato con-
taria com espectadores nas banca-
das, ontem a Liga Portuguesa de
Futebol ProÆssional (LPFP) vem dei-
tar por terra esse cenário. Porquê?
Porque entende que “não estão reu-
nidas todas as condições de equida-
de” e que o modus operandi sugerido
pelas autoridades não foi deÆnido
atempadamente.
Foi num encontro de carácter
extraordinário que a direcção do
organismo que tutela o futebol pro-
Æssional decidiu travar os testes-pi-
loto que estavam na calha. A justiÆ#
cação, sustenta, prende-se com a
ausência de um plano concreto que
fosse transversal a todos os jogos que
estão agendados para hoje e para
amanhã e que assinalam o Æm da
Liga 2020-21.
“Na incerteza, que permanece,
sobre as condições que as autorida-
des de saúde poderão vir a Æxar, seria
impossível preparar um plano de
implementação a um dia da realiza-
ção dos jogos. A esta ponderosa razão
acresce a circunstância de, ao con-
trário do defendido pela Liga Portu-
gal, a penúltima jornada não ter tido
público nos estádios. Ora, com diver-
sos objectivos desportivos ainda em
aberto, permitir que apenas uma
parte das equipas pudesse ter o seu
público presente nesta jornada deci-
siva constituiria uma grave entorse à
verdade desportiva e à equidade
entre competidores”, argumenta o
elenco liderado por Pedro Proença.
Em causa está o facto de, no plano
de intenções da LPFP, e no pedido
que foi feito ao Governo, ter sido pre-
visto o regresso parcial e controlado
de adeptos aos estádios nas duas últi-
mas jornadas do campeonato — e não
somente na derradeira. Jornadas em
que se deÆnia a esmagadora maioria
dos objectivos desportivos em causa,
já que o Sporting conseguiu conÆr-
mar o título nacional ainda antes do
derby com o BenÆca. Nesse sentido,
e não tendo avançado essa vontade,
entende a direcção do organismo que
poderia estar a haver uma diferença
de tratamento.
Deixando críticas ao formato esco-
lhido para a abertura parcial das
portas dos recintos, a direcção da
LPFP condena também o facto de
terem sido apenas autorizados tes-
Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 37
MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA
tes-piloto (depois de já terem sido
levados a cabo noutros momentos,
em particular nos Açores) e barrado
o acesso aos visitantes. “Circunscre-
ver a presença de adeptos aos visita-
dos não é concebível e arriscaria
constituir uma entorse à igualdade
de oportunidades competitiva, em
favor de metade das em contenda e
em prejuízo das demais”, sublinha,
em comunicado.
Prazo insuÄciente
De resto, revela Pedro Proença, a
LPFP insistiu, na passada quinta-fei-
ra, junto da Direcção-Geral da Saúde
(DGS), para que esta autorização fos-
se alargada à jornada que anteontem
terminou. E não só o pedido não foi
atendido como, um dia depois, data
da publicação de nova resolução do
Conselho de Ministros, em que se
estabelecem as regras da declaração
de calamidade, não foi plasmada no
diploma a autorização para a presen-
ça de adeptos na última jornada.
“Em nenhures da referida resolu-
ção se vislumbra a autorização para
a realização de testes-piloto com
público, nos estádios da Liga ou
outros, e, na verdade, até ao presen-
te momento, a DGS não remeteu o
parecer solicitado e acima identiÆca-
do”, aponta a LPFP, explicando que,
“ainda que a tutela e a DGS formali-
zem a autorização que se solicitou há
uma semana, o prazo de 48 ou menos
horas para ajustar a organização dos
jogos às regras que ainda se desco-
nhecem não é consentâneo com a
exigência operacional que o futebol
proÆssional se impõe”.
Assim, e porque entende “não
estarem reunidas as condições de
segurança, de equidade e logísticas
para a realização de testes-piloto com
público na última jornada da Liga”,
a direcção do organismo decidiu tra-
var essa intenção e negociar com a
tutela um regresso do público dentro
da maior normalidade possível no
arranque da próxima temporada,
tudo indica que em Agosto.
Até lá, desenrolar-se-á a Ænal da
Taça de Portugal, no dia 23, também
de bancadas vazias em Coimbra, ao
contrário do que irá acontecer uma
semana depois no Porto. Em circuns-
tâncias diferentes, numa prova tute-
lada pela UEFA, um organismo supra-
nacional, está prevista a realização
da Ænal da Liga dos Campeões, a 29
de Maio, com 12 mil adeptos ingleses
nas bancadas do Estádio do Dragão
— 6 mil afectos ao Chelsea e outros
Última jornada vai decidir quem se junta ao Nacional na descida à II Liga 6 mil ao Manchester City.
 38 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021
Desporto
B&B
Colecção de 10 volumes. PVP unitário 6,90€. Preço total da colecção 69€. Periodicidade semanal à sexta-feira, entre 30 de Abril e 25 de Junho. Stock limitado
Uma desavergonhada
GNR destaca 2900 militares
para o Rali de Portugal
Zonas autorizadas aos
espectadores serão
patrulhadas pelos
militares. FIA também vai
apertar o controlo
A Guarda Nacional Republicana
(GNR) vai destacar 2900 militares
para a operação de segurança do
Rali de Portugal, que decorrerá
entre a próxima sexta-feira (dia 21)
e domingo (dia 23), nas regiões Cen-
tro, com classiÆcativas em Coimbra,
Lousã, Góis e Arganil, e Norte, em
Lousada, Paredes, Mortágua, Vieira
do Minho, Cabeceiras de Basto,
Amarante, Porto, Felgueiras, Mon-
tim, Fafe e Matosinhos.
Em conferência de imprensa no
Comando Territorial do Porto, o
comandante João Fonseca anunciou
que serão destacados cerca de três
milhares de militares para apoiar na
segurança e trânsito dos pilotos, bem
como no controlo do público em
zonas autorizadas para o efeito.
“O objectivo é que a prova decor-
ra em segurança, contendo os
espectadores nas zonas de espectá-
culo”, explicou. A operação está a
ser planeada “há meses” e arranca
amanhã, um dia antes do início oÆ#
cial da corrida. A GNR apela “ao
bom senso, civismo e responsabili-
dade”, para que não se coloque em
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SEX 21 MAI
Peter Sagan faz sprint para
a vitória na 10.ª etapa do Giro
Augusto Bernardino
Tal como em 2020, Peter Sagan
(Bora-hansgrohe) venceu ontem ao
OBRAS DAS AUTORAS
RA PORTUGUESAS sprint a décima etapa da Volta a Itália
CENSURADAS PELA PIDE. em bicicleta, percorrendo os 139 qui-
lómetros entre L’Aquila e Foligno em
3h10m56s, o que lhe rendeu a lide-
APOIOS: rança da camisola ciclamino, com
108 pontos, mais 17 do que Fernando
Gaviria, que há um ano abandonou
a prova por causa da covid-19.
O ciclista eslovaco, três vezes cam-
peão do mundo, bateu o colombiano
Fernando Gaviria (UAE) e o italiano
Davide Cimolai (Israel Start-up
APOIOS INSTITUCIONAIS: Nation), aproveitando da melhor
forma a dispersão de sprinters numa
chegada atribulada para o alemão
Max Kanter (DSM), que sofreu uma
queda no último quilómetro.
Rali de Portugal arranca
na próxima sexta-feira
causa a realização do evento. Para
tanto, estará nas zonas onde o públi-
co é autorizado, fazendo cumprir as
normas sanitárias e de lotação, deÆ#
nidas pela regra de uma pessoa por
cada oito metros quadrados.
Segundo Francisco Martins, da
Divisão de Trânsito e Segurança
Rodoviária, o objectivo não é que as
pessoas “fujam” das zonas autoriza-
das, o que, de acordo com a Federa-
ção Internacional do Automóvel
(FIA), colocaria em causa a realiza-
ção da respectiva especial.
O colombiano Egan Bernal (Ineos)
mantém a liderança da classiÆcação
geral, apesar de ter cedido um segun-
do (na luta das boniÆcações em Cam-
pello Sul Clitunno, a menos de 18
quilómetros do Ænal) para o belga
Remco Evenepoel (Deceuninck-
-QuickStep), que segue a 14 segundos
do camisola rosa, à frente de
Aleksandr Vlasov (Astana), a 22
segundos de Bernal.
“Não deixámos cair ninguém, mas
graças à minha equipa a pressão
“Vou encarar a
corrida dia após
dia, mas vou
dar o meu
melhor”, frisou
o eslovaco
Peter Sagan
“Apelamos ao cumprimento
escrupuloso das regras”, que não
permitem a venda de comida e bebi-
da nas zonas de espectáculo, onde
estarão militares para gerir a lota-
ção e entrada nos espaços, pelo que
“quem os tentar ocupar antes corre
o risco de sair e voltar à Æla de
ingresso”.
O director da prova, Horácio
Rodrigues, garante ser “impossível
realizar o rali” sem a força de segu-
rança. “Será imprescindível cum-
prir as normas”, controladas pelo
delegado de segurança da FIA.
“Se não houver segurança, o tro-
ço não se faz, o que torna inglório
todo o esforço, aÆrmou, recordando
que a cobertura televisiva do evento
pode ser uma boa alternativa. Nem
a GNR nem a organização avança-
ram com números sobre a lotação
dos espaços — foram calculadas por
área, algumas com capacidade para
centenas de pessoas —, a disponibi-
lizar em tempo real para cada zona
através de várias plataformas de
comunicação.
“Existem regras especíÆcas, dis-
tâncias de segurança e uso obriga-
tório de máscara”, alerta Francisco
Martins, sublinhando que, no Æm-
-de-semana, a prova passará por
concelhos em diferentes fases de
desconÆnamento, pelo que as
regras serão “ajustadas”.
imposta pelas outras equipas foi
menor. Vou encarar a corrida dia
após dia, mas vou dar o meu melhor.
Hoje [ontem] tive boas pernas e velo-
cidade, por isso, vamos ver”, avaliou
Peter Sagan, no Æm da tirada.
No que diz respeito aos ciclistas
portugueses, João Almeida mantém
o 23.º posto da geral, a 4m56s,
enquanto Rúben Guerreiro (Educa-
tion First) continua em 25.º, a 7m19s.
Ambos perderam um segundo para
o líder, com a particularidade de
Almeida ter sido quarto, atrás de
Evenepoel (2.º) e Bernal (3.º) na
meta-volante.
O Giro regressa hoje, com a 11.ª
etapa, de 162km, entre Perugia e
Montalcino, sem grande exigência
em matéria de subidas, com duas
contagens de terceira categoria.
 Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021 • 39

Desporto
Natação
Alexis Santos bate Ténis João Sousa acede ao quadro principal de Lyon
recorde nacional
dos 50m costas
REUTERS/CARL RECINE
O nadador Alexis Santos bateu
ontem o recorde nacional dos
50 metros costas em piscina
longa, que já lhe pertencia, ao
cumprir a distância em 25,28
segundos, nos Campeonatos da
Europa, em Budapeste. O atleta
do Sporting superou por 14
centésimos o anterior máximo,
que lhe pertencia desde 1 de
Agosto de 2019 e que tinha sido
estabelecido nos Nacionais
Absolutos, no Funchal. Na final,
terminou na última posição, ao
nadar em 25,40 segundos.

Futebol
Seleccionador
de Itália renova
contrato até 2026
O actual seleccionador de Itália
de futebol, Roberto Mancini,
renovou o contrato com a
federação (FIGC) até 2026.
“Trata-se de um projecto que
requer tempo e queremos dar
continuidade ao trabalho
realizado nestes últimos três
anos”, explicou Gabriele
Gravina, presidente da FIGC.
Por seu lado, Mancini, que
assumiu o cargo em 2018,
mostrou-se feliz: “Tentamos
levar por diante um trabalho
que está a dar frutos”.
João Sousa, 110.º no ranking
mundial, garantiu a entrada no
quadro principal do ATP 250 de
Lyon, ao vencer, na última ronda
do qualifying, o francês Arthur
Rinderknech (125.º mundial), por
6-3, 4-6 e 6-3, em 2h15m. Na
primeira eliminatória do quadro
final, liderado por Dominic
Thiem, Sousa vai defrontar o
polaco Kamil Majchrzak (129.º).
Mas as atenções dos adeptos
estão centradas em Genebra,
onde Roger Federer vai efectuar
o regresso à competição. O
suíço disputou somente dois
encontros este ano, em Doha, e,
depois de ter ficado isento da
ronda inicial, vai estrear-se no
Gonet Geneva Open diante do
espanhol Pablo Andujar (75.º),
que ontema derrotou o
australiano Jordan Thompson
(61.º), por 6-0, 6-4.
No ATP Challenger 125 Oeiras
Open, que decorre no Jamor,
Frederico Silva e Gastão Elias
saíram vencedores dos embates
da primeira ronda. Silva, que esta
semana surge no seu melhor
ranking (169.º lugar), derrotou o
chinês Jason Jung (161.º), por 1-6,
6-4 e 6-3. Elias (313.º), que não
competia há cinco semanas,
venceu o norte-americano
Maxime Cressy (153.º), por 7-6
(7/3), 6-4. A jornada no court
central terminou com a vitória da
promessa espanhola Carlos
Alcaraz (114.º), de 18 anos, diante
do japonês Yasutaka Uchiyama
(113.º): 6-0, 6-3.
Já Gonçalo Oliveira (316.º)
falhou o acesso ao quadro
principal do torneio ao ser
derrotado pelo equatoriano
Emilio Gomez (182.º), pelos
parciais de 6-2, 3-6 e 6-4.

Futebol Futebol Atletismo Fórmula 1

Vertonghen entre Alemão Ter Stegen
os convocados da vai ser operado e fica
Bélgica para o Europeu de fora do Euro 2020
O defesa Jan Vertonghen, do
Benfica, faz parte dos
convocados da Bélgica para a
fase final do Euro 2020 de
futebol. Aos 34 anos, o central
dos “encarnados” prepara-se
para disputar mais uma fase
final de um grande torneio,
depois de ter estado no último
Europeu e nos dois últimos
Mundiais. Da lista do
seleccionador Roberto Martínez
constam também Axel Witsel
(que ainda recupera de uma
lesão) e Eden Hazard.
O guarda-redes Marc-André ter
Stegen, do Barcelona, vai
desfalcar a Alemanha na fase
final do Euro 2020 de futebol, ao
optar por ser de novo operado ao
joelho direito. “Estou triste por
perder o Europeu. Pela primeira
vez em anos, vou apoiar o meu
país a partir de casa, como um
adepto”, escreveu o jogador no
Instagram. No Euro 2020, a
Alemanha é adversária de
Portugal no Grupo F, sendo que
as duas selecções medem forças
a 19 de Junho, em Munique.
Maratona de Grande Prémio
Nova Iorque regressa da Austrália deverá
em Novembro mesmo avançar
A maratona de Nova Iorque, nos O director do Grande Prémio da
Estados Unidos (EUA), vai voltar a Austrália de Fórmula 1, Andrew
ser disputada no dia 7 de Westacott, mostrou-se ontem
Novembro, após a paragem confiante na realização da
provocada pela pandemia de corrida em Novembro, como
covid-19, com a participação previsto no início do ano. O país
limitada a 33.000 atletas (60%). mantém as fronteiras fechadas,
“Os atletas têm de estar por força da covid-19, mas a
preparados para provar que têm organização está a negociar
um resultado negativo no teste com o Governo a entrada das
de covid-19, ou um comprovativo equipas no território. Westacott
de uma série completa da referiu à ABC TV que os
vacinação”, explicou ontem detalhes do protocolo sanitário
Andrew Cuomo, governador a adoptar estão ainda a ser
do estado de Nova Iorque. definidos com as autoridades.
40 • Público • Terça-feira, 18 de Maio de 2021

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O seu jornal
não acaba aqui.
Continue para
O Público é seu Fique com ele,
publico.pt
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O estrume, o preto e a rosa

FRANCISCO ROMÃO PEREIRA
Disse que João Galamba já tinha
O respeitinho “tirado as suas próprias
não é bonito consequências”, aconselhou-lhe
“nervos de aço” e, em tom paternal,
sugeriu que é preferível “roer as
unhas” sempre que for confrontado
com “coisas mais desagradáveis”. O
conselho não engana: trata-se de
deputada” e que “os responsáveis
pela veiculação desta notícia
assumam as suas
responsabilidades”.
Os responsáveis assumiram. A
Lusa pediu desculpa à deputada e
ao Partido Socialista. Instaurou um
“processo de averiguações” ao

U
João Miguel Tavares
ns apanham — e bem.
Outros safam-se — e
mal. E é nessa
diferença de critério
que repousa toda
uma cultura de
impunidade e de abuso de poder.
Vale a pena comparar a postura do
Partido Socialista face a dois
episódios ocorridos na semana
passada. Ambos envolveram
jornalistas e políticos. Ambos
envolveram linguagem inaceitável e
abusiva. Ambos envolveram
reacções do PS. De um lado, um
secretário de Estado que insultou
uma jornalista. Do outro, um
jornalista que insultou uma
deputada. Pergunta: será que as
reacções do PS foram idênticas? E
será que as consequências práticas
dos dois casos foram iguais?
Relembremos o que aconteceu
aos mais esquecidos. No dia 8 de
Maio, João Galamba chamou
“estrume” e “coisa asquerosa” ao
programa Sexta às 9, acrescentando
que a jornalista Sandra Felgueiras
era um “caso psicanalítico em busca
da sua expiação moral”. Os insultos
não foram dirigidos apenas ao
programa, mas também à sua
autora e apresentadora. Depois de
ter escrito isto, o secretário de
Estado da Energia apagou o
comentário. E com esse simples
gesto todos os pecados lhe foram
perdoados. O ministro do Ambiente
admitiu que Galamba utilizou
linguagem “desajustada”, mas
informou os jornalistas que ao
apagar o post o assunto Æcava
deÆnitivamente “encerrado”.
António Costa concordou com a
interpretação de Matos Fernandes.
uma forma ardilosa de sugerir que
João Galamba tem razão quanto à
substância da questão e que a única
coisa errada neste caso foi a forma
“inapropriada” como se exprimiu.
No dia 13 de Maio, uma notícia da
Lusa sobre a tomada de posse da
comissão de revisão constitucional
apresentava uma lista de
deputados. À frente do nome da
socialista Romualda Fernandes
havia um parêntesis absurdo com a
palavra “preta”. O clamor foi
imediato. O grupo parlamentar do
PS repudiou “veementemente” o
acontecimento, aÆrmando que a
De um lado, um deputada tinha sido identiÆcada
“de forma absolutamente
secretário de indecente e racista”. A secretária
Estado que insultou de Estado para a Igualdade, Rosa
Monteiro, disse que os
uma jornalista. “comportamentos racistas não
Do outro, um podem Æcar impunes” e que “a
responsabilidade dos meios de
jornalista que comunicação social tem de ser uma
insultou uma garantia da democracia”. E a líder
parlamentar Ana Catarina Mendes,
deputada. Agora, numa “nota de repúdio”, exigiu
comparemos “um pedido público de desculpas à
autor da peça, “tendo em vista o
dano moral e reputacional
provocado na imagem da agência”.
E o editor da secção de Política,
muito dignamente, apresentou a
sua demissão.
Agora comparemos. No caso 2,
o jornalista indecente para com
uma deputada do PS é alvo de um
processo, o seu superior
hierárquico demite-se e são
apresentadas desculpas públicas.
No caso 1, o secretário de Estado
indecente para com uma jornalista
continua no seu lugar, não diz
uma palavra, Ana Catarina
Mendes esquece-se de exigir um
pedido de desculpas e os seus
superiores hierárquicos declaram
o assunto deÆnitivamente
encerrado.
Como explicar o duplo critério?
Não vale a pena procurar no preto,
nem no branco. A diferença está
mesmo na rosa.
Jornalista
jmtavares@outlook.com

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