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as onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • Ano XXXIII • n.º 11.694 • Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€
Directo

C
Champions Sofiane Pamart
Pianista francês diz que “se
R
Real elimina Mozart fosse vivo estaria a
colaborar com rappers”
C
City num jogo Cultura, 28/29
qu
que simboliza Saúde
a emoção Idade do cérebro influencia
capacidade de prevenir e
do futebol de recuperar de AVC
Desporto, 37
Des Ciência e Ambiente, 31

Governo deixa derrapar seis projectos

de modernização das Forças Armadas
Lei de Programação Militar teve no ano passado a execução mais baixa desde 2017. Compra de hélis para
a Marinha, construção de dois navios salva-vidas ou modernização dos C-130 não avançaram Política, 12
CHESNOT/GETTY IMAGES

França
Mélenchon une as
esquerdas e torna-se
a maior ameaça
para Macron
Mundo, 21

Liquidação do BES Daniel Sampaio Sanções Maximino Serra

Activo de 174 Igreja falha na UE pode evitar PS expulsa
milhões para divulgação da recessão mas a militante desde
pagar créditos comissão que Rússia vai sofrer a resistência
de 5000 milhões investiga abusos fortes impactes antifascista
Economia, 25 Sociedade, 16/17 Destaque, 2 a 6 Política, 13
ISNN-0872-1556

4c226823-3824-4a69-9966-a6639611af36
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2 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Guerra na Ucrânia

Bruxelas bloqueia
Os países da UE mais Importações de petróleo
dependentes do petróleo pela UE
russo
% de petróleo importado da Em % do valor
Rússia no total do consumo, 2021

petróleo russo:
Rússia
Eslováquia 96
Lituânia 83
24,8
Finlândia 80 Noruega
9,4

“não vai ser fácil”

Polónia 63
EUA
Bulgária 60 8,8

Hungria 58 8,2 Líbia

Rep. Checa 50
8,0
Alemanha Cazaquistão
34
7,1 Nigéria
Estónia 34
6,6
A presidente da Comissão Europeia anunciou a proibição Roménia 32 Iraque
5,1
de “todo o petróleo, bruto e reÄnado, por via marítima Grécia 29 5,1 Arábia Saudita
16,9
ou oleoduto” da Rússia. Mas o travão será gradual Letónia 24
Reino Unido
Outros
Bélgica 23
Leyen, que saiu do plenário sem to Europeu, Ursula von der Leyen
Rita Siza, Bruxelas Países Baixos 23
ouvir os eurodeputados elogiar a não fez referência a um regime

R
espondendo às pressões
políticas, e também às
expectativas dos mercados,
a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der
Leyen, conÆrmou ontem
que a proposta do sexto pacote de
sanções contra a Rússia apresentada
para aprovação dos Estados-mem-
bros inclui uma proibição total das
importações de petróleo. “Todo o
petróleo, bruto e reÆnado, transpor-
tado por via marítima ou oleoduto”,
anunciou ao Parlamento Europeu,
em Estrasburgo.
O embargo previsto pelo executi-
vo comunitário será levado a cabo
de “forma progressiva e ordenada”,
não só para que os Estados-mem-
bros possam concluir a execução
dos seus contratos e assegurar rotas
de abastecimento alternativas, como
também para “minimizar o impacto
[da medida] nos mercados globais”,
explicou Von der Leyen.
“Iremos eliminar gradualmente o
fornecimento russo de petróleo bru-
to no prazo de seis meses, e de pro-
dutos reÆnados até ao Ænal do ano.
Assim, maximizamos a pressão
sobre a Rússia, ao mesmo tempo
que minimizamos os danos colate-
rais para nós e para os nossos par-
ceiros em todo o mundo”, disse a
presidente da Comissão, referindo-
se à previsível subida do preço do
crude.
Numa primeira reacção a este
anúncio, o valor do barril subiu
ontem cerca de 4% nos dois merca-
dos internacionais de referência.
A medida já era esperada, mas
não deixará de ter um enorme
impacto na economia europeia.
“Sejamos claros: não será fácil.
Alguns países estão fortemente
dependentes do abastecimento rus-
so”, reconheceu Ursula von der
proposta da Comissão e, ao mesmo
tempo, exigir que o executivo avan-
ce com novos apoios para compen-
sar os Estados-membros, os agentes
económicos e os consumidores a
suportar os custos decorrentes do
prolongamento da guerra e da impo-
sição das sanções.
Portugal será um dos Estados-
membros em melhores condições
para aplicar imediatamente a medi-
da sem qualquer prejuízo ou pertur-
bação no abastecimento doméstico:
as remessas da Rússia são corres-
pondentes a zero desde 2020 (e em
termos de gás natural, representam
menos do que 10% do total das
importações nacionais).
Já na Eslováquia, 100% do petró-
leo que entra no país vem da Rússia,
através do oleoduto de Drujba, que
alimenta a reÆnaria da Slovnaft de
Bratislava. Na Hungria, 60% do abas-
tecimento passa pelo mesmo oleo-
duto russo.
Na Alemanha, que em quatro
meses reduziu de 35% para 12% a sua
quota de importações da Rússia, o
embargo compromete a operação
de uma reÆnaria na região de Berlim
que trabalha exclusivamente com
produtos de origem russa.
Na sua intervenção ao Parlamen-
Queremos que
a Ucrânia ganhe
esta guerra
Ursula von der Leyen
Presidente da Comissão Europeia
excepcional para os países mais vul-
neráveis pela exposição às compras
à Rússia, mas o PÚBLICO conÆrmou
que essa situação foi tida em conta
na proposta que chegou ao Conse-
lho da União Europeia, que prevê
uma derrogação da aplicação do
embargo pela Eslováquia e a Hun-
gria, que terão um prazo dilatado
até ao Ænal de 2023 para concluir os
seus contratos.
A adopção de sanções e medidas
restritivas é uma competência dos
Estados-membros, que agora vão
apreciar a proposta da Comissão, que
ainda pode sofrer emendas e altera-
ções antes da sua aprovação, obriga-
toriamente por unanimidade.
O Comité dos Representantes Per-
manentes (Coreper) dos 27 Estados-
membros no Conselho da UE fez
ontem a sua primeira avaliação do
rascunho do texto legislativo prepa-
rado pela Comissão, numa reunião
que se prolongou quase todo o dia.
Segundo o PÚBLICO apurou, os
embaixadores ainda aguardam as
instruções das respectivas capitais,
que tiveram poucas horas para ana-
lisar em pormenor a proposta da
Comissão antes do discurso de Ursu-
la von der Leyen no Parlamento
Europeu.
O Coreper volta a reunir-se hoje e
é possível que chegue já a um acor-
do para a aprovação do sexto paco-
te de sanções, apesar das preocupa-
ções manifestadas por alguns Esta-
dos-membros sobre as
“diÆculdades” que poderão enfren-
tar com a aplicação do embargo ao
petróleo russo e da ameaça de veto
por parte da Hungria (que deverá
ser ultrapassada).
Essas “diÆculdades” estão sobre-
tudo relacionadas com o potencial
de instabilidade e turbulência no
mercado da energia e o impacto das
Dinamarca 15
França 13
Itália
13
Espanha 11
Portugal 10
Suécia 9
Irlanda 6
Áustria 3
Eslovénia 0 Reino Unido
Luxemburgo 0 Outros
Fontes: Agência Internacional de Energia e Eurostat
sanções nos preços: com a taxa de
inÇação a bater máximos históricos,
os responsáveis políticos temem que
a opinião pública deixe de apoiar o
endurecimento das sanções.
Um outro risco, apontado pelos
analistas, é que a decisão europeia
se revele contraproducente, penali-
zando mais os 27 do que a Rússia
que, pelo aumento do preço do
petróleo, poderá arrecadar as mes-
mas receitas com o desvio das expor-
tações da Europa para a Ásia.
“Com estes passos, estamos a pri-
var a economia russa da sua capaci-
dade para se diversiÆcar e moderni-
zar”, declarou a presidente da
Comissão, que mencionou breve-
mente as restantes restrições pro-
postas no âmbito do sexto pacote de
sanções, nomeadamente a exclusão
do Sberbank, por onde passam um
terço das transacções do país, do
sistema internacional de pagamen-
tos SWIFT.
Além do Sberbank, outras duas
instituições bancárias — o Banco
Agrícola Russo e o Banco de Crédito
de Moscovo — poderão ser desco-
Importações de gás natural
pela UE
Em % do valor
Rússia 39,2
Noruega 25,1
Argélia 8,2
EUA 7,3
6,5
13,7
PÚBLICO
nectadas da rede que processa as
transferências em todo o mundo:
segundo Von der Leyen, estes ban-
cos são “sistemicamente cruciais
para o sistema Ænanceiro russo”.
Com a sua exclusão do sistema
SWIFT, a UE “solidiÆca o isolamento
completo do sector Ænanceiro russo
do sistema global”, justiÆcou.
Patriarca na lista de sanções
Ao atingir o lucrativo comércio
petrolífero, e restringir a actividade
do maior banco comercial da Rússia,
o sexto pacote de sanções da UE será
o mais penalizador de sempre para
o regime de Vladimir Putin. E a força
da acção europeia não é só econó-
mica, mas também política: a Comis-
são propõe ainda acrescentar deze-
nas de nomes à lista dos indivíduos
e entidades que Æcarão sujeitos ao
congelamento de bens e à proibição
de viagens da UE.
Alguns desses nomes são de “oÆ#
ciais militares de alta patente e
outros indivíduos que cometeram
crimes de guerra em Bucha e estão
envolvidos no cerco desumano à
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Presidente da Comissão
anunciou ontem proposta para
novas sanções da UE à Rússia
cidade de Mariupol”, revelou Ursula
von der Leyen, que prometeu ir
atrás de todos os “perpetradores da
guerra do Kremlin”. “Sabemos
quem vocês são e não deixaremos
de vos responsabilizar”, avisou.
Numa decisão cujo simbolismo
não escapará a Moscovo, a Comissão
propõe sancionar o patriarca Cirilo,
chefe da Igreja Ortodoxa Russa, des-
crevendo-o como um dos mais proe-
minentes apoiantes de Vladimir
Putin — e, “por isso mesmo”, coni-
vente com as “acções e políticas que
vão contra a integridade territorial,
soberania e independência da Ucrâ-
nia e a estabilidade e segurança des-
se país”.
Por último, o executivo pede o
acordo dos 27 ao endurecimento das
medidas contra os agentes que
difundem a propaganda do Kremlin
ou ampliÆcam a desinformação e
fake news em campanhas concerta-
JULIEN WARNAND/EPA
das e com objectivos políticos. No
primeiro caso, são identiÆcadas três
emissoras estatais de rádio e televi-
são da Rússia, que serão impedidas
de “distribuir o seu conteúdo na UE
sob qualquer forma ou formato, seja
por cabo, via satélite, Internet ou
através de aplicações para smartpho-
nes”, anunciou Von der Leyen.
O segundo caso abrange “contabi-
listas, consultores e spin doctors”
europeus ao serviço do Kremlin. “Isto
agora vai parar. Queremos proibir
que esses serviços sejam prestados a
empresas russas”, prosseguiu.
Para a líder do executivo comuni-
tário, é “evidente” para todos que o
Presidente da Federação Rússia
falhou o seu objectivo original, que
era “limpar a Ucrânia do mapa”. “A
Ucrânia ergueu-se e é a Rússia que
está a afundar-se”, assinalou.
Como Æzeram os dirigentes da
Administração norte-americana,
Ursula von der Leyen identiÆcou
claramente o desejo dos líderes
europeus para o desfecho do conÇi-
to: “Queremos que a Ucrânia ganhe
esta guerra.”
Efeitos económicos
UE pode evitar recessão,
Rússia sofrerá impactos bem maiores
Sérgio Aníbal
Estudos recentes apontam
para impactos moderados
de um embargo total nas
principais economias
europeias e em Portugal
E
mbora com diferenças muito
signiÆcativas entre os Estados-
-membros, o impacto econó-
mico de um embargo total às
importações de energia da
Rússia pode ser relativamente
reduzido para o total da União Euro-
peia, quando se compara com crises
económicas recentes e com o efeito
que poderá ser sentido no outro lado
do conÇito, pela Rússia, revelam estu-
dos económicos publicados nas últi-
mas semanas sobre esta matéria.
Na discussão sobre se a Europa
deve ou não avançar rapidamente
para um bloqueio a todas as importa-
ções vindas da Rússia, especialmente
as relativas a produtos como o petró-
leo ou o gás natural, o receio de um
impacto muito forte sobre a econo-
mia da UE tem sido o principal entra-
ve a que esta sanção, a mais poderosa
de todas, seja passada à prática,
havendo quem assinale o risco de se
estar a empurrar a economia euro-
peia para uma recessão, e quem diga
que o impacto negativo na UE até
pode ser maior do que o sentido pela
Rússia.
Estudos entretanto publicados
apontam, contudo, para um cenário
global na UE menos preocupante,
embora revelando a existência de
riscos assinaláveis para alguns dos
Estados-membros.
No estudo intitulado “The Econo-
mic Consequences of a Stop of Energy
Imports from Russia”, publicado em
Abril pelo Conselho de Análise Eco-
nómica francês, quatro economistas
— David Baqaee, Benjamin Moll,
Camille Landais e Philippe Martin —
utilizam um modelo com 30 sectores
de actividade em 40 países para ten-
tar calcular o efeito de cascata que o
Æm da importação de bens energéti-
cos da Rússia provocaria nas diversas
economias europeias.
O ponto fundamental deste estudo
e de outros do mesmo género é que
assumem que o facto de uma econo-
mia deixar de poder importar petró-
leo e gás da Rússia não signiÆca que
não seja capaz, pelo menos em parte,
de substituir esses bens por outros,
mesmo que a preços mais elevados.
Isto faz com que o impacto seja bem
menor do que aquele que resulta de,
pura e simplesmente, assumir que as
perdas de produção são iguais à per-
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 3
centagem de importação bloqueadas.
“Assumir uma elasticidade de substi-
tuição zero é totalmente irrealista.
Não é suportado por qualquer evi-
dência histórica ou por qualquer
investigação empírica existente”, aÆr-
mam os autores.
Deste modo, os impactos calcula-
dos variam consoante o pressuposto
— mais optimista ou mais pessimista
— que se assume relativamente à
capacidade de cada sector encontrar
substitutos para a energia russa. De
qualquer forma, para a maior parte
das economias, incluindo Portugal e
as principais potências, como a Ale-
manha, França, Espanha ou Itália, os
efeitos calculados não parecem ser o
suÆciente para as lançar numa reces-
são grave como as vividas em 2020 ou
em 2012.
No caso da Alemanha, o estudo diz
que o impacto negativo na economia
está situado entre 0,3% e 3%, sendo
este último valor o resultado esperado
no cenário mais pessimista de substi-
tuição. Tendo em conta que, neste
momento, a previsão de crescimento
do FMI para a Alemanha em 2022 é de
2,1%, o país pode ter de enfrentar, no
cenário mais pessimista, uma contrac-
ção da sua economia.
França, Itália, Espanha e Portugal
estão todos entre os países em que os
impactos negativos esperados são
mais moderados, com valores situa-
dos entre 0,15% e 0,3%.
Em contrapartida, alguns países
Alguns países mais
dependentes das
fontes de energia
russas arriscam-se
a sofrer mais
Opinião pública ocidental pede o embargo desde o início da guerra
mais dependentes das fontes de ener-
gia russas sentiriam de forma mais
pesada a concretização de um blo-
queio total. Lituânia, Bulgária, Eslo-
váquia, Finlândia e República Checa
sofreriam um impacto negativo na
sua economia situado entre 1% e 5%,
diz o estudo.
Outro estudo, feito por quatro eco-
nomistas, destaca o facto de, em qual-
quer dos casos, os impactos sofridos
pelas economias europeias serão
sempre bem mais moderados do que
os efeitos negativos impostos sobre a
Rússia. No caso do embargo à energia
russa ser imposto unicamente pela
UE, dizem os autores, ele custaria
“três vezes mais à Rússia do que à
UE”: 2,27% contra 0,71%. Mas efeito
negativo sobre a economia russa, que
é o objectivo imediato das sanções,
agravar-se-ia de forma substancial,
caso a UE fosse acompanhada por
outros países no bloqueio, ao passo
que o efeito sobre a UE continuaria a
ser aproximadamente o mesmo.
Uma alternativa
Ainda assim, os autores dos estudos
assinalam que, para alguns países da
UE, nomeadamente os situados mais
a leste, o impacto negativo nas suas
economias de um embargo pode ser
substancial. E sugerem uma alterna-
tiva.
No estudo publicado pelo Conse-
lho de Análise Económica francês
assinala-se que, em vez de um embar-
go, a aplicação de uma taxa alfande-
gária de 40% sobre os produtos ener-
géticos russos resultaria numa redu-
ção de 80% nas importações (em vez
de 100%) e isso permitiria que para
os países mais afectados o impacto
negativo fosse cerca de três vezes
menor, mantendo-se equivalente
para países como a França e Portugal,
por exemplo.
FILIP SINGER/EPA

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4 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Guerra na Ucrânia
Dia 70. Como evolui a situação no terreno
ÁREAS Controladas
pela Rússia
Territórios controlados pelos
russos antes de 24 de Fevereiro
Bielorrússia
As Forças Armadas da Bielorrússia
iniciaram exercícios militares em
larga escala para testar a sua
prontidão para o combate,
anunciou o Ministério da Defesa
POLÓNIA Lutsk
Lviv
Ucrânia
O Ministério da Defesa russo
anunciou ter desactivado nos Transnístria
últimos dias seis estações
ferroviárias em vários pontos
da Ucrânia, que seriam usadas
para fornecer armas
estrangeiras ao país
ROMÉNIA
100km
Fonte: Instituto para os Estudos da Guerra dos EUA
O peso do armamento ocidental
Rússia aumenta ataques
às linhas de abastecimento
de armas às forças ucranianas
Paulo Narigão Reis
Mísseis contra estações
ferroviárias e instalações de
armazenamento de armas
fornecidas pelo Ocidente
tornaram-se “alvo legítimo”
M
oscovo já avisara várias
vezes de que os carrega-
mentos de armas para a
Ucrânia fornecidas pelo
Ocidente seriam legíti-
mos alvos de guerra. E,
nos últimos dias, a Rússia tem
aumentado os ataques contra as
linhas de abastecimento de material
bélico destinado à frente de comba-
te, incluindo estações de caminhos-
de-ferro e instalações de armazena-
mento. O “despejo de armas” na
Ucrânia por parte dos Estados Uni-
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Reivindicadas Sob avanço russo (sem controlo
pela Rússia russo, mas onde lançaram ataques)
Ucranianos reivindicam
contra-ataque
BIELORRÚSSIA
Chernihiv
Ovruch
Rivne
Irpin Brovari
Vasilkiv Kiev
Rio Dniepre
Khmelntski
UCRÂNIA
Oleksandrivka
Krivii Rih
Mikolaiv
Kherson
Odessa
CRIMEIA
Mar Negro
dos e seus aliados da NATO, como
deÆniu ontem o ministro da Defesa
russo, Serguei Shoigu, representa
uma nova e real ameaça para os
objectivos da Rússia na nova fase da
guerra, concentrada na região leste
do Donbass.
“Qualquer transporte da Aliança
Atlântica que chegue ao país com
armas ou meios para as Forças
Armadas ucranianas será visto por
nós como um alvo legítimo para ser
destruído”, aÆrmou Shoigu numa
reunião com cheÆas militares, cita-
do pela agência Interfax, um dia
depois de o Presidente russo, Vladi-
mir Putin, ter dito ao seu homólogo
francês, Emmanuel Macron, duran-
te uma conversa telefónica, que o
Ocidente tem de deixar de fornecer
armas à Ucrânia.
Na terça-feira, os mísseis russos
atingiram seis estações de caminho-
Combates significativos
nas últimas 24 horas
Izium
A Rússia mobilizou 22 novos
grupos tácticos de batalhão
para a zona de Izium, na sua
tentativa de avançar ao longo
do eixo norte do Donbass
Sumi
RÚSSIA
Kharkiv
(Carcóvia)
Izium
Dnipro
Lugansk
Zaporijjia Donetsk
Mariupol
Melitopol
Mariupol
Segundo as autoridades
locais, já haverá tropas
russas dentro do
perímetro da fábrica
Azovstal. Continuam as
tentativas de evacuação
de civis do local
PÚBLICO
de-ferro nas zonas ocidental e cen-
tral da Ucrânia e, durante a madru-
gada, três subestações de electrici-
dade em Lviv foram também alvo de
ataques, deixando às escuras a cida-
de situada no Oeste do país. Segun-
do o Ministério da Defesa russo, foi
também atingido um hangar em
Odessa que albergava drones
Turkish Bayraktar TB2, de fabrico
turco, bem como mísseis e muni-
ções fornecidos pelos EUA e por
países europeus. Na semana passa-
da, outras cinco estações ferroviá-
rias haviam sido atingidas por mís-
seis russos.
O aumento do Çuxo de armas
pesadas para a Ucrânia, essenciais
para fazer frente às tropas russas na
região aberta e plana do Leste do
país, pode, pelo menos, servir para
equilibrar uma fase da guerra em
que, teoricamente, a vantagem mili-
O Presidente dos Estados Unidos já autorizou o envio de mais de cinco mil
tar estaria do lado da Rússia.
“É minha opinião que os russos
não acreditavam que o Ocidente
forneceria à Ucrânia as armas pesa-
das necessárias. Agora que o proces-
so começou, eles sentem que preci-
sam fazer algo em relação a isso”,
disse na quarta-feira passada um
responsável militar ucraniano, cita-
do pelo jornal britânico Guardian.
A certeza de que as armas pesa-
das fornecidas ao Exército ucrania-
no pelos aliados ocidentais podem
deÆnir o curso do conÇito tornou-se
central para os dois lados, nesta que
é cada vez mais vista como uma
guerra por procuração entre a NATO
e a Rússia. Só os EUA já Æzeram che-
gar à Ucrânia 3,4 mil milhões de
dólares (3,2 mil milhões de euros)
em armamento desde o início da
invasão, a 24 de Fevereiro e, na
semana passada, o Presidente nor-
te-americano, Joe Biden, anunciou
um novo pacote de apoio no valor
de 33 mil milhões de dólares (31
milhões de euros), dos quais 20 mil
milhões em ajuda militar.
Entre as armas dos EUA que já
chegaram à Ucrânia estão mais de
cinco mil mísseis Javelin que, segun-
do os serviços de informações oci-
dentais, têm sido essenciais para
retardar o avanço russo no Leste do
país, a que se junta outro armamen-
to pesado, como aviões de combate,
helicópteros Mi-17, carros blinda-
dos, ou drones Switchblade. Por sua
vez, a União Europeia está a acele-
rar o fornecimento de sistemas de
defesa aérea, armas antitanque e
munições, enquanto o Reino Unido
já começou a enviar drones de car-
ga, carros blindados, mísseis antiaé-
reos e antitanque.
Russos entram na Azovstal
As armas enviadas pelo Ocidente de
nada já servirão à cidade-mártir de
Mariupol, onde as forças russas
terão já entrado no complexo indus-
trial de Azovstal, segundo aÆrmou
um deputado ucraniano. “As tenta-
tivas de invadir a fábrica continuam
pelo segundo dia. As tropas russas
já estão no território da Azovstal”,
disse ontem David Arakhamia, em
declarações à Radio Free Europe/
Radio Liberty, citadas pela Reuters,
aÆrmando que o Governo de Kiev
mantém as comunicações com os
soldados ucranianos que resistem
no interior do complexo, isto depois
de o presidente da câmara de Mariu-
pol, Vadim Boichenko, ter dito que
o contacto se perdera durante os
ataques russos.
“Infelizmente, sim, há combates
pesados a decorrer hoje em Azovs-
tal”, disse Boichenko, lamentando
o facto de não ter forma de saber “o
que está a acontecer, se as pessoas
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mísseis Javelin para as forças ucranianas
estão ou não em segurança” no inte-
rior da Azovstal.
Responsáveis militares ucrania-
nos disseram na terça-feira que as
forças russas lançaram uma ofensi-
va, com ajuda de fogo de artilharia,
para desalojar as tropas que resis-
tem dentro do complexo logo após
a ONU e a Cruz Vermelha terem con-
Ærmado que uma centena de civis
tinha sido retirada da fábrica.
Ontem Æcou também a saber-se
que o número de mortos causados
pelo bombardeamento do teatro de
Mariupol será muito mais elevado
do que se pensava. De acordo com
A certeza de que
as armas pesadas
fornecidas ao
Exército ucraniano
pelos aliados
ocidentais podem
definir o curso do
conflito tornou-se
central para
os dois lados
JONATHAN ERNST/REUTERS
uma investigação da Associated
Press, que se baseou nos testemu-
nhos de 23 sobreviventes e socorris-
tas, terão morrido 600 pessoas, o
dobro do inicialmente estimado a
16 de Março, quando um míssil rus-
so atingiu o teatro.
Noutra contagem de vítimas civis,
a polícia de Kiev informou ontem
que os corpos de mais 20 pessoas
foram encontrados nas últimas 24
horas na região da capital da Ucrâ-
nia. As últimas descobertas, feitas
na cidade de Borodianka e nas
aldeias vizinhas, elevam o número
total de corpos de civis encontrados
na região até agora para 1235.
As autoridades militares ucrania-
nas temem, entretanto, que a região
de Kiev volte a ser um alvo para as
forças russas, com a ajuda da Bie-
lorrússia, depois de o Governo de
Minsk ter anunciado a realização de
exercícios militares para avaliar a
prontidão da sua capacidade de res-
posta e combate perante uma pos-
sível “crise”.
“Não descartamos que a Federa-
ção Russa possa, em algum momen-
to, usar o território da Bielorrússia
e as Forças Armadas da República
da Bielorrússia, contra a Ucrânia.
Portanto, estamos prontos para
isso”, disse o porta-voz do Serviço
Estatal de Guardas de Fronteira da
Ucrânia.
Navio com gás russo
chega hoje a Sines
H
á uma nova carga de gás
natural liquefeito russo
(GNL) a caminho de
Portugal. O navio tanque
Georgii Ushakov, proveniente
do porto de Sabetta, na
Sibéria, tem hora de chegada
prevista ao Porto de Sines às
6h00 de hoje.
Trata-se do segundo
carregamento de gás natural
proveniente de Sabetta a
chegar a águas portuguesas
desde o começo da invasão
russa à Ucrânia. O primeiro foi
o navio Vladimir Vize que,
como o Expresso noticiou,
trouxe em Março gás
importado da Rússia pela
empresa espanhola Naturgy
(antiga Gas Natural Fenosa),
que no mercado português
abastece o segmento
industrial.
Se o Vladimir Vize tinha
bandeira de Hong Kong, o
Georgiy Ushakov usa bandeira
das Bahamas e está registado
em Nassau. Mas, tal como o
antecessor, partiu da
península de Yamal, onde
Vladimir Putin inaugurou em
2017 uma das maiores
unidades de liquefacção de
gás natural do mundo.
A Naturgy foi uma das
primeiras empresas a assinar
um contrato de
abastecimento de longo prazo
com a Yamal LNG, um dos
projectos- -bandeira do
Kremlin.
Questionada pelo PÚBLICO
sobre se era para si este
carregamento, a empresa
afirmou que “não costuma
comentar as rotas dos navios
que contrata”.
O PÚBLICO procurou saber
a identidade do cliente deste
gás natural junto do Porto de
Sines, mas não foi possível
obter resposta em tempo útil.
O agente de navegação
contratado pela transportadora
para a escala em Sines é a Orey
Comércio e Navegação, do
grupo Horizon View, que o
PÚBLICO também procurou
contactar, sem sucesso.
Construído em 2019, o navio
Georgiy Ushakov está
registado como pertencendo
à DY Tankers Ltd, segundo o
site Vesselfinder.com. Trata-se
de uma empresa referenciada
nos “Bahama Leaks”, segundo
o Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação
(ICIJ, na sigla inglesa), que
detém outros navios-tanque.
Ana Brito, com Luís Villalobos
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 5
Diplomacia
António Costa aceita
convite do homólogo
ucraniano para ir a Kiev
Liliana Borges
A
ntónio Costa irá a Kiev assi-
nar um acordo de um apoio
Ænanceiro “substancial” à
Ucrânia. O anúncio foi
ontem feito pelo primeiro-
ministro, no Ænal de uma
reunião por videoconferência de qua-
se uma hora com o homólogo ucra-
niano, Denis Shmigal. “Aceitei o con-
vite”, aÆrmou Costa em declarações
aos jornalistas. Na visita, António Cos-
ta encontrar-se-á também com o Pre-
sidente ucraniano, Volodymyr
Zelensky. A data está Æxada, mas só
posteriormente será anunciada.
O valor do apoio também não foi
ainda revelado. O primeiro-ministro
destacou que as necessidades de
financiamento da Ucrânia rondam os
5 mil milhões de euros por mês. “São
necessidades muito avultadas e que
exigem um esforço de toda a comuni-
dade internacional.” E acrescentou:
“Portugal não está em condições de
responder a apoios desta dimensão,
mas daremos uma contribuição subs-
tancial.” Hoje, Costa participará, tam-
bém por videoconferência, na Confe-
rência Internacional de Doadores de
Alto Nível para a Ucrânia para anga-
riar fundos de resposta humanitária.
Questionado sobre o pedido de
adesão de Kiev à União Europeia, o
primeiro-ministro realça que há
dois passos que podem ser dados
imediatamente, sendo um deles a
União assumir “um compromisso
quantiÆcado e claro” de apoio
“total” para a reconstrução da Ucrâ-
nia: “Não nos devemos distrair com
objectivos de médio ou longo prazo,
quando há respostas que têm de ser
Primeiros-ministros de Portugal
e da Ucrânia em videoconferência
imediatas.”
Até agora, Portugal enviou para a
Ucrânia 170 toneladas de material
bélico e não bélico (incluindo médi-
co), adiantou ontem a ministra da
Defesa, Helena Carreiras, numa visita
à Base Aérea do Montijo. “Vamos con-
tinuar a apoiar na medida das nossas
possibilidades”, disse.
Depois de o ministro dos Negócios
Estrangeiros ter anunciado que a
embaixada portuguesa em Kiev irá
reabrir nas “próximas semanas”, Cos-
ta reaÆrma que essa data foi também
Æxada no encontro com o primeiro-
ministro ucraniano. Contudo, tal
como em relação à data da sua visita
à capital da Ucrânia, a data só será
revelada “em altura própria”, frisou,
garantindo que “a embaixada nunca
esteve completamente fechada”.
‘Inconcebível’ ilegalizar PCP
O primeiro-ministro foi também ques-
tionado sobre o acolhimento de pelo
menos 160 refugiados ucranianos por
Igor Khashin, da Associação dos Emi-
grantes de Leste (Edintsvo), e pela
mulher, Iulia Khashin, funcionária do
município, que terão, alegadamente,
fotocopiado documentos de identiÆ#
cação dos refugiados ucranianos, no
âmbito da Linha de Apoio aos Refu-
giados da Câmara de Setúbal.
Costa recordou a expulsão de dez
funcionários da embaixada russa
para aÆrmar que o “sistema de segu-
rança interna e de informações está
activo” e que “o Estado não deixará
de agir em conformidade, se houver
risco de segurança”. Disse ainda que
será a ministra da Coesão Territorial
a determinar a inspecção da actuação
da Câmara de Setúbal e que a queixa
em relação à protecção de dados foi
devidamente remetida para a Comis-
são de Protecção de Dados.
Também o repto feito pelo PCP e as
declarações do presidente da associa-
ção Refugidos Ucranianos, que no
sábado disse não perceber “como é
que Portugal, um país democrático,
continua a ter um partido como o
PCP”, mereceram resposta do chefe
do executivo. António Costa recusou
entrar “num clima de caça às bruxas”
e vincou “respeitar o pluralismo pró-
prio de os portugueses escolherem
em quem votam”.
Apesar de ter deixado clara a “pro-
funda divergência” em relação à posi-
ção do PCP sobre o conÇito, aÆrmou
que a ilegalização do partido liderado
por Jerónimo Martins é “inconcebí-
vel”, destacando o “contributo impor-
tante” para o regime democrático.
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6 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Guerra na Ucrânia
Apoio a refugiados ucranianos
Alto Comissariado “sem conhecimento”
de associações com ligações a Moscovo
Ana Dias Cordeiro
Por falta de provas, as
câmaras municipais de
Gondomar e Portimão
mantêm o trabalho com
as associações visadas
O
Alto Comissariado para as
Migrações pronunciou-se
ontem pela primeira vez des-
de que a embaixadora da
Ucrânia alertou para o risco
de associações que apoiam
refugiados ucranianos terem ligações
muito próximas ao Governo russo.
Em respostas ao PÚBLICO (a per-
guntas enviadas sexta-feira), o ACM
diz que “não tem conhecimento de
que a actuação das associações reco-
nhecidas [por este instituto público]
tenha envolvimento ou ligação políti-
ca ao Governo russo”. E isto, acrescen-
ta, apesar de “algumas destas associa-
ções terem, nos seus corpos sociais,
cidadãos de várias nacionalidades,
incluindo a nacionalidade russa”.
As suspeitas de alegadas ligações à
embaixada da Rússia, susceptíveis de
porem em perigo os refugiados ucra-
nianos acolhidos em Portugal, foram
lançadas pela embaixadora Inna
Ohnivets, numa entrevista à CNN em
8 de Abril. Também o presidente da
Associação dos Ucranianos de Portu-
gal, Pavlo Sadokha, tem desde então
acusado associações concretas dessa
suposta cumplicidade, referindo
exemplos nos concelhos de Gondo-
mar, Aveiro e Portimão.
Inna Ohnivets e Pavlo Sadokha aler-
taram as autoridades em Portugal e
os Serviços de Informação da Repú-
blica Portuguesa (SIRP) no início de
Abril para o que consideram ser o
risco de partilha de informações sen-
síveis sobre cidadãos ucranianos com
os serviços de espionagem russa. O
problema atingiu em especial a Câma-
ra de Setúbal, onde o executivo é da
CDU, após o Expresso ter divulgado
relatos de ucranianos que desconÆa-
ram da forma como foi recolhida
informação no gabinete de apoio ao
imigrante desta autarquia, onde tra-
balhava uma funcionária (entretanto
suspensa pela autarquia), casada com
Igor Khashin, antigo presidente da
Casa da Rússia e do Conselho de Coor-
denação dos Compatriotas Russos.
Mas as acusações não pouparam
outras associações: a Amizade – Asso-
ciação de Imigrantes de Gondomar,
liderada por Nataliya Khmil, há mais
de 20 anos em Portugal; o Centro de
Apoio para Emigrantes do Leste Euro-
peu e Amigos (CAPELA), em Porti-
Nataliya Khmil também é representante da comunidade ucraniana no ACM
Setúbal: PS disponível
para fazer cair câmara
O
PS admite renunciar a
todos os mandatos na
Câmara de Setúbal, e com
isso provocar a queda do
órgão autárquico e a convoca-
ção de eleições intercalares, se
“todos” os eleitos do PSD to-
marem primeiro essa iniciativa.
A possibilidade de o PS
acompanhar uma renúncia de
toda a oposição foi admitida
ontem pelo primeiro vereador
do PS, Fernando José, que
justifica a possibilidade de os
socialistas avançarem com a
renúncia, nessa condição de o
PSD avançar primeiro, com a
“alteração das circunstâncias
políticas no município”.
Fernando José argumenta que,
com a saída dos dois vereado-
res do PSD, a CDU, que tem
cinco eleitos, passaria a ter
maioria absoluta, uma vez que
o PS tem quatro vereadores. A
renúncia em bloco da oposição
é improvável já que o primeiro
vereador do PSD, Fernando
Negrão, tem rejeitado a hipóte-
se de renunciar ao mandato,
apesar de a proposta ter parti-
do da concelhia do PSD. F.A.R.
mão, que tem como presidente da
direcção a cidadã moldava, há 22 anos
em Portugal e com nacionalidade
portuguesa, Ludmila Moghilevscaia;
e ainda a Associação de Apoio ao Imi-
grante de Aveiro, presidida por
Lyudmyla Bila.
Contactadas, as câmaras de Gon-
domar e de Portimão disseram que
não vão suspender a parceria que
desenvolvem há vários anos e que foi
intensiÆcada desde o início da guerra
na Ucrânia com associações de imi-
grantes que foram acusadas de serem
pró-Putin. Cláudia Vieira, vereadora
para a Coesão Social da Câmara de
Gondomar (PS), diz que não vão sus-
pender a parceria de longa data e que
se intensiÆcou desde o início da guer-
ra em Fevereiro. “Não somos nós a
entidade competente para julgar
estas acusações. Nós, enquanto muni-
cípio, não temos nenhuma função de
julgar ninguém, não vemos que exis-
tam evidências comprovadas” sobre
essa associação.
“Esta situação causa desconforto
pela suspeita criada”, reconhece.
“Queremos que sejam devidamente
esclarecidas”. Mas são entidades
“com outro nível de competência que
têm de aferir”. “Nós enquanto câma-
ra seguimos os protocolos para apoiar
as pessoas necessitadas”, realça.
Também Isilda Gomes, presidente
da Câmara de Portimão, diz que a
CAPELA e a sua presidente, Ludmila
Moghilevscaia, ajudam na tradução
PAULO PIMENTA
há mais 20 anos, e não apenas junto
da autarquia, mas também do Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras ou do
Instituto de Emprego e Formação
ProÆssional e outras entidades que
contactam com imigrantes e agora
com os refugiados ucranianos. “Eu
conÆo nesta pessoa. Gostava que
quem está a fazer essas acusações
apresentasse provas. Se esse senhor
[Sadokha] que denunciou a situação
apresentar provas… nós aqui não
temos nenhuma prova. Esta pessoa
dá apoio a todas as pessoas do Leste.
Se tivesse a mínima suspeita, seria a
primeira a tomar uma atitude.”
Também contactada, a embaixado-
ra da Ucrânia não respondeu ao
PÚBLICO. Sadokha mantém as suspei-
tas; e desaÆa Nataliya Kmihl a assumir
uma posição pública sobre a guerra
na Ucrânia para provar que não tem
ligações a Moscovo. Ao PÚBLICO, a
própria esclarece que a sua associa-
ção “não desenvolve actividade polí-
tica”, diz-se chocada com a acusação
de colaborar com os serviços de espio-
nagem russos e desmente qualquer
cumplicidade com Moscovo.
Já a dirigente da associação em São
Bernardo (no município de Aveiro,
cuja câmara é liderada pelo PSD) não
quis responder a perguntas, mas des-
mentiu publicamente ligações ao
poder russo. O desmentido não impe-
diu a Junta de Freguesia de São Ber-
nardo de “suspender a actividade da
associação”.
A guerra dará novo
fôlego à UE?
Este desafio na
Ucrânia
obviamente ajuda
a Europa a
começar a investir
na sua capacidade
de defesa e na sua
capacidade de
trabalhar em conjunto. Trouxe
obviamente um grande desafio
que está ligado à capacidade de
controlar a inflação. Vai ser um
teste muito grave para toda a
comunidade e todo o mundo.
Adrian Bridge
CEO da Taylor’s Port
A UE reagiu de forma solidária à
guerra na Ucrânia. A história da
União diz-nos que a UE tem feito
progressos sempre que é
confrontada com uma crise e
tem de encontrar resposta para
essa crise. Foi o que aconteceu
com a covid-19. A questão que se
coloca é a UE vai aprender com
esta crise? Vai aprender, em
primeiro lugar, com a sua
capacidade de receber os
ucranianos e as
ucranianas no
espaço europeu?
Vai aprender para
a política
migratória futura?
Vai ser capaz de
tomar as decisões
necessárias, criar os
instrumentos necessários para
apoiar os países da União
Europeia no impacto que as
sanções à Rússia têm nas
economias europeias,
designadamente em matéria de
energia, abastecimento alimentar
e autonomia estratégica? A UE
vai ser capaz de apoiar os
Estados-membros, por um lado e,
por outro lado, criar uma
autonomia estratégica? Se a
União Europeia conseguir fazer
isso, efetivamente dará um passo
em frente no processo de
integração europeia. E é isso que
nós esperamos desta crise, onde
a União Europeia se tem
conseguido manter unida,
apoiando simultaneamente a
Ucrânia e a União Europeia, os
diferentes Estados-membros e os
europeus.
Margarida Marques
Eurodeputada do PS e
ex-secretária de Estado dos
Assuntos Europeus
Em colaboração
com a
Comissão
Europeia
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CONTEÚDO
COMERCIAL

prossegue com o debate “Tecnologia E qual o papel ainda reservado para as

ťť Eť ŧ  ť ť Eŷ- “Finanças Verdes”? Como podem estas

v?
E ŧ ťŷ ŧ  ť  'ť  ? servir para fazer do mundo do inves-
"# ť ! &((A ,ťť
ť  M? timento uma verdadeira ferramen-
"# ť .'.A / Ĥ  !ťŧ ? &- ta impulsionadora de uma sociedade
ť
%
Ŧť
ťť&)!E )- em que se premeiam os investimen-
ť? "  ť  „ &ť
 #-   Eŷ?   ŧ  ť 
ʝŧ ť %ť
> (  ť‡Ĥ  ťŷ ť
para o futuro do planeta e aqueles que
cargo de Manuel Carvalho, director do
)–'"#>
Sendo este um tema de múltiplas ra-
ʝŧť‡ĭ?  ŧť ť ť ťĤ 
também tópicos como o uso da tecno-
visam melhorar as condições de vida
ou que procuram uma sociedade mais
coesa social e economicamente?
 ? ŧ   Eŧť? ť  ť‡ĭ ŧ-
nológicas têm tanto de apaixonan-
ťť ť‡Ĥ 
ťʝŧU-  ŧ    ĩ> ,ť  ?
A NTT DATA, em parceria com
Uŧť ťʝŧť
v -
o PÚBLICO, coloca em debate a
forma como a tecnologia pode
(e deve) contribuir para um
EťŦʝŧťEť-
planeta mais sustentável e uma
sociedade mais coesa. Dia 6 de
Maio, a partir das 10h00, assista
> ťʝŧ
ŧ -
à Conferência Tech4Good, com
cia energética e da economia circular, como sempre, o seu propósito conti-
assim como a crescente importância de nua dependente da natureza huma-
se ter uma gestão focada na sustentabi- na. E se ter realmente uma “Tech-
lidade, tanto ao nível dos processos in- 4Good” depende de nós, então o que
 Eť w
ternos da própria empresa, como na re- devemos fazer? Não perca este deba-
dadeiramente inteligente, que cami-
nhos devem ser seguidos para asse-
lação e nas exigências apresentadas a te, no dia 6 de Maio a partir das 10h00,
fornecedores, e até ao nível do impac- com transmissão em directo no site,
gurar que as inovações que estão ao
to social da sua própria actividade. Este ťŧŦ 3 EEŦ )–'"#>
ťť
último ponto é cada vez mais crítico
nidade, são acessíveis a todos e têm os
para a relação de uma empresa tanto
E Ŧĩŧ  Eť ŦEĩ-
dos? Como pode a investigação tecno-
com clientes como com a sociedade em Saiba mais aqui
ť
lógica não apenas procurar a inovação,
preende ou aceita uma empresa que
mas também gerir os seus potenciais
Ĥ  ť ť ŧ ŧ 
transmissão em directo no site e impactos negativos?
atenta aos efeitos ambientais, sociais
redes sociais do jornal.
)–'"# -
A
velocidade e a profundidade
dos avanços digitais que ac-
tualmente experimentamos
)ťť ťEť ť ŧ  Ĥ  ī 
alcance, mas também as respostas a
e económicos provocados pela sua ope-
ração. Qual o peso deste factor na ges-
estas questões, no próximo dia 6 de
tão das empresas? E como podem, ou
,ť ť!&((  ť
devem, estas inovações e tecnologias
ganizam a Conferência “Tech4Good”,
ser usadas não apenas em prol
 
E Ģ  ŷ  ť
-
fazem da tecnologia um dos princi-
pais drivers da inovação e do cres-
de um negócio ou produto,
gumas das empresas mais importan-
mas de modo que também
tes e mais inovadoras do país e o know
ťEŧ ŦE  -
cimento económico. Estes avanços
têm acarretado consigo profundas
mudanças nas vidas de todos nós e
também das empresas, com antigos
monopólios sólidos a verem-se amea-
çados e rapidamente ultrapassados
por tendências emergentes. Este é um
ŧť 
y  ťŧťMŧ > # Ŧŧ  ťť
vo para uma sociedade mais
por ter numa só sessão os contribu-
verde e economicamente
tos daqueles que, dadas as posições
ťEťo
em que se encontram, têm visões par-
ticularmente privilegiadas sobre este
tema e sobre as potencialidades posi-
tivas do mundo digital. Além de Ricar-
E   ťť ʝŧť? ŷ
E   1ī ? ť   )  
cada inovação tecnológica é, normal- %Ĥ ť! ť.'?ť
EŧťŦ-
mente, bastante disruptiva. Mas se a ŷťťŦEť  ?ťŧ Uŧť
tecnologia tem este poder fortemente
transformativo no quotidiano de pes-
soas e empresas, como pode esse mes-
mo poder ser utilizado como respos-
ťŴťť‡ť
Eť ŧť 
enfrentam? Como poderemos usar o
potencial disruptivo e transformador
da tecnologia em prol do bem-estar e
Eťŧ  ťEŷ
o
Não tendo a tecnologia “vontade pró-
pria”, o seu propósito último depende
essencialmente das escolhas huma-
nas. Que escolhas devem então os lí-
deres empresariais fazer? E nós,
enquanto indivíduos, que es-
colhas podemos tomar para
assegurar que a tecnolo-
gia, a inovação e o digi-
ť
 ť  ‡ť w -
vas”? E como lidar com
a imprevisibilidade da
tecnologia? Agora que
estamos mais próxi-
mos do que nunca de
 Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
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8 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Espaço público

O petróleo é uma arma

A
presidente da Comissão
Editorial Europeia anunciou ontem
de manhã mais uma
proposta de sanções à
Rússia. Desde que a invasão
da Ucrânia se consumou, esta é sexta
vez que a União Europeia dá um passo
Manuel Carvalho em frente e agrava a sua estratégia de
asÆxia económica da Rússia. Cada vez
que o faz, permite duas conjecturas: ou
as sanções anteriores não produziram
ainda os resultados esperados, ou a
União Europeia aumentou de tal força
as suas expectativas sobre a
possibilidade de uma vitória da Ucrânia
que decidiu intensiÆcar a gravidade
das sanções.
A Europa e os Estados Unidos estão
As sanções a conta-gotas em guerra contra a Rússia. Não através
são a prova de que a dos seus exércitos, mas por intermédio
Europa podia desde o do fornecimento de armas e das
primeiro dia fazer muito sanções. As democracias precisam de
restaurar a frágil ordem mundial que
mais, mas são também nasceu no estertor da Guerra Fria e
a conÄrmação de que para o conseguir a Rússia tem de servir
não desiste da Ucrânia de exemplo a todos os que ousem
desaÆar a soberania de Estados
independentes. Ceder neste princípio
seria premiar a agressão.
Outrora, os Estados Unidos criavam
movimentos fantoches ou políticos de
encomenda na América Latina ou em
África para substituir regimes
inconvenientes. Na Ucrânia não foi
preciso recorrer a manobras
subversivas. A surpreendente
capacidade de resistência dos
ucranianos bastou. Se no início da
ameaça a Alemanha ofereceu
capacetes e agora está disposta a
entregar tanques, ou se a cada semana
que passa a ajuda militar americana
aumenta, é porque a guerra corre bem.
Reforçar as sanções é como chamar
reservistas.
Estamos por isso numa guerra entre
blocos por interposto país — só que é
esse país que sofre todos os dias a
perda de vidas humanas e assiste à
destruição das suas infra-estruturas. O
calculismo cínico com que a parceria
transatlântica reage ao evoluir do
conÇito cabe nos manuais sobre o
interesse estratégico ou na noção de
que tudo tem de ser ponderado para
evitar um conÇito nuclear. As sanções a
conta-gotas são a prova de que a
Europa podia desde o primeiro dia
fazer muito mais, mas são também a
conÆrmação de que não desiste da
Ucrânia.
Se no princípio o que importava era
evitar uma queda abrupta, nesta nova
fase, em que, como Ursula von der
Leyen referiu, “queremos que a
Ucrânia ganhe esta guerra”, os
tanques ou os mísseis antiaéreos já
não bastam. É preciso reforçar a arma
económica, desta vez Æxando uma
data-limite para a importação de
petróleo da Rússia.
A guerra está longe do Æm, mas a
frente congelada do Donbass e as
perspectivas de futuro sugerem que a
Rússia está longe de uma vitória. O
impasse que augura uma derrota no
futuro devia ser um bom princípio de
conversa para um acordo de paz.

CARTAS AO DIRECTOR
O progresso tem custos
Desde a era primitiva que a
existência de classes sociais é o
motor da História e tentá-las banir é
uma utopia. Progredir a todo o
custo com base no lucro
desenfreado é um suicídio, sem
uma política sustentável e
equilibrada em todos os domínios.
Em que as empresas terão uma
política social de estímulo dos seus
trabalhadores, clientes e
fornecedores. O Estado deve
promover os empreendedores e
inovadores e proteger socialmente
os mais fracos. Mais do que o
aumento dos salários precisamos
de melhores condições de vida e de
trabalho. A mecanização das
empresas veio criar mais
desemprego, mas ao mesmo tempo
libertar trabalhadores para outros
sectores de economia, reduzindo o
horário de trabalho e entrando
assim na sociedade do lazer e do
turismo. A par de um espírito
cosmopolita os trabalhadores
devem-se adaptar às novas
tecnologias e à nova sociedade,
delas emergente. Não podemos
nadar contra a maré da História. A
família, os amigos, os bons livros e a
boa música ainda continuam a ser o
nosso suporte. Há que criar pontes
sociais e políticas interclassistas.
José Oliveira Mendes, Portalegre
Que nada fique
por investigar
O caso que se passou com a
associação pró-russa em Setúbal,
no questionamento, gerador de
desconÆança, da situação de
refugiados ucranianos, não sendo
directamente imputável à
responsabilidade do Governo,
deverá pôr este de sobreaviso até
porque já é admitido que situações
idênticas terão já sucedido ao nível
de outras autarquias. Por isso, seria
desejável que o Governo
procurasse inteirar-se com
urgência de qual o papel, a nível
nacional, que associações desse
tipo poderão estar a desempenhar
e qual a relação que com elas terão
as autarquias. Esse levantamento, a
efectuar com as autarquias e com
recurso também à Associação de
Municípios, poderá de futuro
acautelar males semelhantes ou
maiores a juntar aos já identiÆca-
dos em Setúbal e isto para que um
país democrático, como o nosso,
não seja corroído nos seus alicerces
por tamanhas brechas. É o nosso
bom nome, e o respeito por nós e
pelos demais, quem o exige.
Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha
1,3 milhões sem
médico de família
Fiquei a saber ontem que o
número de pessoas sem médico de
família é alarmante e prova que o
Governo tem a obrigação de, a
curtíssimo prazo, encontrar
soluções para este problema. É
imperioso conseguir motivar os
médicos a permanecerem ou a
entrarem para o SNS com
condições de remuneração que
sejam atractivas pois, se assim não
acontecer, a situação só Æcará cada
vez pior. É necessário que o
Governo entenda e a sociedade em
geral também, que face ao número
de anos de estudo de um médico
mesmo não especialista, os
vencimentos oferecidos no SNS são
quase insultuosos. Por exemplo e
de acordo com a tabela para 2022,
um médico não especialista com
dedicação exclusiva e 35 horas de
trabalho semanal (índice 105 que é
o mais elevado para um não
especialista) ganha a quantia de
2280,1 euros mensais. É mais que
lógico que faltem médicos no SNS,
concordam?
Manuel M. Gomes, Senhora da Hora
Os limites da Europa
De Lisboa a Vladivostok parece-me
um pouco exagerado. Havendo
poucas dúvidas quanto ao limite
Atlântico a oeste, o PacíÆco do
outro lado é talvez um pouco
exagerado. Na deÆnição da Europa
e seus limites, mais importante do
que os meridianos geográÆcos
estão os valores sociais e culturais
e, citando a chamada Constituição
Europeia, “humanismo, igualdade
de todos os seres, liberdade,
respeito pela razão”. A história da
Europa teve fases brilhantes e
períodos sinistros, por vezes
escassamente separados, como,
em França, com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem e
do Cidadão em 1789 e o terror de
Robespierre quatro anos depois.
Mais recentemente vimos
barbaridades como a guerra civil
espanhola, aqui ao lado, o nazismo
na Alemanha e o estalinismo na
Rússia. No entanto, nos últimos 70
anos, após o Ænal da II Guerra
Mundial, a Europa parece ter-se
estabilizado, reencontrado esses
valores e citando de novo:
“respeito pela dignidade humana,
da liberdade, da democracia, da
igualdade, do Estado de direito”. O
que se está a passar na Ucrânia é
uma clara negação dos valores
europeus. Para aqueles que se
recusam a vê-lo, como não viram o
Gulag, cegueira ideológica é uma
explicação algo benigna.
Trata-se antes de uma opção
ideológica, veladamente assumida.
É não se reconhecer nos valores
humanísticos europeus, promover
a tal “revolução” purificadora e a
reversão deste regime que, sem ser
ideal, é o melhor que existe. Não é
passivamente ignorar, é activamen-
te lutar por uma causa perigosa.
Carlos J. F. Sampaio, Esposende

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ESCRITO NA PEDRA Quando é que tu nasceste?
Pouco importa
às pessoas saber Ainda ontem
que têm os di-
reitos reconhe-
cidos em prin-
cípio, se o exer-
Q
cício deles lhes é Miguel Esteves Cardoso
negado na prá- ue remédio tenho tido eu ao
longo dos anos senão aprender
tica Sá Carneiro, a desvendar os códigos
complexos que os fabricantes
estadista arranjam para esconder as
datas de produção? Nenhum.
Compreendo que escoar o
produto seja uma prioridade... para o
O NÚMERO produtor e para o armazenista. Mas, para o
24
consumidor, a única prioridade é comprar
tudo o mais fresquinho que puder ser.
Nesta barafunda, em que os conteúdos das
caixas vão envelhecendo enquanto esperam
que esvaziem as prateleiras onde jaz tudo o
que não se vende, as datas de validade, apesar
de serem enganadoras e perdulárias, até são
nossas amigas. Pelo menos estabelecem um
Há 24 milhões de pessoas a limite e, com alguns conhecimentos
precisar de ajuda humanitária especializados, é possível determinar, mais
no Afeganistão, mais 5,6 milhões ou menos, a data de fabrico.
após os taliban tomarem o poder Não estou só a falar de azeite — uma delícia
ZOOM UMA PEÇA DE TEATRO SOBRE JESUS CRISTO QUE SE REPETE NA ALEMANHA DESDE 1634
Desde 1634 que a Peça da Paixão sobre a morte de Cristo é encenada de dez em dez anos no Teatro da Paixão
em Oberammergau, Alemanha. A 42.ª Peça da Paixão está em exibição entre 14 de Maio e 2 de Outubro
essencial que convém sempre ser o mais novo
possível — mas aposto que só uma pequena
percentagem de quem usa azeite todos os dias
sabe dizer qual foi a data da colheita das
azeitonas usadas.
O que é que distingue um azeite de um
sumo fresco de fruta? Nada. É um sumo de
fruta. Então porque é que não se diz o dia em
que se fez a extracção do azeite?
Ah pois, porque é raro o sumo de frutas que
diz de onde vem a fruta e em que dia foi
extraído. Também aí convém a máxima
mistiÆcação, já que os sumos concentrados,
vindos de sabe-se lá que mixórdia de frutas e
países, podem estar congelados há anos.
Nas bebidas alcoólicas, os códigos são
particularmente difíceis, embora um
Champollion dedicado, de chave na mão,
consiga descobrir até o minuto do
engarrafamento. Porque é que não se obriga
os produtores a declarar no rótulo a data e o
local de produção? Não têm já máquinas para
imprimir as validades? Assim cada
consumidor poderia determinar
imediatamente a frescura (e logo a validade)
de um produto.
Para inaugurar este bom hábito, eu até
copiaria uma boa ideia dos raptores,
obrigando os fabricantes a publicar uma foto
do produto onde estivesse encostado um
jornal daquele dia. Porque não?
LEONHARD SIMON/EPA
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 9
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10 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Espaço público
Já ouviram falar em “riâção”? Vão ouvir, muitas vezes
Em Público
o “partilhar com o público em geral a riqueza do
O
Nuno Pacheco
Dia Mundial da Língua, que
uma vez mais hoje se celebra,
tem um efeito estranho sobre
um lote heterogéneo de
criaturas. Reagem à sua
aproximação como a natureza à
Primavera, desdobram-se em elogios e
profecias (as centenas de milhões que hão-de
falá-la no futuro), deslumbram-se com
particularidades há muito conhecidas, mas
para elas recém-descobertas, entusiasmam-se
com citações gongóricas e depois adeus, que
um Dia não são dias. Todo este entusiasmo
dura o tempo da celebração. E até para o ano,
que há muito mais em que pensar.
Mas mesmo não pensando nela, falam-na,
escrevem-na, lêem-na, ouvem-na: a língua
está presente em tudo o que fazemos. Neste
contexto, e como a Academia das Ciências de
Lisboa (ACL) promove hoje uma sessão
subordinada ao tema, com a participação de
academias congéneres, o seu novo presidente,
o historiador José Luís Cardoso (eleito em
Dezembro de 2021 para o triénio 2022-2024)
deu uma entrevista ao Diário de Notícias. Nela,
Celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa
O
João Gomes Cravinho
trabalho conjunto de
Portugal e dos países da CPLP
foi determinante para que a
UNESCO decidisse, em 2019,
que o dia 5 de maio Æcasse
consagrado mundialmente à
língua portuguesa.
A institucionalização de um dia
comemorativo assume uma importância
tanto real como simbólica para a promoção
da causa do reconhecimento e da
disseminação da nossa língua. Ao longo
deste dia, em múltiplas organizações
internacionais, em variados organismos
regionais, nacionais e locais, em diversas
entidades de natureza distinta espalhadas
pelos quatro cantos do mundo, a língua
portuguesa será evocada, entoada,
cantada, dita. Serão destacadas as suas
enormes virtualidades como ferramenta de
para além de prometer, citando o DN,
património” da ACL, enalteceu a língua
portuguesa (“uma língua universal que quer
ter maior projeção [sic] mundial”) e, a
reboque, falou do malfadado Acordo
OrtográÆco de 1990. Perguntando-lhe o
jornalista como via tal polémica e se fazia
sentido esta permanecer, respondeu (a citação
é integral): “Sinceramente, do meu ponto de
vista, não faz sentido. Essa pergunta deve
dirigi-la preferencialmente aos especialistas —
e temos muitos na Academia — que nos dão
contributos cientíÆcos nesse domínio. Mas a
minha opinião é que a língua é demasiado
importante para se reduzir a uma querela ou
polémica ortográÆca. E eu creio que os nossos
Ælhos e os nossos netos aprendem uma língua
sem que saibam, nessa aprendizagem, qual é o
acordo que está em vigor. Eles aprendem a
língua e têm de ser ensinados a fazer bom uso
dela, a conhecer os grandes autores que a
foram escrevendo e escrevem com diferentes
ortograÆas. Por isso, muito sinceramente,
creio que a discussão do Acordo OrtográÆco
não pode adquirir o estatuto de questão
central de uma política da língua. Tenho igual
respeito por todas as pessoas que queiram
utilizar, ou não, o acordo em vigor, mas há
muito mais língua além da ortograÆa.”
Há muito mais língua além da ortograÆa?
Sim, mas é nesse “muito mais” que desaguam
os problemas associados à ortograÆa. Não
falando já do ardil que rodeou a imposição do
dito Acordo OrtográÆco nos países de língua
comunicação que, como poucas, dá a volta
ao mundo. Será ressaltada a plasticidade
que permitiu que se espalhasse, que
crescesse, e que se constituísse como elo
entre povos. Será uma ocasião para
recordar o intenso dinamismo e a
variedade que caracteriza a língua
portuguesa, e a importância cada vez
maior que assume na sua expressão
cultural.
Portugal dará o seu contributo para essa
celebração institucional da língua
portuguesa. Em mais de meia centena de
países, as nossas representações
diplomáticas e as redes de promoção da
língua e da cultura portuguesas
desenvolvem, nesta data, cerca de centena
e meia de eventos e atividades. Em
conferências, exposições, concertos e
outros espetáculos de diferentes artes, na
exibição de Ælmes e na apresentação de
livros, a língua portuguesa estará no centro
das celebrações.
É fundamental continuar a celebrar este
dia mundial, pela oportunidade que se nos
apresenta para a inscrição da língua
portuguesa e pelas reÇexões em seu torno
nas agendas globais — culturais e
económicas, diplomáticas e académicas, e
hoje de forma intensa também nas redes
portuguesa (se não assinam todos, assinam só
três e vamos em frente) ou do facto de ser
juridicamente contestável a sua vigência legal,
de jure (sugere-se a leitura do bem
documentado artigo “Da (in)validade do
AO’90 no Ordenamento Jurídico Português”,
de Alexandre M. Pereira Figueiredo, na
revista artciencia.com), o que a chamada
“nova ortograÆa” tem vindo a fazer à fonética
é de bradar aos céus. Já ouviram falar em
“riâção”? Pois assim vai soando, nalgumas
bocas, a palavra “reacção”, amputada de um
C. Bastará uma geração para que, em lugar da
almejada abertura de consoantes, assistamos
ao seu progressivo fechamento. Porquê?
Porque as alterações ortográÆcas não tiveram
em conta uma coisa tão resistente e arreigada
quanto o nosso peculiar sistema vocálico,
aquele que nos faz interpretar — como um
músico diante de uma partitura — os sons das
Há muito mais língua
além da ortograÄa?
Sim, mas é nesse ‘muito
mais’ que desaguam
os problemas
associados à ortograÄa
sociais — aí se evidenciando, de modo
especial, todos os dados e todo o percurso
feito. Um percurso que demonstra a
posição proeminente que a língua
portuguesa já ocupa, à luz da sua
pertinência estratégica na comparação
com outras línguas.
A relevância do universo de falantes e a
perspetiva e o impacto do seu crescimento;
a presença em setores essenciais da
atividade humana; a quantidade e a
qualidade dos recursos estratégicos detidos
pelos países nos quais se escora o seu
potencial de internacionalização, bem
como a presença em organizações
internacionais, constituem alguns desses
indicadores que, nesta data, se enfatizam
com propriedade.
Com eles reforça-se a convicção de que
falamos uma língua que não só está entre
as mais faladas no globo e que é já a mais
expressiva no hemisfério Sul, como
também aquela que apresenta índices
muito fortes de crescimento (de modo
particular, em África) nas próximas
décadas. É a língua que apresenta um dos
maiores crescimentos de utilização na
Internet e que também é valorizada pela
sua repartição geográÆca.
Importa continuar a promover uma
palavras escritas. Como fazer, por exemplo,
perante palavras pouco usadas no dia-a-dia
como “recetáculo” (antes “receptáculo”,
forçando o P a manter aberto o segundo E) e
“panegírico”? Dir-nos-ão que se lerá
“recètáculo”, para manter a fonética original,
e “pan’gírico” (com E mudo). Seguindo esse
conselho, também se poderia ler por
analogia, “panegírico” como “panègírico”.
Mas, e aqui entra a “teimosia” da nossa fala, o
normal é que “recetáculo” passe a soar como
“rec’táculo”.
O mesmo sucede com as palavras
relacionadas com “infecção”, estas só nossas,
porque o Brasil mantém as graÆas que até ao
AO90 todos usávamos: “infectar”,
“infectado”, “infeccioso” ou
“infecto-contagioso”, esta com a linda graÆa
em Portugal de “infetocontagioso”. Se nas
duas últimas o CC e CT ainda se ouviam
nalgumas bocas (infeKSioso ou
infeKTo-contagioso), as graÆas impostas pelo
acordo só para Portugal (“infeção”, “infetar”,
“infetado”, “infecioso”, etc.) levarão a que tais
palavras soem como “inf’ção”, “inf’tar”,
“inf’tado” ou “infe’cioso”.
Estes exemplos, que poderão multiplicar-se
por milhares (porque são mesmo milhares),
levarão a que o português que por aqui se fala
e escreve se vá deformando, a cada ano que
passa, até à caricatura. Ninguém se incomoda
com isto? Não há aí alguém que se levante e
diga “basta!”?
Jornalista. Escreve à quinta-feira
agenda estratégica para a língua
portuguesa que nos comprometa com a
aposta na produção de ciência, de
inovação e de conhecimento em
português; com a internacionalização da
cultura e dos seus criadores; com o reforço
da presença da língua portuguesa no
sistema educativo de outros países; com o
apoio à oferta graduada de estudos e
formações em português em instituições
de ensino superior estrangeiras; com a sua
utilização como plataforma de
comunicação para o entendimento
empresarial; com a maior circulação da
língua portuguesa em (ainda) mais
organizações internacionais; com o
reforço das parcerias e da cooperação com
grandes eventos internacionais de
promoção das línguas; com a associação da
língua portuguesa a valores que
consideramos essenciais à cidadania
europeia e universal e ao desenvolvimento.
Uma agenda que partilhamos com os
nossos parceiros naturais no âmbito da
CPLP para a aÆrmação da língua
portuguesa no mundo, uma língua que é de
todos e a todos pertence. Uma língua cheia
de mundo.
Ministro dos Negócios Estrangeiros
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Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 11

Eu acredito em ti
porque não acreditavam nele, porque se
riam, porque não o queriam ouvir: “(…) Será
mais tarde que uma memória traumática se
desenvolverá em mim: é o silêncio, a
incapacidade de falar a sua causa.
Apercebo-me que as pessoas não acreditam
em mim, que as minhas histórias embaraçam,
que ninguém quer ouvir o que tenho a dizer, e
bombardeamento russo do Teatro de
Mariupol, que segundo a investigação,
revelada ontem, pela Associated Press, fez
600 vítimas, põem em causa o
bombardeamento da maternidade dessa
mesma cidade, partilhando inclusive
testemunhos falsiÆcados de uma das grávidas
que teria sido paga para participar na
numa perspetiva crítica, nem numa análise
inovadora das fontes. É uma abordagem
perversa e maliciosa. O objetivo é inocentar a
Alemanha, tornar os judeus culpados e
responsáveis pela Segunda Guerra Mundial e
semear dúvidas nas mentes das pessoas ao
fantasiar em torno da verdade”. Uma retórica
já presente nos discursos de Hitler,

D
Luísa Semedo
assim sendo desenvolvo uma divisão entre “mise-en-scène”. O interesse Ænanceiro. recuperados pelo negacionista Robert
uma parte de mim que pode ser “Quanto dinheiro é que ganhou com essa Faurisson, adiciona Baudouin Massart num
iante dos horrores da História, compartilhada socialmente através de marca de tinta que tem no braço?”, artigo de 2016, “A pedagogia para combater o
quantas vezes perguntámos histórias que conto e que divertem aqueles perguntava em 1995 o negacionista David negacionismo.”
“mas como foi isto possível?” que me rodeiam, e uma outra que não pode Irving a uma sobrevivente do Holocausto. E Encontramos o mesmo tipo de mecanismo
Não entendemos, achamos ser compartilhada devido à negação cultural. mesmo diante de provas, não desmentem, utilizado pelo ministro dos Negócios
que faríamos diferente, que Assim se forma em mim aquilo a que os nem apagam as mentiras e continuam a ter Estrangeiros russo Sergei Lavrov, inversão de
hoje seria impossível. psicanalistas chamam ‘cripta da alma’.” seguidores Æéis porque “tu, sim, ousas dizer culpas, instilação da dúvida, quando diz “Se
Acreditamos num processo de progresso Este fenómeno do não falar porque não se as verdades”. bem me lembro, e posso estar errado, Hitler
civilizacional epilogado, do qual somos uns acredita na nossa palavra, ou porque se A historiadora, investigadora sénior do também tinha sangue judeu” ou ainda que
meritórios produtores e produtos. E, no incomoda, também o conhecemos nas Memorial e Museu Kazerne Dossin, Laurence “Durante muito tempo ouvimos os mais
entanto, não podemos negar que horrores questões de racismo ou de violência contra as Schram diz que o negacionismo do sábios entre os judeus que dizem que os
continuam a existir. Continua a haver trabalho mulheres. O negacionismo, o revisionismo, o Holocausto é “uma mentira que não se baseia anti-semitas mais raivosos tendem a ser
forçado, tráÆco de seres humanos, crianças a relativismo, o escrutínio excessivo e seletivo judeus.” Não é ele que o diz, dizem…
morrer à fome ou por causa das guerras, são mecanismos que revestem várias formas, A dúvida, a diversão. No meio de tudo isto,
feminicídios, violações, continuam a morrer com consequências mais ou menos graves. está o povo ucraniano. Continuam a ser
pessoas no Mediterrâneo. Mas o nosso Silenciam as vítimas, por vezes mortos, violados, continuam a fugir para
cérebro tem destas coisas, para o bem e para culpabilizam-nas transformando-as nas salvar a vida. Os resistentes russos continuam
o mal, faz-nos encontrar estratagemas culpadas, nos agressores, faz diversão sobre o a ser perseguidos. Como irá ser acolhido o
cognitivo-afetivos para que não desabemos que mais importa, dessensibiliza e paralisa a testemunho destas vítimas, tal como de tantas
sob o peso da responsabilidade, da culpa, da ajuda, etc. E para isso, por vezes, basta instilar O negacionismo, outras no mundo? Como é que as suas vozes
tristeza. Está lá longe, não nos diz respeito,
pois, é assim, o que é que se pode fazer, Deus
a dúvida.
Como foi isto possível? Como é isto
o revisionismo, poderão ser ouvidas no meio do barulho dos
discursos que invalidam e invisibilizam as
assim quis, é o destino, a culpa é desta ou possível. Estamos, hoje, a assistir em direto e o relativismo, suas experiências? O que podemos nós fazer?
daquela entidade abstrata, desta ou daquela
corrente económica ou política.
a cores a uma máquina poderosa de
desinformação com a ajuda de pessoas reais e
o escrutínio excessivo Podemos aprender com outras lutas. Trazer
aquilo que aprendemos por exemplo com o
Dá tanto jeito. Mas explicar não é justiÆcar. não entidades abstratas. Comentadores, e seletivo silenciam #MeToo e a luta feminista e dizer: “Eu
A partir do momento em que temos
consciência destes mecanismos, precisamos
jornalistas, políticos, gurus das redes sociais e
tantas outras pessoas partilham sem
as vítimas, por vezes acredito em ti. Fizeste bem em falar. É
corajoso. Tu não tens culpa nenhuma. A culpa
também de os contrariar, precisamos de despudor propaganda, procedem a um culpabilizam-nas, é do agressor. Ele não tinha esse direito…”
deixar de pensar que a culpa, a
responsabilidade é sempre do outro.
escrutínio desmesurado e seletivo do lado
ucraniano, veem uma mão a mexer no
transformando-as nas Professora de Filosofia
Precisamos de pensar, mas o que é que eu massacre de Bucha, põem em causa o culpadas, nos agressores do ensino secundário
posso fazer, ou o que é que eu estou a fazer MIKHAIL PALINCHAK/EPA
mal, sem cair no desespero imobilizador.
Como foi isto possível? Pensei eu, quando
ouvi as palavras da mulher política, que deu o
apelido à lei que legalizou o aborto em
França, sobrevivente de Auschwitz, Simone
Veil, numa entrevista redifundida de maio de
1988: “Hoje, refazemos muito a História.
Tenta-se compreender porque é que não
falámos mais. Acho que vale a pena tentar
entender o porquê, mas não devemos refazer
a história diferente daquilo que foi, dizendo
que é porque os deportados não quiseram
falar sobre isso, porque os deportados
procuravam o esquecimento. Não é verdade.
Basta olhar para o número de encontros que
eles têm entre eles. Se não falamos é porque
não nos quiseram escutar, não nos quiseram
ouvir. Porque o que é insuportável é falar e
não ser ouvido. É insuportável. E aconteceu
tantas vezes, com todos nós. Que quando
começávamos a evocar, a dizer alguma coisa,
havia uma interrupção imediata. A frase que
vem cortar, que vem falar de outra coisa.
Porque nós incomodamos. Incomodamos,
profundamente.”
Ou ainda, quando ouvi o neuropsiquiatra
Boris Cyrulnik, órfão de pais deportados para
Auschwitz, ele próprio sobrevivente ainda
criança de uma rusga em Bordéus (“raÇe du
10 janvier 1944”), deplorar em várias
entrevistas que levou décadas a testemunhar
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12 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Política Lei de Programação Militar com baixa execução

Modernização dos C-130 e aquisição

de hélis da Marinha falharam em 2021
Seis projectos da Defesa derraparam no ano passado e já não terminam dentro do prazo. Equivalem
a cerca de 10% do projectado na Lei de Programação Militar de 2021. Execução foi a mais baixa desde 2017
NUNO FERREIRA SANTOS

Nuno Ribeiro
A rede Æxa de comunicações milita-
res, o sistema de contra-informação
das Forças Armadas, a compra de
helicópteros da Marinha, a constru-
ção de dois navios salva-vidas, a
modernização dos C-130 e a compra
de helicópteros ligeiros de ataque
são os seis projectos na área da Defe-
sa que estavam calendarizados para
2021 e cujos prazos de conclusão já
derraparam em resultado da baixa
execução da Lei de Programação
Militar (LPM) no ano passado. Os
projectos que estão naquilo a que a
Defesa chama “caminho crítico”
estão listados no relatório sobre a
execução da LPM.
Os seis projectos em causa corres-
pondem a cerca de 10% do total de
69. A 25 são reconhecidos atrasos
“passíveis de recuperação até ao Ænal
do prazo planeado”, e 38 estão a cum-
prir os prazos. Já os classiÆcados em
“caminho crítico” signiÆca que termi-
narão para lá do prazo inicialmente
previsto.
No caso da rede Æxa de comunica-
ções militares, iniciada a 1 de Janeiro
de 2019, o objectivo consiste em sus-
tentar a rede e plataformas das comu-
nicações através de cinco operadores
de rede. A meta para 2021 era que
24,86% estivessem já realizados quan-
do, aÆnal, o nível de execução foi de
15,03%. A data real do Æm do projecto
é apontada para 2030.
Também o denominado “sistema
de actividades de contra-informação”
nas Forças Armadas se encontra com
atraso. Com um orçamento de 163 mil
euros, no ano passado deviam ter
sido compradas cinco viaturas desca-
racterizadas, meta depois reduzida
para três. Mas, no Ænal, nem uma foi Projecto de modernização maior nível de execução, com 89%, Militar foi a pandemia de covid-19, Os grupos políticos esperam a
adquirida. dos aviões militares C-130 correspondente a cerca de 48 milhões mas também “limitações relaciona- revisão da LPM, atendendo à actual
Já de outra dimensão, dados os continua em atraso de euros. Segue-se a Marinha, com das com a atribuição dos fundos dis- situação internacional ditada pela
meios técnicos e Ænanceiros envolvi- 69%, a Força Aérea, com uma taxa de poníveis, que inÇuenciaram o ritmo invasão da Ucrânia pela Rússia e ao
dos, Æcou a execução dos helicópte- execução de 53% e, Ænalmente, o de execução da LPM, traduzindo-se reacendimento da tensão a leste.
ros Lynx da Marinha. Também atra- Estado-Maior General das Forças como factor de instabilidade e risco Também a Lei de Infra-estruturas
sada Æcou a construção de dois navios Armadas, a contabilizar 29% da exe- acrescido à execução da mesma”. Militares (LIM) teve uma execução
salva-vidas, bem como a moderniza- cução prevista. Na reunião da Comissão parlamen- inferior à do ano anterior, de apenas
ção dos aviões C-130H. Esta taxa de execução de 54% da tar de Defesa Nacional que nesta ter- 25%. A grande aposta na LIM foi a

Por outro lado, a aquisição de cinco
helicópteros ligeiros de ataque, que
tinham uma dotação superior a 53
milhões de euros, com uma entrega
de duas unidades prevista para o ano
passado, não foi executada — não se
cumprindo, assim, as 900 horas de
voo previstas. A data real apontada
para o Æm do projecto é 2030.
Por ramos, o Exército é o que tem
89%
é a percentagem de execução
da Lei de Programação Militar
por parte do Exército, a mais
elevada dos ramos das Forças
Armadas
LPM em 2021 é uma das mais baixas
dos últimos anos. Aliás, veriÆca-se
mesmo uma descida acentuada face
aos anos anteriores: em 2020 foi de
75%, no ano anterior tinha sido de
80%, em 2018 de 75% e em 2017 nova-
mente de 80%.
Um dos factores que o relatório
identiÆca como inÇuenciador do nível
de execução da Lei de Programação
ça-feira analisou o relatório de exe-
cução enviado pelo ministério tute-
lado por Helena Carreiras, as
oposições foram particularmente
críticas perante estes resultados,
esperando por uma nova reunião
com responsáveis da Defesa. A evo-
cação de limitação de distribuição de
fundos foi mesmo comparada a uma
“cativação de bolso”.
valorização do património militar.
O relatório refere também “o desen-
volvimento de um importante pro-
cesso de rentabilização cujos efeitos
se produzirão a partir de 2022”,
referindo-se à “cedência do direito
de superfície por 75 anos de um
conjunto de imóveis a favor do Ins-
tituto de Habitação e Rentabilização
Urbana”.
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Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 13

Política

PS expulsa Maximino Serra, militante

histórico e resistente antifascista
DR
Manuel Serra acaba por abandonar
São José Almeida
o PS. “Foi uma precipitação do
Maximino Serra milita no Manuel, ter-se candidatado a secre-
tário-geral naquela altura”, aÆrma
PS desde antes do 25 de Maximino Serra, quase cinquenta
Abril. Contra Salazar anos depois. Por si, decidiu Æcar no
participou na Revolta da Sé partido e continuar a ser funcioná-
e no Golpe de Beja rio político.
Resistente antifascista, em con-
A notícia chegou-lhe por carta, recen- junto com o irmão, conta que come-
temente. Aos 87 anos, Maximino Ser- çou a sua actividade política “ligado
ra foi expulso do PS, por decisão da ao professor Ruy Luís Gomes”. E
comissão nacional de jurisdição, por logo em 1958, está envolvido na can-
ter sido o último suplente na lista elei- didatura de Humberto Delgado.
toral à Câmara de Alcobaça, pelo Participa na preparação da Revol-
movimento Nós Cidadãos, nas autár- ta da Sé, a falhada tentativa para
quicas de 2021. depor o Salazarismo, prevista para
Tudo começou quando o então a noite de 11 para 12 de Março de
presidente da concelhia do PS de 1959, em que Manuel Serra é um dos
Alcobaça, Rui Alexandre, quis ser principais líderes civis. Dois anos
candidato à câmara do seu município. depois, na noite de 31 de Dezembro
Como não o foi pelo PS, saiu do par- de 1961 para 1 de Janeiro de 1962,
tido e candidatou-se pelo Nós Cida- participa no Golpe de Beja, liderado
dãos. “Apoiei-o por amizade e aceitei mais uma vez por Manuel Serra e
ser o último suplente da lista”, assu- pelo capitão João Varela Gomes.
me Maximino Serra, advertindo que
o Nós Cidadãos “não é um partido, é
“Do quartel de Beja estamos vivos
cinco”, recorda Maximino Serra ao
PÚBLICO. Um desses sobreviventes
e um dos responsáveis pelo Golpe
de Beja é o tenente-coronel na reser-
va Manuel Pedroso Marques, casado
com a jornalista Maria Antónia
Palla, mãe do líder do PS e primeiro-
ministro, António Costa.
Conseguindo fugir depois do
falhanço do Golpe de Beja, Maximi-
no Serra refugia-se na embaixada do
Brasil em Abril de 1962, onde em
1959 se tinha refugiado Humberto
Delgado. Acaba por desviar um
avião de um aeroclube e voa para
Marrocos, em Agosto de 1963, para
tentar juntar-se à Frente Patriótica
de Libertação Nacional (FPLN), em
Argel. Não consegue entrar na Argé-
lia e, em Ænais de 1964, parte de
Marrocos para o Canadá e, mais tar-
de para os Estados Unidos, ao abri-
go de um programa de protecção
para exilados políticos da ONU.
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uma plataforma”.
Em declarações ao PÚBLICO, Maxi-
mino Serra aÆrma ser “alérgico a
imposições” e considera que o que
lhe Æzeram “é uma traição”, pelo
modo como “foi feito”. Mostra-se
“muito admirado por António Costa
ter admitido” a sua expulsão e reco-
nhece: “Penso até que ele não se aper-
cebeu do que me Æzeram.” Está tam-
bém “surpreendido pelo presidente
da federação do PS de Leiria ter dei-
xado que esta decisão fosse tomada
nas costas da concelhia”.
O presidente da Federação do PS
de Leiria e presidente da Câmara da
Nazaré, Walter Chicharro, declarou
ao PÚBLICO que “o processo não pas-
sou pela direcção da federação”, até
porque, garante, é assunto que “tem
a ver com as comissões de jurisdição
federativa e com a nacional”.
Mas explica que “assim que um
militante do PS aparece como candi-
dato numa lista de outra força políti-
ca, o processo é accionado de acordo
com os estatutos do PS”. E Walter
Chicharro sublinha que “o processo
tem a ver com o cumprimento dos
estatutos e não com a origem ou a
antiguidade do militante”.
No mesmo sentido de defesa dos
estatutos do PS, a presidente da
comissão nacional de jurisdição do
PS, Telma Correia, respondeu por
email ao PÚBLICO que a candidatura
por outra força política “é a única
conduta que as diferentes versões dos
estatutos vêm tipiÆcando desde logo
como falta grave”. E justiÆca: “Enten-
de-se que assim seja na medida em
que a integração de listas contrárias
Maximino Serra lembra que é
“o único antifascista vivo que
milita no PS” e que é militante
desde antes do 25 de Abril
Penso até que ele
[António Costa]
não se apercebeu
do que me Äzeram
Maximino Serra
Resistente antifascista
à orientação do partido constitui a
quebra dos laços mais basilares que
ligam o partido aos seus militantes.”
Aduz ainda Telma Correia que “foi
o auto devidamente notiÆcado ao
visado para, querendo, se pronun-
ciar, sem que qualquer pronúncia
tivesse sido apresentada.” Por isso,
conclui Telma Correia, que foi aplica-
da a pena de expulsão.
“O único antifascista”
Foi “funcionário político do PS des-
de o início” da instalação do partido
em Portugal, após o 25 de Abril, e
teve “responsabilidades em Setúbal,
em Santarém e depois em Leiria”.
Diz ser “o único antifascista vivo que
milita no PS”, explicando que “era
amigo de Edmundo Pedro e de Pal-
ma Inácio”. E garante: “As direcções
do PS sempre me trataram com res-
peito, mas estas periferias, não.”
Assumindo a sua história, lembra
que é irmão de Manuel Serra, com
quem integrava o Movimento Socia-
lista Popular (MSP). Após a funda-
ção do PS, em 19 de Abril de 1973,
“Manuel Serra fez um acordo com
Mário Soares, antes do 25 de Abril,
e o MSP entrou no PS em Janeiro de
1974.” Razão pela qual pensa que
deve ser “considerado um funda-
dor” do PS.
Depois de perder para Mário Soa-
res a liderança do partido no I Con-
gresso, em Dezembro de 1974,
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14 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Política
Juiz que Ɗscalizará secretas é maçon
mas deputados não o questionaram
Maria Lopes
Mário Belo Morgado integra
o GOL desde 1997 mas diz
que não tem participado
nas actividades da
maçonaria desde há 10 anos
Com dezasseis minutos de diferença,
o ex-secretário de Estado adjunto e
da Justiça, Mário Belo Morgado,
enviou ao Parlamento o seu currículo
para ser apreciado como candidato
para a Æscalização dos serviços secre-
tos e, depois, uma adenda com o seu
registo de interesses onde se assume
como membro da maçonaria desde
1997. Nessa adenda, o candidato indi-
cado pelo PS aÆrma que é “Æliado no
Grande Oriente Lusitano (GOL) desde
1997, embora com participação nas
actividades associativas muito cir-
cunstancial e mesmo, na última deze-
na de anos, sem qualquer participa-
ção activa”.
Ao PÚBLICO, Mário Belo Morgado
admite que enviou uma adenda com
a declaração de interesses por ter sido
avisado de que tinha de o fazer. Foi a
primeira vez que admitiu publica-
mente a sua pertença à maçonaria —
“embora seja uma questão recorren-
te que aparece quando assumo car-
gos”, lamenta — e vinca que só o fez
por se tratar de uma candidatura a
funções nas secretas, uma “actividade
mais delicada”.
“Esta ligação [ao GOL] é apenas
uma formalidade e vou mantê-la.
Tendo em conta as polémicas, enten-
do que não devo desvincular-me por-
que pareceria que tenho alguma coi-
sa a recear ou sinto algum incómo-
do”, diz o juiz conselheiro que garante
não ter “qualquer participação activa
nem qualquer contacto com a asso-
ciação nos últimos dez anos”. E mes-
mo nos outros dez anteriores terá ido
a um ou dois eventos, vinca.
O ex-secretário de Estado de Van
Dunem assume nesse registo de inte-
resses que vai exercer, em simultâneo
com as de Æscal do SIRP (Sistema de
Informações da República Portugue-
sa), as funções de juiz conselheiro do
Supremo Tribunal de Justiça. Ao
PÚBLICO defende que, apesar de a lei
geral sobre os cargos políticos e altos
cargos públicos ter passado a exigir,
desde o ano passado, que também os
magistrados declararem a “Æliação,
participação ou desempenho de
quaisquer funções em quaisquer enti-
dades de natureza associativa”,
enquanto juiz não iria declarar essa
pertença à maçonaria. “É discutível
se a lei geral obriga a declarar este
tipo de Æliação. É muito duvidoso que
Mário Belo Morgado foi secretário de Estado adjunto e da Justiça
seja constitucional.” “Mas neste caso, tas é eticamente reprovável por
como se trata de funções na área da questões de transparência e de neces-
segurança interna, não tive dúvidas sidade de imparcialidade.
em declarar”, justiÆca. Desde 2014 que os membros do
Aquando da discussão da nova CFSIRP (Conselho de Fiscalização do
regra de declarações proposta pelo SIRP) têm de inscrever no registo de
PAN e pelo PSD, o juiz desembarga- interesses a “Æliação, participação ou
dor Manuel Soares, presidente da desempenho de quaisquer funções
Associação Sindical de Juízes, defen- em quaisquer entidades de natureza
deu a obrigatoriedade de os juízes associativa” (exactamente a mesma
declararem se pertencem a organiza- redacção agora usada para os políti-
ções que exigem a prestação de pro- cos) depois de uma longa batalha
messas de Ædelidade ou em que, por travada pela social-democrata Teresa
serem secretas, não seja possível Leal Coelho com polémicas envolven-
conhecer os seus associados. O Com- do elementos dos serviços secretos
promisso Ético dos Juízes Portugueses que pertenciam a lojas maçónicas e
— Princípios para a qualidade e respon- espionagem a jornalistas e alguns
sabilidade, aprovado em 2010, consi- empresários, incluindo Francisco
dera que, não sendo proibida, a per- Pinto Balsemão — como o caso do
tença de juízes a organizações secre- espião Jorge Silva Carvalho.
PS e PSD desvalorizam
O currículo de Mário Belo Morgado
chegou apenas aos deputados da
Comissão de Assuntos Constitucio-
nais, Direitos, Liberdades e Garantias
A lei do SIRP três horas antes da audição — tal como
aconteceu com o dos outros candida-
obriga a que se tos a todas as eleições para as entida-
diga [as ligações] des externas que tiveram lugar na
passada sexta-feira —, mas ninguém
e ele cumpriu a lei. o questionou sobre o assunto, tendo
Não houve os deputados preferido concentrar-se
na questão do acesso aos metada-
novidade dos.
nenhuma Ao PÚBLICO, PS e PSD desvaloriza-
ram a questão, vincando que Mário
Isabel Moreira Belo Morgado se limitou a cumprir a
Deputada do PS lei e o Chega não respondeu — eram
NUNO FERREIRA SANTOS
os únicos partidos presentes na reu-
nião. “A lei do SIRP obriga a que se
diga [as ligações] e ele cumpriu a lei.
Não houve novidade nenhuma. O PS
é contra a declaração para todos os
cargos políticos e públicos por ser um
exagero em termos de proporciona-
lidade, mas para este cargo justiÆca-
se”, diz a socialista Isabel Moreira.
Questionado pelo PÚBLICO sobre
se não há uma incompatibilidade
moral em pertencer a uma associação
que exige regras de obediência e Æs-
calizar os serviços secretos, o social-
democrata André Coelho Lima, que
na legislatura passada defendeu a
extensão da obrigação de declaração
a todos os políticos e altos cargos
públicos, argumenta que “as incom-
patibilidades [nos serviços secretos]
estão na lei-quadro do SIRP e essa não
consta”.
O deputado não mencionou a per-
tença de Mário Belo Morgado à maço-
naria na audição porque “a intenção
do PSD nunca foi perseguir qualquer
tipo de organização mas antes incutir
um critério de transparência que per-
mita o escrutínio público”. “Nunca
considerámos que pertencer à maço-
naria devesse implicar qualquer tipo
de limitações. Pretendemos propor-
cionar o escrutínio e não criar quais-
quer impedimentos.”
Mário Belo Morgado, indicado pelo
PS, foi eleito para o CFSIRP junto a
Constança Urbano de Sousa (PS) e
Joaquim da Ponte (PSD) com 159 votos
a favor, 55 brancos e doze nulos.
Rio quer ouvir
candidatos
a líder sobre
leis eleitorais
Sofia Rodrigues
Se candidatos à liderança
se opuserem, direcção
do ainda líder abre a porta
a abdicar da proposta de
reforma da lei eleitoral
As propostas de alteração às leis elei-
torais e de revisão constitucional do
PSD vão Æcar, para já, em banho-ma-
ria. Rui Rio e Paulo Mota Pinto deixa-
ram aos deputados a ideia de que
nenhuma iniciativa avançaria no Par-
lamento, se deixasse desconfortáveis
os candidatos à liderança do PSD,
Luís Montenegro e Moreira da Silva.
Na reunião da bancada realizada
ontem, houve deputados alinhados
com Luís Montenegro que conside-
ram não ser este o momento para
avançar com uma reforma preparada
pela liderança de Rio e apresentada
no Verão passado por considerarem
que condiciona o futuro líder do par-
tido. Outros argumentaram que a
reforma eleitoral faz parte do progra-
ma eleitoral com que o PSD se apre-
sentou a eleições legislativas e que o
ritmo dos trabalhos parlamentares
não se compadece com demoras.
À saída da reunião, Rui Rio falou
aos jornalistas, mas não quis revelar
o teor da decisão sobre o que estava
em cima da mesa. “Não vou alimentar
a polémica”, aÆrmou o presidente do
partido, criticando as notícias sobre
o assunto.
Durante a reunião, segundo relatos
ao PÚBLICO, o líder do PSD mostrou
abertura para cancelar as iniciativas,
caso algum dos candidatos à lideran-
ça se oponha. Era esse o espírito da
direcção parlamentar, quando, na
segunda-feira, enviou a ordem de
trabalhos da reunião com a “discus-
são e a decisão” sobre as propostas
de alteração à lei eleitoral e a revisão
constitucional. Porém, a iniciativa
gerou mal-estar, dada a situação de
transição do partido.
Apesar de alguns deputados terem
entendido que já não há condições
para apresentar as propostas neste
momento e terem Æcado com a ideia
de que Mota Pinto ia contactar os dois
candidatos sobre o assunto, Rui Rio,
em declarações aos jornalistas, não
deu essa decisão como deÆnitiva.
Ao que o PÚBLICO apurou, duran-
te a reunião, Carlos Eduardo Reis,
director de campanha de Jorge Morei-
ra da Silva, considerou que a discus-
são sobre o assunto neste momento
não faz sentido e que o processo legis-
lativo é longo, o que dá oportunidade
ao próximo líder de intervir.
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A Europa
Que Queremos
D E B AT E O N L I N E

DIPLOMACIA, AUTONOMIA
E ALARGAMENTO:
O LUGAR DA UE NO XADREZ DOS GRANDES BLOCOS ECONÓMICOS

Debate no âmbito do projecto A Europa Que Queremos, que acompanha os temas em 6 de Maio | 14H00
debate na Conferência sobre o Futuro da Europa − e o seu impacto nos destinos da União.
Assista em
O debate decorre online e no Anfiteatro 7.21 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade da Beira Interior (Covilhã), num formato híbrido que transmitiremos
em directo e que contará com sessão de perguntas aos convidados e uma conversa
sobre o papel da Europa no contexto mundial, entre Liliana Reis (professora da UBI
e especialista em assuntos europeus) e David Pontes (director adjunto do PÚBLICO).

CONVIDADOS MODERAÇÃO

JOÃO PIMENTA LOPES SÓNIA SAPAGE

EURODEPUTADO DO PCP EDITORA EXECUTIVA DO PÚBLICO

MANUEL PIZARRO
EURODEPUTADO DO PS

LÍDIA PEREIRA
EURODEPUTADA DO PSD

PARCEIRO APOIO

Siga em directo em Tem uma ideia para a Europa?

publico.pt/europa-que-queremos Partilhe-a com a Conferência
Cofinanciado pela
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16 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Sociedade Comissão que estuda abusos sexuais na Igreja Católica
Igreja não está
“empenhada”
em divulgar
comissão que
investiga abusos
Daniel Sampaio Em relação aos indícios
de encobrimentos, psiquiatra ressalva
que comissão falou em “ocultações”, que
ocorrem “em todas as situações de abuso”
Hora da Verdade
Daniela Carmo e Ana Catarina
André (Renascença) Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
Daniel Sampaio, psiquiatra e
membro da Comissão
Independente para o Estudo dos
Abusos de Menores na Igreja
(CIEAMI), acredita que a Igreja
Católica não está a fazer tudo o que
poderia para divulgar a existência
deste grupo de trabalho.
A Comissão Independente foi
constituída há quase quatro
meses, que balanço faz deste
período?
É um balanço de muito trabalho,
temos procurado recolher
testemunhos e validámos, até ao
momento, mais de 300
testemunhos. Necessitamos da
comunicação social para que o
nosso apelo ao testemunho
continue. Temos encontrado uma
boa receptividade por parte das
instituições que trabalham com
crianças e jovens e, de uma forma
geral, temos tido também um bom
apoio da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP). Como é sabido,
foi a Conferência Episcopal que,
em Dezembro, nomeou o doutor
Pedro Strecht como coordenador e
ele depois constitui a equipa. Esse
apoio da CEP é fundamental para
conseguirmos prosseguir o nosso
trabalho.
Sabendo que o método de
investigação usado pela
comissão independente difere
de métodos utilizados noutros
países, alguns deles contestados
como por exemplo em França,
como é que chegaram a este
método?
Temos semelhanças com o que se
passa noutros países. [O método da
comissão] é diferente do de
Espanha, por exemplo, em que há
uma Ærma de advogados que faz
esse trabalho. Mas na Bélgica, na
Irlanda, na França são comissões
parecidas com a nossa. Nós
preocupamo-nos sobretudo com as
vítimas. Como o nosso lema diz,
nós queremos dar voz ao silêncio.
Queremos que as vítimas
testemunhem porque o simples
facto de testemunhar constitui
uma reparação muito importante
para a vítima.
Ou seja, a vítima está durante
muito tempo envolta na sua culpa,
na sua vergonha. Aquilo que pode
ter conÆdenciado a algumas
pessoas não foi validado e esse é
um aspecto central: a validação
que nós fazemos de uma queixa
de abuso sexual. Essa queixa
muitas vezes não é validada pela
família, pelos professores ou pelos
amigos.
Qual é a sua intervenção
especificamente atendendo a
que é psiquiatra, está mais
direccionada para esta área da
triagem dos testemunhos?
Não, não sou eu que atendo o
telefone. Quem atende o telefone é
uma assistente social, membro da
comissão, a doutora Filipa Tavares.
O meu trabalho é nas reuniões
presenciais. Tenho estado em
todas as entrevistas presenciais e
também nas entrevistas aos
senhores bispos. Esse tem sido o
meu papel dentro da comissão,
além de discutir todas as questões
que se levantam porque todos os
dias se levantam questões porque
praticamente todos os dias há
testemunhos e é preciso também
dar uma resposta ao
enquadramento desses
testemunhos.
Quais são as questões mais
difíceis de dirimir, já que os
testemunhos levantam
inúmeras questões que têm a
ver com os sítios onde terão
ocorrido ou os autores dos
crimes?
No fundamento não temos
nenhuma dúvida: ninguém inventa
as histórias que nos contam. São
histórias de grande sofrimento e o
nosso inquérito está construído
com uma consistência interna que
qualquer pessoa que tente
preencher o inquérito a brincar,
nós percebemos. As perguntas têm
uma coerência.
Além disso, a situação é de tal
modo difícil para as pessoas
falarem que ninguém inventa os
pormenores com que o inquérito é
feito. É justamente a validação do
testemunho que não tem levantado
problemas nenhuns.
Das denúncias recebidas, 16
delas que ainda não
prescreveram foram enviadas
para o Ministério Público (MP).
Qual é o ponto de situação à
data de hoje? Foi aberto algum
inquérito?
Sobre o MP, a única coisa que
sabemos é que entregámos esses 16
casos e que foram distribuídos por
vários procuradores. Está tudo em
segredo de justiça. Neste momento
não sabemos o que é que se passa.
Pessoalmente, eu espero que o MP
actue rapidamente porque se trata
de circunstâncias muito concretas,
alguns crimes não estão prescritos
e noutras situações existem
indícios de que foram padres
abusadores e, portanto, o MP tem
É um balanço de
de actuar em relação a essas muito trabalho,
pessoas. temos procurado
E pelo facto de a maioria das
denúncias serem anónimas, há recolher
aqui uma dificuldade acrescida
para a investigação dos próprios
testemunhos e
dados? validámos, até ao
É verdade, essa é uma diÆculdade momento, mais de
que o Ministério Público está com
certeza a resolver. Mas às vezes a 300 testemunhos
queixa não é anónima em relação
ao abusador. Nós não sabemos a
identidade da vítima, mas há Não vai haver
referências, não em muitos casos,
concretas que foi o padre “X”, o nenhum bispo que
acólito “Y”, a freira “Z”. não responda. Esse
Ainda sobre a actuação do
Ministério Público, o facto de as problema está
denúncias não estarem a ser ultrapassado.
tratadas de uma forma
centralizada poderá gerar Tínhamos que dar
algum tipo de dispersão nos essa informação
critérios de investigação?
Espero que não. Não quero porque houve um
comentar a actuação do Ministério prazo um
Público, mas espero que não. O
meu propósito é que a investigação bocadinho
do Ministério Público seja célere e dilatado por parte
eÆcaz. Devemos, aliás, como
sociedade, chamar a atenção para de certos bispos
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Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 17 PUBLICIDADE

foi a Igreja que mandatou o dr.
Pedro Strecht para constituir essa
comissão e aceitou a constituição
da comissão.
A nossa posição é de
colaboração. Mas evidentemente
que houve pessoas ligadas à Igreja
que ocultaram, como acontece
sempre, porque a ocultação é
absolutamente uma característica
deste problema. As pessoas
escondem esse problema.
Na última conferência de
imprensa da Conferência
Episcopal, D. José Ornelas disse
ser descabido falar em
encobrimento nesta fase por
não ter essa informação. É este
esclarecimento que está a fazer
agora, de que essa informação
também não lhe chegou?
Isto tem a ver com a palavra
encobrimento porque
encobrimento é um crime, é
esconder uma determinada
situação. Nós não falamos de
encobrimento. Foram os senhores
jornalistas que têm levantado essa
questão. Nós falamos de
ocultações, como eu disse, que
acontecem em todas as situações
de abuso.
Evidentemente, na conferência
de imprensa [mais recente da
comissão independente] foi
perguntado se havia pessoas que
estavam ligadas à hierarquia da
Igreja que tinham ocultado esta
situação, nós respondemos que
vieram dizer que ainda não
tinha terminado o prazo para
responderem. Confirma que
assim foi?
Sim, não vai haver nenhum bispo
que não responda. Esse problema
está ultrapassado. Tínhamos que
dar essa informação porque houve
um certo prazo um bocadinho
dilatado por parte de certos bispos,
mas não houve, da parte de
nenhum, oposição a essa
entrevista. Julgo que [as
entrevistas] vão terminar esta
semana.
Foi um meio de pressão para
eles acelerarem um bocadinho?
Sim. Admito que sim. Foi um
anúncio público de que nós
precisávamos para o nosso estudo
destas entrevistas todas feitas. São
21 bispos. Se conseguirmos
entrevistar os 21, conseguimos tirar
uma conclusão sobre os bispos
portugueses. Se entrevistarmos 14
ou 13, o estudo Æca truncado. Foi
aqui um problema de
descoordenação, de resposta
imediata. Também surgiu muitas
vezes na altura da Quaresma. Esse
problema está completamente
ultrapassado. O que não está
ultrapassado é o empenhamento
da Igreja católica.
A Igreja como um todo?
Sim, porque esta é uma causa da
Igreja em primeira mão. É
fundamental que se empenhe.
Pode fazê-lo, por exemplo, através

o Ministério Público da urgência de
clariÆcar porque é preciso chegar a
conclusões. Nalguns casos não se
chegará, mas nalguns, com
certeza, chegar-se-á.
Como é a Comissão vai tratando
a informação que recebe? Ou
seja, com que regularidade é
que a envia ao Ministério
Público, por um lado, e, por
outro lado, vai partilhando essa
mesma informação com a
Conferência Episcopal?
Não, com o Conferência Episcopal
não partilhamos a informação.
Trabalhamos de uma forma
independente. Temos reuniões,
tivemos duas reuniões com a
Conferência Episcopal, uma com o
Conselho Permanente da
Conferência Episcopal e outra,
mais recentemente, no dia 26 de
Abril, em que toda a comissão foi a
Fátima para uma reunião da
Conferência Episcopal em que
demos conta do nosso trabalho,
mas não partilhamos dados sobre
as pessoas e temos autonomia de
funcionamento.
Por exemplo, quando nos foi
perguntado se havia situações de
ocultação na Igreja, quero
esclarecer essa situação. Nós não
queremos lançar suspeitas sobre
ninguém, não é esse o nosso
propósito. O nosso propósito é de
colaborar com a Igreja, até porque
sim. Isso é-nos transmitido pelas
vítimas.
Na última conferência de
imprensa, disseram também
que terão havido abusos por
parte de leigos ligados à Igreja
católica, nomeadamente,
escuteiros e professores de
religião e moral. Esses abusos
poderão ter acontecido mesmo
nas escolas da rede pública?
Sim, na rede pública e na rede
privada. São pessoas ligadas à
Igreja em que, por exemplo, no
contexto de um padre professor de
religião e moral e nos escuteiros - é
de conhecimento público - que
houve casos por parte de
determinada pessoa que está
muito bem inserida na sociedade.
Isso vem descrito em vários sítios.
O abuso sexual pode ocorrer em
todas as situações em que há um
grande contacto de proximidade
entre um adulto e uma criança e
em que o adulto tem uma situação
de poder em relação à criança. Não
tem nada a ver com a sexualidade
dita normal entre duas pessoas
com livre consentimento na
exposição do seu corpo e na
partilha das sensações a nível dos
seus corpos. Aí há um livre arbítrio
que é completamente diferente da
situação de abuso.
A comissão independente disse
que cinco bispos não tinham
respondido à comissão. Poucos
dias depois, alguns bispos
dos sacerdotes que celebram missa
poderem fazer um aviso no Ænal da
missa e um apelo ao testemunho, à
divulgação do nosso cartaz, dos
nossos contactos, aparecer nos
sites da diocese e não só uma vez...
[Precisamos de] apelos ao
testemunho, haver declarações de
responsáveis da Igreja a pedir
perdão às vítimas. Reparem que só
muito recentemente isso
aconteceu. Primeiro com o cardeal
Patriarca, D. Manuel Clemente, que
eu queria saudar.
Apesar de a maioria das
denúncias não ter uma data
exacta, é possível perceber qual
a tendência de evolução deste
fenómeno?
O contexto cultural é
importantíssimo. Há seguramente
mais abusos nos anos 60 e 70, em
que havia muito mais pobreza em
Portugal, e muitas crianças iam
para seminários e institutos
religiosos para poderem estudar.
Depois, a estrutura dos seminários
modiÆcou-se, a legislação também
nos anos 90. Agora, esta situação é
um crime público. A consciência
das crianças e dos jovens
melhorou.
A tendência é que a situação
felizmente seja melhor. Mas é
preciso dizer que o abuso sexual é
uma situação relativamente
frequente, é mais frequente
raparigas, mulheres serem
abusadas do que homens.
AVISO
1. Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 47.º da Lei n.º
19/2012, de 8 de maio, torna-se público que a Autoridade da Concorrência
recebeu, a 2022-04-29, a notificação de uma operação de concentração
de empresas, apresentada ao abrigo do disposto no artigo 37.º do referido
diploma.
2. A operação de concentração em causa consiste na aquisição do controlo
exclusivo da Torneiras Roriz S.A. (“Torneiras Roriz”) e da W2007 Lda.
(“W2007”) pela DUALBANHO II, S.A. (“DUALBANHO II”), através da
aquisição de ações representativas da maioria do respetivo capital social.
3. As atividades das empresas envolvidas são as seguintes:
• DUALBANHO II - empresa controlada pela DUALBANHO I, por sua vez
detida pelo CREST II – FCR, Fundo de Investimento de Capital de Risco,
gerido e representando pela CREST CAPITAL PARTNERS – Sociedade
de Capital de Risco, S.A.. A DUALBANHO II encontra-se ativa no
comércio por grosso de mobiliário de banho e materiais de construção,
importação e exportação através da empresa BANHOAZIS, Comércio de
Mobiliário de Banho, S.A..
• Torneiras Roriz - empresa ativa na produção e comercialização de
torneiras para casa de banho.
• W2007 - empresa ativa na comercialização de torneiras para casa de
banho.
4. Quaisquer observações sobre a operação de concentração em causa
devem identificar o interessado e indicar o respetivo endereço de e-mail.
Se aplicável, as observações devem ser acompanhadas de uma versão
não confidencial, bem como da respetiva fundamentação do seu caráter
confidencial, sob pena de serem tornadas públicas.
5. As observações devem ser remetidas à Autoridade da Concorrência,
no prazo de 10 dias úteis contados da publicação do presente Aviso,
indicando a referência Ccent. n.º 16/2022 – Dualbanho II / Torneiras
Roriz*W2007 para o email adc@concorrencia.pt.
EDIFÍCIO DIOGO CÃO OFEREÇA OFEREÇA
DOCA DE ALCÂNTARA NORTE, LISBOA FILMES & SÉRIES BANDA DESENHADA
(JUNTO AO MUSEU DO ORIENTE)
HORÁRIO: 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
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18 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Sociedade
Cada acção abrangeu, em média, “cerca de 11.000 turmas”, com particular destaque para a Escola a Ler
Rastreios de saúde lideram medidas
de recuperação no 1.º ciclo
Clara Viana
Monitorização do plano de
recuperação das
aprendizagens mostra que
estão a ser desenvolvidas
mais de 80% das acções
Os rastreios visuais e auditivos de
crianças do 1.º ciclo são a acção que
mais adesão teve dos agrupamentos
de escolas entre as que se encontram
elencadas no Plano de Recuperação
das Aprendizagens 21|23 Escola+, lan-
çado pelo Ministério da Educação no
Verão passado.
Segundos os resultados apurados
na primeira monitorização deste pla-
no, 92% dos agrupamentos seleccio-
naram aquela acção. Os rastreios
Æguram entre as medidas de recupe-
ração por se constatar que “há diÆcul-
dades de aprendizagem que decorrem
de problemas auditivos e visuais que
não são detectados precocemente”.
A monitorização foi feita através de
questionários online enviados pela
Direcção-Geral de Estatísticas da Edu-
cação e Ciência (DGEEC) a 806 agru-
pamentos e escolas não agrupados,
tendo a taxa de resposta sido de
96,4%. No relatório, a DGEEC sublinha
que a informação contida neste docu-
mento “se constitui apenas como um
primeiro contributo para a referida
monitorização, estando a ser comple-
mentada por outros indicadores,
objecto de uma análise — necessaria-
mente mais longa — que considera os
impactos produzidos na aprendiza-
gem dos alunos”.
No conjunto dos vários níveis de
escolaridade, as acções mais adopta-
das pelos agrupamentos foram Esco-
la a Ler (82%), Começar um novo ciclo
(74%) e Capacitar para avaliar (66%).
A acção Escola a Ler passa pelo
“fomento da leitura orientada em sala
de aula” e pela “realização de activi-
dades que proporcionem o contacto
com livros que motivem” os alunos.
Com o eixo Começar um novo ciclo
pretende-se “garantir uma adequada
transição entre níveis de ensino, atra-
vés do acompanhamento pedagógico
dos alunos”, uma vez que os anos de
início de ciclo são geralmente os que
têm maiores níveis de insucesso, com
a excepção do 12.º ano. Já a acção
Capacitar para avaliar destina-se
sobretudos aos professores, com a
realização de acção de formação e de
“sessões práticas de capitação”.
Entre as acções menos adoptadas
pelos agrupamentos Æguram as Tur-
mas Dinâmicas (37%), Gestão de ciclo
e Avançar recuperando (ambas com
39%). A primeira passa, por exemplo,
pelo “reagrupamento temporário de
alunos por grupos de aprendizagem”.
Com a Gestão de ciclo pretende-se,
entre outras medidas, “facilitar a
implementação de percursos indivi-
dualizados de aprendizagem”, em
que os alunos escolhem as disciplinas
que mais se adequam aos seus objec-
tivos. A medida Avançar Recuperan-
do, que foi uma das que suscitou mais
dúvidas aquando da apresentação do
plano, visa permitir que os alunos que
“Há diÄculdades de
aprendizagem que
decorrem de
problemas
auditivos e visuais
não detectados
precocemente”
NUNO FERREIRA SANTOS
passem de ano com negativas possam
assistir às aulas destas disciplinas,
adaptando os horários para que tal
seja possível. Apesar de, no geral dos
ciclos, ser uma das menos populares,
esta acção lidera as escolhas feitas
pelas escolas no 3.º ciclo (83%).
Cada acção abrangeu, em média,
“cerca de 11.000 turmas”, com parti-
cular destaque para a Escola a Ler:
25.687 turmas, das quais 10.313 foram
do 1.º ciclo. Entre os professores, mais
de 14 mil tiveram horas suplementa-
res para desenvolver as medidas
adoptadas pelas escolas. Numa nota
à comunicação social, o Ministério da
Educação (ME) destaca que estão “em
desenvolvimento e implementação
mais de 80% das acções previstas”.
Nesta mesma nota, o ME recorda
que “o trabalho de apoio às escolas
na monitorização dos efeitos da pan-
demia nas aprendizagens dos alunos
envolve a análise dos resultados do
desempenho dos alunos” nas provas
de aferição, que estão agora a ser rea-
lizadas. Para o efeito, o Instituto de
Avaliação Educativa divulga hoje dois
guiões com orientações para a análise
e utilização pelas escolas dos resulta-
dos da aferição.
OE da Educação
Verba para a
qualificação de
adultos é a que
aumenta mais
Clara Viana
A qualiÆcação de adultos é a área do
orçamento da Educação que mais
cresce em 2022, com um aumento
previsto de 261,3% que resultará da
aplicação das verbas previstas no Pla-
no de Recuperação e Resiliência
(PRR) para este sector.
No conjunto são mais de 161
milhões de euros que serão investidos
no desenvolvimento dos chamados
Centro QualiÆca, onde se concentra
o encaminhamento para as acções de
qualiÆcação, e dos cursos de Educa-
ção e Formação de Adultos. A verba
destinada a esta área passará assim
de 61.620.557 euros em 2021 para
222.829.557 este ano.
Pela primeira vez desde há vários
anos, a verba do OE destinada ao ensi-
no particular e cooperativo também
sobe, passando de 97.289.997 euros
em 2021 para 104.521.023, o que se
traduz num aumento de 7,4%. Esta
verba destina-se ao Ænanciamento de
colégios com contratos celebrados
com o Estado para garantir a gratuiti-
dade ou a redução das despesas de
frequência. E também o Ænanciamen-
to de estabelecimentos do ensino
artístico da rede particular. Na pro-
posta e Orçamento do Estado (OE)
para 2022 não estão especiÆcadas as
verbas para cada modalidade.
Todas as áreas de despesa do orça-
mento para a Educação registam um
aumento, à excepção da chamada
“reserva orçamental”, que cai devido,
sobretudo, à nova orgânica do Gover-
no: o Ministério da Educação (ME)
deixou de tutelar a área da Juventude
e Desporto. Ainda no que respeita à
educação e formação de adultos, o
ME informa, na nota explicativa sobre
o OE enviada ao Parlamento, que des-
de 2017, ano da operacionalização do
programa QualiÆca, e Março de 2022
o número de adultos que obteve uma
certiÆcação (total ou parcial) foi de
356.657, quando no período do
Governo de Passos Coelho tinha caído
para cerca de 20 mil.
A maior parte das certiÆcações
obtidas é de nível escolar (64.484), ou
seja, conferiu um grau de escolarida-
de, oscilando entre o 1.º ciclo e o ensi-
no secundário. O grau escolar com
maior peso é o ensino secundário. E
a forma de certiÆcação mais concor-
rida, como já acontecera no progra-
ma Novas Oportunidades do Governo
de José Sócrates, continua a ser os
chamados “processos de Reconheci-
mento, Validação e CertiÆcação de
Competências” (RVCC).
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Lei do direito ao esquecimento entrou em
vigor mas não está a ser aplicada por todos
Patrícia Carvalho
Documento entrou em
vigor a 1 de Janeiro, mas
falta acordo que lei prevê e
que estabelece as definições
de vários parâmetros
A lei que prevê que pessoas com
algumas patologias deixassem de ser
discriminadas no acesso, por exem-
plo, a créditos bancários ou na reali-
zação de seguros está em vigor, mas
ainda não está a ser aplicada por
todos. Conhecida como a Lei do
Direito ao Esquecimento, o docu-
mento entrou em vigor a 1 de Janeiro
deste ano, tal como o previsto, mas
o acordo que deverá deÆnir pontos
considerados fundamentais à sua
aplicação ainda nem começou a ser
discutido. Como resultado disso, a
discriminação a que se pretendia pôr
Æm ainda continua.
O alerta partiu ontem da Associa-
ção Protectora dos Diabéticos de
Portugal (APDP), que, em comunica-
do, refere que a lei “não está a ser
aplicada” e que tem recebido pedidos
de ajuda de pessoas que se queixam
de “agravamentos sucessivos do pré-
mio do seguro de vida, chegando a
300% de aumento, seguradoras a
aÆrmar que a diabetes não está incluí-
da na legislação ou o retirar da inca-
pacidade por invalidez das condições
contratuais”.
PJ preparou com MP testemunhos para julgamento de Rui Pinto
Ana Henriques
A PJ preparou com o Ministério
Público (MP) os depoimentos dos
inspectores que foram inquiridos
como testemunhas no julgamento do
pirata informático Rui Pinto.
A revelação, que surge num em-
mail que foi junta no mês passado
ao processo, pode levar os advoga-
dos dos arguidos do FootballLeaks
a pedir o afastamento da magistrada
com quem foi mantida a reunião, a
procuradora Marta Viegas, por falta
de imparcialidade e isenção. O que
a suceder atrasará o desfecho julga-
mento, que se encontra na recta
Ænal depois de ter estado interrom-
pido quase dez meses. O julgamento
de Rui Pinto e do seu ex-advogado
Aníbal Pinto, suspeitos de terem
tentado extorquir dinheiro ao fundo
de investimento Doyen, começou a
Os doentes com diabetes, cancro,
hepatite C ou portadores de VIH
foram precisamente os quatro casos
apresentados, durante a discussão da
proposta de lei, como sendo abran-
gidos pela nova legislação. Mas o
documento não especiÆca quais as
doenças a que se refere, quando con-
sagra “o direito ao esquecimento a
pessoas que tenham superado ou
mitigado situações de risco agravado
de saúde ou de deÆciência, melho-
rando o seu acesso ao crédito e a con-
tratos de seguro”. E tem apenas refe-
rências consideradas “gerais”, por
algumas entidades envolvidas, no
que se refere aos prazos a partir dos
quais “nenhuma informação de saú-
de relativa à situação de risco agrava-
do de saúde ou de deÆciência pode
ser recolhida pelas instituições de
crédito ou seguradores em contexto
pré-contratual”.
Estes e outros pontos deverão ser
deÆnidos num “acordo nacional de
acesso ao crédito e a seguros”, pre-
visto no documento legal, mas que
ainda não começou a ser discutido.
E a falta desse documento, com as
deÆnições concretas de vários parâ-
metros a serem considerados, está a
permitir que as situações de discrimi-
nação continuem, como diz ao
PÚBLICO José Manuel Boavida, pre-
sidente da APDP. “Faltam vários ins-
trumentos à lei e isso foi logo dito
desde o início. Isto não quer dizer
que não haja companhias de seguros
4 de Setembro de 2020. Por terem
investigado as proezas informáticas
de Rui Pinto neste processo, foram
vários os inspectores da PJ arrolados
para nele prestarem depoimento
como testemunhas — uns pela acu-
sação, outros pelas defesas dos
arguidos e outros ainda por ambas
as partes. Três dias após o arranque
do julgamento, um desses polícias,
José Amador, escreve um e-mail a
seis colegas: “Amanhã pelas 10h30
teremos reunião com a procuradora
da República titular dos autos na
fase de julgamento, a Æm de aÆnar a
estratégia para a inquirição de cada
um de vós”.
Não é suposto os depoimentos
prestados em tribunal serem ensaia-
dos. Mas será que o foram? Ou ter-
se-á tratado de uma expressão infe-
liz usada pelo inspector? A professo-
ra da Faculdade de Direito da
que estejam a ser mais sensíveis e
outras que estão a aceitar rever a sua
posição, mas também há as que
dizem que não aceitam [não agravar
ou negar o acesso ao seguro], com o
argumento de que a diabetes não está
na lei e que precisam de mais deÆni-
ção do documento”. Em consequên-
cia disto, diz, a associação continua
a receber “duas a três queixas por
semana” relacionadas com discrimi-
nação no acesso aos seguros e a
empréstimos bancários.
IndeÄnições por resolver
Na Acreditar — Associação de Pais e
Amigos de Crianças com Cancro, que
desde o primeiro momento acompa-
Alerta partiu da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal
Universidade do Porto Sandra Oli-
veira e Silva explica que tudo depen-
de do conteúdo da reunião em cau-
sa, que acabou de facto por se reali-
zar. “Combinar estratégias e ajustar
depoimentos, tipo ensaio geral, não
é legítimo”, observa, “porque com-
promete a espontaneidade da pro-
va”. E estas foram, de facto, “pala-
vras muito infelizes” nestas circuns-
tâncias. “O MP não deve instruir os
inspectores da Judiciária”, prosse-
gue a catedrática. A acontecer, uma
reunião deste tipo deverá cingir-se
a apurar que factos são do conheci-
Rui Pinto e o seu
ex-advogado
Aníbal Pinto, são
suspeitos de
terem tentado
extorquir
dinheiro à Doyen
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 19
nhou o desenvolvimento do projecto
de lei apresentado pelo deputado
socialista Miguel Costa Matos, não há
queixas de discriminação nesta maté-
ria, desde a entrada em vigor da lei,
mas há o reconhecimento de proble-
mas que é preciso resolver. “Não
recebemos qualquer reclamação,
mas estamos conscientes de que,
apesar de ter havido um avanço nes-
ta matéria, a lei deixou algumas inde-
Ænições que levam a que, com muita
frequência, possam acontecer situa-
ções em que as seguradoras não cele-
brem os seguros”, diz Margarida
Cruz, directora-geral da instituição.
Para sistematizar essas “indeÆni-
ções”, a Acreditar pediu um parecer
MANUEL ROBERTO
mento de cada uma das testemu-
nhas. “Mas este tipo de encontros
não me parece comum em fase de
julgamento”, acrescenta.
Opinião idêntica tem um veterano
dos julgamentos criminais, o advo-
gado Melo Alves: “Sabemos que isso
se faz. Mas não devia acontecer”,
comenta. “Depois de arrolar as suas
testemunhas, o MP não devia reunir-
se com elas”. O dever de isenção e
objectividade dos procuradores está
inscrito no estatuto do MP.
Uma interpretação possível desta
mensagem é a de que os inspectores
e a magistrada combinaram a
melhor forma de incriminarem os
dois arguidos do caso. Ainda segun-
do o mesmo estatuto, os procurado-
res “devem velar pela correcta apli-
cação da lei, averiguando todos os
factos que relevem para o apura-
mento da verdade, independente-
Sociedade
jurídico, que deverá ser enviado nos
próximos dias às forças políticas
representadas na Assembleia da
República, e que refere, por exemplo,
que o acordo previsto na lei deveria
ser menos “genérico” e estabelecer
aspectos fundamentais como quem
irá coordenar a mediação entre as
seguradoras, bancos e representan-
tes das pessoas com direito ao esque-
cimento (que devem participar na
elaboração do acordo) e em que pra-
zos é que tudo isto deverá ser feito.
“Quando a lei deixa alguns dos aspec-
tos fundamentais à sua aplicação
condicionado à existência de um
acordo e não estabelece quem o
supervisiona, o que deve conter em
concreto, quem desencadeia essas
negociações, achamos que é uma
situação muito vaga, que é condicio-
nante da aplicação da própria lei”,
diz Margarida Cruz.
Reeleito como deputado para a
nova legislatura, Miguel Costa Matos
defende que a lei está em vigor e
“não precisa de qualquer regula-
mentação para estar operacional”,
mas reconhece que o facto de o acor-
do que o próprio documento legal
prevê não existir ainda, pode estar a
diÆcultar o processo. “É natural que
algumas operadoras entendam que
não está deÆnido a 100% quais é que
são as patologias abrangidas e o
modo como isto se aplica, mas já
deveriam estar a aplicar a lei que está
em vigor”, diz.
mente de estes agravarem, atenua-
rem ou extinguirem a responsabili-
dade criminal”.
Fonte da direcção da PJ nega que
estas reuniões, que admite serem
não só normais como até necessá-
rias, tenham o propósito de incrimi-
nar os arguidos. E justiÆca a sua
existência com a complexidade que
envolve alguns destes julgamentos e
com o facto de muitos deles terem
lugar demasiado tempo após a inves-
tigação desenvolvida pelos inspecto-
res. Estes encontros não implicarão,
segundo a mesma tese, “nenhuma
subversão das regras de isenção” por
que se deve pautar o MP. Interrogado
pelo PÚBLICO sobre se esse episódio
o levará a pedir o afastamento de
Marta Viegas, o advogado do hacker,
Francisco Teixeira da Mota, escusou-
se a falar do assunto, o mesmo tendo
sucedido com Aníbal Pinto.
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20 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Local Jovens criaram projecto para conhecer vizinhos do São João

Vizinhos do teatro: como criar

um diálogo através de cartazes
Francisco e Sara criaram o movimento Vizinhos do Teatro para conhecer quem rodeia o São João. AÄxam
cartazes nas vizinhanças onde “qualquer pessoa escreve aquilo que quer” sobre o teatro e a comunidade
FOTOS: TIAGO LOPES

João Veloso
Quando perguntaram a crianças do
Centro Social da Sé Catedral do Porto
(CSSCP) sobre o teatro, Francisco
Saraiva de Almeida, de 29 anos, e Sara
Brandão, 24, perceberam que “nem
sequer sabiam que existia aqui um
teatro”. Segundo a jovem, esta expe-
riência fê-los “começar a pensar que,
se calhar, seria interessante questio-
nar o que é que esta comunidade aqui
[na Batalha] acha da vizinhança, se
tem alguma ligação ao teatro [e] se
tem algum hábito cultural”.
Como forma de trazer “isto para a
rua”, como refere Sara, os estudantes
decidiram aÆxar cartazes com espa-
ços “em branco com um mote”, onde
“qualquer pessoa escreve aquilo que
quer”, ao redor do Teatro Nacional
São João, no Porto, no âmbito do
movimento Vizinhos do Teatro, con-
ta Francisco. O objectivo destes folhe-
tos passa por perceber “o que é o
teatro em termos de conceito lato”,
assim como “o que é a vizinhança” e
“o que é ser vizinho de um teatro”,
diz o jovem.
Nascida “das vontades” dos dois
fundadores do Vizinhos do Teatro, a
iniciativa surge após frequentarem o
curso de facilitadores de Práticas
Artísticas Comunitárias, criado pela
Associação Pele, onde estas “vonta- ta” para se poder “levantar questões” Francisco e Sara concluem que as
des” foram “catalisadas”, de acordo e criar um “diálogo entre as pessoas”. pessoas “querem participar” e “têm
com Francisco. Através deste organis- Para ambos os jovens, é preciso “ouvi- opiniões” sobre o teatro e a comuni-
mo, Sara e Francisco têm desenvolvi- las”. Segundo Sara, “às vezes [não há] dade, nas palavras de Francisco. Já
do um “trabalho de uma prática artís- plataformas para serem ouvidas”. Sara salienta que a comunidade
tica comunitária” com o grupo de Assim, ao existir um “meio de comu- demonstra querer “decidir o que é
crianças do CSSCP, diz a estudante de nicação”, as pessoas sentir-se-ão que acontece nos espaços que fre-
Mestrado em Estudos Literários, Cul- “motivadas em encontrar lugares quentam”.
turais e Interartes. para interagirem”. Os jovens utilizam Apesar de terem criado a iniciativa,
As áreas artísticas, especialmente os cartazes como “plataforma”, usan- não querem que esta seja vista como
o teatro, sempre despertaram inte- do o espaço público, diz Francisco, “um projecto da Sara e do Francisco”,
resse em ambos os estudantes: Sara para criar um “espaço da discussão mas como uma “comunidade”, onde
fez parte do Bando dos Gambozinos onde as pessoas podem participar”. as pessoas têm “liberdade” para
e frequenta, actualmente, o grupo O projecto tem tido muita adesão, “dizerem o que querem”, de forma
de teatro SOTAO (Sociedade Onírica levando à criação de uma página do “anónima”, refere o estudante. “Eu
de Teatro Amador Orgânico), Instagram do Vizinhos do Teatro, e sinto que há um grupo de vizinhos do
enquanto Francisco faz teatro “des- são várias as respostas escritas nos teatro, ou seja, eu sinto que ele existe
de muito pequeno” e está a frequen- cartazes, desde “O teatro é para e simplesmente ainda não tem pes-
tar o Mestrado em Artes Cénicas — Os jovens espalharam cartazes Há duas semanas, Sara e Francisco todos” e “O teatro é elitista” até soas por detrás”, aÆrma ao PÚBLICO
Interpretação e Direcção Artística. para que as pessoas pudessem começaram a aÆxar cartazes com os “Um/a vizinho/a é uma dor de cabe- Sara.
O jovem admite que “parece que as completar as frases motes “O teatro é” e “Um/a vizinho/a ça ou um amor de pessoa”. Os estu- Embora gostassem que o projecto
pessoas que vão ao teatro são sem- é”. Ao andar pelas ruas próximas do dantes imaginaram “algumas repos- saísse “um bocadinho dos papéis”,
pre as mesmas”, algo que “sempre mas pessoas que vão, as mesmas Teatro Nacional São João, vê-se inú- tas possíveis”, tendo algumas ido ao tendo já pensado em levá-lo “para
lhe fez confusão”. Segundo Sara, isto pessoas que vêem, as mesmas pes- meros folhetos escritos, riscados e até encontro do esperado e “outras não dentro” do Teatro São João, segundo
deve-se ao facto de haver “muita soas que criticam.” rasgados, algo que Francisco consi- de todo”, refere Sara. Para além dis- Sara, os estudantes, por enquanto,
gente a escrever sobre teatro que “Quando há pessoas que não acre- dera “bonito”, dando a ideia de so, até alguns turistas escreveram vão deixando “as sementes” — os car-
nunca experienciou, nunca esteve ditam que aquele lugar é para elas, “metamorfose”, transformando “a nos folhetos, como é o caso do que tazes —, como aÆrma Francisco, pela
muito perto do que é fazer um teatro então não vão e, a partir do momento paisagem da cidade”. apresenta a resposta “Um/a vizinho/ cidade para “fazer as pessoas pensar”
ou de quem vai”. Por sua vez, cria-se em que não vão àquele espaço, acaba De acordo com o estudante, os car- a é un amigo”. sobre o teatro e a vizinhança. Texto
“um remoinho” em que são “as mes- por ser fechado”, reitera Sara. tazes servem como uma “ferramen- Ao analisarem os cartazes escritos, editado por Ana Maria Henriques
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François Hollande diz que “o PS terá decidido desaparecer” Mundo
Depois de unir as esquerdas, Mélenchon
é visto como o grande opositor de Macron
Os socialistas foram os últimos a juntar-se à frente anti-Macron liderada pela França Insubmissa, numa
decisão que está a fracturar ainda mais o partido. Em poucos dias, a paisagem política francesa mudou
Alexandra Prado Coelho
Para a grande aliança das esquerdas
em França, faltava o Partido Socialis-
ta. Já não falta. Na madrugada de
ontem foi anunciado o Æm da mara-
tona negocial e o acordo entre os
socialistas e o movimento de Jean-Luc
Mélenchon, A França Insubmissa.
Mélenchon, que conquistou o tercei-
ro lugar, e 22% dos votos, na primeira
volta das eleições presidenciais, a 10
de Abril, posiciona-se agora para ser
primeiro-ministro numa França lide-
rada pelo recém-reeleito Presidente
Emmanuel Macron.
A frente de esquerda anti-Macron
para as legislativas de 12 e 19 de Junho
está, assim, constituída — com os
“insubmissos”, os ecologistas do
Europa Ecologia — Os Verdes, o Par-
tido Comunista Francês e o Partido
Socialista — faltando apenas a luz
verde do conselho nacional do PS,
convocado de urgência para dar o
seu aval hoje.
Decorrem, entretanto, as últimas
negociações com uma pequena for-
mação, o Novo Partido Anticapitalis-
ta, cujo líder, o antigo operário e sin-
dicalista Philippe Poutou, foi candi-
dato nas presidenciais, tendo
conseguido 0,76% dos votos.
Segundo uma sondagem do insti-
tuto Elabe para a BFMTV e o
L’Express, 53% dos franceses inquiri-
dos mostram-se favoráveis à aliança
dos partidos de esquerda — um
número que sobe para uns esmaga-
dores 84% dentro do universo dos
“simpatizantes da esquerda” (54%
destes declaram-se “muito favorá-
veis” e 30% “bastante favoráveis”).
Há também uma maioria de 64% des-
tes simpatizantes de esquerda que
consideram que os partidos unidos
na Nova União Popular Ecologista e
Social (NUPES) têm mais pontos em
comum do que divergências.
Outro dado interessante da mes-
ma sondagem é o que revela que 37%
dos franceses vêem Mélenchon
como o principal opositor de
Macron, e não a candidata da extre-
ma-direita Marine Le Pen, que dis-
putou a segunda volta das presiden-
ciais com o actual ocupante do Eli-
seu. Le Pen Æca pelos 33% neste
inquérito. Mesmo entre os apoiantes
de Macron e do seu partido A Repú-
blica em Marcha, são 52% os que
consideram o líder da França Insub-
missa como a Ægura mais credível
para fazer oposição ao Presidente.
O negociador dos socialistas,
Pierre Jouvet (em cima),
anunciando o acordo. Em baixo,
ex-Presidente François Hollande
O que une
os partidos de
esquerda é, acima
de tudo, a vontade
de fazer frente
a Macron
CHARLES PLATIAU/REUTERS
De entre as várias negociações dos
últimos dias, a mais complicada foi
precisamente com os socialistas, por
divergências sobre questões de fundo
—“14 anos de desacordo”, como escre-
via o Le Monde — mas sobretudo por
diÆculdade em acertar o número de
circunscrições atribuídas a candida-
tos do PS, que, no Ænal, Æcaram com
70 (menos que as 100 que, segundo a
imprensa francesa, ambicionavam,
mas mais do que as 30 que inicial-
mente lhes foram propostas).
O acordo está, entretanto, a provo-
car convulsões internas no partido,
com vários dirigentes socialistas a não
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 21
MOHAMMED BADRA7EPA
aceitarem e a decidirem concorrer
em nome próprio, e Æguras impor-
tantes do PS, como o antigo Presiden-
te François Hollande, a comentar
que, se o acordo for aceite, “o PS terá
decidido desaparecer”.
Também o antigo primeiro-secre-
tário socialista Jean-Christophe Cam-
badélis apelou, no Twitter, aos mem-
bros do partido para que “recusem”
o acordo com A França Insubmissa
“sob todas as formas possíveis”. Para
Cambadélis, trata-se da “assinatura
de uma rendição”.
Estamos perante “algo nunca visto
na política francesa”, comentava na
BFMTV o analista Alain Duhamel. A
união das esquerdas não acontecia há
pelo menos 25 anos, mas o que é real-
mente inédito, na sua leitura, é o fac-
to de se fazer em torno da esquerda
radical de Mélenchon, que deixou o
PS em 2008, Como recordava o Libé-
ration, o líder “insubmisso” culmina
“15 anos de uma estratégia política
montada tijolo e tijolo” por alguém
que acreditava “que era preciso
inventar ‘uma outra esquerda’”.
“Para Mélenchon, é a apoteose e a
vingança”, disse Duhamel. Para os
socialistas, pelo contrário, é “um dia
de luto” e “uma humilhação”, dado
que, para entrarem neste movimento,
“tiveram de deixar para trás tudo o
que defendem desde que existem”.
Não só isso, como Æcou claro para
todos que o PS, cuja candidata, Anne
Hidalgo, não chegou aos 2% de votos
nas presidenciais, negociava numa
posição de enorme fragilidade. O par-
tido “está com diÆculdade em inte-
grar o seu resultado nas presiden-
ciais”, comentava, ainda durante as
negociações, um dos negociadores da
França Insubmissa, Manuel Bompart,
enquanto outro descrevia os socialis-
tas como “demasiado gulosos”.
O que une os partidos de esquerda
agora é, acima de tudo, a vontade de
fazer frente a Macron e a consciência
de que divididos não atingiriam os
objectivos. Mas há vários pontos que
os afastam. A plataforma comum está
ainda a ser negociada nos detalhes,
mas é certo que, apesar da posição
reforçada pelo resultado nas presi-
denciais, Mélenchon teve de ceder
em alguns pontos do seu programa
“O Futuro em Comum”, embora não
se saiba ainda em que termos.
Um dos mais polémicos tem que
ver com a posição sobre a Europa,
nomeadamente a ideia de desobe-
diência aos tratados europeus, pre-
conizada pelo movimento de Mélen-
chon. O programa “O Futuro em
Comum” explica que essa desobe-
diência passa, entre outras coisas, por
“deixar de aplicar unilateralmente as
normas incompatíveis com os nossos
compromissos ecológicos e sociais,
tais como a directiva sobre o destaca-
mento de trabalhadores, as regras
orçamentais, as regras da concorrên-
cia, a livre circulação de capitais” ou
ainda “suspender a participação da
França em certos programas, como
a Europa da Defesa”.
Na perspectiva dos “insubmissos”,
a União Europeia “é um espaço polí-
tico fundado em relações de força e
cooperações de geometria variável”.
Por isso, o texto conclui: “Desta vez,
utilizaremos todo o peso da França
para realizar o nosso programa.”
Apesar de representar uma revolu-
ção no actual quadro político, é mui-
to cedo para saber que impacto terá
a aliança das esquerdas nas legislati-
vas. Duhamel expressava, contudo,
uma convicção: a França vai assistir
“a uma ressurreição da Assembleia
Nacional”, com o debate político a
ganhar novo fôlego. Se isso acontecer,
será uma fresta aberta para a visão da
VI República defendida por Mélen-
chon, com redistribuição dos poderes
e redução do peso do Presidente na
vida política francesa.
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22 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Mundo

Eleições locais
podem revelar
a extensão
das sequelas
do partygate
Johnson enfrenta o primeiro teste
eleitoral depois do escândalo das festas.
Labour quer mostrar que é alternativa
António Saraiva Lima
Não serão muitos os países do mundo
com uma tradição tão forte, como o
Reino Unido, em matéria de aprofun-
damento e desenvolvimento do seu
poder local e da proximidade estreita
que existe entre eleitores e eleitos.
Também por isso, Boris Johnson e o
Partido Conservador devem estar,
por esta altura, a fazer Ægas para que
os milhões de eleitores que se deslo-
carem hoje às urnas, para participar
nas eleições locais em Inglaterra, no
País de Gales e na Escócia, preen-
cham os respectivos boletins de voto
a pensar exclusivamente nas preocu-
pações de sempre neste tipo de vota-
ções: transportes, criminalidade,
recolha de lixo e habitação.
Estas eleições chegam, no entanto,
SNP deve reforçar
presença na Escócia
num período particularmente difícil
para os tories a nível nacional, pelo
que os desejos dos seus líderes podem
muito bem não se cumprir.
O partido e, particularmente, o
primeiro-ministro estão altamente
desgastados por causa do partygate,
o escândalo das festas e dos convívios
realizados em Downing Street duran-
te a pandemia, que violaram as regras
sanitárias, e cuja investigação crimi-
nal, ainda em curso, já levou à aplica-
ção de multas a Johnson, ao ministro
das Finanças e a diversos assessores
do Governo.
A invasão russa da Ucrânia e a crise
energética e económica — que se tem
feito sentir no aumento signiÆcativo
do custo de vida no Reino Unido, com
a subida da inÇação, em 7%, a atingir
um novo máximo em quase 30 anos Primeiro-ministro britânico aposta num bom resultado eleitoral para travar a contestação interna à sua lidera
— até puseram um travão à contesta-
ção dos deputados conservadores ao dos estragos do escândalo na popu- encarar um cenário de perdas signi- do também tornam difícil a emergên-
seu líder, argumentando uma “alte-
ração das prioridades” políticas.
laridade e na conÆança dos eleitores
no Partido Conservador.
Æcativas para avançarem para uma
moção de desconÆança a Johnson;
cia de uma alternativa credível.
[Johnson] está sob ataque por não ter
Mas a resposta pouco satisfatória Paralelamente, a Irlanda do Norte mas também para se projectar a estra- um programa claro e por liderar um

C
om a questão do
referendo independentista
adiada até 2023, por
causa da urgência da
resposta à pandemia, as
eleições locais na Escócia
devem servir de barómetro às
decisões tomadas pelo
governo do Partido Nacional
Escocês (SNP) sobre essa
matéria, mas também às suas
propostas para o aumento do
custo de vida na região
descentralizada. As sondagens
atribuem 44% ao SNP, a
conquista da maioria dos mais
de 1200 cargos em disputa e o
reforço da sua presença
territorial. Dão ainda como
possível a subida do Partido
Trabalhista a segunda força
política na Escócia,
ultrapassando os tories.
de Johnson às multas, dizendo que
“não lhe ocorreu” que estava a que-
bras as regras impostas pelo seu pró-
prio Governo, durante as celebrações
do seu aniversário, com mais de 30
pessoas, em Downing Street, quando
estavam proibidos ajuntamentos fes-
tivos, em Junho de 2020, criou uma
nova onda de críticas, que culminou
com a aprovação, com apoio conser-
vador, de uma moção que autoriza
uma comissão parlamentar a investi-
gar as declarações do primeiro-minis-
tro, para perceber se induziu os depu-
tados em erro de forma deliberada.
Tories sob pressão
A escolha dos 4350 lugares em dispu-
ta — que incluem assembleias muni-
cipais e juntas de freguesia um pouco
por todo o território, incluindo na
cidade de Londres — será, por isso, o
primeiro grande exame eleitoral pós-
partygate e a primeira oportunidade
para os partidos deÆnirem a extensão
escolhe os 90 deputados da sua
Assembleia, e a vitória expectável (e
histórica) dos nacionalistas do Sinn
Féin tem tudo para, a par do reforço
mais que provável do Partido Nacio-
nal Escocês, nas eleições locais na
Escócia, colocar ainda mais pressão
sobre o Governo conservador.
No que toca às eleições locais em
Inglaterra, nos centros urbanos e na
região Sul prevêem-se algumas dispu-
tas renhidas e determinadas vitórias
trabalhistas em círculos tradicional-
mente conservadores. Quanto às
zonas rurais das Midlands e do Norte,
na chamada red wall, aquilo que esta-
rá em jogo será a capacidade de os
tories conseguirem manter as locali-
dades conquistadas ao Labour, a nível
nacional e à boleia do “Brexit”, nas
legislativas de 2019.
A votação britânica é particular-
mente relevante para se perceber até
que ponto é que os deputados do Par-
tido Conservador estarão dispostos a
tégia que a direcção do Partido Con-
servador vai deÆnir para o tempo que
lhe resta até às legislativas de 2024.
“Muitos analistas estão a dizer que,
se os resultados forem maus para os
conservadores, Boris vai ver a sua
liderança ser desaÆada. Há, segura-
mente, deputados que estão à espera
para ver os resultados eleitorais”,
admite ao PÚBLICO Roger Eatwell,
professor de Política Comparada da
Universidade de Bath.
“Johnson tem muitas fraquezas,
que não se reportam apenas à sua
presença em eventos sociais durante
a pandemia — apesar de isto ser
importante, porque conÆrma a visão
daqueles que o tomam por mentiro-
so, por alguém que acredita que as
regras não se aplicam a si”, sublinha
o académico.
“Mas não existe um sucessor óbvio,
o que faz com que muitos deputados
hesitem em mandá-lo embora. As
divisões ideológicas dentro do parti-
Governo que aumentou o peso do
Estado e os impostos, algo que os crí-
ticos internos entendem como pouco
conservador”, acrescenta.
Labour à espreita
Por outro lado, o Partido Trabalhista
— que mudou de liderança em 2020,
depois do pior resultado em legislati-
vas desde 1935, e que Æcou aquém do
esperado nas eleições municipais de
Maio do ano passado — vai querer
aproveitar estas eleições para, numa
altura em que lidera as sondagens a
nível nacional e em que a popularida-
de Johnson está em baixo, continuar
a alimentar a narrativa de que está
mais do que preparado para ser
governo a qualquer momento.
“Embora o partido tenha crescido
consideravelmente nas sondagens
desde a substituição de Jeremy
Corbyn, não existe grande entusias-
mo por Keir Starmer, um político
pouco carismático que — apesar de
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ança
ter sido desajudado por políticas em
grande medida bipartidárias sobre a
covid e, agora, pela guerra na Ucrânia
— não tem conseguido apresentar o
Labour como uma alternativa clara”,
lembra Eatwell.
Apesar dos bons desempenhos
eleitorais recentes nas cidades e nos
principais centros urbanos, Starmer
sabe que precisa de recuperar a con-
Æança das classes trabalhadoras do
interior de Inglaterra e do País de
Gales para poder aspirar a uma vitó-
ria contra os tories a nível nacional.
Para tal, e para além do desgaste
que o partygate e a pandemia provo-
caram em Johnson, o líder trabalhista
conta com a crescente perda de rele-
vância do debate sobre o “Brexit” na
opinião pública e, particularmente,
junto do eleitorado que conÆou o seu
voto ao primeiro-ministro para este
tirar o Reino Unido da União Europeia
de uma vez por todas.
“Está em curso uma discussão
sobre como foi importante Johnson
ter conseguido conquistar os votos
das classes trabalhadores, especial-
mente na red wall a norte. Alguns
ADRIAN DENNIS/REUTERS
acreditam que a sua personalidade
carismática apelou aos eleitores
menos instruídos e politizados, mas
as análises recentes aos resultados de
2019 mostram que a sua popularida-
de se baseou mais na crença de que
iria resolver o ‘Brexit’, depois de um
longo período de divisões e de hesi-
tações no pós-referendo de 2016”,
explica Roger Eatwell. “Agora, a
popularidade de Boris e dos conser-
vadores está a sofrer com o rápido
aumento da inÇação e com os receios
sobre a economia.”
O foco da mensagem do Partido
Trabalhista para esta campanha tem
estado, por isso, nos temas relaciona-
dos com a economia, com o desem-
prego e com impacto da crise nas
famílias britânicas.
“Os conservadores não Æzeram
nada para responder ao aumento dos
preços da energia e da alimentação
(…) e ainda agravaram as coisas ao
imporem 15 aumentos de impostos”,
criticou Starmer. “O plano do Labour
para responder à crise do custo de
vida devolve dinheiro aos bolsos das
pessoas.”
Irlanda do Norte
Sinn Féin quer um novo capítulo
mas o DUP resiste a virar a página
António Saraiva Lima
Há quem olhe para a votação de hoje
na Irlanda do Norte como a “mais
importante eleição numa geração”,
tais são as mudanças profundas no
sistema político da região descentra-
lizada britânica que se avizinham.
Pela primeira vez desde a partição
da Irlanda, há 101 anos, os nacionalis-
tas irlandeses do Sinn Féin, defenso-
res da reuniÆcação política com a
República da Irlanda, podem vir a ser
o partido mais votado e, com isso,
conquistar o direito de nomear o pri-
meiro-ministro no governo de parti-
lha de poder com os unionistas. A
conÆrmar-se esse cenário, será tam-
bém a primeira vez que o vencedor
da eleição não pertence ao campo
político do unionismo, defensor da
manutenção da Irlanda do Norte inte-
grada no Reino Unido.
Elaborada pelo Instituto de Estudos
Irlandeses da Universidade de Liver-
pool, a última sondagem sobre a esco-
lha dos 90 deputados da Assembleia,
publicada na terça-feira no Irish News,
atribui 26,6% dos votos ao Sinn Féin
e 18,2% ao Partido Unionista Demo-
crático (DUP).
Estas percentagens reportam-se
exclusivamente à distribuição total
dos votos entre os mais de 1,3 milhões
de eleitores registados. O sistema de
voto único transferível pode trazer
algumas variações à composição Ænal
do Parlamento.
Contas à parte, a percentagem atri-
buída ao DUP não é promissora para
as suas aspirações de liderança. Os
ultraconservadores unionistas, que
venceram as eleições em 2017, 2016,
2011, 2007 e 2003, surgem mesmo
numa situação de empate técnico
com o Partido da Aliança, que teve
apenas 9,1% nas últimas eleições, rea-
lizadas há cinco anos.
O facto de este último partido, de
centro, não estar alinhado nem com
o nacionalismo nem com o unionis-
mo garante, ainda assim, ao DUP, que
mesmo sendo a terceira força mais
votada, tenha direito ao cargo de vice-
primeiro-ministro do governo.
Esta situação advém do complexo
sistema de governo da Irlanda do Nor-
te, consagrado no Acordo de Sexta-
Feira, de 1998 — que pôs um ponto
Ænal a três décadas de guerra civil
entre católicos e republicanos nacio-
nalistas e protestantes unionistas —,
e que tem como objectivo conciliar as
duas “comunidades” rivais no terri-
tório. O partido mais votado tem
direito a nomear o primeiro-ministro.
Mas se esse partido for representante
de uma das “comunidades”, o cargo
de vice-primeiro-ministro será atri-
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 23
buído ao partido da “comunidade”
opositora mais votado, mesmo Æcan-
do em terceiro ou quarto lugar.
Esta organização do poder execu-
tivo norte-irlandês depende, no
entanto, que nacionalistas e unionis-
tas estejam em sintonia. O primeiro-
ministro não pode “viver” sem o vice-
primeiro-ministro e vice-versa — ou
seja, basta que um partido não aceite
esta solução para que não haja novo
governo.
Nas mãos de Donaldson
A utilização desta formalidade como
arma política esteve na origem de
cinco suspensões dos trabalhos do
Parlamento e do governo, com a mais
duradoura delas a arrastar-se duran-
te três anos, entre 2017 e 2020. Para
impedir uma situação de bloqueio
constante, o Parlamento britânico,
em Londres, aprovou, em Fevereiro
do ano passado, uma lei que permite
que o governo da Irlanda do Norte se
mantenha em funções durante pelo
menos seis meses, se, ao Æm de oito
dias, a nova Assembleia não for capaz
de nomear os novos detentores dos
cargos em causa.
É, precisamente, esse o cenário
mais provável, tendo em conta que
Jeèrey Donaldson, líder do DUP, recu-
sa comprometer-se na viabilização de
um governo liderado pelo Sinn Féin.
Sondagens dão
aos nacionalistas
a sua primeira
vitória em mais
de 100 anos
e a possibilidade
de nomearem o
primeiro-ministro
O’Neill, candidata do Sinn Féin
Mundo
“É óbvio que estou determinado
em levar o DUP para o executivo —
mas primeiro temos de lidar com o
protocolo”, insistiu, no debate entre
líderes partidários, realizado na terça-
feira à noite, na BBC.
Apesar de fazer campanha subli-
nhando a “perigosa” natureza “iden-
titária” e pró-reuniÆcação do antigo
braço político do Exército Republica-
no Irlandês, o DUP tem defendido
que não é possível governar a Irlanda
do Norte enquanto o Governo de
Boris Johnson não rasgar o protocolo
irlandês do “Brexit”, o tratado assina-
do com a União Europeia que deÆne
o sistema regulatório aplicável à
entrada de produtos vindos de Ingla-
terra, do País de Gales e da Escócia na
Irlanda do Norte, e que cria uma
“fronteira” aduaneira ao longo do
mar da Irlanda.
Em Fevereiro, o DUP ordenou mes-
mo ao “seu” primeiro-ministro, Paul
Givan, que apresentasse a demissão,
em protesto contra o protocolo.
Como consequência, Michelle O’Neill,
do Sinn Féin, também perdeu o cargo
e o governo norte-irlandês passou a
ser de gestão.
Marginalizado durante várias déca-
das, devido às ligações entre os seus
antigos dirigentes e a violência e o
terrorismo nacionalista identitário do
século passado, o Sinn Féin receia
que, caso vença as eleições, o DUP
faça tudo o que estiver ao seu alcance
para arrastar a situação de bloqueio
e, quem sabe, colocar a Irlanda do
Norte de novo na rota das eleições
daqui a seis meses.
Apesar de não renunciarem — nun-
ca — ao objectivo de um referendo de
reuniÆcação da ilha, os nacionalistas
de esquerda já tratam o tema como
uma “inevitabilidade geracional” e,
por isso, têm focado a sua mensagem
e acção política em temas relaciona-
dos com a habitação, com o mercado
de trabalho, com a saúde e com a edu-
cação. “Enquanto todos queremos
pôr dinheiro nos bolsos das pessoas
e lidar com a crise do custo de vida, o
DUP anda a dizer às pessoas que a sua
identidade está sob ameaça”, criticou
O’Neill, no debate da BBC.
Esta reorientação programática do
Sinn Féin é atractiva para o eleitorado
mais jovem, que já não tem uma rela-
ção tão próxima com as memórias
sombrias dos Troubles — a guerra civil
que durou desde a década de 1960 até
ao Ænal dos anos 1990. E foi particu-
larmente bem-sucedida na República
da Irlanda. Nas eleições irlandesas de
2020, Mary Lou McDonald, líder do
partido, guiou-o à vitória, e só não
preside ao governo porque os dois
partidos rivais de direita se uniram.
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24 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Mundo
Quase oito em cada dez angolanos
passaram fome em 2021
António Rodrigues
“O nível de pobreza
degradou-se” nos últimos
três anos. A pobreza
extrema atingiu
44% dos angolanos
O nível de pobreza em Angola acen-
tuou-se nestes últimos três anos a um
ponto em que a percentagem de
pobres no país subiu para 79% e o
nível de privação alimentar chegou a
78%. De acordo com os números do
Afrobarometer, “a maioria dos ango-
lanos experimentou diÆculdades na
satisfação das suas necessidades bási-
cas no ano passado, pois o nível de
pobreza degradou-se comparativa-
mente a 2019”.
Cerca de oito em cada dez angola-
nos sofreram escassez de alimentos
ou de satisfação das suas necessidades
básicas pelo menos uma vez durante
o ano de 2021, enquanto quase meta-
de da população está agora na pobre-
za extrema, “tendo Æcado frequente-
mente sem comida suÆciente, água
potável, assistência médica, combus-
tível para cozinhar e rendimento
Ænanceiro”, diz o comunicado.
Os 44% da população na pobreza
extrema representam um aumento
de nove pontos percentuais em rela-
ção a 2019. Sendo que na população
rural chega a 63% e a 34% nas zonas
urbanas. Em Luanda é de 29%.
Taco a taco com o PSOE de Sánchez,
Feijóo relança PP e trava crescimento do Vox
Ruben Martins e Carolina Amado
Partido Popular surge
à frente dos socialistas
nas intenções de voto,
diz o barómetro de Maio
do El País e da Cadena SER
Se os espanhóis fossem hoje às urnas
para eleger novo executivo, o Partido
Popular sairia vencedor. Pela primei-
ra vez este ano, o PP ultrapassou o
Partido Socialista Operário Espanhol
nas sondagens. Contas feitas aos
lugares no Congresso, o PP conquis-
taria mais mandatos que os socialis-
tas, com 115 deputados contra 110.
Depois de uma crise interna que
ameaçou a estabilidade do PP no
início de 2022, levando ao afasta-
Se é verdade que em Abril o Banco
Mundial referia que “em 2021 a eco-
nomia angolana mostrou sinais de
recuperação e estima-se que tenha
saído do longo ciclo recessivo com
um crescimento real do PIB de 0,2%”,
a verdade é que essa melhoria
macroeconómica, sustentada pela
“subida contínua dos preços do petró-
leo”, devido à guerra na Ucrânia, não
se reÇectiu no bolso dos angolanos.
Na maioria dos angolanos, já que
pelo menos 22% da população urbana
e 12% da rural aÆrmaram não ter pas-
sado por qualquer privação de ali-
mentos no ano passado, de acordo
com os dados do inquérito da Ovi-
longwa, a empresa angolana integra-
A pobreza extrema aumentou nove pontos percentuais desde 2019
mento de Pablo Casado da liderança,
a chegada de Alberto Núñez Feijóo,
o presidente da Xunta da Galiza,
teve o condão de estancar a perda
de inÇuência do PP, gerando aquilo
a que se chamou “efeito Feijóo”. O
partido cresceu 2,7% em apenas um
mês, segundo o barómetro de Maio
da 40 dB para o El País e a Cadena
SER, e está de regresso à disputa
eleitoral de 2023.
Nas mãos de Feijóo, o partido reú-
ne agora, de acordo com as estima-
tivas, 25,8% das intenções de voto,
taco a taco com os socialistas do
PSOE que estagnam nos 26,2%.
Em terceiro lugar, o Vox perdeu
força no último mês, à medida que
o PP conquistava eleitores. A extre-
ma-direita aproveitou a fragilidade
interna dos Populares nos últimos
da na rede pan-africana Afrobarome-
ter, que em 39 países de África forne-
ce dados conÆáveis sobre qualidade
de vida, democracia e governança.
“Antes da guerra da Ucrânia, países
na África Oriental, Central e Austral,
incluindo Angola, Camarões, Quénia
e Nigéria, já estavam a lutar com uma
subida do preço dos alimentos devido
ao clima extremo e catástrofes natu-
rais como inundações, deslizamentos
de terra e secas e à pandemia de
covid-19, que perturbou os esforços
de produção e as cadeias de distribui-
ção globais”, escrevia na semana pas-
sada a Human Rights Watch.
Num país como Angola, que impor-
ta a maioria dos seus alimentos (no
REUTERS
meses para ganhar avanço na corri-
da eleitoral, mas a mudança na lide-
rança trocou os planos ao partido
liderado por Santiago Abascal. Ainda
assim, segundo a sondagem, o Vox
poderia conseguir eleger 64 deputa-
dos, mais 12 do que actualmente.
Estes resultados surgem no arran-
que de um novo ciclo eleitoral que
começa a 19 de Junho com as elei-
ções antecipadas na Andaluzia. A
conÆrmarem-se as sondagens favo-
ráveis ao PP — que poderá chegar à
Alberto Nuñez
Feijóo, o
presidente do
governo da
Galiza, substituiu
Pablo Casado na
liderança do PP
ano passado chegou a 40% de produ-
ção própria, mas continua a importar
os restantes 60%), uma subida no
índice de preços dos alimentos da
Organização das Nações Unidas para
a Alimentação e a Agricultura de 12,6%
de Fevereiro para Março (a maior
subida desde que o índice foi criado
em 1990) não ajuda a melhorar as con-
dições económicas dos angolanos.
Como dizia à Deutsche Welle o
coordenador da ONG angolana
OMUNGA, João Malavindele, até tem
havido por parte do Governo “algum
esforço” na criação de programas
para combater a fome e a pobreza,
“só que, infelizmente, na prática,
esses programas não têm sido satisfa-
tórios para muitas famílias”.
Como habitualmente no país, os
programas são desenvolvidos em
Luanda sem contacto com a realidade
e “as próprias políticas não respon-
dem directamente às necessidades
das famílias, tomando em conta a
realidade de cada província”.
“Há uma inÇação muito grande, e
esses programas não conseguem tirar
as pessoas dessa situação de pobre-
za”, acrescentou.
Como refere o Afrobarometer, “fal-
tando menos de quatro meses para o
Æm do mandato do Presidente” João
Lourenço, “os resultados do inquéri-
to não contrariam as alegações de que
Angola está a enfrentar uma das suas
piores crises sociais e económicas do
pós-guerra”.
maioria absoluta na região mais
populosa de Espanha —, esta será a
primeira vitória sob a nova liderança
(ainda para mais num antigo bastião
socialista que o PP governa com
apoio do Vox.
As eleições legislativas — marcadas
apenas para 2023 — estão ainda dis-
tantes, mas a instabilidade governa-
tiva pode impor uma ida antecipada
às urnas. A essa realidade não é
alheia a perda de conÆança da
Esquerda Republicana da Catalunha
e do Unidas Podemos no executivo
de Pedro Sánchez. Os partidos à
esquerda afastaram-se dos socialis-
tas depois do escândalo de escutas
nos telefones de líderes independen-
tistas recorrendo ao programa Pega-
sus e o PSOE não tem deputados
para governar sozinho.
Oklahoma
proíbe aborto
a partir das
seis semanas
Maria João Guimarães
O governador do Oklahoma aprovou
ontem uma lei para restringir as
opções de aborto, impossibilitando-
as logo que seja possível detectar um
batimento cardíaco no embrião, o
que acontece pelas seis semanas,
quando a maioria das mulheres ain-
da não se aperceberam que estão
grávidas. A lei também não permite
interromper a gravidez que tenha
resultado de violação ou de incesto
e prevê a possibilidade de qualquer
pessoa inicie um processo judicial
contra quem realize o procedimento
ou dê qualquer ajuda — uma lei mui-
to semelhante à que entrou em vigor
no estado do Texas em Setembro
passado. Quem faça ou ajude num
aborto pode ter de pagar até 10 mil
dólares (9500 euros).
“Quero que Oklahoma seja o esta-
do mais pró-vida do país”, escreveu
no Twitter o governador Kevin Stitt,
depois de assinar a lei, que entrou
em vigor de imediato — um dia
depois de uma fuga de informação
do Supremo ter mostrado que os
juízes se preparam para reverter a
decisão do caso Roe v. Wade, de 1973,
o que acabaria com a protecção
constitucional do direito ao aborto,
com cada estado a decidir por si (e
13 estados têm leis para activar de
imediato a proibição caso o Supremo
reverta Roe v. Wade, e há ainda nove
estados que tinham leis de proibição
anteriores que voltariam a elas – pre-
vê-se que metade dos estados proí-
bam o aborto na sequência de uma
reversão da Roe v. Wade).
O supremo do Oklahoma recusou
uma acção de emergência para tra-
var a lei. Nancy Northup, do Center
for Reproductive Rights, que inter-
pôs esta acção, disse que a proibição
“irá ter repercussões muito para
além do Oklahoma”: “Muitas pessoas
do Texas têm estado a chegar ao
Oklahoma para serviços de aborto e
muitas vão Æcar agora sem alternati-
vas”, declarou num comunicado
citado pela CNN. “Isto é apenas uma
antecipação do que pode acontecer
se Roe for revertido.”
O número de interrupções da gra-
videz realizadas por ano no Oklaho-
ma, onde há quatro clínicas de abor-
to, diminuiu de forma constante nos
últimos 20 anos, de mais de 6200 em
2002 para 3737 em 2020. Antes da
proibição do Texas ter entrado em
vigor a 1 de Setembro, cerca de 40
mulheres do Texas faziam abortos
em Oklahoma todos os meses. Em
Setembro foram 222 mulheres e em
Outubro 243.
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Plano de liquidação do BES só cobre 3%
dos créditos e não tem prazos
O banco falido tem um activo de 174 milhões de euros para satisfazer créditos de cinco mil milhões
de euros. E não há quaisquer metas temporais para o pagamento destas dívidas
Rafaela Burd Relvas
Quase seis anos depois do início do
processo de insolvência do Banco
Espírito Santo (BES), a comissão liqui-
datária do banco falido concluiu o
plano de liquidação, documento em
que, de acordo com a lei, se apresen-
ta o activo disponível para ressarcir
os credores e se deÆnem os prazos
para a conclusão desses pagamentos.
Essa é a teoria, mas a complexidade
e dimensão do BES extravasam os
cenários previstos na legislação. E os
liquidatários avisam os credores disso
mesmo, dizendo não ser “realista”
traçar metas temporais “com dema-
siada precisão”. Mesmo que houves-
se prazos, a probabilidade de os cre-
dores virem a receber parte do que
perderam é quase nula, já que o acti-
vo do BES cobre pouco mais de 3%
dos créditos reconhecidos.
Foi a 19 de Julho de 2016 que o pro-
cesso de insolvência do BES teve iní-
cio no Tribunal do Comércio de Lis-
boa. Desde então, têm sido poucos
— e, sobretudo, lentos — os avanços.
Em 2019, a comissão liquidatária
divulgou a lista dos credores reconhe-
cidos e não-reconhecidos, depois de
ter recebido cerca de 32.500 reclama-
ções de créditos, apresentadas por
23.960 reclamantes. Acabaram por
ser reconhecidos 4955 credores, com
um montante total de créditos reco-
nhecidos de pouco mais de cinco mil
milhões de euros.
Só agora, passados três anos desde
a publicação da lista de credores, é
que a comissão liquidatária concluiu
e entregou ao tribunal o plano de
liquidação de venda dos bens, docu-
mento que contém “metas temporal-
mente deÆnidas e a enunciação das
diligências concretas a encetar”, con-
forme deÆne o Código da Insolvência
e da Recuperação de Empresas. Na
prática, é neste documento que se
elencam os activos de que a entidade
insolvente dispõe para pagar aos cre-
dores os montantes devidos, bem
como os prazos.
O plano de liquidação do BES, con-
tudo, não inclui quaisquer previsões
temporais. “A necessidade de elabo-
ração de um plano, com metas tem-
poralmente deÆnidas e com a enun-
ciação das diligências concretas a
encetar, é mais facilmente compatível
com insolvências em que o respectivo
horizonte temporal é curto, mas reve-
la-se desajustado num processo de
liquidação como o do BES”, começa
Processo de insolvência do Banco Espírito Santo Economia
DANIEL ROCHA
Grupo financeiro presidido por avisar a comissão liquidatária.
por Ricardo Salgado foi dividido “Por força da sua dilação temporal,
por resolução do Banco de pode não ser possível nem sequer
Portugal, liderado por Carlos realista traçar, com demasiada preci-
Costa, em Agosto de 2014 são, todas as etapas e actos especíÆ#
cos da venda dos activos que integram
a massa, designadamente aqueles de
realização problemática ou delicada
Comissão e que não estão imunes à evolução
liquidatária dos processos de liquidação do BES
e, bem assim, dos seus devedores e a
reconheceu diversas circunstâncias com que a
4955 credores dos comissão liquidatária se irá confron-
tar, no decurso do processo de liqui-
23.960 que se dação”, acrescenta.
apresentaram Assim, os liquidatários defendem
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 25
RUI GAUDÊNCIO
que o plano de liquidação “não pode-
rá ter uma rigidez e detalhe excessi-
vos, incompatíveis com o horizonte
temporal da liquidação do BES e com
a natureza dos seus activos”.
É com este aviso prévio que a
comissão liquidatária elenca, depois,
os activos que tem disponíveis, que
se dividem entre os activos já liquida-
dos e os activos que ainda estão por
liquidar. Nos primeiros incluem-se,
por exemplo, créditos concedidos a
antigos clientes do BES entretanto já
pagos ou obrigações e participações
que já foram vendidas, como as do
antigo Espírito Santo Bank de Miami,
actualmente Brickell Bank, que o BES
vendeu em 2019 por oito milhões de
dólares (cerca de 7,6 milhões de
euros, à cotação actual).
No segundo grupo de activos estão
várias participações que o BES ainda
detém em sociedades falidas do GES
e créditos concedidos também a
empresas do universo Espírito Santo
que ainda não foram reembolsados
— e que diÆcilmente serão, tendo em
conta que a maioria destas socieda-
des está em processo de insolvência.
Em conjunto, o grupo Escom, o Espí-
rito Santo Financial Group, a Rioforte,
o grupo Opway e o Espírito Santo
Bank (do Panamá) têm uma dívida
próxima de 960 milhões ao BES, um
valor signiÆcativo, mas que pouco ou
nenhum impacto terá para o balanço
do banco falido.
“A perspectiva de recuperação dos
valores em dívida é, desde o primeiro
momento, praticamente nula, razão
pela qual todas as operações já se
encontravam totalmente provisiona-
das à data da aplicação da medida de
resolução”, admite a comissão liqui-
datária. Assim, os liquidatários limi-
tam-se ao que está ao seu alcance:
acompanhar cada um dos processos
de insolvência e “actuar em confor-
midade com o que for judicialmente
decidido” ou, se houver oportunida-
de, vender os créditos.
Esta última alternativa, contudo,
também não deverá trazer quaisquer
frutos. “Podemos vender estes crédi-
tos, mas não teremos qualquer reali-
zação ou, se tivermos, será próxima
de zero. Só se houver algum milagre
é que recuperamos alguma parte des-
tes créditos”, diz ao PÚBLICO César
Bento Brito, presidente da comissão
liquidatária do BES.
“Só temos despesa”
Feitas as contas, e de acordo com a
informação fornecida pelo presiden-
te da comissão liquidatária, o BES
tinha, no Ænal de 2021, um activo total
contabilizado em 174 milhões de
euros, que representa até uma ligeira
redução face ao activo de 177 milhões
que registava no ano anterior. “Não
temos praticamente qualquer receita,
até porque os cerca de 155 milhões
que temos em depósitos têm uma
taxa de juro próxima de zero. Só
temos despesa”, diz Bento Brito.
Tendo em conta o montante total
dos créditos reconhecidos, de cerca
de cinco mil milhões de euros, signi-
Æca isto que, por esta altura, o BES
tem capacidade para satisfazer perto
de 3,5% destas obrigações. E o mon-
tante de créditos reconhecidos pode
até vir a aumentar em breve, tendo
em conta que houve cerca de duas
mil impugnações às listas de credores
reconhecidos, que estão agora em
fase de análise.
Sem receitas e com as despesas dos
vários processos em que o BES está
envolvido a acumularem-se, a comis-
são liquidatária do banco vê no pro-
cesso Universo Espírito Santo, que
pretende apurar responsabilidades
criminais no colapso do GES, a única
alternativa para aumentar as receitas.
Mas não há quaisquer expectativas
quanto ao momento em que esse pro-
cesso Æcará concluído.
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26 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Economia
Fed acelera subida das taxas de juro nos EUA
Sérgio Aníbal
Alerta máximo contra a
inflação nos EUA. Taxas de
juro sobem meio ponto
percentual e Fed começa a
reduzir balanço em Junho
A Reserva Federal norte-americana
acelerou o ritmo de retirada dos estí-
mulos monetários que tinha lançado
à economia durante a pandemia e,
num reforço dos esforços que está a
fazer para combater a inÇação, subiu
a sua principal taxa de juro de refe-
rência em meio ponto percentual.
No Ænal da reunião de dois dias do
comité que decide a política monetá-
ria nos Estados Unidos, os responsá-
veis da Fed emitiram ontem um
comunicado dando conta de duas
decisões que, sendo já esperadas
pelos mercados, vêm conÆrmar que
Jerome Powell e os seus pares estão
neste momento apenas preocupados
com uma coisa: a subida da taxa de
inÇação.
Apesar de a economia norte-ame-
ricana ter registado, no primeiro tri-
mestre deste ano uma contracção, a
Fed decidiu colocar a sua taxa de juro
de curto prazo, que serve de referên-
cia para os custos de Ænanciamento
de toda a economia, no intervalo
entre 0,75% e 1%.
É uma subida de 0,5 pontos per-
centuais que é a maior dos últimos 22
anos, o que mostra bem a forma
como os responsáveis da instituição
estão decididos a mudar rapidamen-
te a política monetária em vigor e que
Estágios da função pública com candidaturas de 135 serviços
Raquel Martins
A segunda edição do programa Está-
giAP XXI recebeu 135 candidaturas
de organismos da administração
central e o número de estagiários
pedidos ultrapassou as 1156 vagas
que são Ænanciadas pelo Plano de
Recuperação e Resiliência (PRR).
O prazo de candidatura terminou
a 26 de Abril, data que resultou da
extensão do prazo inicial de 26 de
Março para “permitir à nova tutela
gerir o programa” desde o seu iní-
cio.
“No total, 135 entidades da admi-
nistração central directa e indirecta
do Estado candidataram-se, ultra-
passando o número de vagas”,
adiantou ao PÚBLICO fonte oÆcial
do Ministério da Presidência do
Conselho de Ministros, sem concre-
foi, durante os últimos anos, forte-
mente expansionista.
Em segundo lugar, a Fed anunciou
também que, a partir de 1 de Junho,
irá começar a reduzir a dimensão do
seu balanço, primeiro em 47,5 mil
milhões de dólares (cerca de 45,13 mil
milhões de euros) ao mês e, a partir
de Setembro, em 95 mil milhões de
dólares ao mês. Isto signiÆca que,
depois de vários anos a comprar acti-
vos (principalmente títulos de dívida
pública norte-americana) e de recen-
temente ter acabado com as compras
líquidas, a Fed vai mesmo começar a
desembaraçar-se dos activos que tem,
reduzindo não só o seu balanço (que
chegou aos 9 biliões de dólares) como
reduzindo também a liquidez existen-
te nos mercados.
Este tipo de medidas — subida das
taxas de juro e redução do balanço —
destinam-se a aumentar os custos de
Ænanciamento nos EUA e a estimular
a poupança, conduzindo assim a um
arrefecimento do consumo e do inves-
timento que se espera acabe por tra-
var também a escalada dos preços.
Tanto nas taxas de juro como na
gestão do seu balanço, a Fed está
alguns passos à frente do BCE. Na
zona euro, o banco central prepara-se
para, durante o terceiro trimestre
deste ano, acabar com as compras
líquidas de activos, o que signiÆca que
não irá ainda começar a reduzir o seu
balanço, irá apenas mantê-lo estável.
E, só a seguir, poderá começar a subir
as suas taxas de juro de referência.
Esta retirada mais rápida dos estí-
mulos por parte da autoridade mone-
tária norte-americana tem como uma
tizar quantas vagas foram pedidas
além das 1156 disponibilizadas.
A decisão sobre a atribuição das
vagas é tomada pela Direcção-Geral
da Administração e do Emprego
Público (DGAEP) até início de Junho
(data que resulta da contagem de 30
dias úteis a partir de 26 de Abril).
De acordo com os critérios de
atribuição das vagas, as candidatu-
ras são hierarquizadas e selecciona-
das tendo em conta o contributo
dos estágios para o rejuvenescimen-
to e dinamização da força de traba-
lho na Administração Pública e para
a transferência de conhecimento
intergeracional.
Só depois de se saber quais os ser-
viços abrangidos e o número de
vagas atribuídas a cada um é que
será aberto o período para os jovens
se candidatarem.
Trazer a inÅação
para baixo
também não
vai ser agradável
Jerome Powell
Presidente da Reserva Federal
dos EUA
Fed, presidida por Powell,
garante que “se mantém muito
atenta” à evolução da inflação
O programa destina-se a licencia-
dos até aos 30 anos (ou até aos 35
anos se tiverem deÆciência ou inca-
pacidade), desde que estejam à pro-
cura do primeiro emprego ou de
novo emprego correspondente à
sua área de formação e nível de qua-
liÆcação.
Os jovens terão de indicar os luga-
res a que pretendem concorrer (por
referência à licenciatura, à entidade
promotora e ao distrito) até ao limi-
te de dez vagas, por ordem de pre-
ferência.
O candidato é colocado numa úni-
ca vaga e os lugares não ocupados
podem ser disponibilizados aos can-
didatos que não foram colocados
anteriormente.
Na edição de 2021 do programa,
as 500 vagas disponíveis não foram
totalmente preenchidas, porque
das explicações a diferença do valor
da inÇação nos dois blocos económi-
cos. Enquanto na zona euro, a taxa
de inÇação homóloga foi de 7,5% em
Abril, nos EUA o mesmo indicador já
estava, em Março, nos 8,5%.
No comunicado em que anunciou
as suas decisões, a Fed diz que “a
inÇação se mantém elevada” e garan-
tiu que “se mantém muito atenta” à
sua evolução. No que diz respeito ao
crescimento económico, que nos pri-
meiros três meses do ano registou um
valor negativo, é destacado que, ain-
da assim, “o consumo das famílias e
o investimento das empresas se man-
têm fortes” e que “os ganhos de
emprego foram robustos”.
“Não vai ser agradável”
Na conferência de imprensa realizada
logo a seguir, o presidente da Fed,
Jerome Powell, tentou passar a ideia
JIM LO SCALZO/EPA
alguns candidatos acabaram por
não assinar os contratos de estágios
e 156 lugares transitaram para a edi-
ção de 2022.
Os estágios têm a duração de nove
meses, a tempo completo ou par-
cial, e está previsto o pagamento de
uma bolsa mensal de 1007,49 euros
brutos (valor correspondente à pri-
meira posição remuneratória da
carreira de técnico superior já
actualizada em 2022), a que acresce
o subsídio de refeição.
Ao contrário do que acontece no
Mariana Vieira
da Silva,
ministra da
Presidência,
ficou com a tutela
da Administração
Pública
de que será possível combater a inÇa-
ção sem colocar em causa os actuais
níveis muito baixos de desemprego
que actualmente se registam. Jerome
Powell reconheceu que, sendo a inÇa-
ção um fenómeno “desagradável”
para muitas famílias, “trazer a inÇa-
ção para baixo também não vai ser
agradável”.
Ainda assim, assinalou que a tarefa
da Fed, nesta fase, tem mesmo de ser
a de “evitar que a inÇação se torne
permanente” e defendeu que “existe
uma boa hipótese de se trazer a inÇa-
ção para baixo sem gerar subidas
signiÆcativas do desemprego”.
A forma como os salários estão a
subir neste momento nos EUA é uma
das fontes de preocupação da Fed e
o seu presidente deixou claro que irá
ser necessário travar esta tendência.
Ainda assim, Jerome Powell acredita
que isso não signiÆca necessariamen-
te que se tenha de aumentar o desem-
prego para que os salários deixem de
crescer.
“Existe um caminho através do
qual se modera a procura no mercado
laboral sem aumentar o desempre-
go”, disse, embora assinalando que
esta não será uma tarefa fácil.
Para já, o máximo responsável da
Fed colocou de lado uma acção ainda
mais forte, dizendo que uma subida
de 0,75 pontos não está, neste
momento, a ser discutida.
De qualquer forma, as subidas de
taxas são para continuar, deixou cla-
ro. “Sabemos que temos de mover as
taxas de juro rapidamente para níveis
normais e, se for necessário, ir ainda
mais além”, disse.
sector privado, em que as empresas
são incentivadas através de apoios
públicos a contratar os estagiários,
não há possibilidade de estes jovens
serem contratados de forma deÆni-
tiva pelos organismos públicos.
A única vantagem que têm os
jovens que virem a sua candidatura
aprovada é uma majoração nos pro-
cessos de recrutamento que decor-
ram nos dois anos após o termo do
estágio.
A segunda edição do EstágiAP XXI
é Ænanciada a 100% pelo Plano de
Recuperação e Resiliência, que tem
uma dotação de cerca de 12,3
milhões de euros para o programa.
Este valor pode ser mais alto,
mediante articulação entre a DGAEP
e a Estrutura de Missão Recuperar
Portugal, responsável por gerir o
PRR.
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Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 27

Rua Júlio Dinis, n.º 270, Tel. 22 615 10 00

Bloco A, 3.º Piso
4050-318 Porto
lojaporto@publico.pt
De seg a sex das 09H às 18H
CLASSIFICADOS

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação

Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer
Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única Dá-se conhecimento público de que se encontra aberto INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL
organização em Portugal, de âmbito nacional, constituída há mais de 30 processo de recrutamento de pessoal em regime de contrato
anos especificamente para promover a qualidade de vida das pessoas de trabalho a termo resolutivo certo para a Faculdade de RECRUTAMENTO DE PESSOAL NÃO DOCENTE
com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para: Torna-se público que pelo Aviso n.º 8735/2022,
associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais publicado na 2.ª Série do Diário da República, n.º 83, de
1 vaga de técnico de informática (m/f), referência: 29 de abril, encontra-se aberto um concurso externo de
e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas
Médicas da Especialidade. CT/ND-011/2022-DAG; ingresso para admissão a estágio, de 2 Especialistas de
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa Informática, Grau 1, Nível 2, da carreira (não revista)
ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências,
ao qual podem candidatar-se os indivíduos que reúnam as de Especialista de Informática, para exercerem funções
procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a
Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas condições fixadas no aviso disponível no endereço: na Divisão de Informática deste Instituto Politécnico de
causas, efeitos, profilaxia e tratamentos. https://www.fct.unl.pt/faculdade/concursos/nao-docentes Setúbal.
Contactos: As candidaturas decorrem pelo período de 10 dias úteis,
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
O prazo limite para submissão das candidaturas é de 6 dias contados a partir de 02 de maio, e as condições para
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa
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Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim
(BEP), acessível em www.bep.gov.pt, e na página
- Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente
eletrónica do IPS, em www.ips.pt, (nos separadores:
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n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
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- Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org Pessoal Não Docente/Procedimentos Concursais).
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3, Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965
276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional DE HISTÓRIA EM LOJA.PUBLICO.PT Instituto Politécnico de Setúbal, 29 de abril de 2022
da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal, Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
MAIS INFO: 210 111 010

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Comissão Parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão

ÀS COMISSÕES DE TRABALHADORES OU ÀS RESPETIVAS

COMISSÕES COORDENADORAS, ASSOCIAÇÕES SINDICAIS
COMPLETE E ASSOCIAÇÕES DE EMPREGADORES
AS SUAS ANTÓNIO JOSÉ Nos termos e para os efeitos dos artigos 54.º, n.º 5, alínea d), e 56.º,
COLECÇÕES DA SILVA ROBALO n.º 2, alínea a), da Constituição, do artigo 134.º do Regimento da

NAS LOJAS
Assembleia da República e dos artigos 469.º a 475.º da Lei n.º 7/2009,
CORDEIRO Eng. VÍTOR GUILHERME de 12 de fevereiro (Aprova a revisão do Código do Trabalho), avisam-
PÚBLICO Faleceu se estas entidades de que se encontra para apreciação, de 5 de maio

A Família participa a todas as

ROSA BISCAIA a 4 de junho de 2022, o diploma seguinte:
Proposta de Lei n.º 120/XIV/3.ª (ALRAA) — Primeira alteração ao
pessoas das suas relações e Decreto-Lei n.º 109-B/2021, de 7 de dezembro, que aprova a atualização
amizade o falecimento de António 1931 – 2021 do valor da Retribuição Mínima Mensal Garantida e cria uma medida
José da Silva Robalo Cordeiro. excecional de compensação.
EDIFÍCIO O corpo do saudoso extinto está em A esposa, os filhos, os netos e demais famílias
DIOGO CÃO Câmara ardente no Centro Funerário participam o seu falecimento a 5 de Maio de 2021. As sugestões e pareceres deverão ser enviados, até à data limite acima
DOCA DE ALCÂNTARA indicada, por correio eletrónico dirigido a: 10CTSSI@ar.parlamento.pt;
NORTE, LISBOA
Nossa Senhora de Lourdes, em ou em carta, dirigida à Comissão Parlamentar de Trabalho, Segurança
Coimbra (Capela Páscoa).
Viveu uma vida plena, votada aos seus, à
(JUNTO AO Social e Inclusão, Assembleia da República, Palácio de São Bento,
MUSEU DO ORIENTE) Será Celebrada Missa de corpo Engenharia e à defesa dos direitos da sua classe 1249-068 Lisboa.
HORÁRIO: presente às 15:00 horas na Igreja na Ordem dos Engenheiros e na sua empresa de
2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H Dentro do mesmo prazo, as comissões de trabalhadores ou as
SÁBADO: 11H – 17H de Nossa Senhora de Lourdes, no sempre, a Companhia dos Caminhos de Ferro comissões coordenadoras, as associações sindicais e associações
fim da qual se realiza o funeral para de empregadores poderão solicitar audiências à Comissão
Portugueses (CP), à qual se dedicou numa longa
o crematório municipal de Coimbra Parlamentar de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, devendo fazê-
em Taveiro. carreira e onde exerceu os mais altos cargos. A lo por escrito, com indicação do assunto e fundamento do pedido.
Coimbra, 05 de Maio de 2022 dedicação à família, a disponibilidade para a vida O texto do citado diploma encontra-se publicado na Separata n.º 7/XV
e o entusiasmo pelo mundo estiveram sempre do Diário da Assembleia da República, de 5 de maio de 2022, e pode
A. FUNERÁRIA DE COIMBRA, LDA., Rua de Saragoça, 85 C ser consultado na «Página» Internet da Assembleia da República, na
INFO: 210 111 010 Telef. 239 824 479 - Telmv. 917 226 023
patentes e inabaláveis. morada: http://www.parlamento.pt/DAR/Paginas/Separatas.aspx

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28 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Cultura Pianista francês abre hoje em Braga o ciclo Respira!

SoƊane Pamart:
“Se Mozart fosse vivo
estaria a colaborar
com rappers!”
Fenómeno em França, onde tanto é aclamado no universo
da música clássica como no circuito hip-hop, vai actuar hoje
pela primeira vez em Portugal, abrindo o já habitual ciclo
que o Theatro Circo dedica anualmente ao piano
Vítor Belanciano
É um fenómeno em França, onde
tanto se apresenta em pequenas salas
para o público selecto da música clás-
sica como em grandes espaços ou
festivais, perante milhares de pes-
soas. Esta noite, SoÆane Pamart
estreia-se em Portugal, no Theatro
Circo, em Braga, onde abrirá o ciclo
de piano Respira!, numa noite em que
partilhará o cartaz com a também
francesa Christine Ott. O festival pros-
segue amanhã com Macha Gharibian
e La Chica, e termina no sábado com
uma actuação de Abdullah Ibrahim e
uma instalação de Diamanda Galás.
Medalha de ouro do Conservatório
de Lille aos 23 anos, SoÆane Pamart
transformou-se num curto espaço de
tempo no pianista preferido do hip-
hop e de um público transversal,
tendo lançado discos com o rapper
belga Scylla e colaborado com nomes
reconhecidos em França como Médi-
ne, koba LaD, Dinos ou Vald. Hoje,
aos 32 anos, a sonoridade nostálgica
e poética do seu piano fá-lo ser ova-
cionado como se fosse uma celebri-
dade rock.
A sua família, lembra ao PÚBLICO
numa conversa por Zoom, veio de
Marrocos, tendo a mãe enveredado
pelo ensino. “Ela foi a primeira da
família a escrever em francês. E eu fui
o primeiro a ler música”, diverte-se
SoÆane Pamart. Cresceu a tocar piano
desde a infância. “Devo tudo ao pia-
no”, frisa. Tornou-se a sua ferramen-
ta de expressão mais importante.
“Através do piano consigo comunicar
intimamente e isso é ímpar.”
Do ponto de vista cénico, gosta que
os seus espectáculos contenham
algum aparato luminotécnico, como
num concerto pop-rock, mas esse
efeito não pretende iludir alguma
insuÆciência interpretativa, antes
ajudar a revelar emoções. “Acima de
tudo, desejo que os meus espectácu-
los funcionem como uma viagem por
diferentes estados emocionais. Para
isso acontecer, a música é essencial,
mas também o podem ser a luz e a
experiência total. Acredito que a
música tem essa capacidade de reme-
xer com as emoções de cada um e
quero crer que aquilo que faço pode
permitir a cada um descobrir-se, con-
frontando-se com as suas emoções.
E sei que isso acontece porque, depois
de cada noite, as pessoas vêm ter
comigo e dizem-me que determinado
tema as fez sonhar, ou chorar, outros
contam que se divertiram.”
Em 2019, lançou o álbum Planet,
um sucesso instantâneo. E já em Feve-
reiro deste ano saiu Letter, com a Ásia
a servir-lhe de inspiração. Mais uma
vez, é a ideia de viagem que o seduz.
“É como se estar num local onde nun-
ca estive me permitisse também des-
cobrir coisas que nunca sentira
daquela forma”, reÇecte. “Também
pode acontecer com uma pessoa que
se conheceu, ou com um momento
especíÆco. No caso da Ásia, fui con-
frontado com uma mistura de tradi-
ção e modernidade que nunca intuíra
assim. Nas viagens há imagens, sons,
emoções que me apetece de imediato
reproduzir sonoramente. Há pessoas
que gostam de fotografar esses ins-
Ás vezes sinto que
estou perante
pessoas que nunca
antes tinham
assistido a um
recital de piano,
mas essa é uma
sensação óptima
Sofiane Pamart
Pianista
tantâneos. Eu gosto, sinto urgência,
de os musicar. Agora estou no Porto.
Adoro esta luz. Sinto vontade de a
imortalizar à minha maneira.”
Dos dois lados
Apesar de toda a aprendizagem for-
mal de que beneÆciou, SoÆane
Pamart diz ter com o acto de criar
música uma relação muito Çuida e
espontânea. “Sou incapaz de ir para
estúdio com tudo muito organizado.
Tem de haver espaço para a esponta-
neidade, e tudo depende muito
daquilo que quero expressar.” Acon-
tece-lhe ver-se acusado de ser ligeiro
por quem se move no universo da
música clássica. No campo do hip-
hop ou da pop, onde também se
movimenta, por vezes é apelidado de
austero. Ele ri-se. “São universos dis-
tintos, com as suas regras e os seus
códigos, mas as pessoas são mais
abertas do que tendemos a imaginar.
No hip-hop gostam das harmonias e
das melodias de grandes composito-
res. E o campo da clássica tem a
ganhar com o lado de improviso do
hip-hop. Há coisas a aprender dos
dois lados.”
E continua. “Acredito sinceramen-
te que se Chopin, Schumann ou
Beethoven fossem vivos hoje, esta-
riam a misturar diferentes universos
e a colaborar com artistas do seu tem-
po, porque eram mentes abertas. Se
Mozart fosse vivo, estaria a colaborar
com rappers! A música não tem fron-
teiras. Quando recebo um convite
para colaborar com alguém do hip-
hop, da música electrónica ou do jazz,
não vejo porque não encarar essa
hipótese, como um desaÆo, sem qual-
quer constrangimento. E isso é espe-
cialmente verdade hoje, quando o
acesso à música é tão facilitado. Não
percebo muito bem como é possível
viver fechado num único tipo de
música, apesar de todos termos, cla-
ro, inclinações e géneros dos quais
nos sentimos mais próximos.”
No seu caso, foi nas sessões de rap Sofiane Pamart foi o primeiro da sua família, com raízes em Marrocos, a sa
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DR
que frequentou na juventude que
desenvolveu uma grande paixão
pelo género. “Havia todo um lado
instintivo, orgânico, com a música a
ser usada como forma de encontrar
soluções para o quotidiano, que me
deixava fascinado. Fez-me ver que
não existem limites e que a música
tem essa capacidade de inÇuenciar
e transformar os diferentes cambian-
tes da nossa vida. Tem essa força.
Essa vitalidade.”
Contrariar o elitismo
SoÆane Pamart não está evidente-
mente só. Na última década, muitos
pianistas de formação clássica têm-se
aventurado por idiomas pop, movi-
mentando-se com à-vontade entre
diferentes espaços. É nessa conÇuên-
cia que ele se sente confortável. “O
lugar onde vou tocar nesta quinta-fei-
ra [hoje], em Braga, é muito bonito.
Tem uma aura clássica de que gosto
muito. Será um prazer tocar ali. Mas
ao mesmo tempo gosto de festivais e
de tocar para milhares de pessoas,
como também acontece.”
Na forma como mistura ambientes
da clássica com melodias sentimen-
tais, diz ter sido inspirado por com-
posições de Debussy, Satie ou Ravel.
No álbum Letter, onde tem como úni-
ca convidada a sua irmã violinista,
Lina Pamart, percebem-se os reÇexos
impressionistas e as aguarelas harmó-
nicas. Há duas semanas actuou no
festival Printemps de Bourges, mais
uma prova de que tem conseguido
abrir o universo da clássica a um novo
tipo de público. “É verdade que, às
vezes, na digressão que tenho vindo
a efectuar, sinto que estou perante
pessoas que nunca antes tinham
assistido a um recital de piano, mas
essa é uma sensação óptima”, diz,
acrescentando que, se puder contra-
riar a ideia de que “a música clássica
é elitista ou inacessível, tanto
melhor”. Não espanta que, em
Novembro, se vá transformar no pri-
meiro pianista a actuar na Arena de
Bercy, uma das maiores salas de Paris,
para cerca de 20 mil pessoas.
Nos seus recitais vêem-se casais de
velhotes, grupos de adolescentes e
pais com os respectivos Ælhos. Existe
tanto o silêncio respeitoso quanto o
aplauso efusivo. No Ænal acaba rodea-
do para as fotograÆas e os autógrafos
da praxe. “Só posso sentir-me profun-
damente grato pelo que me tem acon-
tecido nos últimos anos”, confessa.
“Depois desta fase mais turbulenta da
pandemia, estar rodeado de tanta
energia é um bálsamo.”
Quando olha para trás, confessa
sentir-se orgulhoso do seu percurso.
“Podia ter feito como outros amigos
músicos e ter-me tornado intérprete
— um músico clássico. Mas não fazia
sentido limitar-me a interpretar a
música de outros. Há amigos meus
que adoram a teoria, os velhos com-
positores, e interpretá-los. Tudo
bem. Mas não é para mim. Queria
escrever a minha própria história. E
ber ler música estou a fazê-lo.”
O “primeiro voo” de Falcão Nhaga
é a melhor curta a concurso no Indie
Jorge Mourinha
Numa competição que não
está ao nível da selecção de
longas-metragens, o festival
traz ainda assim uma
estreia notável: Mistida
Coloquemos assim a coisa: se a com-
petição nacional de longas-metra-
gens do IndieLisboa atingiu este ano
um equilíbrio raro entre qualidade
e quantidade, essa felicidade não se
estendeu à competição de curtas-
metragens. Onde, esclareça-se, há
bons Ælmes espalhados pelos quatro
programas a concurso, sendo
porém preciso esperar mesmo pelo
Ænzinho (a saber, o último dos 16 a
ser exibido) para encontrar obra
digna de grandíssimo aplauso: Mis-
tida, de Falcão Nhaga (entretanto
seleccionado igualmente para o Fes-
tival de Cannes).
Antes disso, no entanto: é verdade
que a pandemia de covid-19 veio
afectar muito menos a produção de
curtas do que a de longas, mas a
selecção 2022 do Indie não é parti-
cularmente indicativa de qualidade
— alternam-se Ælmes que já vêm de
outros festivais (em alguns casos
com prémios) e estreias que pare-
cem ser mais “vamos contar uma
história porque sim” do que “esta
história tem de ser contada e tenho
de ser eu a contá-la”.
Dos títulos que já passaram por
festivais — encabeçados por Tornar-
se Um Homem na Idade Média, de
Pedro Neves Marques, vencedor da
edição deste ano do Festival de
Roterdão, e que articula com inteli-
gência e assinalável acessibilidade
questões de género e família —, des-
taque-se a pontaria reguila de By
Flávio, de Pedro Cabeleira (título
estreado em Berlim), que foge com
habilidade do aparente beco sem
saída para onde a narrativa o parece
levar. Fale-se também da muito pro-
missora estreia no formato curto da
actriz Ágata de Pinho, Azul (igual-
mente mostrado em Roterdão), Æc-
ção semiautobiográÆca que vive da
energia e da urgência que expressa.
E marque-se ainda a decepção de
Domy + Ailucha: Cenas Kets!, de Ico
Costa (premiado no Cinéma du Réel
deste ano), onde a abordagem do
tipo “testemunho observacional”
habitualmente procurada pelo rea-
lizador esbarra numa peculiar diÆ#
culdade em transformar num Ælme
consistente estes momentos arran-
cados ao quotidiano de dois jovens
de Inhambane.
Quanto às “novidades” reveladas
por este Indie, apontem-se alguns
títulos que, apesar dos desequilí-
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 29
brios, manifestam personalidade.
Um Caroço de Abacate, de Ary Zara,
é um elegante encontro de sexuali-
dades, desejos e receios na noite
lisboeta, cuja impecável apresenta-
ção e interpretação (a cargo de Gaya
de Medeiros e Ivo Canelas) mascara
as fragilidades de uma narrativa
simultaneamente previsível e insu-
Æcientemente substancial. Mafalda
Salgueiro traz um encantador docu-
mentário em animação, Comezai-
nas, sobre os dotes culinários da
mãe; os seus graÆsmos simples e
coloridos e a sua leveza caseirinha
compensam o aspecto demasiado
televisivo da estrutura e a sobrecar-
ga sonora da ilustração musical de
Filipe Raposo, que ganharia em ser
menos omnipresente. Francisco
Valente apresenta a sua mais inte-
ressante curta, Presente, exercício
táctil e elíptico de distensão do tem-
po, e Inês Luís propõe com Antes de
Mim, o Fim um trabalho de found
footage construído a partir de vídeos
caseiros dos pais.
Mães e Älhos
Mas há, de facto, uma curta a reter
deste Indie, tanto mais signiÆcativa
quanto se trata de um “Ælme de
escola” que arvora uma segurança
e uma maturidade raras neste tipo
de trabalhos. Com Mistida, Falcão
Nhaga desenha uma conversa entre
mãe e Ælho que vai começar por cha-
Mistida arvora
uma segurança
e uma maturidade
raras, exibindo
uma naturalidade
que não denuncia
a juventude do seu
estreante autor
Welket Bungué e Bia Gomes são perfeitos nesta dupla mãe-filho
Cultura
mar a atenção pelos motivos erra-
dos, agarrada aos tópicos da diáspo-
ra africana em Portugal, discussão
de relevância sociopolítica nos nos-
sos dias. Dir-se-á, inevitavelmente,
que é um raro momento de repre-
sentatividade de uma comunidade
periférica no cinema português.
Tudo isso pode bem ser verdade,
mas o que interessa em Mistida é
que há aqui cinema, isto é, algo que
não pertence a uma cor de pele, a
uma classe social, a uma origem;
algo que fala a todos de maneira
igual, porque as mães (todas as
mães) acham que sabem sempre
mais do que os Ælhos, e os Ælhos
(todos os Ælhos) acham que as mães
nunca percebem o que eles vivem,
e os tempos mudam.
Mistida é uma história de todos,
para todos, onde os silêncios falam
mais alto do que os diálogos, com
Bia Gomes e Welket Bungué perfei-
tos e uma naturalidade e simplicida-
de formais que não denunciam a
juventude do seu autor — em
nenhum momento diríamos estar
aqui uma primeira obra, é Ælme a
pairar muito alto sobre a restante
competição de curtas do Indie. Que
Falcão Nhaga seja capaz de partir
desta curta para fazer mais e melhor
é o que lhe desejamos.
Todas as sessões da Competição
Nacional de Curtas decorrem no
Cinema São Jorge. Tornar-se Um
Homem na Idade Média faz parte do
programa de curtas 1, que tem a sua
segunda exibição amanhã, às 21h45.
Azul, Um Caroço de Abacate e
Domy+Ailucha: Cenas Kets! fazem
parte do programa 2, que passa no
sábado, às 16h45. Antes de mim, o
Fim, Comezainas e By Flávio estão
no programa 3, a exibir no domingo,
às 21h30. Presente e Mistida com-
põem o programa 4, que tem ses-
sões esta tarde, às 19h, e de novo no
domingo, às 16h45.
DR
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30 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Cultura
Entre a aparição
e o desaparecimento, as danças
espectrais de Joana Castro
Crítica de Dança
Darktraces: on ghosts
and spectral dances
mmmmn
De Joana Castro. Porto. Auditório
do Museu de Serralves/Festival
DDD — Dias da Dança. 30/04, às 17h.
Sala a 3/4.
Facto curioso, se esta edição do Fes-
tival DDD — Dias da Dança abriu nego-
ciando a vida e a morte em palco, ao
resgatar a memória de Pantera atra-
vés do legado espectral da sua músi-
ca, no Æm-de-semana de encerra-
mento, como que em Æm de ciclo, o
festival acolheu em estreia absoluta
a magnética obra Darktraces: on
ghosts and spectral dances, de Joana
Castro, que mergulhou o auditório do
Museu de Serralves num misterioso
manto de penumbra e escuridão, de
onde fez surgir, por entre espanto e
assombro, traços espectrais de cor-
pos e suas memórias, num meticulo-
so desenho coreográÆco de luz e
sombra, entre a existência e o seu
desaparecimento.
Num primeiro momento, do
blackout total surge uma Ægura, o bai-
larino André Mendes, vestido de pre-
to, que pontua o quadrado branco do
palco. Um meticuloso jogo de focos
de luz desce sobre a Ægura, desmulti-
plicando-lhe a sombra em todas as
direcções. Enraizado no solo, inerte,
com pés em terceira posição balética,
as suas mãos cobrem-lhe a face e,
com uma precisão cirúrgica, quase
geométrica, esses membros superio-
res desenham a vários ritmos movi-
mentos coreográÆcos belíssimos,
fractais, que deixam o tempo em sus-
penso.
Se a penumbra recorta o visível e
o invisível do corpo num jogo de ilu-
sões que evoca a sua fantasmagoria,
do mesmo modo se reitera a espec-
tralidade que atravessa toda esta
obra no aparecimento e no desapa-
recimento das Æguras em palco.
Eclipsando-se André Mendes, outra
Ægura surge, outro espectro, outra
singularidade que acumula memó-
rias, desejos e fantasmas, a bailarina
Maurícia Neves. Numa outra posição
balética inicial, vestida de preto num
veludo que lhe dá tonalidades bar-
rocas, desenha no espaço novos
espectros de dança, não com o rigor
e a precisão do anterior... mas cer-
tamente incorporando outras
memórias passadas que, incrustadas
no corpo, lhe conferem maior Çui-
dez de movimento. O som no espaço
Os intérpretes compõem espectros e presenças que se dissipam
é também fractal... dissipado... dis-
perso, ouvem-se sussurros num sis-
tema surround, vozes que parecem
surgir e ecoar de diferentes pontos
da plateia. Com os sentidos em aler-
ta, os olhos Ætam aqueles corpos
minuciosos que, em determinados
momentos se encontram, confun-
dindo-se as partes visíveis na invisi-
bilidade do todo, desmultiplicando-
se, desconstruindo-se.
Seguem-se quadros coreográÆcos
semelhantes, muito embora cada um
exista na singularidade de cada cor-
po: os movimentos expressivos e
enigmáticos da bailarina Ana Rita
Xavier, que quase evocam o universo
do mimo, do cinema mudo, e da dan-
ça expressionista que reconhecemos
da obra paradigmática da coreógrafa
Tânia Carvalho; e a bailarina Thamiris
Carvalho, que dá seguimento a este
mote coreográÆco com a sua singula-
ridade, entre a abstracção e o expres-
sionismo. A composição coreográÆca
estrutura-se através destes momentos
de aparição e desaparecimento, em
que alguns performers coexistem, ora
surgindo e pontuando abstractamen-
te o palco, ora deambulando simula-
cros de presença que se dissipam
logo a seguir.
Singular e
magnética, a peça
de Joana Castro
produz imagens
fulgurantes,
reiterando
a consistência
do seu percurso
ANDRÉ DELHAYE
Com imagens fulgurantes que nos
capturam, esta peça ganharia a coe-
são perfeita se reduzisse um pouco a
sua duração, e se depurasse alguns
dos momentos coreográÆcos que
propõe na segunda metade, de forma
a manter o deslumbramento inicial.
Por outro lado, o modo como termi-
na, ainda que concorrendo para o
tom enigmático que propõe, carece
de clareza no desenho de luz para ser
verdadeiramente eÆcaz. Os corpos
dos performers estão em palco, quais
massas amorfas em movimentos
embrionários, como se a morte e a
espectralidade da escuridão anterior
acendessem uma potência transfor-
madora de outros corpos por vir.
Contudo, embora se perceba o inte-
resse de manter o Ænal em aberto —
como a própria existência que se vai
fazendo e refazendo a partir dos seus
espectros em direcção a permanen-
tes transformações —, esse objectivo
seria mais eÆcaz se a luz na cena se
dissipasse mais, ou por completo.
Estes detalhes não condicionam
porém a singularidade e o magnetis-
mo deste projecto coreográÆco, que
vem reiterar a consistência do per-
curso de Joana Castro, pontuado tam-
bém pelo seu solo RITE OF DECAY,
uma cativante e misteriosa dança de
assombrações que, tendo estreado
em 2020 no GUIdance, teremos opor-
tunidade ver no Ænal deste mês de
Maio no Teatro Municipal do Porto.
Entre a aparição e o desapareci-
mento, estas danças espectrais de
Joana Castro recordam-nos como a
vida existe sempre numa transição
em contínuo, entre corpos, tempos e
espaços, com um início indeÆnido e,
porventura, sem um Æm. Alexandra
Balona
Trazendo um dos discos mais
surpreendentes do ano,
os caroline chegam a Portugal
Mário Lopes
Neste octeto britânico
fundem-se folk, noise,
minimalismo e explosões
pós-rock. Estão hoje
na Zé dos Bois, em Lisboa
Vivemos tempos excitantes, com
novas formas que emergem, sons que
canalizam uma qualquer verdade.
Vivemos tempos inquietantes, com
mil perigos à solta e desejos de
mudança eivados de frustração.
Quando os caroline perguntam, entre
o grito e a dúvida, “can I be happy in
this world?”, quando dizem que o
mundo terá de mudar, porque não
lhes serve, quando o fazem nesta
música em que raízes folk se expan-
dem até locais inimagináveis, explo-
dindo em arrebatamentos free (jazz,
rock, o que quer que lhe queiram cha-
mar), estão a mostrar-nos exactamen-
te o que tem de entusiasmante e de
inquietante o agora que vivemos.
Octeto alinhado na fornada britâ-
nica em que convivem o pós-punk
reconstruído dos black midi e o rock
exclamativo dos Black Country, New
Road, os caroline vêm-se destacando
pela liberdade do gesto e pela abran-
gência criativa com que deÆniram
uma linguagem. Seguidos de forma
cada vez mais entusiasmada no Reino
Unido, editaram em Fevereiro o seu
primeiro álbum, homónimo, uma das
revelações do ano discográÆco, e
apresentam-se hoje às 22h na Galeria
Zé dos Bois, em Lisboa. Será a estreia
portuguesa (bilhetes a 8€).
Tal como a sua música, feita de len-
tos crescendos, por vezes encaminha-
dos para explosões incendiárias,
outras vezes ascendendo sem nunca
atingir o auge, os caroline construí-
ram-se músico a músico, instrumento
a instrumento. No início eram três, o
baterista, vocalista e violoncelista
Fundados por três músicos, os caroline são entidade em expansão
Jasper Llewellyn, o guitarrista Mike
O’Malley e o guitarrista e vocalista
Casper Hughes. Entre eles, um passa-
do comum de bandas pós-punk e um
percurso que incluía viagens pela
Europa a tocar folk norte-americana.
Está aí a raiz dos caroline: há nas suas
canções uma fundação folk, tal como
há o desejo de a desconstruir, redu-
zindo-a a um acorde que se prolonga
em bordão minimalista ou retalhan-
do-a para erigir novas construções.
Os relatos dos seus concertos dão
conta de actuações de uma ressonân-
cia emocional arrebatadora, em que
se privilegiam a informalidade e a
proximidade. É habitual disporem-se
num círculo com o público à sua vol-
ta. Quando possível, dispensam
ampliÆcação e trabalham o silêncio
como arma imersiva. Ao longo do
álbum podem ouvir-se baterias, gui-
tarras e baixos, violinos, violoncelo,
clarinete, saxofone e vários tipos de
percussão, mas nunca somos assalta-
dos por uma massa sonora avassala-
dora ou por intrincadas orquestra-
ções. É música de natureza mais
subtil, sanguínea, como que o som do
movimento natural dos músicos.
Foi o entusiasmo pela partilha e
pela descoberta musical que levou a
que, um a um, novos músicos se fos-
sem juntando ao colectivo. Normal-
mente, como no caso da violinista
Magdalena MacLean, chegavam para
cumprir uma função especíÆca — no
caso dela, suprir a falta num concerto
de outro violinista, Oliver Hamilton.
Integrados na comunidade e depois
de contribuírem para a galáxia sono-
ra caroline, não mais abandonavam
a formação. São hoje oito mas, como
confessava Mike O’Malley à Stereo-
gum, nunca sentiram que isto a que
deram o nome de caroline “fosse uma
entidade completa ou incompleta”.
Realidade orgânica, respira e vive.
Tem sido tão surpreendente quanto
entusiasmante vê-la crescer.
DR
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Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 31

Conferência Europeia Ciência e Ambiente

A idade do nosso cérebro também conta

na prevenção e recuperação do AVC
A partir de ressonâncias magnéticas podemos obter a idade do nosso cérebro. Um estudo apresentado
ontem revela que o envelhecimento cerebral pode ajudar na prevenção e no prognóstico destes casos
RUI GAUDÊNCIO

Tiago Ramalho
A nossa data de nascimento não é a
única que importa na prevenção de
um acidente vascular cerebral (AVC)
— a principal causa de morte em
Portugal. O envelhecimento mais
acelerado do nosso cérebro também
tem um peso importante nestas
contas, podendo ser um sinal
importante para aumentar a vigilân-
cia dos mais susceptíveis e para nos
dar melhores previsões sobre a
recuperação pós-AVC. Esta é a prin-
cipal conclusão de um estudo apre-
sentado ontem na Conferência
Europeia sobre AVC, que decorre
em França.
“A saúde cardiovascular e a saúde
cerebral estão intimamente ligadas.
VeriÆcámos que os pacientes com
mais riscos de sofrer um AVC têm
um cérebro que parece mais velho
do que os outros. Além disso,
pacientes com um cérebro mais
velho têm menor probabilidade de
terem uma melhor recuperação
após o AVC”, aponta ao PÚBLICO
Martin Bretzner, investigador da
Universidade de Harvard (Estados
Unidos).
O estudo liderado pelo neurorra-
diologista norte-americano analisou
mais de quatro mil pacientes com
AVC isquémico na Europa e nos
Estados Unidos. Os dados mostram
que os pacientes com cérebro mais
envelhecido apresentam os factores
de risco mais comuns para a doen-
ça. A idade cerebral avançada
aumenta também a probabilidade
de sofrer de hipertensão, diabetes Em todo o mundo, estima-se que uma em cada seis pessoas terá um AVC, e esta é a principal causa de morte em Portugal
mellitus ou de ter um historial de
fumador ou de outro AVC anterior. ça. “Cada indivíduo envelhece ao que é um ‘peso leve’ e pode ser facil- na recuperação do AVC. “Os pacien- ces e dos AVC podem ser preveni-
Este trabalho mostra também que seu ritmo, uns mais rápidos do que mente traduzida e implementada na tes com uma trajectória de envelhe- dos, refere o investigador.
os pacientes com cérebro mais outros. E este aspecto é particular- clínica. Todo o trabalho de análise cimento cerebral mais acentuado Esta doença resulta da morte ou
velho têm pior prognóstico. mente relevante em doenças que das imagens de ressonâncias mag- do que o esperado podem ser iden- lesão das células cerebrais devido à
O acidente vascular cerebral é a são mais frequentes e mais severas néticas pode ser feito num compu- tiÆcados e acompanhados desde a ausência de oxigénio e nutrientes,
principal causa de morte em Portu- em pessoas mais velhas, como é o tador portátil, sem necessidade de prevenção à selecção como poten- na sequência de um bloqueio do
gal. Em todo o mundo, estima-se caso do AVC”, diz Bretzner. grandes investimentos ou infra-es- ciais candidatos a medicamentos Çuxo sanguíneo (AVC isquémico) ou
que uma em cada seis pessoas terá truturas”, explica o primeiro autor personalizados”, alerta. pelo rompimento de uma artéria
um AVC — e a cada seis segundos O que é a radiómica? do estudo. “O AVC é uma doença devastado- que provoca um Çuxo maior de san-
esta doença é responsável pela mor- Esta equipa de investigadores che- Bretzner acrescenta ainda a faci- ra e que deve ser combatida em gue (AVC hemorrágico). Os isquémi-
te de alguém. gou até estes resultados através da lidade de comunicação e visualiza- todas as frentes, desde a prevenção cos correspondem a quatro em cada
A importância da idade biológica radiómica. O que é? Um método ção que este método pode oferecer: à selecção de pacientes, sistema de cinco AVC.
na prevenção e no prognóstico do recente que, através de algoritmos, “Isto pode ser benéÆco pela simpli- saúde, tratamento e literacia”, refe- Por ano, 15 milhões sofrem um
AVC não parou de ser relevante. No explora os dados neurológicos em cidade com que é compreendido re Bretzner. “Temos tido nos últi- AVC e, desses, seis milhões não
entanto, estimar a idade cerebral de imagens médicas obtidas através de por pacientes e por médicos — pois mos anos alguns avanços e métodos sobrevivem. De acordo com a Socie-
uma pessoa oferece um conheci- ressonâncias magnéticas. Isto per- todos entendem de forma instintiva de tratamento mais eÆcazes. Mas o dade Portuguesa do Acidente Vas-
mento adicional sobre a resiliência mite aos médicos especialistas com- que um cérebro que parece mais melhor prognóstico de AVC é quan- cular Cerebral, Portugal é, na Euro-
do nosso cérebro ao tempo e aos preender padrões, analisar a saúde velho do que devia não é bom.” do não existe um AVC. A prevenção pa Ocidental, o país com a mais
factores de risco cardiovasculares cerebral e estimar a idade do cére- O estudo desenvolvido pela equi- é uma alavanca accionável que deve elevada taxa de mortalidade, sobre-
— permitindo também perceber bro. pa de Bretzner espera alertar para ter toda a nossa atenção.” Cerca de tudo na população com menos de
quão bem recuperaremos da doen- “A radiómica é uma tecnologia o impacto que a saúde cerebral tem 80% das doenças coronárias preco- 65 anos.
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32 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Guia
ímpar
publico.pt/impar
Georges Dambier levou a alta-costura para as
ruas de Paris, agora pode ser visto em Lisboa
Até 30 de Outubro, está patente a mostra com o trabalho do fotógrafo francês que contribuiu para “a visão
de uma mulher emancipada”. Este é um projecto curatorial e editorial da historiadora Anabela Becho
Inês Duarte de Freitas Texto
Daniel Rocha Fotografia
Uma das mais conhecidas modelos
francesas de todos os tempos, Betti-
na Graziani, com um fato Givenchy,
caminha com passo apressado por
Paris. A imagem icónica foi captada
por Georges Dambier e publicada,
em 1953, na revista Elle e é uma das
39 fotograÆas do francês que pode
ser vista a partir de amanhã no
Museu Nacional do Traje, em Lisboa,
até 30 de Outubro. Viver a Sua Vida,
Georges Dambier e a Moda é um pro-
jecto curatorial e editorial da histo-
riadora Anabela Becho, que o des-
creve como “um trabalho sobre o
tempo e a memória da história da
moda”.
Integrada na Temporada Cruzada
Portugal-França 2022, a exposição é
uma homenagem ao fotógrafo que
Anabela Becho considera ter sido pio-
neiro na forma como se retrata a
moda, particularmente a alta-costura.
Nascido em 1925, Georges Dambier
chega à fotograÆa na década de 1940.
Estuda lado a lado com o conhecido
pintor e ilustrador Paul Colin, antes
de começar a fotografar nos cabarets
parisienses e a vender essas imagens
à revista France Dimanche.
É precisamente através dessa revis-
ta que o jovem fotógrafo conhece
Hélène Lazareè, fundadora da Elle,
com a qual passa a colaborar em 1952.
“Ele vinha da fotorreportagem e, por-
tanto, traz essa espontaneidade para
a Elle”, contextualiza Anabela Becho
ao PÚBLICO. Então, a revista era con-
siderada “progressista”, “muito femi-
nista” e destinada a “veicular a ideia
de uma mulher em movimento”.
Esses ideais espelham-se nas pri-
meiras imagens de Dambier para a
Elle, garante a historiadora de moda,
que caracteriza o fotógrafo como
alguém “muito descontraído” e
“bem-humorado”. A sua personalida-
de terá sido fundamental para gran-
jear a conÆança das modelos, huma-
nizando-as através da lente. “Contri-
buiu para a visão de uma mulher
emancipada. E a exposição põe [nis-
so] muita ênfase”, salienta.
Essa é facilmente conÆrmada na
sala onde estão dispostas 35 fotogra-
Anabela Becho (em baixo) partiu do trabalho do fotógrafo para reflectir sobre a humanização da moda
Æas de mulheres, retratadas nas ruas
— incluindo nomes sonantes da moda
e do cinema, como Brigitte Bardot,
Capucine e Marie-Hélène Arnaud.
“Georges Dambier foi dos primeiros
a levar as manequins de alta-costura
para as ruas”, recorda a historiadora.
Este sair do estúdio era também uma
forma de humanizar a própria alta-
Agora é a vez de Amber Heard, mas para os fãs, Depp já ganhou
Depois de duas semanas centradas na apresentação do caso
pela equipa de Johnny Depp, o tribunal começou, ontem, a ouvir
a versão de Amber Heard. Contudo, o clima de ódio junto
ao tribunal e online contra a actriz mostra que, para os fãs
de Depp, o actor já ganhou, pelo menos na popularidade.
costura, que nesta década — conheci-
da por L’Age d’Or (“A idade do ouro”,
em tradução livre) — vivia o esplendor
do pós-guerra.
A nova alta-costura
É Christian Dior, em 1947, com o New
Look a inaugurar essa era, mas a
revolução deve-se sobretudo, na opi-
nião de Anabela Becho, a criadores
como Hubert de Givenchy, “com
vontade de mudar esse paradigma
de mulher hiperfeminizada”. Não é
por acaso que a primeira colecção
fotografada por Georges Dambier é
da Givenchy. “Aqui a alta-costura é
colocada em movimento. O Given-
chy a criar o vestuário, o Dambier a
fotografá-lo e Hélène Lazareè a divul-
gar contribuíram para promover este
novo entendimento que existia da
alta-costura”, resume.
Mas este sector não foi importante
apenas a nível criativo, mas também
económico, permitindo uma “recu-
peração económica do país”, lembra
a curadora. “No Ænal da década de
1940, a alta-costura era uma das
indústrias mais poderosas de Fran-
ça.” Esse poder devia-se à ligação à
indústria têxtil, uma vez que, então,
a alta-costura estava “intimamente
relacionada com a materialidade da
moda” — visível até nas legendas das
fotograÆas que descrevem sempre os
materiais de que são feitas as peças.
Ainda que mais humanizada, esta
alta-costura continuava a ter por
ideal ser um objecto de desejo e a
fotograÆa assumia um papel fulcral
nessa missão. “Apesar de partir de
ditames comerciais, ao longo do
século XX, a fotograÆa de moda foi
ganhando alguma autonomia artís-
tica”, observa a historiadora. Muito
além do simples acto de registar os
modelos em estúdio para os arquivos
das casas de moda, as fotograÆas
eram o primeiro contacto do possí-
vel cliente com as peças e o aspirar a
um estilo de vida, “criando uma
dimensão de sonho”.
Anabela Becho, a desenvolver este
trabalho desde 2019 em colaboração
com os arquivos de Georges Dambier,
incluiu todas as legendas originais em
cada imagem da exposição e procu-
rou ir mais além, recorrendo aos
desenhos originais dos coordenados
fotografados e até a comunicados de
imprensa dessas colecções — porme-
nores que podem ser encontrados no
catálogo da exposição, que conta ain-
da com textos de diversos autores
sobre Dambier, a Elle e a alta-costura
dos anos 1950.
Dambier em Portugal
Georges Dambier também se distin-
gue por levar a moda a viajar, num
conceito que apelida de “fotógrafo-
turista”. Em Novembro de 1957, vem
a Portugal fotografar o catálogo da
Tricosa. Nas ruas pitorescas da Naza-
ré e de Óbidos, a diferença de postura
entre as modelos e as mulheres por-
tuguesas é Çagrante — de recordar
que o país vivia ainda em ditadura.
Portugal também não era ainda um
país de moda. Por cá, os ateliers de
alta-costura limitavam-se a reprodu-
zir os modelos cujas licenças tinham
comprado em França. “Paris conti-
nuava a ditar a moda. Apesar de já
termos a tradição de produzir bem”,
recorda Anabela Becho. É com esta
série de fotograÆas que termina a sala
principal da exposição, que continua,
de forma discreta, no edifício princi-
pal do Museu do Traje, com quatro
retratos — onde se destacam as ima-
gens da fotógrafa Suzie Parker capta-
das por Dambier — e alguns objectos
enquadrados entre o vestuário do
século XVIII.
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Cinema
Porto
Cinema Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
Rei Édipo 16h, 22h; Passarinhos e
Passarões M12. 20h30; A Pior Pessoa do
Mundo M14. 21h45; A Chiara M12. 16h30;
No Táxi do Jack 19h; Colmeia M12. 14h20,
20h; Azor - Nem Uma Palavra 14h30, 18h;
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
Monstros Fantásticos 13h50, 17h20,
20h40; Sonic 2: O Filme M6. 14h20, 17h30
(V.Port./2D); A Cidade Perdida M12. 13h30,
16h20, 19h10, 21h50; Os Mauzões M6.
14h40, 17h55, 21h15 (V.Port./2D); O Homem
do Norte 14h, 17h10, 20h20; O Peso
Insuportável de Um Enorme Talento M12.
21h; Notre-Dame em Chamas M14. 20h30;
À Procura de Anne Frank M6. 20h50; As
Aventuras de Gulliver M6. 13h20, 15h50,
18h20 (V.Port./2D); Doutor Estranho no
Multiverso da Loucura 14h40, 17h55, 21h15
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
O Rei do Riso M12. 18h, 21h30
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
Rei Édipo 20h; Perigoso M14. 13h10, 15h30,
17h40, 22h50; Morbius M12. 22h, 00h30;
Uncharted M12. 20h40, 23h20; Monstros
Fantásticos: Os Segredos de
Dumbledore M12. 13h50, 17h20, 20h50,
00h10; Sonic 2: O Filme M6. 13h25, 16h10,
19h10 (V.Port./2D); A Cidade Perdida M12.
15h, 18h, 21h20, 00h15; Os Mauzões M6.
13h20, 15h50, 18h20 (V.Port./2D); O Homem
do Norte 14h30, 17h50, 21h10, 00h20;
Notre-Dame em Chamas M14. 21h30,
00h25; As Aventuras de Gulliver M6. 14h10,
16h40, 19h (V.Port./2D); Doutor Estranho no
Multiverso da Loucura 13h30, 17h, 20h30,
23h30; Doutor Estranho no Multiverso da
Loucura 14h, 17h30, 21h, 00h05
Cineplace - Braga
C. C. Nova Arcada, Av. De Lamas nº 100.
Perigoso M14. 21h50; Morbius M12. 16h25;
The Batman M14. 21h05; Monstros
Fantásticos M12. 15h30, 18h20, 21h25;
Sonic 2: O Filme M6. 16h05, 18h30
(V.Port./2D); A Cidade Perdida M12. 17h,
19h20, 21h40; Os Mauzões M6. 16h20,
18h35 (V.Port./2D); O Homem do Norte 21h;
O Peso Insuportável de Um Enorme
Talento M12. 18h45; O Sétimo Dia M16. 22h;
Notre-Dame em Chamas M14. 21h15;
O Arco Mágico M6. 15h50, 17h50, 20h
(V.Port./2D); À Procura de Anne Frank M6.
15h15, 17h30; Colmeia M12. 19h45, 21h45;
As Aventuras de Gulliver M6. 15h40, 17h40
(V.Port./2D); Doutor Estranho no Multiverso
da Loucura M12. 15h20, 15h50, 16h, 16h10,
18h, 18h30, 18h40, 18h50, 20h50, 21h10,
21h20, 21h30; Fortaleza M14. 19h40
Coimbra
Casa do Cinema de Coimbra
Av. Sá da Bandeira 33.
Nitram M14. 15h A Flor 18h (7.ª parte);
O Peso Insuportável de Um Enorme
Talento M12. 21h30;
Cinemas Nos Alma Shopping
Alma Shopping. T. 16996
Rei Édipo 20h; Salgueiro Maia 19h05,
21h45; Encanto M6. 13h40, 16h20
(V.Port./2D); Km 224 M12. 21h40;
Morbius M12. 21h55; Uncharted M12.
14h40; Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo M14. 21h50; Monstros Fantásticos:
Os Segredos de Dumbledore M12. 14h10,
17h30, 21h30; Sonic 2: O Filme M6. 13h20,
16h10, 19h (V.Port./2D); Os Mauzões M6.
13h55, 16h30, 19h10 (V.Port./2D);
Notre-Dame em Chamas M14. 14h, 16h40,
Estreias
Colmeia
De Blerta Basholli. Com Yllka
Gashi, Çun Lajçi, Aurita Agushi,
Kumrije Hoxha. Macedónia/
Kosovo/SUI/Albânia. 2021.
84m. Drama. M12.
O marido de Fahrije partiu para a
guerra do Kosovo sem nunca
mais dar notícias. Para
sobreviver, ela decide começar
um negócio de produção de
“ajvar”. Mas o seu espírito de
iniciativa vai colidir com a
mentalidade machista da
comunidade onde vive.
O Rei do Riso
De Mario Martone. Com Toni
Servillo, Maria Nazionale,
Cristiana Dell’Anna. ITA/ESP.
2021. 133m. Drama, Biografia.
M12.
Um Ælme biográÆco sobre
Eduardo Scarpetta (1853-1925),
um dos mais carismáticos actores
e encenadores italianos dos Ænais
do século XIX e princípios do XX.
Doutor Estranho no Multiverso
da Loucura
De Sam Raimi. Com Benedict
Cumberbatch, Rachel
McAdams, Elizabeth Olsen,
Patrick Stewart. EUA. 2022.
126m. Acção, Aventura. M12.
Acção e aventura na adaptação ao
grande ecrã de uma das mais
enigmáticas personagens da
Marvel, criada, em 1963, por
Steve Ditko.
À Procura de Anne Frank
De Ari Folman. Com Ruby
Stokes (Voz), Emily Carey (Voz),
Michael Maloney (Voz),
Sebastian Croft (Voz), Skye
Bennett (Voz). BEL/LUX/ISR/
HOL/FRA. 2021. 99m.
Animação. M6.
Neste Ælme de animação,
assinado por Ari Folman, somos
apresentados a Kitty, a amiga
imaginária a quem Anne Frank se
dirigiu ao escrever no diário que a
tornou célebre.
As Aventuras de Gulliver
De Ilya Maksimov. Com Tyler
Bunch (Voz), Wayne Grayson
(Voz), Alyson Leigh Rosenfeld
(Voz). Chipre/Ucrânia. 2021.
90m. Animação, Aventura. M6.
Um Ælme de animação inspirado
nas personagens d’’“As Viagens
de Gulliver”, o romance satírico
do escritor irlandês Jonathan
Swift (1667-1745).
Rei Édipo
De Pier Paolo Pasolini. Com
Alida Valli, Franco Citti, Silvana
Mangano. ITA. 1967. 110m.
Drama. M12.
Tempos e espaços diversos,
materiais colhidos em diversos
sectores da cultura: eis os
ingredientes utilizados por
Pasolini para esta fascinante
interpretação mitológica.
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 33
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
19h20, 22h; À Procura de Anne Frank M6.
14h25, 17h, 19h30, 22h20; Colmeia M12. 15h,
17h20, 19h40, 22h10; As Aventuras de
Gulliver M6. 14h20, 16h50, 19h15
(V.Port./2D); Doutor Estranho no Multiverso
da Loucura M12. 13h50, 17h10, 21h10
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra. T. 16996
Perigoso M14. 22h20; Monstros
Fantásticos M12. 13h50, 17h10, 21h10;
Sonic 2: O Filme M6. 13h40, 16h40, 19h30
(V.Port./2D); A Cidade Perdida M12. 14h,
16h45, 19h20, 22h; Os Mauzões M6. 13h20,
16h, 18h40 (V.Port./2D); O Homem do
Norte 14h10, 18h, 21h30; O Sétimo Dia M16.
21h20; Doutor Estranho no Multiverso da
Loucura M12. 14h20, 17h40, 21h40
Figueira da Foz
Cinemas Nos Foz Plaza
C. C. Foz Plaza, R. Condados. T. 16996
Morbius M12. 21h45; Monstros Fantásticos:
Os Segredos de Dumbledore M12. 14h,
17h30, 20h45; A Cidade Perdida M12.
15h30, 18h30, 21h30; Os Mauzões M6.
14h45, 17h45 (V.Port./2D); O Homem do
Norte 21h; As Aventuras de Gulliver M6.
14h15, 16h30, 19h (V.Port./2D); Doutor
Estranho no Multiverso da Loucura M12.
15h, 18h10, 21h15
Gondomar
Cinemas Nos Parque Nascente
Praceta Parque Nascente, nº 35. T. 16996
Encanto M6. 14h20, 17h (V.Port./2D);
Perigoso M14. 14h20, 17h, 19h30, 21h;
Km 224 M12. 14h10; Morbius M12. 16h10,
19h40, 22h; Uncharted M12. 15h30, 18h,
20h40; Monstros Fantásticos M12. 15h20,
18h30, 21h40; Sonic 2: O Filme M6. 13h10,
15h50, 18h50 (V.Port./2D), 21h (V.Orig./2D);
A Cidade Perdida M12. 13h, 15h40, 18h40,
21h30, 22h20; Os Mauzões M6. 14h, 16h30,
18h50 (V.Port./2D); O Homem do
Norte 15h10, 18h10, 21h10; O Peso
Insuportável de Um Enorme Talento M12.
17h20, 20h, 22h30; O Sétimo Dia M16.
21h45; Notre-Dame em Chamas M14.
14h30, 17h10, 19h40, 22h10; As Aventuras
de Gulliver 13h30, 16h, 18h20 (V.Port./2D);
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
13h, 15h40, 18h40, 21h30, 22h20
Guimarães
Castello Lopes - Espaço Guimarães
25 de Abril, Silvares. T. 253539390
Monstros Fantásticos: Os Segredos de
Dumbledore M12. 15h20, 18h15, 21h10;
Sonic 2: O Filme M6. 13h20, 15h50
(V.Port./2D); A Cidade Perdida M12. 14h30,
16h50, 19h10, 21h30; Os Mauzões M6.
18h25 (V.Port./2D); O Homem do
Norte 21h10; Colmeia M12. 13h25; Doutor
Estranho no Multiverso da Loucura 13h40,
15h, 16h15, 17h35, 18h50, 20h10, 21h25
Castello Lopes - Guimarães Shopping
Lugar das Lameiras. T. 253520170
Encanto M6. 14h30, 16h50, 19h10, 21h30;
O Casarão M12. 13h20, 21h30; Monstros
Fantásticos: Os Segredos de
Dumbledore M12. 15h20, 18h15, 21h10;
Sonic 2: O Filme M6. 15h, 17h35 (V.Port./2D);
O Homem do Norte 13h10, 15h50, 18h30,
21h10; Doutor Estranho no Multiverso da
Loucura M12. 13h40, 15h, 16h15, 17h35,
18h50, 20h10, 21h25
Maia
Cinemas Nos MaiaShopping
C.C. Maiashoping, Lj 2.43. T. 16996
Morbius M12. 22h; Monstros Fantásticos:
Os Segredos de Dumbledore M12. 21h;
Sonic 2: O Filme M6. 13h30, 16h20, 19h10
(V.Port./2D); A Cidade Perdida M12. 13h20,
16h10, 19h, 21h50; Os Mauzões M6. 13h40,
Guia
16h40 (V.Port./2D); O Homem do
Norte 21h10; As Aventuras de Gulliver
M6. 13h50, 16h30, 19h20 (V.Port./2D);
Doutor Estranho no Multiverso da
Loucura M12. 14h, 17h10, 21h20
Orient Cineplace - Mira Maia
Mira Maia Shopping, Estrada Real nº 95
Lugar das Guardeiras. T. 229419241
Perigoso M14. 19h; Monstros Fantásticos:
Os Segredos de Dumbledore M12. 21h10;
Sonic 2: O Filme M6. 16h40 (V.Port./2D);
Os Mauzões M6. 16h (V.Port./2D);
Notre-Dame em Chamas M14. 21h20;
O Arco Mágico 15h10, 17h05 (V.Port./2D);
As Aventuras de Gulliver M6. 19h10
(V.Port.); Dominique Grange, Uma Cantora
de Protesto 16h10, 18h20, 18h50, 21h, 21h30
Paços de Ferreira
Cinemas Nos Ferrara Plaza
Ferrara Plaza, Rua da Carvalhosa. T. 16996
Perigoso M14. 21h50; Morbius M12.
21h40; Monstros Fantásticos: Os Segredos
de Dumbledore M12. 21h10; Sonic 2:
O Filme M6. 14h20, 17h30 (V.Port./2D);
A Cidade Perdida M12. 13h30, 16h10,
18h50, 21h30; Os Mauzões M6. 13h20,
15h50, 18h20 (V.Port./2D); As Aventuras
de Gulliver M6. 13h40, 16h20, 18h40
(V.Port./2D); Doutor Estranho no Multiverso
da Loucura M12. 14h, 17h, 21h20
cura M12. 16h10, 18h20, 18h50, 21h, 21h30
Vila Nova de Famalicão
Casa das Artes
Parque de Sinçães. T. 252371297
O Acontecimento M16. 21h45
Vila Nova de Gaia
Cinemas Nos GaiaShopping
C.C. Gaiashoping, Lj 2.25. T. 16996
Perigoso M14. 21h; Morbius M12. 13h50,
16h30, 19h10, 21h50; Monstros Fantásticos:
Os Segredos de Dumbledore M12. 13h10,
17h, 20h30; Sonic 2: O Filme M6. 13h40,
17h10 (V.Port./2D), 21h20 (V.Orig./2D);
A Cidade Perdida M12. 13h30, 16h10, 18h50,
21h30; Os Mauzões M6. 14h10, 16h50,
19h30 (V.Port./2D); O Homem do
Norte 14h30, 17h40, 20h50; O Sétimo
Dia M16. 22h; As Aventuras de Gulliver M6.
13h20, 16h, 18h40 (V.Port./2D); Doutor
Estranho no Multiverso da Loucura M12.
Sala 4DX - 14h20, 17h30, 20h40; Doutor
Estranho no Multiverso da Loucura M12.
14h50, 18h, 21h10
UCI Arrábida 20
Arrábida Shopping.
Rei Édipo 19h15; Salgueiro Maia
- O Implicado M12. 14h, 16h35, 21h25;
Perigoso M14. 14h20, 16h55, 19h20, 21h50;
Km 224 M12. 13h20, 18h55; Morbius M12.
16h25, 22h; Uncharted M12. 16h10, 21h30;
The Batman M14. 13h25, 21h55; Tudo em
Todo o Lado ao Mesmo Tempo M14. 13h15,
15h55, 18h50, 21h55; Monstros Fantásticos
15h, 18h10, 21h10, 21h35; Sonic 2:
O Filme M6. 13h25, 16h, 18h35 (V.Port./2D),
21h20 (V.Orig./2D); A Cidade Perdida
M12. 13h40, 16h25, 19h10, 21h50; Os
Mauzões M6. 13h55, 16h20, 18h45
(V.Port.); O Homem do Norte 13h15, 16h05,
19h05, 22h05; O Peso Insuportável de Um
Enorme Talento M12. 14h10, 16h40, 19h20,
21h40; O Sétimo Dia M16. 16h45, 21h40;
Notre-Dame em Chamas M14. 13h50,
16h30, 19h10, 21h45; O Arco Mágico M6.
14h15, 16h35 (V.Port./2D); À Procura de
Anne Frank M6. 16h50, 19h25; Colmeia
M12. 19h, 21h15; Doutor Estranho no
Multiverso da Loucura M12. 13h30, 13h45,
15h50, 16h15, 16h30, 18h30, 19h, 19h15,
21h30, 21h45, 22h; Nitram M14. 14h05,
18h55; O Rei do Riso M12. 18h40, 21h35;
Adeus, Senhor Haffmann M12. 21h55;
Fortaleza M14. 13h45, 19h05;
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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
34 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Jogos

Lazer Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas, Totoloto 16 22 33 43 46 2
bridge e sudoku em
1.º Prémio 14.400.000€
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios

FESTIVAL Cruzadas 11.694 Paulo Freixinho

Ilustração à Vista
ÍLHAVO Vários locais.
De 5/5 a 8/5.
Grátis (excepto oficina de
pintura de cerâmica Esta garrafa
é só minha!, 30€)
As ideias também dançam, já
pensaste?, pergunta o título de
uma oÆcina, na Biblioteca
Municipal de Ílhavo. No
Laboratório Artes, Luís
Bittencourt dá um concerto
ilustrado por Sons de Resistência.
No Parque de Merendas da Vista
Alegre, o colectivo Guarda Rios
conduz um percurso-performance.
Os Sensible Soccers dão um
cineconcerto na Fábrica das
Ideias. A companhia PIA —
Projectos de Intervenção Artística
anda pelas ruas com Palaphita.
Joana Gama e Luís Fernandes
juntam-se ao Drumming em
Textures & Lines. Estes são apenas
alguns dos momentos do quarto
Ilustração à Vista que, depois de
dois anos em contenção de
esboços, volta a Desenhar um
território em Ílhavo. Assim manda
o lema do festival que aposta na
“criação de experiências marcadas
pela fusão da ilustração com as
artes performativas”, sublinha a
organização. Nesta edição, é a
água — que, “em todos os seus
estados, oferece tantas
possibilidades como a ilustração,
em todas as suas formas” — o
elemento agregador de um
programa que Çui entre concertos,
performances, exposições, oÆcinas
e uma feira do livro ilustrado.
palavrascruzadas@publico.pt
Horizontais: 1. Hoje é o Dia Mundial da Língua (…). 2. Pega. Permissão.
Agência Portuguesa do Ambiente. 3. Carcomeram. Alojamento Local.
4. Negligência. Criação. 5. Toque ao de leve. Arrastar. 6. Suspiros. Amassou.
7. Laguna. Variante do pronome “o”. Incógnita (fig.). 8. A Bielorrússia anunciou
exercícios militares para testar prontidão de (...). Érbio (s. q.).
9. Porte. Invalidam. 10. Sirvam de modelos. De um “sonho” de três melómanos
nasceu esta fábrica de vinil em Portugal. 11. Prefixo (afastamento). Contristas.
Verticais: 1. Expiara. Tronco de videira. 2. Eles. Cordel que prende
os testicos da serra manual. Rio da Rússia. 3. Perdeu o apoio da Santa Casa
da Misericórdia de Lisboa. 4. Hino. Inauguram. 5. Vesti. Símbolo de miliampere.
6. Digressão (fam.). 7. Alguma. Que procede de avós. 8. Habito.
Larva que se cria nas feridas dos animais (Bras.). 9. Sociedade Anónima.
Propôs embargo total ao petróleo russo. 10. Suporte. Indignam. 11. Alçaras.
“Pior que o inimigo é o (...) amigo”.
Solução do problema anterior
Horizontais: 1. Contigo. Mas. 2. Or. Apedeuta. 3. GALP. Retrai. 4. Eolina. Fr. 5. Ominar. Pua.
6. Murar. Pavlo. 7. Eta. Ema. 8. Fibra. Na. 9. Empar. Tuba. 10. Isabel. De. 11. ASAE. Exalam.
Verticais: 1. Cognome. Eva. 2. Ora. MUTIM. 3. Leira. Pia. 4. Tapona. Fase. 5. IP. Lareira.
6. Gerir. Mb. BE. 7. Oden. Partex. 8. Etapa. Aula. 9. Mur. Uva. 10. Atafal. Nada. 11. Sair. OPA. Em.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Norte estavam mal colocado. Um cabide. Problema 11.162 (Fácil)
Vul: NS Sul não tinha um plano de jogo. Se
dominasse a técnica do apurar de
NORTE um naipe comprido, teria tentado o
Ƅ J2 naipe de paus. E não é nada
Ɔ AK2 complicado: Ás de espadas prende
Ƈ 863
ƅ AQ1043 a vaza inicial, segue-se o Ás de paus
e pau cortado com um trunfo alto,
OESTE ESTE trunfo para o morto e outro pau
Ƅ Q10983 Ƅ K76
Ɔ5 Ɔ 74 cortado de alto. Solução 11.160
Ƈ KJ52 Ƈ 10974 Se um dos defensores não servir
ƅ 752 ƅ KJ98 (paus 5-2), teremos ainda a
SUL possibilidade de voltar ao morto
Ƅ A54 para tentar a passagem a
Ɔ QJ109863 ouros. Mas quando Este-Oeste
Ƈ AQ assistem (paus 4-3), então basta

TEATRO
ƅ6
Oeste Norte Este
As Artimanhas de Scapin
1ƅ passo
VILA NOVA DE FAMALICÃO
passo 1ST passo
Casa das Artes.
passo 3Ɔ passo
Dias 5/5 e 6/5, às 21h30.
passo 4ƅ2 passo
M/12. 4€
passo 5ƅ3 passo
O encenador António Parra leva à
Todos passam
cena o clássico escrito por Molière
e publicado em 1671 sobre Scapin, Leilão: Qualquer forma de bridge. 1
um homem vigarista, intriguista e – Forcing; 2 – Controlos; 3 – (Zero
com especial talento para a ou) três chaves
manipulação. Uma comédia de
artimanhas, feita de “enganos, Carteio: Saída: 10Ƅ. Qual a melhor
gags físicos ou cenas densas linha de jogo para cumprir este
amorosas à velocidade de um
cheleme em copas?
virar de página”, referem na
sinopse. Acrescenta o encenador Solução: No cheleme de hoje, Sul
que “uma coisa é certa, seja em deixou fazer a primeira vaza (um
1671 ou em 2022: há algo a que não erro), fez a vaza seguinte com o Ás e
podemos fugir: à nossa condição cortou uma espada no morto.
de sermos humanos”. A produção Depois ficou a imaginar qual deveria
é da ACE — Escola de Artes de ser a boa passagem a fazer para
Famalicão, em conjunto com a obter a sua 12.ª vaza. Não teve que
Casa das Artes famalicense. se preocupar muito: os dois reis
voltar ao morto em trunfo para
cortar mais uma vez paus. Espada
Sul para fora e teremos tempo ainda
1Ɔ para cortar uma espada no morto
2Ƈ1 para ir buscar o último pau e
3Ƅ2 garantir o cheleme.
4ST
Problema 11.163 (Difícil)
6Ɔ Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul
1Ƈ 1Ɔ 1Ƅ
passo 2Ƈ 2Ɔ ?
O que marca com a seguinte mão?
ƄA8532 ƆQJ63 Ƈ62 ƅQ7
Resposta: Passe. O dobre nestas
Solução 11.161
circunstâncias ainda não é de
castigo e por isso temos de passar.
Quando é que se deve considerar
como de castigo? Sempre que for
claro para ambos que já existe uma
maioria de pontos (se a primeira voz
de Sul tivesse sido 2P em vez de 1E,
que promete um mínimo de dez
pontos, então o dobre nesse caso já
seria de castigo).
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Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 35

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Terça-feira, 3
RTP1 10,3%
% SÉRIE
A Ilha dos Cães
Liga dos Campeões
% Aud. Share
TVI 11,7 22,7
RTP2 0,7 Amazing Grace
AXN Movies, 22h45
Fruto de uma co-produção
Jornal Da Noite SIC 11,6 22,5 SIC 17,9 AXN White, 21h25
Estreia, com episódio duplo. A
TVI
Festa é Festa III - Cruzeiro TVI 10,2 20,9
portuguesa e são-tomense, o Ælme Por Ti SIC 9,9 20,0 17,9 vida da parteira Grace (Kate

de Jorge António inspira-se no
romance Os Senhores do Areal, do
escritor angolano Henrique
Abranches. Conta a história de
uma ilha onde o colonialismo e a
injustiça reinaram durante anos e
onde agora se quer construir um
resort. O elenco conta com Miguel
Hurst, Ângelo Torres, João Cabral,
Ciomara Morais e Nicolau Breyner
no último papel que gravou para o
cinema. A Ilha dos Cães remata
uma programação especial que
assinala o Dia Mundial da Língua
Portuguesa. Começa a meio da
tarde, com uma dupla de remakes
de clássicos do cinema português,
realizados por Leonel Vieira em
2015: O Pátio das Cantigas (às
15h38) e O Leão da Estrela (às
17h28). Seguem-se dois biopics:
Variações, de João Maia, com
Sérgio Praia no papel principal (às
19h17), e O Cônsul de Bordéus, de
Francisco Manso e João Correa,
com Vítor Norte na pele de
Aristides de Sousa Mendes (às
21h10).
60 Segundos
Fox, 00h
Dirigido por Dominic Sena e
baseado no Ælme homónimo de H.
B. Halicki (1974), segue Randall
“Memphis” Raines, um grande
especialista em furto de
automóveis que se retirou da
criminalidade para evitar que Kip,
o irmão mais novo, lhe seguisse as
pisadas. Mas, por ironia do
destino, Kip envolve-se num grave
sarilho e a sua vida Æca em risco.
Numa corrida contra o tempo,
Memphis regressa ao crime e,
para salvar o irmão, terá de roubar
50 carros. Nicolas Cage, Angelina
Jolie e Giovanni Ribisi ocupam os
papéis principais.
A Cidade
AXN, 00h38
Doug MacRay lidera um bando de
ladrões de bancos. Orgulha-se das
suas origens e de conseguir fugir à
polícia. Durante um golpe, faz
refém a gerente. Ela escapa ilesa,
mas não consegue superar o
sucedido. É então que conhece
alguém que a faz sentir segura e
por quem se apaixona — o próprio
Doug. Ben Aëeck realiza e
protagoniza esta adaptação do
livro Prince of Thieves, de Chuck
Hogan. Contracena com Rebecca
Hall, Jon Hamm, Jeremy Renner
(nomeado para o Óscar e o Globo
de Ouro de melhor actor
secundário), Blake Lively, Titus
Welliver, George Carroll, Pete
Postlethwaite (que morreria meses
depois) e Chris Cooper.
O Preço Certo
FONTE: CAEM
RTP1
6.09 Manchetes 3 6.30 Bom Dia
Portugal 10.00 Praça da Alegria 12.59
Jornal da Tarde 14.26 Os Nossos Dias
15.08 A Nossa Tarde 17.30 Portugal em
Directo 19.06 O Preço Certo
19.59 Telejornal
21.01 Play - Prémios
os
da Música Portuguesa
uesa
0.16 Caça ao Homem
em Monteperdido
1.40 Grande Entrevista:
Jorge Moreira da Silva
2.13 Faz Faísca
2.50 As Novas Viagens Philosophicas
SIC
6.00 Edição da Manhã 8.25 Alô
Portugal 10.10 Casa Feliz 13.00
Primeiro Jornal 14.40 Linha Aberta
16.10 Júlia 18.15 Fina Estampa
18.40 Amor Eterno Amor
19.10 Casados à Primeira Vista
19.58 Jornal da Noite
21.55 Por Ti
22.55 Amor
mor Amor
23.35 Pantanal
0.40 Casados à Primeira Vista
1.50 Liga Europa e Liga Conferência -
Resumos 2.00 Original É a Cultura
2.50 Volante 3.05 Advnce
3.35 Linha Aberta
RTP1 8,7
RTP2
6.32 Repórter África 7.00 Afazeres do
Mês 7.07 Espaço Zig Zag 10.44 Joga
Quem Quizzer 11.08 Histórias do Fado
12.01 Afazeres do Mês 12.09 Mr.
Selfridge 12.54 Folha de Sala 13.00
Biosfera 13.31 Vamos à Descoberta
14.00 Sociedade Civil 15.00 A Fé dos
Homens 15.35 Afazeres do Mês 15.40
Joga Quem Quizzer 16.06 Uma
Chávena, Mil Histórias 16.58 Espaço
Zig Zag 20.37 Folha de Sala 20.42
Conspirações por Decifrar
21.30 Jornal 2
22.01 Assuntos Legais
22.44 Folha de Sala
22.53 Compositores Portugueses
Contemporâneos: António Ferreira
dos Santos 23.26 Monty Python: Os
Malucos do Circo 23.57 Cinemax
1.02 Sociedade Civil 2.01 Euronews
TVI
6.05 Viva o Rei Juliano! 6.30 Diário da
Manhã 7.00 Esta Manhã 10.05 Dois às
10 12.58 Jornal da Uma 14.55 A Única
Mulher 16.10 Goucha 18.15 Big Brother
19.10 Rua das Flores 19.45 Big Brother
19.58 Jornal das 8
21.55 Festa É Festa
22.30 Quero É Viver
23.25 Para Sempre
0.00 Big Brother 1.55 Autores:
Vasco Gargalo 2.45 Chicago Fire
3.25 Louco Amor
Cabo
21,8
38,7
TVCINE TOP
17.20 O Cavaleiro das Trevas 19.50
Fatale 21.30 Traficados 23.30 Estados
Unidos vs. Billie Holiday 1.35 Tentação e
Pecado
FOX MOVIES
17.28 Freelancers 19.33 O Último
Airbender 21.15 O Homem do Tai Chi
22.53 V de Vingança 0.57 Sete Pecados
Mortais
HOLLYWOOD
17.25 Mr. Church 19.15 Valerian e a
Cidade dos Mil Planetas 21.30 Joker
23.30 Shut In - Reféns do Medo 1.00
O Último Beijo do Kaiser
AXN
18.40 Investigação Criminal 22.52
S.W.A.T.: Força de Intervenção 23.44
Intuição Criminal 0.38 A Cidade
FOX
17.25 C.S.I. Miami 19.00 Magnum P.I.
20.35 Hawai Força Especial 22.15
Investigação Criminal: Hawai’i 23.05
Investigação Criminal: Los Angeles
0.00 60 Segundos 1.30 Magnum P.I.
DISNEY CHANNEL
17.35 A Maldição de Molly Mcgee 18.05
Ghostforce 18.25 Patoaventuras 18.50
Tico e Teco: Vida no Parque 19.15
Anfibilândia 19.35 Casa da Coruja 20.25
Os Green na Cidade Grande
DISCOVERY
17.25 Desmontando o Cosmos 19.15
Aventura à Flor da Pele 21.00
Celebridades Sobre Rodas 22.55
O Mundo Sobre Rodas com Mike Brewer
0.40 Celebridades Sobre Rodas
HISTÓRIA
17.22 Forjado no Fogo 20.46 Grandes
Descobertas 22.15 Mortes Medievais
23.45 Grandes Descobertas 1.09 Os
Caçadores de Relíquias
ODISSEIA
17.32 Iberia, Uma Terra de Paixões 18.24
O Zoo de Sydney: Animais Protegidos
19.53 Salvar o Paraíso 20.46 Homem
2.0: Vida Melhorada? 21.39 Os Segredos
do Sistema Solar 23.21 Máquinas Contra
o Frio Extremo 0.48 Os Segredos do
Sistema Solar
Jenkinson) está prestes a mudar.
Na maternidade dá entrada uma
futura mãe que pretende dar o
bebé para adopção — tal como a
própria Grace optou por fazer há
17 anos. Essa jovem é a sua Ælha.
Está dado o mote para os oito
episódios que compõem a
minissérie australiana, para seguir
às quintas à noite.
MÚSICA
Play — Prémios da Música
Portuguesa
RTP1, 21h01
Transmissão em directo —
também para a RTP Play e Antena
1 — da quarta edição dos prémios
criados para distinguir o melhor
da música portuguesa. Tem lugar
no Coliseu dos Recreios de Lisboa,
com Filomena Cautela e Carolina
Torres como anÆtriãs, e intercala a
atribuição dos prémios com
actuações de Bárbara Bandeira,
Carminho, Paulo Flores, Sara
Correia, Camané, Agir, Moonspell,
Dulce Pontes, Piruka e Jimmy P,
entre outros. Os galardões são
distribuídos em 13 categorias.
Gisela João e Ana Moura,
indicadas para três cada uma, são
as mais nomeadas. Na última
edição, o mais premiado foi Dino
D’Santiago, com três Play.
DOCUMENTÁRIOS
Uma Chávena, Mil Histórias
RTP2, 16h06
Primeiro de seis episódios que
abordam “a extraordinária
história do chá e o seu impacto na
China e noutras civilizações à volta
do mundo”, resume a BBC. “Numa
escala nunca antes ensaiada”,
traça a história do chá, narra
experiências de quem vive da sua
produção e investiga a sua
inÇuência em rituais, receitas,
medicina e laços familiares, tanto
na China como noutros países.
Compositores Portugueses
Contemporâneos: António
Ferreira dos Santos
RTP2, 22h53
Estreia. Adriano Nazareth realiza
este trabalho sobre o compositor
(e cónego) António Ferreira dos
Santos (n. 1936, Santo Tirso), cuja
carreira tem privilegiado a música
litúrgica. O Requiem à memória do
Infante D. Henrique (1994) é uma
das múltiplas obras — oratórias e
outras peças corais sinfónicas —
que compôs para grandes
formações orquestrais e corais.
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36 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022

Guia
BIBLIOTECA DA CENSURA
Obras Apreendidas e Proibidas no Estado Novo
Meteorologia
PARA QUE NÃO SE REPITA PORTUGAL
Viana do Castelo
PRÓXIMOS DIAS
Sexta-feira, 06
PORTO
Sábado, 07 Domingo, 08
B&B

Bragança
12 º
19º
12º 22º 13º 23º 13º 22º
25 livros. Colecção mensal, ao dia 25 de cada mês. Entre 25 de Abril de 2022 e 25 de Abril de 2024. PVP unitário 9€. Preço total da colecção 225€. Stock limitado.

23º
Braga 7º

10 DIAS QUE ABALARAM O MUNDO 14º Porto

11 º
24 º
Vila Real
Índice UV Muito alto
Vento Fraco
Índice UV Muito alto
Vento Fraco
Índice UV Muito alto
Vento Fraco
0,8m
25º Humidade 56% Humidade 55% Humidade 56%
9º

JOHN REED 1945 Vol1

21 º
11º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 23 º
21º 10º 21º Mauna Loa, Havai Portugal
10 º 8º Partes por milhão
(ppm) na atmosfera Porto Muito
Coimbra Valores por semana Bom
28º Coimbra Bom
11º Semana de 24 Abr. 420,19
Castelo Branco
Semana de 17 Abr. 420,35 Lisboa Médio
Leiria 26º Há um ano 419,68
10º Há dez anos 396,82
24º Évora Fraco
12º
Nível de segurança 350
Faro Mau
Nível pré-industrial 280
Santarém
Portalegre
29 º
12º 26º
12º SOL LUA
Lisboa 9 Mai. 01h21
26 º 16 Mai. 05h14
12º Évora
Setúbal 27º 22 Mai. 19h43
26º 12º Nascente
Nascen Poente Nascente Poente
11º
06h35 20h32 30 Mai. 12h30 09h29 01h12*
*de amanhã

Sines Beja EUROPA

21º 28º Estocolmo
Helsínquia
14º 12 º Oslo
16º Talín

0,8m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 22º
16º Bruxelas
20º Faro Praga
16º Paris
Viena Budapeste
16º Genebra
0,5m
Açores
+9€
Milão

Corvo Roma
Istambul

EM BANCA
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 18º
19º Atenas
15º 1,2m
São Jorge 19º
17º 15º
1,8m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
18º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
Um dos primeiros livros perseguidos pela ditadura, 18º 16º Amesterdão 8 17 Roma 14 21

25 LIVROS “10 dias que Abalaram o Mundo”, é o mais 1,2m Atenas 13 22 Viena 12 23
Ponta Delgada
Berlim 6 17 Bissau 23 34
apaixonante relato da revolução bolchevique de
25 MESES Sta Maria Bruxelas 7 18 Buenos Aires 14 20
1917, que recusou continuar a Primeira Guerra Madeira Bucareste 7 18 Cairo 15 27
Mundial e marcou o início das revoluções do Budapeste 12 24 Caracas 19 31
AO DIA 25 proletariado em todo o mundo. John Reed, Madeira
Porto Santo

20º
Copenhaga
Dublin 10
6 16
19
Cid. do Cabo
Cid. do México
13
16
22
30
jornalista norte-americano esteve lá, assistiu 19º
16º
20º
16º
19º
0,8m 1,8m Estocolmo 6 16 Díli 24 32
directamente a muitos dos acontecimentos, Frankfurt 8 20 Hong Kong 23 30
recolheu documentos e entrevistou protagonistas. Funchal Genebra 9 15 Jerusalém 15 18
O corpo de John Reed foi sepultado perto do Istambul 8 20 Los Angeles 14 28
Kremlin, com honras de herói, sendo o único MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 6 12 Luanda 24 31
Londres 10 19 Nova Deli 29 39
americano a quem tal honra foi concedida. Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 9 22 Nova Iorque 12 22
Uma colecção comissariada por Álvaro Seiça. 06h57 2,7 06h33 2,7 06h31 2,6 Milão 8 16 Pequim 15 30
12h51 1,3 12h24 1,4 12h09 1,3 Moscovo 4 10 Praia 20 28
Oslo 3 18 Rio de Janeiro 20 28
19h12 2,8 18h49 2,9 18h50 2,8 Paris 8 19 Riga 7 15
01h36* 1,3 01h11* 1,4 00h56* 1,3 Praga 9 18 Singapura 26 32
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
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Liverpool Ɗcou a conhecer o seu adversário na Ɗnal da Champions Desporto
Real Madrid, de milagre
em milagre até mais uma final
“Merengues” qualiÄcam-se para a decisão da Champions com uma vitória “impossível” sobre o Man. City.
Rodrygo empatou a eliminatória no tempo de compensação, Benzema assinou o “milagre” no prolongamento
Marco Vaza
A principal lição da Liga dos Cam-
peões é: nunca descartar o Real
Madrid, aquela equipa que, na fase
de grupos, chegou a perder em casa
com o campeão da Moldova. Tal
como aconteceu nas eliminatórias
anteriores, os “merengues” precisa-
ram de um milagre para se qualiÆca-
rem para a Ænal da Liga dos Campeões
frente ao Manchester City. Depois da
derrota por 4-3 na primeira mão e
com uma derrota iminente, a equipa
de Carlo Ancelotti marcou dois golos
na compensação para equilibrar o
embate e garantiu um lugar na Ænal
de Paris (onde irá ter o Liverpool pela
frente) com um penálti convertido
por Benzema no tempo-extra, ven-
cendo por 3-1.
“Otra noche magica de los reyes de
Europa”, era o que pedia o Bernabéu
ao Real Madrid, a equipa com mais
peso histórico do “velho” continente.
Pedia magia frente ao “novo rico”
Manchester City, uma equipa de autor
maturada em seis anos por Pep Guar-
diola com o objectivo maior de ganhar
pela primeira vez aquilo que os
“merengues” já ganharam por 13. Bas-
tava um golo para empatar, dois para
ganhar. Não parecia assim tanto como
isso, e já tinha dado a volta a outros
adversários nesta Champions. Chel-
sea e PSG que o digam.
Depois do espectacular 4-3 da pri-
meira mão no Etihad, esperava-se um
embate de emoção semelhante e com
o marcador a funcionar em perma-
nência. Mas foi um embate mais estra-
tégico, de menos risco, um equilíbrio
de forças e de cautelas. Eram os
“merengues” que tinham a responsa-
bilidade de atacar, mas não se lança-
ram à maluca para a frente. Tiveram
paciência, a paciência de uma equipa
habituada a estes ambientes. Quando
se diz que as camisolas não jogam, no
caso do Real Madrid, isso não é bem
verdade.
O Real esperou que o City, com o
seu trio de portugueses de início
(Rúben Dias, João Cancelo e Bernardo
Silva), se mexesse primeiro. E as
melhores oportunidades da primeira
parte foram da equipa britânica. Ber-
nardo obrigou Courtois a uma boa
defesa aos 20’, Gabriel Jesus teve
outro remate perigoso aos 23’ e
Foden, numa jogada que veio direc-
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 37
BALLESTEROS/EPA
tamente de Éderson, quase surpreen-
deu o guarda-redes belga dos “meren-
gues”. Tudo isto o Real Madrid aguen-
tou com uma calma olímpica.
Zero golos em 45 minutos era o que
o City queria. Não era nada do que o
Bernabéu pedia. Mas, assim que o
jogo recomeçou para a segunda par-
te, o recinto dos “merengues” quase
veio a baixo. Na jogada de saída, a
bola foi rapidamente até Carvajal e
depois para Vinícius que falhou o alvo
por pouco. Um susto para Guardiola
e um sinal de vida do Real, que con-
seguia algo raro no futebol actual, o
de dividir a posse de bola com uma
equipa de Guardiola.
Com o passar dos minutos, a ener-
gia do recém-sagrado campeão espa-
nhol foi desaparecendo e deu lugar
ao desespero, enquanto os “citizens”
pareciam totalmente no controlo do
jogo e da eliminatória, mesmo estan-
do segura pela margem mínima. E
tudo pareceu decidir-se aos 73’, quan-
do Mahrez fez o 0-1, após um momen-
to de enorme lucidez de Bernardo
Silva.
O português levou a bola até à área
“merengue” e esperou pelo momento
certo até a libertar para o argelino. E
o City podia ter construído uma van-
tagem inatacável nos minutos seguin-
tes, incluindo uma bola de Graelish
que Éder Militão tirou em cima da
linha de golo. O relógio marcava 88
minutos, o City tinha dois golos de
vantagem na eliminatória e a Ænal à
sua mercê, e novo duelo marcado
para Paris com o Liverpool.
Só que o Real Madrid é aquela equi-
pa que nunca desiste naquela compe-
tição que considera como sua. Já a
ganhou 13 vezes e a vontade de ganhar
a 14.ª deu uma força suplementar.
Aos 90’, Rodrygo fez o empate no
jogo, após assistência de Benzema, e,
no minuto seguinte, foi o jovem bra-
sileiro a fazer o 2-1 após assistência de
Asensio. Eliminatória empatada, mas
ascendente emocional do Real
Madrid, que transportou este estado
de espírito para o prolongamento.
E teve como protagonista alguém
que pareceu ausente o jogo todo, mas
que apareceu no momento certo. Aos
94’, Benzema sofreu uma falta de
Rúben Dias e, no minuto seguinte, o
francês encaminhou para a baliza do
City o golo que daria mais uma Ænal
Militão e Benzema, titulares, ontem, no jogo entre o Real Madrid e o Man. City que os espanhóis venceram ao Real.
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38 • Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
Desporto
Mourinho garante que todos os caminhos
da Liga Conferência vão dar à Liga Europa
Augusto Bernardino
Meias-finais são atalho
fundamental para
promoção no panorama
europeu. Final alemã em
perspectiva para Sevilha
A Roma, de José Mourinho, recebe
esta noite (20h) o Leicester, de Bren-
dan Rodgers, depois do empate (1-1)
registado na primeira mão das meias-
-finais da Liga Conferência, em Ingla-
terra, o que, em termos práticos —
abolida a regra dos golos fora —, deixa
as duas equipas quase em pé de igual-
dade. O treinador português colocou
especial ênfase no papel dos tiffosi, a
quem perguntou se estavam prepa-
rados para serem parte activa do due-
lo do Olímpico ou se iriam limitar-se
a fazer de espectadores.
Não perca!
Revista Imobiliário
GRÁTIS COM A EDIÇÃO DE QUINTA-FEIRA, 12 DE MAIO
As palavras de Mourinho não dei-
xaram dúvidas quanto ao peso da
nova competição da UEFA, uma
espécie de segunda divisão da Liga
Europa, um meio para atingir um
fim cujo maior enlevo reside, preci-
samente, na ponte para voos euro-
peus de maior requinte que é ofere-
cida ao vencedor.
Na verdade, parece ser mesmo aí
que reside boa parte do interesse
desta meia-final, com o Leicester na
expectativa de agarrar a bóia de sal-
vação internacional após ter falhado
o objectivo europeu de apuramento
directo para a Liga Europa pela via
do campeonato, onde matematica-
mente lhe é já impossível alcançar
o sexto lugar.
Para a Roma, quinta classificada
em Itália, essa é uma hipótese real
através da Serie A (e não há nada
como jogar pelo seguro), o que deixa
José Mourinho pede o apoio dos
adeptos diante do Leicester
PUBLCIDADE
os dois clubes em situações distintas.
Assim, o Leicester pôde dedicar-se
de corpo e alma a este jogo, enquan-
to Mourinho está, compreensivel-
mente, dividido.
Mas esse não é o único óbice do
técnico da Roma, que não dispõe de
Mkhitaryan, lesionado no jogo do
King Power Stadium. Até porque no
plantel não há mais jogadores com as
características e influência do armé-
nio, o que ajuda o treinador a explicar
as diferenças entre as equipa de topo,
que possuem dois jogadores da mes-
ma valia por posição, e a Roma.
Uma explicação mais para consu-
mo interno, já que no trajecto para
Tirana, onde se disputará a final, na
Arena Kombëtare, a 25 de Maio, a
Roma pode demonstrar que todos os
caminhos vão, de facto, dar à Albânia
e à próxima edição da Liga Europa.
Isto, claro, sem ignorar a concorrên-
Camisola de Maradona
leiloada por 8,8 milhões
A mítica camisola azul da selecção
argentina de futebol envergada por
Diego Maradona aquando da elimi-
nação da Inglaterra (2-1) no Mundial
do México, em 1986, foi arrematada
por um recorde de cerca de 8,8
milhões de euros, anunciou ontem
a leiloeira Sotheby’s, que tinha avan-
çado com uma base de licitação de
4,7 milhões de euros. A quantia de
9,3 milhões de dólares suplanta lar-
gamente os 5,6 milhões de dólares
(5,3 milhões de euros) angariados
no leilão da camisola da estrela nor-
te-americana de beisebol da década
de 1920 Babe Ruth, em 2019.
No Ænal do encontro dos quartos-
de-Ænal do México 1986, após o golo
apontado com a mão e o denomina-
do “golo do século”, em que Mara-
dona Æntou diversos adversários e
o guarda-redes Peter Shilton, a
camisola foi trocada por “El Pibe
d’Oro” com o médio inglês Steve
Hodge, que a manteve quase 35
anos, antes de ser emprestada para
exposição a um museu de futebol
britânico.
Esta história, contudo, já foi con-
testada pela Ælha de Maradona. Dal-
ma Maradona assegurou à Metro
Radio que a camisola que a
Sotheby’s leiloou não é aquela com
cia de Marselha e Feyenoord, igual-
mente candidatos à final e à tal vaga
que pode garantir um upgrade para a
classe executiva e em que os neerlan-
deses possuem ligeira vantagem,
depois do 3-2 da primeira mão, nos
Países Baixos.
Alheios a esta disputa, RB Leipzig
e Eintracht Frankfurt tentam, tam-
bém a partir das 20h, dar corpo a um
esboço quase acabado de uma final
100% alemã, na Liga Europa. A equi-
pa de André Silva surgirá em Glasgow,
no Ibrox — onde o Sp. Braga caiu, no
prolongamento —, decidida a confir-
mar a vantagem conseguida no final-
zinho da primeira mão, graças à súbi-
ta inspiração de Angeliño. Rumo à
final de Sevilha (18 Maio) estão ainda
o Eintracht, de Gonçalo Paciência, e
o West Ham, que terá de recuperar
em Frankfurt da derrota caseira (1-2)
da primeira mão.
que o pai marcou os dois golos
emblemáticos à Inglaterra, aos 51 e
55 minutos, mas a que ele usou
durante a primeira parte do encon-
tro, que os sul-americanos vence-
ram por 2-1.
Diego Armando Maradona, que
somou 91 internacionalizações e 34
golos pela Argentina, morreu no dia
25 de Novembro de 2020, aos 60
anos, após sofrer uma paragem car-
díaca na sua vivenda em Tigre, na
província de Buenos Aires.
Diego Maradona
foi a grande
figura da
seleçcão da
Argentina na
conquista do
Mundial de 1986
A carreira de Maradona, de 1976
a 1997, Æcou marcada pela conquis-
ta do Mundial 1986 e por dois títulos
italianos e uma Taça UEFA arreca-
dados pelo Nápoles, emblema pelo
qual alinhou entre 1984 e 1991. “El
Pibe” representou ainda Argentinos
Juniors (1976 a 1980), Boca Juniors
(1981 e entre 1995 e 1997), Barcelona
(1982 a 1984), Sevilha (1992-93) e
Newell’s Old Boys (1993-94).
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A carreira de Mo Farah acabou?
Nem o próprio sabe
Marco Vaza
O grande atleta britânico
perdeu uma corrida para
um semiprofissional
que trabalha numa loja
de equipamento desportivo
Mo Farah era um acelerador dos últi-
mos metros. Quem entrasse ombro a
ombro com o britânico na última cur-
va da última volta, tinha de estar pre-
parado para a sua aceleração. Farah
ganhava quase sempre porque conse-
guia fazer 100 metros em 12 segundos
(ou menos) depois de já ter corrido
cinco ou dez quilómetros na pista. Já
tem o seu lugar na história do atletis-
mo como um dos melhores fundistas
de todos os tempos, com quatro títu-
los olímpicos, seis mundiais e cinco
europeus, mas, aos 39 anos, uma cor-
rida bastou para que ele próprio duvi-
de de que ainda está entre a elite.
Aconteceu segunda-feira, na Vita-
lity London 10.000, uma prova de
estrada que decorre no londrino St.
James Park, com meta no The Mall,
perto do Palácio de Buckingham e
que costuma atrair dezenas de milha-
res de corredores. Farah, que já tinha
vencido a prova por sete vezes e é o
recordista do percurso, era a grande
atracção. Era um dos 11 atletas de eli-
te, daqueles que tinham direito ao
nome no equipamento. Todos os
outros participantes tinham de pagar
39 libras (ou 37, se fossem corredores
federados) e tinham direito a um
número.
Esperava-se que Mo Farah domi-
nasse esta corrida de dez quilómetros
em estrada, tal como tantas vezes fez,
apesar de esta ser a sua primeira cor-
rida desde Junho do ano passado. Mas
faltou ao tetracampeão olímpico o
seu habitual sprint Ænal para bater o
atleta com o dorsal 219, um dos que
tinham pago para correr. Toda a gen-
te gritava por Farah, ninguém gritava
pelo nome do atleta 219. Porque nin-
guém sabia quem ele era.
Pouco depois, o mundo inteiro iria
saber que o homem que ganhou a Mo
Farah se chama Ellis Cross, faz turnos
diários de seis horas numa loja de
equipamento desportivo, tinha ido de
comboio para a prova e é antigo cam-
peão britânico júnior de corta-mato
que Æzera estes dez quilómetros sem
levar relógio. Falou para todos os jor-
nais, esteve em todos os noticiários,
tornou-se numa celebridade.
“Não acreditei até estar a 20
metros da meta. Só depois é que
pensei: ‘Talvez ganhe isto.’ E dei
Mo Farah enfrenta o espectro de ter de terminar a sua incrível carreira no atletismo
absolutamente tudo o que tinha,
consegui aguentar e Æquei maravi-
lhado”, contou Cross, de 25 anos, ao
Daily Mail, conseguindo não ser mais
uma das vítimas de Farah e dos seus
temíveis últimos metros, terminan-
do com quatro segundos de vanta-
gem. Veremos se a história de Cross
terá mais capítulos.
“Em pista, acabou-se”
Veremos também o que irá acontecer
à carreira de Mohamed Muktar Jama
Farah, cavaleiro da Ordem do Impé-
rio Britânico, o rapaz que nasceu na
Somália e foi refugiado de guerra
antes de se tornar um dos maiores
fundistas de todos os tempos. A der-
rota deixou-o a duvidar da sua pró-
pria condição de atleta de elite. “Em
pista, acabou-se, acho eu. O corpo
tem de estar preparado, temos de
estar preparados mentalmente para
O homem que ganhou a Mo
Farah chama-se Ellis Cross,
faz turnos diários de seis
horas numa loja de
equipamento desportivo,
tinha ido de comboio para a
prova e é antigo campeão
britânico júnior de
corta-mato
competir. Adoro este desporto e o
que faço, já tive uma longa carreira.
A realidade é que a carreira tem sido
muito, muito longa e nunca tinha
estado sem correr tanto tempo”,
declarou Farah.
O britânico não dá a carreira total-
mente por encerrada, embora um
regresso às pistas esteja fora dos seus
horizontes — diz que não irá partici-
par nos Mundiais de atletismo que se
disputam em Eugene, nos EUA, entre
15 e 24 de Julho.
Para Mo Farah, tem sido uma vida
inteira a correr, desde a sua infância
dividida entre Mogadíscio (onde nas-
ceu) e um campo de refugiados no
Djibouti. Chegou ao Reino Unido com
oito anos de idade quase sem saber
falar inglês e sofreu com isso na esco-
la. Mas foi na escola que o seu profes-
sor de Educação Física reparou no
seu talento e o colocou no caminho
das corridas. Pouco depois, Farah já
estava a ganhar títulos internacionais
como júnior.
O resto é a história de um dos
melhores atletas de sempre. Especia-
lista em 5000m e 10.000m, Farah
começou a ganhar medalhas no cor-
ta-mato, mas foi na pista que o seu
domínio foi absoluto. Entre 2011 e
2017, ganhou seis medalhas de ouro
e duas de prata em Mundiais, e fez a
dobradinha 5000/10.000 em dois
Jogos Olímpicos consecutivos (Lon-
dres 2012 e 2016).
Público • Quinta-feira, 5 de Maio de 2022 • 39
DYLAN MARTINEZ/REUTERS
Depois dos Mundiais de 2017 em
Londres, Farah anunciou que ia dei-
xar as corridas de pista, para se dedi-
car exclusivamente à maratona, e os
resultados não foram horríveis —
entre 2018 e 2019, correu duas vezes
a maratona de Londres e a de Chica-
go, nunca terminando abaixo do
oitavo lugar e com uma vitória (Chi-
cago 2018).
Pelo meio, Farah sofreu com a sua
associação ao polémico treinador
Alberto Salazar e ao Projecto Oregon,
um projecto fundado em 2001 e
Ænanciado pela Nike para ser um cen-
tro de alto rendimento para atletas do
meio-fundo e fundo, sobretudo nor-
te-americanos (mas não só). Farah foi
treinado por Salazar entre 2011 e 2017,
mas nunca Æcou provado que tenha
recorrido ao doping, ao contrário do
seu técnico, que foi suspenso por
múltiplas violações ao código anti-do-
ping. Farah anunciou o regresso às
pistas e tentou a qualiÆcação para os
10.000m dos Jogos de Tóquio de
2020, mas, na sua última oportunida-
de, Æcou a 19 segundos da marca exi-
gida. Foi uma corrida no meio da
pandemia, praticamente sem públi-
co, e em que Farah correu sozinho no
último terço, sem “lebres” para puxar
por ele. Apenas ele contra o relógio e
faltou-lhe a aceleração Ænal, tal como
aconteceu agora em Londres. “Tenho
muito trabalho a fazer para ser com-
petitivo”, disse Mo Farah.
Desporto
Breves
Futebol
Exigência coloca
venda do Chelsea
em risco
Em bom inglês, o triângulo
Chelsea-Abramovich-Rússia
viveu mais um plot twist.
Segundo avançou ontem o
The Times, o magnata russo
voltou atrás na promessa que
tinha feito e exige que, no
processo de venda do clube,
lhe sejam repostos cerca de
1,9 mil milhões de euros que
tinha emprestado aos
londrinos. Esta intenção pode,
assim, complicar o processo
de venda do Chelsea, já que o
Governo britânico já tinha
garantido não autorizar que o
dono, Abramovich,
beneficiasse de qualquer
quantia neste negócio —
avançaram mesmo que o
dinheiro dessa venda fosse
aplicado em causas sociais,
entre as quais apoio às vítimas
da Guerra na Ucrânia.
Futebol
Pedro Martins
leva o Olympiacos
ao “tri” na Grécia
O Olympiacos sagrou-se
ontem tricampeão da Grécia,
graças a um triunfo obtido
com dois golos de jogadores
com passagem pelo
campeonato português. É o
47.º título do palmarés do
clube do Pireu. Sob a
orientação de Pedro Martins, o
Olympiacos venceu por 2-1,
com os seus golos a serem de
Rony Lopes, que passou pela
formação do Benfica (51’), e
Oleg Reabciuk (62’), antigo
lateral-esquerdo do FC Porto e
do Paços de Ferreira. Para
Pedro Martins, este é o
terceiro campeonato seguido
ganho, ficando a outros três
títulos de igualar o bósnio
Dusan Bajevic como treinador
com mais vitórias no clube.
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Quinta-feira, 5 de Maio de 2022
BARTOON LUÍS AFONSO
Como se destroem as instituições
O respeitinho
não é bonito
S
João Miguel Tavares
ou por natureza avesso a
discursos catastroÆstas,
até porque quando
começamos a resmungar
contra o mundo isso
costuma signiÆcar apenas
uma coisa: estamos a Æcar velhos.
Mas a triste verdade é que nos
últimos anos o mundo não tem
colaborado com o meu optimismo.
Assistimos a uma brutal aceleração
da História, e, sempre que ela
ocorre, as instituições mais sólidas
reagem como os móveis a um
terramoto — tremem, balançam,
fendem, e os melhores vasos
estilhaçam-se contra o chão.
Há dois dias isso aconteceu de
novo na América, com um caso
que foi noticiado em Portugal e no
mundo, sublinhando uma coisa
que é muito importante, mas que
no caso em apreço é apenas a
segunda mais importante: a
possibilidade de o aborto deixar de
ser um direito generalizado nos
Estados Unidos, para passar a ser
PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Todos os conteúdos do jornal estão protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da
legislação portuguesa, da União Europeia e dos Tratados Internacionais, não podendo ser utilizados fora das condições de
uso livre permitidas por lei sem o consentimento expresso e escrito da PÚBLICO, Comunicação Social, S.A.
ASSINE JÁ
uma decisão tomada estado a
estado, o que de imediato levaria à
sua ilegalização em numerosos
locais do Sul do país. Esta reversão
histórica é, de facto,
importantíssima, porque o direito
das mulheres à interrupção da
gravidez estava garantido desde
1973 pela famosa decisão Roe vs.
Wade, quando os nove juízes do
Supremo votaram 7-2 a favor da
legalização do aborto. Note-se que
desses sete juízes, dois tinham sido
nomeados por governos
democratas e cinco por governos
4C226823-3824-4A69-9966-A6639611AF36
Liberdade faz-se com verdade
Contra a desinformação, leitores com acesso total
Assinatura anual + 3 meses de oferta
publico.pt/assinaturas/liberdade
4c226823-3824-4a69-9966-a6639611af36
EVELYN HOCKSTEIN /REUTERS
republicanos. Eram outros tempos.
Tudo mudou entretanto, e essa
mudança não se limita a diferentes
opiniões acerca da questão do
aborto entre os juízes do Supremo
Tribunal, há muito um violento
tema de debate na política
americana. De facto, a reversão do
direito ao aborto é apenas o
segundo assunto mais importante
nesta história, porque o primeiro,
embora possa não parecer à
primeira vista, é mesmo a fuga de
informação do Supremo, que
colocou na comunicação social o
esboço inaugural do acórdão sobre
o tema — uma escandalosa violação
da conÆdencialidade da mais
prestigiada instituição americana.
Sei bem o quanto uma fatia
muito signiÆcativa da população
considera a possibilidade de
abortar um direito fundamental, e
também sei bem quão absurdo é
voltar a criminalizar um acto que
pelo menos metade dos cidadãos
não considera ser um crime. Para
Até o autor da fuga estas pessoas, pode parecer
bizarro classiÆcar uma fuga de
ser descoberto, informação mais grave do que a
é impossível que reversão de Roe vs. Wade. Mas o
problema é aquilo que essa fuga
aqueles nove juízes representa: a total tribalização do
continuem a Supremo Tribunal e uma brutal
punhalada na única forma possível
conÄar uns nos de gestão de uma sociedade
outros democrática — o absoluto respeito
CONTACTE-NOS: assinaturas.online@publico.pt š 808 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
pelas regras que gerem a dissensão.
Mesmo que, por hipótese, o
direito à interrupção voluntária da
gravidez fosse agora revertido (o
documento divulgado é apenas um
primeiro esboço e não assegura
uma decisão Ænal), esse direito
poderia regressar em futuras
composições do Supremo. Aquilo
que diÆcilmente regressará é o
prestígio da instituição, após ser
manchada por uma fuga desta
natureza e deste calibre.
Ninguém sabe ainda de onde
veio a fuga, já que tanto
democratas como republicanos
poderiam ter interesse nela. Mas,
até o seu autor ser descoberto, é
impossível que aqueles nove juízes
continuem a conÆar uns nos
outros. Donald Trump nomeou
três juízes para o Supremo com a
intenção assumida de reverter Roe
vs. Wade, mas está a conseguir
mais do que isso. Da invasão do
Capitólio à destruição da
credibilidade do Supremo, a
trumpização da política americana
segue a todo o vapor, deixando
pelo caminho um terrível rasto de
destruição, que está a dar cabo da
saúde da própria democracia nos
Estados Unidos.
Jornalista
jmtavares@outlook.com