Você está na página 1de 12

CONTAS-POUPANÇA

Pedro Andersson

CONTAS-POUPANÇA
1
Impostos
como pagar menos

23
1.1 – IMI – COMO PAGAR MENOS

Ninguém gosta de pagar IMI. Ficamos com a sensação de


que, apesar de a casa ser nossa, o Estado continua a ser o
nosso senhorio. Mas temos de pagar. Podemos é pagar menos
se não nos importarmos de ter algum trabalho de três em
três anos.

Alguns contribuintes não sabem que podem baixar o valor


a pagar de IMI, bastando para isso pedir a reavaliação do imó-
vel (ou imóveis) nas Finanças. Mas atenção: só deve pedir a
reavaliação do Valor Patrimonial Tributário (VPT) do imóvel
se tiver a certeza de que ele vai mesmo baixar. Caso contrário,
arrisca-se a pagar ainda mais de IMI. Não se preocupe, vou
ajudá-lo. É simples fazer essa conta. Vamos a isso?

Baixei o IMI 120 € por pedir a reavaliação do Valor Patrimonial


da minha casa.

Comecemos pelo princípio. O IMI corresponde a uma per-


centagem variável que cada autarquia cobra sobre o VPT de
cada casa. Portanto, é do seu interesse que, para as Finanças,

25
a sua casa valha o menos possível. Parece estranho, mas é assim.
Além do IMI, muitas taxas das câmaras municipais são basea-
das no Valor Patrimonial Tributário.
Como é que as Finanças chegam ao valor do VPT? É o
resultado da multiplicação de seis elementos:

1) Valor do m2 (definido pelo Estado)


2) Área do imóvel
3) O tipo de utilização (comércio ou habitação)
4) Coeficiente de localização (bairro rico/bairro pobre)
5) Coeficiente de qualidade (se tem garagem ou piscina, por
exemplo)
6) Coeficiente de vetustez (palavra cara para «idade do pré-
dio»)

Vamos por pontos. O valor do m2 é definido anualmente


por portaria governamental. O coeficiente de localização tam-
bém é reavaliado a cada dois ou três anos e o coeficiente de
vetustez é alterado, obviamente, pelo decorrer do tempo.
O problema é que, tendo o Estado todos os dados para fazer
as contas para atualizar anualmente o VPT de cada imóvel, não
o faz. Diz a lei que a reavaliação de uma casa só é feita a pedido
do proprietário. Como sabemos, pela inércia conhecida de mui-
tos portugueses, em teoria pode haver casas com dezenas de anos
que as Finanças consideram «novas em folha», com o valor do
coeficiente de localização inicial e com o valor do m2 do ano em
que a compraram. Isso tanto pode ser bom, como mau, para o
contribuinte. Só há uma maneira de saber: é fazer as contas.

O VPT do seu imóvel só baixa se pedir uma reavaliação.


Não é automático.

Sempre que o valor do m2 baixar, o valor da localização for


revisto e a sua casa ficar mais velha, deve voltar a fazer os

26
cálculos para saber se deve pedir a reavaliação para baixar o
Valor Patrimonial Tributário.
Por exemplo, em janeiro de 2016, a Autoridade Tributária
(AT) atualizou o valor de todo o território nacional, bairro a
bairro, rua a rua. Há zonas que baixaram de valor e outras que
valorizaram. Registaram-se mudanças importantes quer dentro
das cidades, quer na mais pequena das aldeias. Tudo foi revisto.
Provavelmente não faz ideia de quanto vale a sua rua neste
momento para as Finanças, viva no campo ou na cidade. Há
zonas que baixaram de valor e outras que valorizaram. Pro-
porcionalmente, até pode haver uma quinta numa aldeia que
tenha valorizado mais que um bairro na cidade (basta que
tenham feito uma estrada nova ou construído um parque
perto).
Isto quer dizer que as simulações feitas anteriormente já não
estão atualizadas. Vamos ter de as fazer outra vez tendo este
pormenor em conta.
Este pormenor é fundamental porque aquilo que poderia
«poupar» nos dois elementos mais variáveis (valor do m2 e idade
do imóvel) pode ser «comido» pela valorização da sua rua. Ou,
na melhor hipótese, aumentar ainda mais o seu desconto.
Reforço este ponto: só vale a pena pedir a reavaliação se o VPT
baixar, caso contrário vai pagar mais de IMI do que antes.
E como é que sabe se o deve fazer?
Para facilitar essa conta, a DECO tem
um simulador de IMI na página
www.paguemenosimi.pt. Só tem de
preencher todos os dados que são pedi-
dos, a partir da sua Caderneta Predial
atualizada (que pode imprimir no Por- Simule aqui quanto
vai pagar de IMI
tal das Finanças).
No meu caso, como o valor da rua
baixou em 2016 de 1.7 para 1.5, se pedir outra vez uma reava-
liação vou baixar o IMI ainda mais 20 €, depois de ter baixado

27
cerca de 120 da última vez que o fiz. O problema é que como
fiz o pedido em janeiro de 2015, agora tenho de esperar pelo
menos três anos para poder pedir nova reavaliação. É o que diz
a lei. Em 2018, lá estarei, na minha repartição de Finanças, para
tratar disto outra vez.

Use o simulador da DECO para saber em poucos minutos se


pode pagar menos IMI.

Faça as contas por si ou realize a simulação na página da


DECO e verifique se os novos dados das Finanças o beneficiam
ou prejudicam. Se pediu a reavaliação do VPT recentemente,
anote no seu telemóvel ou na sua agenda a data exata para veri-
ficar se deve pedir uma nova reavaliação do seu imóvel.
Se nunca fizer este pedido de reavaliação vai estar a pagar
sempre o máximo até que ponha os pés a caminho das Finan-
ças. No meu caso, por ter perdido uma hora na Repartição de
Finanças, sei que vou poupar pelo menos 4200 € nos próximos
35 anos. Não é muito, mas são 120 € que tenho a mais todos
os anos para gastar noutras coisas.

Caso Real

Imagine que na sua Caderneta Predial tem estes valores:

Vt* = Vc x A x Ca x Cl x Cq x Cv
92.250 € = 615 x 100 x 1.0 x 1.5 x 1.00 x 1.00

Isto quer dizer que, neste momento, a sua casa vale cerca de
92 000 € para as Finanças. E, aparentemente, tem todas as condi-
ções para pedir a reavaliação por dados desatualizados porque o
preço por m2 (Vc) baixou (atualmente é de 603 € e não de 615 €)
e o coeficiente de vetustez (Cv) também está no máximo
(1 é novo) e, portanto, deve baixar bastante. Mas é aqui que tem
de ter em atenção o coeficiente de localização (Cl).

28
Repare no efeito que tem:

Vt* = Vc x A x Ca x Cl x Cq x Cv
101.303 € = 603 x 100 x 1.0 x 2.1 x 1.00 x 0.80

Ou seja, mesmo baixando o preço do m2 e o coeficiente da


idade do prédio, bastou o facto de o coeficiente de localização (Cl)
ter aumentado bastante (de 1.5 para 2.1) para ter «comido» tudo
o que pouparia por pedir a reavaliação. O VPT da sua casa subiria
de 92 000 € para 101 000 €. Iria pagar mais de IMI. Assim, neste
caso específico, deve ficar quieto e não mexer até que o Estado
mude as regras. Se o Cl se mantiver igual ou baixar, a situação é
completamente oposta e vantajosa para si. O simulador da DECO
faz estas contas por si para o ajudar a decidir.

Tenha atenção ao seguinte: a 1 de agosto de 2016 entrou em


vigor mais uma alteração no IMI que pode modificar (para
cima ou para baixo) as suas contas. O Governo decidiu agravar
o valor da exposição solar e das vistas, que também contam
para o cálculo do coeficiente de qualidade e conforto (Cq), na
equação do cálculo do Valor Patrimonial Tributário.
Na altura em que escrevo não é ainda claro o que é «uma vista
desafogada» e como se define exatamente «exposição solar» (é
por m2?) Vamos ter de esperar para ver. Em teoria, com esta
alteração, se mora num andar baixo e pouco soalheiro pode ficar
a pagar ainda menos de IMI, se pedir a reavaliação. Se mora num
andar alto, com vista desafogada e com sol, esta mudança pode
«absorver» parte do que ganha com a descida nos outros crité-
rios. As novas regras só são válidas para casas novas ou para as
antigas que sejam reavaliadas. Não é automático. O simulador
da DECO já está atualizado com estas alterações.

Com esta dica poupo 120 € por ano.

29
1.2 – IRS – COMO RECEBER MAIS
(OU PAGAR MENOS)

As mudanças nas regras de entrega do IRS em 2016 geraram


uma enorme confusão, mas serviram para muitos contri-
buintes ficarem a perceber melhor como funcionam os nos-
sos impostos e afinal o que é possível apresentar ou não
como deduções. Sabendo isso, podemos definir uma estra-
tégia para aumentar o nosso reembolso do IRS.

Pelos comentários e dúvidas que me colocaram através do


Facebook e do blogue, percebi que muitos portugueses sim-
plesmente não fazem a mínima ideia de como proceder para
pagar o menos possível de impostos, em geral, e de IRS, em
particular.
Nem quero imaginar o que muitos pagaram a mais de IRS
em anos anteriores simplesmente porque andaram distraídos
ou por ignorância.

1.2.1 – JUNTO OU SEPARADO?

Um espectador disse-me que, em 2016, decidiu simular pela


primeira vez a entrega em conjunto e descobriu que ia receber
mais 1500 € de reembolso! Imaginem o que é perceber que
andou a perder 1500 € todos os anos desde que casou só por
não ter colocado uma cruzinha no quadrado ao lado. Mas não
é caso único.
Recebi dezenas de contactos de pessoas que há anos (desde
que casaram) decidiram entregar o IRS em separado porque
foi o que acharam melhor (ou foi o que lhes aconselharam
naquele ano específico) e que continuaram a fazer isso, apesar
de os seus rendimentos terem mudado (para cima ou para
baixo), de terem tido filhos ou até de alterações na legislação.

30
Simule todos os anos se compensa entregar em conjunto ou
em separado. A diferença pode ser de milhares de euros.

Muitos nem sequer se interrogam sobre se este ano é melhor


entregarem a declaração de IRS de outra maneira, nem estão a
pensar fazer a simulação com as duas circunstâncias a fim de
escolherem a mais interessante.
Por incrível que pareça, alguns entregaram a declaração sem
terem feito qualquer simulação! Podem ter perdido milhares
de euros em reembolsos ou podem ter pago IRS a mais sem
necessidade nenhuma.
Se um membro do casal ganha mais 500 € do que o outro,
normalmente compensa entregar em conjunto, mas deve sem-
pre confirmar.

1.2.2 – QUEM DECLARA OS FILHOS COMO DEPENDENTES?

Há também casais (casados ou unidos de facto) que esco-


lhem colocar as despesas do(s) filho(s) apenas num dos sujeitos
passivos, sem tentarem perceber se seria melhor declarar essas
despesas no outro ou nos dois. Portanto, o segredo (se é que
existe aqui um segredo) é simular, simular, simular as várias
situações possíveis e optar pela que representa o reembolso
maior ou por aquela em que paga menos IRS.

1.2.3 – ENGLOBAR OU NÃO OS RENDIMENTOS?

Deve simular também, caso tenha vários tipos de rendimen-


tos, se deve optar ou não pelo «englobamento». É que as taxas
de imposto são diferentes em função da opção que tomar. Pode
receber mais ou pagar menos. É só selecionar «Sim» e «Não»
e comparar os resultados da simulação.

31
Outra situação para simular: os pais divorciados têm de
fazer contas para saberem se preferem deduzir o que pagaram
em pensão de alimentos ou, em alternativa, deduzir as despesas
do(s) filho(s). Têm de optar por uma dedução ou outra.
Estes são apenas alguns exemplos de opções que podem
fazer a diferença. Não copie do ano anterior. Uma vírgula
numa lei pode alterar todas as suas contas de um ano para o
outro. Por exemplo, um euro de diferença no seu rendimento
pode fazê-lo subir ou baixar de escalão de IRS.

É óbvio, mas há quem não o faça: simule sempre


o reembolso antes de entregar a declaração de IRS.

Francamente, acho que esta é mesmo


uma questão de literacia financeira. Não
são necessários conhecimentos de con-
tabilidade para perceber que simular as
várias situações é a única forma de ren-
tabilizar o seu imposto.
Como referi, talvez todas as confu- Aceda aqui
ao Portal das Finanças
sões iniciais com o «novo» IRS e com o
e-fatura tenham servido para «acordar» muitos contribuintes.
Infelizmente, continuo a ouvir pessoas a dizerem (sic) «Não
quero saber disso para nada». Tudo bem, mas depois não se
queixem de terceiros. Queixem-se, sim, mas depois de terem
feito a vossa parte.

1.2.4 – NÃO SE ESQUEÇA DE IR AO E-FATURA

Se o e-fatura continuar a ser usado nos próximos anos como


base para o preenchimento do IRS, como se prevê, os contri-
buintes vão ter até fevereiro de cada ano para validar todas as

32
despesas no portal. Em 2016, podiam ter ganho ou perdido até
um máximo de 750 € em deduções no IRS, dependendo de
terem lá ido ou não (250 € + 250 € no caso de casados/unidos
de facto nas Despesas Gerais Familiares + 250 € caso tenham
pedido faturas com NIF em restaurantes, hotéis, oficinas e
cabeleireiros). No meu caso, com a ajuda da minha mulher –
que também não deixou escapar quase nenhuma despesa des-
tas sem fatura – quase chegámos ao valor máximo nesta
dedução.

Pedir sempre fatura com NIF representa um máximo de 750 €


em deduções. Não os desperdice.

«Mas, com o que ganho, é quase impossível atingir esse


valor», dirão alguns. Por exemplo, nos jantares de grupo,
quando alguém não quer fatura, há pessoas que querem, não
é? E lembre-se que, se pedir fatura com NIF de todos os
pequenos-almoços, lanches e cafés, tudo isso conta. Em 2016,
as despesas com veterinários também vão contribuir para esta
dedução. Se acha que 250 € é pouco e não merece o esforço,
informo-o de que, cá em casa, com esse valor, conseguimos
comprar 568 litros de leite.

33

Você também pode gostar