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António Filipe Mahumane

A Prática da Cerimonia do Lobolo no Bairro da Liberdade, na Província de Maputo


(2016-2018)

Licenciatura em Sociologia

4º Ano-Laboral

Universidade Pedagógica de Maputo

2020
António Filipe Mahumane

A Prática da Cerimonia do Lobolo no Bairro da Liberdade, na Província de Maputo


(2016-2018)

Licenciatura em Sociologia

4º Ano-Laboral

Projecto de pesquisa da cadeira Estagio


técnico profissional em Sociologia a
apresentar na FCSF para fins
avaliativos pelo Professor Associado
José Alberto Raimundo e Mestre
Siquisse..

Universidade Pedagógica de Maputo

2020
1. Tema

O presente projecto versa acerca da Prática do Lobolo no Bairro da Liberdade, na província de


Maputo, no período de 2016-2018.

A escolha do período 2016-2018, deve se ao facto da frequência da prática do lobolo neste


períodos, pois em 2016 constatamos quatro casos em que as famílias não aceitavam a realização
do matrimónio civil antes da realização da cerimonia do lobolo e em 2018 verificamos a
proliferação da pratica do lobolo com dez casos, pois os jovens do Bairro da Liberdade optam
mais por lobolar do que em um matrimónio civil. Alegando que o Lobolo é a única forma dos
homens transmitirem culturalmente o sangue do pai e por consequência o apelido do pai.

1. Titulo

O presente projecto tem como titulo: A prática do Lobolo no Bairro da Liberdade, na Província
de Maputo (2016-2018)

2. Motivações da escolha do tema

Constitui como motivação da escolha do tema a pratica do lobolo, o facto de assistir muitas
vezes no bairro da Liberdade, fenómenos que dois indivíduos, um homem e uma mulher, para
poderem se unir e formarem uma família são socialmente obrigados a realizar, por parte do
homem, a cerimónia do lobolo para que não sejam rejeitados pela estrutura social e que o lobolo
constitui a explicação mais forte para o sistema de parentesco.

3. Justificativa
3.1. Académica

Mostra-se sociologicamente pertinente fazer uma reflexão sobre a prática da cerimónia do


lobolo, por permitir compreender que a cerimónia do lobolo não é regulado simplesmente por
um princípio de linhagem, mas através de uma forma complexa de rede, em que as linhas
horizontais perfuram as barreiras de sucessão e estabelecem relação entre diversas famílias.
Onde a relação entre indivíduos não se configura através da relação entre os grupos segmentários
a que pertencem, mas ao local que eles ocupam dentro do sistema do lobolo. Neste sentido, este
trabalho constitui uma janela sociológica pela qual podemos olhar a realidade moçambicana e
analisar a convivência dos indivíduos dentro da sociedade. Por consequência, fazer um estudo
académico acerca do Lobolo é muito importante na medida que vai ajudar a entender que o
lobolo insere-se em uma questão social de regulamentação, de estabilização e inserção do
indivíduo na sua comunidade e não uma compra de mulher.

3.2. Social

No que se refere a contribuição prática, acreditamos que o estudo será útil, pois vai ajudar a
compreender o valor simbólico atribuído ao lobolo, na medida em que traremos de forma
sistemática as contribuições de todos atores envolvido no processo o que poderá auxiliar a
compreender melhor essa categoria social e desta forma vai ajudar a evitar a pratica do incesto
no seio das famílias, casar em grupos de pertença diferente.

4. Problema e evidências

No bairro da Liberdade, particularmente no quarteirão 13, observamos que os adultos e jovens


quando decidem oficializar socialmente as suas relações afectivas, isto é casar, as suas famílias
não têm aceitado a realização do casamento civil, sendo a união de dois grupos sociais, sem antes
que se realize a cerimónia do lobolo alegando que o Lobolo é a única forma dos homens
transmitirem culturalmente o sangue do pai e por consequência o apelido do pai. Neste sentido, o
lobolo no bairro da Liberdade tem um carácter obrigatório para quem quiser constituir uma
família. Ainda no quarteirão 13, no bairro da Liberdade assistimos e constatamos numa
cerimónia de lobolo de um familiar, isto em 2016. Onde verifiquei que a família do noivo foi
obrigada a levar para casa da noiva um certo dote, em forma de agradecimento por ela ter sido
bem tratada e educada. Foi nesse momento ambas se conheceram e selaram oficialmente a união
conjugal após satisfeito os requisitos exigidos pela família da lobolada. Salientar que para a
obtenção desses requisitos foi necessários que fizessem um pedido na cerimónia de apresentação
que antecede a cerimónia de lobolo. Requisitos necessários para a realização do lobolo: Roupas
para a parte materna da noiva, especialmente para os pais da noiva (fato, sapatos, uma bengala,
um Chapéu. Para a mãe: Mukumi ni vemba, fatinho, um lenço, sapato, bolsa); para as tias da
noiva: capulana, lenço e blusa; tias paternas: uma manta. 5 Litros de vinho, uma garrafa de vinho
branco; uma caixa de refresco, uma caixa de cerveja. Quanto a multa varia de família para
família e a multa é aplicada quando a noiva vai viver com o namorado dando lhe filhos sem o
consenso dos pais.. Diante dessa situação surge-nos a seguinte questão: Qual é a representação
social da pratica do lobolo para a comunidade do quarteirão 13, no bairro da Liberdade?

5. Hipótese

Para a comunidade do quarteirão 13 do bairro da Liberdade, a cerimónia do lobolo representa e


significa além da união entre dois grupos sócias, um elo de ligação entre os vivos e os mortos,
isto é, através do lobolo informa-se ao antepassados que filha esta a sair de casa.

6. Objectivos
6.1. Geral
 Compreender as representações sociais da prática do lobolo para a comunidade do
quarteirão 13, no bairro da Liberdade

6.2. Especifico
 Enfatizar o papel e as lógicas sociais da prática do lobolo para a Comunidade do
quarteirão 13, no Bairro da Liberdade
 Ilustrar o valor simbólico da Cerimonia do Lobolo para a Comunidade do quarteirão 13,
no Bairro da Liberdade
 Descrever a cerimónia do lobolo praticada na Comunidade do quarteirão 13, no bairro da
Liberdade
 Mencionar os factores que influenciam a pratica da cerimonia do lobolo na Comunidade
do quarteirão 13, no Bairro da Liberdade
 Ilustrar o processo de evolução da prática do Lobolo, na Comunidade do quarteirão 13,
no Bairro da Liberdade.
7. Revisão Bibliográfica

Henri Junod, no seu trabalho etnográfico intitulado: Uso e costumes dos Bantu em 1996. Estava
mais preocupado em descrever e explicar as etapas e os procedimentos que acompanham a
cerimónia de lobolo. Nessa ordem de ideias destacou seis momentos, nomeadamente: Os
preparativos, o assalto a aldeia, o pagamento do lobolo, cortejo nupcial, o acto religioso e o cinto
simbólico, respectivamente. No primeiro momento apresenta aquilo que são as tarefas ou deveres
das partes, onde refere que a preparação das bebidas era da responsabilidade da família da noiva,
o noivo tem a responsabilidade de levar uma cabra, cabendo a sua família a função de verificar e
conferir as enxadas e libras esterlinas exigidas para o loblolo. O segundo momento corresponde
ao assalto a aldeia, marcado por injúrias e conflitos entre os dois grupos aliados que culmina em
festa. O terceiro momento prende-se com o pagamento do lobolo que ocorre na aldeia da noiva,
feito com recurso a enxadas que eram depois conferidas por vários membros da família da noiva,
de modo a devolverem caso a mulher fosse devolvida por alguma razão, ou para a aquisição de
mulheres, igualmente, por via do lobolo. O quarto momento corresponde ao cortejo nupcial,
onde ocorre o sacrifício da cabra e na sequência as irmãs do noivo e outras mulheres vão a
procura da noiva nas aldeias vizinhas e a trazem ao palco da cerimónia e depois se retiram
daquele local. A família do homem fica de um lado e a da mulher do outro, trocando-se injúrias
mutuamente, cantando e dançando, como parte integrante da cerimónia. Para este investigador o
lobolo não associa apenas dois aliados mas todo um sistema, o que revela que as alianças não são
apenas uma questão matrimonial, mas também são uma questão de reprodução social. O lobolo
funciona como uma instituição reguladora de conflitos entre grupos aliados, por este facto é
acompanhada de discussões, injurias e combate (JUNOD, 1996: 200)

Análise crítica

Estudo acima supracitado de Henri Junod, intitulado uso e costume acabou trazendo uma outra
dinâmica para o estudo do lobolo. Aqui encontramos associada ao lobolo a componente família
nas suas várias dimensões e a mulher deixa de ser um objecto passivo, passando a ter acção nas
várias etapas do seu lobolo. Porem, vamo-nos distanciar um pouco da linha do pensamento do
Junod, uma vez que a nossa intenção é Compreender as representações sociais do significado da
prática do lobolo para a Comunidade do quarteirão 13, no bairro da Liberdade. Pois não é
suficiente descrever o Lobolo, mas é necessário que se encontre as lógicas sociais da prática do
Lobolo procurando o que representa cada momento da cerimónia do lobolo

8. Referencial teórico

Etnometodologia

A etnometodologia é a pesquisa empírica dos métodos que os indivíduos utilizam para dar
sentido e ao mesmo tempo realizar as suas ações de todos os dias: comunicar-se, tomar decisões,
relaciona. A etnometodologia será, portanto, o estudo dessas atividades cotidianas, quer seja
triviais ou eruditas, considerando que a própria sociologia deve ser considerada como uma
actividade prática. A etnometodologia analisa as crenças e os comportamentos de senso comum
como os constituintes necessários de todo o comportamento socialmente organizado. A
etnometodologia esta assente em conceitos como: Indicialidade, Praticas e realizações,
reflexidade, relatividade e a noção de membro (GARFINKEL, 1967: 29).

Importa também referir que, a cerimónia de lobolo é dirigida em língua local (xi changana) que é
por sinal a língua mais comum ou fluente durante o ritual, isto deve-se ao facto de o xi changana
ser a linguagem do contexto social, o que em etnometodologia equivale à indicialidade, segundo
a qual, a vida social se constitui através da linguagem da vida de todos os dias, sendo que as
expressões indiciais, neste caso xi changana, tiram o seu sentido do próprio contexto social
(Garfinkel, 1967: 74). Ademais, falar xi changana implica domínio da linguagem institucional
comum, que é por sinal um elemento fundamental para que os indivíduos se sintam ou sejam
considerados membros da comunidade, pois, a noção de membro não se refere a pertença social,
mas ao domínio da linguagem natural, atendendo e considerando o contexto social (Garfinkel,
1967: 75). Salientar que para se realizar a cerimónia de lobolo na província de Maputo, em
particular no bairro da liberdade compreende duas etapas fundamentais, que são: vestir a família
da noiva e a comunicação dos antepassados, kuphahla, sem as quais o sucesso do lobolo fica
comprometido. Contudo, estas etapas por si sós não garantem o sucesso do lobolo, pois, é
necessário sobretudo que as famílias, da noiva e do noivo, interajam fortemente uns com os
outros.
8.1. Enquadramento conceptual
8.1.1. Representação social

Representação social compreende um sistema de valores, de noções e de práticas relativas a


objectos sociais, permitindo a estabilização do quadro de vida dos indivíduos e dos grupos,
constituindo um instrumento de orientação da percepção e da elaboração de respostas e
contribuindo para comunicação dos membros de um grupo ou de uma comunidade (Moscovici,
1961: 481)

Representação social é uma modalidade de conhecimento, socialmente elaborado e partilhado,


com um objectivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social (Loforte, 2000: 70)

Em síntese, as representações sociais seriam sistemas de valores, ideias e práticas com uma dupla
função: o estabelecimento de uma ordem que capacita os indivíduos de se orientarem e
dominarem o seu mundo social e a facilitação da comunicação entre membros de uma
comunidade por providenciar aos mesmos um código para nomearem e classificarem os vários
aspectos de seu mundo e suas histórias grupais.

Dos conceitos acima definidos a que nos será útil neste trabalho será o conceito de representação
social segundo Moscovici (1984: 481) Pois através deste conceito de representação social
podemos compreender como é construída a realidade comum a um grupo social.
9. Metodologia
9.1. Espaço da pesquisa

A área espacial de estudo será o quarteirão 13 do bairro da Liberdade, no município da Matola.


Matola é uma cidade moçambicana, capital da província de Maputo, tem limite a noroeste e
norte com o distrito de Moamba, a oeste e sudoeste com o distrito de Boane, sul e a leste com a
Cidade de Maputo (INE, 2017)

A recolha de dados no local acima referido será realizada durante o segundo semestre de 2020.

9.2. Método de abordagem

Para a materialização dos objectivos preconizados, no presente estudo privilegiamos o método


qualitativo. Pois a escolha deste método deve-se ao facto de auxiliar o investigador na
compreensão das percepções e os discursos dos indivíduos no seu contexto social em que estes
estão envolvidos, de modo a analisar os significados subjectivos construindo pelos actores
sociais, neste caso os praticantes do lobolo na Comunidade do quarteirão 13, no bairro da
Liberdade.

No que diz respeito a abordagem, a pesquisa é do tipo hipotético-dedutiva, uma vez que ela parte
de um problema definido pelo pesquisador e que é solucionado através de hipóteses de
investigação. Tais hipóteses são sujeitas à verificação através da pesquisa empírica. Neste caso, a
nossa pesquisa definiu um problema que consiste em compreender as representações sócias do
da prática do lobolo para a Comunidade do quarteirão 13, no bairro da Liberdade e o mesmo é
respondido através de uma hipótese anteriormente levantada e que será sujeita à verificação
através da pesquisa empírica.

9.3. Técnicas de recolha de dados

Para a recolha de dados, privilegiamos as técnicas de observação directa, leituras e as entrevistas


constituído por perguntas abertas, através de guiões previamente elaborada. Pois a escolha destas
técnicas inscrita dentro do método qualitativa vai ajudar nos a estabelecer um contacto directo
com o interlocutor, deixando o mais a vontade para exprimir suas experiencias e suas
percepções. No final, para tratar os dados, aplicar-se-à a Análise de conteúdo que permite
analisar os discursos e mensagens dos entrevistados. Ademais, a análise de dados que utiliza
procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens.

9.4. Universo e amostra

Definimos como o universo, os praticantes e não praticantes do lobolo na comunidade do


quarteirão 13, no bairro da Liberdade. Sendo assim, o tamanho da nossa amostra é composto por
um total de 20 indivíduos: 5 mulheres que tenham sido loboladas, 5 homens que tenham
lobolado as suas mulheres, 8 individuos de abos os sexos que não tenham realizado a cerimonia
do lobolo e 2 régulos. A amostra seleccionada é aleatória simples e o número de indivíduos a
entrevistar foi definido por conveniência ou seja, foi definido tendo em conta os objectivos da
pesquisa e devido ao facto da mesma ser qualitativa. Por questões éticas e para preservar as
identidades dos interlocutores, todos os nomes dos habitantes que seram apresentados nos
extractos de depoimentos serão fictícios,

10.5. Estrutura do projecto

O trabalho estará organizado por três capítulos: no primeiro Capitulo é apresentada uma
contextualização do espaço da pesquisa, neste caso, do bairro da Liberdade.

No segundo capitulo, teremos apresentação e análise dos dados recolhidos através da entrevista e
observação directa procurando os argumentos que são usados para explicar a razão da prática do
lobolo.

No terceiro e último capitulo, queremos analisar e compreender o que representa o lobolo para
os jovens e adultos da Comunidade do quarteirão 13, no bairro da Liberdade. Quais são as
implicações de se fazer ou não esta cerimónia e, ao mesmo tempo, pretendemos perceber como é
que estes jovens tem si comportado perante os factos e quais são os desafios que lhes são
impostos a nível social. Ainda dentro neste capítulo, confrontamos os dados avançados no
projecto com a realidade estudada visando trazer um produto final melhor elaborado. E por fim,
apresentaremos as conclusões que chegamos.
10. Cronograma de actividades

Actividade a Primeiro semestre de 2020


serem
Marco Abril Maio Junho
realizadas
Observação e
escolha do tema
Elaboracao do
projecto
Entrega do
projecto
Recolha de dados
Entrega do
relatorio
11. Referências bibliográficas
 GARFINKEL, Harold: estudos de etnometodologia. 1967

 JUNOD, Henri: Usos e costumes dos bantu-1, Maputo, Arquivo Histórico de

Moçambique, 1996

 LOFORTE, Ana Maria: Género e poder entre os tsongas de Moçambique. Maputo,

Promédia, 2000

 MOSCOVICI, Serge: A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro, Jorge

Zahar Editores, 1961.


Anexo

Guião de observação

Observar:

 O perfil social dos praticantes da Cerimonia de Lobolo na Comunidade do quarteirão 13,


no bairro da Liberdade
 O papel dos praticantes da cerimónia do lobolo
 Objectos que são oferecidos a família da noiva na cerimonia
 A hora habitual que a Cerimonia do lobolo tem sido realizada
Universidade Pedagógica de Maputo

Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas

Curso: Licenciatura em Sociologia

4° Ano-Laboral

Guião de entrevista

O presente questionário destina-se a realização de um estudo sobre: A prática do Lobolo na


Comunidade do quarteirão 13 do bairro da Liberdade, na província de Maputo (2016-2018). As
suas respostas serão confidenciais e utilizados exclusivamente para este fim. Agradecemos
antecipadamente a sua colaboração.

Questionário:

I. Perfil Socio-demográfico

1.Nome

__________________

2.Sexo

__________________

3.Naturalidade

__________________

4.Idade

__________________

5.Estado civil
__________________

6.Nível académico

___________________

II. Representação da pratica de Lobolo

7. O que é lobolo?

8. Porque pratica o lobolo?

9. O que representa o Lobolo?

10. Como é feito o Lobolo?

11. Qual é o papel e o lugar dos tios e avos no Lobolo?

12. Quais são os objectos de troca que a família da noiva exige no lobolo?

13. O que acontece aos que vão ao Lar sem terem feito o Lobolo?

14. Qual é o papel dos pais na cerimonia do lobolo?

15. Fez lobolo como condição para sair da casa dos seus pais e se juntar maritalmente? Se não
porque?

III. Representação da pratica do lobolo para os que ainda não lobolaram

16. Pretendes lobolar ou ser lobolada?

17. O que pensas acerca do lobolo?

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