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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

CADEIRA DE ANTROPOSSOCIOLOGIA EVOLUTIVA 1° Ano 2021

Impacto de ritos de Iniciação na Cultura/tradição Moçambicana

Guerra Verniz Niquicene @isced ac.mz


Beira, Agosto de 2021
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CURSO DE LICENCIATURA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

CADEIRA DE ANTROPOSSOCIOLOGIA EVOLUTIVA 1° Ano 2021

Impacto de ritos de Iniciação na Cultura/tradição Moçambicana

Trabalho bibliográfico a ser submetido


na coordenação do curso de
Licenciatura em ensino de Gestão de
recursos humanos de ISED.

Guerra Verniz Niquicene


Beira, Agosto de 2021
1. Introdução..............................................................................................................4

1. Ritos de iniciação...................................................................................................5

2.1 Ritos de iniciação.......................................................................................................5

2.4 Semelhanças nas mulheres e nos homens..................................................................6

2. Conclusão..............................................................................................................9

Bibliografia....................................................................................................................10
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1. Introdução

Este trabalho será desenvolvido na base do tema de Impacto de ritos de Iniciação na


Cultura/tradição Moçambicana. Importa dar o conceito de Rito que é um conjunto de
cerimónias religiosas diferentemente regulados, segundo as diversas comunhões ou em
diversas sociedades. Ritos de iniciação são cerimónias de carácter tradicional e cultural
praticado nas sociedades africanas que visa preparar o adolescente para encarar a outra fase da
vida, isto é, a fase adulta.
Em Moçambique o rito de iniciação constituía, antes de mais, um ensinamento
progressivo destinado a familiarizar o jovem com as significações do seu próprio corpo
chegado à maturidade e com a significação que ela deveria dar ao universo que a envolvia."
Assim, a iniciação era a prova social da identidade do homem adulto, pronto para ser produtor,
caçador, guerreiro, marido e pai. Por essa razão, "os ritos de iniciação eram indispensáveis ao
normal funcionamento da sociedade de Moçambicana, por isso podem entender-se como
cursos de educação cívica, cujo ensino tinha como objectivo a aprendizagem das normas que
regulam a vida social. Nesta ritualidade, entendida como um processo formativo, apareciam
momentos que eram de transmissão de saber, de conhecimento tecnológico e que era um
primeiro momento de vivência da estratificação social.
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1. Ritos de iniciação

Rito é um conjunto de cerimónias religiosas diferentemente regulados, segundo as


diversas comunhões ou em diversas sociedades. Ritos de iniciação são cerimónias de carácter
tradicional e cultural praticado nas sociedades africanas que visa preparar o adolescente para
encarar a outra fase da vida, isto é, a fase adulta. Visam essencialmente a integração pessoal,
social e cultural do indivíduo, permite ao indivíduo reunir múltiplas influências do seu meio
para em seguida integrá-la na sua maneira de pensar, de agir e de si comportar, o indivíduo
participa activamente nas actividades e na vida do grupo que pertence.
Na sociedade moçambicana, os ritos de iniciação não se manifestam de maneira
homogénica. Eles variam de província para província, de região para região, de religião para
religião, e de sexo para sexo. O objectivo destas cerimónias é de preparar os rapazes e as
raparigas para a vida matrimonial e social e com o rito de iniciação os rapazes e as raparigas
têm o acesso a participação e ao conhecimento de certos mistérios (Peirano,1987).Rito é um
conjunto de cerimónias religiosas diferentemente regulados, segundo as diversas comunhões
ou em diversas sociedades.

2.1 Ritos de iniciação

Os ritos de iniciação nas zonas rurais , são determinados por cerimónias especiais que
determinam a aceitação na sociedade rural. Estes ritos são estruturados por um simbolismo
forte por todo o mundo rural , que fornece imediatamente a sua legitimidade . Em várias partes
de Moçambique ( províncias , distritos e localidades ) existem cerimónias que são muito
semelhantes em vários locais, mas com procedimentos distintos variando as suas culturas
locais. Temos no mundo rural cerimónias completamente diferentes e interessantes no seu
contexto cultural e até em algumas localidades podemos encontrar cerimónias secretas, longe
do olhar de estranhos (Helena, 2000).
Na sociedade moçambicana, os ritos de iniciação não se manifestam de maneira
homogénica. Eles variam de província para província, de região para região, de religião para
religião, e de sexo para sexo. O objectivo destas cerimónias é de preparar os rapazes e as
raparigas para a vida matrimonial e social e com o rito de iniciação os rapazes e as raparigas
têm o acesso a participação e ao conhecimento de certos mistérios (Dinis, 2003). Cada
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sociedade tem a sua forma de realizar os rituais, de acordo com a sua cultura. Em
comunidades onde há caça, guerras, ou atividades que requeiram força e coragem, os rituais
são mais doloridos e violentos, e o iniciando pode até desmaiar durante a cerimônia. Durante o
rito, é o momento onde será mostrada a capacidade da pessoa para se tornar adulto, suas
habilidades, força e coragem. Para alguns, a partir desses ritos, é como se a criança morresse
ali e o adulto fosse outra pessoa. Em sociedades onde predominam atividades como
agricultura, os ritos são menos dolorosos (Moore, 2004).
Informar sobre um rito de iniciação simboliza a aceitação do indivíduo como parte
daquela sociedade, significa que ele aceita as regras, normas, religião e costumes daquele
povo. Nas sociedades modernas os ritos de passagem existem, mas não têm a mesma
importância social do que em sociedades. De modo geral os ritos tem como base os seguinte
procedimentos: A primeira cerimónia está ligada ao nascimento, onde é enterrado o cordão
umbilical , momento em que os pais apresentam a criança.
Ritos de iniciação são cerimónias de carácter tradicional e cultural praticado nas
sociedades africanas que visa preparar o adolescente para encarar a outra fase da vida, isto é, a
fase adulta. Visam essencialmente a integração pessoal, social e cultural do indivíduo, permite
ao indivíduo reunir múltiplas influências do seu meio para em seguida integrá-la na sua
maneira de pensar, de agir e de si comportar, o indivíduo participa activamente nas actividades
e na vida do grupo que pertence (Santos, 191977).

2.4 Semelhanças nas mulheres e nos homens

Em primeiro lugar, que os direitos culturais devem ser respeitados e protegidos, e, em


segundo lugar, devem ser vistos em articulação com os direitos universais que são uma
conquista de toda a humanidade. Todos os direitos culturais que contenham em si
discriminação subordinam-se aos direitos que consagram a igualdade entre todas as pessoas.
E neste diálogo entre direitos universais e direitos culturais, que é um diálogo tenso e
não fácil, devemos compreender que as diferenças que algumas culturas estabelecem, por
exemplo, entre pessoas de sexo diferente, e que são geracionalmente transmitidas, são
geradoras de desigualdade. A cultura fornece uma ideia de imutabilidade, naturalizando (na
medida que se tomam como verdade inquestionável) essas mesmas diferenças (Eduardo,
2002).
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As formações culturais organizam os espaços e os papéis e as funções sociais que cada


um deve aplicar na sociedade. Sendo assim, a cultura é importante para a edificação das
identidades sociais. Isto é, numa determinada cultura as pessoas aprendem a reconhecer-se e a
reconhecerem os outros em termos de partilha de representações e práticas, desde a forma
como se cumprimentam, como mostram hospitalidade, como partilham uma refeição e, para ir
mais a fundo, como pensam acerca da vida, do amor e da amizade (Stephan, 2000).
Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas centro e norte de
Moçambique. Portanto, é comum afirmar-se que são constituintes dos direitos culturais, que
são uma das importantes dimensões dos direitos humanos.
As raparigas (muitas vezes apenas com 11 e 12 anos) por intermédio de canções, da
manipulação de objectos (com a forma do sexo masculino) e do mimetismo da relação sexual,
sabem que o seu destino e a sua vida são condicionados pela vontade masculina. Ele é o chefe
da família e ele é principalmente visto como o seu “dono” e seu patrão. Os ritos de iniciação
são também muito violentos para os rapazes, em que com castigos inomináveis eles aprendem
a ser dominadores, aprendem que depois de iniciados devem começar a preparar-se para serem
homens e para proverem uma família. Para as raparigas os ritos de iniciação autorizam os pais
a “casarem-nas” prematuramente. Com muita frequência este “casamento” foi combinado com
anos de antecedência, sendo a sua realização determinada pelo aparecimento da primeira
menarca e pela realização dos ritos.
As consequências são normalmente o abandono da escola, a gravidez precoce e o
surgimento de doenças e de lesões graves, como a fístula obstétrica. A sexualidade é assim
vivida de forma violenta, fazendo parte do vasto conjunto de deveres que a mulher tem que
cumprir. Nos ritos as jovens aprendem a subordinar-se, seja pela instrução em estratégias de
apaziguamento do homem, seja através da relação sexual e da aplicação das técnicas
aprendidas, seja através da paciência e da tolerância nos casos em que, mesmo ignorando as
razões da zanga masculina, devem “aceitar”.
Os discursos das raparigas e rapazes sintetizam bem como a sexualidade é transmitida
e vivida num contexto de troca por bens, num processo sem afectividade ou com uma lógica
de afectividade mediada por uma representação do sexo feminino como bem material.
Assim, os ritos de iniciação no contexto actual são configuradores de identidades
sexuais submissas e esse poder aparente da mulher conferido pelo conhecimento do seu sexo e
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do outro na realidade é uma manifestação de brutal submissão. Tudo isto que acabámos de
referir pode-nos transmitir uma ideia de impotência face à realidade actual.
O sentido que é conferido ao respeito está, assim, intimamente relacionado com a
desigualdade entre mulheres e homens. Isto é, ao distinguir o conteúdo da aprendizagem sobre
o respeito que é ensinado aos rapazes e raparigas, estamos desde logo a afirmar e a transmitir
uma concepção que evidencia uma estrutura de poder. Por exemplo, a forma de olhar, a
obediência ao marido, são sinais que mostram que as mulheres e homens têm direitos e
deveres diferenciados (Joao, 1983).
O incumprimento do que é tomado como respeito é apresentado como argumento para
a violência doméstica, porque significa transgressão à aprendizagem ritual. Contudo, esta
complacência com a violência doméstica (embora alguns e algumas a rejeitem) não significa
que não conheçam os direitos e a lei contra a violência doméstica. Trata-se antes da
conformação a um modelo cultural que produz a aceitação da discriminação e da
desigualdade, naturalizando-as. Esta forma de pensar e viver o respeito, está bem manifesta na
aprendizagem da sexualidade.
Desde que entram nos ritos os rapazes aprendem como controlar o corpo da mulher, o
corpo que trabalha, que se deve reproduzir e que deve constituir uma fonte de prazer sexual
para os homens. Nos ritos de iniciação masculina são realizadas práticas que exercitam a
sexualidade e potenciam a virilidade através do uso de plantas como o gonandzlolo e kisangongo,
que prolongam a relação sexual e que permitem realizá-la muitas vezes. As palavras “malhar”,
“furar” e “meter”, constantemente referidas pelos rapazes quando falam de sexualidade,
representam o exercício do poder masculino que em nenhum momento pode ser questionado
ou negado. Em circunstância algumas as mulheres podem rejeitar a relação sexual ou
manifestar desejos que impliquem a mudança do comportamento sexual do homem.
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2. Conclusão

Conclui-se pois que o impacto de ritos de Iniciação na Cultura/tradição Moçambicana têm


efeitos no sentido que as jovens e os jovens conferem aos ritos. Refiro-me aos conflitos entre a
aprendizagem nos ritos e na escola. Se há 40 ou 50 anos era ínfimo o número de crianças que
iam à escola, hoje o acesso à escola é universal, principalmente nas primeiras classes. Devido
à aprendizagem realizada na escola, que põe em causa muitos dos mitos transmitidos nos
rituais de iniciação a que se junta os discursos dos direitos humanos e a possibilidade de
acesso de rapazes e raparigas a outras fontes de informação (que os remetem para novas
relações sociais), constata-se a existência de abalos e algumas rupturas no modelo tradicional.
Estes têm como resultado a colocação de crianças cada vez mais cedo nos ritos, e
também a resistência das crianças mais velhas de participarem nos ritos e de casarem
prematuramente. A cultura é produção e construção de um povo, na sua relação com o mundo
da natureza e da sociedade, e se torna visível através de produtos artísticos e culturais, hábitos,
costumes e práticas presentes nas relações que a sociedade esta inserido. Assim, os ritos de
iniciação no contexto actual são configuradores de identidades sexuais submissas e esse poder
aparente da mulher conferido pelo conhecimento do seu sexo e do outro na realidade é uma
manifestação de brutal submissão. Por outro há mudanças que têm efeitos no sentido que as
jovens e os jovens conferem aos ritos (Mariza, 2012).
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Bibliografia

Andràs Zempléni, Iniciação, in: Bonte-izard, Dictionnaire de l’ethnologie et de anthropologie,


Paris: Quadrige/Presses Universitaires de France, 2000.
Claude Lévi-Strauss, L’homme nu. Mythologiques, Paris: Plon, 1971, p. 603.
Claude RIVIÈRE, Os ritos profanos, Petrópolis: Vozes, 1997.
Mariza PEIRANO, Rituais ontem e hoje, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003
HELLERN, H. O livro das religiões, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Gennep, Arnold VAN Os ritos de passagem Petrópolis: Vozes, 1978
Moore, Sally Barbara Myerhoff, Secular Ritual, ed. Van Gorcum, Assen/Amsterdam, 1977.

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