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Universidade Rovuma
Nampula
2022
Edson Lúcio Estévão Mussoma
Universidade Rovuma
Nampula
2022
Índice
Introdução..............................................................................................................................................4
1. Ritos de iniciação...........................................................................................................................5
1.1. Importância dos ritos de iniciação..........................................................................................6
2. Mutilação genital feminina (MGF).................................................................................................6
2.1. Objectivos da mutilação genital feminina...............................................................................7
Conclusão...............................................................................................................................................8
Bibliografia............................................................................................................................................9
Introdução
Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas centro e norte de
Moçambique. Portanto, é comum afirmar-se que são constituintes dos direitos culturais, que
são uma das importantes dimensões dos direitos humanos.
O presente trabalho tem como principal os ritos de iniciação e a mutilação genital feminina,
onde vai se abordar sobre os conceitos, as características, a sua importância na sociedade, as
regiões onde se praticam essas culturas entre outros aspectos muito importante.
Quando estudamos os ritos de iniciação constatámos que pelo que ensinam e pelo modo como
são transmitidas as aprendizagens, as crianças do sexo feminino e do sexo masculino
aprendem a distinguirem-se e a adoptar práticas que lhes condicionam o acesso a direitos. Ou
seja, os ritos de iniciação têm uma primeira função que é de formar identidades, de nos dizer o
que está certo e errado no nosso comportamento. Neste sentido, os ritos são apresentados
como verdades que não podemos questionar sob pena de estarmos a violar “a nossa cultura”.
De salientar que para a materialização deste trabalho, foi necessário usar a revisão da
literatura e que todas as referências usadas, foram incluídas no fim do trabalho.
1. Ritos de iniciação
Segundo SILVA (2000) ritos de iniciação são rituais que celebram a passagem de um
indivíduo para a maturidade jurídica, para a fraternidade ou sociedade reservada.
Para MEDEIROS (2005:16) os ritos de iniciação são uma fase que acompanham a passagem
de um indivíduo de um estado social para o outro no decorrer da sua vida e, estes ritos fazem
parte da cultura do povo moçambicano e, é o principal veículo de transmissão de valores
morais, cívicos e culturais para cada nova geração.
Os ritos de iniciação são também muito violentos para os rapazes, em que com castigos
inomináveis eles aprendem a ser dominadores, aprendem que depois de iniciados devem
começar a preparar-se para serem homens e para proverem uma família. Para as raparigas os
ritos de iniciação autorizam os pais a “casarem-nas” prematuramente. Com muita frequência
este “casamento” foi combinado com anos de antecedência, sendo a sua realização
determinada pelo aparecimento da primeira menarca e pela realização dos ritos.
O autor BRAÇO (2008:68), ainda firma que desde que entram nos ritos os rapazes aprendem
como controlar o corpo da mulher, o corpo que trabalha, que se deve reproduzir e que deve
constituir uma fonte de prazer sexual para os homens. Nos ritos de iniciação masculina são
realizadas práticas que exercitam a sexualidade e potenciam a virilidade através do uso de
plantas, que prolongam a relação sexual e que permitem realizá-la muitas vezes. As palavras
“malhar”, “furar” e “meter”, constantemente referidas pelos rapazes quando falam de
sexualidade, representam o exercício do poder masculino que em nenhum momento pode ser
questionado ou negado.
A duração dos ritos varia com o grupo etnolinguístico e com o estatuto social das famílias. O
que observamos é que, de forma geral, os ritos dos rapazes são, mesmo nas capitais
provinciais, mais longos, cerca de um mês, e mais breves os das raparigas, muitas vezes
apenas entre três a sete dias, mas também encontrámos ritos femininos com a duração de um
mês. A explicação para o encurtamento dos ritos é que as famílias não têm dinheiro e
matronas e mestres e outros agentes exigem valores altíssimos para fazer as cerimónias, o que
indicia uma certa mercantilização dos mesmos.
ALFANE (1996) enfatiza a importância dos ritos de iniciação afirmando que também
“representam uma instituição de ensino reconhecida e respeitada pelas comunidades
moçambicanas, porque complementam a educação familiar, reforçam os aspectos culturais, e
por sua complexidade e regras são ensinadas por pessoas especializadas”.
Segundo PINTO (2017) os ritos de iniciação praticados pelos macuas conferem às jovens
iniciadas estatuto de adultez, independentemente da idade em que estas jovens são iniciadas.
Por outro lado, Osório e Macuácua (2013) afirmam que há um receio de que os conteúdos dos
programas de educação escolar possam de alguma forma esvaziar os ensinamentos dos ritos.
De acordo com REYNERS (2004:89). “Mutilação Genital Feminina é uma prática ancestral
com uma incidência especial em algumas regiões de África e da Ásia, com registos também
na América Central e do Sul, bem como entre as comunidades imigrantes provenientes de
países onde a MGF é uma prática reconhecida”. É erradamente confundida com preceitos
religiosos, mais frequentemente com o islamismo, mas é uma prática realizada por católicos,
judeus, muçulmanos e animistas. A idade em que o procedimento é realizado varia de acordo
com o país e a comunidade, e pode ocorrer desde o nascimento à primeira gravidez, sendo
mais comum entre os 4 e os 14 anos. Esta prática, realizada em meninas, raparigas e
mulheres, pode ter lugar logo após o nascimento até à maioridade e mesmo durante a idade
adulta. Considerada, em determinados contextos, um pré-requisito para o casamento, a
MGF/C consiste numa clara violação dos direitos humanos, das meninas e mulheres, com
sequelas que as acompanham ao longo das suas vidas (Reyners, 2004).
É importante enfatizar que a MGF/C não é realizada por razões religiosas, não constando dos
livros sagrados (Bíblia, Tora e Corão), apesar de, frequentemente, ser erradamente associada a
crenças religiosas. A MGF/C está identificada em comunidades cristãs, muçulmanas,
judaicas, animistas e ateístas (Reyners, 2004).
O autor considera que a Mutilação Genital Feminina é uma pré-condição para se tornar
mulher; além disso, representa uma forma de controlar a sexualidade das mulheres. Na
verdade, a MGF desempenha um papel no desejo de um homem por uma mulher como
esposa; há contextos em que a MGF dentro do casamento é encarada como essencial para a
mulher ser respeitável, com uma família respeitável; pode até ser um requisito para garantir
que uma mulher receba sustento e segurança.
O autor PINTO (2017:56), acredita que praticar a MGF geralmente não é uma escolha
individual: as decisões relativas à MGF não envolvem apenas o núcleo familiar, a
mãe/pai/filhos/as, envolve toda a família alargada. A opinião da mãe não conta
necessariamente mais do que a opinião da avó ou da tia da rapariga (as mulheres e os homens
migrantes continuam, por vezes, a seguir estruturas familiares tradicionais e são
influenciados/as pelas comunidades nos seus países de origem).
Conclusão
Os ritos, sejam de passagem de idade, sejam de nascimento, matrimónio ou morte, têm sido
estudados enquanto objecto autónomo pelas disciplinas que constituem as ciências sociais,
sobretudo desde as últimas décadas do século passado, quando, principalmente a antropologia
e a sociologia sobrelevam a importância da contextualização cultural e a sua relação com as
esferas de ordem política, económica e social.
Já a Mutilação Genital Feminina é considerada, por quem a pratica ou por quem pertença a
comunidades que a praticam, como uma norma social, uma regra obrigatória (ao mesmo nível
que as leis do país e/ou as leis religiosas, se não ainda mais imperativa).
Bibliografia