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Curaisse Marquita Chaule

Variação e mudança lexical e semântica do português


Comparação entre PM e o PE
(Licenciatura em Ensino de português)

Universidade Rovuma
Nampula
2021
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Curaisse Marquita Chaule

Variação e mudança lexical e semântica do português

Trabalho a ser submetido no Departamento de


Letras e Ciências Socias, em cumprimento
parcial da disciplina: Morfossintaxe e
Lexicologia do Português.

Docente: Izidro Chongola, M.A.

Universidade Rovuma
Nampula
2021
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índice
Introdução...................................................................................................................................4
Variação e mudança lexical e semântica do português...............................................................5
Variação lexical..........................................................................................................................5
Mudanças semânticas lexicais do português...............................................................................6
Mudança lexical..........................................................................................................................6
Perda de palavras:....................................................................................................................7
Mudança semântica.....................................................................................................................7
Ampliação...............................................................................................................................7
Restrição..................................................................................................................................7
Alteração.................................................................................................................................7
Comparação entre o português moçambicano e europeu a nível do léxico e semântica............7
O Léxico......................................................................................................................................7
Semântica....................................................................................................................................8
Conclusão....................................................................................................................................9
Bibliografia...............................................................................................................................10
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Introdução
A língua portuguesa no mundo vem ganhando seu espaço como resultado do desenvolvimento
dos meios de comunicação de massa, da tecnologia e de políticas linguísticas. Moçambique é
um país multilíngue onde as mais de vinte línguas bantu convivem com línguas europeias e
asiáticas. Esta convivência linguística cria neologismos e interferências, fato que concorre
para a variação e a mudança em todas áreas: fonético-fonológica, morfológica, sintática,
lexical, semântica, pragmática, etc. variação linguística que é originada pelas variáveis
sociais. Dentro deste cenário propôs-se a presente pesquisa que aborda “A variação e
mudança lexical da língua portuguesa em Moçambique”. A pesquisa tem como objetivos
estudar e analisar a situação do português de Moçambique sobretudo a nível lexical e explicar
os processos da integração na língua. O tema é relevante porque infelizmente, ainda se acha
que em Moçambique se fala/escreve português europeu e que a norma-padrão deve ser
forçosamente a europeia.
O trabalho obedecera a seguinte organização: i. introdução, ii. Desenvolvimento, iii.
Conclusão e iv. a respetiva bibliografia.
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Variação e mudança lexical e semântica do português

 Variação lexical
Para um único referente podem existir várias palavras. Por exemplo: as palavras candonga
(na Guiné-Bissau e Angola), chapa-100 (em Moçambique), van (no Brasil), tocatoca (na
Guiné-Bissau), busão (no Brasil) referem-se ao nome do transporte de passageiros.
No futebol moçambicano, os termos trave, gandula, bandeirinha, grama e escanteio são
designados baliza, panha-bolas, fiscal de linha, relva e canto respetivamente (TIMBANE,
2013).
Por outro lado, uma unidade lexical pode ter vários significados. Por exemplo: O jogo de
brincadeira das crianças “neca”, no PM refere-se a “amarelinha” no PB. Estas variações
lexicais são causadas por razões culturais, sociais e geográficas. As crianças brincam do
mesmo jeito, as regras são iguais e o que muda é simplesmente o nome. Mas também há
variação lexical na fala de jovens e dultos. Os jovens tendem a criar um léxico específico
Exemplos:
a) “E aí malta, tá-se bem?” (E aí colegas, estão bem?)
b) “oi pessoal, mbora-lá tchilar para não nholar!” (Amigos, vamos divertir para não ficarmos
isolados)
c) “Tcheca-lá antes de bazarmos. Esse gai-gai pode tchunar as cenas e ficarmos a mbunhar!”
(Veja isso antes de irmos. Esse flanelinha pode roubar as coisas e ficarmos sem nada)
Dependendo de variáveis sociais a língua pode variar. A fala dos jovens, por exemplo têm se
diferenciado em relação à dos adultos. As frases (a) e (b) ilustram a criatividade lexical,
morfológica e sintática desta faixa etária. É na fala/escrita dos jovens que se pode ouvir
unidades lexicais do tipo: freestyle, flow, tá, sebem, naice, fixe entre muitas outras unidades
lexicais. Demos exemplos de unidades lexicais vindas do inglês, mas existem outras que
provêm das mais diversas LB faladas em todo território. Isso não só acontece com o PM,
mas também com PE, PA e PB. BERLINCK (2012:8-15), por exemplo, mostra as
particularidades do PB nas variações sintáticas e morfológicas.

 Variação semântica
De acordo com GONÇALVES, (2005:32), “sabendo que a semântica é o estudo do sentido
das palavras, a variação semântica seria o estudo as diferenças dos sentidos das palavras. Um
mesmo referente pode ter várias palavras e uma palavra pode ter vários significados.
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A semântica é o estudo do significado de palavras e da interpretação de frases. O significado


pode variar segundo variáveis: linguísticas, geográficas e sociais. Por exemplo, uma única
palavra pode ter significados diferentes em duas comunidades linguísticas. Por exemplo, as
unidades lexicais chapa e camisola têm significados diferentes dependendo do lugar
geográfico. A unidade lexical chapa,39 para além dos significados conhecidos na LP
significa “transporte semi-coletivo de passageiros.” A palavra camisola, no PB significa
“vestimenta feminino usada para dormir” enquanto que no PM, camisola é “vestimenta de
malha de lã ou algodão com mangas compridas que é usada para se proteger do frio.” No PM
há transferência de valores semânticos das LB para o português. Exemplo: o carro dormiu
fora (PM) vs O carro ficou fora (PB). Neste exemplo observa-se que no PM, o verbo dormir
que devia ser atribuído a seres animados foi usado para o ser inanimado (carro). O mesmo
verbo poderia ser usado para
outros objetos: machado, panela, carrinho de mão, etc. Conclui-se aqui que o valor semântico
deste verbo se desdobrou, desviando-se do que a norma-padrão europeia preconiza. Em outras
palavras, no PM, para além de dormir [+ animal] também é usado para seres inanimados,
estendendo assim o valor semântico.

Mudanças semânticas lexicais do português

 Mudança lexical
De acordo com FROMKIN, et al, (1993:315), saber de uma língua implica quais as palavras e
os morfemas que dela fazem parte e isso implicar saber ‘seu significado’. Estas unidades
básicas de significado constituem o vocabulário, seu léxico, que por sua vez parte da
pragmática. Mudanças do léxico podem incluir a adição de novas palavras, mudança de
significado das palavras ou perda de palavras”.

 Empréstimo

FROMKIN, et al, (1993:317), diz que o empréstimo como um processo utilizado por uma
língua ou dialecto para incorporar qualquer elemento linguístico pertencente a outra língua ou
dialecto. A maior parte das línguas não segue o conselho de polónio no que diz respeito às
palavras. O empréstimo é uma fonte importante de mudança na língua e a importação de
termos de outras línguas é uma fonte significativa de novas palavras. A maior parte de
línguas, importa palavras de outras línguas e todo p léxico, pode dividir-se em palavras
nativas e não-nativas (normalmente determinado empréstimo). Uma palavra nativa é uma cuja
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a história ou etimologia pode ser reconstituída até à faze mais remota que conhecemos da
língua.

Por exemplo, a palavra nativa do Inglês menu foi directamente tomada do empréstimo do
português.

 Perda de palavras: Uma língua pode perder palavras, embora a perda de uma palavra
nunca seja tão importante como aquisição de uma. A chegada de uma nova palavra
desperta sempre atenção, mas uma palavra perde-se por um acto de desatenção, isto é,
ninguém pensa nela e a palavra desaparece na língua.

 Mudança semântica
É vulgar um elemento lexical mudar de significado criando assim uma outra forma de
mudança na língua. O seu significado pode ampliar-se, restringindo-se ou alterar-se. Há três
formas de um elemento lexical mudar semanticamente, a saber:”

 Ampliação
Ocorre quando uma palavra tem seu significado expandido de algo específico para algo
amplo. Por exemplo, a palavra ‘embarcar’ em sua origem, designava a acção de entrar no
barco. Contudo com o passar do tempo, ela sofreu uma alteração semântica e passou a
significar ‘a entrada em qualquer veículo’.

 Restrição
Quando uma palavra polissémica passa a ser maioritariamente utilizada para indicar um
sentido específico. Por exemplo, a palavra ‘carta’ no latim significa qualquer tipo de escritos
e livros. Actualmente ela representa apenas uma correspondência.

 Alteração
Quando um elemento lexical pode sofrer uma mudança do seu significado. Por exemplo, a
palavra ‘ministro’ significava aquele que serve (escravo), actualmente o significado alterou e
designa à um chefe da delegação de um país.
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Comparação entre o português moçambicano e europeu a nível do léxico e semântica

 O Léxico
GONÇALVES, (2010:27), “a área do léxico inclui os seguintes subtipos de erros:
neologismo de forma: que refere as palavras não registadas em dicionários do português
europeu. Neologismo semântico: onde estão palavras existentes no português Europeu, às
quais atribuindo um novo sentido.

 PM: vislumbrei no firmamento nuvens escuras passageiras as quais apelei socorro.


(PE: pedi socorro).
 PM: não consegui explicar o seu filho o que é certo ou errado. (PE: ao seu filho).
 Prefixo in-: PM – incomunicação (PE: falta de comunicação);
 Sufixo -mente: PM: - obstantemente (PE: obstante);
 Sufixo -eiro PM: - chapeiro (PE: condutor de chapa).

À excepção da palavra chapeiro – formada com base no neologismo do PM, chapa com larga
difusão na comunidade moçambicana. As restantes palavras não podem ser consideradas parte
do acervo lexical do PM.

 Semântica
De acordo com GONSALVES (2010) Os neologismos semânticos incluem casos já realmente
consagrados na comunidade de falantes do PM (a), e outos parecem resultar da criatividade
dos informantes (b), e além disso, aprece haver desconhecimento do significado das palavras
ou contexto da usa utilização (c).

 a. PM: o namorado negou assumir. (PE: recusou);


b. PM: o resultado é tirar a grávida porque não está preparada. (PE: abortar);
c. PM: são raras as famílias que conseguem passar três refeições por dia. (PE: fazer).
 a. PM: a mulher cai na tentação e perde a castidade. (PE: virgindade).
b. PM: … para além da tenra idade que ostentava. (PE: tinha).
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Conclusão
O PM age com base nas regras do PE e por vezes por regras próprias. A criatividade lexical
por meio de empréstimos e estrangeirismos vai continuar a ocorrer no PM, pois isso resulta
dos contextos sociolinguísticos que incluem situações e fatores diversos: (a) contato entre as
LB e o inglês com o português; (b) expansão dos meios de comunicação; (c) o
desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação e de informação; (d) deslocação da
população do campo para cidade e crescimento populacional das cidades; (e) valorização da
tradição e da cultura moçambicana; (f) redução da taxa de analfabetismo.
Os falantes do português de Moçambique, na comunicação oral cotidiana não criam
neologismos da matriz interna. Preferem buscar neologismos da matriz externa, isto é,
estrangeirismos e empréstimos para completar lacunas que possam surgir ou mesmo para
satisfazer as necessidades comunicativas. Não custaria, por exemplo, criar as palavras
“quintal universitário”, “inscrefa”, “fotocarro”, “mameiro” para se referir à campus, internet,
radar, soutien respetivamente. Mas os falantes do português preferiram emprestar do latim,
do
inglês e do francês, talvez pelo prestígio que estas línguas têm. Unidades lexicais novas tais
como txiling (curtição), mampara (idiota), xiconhoquices (malandrices), guadjisador (aquele
que vasculha para roubar; arrastão, no PB) continuarão a existir no PM. Por isso o estudo da
variação e mudança do PM é de extrema importância não só para os moçambicanos, mas
também para a CPLP, pois acreditamos que a variação deve ser encarada sem preconceito,
como um recurso que todas línguas naturais usam.
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Bibliografia
FROMKIN, V. et al. Introdução à linguagem. Almedina editores, Coimbra, 1993.

GONÇALVES, P. O português escrito por estudantes universitários. Texto editores, 1ª


edição, Maputo, 2010.

TIMBANE, A. A. A problemática do ensino da língua portuguesa na 1ª classe num


contexto sociolinguístico urbano: o caso da cidade de Maputo. Dissertação. (Mestrado em
Linguística) - Faculdade de Letras e Literatura, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo,
2013.

BERLINCK, R.A. A norma-padrão europeia e a mudança linguística na escola


moçambicana. In: Revista Gragoatá. Niterói. nº 32, 1º sem. 2012.

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