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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Plano Estratégico de Educação


1999-2003
“Combater a Exclusão, Renovar a Escola”

MAPUTO, OUTUBRO 1998


PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

II. ANTECEDENTES E CONTEXTO DO PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO .................... 2


A. Estabilização, Crescimento e Apoio aos Sectores Sociais ........................................ 2
1. Política Fiscal e Despesas Sociais...................................................................... 3
2. Estabilidade Macro-económica e Crescimento económico ................................. 4
B. Desenvolvimento Económico e Redução da Pobreza ............................................... 6
C. Quadro político da Educação .................................................................................. 7

III. PROBLEMAS ACTUAIS DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE ........................................... 9


A. Acesso limitado....................................................................................................... 9
B. Qualidade de ensino .............................................................................................. 10
C. Custos e sustentabilidade ...................................................................................... 11

IV. O MOMENTO DE MUDANÇA ................................................................................... 12


A. Crescimento económico renovado ......................................................................... 12
B. Alívio da dívida no contexto da iniciativa HIPC..................................................... 12
C. Consolidação da democracia ................................................................................. 13
D. Compromisso do Governo em relação à educação ................................................. 13
E. Iniciativa Especial das NU para África................................................................... 14

V. OPÇÕES POLÍTICAS ............................................................................................ 14


A. Expansão do acesso à educação ............................................................................ 14
1. Acesso universal à escola primária .................................................................. 15
2. Aumento do acesso das raparigas e das mulheres ............................................ 16
3. Eficiência interna melhorada ........................................................................... 17
4. Escolas primárias completas ........................................................................... 17
5. Construções a baixo custo .............................................................................. 18
6. Encorajamento de fornecedores alternativos ................................................... 18
7. Formação inicial e em serviço de professores .................................................. 19
8. Incentivos para os professores ........................................................................ 20
9. Ensino à distância e tecnologias alternativas .................................................... 21
B. Melhorias na qualidade da educação ...................................................................... 22
1. Rever e reformular o curriculum ..................................................................... 22
2. Providenciar formação para os professores ..................................................... 22

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“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

3. Melhorar as qualificações e a formação dos directores de escolas .................... 23


4. Melhorar o acompanhamento e avaliação ........................................................ 24
5. Assegurar que todas as crianças tenham material básico escolar ...................... 24
C. Sustentando a expansão e a melhoria ..................................................................... 24
1. Descentralização, desenvolvimento estrutural e capacitação institucional ........ 25
2. Capacidade de financiamento e partilha de custos ........................................... 26
3. Informação pública e debate ........................................................................... 26

VI. CENÁRIOS DE IMPLEMENTAÇÃO ........................................................................... 27


A. O processo de implementação ............................................................................... 27
B. Financiamento da implementação .......................................................................... 29

VII. RISCOS .............................................................................................................. 32


A. A expansão é insustentável .................................................................................... 32
B. A expansão conduz à degradação da qualidade...................................................... 33
C. A descentralização sufoca os gestores a nível local ................................................ 33
D. A descentralização exacerba as desigualdades ....................................................... 33
E. Falta o engajamento por parte dos grupos de interesse e outros parceiros .............. 34

VIII. PRIORIDADES ESTRATÉGICAS............................................................................... 34


A. Educação pré-escolar ............................................................................................ 35
B. Ensino primário..................................................................................................... 35
C. Educação especial ................................................................................................. 36
D. Educação não-formal e educação de adultos ......................................................... 37
E. Ensino Técnico ..................................................................................................... 39
F. Ensino Secundário ................................................................................................ 40
G. Ensino Superior .................................................................................................... 41

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I. INTRODUÇÃO

O Plano Estratégico de Educação é produto de um processo de consulta extenso


e contínuo. O mesmo tem como base a visão do Governo sobre o futuro do
sistema educativo moçambicano e identifica as principais linhas de acção que o
Governo vai perseguir a curto e médio prazos, para materializar essa visão. O
Plano define as prioridades do Governo para o sector da educação e oferece um
quadro de decisão sobre a alocação dos recursos internos e da ajuda externa.

O Plano Estratégico de Educação baseia-se na visão dum sistema educativo que


melhor responda às necessidades e expectativas dos cidadãos moçambicanos e
procura ser consistente com as exigências da economia moçambicana. Os valores
centrais em que se baseia esta visão são a inclusão e a participação. A primeira
prioridade do Governo é aumentar o acesso às oportunidades educativas em
todos os níveis do sistema educativo. A meta central consiste numa rápida
progressão rumo à escolarização primária universal, com particular ênfase no
aumento dos ingressos das raparigas. A realização desta meta vai exigir a
participação de todos os moçambicanos - pais, comunidades, empregadores,
ONG’s, confissões religiosas - e dos parceiros internacionais do Governo. No
futuro, o sistema educativo moçambicano irá compreender uma gama variada de
instituições - públicas e privadas, formais e não-formais - apoiadas por
contribuições de e geridas em colaboração com os grupos de interesse. Isto
implica uma nova visão do papel do Ministério da Educação e o alargamento
significativo do papel dos outros actores, na medida em que estes passam a
assumir maiores responsabilidades dentro do sistema.

O Plano Estratégico de Educação representa, também, a resposta do Governo às


pressões e oportunidades que uma economia global cada vez mais integrada e
competitiva coloca ao país. O contexto imediato destes desafios para
Moçambique é a rápida integração económica na África Austral, sob os auspícios
da SADC. A melhoria da qualidade da educação que os cidadãos moçambicanos
recebem e a oferta dos conhecimentos e habilidades de que necessitam para
competir numa economia global é de importância vital para se manterem ao nível
dos seus vizinhos da região e assegurar meios de sobrevivência sustentáveis para
si e para os seus filhos.

O Plano Estratégico de Educação propõe três principais objectivos para o sistema


educativo. O primeiro consiste em aumentar o acesso às oportunidades educativas
para todos os moçambicanos, em todos os níveis do sistema. O segundo objectivo
é manter e melhorar a qualidade da educação, enquanto que o terceiro consiste
em desenvolver um quadro institucional e financeiro que possa, no futuro,

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sustentar as escolas e os alunos moçambicanos. O sucesso da implementação da


estratégia exigirá uma estreita colaboração entre o Ministério da Educação e uma
grande gama de grupos de interesse em relação ao sistema educativo, incluindo
pais, comunidades locais, empregadores, ONG’s e confissões religiosas, os quais
serão chamados a assumir papeis significativamente maiores no financiamento e
gestão da educação. Por outro lado, continuará sendo necessário o apoio
financeiro por parte dos parceiros internacionais de Moçambique no sector da
educação.

II. ANTECEDENTES E CONTEXTO DO PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO

A. Estabilização, Crescimento e Apoio aos Sectores Sociais

Nos últimos dez anos, o Governo de Moçambique tem estado a seguir um


programa de ajustamento estrutural e estabilização macro-económica, adoptando
políticas orientadas para o reforço das instituições, no contexto duma economia
de mercado. O objectivo fundamental destas reformas consiste em promover o
crescimento económico e reduzir os níveis de pobreza. O desenvolvimento dos
recursos humanos foi e continua a ser o elemento central da estratégia do
Governo, por duas razões. Em primeiro lugar, a disponibilidade de mão-de-obra
qualificada é uma condição essencial para o desenvolvimento institucional nos
sectores público e privado e constitui pré-requisito para o aumento da eficiência e
a melhoria do desempenho, em todos os sectores da economia. Em segundo
lugar, a expansão do acesso às oportunidades educativas contribui directamente
para a redução dos níveis de pobreza e o aumento da equidade social. A expansão
das oportunidades para as raparigas e as mulheres assume importância especial,
na medida em que as mulheres são, muitas vezes, responsáveis por providenciar
os meios de subsistência das suas famílias e os benefícios da sua educação passam
para os seus filhos. Para alcançar o objectivo de desenvolvimento do capital
humano, o Governo tem sido consistente no seu apoio ao contínuo
desenvolvimento dos sectores sociais, especialmente o sistema educativo.

Embora as políticas do Governo tenham produzido, nos últimos anos, alguns


frutos, uma vez que a economia tem estado a ganhar estabilidade e a registar um
certo crescimento, Moçambique continua a ser um dos países mais pobres do
mundo. Os rendimentos per capita continuam a ser muito baixos, o analfabetismo
é ainda comum entre os moçambicanos e as doenças e malnutrição ainda se
encontram largamente espalhadas. Para além disso, Moçambique continua a
depender grandemente da ajuda externa, tanto em termos de recursos financeiros
como humanos. Por isso mesmo, o Governo pretende manter , a curto e médio
prazos, a sua actual estratégia económica, de modo a reduzir ainda mais os níveis

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de pobreza e consolidar os esforços em curso, para solucionar os problemas


estruturais que actualmente afligem o País.

1. Política Fiscal e Despesas Sociais

Nos últimos anos, a política fiscal do Governo visou fundamentalmente contribuir


para a redução da inflação e o reforço das reservas internacionais de
Moçambique. Assim, a política fiscal teve um carácter restritivo, estabelecendo-se
metas para a redução do défice fiscal, como proporção do Produto Interno Bruto.
A Tabela 1 ilustra as realizações nesse campo. Assim, deixou de haver défice no
orçamento corrente, desde 1995. Por outro lado, o défice global, sem incluir os
donativos, como proporção do PIB, decresceu em 12,7 por cento, entre 1994 e
1996, enquanto que o défice global, incluindo os donativos, decresceu em 3 por
cento, no mesmo período.

Tabela 1: Défice do Orçamento do Estado (em percentagem do PIB)


1994 1995 1996
Défice corrente -5,2 1,6 2,1
Défice Global (excluindo donativos) -29,7 -20,3 -17,0
Défice Global (incluindo donativos) -8,2 -4,9 -5,2

Para se alcançarem estes resultados, foi necessário proceder a uma forte


contenção das despesas públicas, de modo a compatibilizá-las com o nível das
receitas públicas. Apesar destes constrangimentos e dos obstáculos impostos por
obrigações concorrentes, incluindo o serviço da dívida, o Governo tem lutado por
manter o seu apoio aos sectores sociais, em especial à educação, tal como ilustra
a Tabela 2. De 1991 para 1994, a componente das despesas públicas
correspondente à educação baixou de 14,3 para 9,6 por cento, embora a
proporção do PIB correspondente ao Orçamento do Estado se mantivesse
constante. Nos anos mais recentes, contudo, a proporção do PIB correspondente
às despesas do Estado baixou de 22,9 para 16,1 por cento, enquanto que a parte
das despesas públicas destinada à educação aumentou significativamente.

Tabela 2: Despesas Correntes


1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
Educação (*) 14,3 13,6 12,4 14,4 13,9 17,4
Saúde (*) 5,6 6,9 7,4 6,5 4,8 7,6 7,8
Estado (**) 25,6 22,2 24,5 21,4 22,9 16,6 16,1
(*) percentagem do total de despesas públicas correntes do Estado
(**) percentagem em relação ao PIB

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O acima descrito aplica-se também aos investimentos, como ilustra a Tabela 3. O


peso do investimento público no sector da educação quase que duplicou, desde
1990, tendo subido de 4,8 para 9,1 por cento.

Tabela 3: Investimento Público nos Sectores Sociais (em percentagem do total


do investimento público)
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996
Educação 4,8 7,7 9,1 8,1 7,9 8,7 9,1
Saúde 2,7 3,4 3,3 3,6 5,4 5,8 6,6

A curto prazo, a política fiscal restritiva do Governo irá continuar, o que significa
que a capacidade de aumentar as despesas públicas dependerá da elevação da
colecta de receitas fiscais adicionais. Nesse sentido, o Governo está empenhado
na preparação e implementação das reformas fiscal e aduaneira, incluindo a
reorganização e modernização dos serviços alfandegários e o do aparelho de
colecta de impostos. Em comparação com outros países da África Austral, em
Moçambique os impostos constituem uma parte relativamente pequena do PIB, o
que sugere que o Governo tem uma margem para angariar receitas fiscais
adicionais. Em países como a Tanzânia, Maurícias, África do Sul, Zimbabwe e
Suazilândia as receitas fiscais representam 15 a 33,2 por cento do PIB, enquanto
que, em Moçambique, elas representam 17,6 por cento do PIB. Obviamente, para
além de melhorar o sistema de colecta de impostos, o Governo irá procurar elevar
as receitas públicas através da adopção de políticas económicas que impulsionem
o crescimento económico, aumentando, desse modo, a base de colecta de
impostos.

2. Estabilidade Macro-económica e Crescimento económico

As taxas de inflação e de câmbio do metical, desde 1996, demonstram a crescente


estabilidade da economia Moçambicana. No fim do ano de 1996, a taxa de
inflação anual acumulada era de 16,6 por cento, contra 54,1 por cento no ano
anterior. Em 1997, a inflação continuou a descer, como ilustra a Figura 1. No fim
do mês de Novembro de 1997, a taxa de inflação acumulada era de apenas 4,3
por cento, contra 16,3 por cento no mesmo período de 1996. A meta estabelecida
pelo Governo para a inflação em 1997 era de 14 por cento.

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Figura 1: Índice de Preços ao Consumidor (taxas acumuladas de inflação


anual)
60%
1995
1996
50%
1997

40%

30%

20%

10%

0%
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Por seu turno, a taxa de câmbio do metical registou uma significativa estabilidade,
nos últimos dois anos, como se pode ver na Figura 2. O metical sofreu uma
depreciação de apenas 6 por cento em 1996 e, até ao fim do mês de Abril de 1997
a depreciação havia sido de apenas 0,6 por cento, contra 2,6 por cento no mesmo
período de 1996.

Figura 2: Depreciação do Metical (taxas anuais acumuladas)


70%
1995
60% 1996
1997
50%

40%

30%

20%

10%

0%
Mai

Set
Mar

Nov

Dez
Jul
Jan

Jun

Ago

Out
Abr
Fev

-10%

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Nos últimos cinco anos, a taxa média anual de crescimento do PIB tem sido de
5,9 por cento. Constituem componentes importantes deste crescimento a
recuperação da produção alimentar, que reduziu a necessidade de afectação dos
escassos recursos externos às importações e o aumento das exportações de
mercadorias que, em 1996, cresceram cerca de 30 por cento, em relação ao ano
anterior.

B. Desenvolvimento Económico e Redução da Pobreza

Tal como referido anteriormente e apesar dos últimos desenvolvimentos,


Moçambique continua sendo um dos países mais pobres do mundo e enfrenta
graves problemas estruturais e sócio-económicos. A principal meta da estratégia
de desenvolvimento do Governo, a longo prazo, consiste na redução da pobreza,
através do crescimento económico intensivo num ambiente de paz, estabilidade e
unidade nacional. Neste contexto, dá-se a prioridade máxima à redução da
pobreza nas zonas rurais, onde vivem cerca de 90 por cento dos moçambicanos
pobres. Para alcançar esta meta, o Governo compromete-se a realizar quatro
principais objectivos:
a) a reabilitação de infra-estruturas chave;
b) a restauração da produção agrícola;
c) a criação de um ambiente favorável ao investimento privado; e
d) o desenvolvimento dos recursos humanos.

Na zonas rurais, a estratégia do Governo para aumentar os rendimentos baseia-se


na liberalização dos mercados agrícolas e no investimento em infra-estruturas
rurais, com particular enfoque na expansão e melhoramento da rede de estradas
rurais. Espera-se que estas iniciativas abram novas oportunidades para os
produtores rurais comercializarem os seus produtos e aumentarem as receitas
provenientes da sua produção. Espera-se também que tais iniciativas aumentem o
emprego rural em outras áreas que não a agricultura, tanto directamente, através
da implementação de projectos de infra-estruturas rurais com uso de mão de obra
intensiva como indirectamente, através da abertura de novas oportunidades e
exigências provocadas pelo aumento dos rendimentos rurais.

Nas zonas urbanas, a estratégia do Governo centra-se na simplificação dos actuais


regimes fiscais e regulamentação, na liberalização dos mercados de trabalho e na
disponibilização de crédito para pequenos empreendimentos e micro-empresas. O
objectivo consiste em promover um ambiente favorável às iniciativas do sector
privado, expandir as oportunidades de comércio e de emprego nas cidades e vilas
moçambicanas, elevando, desse modo, os rendimentos das populações pobres das
zonas urbanas. A longo prazo, a estratégia prevê uma mudança para indústrias de
manufactura de pequena e grande escala com recurso à mão-de-obra intensiva.

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A curto prazo, o Governo identificou, quatro principais linhas de acção:


a) políticas macro-económicas para manter a inflação a um digito e corrigir
os desequilíbrios estruturais;
b) políticas de redistribuição, visando promover a equidade social;
c) políticas para o reforço da administração pública;
d) políticas para a promoção do crescimento do investimento do sector
privado.

A expansão e a melhoria do sistema educativo são elementos de importância vital


da estratégia de desenvolvimento do Governo, tanto numa perspectiva de longo
prazo como numa perspectiva de curto prazo. O acesso universal a uma educação
de qualidade aceitável é essencial para o desenvolvimento dos recursos humanos
de Moçambique e para o crescimento da economia moçambicana, a longo prazo.
O sucesso dos passos do Governo para aumentar o crescimento, através do
trabalho intensivo dependerá, em grande medida, da educação e formação da
força de trabalho. A curto prazo, o aumento do acesso e a melhoria da qualidade
da educação básica constituem mecanismos poderosos de redistribuição e
promoção da equidade social, uma vez que vão reforçar as oportunidades
disponíveis para as raparigas e para as crianças de regiões desfavorecidas.
Reconhecendo a contribuição chave que o sistema educativo pode trazer para a
redução da pobreza e o desenvolvimento económico, o Governo aumentou
significativamente a proporção do orçamento corrente alocado à educação, nos
três últimos anos, transformando o sector da educação no segundo maior
recipiente dos fundos públicos de investimento, depois do sector de estradas.

C. Quadro político da Educação

No contexto da estratégia global de desenvolvimento, o Governo adoptou, em


1995, a Política Nacional de Educação, a qual estabelece o quadro político do
Sistema Nacional de Educação. A Política Nacional de Educação identifica as
principais metas do Governo para o sistema educativo como um todo, e define
políticas específicas para cada sector dentro do sistema. Embora consciente das
inúmeras e urgentes necessidades educativas que continuam insatisfeitas, o
Governo reconheceu que a escassez de recursos financeiros e humanos não
permitiria que todas essas necessidades fossem superadas ao mesmo tempo.
Assim, a Política Nacional de Educação identifica a educação básica e a
alfabetização de adultos como “a primeira prioridade do Governo”.

Ao elaborar o Plano Estratégico de Educação, o Ministério da Educação reafirma


as prioridades identificadas na Política Nacional de Educação, dando especial
importância ao aumento de oportunidades básicas de educação para as crianças
moçambicanas. O Plano Estratégico de Educação define os objectivos
fundamentais da educação básica e identifica os meios pelos quais o Ministério -

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agindo em concertação com os grupos de interesse a nível nacional e com os


parceiros internacionais - irá caminhar no sentido de alcançá-los. O objectivo
central da estratégia é o acesso universal à educação primária para todas as
crianças moçambicanas. Os demais objectivos incluem a melhoria da qualidade da
educação básica e o estabelecimento de um sistema sustentável, flexível e
descentralizado, no qual a responsabilidade seja largamente partilhada entre
aqueles que trabalham no sistema e aqueles a quem o sistema serve. O objectivo
último do Plano Estratégico de Educação é o de apoiar a estratégia de
desenvolvimento nacional do Governo, através da construção de um sistema
educativo que proporcione aos cidadãos moçambicanos os conhecimentos e
habilidades de que irão precisar para obterem meios de sobrevivência
sustentáveis, acelerar o crescimento da economia e reforçar as instituições de uma
sociedade democrática.

A estratégia do Ministério foi desenvolvida através de um processo de ampla


consulta. O processo contínuo de consultas com os grupos de interesse e o
encorajamento de uma ampla participação na sua implementação serão
determinantes essenciais do sucesso da estratégia. No entanto, a chave para a
implementação do Plano Estratégico de Educação é, em última análise, o
reconhecimento, pelo próprio Ministério, da sua limitada capacidade de
financiamento e administrativa e a correspondente aceitação pelos parceiros
nacionais e internacionais da partilha da responsabilidade para se atingirem as
principais metas da estratégia. O Ministério continuará a ser responsável pela
definição de políticas e pela direcção e coordenação das acções dos seus vários
parceiros, mas o sucesso da implementação dependerá da vontade desses
parceiros de cooperar com o MINED e uns com os outros no processo de
implementação.

Muitos dos mais importantes parceiros de cooperação externa do Governo,


incluindo a ASDI, CIDA, DANIDA, FINNIDA, Irlanda, DFID, a Holanda e o
Banco Mundial, expressaram a sua vontade de modificar a sua assistência,
passando para um programa de apoio à implementação do Plano Estratégico de
Educação, o que corresponde a abandonar o apoio a projectos individuais e a
proliferação de estruturas administrativas. De modo a assegurar a mais ampla
colaboração possível entre os doadores externos da educação, o Ministério
constituirá um pequeno grupo representativo das principais agências financeiras e
técnicas envolvidas no sector para liderar e facilitar a coordenação na
implementação da estratégia do Ministério.

O presente documento define os principais elementos da estratégia do Ministério.


Considerando as prioridades identificadas na Política Nacional de Educação, o
enfoque das primeiras secções do documento é sobre a educação básica e a
estratégia do Governo para expandir o acesso e melhorar a qualidade nas escolas

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primárias. As secções finais do documento fazem uma revisão das estratégias


delineadas na Política Nacional de Educação para a expansão do acesso e a
melhoria da qualidade de educação nos outros níveis do Sistema Nacional de
Educação (SNE).

III. PROBLEMAS ACTUAIS DA EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

Existem no sistema educativo moçambicano três problemas fundamentais que


afectam todos os níveis do sistema e, virtualmente, todas as instituições em cada
nível. O primeiro consiste no limitado acesso às oportunidades educativas, o
segundo é a baixa qualidade e o terceiro é o custo da expansão do acesso e da
melhoria da qualidade. O acesso às oportunidades educativas nas instituições do
ensino secundário, superior e também nas escolas técnico-profissionais é
extremamente limitado, especialmente para as raparigas e jovens do sexo
feminino. A educação e formação que estas instituições oferecem é, muitas vezes,
de baixa qualidade. A estratégia desenvolvida neste documento coloca a mais alta
prioridade na expansão e melhoria do sistema de educação básica, mas é
extremamente importante que os parceiros internos e externos do Governo
reconheçam que continuará a ser necessário dar assistência a todos os níveis do
sistema educativo, como um conjunto corrente e articulado.

A. Acesso limitado

Imediatamente após a Independência, foi virtualmente alcançado o acesso


universal à educação. Em 1981, a taxa bruta de admissão no EP1 alcançou os 110
por cento. Nos anos seguintes, contudo, a crise económica e a guerra reduziram
drasticamente a taxa de admissão, que baixou para 54%, em 1994. A taxa de
admissão bruta no EP1 tem estado, desde então, a recuperar, estando em 79% em
1998, o que supera a taxa de 1991, continuando, no entanto, muito abaixo da taxa
de 1981. Existem, em 1998, 6.114 escolas do EP1 (muitas das quais oferecem, na
verdade, menos de cinco classes), mas apenas 378 escolas do EP2. Como
resultado disso, relativamente poucas crianças (e muito poucas nas zonas rurais)
têm a oportunidade de concluir o ensino primário. O Ministério propõe-se
unificar, ao longo do tempo, os dois níveis da educação básica e aumentar o
número de escolas que oferecem as sete classes do ensino primário.

Em relação aos rapazes, as raparigas têm menor probabilidade de ingressar e


permanecer na escola, em todos os níveis do sistema de educação, mas a sua
desvantagem surge e confirma-se já desde os primeiros anos de escolaridade. As
raparigas representam 44 por cento das crianças que ingressam na primeira classe,
mas apenas 39 por cento das que chegam à quinta classe e uma percentagem
ainda menor das que conseguem transitar para o EP2. O acesso das raparigas à

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escola é ainda mais restrito nas províncias do centro e norte, onde as raparigas
representam, em média, apenas 37 por cento dos alunos do EP1. Uma possível
explicação para a relativamente baixa taxa de participação das raparigas é a
escassez de professoras. No EP1 e EP2, apenas 23 por cento dos professores são
mulheres.

As oportunidades são ainda mais limitadas nos níveis mais elevados do sistema e
no ensino técnico-profissional, embora os ingressos tenham aumentado
rapidamente nos anos mais recentes. Em 1995 havia aproximadamente 32.000
alunos matriculados no primeiro ciclo do ensino secundário (ESG1) e apenas
4.000 no segundo ciclo (ESG2). Em 1998, havia acima de 53.000 no ESG1 e
7.300 no ESG2. Apenas cerca de um terço dos alunos do ensino secundário são
raparigas. Frequentam as instituições do ensino superior aproximadamente 9.000
estudantes. A matrícula total nas escolas dos três níveis do ensino técnico-
profissional (elementar, básico e médio) aproxima-se dos 17.000 alunos, contra os
cerca de 14.000 em 1995. Aproximadamente 60 porcento dos estudantes dos
cursos comerciais são do sexo feminino, mas a percentagem de raparigas nos
cursos industriais e agrícolas é muito baixa.

B. Qualidade de ensino

O segundo problema é a fraca qualidade. Os pais não querem simplesmente


lugares para os seus filhos nas escolas. Eles querem ter a certeza de que, uma vez
matriculados na escola, os seus filhos aprendem alguma coisa. Os actuais níveis de
procura da escola só serão sustentáveis, se a qualidade da educação melhorar ao
longo do tempo.

Mesmo com os actuais baixos níveis de ingressos, a qualidade da educação na


maioria das escolas continua sendo insatisfatória. No EP1, a média do rácio
alunos/professor é de 61:1, mas em algumas províncias é, de longe, ainda mais
elevada (ex.: 81:1 em Gaza); no EP2, a média do rácio alunos/professor é de
41:1. A maioria dos alunos assistem às aulas em dois turnos e, nas zonas urbanas
e peri-urbanas são comuns os três turnos. Os materiais básicos de aprendizagem
são escassos ou inexistentes nas escolas. Muitas vezes, a qualidade das infra-
estruturas educativas é má. Nas escolas secundárias, as bibliotecas e os
laboratórios estão mal apetrechados e, quando os haja, os equipamentos são
obsoletos; o equipamento disponível para a formação nas escolas técnico-
profissionais está, em geral, avariado e é inadequado para ensinar as habilidades
actualmente exigidas pelo mercado de trabalho.

Em todos os níveis, os professores não estão qualificados para os postos que


ocupam. Aproximadamente um quarto de todos os professores do EP1 não
possuem qualquer formação e a maioria recebeu apenas seis anos de escolarização

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e um ano de formação profissional. A limitada capacidade de formação inicial de


professores representa um sério obstáculo à expansão dos ingressos nas escolas
primárias e secundárias e as oportunidades de formação em exercício continuam
sendo limitadas. A capacidade de gestão, a todos os níveis do sistema educativo,
desde o Ministério da Educação até à escola, é fraca.

A estrutura e o conteúdo do curriculum nas escolas primárias e secundárias vai se


mostrando cada vez mais inadequado para uma economia em rápida mudança e
para as exigências sociais. A actual estrutura curricular é demasiado rígida e
prescritiva, deixando pouca margem para adaptações aos níveis regional e local.
Muito do que se ensina nas escolas primárias é de uma relevância ou utilidade
prática duvidosa, apesar de que a vasta maioria dos alunos conclui os seus
estudos, neste nível. No EP2, o curriculum está organizado em redor de
disciplinas múltiplas, com um professor diferente para cada uma delas, o que
aumenta os custos e obstrói a expansão dos ingressos neste nível. Ao nível do
ensino secundário, o curriculum mostra-se particularmente fraco nas áreas de
ciências e matemática, em grande parte devido à falta de acesso dos professores
ao equipamento essencial e às metodologias activas de ensino.

A eficácia interna do sistema educativo é muito baixa, especialmente no caso das


raparigas, tal como o demonstra claramente a diminuição da percentagem de
ingressos de raparigas nos níveis mais elevados do sistema. As taxas médias de
repetência e desistências atingem os 25 a 15 por cento em cada um dos níveis,
respectivamente. Como resultado disso, apenas cerca de 25 por cento dos alunos
que ingressam na primeira classe conseguem concluir com sucesso e sem repetir
as cinco classes do EP1. As taxas de transição para o EP2 são também baixas, o
que significa que apenas 6 em cada 100 alunos que entram na escola se graduam
no EP2. Nas escolas secundárias, as taxas de repetência e de desistências
continuam sendo elevadas, mas as taxas de transição são mais altas porque
poucos alunos deste nível concluem os seus estudos com sucesso. As taxas de
graduação na UEM são extremamente baixas, quando comparadas com os
números de estudantes matriculados em determinadas áreas de formação.

C. Custos e sustentabilidade

O terceiro problema consiste no facto de que, com o actual orçamento da


Educação, o custo de uma significativa expansão e melhoria do sistema educativo
não é nem comportável nem sustentável. A manutenção do actual sistema, com
todos os seus problemas, está aquém das possibilidades do Ministério e uma parte
significativa do seu orçamento actual é, consequentemente, coberta por fundos
disponibilizados por fontes externas. Nestas circunstâncias, a expansão do acesso
e a melhoria da qualidade para responder às crescentes exigências dos cidadãos
moçambicanos, não será possível, a menos que outros actores, incluindo grupos

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

de interesse e representantes da sociedade civil manifestem o desejo de assumir


uma parte ainda maior de responsabilidade pelo financiamento e gestão do sistema
educativo.

IV. O MOMENTO DE MUDANÇA

Os inúmeros problemas do sistema educativo moçambicano têm raízes profundas


e uma longa história. Eles não podem ser resolvidos de um dia para o outro. O
momento actual representa, no entanto, uma oportunidade particularmente
favorável para o lançamento dum esforço concertado para a introdução de
melhorias drásticas, por cinco razões principais. A conjugação destes cinco
factores significa que objectivos que poderiam parecer totalmente irrealistas, até
mesmo há cerca de dois anos atrás, são agora uma possibilidade real. O Plano
Estratégico de Educação constitui uma resposta ambiciosa, mas ainda assim
realista, destas novas possibilidades.

A. Crescimento económico renovado

Depois de mais de uma década de estagnação, a economia moçambicana está


agora em franco crescimento, ao ritmo de aproximadamente 7,6 por cento nos
últimos 6 anos. Isto significa mais receitas para o Governo e maiores rendimentos
para os cidadãos moçambicanos o que, por sua vez, aumenta a capacidade de
investimento na educação, tanto do sector público como do privado. As
tendências macro-económicas são também favoráveis, uma vez que o nível de
inflação reduziu significativamente e o valor do metical tem sido estável. As
actuais projecções sugerem que as taxas de crescimento actuais poderão ser
sustentáveis a curto e médio prazos, uma vez que os investimentos externos e
internos estão a aumentar e os principais projectos, nos sectores dos transportes e
energia, começam a dar resultados. O crescimento sustentável da economia
produzirá receitas fiscais adicionais e servirá de suporte para a implementação da
estratégia do Governo para a educação.

B. Alívio da dívida no contexto da iniciativa HIPC

As obrigações impostas pelo serviço da dívida constituem um enorme obstáculo


ao aumento das despesas na educação e em outros sectores sociais em
Moçambique, como foi mesmo reconhecido pelo FMI e o Banco Mundial.
Actualmente, o serviço da dívida absorve aproximadamente 30 por cento do
orçamento corrente anual do Estado. Moçambique foi recentemente declarado
elegível para o alívio da dívida, no âmbito da iniciativa HIPC, o que deverá
libertar recursos adicionais significativos, para investimento nos sectores sociais

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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(incluindo a educação) que poderão ser usados para melhorar o bem estar social e
expandir as oportunidades para os cidadãos moçambicanos. Estes recursos
adicionais vão ajudar a assegurar a sustentabilidade dos custos associados à
implementação do Plano Estratégico de Educação.

C. Consolidação da democracia

Nos anos que se seguiram às eleições de 1994, o Governo fez grandes progressos
com vista a alcançar a sua meta de paz, estabilidade e unidade nacional. As
instituições e práticas democráticas, a nível nacional, vêm sendo progressivamente
estabelecidos e a participação popular em actividades políticas tem vindo a
aumentar. As eleições locais recentemente realizadas levaram ao estabelecimento,
em muitas zonas do país, de governos locais legítimos e com capacidade de
resposta e que, por sua vez, reforçarão a capacidade institucional para a
descentralização. Os cidadãos e outros grupos de interesse intensificam as suas
exigências e expectativas em relação à expansão e melhoria dos serviços públicos
e as comunidades locais e outros agentes (por exemplo, ONG’s, confissões
religiosas) já têm demonstrado uma capacidade e vontade crescentes de aceitar
uma maior parte da responsabilidade administrativa e financeira pelas instituições
locais, incluindo escolas. Estes desenvolvimentos criam uma base sólida para o
estabelecimento de parcerias entre o Ministério da Educação e uma série de
grupos de interesse e representantes da sociedade civil, no esforço de expansão
do acesso e de melhoria da qualidade do sistema educativo.

Alianças fortes com grupos de interesse nacionais são essenciais para o sucesso da
estratégia do Governo. O Ministério da Educação já deu passos no sentido da
criação destas parcerias. Tais passos incluem o encorajamento do estabelecimento
de conselhos de escola que incluam os pais e outros grupos de interesse locais,
para participarem na gestão de cada uma das escolas e o encorajamento da
expansão das iniciativas do sector privado a todos os níveis do sistema educativo.
Passos adicionais com vista a aumentar a consulta e a participação democrática na
gestão escolar são parte integral do Plano Estratégico de Educação.

D. Compromisso do Governo em relação à educação

Em resposta às exigências da economia, no sentido de se fazer um maior


investimento nos recursos humanos, e às expectativas dos cidadãos
moçambicanos em relação a maiores oportunidades educativas, o Governo
transformou a expansão e a melhoria da educação básica num elemento central da
sua estratégia de desenvolvimento. O acesso universal às oportunidades de uma
educação de qualidade aceitável é de uma importância vital para se alcançar o
objectivo central do Governo de redução da pobreza, uma vez que o reforço dos
conhecimentos e a formação dos trabalhadores moçambicanos irá expandir o seu

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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acesso a meios de sobrevivência sustentáveis. O investimento na educação pode


contribuir também para alcançar outros objectivos, incluindo uma maior equidade
social e na perspectiva do género, bem como o encorajamento do investimento
privado nacional e internacional.

O Governo tem demonstrado claramente que o seu compromisso de reforçar as


oportunidades educativas é sério, através do rápido aumento da proporção das
despesas públicas destinada à educação que subiu de menos de 10 por cento, em
1994, para 18 por cento em 1998. A educação é agora a maior categoria nas
despesas correntes salariais e a segunda maior categoria nas despesas de
investimento, depois do sector de estradas. O aumento dos salários dos
funcionários públicos, incluindo os professores, está entre as prioridades do
Governo, a curto prazo. Isso irá aumentar ainda mais a parte dos recursos
públicos dedicada à educação, uma vez que a maioria dos funcionários públicos
são professores. Com um crescimento económico sustentável, a redução das
obrigações do serviço da dívida e uma geração de receitas melhorada (por
exemplo, através da introdução do IVA) os recursos disponíveis para a educação
deverão continuar a crescer constantemente ao longo da próxima década. Caso a
parte do orçamento do Estado alocado à educação pudesse aumentar ainda mais
para os níveis prevalecentes nos países vizinhos (isto é, 21-22 por cento), a taxa
de crescimento poderia ser ainda mais rápida.

E. Iniciativa Especial das NU para África

A Iniciativa Especial para África marca um compromisso do sistema das NU e


outros grandes parceiros da cooperação internacional na educação para mobilizar
recursos adicionais, de modo a acelerar significativamente o desenvolvimento e a
redução da pobreza nos países africanos. No âmbito da Iniciativa Especial, a
maior parte dos fundos (aproximadamente dois terços do total) deverá ser
dedicada à educação básica, com o objectivo de assegurar o acesso ao ensino
primário a todas as crianças africanas, na próxima década. Isto corresponde à
primeira prioridade do Plano Estratégico de Educação. A ajuda externa adicional
mobilizada sob os auspícios da Iniciativa Especial para África poderá ajudar a
tornar possível alcançar a meta de educação primária universal.

V. OPÇÕES POLÍTICAS

A. Expansão do acesso à educação

O rápido avanço rumo à escolarização primária universal constitui a meta central


do Plano Estratégico de Educação. O direito à educação para todos os

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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moçambicanos está instituído na Constituição e a meta da escolarização primária


universal foi reafirmada pelo Governo em 1990, aquando da Conferência Mundial
sobre Educação para Todos, em Jomtien. O Governo vai envidar todos os
esforços para tornar este direito numa realidade, na primeira década do próximo
milénio.

O acesso universal à escola primária é de importância fundamental para a


estratégia de desenvolvimento do Governo, por quatro razões principais. Em
primeiro lugar a educação básica para todos é um elemento central da estratégia
do Governo para a redução da pobreza, uma vez que a aquisição de
conhecimentos académicos básicos, incluindo a alfabetização irá expandir o
acesso dos cidadãos moçambicanos a oportunidades de emprego e meios de
subsistência sustentáveis. Em segundo lugar, o desenvolvimento dos recursos
humanos de Moçambique é essencial para que o crescimento económico do país
seja sustentável. O sucesso numa economia global cada vez mais integrada e
exigente em termos tecnológicos requer uma melhoria contínua dos
conhecimentos e das qualificações da força de trabalho o que, por sua vez, exige
uma contínua expansão e melhoria do sistema educativo. Em terceiro lugar, o
acesso universal à escola primária é a estratégia mais segura para aumentar a
equidade no sistema educativo. Ao assegurar que todas as crianças possam entrar
para a escola, abrem-se novas oportunidades para crianças anteriormente
desfavorecidas, incluindo raparigas, crianças com necessidades educativas
especiais e crianças de províncias e distritos onde o acesso é até agora limitado.
Em quarto lugar, a educação é necessária para o efectivo exercício da cidadania, e
uma população informada e com sentido crítico é essencial para a protecção das
instituições democráticas. O alcance da educação primária universal na próxima
década exigirá a mobilização de recursos de uma variada gama de fontes internas
e externas, mas o Governo está confiante de que a meta poderá ser alcançada.

1. Acesso universal à escola primária

O objectivo central da estratégia do Governo consiste em assegurar que todas as


crianças moçambicanas tenham a oportunidade de entrar na escola, o que requer a
construção de um elevado número de novas salas de aulas. Esta tarefa é ainda
mais complicada pelo rápido crescimento da população em idade escolar,
estimada em 3,7 por cento ao ano. Para acomodar todas estas crianças, será
necessário disponibilizar, em média, aproximadamente 1.500 novas salas de aulas
para o EP1 e EP2 por ano, entre 1998 e 2003. A expansão nesta escala exigirá,
também, o recrutamento e formação de um grande número de professores, tal
como se refere mais adiante.

Neste programa de construção, dá-se a maior prioridade à implantação de escolas


em regiões e comunidades em que, actualmente, as crianças enfrentam problemas

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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efectivos de acesso. O Ministério da Educação levará a cabo um exercício de


carta escolar, de modo a assegurar que as novas escolas sejam construídas onde
elas são mais necessárias. Padrões de construção não apropriados ou inadequados
poderão representar um obstáculo particular ao ingresso e permanência das
raparigas na escola. Por isso mesmo, o Ministério procurará assegurar que as
novas escolas e salas de aulas sejam construídas tendo em atenção as necessidades
especiais das raparigas. Os líderes e educadores locais encorajarão as famílias e as
comunidades a matricularem os seus filhos e filhas na escola no ano em que estes
completam 6 anos, a idade oficial de ingresso.

2. Aumento do acesso das raparigas e das mulheres

O Governo dá particular importância ao aumento dos ingressos femininos, em


todos os níveis do sistema educativo, uma vez que a maioria das crianças que não
ingressam na escola são raparigas. O MINED propõe-se, por isso, aumentar a
representatividade das raparigas no EP1 em 2 por cento ao ano, entre 1999 e
2003, com particular enfoque nas regiões Norte e Centro, onde se registam,
actualmente, os mais baixos índices de ingressos femininos. O encorajamento do
ingresso e permanência das raparigas na escola poderá exigir uma variedade de
opções políticas, incluindo a expansão do recrutamento de pessoal do sexo
feminino, a revisão curricular, a modificação dos padrões de construção escolar e
a disponibilização de apoio financeiro destinado às alunas, em zonas ou cursos
(por exemplo: agricultura) em que a sua representação seja extremamente baixa.
De uma maneira mais geral, isso exigirá a incorporação sistemática das questões
de género no processo de planificação do MINED e a recolha, análise e
publicação de dados educacionais desagregados por sexos.

A falta de professoras foi identificada como sendo uma das principais causas dos
baixos níveis de ingresso de raparigas, havendo distritos que não possuem
nenhuma professora. Por sua vez, esta carência de professoras é parcialmente
atribuída aos problemas sociais que as jovens poderão enfrentar quando colocadas
em escolas de zonas que não lhes sejam familiares. Por isso mesmo, o Ministério
irá expandir o recrutamento e formação de professoras e procurará,
simultaneamente, minimizar os problemas que elas possam enfrentar no trabalho,
permitindo, por exemplo, que as jovens fiquem a leccionar nas suas zonas de
origem ou colocando-as nas escolas aos pares. O Ministério procurará também
tomar medidas imediatas para aumentar a representatividade de mulheres entre os
directores de escolas, instrutores das instituições de formação de professores, o
pessoal das direcções provinciais e distritais, bem como ao nível do próprio
Ministério. Nas escolas secundárias, o Ministério encorajará o emprego de
matronas nos internatos.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

No processo de revisão curricular em curso, o MINED assegurará que os


curricula e os materiais de aprendizagem, sejam ajustados às necessidades de
aprendizagem das raparigas e reflictam os diferentes papeis que a mulher
desempenha na sociedade moçambicana. Os curricula dos programas de formação
de professores e de pessoal administrativo serão igualmente revistos, para
incorporarem as questões de género e os problemas específicos que as raparigas e
as jovens enfrentam nas escolas.

Para além disso, o MINED conduzirá estudos de investigação sobre os


constrangimentos de género que fazem com que as raparigas tenham menor
probabilidade do que os rapazes de ingressar ou permanecer na escola. O MINED
desenvolverá respostas políticas com base nas constatações desses estudos,
incluindo a disponibilização de apoio aos técnicos provinciais e distritais na
definição de estratégias para superar os obstáculos sociais e culturais que as
raparigas e jovens enfrentam em determinadas zonas. A nível nacional, o MINED
adoptará políticas para apoiar a continuação da educação de raparigas grávidas e
reforçará as suas actuais políticas de sanções para casos de violação e abuso
sexual das alunas e professoras.

3. Eficiência interna melhorada

O MINED está envolvido no desenvolvimento de políticas, visando aumentar a


eficiência interna das escolas primárias, em paralelo com o processo de reforma
curricular. A redução das actuais elevadas taxas de reprovação, repetência e
desistências vai melhorar os resultados de aprendizagem e libertar os recursos que
actualmente se perdem com o “desperdício” nas escolas, para que sejam usados
de maneira mais produtiva. A redução das taxas de repetência libertará também
lugares actualmente ocupados por repetentes nas escolas, para a admissão de
novos alunos, permitindo assim, um aumento significativo de ingressos sem
custos adicionais. As estimativas incluídas no Plano Financeiro sugerem que o
aumento da eficiência do sistema é a melhor forma de fazer uso dos escassos
recursos financeiros no sector da educação. A redução da taxa de desistências das
raparigas nas classes mais avançadas do EP1 e na transição do EP1 para o EP2
reveste-se de uma importância especial, uma vez que este é o ponto em que as
disparidades entre os ingressos de rapazes e raparigas são mais fortes.

4. Escolas primárias completas

Para além de providenciar o acesso à escola pela primeira vez, o MINED vai
encorajar a expansão das escolas do EP1 existentes para incluírem as 6ª e 7ª
classes. Isso exigirá, não só a construção de salas de aulas adicionais, mas
também uma revisão do curriculum do EP2, de modo a permitir uma maior
integração com o curriculum do EP1. A revisão do curriculum do EP2, com vista

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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a diminuir o número de disciplinas vai reduzir também a necessidade de novos


professores para este nível, para fazer face ao aumento do número de novos
ingressos. A oportunidade de completar o ensino primário perto de casa deverá
reduzir as taxas de desistências e elevar a taxa de transição do EP1 para o EP2,
especialmente para as raparigas.

5. Construções a baixo custo

Um factor adicional que vai determinar a exequibilidade da expansão do sistema


educativo é custo de construção de escolas e salas de aulas que no passado
registou amplas variações entre os projectos e entre as agências financiadoras,
indo de $5.000USD a mais de $45.000USD, por sala de aula. Os projectos piloto
desenvolvidos sob os auspícios de várias agências fornecem valiosos exemplos de
escolas e salas de aulas construídas a baixo custo. O MINED encontra-se, neste
momento, envolvido num processo de desenvolvimento e implementação de
modelos de construção de salas de aulas a baixo custo para todas as regiões de
Moçambique e a programar a realização de várias consultas para analisar os
diferentes modelos e as possíveis variações entre as regiões. O Ministério
encorajará as várias agências que participam na construção de salas de aulas a
adoptarem modelos de baixo custo, sem prejuízo da qualidade, como forma de
maximizar o número de salas de aulas que as mesmas possam construir. Por outro
lado, encorajará estas mesmas agências a basearem-se, o mais possível, no uso de
materiais e força de trabalho locais, na construção de escolas, como forma de
gerar emprego e maximizar o impacto dos projectos de construção nas economias
locais.

6. Encorajamento de fornecedores alternativos

O aumento do acesso envolverá, necessariamente, a construção e gestão de


escolas por outros actores que não o Ministério da Educação. Uma vez que a
capacidade do MINED de dar resposta à procura social de educação e formação
continua é limitada, as contribuições que estes agentes possam dar são de
importância vital. Através de incentivos fiscais e de outros mecanismos, o
Governo irá encorajar as confissões religiosas, ONG’s, empresários e
empregadores a expandirem, eles mesmos, a disponibilização de infra-estruturas
educacionais e oportunidades. As ONG’s poderão, por exemplo, jogar um papel
de particular importância na oferta da educação de adultos e não-formal,
enquanto que os empregadores poderão dar valiosas contribuições na oferta de
oportunidades e apoio para o ensino técnico. O Ministério continuará também a
apoiar a criação e a expansão de escolas privadas, especialmente nas zonas que
não são suficientemente servidas por instituições públicas. Os fornecedores
privados poderão também jogar um papel importante na expansão da capacidade
nacional nos níveis secundário e superior do sistema de educação.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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7. Formação inicial e em serviço de professores

O principal constrangimento à expansão dos ingressos no ensino primário é a


disponibilidade de professores. Actualmente, o ritmo de saída de professores
formados que se graduam nas instituições de formação de professores é de
aproximadamente 1.360, por ano, esperando-se que o mesmo venha a subir para
aproximadamente 2.220, por ano, como resultado da abertura de novos IMAP’s.
O progresso contínuo rumo à meta do Ministério de alcançar o acesso universal
ao ensino primário exigirá números ainda maiores de novos professores, números
esses que se situam claramente abaixo da capacidade do sistema de formação de
professores, tal como se encontra organizado actualmente. Prevê-se que o défice
acumulado de professores, no ano 2001, seja de cerca de 8.000. O MINED
conduziu um estudo do sistema de formação de professores, visando medir a sua
capacidade potencial e desenvolver estratégias para aumentar significativamente o
número de graduados do sistema.

O rápido crescimento dos ingressos nos anos imediatamente após a Independência


foi possível, em grande medida, através do recrutamento de grandes quantidades
de professores não qualificados, alguns dos quais habilitados apenas com a quarta
classe do ensino primário. O Ministério não pretende aceitar que o preço da
expansão do acesso seja uma ainda maior deterioração da qualidade do ensino,
mas, por outro lado, são claramente inalcançáveis crescimentos significativos dos
ingressos sem uma maior expansão da capacidade do sistema de formação de
professores e a introdução de estratégias de ensino inovadoras nas escolas
primárias. Sendo assim, isto terá que conseguir-se através da revisão dos curricula
e da intensificação da produção em todas as instituições de formação de
professores, suplementada por uma maior disponibilização de formação em
exercício e por serviços de apoio pedagógico para os novos professores.

O Ministério está a desenvolver programas acelerados de formação nos IMAP’s,


de modo a que os professores terminem a formação inicial em 12 meses e possam
rapidamente assumir postos de trabalho como docentes nas escolas. O objectivo
consiste em caminhar para um modelo de 10ª+1+1, em que os futuros professores
com dez anos de escolaridade recebam um ano de formação inicial intensiva,
seguida de um ano de prática supervisionada, através de formação em exercício e
do apoio pedagógico. A formação inicial de um ano concentrar-se-á no domínio
do conteúdo curricular e na aquisição de “habilidades para sobrevivência na sala
de aulas”, enquanto que a formação em exercício se concentrará no
aperfeiçoamento da prática pedagógica e trabalho com os pais e outros membros
da comunidade.

No entanto, os IMAP’s não serão capazes, senão a muito longo prazo, de


produzir novos professores em número suficiente para acomodar os aumentos de
ingressos planificados. Assim, os CFPP’s continuarão a recrutar candidatos com

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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sete anos de escolaridade e a ministrar-lhes um programa de formação inicial mais


extensiva, de modo a prepará-los para assumir a docência. O MINED irá estudar
formas de rever o curriculum dos CFPP’s, de modo a acelerar a graduação de
novos professores e passar uma maior parte da sua preparação para a formação
em exercício, na escola. Enquanto os IMAP’s não estiverem em pleno
funcionamento, o Ministério continuará, também a recrutar novos professores
com dez anos de escolaridade e sem formação profissional. Muitos destes
professores recebem uma breve orientação profissional, antes de entrarem nas
salas de aulas e subsequente formação em exercício, tanto em programas
residenciais como através de formação à distância. O MINED providenciará
supervisão, apoio pedagógico e formação contínua em exercício, com prioridade
para os novos professores. Com o andar do tempo, o MINED procurará
assegurar que todos os professores do ensino primário tenham, pelo menos, 10
anos de escolaridade e uma formação profissional completa, mas está claro que
esta meta só será alcançada a longo prazo.

Como forma adicional de responder à carência de professores, os dois (por vezes


três) turnos continuarão a existir em grande parte das escolas primárias, tal como
continuarão a existir os relativamente elevados rácios alunos/professor. Para
minorar estes problemas, o MINED assegurará que todos os programas de
formação inicial e em exercício de professores lhes forneçam conhecimentos e
técnicas que os habilitem a trabalhar de maneira efectiva com turmas grandes. O
MINED irá, igualmente, explorar a possibilidade de introduzir modelos
organizativos alternativos, em algumas escolas, incluindo turmas mistas (classes
múltiplas).

8. Incentivos para os professores

Um outro potencial constrangimento da expansão dos ingressos no ensino


primário são os custos correntes da expansão, em que a componente principal é
relativa aos salários dos professores. O Governo reconhece que os actuais salários
e condições de trabalho dos funcionários públicos não conduzem à elevação da
sua moral nem a um desempenho efectivo e está, por isso, a trabalhar com os seus
parceiros internacionais, no sentido de desenvolver uma estratégia para melhorar
os seus vencimentos, benefícios e condições de trabalho. Os sucessos a alcançar
com estes esforços irão beneficiar os professores, bem como outros trabalhadores
do sector público. Simultaneamente, o Governo procurará providenciar aos
professores o acesso a formas de compensação alternativas (por exemplo:
oportunidades de promoção, casas, apoio comunitário). De igual modo, o
MINED tomará medidas para minimizar os obstáculos particulares que as
professoras enfrentam, de modo a aumentar o recrutamento e retenção de
mulheres na profissão docente.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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A melhoria das condições de trabalho dos professores é essencial para atrair


professores com melhores qualificações, aumentar o seu tempo de preparação das
aulas e de leccionação, e reduzir a sua dependência de segundos empregos e
fontes “não oficiais” de rendimento adicional. Para além disso, é óbvio que a
melhoria das condições de trabalho torna a profissão docente mais atraente, em
relação aos empregos alternativos, podendo contribuir para reduzir a mobilidade
no seio dos professores actualmente em serviço. As melhorias na compensação
dos professores estarão estreitamente ligadas às melhorias das suas qualificações e
desempenho, conforme lhes forem sendo oferecidas oportunidades de formação
em exercício.

9. Ensino à distância e tecnologias alternativas

O aumento do acesso ao ensino primário é fundamentalmente uma questão de


construção de escolas e formação de professores, mas o nível de expansão
necessário para alcançar a educação primária universal e aumentar o acesso
noutros sectores do sistema significa que devem explorar-se mecanismos
alternativos de ensino. O MINED está determinado a explorar esta via, o que
poderá ocorrer em conjugação com o projecto “Aprender Sem Fronteiras”, o qual
procura determinar se as tecnologias de educação à distância podem ser usadas na
diversificação de serviços educativos de forma mais eficiente e eficaz do que
numa sala de aulas tradicional. O programa de formação de professores em
exercício, actualmente oferecido pelo IAP, é um exemplo bem sucedido do ensino
à distância, como estratégia para atingir grandes números de instruendos
largamente dispersos, a um custo relativamente baixo. Estratégias semelhantes
podem ser úteis na expansão do acesso em outras áreas do sistema, incluindo a
educação de adultos e educação não-formal, o ensino técnico, secundário e
superior e até o EP2.

No quadro das medidas programadas visando a elevação da competência dos


professores, o Ensino à Distância será explorado para apoiar a formação em
serviço dos professores do Ensino Secundário Geral que no mento actual carecem
de um sistema institucionalizado de acompanhamento e aperfeiçoamento. Este
programa será desenvolvido com o envolvimento directo da Universidade
Pedagógica que actualmente já desenvolve a formação inicial de professores para
o Ensino Secundário.

O Ministério continuará a explorar a aplicação de novas tecnologias no sistema


educativo, de modo a oferecer oportunidades de educação ao maior número
possível de moçambicanos, da maneira mais eficiente disponível.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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B. Melhorias na qualidade da educação

O segundo grande objectivo do Plano Estratégico de Educação consiste na


manutenção e melhoria da qualidade da educação nas escolas moçambicanas. O
MINED está consciente das potenciais implicações, em termos de perdas e
ganhos relativos, da meta de uma rápida expansão de ingressos e está, por isso,
engajado em políticas que irão elevar, ao invés de reduzir, a qualidade da
educação, à medida que o País for caminhando no sentido da escolarização
universal. Para alcançar esta meta, o Ministério baseia-se em várias estratégias.

1. Rever e reformular o curriculum

O Ministério da Educação vai proceder à revisão e reformulação do curriculum,


em estreita colaboração com representantes dos diferentes segmentos da
sociedade civil. Existe um amplo consenso no sentido de que o actual curriculum
do ensino primário está desajustado às exigências das rápidas mudanças na
sociedade moçambicana. O MINED não pode, sozinho, desenvolver um novo
curriculum nem impor um único modelo para todas as regiões e escolas. Por isso,
o Ministério iniciou, sob a liderança do INDE, um processo democrático e
participativo, que está actualmente a decorrer, o qual envolve professores e
outros grupos de interesse chave (por exemplo, confissões religiosas,
empregadores), no desenvolvimento de um novo quadro curricular que seja ao
mesmo tempo rigoroso, para dar aos jovens moçambicanos os conhecimentos
académicos de que eles precisam, e suficientemente flexível para acomodar as
diferentes exigências e expectativas de uma sociedade democrática. O novo
quadro incorporará uma atenção explícita às questões do género e às necessidades
de aprendizagem específicas das raparigas moçambicanas, de modo a encorajar o
seu acesso a níveis mais elevados do sistema educativo. Tendo em conta o
princípio de que o curriculum deve ser concebido com base no conhecimento que
as crianças trazem para a escola, será permitido que as regiões e comunidades
adaptem o curriculum das suas escolas às necessidades e preferências locais,
incluindo o crescente uso de línguas maternas na sala de aulas. Também será
apoiada uma integração mais estreita do EP1 e EP2, de modo a elevar o número
de alunos que têm a possibilidade de concluir o ensino primário.

2. Providenciar formação para os professores

O MINED continuará a dar a mais alta prioridade à formação inicial e em serviço


de professores, com uma ênfase especial na criação de uma infrastrutura
institucional para providenciar essa formação e apoio pedagógico aos professores
no terreno. Neste contexto, o Ministério procurará assegurar um tratamento
equitativo para as mulheres, tanto no seu recrutamento inicial para a docência,

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
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como no acesso subsequente às oportunidades de formação e promoção no


sistema educativo.

Os professores não qualificados e com baixa qualificação recrutados no passado


continuarão nas salas de aulas e, por isso mesmo, as melhorias significativas na
qualidade de ensino, a longo prazo, requerem uma formação adicional para os
mesmos. As iniciativas que irão providenciar formação para este grupo incluem a
expansão do actual programa de ensino à distância do IAP, de forma a abranger
todos os professores do “nível E”, a introdução de formação em exercício
sistemática para os professores recém recrutados com dez anos de escolaridade e
sem formação, a criação de centros de formação e de recurso (NUFORPES) nos
CFPP’s e IMAP’s, o reforço da capacidade de inspecção e supervisão pedagógica
aos níveis provincial e distrital, a revitalização das ZIP’s e uma mais estreita
colaboração entre as ZIP’s e os núcleos pedagógicos do IAP. A formação em
exercício dos professores é também um complemento da reforma curricular. Os
professores deverão ser capacitados em relação às perspectivas de género e
outras a serem incorporadas no novo quadro curricular e ser consciencializados
sobre as opções curriculares e pedagógicas que estão, actualmente, à sua
disposição.

3. Melhorar as qualificações e a formação dos directores de escolas

O MINED procederá à revisão dos critérios usados no recrutamento de directores


e iniciará o desenvolvimento de estratégias para melhorar as suas qualificações e
formação. Um objectivo fundamental consiste em aumentar a representatividade
de mulheres nestas posições e assegurar que as mulheres tenham acesso equitativo
à formação na área de administração.

Os directores de escola ocupam um lugar de importância vital no sistema


educativo. A liderança que os mesmos providenciam nas suas escolas irá
determinar, de forma significativa, o sucesso ou não de elementos chave da
estratégia do sector da educação. Por outro lado, a qualificação e formação de
directores é um complemento importante da formação de professores. Os
substanciais investimentos feitos na formação de professores poderão ter muito
pouco impacto, se os directores das escolas não proporcionarem um ambiente de
apoio à inovação e colaboração nas suas escolas. Para além disso, directores
qualificados poderão providenciar aos seus professores uma formação em
exercício suplementar, quer formal quer informalmente (por exemplo, através da
assistência às aulas e posterior debate).

Por outro lado, os directores de escola estabelecem a ligação imediata entre as


escolas e as comunidades que elas servem e poucos deles estão preparados para o
desempenho efectivo do seu papel. Uma vez que o MINED pretende aumentar a

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

autonomia das escolas e assegurar a participação e apoio dos grupos de interesse


e das comunidades locais na sua gestão e financiamento, os directores de escola
terão que assumir muitas novas responsabilidades. Entre outras, tais
responsabilidades incluem trabalhar com os conselhos de escola e outras
estruturas comunitárias na identificação e resposta às expectativas da comunidade
em relação às suas escolas.

4. Melhorar o acompanhamento e avaliação

O MINED pretende desenvolver e implementar um sistema de recolha de dados


sobre os resultados dos alunos nas escolas primárias, incluindo a revisão do actual
sistema de exames. O acompanhamento e avaliação sistemática vai permitir ao
Ministério fazer o seguimento do desempenho do sistema educativo e identificar
aspectos do curriculum em que seja necessário introduzir melhorias. Para além
disso, o Ministério continuará a trabalhar com os educadores no sentido de
modificar as práticas de ensino e avaliação que contribuem para as elevadas taxas
de reprovação e repetência e encorajará os directores e professores a desenvolver
procedimentos para, de maneira regular, fornecer aos pais e encarregados de
educação, informação sobre o desempenho dos alunos.

5. Assegurar que todas as crianças tenham material básico escolar

O MINED pretende continuar a disponibilizar material escolar para os alunos


mais necessitados, através da Caixa Escolar, bem como “kits” de material básico
de ensino aos professores e para as salas de aulas. De modo a reduzir os custos, o
Ministério vai também dar passos no sentido de assegurar que os livros escolares
distribuídos às escolas sejam suficientemente duradouros para serem usados por
mais do que um aluno. Para assegurar que todos os alunos tenham acesso aos
livros escolares e a outro material básico escolar, o Ministério vai apelar, em
simultâneo, aos pais, comunidades locais e outros agentes (por exemplo,
confissões religiosas e sector privado) para se responsabilizarem por uma maior
parte dos custos de manutenção das escolas e fornecerem os materiais de ensino
aos alunos. O estabelecimento do princípio de que as escolas são uma
responsabilidade conjunta do Governo e, de forma mais ampla, da sociedade que
elas servem, é uma das principais metas a atingir na implementação da estratégia
do Ministério.

C. Sustentando a expansão e a melhoria

O terceiro grande objectivo do Plano Estratégico de Educação é o de assegurar


que os resultados alcançados a curto prazo, em termos de expansão do acesso e
qualidade melhorada se possam manter, a longo prazo. A meta da sustentabilidade
tem três principais dimensões, nomeadamente: institucional, financeira e política.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

Com respeito à primeira, a expansão e a melhoria do sistema de educação básica


exige uma correspondente elevação da capacidade do Ministério da Educação de
conceber políticas, planificar e gerir o sistema e responder às mudanças
económicas e às exigências sociais que são colocadas às escolas moçambicanas.
No que diz respeito à sustentabilidade financeira, a expansão e melhoria requerem
níveis de despesas mais elevados, sendo uma questão chave saber se os custos
correntes das mudanças propostas no plano poderão ou não ser suportados com
base em recursos locais. A sustentabilidade política requer que o Ministério
estabeleça fóruns e oportunidades de consulta regular com os representantes dos
grupos de interesse (por exemplo, professores, pais) e outros parceiros a nível
interno (por exemplo, confissões religiosas, empregadores) de modo a auscultar
os seus pontos de vista sobre os assuntos da educação e assegurar o seu apoio à
estratégia do Governo para o sector da educação.

O Ministério da Educação está a considerar a criação de um Conselho Nacional


de Educação, de modo a institucionalizar o processo de consulta, podendo ser
criadas instituições paralelas para perseguirem propósitos semelhantes, aos níveis
provincial e local.

1. Descentralização, desenvolvimento estrutural e capacitação institucional

A implementação do Plano Estratégico de Educação vai impor novas e difíceis


responsabilidades aos funcionários, a todos os níveis do sistema educativo. Mais,
a descentralização de parte significativa da autoridade administrativa, em grande
medida, vai trazer novos desafios aos gestores a nível das províncias, dos distritos
e das escolas. Ao nível das escolas, por exemplo, espera-se que os directores de
escolas venham a assumir tarefas que não lhes são familiares, incluindo o
desenvolvimento curricular, a formação de professores, a manutenção dos
edifícios, a gestão financeira e a ligação com a comunidade circundante. Os
efeitos destas mudanças serão sentidos também ao nível do Ministério, onde os
funcionários terão que aprender a gerir um sistema caracterizado pela autonomia
local, experimentação e diversidade, em vez de submissão e conformismo.

A criação da capacidade administrativa necessária para a implementação do Plano


Estratégico de Educação exigirá uma profunda reestruturação do Ministério da
Educação, de modo a assegurar que o pessoal, recursos e autoridade
administrativa sejam colocados nos níveis do sistema em que eles sejam
necessários. Por consequência, vai exigir a recolocação ou o recrutamento do
pessoal chave necessário para preencher os quadros das direcções provinciais e
distritais e providenciar-lhes orientação e formação para as novas
responsabilidades. Ao nível da estrutura central do Ministério, exigirá o
desenvolvimento de procedimentos para o acompanhamento e apoio à
implementação da mudança aos níveis mais baixos do sistema. É igualmente

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

necessária uma capacitação institucional nas áreas de análise e pesquisa de


política. A capacidade para a investigação educacional do INDE necessita
também de ser reforçada.

O MINED conduzirá um estudo sobre a descentralização administrativa no


sistema educativo, incluindo uma revisão da divisão de funções e
responsabilidades entre funcionários aos níveis nacional, provincial, distrital e da
escola. Um dos resultados do estudo será um plano de desenvolvimento de
capacidade administrativa em todos os níveis do sistema, bem como de
recolocação do pessoal e redefinição das funções administrativas entre os
diferentes níveis, de modo a assegurar uma eficácia contínua do sistema no
contexto de descentralização de responsabilidades.

2. Capacidade de financiamento e partilha de custos

A sustentabilidade financeira das mudanças propostas no Plano Estratégico de


Educação depende, em grande medida, dos sucessos da estratégia macro-
económica do Governo. Se for possível sustentar um forte crescimento da
economia, se os encargos impostos pelo serviço da dívida puderem ser reduzidos
e se as receitas fiscais puderem crescer, poderão, então ser suportados níveis
significativamente mais elevados de despesas públicas com a educação. Contudo,
se o crescimento for lento, a sustentação de níveis elevados de despesas com a
educação será muito mais difícil de suportar.

No entanto, mesmo na hipótese mais optimista, é provável que venha a persistir


uma diferença entre a capacidade financeira do Governo e as exigências
crescentes do sistema educativo. A curto e médio prazos, deverá ser possível
cobrir esta diferença através da assistência dos doadores bilaterais e multilaterais.
A longo prazo, porém, o Ministério terá que se basear em vários parceiros a nível
interno (pais, comunidades, ONG’s, confissões religiosas e sector privado) para
suportar os níveis mais elevados de despesas associados com a expansão e a
melhoria. Conseguir destes parceiros compromissos financeiros e de outra
natureza requererá do Ministério a partilha, de informação e autoridade
administrativa com os mesmos, a um nível maior do que foi no passado.

3. Informação pública e debate

Dado o papel fundamental que se espera que as comunidades locais e outros


grupos de interesse venham a desempenhar no financiamento da expansão de
ingressos e no apoio à melhoria da qualidade de ensino nas escolas
moçambicanas, é de importância vital para o Ministério a retenção do apoio
político destes parceiros. Isto exigirá, por um lado, a partilha da informação sobre
a implementação do Plano Estratégico de Educação e, por outro lado, o

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

estabelecimento de fóruns e oportunidades de consulta e debate sobre as políticas


educativas do Ministério. Anualmente, o MINED irá publicar e disseminar um
relatório, escrito numa linguagem simplificada, sobre a implementação da
estratégia educativa do Governo que meça o progresso em direcção à educação
primária universal e outros objectivos chave, incluindo o aumento da equidade em
relação às raparigas. O MINED apoiará também a criação de conselhos de escola,
de modo a encorajar a participação, transparência e prestação de contas na gestão
das escolas, e vai desenvolver procedimentos para uma consulta regular entre os
funcionários do Ministério, os grupos de interesse e os representantes da
sociedade civil a nível nacional, provincial e distrital.

VI. CENÁRIOS DE IMPLEMENTAÇÃO

A. O processo de implementação

O objectivo central do Plano Estratégico de Educação é o de promover um rápido


avanço no sentido da escolarização primária universal para as crianças
moçambicanas. O Ministério da Educação vai perseguir esta meta em paralelo
com medidas visando manter e melhorar a qualidade nas escolas primárias e o
estabelecimento dum quadro institucional para o sistema educativo que sirva de
apoio a maiores avanços e sustente os resultados que já tenham sido alcançados.
As tarefas críticas da implementação do Plano Estratégico de Educação consistem
no ritmo da construção e reabilitação de escolas e salas de aula, no aumento do
número de professores a receberem formação inicial e em serviço e na
continuação da disponibilização de livros escolares e material básico escolar aos
alunos mais necessitados.

A concepção do Plano Estratégico de Educação é flexível, de modo a permitir


modificações regulares, para responder à mudança das circunstâncias. O Plano
será revisto anualmente, para avaliar a disponibilidade de financiamento, as
mudanças nas políticas e prioridades do Governo e o progresso em relação aos
seus objectivos fundamentais. Esta revisão será feita com a participação de grupos
de interesse chave, incluindo os parceiros nacionais e internacionais do MINED.

O ritmo e as etapas de implementação irão depender, em primeiro lugar, do


desenvolvimento duma elevada capacidade em áreas chave do sistema educativo,
incluindo a construção de salas de aula, a formação de professores, o
desenvolvimento curricular e a administração escolar. Os constrangimentos que se
apresentam em relação à capacidade nestas áreas e em áreas com elas
relacionadas são tanto de natureza financeira como organizacionais. A sua
solução exigirá uma estreita colaboração entre o Ministério da Educação e os
parceiros nacionais e internacionais do Governo. No que diz respeito à construção

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

de salas de aulas, por exemplo, o ritmo de implementação vai depender da


capacidade do Governo em mobilizar as comunidades locais para contribuírem
para os projectos de construção e reabilitação e da continuação do apoio
financeiro dos parceiros internacionais do Governo. No que respeita à formação
de professores, a implementação vai depender da capacidade do Ministério de
recrutar candidatos aceitáveis para os postos de docência, da taxa de crescimento
das graduações no ensino secundário geral e na formação inicial realizada nas
instituições de formação de professores, bem como da expansão da capacidade de
oferta de formação em exercício e de apoio aos novos professores sem formação.
A solução destes constrangimentos vai reforçar a flexibilidade e tornar o sistema
mais ajustado às exigências de comunidades e autarquias, contribuindo, desse
modo, para o alcance do objectivo central do Governo.

Ao nível do Ministério da Educação, a responsabilidade global pela implemen-


tação do Plano Estratégico de Educação estará a cargo do Conselho Consultivo e
de um Comité Paritário de Acompanhamento, constituído por representantes dos
principais doadores do sector. A responsabilidade operativa de coordenação da
implementação no dia a dia estará nas mãos dum Conselho Técnico, presidido
pelo Vice-Ministro da Educação, com representantes de cada uma das unidades
operativas do Ministério. O Conselho Técnico será responsável por dirigir e
monitorar o processo de implementação e por preparar e apresentar, regular-
mente, ao Conselho Consultivo e ao Comité Paritário de Acompanhamento,
relatórios de progresso. Terão lugar, anualmente, reuniões formais de revisão com
os parceiros internos e externos do Ministério.

O sucesso na implementação do Plano Estratégico de Educação dependerá


também do estabelecimento de um processo efectivo de acompanhamento da
implementação, de modo a identificar e solucionar problemas e ajustar planos e
objectivos, atempadamente. O desenvolvimento de critérios e procedimentos para
acompanhar o progresso da implementação e a busca de respostas adequadas e
efectivas para as circunstâncias económicas e do sistema educativo em
permanente mudança exigem a criação duma Unidade de Análise de Políticas, a
nível do Ministério da Educação. Tal Unidade estará localizada na Direcção de
Planificação, a qual terá, a médio prazo, necessidade de alguma assistência técnica
para apoiá-la na sua criação. No seu trabalho de pesquisa e desenvolvimento de
opções políticas para o Ministério, o pessoal afecto à Unidade de Análise de
Políticas trabalhará em estreita ligação com funcionários e pesquisadores do
INDE, da Universidade Pedagógica, da Universidade Eduardo Mondlane e de
outros organismos. O trabalho da Unidade de Análise de Políticas incluirá ainda a
preparação e publicação dum relatório anual sobre a implementação do Plano
Estratégico de Educação e de mesas redondas periódicas com os principais
doadores do Ministério para verificar o progresso da implementação e solucionar
os problemas que forem surgindo.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

O sucesso na implementação exigirá ainda uma consulta regular com a sociedade


civil e os grupos de interesse, através do Conselho Nacional de Educação e os
conselhos provinciais e locais, bem como a realização de mesas-redondas
periódicas com os principais doadores do Ministério, para analisar os
desenvolvimentos. Um elemento importante deste processo de consulta será o
estabelecimento de procedimentos transparentes para a administração financeira,
incluindo auditorias regulares às contas do MINED e a partilha de informação
financeira com os grupos de interesse, em particular os parceiros da comunidade
internacional.

O relatório anual do Ministério providenciará informação relativa aos progressos


com vista ao alcance dos objectivos estratégicos do Governo, com dados
desagregados por sexos aos níveis provincial e local. Estão entre os indicadores a
serem reportados no relatório anual as taxas de admissão no ensino primário, a
percentagem de raparigas matriculadas nos diferentes níveis do sistema educativo,
medidas visando melhorar a eficácia interna, incluindo as taxas de desistências, as
taxas de graduação nos programas de formação inicial e em exercício de
professores, os números de salas de aulas construídas ou reabilitadas e as medidas
visando a melhoria da qualidade de ensino, incluindo a disponibilidade de
professores qualificados, livros escolares e material básico escolar.

B. Financiamento da implementação

Em colaboração com o Ministério do Plano e Finanças e os seus principais


parceiros externos, o Ministério da Educação preparou um Plano Financeiro para
a implementação do Plano Estratégico de Educação. Este documento apresenta as
estimativas da quantidade de recursos necessários para implementar a estratégia
do Ministério, incluindo estimativas de recursos a serem providenciados a partir
do Orçamento do Estado e de agentes externos. O documento identifica também
a quantidade de recursos a serem obtidos através da partilha de custos com as
famílias e as comunidades, com base num estudo sobre a vontade das famílias de
pagar pela educação.

O cenário que se apresenta no Plano Financeiro fornece estimativas preliminares


do custo e viabilidade da implementação do Plano Estratégico de Educação. As
estimativas apresentadas baseiam-se no actual quadro político do Governo em
relação à educação, o qual tem por objectivo alcançar uma taxa de admissão bruta
de 86 por cento, para o EP1, até ao ano 2000 e 90 por cento no ano 2002. (A
taxa de admissão bruta em 1997 foi de 79 por cento). Está em curso a revisão das
implicações financeiras de metas de admissão ainda mais ambiciosas.

No que diz respeito ao investimento, o Plano Estratégico de Educação exige


despesas significativamente mais elevadas para a construção de escolas e salas de

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

aulas. Para se alcançar o objectivo do Governo de 86 por cento de admissão bruta


no ano 2000, será necessária a construção de aproximadamente 8.000 novas salas
de aulas para o EP1 e o EP2. Aos actuais custos de construção, a disponibilização
destas novas salas de aulas exigirá, um investimento de, aproximadamente 47
milhões de dólares dos EUA, por ano, entre 1998 e 2002. É bem provável que os
custos de construção que o Ministério paga, actualmente, possam, no futuro, ser
reduzidos, em resultado da concepção e implementação de um modelo de
construção de baixo custo, o que significa que as necessidades de financiamento
poderão, de facto, ser consideravelmente inferiores.

Uma outra área chave de investimento no Plano Estratégico de Educação é a


formação inicial e em exercício de professores e directores de escolas e a
capacitação dos funcionários, em todos os outros níveis do sistema educativo. O
objectivo consiste em criar um sistema de formação de professores integrado, no
qual os educadores, em todos os níveis do sistema, desde a Universidade
Pedagógica até às escolas, participem na melhoria da qualidade do ensino que as
crianças moçambicanas recebem. Os investimentos necessários em formação
incluem, tanto o apoio em termos de custos directos da formação como as
despesas visando a elevação da capacidade e eficácia dos sistemas de formação
(i.e., a criação e equipamento de núcleos pedagógicos e NUFORPES adicionais,
reforço dos serviços de inspecção e supervisão pedagógica aos níveis provincial e
distrital, a revitalização das ZIP’s). Tal como nos casos anteriores, o Governo vai
continuar a busca, junto dos parceiros internacionais, de fundos para a formação e
capacitação institucional, na base de projectos ou programas. Outros elementos
da estratégia (por exemplo, a revisão do curriculum) serão igualmente financiados
na base de projectos.

O Governo continuará, na medida do possível, a empreender esforços para obter,


junto dos parceiros internacionais, fundos para o investimento. O Plano
Financeiro estima em, aproximadamente 104 milhões de dólares dos EUA, por
ano, o investimento capital do Ministério no período compreendido entre 1998 e
2002, pelo que a implementação do Plano Estratégico de Educação dependerá de
um enorme, mas possível, aumento do apoio externo. Os donativos e créditos
externos para o sector de educação em Moçambique atingiram, nos últimos anos
mais de 40 milhões de dólares, por ano. (Este valor exclui o apoio das ONG’s e
outras fontes “não oficiais”, bem como os créditos da IDA e de outras agências
multilaterais.) A manutenção ou o aumento gradual da totalidade do apoio
externo deverá ser, por isso suficiente para cobrir o custo de investimento da
estratégia do Governo, uma vez que este procurará, simultaneamente, reduzir o
seu envolvimento nos projectos de construção de escolas, encorajando a
participação de outros agentes a nível interno, incluindo as comunidades locais,
confissões religiosas, ONG’s e o sector privado.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

No que diz respeito aos custos correntes, a principal implicação do Plano


Estratégico de Educação para o orçamento do Estado consiste num significativo
aumento nas despesas com os salários dos professores, uma vez que o número de
professores vai subindo, para responder ao crescente número de ingressos e
conforme os professores forem melhorando as suas qualificações, através da
formação em exercício. As projecções de custos no Plano Financeiro sugerem que
a folha de salários anual subirá de 46 milhões de dólares, em 1998 para 67
milhões de dólares, em 2002, partindo do pressuposto de que não haverá aumento
real dos salários dos professores, a não ser os aumentos associados à melhoria das
suas qualificações. Aumentos reais dos salários dos professores aumentariam
significativamente os custos correntes que o Governo teria que suportar.

A expansão de ingressos e a construção de novas escolas e salas de aulas


implicará também um aumento de custos com os materiais de ensino e a
manutenção das escolas. O Governo procurará transferir a maior parte possível
destes custos para os pais, comunidades, ONG’s e para o sector privado, como
forma de reservar os seus próprios recursos para assistir as comunidades e
famílias mais pobres. No entanto, se o MINED mantiver a sua actual política de
fornecimento de livros e materiais a todos os alunos, o Plano Financeiro estima
que o custo total da Caixa Escolar subirá para, aproximadamente 45 milhões de
dólares, embora cerca de dois terços desse custo sejam, historicamente,
suportados pelos doadores do Governo. Custos correntes adicionais resultarão do
reforço dos sistemas administrativo e de formação. No Plano Financeiro, estima-
se que o Governo precisará de providenciar cerca de 4 milhões de dólares, por
ano, como fundo de contrapartida para a manutenção das novas escolas e salas de
aulas.

As estimativas apresentadas no Plano Financeiro sugerem que o orçamento


corrente anual do Estado para a educação (excluindo o ensino superior) terá que
subir em 50 por cento, entre 1998 e 2002, passando de cerca de 62 milhões de
dólares para 95 milhões, se o Ministério quiser caminhar no sentido da
escolarização primária universal. Para alcançar este objectivo, os recursos
públicos disponíveis para o sistema de educação básica terão que aumentar em
pouco mais de 8 por cento ao ano e a parte da despesa pública destinada à
educação terá que passar de 14,5 para 18,1 por cento, durante o período em
referência. Num cenário que conduza à escolarização primária universal no fim da
década (i.e., em 2006), deverá manter-se uma taxa semelhante de crescimento do
orçamento corrente, por um período adicional de cinco anos. O Ministério
procurará expandir estes recursos, através da redução dos custos de outras partes
do sistema educativo e através da transferência dos custos para as famílias e as
comunidades. Por exemplo, se a percentagem dos alunos que recebem livros e
material escolar através da caixa escolar puder ser reduzida de 100 para 66 por
cento em 2006, as despesas anuais do Ministério diminuirão substancialmente.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

Poupanças semelhantes poderiam ser conseguidas com a limitação dos aumentos


anuais dos salários dos professores.

Assim, a viabilidade do Plano Estratégico de Educação depende de forma decisiva


da vontade dos parceiros nacionais e internacionais do Governo de assumir uma
parte significativa dos custos de implementação. Os parceiros bilaterais e
multilaterais do Governo terão que providenciar cerca de 50 milhões dólares, por
ano, para apoiar a implementação do Plano Estratégico de Educação. A
viabilidade dependerá, também, duma série de outros factores. No que respeita
aos custos, as variáveis chave são o custo unitário de construção de salas de
aulas, a taxa de crescimento dos salários dos professores e a percentagem de
alunos que recebam apoio através da caixa escolar. Em relação aos custos, a
variável chave é a taxa de crescimento das receitas do Estado, o que, por sua vez,
depende da taxa de crescimento do PIB e da taxa efectiva de impostos.

VII. RISCOS

Tal como na implementação de qualquer mudança significativa, existem riscos a


serem enfrentados na adopção do Plano Estratégico de Educação. Do ponto de
vista do Governo, a conjugação das circunstâncias favoráveis acima analisadas
significa que tais riscos são agora menores do que já foram no passado e a
importância de permitir o acesso à escola primária a todas as crianças justifica os
riscos envolvidos. Apesar de tudo, deve ter-se em linha de conta a possibilidade
de que a estratégia possa falhar, de modo a que se possam prever e minimizar os
potenciais problemas. Quatro riscos merecem especial menção.

A. A expansão é insustentável

O risco maior para a estratégia do Governo é que, com a expansão dos ingressos,
os recursos disponíveis para apoiar o sistema educativo se venham a tornar
insuficientes. O rápido aumento de ingressos nos anos que se seguiram à
Independência foi invertido, em parte, devido ao colapso económico, que não
permitiu ao Governo sustentar os sucessos que haviam sido alcançados. Na
próxima década, o progresso no sentido da escolarização primária universal
poderá provar ser insustentável por qualquer uma de duas razões. Por um lado, o
aumento das receitas do Estado poderá ser menor do que se espera, quer devido
ao seu lento crescimento quer devido à falha na materialização do alívio da dívida.
Por outro lado, os parceiros nacionais e internacionais do Governo poderão não
disponibilizar recursos financeiros e materiais na escala necessária para o sucesso
da estratégia. Caso os doadores se recusem a financiar a Iniciativa Especial das
NU para África ou as comunidades locais se recusem a dar apoio às escolas
locais, então as metas centrais da estratégia não serão, provavelmente, alcançadas.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

B. A expansão conduz à degradação da qualidade

Um segundo risco para o Plano Estratégico de Educação é que o sucesso na


geração de um ritmo acelerado de expansão de ingressos possa sufocar a
capacidade nacional de providenciar os recursos essenciais para a aprendizagem,
incluindo professores formados e material básico de ensino para todos os alunos.
Caso as famílias e as comunidades respondam de maneira entusiástica ao
encorajamento do Governo para matricularem os seus filhos no ensino primário, a
necessidade de professores e livros escolares daí resultante poderá exceder a
oferta disponível. O Governo poderá, então encarar uma difícil escolha entre
recusar as exigências locais, por forma a abrandar o passo da expansão de
ingressos e responder às exigências locais, abandonando os padrões mínimos de
qualidade. O Governo moçambicano já enfrentou uma escolha semelhante nos
anos imediatamente após a Independência e o declínio da qualidade que daí
resultou provou ser extremamente difícil de inverter.

C. A descentralização sufoca os gestores a nível local

Um risco adicional que poderá vir a ser enfrentado na implementação do Plano


Estratégico de Educação é o de os funcionários aos níveis provincial, distrital e
das escolas não poderem assumir as responsabilidades crescentes que a
descentralização implica. A capacidade administrativa, a todos os níveis do
sistema educativo, é de certo modo limitada e muitos directores de escola estão
mal qualificados, mesmo para realizarem as poucas tarefas que lhes têm sido
solicitadas no actual sistema centralizado. Outros deram mostras de uma grande
energia empreendedora, apesar dos constrangimentos que, no actual sistema,
restringem a inovação ao nível da escola. Dando um grande número de novas
obrigações a gestores insuficientemente preparados e, simultaneamente esperar
que eles se transformem de gestores em líderes, poderá causar confusão e
frustração, em vez de melhorias sistemáticas. Para dar resposta a este risco, o
Ministério vai adoptar critérios de recrutamento para as posições de gestão a nível
local e oferecer oportunidades de formação aos gestores a nível local e aos
directores de escolas.

D. A descentralização exacerba as desigualdades

Um quarto risco para a estratégia do Governo é que a descentralização da


responsabilidade administrativa e financeira venha a ampliar as desigualdades
existentes entre as regiões e as escolas. Isto é, até certo ponto, uma consequência
inevitável da descentralização. Alguns administradores e comunidades estão
melhor preparados do que outros para aceitarem novas responsabilidades, sendo
os primeiros, em geral, mais enérgicos do que os últimos na sua dedicação às
novas oportunidades que a descentralização traz consigo. O Ministério poderá,

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

até certo ponto, minimizar este problema através de um acompanhamento


cuidadoso da implementação da reforma e da disponibilização de apoio adicional
ou da condução de acções correctivas para as regiões ou escolas que pareçam
estar a ficar para trás. Neste contexto, o Governo tomará particular cuidado para
assegurar que a descentralização não coloque as raparigas em ainda maior
desvantagem, as quais, em algumas regiões, enfrentam actualmente maiores
obstáculos para ingressarem e permanecerem na escola do que noutras.

E. Falta o engajamento por parte dos grupos de interesse e outros


parceiros

Um último risco para a estratégia do Governo é que a implementação possa falhar


porque o apoio de que o Ministério precisa e espera receber dos seus parceiros
nacionais e internacionais não seja disponibilizado. O sucesso do Plano
Estratégico de Educação depende, de forma decisiva, da vontade dos pais, das
comunidades locais, das ONG’s, das confissões religiosas, dos empregadores e de
outros parceiros internos de assumir uma parte significativamente maior da
responsabilidade administrativa e financeira do sistema educativo e da vontade
dos parceiros internacionais do Governo de aumentar o apoio financeiro que têm
vindo a dar ao sistema educativo moçambicano. Caso venha a faltar o
compromisso dos parceiros do Governo, a estratégia poderá falhar. A
manutenção do seu compromisso vai exigir do Ministério da Educação uma maior
partilha de informação e de autoridade com os grupos de interesse e a criação de
mecanismos de comunicação e consulta, para assegurar que todos os interesses e
preocupações sejam ouvidos e solucionados atempadamente.

VIII. PRIORIDADES ESTRATÉGICAS

O Plano Estratégico de Educação identifica os principais objectivos estratégicos


do Ministério da Educação para a educação básica e a estratégia que o Ministério
vai adoptar para alcançá-los. O enfoque principal da estratégia do MINED para a
próxima década consiste na expansão e melhoria nas escolas primárias. Contudo,
tal como está claramente definido na Política Nacional de Educação, outros
sectores do sistema educativo requerem igualmente uma atenção. Esta secção do
documento identifica as prioridades operacionais noutros sectores do sistema
educativo e, em alguns casos, faz a ligação dos mesmos com propostas
específicas de projectos.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

A. Educação pré-escolar

As oportunidades de educação pré-escolar são de uma importância especial para


as crianças pobres. Elas podem providenciar às crianças pertencentes a famílias
pobres o conhecimento e as habilidades básicos que elas precisam para
ingressarem na escola primária preparadas para aprender, bem como o apoio
nutricional e de outro tipo que possa aumentar as chances destas crianças serem
bem sucedidas na escola. A expansão do acesso aos programas de educação pré-
escolar para as crianças desfavorecidas poderá, por isso, servir dois propósitos,
nomeadamente a melhoria da eficácia interna das escolas primárias e o aumento
da equidade social.

Actualmente, os programas de educação pré-escolar em Moçambique são


escassos, embora o número de instituições em funcionamento exceda, sem
margem para dúvidas, o número oficialmente conhecido pelo Ministério da
Educação. Tirando algumas poucas excepções, os programas de educação pré-
escolar são organizados e o respectivo pessoal contratado informalmente, sob os
auspícios de confissões religiosas, ONG’s e associações de famílias vizinhas umas
das outras e, como consequência disso, variam grandemente em tamanho e na
qualidade dos serviços prestados.

O Ministério não prevê um papel significativo do Estado na provisão directa de


programas de educação pré-escolar. Contudo, o MINED vai encorajar a maior
expansão possível de oportunidades das crianças receberem educação pré-escolar,
vai apoiar as iniciativas de outros agentes na melhoria dos programas actualmente
existentes ou no estabelecimento de novos programas. O apoio do MINED
poderá assumir a forma de programas de formação de educadores de infância, ou
o acesso a espaços em edifícios das escolas públicas, para o estabelecimento de
programas de educação pré-escolar.

B. Ensino primário

Caminhar rapidamente no sentido de alcançar a escolarização primária universal e


a melhoria da qualidade de ensino nas escolas primárias constituem os objectivos
centrais do Plano Estratégico de Educação. Assegurar que todas as crianças
moçambicanas tenham acesso a oportunidades de uma educação básica de
qualidade aceitável é de uma importância fundamental, para se atingirem os
objectivos de desenvolvimento mais amplos do Governo, incluindo o
encorajamento de um crescimento económico intensivo, a redução da pobreza e o
aumento da equidade social, dentro e fora do sistema educativo. A oferta de
lugares para todas as crianças nas escolas primárias vai reduzir as actuais
disparidades regionais e de sexo, tanto de ingressos como de sucesso, e vai ajudar

35
PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

a dar aos jovens moçambicanos os conhecimentos de leitura e escrita e outros que


eles vão precisar para obterem meios de sobrevivência sustentáveis no futuro.

A taxa bruta de admissão no EP1 melhorou substancialmente nos últimos anos,


tendo subido de 54 por cento, em 1994 para 79 por cento, em 1998. O Governo
pretende manter o actual ritmo de expansão até que todas as crianças
moçambicanas tenham acesso a um lugar na escola primária. Para alcançar esta
meta, o Ministério está a planificar a construção, nos próximos cinco anos (1998-
2003), de 10.779 novas salas de aula para o EP1 e 1.860 para o EP2. Estas novas
salas de aula vão criar, nas escolas, lugares adicionais para aproximadamente um
milhão de alunos, no EP1 e 167.400 no EP2. Um número semelhante de salas de
aula terá que ser construído nos cinco anos seguintes (2003-2007), se se quiser
manter o progresso no sentido da escolarização primária universal. Serão também
essenciais as inovações na formação de professores, incluindo a rápida expansão
da capacidade de formação em exercício, se se pretender manter a
disponibilização de professores ao ritmo da procura de lugares na escola. O
Governo irá, simultaneamente, procurar elevar a qualidade do ensino, através da
revisão e reformulação do curriculum do ensino primário e da disponibilização de
material básico escolar para todas as salas de aula e alunos.

Garantir que todas as crianças moçambicanas tenham acesso a oportunidades


educativas de qualidade aceitável é uma responsabilidade primária do Estado,
através do sistema educativo e o Governo vai envidar todos os esforços para
providenciar os recursos, financeiros e de outro tipo, necessários para alcançar as
principais metas do Plano Estratégico de Educação. Ao mesmo tempo, parece
que só os recursos do Governo não serão suficientes e, por isso, a
responsabilidade de expansão das oportunidades educativas terá que ser
partilhada com uma ampla variedade de parceiros nacionais e internacionais.
Neste sentido, é de particular importância o crescimento do papel das
comunidades na construção de escolas e de salas de aula e no apoio local aos
professores, mas a crescente participação das confissões religiosas e do sector
privado na expansão da oferta de lugares na escola, bem como a crescente
participação dos pais na aquisição de livros e de outros materiais serão,
igualmente, contribuições importantes.

C. Educação especial

O Ministério dá uma grande importância à expansão de oportunidades educativas


para crianças com necessidades especiais. Muitas crianças sofreram, durante a
guerra, traumatismos físicos e emocionais que lhes impediram de frequentar a
escola ou diminuíram a sua capacidade de aprenderem em salas de aula
tradicionais. De igual modo, as crianças com deficiências vêem limitadas as suas
oportunidades de aprendizagem, tanto porque o seu acesso à escola é limitado

36
PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

como porque os programas e os serviços que possam responder às suas


necessidades não estão amplamente disponíveis. Actualmente, existem em
Moçambique apenas quatro escolas para crianças com necessidades especiais que
servem, todas juntas, menos de 300 alunos.

A estratégia do Ministério para melhorar os serviços oferecidos às crianças com


necessidades especiais tem como base o princípio da inclusão. Será integrado nas
escolas e salas de aula existentes o maior número possível de crianças com
necessidades especiais, ao invés de segregá-las em escolas separadas ou excluí-
las, por completo, da escola. O sucesso da inclusão vai exigir formação inicial e
em exercício dos professores, de modo a prepará-los para as exigências de ensinar
um grupo ainda mais diverso de alunos. Vai também exigir esforços de
preparação dos pais e das comunidades para as mudanças que possam
acompanhar a inclusão, nas suas escolas, bem como o desenvolvimento de
estratégias de ensino e materiais apropriados para o uso em salas de aula
inclusivas.

D. Educação não-formal e educação de adultos

O MINED reconhece a importância urgente de elevar o acesso à educação não-


formal e de adultos, bem como às oportunidades de formação em Moçambique,
os quais são definidos na Política Nacional de Educação como sendo uma
prioridade. A taxa de analfabetismo de adultos é estimada em 60 porcento, com
uma taxa significativamente mais elevada entre as mulheres (77 porcento). Para
além disso, devido ao contínuo declínio da taxa de ingressos no ensino primário
entre os anos 1981 e 1994, o número de jovens que nunca estiveram na escola é
bastante elevado. Mesmo hoje, aproximadamente metade das crianças em idade
escolar não estão matriculadas, o que significa que o número de analfabetos e de
moçambicanos não educados continuará a crescer no futuro mais próximo. A
oferta de oportunidades alternativas de educação a estes grupos é um
complemento essencial da estratégia do Ministério para expandir o acesso e
melhorar a qualidade nas escolas primárias.

As oportunidades de educação não-formal e de adultos poderão compreender


uma grande gama de actividades de aprendizagem, podendo haver coincidências
potencialmente amplas entre diferentes tipos de cursos. Os programas de
educação sobre saúde comunitária ou sobre o SIDA, financiados por ONG’s, por
exemplo, poderão, simultaneamente, oferecer aos educandos oportunidades para
ampliar os seus conhecimentos de leitura e escrita. Os cursos organizados pelos
empregadores ou por organismos do sector privado com vista a oferecer aos
jovens desempregados e que não possam ser empregues habilidades que vão
permitir o seu auto-sustento, poderão incorporar também a alfabetização e a
educação cívica. A educação organizada pelas confissões religiosas, nas

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

catequeses e escolas corânicas oferece, muitas vezes, oportunidades para os


participantes poderem adquirir conhecimentos básicos de leitura e escrita. O
MINED reconhece o valor e a importância das oportunidades educativas e de
formação oferecidas por estes e por muitos outros agentes.

A oferta de programas de educação não-formal e de adultos poderá ser feita numa


base presencial ou por via do uso das tecnologias de ensino à distância. A
aprendizagem ao ritmo individual e com uma estrutura flexível que as tecnologias
de ensino à distância permitem poderá ser especialmente apropriada para uma
grande variedade de tipos de ensino e formação. Numa situação em que os alunos
estejam muito dispersos, o ensino à distância poderá, também, possibilitar a oferta
de formação a um custo relativamente baixo, como já o demonstrou o projecto de
formação de professores à distância do IAP. O Ministério vai apoiar estudos de
viabilidade e projectos piloto levados a cabo por ONG’s e doadores internacionais
que procurem desenvolver capacidade nacional para expandir a implementação, a
nível local, de programas de ensino à distância.

Devido à magnitude e complexidade dos problemas que tem de resolver, à


diversidade de necessidades de aprendizagem e às suas demais prioridades
estratégicas e obrigações, o Ministério da Educação não pode providenciar
recursos humanos e financeiros suficientes para apoiar um amplo envolvimento
público em acções de educação não-formal e de adultos. Assim, o papel principal
do Ministério incluirá o desenvolvimento curricular, elaboração de materiais de
ensino e definição de padrões para os programas de educação não-formal, bem
como a promoção de incentivos à participação de outros actores. Neste contexto,
o Ministério procurará reforçar o INEA para se tornar num centro de recursos
para a educação não-formal e de adultos que se encarregará da formação de
formadores e da produção de materiais instrucionais para todos os actores
envolvidos no sector. Algumas escolas, incluindo escolas técnicas elementares,
poderão participar directamente na oferta de acções de alfabetização ou de
formação para alfabetizandos não tradicionais.

Outros actores nesta área irão, por isso mesmo, incluir ONG’s nacionais e
internacionais, confissões religiosas, governos locais e organizações comunitárias
e empregadores. Os actores pertencentes ao sector privado poderão também
desejar oferecer algumas formas de educação não-formal e de adultos e formação
numa base onerosa. O envolvimento deste leque diversificado de actores poderá
maximizar a capacidade local de resposta e a relevância dos programas e poderá
também ajudar a encorajar e apoiar o engajamento dos próprios educandos. O
Ministério vai, por isso, criar um Conselho Nacional que inclua os principais
actores do sector, para coordenar, monitorar e apoiar os seus esforços.

O Ministério da Educação encoraja a mais ampla participação possível neste


sector e pode oferecer vários tipos de apoio aos fornecedores de programas de

38
PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

educação não-formal e de adultos. O Ministério pode, por exemplo, providenciar


os materiais de alfabetização em Português e em línguas locais produzidos pelo
INDE ou ajudar os fornecedores no acesso a instalações escolares e outras infra-
estruturas públicas para a condução de acções de educação não-formal e cursos
de formação. O MINED vai estabelecer um sistema de equivalência entre os
certificados obtidos através da escola e os obtidos através dos programas de
educação não-formal e formação, de modo a aumentar a chance dos alunos que
terminam os cursos de educação não-formal poderem posteriormente conseguir
um emprego ou voltarem a entrar para o sistema de ensino formal.

E. Ensino Técnico

O ensino técnico-profissional tem a responsabilidade de formar trabalhadores


qualificados e pessoal técnico que responda às necessidades do mercado de
trabalho. Tem também a responsabilidade de dar aos alunos os conhecimentos e
habilidades de que necessitam para conseguirem um emprego e ter rendimentos
que lhes permitam sustentar uma família. As escolas técnico-profissionais
representam um ponto terminal do sistema educativo e, por isso mesmo, a
qualidade e a relevância dos programas de ensino têm uma grande importância.

O sector do ensino técnico-profissional compreende três diferentes tipos de


instituições: elementares, básicas e médias. Todos os três níveis do sistema foram,
até há bem pouco tempo, negligenciados. No nível elementar, apenas três escolas
continuam abertas, com um total de cerca de 400 alunos matriculados. Nos níveis
mais elevados, os recursos para o ensino estão dispersos por um número
excessivo de cursos e os curricula são de uma relevância duvidosa para as actuais
necessidades do mercado de trabalho. Os equipamentos e as infra-estruturas
físicas estão obsoletos e degradados. A qualidade do ensino e dos conhecimentos
técnicos dos graduados não são, em geral, suficientes para satisfazer as
expectativas dos empregadores ou os requisitos para o auto-emprego.

As prioridades do Ministério para este sector estão direccionadas ao aumento do


acesso às escolas elementares, com particular ênfase para a reabertura e
revitalização das Escolas Elementares Agrícolas e de Artes e Ofícios nas zonas
rurais, como forma de apoiar a expansão de oportunidades de emprego e de
rendimentos nessas zonas, bem como o aumento da produção. A possibilidade de
oferecer alguns programas pela via das tecnologias de ensino à distância será
também explorada. Nas escolas básicas e médias, o MINED pretende manter a
actual capacidade e restaurar os padrões mínimos de qualidade. Isto vai exigir,
entre outras coisas, uma substancial redução no número de especialidades
oferecidas e uma reciclagem sistemática do pessoal docente, de modo a actualizar
os seus conhecimentos e habilidades. A adopção de políticas e o desenvolvimento
curricular para elevar a participação é de especial importância.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

O Ministério vai procurar, nos três níveis, melhorar a qualidade dos programas de
ensino e aumentar o nível de resposta das instituições do sector às mudanças em
curso na economia moçambicana. O alcance destas metas vai depender de uma
estreita colaboração entre o Ministério da Educação e muitos outros parceiros,
incluindo os sindicatos, empregadores dos sectores público e privado e outros
ministérios (por exemplo, o Ministério do Trabalho). O Ministério vai estabelecer
fóruns tripartidos com representantes dos trabalhadores, empregadores e do
Estado para debaterem assuntos relacionados com o ensino técnico-profissional e
apoia, também, passos no sentido da partilha na gestão deste sector.

Os empregadores dos sectores público e privado têm um papel igualmente


importante a desempenhar como fornecedores de formação técnico-profissional,
quer seja no posto de trabalho, para os seus empregados quer através da oferta de
oportunidades de formação formal ou informal para jovens desempregados. Os
empregadores poderão também dar assistência à urgente necessidade de
reciclagem do corpo docente das escolas técnicas, o que é essencial, se estas
instituições tiverem que providenciar candidatos ao emprego devidamente
qualificados. Algumas ONG’s também financiam valiosos programas de formação
de habilidades profissionais a grupos particulares, incluindo mulheres das zonas
rurais e crianças de rua, em Maputo. O MINED encoraja a mais ampla
participação possível no sector do ensino técnico-profissional e vai disponibilizar
todas as formas de apoio que estejam ao seu alcance aos fornecedores
alternativos, incluindo o acesso ao equipamento e às infra-estruturas das suas
próprias escolas.

F. Ensino Secundário

O ensino secundário oferece uma preparação essencial para o emprego de nível


intermédio e para o ensino e formação superior, incluindo a formação de
professores. O rápido crescimento da economia moçambicana ao longo da última
década aumentou significativamente a procura de trabalhadores qualificados,
especialmente no sector privado, não tendo sido, no entanto, acompanhado pelo
fornecimento de graduados das escolas secundárias. Para além disso, a expansão
das admissões ao nível da educação básica que se prevê no Plano Estratégico de
Educação irá aumentar grandemente a procura de novos professores.
Actualmente, o número de candidatos com dez anos de escolaridade (i.e. o
ESG1) situa-se substancialmente abaixo do número de novos professores
necessários para alimentar as escolas primárias moçambicanas na próxima década.
É provável que a procura de jovens que tenham concluído o ESG1 no mercado de
trabalho exceda, por algum tempo, no futuro, a saída de graduados. Por outro
lado, é óbvio que o aumento de admissões e a melhoria da qualidade nas escolas
primárias irá exercer, inevitavelmente, pressão no aumento do acesso ao ensino
secundário, o que justifica claramente alguma expansão neste nível.

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

Os objectivos do Governo para este sector incluem uma expansão limitada das
admissões, com particular enfoque no aumento da equidade no acesso,
particularmente para as raparigas e para os alunos das zonas rurais. Para elevar o
ingresso de raparigas no nível secundário, o Ministério vai introduzir várias novas
políticas, incluindo bolsas (ou isenção de propinas) para as raparigas pertencentes
a famílias pobres; a incorporação de assuntos do género e a consciência em
relação às questões de género nos curricula das escolas e de formação de
professores; a expansão do recrutamento de professores, directores e assistentes
de sexo feminino; e medidas de maior segurança e conforto das raparigas nos
internatos. Para aumentar o acesso ao ensino secundário nas zonas rurais e
noutras zonas anteriormente desfavorecidas serão construídas mais 25 escolas do
ESG1 nos distritos em que as mesmas não estão disponíveis e vai encorajar o
crescimento no número e cobertura das escolas secundárias privadas. A Política
Nacional de Educação indica que se devem duplicar os ingressos, tanto nas
escolas do primeiro ciclo (ESG1) como nas do segundo ciclo (ESG2), nos cinco
anos posteriores a 1995, os quais se situavam, na altura, em níveis muito baixos.
Existem actualmente, aproximadamente 53.000 alunos no ESG1 e 7.300 no
ESG2).

O Ministério vai igualmente dar passos no sentido da melhoria da qualidade de


ensino nas escolas secundárias. Isso incluirá melhorias na eficiência interna,
redução das elevadas taxas de repetência nas escolas do ESG1; uma revisão do
curriculum, com vista a incorporar uma orientação menos teórica e mais prática;
uma revisão das práticas de avaliação e dos padrões de desempenho dos alunos; a
reabilitação das infra-estruturas físicas, incluindo os laboratórios; o recrutamento
de professores qualificados para as ciências e matemática; e a expansão das
oportunidades de formação em exercício para os professores das escolas
secundárias. O Ministério vai também explorar a possibilidade de utilização das
tecnologias de ensino à distância nas escolas secundárias; o uso interactivo do
vídeo, por exemplo, poderá providenciar o acesso a cursos avançados em escolas
em que, de outro modo, os mesmos não poderiam estar disponíveis.

G. Ensino Superior

O desenvolvimento nacional depende também da formação de profissionais,


técnicos e cientistas altamente qualificados para preencher as posições seniores da
administração e produzir soluções para os inúmeros problemas de
desenvolvimento que Moçambique enfrenta actualmente. O Governo dá, por isso,
uma importância fundamental à expansão e melhoria no ensino superior. Tal como
em outros sectores, as políticas do Governo para o ensino superior encorajam a
oferta de serviços educativos por outros actores, incluindo as confissões religiosas
e o sector privado. A participação destes outros agentes, de parceria com o
Ministério da Educação, é essencial para o sucesso da estratégia de

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

desenvolvimento do Governo, incluindo a criação de institutos politécnicos e


outros institutos especializados para a formação superior.

Para o Governo, constitui primeira prioridade estender as oportunidades de


ensino superior aos cidadãos das regiões moçambicanas distantes de Maputo.
Para alcançar esta meta, o Governo considera muitas diferentes abordagens,
incluindo a expansão das infra-estruturas de internamento na Universidade
Eduardo Mondlane, a criação de centros regionais de ensino superior, o uso de
novas tecnologias para a oferta de serviços de educação superior a estudantes
distantes e dispersos e o apoio à criação de novas instituições fora do sector
público. Conforme o número de instituições for crescendo, o Governo poderá
explorar a possibilidade de financiamento directo aos alunos do ensino superior,
através de bolsas de estudo a serem utilizadas em qualquer instituição pública ou
privada.

A eficiência interna das instituições de ensino superior é baixa, com números


relativamente pequenos de estudantes a concluírem, anualmente, os seus estudos
académicos e as condições de vida, para os estudantes, e de trabalho, para os
docentes são, duma maneira geral más. Por outro lado, um estudo recente sobre o
ensino superior sugere que a actual capacidade das instituições de ensino superior
existentes será suficiente para satisfazer a procura por parte dos empregadores
até, pelo menos, 2003. As prioridades imediatas do MINED para o sector estão,
pois direccionadas à melhoria da qualidade e eficiência, com ênfase no
melhoramento da motivação e do desempenho dos estudantes e do pessoal.
Particular ênfase será dada às estratégias que visam aumentar a representação de
mulheres entre os estudantes e docentes.

O ensino à distância tem um papel especialmente importante a desempenhar na


expansão de oportunidades no ensino superior. Em Moçambique as tecnologias
tradicionais, incluindo o ensino por correspondência, e as novas tecnologias,
incluindo o vídeo-conferência interactivo poderão estender o alcance das
instituições existentes a mais estudantes em regiões distantes, aumentando, desse
modo, o impacto dos escassos recursos para o ensino. Para além das fronteiras de
Moçambique, as novas tecnologias, incluindo conferências por vídeo e a Internet,
podem providenciar, aos estudantes e docentes, o acesso a cursos e investigações
produzidas por universidades de todo o mundo. A cooperação com outras
instituições de ensino superior da África Austral é de uma importância particular.

A Universidade Pedagógica tem um papel chave a desempenhar para o alcance


das metas do Plano Estratégico de Educação. A implementação da estratégia do
Governo para a educação básica vai exigir o desenvolvimento de programas para
a formação inicial e em exercício de instrutores (formadores) de professores,
inspectores e supervisores. O aumento da capacidade da Universidade Pedagógica
através da restruturação e da disponibilização do apoio necessário para capacitar

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PLANO ESTRATÉGICO DE EDUCAÇÃO, 1999-2003
“COMBATER A EXCLUSÃO, RENOVAR A ESCOLA”

a universidade para efectuar novas e importantes contribuições ao


desenvolvimento moçambicano, mesmo continuando com e melhorando o seu
papel na formação de professores para o ensino secundário.

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TABELA 1: Cenário II, evolução de alunos, turmas, salas de aula e professores
Ano base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ensino Primário do 1º Grau
Taxa de admissão bruta 75,0% 75,5% 80,0% 85,0% 90,0% 95,0% 100,0% 105,0% 110,0% 115,0% 120,0%
Taxa de escolarização bruta 61,7% 66,2% 70,8% 75,8% 80,9% 85,9% 90,8% 95,7% 100,4% 104,9% 109,3%
Alunos Total 1.573.957 1.728.442 1.902.010 2.114.965 2.343.993 2.586.110 2.841.982 3.111.515 3.392.102 3.683.167 3.985.854
Graduados 75.139 80.893 90.101 102.801 119.720 137.813 158.046 183.002 211.519 242.405 275.442
Turmas Total 33.206 36.084 39.217 43.163 47.353 51.722 56.277 61.010 65.866 70.830 75.921
Salas de aula Total 19.251 20.920 22.736 25.024 27.453 29.986 32.626 35.370 38.185 41.063 44.015
Novas - 1.669 1.816 2.288 2.429 2.533 2.640 2.744 2.815 2.878 2.952
Professores Total 26.503 28.807 31.700 35.249 39.067 43.102 47.366 51.859 56.535 61.386 66.431
Novos - 2.834 3.469 4.183 4.523 4.816 5.126 5.440 5.713 5.982 6.273
Ensino Primário do 2º Grau
Taxa de Transição Ep1-Ep2 80,6% 81,0% 82,0% 83,0% 84,0% 85,0% 86,0% 87,0% 88,0% 89,0% 90,0%
Taxa de escolarização bruta 14,8% 15,3% 15,9% 17,0% 18,7% 21,1% 23,9% 27,2% 31,0% 35,4% 40,3%
Alunos Total 136.773 144.652 153.950 168.275 189.297 218.394 253.926 295.168 344.278 402.208 468.248
Graduados 19.888 21.418 22.580 24.067 26.408 29.818 34.509 40.150 46.665 54.456 63.629
Turmas Total 2.958 3.145 3.361 3.690 4.170 4.832 5.643 6.559 7.651 8.938 10.406
Salas de aula Total 1.479 1.747 1.867 2.050 2.317 2.684 3.135 3.644 4.251 4.966 5.781
Novas - 268 120 183 267 367 451 509 607 715 815
Professores Total 2.656 2.809 3.007 3.306 3.741 4.342 5.079 5.903 6.886 8.044 9.365
Novos - 206 254 359 501 676 824 926 1.101 1.296 1.482
TABELA 2: Cenário I, evolução de alunos, turmas, salas de aula e professores
Ano base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ensino Primário do 1º Grau
Taxa de admissão bruta 75,0% 75,5% 79,0% 82,5% 86,0% 88,0% 90,0% 92,0% 93,0% 94,0% 95,0%
Taxa de escolarização bruta 61,7% 66,2% 70,6% 75,1% 79,3% 83,0% 86,1% 88,8% 90,8% 92,2% 93,2%
Alunos Total 1.573.957 1.728.442 1.896.222 2.094.196 2.299.479 2.499.488 2.695.281 2.887.570 3.068.189 3.237.956 3.400.085
Graduados 75.139 80.893 90.101 102.801 119.720 137.813 157.508 180.749 206.256 231.866 257.081
Turmas Total 33.206 36.084 39.097 42.739 46.454 49.990 53.372 56.619 59.576 62.268 64.764
Salas de aula Total 19.251 20.920 22.666 24.778 26.931 28.981 30.942 32.825 34.539 36.100 37.547
Novas - 1.669 1.746 2.112 2.153 2.050 1.961 1.883 1.714 1.561 1.447
Professores Total 26.503 28.807 31.604 34.903 38.325 41.658 44.921 48.126 51.136 53.966 56.668
Novos - 2.834 3.373 3.931 4.120 4.099 4.096 4.103 3.973 3.853 3.781
Ensino Primário do 2º Grau
Taxa de Transição Ep1-Ep2 80,6% 81,0% 82,0% 83,0% 84,0% 85,0% 86,0% 87,0% 88,0% 89,0% 90,0%
Taxa de escolarização bruta 14,8% 15,3% 15,9% 17,0% 18,7% 21,1% 23,9% 27,2% 30,8% 34,8% 39,0%
Alunos Total 136.773 144.652 153.950 168.275 189.297 218.394 253.926 294.705 341.945 395.810 454.255
Graduados 19.888 21.418 22.580 24.067 26.408 29.818 34.509 40.150 46.581 54.048 62.541
Turmas Total 2.958 3.145 3.361 3.690 4.170 4.832 5.643 6.549 7.599 8.796 10.095
Salas de aula Total 1.479 1.747 1.867 2.050 2.317 2.684 3.135 3.638 4.222 4.887 5.608
Novas - 268 120 183 267 367 451 503 584 665 721
Professores Total 2.656 2.809 3.007 3.306 3.741 4.342 5.079 5.894 6.839 7.916 9.085
Novos - 206 254 359 501 676 824 917 1.063 1.214 1.327
TABELA 3A: Cenário II, projecção dos alunos nos cursos de formação de professores para o Ep1
Cursos Ano de Base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Curso de 3 anos Total 3.793 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810
Graduados 952 767 716 902 781 749 864 789 770 840 794
Curso de 2 anos Total 200 640 1.080 2.150 2.700 2.700 2.700 2.700 2.700 2.700 2.700
Graduados 0 128 300 434 1.002 869 983 887 968 899 957
Total Geral Total 3.993 4.450 4.890 5.960 6.510 6.510 6.510 6.510 6.510 6.510 6.510
Graduados 952 895 1.016 1.336 1.783 1.618 1.847 1.676 1.738 1.739 1.751
Professores a recrutar 2.834 3.469 4.183 4.523 4.816 5.126 5.440 5.713 5.982 6.273
Diferença anual -1.930 -2.619 -3.218 -3.254 -3.122 -3.589 -3.685 -4.121 -4.331 -4.621
Diferença acumulada -14.143 -20.347

TABELA 3B: Cenário I, projecção dos alunos nos cursos de formação de professores para o Ep1
Cursos Ano de Base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Curso de 3 anos Total 3.793 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810 3.810
Graduados 952 767 716 902 781 749 864 789 770 840 794
Curso de 2 anos Total 200 640 1.080 2.150 2.700 2.700 2.700 2.700 2.700 2.700 2.700
Graduados 0 128 300 434 1.002 869 983 887 968 899 957
Total Geral Total 3.993 4.450 4.890 5.960 6.510 6.510 6.510 6.510 6.510 6.510 6.510
Graduados 952 895 1.016 1.336 1.783 1.618 1.847 1.676 1.738 1.739 1.751
Professores a recrutar 2.834 3.373 3.931 4.120 4.099 4.096 4.103 3.973 3.853 3.781
Diferença anual -1.930 -2.523 -2.966 -2.851 -2.405 -2.559 -2.348 -2.381 -2.202 -2.129
Diferença acumulada -12.675 -11.619
TABELA 4: Cenário II
Ano base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Material básico escolar


Para 33% dos alunos e todos os professores 20.146,8 5.274,4 6.768,7 7.424,6 8.328,3 9.166,9 10.153,8 11.127,6 12.211,3 13.315,6 14.511,1
Para 66% dos alunos e todos os professores 20.146,8 10.742,5 13.309,7 14.696,7 16.411,4 18.119,7 20.029,1 21.981,0 24.098,5 26.295,4 28.643,8
Para todos os alunos e professores 20.146,8 18.144,0 20.049,0 22.189,2 24.739,5 27.343,7 30.203,7 33.163,3 36.346,0 39.668,6 43.204,8

Despesas não salariais


Ensino primário (Ep1 e Ep2) 1.944 2.092 2.261 2.492 2.783 3.145 3.563 4.034 4.572 5.183 5.864

Despesas salariais
Sem aumento salarial 21.178,2 23.185,7 25.611,1 28.554,1 31.830,3 35.443,1 39.376,9 43.591,2 48.130,1 53.010,8 58.237,5
Com um aumento de 2% anualmente 21.178,2 23.649,4 26.645,8 30.301,9 34.454,1 39.132,0 44.344,7 50.072,6 56.392,1 63.352,8 70.991,2
Com um aumento de 4% anualmente 21.178,2 24.113,1 27.701,0 32.119,5 37.236,9 43.121,9 49.824,3 57.363,0 65.869,4 75.450,9 86.205,7

Despesas de investimento
Ensino primário (Ep1 e Ep2) 0 32.977 29.110 36.848 40.417 43.836 46.800 48.948 51.718 54.633 57.415
TABELA 5: Cenário I
Ano base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Material básico escolar


Para 33% dos alunos e todos os professores 20.147 5.274 6.749 7.352 8.171 8.861 9.639 10.343 11.079 11.758 12.455
Para 66% dos alunos e todos os professores 20.147 10.742 13.271 14.554 16.101 17.518 19.014 20.433 21.865 23.223 24.586
Para todos os alunos e professores 20.147 18.144 19.990 21.974 24.271 26.437 28.672 30.829 32.977 35.034 37.085

Despesas não salariais


Ensino primário (Ep1 e Ep2) 1.944 2.092 2.258 2.480 2.758 3.096 3.481 3.904 4.371 4.883 5.426

Despesas salariais
Sem aumento salarial 21.178 23.186 25.555 28.350 31.389 34.580 37.909 41.328 44.809 48.361 51.976
Com um aumento de 2% anualmente 21.178 23.649 26.587 30.085 33.976 38.179 42.691 47.473 52.501 57.795 63.359
Com um aumento de 4% anualmente 21.178 24.113 27.640 31.889 36.721 42.072 47.966 54.385 61.324 68.832 76.937

Despesas de investimento
Ensino primário (Ep1 e Ep2) 0 32.977 28.123 34.396 36.692 37.468 38.076 37.932 37.605 37.532 37.311
TABELA 6: Projecção dos custos, Caixa Escolar
Ano base 1º Quinquénio 2º Quinquénio
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Cenário I
Para 33% dos alunos e todos os professores
Ep1 17.977,2 4.951,4 6.233,8 6.780,8 7.518,6 8.099,6 8.749,6 9.312,0 9.882,9 10.375,2 10.874,1
Ep2 2.169,5 322,9 514,8 570,9 652,0 761,9 889,4 1.031,2 1.196,3 1.383,2 1.580,8
Total 20.146,8 5.274,4 6.748,6 7.351,7 8.170,6 8.861,5 9.638,9 10.343,2 11.079,2 11.758,3 12.454,9
Para 66% dos alunos e todos os professores
Ep1 17.977,2 10.066,4 12.246,1 13.417,6 14.803,8 16.002,7 17.245,2 18.382,9 19.485,9 20.471,9 21.442,3
Ep2 2.169,5 676,1 1.024,5 1.136,0 1.296,9 1.515,2 1.768,4 2.050,6 2.379,0 2.750,6 3.143,7
Total 20.146,8 10.742,5 13.270,6 14.553,5 16.100,7 17.517,8 19.013,6 20.433,5 21.864,8 23.222,5 24.586,1
Para todos os alunos e professores
Ep1 17.977,2 16.692,8 18.440,5 20.255,5 22.309,7 24.145,3 25.998,2 27.728,6 29.379,8 30.874,6 32.330,8
Ep2 2.169,5 1.451,2 1.549,7 1.718,1 1.961,4 2.291,2 2.674,2 3.100,9 3.597,5 4.159,5 4.754,1
Total 20.146,8 18.144,0 19.990,2 21.973,6 24.271,1 26.436,5 28.672,4 30.829,5 32.977,3 35.034,1 37.084,9
Cenário II
Para 33% dos alunos e todos os professores
Ep1 17.977,2 4.951,4 6.253,9 6.853,7 7.676,3 8.405,0 9.264,5 10.094,1 11.003,8 11.903,8 12.870,2
Ep2 2.169,5 322,9 514,8 570,9 652,0 761,9 889,4 1.033,6 1.207,5 1.411,8 1.640,9
Total 20.146,8 5.274,4 6.768,7 7.424,6 8.328,3 9.166,9 10.153,8 11.127,6 12.211,3 13.315,6 14.511,1
Para 66% dos alunos e todos os professores
Ep1 17.977,2 10.066,4 12.285,2 13.560,8 15.114,5 16.604,5 18.260,7 19.925,7 21.697,3 23.488,0 25.380,8
Ep2 2.169,5 676,1 1.024,5 1.136,0 1.296,9 1.515,2 1.768,4 2.055,3 2.401,2 2.807,4 3.263,0
Total 20.146,8 10.742,5 13.309,7 14.696,7 16.411,4 18.119,7 20.029,1 21.981,0 24.098,5 26.295,4 28.643,8
Para todos os alunos e professores
Ep1 17.977,2 16.692,8 18.499,3 20.471,1 22.778,1 25.052,5 27.529,5 30.055,2 32.715,0 35.423,3 38.270,6
Ep2 2.169,5 1.451,2 1.549,7 1.718,1 1.961,4 2.291,2 2.674,2 3.108,1 3.631,0 4.245,3 4.934,2
Total 20.146,8 18.144,0 20.049,0 22.189,2 24.739,5 27.343,7 30.203,7 33.163,3 36.346,0 39.668,6 43.204,8

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