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Instituto de Gestão e Ciências de Saúde

Nome dos Estudantes:

Marilia Luisa Sérjio no 36

Nesta Chale no 38

Nisia da Taleita Albino no 39

Vânia César Pinto no 49

Quitina Marcos no 54

Zena Muidine no 53

Trabalho do 1º grupo da cadeira de Obstetrícia Fisiológica e Atenção á Parto

Tema: Crenças e praticas tradicionais relacionadas com a gravidez, assistência ao parto;


Conflitos culturais com a introdução de novas práticas de saúde; Envolvimento da comunidade e
do homem na diminuição da morte materna e infantil

Nampula, Outubro de 2021

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Instituto de Gestão e Ciências de Saúde

Nome dos Estudantes:

Marilia Luisa Sérjio no 36

Nesta Chale no 38

Nisia da Taleita Albino no 39

Vânia César Pinto no 49

Quitina Marcos no 54

Zena Muidine no 53

Trabalho do 1º grupo da cadeira de Obstetrícia Fisiológica e Atenção á Parto

Tema: Crenças e praticas tradicionais relacionadas com a gravidez, assistência ao parto;


Conflitos culturais com a introdução de novas práticas de saúde; Envolvimento da comunidade e
do homem na diminuição da morte materna e infantil

Cadeira: OFAP
Ano de frequência:1º
Curso: ESMI
Docentes: Fátima Ambasse

Nampula,Outubro de 2021

1
Índice

Introdução.............................................................................................................................................3

1.. Crenças e praticas tradicionais relacionadas com a gravidez, assistência ao parto..........................4

1.1.. Um Olhar Sobre a Gravidez..........................................................................................................4

1.2. Crenças e praticas tradicionais relacionadas ao gravidez...............................................................5

1.2.1. Crenças relativas a pré-determinação à adivinhação do sexo do bebé;.......................................6

1.2.2. Crenças relativas à interdição......................................................................................................7

1.2.3. Crenças relativas a prescrição.....................................................................................................9

1.3. Assistência ao parto......................................................................................................................10

1.4. Conflitos culturais com a introdução de novas práticas de saúde................................................12

1.5. Envolvimento da comunidade e do homem na diminuição da morte materna e infantil.............13

Conclusão............................................................................................................................................15

Bibliografia.........................................................................................................................................16

2
Introdução

Crenças e praticas tradicionais relacionadas com a gravidez, assistência ao parto; Conflitos


culturais com a introdução de novas práticas de saúde; Envolvimento da comunidade e do homem
na diminuição da morte materna e infantil constitui o foco deste trabalho que se insere na cadeira de
Obstetrícia Fisiológica e Atenção á Parto. Ora, Desde sempre, a produção humana manteve-se em
volta em conceitos, mais ou menos misteriosos e viu-se cercada de crenças. Não obstante, existe um
amplo conjunto de normas comportamentais, tabus, representações valorativas e constrangimentos
ligados à gravidez e a maternidade que mostram a pertinência atribuída a este fenómeno de
reprodução das sociedades. Desde modo, foi encetado este trabalho com a convicção da existência
de crenças que reflectem toda uma herança e que influenciam, em parte, as praticas quotidianas.
Estas crenças que ainda persistem e que se manifestam durante a gravidez leva muitas vezes as
mulheres a modificarem o seu comportamento em relação a determinada prática.

Obviamente, o trabalho possui dois tipos de objectivos: Geral e Específicos.

No que concerne ao objectivo geral, temos o seguinte:

 Abordar as crenças relacionadas cm a gravidez.

E para que se garantisse o alcance deste objectivo foi necessário traçar-se alguns objectivos
específicos que se resumem nos seguintes:

 Descrever as crenças e praticas tradicionais relacionadas a gravidez;


 Apresentar os conflitos culturais com a introdução de novas práticas de saúde;
 Rever o envolvimento da comunidade e do homem na diminuição da morte materna e
infantil.

A estrutura total do trabalho num único tema contempla subtítulos consoante a sua organização e inclui
uma conclusão ao menos parcial, mediante a sua abordagem e inclui igualmente uma bibliografia final
das fontes consultadas.

Quanto a metodologia, recorreu-se a consulta bibliográfica numa abordagem qualitativa e, como


técnica, fez-se uma leitura exaustiva e debate no seio do grupo, análise facial das fontes consultadas e
os dados foram sintetizados de forma descritiva.

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1. Crenças e praticas tradicionais relacionadas com a gravidez, assistência ao parto

O período da gravidez é o tempo em que o casal encara o desafio da paternidade/maternidade, em


que se ultrapassam conflitos e em que se assumem definitivamente o papel de serem pais. Só varias
as alterações que surgem no decurso de uma gravidez, tanto a nível orgânico como a nível
psicológico.

1.1. Um Olhar Sobre a Gravidez

A saúde e o bem-estar da mulher grávida dependem do contexto cultural e económico onde a mulher
e a família se inserem. O modo peculiar como a sociedade a olha, pode atormentar a experiência da
sua gravidez. De facto, as mulheres podem ser consideradas, por um lado, como poderosas, férteis e
completas mas, por outro, podem ser vistas como frágeis, vulneráveis ou mesmo como doentes.
Assim, a gravidez e a maternidade, contemplam expectativas sociais e culturais muito amplas e
aparecem no imaginário social ligadas à saúde, à vida, à felicidade ou à continuidade da sua vida, da
sua família ou da própria espécie. Embora o significado da gravidez mude ao longo do tempo e no
interior de cada cultura, traz sempre consigo um processo de introspecção e de preocupação com a
concepção de uma criança saudável.

Segundo Kitzinger (1996),

a gravidez é apreciada, na maior parte das sociedades, como um estado ritual. Uma futura
mãe tem uma relação ritual especial com a sociedade, incluindo com o pai da criança,
com os clãs de ambos, com o passado na pessoa dos antepassados e com o cosmos
representado por deuses (p.75).

Por isso, a gravidez possui uma importante função no sistema social ligando o presente ao passado e
o humano ao divino, ou seja, constitui um elo de ligação sobre a diversidade cultural de cada
geração.

Como salientam Colman & Colman (1994), a gravidez é um dos maiores ritos de passagem da vida,
tal como o casamento ou a morte, sendo, por isso, considerada como um tempo de transição entre
uma e outra identidade.

As raparigas construíam a sua aprendizagem sobre a gravidez e a maternidade na


companhia da mãe ou de outras mulheres da comunidade. As informações eram
essencialmente transmitidas de mãe para filha. Estas mulheres também aprendiam a serem

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mães, através do jogo, da observação, da imitação e, mais tarde, com a prática, cuidando
dos irmãos. As meninas preparavam-se para a função maternal na família brincando com
bonecas desde a mais tenra idade, sendo cuidadosamente educadas para limitarem os seus
desejos sexuais (Roque, 2001, p. 45).

A mulher, ao longo da vida, vai ouvindo relatos de experiências e histórias que se transmitem
sucessivamente de pais para filhos e que, não raras vezes, configuram crenças ou mitos
determinantes dos seus comportamentos que são geradores de receios e de medos, a partir dos quais,
ela começa a construir a representação da sua própria gravidez.

Por outro lado, o clima de debilidade física e psicológica em que a mulher vive constitui o ambiente
propício para o enraizamento e proliferação das crenças e dos mitos. Neste período é importante que
a mulher seja ouvida e compreendida na sua realidade psíquica interna ainda que baseada em
angústias irracionais, medos, dúvidas e mitos sobre a concepção da gravidez e sobre o parto.

Sabemos que a gravidez no nosso país abarcou sempre algo de maravilhoso e mágico, embora
bastante delicado. Contudo, esta susceptibilidade é propícia ao surgimento de costumes, de crenças
ou de mitos que, ainda hoje, se praticam em muitas regiões.

1.2. Crenças e praticas tradicionais relacionadas ao gravidez

As crenças e os mitos relacionados com a gravidez são frequentes, têm raízes longínquas na história
e variam de cultura para cultura.

Segundo Couto (2000), refere que:

Todas as culturas, no aspecto social, regulam o comportamento reprodutor num contexto


legal e ritual. Em cada cultura, existem fortes crenças acerca dos comportamentos que
cada grávida deve adoptar tanto na gravidez, assim como no parto ou mesmo no
puerpério. As mulheres grávidas, devido a vulnerabilidade própria da gravidez, aderem
facilmente a essas crenças, que condicionam, em grande parte, as suas expectativas,
comportamentos e formas de actuar em determinada circunstância. Mas, estas crenças têm
todas o mesmo objectivo: proteger o feto (p. 32).

Barbault (1990) descreve várias práticas e crenças relacionadas com a gravidez, correspondendo
umas à adopção de um estatuto social e outras a convicções e práticas relacionadas com a
preservação do feto e com o bom términos da gravidez.

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Para este autor, existem vários grupos de crenças relativas à gravidez:

Crenças relativas à predição do sexo do bebé;


Crenças relativas aos hábitos alimentares;
Crenças relativas ao uso ou contacto com objectos;
Crenças relativas a plantas;
Crenças relativas a animais;
Crenças relativas a rituais.

Sendo assim, e tento em conta que qualquer mãe quer que o seu filho nasça perfeito e saudável,
pode afirmar-se que a mulher toma como verdadeiras as crenças, mesmo que até então não
acreditasse nelas, pois ao ser confrontadas com a realidade realiza o que lhe diz determinada crença.

De igual modo, Couto (2000), diz que é possível agrupar as crenças em três grupos:

Crenças relativas a pré-determinação à adivinhação do sexo do bebé;


Crenças relativas à interdição;
Crenças relativas a prescrição.

1.2.1. Crenças relativas a pré-determinação à adivinhação do sexo do bebé;

Especificando as crenças que aparecem em relação ao sexo do bebé, constata-se algumas


relacionadas com alimentos, com práticas quotidianas, com gestos ou com apresentações
momentâneas.

Por exemplo, Acredita-se por exemplo, a ingestão de produtos picantes levará ao aparecimento de
um rapaz e que comprar tudo cor-de-rosa, converter a o bebe numa menina (Rosendo, 1992).

Este tipo de crenças não surgiram com as novas civilizações, muito pelo contrário são algo que já
vem desde os nossos primórdios, das civilizações mais antigas. Por exemplo, Hipócrates, 377 a.C,
sustentava que se começa a distinguir os movimentos fetais mais cedo do que da rapariga.
Parménides de Eleia, filosofo grego, de 540-450 a.C, considerava que à direita do ventre se
desenvolviam os rapazes e à esquerda as raparigas.

Esteves (1999), acrescenta que:

Anaxacoras, 500 – 425 a.C, preconizava que se o casal tivesse relações sexuais com o
marido voltado para o lado direito e a mulher permanecesse também deitada para o lado

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direito após a relação, a fertilização ocorreriam por fusão de humores vindo do testículo
direito e do lado direito da mulher e, nesse caso, a criança seria sem duvida um rapaz.
Esta crença levou a que nobres franceses fizessem hemiscastração, removendo o testículo
esquerdo, a fim de que gerassem apenas herdeiros do sexo masculino, por causa da
perpetuação do sangue e nome familiar (Esteves, 1999, p. 121).

Em relação aos astros, nomeadamente a Lua, no século Xi, Avicena, médico iraniano, criou a crença
de que a criança concebida durante o período de Lua Nova será do sexo masculino, mas se a mulher
tiver relações com o marido no último quarto da Lua, dará a à luz uma rapariga (Idem).

Uma crença bastante enraizada no povo português diz respeito à forma da barrica; se a barrica da
grávida for muito oval será uma rapariga, se for disfarçada será um rapaz. Acredita-se também que é
possível saber o sexo da criança observando a forma como a grávida as mãos quando lhe perguntam
o que tem nelas ou le pedem para as mostrar. Assim, se a grávida mostrar as mãos com a palma para
cima irá ter uma menina, se as mostrar com a palma para baixo ira ter um menino.

Outra prática é observação de um pêndulo ou de uma agulha suspensa por uma linha sobre a mão da
grávida. Se os movimentos forem circulares significará que nascerá uma menina, se forem
rectilíneas, significarão um menino.

Actualmente, apesar de existirem meios de ver o sexo da criança, antes de nascer, através da
Ecografia, ainda encontramos este tipo de crenças. A mulher até saber o sexo agarra-se às crenças
que possui ou que lhes são agora transmitidas para tentar decifrar ou mesmo fantasiar qual é o sexo
do bebé.

1.2.2. Crenças relativas à interdição

Segundo Kitzinger (1978), durante a gravidez, as interdições, assumem muitas vezes a força de tabu.
Este termo, deriva de uma palavra polinésia que significa “proibir” ou “proibido”. Ao desrespeitar o
tabu, a grávida pode incorrer em punições por parte das forças espirituais ou divinas.

As proibições sobre o que a mulher deve ou não fazer durante a gravidez estão relacionadas com o
facto dos dois corpos, mãe e filho, estarem em simbiose. O corpo da criança é visto como
dependente da mãe. por isso, todos actos, pensamentos desejos, e sentimentos da mãe neste período
poder-se-ão materializar-se sobre a forma de marcas ou sinais no corpo da criança, a sua forma ou a
sua não forma deles dependem.

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Couto (1994), agrupou as crenças relativas as interdições em vários sistemas:

Interdição de contacto e uso de objectos;


Interdição de práticas alimentares;
Interdição de uso de objectos;
Interdição de relações sexuais;
Interdição de rituais e de hábitos.

As interdições de uso de objectos são variadas, sendo que muitas delas perduram desde a
antiguidade ate nos dias de hoje. É frequente a crença de que se a mãe usar colares ou fios, o bebe
nascerá com manchas, com sinais ou com cordão umbilical enrolado à volta do pescoço. A mulher
também não deve usar anéis, pulseiras nem laços pois são símbolos de aperto e de fecho. Além
disso, não deve dar nós nem laços, pois isso dificultaria o parto.

Interdito à grávida esta também ver ou tocar animais. Acredita-se que se a grávida encostar algum
animal à barrica, o bebe poderá nascer com manchas, sinais, com a marca do animal ou com pelos
no corpo, ou mesmo a criança pode nascer com feições destes.

As interdições de práticas alimentares são variadas, diferindo da região para região e de cultura para
cultura. Acredita-se que a mulher grávida não deve comer lebre ou coelho, pois a criança pode
nascer com um lábio leporino, ou ainda, no caso do coelho, com o corpo coberto de pelos; Não
devem comer ovo porque a criança não terá cabelo; não pode comer polvo bem como raia, porque
podem provocar mal formações ou abortos nos primeiros tempos de gravidez e podem fazer crescer
a barrica, dados que estes animais, tal como a mulher, possuem menstruação e ovulação.

Quanto à interdição ou não de relações sexuais, esta é uma questão muita polémica porque saber se a
mulher pode continuar a ter relações sexuais diante a gravidez é uma questão que agitou os espíritos
e deu lugar a múltiplas controvérsias.

Por exemplo, em certas culturas como a indiana, a grávida suspende as relações sexuais com o
marido durante toda s gravidez, pois crê que se não o fizer o bebe poderá nascer louco, com
malformações ou com cegueira irrecuperável.

De acordo com Barbaut (1991), ao referir-se da prática das relações sexuais durante o período da
gravidez escreve o seguinte:

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o Corão proíbe as relações sexuais durante todo o período de gestação, por considerar a
possibilidade de super fertilização. Já o Tlmud apenas proíbe as judias de terem relações
sexuais no primeiro trimestre da gravidez, pois considera que neste período o feto se
encontra na parte inferior do útero sendo por isso as relações sexuais prejudiciais, tanto
para o feto assim como para a mãe, em contrapartida, aconselha-as durante o terceiro
trimestre, considerando-as benéficas tanto para a mãe como para o bebé (p. 251)

No nosso país, acredita-se que as relações sexuais a partir do sétimo mês de jestacao pode levar à
ruptura do saco das águas e que podem ter como consequência a cegueira do bebé.

Pelo contrário, há certas culturas como a dos Bajau, encorajam-se as relações sexuais, ao longo de
toda gravidez, pois acredita-se que o pai desempenha um papel preponderante não só na concepção
mas também no desenvolvimento embrionário; assim, considera-se que se o pai não agir ao longo de
todo o processo a criança corre o risco de nascer num estado de fraqueza extremo ou mesmo
incompleta.

As interdições dos rituais são vastas, sendo que as proibições ligadas à morte são talvez as mais
referenciadas.

Segundo Barbaut (1991), acrescenta que:

Uma mulher grávida não deve dormir numa cama de uma pessoa que tenha falecido
recentemente, entrar numa casa mortuária, ver o cadáver humano, assistir a abertura de
uma sepultura ou à colocação de um defunto no caixão. Nos povos que vivem da caça,
acrescem ainda as proibições de sentir o cheiro putrefacto de um animal morto, de ver o
sangue a correr da ferida de um animal alvejado, bem como a interdição de passar sobre o
rasto deixado pelo animal morto, ao ser arrastado (p. 132).

Não obstante, a mulher quando grávida não deve aparar sangue de porco, matar aves ou presenciar a
morte de animais, pois a criança pode vir a ser nervosa ou a ter ataques. Estas não devem também
ser madrinhas de baptismo, pois acredita-se que no prazo de um ano, morreria uma das crianças: a
que vai baptizar ou a que vai nascer.

1.2.3. Crenças relativas a prescrição

Na gravidez, paralelamente a todas as prescrições a que se faz referência, existe um conjunto de


prescrições, que a grávida deve seguir de modo a poder dar à luz uma criança perfeita e saudável.
Essas prescrições são variadas e estão presentes em diferentes culturas.
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Em Portugal, muitas mulheres acreditam ainda que o trabalho do parto será facilitado se colocarem a
chave de casa de baixo do travesseiro.

Nas nossas sociedades Moçambicanas, as mulheres acreditam que deve comer por dois. Os
Portugueses defendem ainda que as grávidas devem beber aguardente, de preferência em Jejum,
para desinfectar o bebé, matar os micróbios. Também na França se considera que as mulheres
devem beber aguardente açucarada, dado que não apresenta inconvenientes e tem a vantagem de dar
for para o parto (Couto, 1994, p. 146).

No que concerne à dores, entre os Tutchokwe, em Angola, quando a grávida sente dor numa das
coxas, coloca-se à cintura, junto à coxas afectada, um guizo ou uma pequena campainha, pois
acredita-se que as dores se devem a uma má colocação fetal, e que se o feto ouvir o som produzido
por estes objectos se coloca convenientemente.

1.3. Assistência ao parto

A experiência da maternidade é um marco significativo na vida das mulheres na qual o trabalho de


parto e parto requerem acolhimento e cuidado visando uma experiência a traumática para a mãe
(Silva, 2014, p. 21)

Nesse contexto, destaca-se que as práticas assistenciais ao parto e nascimento se transformaram,


sobretudo, ao longo do século XX, quando a assistência antes ofertada pelas parteiras tradicionais
nos domicílios foi transferida para o ambiente hospitalar e centrada no médico e nas intervenções
tecnológicas

A partir da institucionalização do parto, este deixou de ser protagonizado pela mulher. Com isso,
adveio a prática do intervencionismo em demasia e de forma desnecessária posto que 90% dos
partos e nascimentos transcorrem fisiologicamente em uma gravidez de risco habitual.

A assistência ao parto é fornecida por mulheres da própria comunidade denominadas parteiras.


Essas mulheres geralmente não possuem estudo se baseavam no senso comum e na experiência de
ser mãe (Díaz, 2016).

Além da assistência ao parto, as parteiras ofertam cuidados domiciliares a puérpera e ao recém-


nascido.

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O parto e sua assistência passaram por várias transformações ao longo do tempo.
Antigamente era realizado em residências, por parteiras, onde não havia medicalização e
acontecia de forma natural. No contexto actual é realizado nos hospitais,
predominantemente, pelo médico. Devido às essas transformações, passou a ser um
evento mecanizado, no qual a pessoa pouco decide a respeito de como o parto será
conduzido (Vendrúsculo; Kruel, 2015, p. 43).

A institucionalização do parto em meados do século XX trouxe consigo mudanças durante sua


assistência, utilizando tecnologias diante de situações que colocassem em risco a vida e saúde
materna e neonatal, permitindo a diminuição dos seus índices de mortalidade. No entanto, o excesso
de condutas desnecessárias caracterizou práticas mecanicistas e agressivas infligindo à autonomia e
direitos da mulher.

Em decorrência do alto intervencionismo, a assistência obstétrica por vezes apresenta um contexto


desumano e hostil, permeado por representações de medo e dor. Além disso, o elevado número de
cesáreas aumentou os índices de mortalidade materno-intanfil, trazendo consigo a ideia de que a
mulher estava incapaz de parir fisiologicamente e ou a representação social de maior praticidade e
rapidez pelo controle das dores do trabalho de parto.

Percebe-se práticas como a aplicação de soros com ocitocina, para aceleração do trabalho de parto,
aminiotomia, episiotomia, manobra de Kristeller, como técnicas iatrogénicas que podem acarretar
agravos à saúde da puérpera.

Assim, destaca-se que a Organização Mundial da Saúde (OMS), propôs algumas


mudanças na assistência ao parto e nascimento, incluindo o entendimento do parto como
um evento natural, com estímulo para a actuação da enfermeira obstétrica, a utilização de
práticas baseadas nas melhores evidências científicas e o acesso às tecnologias
apropriadas de atenção ao parto (Brasil, 2017).

Diante dessas práticas, salienta-se que a importância da assistência interdisciplinar. Aponta-se ainda
a relevância da assistência de enfermagem obstétrica na atenção materno-infantil que deve ser
regada de cuidados, respeitando, sobretudo a paciente, seu corpo e sua fisiologia, seu direito de
escolha e evitando à utilização de técnicas desnecessárias (Andrade et al., 2017).

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1.4. Conflitos culturais com a introdução de novas práticas de saúde

Durante décadas e até à actualidade, a medicina científica conviveu do lado de práticas populares de
cura, tentando impor seu saber como o único capaz de explicar a etiologia e cura para as
enfermidades. Portanto, médicos, intelectuais e cientistas, conviviam muitas vezes, de forma pouco
harmoniosa com práticas populares dos pajés, benzedeiras, homeopatas, boticários, feiticeiros,
barbeiros, parteiras, sangradores, espíritas, práticas estas consideradas como "charlatanismo"1 pelos
médicos.

Ferreira (2003), refere que:

ao analisar a ciência dos médicos e a medicina popular no início do século XIX, aponta
que durante os oitocentos a disputa entre a medicina académica e as práticas de cura
popular se tornou cada vez mais evidente, sobretudo em determinados contextos, como o
do combate às epidemias, quando a gravidade da situação expunha a incapacidade da
ciência médica de deter a propagação das doenças (p. 97).

Todavia, apesar de médicos diplomados e terapeutas populares se afirmarem como saberes opostos,
na prática, seus limites não eram claros, ou seja, o conhecimento desses agentes de cura se
aproximavam e interagiam.

Há trocas culturais entre as práticas de cura dos médicos formados e dos terapeutas populares, e que,
portanto, há a simbiose de conhecimento de diferentes origens e tradições. Em outras palavras,
durante o século XIX, nem as práticas de cura populares nem a medicina académica eram
conhecimentos fechados em si, mas tinham uma dinâmica que foi capaz de possibilitar uma
constante recriação através dos contactos estabelecidos no quotidiano.

Actualmente, apesar da biomedicina ainda se justificar como saber hegemónico, foi com o
fortalecimento da antropologia da saúde e da doença que se passou a defender um
relativismo relacionado ao processo saúde/doença e às práticas de saúde, onde os saberes
e práticas de qualquer sistema médico são percebidos como construções socioculturais
(Langdon, 2009).

A medicina científica sempre se apresentou como detentora do monopólio do saber médico,


tentando desautorizar práticas populares de agentes como benzedeiras, parteiras, curandeiros,
feiticeiras, dentre outros. Todavia, médicos diplomados e agentes de cura popular apesar de

12
conviverem de forma pouco harmoniosa – cada um dentro de suas limitações – também interagem
enquanto saber e prática.

Portanto, o culto dos santos, a fé nos espíritos das florestas e dos rios, nos pajés e nas
parteiras, a confiança nas orações e nos encantamentos, o conhecimento e fé nos remédios
caseiros, enfim, todas as crenças sobre a saúde e doença mantidas por diferentes povos no
mundo, devem ser consideradas pelos profissionais de saúde que, dentro de suas possíveis
limitações, precisam recriar sua prática quotidiana, aproximando-se da linguagem e
realidade simbólica dos indivíduos1.

Além disso, a antropologia da saúde e da doença oferece possibilidades de se repensar em políticas


de saúde menos segregacionistas e voltadas particularmente, às necessidades das classes mais
desprovidas. Para tanto, é essencial compreender o contexto social e cultural em que o indivíduo
está inserido, considerando que estes usuários transitam de forma tranquila entre os diferentes
sectores de atenção à saúde, seja a biomédica ou a medicina popular.

No mais, é essencial resgatar a cultura para o centro da relação entre indivíduo e profissionais de
saúde, observando que é preciso entender e valorizar as práticas populares de cura dentro de seu
contexto. Não se trata de desconsiderar a prática da biomedicina, mas de agregar as contribuições
dos dois saberes em prol de programas e políticas de saúde mais eficazes.

1.5. Envolvimento da comunidade e do homem na diminuição da morte materna e infantil

A Saúde Materna, Neonatal e Infantil (SMNI) é deveras importante na redução da pobreza e


constitui uma estratégia-chave para a consecução de uma população saudável e produtiva no
Continente africano. Registaram-se importantes realizações tendentes a reduzir a mortalidade e a
morbididade maternas, bem como melhorar a saúde dos recém-nescidos e da criança em toda a
África; mas ainda existem monstruosos desafios ainda existem na busca do fim às mortes maternas e
infantis preveníveis no Continente até 2030. O corajoso empreendimento e adopção dos oito ODMs
em 2000 proporcionou o ímpeto para a redução da mortalidade materna e a melhoria da saúde da
criança no Continente.

Registaram-se importantes melhorias na saúde infantil e na redução da mortalidade infantil no


Continente africano. Devido ao envolvimento das comunidades e do homem, ao nível global, até

1
Maués, R. H. (2009). Cura e Religião: pajés, carismáticos e médicos: Ensaios de antropologia e saúde popular.
Florianópolis: UDESC.
13
2013 houve uma queda de 46% na taxa de mortalidade infantil em comparação com os níveis de
1990;

Envolvimento Comunitário para a Saúde, envolvimento esse que é activo de pessoas de todos os
extractos sociais, (homens, mulheres, jovens, crianças e velhos) que vivem juntas, de forma
organizada e coesa, tem sido positivo devido a sabia planificação e implementação dos Cuidados de
Saúde Primários, usando recursos locais, nacionais ou outros. As comunidades e os homens, tem
feito esforços de palestras dentro das sociedades, sobre tudo nas questões de nutrição. A nutrição é
uma componente vital da saúde da criança e é parte integrante de qualquer programa de saúde
infantil, bem como um importante motor de políticas e acções para melhorar a saúde da criança.

Quase dois-terços de todas as mortes infantis são associadas com a sub-nutrição. As consequências a
longo pazo da sub-nutrição infantil precoce deixa milhões de crianças pelo mundo inteiro com
deficiências físicas e mentais às vistas, ou ocultas. Significativamente, intervenções durante os
primeiros 1000 dias da vida de uma criança surtem o mais alto impacto sobre a sua sobrevivência e
produtividade a longo prazo. Estima-se que crianças com retardamento ganham, quando adultas,
20% menos do que as crianças não retardadas. Cada hora que passa quase 300 crianças morrem por
causa da sub-nutrição e milhares mais são deixadas com deficiências permanentes. Mais de 99
milhões de crianças ao nível global são sub-nutridas e retardadas.

De igual modo, os lideres locais tem feito palestras sobre a Imunização. A imunização é uma das
intervenções mais económicas na saúde pública global, estimada em inverter entre 2 – 3 milhões de
mortes, por ano, pelo mundo inteiro.

Os homens, dentro das suas famílias ajudam as suas parceiras e familiares na questão de
planeamento familiar. O Planeamento Familiar é uma ferramenta potente na redução das mortes
maternas, melhorando a saúde das crianças e empoderando as adolescentes e os jovens na saúde e
nos direitos sexuais e reprodutivos.

O planeamento familiar tem também o potencial para reforçar mudanças sustentáveis apoiando a
saúde das mulheres e, deste modo, instigar o crescimento económico, reduzir a pobreza e contribuir
positivamente às famílias e ao meio ambiente.

14
Conclusão

Após a efectivação deste trabalho, algumas conclusões se podem tirar. A história da assistência do
trabalho de parto e parto teve seu início junto às parteiras que utilizavam do seu conhecimento
tradicional para prestar cuidados a parturiente, protagonista deste processo. Com a
institucionalização, a parteira foi sendo inviabilizada em detrimento das tecnologias e dos saberes
médicos culminando na perda da autonomia da mulher.

Nesse sentido, faz-se necessário (re) significar o processo de parturição, empoderando as mulheres
sobre a melhor possibilidade, promovendo o restabelecimento da autonomia da gestante e da
parturiente, além de implementar estratégias e intervenções que possibilitem a desmedicalização do
trabalho de parto e parto.

De igual modo, o trabalho demonstrou que de uma forma geral, o tipo de crenças em que as grávidas
acreditam varia consoante a idade, as habilitações literárias, o estado civil, o planeamento da
gravidez. É necessário que os enfermeiros tenham em conta que aqueles a quem se prestam cuidados
não são despidos do seu património cultural e, portanto, das suas crenças.

O profissional da enfermagem deve ter em consideração estes aspectos culturais para que no âmbito
da Educação para a Saúde, integre e promove os saberes sociais junto das grávidas. Desta forma,
estará a contribuir para o atenuar dos seus medos e anseios. Por outro lado, este profissional deve
também estar atento para os medos e novas crenças que se vão formando, no sentido de os
desmistificar e esclarecer

É de salientar, ainda, que 82% das mulheres modificaram os seus comportamentos durante a
gravidez em função do prescrito por determinados mitos ou crenças de que tinham conhecimento.

15
Bibliografia

Andrade, P.O. N. et al. (2017). Fatores associados à violência obstétrica na assistência ao parto
vaginal em uma maternidade de alta complexidade em Recife, Pernambuco. Rev. Bras.
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