Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA E

SUCESSÕES DA COMARCA DE _____________


XXXXXXXXXXXXXXXX, (qualificaçã o), por seus advogados, bastante procuradores, que
esta subscrevem, vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fulcro no
artigo 1.562 do Có digo Civil, propor MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAÇÃO DE CORPOS
em face de XXXXXXXXXXXXXXX, (qualificaçã o), pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos.
1 – DOS FATOS
A requerente convive com o requerente desde 1996, tendo eles oficializado a uniã o em
1999 (doc. 01). Deste relacionamento o casal teve dois filhos, XXXX e XXXX (doc.02).
Durante o relacionamento os cô njuges enfrentaram crises comuns a todos os casais, mas o
requerido extrapolou levemente o limite do tolerá vel em algumas ocasiõ es, o que levou a
requerente a registrar Boletim de Ocorrência no final da ú ltima década. Tais condutas
fizeram a requerente cogitar dar um fim na relaçã o, porém sem expor ao seu parceiro essa
vontade.
Nesta seara, a requerente permaneceu unida com o requerido ao longo dos ú ltimos 16
anos, apesar dos desentendimentos mencionados no pará grafo anterior.
Entretanto, nos ú ltimos meses a vida em comum se tornou insuportá vel para a requerente,
de modo que eles começar a dormir em quartos separados. Finalmente, no ú ltimo mês, a
requerente resolveu se divorciar do requerido, e comunicou-lhe sua decisã o.
Inicialmente o requerido se demonstrou compreensivo quanto a vontade da requerente em
divorciar-se dele, tendo inclusive dito que sairia da residência do casal em poucos dias para
que amigavelmente dessem início ao processo de divó rcio.
Ocorre que, no ú ltimo dia 20, por volta das 18h00m, ao ver a requerente procurando alguns
documentos, o requerido indagou a razã o dela estar juntando todos aqueles papéis, ocasiã o
em que a requerente o informou que se tratava dos documentos solicitados por seu
advogado para iniciar a Açã o de Divó rcio.
Apó s tomar conhecimento do iminente início do processo de divó rcio, o requerido perdeu o
controle emocional e atirou o celular da requerida em direçã o ao chã o, ocasionando a
quebra do aparelho. Além disso, durante a discussão, o requerido disse à requerente
que, caso ela realmente iniciasse o processo de divórcio, ele iria atentar contra a vida
dela, além de fazer outras ameaças.
Assim, em razã o das sérias ameaças proferidas pelo requerido, a requerente registrou
Boletim de Ocorrência (doc. 03) enquanto seu marido estava viajando a trabalho.
Apó s o retorno do requerido de seu período fora do lar, voltaram as constantes ameaças e a
vida em comum se tornou insustentá vel entre o casal, mormente porque na residência
moram também os dois filhos do casal, sendo que um deles tem apenas 7 anos.
Deste modo, nã o restou a requerente outra alternativa senã o propor a presente açã o de
separaçã o de corpos antes de ingressar com a Açã o de Divó rcio, partilha de bens,
regulamentaçã o de guarda e alimentos.
2 – DO DIREITO
Conforme é cediço, a orientaçã o majoritá ria da doutrina e jurisprudência é no sentido que,
requerida a separaçã o de corpos, deve o julgador partir do princípio de que sã o
verdadeiras as alegaçõ es da requerente, mostrando-se prudente a concessã o, inaudita
autera pars, da medida de afastamento do cô njuge do lar. A intençã o é preservar a
integridade física e moral do cô njuge solicitante da medida, além do que, por se tratar de
decisã o provisó ria, pode ser revista a qualquer tempo.
Com efeito, a separaçã o de corpos está prevista no § 1º, do artigo 7º, da Lei 6.515/77, que
estabelece que “A separaçã o de corpos poderá ser determinada como medida cautelar.”
Outrossim, o artigo 1.562 do Có digo Civil aduz que “Antes de mover a açã o de nulidade do
casamento, a de anulaçã o, a de separaçã o judicial, a de divó rcio direto ou a de dissoluçã o de
uniã o está vel, poderá requerer a parte, comprovando sua necessidade, a separaçã o de
corpos, que será concedida pelo juiz com a possível brevidade.”
Nesta seara temos que requerente e requerido ainda coabitam, embora durmam eles em
quartos separados, uma vez que o amor já nã o é mais recíproco, de modo que o requerido
insiste em continuar o matrimô nio mesmo contra a vontade da requerente.
Assim, iniciar o processo de divó rcio com os dois sob o mesmo seria temerá rio. Em casos
como esse a jurisprudência nacional é uníssona em determinar a separaçã o de corpos
previamente, senã o vejamos:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR DE SEPARAÇÃO DE CORPOS. PEDIDO DE SEPARAÇÃO DE CORPOS E
DE AFASTAMENTO DO COMPANHEIRO DA MORADA COMUM DO CASAL. GUARDA DA FILHA. 1. Demonstrado o
mau relacionamento existente entre o casal, que vive situação de beligerância e evidencia situação de ruptura
da vida conjugal de fato, torna-se imperioso o afastamento de ambos. 2. Justifica-se o afastamento do
companheiro da morada comum, a fim de que a filha lá permaneça residindo na companhia da mãe. RECURSO
PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70068020775, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 20/01/2016). (grifo nosso)
(TJ-RS - AI: 70068020775 RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de Julgamento: 20/01/2016, Sétima
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 22/01/2016)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO RELATIVA À UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM SEPARAÇÃO DE CORPOS,
GUARDA E ALIMENTOS. Demonstrada a convivência conflituosa do casal, com indícios de evolução de quadro
agressivo pelo varão, de ser concedida a liminar de separação de corpos, a fim de resguardar a integridade física
da agravante. Agravo de instrumento provido. (Agravo de Instrumento Nº 70066655671, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 02/12/2015). (grifo nosso)
(TJ-RS - AI: 70066655671 RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Data de Julgamento: 02/12/2015, Sétima Câmara Cível,
Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 07/12/2015)
AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DE FAMÍLIA. DIVÓRCIO LITIGIOSO. MEDIDA CAUTELAR.
SEPARAÇÃO DE CORPOS. LIMINAR. I - Possível o julgamento na forma do art. 557 do CPC, em face do
entendimento da Câmara sobre a matéria. II - Cabível, na hipótese, a separação de corpos, desnecessária a
cognição plena, sendo suficiente a razoável comprovação de que é fundado o temor da parte de sofrer agressão.
RECURSO DESPROVIDO. (Agravo Nº 70064605256, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena
Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 27/05/2015). (grifo nosso)
(TJ-RS - AGV: 70064605256 RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de Julgamento: 27/05/2015, Sétima
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 28/05/2015)
SEPARAÇÃO DE CORPOS. MEDIDA DE AFASTAMENTO DO MARIDO DO LAR CONJUGAL. GUARDA PROVISÓRIA DE
FILHA. DECISÃO CONFIRMADA. A propositura da medida cautelar preparatória de separação de corpos constitui,
independentemente de outras provas, a evidência mais patente do colapso e da insuportabilidade da vida em
comum do casal. Sendo assim, um dos cônjuges deve, a bem da segurança familiar, deixar o lar, cedendo-o, via
de regra, àquele que arcará com a responsabilidade da guarda provisória da prole. (grifo nosso)
(TJSC. AI n. 2007.044758-4, rel. Des. Newton Janke, Segunda Câmara de Direito Civil, j. Em 9-4-2008)

Além da farta narrativa dos fatos que corroboram para a concessã o da separaçã o de corpos,
nos ensinamento de CAHALI[1], na cautelar de separaçã o de corpos, a ú nica prova
necessá ria é a da existência do casamento:
na separação provisória de corpos, como processo cautelar, a única prova a ser examinada é a da existência do
casamento, revelando-se inoportuna e impertinente qualquer discussão sobre os fatos que devam ser apreciados e
julgados na ação de separação judicial.

Diante de todo o exposto, fica evidente que a pretensã o da requerente está amparada pela
Lei, doutrina e jurisprudência, além dos fatos narrados explicitarem a necessidade da
medida requerida.
2.1 – Da Medida Liminar
Pelo conteú do da narrativa, é facilmente verificá vel a existência do direito ameaçado e a
impossibilidade de se postergar a soluçã o da questã o ora trazida a Juízo.
Aguardar a decisã o da açã o principal de divó rcio seria prolongar o sofrimento da
requerente, além de correr-se desnecessariamente o risco de que esta seja ofendida física
ou moralmente.
A medida cautelar revela-se de suma importâ ncia no sentido de permitir o regular
andamento do processo principal, no qual se discutirá os termos em que se dará o divó rcio,
a partilha de bens, a guarda do filho menor e os alimentos deste, além de resguardar a
integridade física da requerente.
É fundado, pois, o receio da requerente de que, se esperar pela tutela definitiva, com
requerido e requerente morando sob o mesmo teto, esta possa vir a sofrer novos abusos e
maus tratos.
Atente-se que o artigo 804 do Có digo de Processo Civil de 1973, conferia ao Juiz a
possibilidade de conceder a liminar sem oitiva prévia do requerido. Apesar do novo códex
não trazer dispositivo semelhante, nã o pode ser outra a soluçã o adotada por este MM. Juízo,
visto que a citaçã o do réu certamente tornará ineficaz a pró pria medida pretendida, razã o
pela qual se requer, liminarmente, o afastamento do requerido do lar conjugal.
Ora, a proteçã o do Estado deve ser completa, inclusive no que tange à preservaçã o da vida
dos jurisdicionados, a exemplo da medida cautelar de separaçã o de corpos, que é deferida
à queles que se uniram pela instituiçã o do matrimô nio e se tornarã o litigantes, quando
presentes o periculum in mora e o fumus boni iuris.
O periculum in mora no caso em tela é patente, pois caso nã o seja concedido o provimento
preventivo, a tutela jurisdicional nã o poderá ser prestada conforme o almejado pela
requerente, pois que certamente o requerido poderá concretizar as ameaças perpetradas.
Diante do comportamento agressivo do requerido, nã o há qualquer possibilidade de
manutençã o da vida em comum entre as partes, sendo perigosa a permanência dele junto
ao lar conjugal durante o processo de divó rcio.
O fumus boni iuris também é claro, já que o réu está descumprindo um dos deveres
primordiais da uniã o afetiva, que é o dever de respeito. Outrossim, o relato apresentado
pela requerente se demonstra altamente verossímil e sã o corroborados pelo boletim de
ocorrência ora apresentado.
Sobre o assunto, a doutrinadora Maria Helena Diniz[2] nos esclarece:
"O juiz concederá, com a brevidade possível, a separação de corpos, que poderá ser requerida pela parte que,
antes de mover a ação de nulidade ou de anulabilidade do casamento, de separação judicial, de divórcio direto ou
de dissolução da união estável (RJTJSP, 136:216), comprovar a necessidade de afastar o outro do lar, por ser
insuportável a convivência."

Dessa feita, vê-se que a proteçã o da mulher deve ser garantida e efetiva, de forma que o
Estado cumpra sua funçã o ontoló gica – o papel que a Constituiçã o Federal lhe incumbiu.
A plausibilidade do direito prescinde de maiores esclarecimentos, pois se trata de garantir
os direitos bá sicos da requerente, primordialmente a sua vida e integridade física.
2.2 – Da Exposição Superficial da Lide Principal
Dispõ e o artigo 303 do Có digo de Processo Civil que:
Nos casos em que a urgência for contemporâ nea à propositura da açã o, a petiçã o inicial
pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicaçã o do pedido de tutela
final, com a exposiçã o da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do
risco ao resultado ú til do processo.
Assim, no intuito de atender o retromencionado dispositivo, informa a requerente que apó s
o deferimento da tutela provisó ria pleiteada, com a consequente saída do requerido de seu
lar, irá aditar a exordial, complementando os argumentos e requerimentos e juntando os
documentos necessá rios para se requerer o divó rcio do requerido, bem como a partilha de
bens, e regulamentaçã o de guarda e alimentos de seu filho menor de idade.
Outrossim, informa que, por ora, deixa de indicar o exato valor da causa da açã o principal
porque até o presente momento nã o fora possível relacionar todos os bens em comum dos
cô njuges. Porém, o valor da causa será devidamente corrigido juntamente com o
aditamento da petiçã o inicial em que se formulará o pedido principal.
Deste modo, nos termos do § 5º, do artigo 303, do Có digo de Processo Civil, a requerente
reitera que pretende valer-se do benefício previsto no caput do mencionado dispositivo,
devendo ser intimada apó s a concessã o da medida cautelar de separaçã o de corpos, na
pessoa de seu representante legal, para aditar a petiçã o inicial.
3 – DO PEDIDO
Ante todo o exposto requer a Vossa Excelência:
a) A concessã o à requerente dos benefícios da assistência judiciá ria gratuita, nos termos da
Lei 1.060/50, por ser pessoa pobre, nã o podendo arcar com a custas do processo sem
prejuízo do sustento seu e de sua família, conforme declaraçã o em anexo;
b) Seja decretado o segredo de justiça no presente processo, nos termos do artigo 189, II,
do Có digo de Processo Civil;
c) A concessã o da tutela antecipada, inaudita altera parte, para o fim de determinar a
separaçã o de corpos, com o consequente afastamento do requerido do lar conjugal,
determinando a imediata retirada do réu da residência situada na Rua;XXXXXXXXXXXXX
d) Caso assim nã o entenda Vossa Excelência, em atençã o ao princípio da subsidiariedade,
requer seja designada audiência de justificaçã o, com a oitiva do requerido e de
testemunhas que comparecerã o espontaneamente em juízo, para deferimento do
provimento liminar;
e) A citaçã o do requerido para, caso queira, apresentar resposta dentro do prazo legal;
f) A intimaçã o do representante do Ministério Pú blico do Estado de Sã o Paulo;
g) Apó s, seja intimada a requerente para que adite a petiçã o inicial, nos termos do artigo
303, § 1º, I, do Có digo de Processo Civil.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a
prova documental e testemunhal.
Dá -se à causa o valor de R$ 880,00 (oitocentos e oitenta reais).
Termos em que,
Pede deferimento.
Cidade, 12 de abril de 2017
ADVOGADO
OAB

[1] CAHALI, Yussef Said. Divó rcio e Separaçã o, 10ª ediçã o, Sã o Paulo, Revista dos Tribunais,
2002, p. 455.
[2] Có digo civil anotado. 9. Ed. Rev. E atual. Sã o Paulo: Saraiva, 2003. P. 1.055

Você também pode gostar