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829,
I, do CC)
➢ Análise do inciso I do art. 1.829 do Código Civil:
CC, art. 1.829, I: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em
concorrência com o cônjuge [OU COMPANHEIRO] sobrevivente, salvo se casado [OU SE VIVER
EM UNIÃO ESTÁVEL] este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.”
Separação LEGAL (obrigatória) é aquela prevista nas Separação ABSOLUTA é a separação convencional, ou seja,
hipóteses do art. 1.641 do Código Civil. estipulada voluntariamente pelas partes (art. 1.687 do CC).
No regime de separação legal de bens, comunicam-se os Na separação absoluta (convencional), não há comunicação
adquiridos na constância do casamento, desde que dos bens adquiridos na constância do casamento.
comprovado o esforço comum para sua aquisição. Assim, somente haverá separação absoluta (incomunicável)
na separação convencional.
NÃO. O STF deu apenas interpretação conforme a Constituição ao art. 1.641, II, do
CC.
O STF disse o seguinte:
Vale ressaltar que a escritura pública que estipule ou modifique o regime de bens
tem efeitos somente a partir da lavratura do ato, não retroagindo para alcançar
patrimônio anterior à sua elaboração.
Interpretação conforme à Constituição
Assim, trata-se de regime legal facultativo, que pode ser afastado pela
manifestação de vontade dos envolvidos e cuja alteração, quando houver,
produzirá efeitos patrimoniais apenas para o futuro.
O art. 1.641, II, do CC, se fosse interpretado de maneira absoluta, como norma
cogente, violaria os princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade,
sendo, portanto, inconstitucional.
Violação ao princípio da dignidade da pessoa humana
• O princípio da dignidade da pessoa humana se dá em três vertentes:
• a autonomia individual, porque impede que pessoas capazes para praticar atos da
vida civil façam livremente as suas escolhas existenciais;
• o valor intrínseco de toda pessoa por tratar idosos como instrumentos para a
satisfação do interesse patrimonial de seus herdeiros.
• Princípio da igualdade
A interpretação absoluta do art. 1.641, II, do CC também viola o princípio da igualdade
por utilizar a idade como um elemento de desequiparação entre as pessoas, o que é
vedado pelo art. 3º, IV, da CF/88:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
(...)
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
• OBS: Modulação dos efeitos:
Tendo em vista a segurança jurídica, o STF determinou que a decisão produza
efeitos prospectivos.
Vale também para o casamento e para as uniões estáveis?
• Polêmica:
Filiação híbrida: ocorre quando o cônjuge/companheiro concorre com filhos
comuns e exclusivos (havendo mais de 3 filhos). Nesse caso, deve ser feita a
reserva da quarta parte?
*Posição majoritária: NAÕ! Corrente adotada por Maria Berenice Dias, Maria
Helena Diniz, Luiz Paulo Vieira de Carvalho, Mario Delgado, Zeno Veloso, Rodrigo
da Cunha Pereira, Euclides de Oliveira, Sebastião Amorim, Flávio Tartuce e
Enunciado 527 da V Jornada de Direito Civil).
Enunciado 527 da V JDC: “Na concorrência entre o cônjuge e os herdeiros do de cujus, não será
reservada a quarta parte da herança para o sobrevivente no caso de filiação híbrida.”
*Posição minoritária: Francisco José Cahali e Silvio Venosa entendem que deve ocorrer a
reserva da quarta parte.
➢ Ver o REsp 1.617.650/RS – Adota a posição majoritária.
EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. SUCESSÃO. INVENTÁRIO. UNIÃO ESTÁVEL.
CONCORRÊNCIA HÍBRIDA. FILHOS COMUNS E EXCLUSIVOS. ART.1790, INCISOS I E II, DO
CC/2002. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA PELO STF. APLICAÇÃO AO CÔNJUGE OU
CONVIVENTE SUPÉRSTITE DO ART.1829, INCISO I, DO CC/2002. DOAÇÃO. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO.INEXISTÊNCIA DE RECONHECIMENTO DA VIOLAÇÃO DA METADE
DISPONÍVEL.SÚMULAS 282/STF E 7/STJ.1. Controvérsia em torno da fixação do quinhão
hereditário a que faz jus a companheira, quando concorre com um filho comum e, ainda,
outros seis filhos exclusivos do autor da herança.2. O Supremo Tribunal Federal, sob a relatoria
do e. Min. Luís Roberto Barroso, quando do julgamento do RE 878.694/MG, reconheceu a
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CCB tendo em vista a marcante e inconstitucional
diferenciação entre os regimes sucessórios do casamento e da união estável.3. Insubsistência
da discussão do quanto disposto nos incisos I e II do art. 1.790, do CCB, acerca do quinhão da
convivente - se o mesmo que o dos filhos (desimportando se comuns ou exclusivos do falecido)
-, pois declarado inconstitucional, reconhecendo-se a incidência do art. 1.829 do CCB.4.
"Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado no regime de
comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido somente quando este
tiver deixado bens particulares. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens
particulares constantes do acervo hereditário do de cujus." (REsp 1368123/SP, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe
08/06/2015) 5. Necessária aplicação do direito à espécie, pois, reconhecida a incidência do art. 1.829, I,
do CCB e em face da aplicação das normas sucessórias relativas ao casamento, aplicável o art. 1.832 do
CCB, cuja análise deve ser, de pronto, realizada por esta Corte Superior, notadamente em face da quota
mínima estabelecida ao final do referido dispositivo em favor do cônjuge (e agora companheiro), de 1/4
da herança, quando concorre com seus descendentes. 6. A interpretação mais razoável do enunciado
normativo do art. 1.832 do Código Civil é a de que a reserva de 1/4 da herança restringe-se à hipótese
em que o cônjuge ou companheiro concorrem com os descendentes comuns. Enunciado 527 da Jornada
de Direito Civil. 7. A interpretação restritiva dessa disposição legal assegura a igualdade entre os filhos,
que dimana do Código Civil (art. 1.834 do CCB) e da própria Constituição Federal (art. 227, §6º, da CF),
bem como o direito dos descendentes exclusivos não verem seu patrimônio injustificadamente reduzido
mediante interpretação extensiva de norma. 8. Não haverá falar em reserva quando a concorrência se
estabelece entre o cônjuge/companheiro e os descendentes apenas do autor da herança ou, ainda, na
hipótese de concorrência híbrida, ou seja, quando concorrem descendentes comuns e exclusivos do
falecido. 9. Especificamente na hipótese de concorrência híbrida o quinhão hereditário do consorte há
de ser igual ao dos descendentes. 10. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. (REsp 1617650/RS,
Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/06/2019, DJe
01/07/2019).
➢ Sucessão dos descendentes (art. 1.833, CC e art. 1.834, CC)
CC, art. 1.833: “Entre os descendentes, os em grau mais próximo excluem os mais
remotos, salvo o direito de representação.”
CC, art. 1.834: “Os descendentes da mesma classe têm os mesmos direitos à
sucessão de seus ascendentes.”
Na sucessão dos descendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, salvo o
direito de representação.
✓ Em regra, o filho exclui o neto, que exclui o bisneto...
Os descendentes de mesma classe (grau) têm os mesmos direitos sucessórios,
vedada qualquer discriminação sucessória quanto aos filhos – Princípio da
igualdade entre os filhos (art. 227, §6º da CF/88 ).
CF, art. 227, §6º: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.”
OBS - A pessoa pode herdar de duas formas:
• Por direito próprio = por cabeça.
• Por direito de representação = por estirpe (art. 1.851 a 1.856, CC).
• Só ocorre na linha reta descendente ou colateral/transversal.
• Nunca na linha ascendente.
O direito de representação “apenas desce ou vai para o lado”. Nunca sobe (art. 1.852 do CC).
“Art. 1.851. Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido
a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
Art. 1.852. O direito de representação dá-se na linha reta descendente, mas nunca na
ascendente.
Art. 1.853. Na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos filhos
de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.
Art. 1.854. Os representantes só podem herdar, como tais, o que herdaria o representado, se
vivo fosse.
Art. 1.855. O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes.
Art. 1.856. O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão de
Sobre o direito de representação, tem-se os seguintes diagramas explicativos:
A
Autor da Herança +
Pré-Morto
B C D
1/3 1/3 1/3
B C D
D E
C
6.3. Da sucessão dos ascendentes e a concorrência do cônjuge ou companheiro
(art. 1.829, II, CC)
CC, art. 1.829: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: [...] II - aos
ascendentes, em concorrência com o cônjuge;”
Conforme o art. 1.829, II, CC e o art. 1.836,CC, na falta de descendentes, são
chamados a herdar os ascendentes em concorrência com o cônjuge ou
companheiro, sem qualquer influência do regime de bens.
CC, art. 1.836: Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os
ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente. § 1º Na classe dos
ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas. §
2º Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna.”
Regras:
1ª - 1ª) O grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas
(paterna e materna) - art. 1.836, § 1º, CC.
✓ CUIDADO: não há direito de representação.
Exemplos: pais excluem avós, que excluem bisavós (e assim sucessivamente).
2ª - Havendo igualdade de grau e diversidade de linhas, os ascendentes da linha
paterna herdam a metade, cabendo a outra metade aos da linha materna (art.
1.836, § 2º, CC).
✓ Polêmica: Multiparentalidade (STF – Informativo 840) Exemplo: avós paternos
biológicos, avós paternos socioafetivos e avós maternos.
Ver Diagrama PG - 11
• ✓Conforme o art. 1.837 do CC, concorrendo o cônjuge ou companheiro com
dois ascendentes de 1º grau, terá direito a 1/3 da herança.
CC, art. 1.837: “Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao cônjuge
tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só
ascendente, ou se maior for aquele grau.”
Concorrendo com um ascendente de 1º grau ou com outros ascendentes de graus
diversos, terá direito à metade da herança.
ENUNCIADO 609 – O regime de bens no casamento somente interfere na
concorrência sucessória do cônjuge com descendentes do falecido.
Ver Diagrama da PG 13
• 6.4. Da sucessão do cônjuge ou companheiro isoladamente (sozinho, sem
concorrência).
Art. 1.829, III, CC e art. 1.838, CC - Na falta de descendentes e ascendentes, a
herança será atribuída por inteiro ao cônjuge ou companheiro sobrevivente.
CC, art. 1.829: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (...) III - ao
cônjuge sobrevivente;”
CC, art. 1.838: “Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão
por inteiro ao cônjuge sobrevivente.”
O art. 1.830 do CC prevê as condições para o cônjuge herdar em concorrência ou
isoladamente.
CC, art. 1.830: “Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge
sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados
judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste
caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente.”
✓ Dúvida: este artigo se aplica à união estável?
✓ O artigo é bastante polêmico, pois faz menção ao prazo de separação de fato e à culpa
mortuária (expressão de Rolf Madaleno).
Cônjuge herda: Cônjuge não herda: