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Disciplina: Direito Civil

Prof. João Aguirre


Aula: 09

MATERIAL DE APOIO - MONITORIA

ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

CUIDADO: Não confundir a meação com a herança, ou seja, não confundir regime de bens e
sucessão

Regra: Quando alguém morre e era casado ou vivia em união estável, o primeiro passo será
verificar se o cônjuge ou o companheiro sobrevivente tem direito à meação (regime de bens). Só
depois é que se deve apurar a herança do falecido (sucessão).

1º) Meação: Regime de bens – Direito de Família

O ITCMD – Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Dações


Não incide ITCMD sobre a meação, porque ela não está sendo transmitida em razão da morte para
Maria, eis que já era de Maria em razão do regime de bens

Outros problemas decorrem da confusão ente a meação e a herança, na ordem de vocação


hereditária.

José tem 72 anos e um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Neste ano, casou-se com Maria, que tem
30 anos. Passados, seis meses, José vem a falecer, vítima de um ataque cardíaco fulminante.
Sabendo-se que ele possui um irmão vivo, Antônio, e que não possui descendentes e nem
ascendentes, pergunta-se: para quem irão os R$ 10.000.000,00?
Regime do casamento: separação total obrigatória – art. 1.641, II (maior de 70 anos)
A herança caberá à Antônio, posto que Maria estava casada pela separação e nada contribuiu para
a aquisição desse patrimônio, não se aplicando a Sum 377 do STF.

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Resposta: Os R$ 10.000.000,00 caberão integralmente à Maria, posto ser a herdeira do falecido.
Solução:

1º) Meação: 0 – regime de separação obrigatória e porque não houve esforço comum, razão pela
qual não se aplica a Sum 377 do STF.

2º) Herança: 10.000.000 – irão todos para Maria, pela regra dos arts. 1.838 e 1.839 do Código Civil

Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao
cônjuge sobrevivente. E ao companheiro! STF – Repercussão geral 809, 10.05.18, em que declarou
inconstitucional a regra do art. 1.790 do Código Civil, que regulava a sucessão do companheiro e
determinou que fosse aplicada a regra do art. 1.829 e ss., ou seja, as mesmas regras aplicáveis à
sucessão do cônjuge

Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente (e companheiro), nas condições estabelecidas no
art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.

*Na sucessão legítima, pela ordem de vocação hereditária, o colateral só tem direito à herança se
o falecido não tiver deixado descendentes, ascendentes, cônjuge e nem companheiro
sobreviventes (qualquer que seja o regime de bens)

Da Ordem da Vocação Hereditária

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso


Extraordinário nº 646.721 e Recurso Extraordinário nº 878.694 – Repercussão Geral 809 STF que
declarou inconstitucional o art. 1.790 do CC)
“É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no
art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de
união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002”

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;

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I – Pelo Regime de Comunhão Universal

1º) Meação: 600.000 (casa) + 600.000 (apto) = 1.200.000

1.200.000 / 2 = 600.000 (meação de Maria)

2º) Herança: outros 600.000 / 2 = 300.000 para cada filho

Maria (meeira) = 600.000


Pedro (herdeiro) = 300.000
Ana (herdeira) = 300.000

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II – Pelo Regime de Separação Obrigatória – art. 1.641

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento:


I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do
casamento;
II - da pessoa maior de sessenta anos;
II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos;
(Redação dada pela Lei nº 12.344, de 2010)
III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.

Lembrar da Sum 377 STF: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento”.

- O STJ tem aplicado de forma consolidada a SUM 377 do STF para os casos de Separação
Obrigatória do art. 1.641 do Código Civil, com presunção do esforço comum.

- Pelo entendimento pacificado do STJ, as pessoas casadas pela separação total obrigatória (legal)
têm direito a metade dos bens adquiridos na constância do casamento à título oneroso, com prova
do esforço comum.

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III – Pelo Regime de Separação Convencional (arts. 1.687 e 1.688)

* Decorre de um acordo entre os nubentes, lavrado através de pacto antenupcial e não cabe
meação e nem a aplicação da SUM 377 STF.

1º) Meação: 0 – Bens estão apenas em nome do falecido e não se aplica a SUM 377 STF

2º) Herança: 600.000 (casa) + 600.000 (apto)= 1.200.000

1.200.00/3= 400.000

Maria (herdeira): 400.000


Pedro (herdeiro): 400.000
Ana (herdeira): 400.000

DICA: A 2ª Seção do STJ, no REsp 1.382.170/SP, pacificou o entendimento de que:

a) O cônjuge/companheiro não concorrem com os descendentes do falecido no


regime de separação obrigatória. A herança caberá apenas aos descendentes;

b) O cônjuge/companheiro concorrem com os descendentes do falecido no


regime de separação convencional. A herança será partilhada entre o
cônjuge/companheiro e os descendentes do falecido.

REsp 1.382.170/SP (Rel. Ministro Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Ministro João Otávio de Noronha,
Segunda Seção, julgado em 22/04/2015, DJe 26/05/2015)
CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE. HERDEIRO NECESSÁRIO. ART.1.845 DO CC.
REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS. CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTE.
POSSIBILIDADE. ART. 1.829, I, DO CC.
1. O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art.
1.845 do Código Civil).
2. No regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os
descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao regime da separação legal
de bens previsto no art. 1.641 do Código Civil. Interpretação do art. 1.829, I, do Código Civil.
3. Recurso especial desprovido.

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IV – Regime de Comunhão Parcial

1º) Para entender a regra sucessória do casamento ou da união estável, no regime de comunhão
parcial e quando o falecido deixa descendentes, é necessário lembrar da diferença entre a) bem
comum e b) bem particular:

a) Bem comum: pertence ao patrimônio de ambos os cônjuges, integrando a


comunhão, ainda que esteja em nome de apenas um deles (art. 1658 e 1660)

b) Bem particular: pertence ao patrimônio exclusivo de cada cônjuge e não integra a


comunhão (art. 1.569)

- Se houve a troca (permuta), tanto por tanto, de um bem particular, por outro, na constância do
casamento, esse novo bem não entra na comunhão, porque adquirido em sub-rogação de um bem
particular.

- Se houver uma parte em dinheiro excedente ao valor do bem particular ela entra na comunhão,
mas não o valor proporcional ao bem particular.

- O art. 1.659, VI do CC, estabelece que não se comunicam os proventos do trabalho pessoal de
cada cônjuge. E o FGTS entra na comunhão? SIM

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AgInt no AREsp 331.533/SP (Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado
em 10/04/2018, DJe 17/04/2018)

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


COBRANÇA. MEAÇÃO. FGTS. VERBA PARTILHÁVEL. JURISPRUDÊNCIA SEDIMENTADA DESTA
CORTE. DECISÃO MANTIDA.
1. Segundo entendimento consolidado nesta Corte, indenizações de natureza trabalhista, quando
adquiridas na constância do casamento, integram a meação, seja o regime de comunhão parcial
ou universal de bens. 2. Reconhecido o direito à meação dos valores do FGTS auferidos durante a
constância do casamento, ainda que não sacados imediatamente após a separação do casal.
Precedentes.
3. Agravo interno a que se nega provimento.

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No final:
Maria (meeira + herdeira): 300.000 (meação) + 200.000 (herança do bem particular)

José (herdeiro): 150.000 (herança do bem comum)


+ 200.000 (herança do bem particular)
= 350.000

Ana (herdeira): 150.000 (herança do bem comum)


+ 200.000 (herança do bem particular)
= 350.000

REsp 1.368.123/SP (Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015)

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE SOBREVIVENTE. REGIME DE


COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. HERDEIRO NECESSÁRIO. EXISTÊNCIA DE DESCENDENTES DO
CÔNJUGE FALECIDO.CONCORRÊNCIA. ACERVO HEREDITÁRIO. EXISTÊNCIA DE BENS
PARTICULARES DO DE CUJUS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.829, I, DO CÓDIGO CIVIL. VIOLAÇÃO
AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA.
1. Não se constata violação ao art. 535 do Código de Processo Civil quando a Corte de origem
dirime, fundamentadamente, todas as questões que lhe foram submetidas. Havendo manifestação
expressa acerca dos temas necessários à integral solução da lide, ainda que em sentido contrário
à pretensão da parte, fica afastada qualquer omissão, contradição ou obscuridade.
2. Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado no regime
de comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido somente
quando este tiver deixado bens particulares.
3. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos bens particulares constantes do
acervo hereditário do de cujus.
4. Recurso especial provido.

CUIDADO: Com a quota de ¼ da herança prevista pela regra do art. 1.832 do Código Civil:

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao


cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota
ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que
concorrer.

1º) A regra do art. 1.832 só se aplica aos regimes em que o cônjuge ou o companheiro concorrem
com os descendentes do falecido. Isso significa que ela não se aplica aos regimes de : a)
Comunhão universal
b) Separação obrigatória
c) Comunhão parcial quando o falecido não tiver deixado bens particulares

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2º) Manda a regra do art. 1.832 que, quando o cônjuge ou o companheiro concorrerem com os
descendentes do falecido, essa divisão seja equitativa, ou seja, todos tenham quinhões iguais,
salvo na exceção expressa no item 3º abaixo em que o cônjuge ou companheiro é ascendente dos
demais herdeiros e terá direito a uma quota mínima de ¼ da herança.

3º) Quando o cônjuge ou companheiro for também ascendente dos demais herdeiros do falecido
(ex.: é mais dos filhos do de cujus), terá direito à um quota não inferior à ¼ da herança. Pode ser
superior a ¼ da herança, mas não pode ser inferior a esse patamar.

Simulação:

José e Maria são casados pelo regime de separação convencional (Cônjuge concorre com os
descendentes do falecido - STJ) e o casal possui:

a) Um filho: a herança será dividida entre o filho e Maria, na proporção de 50% (1/2) para cada
um (quinhões iguais);

b) Dois filhos: a herança será dividida entre os dois filhos e Maria, na proporção de 33,33% (1/3)
para cada um (quinhões iguais);

c) Três filhos: a herança será dividida entre os filhos e Maria, na proporção de 25% (1/4) para
cada um (quinhões iguais);

d) 4 filhos ou mais: a herança não será dividida em partes iguais, o que daria 20% (1/5) para
cada um, porque, como Maria é mãe dos demais descendentes, terá direito à quota de 25%
(1/4) e os outros 75% (3/4) serão divididos entre os filhos (quinhões dos descendentes e dos
cônjuges são desiguais)

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao


cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota
ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que
concorrer.

Cuidado: A quota não inferior à ¼ da herança vale para as situações em que o cônjuge ou o
companheiro sobrevivente é ascendente dos demais herdeiros (ex.: é mãe dos filhos do falecido).
Logo, chega-se à conclusão que essa quota não vale para as situações em que o cônjuge ou
companheiro não é o ascendente dos demais (ex. a viúva não pé mãe de nenhum dos filhos do
falecido).

Pergunta: E se o cônjuge ou companheiro fora ascendente de algum dos herdeiros, mas não o for
de outros – Giselda Hironaka: filiação híbrida.

A doutrina majoritária tem entendido que nesse casos a divisão deve ser por quinhões iguais,
reservando-se a quota de ¼ apenas para a situação em que o cônjuge ou o companheiro for
ascendente de todos os demais herdeiros do falecido. Caso contrário, não terá direito à quota
mínima de ¼.

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