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DIREITO CIVIL – FLÁVIO TARTUCE


AULA XIX- DATA: 09.11.2021

DIREITO DAS SUCESSÕES (PARTE 2/3)

7. Sucessão Legítima
7.1. Introdução.
Tabela comparativa dos sistemas sucessórios.
• Como era: sistema anterior = Baseado no Código Civil de 1916 e
legislação correlata;
• Como ficou: sistema atual = Código Civil de 2002, após 11/01/2003.

COMO ERA: COMO FICOU:


Não existia a concorrência No CC/2002, foi introduzida a
sucessória do cônjuge ou concorrência sucessória do
companheiro (em relação aos cônjuge (art. 1.829, CC) e do
descendentes e ascendentes). companheiro (art. 1.790, CC
declarado inconstitucional pelo
STF).
A ordem de sucessão legítima A ordem de sucessão legítima está
estava prevista no art. 1.603 do agora no art. 1.829 do CC/2002
CC/1916 de um modo bem (complexa):
simples: I) Descendentes + cônjuge (o que
I) Descendentes; depende do regime de bens);
II) Ascendentes; II) Ascendentes + cônjuge;
III) Cônjuge; III) Cônjuge;
IV) Colaterais (até 6º grau); IV) Colaterais (até 4º grau).
V) Município, DF ou União.
*Nas menções ao cônjuge, deve-se
incluir companheiro/ convivente.
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Havia previsão de um usufruto O usufruto vidual foi extinto e


vidual em favor do cônjuge substituído pela concorrência
sobrevivente (art. 1.611 do sucessória.
CC/1916).
A sucessão do companheiro estava A sucessão do companheiro foi
prevista em duas leis: - Lei tratada pelo art. 1.790 do CC,
8.971/1994; e - Lei 9.278/1996. posteriormente declarado
“Equiparado ao cônjuge” inconstitucional pelo STF
(Informativo 864). O companheiro
deve ser incluído no art. 1.829,
CC, ao lado do cônjuge.
O CC/1916 reconhecia o direito O CC/2002 reconhece o direito
real de habitação em favor do real de habitação do cônjuge em
cônjuge somente no regime da qualquer regime de bens (art.
comunhão universal (art. 1.611). 1.831 do CC).
O art. 7º, § único da Lei O CC/2002 não prevê
9.278/1996 previa o direito real de expressamente o direito real de
habitação do companheiro. habitação do companheiro.
Doutrina e jurisprudência
afirmam que o companheiro tem
esse direito, seja por aplicação do
art. 7º, parágrafo único da Lei
9.278/1996, que não foi revogado,
seja por aplicação analógica do
art. 1.831 do CC/2002.
CC/1916 - Herdeiros necessários CC/2002 - Herdeiros
(art. 1.721): - Descendentes; - necessários (art. 1.845):
Ascendentes. Não havia menção - Descendentes;
ao cônjuge como herdeiro - Ascendentes;
necessário. - Cônjuge.

Nas palavras de Luiz Paulo Vieira


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de Carvalho, “o cônjuge é a grande


estrela sucessória no CC/2002”,
pois se tornou herdeiro
necessário, concorre com
ascendentes e descendentes,
possui a reserva da quarta parte,
além de ter o direito real de
habitação em qualquer regime de
bens. Com a decisão do STF, a
grande dificuldade é saber se o
companheiro passou a ser
herdeiro necessário.

O STF entendeu que o art. 1.790 do CC é inconstitucional, devendo o


companheiro ser incluído ao lado do cônjuge no rol do art. 1.829 (incisos
I, II e III) - Informativo n. 864 do STF - RE 646.721 e RE 878.694.

Observação: ver artigo do professor Flávio Tartuce, o qual foi publicado


no site Migalhas: “STF encerra o julgamento sobre a
inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil. E agora?”
https://www.migalhas.com.br/coluna/familia-e-
sucessoes/259678/stf-encerra-o-julgamento-sobre-a-
inconstitucionalidade-do-art-1790-do-codigo-civil-e-agora

Questões: Houve equiparação total entre o casamento e a união


estável com a decisão do STF? O companheiro passou a ser herdeiro
necessário? Sobre a equiparação, há três correntes:
• Total: para todos os fins (Maria Berenice Dias e Zeno Veloso) – É
herdeiro necessário;
• Para fins sucessórios (Giselda Hironaka e Flávio Tartuce – Enunciado
641, VIII da JDC) – É herdeiro necessário – “Equalização sucessória”.
• Para os fins do art. 1.829, CC (Mário Delgado) – O companheiro não é
herdeiro necessário – Visão minimalista.
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Enunciado n. 641 da VIII Jornada de Direito Civil: “A decisão do


Supremo Tribunal Federal que declarou a inconstitucionalidade do art.
1.790 do Código Civil não importa equiparação absoluta entre o casamento
e a união estável. Estendem-se à união estável apenas as regras
aplicáveis ao casamento que tenham por fundamento a solidariedade
familiar. Por outro lado, é constitucional a distinção entre os regimes,
quando baseada na solenidade do ato jurídico que funda o casamento,
ausente na união estável.”

Regras de formalidade (existem diferenças entre união estável e


casamento)) x Regras de solidariedade (não há diferenças).
✓ O art. 1.845 do CC é uma regra de solidariedade. Assim, deve ser
incluído o companheiro/convivente.
STJ - Reconhecendo o companheiro como herdeiro necessário:
- REsp 1.337.420/RS (Leitura obrigatória do julgado. Ver o inteiro teor).
- REsp 1.139.054/PR;
- REsp 1.357.117/MG;
- REsp 1.332.773/MS;
- Agravo Interno no REsp 1.318.249/GO.

7.2. Da sucessão dos descendentes e a concorrência do cônjuge ou


companheiro (art. 1.829, I, do CC) – Depende do regime de bens
adotado.
➢ Análise do inciso I do art. 1.829 do Código Civil:

CC, art. 1.829, I: “A sucessão legítima


defere-se na ordem seguinte: I - aos
descendentes, em concorrência com o
cônjuge [OU COMPANHEIRO] sobrevivente,
salvo se casado [OU SE VIVER EM UNIÃO
ESTÁVEL] este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação
obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo
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único); ou se, no regime da comunhão


parcial, o autor da herança não houver
deixado bens particulares.”

Regimes em que o cônjuge (ou Regimes de bens em que o


companheiro) concorre com os cônjuge (ou companheiro) não
descendentes: concorre:
• Regime da participação final nos • Regime da comunhão universal
aquestos; de bens;
• Regime da separação • Regime da separação obrigatória
convencional de bens (decorrente (art. 1.641, CC) – Súmula 377,
de pacto antenupcial); STF.
• Regime da comunhão parcial de • Regime da comunhão parcial de
bens, havendo bens particulares. bens, não havendo bens
Não se comunicam os bens particulares.
mencionados no art. 1.649, CC

Observações fundamentais sobre o art. 1.829 do CC:


Obs.1: “Quando o cônjuge (ou companheiro) é meeiro, não é herdeiro;
quando é herdeiro, não é meeiro” (Cláudio Godoy). Não confundir meação
com herança (sucessão). Meação é instituto de Direito de Família (gera
efeitos em vida); herança é instituto do Direito das Sucessões (morte).

Obs.2: Zeno Veloso afirma que é praticamente impossível que alguém


casado ou que viva em união estável pelo regime de comunhão parcial
morra sem deixar bens particulares (exemplos: roupas, celular, relógio).

Obs.3: No regime da comunhão parcial, havendo bens particulares, a


concorrência sucessória se dá em relação a quais bens?
Na doutrina, existem três correntes:
• Bens particulares, conforme o Enunciado n. 270 da III JDC, em posição
apoiada por Zeno Veloso, Giselda Hironaka, José Fernando Simão, Mário
Delgado, Rolf Madaleno e Flávio Tartuce (posição majoritária).
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✓ Sobre os bens particulares, não há meação, mas sim sucessão.

• Todos os bens (bens particulares e bens comuns): posição adotada por


Francisco Cahali, Maria Helena Diniz e Guilherme Calmon Nogueira da
Gama.

• Bens comuns: Maria Berenice Dias.


Enunciado n. 270 da III Jornada de Direito Civil: “O art. 1.829, inc. I,
só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os
descendentes do autor da herança quando casados no regime da
separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da
comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido
possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se
restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados
exclusivamente entre os descendentes.”

➢ O STJ adotou, inicialmente, a 3ª corrente (REsp 1.117.563/SP, Rel.


Min. Nancy Andrighi, em 2009.
➢ Porém, o STJ pacificou o tema na Segunda Seção, adotando a 1ª
corrente – “Bens particulares”.

Obs.4: No regime da separação convencional de bens, há


concorrência sucessória do cônjuge (ou companheiro) em relação aos
descendentes? ➢ Em um primeiro momento, o STJ entendeu que não.
A separação obrigatória é gênero, que engloba duas espécies:
• Separação legal;
• Separação convencional.

Outros aspectos sobre a sucessão dos descendentes e a concorrência


sucessória do cônjuge ou companheiro ➢ CC, art. 1.8327 : Reserva da
quarta parte da herança. Em concorrência com os descendentes, o
cônjuge (ou companheiro) receberá a mesma quota desses. Além disso,
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terá direito a 1/4 da herança se for ascendente dos herdeiros com quem
concorrer (filhos comuns). Se o cônjuge concorre com filhos só do autor
da herança (filhos exclusivos), não terá a reserva de 1/4.

Polêmica: Filiação híbrida: ocorre quando o cônjuge/companheiro


concorre com filhos comuns e exclusivos (havendo mais de 3 filhos).
Nesse caso, deve ser feita a reserva da quarta parte?
• Posição majoritária: não! Corrente adotada por Maria Berenice Dias,
Maria Helena Diniz, Luiz Paulo Vieira de Carvalho, Mario Delgado, Zeno
Veloso, Rodrigo da Cunha Pereira, Euclides de Oliveira, Sebastião
Amorim, Flávio Tartuce e Enunciado 527 da V Jornada de Direito Civil).
Enunciado 527 da V JDC: “Na concorrência entre o cônjuge e os
herdeiros do de cujus, não será reservada a quarta parte da herança para
o sobrevivente no caso de filiação híbrida.”

• Posição minoritária: Francisco José Cahali e Silvio Venosa entendem


que deve ocorrer a reserva da quarta parte. ➢ Ver o REsp 1.617.650/RS
– Adota a posição majoritária.

➢ Sucessão dos descendentes (art. 1.833, CC e art. 1.834, CC).

DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. Na sucessão dos descendentes, o grau


mais próximo exclui o mais remoto, salvo o direito de representação.
✓ Em regra, o filho exclui o neto, que exclui o bisneto...

Os descendentes de mesma classe (grau) têm os mesmos direitos


sucessórios, vedada qualquer discriminação sucessória quanto aos filhos
– Princípio da igualdade entre os filhos (art. 227, §6º da CF).

A pessoa pode herdar de suas formas:


• Por direito próprio = por cabeça.
• Por direito de representação = por estirpe (art. 1.851 a 1.856, CC).
a) Só ocorre na linha reta descendente ou colateral/transversal.
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b) Nunca na linha ascendente. O direito de representação “apenas


desce ou vai para o lado”. Nunca sobe (art. 1.852 do CC).

Sobre o direito de representação, tem-se os seguintes diagramas


explicativos:

7.3. Da sucessão dos ascendentes e a concorrência do cônjuge ou


companheiro (art. 1.829, II, CC)
Conforme o art. 1.829, II, CC e o art. 1.836, CC, na falta de descendentes,
são chamados a herdar os ascendentes em concorrência com o cônjuge
ou companheiro, sem qualquer influência do regime de bens.

Regras:
1ª) O grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas
(paterna e materna) - art. 1.836, § 1º, CC.
✓ CUIDADO: não há direito de representação. Exemplos: pais excluem
avós, que excluem bisavós (e assim sucessivamente).

2ª) Havendo igualdade de grau e diversidade de linhas, os ascendentes


da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra metade aos da linha
materna (art. 1.836, § 2º, CC).

✓ Polêmica: Multiparentalidade (STF – Informativo 840) Exemplo: avós


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paternos biológicos, avós paternos socioafetivos e avós maternos.

✓ Conforme o art. 1.837 do CC, concorrendo o cônjuge ou companheiro


com dois ascendentes de 1º grau, terá direito a 1/3 da herança.
Concorrendo com um ascendente de 1º grau ou com outros ascendentes
de graus diversos, terá direito à metade da herança.
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Multiparentalidade:
Enunciado 642 da VIII Jornada de Direito Civil (abril de 2018): “Nas
hipóteses de multiparentalidade, havendo o falecimento do descendente
com o chamamento de seus ascendentes à sucessão legítima, se houver
igualdade em grau e diversidade em linha entre os ascendentes
convocados a herdar, a herança deverá ser dividida em tantas linhas
quantos sejam os genitores.”

✓ Divisão igualitária de acordo com o número de genitores. Aplicação do


art. 4º da LINDB.
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7.4. Da sucessão do cônjuge ou companheiro isoladamente (sozinho,


sem concorrência).

Art. 1.829, III, CC e art. 1.838, CC - Na falta de descendentes e


ascendentes, a herança será atribuída por inteiro ao cônjuge ou
companheiro sobrevivente. Eles excluem os colaterais.
✓ Pelo disposto no art. 1.790, III, do CC, o companheiro concorria com
os colaterais. Isso não se aplica mais.

O art. 1.830 do CC prevê as condições para o cônjuge herdar em


concorrência ou isoladamente. Dúvida: este artigo se aplica à união
estável? O artigo é bastante polêmico, pois faz menção ao prazo de
separação de fato e à culpa mortuária (expressão de Rolf Madaleno).

Tabela (na literalidade da norma):

Cônjuge herda Cônjuge não herda:


Casado, não separado; Divorciado;
Casado, mas separado de fato há Separado judicialmente (ou
até 2 anos; extrajudicialmente);
Separado de fato há mais de 2 Separado de fato há mais de 2
anos e não foi o culpado pelo fim anos e o sobrevivente foi culpado
da união. pelo fim da união

Parte considerável da doutrina propõe uma leitura idealizada da norma,


desconsiderando o prazo, a culpa e a menção à separação judicial (Rolf
Madaleno, Maria Berenice Dias, José Francisco Cahali, Zeno Veloso,
Giselda Hironaka, José Fernando Simão, Cristiano Chaves, Nelson
Rosenvald, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona): “Somente é reconhecido
direito sucessório do cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro,
não estavam separados.”

✓ Com essa leitura idealizada, o artigo torna-se aplicável à união estável.


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➢ STJ: o REsp 1.513.252/SP analisa toda a crítica doutrinária, mas


aplica a norma na literalidade.

Direito real de habitação: O art. 1.831 do CC prevê o direito real de


habitação do cônjuge, que se aplica:
• A qualquer regime de bens (inclusive na separação legal ou
convencional);
• Em concorrência ou isoladamente;
• Imóvel de residência da família;
• Sendo o único imóvel a inventariar.

Em relação ao companheiro, o CC/2002 é omisso. Entretanto, antes da


decisão do STF de equalização sucessória do casamento e da união
estável, a posição majoritária já era de reconhecimento do direito real de
habitação do companheiro.

✓ Além do Enunciado 117 da I Jornada de Direito Civil, há julgados


do STJ sobre o tema.

Enunciado 117 da I JDC: “O direito real de


habitação deve ser estendido ao
companheiro, seja por não ter sido revogada
a previsão da Lei n. 9.278/96, seja em razão
da interpretação analógica do art. 1.831,
informado pelo art. 6º, caput, da CF/88.”

"AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


INVENTÁRIO. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. NÃO
CONFIGURAÇÃO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO INDICAÇÃO DO
DISPOSITIVO DE LEI CONFRONTADO. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO
DO CONVIVENTE SOBREVIVENTE. ENTENDIMENTO DO STJ.
PRETENSÃO DE REEXAME DE PROVA. ÓBICE DA SÚMULA 7/STJ.
DECISÃO MANTIDA PELOS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.AGRAVO NÃO
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PROVIDO. 1. Companheira que vindica direito real de habitação de


imóvel que foi local de residência do casal. Direito Real de Habitação
garantido. 2. A ausência de particularização do dispositivo de lei federal
a que os acórdãos - recorrido e paradigma - teriam dado interpretação
discrepante consubstancia deficiência bastante a atrair a incidência do
enunciado nº 284/STF. 3. Não cabe reexame de provas em sede de
recurso extremo. óbice da Súmula 7/STJ. 4. A parte agravante não
trouxe, nas razões do agravo regimental, argumentos aptos a modificar a
decisão agravada, que deve ser mantida por seus próprios e jurídicos
fundamentos. 5. Agravo regimental não provido"

“O Código Civil de 2002 não revogou as disposições constantes da Lei n.º


9.278/96, subsistindo a norma que confere o direito real de habitação ao
companheiro sobrevivente diante da omissão do Código Civil em
disciplinar tal matéria em relação aos conviventes em união estável,
consoante o princípio da especialidade. 4. Peculiaridade do caso, pois a
companheira falecida já não era mais proprietária exclusiva do imóvel
residencial em razão da anterior partilha do bem. 5. Correta a decisão
concessiva da reintegração de posse em favor das co-proprietárias. 6.
Precedentes específicos do STJ. 7. Não apresentação pela parte agravante
de argumentos novos capazes de infirmar os fundamentos que
alicerçaram a decisão agravada. 8. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO" (STJ, Ag. Rg. no REsp 1436350/RS, Rel. Ministro PAULO
DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/04/2016,
DJe 19/04/2016).

Qual a extensão desse direito? Deve-se adotar a extensão do art.


1.831 do CC ou do art. 7º, § único da Lei 9.278/1996? A Lei
9.278/1996 aponta como requisitos:
• Enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento;
• Relativamente ao imóvel destinado à residência da família (não
importando quem é o proprietário).
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✓ Com a decisão do STF acerca da equiparação da união estável ao


casamento, a tendência é colocar o direto real de habitação do
companheiro no art. 1.831, CC.

O direito real de habitação pode ser renunciado? Enunciado 271 da


III JDC: “O cônjuge pode renunciar ao direito real de habitação nos autos
do inventário ou por escritura pública, sem prejuízo de sua participação na
herança.”

7.5. Da sucessão dos colaterais


Conforme art. 1.829, IV, CC e art. 1.839, CC, se o falecido não deixou
descendentes, ascendentes e cônjuge (ou companheiro), serão chamados
a suceder os colaterais até o 4º grau (irmãos, tios, sobrinhos, primos,
tios-avós e sobrinhos-netos).

Não há concorrência do cônjuge (ou do companheiro), pois ele exclui os


colaterais.
✓ Atenção: Não há concorrência do cônjuge ou companheiro, que exclui
os colaterais.

Regras quanto à sucessão dos colaterais/transversais:


1ª regra - Os de grau mais próximo excluem os de grau mais remoto,
salvo o direito de representação concedido aos filhos do irmão (art. 1.840
do CC e art. 1.853 do CC).
Exemplo 1: Os irmãos (colaterais de 2º grau) excluem os tios (3º grau).
Exemplo 2: Direito de representação na linha colateral.
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Neste exemplo, o de cujus era solteiro, não tinha filhos nem ascendentes.

2ª regra - Concorrendo irmãos bilaterais (mesmo pai e mesma mãe) com


irmãos unilaterais (mesmo pai ou mesma mãe), cada um destes herdará
a metade do atribuído àqueles. “Meio irmão herda a metade do irmão
inteiro” (art. 1.841, CC).

Questiona-se: Essa regra é inconstitucional?


• Sim = Maria Berenice Dias e Paulo Lôbo - Fundamento: art. 227, §6º,
CF – Princípio da igualdade entre os filhos.
• Não = Zeno Veloso, José Fernando Simão e Flávio Tartuce (majoritária):
Meio irmão deve mesmo receber a metade. O STJ tem aplicado essa regra
naturalmente:

“O Código estabelece diferença na atribuição da quota hereditária,


tratando-se de irmãos bilaterais ou irmãos unilaterais. Os irmãos,
bilaterais filhos do mesmo pai e da mesma mãe, recebem em dobro do
que couber ao filho só do pai ou só da mãe. Na divisão da herança, coloca-
se peso 2 para o irmão bilateral e peso 1 para o irmão unilateral, fazendo-
se a partilha. Assim, existindo dois irmãos bilaterais e dois irmãos
unilaterais, a herança divide-se em seis partes, 1/6 para cada irmão
unilateral e 2/6 (1/3) para cada irmão bilateral. (VENOSA, Sílvio de
Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões, 7ª edição, São Paulo: Atlas,
2007. p. 138). No caso dos autos, considerando-se a existência de um
irmão bilateral (recorrido) e três irmãs unilaterais (recorrentes), deve-se,
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na linha dos ensinamentos acima colacionados, atribuir peso 2 ao


primeiro e às últimas peso 1. Deste modo, àquele efetivamente caberia
2/5 da herança (40%) e a cada uma desta últimas 1/5 da herança (20%).”
(STJ. REsp 1.203.182/MG (2010/0128448-2), RELATOR: MINISTRO
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Julg. 19/09/2013, DJe
24/09/2013).

3ª regra –“Não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em


partes iguais, os irmãos unilaterais” (art. 1.842, CC).
Obviamente, se todos os irmãos forem bilaterais, também receberão em
partes iguais.

4ª regra – (CC, art. 1.843) - Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes


ou sobrinhos. Na falta dos sobrinhos, herdarão os tios.
• Só herdando sobrinhos, a sucessão é por cabeça;
• Sobrinho unilateral recebe a metade do bilateral;
• Se todos forem bilaterais ou unilaterais, recebem igualmente.

Obs. 1: Sucessão dos demais colaterais - E se houver outros


colaterais além dos tios e sobrinhos? Exemplo: o falecido deixou 2
primos, 1 tio-avô e 2 sobrinhos-netos. Há lacuna normativa quanto à
matéria, devendo ser resolvida com base no princípio da
proporcionalidade (art. 4º, LINDB).

Havendo outros colaterais, a divisão deve ser igualitária, ou seja, eles


receberão partes iguais (Zeno Veloso e Giselda Hironaka).

Obs.2.: o Município, o Distrito Federal e a União não são herdeiros no


Código Civil de 2002 (eram no CC/1916). O Estado não é herdeiro, mas
sucessor irregular, pois os bens são “devolvidos” a ele (art. 1.844, CC).

JULGADOS DO STJ MENCIONADOS EM AULA:


STJ – REsp 1.337.420/RS
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STJ – REsp 1.139.054/PR


STJ – REsp 1.357.117/MG
STJ – REsp 1.332.773/MS
STJ – AgInt. no REsp 1.318.249/GO

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