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RELATOR :
MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RECORRENTE :
BAC
ADVOGADO :
EM CAUSA PRÓPRIA
RECORRIDO :
L G M E OUTRO
ADVOGADOS :
JULIANA GONTIJO
FERNANDO GONTIJO E OUTRO(S)
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA.
GUARDA COMPARTILHADA. DISSENSO ENTRE OS PAIS. POSSIBILIDADE.
1. A guarda compartilhada deve ser buscada no exercício do poder familiar entre
pais separados, mesmo que demande deles reestruturações, concessões e adequações
diversas para que os filhos possam usufruir, durante a formação, do ideal psicológico de
duplo referencial (precedente).
2. Em atenção ao melhor interesse do menor, mesmo na ausência de consenso
dos pais, a guarda compartilhada deve ser aplicada, cabendo ao Judiciário a imposição
das atribuições de cada um.
Contudo, essa regra cede quando os desentendimentos dos pais ultrapassarem o
mero dissenso, podendo resvalar, em razão da imaturidade de ambos e da atenção aos
próprios interesses antes dos do menor, em prejuízo de sua formação e saudável
desenvolvimento (art. 1.586 do CC/2002).
3. Tratando o direito de família de aspectos que envolvem sentimentos profundos
e muitas vezes desarmoniosos, deve-se cuidar da aplicação das teses ao caso concreto,
pois não pode haver solução estanque já que as questões demandam flexibilidade e
adequação à hipótese concreta apresentada para solução judicial.
4. Recurso especial conhecido e desprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade
dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo
Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
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Superior Tribunal de Justiça
Relator
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.417.868 - MG (2013/0376914-2)
RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RECORRENTE : BAC
ADVOGADO : EM CAUSA PRÓPRIA
RECORRIDO : L G M E OUTRO
ADVOGADOS : JULIANA GONTIJO
FERNANDO GONTIJO E OUTRO(S)
RELATÓRIO
Sustenta que namorou a requerida por alguns anos e desse relacionamento nasceu uma
filha. Contudo, em razão dos desentendimentos com aquela, tem sido cerceado seu direito de
conviver com a criança.
A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais em acórdão
assim ementado:
“DIREITO CIVIL E DE FAMÍLIA. GUARDA COMPARTILHADA
LITIGIOSA. INTERESSE DE MENOR A SER ATENDIDO DE FORMA
EXCLUSIVA. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS. NECESSIDADE E POSSIBILIDADE.
- A guarda de menor não é definitiva e pode ser modificada a qualquer tempo.
- A guarda compartilhada, como aqui e postula o pai, é instituto que pressupõe
ausência de litígio entre os interessados. Exige maturidade, que é o alicerce que
afasta mágoas e vem permitir acordos, transações e pactos. Por isso é que não se
deve admitir, quando normalmente considerada, a guarda compartilhada, se litigiosa,
pode transformar-se em vivências de extremo sofrimento para todos. Este caso é um
eloquente exemplo desta impossibilidade. As decisões maduras, refletidas, pensadas,
dirigidas para um fim único (o bem do filho) são inalcançáveis no atual momento de
convivência entre pai e mãe, no qual prepondera a tendência para a consideração do
próprio interesse. A oportunidade poderá surgir num momento posterior, não sendo
visível no instante atual.
- O valor arbitrado para alimentos deve atender o binômio necessidade e
possibilidade, o que aqui ocorreu.
- A fixação do termo final dos alimentos para o advento da maioridade é ato
preciptado, pois nesta fase de menoridade da filha (com apenas quatro anos), é
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prematuro antever que, ao alcançar a maioridade, não mais necessitará deles,
devendo esta circunstância ser analisada e decidida na época apropriada. A
jurisprudência, como se sabe, é pacífica ao decidir, sem quaisquer divergências, que
a maioridade cronológica não faz cessar o dever de prestar alimentos, que pode vir a
ser mantido (se por ex., o credor estuda e faz curso superior). Ou se está impedido
de trabalhar, ou, ainda, em outras situações que normalmente a vida apresenta do
modo quase que cotidiano nos tribunais...!"
Afirma que não existe desavença entre os genitores da menor e que, na condição de
pai, tem uma relação harmoniosa com a filha. Ademais, a harmonia entre o casal não pode ser
pressuposto para a concessão da guarda compartilhada, exigência que fere seu direito de participar,
em igualdade de condições, da vida da menor.
Às fls. 813/81, o Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do recurso.
É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.417.868 - MG (2013/0376914-2)
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA.
GUARDA COMPARTILHADA. DISSENSO ENTRE OS PAIS. POSSIBILIDADE.
1. A guarda compartilhada deve ser buscada no exercício do poder familiar entre
pais separados, mesmo que demande deles reestruturações, concessões e adequações
diversas para que os filhos possam usufruir, durante a formação, do ideal psicológico de
duplo referencial (precedente).
2. Em atenção ao melhor interesse do menor, mesmo na ausência de consenso
dos pais, a guarda compartilhada deve ser aplicada, cabendo ao Judiciário a imposição
das atribuições de cada um.
Contudo, essa regra cede quando os desentendimentos dos pais ultrapassarem o
mero dissenso, podendo resvalar, em razão da imaturidade de ambos e da atenção aos
próprios interesses antes dos do menor, em prejuízo de sua formação e saudável
desenvolvimento (art. 1.586 do CC/2002).
3. Tratando o direito de família de aspectos que envolvem sentimentos profundos
e muitas vezes desarmoniosos, deve-se cuidar da aplicação das teses ao caso concreto,
pois não pode haver solução estanque já que as questões demandam flexibilidade e
adequação à hipótese concreta apresentada para solução judicial.
4. Recurso especial conhecido e desprovido.
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (Relator):
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No acórdão:
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inalterabilidade das relações entre pais e filhos, após a separação, divórcio ou
dissolução da união estável, prevista no art. 1.632 do CC-02.
Talvez tenhamos que começar a olhar com mais atenção para os países de
sangue frio, nos quais a guarda compartilhada é imposta independentemente da
resistência ou contrariedade da concordância do outro genitor, no comum das vezes
representado pela mãe, que vê no pai inimigo e coloca toda sorte de obstáculos para
o estabelecimento de uma custódia repartida da prole. A continuidade do convívio
da criança com ambos os pais é indispensável para o saudável desenvolvimento
psicoemocional da criança, constituindo-se a guarda responsável em um
direito fundamental dos filhos menores e incapazes, que não pode ficar ao
livre , insano e injustificado arbítrio de pais disfuncionais. A súbita e indesejada
perda do convívio com os filhos não pode depender exclusivamente da decisão ou
do conforto psicológico do genitor guardião, deslembrado-se que qualquer
modalidade de guarda tem como escopo o interesse dos filhos e não o conforto ou a
satisfação de um dos pias que fica com este poderoso poder de veto.
Talvez seja o momento de se recolher os bons exemplos de uma guarda
compartilhada compulsória, para que se comece a vencer obstáculos e resistências
abusivas, muito próprias de alguma preconceituosa pobreza mental e moral, e ao
impor judicialmente a custódia compartida, talvez a prática jurídica sirva para que
pais terminem com suas desavenças afetivas, usando os filhos como instrumento de
suas desinteligências, ou que compensem de outra forma suas pobrezas emocionais,
podendo ser adotadas medidas judiciais de controle prático do exercício efetivo da
custódia compartilhada judicialmente imposta, como por exemplo, a determinação de
periódicos estudos sociais, sob pena do descumprimento implicar a reversão da
guarda que então se transmuda em unilateral. (Madaleno, Rolf. Curso de Direito de
Família. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p.435) (sem destaques no original)
Contudo, não posso desconsiderar que, na seara do direito que trata de questões de
natureza íntima dos indivíduos, ao trazerem suas questões à resolução judicial, normalmente já
permeadas de sofrimentos e carregadas de mágoas e frustrações, não é inabitual o julgador
deparar-se com situações que normalmente fogem à doutrina e à jurisprudência, estas balizadas por
situações medianas, nas quais, sim, encontram-se os sentimentos a que me referi e que acometem a
grande maioria das pessoas em momentos de separação conjugal.
Há casos, contudo, e sempre haverá, já que cada pessoa é um mundo em si, particular,
infinito e imprevisível, que desbordam das situações acima tanto positiva quanto negativamente.
Exemplos da primeira situação são as separações consensuais e acordo sobre guarda, educação e
criação dos filhos, que se desenvolvem de forma saudável, por encontrarem nos pais referência de
equilíbrio e maturidade, mesmo quando separados. Há outras situações, porém, em que famílias são
totalmente arruinadas, deixando nos filhos profundas questões psicológicas a serem resolvidas.
Portanto, mesmo que se fixem teses que resultem da observação e estudos das
situações cotidianas, refletidas num dado momento histórico, sempre haverá situações particulares a
demandar outras alternativas de solução.
Não há notícias de ruptura conjugal, porquanto não houve aprofundamento das relações
das partes envolvidas, que, parece, mantiveram um namoro sem que resultasse em algum tipo de
união com fins de constituir família.
De qualquer forma, o próprio recorrente, embora diga no recurso especial que não
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existe dissenso entre ele e a recorrida, embasou sua inicial no dissenso entre eles e as brigas, nas
quais a menor era envolvida (apesar de, naquele momento, não ter esclarecido se a menor era
envolvida nas brigas como forma de atingir o outro ou se tais brigas decorriam da falta de acordo em
relação à visitação).
Na sentença, fez-se referência a que ambos os pais têm condições de exercer suas
funções parentais, mas não em conjunto, já que, dessa forma, não tinham disponibilidade nem
flexibilidade para lidar com pequenos imprevistos, tampouco para privilegiar o interesse da filha em
comum, pois não conseguiam separar as questões relativas ao relacionamento do exercício da
responsabilidade parental (fl. 363). Concluiu-se que os genitores não demonstraram possibilidade de
diálogo, cooperação e responsabilidade conjunta.
Nos autos, há manifestação que atesta isso. Observa-se que a recorrida opôs embargos
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declaratórios ao acórdão recorrido, sustentando omissão quanto ao fato de ter sido determinado que
o recorrente fique com a filha por quatro horas em duas noites por semana, sem que tenha sido
fixados os dias da semana. Ou seja, nem sobre algo tão básico eles conseguiram se acertar.
Entendo que, diante de tais fatos, impor aos pais a guarda compartilhada apenas porque
atualmente se tem entendido que esse é o melhor caminho, quando o caso concreto traz
informações de que os pais não têm maturidade para o exercício de tal compartilhamento, seria
impor à criança a absorção dos conflitos que daí, com certeza, adviriam. E isso, longe de
atender seus interesses, põe em risco seu desenvolvimento psicossocial.
No voto que citei acima, da Ministra Nancy Andrighi, está consignado que a guarda
compartilhada, quando litigiosa, deve constituir forma de fecundar o diálogo produtivo entre os pais,
traçando linhas mestras que devem ser por eles seguidas e, na hipótese, de haver frustração, caberá
ao Estado-Juiz agir como mediador.
Contudo, isso não pode representar uma experiência envolvendo a criança. Esse
entendimento serve bem àqueles que, mesmo em litígio, apresentam uma linha comportamental que
indica a possibilidade de haver algum acerto em prol do(s) filho(s).
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inexistência de divergência nas instâncias ordinárias em relação à impossibilidade de se estabelecer
o compartilhamento da guarda em razão dos aspectos que os pais trazem em si, entendo que não
posso contrariar tais conclusões para adequar a vida de pessoas a um entendimento doutrinário.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BA C
ADVOGADO : EM CAUSA PRÓPRIA
RECORRIDO : L G M E OUTRO
ADVOGADOS : JULIANA GONTIJO
FERNANDO GONTIJO E OUTRO(S)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a).
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
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