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1. RELATÓRIO
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64-5-133/2015/799 133/1.13.0001534-3 (CNJ:.0002824-08.2013.8.21.0133)
pai, negando o abandono, e citando datas as quais
participou do convívio com sua filha.
Alega o réu ainda que a genitora da
autora tornava ainda mais complicada a relação de pai e
filha, pois impunha regras para que ambos se encontrassem,
e além disso nega que ocultou ou sonegou qualquer
informação de sua vida pessoal.
Não houve réplica.
Deu-se vista ao Ministério Público.
Houve audiência de instrução e julgamento.
Após debates finais e memoriais escritos,
vieram então, os autos conclusos para sentença.
É o relatório.
Decido.
2. FUNDAMENTAÇÃO
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que o genitor se omitia de ações necessárias na vida de
Julia, e isto fica mais claro ainda quando analisados os
depoimentos da professora da autora, que expuseram que
Antonio não era pai presente em eventos escolares e que,
por estas e outras, sua filha por vezes sentia-se triste por
“não ter pai”.
Os depoimentos e provas juntadas pelo réu não
conseguiram de fato contradizer o exposto pela parte
adversa, principalmente as testemunhas arroladas que, ou
foram impedidos, ou foram depoentes ou simplesmente não
sabiam a fundo a situação da criança a ponto de comprovar
que o réu era presente.
O sentimento de tristeza causado pela omissão
paterna é perfeitamente compreensível e geram a
necessidade de compensação, mesmo que pela via
econômica.
Portanto, entendo que nesse caso, pelas provas
produzidas, e principalmente pela conduta do réu na
solenidade acima mencionada, os danos causados à Alana,
psicologicamente, foram exorbitantes e ensejam
indenização.
Nesse sentido, segue o informativo 496, do STJ:
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diversas concepções, como se vê no art. 227 da CF. O
descumprimento comprovado da imposição legal de cuidar da
prole acarreta o reconhecimento da ocorrência de ilicitude civil
sob a forma de omissão. É que, tanto pela concepção quanto
pela adoção, os pais assumem obrigações jurídicas em relação
à sua prole que ultrapassam aquelas chamadas necessarium
vitae. É consabido que, além do básico para a sua
manutenção (alimento, abrigo e saúde), o ser humano precisa
de outros elementos imateriais, igualmente necessários para a
formação adequada (educação, lazer, regras de conduta etc.).
O cuidado, vislumbrado em suas diversas manifestações
psicológicas, é um fator indispensável à criação e à formação
de um adulto que tenha integridade física e psicológica, capaz
de conviver em sociedade, respeitando seus limites, buscando
seus direitos, exercendo plenamente sua cidadania. A Min.
Relatora salientou que, na hipótese, não se discute o amar -
que é uma faculdade - mas sim a imposição biológica e
constitucional de cuidar, que é dever jurídico, corolário da
liberdade das pessoas de gerar ou adotar filhos. Ressaltou que
os sentimentos de mágoa e tristeza causados pela negligência
paterna e o tratamento como filha de segunda classe, que a
recorrida levará ad perpetuam, é perfeitamente apreensível e
exsurgem das omissões do pai (recorrente) no exercício de seu
dever de cuidado em relação à filha e também de suas ações
que privilegiaram parte de sua prole em detrimento dela,
caracterizando o dano in re ipsa e traduzindo-se, assim, em
causa eficiente à compensação. Com essas e outras
considerações, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por
maioria, deu parcial provimento ao recurso apenas para
reduzir o valor da compensação por danos morais de R$ 415
mil para R$ 200 mil, corrigido desde a data do julgamento
realizado pelo tribunal de origem. REsp 1.159.242-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2012.
3. DISPOSITIVO
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desta sentença (Súmula 362 do STJ), e juros de mora à razão
de 1% ao mês desde o ato ilícito (Súmula 54, do STJ).
Resolvo o mérito com fundamento no art. 487, I
do Código de Processo Civil.
Condeno o réu ao pagamento das custas e
despesas processuais, além dos honorários advocatícios que
fixo desde já em 10% do valor da condenação.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
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