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por algumas noções, mais de caráter sociológico que jurídico, pois neste ramo do
Direito Civil, mais do que em qualquer outro, sente-se o quanto as normas jurídicas
são moldadas e determinadas pelos seus conteúdos sociais” (DANTAS, 1991, p. 3).
Bem sabemos que a vida contemporânea, em muitos casos, não possibilita
que os pais tenham o filho junto a si todo o tempo: a corriqueira dissolução dos
vínculos conjugais distanciou os integrantes da família. De qualquer maneira, a
privação à convivência familiar, para ser objeto de nosso interesse, tem-se que
desdobrar no abandono afetivo, ou seja, na desconsideração dos laços afetivos que
unem os pais aos filhos, gerando danos imateriais.
Certo é, que o afastamento culposo e negligente de um dos progenitores da
presença da família abarca diretamente o direito dos filhos ao afeto e à convivência
comunitária, insurgindo a discussão referente à reparação de possíveis danos
morais no âmbito jurídico-social.
Noutro aspecto, a positivação do dano aos valores imateriais somente veio a
lume a partir do descortinar da concepção de direito pós-1988. Neste sentido, o
reconhecimento do patrimônio particularíssimo dos seres foi o grande possibilitador
da inclusão do dano moral no Código vigente – art. 186/2002, em contraposição ao
art. 156/1916.
“A ordem jurídica nunca tolerou o fato de que uma pessoa possa causar mal a
outra” (PEREIRA, 1996, p. 101), desta maneira, nosso Diploma vigente consagrou
expressamente – em concordância aos dispositivos Magnos – o dano moral como
uma das molas propulsoras do ato ilícito privado.
A lesão provocada ao patrimônio subjetivo de outrem deve ser passível de
reparação, uma vez que “o princípio dos danos morais vem sendo paulatinamente
consagrado pela maioria dos países civilizados” (CAHALI, 1998, p. 29).
Analisemos a legislação pátria:
Um dos remédios previstos pela Lei 8.069/90 e pelo Código Civil para a
displicência paternal é a própria perda deste poder familiar (autoridade parental);
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Profunda foi a reviravolta que produziu, não só na justiça, mas nas próprias
relações entre pais e filhos, a nova tendência da jurisprudência, que
passou a impor ao pai o dever de paga indenização, a título de danos
morais, ao filho pela falta de convívio, mesmo que venha atendendo ao
pagamento da pensão alimentícia (DIAS, 2007, p. 408).
NOTAS DE RODAPÉ
Nota nº 2: A terminologia pátrio poder foi suprimida no atual direito pós-1988 pela
poder familiar. Contudo, a doutrina admite que o termo autoridade parental seja o
mais adequado para representar a recente democratização das relações familiares.
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