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Grupos: teorias e práticas

Prof. Jorge Broide

10/08

PERGUNTA QUE PERCORRERÁ TODO CURSO: O QUE ESTAMOS FAZENDO AQUI?

Em todos lugares que formos trabalhar, além da clínica individual (até nela estão os
grupos que nos formam), trabalharemos em/com grupos. O saber trabalhar com o grupo é
fundamental para nossa formação enquanto profissionais da Psicologia. O trabalho grupal é
complexo e absolutamente útil e necessário. É sair do trabalho individual, par ir de encontro
ao trabalho que se dá no âmbito institucional. Não existe Psicologia Individual; toda Psicologia
é social, o que quer dizer que o outro está em mim, somos as relações que estão em mim e
fora de mim, são todas essas vozes que estão em mim. Trabalharemos com alguns conceitos
que buscam a transformação dos grupos.

Ao longo das próximas três semanas leremos Totem e Tabu, Psicologia das Massas e
Análise do Ego e Moisés e a Religião Monoteísta. Trabalharemos com o conceito de Grupo
Operativo (Pichon-Rivière), que é amarrado num conceito central de tarefa (que ela própria
terá parte cs e parte ics), que no nosso caso é a de aprender sobre grupos. Procuraremos a
história dos grupos (visão panorâmica dos principais autores e o que pensam sobre isso). Ao
final do semestre iremos para 2 ou 3 grupos como cronistas. O cronista é aquele que participa
da equipe de coordenação e que vai para o grupo, senta no grupo, escreve sobre o grupo e
não fala nada. Se no grupo que ele está ele não pode fazer isso, ele têm que sair do grupo e
logo em seguida. O fato de ele não falar dá a liberdade dele falar o que está pensando,
sentindo, colocando sob o papel toda sua transferência ou contra- transferência. Há também a
suma importância do estilo, o modo como o grupo entra dentro dele e como isso vai
acontecendo. Leremos texto sobre crônica, teremos cronistas contando sobre a experiência de
ser cronista, et cetera. Ao final do curso leremos as crônicas para todos e receberemos as
“leituras” que as pessoas do grupo tiveram. “Temos que apalpar o negócio!”

No final teremos um trabalho que entregaremos junto das crônicas com a reflexão do
que foi o curso para nós, o que pensamos ao longo dele, o que aconteceu com nós aqui.

Existem vários níveis de relação com o grupo. Pichon fala de três, com um 4º escrito
por José Bleger: o psicossocial (como eu me relaciono com o grupo – minha transferência com
cada um das pessoas que formam o grupo), sociodinâmico (como o grupo se relaciona entre si
– as transferências entre- cruzadas), o institucional (o lugar institucional aonde o grupo
acontece) e o comunitário (o que está presente no “entorno”, aquilo que é comum há todos).
17/08/18

Falaremos de alguns textos sociais de Freud e ver como eles atravessam os grupos.
Freud questiona como foi constituída a civilização. Nos tempos remotos, as coisas
funcionavam através das hordas primitivas: meio humanos, meio animais, que funcionava a
partir de uma liderança, que era do chefe da horda. Era o líder porque era o cara mais forte e,
por isso, tinha todos os direitos (todas as mulheres, todas as comidas, todo conforto, todo
gozo). Assim ia se dando a sucessão na horda. Chegava o mais jovem e matava o mais velho,
assim assumindo a ordem da horda – sucessão dada através de um crime, o totem que fica
como significante do pai assassinado, sucessão que sempre se repetia. Até que mata- se o pai e
não se decide mais fazer a sucessão: não queria- se mais matar o pai, colocando um pacto
entre os indivíduos, mudando o modelo de sucessão. O pacto dizia que todos teriam que fazer
uma renúncia do gozo: não mais todas as mulheres, comidas... agora havia a conversa. Com o
pacto sai- se da ilusão da endogamia (tudo dentro da tribo), começando a se trocar com o que
havia de fora. As mulheres de outros grupos começam a vir para o nosso grupo e vice- versa,
que é a exogamia. Abre- se para o mundo. Esse novo pacto diz que haveria uma combinação
para o modo pelo qual a vida iria acontecer. Quando isso acontece, constitui- se a Lei. Que é o
momento em que se instaura a cultura, instalada apenas a partir do momento da castração,
aquilo que não se pode. Aqui começamos a diferenciar o que é Lei e lei. Quando se rompe a
Lei, rompe- se o modo pelo qual se dão as relações. A Lei tem a função de ordenar o gozo. A
renúncia ao gozo volta- se de encontro com o grupo. A renúncia aparecerá no grupo como
pulsão. Se no grupo houver uma “barragem”, maior “pressão” haverá dentro do grupo.
Aparece no grupo através de sintoma, do conflito. O grupo é como um sonho: desejos
reprimidos que não podem ser falados, apresentando- se para nós através do processos
primários em imagens que não podem ser ditas. Quando trabalhamos em grupo, temos que
encontrar isso que é reprimido, recalcado, cindido, inconsciente e que mesmo assim, está no
grupo. Se não encontrar isso, minha tarefa será comprometida. Quanto menos a palavra
circula, mais sintoma têm. É- se necessário permitir o que está de fora entrar e elaborar este
material que se entra. Como se criar dispositivos que permitam a circulação da palavra? Pode-
se coordenar o grupo como chefe da horda ou como um dos membros do grupo que está
também submetido a mesma Lei. Como saber se só alguém está gozando ou se todos estão
submetidos a mesma Lei? Todo grupo funciona a partir de uma determinada tarefa (Pichon),
sendo ela a líder do grupo. A tarefa está enlaçada nesta Lei. Quando estamos trabalhando
segundo o esquema da horda primitiva, o que interessa é o gozo e não a tarefa. A
compreensão da tarefa é absolutamente essencial para a dinâmica grupal, pois se não o grupo
fica voltando- se para si.

(gozo é prazer? Como fica o exemplo da horda num contexto de Estado, digo a Lei? A tarefa
pode se transformar em lei?

Resposta

31/08/18

Ana Maria Fernández, quando estudou os grupos, importou- se menos com o grupo e
mais com a grupalidade – aquilo que juntos conseguimos produzir. Pensar menos sua forma e
mais sua dinâmica. O que produzimos estando junto? Estamos falando do encontro, de
afecção e do caminho do coletivo, aquilo que não é meu, nem seu, mas aquilo que produzimos
no entre. A força dos grupos está na possibilidade de amplificação, em torno de uma tarefa,
produzindo algo inédito. É a produção de um novo modo. O que é capaz de nos mobilizar, de
nos abrir, de nos fazer pensar, em direção a algo é o poder de afecção do estar em grupo, a
grupalidade.

Há no fenômeno a visibilidade – aquilo que consigo capturar de informações, de


contratos – e a invisibilidade – à medida que se faz o grupo, começa- se os acontecimentos
grupais; invisível porque é do plano das intensidades, das forças, percebendo o efeito dela e
certos movimentos que a aceleram ou não.

Inicialmente, com a Gestalt, viu- se que o grupo era um todo maior que as partes. A
Psicanálise inaugura no campo grupal o debate dos organizadores fantasmáticos, que entende
o grupo como processo psíquico, objeto de investimentos pulsionais, de representação
imaginárias e simbólicas, de projeções e de fantasias inconscientes. Grupo como projeção de
sistemas e de instâncias que o aparelho psíquico individual estrutura. Autores aqui buscam
instituir uma teoria psicanalítica dos grupos e não uma teoria do grupal.

14/09/18

Hoje iremos trabalhar o texto “Moisés e a religião monoteísta”. Queremos entender o


que tem a ver o grupo com a teoria freudiana. Freud foi trabalhando este texto durante muitos
anos, pensando ao longo destes anos em publica-lo mas não publicou. Quando estava prestes
a morrer decidiu publica-lo, pois antes vivia um contexto muito perigoso de publicar (Aústria
invadida pelos alemães). Freud era um judeu peculiar, um quase judeu ateu e teve uma
vinculação com o judaísmo distante (instituição), mas próxima (pensamento). Nesse texto
conta a história do Moisés, o que fala dos fundamentos da civilização ocidental. Diz que a
primeira pessoa que trabalhou com a ideia do monoteísmo foi o Faraó Akenatom, tirando a
casta sacerdotal do poder e elege um deus único: Rá (Sol). Logo depois, houve um contra-
golpe, pois era um avanço civilizatório ter uma religião só. Os sacerdotes reestabeleceram a
religião antiga, politeísta. Moisés não era judeu, era uma pessoa do grupo, perto do Akenatom,
sendo portanto, um general egípcio. Depois da contra-revolução eles mantêm um grupo de
resistência e consegue compactuar com os hebreus a saída do Egito desde que eles
assumissem o monoteísmo – permanência dos costumes de Akenatom e egípicio. O Deus
único que existiria não seria mais o Deus Rá, mas um Deus abstrato. Com isso, aquilo que entra
é o processo secundário – tem que ter a possibilidade de simbolização (imagem) e de
pensamento para sair do aqui e pensar Deus de uma forma abstrata, o que transforma a
cultura de forma substancial. Agora esse Deus pressupõe a Lei, aquilo que ordenará o gozo,
uma castração simbólica, onde há que ser feito um pacto de renúncia para estar com o outro.
É importante que entendamos a diferença entre o conceito de grupo e o conceito de massa. A
hipótese de Freud é que Moisés foi morto numa das rebeliões do bezerro de ouro. Os judeus
fazem uma elaboração secundária e quando chegam em Israel encontram outro messias, que
assume a liderança do grupo que nega a morte de Moisés e se assume como Moisés –
interpretação freudiana da bíblia.

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