1) O que você entende sobre biopoder no Brasil hoje e como ele se expressa?
O biopoder é o controle da vida e, porque não, da morte. Políticas, ações, práticas e
discursos que imprimem a face violenta do capital. Mas nem só de repressão vive o modelo hegemônico. Sedução, consenso, produção de desejos, impotência, são algumas das facetas do nosso Golias.
O poder tem uma materialidade que se expressa no cotidiano: na impossibilidade de
negociar seu salário com o patrão (ou mesmo com um trabalhador de RH), no aumento do custo real dos bens mínimos a uma vida digna, nas políticas que retiram nossos direitos e que chegam em efeitos quase invisíveis e por aí vai. Além disso, o poder produz subjetividades, regimes simbólicos de apreensão do mundo, seja através de propagandas, da repetição massiva e cotidiana de informações... Estas são algumas das expressões do poder.
Esta regulação da vida é construída social e historicamente, através de alianças
estratégias entre distintos atores sociais. No Brasil o biopoder está localizado nas elites rurais, nas grandes mídias, nos setores militares, no alto escalão do Estado, nas lideranças religiosas, que assumam o país como seu e fazem da rua e dos campos seu palco de apresentação. A cena, no entanto, é monstruosa.
A “onda progressista”, movimento político característico da América Latina que
teve início no início dos anos 2000, não teve força nem coragem para refazer as trilhas do poder, pelo contrário, ampliou sua força e penetração social, através de sua “política de conciliação de classes”. Os movimentos sociais tiveram lideranças perseguidas e assassinadas, poucas conquistas estruturais, além do estigma de invasores/criminosos.
Com o golpe de 2016 e a ascensão bolsonarista, a direita mais esdrúxula,
negacionista, anti-cientificista e necropolítica, assume o poder e começa a desmantelar as minguadas políticas sociais que tínhamos. Hoje, o cenário é de desesperança e luto. Como refazer o amanhã, em que a solidariedade entre os povos, a esperança nos olhos e o grito dos corpos voltem a estar presentes?