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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI

Curso de Bacharelado em Direito

JÉSSICA RAIANE CARVALHO DE JESUS


JOSENNILDES NUNES SOARES BEZERRA
MARIA CAROLINA NASCIMENTO ARAUJO
PALOMA CASSIA VASCONCELOS DE BRITO SANTOS
PAULA FERNANDA RAMOS PEREIRA
YARA BARROS SILVA

RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade Civil no abandono afetivo

TERESINA-PI
2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - UESPI

JÉSSICA RAIANE CARVALHO DE JESUS


JOSENNILDES NUNES SOARES BEZERRA
MARIA CAROLINA NASCIMENTO ARAUJO
PALOMA CASSIA VASCONCELOS DE BRITO SANTOS
PAULA FERNANDA RAMOS PEREIRA
YARA BARROS SILVA

RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade Civil no abandono afetivo

Trabalho como requisito para


obtenção de nota da disciplina
Responsabilidade Civil ministrada
pelo profº. Flavio Chaib

TERESINA-PI
2022
1. INTRODUÇÃO
A responsabilidade civil tem se apresentado como instituto e em
constantes mudanças, sempre se transformando para atender às necessidades
sociais que surgem.

Nos últimos tempos, a tendência na sociedade é no sentido de não


deixar nenhuma vítima de dano sem reparação. Isso reflete diretamente no
instituto da responsabilidade civil, uma vez que tem proporcionado um
fenômeno de expansão dos danos suscetíveis de indenização. O presente
estudo aborda os pressupostos clássicos deste instituto.

1.1. Conceito

A ideia de responsabilidade civil está relacionada à noção de não


prejudicar outro. A responsabilidade pode ser definida como a aplicação de
medidas que obriguem alguém a reparar o dano causado a outrem em razão
de sua ação ou omissão. Nas palavras de Rui Stoco:

“A noção da responsabilidade pode ser haurida da própria


origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a
alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de
responsabilizar alguém pelos seus atos danosos. Essa
imposição estabelecida pelo meio social regrado, através dos
integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de
responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça
existente no grupo social estratificado. Revela-se, pois, como
algo inarredável da natureza humana” (STOCO, 2007, p.114).

Segundo Silvio Rodrigues “A responsabilidade civil é a obrigação que


pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato
próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam” (RODRIGUES,
2003, p. 6). O termo responsabilidade Civil, conforme a definição de De Plácido
e Silva é:

“Dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de


contrato, seja em face de fato ou omissão, que lhe seja
imputado, para satisfazer a prestação convencionada ou para
suportar as sanções legais, que lhe são impostas. Onde quer,
portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não fazer alguma
coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais ou
penalidades, há a responsabilidade, em virtude da qual se
exige a satisfação ou o cumprimento da obrigação ou da
sanção” (SILVA, 2010, p. 642).
No direito atual, a tendência é de não deixar a vítima de atos ilícitos sem
ressarcimento, de forma a restaurar seu equilíbrio moral e patrimonial.
Conforme o entendimento de Carlos Alberto Bittar:

“O lesionamento a elementos integrantes da esfera jurídica


alheia acarreta ao agente a necessidade de reparação dos
danos provocados. É a responsabilidade civil, ou obrigação de
indenizar, que compele o causador a arcar com as
consequências advindas da ação violadora, ressarcindo os
prejuízos de ordem moral ou patrimonial, decorrente de fato
ilícito próprio, ou de outrem a ele relacionado” (BITTAR, 1994,
p. 561).

Em seu sentido etimológico e também no sentido jurídico, a


responsabilidade civil está atrelada a ideia de contraprestação, encargo e
obrigação. Entretanto é importante distinguir a obrigação da responsabilidade.
A obrigação é sempre um dever jurídico originário; responsabilidade é um
dever jurídico sucessivo consequente à violação do primeiro (CAVALIERI
FILHO, 2008, p. 3).

1.2 Responsabilidade Civil no abandono afetivo

Com a evolução do ordenamento jurídico brasileiro é notável que o


vínculo afetivo nas relações familiares tem sido priorizado, principalmente no
que diz respeito ao interesse de crianças e adolescentes. Ou seja, o afeto
passa a ter maior importância do que os laços consanguíneos, tornando-se o
elemento fundamental para a formação do instituto familiar.

Ainda que não previsto de forma explícita na Lei brasileira, o afeto tem
sua base nos princípios estabelecidos pela Constituição Federal, quais sejam:
da dignidade humana, da convivência familiar e ainda, da paternidade
responsável, que se traduz como o dever de cuidado, criação e convívio entre
pais e filhos. Caso o genitor venha a descumprir com os seus deveres
paternos, fica caracterizado o abandono afetivo que provoca profundas
sequelas no indivíduo em desenvolvimento.

Assim, a abordagem do tema da responsabilidade civil nas relações


familiares no que tange ao abandono afetivo é de suma importância, uma vez
que não existe posicionamento pacificado pelo Poder Judiciário, apesar de ser
possível encontrar precedentes na jurisprudência.

Para alguns legisladores, a omissão quanto ao cumprimento dos


deveres intrínsecos à paternidade responsável é fato gerador para a pretensão
da responsabilidade civil por abandono afetivo, já que se trata de ato ilícito que
atenta contra os direitos da criança e do adolescente, indivíduos que tem
prioridade garantida na legislação brasileira. Enquanto outros defendem que
caracterizar a responsabilidade civil na esfera afetiva é difícil, e ainda, que o
ordenamento jurídico brasileiro não impõe que os genitores possuem o dever
de amar, o que poderia ocasionar uma “monarizatação do amor”.

Para que haja a tipificação da responsabilidade civil por abandono


afetivo é necessário que além dos danos causados ao filho, haja o nexo causal
entre a conduta do genitor (ativa ou omissiva) e o dano em si,
independentemente de culpa ou não.

2. CONCEITO DE ABANDONO AFETIVO

Para entender o que vem a ser o abandono afetivo, primeiro é


necessário observar o disposto no artigo 227 da Constituição Federal:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. (grifos nosso)

Ademais, também importante destacar o artigo 1634, do Código Civil.


Dessa forma, transcreve-se o artigo supracitado:

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua


situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que
consiste em, quanto aos filhos: (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)

I - dirigir-lhes a criação e a educação; (grifo nosso)


Analisando-se o disposto nos artigos transcritos acima, percebe-se que
o poder familiar se trata de um dever que os pais tem em relação aos filhos.
(FREDERICO; LIMA, 2016)

É imprecindível destacar que esse poder é compartilhado entre os


genitores, desse modo, ambos têm responsabilidade pelos direitos
fundamentais dos menores. Assim, o abandono afetivo pode ser caracterizado
quando os pais privam os seus filhos de assistência moral e sobretudo afetiva.
(MATOS, 2017)

Como bem destaca Matos (2017):

O abandono afetivo causa clara violação aos direitos da


personalidade dos filhos que dependem não só do aspecto
material, mas, principalmente, do aspecto afetivo em relação
aos pais. É um grande equívoco considerar que pai e mãe são
aqueles que unicamente dão aos seus filhos amparo material,
ser pai e mãe vai além do patrimônio, um filho necessita de
amparo emocional, de carinho, de afeto, para que possa se
desenvolver de forma sadia, com um psicológico sadio.

Assim, não é possível considerar que os pais que apenas prestam


amparo material, estejam cumprindo com o dever de criar e educar o filho.
Pois, criar um filho vai muito além do amparo material, o filho necessita
também de amparo psicológico e emocional.

3. POSIÇÕES FAVORÁVEIS A RESPONSABILIZAÇÃO POR ABANDONO


AFETIVO

É importante salientar que o convívio familiar entre filhos e pais impõe


aos genitores a obrigação de cuidar e o dever de não abandonar, pois o
abandono afetivo é um elemento prejudicial à criança e isso prejudica seu
processo de desenvolvimento (FIGUEIREDO, 2014).

A falta de contato com o pai ou com a mãe enseja em uma má formação


da criança como pessoa, neste sentido, Rosa (2015, p. 42) ensina que:

Amor e afeto são direitos natos dos filhos que não podem ser punidos
pelas desinteligências e ressentimentos dos seus pais, porquanto a falta desse
contato influencia negativamente na formação e no desenvolvimento do infante,
permitindo este vazio a criação de carências incuráveis e de resultados
devastadores na autoestima da descendência, que cresceu acreditando-se
rejeitada e desamada As marcas existem e são mais profundas do que se pode
mensurar: o beijo de boa noite negligenciado, [...] o cafuné não realizado [...]

Segundo o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança,


Adolescente e Juventude da OAB-DF, Charles Bicca, o abandono afetivo
provoca graves consequências à sociedade em decorrência dos traumas
enfrentados pelas crianças abandonadas, pois elas são obrigadas a conviver
com a indiferença. Mas elas não sabem o porquê desse abandono.

Infelizmente, ainda, segundo o presidente da Comissão de Defesa


dos Direitos da Criança, Adolescente e Juventude da OAB-DF, Charles Bicca,
os números não apresentam a problemática na sua totalidade. Sabe-se que há
filhos que moram com os pais, mas não recebem o devido afeto, atenção,
cuidado, bem como também aqueles optaram por registrar o filho, mas não
querem nenhum tipo de contato. Dessa forma, a paternidade é apenas um ato
formal. Para ele, o abandono afetivo deve ser punido e também se faz
necessário acabar com a ideia de que a maternidade é uma obrigação, e a
paternidade é uma opção.

De acordo com o CNN, o número de crianças sem o nome do pai na


certidão cresceu pelo quarto ano seguido. Quase 100 mil crianças nascidas em
2021 não têm o nome do pai na certidão.

Colocando em números: índice de crianças apenas com o nome


da mãe.

Ano de 2018 5,5%

Ano de 2019 5,9%

Ano de 2020 6%

Ano de 2021 6,3%


À CNN, o presidente da Arpen - Associação Nacional dos
Registradores de Pessoas Naturais, Gustavo Fiscarelli, explicou que é
importante que pais e mães compreendam que é um direito da criança ter o
nome do pai na certidão de nascimento, pois isso possibilita uma série de
benefícios ao recém-nascido, como pensão alimentícia, herança, inclusão em
plano de saúde, previdência.

Nesse diapasão os autores Pamplona e Gagliano asseveram que


(GAGLIANO E PAMPLONA, 2012, p.747 apud MATOS, 2017):

“Uma importante ponderação deve ser feita. Logicamente, dinheiro


nenhum efetivamente compensará a ausência, a frieza, o desprezo de um pai
ou de uma mãe por seu filho, ao longo de sua vida. Mas é preciso se
compreender que a fixação dessa indenização tem um acentuado e necessário
caráter punitivo e pedagógico, na perspectiva da função social da
responsabilidade civil, para que não se consagre o paradoxo de se impor ao
pai ou a mãe responsável por esse grave comportamento danoso (jurídico e
espiritual), simplesmente a “perda do poder familiar”, pois, se assim o for, para
o genitor que o realiza, essa suposta sanção repercutiria como um verdadeiro
favor.”

De acordo com Matos, a formação da personalidade de um filho está


ligada a presença dos pais e como de fato eles exercem sua função como pai e
mãe. A família sendo a primeira fonte de controle social informal deve estar
pautada em princípios e valores que ajudem a formar a personalidade da
criança e adolescente. Portanto, o descumprimento do dever de convivência
familiar pode ocasionar danos irreversíveis à personalidade do filho.

4. POSIÇÕES DESFAVORÁVEIS A RESPONSABILIZAÇÃO POR


ABANDONO AFETIVO

Ainda na vertente da aplicabilidade da responsabilidade civil referente ao


abandono afetivo, e considerando-se o Direito como ciência passível de
discussões inesgotáveis, tem-se a dualidade na defesa, ou não, dessa
responsabilização dentro dessa seara do direito de família.
Ao transparecer a possibilidade de responsabilizar os pais por abandono
afetivo, e dessa forma, possibilitar a indenização por essa negligência, surgem
diferentes vertentes de pensamento no meio jurídico. Nesse sentido, a
jurisprudência não está pacificada quanto à possibilidade de indenização por
abandono afetivo. Conforme se observa na jurisprudência abaixo:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


VISITA PATERNA COM CONVERSÃO EM INDENIZAÇÃO
POR ABANDONO AFETIVO. EXTINÇÃO DO PROCESSO
POR IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. A
paternidade pressupõe a manifestação natural e espontânea
de afetividade, convivência, proteção, amor e respeito entre
pais e filhos, não havendo previsão legal para obrigar o pai
visitar o filho ou manter laços de afetividade com o mesmo.
Também não há ilicitude na conduta do genitor, mesmo
desprovida de amparo moral, que enseje dever de indenizar.
APELAÇÃO DESPROVIDA. (Brasil. Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. Apelação Cível Nº 70044341360.
Sétima Câmara Cível. Relator: André Luiz Planella Villarinho.
Porto Alegre, RS, data de Julgamento: 23/11/201, data de
Publicação: 28/11/2011)

As perspectivas da corrente contrária a condenação ao pagamento de


indenização refere-se a linha de compreensão de que não há, no ordenamento
jurídico, previsão legal de obrigação afetiva do pai para com o seu filho, manter
laços ou visitá-lo.

Há, na doutrina, autores também contrários. É o caso de Carlos Roberto


Gonçalves, que afirma que uma vez aceita essa alegação, ocorreria uma
"monetização do afeto", admitindo que o afeto é impossível de ser auferido
quantitativamente e que não se poderá obrigar alguém a amar outrem.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em análise da pauta, vem se


inclinando no sentido de que o abalo moral causado por abandono afetivo dos
pais não é fato gerador de responsabilidade civil, visto que não se configura ato
ilícito.

“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ABANDONO MORAL E


MATERIAL – REVELIA – EFEITOS – PRESUNÇÃO RELATIVA
DE VERACIDADE – COMPENSAÇÃO REQUERIDA PELO
FILHO AO PAI – MANIFESTAÇÃO DE AMOR E RESPEITO
ENTRE PAI E FILHO – SENTIMENTOS IMENSURÁVEIS –
AUSÊNCIA DE ILICITUDE -NÃO CABIMENTO. – Revela-se
inconteste a dor tolerada por um filho que cresce sem o afeto
do pai, bem como o abalo que o abandono causa ao infante;
entendo, no entanto, que a reparação pecuniária além de não
acalentar o sofrimento, ou suprir a falta de amor paterno
poderá provocar um abismo entre pai e filho, na medida em
que o genitor, após a determinação judicial de reparar o filho
por não lhe ter prestado auxílio afetivo, talvez não mais
encontre ambiente para reconstruir o relacionamento. (Acórdão
n° 1014508475498-8, Relator: Osmando Almeida,
30.01.2012)”.

Os principais argumentos da corrente são a de que ato ilícito passível de


reparação é remetido ao que transgride ao direito, e não havendo previsão, não
haverá imposição de indenização; A conduta do não oferecimento de afeto ao
filho (tida como omissiva) sendo culposa - na modalidade negligência -
apresenta-se de forma subjetiva, de difícil ou impossível verificação; E, o
pensamento de que, sendo o dano moral, fato que decorre de uma conduta ou
fato ilícito ofensivo a direito da personalidade, não se caracteriza nessa
temática, visto que a indenização em comento tem o caráter de trazer
satisfação ou paz de espírito ao ofendido.

5. CASOS CONCRETOS

Para endossar ainda mais a discussão trouxemos entendimentos


jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO


AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de
indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O cuidado como valor
jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico brasileiro
não com essa expressão, mas com locuções e termos que
manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227
da CF/88. 3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi
descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil,
sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que atinge um
bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação,
educação e companhia - de cuidado - importa em vulneração da
imposição legal, exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear
compensação por danos morais por abandono psicológico. 4.
Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de
pleno cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe
um núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero
cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à
afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e
inserção social. 5. A caracterização do abandono afetivo, a
existência de excludentes ou, ainda, fatores atenuantes - por
demandarem revolvimento de matéria fática - não podem ser objeto
de reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração do
valor fixado a título de compensação por danos morais é possível,
em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada
pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada. 7. Recurso
especial parcialmente provido.

(STJ - REsp: 1159242 SP 2009/0193701-9, Relator: Ministra


NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 24/04/2012, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 10/05/2012 RDDP
vol. 112 p. 137 RDTJRJ vol. 100 p. 167 RSTJ vol. 226 p. 435)

RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


APRECIAÇÃO, EM SEDE DE
RECURSO ESPECIAL, DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL.
INVIABILIDADE.
COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS, POR ABANDONO
AFETIVO E ALEGADAS
OFENSAS. DECISÃO QUE JULGA ANTECIPADAMENTE O FEITO
PARA, SEM
EMISSÃO DE JUÍZO ACERCA DO SEU CABIMENTO,
RECONHECER A PRESCRIÇÃO.
PATERNIDADE CONHECIDA PELO AUTOR, QUE AJUIZOU A
AÇÃO COM 51 ANOS DE
IDADE, DESDE A SUA INFÂNCIA. FLUÊNCIA DO PRAZO
PRESCRICIONAL A
CONTAR DA MAIORIDADE, QUANDO CESSOU O PODER
FAMILIAR DO RÉU.
1. Embora seja dever de todo magistrado velar a Constituição, para
que se evite supressão de competência do egrégio STF, não se
admite
apreciação, em sede de recurso especial, de matéria constitucional.
2. Os direitos subjetivos estão sujeitos à violações, e quando
verificadas, nasce para o titular do direito subjetivo a faculdade
(poder) de exigir de outrem uma ação ou omissão (prestação
positiva
ou negativa), poder este tradicionalmente nomeado de pretensão.
3. A ação de investigação de paternidade é imprescritível,
tratando-se de direito personalíssimo, e a sentença que reconhece o
vínculo tem caráter declaratório, visando acertar a relação jurídica
da paternidade do filho, sem constituir para o autor nenhum direito
novo, não podendo o seu efeito retrooperante alcançar os efeitos
passados das situações de direito.
4. O autor nasceu no ano de 1957 e, como afirma que desde a
infância
tinha conhecimento de que o réu era seu pai, à luz do disposto nos
artigos 9º, 168, 177 e 392, III, do Código Civil de 1916, o prazo
prescricional vintenário, previsto no Código anterior para as ações
pessoais, fluiu a partir de quando o autor atingiu a maioridade e
extinguiu-se assim o "pátrio poder". Todavia, tendo a ação sido
ajuizada somente em outubro de 2008, impõe-se reconhecer
operada a
prescrição, o que inviabiliza a apreciação da pretensão quanto a
compensação por danos morais.
5. Recurso especial não provido.

(STJ-REsp:1298576 RJ 2011/0306174-0, Relator: Ministro


LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento:21/08/2012,T4 -
QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/09/2012RSTJ vol.
228 p. 539)
Colacionamos abaixo alguns entendimentos do Tribunal de Justiça do
Estado do Piauí a respeito do tema:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. ABANDONO
AFETIVO. DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DOS ELEMENTOS DA
RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO. 1. O Apelante alega que a ausência da convivência
paterna, por negligência e descaso do ora Apelado, lhe causou
muitos dissabores e constrangimentos ao longo dos anos, motivo
pelo qual faz jus à indenização por danos morais. 2. O
reconhecimento do dano moral em matéria de família é situação
excepcional, sendo admitida a responsabilidade dos pais somente
em casos extremos de efetivo excesso nas relações familiares. 3.
Desta forma, para que haja a responsabilização civil por abandono
afetivo, é necessário que o caso concreto apresente,
simultaneamente e de forma clara, todos os elementos presentes no
art. 186 do Código Civil/2002, devendo ficar devidamente
comprovada a conduta omissiva ou comissiva do pai (ato ilícito), o
trauma psicológico sofrido pelo filho (dano à sua personalidade) e o
nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano. 4. Compulsando os
autos, verifico que o requerente, ora apelante, tão somente afirma
que “ os danos psíquicos decorrentes deste abandono material e
afetivo são evidentes” , sem juntar qualquer laudo psicológico ou
documento que especificasse quais danos lhe foram causados, bem
como o nexo causal do suposto dano com o ato ilícito. 5. Ressalte-
se que, segundo o entendimento do STJ, é imprescindível que o ato
ilícito e o dano sejam demonstrados de forma clara e precisa, para
que haja a responsabilização do pai. 6. Ademais, conforme o art.
333, I do CPC/73, cabe ao Apelante demonstrar os fatos
constitutivos de seu direito, comprovando as alegações de que
sofreu abandono afetivo pelo seu genitor e que tal conduta causou
graves danos à sua vida, o que poderia ter sido facilmente
demonstrado a apresentação de um estudo psicossocial. Na
verdade, o STJ tem entendido que esse estudo psicossocial é
imprescindível para analisar a existência do dano, bem como sua
causa e consequência. 7. Diante disso, verifica-se que o apelado
não pode ser condenado à pagar indenização por danos morais,
uma vez que ausente todos os elementos da responsabilidade civil.
Admitir o contrário seria o mesmo que mercantilizar os sentimentos
e fomentar a propositura de ações judiciais motivadas unicamente
pelo interesse econômico-financeiro. 8. Ante o exposto, conheço do
presente recurso e nego-lhe provimento mantendo a sentença
hostilizada em todos os seus termos. 9. Recurso conhecido e
parcialmente provido.(TJ-PI - AC: 00004818120128180028 PI,
Relator: Des. Hilo de Almeida Sousa, Data de Julgamento:
25/04/2018, 3ª Câmara Especializada Cível)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. ABANDONO


AFETIVO. DANOS MORAIS. COMPETÊNCIA DA VARA DA
FAMÍLIA. APLICAÇÃO DA TEORIA DA CAUSA MADURA.
AUSÊNCIA DOS ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL.
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. Inicialmente, cumpre
observar que a competência para julgar as matérias de
responsabilidade civil nas relações familiares é da Vara de Família,
quando existente, uma vez que a análise das peculiaridades e
características dessa matéria devem ser observadas no julgamento,
garantindo a preservação do núcleo familiar. 2. Superada a questão
da competência, deve-se aplicar a Teoria da Causa Madura, uma
vez que a decisão versa sobre matéria unicamente de direito e está
em condições de julgamento imediato, conforme art. 1013, § 3º, III
do CPC/15 c/c art. 6º deste mesmo diploma legal. Assim, passemos
à análise do mérito do presente recurso. 3. O Apelante alega que a
ausência da convivência paterna, por negligência e descaso do ora
Apelado, lhe causou muitos dissabores e constrangimentos ao longo
dos anos, motivo pelo qual faz jus à indenização por danos morais.
4. O reconhecimento do dano moral em matéria de família é
situação excepcional, sendo admitida a responsabilidade dos pais
somente em casos extremos de efetivo excesso nas relações
familiares. 5. Desta forma, para que haja a responsabilização civil
por abandono afetivo, é necessário que o caso concreto apresente,
simultaneamente e de forma clara, todos os elementos presentes no
art. 186 do Código Civil/2002, devendo ficar devidamente
comprovada a conduta omissiva ou comissiva do pai (ato ilícito), o
trauma psicológico sofrido pelo filho (dano à sua personalidade) e o
nexo de causalidade entre o ato ilícito e o dano. 6. Afim de
demonstrar a veracidade de suas alegações, juntou 03 (três) laudos,
sendo eles um relatório de acompanhamento psicológico, um
atestado psiquiátrico e um relatório médico neurológico. Contudo,
nenhumas das provas apresentadas foram aptas a demonstrar a
presença dos elementos da responsabilidade civil, uma vez que o
apelante não conseguiu demonstrar de forma concreta que não teve
convivência alguma com o seu genitor (ato ilícito omissivo), se
limitando a fazer meras alegações quanto a isso. Não comprovou,
também, a existência de dano, uma vez que o apelante somente
demonstrou que sofre de enxaquecas fortes; que seu
acompanhamento psicológico foi iniciado por indicação da
fonoaudióloga que lhe acompanhava em seu tratamento e que sua
vida social e familiar não foi abalada a ponto de impedir seu
convívio com familiares e colegas, bem como na elaboração de sua
vida profissional, tendo inclusive sido aprovado em vestibular que
pretende cursar. 7. Ressalte-se que, segundo o entendimento do
STJ, é imprescindível que o ato ilícito e o dano sejam demonstrados
de forma clara e precisa, para que haja a responsabilização do pai.
8. Além disso, verifico que, mesmo que as crises fortes de
enxaquecas fossem reconhecidas como consequencia da ausência
paterna, bem como seus tratamentos psicológicos, o apelante
também não conseguiu demonstrar o nexo causal entre a alegada
conduta omissiva e o dano. 9. Ademais, conforme o art. 333, I do
CPC/73, cabe ao Apelante demonstrar os fatos constitutivos de seu
direito, comprovando as alegações de que sofreu abandono afetivo
pelo seu genitor e que tal conduta causou graves danos à sua vida,
o que poderia ter sido facilmente demonstrado a apresentação de
um estudo psicossocial. Na verdade, o STJ tem entendido que esse
estudo psicossocial é imprescindível para analisar a existência do
dano, bem como sua causa e consequencia. 10. Diante disso,
verifica-se que o apelado não pode ser condenado à pagar
indenização por danos morais, uma vez que ausente todos os
elementos da responsabilidade civil. Admitir o contrário seria o
mesmo que mercantilizar os sentimentos e fomentar a propositura
de ações judiciais motivadas unicamente pelo interesse econômico-
financeiro. 11. Recurso conhecido e parcialmente provido.

(TJ-PI - AC: 00272086620118180140 PI, Relator: Des. Hilo de


Almeida Sousa, Data de Julgamento: 30/08/2017, 3ª Câmara
Especializada Cível)
REFERÊNCIAS

BITTAR, Carlos Alberto. Curso de direito civil. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense,
1994.

BRASIL. Código Civil (2002). 2002. Disponível em: <http://


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm >. Acesso
em: 15 jan. 2022.
BRASIL. Constituição Federal (1988). 1988. Disponível em: <http://
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm >. Acesso em:
15 de jan. 2022.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e


ampl. São Paulo: Atlas, 2010.

FAVARETTO, Agueda. A responsabilidade civil por abandono afetivo


parental. São Paulo. 2019

FREDERICO, Victor Daniel Aguiar; LIMA, Leylanne Mara de Almeidade.


Abandono afetivo. Jus, 2016. Disponível em: <
https://jus.com.br/artigos/46423/abandono-afetivo>. Acesso em: 15 de
jan.2022.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil.


11.ed. São Paulo: Saraiva, 2016;

HIRONAKA. Gilselda Maria Fernandes Novaes. Pressupostos, elementos e


limites do dever de indenizar por abandono afetivo. Disponível em:
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https://jus.com.br/artigos/20136/a-impossibilidade-de-reconhecer-o-abandono-
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STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência.


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