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BRUMADO – BA
2020
JAMILLE MIRANDA SALES ARAUJO
JOANA SILVA OLIVEIRA CARMO
BRUMADO – BA
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
JAMILLE MIRANDA SALES ARAUJO
JOANA SILVA OLIVEIRA CARMO
BRUMADO
2020
AGRADECIMENTOS DE JAMILLE MIRANDA SALES ARAUJO
Por algum motivo, adiei escrever essa página, digitei e apaguei por diversas
vezes e me vi sem encontrar as palavras certas pra expressar meu sentimento de
gratidão e medo por encerrar um ciclo único e de tão grande importância pra mim.
Em meio a uma pandemia, em um ano em que absolutamente tudo esteve
fora do meu (nosso) controle, em que todos os meus planos sobre esta reta final,
idealizados e sonhados há tanto, foram remodelados, eu percebo com fascínio, mais
uma vez, minha impotência ante as surpresas da vida e a vontade do Criador.
Pelo fim (e por todo o processo até aqui) desta etapa, agradeço a Deus, que
esteve comigo em todos os momentos, até naqueles em que eu não merecia sua
presença e seu cuidado constante. Sou grata por Seu amor incondicional e por
sempre fazer por mim muito mais do que o que eu poderia sonhar! “Os teus olhos
viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu
livro antes de qualquer deles existir” (Salmo 139:16).
Agradeço também aos meus pais, Edson e Jane, em nome de quem
aproveito para agradecer a toda minha família pela presença e apoio.
Agradeço ao meu orientador, professor João Batista, por me ensinar tanto
sobre tudo, ao professor Fernando Leite, pelas orientações tão importantes para a
conclusão deste trabalho e à minha dupla, Joana, pela parceria e por passar comigo
por esta fase.
Agradeço a todos que estiveram ou passaram pela minha vida ao longo
destes anos, tornando minha vida mais leve, mais feliz, me fazendo crescer e me
mostrando que a vida é melhor quando é compartilhada com quem vibra pelas suas
conquistas!
AGRADECIMENTOS DE JOANA SILVA OLIVEIRA CARMO
Considering the context on the development of the Portuguese colonial legacy called
“bacharelismo” at the beginning of the 19th century, the study questions whether is
the level of responsibility of baccalaureate formation in the constitution of the figure of
the anti-hero judge. The present research had its pillars based on the
aforementioned question, demonstrating its results through the found data.
Therefore, it seeks to demonstrate the beginning of baccalaureate formation in Brazil
and the formation of judges legal background; ascertain how the legally formation of
judges interferes on judicial decisions; verify how the judicial activism phenomenon’s
growth acts in the process of creating the figure of the anti-hero judge and investigate
whether the correct technique was applied to certain decisions. The present study
also aims to demonstrate the hypothesis through means of bibliographic research
with study of articles, books and field study by the gathering of procedural
documentary data from the Forum municipality of Carinhanha, in the interior of Bahia.
This is about a specific period in which a judge served on the referred district court,
and became known by frequent unreasonable decisions and ignoring legal precepts
in the period of 1987 to 1989 and during the year of 1993. Thus, the figure brought
up by the research is the anti-hero judge, a character very much found nowadays
with the advance of judicial activism, which looks for making justice without the
concern with the utilized means. Still, the study points out that since the beginning of
legal training there has been a distance between academic education and social
context, evident regarding magistrates, who mostly come from a privileged social
class. Finally, it shows that there is consistency in the initially raised question and the
necessity of reduce this illustrative distance between judges and society in order to
guarantee legal decisions and social effectiveness.
CF – Constituição Federal
CNJ – Conselho Nacional de Justiça
CPC – Código de Processo Civil
LC – Lei Complementar
LINDB – Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro
TJ – Tribunal de Justiça
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56
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1 INTRODUÇÃO
pela elite brasileira. Sendo assim, é relevante estudar na prática que desde o início
da formação das universidades a preocupação do bacharel estava longe de retornar
à sociedade os frutos da educação que recebeu, mas sim ser visto como “doutor”.
Dessa forma, o fascínio pelo pensamento jurídico alemão, bem como o
francês em suas ressignificações variadas em espaços e temporalidades fez com
que, aos poucos, o Brasil traçasse sua própria trajetória jurídico-intelectual.
Compreender essa formação é viável para entender o relacionamento atual entre o
magistrado e a sociedade haja vista que este é fruto de uma herança colonial
burguesa, estando a originalidade do estudo presente pela pouca discussão na
doutrina e acadêmicos em geral quanto ao tema em face a argumentos como “cada
juiz é uma sentença”.
Para concretização do trabalho, pretende-se, através de uma pesquisa
explicativa de método indutivo, que consiste em conectar ideias de forma a tentar
explicar as causas e os efeitos de determinado fenômeno, demonstrar a hipótese
trazida. Por meio de pesquisa bibliográfica - com análise de artigos e livros - e
estudo de caso realizado por meio da coleta de dados documentais – processos do
Fórum do município de Carinhanha, no interior da Bahia – chegar-se-á a um
resultado qualitativo. Conforme Antônio Carlos Gil (1994, p. 175) no caso de
análises experimentais e levantamentos fala-se em pesquisa quantitativa, no
entanto, em pesquisas definidas como estudos de campo os procedimentos são de
natureza qualitativa, como é o caso do presente estudo.
A investigação qualitativa foi feita de forma indutiva, que parte do particular e
coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados
particulares (GIL, 1994, p. 10) com a pesquisa bibliográfica com base em diversos
autores como Sérgio Adorno, Sérgio Buarque de Holanda, Fernando de Azevedo,
Mauro Cappeletti, José Murilo de Carvalho, Ronald Dworkin, Boaventura de Souza
Santos, entre outros.
Ademais, foram utilizadas de legislações brasileiras vigentes, como o Código
de Processo Penal, Código de Processo Civil e a própria Constituição Federal e
diversos artigos nas áreas de direito processual civil e penal, direito constitucional,
sociologia jurídica e história do direito.
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos (GIL, 1994, p. 50) e esta
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Uma vez que, enquanto colônia, o Brasil não apresentava uma identidade
política própria, após o “grito da independência” que marcava o rompimento com
Portugal em 1822, o país recém-emancipado se viu obrigado a consolidar a elite
administrativa, social e intelectual nacional, com a formação de bacharéis para
preencher os quadros burocrático-institucionais.
Conservadores e liberais protagonizavam uma disputa de ideias no período
pós independência, no século XIX, tanto que tal disputa levou à dissolução da
Assembleia Constituinte e outorga da Carta Constitucional de 1824. Como
instrumento de homogeneidade ideológica e a fim de evitar os conflitos intra-elite é
que surgiu o fenômeno do bacharelismo na formação do Estado brasileiro.
Para Rudnicki (2007. p. 64), “a decisão de implantar os cursos superiores,
portanto, encampava um projeto de classe”, haja vista que, entre as opções mais
vantajosas à elite – criação de escolas superiores para os jovens mais afortunados –
e à maior parte da população – programa de alfabetização mais amplo que
atendesse a todos – aquelas sempre se sobrepuseram a estas, e não seria diferente
desta vez.
O bacharelismo surgiu como o “treinamento da elite”, sendo a via eleita para a
união dos interesses intra-elite, a fim de dirimir os conflitos dos liberais e
conservadores, enfrentando a tarefa de efetiva construção do Estado, para que,
distanciados dos interesses regionais e com forte identificação com o Estado, a nova
classe dos bacharéis assegurasse a unidade política e a supremacia do governo civil
do Estado Imperial.
Assim, nota-se que os primeiros resultados das novas escolas não foram dos
melhores, isso devido a uma série de fatores, principalmente pela característica dos
cursos de profissionalizar bacharéis. Ligados à Portugal e com programas
curriculares fracos, os cursos de Direito inicialmente sofreram duras críticas, mesmo
que, anos depois, tenham se tornado núcleos notáveis de cultura jurídica.
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[…] Não tinha outra filosofia. […] Não digo que a universidade não
me tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o
vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim; embolsei três
versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e
políticas, para as despesas da conversação. Tratei-os como tratei a
história e a jurisprudência. Colhi de todas as coisas a fraseologia, a
casca, a ornamentação (ASSIS, 2010, p.87).
Desta forma, como preleciona Adorno (1988, p.75), os cursos jurídicos, desde
seu surgimento no Brasil, estavam muito mais voltados à preocupação de se
constituir uma elite política coesa e devota às razões do Estado, que se pusesse à
frente dos negócios públicos do que pela preocupação em formar juristas que
produzissem uma ideologia jurídico-política do Estado Nacional emergente.
Ainda segundo Adorno (1988, p. 75) “o bacharel, que se converteu em político
profissional e procurou ascender ao poder por intermédio do partido. Bacharel que
fez da política vocação”. Os cursos de Direito se tornaram então a porta de mais fácil
acesso à política, o que distanciou os juristas do meio social, uma vez que se
formavam verdadeiros burocratas.
Nesse sentido, a união com o povo, porém, não representou um socorro aos
seus anseios, e sim uma oportunidade aos magistrados em se ocuparem com suas
próprias vontades em consonância com as da elite da qual faziam parte.
A democratização do país, com a promulgação da Constituição de 1988
trouxe uma valorização do Poder Judiciário brasileiro, que passou a ser agente ativo
no enfrentamento de diversas questões sociais. Obra relevante à época, “Acesso à
Justiça” de Mauro Capelleti (1998) exerceu grande influência aos juristas naquele
cenário, tratando da necessidade de igualdade efetiva dentro da justiça e suas
instituições.
Mesmo com tantas mudanças e com uma clara maior inclinação dos cursos
de Direito, hoje, à formação prática e aproximação de causas sociais, se analisado o
perfil dos juízes brasileiros, ainda é encontrado um perfil de homem branco, 47 anos,
casado e católico, vide dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Há um contraste maior quando se analisa o perfil étnico-racial:
Walber Siqueira Vieira, ao iniciar seu artigo “Os poderes instrutórios do juiz e
a difícil tarefa de julgar”, utiliza uma citação de Jean Cruet, in verbis: “O juiz na
realidade, é a alma do processo jurídico, o artífice laborioso do direito novo contra as
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como cidadãos com iguais direitos e deveres, dando privilégios a membros do poder
político; o refúgio burocrático, que define como:
3.2 PODERES
A divisão quanto aos tipos de poderes exercidos pelo juiz é objeto de uma
discussão doutrinária diversificada, não havendo uma uniformidade quanto à sua
classificação. Desse modo, o presente estudo irá apresentar brevemente alguns
deles.
O Código de Processo Civil brasileiro traz em seu Livro I, Título IV o Capítulo I
intitulado “Dos poderes, dos deveres e das responsabilidades do Juiz”. No exercício
de sua função o magistrado goza de poderes processuais, os quais não devem ser
considerados como privilégios a este, mas sim benefícios à ação da justiça e da lei.
Neste sentido, conforme KIM e AMENT (2013, p.47), os poderes jurisdicionais
podem ser classificados em poderes-meio e poderes-fim:
Pois, o magistrado não possui apenas o poder da decisão, mas também de conduzi-
la segundo a ordem legal, garantindo aos jurisdicionados os seus direitos
processuais em amplitude.
O magistrado atua no processo como um julgador participante exercendo,
além do poder instrutório, o controle e a fiscalização do processo. A título de
exemplo do poder de direção, pode-se mencionar o art. 139 do CPC em seus incisos
II e III, os quais atribuem ao juiz, a possibilidade de gestão do processo, buscando
uma duração razoável do mesmo e reprimindo atos atentatórios à dignidade da
justiça.
Cabe notar orientação em mesmo sentido no art. 5º da Lei 9.099 de 95, que
regula os Juizados Especiais no plano Estadual, e que dispõe que “o Juiz dirigirá o
processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para
apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica”.
Por outro lado, embora contenha uma maior posição frente à gestão
processual, o magistrado não deve se afastar dos princípios que norteiam o devido
processo legal e se desvincular das regras estabelecidas pela lei.
Além disso, o juiz possui o poder instrutório, o qual pode ser compreendido
como o ato do julgador participante, que conduz o processo na busca de sua
efetividade, buscando trazer aos autos as provas suficientes para o seu
convencimento de modo que seja tomada uma decisão.
Essa iniciativa probatória está prevista no art. 370 do Código de Processo
Civil Brasileiro, dispondo que caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,
determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito. Veja-se entendimento
jurisprudencial sobre o tema:
completa e conclusiva, uma vez que aquela constante dos autos fora
confeccionada unilateralmente pela concessionária, e sem
observância da Resolução nº 414/1010, editada pela ANEEL.
RECURSO PREJUDICADO. SENTENÇA CAÇADA DE OFÍCIO. (TJ-
GO – Apelação (CPC): 0205917-76.2017.8.09.0011, Relator: Norival
Santomé, Data de julgamento: 19/07/2019, 6ª Câmara Cível, Data de
publicação: 19/07/2019). Grifo nosso.
3.3 LIMITES
A teoria realista da decisão judicial busca tanto prever decisões futuras, como
tentar explicar decisões passadas já tomadas. Consolidada pelos norte-americanos,
tal teoria é vista como um movimento de críticas ao formalismo burocrático do
ensino, atuação jurídica, bem como da política ante aos acontecimentos
acadêmicos, políticos e sociais dos anos de 1920 a 1930.
Desse modo, para entender como as decisões são formadas, se fez
necessário buscar o conceito de Direito, se produto da atuação dos seus operadores
ou se a previsão dos tribunais, dentre outras diversas disputas interpretativas e,
além disso, a interdisciplinaridade com a psicologia e outras ciências humanas.
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Por outro lado, como bem pontua Zaffaroni (1995, p. 92) “é insustentável
pretender que um juiz não seja cidadão, que não participe de certa ordem de ideias,
que não tenha uma compreensão do mundo, uma visão da realidade”. Porém, ainda
que magistrados possuam ideologias e valores diferentes, é necessária a
integridade de julgamento que exige a observância e o cumprimento da coerência,
tal qual ela deve ser compreendida, com respeito ao passado e aos precedentes, e
não como uma pluralidade de decisões distintas (DWORKIN, 2007, p.203).
Neste sentido, a motivação deve estar em acordo com a profundidade
demandada em razão da complexidade da matéria auferida, sendo completa, clara e
coerente de modo a assegurar o caráter democrático da atividade jurisdicional. Os
argumentos falam por si e, se de conteúdo racional e se logicamente apresentados,
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Julgar e proferir uma decisão sobre o caso que lhe foi confiado é atribuição
principal do juiz, não podendo este se eximir de tal responsabilidade. No entanto, é
sabido que o Direito está em constante evolução, tratando-se de uma ciência
dinâmica, e por isso alguns juristas entendem que ele é incompleto e a maioria dos
doutrinadores brasileiros aborda a problemática das lacunas do nosso ordenamento
jurídico. Já para autores como Ronald Dworkin e Karl Larenz o ordenamento seria
“dinamicamente, completável, através de uma auto-referência ao próprio sistema
jurídico” (STRECK, 1999, p. 85).
Para Cappelletti, então, o juiz, a priori, é sim criador do Direito, uma vez que
faz escolhas de aplicação das fontes deste ao julgar um caso, se tornando
importante personagem dentro do processo. No entanto, não cabe a ele criar
decisões sem fundamentação, sem base legal, haja vista a obrigação da motivação
em qualquer decisão judicial no Direito Brasileiro, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, seguindo as regras do supracitado artigo 489, parágrafo 1º do Código de
Processo Civil e do artigo 93, IX, da Constituição Federal.
Então, cabe ao juiz (ao órgão julgador), a interpretação da norma e extração,
a partir desta, daquelas aplicáveis ao caso concreto em questão, havendo, por
óbvio, certo grau de liberdade, desde que sempre coerente e justificado.
Ubaldino Vieira Leite Filho é juiz aposentado que fez história no município de
Carinhanha-BA. Isso porque, durante a sua atuação como magistrado da cidade, no
período de 1987 a 1989 e 1993, praticou atos em desconformidade com a lei. Diante
disso, seus colegas redigiram um ofício ao desembargador do estado da Bahia,
solicitando o impedimento do retorno do juiz à comarca.
Desse modo, o presente capítulo aborda uma análise de algumas de suas
decisões judiciais na comarca de Carinhanha-BA que fogem à atuação do
magistrado que é estabelecida legalmente e já aqui discutida.
Uma matéria de jornal do ano de 1993 que trata sobre a sua aposentadoria
provisória, vide figura 1, apresentou um pouco da história do magistrado e seus
abusos de poder, como uma ameaça de morte sofrida por um advogado pelo fato de
este ter apelado de uma sentença proferida por Ubaldino.
No ano de 1988, o referido juiz chegou ao ponto de se autodeclarar
empossado prefeito de Carinhanha, aproveitando um período em que o então
prefeito, Luiz Pinto Meneses, se encontrava ausente, por problemas de saúde em
Salvador. Além disso, conforme a matéria, fora acusado por agressões, improbidade
e tortura.
Como já abordado no presente estudo, o bacharelismo rendeu a ideia de
cidadania plena à elite que utiliza a educação não como instrumento de mudança
social, mas como método de controle e de prestígio social. Neste sentido, observa-
se que a atuação desse magistrado é reflexo de uma defesa dos privilégios
herdados de hierarquias sociais criadas na época colonial.
Outrossim, com a discussão quanto ao modo de decidir do juiz, é possível
observar com a análise a seguir que o magistrado se distancia do objetivo da busca
pela finalidade da justiça. Por outro lado, suas decisões correm de acordo com a sua
vontade, utilizando o cargo que detém para abusar do poder investido, distanciando-
se dos seus limites de atuação.
Apesar de ser um protagonista da lei, este juiz é exemplo claro da figura do
anti-heroi aqui retratado, pelos seus atos moralmente questionáveis e por não ter
mensurado suas ações para “combater o mal”, aproximando-se mais a sua figura
para o de vilão da história.
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Na sentença do processo crime de nº 840/92 (figura 3), em que foi réu Valdeci
Magalhães Lima, a fundamentação é feita da seguinte forma, in verbis: “Assim
sendo, face o referido artigo de lei, somando-se a pena mínima de seis anos com a
pena máxima de 20 (vinte anos) fixo de acordo com a lei a pena base em treze
anos”, citando depois agravantes e causas de diminuição da pena, fixando pena
definitiva em 7 (sete) anos e 8 (oito) meses.
Sendo assim, o juiz em questão, ao fazer a dosimetria da pena, tirou uma
média das penas mínima e máxima cominadas à época ao crime de homicídio
privilegiado, o que vai contra a legislação, que define uma ordem a ser seguida para
o cálculo da pena aplicada, baseada em um sistema trifásico.
Conforme o artigo 68 do Código Penal: “A pena-base será fixada atendendo-
se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as
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Ademais, em caso ainda mais grave, no processo 547/86, em que foi réu
Francisco Alves do Nascimento, Ubaldino manifesta-se favorável à prisão
preventiva, em uma peça pouco fundamentada e citando de forma genérica os
elementos que comprovariam os requisitos para a prisão, sendo estes o fato de que
o réu “manifestou explícita vontade de evadir-se do distrito da culpa” e “não possui
ocupação definida”.
Todos estes requisitos aqui citados devem constar da peça que decreta a
prisão cautelar, no caso em tela, a preventiva, o que, como observamos, não ocorre,
uma vez que o juiz somente se manifesta favoravelmente, sem citar os dispositivos
legais e motivos que o levaram ao convencimento acerca da decretação da medida.
Diante disso, o magistrado chegou a ser criticado por colegas que assumiram
o cargo posteriormente, que a exemplo das figuras 7 e 8, deixaram registrado em
autos a insatisfação com as irregularidades haja vista que a carência de técnica do
juiz em seus atos incorreu em prejuízo no andamento de lides.
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Figura 7: Juíza de Direito expressa descontentamento com os atos judiciais do magistrado anterior.
Figura 8: Juíza de Direito expressa descontentamento com os atos judiciais do magistrado anterior.
Fonte: Própria, 2019.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
jurídica de um processo efetivo e justo perante aos poderes que a própria lei
concede aos juízes.
Além disso, o presente trabalho trouxe apenas um caso que poderia ser
melhor elucidado quando em comparação a outros, uma vez que não significa que
esse comportamento e falta de técnica seja latente na maioria dos juristas em
questão.
A pesquisa quanto a decisão judicial é muito interessante, todavia os exames
de análises judiciais de magistrados em diferentes comarcas são pouco encontrados
em trabalhos doutrinários, monografias e artigos científicos sob o argumento de que
“cada caso é um caso”. Esse é um objeto de estudo o qual poderia ser mais
incentivado, até mesmo pelas academias de Direito.
A partir da observância e de análises de casos como esse, é possível que a
formação de magistrados seja mais cuidadosa no Brasil, pois, a figura do juiz precisa
ser desprendida das amarras da herança colonial do bacharelismo e atender com
eficácia à democracia brasileira.
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REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Abril, 2010.
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 10 ed. rev. ampl. e
atual – Salvador: JusPODIVM, 2016.
DWORKIN, Ronald. O império do direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2007. Título original: Law’s empire.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São Paulo:
Atlas, 1994. 207 p.
https://www.passeidireto.com/arquivo/22109609/herbert-lionel-adolphus-hart-o-
conceito-de-direito-3-edicao. Acesso em: 01 nov 2020.
HOLANDA, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil. – 26 ed. – São Paulo: Companhia
das letras, 1995.
LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal comentado. 4. Ed. rev.
ampl. e atual. – Salvador: Juspodivm, 2019.
VIANNA, Luiiz Werneck; CARVALHO, Maria Alice Rezende de; BURGOS, Marcelo
Baumann. Quem somos – A magistratura que queremos. 2018. AMB –
Associação dos Magistrados Brasileiros. Disponível em
https://www.migalhas.com.br/arquivos/2019/2/art20190211-04.pdf. Acesso em 29
nov 2020.