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MISSÕES
PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO.
CÂMPUS DE SANTO ÂNGELO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
SANTO ÂNGELO – RS
2022
FRANCIELE PADILHA DA SILVA
SANTO ÂNGELO – RS
2022
FRANCIELE PADILHA DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Prof. Nome do Orientador
Instituição a que pertence
_____________________________
Prof. Nome do professor avaliador
Instituição a que pertence
_____________________________
Prof. Nome do professor avaliador
Instituição a que pertence
Dedico este trabalho a minha avó materna
Nina Rosa Rodrigues Padilha (in
memorian), esta que sempre me deu
forças e coragem para enfrentar os
desafios da vida e jamais desistir de
alcançar meus sonhos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter permitido que tivesse saúde e disposição para percorrer esse
caminho e superar os obstáculos durante a realização deste trabalho.
Ao meu professor orientador Adalberto Narciso Hommerding, pelas correções e
orientações durante esse trabalho e por acreditar em minha capacidade.
Aos meus familiares, minha mãe Rosangela de Fatima Padilha por toda sua garra,
esforço e determinação durante essa minha caminhada e por não me deixar desistir,
ao meu tio Francisco Vinicius Padilha pela disposição de sempre deslocar-se de
nossa residência para que eu pudesse comparecer às aulas. À minha avó Nina
Rosa Rodrigues Padilha (in memorian) pelo exemplo de mulher que transpareceu ao
longo de sua vida e por sempre estar torcendo por minhas conquistas.
Aos meus amigos (as) Bárbara Sommer Bratz, Débora Cristina da Silveira, Giovana
Aranalde de Carvalho, Lorenzo da Silveira Camera, Micheli Daiane Hepp e Paloma
Pedroso, pela companhia e ajuda durante essa jornada, que contribuiu ao fortalecer
nossa amizade.
RESUMO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 Aspectos importantes destacados da obra O Leviatã ........................................ 9
2.1 Do Homem ........................................................................................................... 9
2.2 Do Estado de Natureza ..................................................................................... 11
2.3 Do Contrato Social ............................................................................................ 14
3 Considerações de Estado numa visão geral ..................................................... 16
3.1 Estado: a definição e suas causas .................................................................. 16
3.2 Do Estado por Instituição e o Estado por uma visão Social ......................... 19
3.3 Do Estado Cristão para Hobbes ....................................................................... 22
4 Visões críticas de autores sobre Thomas Hobbes e o Leviatã ........................ 24
4.1 Thomas Hobbes numa perspectiva crítica de Benjamin Wiker ..................... 24
4.2 Hobbes, Rousseau, Platão e Aristóteles ......................................................... 26
4.3 Hobbes e o Estado Moderno atual ................................................................... 30
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 32
REFERÊNCIAS.............................................................................................................
7
1 INTRODUÇÃO
2.1 Do Homem
Hobbes divide sua obra em duas partes: a primeira nos remete às ideias
intituladas “DO HOMEM”, que nos trata das perspectivas humanas voltadas para
uma área filosófica, explicando as sensações e as exemplificando-as. As primeiras
noções do ser humano na vida em sociedade são aqui discutidas. Thomas Hobbes
diz que a guerra de todos contra todos seria o início do debate sobre o contrato
social, tema essencial para que possamos entender a concepção de Estado que o
autor defende em sua obra.
No que diz respeito aos pensamentos do homem, haver-se-á de considerá-los
primeiro de uma forma isolada e depois em uma forma geral, em cadeias, ou
dependentes uns dos outros. Com isso, da maneira isolada, cada um representa ou
aparenta alguma qualidade do qual o objeto atua nos olhos, nos ouvidos, e em
10
outras partes do corpo do homem. E pela forma mais diversa é a que atua por uma
aparência diversa e ampla. (HOBBES, 2002, p. 10).
A origem de todos esses pensamentos derivaria do que chamamos de
sensação. Para Hobes, a causa dessa sensação é o corpo exterior, ou objeto, que
acaba pressionando o órgão, ou de forma imediata, como no gosto ou tato, ou de
forma imediata vista no cheiro e ouvido, pela mediação de nervos do qual as
membranas do nosso corpo prolongam em direção ao cérebro e coração. (HOBBES,
2002, p. 11).
Hobbes ainda, a sensação de tal modo que em todos os casos, nada mais é
do que uma ilusão originária, causada pela pressão, isto é, pelos movimentos
exteriores de tudo conforme nossos olhos, ouvidos e outros órgãos que reagem a
isso. (2002, p.11).
Além das sensações, temos que observar a razão e a ciência que Hobbes
demonstra na sua obra. Quando alguém raciocina, faz conceber uma soma total, de
adição de parcelas, ou um resto a partir da subtração de uma soma por outra. Além
de adicionar e subtrair, os homens ainda multiplicar e subtrair, mas é as mesmas
que as outras operações, pois a multiplicação nada mais é do que a adição conjunta
de outras coisas iguais, e a divisão a subtração, de uma coisa tantas vezes quantas
forem possíveis. (HOBBES, 2002, p. 20).
Segundo Thomas Hobbes,
Hobbes, assim, definiu que o sentido real da razão não é descobrir sua soma,
mas sim começar e seguir através de uma consequência para outra. Como explica
Hobbes, “Há duas espécies de conhecimento: um dos quais é o conhecimento dos
fatos, e o outro o conhecimento das consequências de uma afirmação para outra. ”
(2002, p. 33).
11
Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem
sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se
encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é
de todos os homens contra todos os homens. Pois a guerra não consiste
apenas na batalha, ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante
o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida. Portanto, a
noção de tempo deve ser levada em conta quanto à natureza da guerra, do
mesmo modo que quanto à natureza do clima. Porque tal como a natureza
do mau tempo não consiste em dois ou três chuviscos, mas numa tendência
para chover que dura vários dias seguidos, assim também a natureza da
guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal,
durante todo o tempo em que não há garantia do contrário. Todo o tempo
restante é de paz. (HOBBES, 2002, p.46).
é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo neste caso cada
um governado por sua própria razão, e não havendo nada, de que possa
lançar mão, que não possa servir-lhe de ajuda para a preservação de sua
vida contra seus inimigos, segue-se daqui que numa tal condição todo
homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros.
Portanto, enquanto perdurar este direito de cada homem a todas as coisas,
não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que seja) a
segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos
homens viver. Consequentemente é um preceito ou regra geral da razão,
que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha
esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas
as ajudas e vantagens da guerra. (2002, p. 48).
essa a lei do Evangelho. Ou seja, “faz aos outros o que queres que te façam a ti. E
esta é a lei de todos os homens”. (HOBBES, 2002, p. 48).
A ideia de lei aos homens para Hobbes é cada um cumprir seu papel na
sociedade, cumprindo com o que pactua e determina apenas do que é seu por
direito.
Porém, num Estado civil, onde foi estabelecido um poder de coagir aqueles
que de alguma maneira violavam sua fé, esse temor deixa de ser razoável. Obriga-
se, assim, o primeiro a cumprir e fazer o prometido. É ainda, impossível realizar um
pacto com os animais, pois eles não compreendem nossa linguagem, e, diante
disso, não podem aceitar qualquer transferência de direito que beneficie a si próprio
ou a outrem. Sem aceitação mútua, não há pacto possível. (HOBBES, 2002, p. 49).
Da mesma forma é impossível fazer pacto com Deus, a não ser por medição
daqueles a quem Deus se comunicou, por uma revelação sobrenatural. Porque não
sabemos se os nossos pactos foram aceitos ou não. A libertação do pacto dá-se de
duas maneiras: ou se cumpre ou se perdoa. O cumprimento do pacto é o fim natural
da obrigação, e o perdão é a restituição de sua liberdade. (HOBBES, 2002, p. 49).
Um novo pacto anula o anterior. Porque se um homem fez a transferência do
seu direito hoje a outro não pode transmiti-lo amanhã a um terceiro envolvido.
Portanto, a promessa posterior não faz transmissão de direito nenhum, pois é nula.
(HOBBES, 2002, p. 50).
Da lei de natureza que somos obrigados a transferir aos outros que, ao serem
conservados, impedem a paz da humanidade, ainda tem uma terceira: da qual os
homens cumpram os pactos que celebrarem. Sem a lei os pactos seriam vãos e
palavras vazias, permanecemos na condição de guerra. (HOBBES, 202, p. 51).
Não pode tratar-se, porém, apenas de promessas mútuas quando um dos
lados não possui uma garantia do cumprimento, como quando não existe um poder
civil estabelecido acima dos envolvidos nas promessas, pois elas não são pactos.
(HOBBES, 2002, p. 53).
Nesse sentido devemos observar o que seriam as palavras justo e injusto,
quando atribuídas aos homens tem um significado, e quando são para as ações é
outra forma de ser. Quando atribuídas aos homens seriam, no entanto, a
conformidade ou a incompatibilidade dos costumes com a razão. Quando são
atribuídas as ações indicam a incompatibilidade de costumes com a razão, não
sendo de costumes e sim de ações já determinadas. (HOBBES, 2002, p. 53).
Diante dos fatos, percebe-se que promessas realizadas entre pessoas devem
ser cumpridas por ambas, para que assim, seja efetivo o pacto que celebrarem.
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de suas vidas, que eles fossem governados ou comandados por um critério único,
igual em guerras e ou batalhas. (HOBBES, 2002, p. 59).
Hobbes faz uma comparação entre os homens e algumas criaturas vivas, tais
como abelhas e as formigas, que vivem socialmente umas com as outras, sem outra
direção além de seus juízos, sem linguagem que possam indicar umas às outras o
que seria adequado e benéfico para todos. Dessa afirmação, ele diz por que a
humanidade não pode fazer o mesmo, elencando alguns pontos. (HOBBES, 2002, p.
60).
Os homens estão sempre envolvidos numa competição pela honra e pela
dignidade, algo que não ocorre com essas criaturas. Surge dessa forma a inveja e o
ódio, e finalmente a guerra, que não acontece com tais criaturas. Segundo, entre
essas criaturas não há diferenciação entre o bem comum e o bem individual e, por
natureza possuem tendência para o bem individual, acabam promovendo o bem
comum. Já os homens encontram sua felicidade comparando os outros consigo
mesmos. (HOBBES, 2002, p. 60).
Outro ponto é que, ao contrário do homem que possui razão, elas não
enxergam e nem julgam qualquer erro na administração de sua existência comum.
Diferente dos homens que julgam ser mais sábios e capacitados que outros para o
exercício do poder comum, de que resultam num país de desordem e guerra civil.
Outro ponto, seria que essas criaturas carecem da arte das palavras que alguns
homens são capazes de apresentar aos outros, o que é bom sob a aparência do
mal, e o que é mal sob a aparência do bem, semeando discórdia entre os homens
que perturbam o seu prazer e paz que outros vivem. (HOBBES, 2002, p. 60).
As criaturas irracionais não são capazes de diferenciar injúria e danos.
Bastam que estejam satisfeitas para que nunca se ofendam com seus iguais. O
homem, porém, quanto mais satisfeito está, mais implicante será. Querem exibir sua
sabedoria para controlar as ações dos que governam o Estado. Por último, mas não
menos importante, o acordo que existe entre essas criaturas é de forma natural, ao
ver que o dos homens surge por meio de um pacto, ou seja, artificialmente. Ou seja,
um poder para todos que possa manter um respeito e que suas ações dirijam-se
para o benefício comum. (HOBBES, 2002, p. 60).
Para que haja um poder comum a todos, que possua capacidade de defender
das invasões e das injúrias uns dos outros, garantindo a segurança suficiente, é
preciso depositar todo o seu poder a um homem ou a uma assembleia de homens,
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uma delas é a sarça natural, como quando um homem obriga seus filhos a
submeterem-se, e a submeterem seus próprios filhos, a sua autoridade, na
medida em que é capaz de destruí-los em caso de recusa. [...] a outra é
quando os homens concordam entre si em submeterem-se a um homem, ou
a uma assembleia de homens, voluntariamente, com a esperança de serem
protegidos por ele contra todos os outros. Este último pode ser chamado um
Estado Político, ou um Estado por instituição. (2002, p. 61).
Aquelas leis que os homens são obrigados a respeitar, não por serem
membros deste ou daquele Estado em particular, mas por serem membros
de um Estado. Porque o conhecimento das leis particulares é da
competência dos que estudam as leis de seus diversos países, mas o
conhecimento da lei civil é de caráter geral e compete a todos os
homens.[...] considerado isto, defino a lei civil da seguinte maneira: A lei civil
é, para todo súdito, constituída por aquelas regras que o Estado lhe impõe,
oralmente ou por escrito, ou por outro sinal suficiente de sua vontade, para
usar como critério de distinção entre o bem e o mal; isto é, do que é
contrário ou não é contrário à regra.(HOBBES, 2002, p. 87).
Com essa definição, Hobbes ainda afirma que todas as leis, sejam elas
escritas ou não, têm uma necessidade de interpretação. As leis de natureza não são
escritas; elas são fáceis para aqueles que sem uma paixão fazem uso de sua razão
natural, portanto, deixam de lado sem desculpas os seus violadores, não havendo
muitos que deixam seus amores cegarem, pois, sendo o amor, de todas as leis, a
mais obscura, tendo uma maior necessidade de intérpretes capazes. (HOBBES,
2002, p. 93).
As leis escritas, por outro lado, se forem sintetizadas podem ser facilmente
mal interpretadas, em razão da diversidade de significações que uma ou duas
palavras. Se forem palavras mais longas, ainda serão mais obscuras, e, por serem
diversos os significados, torna-se de muitas palavras. Num Estado, a interpretação
das leis da natureza não depende dos livros da filosofia moral. Essa moral é uma
sentença do juiz que foi constituído pela autoridade soberana, para ouvir e também
determinar controvérsias que dela precisam e consiste na aplicação da lei ao caso
em debate. (HOBBES, 2002, p. 94).
Com relação às leis positivas divinas, estas são as que sendo os
mandamentos de Deus, são declaradas assim por aqueles a quem Deus permitiu a
assim declará-las. Em todo Estado, a sua lei fundamental é aquela da qual, se for
eliminada, o Estado será destruído e dissolvido. Por isso é essencial que os súditos
na sua parte sustentem qualquer seja o poder conferido ao soberano. (HOBBES,
2002, p. 98).
Parte-se, agora, para a posição de Hobbes sobre o Estado Cristão numa
visão hobbesiana, evidenciando os principais pontos na obra “O Leviatã”.
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Até então Hobbes falou sobre poder soberano e os deveres dos súditos com
base única nos princípios da natureza. Para dar continuidade aos entendimentos de
Estado, deve-se observar o que o filósofo entende sobre Estado Cristão.
Para um Estado cristão, os direitos essenciais desse governo possuem
dependência das revelações sobrenaturais da vontade de Deus, não sendo apenas
um discurso sobre a palavra natural de Deus, mas ideias a partir de sua palavra
profética. (HOBBES, 2002, p. 123).
Hobbes entende que os livros das Sagradas Escrituras são as regras da vida
cristã. Essas regras de vida são as que os homens são obrigados a respeitar, e,
portanto, são leis. O problema dessas Escrituras é saber o que seria lei para a
cristandade, sejam elas naturais ou civis. O soberano de todos os soberanos é
Deus, devendo todos obedecer. O problema é saber quando e o que Deus disse,
sendo que pode ser reconhecido apenas pelos próprios súditos que receberam as
revelações. (2002, p. 125).
Algo que muito se discute é aonde às Escrituras têm autoridade e se elas são
mesmo palavras de Deus. Conforme não se diferencie das leis de natureza, não há
dúvidas de que são leis de Deus, portadoras de autoridades legíveis por todos os
seres que praticam da razão natural. Se são feitas leis pelo próprio Deus, são de
natureza de lei escrita, aquelas que foram diante de Deus suficientes para
publicação, de forma com que ninguém possa dizer que não são suas leis.
(HOBBES, 2002, p. 129).
Em síntese, o Reino de Deus é um reino civil, e, para que o homem seja
aceito no reino dos céus, são necessárias algumas atitudes. Um grande dilema do
qual os Estados Cristãos enfrentaram por muito tempo é de obedecer ao mesmo
tempo às ordens de Deus e aos homens que se contradizem. Quando alguém
recebe mais de uma ordem, e uma delas é de Deus, tem-se que obedecer à ordem
divina e não à outra, mesmo que ela seja ditada diretamente pelo soberano.
(HOBBES, 2002, p. 190).
Ocorre que muitas vezes os homens não sabem quando a ordem vem
diretamente de Deus ou se são falsos profetas que utilizam a palavra sagrada para
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tirar proveito para si. Essa dificuldade, porém, em obedecer ao mesmo tempo Deus
e ao soberano civil na terra não possui grande relevância para quem souber
diferenciar o que é necessário do que não é necessário para que entre no Reino de
Deus. Para Hobbes, se a ordem do soberano civil for obedecida sem a perda de
uma vida eterna, seria injusto não lhe obedecer. (HOBBES, 2002, p. 191).
Se a ordem, contudo, for uma que não pode ser obedecida sem que ocorra
uma condenação à morte eterna, seria loucura oferecer um lugar no Conselho do
Salvador. Tudo o que é necessário para que ocorra salvação está em duas virtudes,
a fé em Cristo e a obediência às leis, sendo esta última suficiente para o homem.
(HOBBES, 2002, p. 191).
As leis de Deus, em suma, nada mais são do que as leis da natureza, com
enfoque principal da não violação da nossa fé uma ordem para obedecer aos
soberanos civis, que constituímos acima de nós por meio de um pacto mútuo. E
essa lei de Deus ordena a obediência da lei civil que consequentemente ordena nós
súditos. (HOBBES, 2002, p. 191).
Hobbes acredita que as razões pelas quais os homens depositam suas
confianças em qualquer doutrina cristã são de formas diversas, uma vez que a fé
deriva de um dom de Deus, e Ele produziu outros homens para que pudesse lhe
usar e aprovar. (HOBBES, 2002 p. 193).
De forma final da parte três do livro O Leviatã, Thomas Hobbes evitou dar seu
ponto de vista pessoal, tentando decifrar as consequências que deduziu sobre os
principais pontos de uma política cristã, baseadas nas Escrituras Sagradas, e
confirmar um poder baseado no soberano, governando civilmente e tendo o dever
de seus súditos.
Diante de tais informações, Hobbes consegue distinguir alguns pontos
principais sobre a questão de Estado e como a religião é presente nas relações com
o homem. Verifica-se a seguir, como outros doutrinadores e filósofos opinam sobre
questões de Estado e as relações de contrato, tendo como base ideais de Thomas
Hobbes.
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Hobbes acredita que o homem tem direito a tudo. Essa ideia encontrará
ferrenha crítica em Benjamin Wiker. Para Wiker, o pai da convicção de que temos o
direito de ser e ter o que queremos, não importando o quão imoral isso seja, sendo
uma obrigação do governo proteger esses direitos, é Thomas Hobbes. (WIKER,
2015, p. 35).
Wiker acredita que nos tornamos tão hobbesianos que nem percebemos as
convicções que possuímos e que são chocantes. O que Hobbes realmente disse
torna-se, então, duas vezes mais chocante, pois os ideais dele pôde colocar isso no
papel, em especial no “Leviatã”. (2015, p. 35).
Wiker faz comparativos de situações hipotéticas que na atualidade podem ser
consideradas um absurdo, mas que, para Hobbes, em 1651, quando escreveu O
Leviatã, não eram tão impactantes. Benjamin Wiker inicia sua crítica nos fazendo
refletir sobre acordarmos sem nenhuma consciência ou discernimento do certo e
errado, bem e mal, luz ou escuridão. (2015, p. 36). Essa falta de consciência seria o
homem natural que Hobbes afirma no Leviatã, ou seja, o Estado de Natureza.
Se ninguém perceber que é culpado e podemos, por um breve momento,
bloquear os nossos pensamentos sobre alguma retribuição divina, pode sim ser algo
convidativo ou libertador e excitante. Porém, você percebe o erro quando o jornaleiro
quebra sua janela com ajuda policial, mas apenas você está consciente do quão
errado tudo está. (WIKER, 2015, p. 36).
Você perceberá que ao contrário do que pensa, não está sendo liberado para
fazer o que deseja, realizar os segredos e vontades mais secretos que existe, mas,
está afundando nos comportamentos Hobbesianos, na famosa guerra de todos
contra todos, não existindo medo ou perigo, sua vida depende apenas de você,
sozinha, pobre, bruta e sem sentimento de culpa. (WIKER, 2015, p. 37).
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Nas situações hipotéticas que Wiker elabora, percebemos que estamos num
“estado natural”. Hobbes, porém, achava que o pior estado que o ser humano pode
chegar é onde começa a estudá-la, pois sua grande novidade ou uma delas foi de
assumir os seres humanos nos seus piores estados de espíritos. Hobbes escreveu
Leviatã num momento que presenciou a selvageria dos homens na Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648) e durante as guerras civis da Inglaterra. Hobbes concluiu
que a guerra é algo natural e a paz seria a exceção, que o Jardim do Éden é apenas
um sonho triste. (WIKER, 2015, p. 37/38).
Os críticos de Hobbes, logo após a publicação de Leviatã, disseram que o
estado natural era uma invenção. Ora, se na época já se presume assim, por que
até hoje continua sendo visto dessa forma e debatido? Wiker afirma que é uma
invenção duradoura, tornando- se um mito do qual nós vivemos. Pode-se dizer que o
Leviatã é a Bíblia e o estado natural de Hobbes, o Jardim do Éden. (WIKER, 2015,
p. 38).
Sobretudo, Hobbes estabelece padrões de direito por uma simples definição,
ou seja, declarando como se todos já os conheciam. Wiker diz que a argumentação
de Hobbes é obscura e se desenvolve com algumas declarações, tais como,
Com isso, Hobbes quando nos remete ao estado de guerra, não nos deixa
nele desamparados, oferecendo-nos uma saída que estragou a compreensão que
tínhamos da sociedade, pois tornou essencial a prática e a teoria de uma política
progressista. Wiker afirma que Hobbes nos vê como antissociais que vivem em
sociedade apenas para tentar fugir dos perigos que o estado natural nos dá.
(WIKER, 2015, p. 41).
Os perigos que acarretam o estado natural num estado de guerra são vistos
quando cada indivíduo, segundo Hobbes, pensa que tem direito a tudo e qualquer
coisa que almeja. Wiker afirma que toda essa visão de sociedade é como um objeto
alienado a nossa natureza, na visão hobbesiano a sociedade não é boa e nem má,
apenas nas melhores hipóteses, um contrato artificial entre os homens para evitar
uma vida solitária, brutal e pobre, no seu estado natural. (WIKER, 2015, p. 41).
26
Para Wiker, a justiça que Hobbes acredita é entendida como uma inversão da
regra de ouro: deixa que façam tudo o que possam fazer e o que quiserem.
Benjamin diz que hobbesiano é interessante para quem gosta de pensamentos
macabros, acaba tornando-se uma profecia que você se auto realiza. Talvez seja
por isso que o sentimento de déjà vu quando vislumbramos os pensamentos de
Thomas Hobbes no Leviatã. (WIKER, 2015, p. 42).
Em razão desses pensamentos que Hobbes nos traz de os seres serem todos
maus, é que Benjamin Wiker o critica. Hobbesianos acreditam em situações
hipotéticas que para eles é real e serve para justificar tudo o que deseja e tudo o que
faz para alcançar, pensamentos dos quais na atualidade são apenas mitos.
da organização de uma sociedade baseada na razão social, mesmo que com bases
fictícias. (PLATÃO, p. 58).
A Política, livro do qual Aristóteles expressa suas opiniões sobre a
organização da política estatal e define o estado como uma sociedade política. Essa
sociedade seria a chamada LOCUS, com intuitos finalísticos de prover para a
sociedade os bens necessários e suficientes para suprir as necessidades
consideradas básicas de sobrevivência. (ARISTÓTELES, p. 58).
Diferentemente do que Hobbes nos remete, na base doutrinária de Aristóteles
ele fala sobre três hipóteses fundamentais: a primeira que o homem é um ser
racional; em segundo plano que o homem é um ser político e em terceiro uma
espécie de junção das duas primeiras, sendo o homem um natural racional e
político, acrescentando e definindo a organização social, vivendo assim, numa
sociedade ética e justa. (ARISTÓTELES, p. 58).
Ideia do qual Aristóteles remete no início de sua obra, dizendo:
O homem seria um ser racional por ter seu lado sentimental do bem e do mal,
de conhecer e desenvolver, bem como de diferenciar o útil do perigoso ou nocivo. O
ponto de maior diferencial do ser humano seria sua racionalidade, visto que sua vida
seria de acordo com a razão existente na vida humana. (ARISTÓTELES, p. 59).
O estado ideal para Aristóteles, teria uma certa condição dos próprios
cidadãos existentes na sociedade, sendo considerado os bons como aqueles que
cumprem com os deveres e seriam governantes. Porém, dessa forma teria a
dependência de qual estado seria incorporado, como o governante usaria sua forma
de poder em benefício da sociedade, em razão de a população ser a principal
afetada quando não exercida ações benéficas. (ARISTÓTELES, p. 59).
Em conjunto com Hobbes e Rousseau, John Locke é um dos grandes
representantes do jusnaturalismo. O modelo de Locke sobre os direitos naturais é
semelhante com os de Thomas Hobbes: os dois principiam do estado de natureza,
tendo a mediação do contrato social para que ocorra passagem para o estado civil.
Contudo, existe uma diferença entre os dois filósofos sobre as questões do estado
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visto que suas visões de Estado possuem base num governo absolutista, e outros
ressaltam a importância de um estado social e racional para proporcionar o bem
para todos.
Diante do que foi dito até agora, percebemos os ideais que Hobbes
demonstrou durante sua trajetória de vida, não sendo apenas um dos criadores do
Estado Moderno, mas, opinando sobre o Contrato Social. Thomas Hobbes para
muitos foi fundamental para o vislumbre de uma sociedade governada por um
soberano, como veremos agora nesse capítulo.
O professor de filosofia Jan Naverson, a análise que Hobbes faz sobre o
Estado de Natureza acarretou em várias conclusões. Uma delas é que a
racionalidade prática, em geral, os homens tendem a buscar o melhor para a sua
vida sempre que possível, mas nos nossos pontos de vista nem sempre é a mesma
coisa, pois o melhor varia. Porém, mesmo variando, obviamente que sempre
almejamos evitar a morte. (2021, s.p.).
Outro ponto que Hobbes traz de importante é sua avaliação do homem, todos
somos iguais no sentido de vulnerabilidade. Ninguém pode pensar em superioridade
social por ser quem é. (NARVESON, 2021, s.p.).
De acordo com Narveson, Hobbes possui erros grotescos que muitos não
percebem ou deixam de analisar como deveriam. O governo que Thomas Hobbes
dizia ser impossível de se ter em consentimento geral, o significado que possui
consentimento é visto através de palavras, ora, se essas palavras não se
conectarem, o acordo para se criar um governo é praticamente impossível, ficando
assim, os homens presos num estado de natureza. (2021, s.p.)
Se Hobbes estivesse correto sobre sua visão de comando, todos os governos
que existiram, incluindo os piores como Stalin e Hitler seriam legítimos, pois, por
mais que tenham sido os piores e mais terríveis governos, seriam melhores do que o
Estado de Natureza que Hobbes pensava. (NAVERSON, 2021, s.p.).
Como um comparativo das visões até o momento, o estado moderno constitui
alguns pontos relevantes a serem destacados. Primeiro pela questão de inovar na
formação de um Parlamento e não um monarquismo com um poder que limita a
sociedade, visto que não existia uma liberdade como atualmente, os poderes eram
31
limitados com base nas questões religiosas e morais, em especial na era absolutista.
(RANIERI, p. 205).
Em seguida, como uma forma de planejamento político o Estado de Direito,
com ideias de a sociedade se sobrepor ao Estado e não ao contrário como
Antiguidade Clássica e na Idade Média. Num terceiro momento, pela ideia de perigo
do poder político e pela consciência do otimismo político, ou seja, a capacidade de o
direito dominar. (RANIERI, p. 206).
Ainda, em quarto lugar, seria afirmar que o estado de direito garantiu a
transformação nas relações existentes entre quem governa (governante) e quem é
“subordinado” (governado), passando a equilibrar as relações entre a sociedade e o
estado, tal como, tornar o súdito num soberano e vice-versa. (RANIERI, p. 206).
Nesse sentido, Ranieri destaca:
pensamentos, sendo, portanto, admirado por quem acredita num estado baseado
num contrato social.
5 CONCLUSÃO
dar um conselho, pois estaria dessa forma permitindo que receba algum conselho
que acha ser melhor.
Outro ponto do qual foi discutido é as críticas referentes aos ideais que
Thomas Hobbes pregava, diante disso, casos que considera-se um absurdo no
século atual, se porventura ocorresse à aplicação de um Estado baseado no
contrato social de Hobbes. Ocorre que algumas situações fazem com que a
sociedade creia com maior convicção de estarem corretas, aproximando do que
seria uma atitude totalmente hobbesiana.
Diferentemente do que Hobbes retrata sobre o estado de natureza, outros
filósofos conceituados apresentam visões distintas, ao dizer que o homem é
corrompido pela sociedade em que vive, além, de a conceituação de governo ser
distinta do que Hobbes acredita ser absoluta, outros defendem a liberdade e a
igualdade para os cidadãos, uma sociedade de direitos efetivos.
O surgimento de um pacto social é a maneira mais efetiva de igualdade, em
especial, no que se refere a posse de uma propriedade, não necessitando de um
contrato social para exercer a efetiva propriedade, podendo ser feito por usucapião.
Outro ponto é o homem no estado de natureza poder tudo e realizar de qualquer
meio para obter êxito, sem um controle, em contrapartida, no Estado Civil o homem
fica limitado em fazer aquilo que deseja por ser algo proibido.
Ainda, no tocante as relações existentes numa sociedade, a questão de
justiça deve ser vista como algo importante e diferente do que estabelece um estado
de natureza. As relações devem ser de forma próxima e com intenções voltadas
para o senso de justiça, acrescentando ainda que obrigações devem ser realizadas
conforme a capacidade for conveniente.
Visto os principais pontos hobbesianos, bem como, as contradições de outros
filósofos, como encerramento, vislumbram-se sobre o Estado Moderno e sua
comparação com os ideais de um contrato social baseado no poder absolutista.
Como comparativo de visões, o estado moderno possui alguns posicionamentos que
devem ser ressaltados, um deles é a questão de formar um Parlamento, diferente do
absolutismo que é um estado monarquista, poder que limita a sociedade e foca nas
questões religiosas ou culturais.
O Estado de Direito é um ponto a ser levantado, visto que eleva a questão de
Estado, diferente do que foi estudado por demais autores. A questão de um estado
de direito ter sido desenvolvido ao longo dos séculos, resultou numa transformação
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REFERÊNCIAS
WIKER, Benjamin Dez livros que estragaram o mundo – e outros cinco que não
ajudara em nada[recurso eletrônico] Benjamin Wiker; tradução de Thomaz Perroni –
Campinas, SP: Vide Editorial, 2015.
NARVESON, Jan. Quem foi Thomas Hobbes: ideias, erros e importância. Dsiponível
em: https://ideiasradicais.com.br/thomas-hobbes/ - Acesso em: 25 de novembro
de 2021
2021
MELLO, Leonel.. John Locke e o Individualismo Liberal. IN: WEFFORT, Francisco C.
[Org.]. Os clássicos da política. 13°edição. São Paulo. Ática, 2001, p. 84-109.