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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS

MISSÕES
PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO.
CÂMPUS DE SANTO ÂNGELO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FRANCIELE PADILHA DA SILVA

O HOMEM, O ESTADO E O CONTRATO SOCIAL EM THOMAS HOBBES:


OLHARES DISTINTOS SOBRE O LEVIATÃ

SANTO ÂNGELO – RS
2022
FRANCIELE PADILHA DA SILVA

O HOMEM, O ESTADO E O CONTRATO SOCIAL EM THOMAS HOBBES:


OLHARES DISTINTOS SOBRE O LEVIATÃ

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharela em
Direito, Departamento de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões – Campus de Santo
Ângelo.

Orientador: Dr. Adalberto Narciso


Hommerding

SANTO ÂNGELO – RS
2022
FRANCIELE PADILHA DA SILVA

O HOMEM, O ESTADO E O CONTRATO SOCIAL EM THOMAS HOBBES:


OLHARES DISTINTOS SOBRE O LEVIATÃ

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharela em
Direito, Departamento de Ciências
Sociais Aplicadas da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões – Campus de Santo
Ângelo.

____, ______, de_______, de ______

BANCA EXAMINADORA

_____________________________
Prof. Nome do Orientador
Instituição a que pertence

_____________________________
Prof. Nome do professor avaliador
Instituição a que pertence

_____________________________
Prof. Nome do professor avaliador
Instituição a que pertence
Dedico este trabalho a minha avó materna
Nina Rosa Rodrigues Padilha (in
memorian), esta que sempre me deu
forças e coragem para enfrentar os
desafios da vida e jamais desistir de
alcançar meus sonhos.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter permitido que tivesse saúde e disposição para percorrer esse
caminho e superar os obstáculos durante a realização deste trabalho.
Ao meu professor orientador Adalberto Narciso Hommerding, pelas correções e
orientações durante esse trabalho e por acreditar em minha capacidade.
Aos meus familiares, minha mãe Rosangela de Fatima Padilha por toda sua garra,
esforço e determinação durante essa minha caminhada e por não me deixar desistir,
ao meu tio Francisco Vinicius Padilha pela disposição de sempre deslocar-se de
nossa residência para que eu pudesse comparecer às aulas. À minha avó Nina
Rosa Rodrigues Padilha (in memorian) pelo exemplo de mulher que transpareceu ao
longo de sua vida e por sempre estar torcendo por minhas conquistas.
Aos meus amigos (as) Bárbara Sommer Bratz, Débora Cristina da Silveira, Giovana
Aranalde de Carvalho, Lorenzo da Silveira Camera, Micheli Daiane Hepp e Paloma
Pedroso, pela companhia e ajuda durante essa jornada, que contribuiu ao fortalecer
nossa amizade.
RESUMO

Com o intuito de realizar esse trabalho de conclusão do curso de Direito na


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI), campus de
Santo Ângelo/RS, tendo como objetivo analisar com maior precisão o homem, o
Contrato Social e o Estado através de uma visão direta do livro “O Leviatã”
evidenciando ainda, pontos distintos de Thomas Hobbes por outros filósofos
conceituados. Desta maneira, utilizando-se do método hipotético-dedutivo, o estudo
baseia-se no seguinte questionamento: como seria um Estado sem a presença de
um governante e qual a importância de estudar este assunto? O estudo
desenvolvido demonstra a formação de um Estado baseado nas relações
contratuais com os indivíduos da sociedade, bem como, a importância de existir um
governante no controle, afim de evitar uma competição desnecessária para o
cumprimento dos envolvidos. Todavia, verifica-se que outros doutrinadores
despertam a necessidade de existir o básico de controle sobre o governante, visto
que um controle absoluto acarreta numa sociedade injusta, deixando a importância
de um estudo aprofundado do estado democrático de direito.

Palavras-chave: Hobbes; Leviatã; contrato social; Estado; homem; governante.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 Aspectos importantes destacados da obra O Leviatã ........................................ 9
2.1 Do Homem ........................................................................................................... 9
2.2 Do Estado de Natureza ..................................................................................... 11
2.3 Do Contrato Social ............................................................................................ 14
3 Considerações de Estado numa visão geral ..................................................... 16
3.1 Estado: a definição e suas causas .................................................................. 16
3.2 Do Estado por Instituição e o Estado por uma visão Social ......................... 19
3.3 Do Estado Cristão para Hobbes ....................................................................... 22
4 Visões críticas de autores sobre Thomas Hobbes e o Leviatã ........................ 24
4.1 Thomas Hobbes numa perspectiva crítica de Benjamin Wiker ..................... 24
4.2 Hobbes, Rousseau, Platão e Aristóteles ......................................................... 26
4.3 Hobbes e o Estado Moderno atual ................................................................... 30
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 32
REFERÊNCIAS.............................................................................................................
7

1 INTRODUÇÃO

O pensador Thomas Hobbes foi um matemático, teórico político e filósofo


conhecido por escrever o livro Leviatã. Hobbes nasceu em 5 de abril de 1588, no
Estado Inglês de Westport. Sua obra mais conhecida e polêmica é “O Leviatã”, este
do qual Hobbes descreve suas ideias da natureza humana e a sua necessidade de
ter um governo e uma sociedade fortes.
Apesar de essa obra ter sido escrita em 1651, até hoje ainda é utilizada para
estudos focados nas áreas da Filosofia, Sociologia, e, no Direito. Leviatã nos remete
ao Contrato Social, dizendo respeito em especial sobre a estrutura da sociedade e
do governo, sendo considerada a obra mais e influente que dá conta do Estado
Moderno.
A primeira questão que iremos retratar no primeiro capítulo serão os principais
pontos da obra “O Leviatã”, retratando um breve resumo das ideias que Hobbes nos
remete na obra supracitada. Ainda, no que diz respeito ao primeiro capítulo,
veremos uma concepção dos pensamentos do autor sobre o que ele acredita do
homem na esfera política, rebatendo o que Aristóteles diz de o homem ser um
animal político, desconstruindo essa ideia. Conforme Hobbes, o homem não é
naturalmente um ser político, não existindo, portanto, a ideia de uma política que
seja natural.
Ainda, abordaremos a temática das Leis Naturais e do Pacto social, mais
especificamente o Estado de Natureza que nada mais é do que a ideia de o homem
ter tudo e todas as coisas, cujos os objetivos são alcançados utilizando-se de todos
as formas. Para Hobbes, o homem é mau por natureza, possuindo uma capacidade
de violência ilimitada.
Com o estado de natureza, Hobbes explica que seria possível analisar as
características dos homens, como, por exemplo, a gana em desejar algo por meio
da competição com outros, uma vez que a natureza primordial do homem é a
competitividade. Hobbes também não esquece da questão de desconfiança de tudo
e de todos, não existindo limite quando se quer algo, bastando apenas ter desejo por
buscar a glória, com uma soma da competição e desconfiando até mesmo de si
próprio. Nesse processo, entenderemos melhor a explicação mais abrangente do
Estado de Natureza, e a do não Estado. Afinal, como seria a sociedade sem a
presença de um Estado?
8

Com relação ao segundo capítulo, destacamos os pontos principais da


segunda e terceira parte da famosa obra de Hobbes, e, qual a importância do livro
Leviatã para a sociedade moderna.
A partir disso, entraremos num terceiro capítulo, encerrando as devidas
explicações dos pontos importantes do Leviatã para, então, entrar numa fase crítica
do referido tema, em enfoque de alguns pontos críticos.
Muitos autores criticam o Leviatã, fazendo duras críticas e comparações de
situações fictícias para que possamos entender a real pretensão que Hobbes tinha
ao falar sobre a relação do homem com o Estado, citando ainda a questão do
Absolutismo.
Por intermédio de autores que fazem uma análise crítica sobre o Leviatã,
podemos obter uma ideia do que realmente Hobbes quis demonstrar; quais são as
contribuições para o problema do Estado, do Direito e do Contrato Social na
modernidade, utilizando-se para isso o método dedutivo, com auxílio de conceitos e
contexto de pesquisas bibliográficas relacionadas ao tema, bem como, análises de
demais autores críticos à sua maneira de abordar o ser humano.
9

2 Aspectos importantes destacados da obra O Leviatã

De início, com o propósito de elucidar a importância de estudar a obra que


Thomas Hobbes nos proporcionou com sua obra O Leviatã, destaca-se alguns
capítulos aos quais iremos dar um enfoque maior. Neste primeiro momento
abordaremos como Hobbes conceitua o Homem, o Estado e o Contrato Social, e
como a simples conjunção dos homens e sua família são capazes de obterem
convivência em sociedade, além da conceituação da liberdade dos súditos de um
governo mesmo sendo uma única pessoa governando, suas ações e atitudes
quando individuais afetarão apenas a si e não ao seu conselho de governo.
O filósofo Thomas Hobbes refletiu diversas ideias sobre o comportamento
humano, explicando seu ponto de vista acerca do estado de natureza e sobre a
necessidade de existir um governo e uma sociedade fortes. Através disso, iremos
elucidar algumas das ideias que o livro O Leviatã nos remeteu ao longo de seus
capítulos, ainda, é importante ressaltar que Hobbes ao escrever sobre sua famosa
obra estava numa época conturbada da sociedade, os conflitos Ingleses eram muito
debatidos no momento e foi com essas vivências que evidenciou suas visões de
Estado, da imagem de um governante soberano, bem como, o tema que iremos
desenvolver neste projeto do Estado, Direito e o Contrato Social em Hobbes.

2.1 Do Homem

Hobbes divide sua obra em duas partes: a primeira nos remete às ideias
intituladas “DO HOMEM”, que nos trata das perspectivas humanas voltadas para
uma área filosófica, explicando as sensações e as exemplificando-as. As primeiras
noções do ser humano na vida em sociedade são aqui discutidas. Thomas Hobbes
diz que a guerra de todos contra todos seria o início do debate sobre o contrato
social, tema essencial para que possamos entender a concepção de Estado que o
autor defende em sua obra.
No que diz respeito aos pensamentos do homem, haver-se-á de considerá-los
primeiro de uma forma isolada e depois em uma forma geral, em cadeias, ou
dependentes uns dos outros. Com isso, da maneira isolada, cada um representa ou
aparenta alguma qualidade do qual o objeto atua nos olhos, nos ouvidos, e em
10

outras partes do corpo do homem. E pela forma mais diversa é a que atua por uma
aparência diversa e ampla. (HOBBES, 2002, p. 10).
A origem de todos esses pensamentos derivaria do que chamamos de
sensação. Para Hobes, a causa dessa sensação é o corpo exterior, ou objeto, que
acaba pressionando o órgão, ou de forma imediata, como no gosto ou tato, ou de
forma imediata vista no cheiro e ouvido, pela mediação de nervos do qual as
membranas do nosso corpo prolongam em direção ao cérebro e coração. (HOBBES,
2002, p. 11).
Hobbes ainda, a sensação de tal modo que em todos os casos, nada mais é
do que uma ilusão originária, causada pela pressão, isto é, pelos movimentos
exteriores de tudo conforme nossos olhos, ouvidos e outros órgãos que reagem a
isso. (2002, p.11).
Além das sensações, temos que observar a razão e a ciência que Hobbes
demonstra na sua obra. Quando alguém raciocina, faz conceber uma soma total, de
adição de parcelas, ou um resto a partir da subtração de uma soma por outra. Além
de adicionar e subtrair, os homens ainda multiplicar e subtrair, mas é as mesmas
que as outras operações, pois a multiplicação nada mais é do que a adição conjunta
de outras coisas iguais, e a divisão a subtração, de uma coisa tantas vezes quantas
forem possíveis. (HOBBES, 2002, p. 20).
Segundo Thomas Hobbes,

O uso e finalidade da razão não é descobrir a soma, e a verdade de uma,


ou várias consequências, afastadas das primeiras definições, e das
estabelecidas significações de nomes, mas começar por estas e seguir de
uma consequência para outra. Pois não pode haver certeza da última
conclusão sem a certeza de todas aquelas afirmações e negações nas
quais se baseou e das quais foi inferida. [...]. quando alguém calcula sem o
uso de palavras, o que pode ser feito em casos especiais (como quando ao
ver qualquer coisa conjeturamos o que provavelmente a precedeu, ou o que
provavelmente se lhe seguirá), se aquilo que julgou provável que se
seguisse não se seguir, ou se aquilo que julgou provável que tivesse
precedido, não tiver precedido, isto chama-se erro, ao qual estão sujeitos
mesmo os homens mais prudentes. (2002, p. 20).

Hobbes, assim, definiu que o sentido real da razão não é descobrir sua soma,
mas sim começar e seguir através de uma consequência para outra. Como explica
Hobbes, “Há duas espécies de conhecimento: um dos quais é o conhecimento dos
fatos, e o outro o conhecimento das consequências de uma afirmação para outra. ”
(2002, p. 33).
11

O primeiro estaria limitado aos sentidos e à memória, sendo um


conhecimento absoluto. Exemplo seria quando recordo de tal foto em tal lugar, tendo
esse conhecimento necessidade de uma testemunha. Já o segundo chama-se
ciência, e é condicional, como quando sabemos que a figura apresentada por um
círculo, qualquer linha reta que passe pelo seu centro dividirá em duas partes iguais.
(HOBBES, 2002, p. 33).
Hobbes afirma a ideia da razão através de consequências de diversos atos,
não bastando a mera racionalidade de alguma ação.

2.2 Do Estado de Natureza

Elucidado como Thomas Hobbes pensa sobre os pensamentos, vislumbra-se


as questões referentes ao estado do homem, sendo este um estado de natureza.
Os homens foram feitos pela natureza de formas iguais, quanto às faculdades
do corpo e do espírito que, embora o homem se encontrar mais forte de corpo, ou de
espírito mais forte que outros, mesmo assim, se considera um conjunto, a diferença
entre um e outro homem não é suficiente o bastante para considerar que qualquer
um possa reclamar a um benefício que o outro não possa tal como ele. Pois quanto
à força corporal o mais fraco tem força suficiente para matar o mais forte, que por
uma alienação de outros que se encontram ameaçados pelo mesmo perigo, tornam-
se mais fortes. (HOBBES, 2002, p.45).
Com relação à faculdade do espírito, entre os homens se encontra uma
igualdade maior do que a igualdade de forças. O que talvez possa tornar inaceitável
essa igualdade é a concepção da própria sabedoria, da qual todos os homens
supõem possuírem em grau maior do que possuem. A natureza, nesse sentido, dos
homens é tal que, “embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior
inteligência, maior eloquência ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos
tão sábios como eles próprios; porque veem sua própria sabedoria bem de perto, e a
dos outros homens à distância. Mas isto prova que os homens são iguais quanto a
esse ponto, e não que sejam desiguais. Pois geralmente não há sinal mais claro de
uma distribuição equitativa de alguma coisa do que o fato de todos estarem
contentes com a parte que lhes coube”. (HOBBES, 2002, p. 45). Em outras palavras,
o homem não aceita ser inferior aos outros homens.
12

Desta capacidade de igualdade surge a esperança de atingirmos nossos


objetivos. Para tanto, se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo
sendo impossível de serem realizados dessa forma por ambos, eles tornam-se
inimigos. (HOBBES, 2002, p. 46).
Para Hobbes, na natureza do homem encontram-se três causas centrais de
discórdia. A primeira seria a competição; a segunda, a desconfiança; e a terceira, a
glória. (HOBBES, 2002, p. 46).
Com relação à primeira, os homens iriam atacar os outros, tendo em vista o
lucro; quanto à segunda, a segurança; e com relação à terceira, a reputação. Os
primeiros usam a violência para que se tornem senhores dos demais, como
superiores das mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens; os segundos iriam
se defender; e os terceiros por minoria, iriam se defender com palavras, sorrisos,
uma diferença de opinião ou qualquer outro tipo de desprezo, que seja diretamente
dirigido a outras pessoas, independente de quem seja. (HOBBES,2002, p. 46).
Consoante Hobbes,

Com isto se torna manifesto que, durante o tempo em que os homens vivem
sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se
encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é
de todos os homens contra todos os homens. Pois a guerra não consiste
apenas na batalha, ou no ato de lutar, mas naquele lapso de tempo durante
o qual a vontade de travar batalha é suficientemente conhecida. Portanto, a
noção de tempo deve ser levada em conta quanto à natureza da guerra, do
mesmo modo que quanto à natureza do clima. Porque tal como a natureza
do mau tempo não consiste em dois ou três chuviscos, mas numa tendência
para chover que dura vários dias seguidos, assim também a natureza da
guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal,
durante todo o tempo em que não há garantia do contrário. Todo o tempo
restante é de paz. (HOBBES, 2002, p.46).

Portanto, a guerra de todos os homens contra todos os homens é


consequência, nada pode ser injusto. As noções de bem e de mal, justiça e injustiça,
não podem ter lugar. Onde não há poder comum não há lei, e onde não existe lei
não há injustiça; ambas não fazem parte das faculdades do corpo ou espírito. Na
guerra, há força e a fraude não são as virtudes principais. Outra consequência é que
não tem propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu. Só pertence
ao homem aquilo que lhe é capaz de conseguir e capaz de conservá-lo. (HOBBES,
2002, p. 47).
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O que muitos autores chamam de jus naturale Hobbes chama de direito de


natureza, que é a liberdade que cada homem possui de usar sua força e domínio
para seu próprio poder, da maneira que lhe convém, para a preservação de sua
própria vida; automaticamente de fazer tudo aquilo que o seu próprio julgamento e
razão lhe indiquem como os meios mais adequados para isso. (HOBBES, 2002, p.
47).
Uma lei de natureza seria uma regra geral, estabelecida pela razão, que
proíbe ao homem fazer tudo o que ocasione destruição de sua vida ou que o prive
de meios necessários de preservá-la. É importante distinguir o que é jus e lex, direito
e lei. Com relação ao direito, este consiste na liberdade em fazer ou omitir, ao passo
que a lei vai determinar ou obrigar a uma dessas duas coisas. A lei e o direito são
distintos tanto quanto a obrigação e a liberdade é incompatível quando se ferem as
mesmas matérias. (HOBBES, 2002, p. 47).
De acordo com Hobbes, a condição do homem seria:

é uma condição de guerra de todos contra todos, sendo neste caso cada
um governado por sua própria razão, e não havendo nada, de que possa
lançar mão, que não possa servir-lhe de ajuda para a preservação de sua
vida contra seus inimigos, segue-se daqui que numa tal condição todo
homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros.
Portanto, enquanto perdurar este direito de cada homem a todas as coisas,
não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que seja) a
segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos
homens viver. Consequentemente é um preceito ou regra geral da razão,
que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha
esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas
as ajudas e vantagens da guerra. (2002, p. 48).

Esta lei fundamental de natureza que se dá pelo ordenamento a todos os


homens que procuram a paz, deriva dessa segunda lei, pois “Que um homem
concorde, quando outros também o façam, e na medida em que tal considere
necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a
todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma
liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo”. (HOBBES, 2002,
p.48).
Enquanto cada homem tiver seu direito de fazer tudo quanto queira, todos os
homens se encontrarão numa condição de guerra. Porém, os outros homens
renunciarem ao seu direito, nesse caso não há uma razão para que alguém prove o
seu, pois iria equivaler oferecer-se como presa, e não a dispor de uma paz. Sendo
14

essa a lei do Evangelho. Ou seja, “faz aos outros o que queres que te façam a ti. E
esta é a lei de todos os homens”. (HOBBES, 2002, p. 48).
A ideia de lei aos homens para Hobbes é cada um cumprir seu papel na
sociedade, cumprindo com o que pactua e determina apenas do que é seu por
direito.

2.3 Do Contrato Social

O contrato pode ser chamado de transferência mútua de direitos. Devemos


observar, porém, a diferença entre a transferência do direito a uma coisa ou a
tradição, isto é, a entrega da própria coisa. (HOBBES, 2002). A coisa pode ser
entregue junto com a transferência do direito. Exemplo seria a compra e venda com
dinheiro a vista, ou a de uma troca de bens e terras que pode ser entregue algum
tempo depois. O pacto ou convenção seria a confiança de entregar o bem por um
determinado tempo depois. (HOBBES, 2002, p. 49).
Para Hobbes, a transferência de direito não é mútua, e uma das partes irá
transferir na esperança de conquistar uma amizade ou serviços de um outro,
esperança de adquirir reputação ou para se livrar do espírito de compaixão; nesses
casos não há contrato, mas doações, dádivas, palavras que significam uma e a
mesma coisa. (HOBBES, 2002, p. 49).
Referente aos sinais de contrato eles podem ser expressos ou por
interferência. As palavras proferidas com a compreensão do que significam seria a
forma expressa. Essas palavras são do tempo presente ou do passado; palavras do
futuro chamam-se promessas. (HOBBES, 2002, p. 49).
Com relação aos sinais por inferência estes são às vezes consequências do
silêncio, das ações e, ainda, às vezes consequência da omissão de ações.
Corriqueiramente. um sinal por inferência de qualquer contrato seria tudo que mostra
de maneira suficiente à vontade de um contratante. (HOBBES, 2002, p. 49).
Nos contratos o direito não é transferido apenas quando as palavras são do
tempo presente ou passado, mas, também, quando são do futuro, pois “todo
contrato é uma translação ou troca mútua de direitos, [...] é por esse motivo que na
compra e na venda, e em outros atos de contrato, uma promessa é equivalente a um
pacto, e, portanto, é obrigatória”. (HOBBES, 2002, p. 49).
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Porém, num Estado civil, onde foi estabelecido um poder de coagir aqueles
que de alguma maneira violavam sua fé, esse temor deixa de ser razoável. Obriga-
se, assim, o primeiro a cumprir e fazer o prometido. É ainda, impossível realizar um
pacto com os animais, pois eles não compreendem nossa linguagem, e, diante
disso, não podem aceitar qualquer transferência de direito que beneficie a si próprio
ou a outrem. Sem aceitação mútua, não há pacto possível. (HOBBES, 2002, p. 49).
Da mesma forma é impossível fazer pacto com Deus, a não ser por medição
daqueles a quem Deus se comunicou, por uma revelação sobrenatural. Porque não
sabemos se os nossos pactos foram aceitos ou não. A libertação do pacto dá-se de
duas maneiras: ou se cumpre ou se perdoa. O cumprimento do pacto é o fim natural
da obrigação, e o perdão é a restituição de sua liberdade. (HOBBES, 2002, p. 49).
Um novo pacto anula o anterior. Porque se um homem fez a transferência do
seu direito hoje a outro não pode transmiti-lo amanhã a um terceiro envolvido.
Portanto, a promessa posterior não faz transmissão de direito nenhum, pois é nula.
(HOBBES, 2002, p. 50).
Da lei de natureza que somos obrigados a transferir aos outros que, ao serem
conservados, impedem a paz da humanidade, ainda tem uma terceira: da qual os
homens cumpram os pactos que celebrarem. Sem a lei os pactos seriam vãos e
palavras vazias, permanecemos na condição de guerra. (HOBBES, 202, p. 51).
Não pode tratar-se, porém, apenas de promessas mútuas quando um dos
lados não possui uma garantia do cumprimento, como quando não existe um poder
civil estabelecido acima dos envolvidos nas promessas, pois elas não são pactos.
(HOBBES, 2002, p. 53).
Nesse sentido devemos observar o que seriam as palavras justo e injusto,
quando atribuídas aos homens tem um significado, e quando são para as ações é
outra forma de ser. Quando atribuídas aos homens seriam, no entanto, a
conformidade ou a incompatibilidade dos costumes com a razão. Quando são
atribuídas as ações indicam a incompatibilidade de costumes com a razão, não
sendo de costumes e sim de ações já determinadas. (HOBBES, 2002, p. 53).
Diante dos fatos, percebe-se que promessas realizadas entre pessoas devem
ser cumpridas por ambas, para que assim, seja efetivo o pacto que celebrarem.
16

3 CONSIDERAÇÕES DE ESTADO NUMA VISÃO GERAL

Durante essa segunda parte será abordada a questão de contratualismo


numa visão geral, seguido de um posicionamento hobbesiano sobre o assunto, uma
vez que ele foi o primeiro a ser declarado “contratualista”, seguindo após, com ideais
de outros contratualistas.

3.1 Estado: a definição e suas causas

Aristóteles possui pensamentos distintos sobre definição de Estado, uma vez


que precisa obter uma visão diferente do que pensamos atualmente, um
pensamento atual mais moderno e contemporâneo. O Estado pode ser visto como
uma parte desprendida da sociedade. Para Aristóteles não ocorre uma oposição
sobre uma organização de estado (política) e nossa vida social em si, haja vista que
que podem ocorrer numa mesma situação. Para os gregos, na época de Aristóteles,
a pólis era cidade que no mundo atual conhecemos como sociedade, e esta também
pode ser denominada Estado.
Ainda, com base nas finalidades do poder político e no número de
governantes, é possível estruturar os possíveis tipos de governo. Com relação à
quantidade de governantes é possível dividi-lo em três espécies: governo de um,
governo apenas de alguns e o governo de pluralidade ou maioria.
Ao fazer a restrição sobre si próprios é possível ver nos Estados, é o que
seria o cuidado com a conservação de uma vida mais satisfatória. O desejo de sair
da condição de guerra é a consequência que se mostrou das paixões naturais dos
homens, forçando-os por medo de algum castigo a cumprir com seus pactos e
respeitando aquelas leis de natureza das quais foram expostas anteriormente.
(HOBBES, 2002, p. 59).
Apesar de haver leis de natureza, se não for instituído um poder grande o
suficiente para que garanta nossa segurança, cada um pode confiar apenas em sua
própria capacidade e força, como uma forma de proteção contra os outros. Não é o
suficiente para garantir segurança que os homens desejariam que durasse o tempo
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de suas vidas, que eles fossem governados ou comandados por um critério único,
igual em guerras e ou batalhas. (HOBBES, 2002, p. 59).
Hobbes faz uma comparação entre os homens e algumas criaturas vivas, tais
como abelhas e as formigas, que vivem socialmente umas com as outras, sem outra
direção além de seus juízos, sem linguagem que possam indicar umas às outras o
que seria adequado e benéfico para todos. Dessa afirmação, ele diz por que a
humanidade não pode fazer o mesmo, elencando alguns pontos. (HOBBES, 2002, p.
60).
Os homens estão sempre envolvidos numa competição pela honra e pela
dignidade, algo que não ocorre com essas criaturas. Surge dessa forma a inveja e o
ódio, e finalmente a guerra, que não acontece com tais criaturas. Segundo, entre
essas criaturas não há diferenciação entre o bem comum e o bem individual e, por
natureza possuem tendência para o bem individual, acabam promovendo o bem
comum. Já os homens encontram sua felicidade comparando os outros consigo
mesmos. (HOBBES, 2002, p. 60).
Outro ponto é que, ao contrário do homem que possui razão, elas não
enxergam e nem julgam qualquer erro na administração de sua existência comum.
Diferente dos homens que julgam ser mais sábios e capacitados que outros para o
exercício do poder comum, de que resultam num país de desordem e guerra civil.
Outro ponto, seria que essas criaturas carecem da arte das palavras que alguns
homens são capazes de apresentar aos outros, o que é bom sob a aparência do
mal, e o que é mal sob a aparência do bem, semeando discórdia entre os homens
que perturbam o seu prazer e paz que outros vivem. (HOBBES, 2002, p. 60).
As criaturas irracionais não são capazes de diferenciar injúria e danos.
Bastam que estejam satisfeitas para que nunca se ofendam com seus iguais. O
homem, porém, quanto mais satisfeito está, mais implicante será. Querem exibir sua
sabedoria para controlar as ações dos que governam o Estado. Por último, mas não
menos importante, o acordo que existe entre essas criaturas é de forma natural, ao
ver que o dos homens surge por meio de um pacto, ou seja, artificialmente. Ou seja,
um poder para todos que possa manter um respeito e que suas ações dirijam-se
para o benefício comum. (HOBBES, 2002, p. 60).
Para que haja um poder comum a todos, que possua capacidade de defender
das invasões e das injúrias uns dos outros, garantindo a segurança suficiente, é
preciso depositar todo o seu poder a um homem ou a uma assembleia de homens,
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reduzindo, assim, as diversas vontades e pluralização de votos, tendo um


representante de suas pessoas. (HOBBES, 2002, p. 60).
Realizado isso, a união formada por multidão se chama Estado, chamado em
latim como Civita. Essa seria a geração do grande Leviatã, ou em outros termos
daquele Deus Mortal. É graças a esse Estado que é colocada a confiança, poder e
força que cada indivíduo deixa nesse aglomerado. (HOBBES, 2002, p. 61).
A pessoa que contém a essência do Estado, que irá usar a força e os
recursos dos demais, de forma a considerar melhor e com o objetivo de assegurar a
paz e a defesa comum, seria o soberano, é dele que surge o poder soberano. Ou
seja, todos os demais seriam os súditos. (HOBBES, 2002, p.61).
O poder soberano se dá por meio de duas maneiras:

uma delas é a sarça natural, como quando um homem obriga seus filhos a
submeterem-se, e a submeterem seus próprios filhos, a sua autoridade, na
medida em que é capaz de destruí-los em caso de recusa. [...] a outra é
quando os homens concordam entre si em submeterem-se a um homem, ou
a uma assembleia de homens, voluntariamente, com a esperança de serem
protegidos por ele contra todos os outros. Este último pode ser chamado um
Estado Político, ou um Estado por instituição. (2002, p. 61).

Alguns doutrinadores atuais demonstram pontos distintos dos que Hobbes


retrata. Miguel Reale, em Teoria do Direito e do Estado, refere-se sobre o Estado
Tríplice, sendo uma divisão de três faces: a social (Teoria Social do Estado), que
remete a formação de um estado de acordo com seu desenvolvimento nas áreas
econômicas e sociais; a segunda seria a jurídica (Teoria Jurídica do Estado) que
investiga o ordenamento jurídico, e a terceira seria a política (Teoria Política do
Estado) com intuito de estudar a área política de um estado e suas finalidades no
governo.
Na teoria social de Reale, o autor deixa claro que não é possível existir um
estudo focado apenas nas questões sociais, visto que é importante destacar os
pontos jurídicos. O social evidencia o estudo sobre dois principais pontos: um deles
com base nas questões econômicas, sociais, culturais etc, que a base possui um
respeito pela formação de uma sociedade na base nacional sobre um ponto mais
alto da sociedade. Outro ponto seria sobre as condições que possam sobressair nas
condições viáveis do estado, na questão do poder soberano com as condições de
vivência da população. (REALE, 2000. p. 132).
19

Diante do descrito acima, dessas condições a primeira chama-se Estado por


aquisição, sendo a última chamada de um Estado Político, dos quais aborda-se mais
adiante às suas maiores definições.

3.2 Do Estado por Instituição e o Estado por uma visão Social

Hobbes, ao conceituar Estado por instituição, explica a questão das leis,


sejam elas naturais ou leis civis.
Um Estado instituído tem lugar quando uma multidão de pessoas concorda e
pactua, a maioria concordando que qualquer homem ou uma assembleia deles a
quem seja atribuído o direito de representar todos sem exceção, autorizando todos
os atos e decisões desse homem ou assembleia de homens, como se fossem seus
atos e decisões pessoais. É essa instituição de Estado que surgem todos os direitos
e deveres daqueles a quem o poder de um soberano foi concedido por um consenso
do povo que se reuniu. (HOBBES, 2002, p. 61).
Conforme for a medida do pacto, a sociedade não se encontra obrigada por
um pacto anterior a qualquer outro que contraponha com o atual. Em consequência,
os que realizarem pacto com um Estado não podem legitimar e celebrar entre si um
novo pacto, pois foram dados como obrigados a reconhecer os atos e decisões de
alguém anterior. (HOBBES, 2002, p. 61).
Ainda, o direito de representar os outros é dado pelo soberano mediante um
pacto celebrado entre cada um e cada um, não celebrado pelo soberano e pelos
outros, não podendo ocorrer a quebra do pacto por parte do soberano. (HOBBES,
2002, p. 64).
Da mesma forma que o poder, a honra do soberano deve ser maior que a
honra dos demais, portanto, maior do que a dos seus súditos. É na soberania que
está o começo da honra. A forma de ser súdito, porém, o é muito miserável, porque
está ligada às paixões e apetites irregulares dos que detêm em suas mãos o poder
que é ilimitado. (HOBBES, 2002, p. 65).
Ocorre que quem vive sob um monarca acredita que as ações erradas são
por culpa da monarquia, e os que vivem sob o governo de uma democracia,
atribuem a culpa aos inconvenientes dessa forma de governo. Pois bem, o poder é
20

sempre o mesmo, independente das formas, se estas forem suficientes para


protegerem os seus súditos. (HOBBES, 2002, p. 65).
Nos livros de história e de política encontramos diversas espécies de governo,
tais como a tirania e a oligarquia; porém, esses são apenas outros nomes que
denominamos para as mesmas formas de governo, apenas definimos de forma
diferente para as que detestamos. Pense que quando detestamos a monarquia,
chamamos de tirania. Hobbes afirma, ainda, que não devem as pessoas pensar ou
denominar de outra forma de governo apenas porque gostam dela ou mudar sua
denominação apenas porque não gostam. (HOBBES, 2002, p. 65).
Com relação à liberdade dos súditos, em sentido próprio, seria a ausência de
oposição, não se aplicando menos nas criaturas irracionais do que nas racionais. O
homem é livre quando, nas coisas que graças a sua força e empenho é capaz de
fazer, não é impedido de realizar o que tem vontade. Hobbes ainda afirma que de
uma maneira geral todos os atos praticados pelos homens no chamado Estado, por
medo de lei, serão ações que seus autores possuem a liberdade de não praticar.
(HOBBES, 2002, p. 73).
Em referência ao conselho, Hobbes faz uma diferenciação sobre uma ordem
e um conselho. A ordem liga-se à circunstância em que alguém nos fala “Faz isto ou
Não faz isso”. Não possuímos uma espera para uma razão a não ser a vontade de
quem diz uma ordem, uma vez que a ordem é apenas a própria vontade e sempre a
benefício de si mesmo. (2002, p. 87).
Já o conselho faz-se presente quando alguém diz “Faz isto ou Não faz isso”, e
ainda deduz as suas razões do benefício que irá acarretar para aquele que disse.
Claramente aquele que dá o conselho pretende apenas, independente de sua
vontade escondida, seja benefício daquele a quem o dá. (HOBBES, 2002, p. 87).
Ou seja, a grande diferença entre ordem e conselho está em que a primeira, a
ordem, é dirigida para o benefício de quem a dá, já o conselho é para o benefício de
outrem. Outro ponto do conselho é que independentemente de quem for que o peça
não pode, conforme a equidade, acusar ou punir quem der um conselho, pois estaria
pedindo e permitindo que recebesse um conselho da maneira que achar melhor.
(HOBBES, 2002, p. 87).
Ainda, Hobbes define o que seria as leis civis como:
21

Aquelas leis que os homens são obrigados a respeitar, não por serem
membros deste ou daquele Estado em particular, mas por serem membros
de um Estado. Porque o conhecimento das leis particulares é da
competência dos que estudam as leis de seus diversos países, mas o
conhecimento da lei civil é de caráter geral e compete a todos os
homens.[...] considerado isto, defino a lei civil da seguinte maneira: A lei civil
é, para todo súdito, constituída por aquelas regras que o Estado lhe impõe,
oralmente ou por escrito, ou por outro sinal suficiente de sua vontade, para
usar como critério de distinção entre o bem e o mal; isto é, do que é
contrário ou não é contrário à regra.(HOBBES, 2002, p. 87).

Com essa definição, Hobbes ainda afirma que todas as leis, sejam elas
escritas ou não, têm uma necessidade de interpretação. As leis de natureza não são
escritas; elas são fáceis para aqueles que sem uma paixão fazem uso de sua razão
natural, portanto, deixam de lado sem desculpas os seus violadores, não havendo
muitos que deixam seus amores cegarem, pois, sendo o amor, de todas as leis, a
mais obscura, tendo uma maior necessidade de intérpretes capazes. (HOBBES,
2002, p. 93).
As leis escritas, por outro lado, se forem sintetizadas podem ser facilmente
mal interpretadas, em razão da diversidade de significações que uma ou duas
palavras. Se forem palavras mais longas, ainda serão mais obscuras, e, por serem
diversos os significados, torna-se de muitas palavras. Num Estado, a interpretação
das leis da natureza não depende dos livros da filosofia moral. Essa moral é uma
sentença do juiz que foi constituído pela autoridade soberana, para ouvir e também
determinar controvérsias que dela precisam e consiste na aplicação da lei ao caso
em debate. (HOBBES, 2002, p. 94).
Com relação às leis positivas divinas, estas são as que sendo os
mandamentos de Deus, são declaradas assim por aqueles a quem Deus permitiu a
assim declará-las. Em todo Estado, a sua lei fundamental é aquela da qual, se for
eliminada, o Estado será destruído e dissolvido. Por isso é essencial que os súditos
na sua parte sustentem qualquer seja o poder conferido ao soberano. (HOBBES,
2002, p. 98).
Parte-se, agora, para a posição de Hobbes sobre o Estado Cristão numa
visão hobbesiana, evidenciando os principais pontos na obra “O Leviatã”.
22

3.3 Do Estado Cristão para Hobbes

Até então Hobbes falou sobre poder soberano e os deveres dos súditos com
base única nos princípios da natureza. Para dar continuidade aos entendimentos de
Estado, deve-se observar o que o filósofo entende sobre Estado Cristão.
Para um Estado cristão, os direitos essenciais desse governo possuem
dependência das revelações sobrenaturais da vontade de Deus, não sendo apenas
um discurso sobre a palavra natural de Deus, mas ideias a partir de sua palavra
profética. (HOBBES, 2002, p. 123).
Hobbes entende que os livros das Sagradas Escrituras são as regras da vida
cristã. Essas regras de vida são as que os homens são obrigados a respeitar, e,
portanto, são leis. O problema dessas Escrituras é saber o que seria lei para a
cristandade, sejam elas naturais ou civis. O soberano de todos os soberanos é
Deus, devendo todos obedecer. O problema é saber quando e o que Deus disse,
sendo que pode ser reconhecido apenas pelos próprios súditos que receberam as
revelações. (2002, p. 125).
Algo que muito se discute é aonde às Escrituras têm autoridade e se elas são
mesmo palavras de Deus. Conforme não se diferencie das leis de natureza, não há
dúvidas de que são leis de Deus, portadoras de autoridades legíveis por todos os
seres que praticam da razão natural. Se são feitas leis pelo próprio Deus, são de
natureza de lei escrita, aquelas que foram diante de Deus suficientes para
publicação, de forma com que ninguém possa dizer que não são suas leis.
(HOBBES, 2002, p. 129).
Em síntese, o Reino de Deus é um reino civil, e, para que o homem seja
aceito no reino dos céus, são necessárias algumas atitudes. Um grande dilema do
qual os Estados Cristãos enfrentaram por muito tempo é de obedecer ao mesmo
tempo às ordens de Deus e aos homens que se contradizem. Quando alguém
recebe mais de uma ordem, e uma delas é de Deus, tem-se que obedecer à ordem
divina e não à outra, mesmo que ela seja ditada diretamente pelo soberano.
(HOBBES, 2002, p. 190).
Ocorre que muitas vezes os homens não sabem quando a ordem vem
diretamente de Deus ou se são falsos profetas que utilizam a palavra sagrada para
23

tirar proveito para si. Essa dificuldade, porém, em obedecer ao mesmo tempo Deus
e ao soberano civil na terra não possui grande relevância para quem souber
diferenciar o que é necessário do que não é necessário para que entre no Reino de
Deus. Para Hobbes, se a ordem do soberano civil for obedecida sem a perda de
uma vida eterna, seria injusto não lhe obedecer. (HOBBES, 2002, p. 191).
Se a ordem, contudo, for uma que não pode ser obedecida sem que ocorra
uma condenação à morte eterna, seria loucura oferecer um lugar no Conselho do
Salvador. Tudo o que é necessário para que ocorra salvação está em duas virtudes,
a fé em Cristo e a obediência às leis, sendo esta última suficiente para o homem.
(HOBBES, 2002, p. 191).
As leis de Deus, em suma, nada mais são do que as leis da natureza, com
enfoque principal da não violação da nossa fé uma ordem para obedecer aos
soberanos civis, que constituímos acima de nós por meio de um pacto mútuo. E
essa lei de Deus ordena a obediência da lei civil que consequentemente ordena nós
súditos. (HOBBES, 2002, p. 191).
Hobbes acredita que as razões pelas quais os homens depositam suas
confianças em qualquer doutrina cristã são de formas diversas, uma vez que a fé
deriva de um dom de Deus, e Ele produziu outros homens para que pudesse lhe
usar e aprovar. (HOBBES, 2002 p. 193).
De forma final da parte três do livro O Leviatã, Thomas Hobbes evitou dar seu
ponto de vista pessoal, tentando decifrar as consequências que deduziu sobre os
principais pontos de uma política cristã, baseadas nas Escrituras Sagradas, e
confirmar um poder baseado no soberano, governando civilmente e tendo o dever
de seus súditos.
Diante de tais informações, Hobbes consegue distinguir alguns pontos
principais sobre a questão de Estado e como a religião é presente nas relações com
o homem. Verifica-se a seguir, como outros doutrinadores e filósofos opinam sobre
questões de Estado e as relações de contrato, tendo como base ideais de Thomas
Hobbes.
24

4 VISÕES CRÍTICAS DE AUTORES SOBRE THOMAS HOBBES E O LEVIATÃ

Neste momento elucidar-se-ão alguns pontos importantes que são


destacados por outros autores que se contrapõem às ideias de Thomas Hobbes, em
especial, quanto á questão do Contrato Social, do Estado de natureza e da formação
de um Estado em geral.

4.1 Thomas Hobbes a partir de uma crítica de Benjamin Wiker

Hobbes acredita que o homem tem direito a tudo. Essa ideia encontrará
ferrenha crítica em Benjamin Wiker. Para Wiker, o pai da convicção de que temos o
direito de ser e ter o que queremos, não importando o quão imoral isso seja, sendo
uma obrigação do governo proteger esses direitos, é Thomas Hobbes. (WIKER,
2015, p. 35).
Wiker acredita que nos tornamos tão hobbesianos que nem percebemos as
convicções que possuímos e que são chocantes. O que Hobbes realmente disse
torna-se, então, duas vezes mais chocante, pois os ideais dele pôde colocar isso no
papel, em especial no “Leviatã”. (2015, p. 35).
Wiker faz comparativos de situações hipotéticas que na atualidade podem ser
consideradas um absurdo, mas que, para Hobbes, em 1651, quando escreveu O
Leviatã, não eram tão impactantes. Benjamin Wiker inicia sua crítica nos fazendo
refletir sobre acordarmos sem nenhuma consciência ou discernimento do certo e
errado, bem e mal, luz ou escuridão. (2015, p. 36). Essa falta de consciência seria o
homem natural que Hobbes afirma no Leviatã, ou seja, o Estado de Natureza.
Se ninguém perceber que é culpado e podemos, por um breve momento,
bloquear os nossos pensamentos sobre alguma retribuição divina, pode sim ser algo
convidativo ou libertador e excitante. Porém, você percebe o erro quando o jornaleiro
quebra sua janela com ajuda policial, mas apenas você está consciente do quão
errado tudo está. (WIKER, 2015, p. 36).
Você perceberá que ao contrário do que pensa, não está sendo liberado para
fazer o que deseja, realizar os segredos e vontades mais secretos que existe, mas,
está afundando nos comportamentos Hobbesianos, na famosa guerra de todos
contra todos, não existindo medo ou perigo, sua vida depende apenas de você,
sozinha, pobre, bruta e sem sentimento de culpa. (WIKER, 2015, p. 37).
25

Nas situações hipotéticas que Wiker elabora, percebemos que estamos num
“estado natural”. Hobbes, porém, achava que o pior estado que o ser humano pode
chegar é onde começa a estudá-la, pois sua grande novidade ou uma delas foi de
assumir os seres humanos nos seus piores estados de espíritos. Hobbes escreveu
Leviatã num momento que presenciou a selvageria dos homens na Guerra dos
Trinta Anos (1618-1648) e durante as guerras civis da Inglaterra. Hobbes concluiu
que a guerra é algo natural e a paz seria a exceção, que o Jardim do Éden é apenas
um sonho triste. (WIKER, 2015, p. 37/38).
Os críticos de Hobbes, logo após a publicação de Leviatã, disseram que o
estado natural era uma invenção. Ora, se na época já se presume assim, por que
até hoje continua sendo visto dessa forma e debatido? Wiker afirma que é uma
invenção duradoura, tornando- se um mito do qual nós vivemos. Pode-se dizer que o
Leviatã é a Bíblia e o estado natural de Hobbes, o Jardim do Éden. (WIKER, 2015,
p. 38).
Sobretudo, Hobbes estabelece padrões de direito por uma simples definição,
ou seja, declarando como se todos já os conheciam. Wiker diz que a argumentação
de Hobbes é obscura e se desenvolve com algumas declarações, tais como,

1.Deus não existe; 2. Não há, portanto, o bem e o mal; 3. As noções de


“bem” e “mal” surgem porque os seres humanos chamam aquilo que lhes dá
prazer de “bem” e aquilo que lhes causa dor de “mau”. 4. Portanto, todos
nós somos livres para fazer qualquer coisa que quisermos para preservar a
própria vida. Esse é o “direito natural”. (WIKER, 2015, p. 40).

Com isso, Hobbes quando nos remete ao estado de guerra, não nos deixa
nele desamparados, oferecendo-nos uma saída que estragou a compreensão que
tínhamos da sociedade, pois tornou essencial a prática e a teoria de uma política
progressista. Wiker afirma que Hobbes nos vê como antissociais que vivem em
sociedade apenas para tentar fugir dos perigos que o estado natural nos dá.
(WIKER, 2015, p. 41).
Os perigos que acarretam o estado natural num estado de guerra são vistos
quando cada indivíduo, segundo Hobbes, pensa que tem direito a tudo e qualquer
coisa que almeja. Wiker afirma que toda essa visão de sociedade é como um objeto
alienado a nossa natureza, na visão hobbesiano a sociedade não é boa e nem má,
apenas nas melhores hipóteses, um contrato artificial entre os homens para evitar
uma vida solitária, brutal e pobre, no seu estado natural. (WIKER, 2015, p. 41).
26

Para Wiker, a justiça que Hobbes acredita é entendida como uma inversão da
regra de ouro: deixa que façam tudo o que possam fazer e o que quiserem.
Benjamin diz que hobbesiano é interessante para quem gosta de pensamentos
macabros, acaba tornando-se uma profecia que você se auto realiza. Talvez seja
por isso que o sentimento de déjà vu quando vislumbramos os pensamentos de
Thomas Hobbes no Leviatã. (WIKER, 2015, p. 42).
Em razão desses pensamentos que Hobbes nos traz de os seres serem todos
maus, é que Benjamin Wiker o critica. Hobbesianos acreditam em situações
hipotéticas que para eles é real e serve para justificar tudo o que deseja e tudo o que
faz para alcançar, pensamentos dos quais na atualidade são apenas mitos.

Hobbes, outros filósofos expressaram suas ideias sobre o Estado, em


especial e na Antiguidade e na Idade Média . Constituem exemplo de tais filósofos,
Platão (427-437 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e John Locke (1632-1704). Depois
de Hobbes, temos, por exemplo, Rosseau (1712- 1778), é o que veremos adiante.

4.2 Rousseau, Platão, Locke e Aristóteles

Nessa parte do estudo, realiza-se um comparativo entre alguns dos principais


filósofos, dentre eles Rousseau, Platão e Aristóteles para ocorrer um enfoque nas
ideias de cada um deles sobre os assuntos desse trabalho, em especial, sobre as
opiniões distintas de Thomas Hobbes.
Para Thomas Hobbes, os seres humanos vivem num estado de natureza,
esse do qual possuem propensão à violência, surgindo assim, a sua famosa frase:
“o homem é o lobo do homem”. (MALUF, 2019, p. 97).
O surgimento do Contrato Social se dá pelo abandono de um Estado de
Natureza para a origem do Estado Civil, onde o homem celebra um pacto ou um
contrato social do qual passam a serem submetidos a um governo que através de
um soberano e de leis, vai garantir a segurança de todos. (MALUF, 2019, p. 98).
Ocorre que para Jean-Jacques Rousseau, seu pensamento de estado de
natureza do homem é adverso de Hobbes. Rousseau tem afirmações na ideia de o
ser humano ser bom naturalmente. No estado de natureza o ser humano viveria uma
vida isolada dos outros, convivendo de forma plena, livre e ainda, feliz. (MALUF,
2019, p. 103).
27

Diferentemente de Hobbes que acredita na ideia de o homem já nascer mau,


Rousseau tem sua tese em que o homem nasce bom, mas a sociedade que o
corrompe. Surge o estado de sociedade quando os que detêm a posse algo, lutam
contra aqueles que não possuem bens e estão em busca de adquirir. (MALUF, 2019,
p. 103).
Para Hobbes, o contratualismo tem originalidade numa monarquia absolutista.
Para o autor os direitos do ser humano jamais podem ser efetivados num estado
natural, mostrando a necessidade de um Estado soberano. Rousseau por outro lado,
acredita na ideia do estado de natureza ser completo, não possui apenas o homem,
de forma natural, mas direitos iguais como também direitos efetivados. (MALUF,
2019, p. 98, 103).
Sendo assim, Rousseau defende que o homem estabelece uma sociedade
através de sucessões de acasos, uma sociedade que é injusta, pois não garante os
direitos do homem, como a igualdade e a liberdade. (MALUF, 2019, p. 105).
Diferente de Hobbes, Jean-Jacques Rousseau acredita num pacto social que
não possui origem em conferir os poderes, e sim de usurpação, ou seja, o motivo
real do contrato seria a apropriação. Diante disso, Rousseau fala sobre a
escravidão, acredita que a ordem existente é uma escravidão, apenas um novo
pacto social legítimo pode originar numa sociedade mais justa. (ROUSSEAU, p. 25).
Portanto, na obra de Rousseau, o homem no Estado de Natureza pode tudo
e, no Estado Civil ele fica limitado em fazer aquilo que não for proibido.
(ROUSSEAU, 1762). De forma mais clara, a resposta contratualista para um
problema na sociedade é a limitação dos poderes.
Na sua obra A República, Platão nos remete sobre um Estado que são
corrompidos, mesmo que tenham sido de formas desiguais, visto que a ideia de
Platão é de existir uma relação mais próxima e voltada para a justiça, esta do qual
seria voltada a ideia de cada cidadão cumprir com suas obrigações conforme for
apto a realizá-las. (PLATÃO, p. 57).
Logo, a justiça pode ser estabelecida por ações realizadas de forma pessoal,
isto é, por elas mesmas na execução e cumprimento da lei e suas funções. Percebe-
se que a concepção de justiça e política se enquadram como um complemento e o
direito seria a forma pela qual se exerceria a sociedade ideal, tendo como resultado
de sua busca o bem de todos. Platão, portanto, define o estado como um resultado
28

da organização de uma sociedade baseada na razão social, mesmo que com bases
fictícias. (PLATÃO, p. 58).
A Política, livro do qual Aristóteles expressa suas opiniões sobre a
organização da política estatal e define o estado como uma sociedade política. Essa
sociedade seria a chamada LOCUS, com intuitos finalísticos de prover para a
sociedade os bens necessários e suficientes para suprir as necessidades
consideradas básicas de sobrevivência. (ARISTÓTELES, p. 58).
Diferentemente do que Hobbes nos remete, na base doutrinária de Aristóteles
ele fala sobre três hipóteses fundamentais: a primeira que o homem é um ser
racional; em segundo plano que o homem é um ser político e em terceiro uma
espécie de junção das duas primeiras, sendo o homem um natural racional e
político, acrescentando e definindo a organização social, vivendo assim, numa
sociedade ética e justa. (ARISTÓTELES, p. 58).
Ideia do qual Aristóteles remete no início de sua obra, dizendo:

assim como o homem civilizado é o melhor de todos os animais, aquele que


não conhece nem justiça nem leis é o pior de todos. [...] o discernimento e o
respeito ao direito formam a base da vida social e os juízes são seus
primeiros órgãos.

O homem seria um ser racional por ter seu lado sentimental do bem e do mal,
de conhecer e desenvolver, bem como de diferenciar o útil do perigoso ou nocivo. O
ponto de maior diferencial do ser humano seria sua racionalidade, visto que sua vida
seria de acordo com a razão existente na vida humana. (ARISTÓTELES, p. 59).
O estado ideal para Aristóteles, teria uma certa condição dos próprios
cidadãos existentes na sociedade, sendo considerado os bons como aqueles que
cumprem com os deveres e seriam governantes. Porém, dessa forma teria a
dependência de qual estado seria incorporado, como o governante usaria sua forma
de poder em benefício da sociedade, em razão de a população ser a principal
afetada quando não exercida ações benéficas. (ARISTÓTELES, p. 59).
Em conjunto com Hobbes e Rousseau, John Locke é um dos grandes
representantes do jusnaturalismo. O modelo de Locke sobre os direitos naturais é
semelhante com os de Thomas Hobbes: os dois principiam do estado de natureza,
tendo a mediação do contrato social para que ocorra passagem para o estado civil.
Contudo, existe uma diferença entre os dois filósofos sobre as questões do estado
29

de natureza, do contrato social e do estado civil. (MELLO in WEFFORT [Org.], 2001,


p.84).
Conforme Locke, o estado de natureza seria uma situação real e histórica
determinada pelo o que já passou, mesmo que em épocas diferentes. Este estado
de natureza discorda do que Hobbes descreve como um estado de guerra, baseado
na violência e na insegurança, por se tratar de um estado de concernente paz e
harmonia. (MELLO in WEFFORT [Org.], 2001, p.85).
Nesse estado mais pacífico, os homens já possuem uma razão e desfrutam
da propriedade, este que por Locke utilizavam para a vida, a liberdade e os bens
como os direitos naturais do ser humano. (MELLO in WEFFORT [Org.], 2001, p.85).
De uma maneira pacífica, o estado de natureza, não é fica isento de
inconvenientes, como violação de propriedade (vida, liberdade e bens) que sem uma
lei estabelecida ou um juiz que exerça de forma imparcial, acarreta em um estado de
guerra de todos contra todos, como Thomas Hobbes menciona. (MELLO in
WEFFORT [Org.], 2001, p.86).
O contrato social em Hobbes, os homens firmam entre eles um pacto de
submeter-se a transferir a um homem ou assembleia, a força coercitiva da
sociedade, colocando sua liberdade em prol de uma segurança do Estado-Leviatã.
(MELLO in WEFFORT [Org.], 2001, p.86).
John Locke, por sua vez, o contrato social é um pacto de consentimento que
os homens de forma livre concordam em formar uma sociedade civil para preservar
e preservar os direitos que possuíam no estado de natureza. O estado civil os
direitos naturais como a vida, à liberdade estão melhor protegidos sob a proteção de
uma lei, da força comum de um político unitário. (MELLO in WEFFORT [Org.], 2001,
p.86).
Definido o estado civil, o próximo passo é escolher pela comunidade uma
forma de governo. Nessa escolha de governo, a decisão majoritária, são respeitado
os direitos da minoria. Estabelecida a forma de governo, cabe a maioria escolher o
poder legislativo, Locke, que refere-se sobre um poder supremo. No legislativo o
poder executivo é confiado ao príncipe, como o poder federativo fica encarregado
das relações externas, tais como a guerra, a paz, as alianças e os tratados. (MELLO
in WEFFORT [Org.], 2001, p.89).
Assim sendo, Thomas Hobbes não possui opiniões de forma igualitária com
outros filósofos de grande renome como Platão, Rousseau, Locke ou Aristóteles,
30

visto que suas visões de Estado possuem base num governo absolutista, e outros
ressaltam a importância de um estado social e racional para proporcionar o bem
para todos.

4.3 Hobbes e o Estado Moderno atual

Diante do que foi dito até agora, percebemos os ideais que Hobbes
demonstrou durante sua trajetória de vida, não sendo apenas um dos criadores do
Estado Moderno, mas, opinando sobre o Contrato Social. Thomas Hobbes para
muitos foi fundamental para o vislumbre de uma sociedade governada por um
soberano, como veremos agora nesse capítulo.
O professor de filosofia Jan Naverson, a análise que Hobbes faz sobre o
Estado de Natureza acarretou em várias conclusões. Uma delas é que a
racionalidade prática, em geral, os homens tendem a buscar o melhor para a sua
vida sempre que possível, mas nos nossos pontos de vista nem sempre é a mesma
coisa, pois o melhor varia. Porém, mesmo variando, obviamente que sempre
almejamos evitar a morte. (2021, s.p.).
Outro ponto que Hobbes traz de importante é sua avaliação do homem, todos
somos iguais no sentido de vulnerabilidade. Ninguém pode pensar em superioridade
social por ser quem é. (NARVESON, 2021, s.p.).
De acordo com Narveson, Hobbes possui erros grotescos que muitos não
percebem ou deixam de analisar como deveriam. O governo que Thomas Hobbes
dizia ser impossível de se ter em consentimento geral, o significado que possui
consentimento é visto através de palavras, ora, se essas palavras não se
conectarem, o acordo para se criar um governo é praticamente impossível, ficando
assim, os homens presos num estado de natureza. (2021, s.p.)
Se Hobbes estivesse correto sobre sua visão de comando, todos os governos
que existiram, incluindo os piores como Stalin e Hitler seriam legítimos, pois, por
mais que tenham sido os piores e mais terríveis governos, seriam melhores do que o
Estado de Natureza que Hobbes pensava. (NAVERSON, 2021, s.p.).
Como um comparativo das visões até o momento, o estado moderno constitui
alguns pontos relevantes a serem destacados. Primeiro pela questão de inovar na
formação de um Parlamento e não um monarquismo com um poder que limita a
sociedade, visto que não existia uma liberdade como atualmente, os poderes eram
31

limitados com base nas questões religiosas e morais, em especial na era absolutista.
(RANIERI, p. 205).
Em seguida, como uma forma de planejamento político o Estado de Direito,
com ideias de a sociedade se sobrepor ao Estado e não ao contrário como
Antiguidade Clássica e na Idade Média. Num terceiro momento, pela ideia de perigo
do poder político e pela consciência do otimismo político, ou seja, a capacidade de o
direito dominar. (RANIERI, p. 206).
Ainda, em quarto lugar, seria afirmar que o estado de direito garantiu a
transformação nas relações existentes entre quem governa (governante) e quem é
“subordinado” (governado), passando a equilibrar as relações entre a sociedade e o
estado, tal como, tornar o súdito num soberano e vice-versa. (RANIERI, p. 206).
Nesse sentido, Ranieri destaca:

A obrigação política entre governantes e governados, a partir daí, passa a


equacionar-se pela atribuição prioritária de deveres para os governantes e,
inversamente, pelo reconhecimento de direitos ao indivíduo. Até então,
como se sabe, os indivíduos eram, sobretudo, sujeitos de deveres e
obrigações, quer em relação ao soberano, quer em relação à Igreja.
Doravante, o Estado passou a ter o dever de garantir, com o mínimo
possível de condicionamentos externos, os direitos inatos dos indivíduos. (p.
207).

Entretanto, mesmo que o Estado de Direito possua muitas modificações


modernas, existem ainda contrapontos com as eras arcaicas, como a questão da
limitação racional dos poderes comparada com a luta pelos direitos, bem como, na
constância de buscar estar efetivamente nas questões sociais. (RANIERI, p. 207).
O papel do Estado junto ao Direito seria, para Ranieri (2018), aplicar as
devidas punições, deste modo exerce o domínio existente na Constituição, este do
qual possui condições. Pode-se dizer que este seria o principal papel do Estado
juntamente com o Direito, de punir o que tiver de ser punido por desobediências às
regras estabelecidas pela Lei Maior, bem como, de exercer o processo de
racionalização e atingir a igualdade de direito a todos. (2018, p. 209).
Percebe-se que séculos após seus pensamentos serem publicados através
do livro Leviatã, Thomas Hobbes ainda influencia gerações, nos faz repensar sobre
a forma de governo da qual estamos vivenciando, nos remete a comparação de uma
monarquia e um estado democrático. Apesar de seus ideais serem brutos e
chocantes, diversos outros filósofos e pensadores se inspiraram nos seus
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pensamentos, sendo, portanto, admirado por quem acredita num estado baseado
num contrato social.

5 CONCLUSÃO

Após o estudo breve sobre a maneira que Hobbes apresenta seus


pensamentos sobre o homem e o estado de natureza, acrescentando ainda a sua
visão de um contrato social para a concretização de um governo baseado nesse
contrato dos homens com o Estado.
O estado de natureza por sua vez remete a ideia do homem poder todas as
coisas, utilizando-se de todos os meios para obter êxito em sua vida. Para alcançar
tais objetivos, o homem irá utilizar qualquer meio que julgue ser importante para
sobreviver, incluindo ter posse do que pertence aos outros indivíduos.
Na busca pela sua sobrevivência, sendo esta de qualquer maneira, surge à
desconfiança entre todos e a concorrência instigada, surgindo dessas reações o que
Thomas Hobbes chama da guerra de todos contra todos. Porém, para evitar que a
sociedade se corrompa e ocorra o caos generalizado, uma alternativa de apaziguar
os ânimos é proposta, surgindo assim, o chamado contrato social.
Na teoria hobbesiana, o contrato social é a maneira mais eficaz para
solucionar os conflitos existentes na sociedade, em especial, nos conflitos de
interesses pessoais e a intervenção de um governante. Como forma de
denominação, a formação de pessoas aglomeradas é um Estado, este do qual as
pessoas que nele habitam depositam sua confiança, seu poder e sua força. Quem
deter esse poder maior no Estado irá utilizá-lo de forma absoluta, bem como,
assegurar a paz e a defesa de todos. Esse ser considera-se o soberano.
Ainda, no que concerne o poder soberano, para que ocorra um benefício para
a sociedade e sua participação, Hobbes refere-se a uma criação de assembleia, a
liberdade dos que na sociedade vivem, ou melhor, dizendo, o súdito do qual existiria
uma ausência de imposição, pois, o homem é livre para realizar o que tiver vontade.
Entretanto, é importante diferenciar a existência de uma ordem e de uma
assembleia. A primeira nos remete a ideia de ser benefício a quem recebeu, já o
conselho nos remete ao benefício de outro. O conselho ainda, remete a ideia de
quem for pedir, não pode independentemente do que for, acusar ou punir quem for
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dar um conselho, pois estaria dessa forma permitindo que receba algum conselho
que acha ser melhor.
Outro ponto do qual foi discutido é as críticas referentes aos ideais que
Thomas Hobbes pregava, diante disso, casos que considera-se um absurdo no
século atual, se porventura ocorresse à aplicação de um Estado baseado no
contrato social de Hobbes. Ocorre que algumas situações fazem com que a
sociedade creia com maior convicção de estarem corretas, aproximando do que
seria uma atitude totalmente hobbesiana.
Diferentemente do que Hobbes retrata sobre o estado de natureza, outros
filósofos conceituados apresentam visões distintas, ao dizer que o homem é
corrompido pela sociedade em que vive, além, de a conceituação de governo ser
distinta do que Hobbes acredita ser absoluta, outros defendem a liberdade e a
igualdade para os cidadãos, uma sociedade de direitos efetivos.
O surgimento de um pacto social é a maneira mais efetiva de igualdade, em
especial, no que se refere a posse de uma propriedade, não necessitando de um
contrato social para exercer a efetiva propriedade, podendo ser feito por usucapião.
Outro ponto é o homem no estado de natureza poder tudo e realizar de qualquer
meio para obter êxito, sem um controle, em contrapartida, no Estado Civil o homem
fica limitado em fazer aquilo que deseja por ser algo proibido.
Ainda, no tocante as relações existentes numa sociedade, a questão de
justiça deve ser vista como algo importante e diferente do que estabelece um estado
de natureza. As relações devem ser de forma próxima e com intenções voltadas
para o senso de justiça, acrescentando ainda que obrigações devem ser realizadas
conforme a capacidade for conveniente.
Visto os principais pontos hobbesianos, bem como, as contradições de outros
filósofos, como encerramento, vislumbram-se sobre o Estado Moderno e sua
comparação com os ideais de um contrato social baseado no poder absolutista.
Como comparativo de visões, o estado moderno possui alguns posicionamentos que
devem ser ressaltados, um deles é a questão de formar um Parlamento, diferente do
absolutismo que é um estado monarquista, poder que limita a sociedade e foca nas
questões religiosas ou culturais.
O Estado de Direito é um ponto a ser levantado, visto que eleva a questão de
Estado, diferente do que foi estudado por demais autores. A questão de um estado
de direito ter sido desenvolvido ao longo dos séculos, resultou numa transformação
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de governo, visto que as relações existentes entre quem governa e quem é


governado tornou-se mais próxima, com relações equilibradas entre a sociedade e
um estado.
O papel de um estado de direito tornou-se como um exemplo de equidade,
justiça e participação mais efetiva dos que na sociedade vivem, compactuando o
que seria um estado civil e um estado de natureza, apenas, com o devido exercício
de uma democracia baseada nas leis existentes numa Constituição, juntamente com
o direito de punir, mas também de ser punido quando lhe for conveniente.
Diante disso, como forma de apaziguar as relações entre sociedade e estado,
é importante a existência de um estado do qual a sociedade possa participar,
evitando relações de um governo uno e absoluto do qual a concepção hobbesiana
propõe. O Estado e o Direito possuem como objetivo reiterar as vontades que no
estado de natureza o homem tem, mas estabelecendo limites baseados nas leis
civis e Constituições, preservando assim, a justiça e a paz da sociedade.
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REFERÊNCIAS

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2020. 9788597026740. Disponível em:
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Direito. [Digite o Local da Editora]: Editora Manole, 2018. 9788520455791.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520455791/.
Acesso em: 05 jul. 2022.

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WIKER, Benjamin Dez livros que estragaram o mundo – e outros cinco que não
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