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SOCIEDADE METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO, CULTURA E

TECNOLOGIA SÃO CARLOS


FACULDADE METROPOLITANA SÃO CARLOS - FAMESC
CURSO DE GRADUAÇÃO DIREITO

RODRIGO TATAGIBA SOUZA

NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE PÓS PANDEMIA DO COVID-19:


PENSAR OS OBSTÁCULOS DE EFETIVAÇÃO DA SAÚDE E A
ESCALADA DE MORTES NO CENÁRIO JURÍDICO-SOCIAL
BRASILEIRO

Bom Jesus do Itabapoana/RJ


2022
RODRIGO TATAGIBA SOUZA

NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE PÓS PANDEMIA DO COVID-19:


PENSAR OS OBSTÁCULOS DE EFETIVAÇÃO DA SAÚDE E A
ESCALADA DE MORTES NO CENÁRIO JURÍDICO-SOCIAL
BRASILEIRO

Monografia apresentada como parte


dos requisitos necessários para a
conclusão do Curso de Graduação em
Direito, sob orientação do Professor
Mestre Oswaldo Moreira Ferreira, da
Faculdade Metropolitana São Carlos –
FAMESC.

Bom Jesus do Itabapoana/RJ


2022/2º semestre
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca Marlene Henriques Alves – Famesc
24/2019
RODRIGO TATAGIBA SOUZA

NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE PÓS PANDEMIA DO COVID-19:


PENSAR OS OBSTÁCULOS DE EFETIVAÇÃO DA SAÚDE E A
ESCALADA DE MORTES NO CENÁRIO JURÍDICO-SOCIAL
BRASILEIRO

Monografia aprovada em ____/____/____ para obtenção do título de Bacharelado


em Graduação de Direito.

Monografia avaliada em ____/____/____


Formatação: ( ) ___________________
Nota final: ( ) _____________________

Comissão Examinadora

_______________________________________
Prof. Me. Oswaldo Moreira Ferreira
Orientador

_______________________________________
Prof. XXXXX
Avaliador de Metodologia

______________________________________
Prof. XXXXX
Avaliador de Conteúdo

Bom Jesus do Itabapoana/RJ, XX de dezembro de 2022.


DEDICATÓRIA

Dedico o presente à minha família, pela qual senão não teria chegado até
aqui, seja na minha vida pessoal, profissional ou acadêmica. Primeiramente a minha
recém-falecida bisavó Marieta Avelino, a mulher que se fez mãe, escudo, zelo e
ponte para todas as graças que recebi. A minha avó-mãe Sebastiana Fernandes,
que sempre me colocou em primeiro lugar, assim como faz com todos a quem ama,
para que eu chegasse blindado a este momento. Sebastiana é o meu escudo. E ao
meu tio de sangue, pai de alma, Sandrino Fernandes Tatagiba, por ter abdicado de
sua vida para guiar-me até aqui com todo o seu amor, paciência (nem sempre), e
zelo.
Também presentes e não menos importantes, dedico à minha namorada
Pândhia, por reconhecer a minha extrema capacidade, para o bem e para o mal,
respeitar isso e me fazer por natureza, uma pessoa boa e cada vez menos uma
pessoa ruim.
Dedico cada momento de esforço da confecção deste aos meus amigos
Luciana, Pedro, Gabriel, Lucas, João Paulo, Mairlon, Vitor, Tito, Ruan, Sergio,
Tharcilla, Aline, Maria Eduarda e Gustavo.
Ao tema deste, dedico a minha chefe e inspiração Andréia Pádua, a mulher
que, no momento deste, refina minhas habilidades, me valoriza pelo meu esforço,
corrige meus defeitos, me tornando assim, o profissional que desejo ser ao adquirir o
diploma da graduação neste curso.
Ao desafio, dedico à todas as pessoas que tentaram me diminuir, derrubar e
desvalorizar, pois graças a esses, me torno cada vez mais forte e batalhador.
Finalizando, dedico todo o processo de evolução nesta graduação a Deus,
por ter me permitido chegar até aqui, por ter me ensinado através dos acertos e
especialmente pelos erros, que me moldaram e me tornaram quem sou no dia de
hoje.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, XXXXX
EPÍGRAFE (PODE MUDAR)

"É muito melhor lançar-se em busca de conquistas


grandiosas, mesmo expondo-se ao fracasso, do que
alinhar-se com os pobres de espírito, que nem gozam
muito nem sofrem muito, porque vivem numa
penumbra cinzenta, onde não conhecem nem vitória,
nem derrota”. (Theodore Roosevelt)
SOUZA, Rodrigo Tatagiba. Necropolítica em tempos de pós pandemia do covid-
19: pensar os obstáculos de efetivação da saúde e a escalada de mortes no
cenário jurídico-social brasileiro. Trabalho de Conclusão de Curso. Bacharelado
em Direito. Faculdade Metropolitana São Carlos - FAMESC, 2022.

RESUMO

Resumo redigido em até 250 palavras. Deve-se observar: objetivo, justificativa,


etapas da pesquisa, metodologia, conclusão.

Palavras-Chaves: de 3 a 5 palavras ou expressões (expressões devem conter até


três palavras) separadas por ponto e vírgula.
SOUZA, Rodrigo Tatagiba. Necropolitics in post-covid-19 pandemic times:
thinking about the obstacles to health effectiveness and the escalation of
deaths in the Brazilian legal-social scenario. Completion of course work.
Bachelor's degree in law. São Carlos Metropolitan College - FAMESC, 2022.

ABSTRACT

Keywords:
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

art. - Artigo
CF - Constituição Federal
CC- Código Civil
n. - número
p. - Página
REsp - Recurso Especial
STF - Supremo Tribunal Federal
STJ - Superior Tribunal de Justiça
TJRS - Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
TJSP - Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
TJMS- Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul
SUMÁRIO

Resumo
Abstract
Lista de Abreviaturas
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1. O ESTADO EM UMA PERSPECTIVA
EVOLUCIONAL........................................XX
1.1 O ESTADO DE
DIREITO......................................................................................XX
1.2 O ESTADO SOCIAL DE
DIREITO........................................................................XX
1.3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE
DIREITO..........................................................XX
2 A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NO BRASIL: PENSAR O “NOVO
NORMAL”.................................................................................................................XX
2.1 A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NO CONTEXTO
MUNDIAL.........................XX
2.2 A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS EM TERRAS
BRASILEIRAS.......................XX
2.3 O NOVO NORMAL BRASILEIRO: PENSAR O PAPEL DO ESTADO
ENQUANTO AGENTE ASSEGURADOR DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS...........XX
3 NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA? PENSAR A OMISSÃO DO
ESTADO COMO POLÍTICA
INSTITUCIONAL..........................................................XX
3.1 O VOCÁBULO “NECROPOLÍTICA” EM DELIMITAÇÃO: UMA ANÁLISE DA
TEORIA DE ACHILLE MBEMBE...............................................................................XX
3.2 OS INDESEJÁVEIS BRASILEIROS: A VULNERABILIDADE SOCIAL E AS
PRÁTICAS DE (DES)PROTEÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO NO CONTEXTO DA
PANDEMIA................................................................................................................XX
3.3 E O NOVO NORMAL? MORTE, POBREZA E VULNERABILIDADE AGRAVADA
COMO CONSEQUÊNCIA DO PÓS-PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS.....................XX
CONCLUSÃO............................................................................................................XX
REFERÊNCIAS.........................................................................................................XX
10

INTRODUÇÃO

x
11

1. O ESTADO EM UMA PERSPECTIVA EVOLUCIONAL

(INSERIR AS REFERÊNCIAS QUE FORAM UTILIZADOS NOS


PARÁGRAFOS ABAIXO. ISSO SERÁ QUESTIONADO)
Para todos os efeitos, um Estado corresponde ao conjunto de instituições no
campo político e administrativo que organiza o espaço de um povo ou nação. Para o
Estado existir, é necessário que ele possua o seu próprio território e que exerça
sobre este a sua cidadania, exercendo a autoridade máxima a ele competente.
É fato irrefutável que o ser humano, desde sua origem, independentemente
de sua vontade, foi controlado por normas que já se encontravam estabelecidas em
seu meio social. E através destas que os grupamentos humanos coagem seus
membros a terem um determinado comportamento. Identificadas como padrão de
conduta, destinam-se a exercer o controle sobre todos, a partir de ideias que
estabelecem proibição ou punição.
O Estado de Direito sempre se pautou na evolução das relações humanas.
Trazendo para o presente esta afirmação, abordar e conceituar o Estado exige um
estudo desde a sua concepção até a sua atual característica, visto que o objeto
mostrou-se mutável no discurso da história. Diversos são os produtos dessa
perspectiva evolucional: avanço tecnológico, industrialização, relações de comércio
e até a amenização de relações interpessoais, caracterizam o contexto contínuo em
que o Estado se edifica.
A dignidade humana, como o primado ou alicerce que vincula a realização
das tarefas estatais, adquiriu e ainda adquire um significado diferenciado quando
aplicado no contexto de uma sociedade plural e axiologicamente complexa, cuja
ordem se encontra permanentemente aberta para resguardar, em sua esfera
protetiva, a natureza de per si. Em comum, a banalização dos problemas sociais
desacelera o que se chama de evolução no que se entende por democracia, e até
ameaça o conceito de dignidade. Contudo, esse nem sempre foi o foco do Estado.
Com essa carga opressora, a história do Estado de Direito, seguindo a linha
estreita do Estado de Direito, conectou-se e conecta-se com a resistência dos povos
contra a opressão. Ao olhar pro futuro, torna-se possível um diálogo entre o
processo aquisitivo de direitos e as mudanças ocorridas na sociedade e, por
consequência, normativamente. Assim, versar sobre o Estado de Direito pressupõe
12

a análise crítica de todo o seu arcabouço teórico a fim de que se possa repensar o
direito frente aos desafios para a construção de novos paradigmas que satisfaçam
não apenas o ordenamento jurídico, mas a própria sociedade.
O Estado de Direito surgiu nos séculos XVII e XVIII no âmbito das revoluções
que provocaram mudanças na organização política das sociedades inglesa e
francesa ao acabar com o absolutismo (forma de governo autoritária baseada na
imposição da lei por um governante absoluto) e implantar o parlamentarismo
(sistema de governo composto por um corpo parlamentar – deputados, senadores e
Poder Legislativo em geral – que está submetido a um sistema de leis, a
Constituição, e que deve governar a partir do cumprimento dessas leis).
O Estado Democrático de Direito, apesar de parecer ser um simples Estado
de Direito entoado por governos democráticos, onde há apenas a participação
popular na escolha dos governantes, não se resume apenas a esse conceito. A
democracia na escolha dos participantes é fundamental, mas deve haver também
uma série de garantias de direitos fundamentais para que haja, de fato, liberdade e
igualdade entre as pessoas, como será demonstrado no presente dispositivo.

1.1 O ESTADO DE DIREITO

Primariamente, traz à tona Kalil (2017, p. 3) à dignidade humana como o


primado ou alicerce que vincula a realização das tarefas estatais, adquire um
significado diferenciado quando contextualizada numa sociedade plural e
axiologicamente complexa, cuja ordem se encontra permanentemente aberta para
resguardar, em sua esfera protetiva, a natureza de per si.
O tema “Estado de Direito” ganhou relevância nas últimas duas décadas
graças à polêmica que lhe confere. Compreender esse conceito inicialmente resulta,
em individualizá-lo de forma simples e antagônica. Para Canotilho (1999 apud
OLIVEIRA et al., 2015, p. 6), o Estado de Direito é definido como um Estado ou uma
forma de organização político-estadual cuja atividade, é, tanto determinada, quanto
limitada pelo direito, ao passo que o “Estado de não Direito” representa aquele em
que o poder político se proclama desvinculado de arestas jurídicas e não reconhece
aos indivíduos uma esfera de liberdade ante o poder estatal protegida pelo direito.
Finaliza esse antônimo afirmando que o “Estado de não Direito” fundamenta-se em
13

três pilares: decretação de leis arbitrárias, cruéis e desumanas; predominância de


injustiças e desigualdades na aplicação do direito; e identificação do direito com a
razão do Estado através da imposição pelos chefes do governo.

A ideia de Estado de Direito, que tem origem na Idade Média, como


forma de contenção do poder absoluto, ressurgiu nas últimas
décadas como um ideal extremamente poderoso para todos aqueles
que lutam contra o autoritarismo e o totalitarismo, transformando-se
num dos principais pilares do regime democrático. Para os
defensores de direitos humanos, o Estado de Direito é visto como
uma ferramenta indispensável para evitar a discriminação e o uso
arbitrário da força. Ao mesmo tempo, a ideia de Estado de Direito, ao
ser renovada por libertários como Hayek em meados do século XX,
passou a receber forte apoio das agências financeiras internacionais
e instituições de auxílio ao desenvolvimento jurídico, como um pré-
requisito essencial para o estabelecimento de economias de
mercado eficientes. (VIEIRA, 2017, s.p.)

Acresce Oliveira et al. (2015, p. 7) que a fórmula do Estado de Direito é


prestigiada por um longo passado histórico. Sua origem remonta à previsão, na
Antiguidade grega, de uma forma de governo através de leis, o ideal do domínio da
lei ante o capricho despótico. Dessa forma, frente ao Estado-poder simbolizado por
Esparta, a democracia ateniense representou, em certo sentido, o despontar do
modelo de Estado de Direito.
De acordo com Vasconcelos (2013, p. 2), a expressão “Estado de Direito”
nasceu nos fins do século XX, sendo considerada uma das formas mais felizes da
filosofia política e da filosofia jurídica ocidentais, que une noção de “Estado de
Direito” no Ocidente, que está em estreita ligação com a doutrina dos direitos
subjetivos ou direitos fundamentais, como uma teoria político-jurídica que põe em
primeiro lugar a tutela dos “direitos do homem”.
Vieira (2017, s.p.) descreve o conceito clássico de Estado de Direito como
“uma submissão a uma severa reavaliação nas primeiras décadas do último século”.
Também Max Weber, em Economia y Sociedad, demonstrou a mesma preocupação
acerca do processo de desformalização do Direito como consequência das
transformações na esfera pública. Como pode-se observar, os anos conseguintes
foram aos trabalhos de Weber se marcaram exatamente por uma tensa luta política
e intelectual sobre do desafio do Estado de se adequar aos novos desafios
apresentados pela Constituição socialdemocrata de Weimar. Para este, essa luta
14

encontra reconhecimento também no debate entre conservadores como Carl Schmitt


e socialdemocratas, representados por Franz Neumann.

Para Hayek, a intervenção estatal na economia e o crescente poder


discricionário dos burocratas de estabelecer e buscar a realização de
objetivos sociais ameaça a eficiência econômica; como
consequência das transformações nas funções do Estado, houve um
processo de declínio da condição do Direito como instrumento
substantivo na proteção da liberdade. A noção de que o Estado não
tem apenas a obrigação de tratar os cidadãos de maneira igual
perante a lei, mas também o dever de assegurar a justiça
substantiva, foi acompanhada pelo argumento, proposto por novos
teóricos do direito, de que o conceito tradicional de Estado de Direito
se tornou incompatível com o mundo moderno. Diferentes teorias
jurídicas, como o positivismo, o realismo jurídico ou a jurisprudência
de interesses construíram uma versão formal do Direito, liberando o
Estado das inerentes limitações impostas por uma concepção
substantiva. (VIEIRA, 2017, s.p.)

Assim, aponta Oliveira et al. (2015, p. 7) que o termo Estado de Direito se


consolidou na Europa ao longo do século XIX com a adoção do modelo universal
esculpido pela Revolução Francesa: separação de Poderes e proteção dos direitos
individuais. Todavia, o termo se maturou com o advento do Constitucionalismo, o
qual, sob a ótica formal, corresponde à presença de um estatuto jurídico dominante.
Logo, o gradual domínio do direito escrito, como forma do direito objetivo, marca
definitivamente a intenção da implantação do verdadeiro legalismo. Ou seja, falar em
“Estado de Direito” significa querer que as instituições políticas e os aparelhos
jurídicos tenham por finalidade precípua a garantia dos direitos subjetivos com base
na legalidade das normas.
Auxilia Vasconcelos (2013, p. 2), que o “Estado de Direito” foi entendido como
um Estado moderno no qual ao ordenamento jurídico era atribuída a tarefa de
“garantir” os direitos individuais, refreando a natural tendência do poder político de
expandir-se e de operar de maneira arbitrária. Isso remete a tese clássica do
liberalismo europeu, o qual afirma que todo poder é funcionalmente necessário e
socialmente perigoso. Essa tese reforça o fato de que o poder, dentro das suas
modalidades repressivas é indispensável para garantir a ordem, a coesão e a
estabilidade do grupo político. Assim, o perigo do exercício do poder para as
liberdades individuais reside na sua propensão ao autoritarismo e a todo tipo de
arbitrariedade.
15

Em continuidade histórica, relembra Oliveira (2015, p. 7) a partir dos séculos


XVI e XVII, o perfil do Estado de Direito começa a se enrijecer devido à resistência
política de alguns grupos minoritários na Europa a favor de teorizações pré-liberais.
Já no mundo burguês e mercantilista emergente, o juspositivismo se tornou a marca
do direito, de modo que a alusão a um direito natural acabou adquirindo um sentido
desviado e crítico; e, no entanto, começou-se a almejar que o Estado, que faz e
desfaz o direito, esteja necessariamente por ele limitado.
Mesmo que ouse a história deste a se tornar uma figura controversa, emana
Vasconcelos (2013, p. 3) que a evolução do Estado de Direito nas sociedades
ocidentais ocorreu de maneiras distintas. No sistema do common law, adotado tanto
pela Inglaterra, quanto pelos Estados Unidos, a defesa dos direitos e liberdades
fundamentais é feita de forma diferente. Na Inglaterra, não existe uma Constituição
escrita, e os direitos subjetivos estão presentes nos precedentes judiciais, nas
convenções sociais, nos costumes, tradições e práticas sociais milenares – todos
assegurados pelas cortes ordinárias da common law.
Assim, adiciona Canotilho (1997, p. 4), que assim edificado, o princípio básico
do Estado de direito é o da eliminação do arbítrio no exercício dos poderes públicos
com a consequente garantia de direitos dos indivíduos perante esses poderes. No
entanto, antes da afirmação deste princípio básico coloca-se sempre a marca da
fundação. A história da fundação das comunidades humanas organizadas é muitas
vezes uma história trágica assente num código binário de contradições, antinomias e
exclusões: cidadão/estrangeiro, fé/heresia, temporal/espiritual, amigo/inimigo,
público/privado, vontade geral/interesses particulares, inclusão/exclusão, direito/não
direito.

O conceito clássico de Estado de Direito foi submetido a uma severa


reavaliação nas primeiras décadas do último século. Pensadores
como Max Weber em Economia y Sociedad, alertaram-nos acerca do
processo de desformalização do Direito como consequência das
transformações na esfera pública. Os anos que se seguiram após os
trabalhos de Weber foram marcados por uma tensa luta política e
intelectual sobre a capacidade do Rechtsstaat de se adequar aos
novos desafios apresentados pela Constituição socialdemocrata de
Weimar. Essa luta pode ser vista no debate entre conservadores
como Carl Schmitt e socialdemocratas representados por Franz
Neumann. Hayek responde a essas perspectivas céticas sobre o
Estado de Direito em seu influente O Caminho da Servidão, de 1944.
(VIEIRA, 2017, s.p.)
16

Com o aparecimento do Estado dito moderno, marcado pela presença do


poder soberano, é possível estabelecer uma classificação para demonstrar a
evolução do Estado, conforme será exposto no teor do presente.

1.2 O ESTADO SOCIAL DE DIREITO

Sarlet (1999) afirmou, mais do que nunca, constata-se que a problemática da


sobrevivência do assim denominado Estado Social de Direito constitui um dos temas
centrais da época moderna. A já corriqueira afirmativa de que o Welfare-State (ou
Estado-Providência) se encontra gravemente enfermo, além de constantemente
submetido à prova, não perdeu, portanto, sua atualidade.
Sabe-se que sua gênese se deu em meados do século XIX, onde começaram
as reações contra o Estado Liberal, por suas consequências funestas no âmbito
econômico e social; as grandes empresas tinham se transformado em grandes
monopólios e aniquilado as de pequeno porte (DI PIETRO, 2019, online). Tal
movimento gerou o chamado proletariado, que vivia em condições análogas às de
indigência, desamparo e enfermidade, o que levava realçar o não intervencionismo
propagado pelo liberalismo.
Desta forma, a ordem liberal obteve crescimento de modo significativo, vez
que se tornaram intensas as desigualdades sócio-econômico-culturais. As críticas ao
liberalismo consistiam no fato de que a livre iniciativa adotada até então havia
refletido em uma concentração de renda e riqueza por uma pequena parcela da
sociedade, qual seja, pela classe burguesa (PESSOA; POMPEU, 2012, p. 04 apud
PARRINE, 2021, p. 30). Assim, as principais críticas ao liberalismo se centravam na
percepção de que ele acabava por garantir à burguesia um domínio quase total dos
bens de produção e das riquezas em geral, ao mesmo tempo em que deixava o
proletariado com o mínimo necessário para uma magra subsistência (LASKI, 1973,
p. 172 apud PARRINE, 2021, p. 30).
Na acepção do renomado filósofo Norberto Bobbio (2005, p. 08), apud Silva
(2011, p. 121), entende-se por “liberalismo” uma determinada concepção de Estado,
na qual o este tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao
Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social. De tal forma,
17

complementa Silva (2011, p. 123) em sua obra intitulada “Os fundamentos do


liberalismo clássico”:

O liberalismo parte de definições – de homem, sociedade e direitos


individuais –, puramente gnosiológicas. No caso do progenitor do
liberalismo político – o nominalista John Locke –, o homem emerge
de uma concepção atomista psicológico-empírica de indivíduo,
através da qual se afirma que as essências são todas de natureza
nominal (LOCKE, 1999). Esse fundamento epistêmico implica afirmar
que as idéias são categorias cognitivas de caráter absolutamente
privado-psíquicas. (SILVA, 2011, p. 123)

Transcorrido o conceito e pilares do liberalismo, dá-se margem a atingir o


tópico central: o Estado Social de Direito, que é decorrente desta doutrina
econômica, haja vista a grande demanda por dignidade e bem estar social. Neste
momento, alavanca-se a luta dos trabalhadores a fim da conquista dos direitos
sociais, também chamados de segunda geração os quais estão relacionados à
dignidade mínima de vida, ou seja, ao bem estar, educação, saúde, alimentação e
transporte. À vista disso, o Estado de Direito Social é o resultado de uma longa
transformação por que passou o Estado Liberal clássico e, consequentemente, é
parte do curso histórico Estado de Direito, quando incorpora os direitos sociais para
além dos direitos civis (MARTINEZ, 2004, online).

Consolida-se, após a Segunda Guerra Mundial, o Estado Social,


também chamado Estado do Bem-Estar, Estado Providência, Estado
do Desenvolvimento, Estado Social de Direito. Não mais se
pressupõe a igualdade entre os homens, conforme se afirmava no
período anterior, quando a Declaração de Direitos do Homem e do
Cidadão, de 1789, afirmava, logo no art. 1º, que “os homens nascem
e são livres e iguais em direitos”; a aplicação dessa norma produzira
profundas desigualdades sociais. Atribui-se então ao Estado, em sua
nova concepção, a missão de buscar essa igualdade; para atingir
essa finalidade, o Estado deve intervir na ordem econômica e social
para ajudar os menos favorecidos; a preocupação maior desloca-se
da liberdade para a igualdade. (DI PIETRO, 2019, online)

Ainda neste sentido, Paulo Bonavides (2007, p. 124) complementa:

A falta de legislação que protegesse o trabalhador contra más


condições de trabalho ou mesmo garantisse salário digno, conjugada
à delimitação da ação do Estado Liberal a um campo restrito, fez
com que surgissem massas inteiras 31 desatendidas em suas
necessidades materiais. Tal fato levou à reivindicação do direito de
igualdade, levantado apenas formalmente pelo ideal liberal, e à
18

exigência de que o Estado realizasse algumas prestações a fim de


promover a igualdade social (BONAVIDES, 2007, p. 124).

Já não se fala mais em interesse público apenas, mas em vários interesses


públicos, representativos dos vários setores da sociedade civil. Este fato teve lugar
em todos os países, embora com consequências um pouco diversas (DI PIETRO,
2019, online). Destarte, teve como resultado direto a produção de três documentos
diferenciados, mas complementares e de grande consonância, sendo eles: a
Constituição de Weimar de 1919, a Constituição Mexicana de 1917 e a Declaração
dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, na Rússia revolucionária (socialista),
de 1918 (MARTINEZ, 2004, online).
Por consequência, definem-se, constitucionalmente, os direitos sociais e
trabalhistas como direitos fundamentais da pessoa humana, sob a proteção do
Estado (MARTINEZ, 2004, online). Historicamente determinado pelo fim da Segunda
Guerra Mundial, o paradigma constitucional do Estado Social de Direito veio superar
o neutralismo e o formalismo do Estado Liberal (MORAES, 2014, p. 275). Desta
forma, foi vislumbrada uma moderna fase do constitucionalismo, que tinha como
escopo a criação de uma sociedade mais igualitária, sendo formadas leis que
demonstrassem reais intervenções para a mudança concreta da situação
populacional.
De início, no direito privado foram aumentadas as normas de ordem pública,
ampliando-se os cenários de limitação à autonomia da vontade das partes em prol
dos interesses da coletividade. No âmbito do direito trabalhista, objetivando a
proteção do trabalhador em face de seu empregador, a norma jurídica trabalhista se
desmembrou do direito civil (PESSOA; POMPEU, 2012, p. 06). Portanto, o advento
da segunda geração de direitos fundamentais positivados nas Constituições atribuiu
aos Estados a responsabilidade pelo cumprimento de prestações positivas,
asseguradas mediante a prática de políticas públicas interventivas (PESSOA;
POMPEU, 2012, p. 06).
Com efeito, ao Poder Executivo foram conferidos novos mecanismos jurídicos
e legislativos, de intervenção direta e imediata na economia e na sociedade civil, em
prol do interesse coletivo, nacional, público ou social. O Legislativo, por sua vez,
além de sua função típica, atribuiu-se o exercício de funções de fiscalização das
19

atividades estatais (MAULAZ, 2010, p. 01). Sob essa visão, Streck e Morais
denotam o aspecto deste tipo de Estado de Direito:

A- Separação entre Estado e Sociedade Civil mediada pelo Direito,


este visto como ideal de justiça; B- Garantia das liberdades
individuais; os direitos do homem aparecendo como mediadores das
relações entre os indivíduos e o Estado; C- A democracia surge
vinculada ao ideário da soberania da nação produzido pela
Revolução Francesa, implicando a aceitação da origem consensual
do Estado, o que aponta para a ideia de representação, [...] bem
como pela imposição de um controle hierárquico da produção
legislativa através do controle de constitucionalidade; D- O Estado
tem um papel reduzido, apresentando-se como Estado Mínimo,
assegurando, assim, a liberdade de atuação dos indivíduos
(STRECK; MORAIS, 2014, p. 61).

Com o advento do Estado Democrático de Direito, a tutela jurisdicional e o


processo sofrem novas alterações em seus princípios e fundamentos. Isto porque o
processo, juntamente com o Poder Judiciário, passou a ser instrumento de
concretização da democracia e dos direitos fundamentais não efetivados pelo
Estado. Se encerra então, a transição entre o Estado Social e o início da tutela do
cidadão pelos seus direitos. Agora, cabe ao cidadão pressionar ao Estado e as
instituições que cumpram seus interesses e direitos, tornando legítimo o Judiciário a
concretizar a tutela dos direitos fundamentais, como executar ou formular políticas
públicas, garantidas na Constituição vigente.

1.3 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

De acordo com Verdu (2007 apud MOTA, 2012, p. 3), a concepção do Estado
de Direito em sua acepção clássica era caracterizada pelo seguinte idealismo: todo
o âmbito estatal seria presidido por normas jurídicas, o poder estatal e a atividade
por ele desenvolvida se ajustariam ao que determinam as prescrições legais. Assim,
se concebia o Estado.
Daí elenca Ranieri (2009, p. 192) acerca dos processos de democratização,
que sucedem constituem processos progressivos de ampliação da competição e da
participação políticas. Ou seja, uma gama processos nos quais a contestação
pública possa livremente se manifestar, para o que são indispensáveis determinadas
20

condições institucionais, tais como o pluralismo, o multipartidarismo e garantias


efetivas para os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. Essa seria a
característica mais concreta do Estado Democrático de Direito.

Como um direito e garantia individual, a dignidade da pessoa


humana, pela sua importância, não poderia deixar de fazer parte do
primeiro artigo da Constituição Federal promulgada em 1988,
levando-se a conclusão de que as pessoas não existem em função
do Estado, mas este, em função daquelas, sendo efetivamente um
fundamento do Estado Democrático de Direito, a dignidade da
pessoa humana ganha destaque iluminando todos os outros
princípios fundamentais e normas do ordenamento jurídico vigente,
obtendo valores e significados da maior amplitude para a vida digna
do cidadão. (PAIANO e FURLAN, 2008, p. 6)

Na concepção dessa “nova” democracia, Paiano e Furlan (2008, p. 5)


explanam que a Constituição Federal de 1988 absorveu na íntegra em suas
cláusulas pétreas os direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos do
Homem, estando efetivamente consagrados e positivados no atual ordenamento
jurídico, é óbvio que, em razão de falta de algumas leis complementares, ou até
mesmo por falta de iniciativa ou vontade política, alguns desses direitos efetivados
não possuem eficácia plena, estando somente consagrados, mas ainda não
regulamentados.
Ainda, complementa Silva (1988, p. 7) que a peça chave da configuração do
Estado democrático de Direito não significa apenas unir formalmente os conceitos
de Estado democrático e Estado de Direito. Consiste, na verdade, na criação de um
conceito novo, que leve em conta oS conceitos dos elementos componentes, mas os
supere na medida em que incorpora um componente revolucionário de
transformação do status quo. E aí se entremostra a extrema importância do art. 1º
da Constituição de 1988, quando afirma que a República Federativa do Brasil se
constitui em Estado democrático de Direito, não como mera promessa de organizar
tal Estado, pois a Constituição aí já o está proclamando e fundando.
Ou seja, acresce Mota (2012, p. 5) que os indivíduos até então coisificados,
agora se deparavam com a elevação de sua dignidade pessoal ao nível de sujeitos
de direitos, sobretudo, com a escritura de contratos de compra e venda de sua força
de trabalho. Assim, centralizaram-se a vida, a liberdade e a propriedade como
valores máximos. Contudo, no âmbito da esfera pública, tornaram-se
convencionados os direitos perante o Estado e à comunidade estatal.
21

A democracia nas complexas sociedades de massa contemporâneas


exige cidadãos ativos, capazes de formular e expressar suas
preferências a seus concidadãos, governantes e representantes.
Exige, também, que os cidadãos tenham as suas preferências
consideradas por seus representantes e governantes na
determinação de políticas públicas e ações governamentais, sem
discriminação de conteúdo ou fonte da preferência. Um regime
democrático, portanto, é aquele que tem capacidade de responder e
de ser responsável pelas preferências de seus cidadãos, todos, sem
exceção, considerados politicamente iguais. (RANIERI, 2009, p. 191)

Em tom comparativo, Mota (2012, p. 8) pontua que era característica do


Estado Social de Direito almejar pelo equilíbrio das relações econômicas e sociais,
pois já estava ultrapassado o idealismo da simples normatização de leis, algo que
garantia a efetividade dos direitos fundamentais de liberdade, igualdade e
propriedade. Sob o paradigma social, o Estado encarrega-se por edificar os direitos
individuais, considerados fundamentais, consagrados pelas Declarações e
Constituições.
Assim, Alsemini e Santos trazem (2019, p. 13), que a fim de concretizar a
democracia, encontra-se os princípios do contraditório, publicidade e
fundamentação, além de um sistema policêntrico e vinculado a uma efetiva
participação dos sujeitos processuais. Entretanto, antes de adentrarmos no sistema
processual democrático, necessário analisar a democracia representativa e
participativa, para evidenciar que a representatividade já não é mais o único meio
capaz de realizar a democracia, para uma sociedade justa e solidária.

No paradigma do Estado Social de Direito o Estado amplia suas


funções, vez que intervém nas esferas privadas para garantir a
efetividade dos direitos sociais. Tem-se, portanto, uma ideia de tutela
do Estado ao cidadão, pois este agora se torna presente em todos os
setores da vida humana, transformando-se no centro da vida política,
jurídica, social e econômica. (ALSEMINI E SANTOS, p. 10, 2019)

Dessa forma, conclui Silva (1988, p. 8) que o Estado democrático de Direito


aparece como a fórmula institucional em que atualmente, e sobretudo para um futuro
próximo, pode vir a concretizar-se o processo de convergência em que podem ir
concorrendo as concepções atuais da democracia e do socialismo. A passagem do
neocapitalismo ao socialismo nos países de democracia liberal e, paralelamente, o
crescente processo de despersonalização e institucionalização jurídica do poder nos
22

países de democracia popular constituem em síntese a dupla ação para esse


processo de convergência em que aparece o Estado democrático de Direito.

2 A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NO BRASIL: PENSAR O “NOVO


NORMAL”

A evolução humana no planeta Terra tem sido marcada por diferentes ondas
com impacto revolucionário diferenciado positivo ou negativo no seu
desenvolvimento. De um lado, ondas positivas, de desenvolvimento evolutivo, são
identificadas pela expansão populacional da humanidade em diversos momentos da
história. De outro lado, as ondas negativas, de desenvolvimento involutivo, são
marcadas por momentos de forte contração na dinâmica biogeográfica humana.
Existem vários registros, desde a Antiguidade, que versam sobre a existência
de pandemias, através das alusões das sociedades antigas a doenças, surtos e
pestilências que constituíram uma memória do impacto das epidemias na essência
dessas sociedades. Contemporaneamente, Cleide Lima, do Departamento de
História da Universidade Estadual da Bahia, relaciona a agricultura e a
domesticação de animais, que por um lado salvaram a humanidade da fome, mas
infelizmente aproximou-a de doenças infecciosas. Essa relação, segundo a
professora, fez com que os agentes patológicos que antes eram exclusivos dos
animais, passaram-se para outras espécies e infelizmente tornaram-se doenças
humanas.
A história inicia-se em dezembro de 2019. Segundo dados da Organização
Pan-Americana de Saúde (2020, s.p.), no dia 31 do mesmo mês, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) recebeu um alerta sobre um número extenso de pessoas
com pneumonia no município de Whuan, na China. No dia 07 de janeiro, a
comunidade chinesa confirmou ter identificado um novo tipo de coronavírus jamais
identificado em seres humanos. Já no dia 30 de janeiro, menos exatamente um mês
depois do alerta, a OMS declarou que o surto desse coronavírus constituía uma
Emergência de Saúde Pública Internacional (ESPII), que representa o mais alto nível
de alerta da Organização, conforme prevê o Regulamento Sanitário Internacional.
23

Relata Marques et al. (s.d., p. 1) dia 03 de fevereiro de 2020, a humanidade


ficou assombrada ao receber a notícia da inauguração de um hospital construído em
Whuan para tratar esses casos, que até o momento já haviam infectado 17 mil
pessoas, com um número espantoso de 360 mortes. Desde então, a OMS trabalhou
com autoridades de todo o mundo para aprender mais sobre o vírus, como ele afeta
O coronavírus já é um vírus conhecido, eles estão espalhados por toda parte,
sendo responsáveis por resfriados, síndromes respiratórias e raramente causavam
doenças mais graves em humanos que um resfriado comum. De acordo com a
Organização Pan-Americana de Saúde (2020, s.p.), sete coronavírus humanos
(recebem a sigla HCoVs) já foram identificados: HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-
NL63, HCoV-HKU1, SARS-COV (que causa síndrome respiratória aguda grave),
MERS-COV (que causa síndrome respiratória do Oriente Médio) e o, mais recente,
novo coronavírus (que no início foi temporariamente nomeado 2019-nCoV e, em 11
de fevereiro de 2020, recebeu o nome de SARS-CoV-2), sendo comumente
conhecido como COVID-19.
Assim, o caráter superlativo dos números que se aumentavam cada vez mais,
e o regime de exceção que parecia conformar o cotidiano humano nesse período de
COVID-19 são características denominados pelo campo da saúde pública como uma
experiência pandêmica. E é sobre esse tipo de experiência em perspectiva histórica
que o seguinte texto se debruça. Almeja-se compreender quais são foram seus
impactos na vida social, econômica e sanitária, conectando a pesquisa como um
todo.

2.1 A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NO CONTEXTO MUNDIAL

Referenciando o papel das pandemias na história humana, Senhoras (2020,


p. 3) aponta a possibilidade de identificar um componente negativamente inflexível
na dinâmica demográfica a partir de uma clara periodização de eventos com amplas
repercussões epidemiológicas transfronteiriças que remonta os primórdios dos
primeiros grupos humanos e que vem até os dias atuais e com correspondente
construção de agendas políticas de securitização da saúde.
De acordo com Souza (2020, p. 2), a Organização Mundial de Saúde (OMS)1
recebeu a notificação, em 31 de dezembro de 2019, de casos de pneumonia na
24

cidade de Wuhan, na China, com suspeita de serem provocados por uma nova cepa
de Coronavírus. Uma semana depois, as autoridades chinesas confirmaram se tratar
de um novo tipo do vírus, recebendo o nome de SARS-CoV-2. No início do ano de
2020, o mundo se viu em uma situação alarmante e desafiadora, onde a então
epidemia do coronavírus na China tomou proporção a nível global, tornando-se uma
pandemia.

Em primeiro lugar, temos que ponderar que o número de casos de


infecções começa a crescer de maneira exponencial após a fase de
“importação” do vírus (através dos territórios-rede), quando a
contaminação se torna comunitária (entre territórios-zonas). (MONIÉ,
2020, p. 3)

De acordo com Cadó e Borsari (2020, p. 1), o vírus avançou em para mais de
100 países, infectando de forma avassaladora mais de um milhão de pessoas e
levando dezenas de milhares à morte. A chegada do vírus na Europa e,
posteriormente, no continente americano, foi uma dura uma realidade enfrentada,
proporcionando um desconfortável estado de alerta, consequentemente adotando
medidas drásticas tanto no que se refere ao controle do contágio epidemiológico
quanto aos desdobramentos econômicos e sociais ocasionados pela doença.
Monié (2020, p. 2) explana que, no dia 13 de abril de 2020, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) havia informado que 1.739.007 pessoas de 213 países já
tinham sido contaminadas pelo Coronavírus e que a COVID-19 já vitimou 108.432
doentes O Coronavírus 2019-nCOV é o agente da doença infecciosa respiratória
Covid-19 (CoronaVIrus Disease-19) que se difundiu pelo mundo a partir de Wuhan
(China), onde uma pneumonia atípica foi notificada no final de dezembro de 2019.

A rápida construção desta agenda de securitização do novo


coronavírus por parte da OMS não acontece por acaso, mas antes
reflete a gravidade desta epidemia em estágio inicial de difusão
internacional e o expertise institucional prévio na contenção de outras
epidemias, quando também declarou previamente emergência de
saúde pública de interesse global nos casos do Ebola (2018e 2016),
zika vírus (2016), poliomielite (2014) e gripe suína, H1N1(2009).
(OLIVEIRA, 2020 apud SENHORAS, 2020, p. 4)

O Brasil, inclusive, foi criticado pela comunidade internacional. Como apontam


Cadó e Borsari (2020, p. 1), a atuação do governo brasileiro tem se mostrado
insuficiente sob a perspectiva internacional, visto que, para enfrentar de forma
25

razoável o avanço da epidemia e as consequências socioeconômicas no país, foi


adotado um discurso dúbio na orientação de isolamento domiciliar e, no campo da
economia, por medidas tímidas e lentas.
De acordo com Monié (2020, p. 4), o registro tardio dos primeiros casos de
Coronavírus no continente africano foi consequência de três fatores maiores. O
primeiro é relacionado a existência de “desertos estatísticos” nas regiões mais
conturbadas e/ou periféricas do continente (Somália, periferias de países do Sahel
etc.) onde a precariedade das estruturas sanitárias e a insegurança se articulam da
maneira mais dramática. O segundo fator diz respeito a carência de testes de
detecção, que gera incertezas quanto a evolução real da pandemia. Vale aqui
ressaltar que, num contexto de tensões no mercado mundial dos testes, as
estratégias de governos asiáticos e ocidentais, firmas produtoras e atores das redes
mercantis transnacionais geram tendências especulativas que prejudicarão
gravemente os países mais pobres, em grande parte localizados na África. A terceira
explicação é relacionada à baixa conectividade relativa da África subsaariana às
cadeias de valor e às redes logísticas globais.

Na África austral, o aeroporto de Joanesburgo, hub regional da


capital econômica da África do sul, constituiu provavelmente a
principal porta de entrada do vírus na região, via Beijing. No caso da
África ocidental, a modelização de Brockmann situa a plataforma
aeroportuária de Paris, diretamente conectada à cidade de Wuhan
que conta com montadoras francesas, como principal hub de difusão
espacial do vírus em direção às capitais da região. (MONIÉ, 2020,
s.p.)

Outros problemas sociais, além de conflitos na difusão de informações,


também se agravaram mais durante a pandemia. Infelizmente, nem todos puderam
cumprir o isolamento social por fazerem parte de serviços essenciais ou por
necessidade. De acordo com Márcia Castro (2020 apud MPPR, 2020, p. 27),
doutora em demografia: “Corona não discrimina por raça, nem renda, mas evidencia
e expõe as desigualdades que temos no Brasil e no mundo”. Assim, se mostra
necessário analisar também os impactos da pandemia do coronavírus no Estado
Brasileiro.

2.2 A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS EM TERRAS BRASILEIRAS


26

A pandemia de coronavírus impactou todo o tecido social, e há indícios de


não ter poupado praticamente nenhuma área da vida coletiva ou individual, com
repercussões na esfera da saúde mental. Em situações de epidemia, reforça Lima
(2020, s.p.) que o número de pessoas psicologicamente afetadas costuma ser maior
que o de pessoas acometidas pela infecção, sendo estimado que um terço a metade
da população pode ter apresentado consequências psicológicas e psiquiátricas caso
não recebam cuidados adequados.
Segundo Aquino et al. (2020, p. 8), o Brasil registrou o primeiro caso da
América Latina em 25 de fevereiro de 2020: um homem paulista de 61 anos, que
havia retornado de uma viagem à Lombardia, na Itália. Após a confirmação
laboratorial da COVID-19, o homem, que teria apresentado os sintomas leves da
doença, recebeu os cuidados padronizados pela vigilância epidemiológica e
manteve-se em isolamento domiciliar enquanto eram investigados os contatos com
os familiares, no hospital onde foi atendido e no voo de retorno da Itália.

Desde que as primeiras ocorrências de Covid-19 foram notificadas


pela China, com a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitindo
seu primeiro alerta em 31 de dezembro de 2019, a doença vem
crescendo de forma exponencial em número de infectados e mortes
em todo o mundo. A primeira onda atingiu a China entre janeiro e
fevereiro de 2020, enquanto a segunda onda se proliferou
gradativamente pelo resto do planeta desde então, começando pela
Ásia, Europa, EUA e, posteriormente, atingindo os países em
desenvolvimento. Em 11 de março a OMS designou a doença como
“pandemia global”, gerando colapsos sucessivos nos sistemas de
saúde dos países mais infectados. Com rápida evolução, a Covid-19
atingiu a marca de 4,6 milhões de infectados e mais de 300 mil óbitos
em 18 de maio de 2020, seguindo em curva ascendente de
infecções. (SOENDERGAARD, 2020, p. 5)

O Brasil contou com uma legislação abrangente que inclui as recomendações


de órgãos internacionais sobre as ações de enfrentamento à COVID-19, como bem
expõem Silva et al. (2020, s.p.). No entanto, foram identificadas lacunas no que se
refere à fiscalização das medidas de segurança e saúde no trabalho. No tocante aos
riscos, observam-se entendimentos equivocados sobre a exposição aos riscos de
sofrer agravos ocupacionais, naturalizando-os em determinadas atividades, como se
fossem aceitáveis.
27

Dentre as medidas de segurança direcionadas à população, na população


infanto-juvenil, relembra Lima (2020, s.p.) que as recomendações adicionais
envolvem a organização de uma agenda que equilibre horários de estudos e tempo
para brincar, evitando excessos de eletrônicos e internet; a ajuda no contato com
avós, outros parentes e amigos; a regulação do acesso a notícias sobre a pandemia,
com a oferta de informações adequadas a sua faixa etária; e o acolhimento a seus
medos, ajudando-os a expressarem suas emoções, preocupações e fantasias por
meios lúdicos.
Contudo, alerta Aquino et al. (2020, p. 8), ainda que a Lei nº 13.979/2020, que
dispõe sobre as medidas para enfrentamento da COVID-19 no país, esteja em vigor
desde 7 de fevereiro de 2020, ou seja, desde antes do início oficial da epidemia, o
presidente Jair Bolsonaro tem minimizado sua importância desde o início, mantendo-
se como um dos poucos dirigentes mundiais que se recusaram a reconhecer a
ameaça que ela constituiu.

A COVID-19 pode ser considerada a primeira nova doença


relacionada ao trabalho a ser descrita nesta década, mostrando a
importância prática do controle das infecções nos ambientes de
trabalho, não apenas para profissionais de saúde, mas para a
proteção de todos os grupos de trabalhadores envolvidos no cuidado
e na assistência à população. (SILVA et al., 2020, s.p.)

De acordo com Aquino (2020, p. 9) decisão de flexibilizar as medidas de


distanciamento social e os critérios adotados pelo Ministério da Saúde devem ser
discutidos à luz das informações disponíveis na literatura científica internacional,
que, ao contrário do proposto para o Brasil, têm balizado suas decisões no
monitoramento da velocidade da transmissão da epidemia e, por conseguinte, da
magnitude dos números de infectados, casos de doença e óbitos.
Financeiramente falando, não se pode mensurar nacionalmente apenas os
impactos da pandemia, como bem lembram Silva et al. (2020, p. 5). Estruturas
econômicas de todo o mundo foram abaladas pela pandemia do novo coronavírus
(SARS-CoV-2), principalmente os países designados como subdesenvolvidos ou
emergentes, como o Brasil. Contudo, devido ao grande impacto provocado pela
COVID-19, até os países mais articulados financeiramente tiveram suas economias
abaladas. Economistas ortodoxos e heterodoxos, bem como pensadores sociais,
28

tentam explicar e encontrar uma solução que possa mitigar os impactos negativos
causados pelo novo coronavírus ao sistema financeiro global.

Países com dimensões continentais como a Índia e o Brasil, onde a


população é numerosa, há grandes desigualdades sociais e os
recursos de atenção à saúde são cronicamente deficitários e
desigualmente distribuídos, a adoção de medidas mais rigorosas de
distanciamento social será determinante para minimizar o colapso
iminente dos serviços de saúde e evitar milhares de mortes
decorrentes da falta de assistência aos casos graves da doença.
(AQUINO, 2020, p. 6)

No Brasil, diferentemente de outros países, o governo adotou inicialmente


distanciamento e isolamento sociais como estratégia de enfrentamento da
pandemia, mas logo em seguida optou por colocar em primeiro plano a economia e
minimizar os efeitos da Covid-19. De acordo com Santos et al. (2020, s.p.), o
governo brasileiro passou a não seguir as recomendações feitas pela Organização
Mundial de Saúde e pelo seu próprio Ministério da Saúde. Além disso, não tem
demonstrado liderança, nem se comunicado como é esperado, com os entes
federativos - estados e municípios - em se tratando do enfrentamento a uma
pandemia.
Especialistas divergiram seus posicionamentos, principalmente em relação ao
isolamento social, como apontam Silva et al. (2020, p. 6). Não se obteve um
consenso sobre a manutenção do isolamento ou priorização da economia
visivelmente estremecida por conta da pandemia. O Brasil passou a mensagem de
não possuir estrutura para o enfretamento da doença. Em consequência, milhares
de pessoas encontraram-se desamparadas, o que tem gerou uma catástrofe
socioespacial. Todavia, o mais importante no momento seria priorizar as
necessidades humanitárias e buscar soluções e alternatividades a médio e longo
prazo. Essa é a indagação que perdura até hoje.

2.3 O NOVO NORMAL BRASILEIRO: PENSAR O PAPEL DO ESTADO


ENQUANTO AGENTE ASSEGURADOR DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Silva (1988, p. 10) apresenta a tarefa fundamental do Estado Democrático de


Direito, que consiste em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um
29

regime democrático que realize a justiça social. Pode-se afirmar que a sistemática
dos direitos fundamentais, da forma como hoje é conhecida, afasta-se de pontuais
concepções naturalistas ou positivistas do Direito, de forma a encontrar-se
justamente no período denominado pós-positivismo, marcado pelo império da
Constituição, em detrimento do conceito tradicional de soberania, e pela
normatização dos princípios, como bem aponta Ferreira (2014, p. 18)
Deve-se lembrar que a Constituição da República Federativa do Brasil, ao ser
implementada, abrange diversas espécies de direitos, sendo eles coletivos,
individuais, políticos, etc. (CANOTILHO et al., 2013 apud CALGARO & BURGEL,
s.d., p. 2). Os direitos individuais estão classificados como esses direitos de primeira
dimensão ou geração, onde se é tutelada as garantias das liberdades individuais,
sendo o Estado interventivo somente como exceção, valorado pela liberdade estão
os direitos civis e políticos. (LENZA, 2013 apud CALGARO & BURGEL, s.d., p. 2).

Neste contexto, os direitos fundamentais assumem posição de


definitivo realce na sociedade quando se inverte a tradicional relação
entre Estado e indivíduo e se reconhece que o indivíduo tem,
primeiro, direitos, e, depois, deveres perante o Estado, e que este
tem, em relação ao indivíduo, primeiro, deveres e, depois, direitos.
(FERREIRA, 2014, p. 18)

Assim, Edilberto Lima (2021, s.p.) impõe que a pandemia reiterou que a ação
do Estado em pontuais situações é crucial. Em cunho comparativo, a sociedade e o
setor privado não seriam capazes de providenciar leitos hospitalares para a parcela
necessária da população, não forneceriam auxílios emergenciais aos que ficaram
sem renda e não providenciariam acesso universal à vacina. O mercado produz de
forma eficiente, mas não é capaz de distribuir adequadamente o que produz, pois, o
acesso a bens e serviços destina-se apenas aos que podem pagar por eles,
deixando de fora grande parcela da população, sendo apenas o Estado capaz de
atender a esta necessidade.
Cabe lembrar que a inconteste evolução que o Direito Constitucional alcançou
é fruto, em grande medida, da aceitação dos direitos fundamentais como cerne da
proteção da dignidade da pessoa e da certeza de que inexiste outro documento mais
adequado para consagrar os dispositivos assecuratórios dessas pretensões do que
a Constituição Federal, como emana Masson (2016, p. 191).
30

A pandemia evidenciou que em certas situações a ação do Estado é


essencial. A sociedade e o setor privado não conseguiriam, por
exemplo, providenciar leitos hospitalares para todos os que
precisaram, não forneceriam auxílios emergenciais aos que ficaram
sem renda e não providenciariam acesso universal à vacina. O
mercado costuma ser eficiente para produzir, mas não consegue
distribuir adequadamente o resultado da produção, pois o acesso a
bens e serviços destina-se apenas aos que podem pagar por eles,
deixando de fora largas porções da população. (LIMA, 2021, s.p.)

Para título de exemplo, utiliza-se o impacto da pandemia no país. De acordo


com a plataforma World Bank (2021, s.p.), os efeitos variaram amplamente e
incluem desde impactos diretos na economia e empregos até efeitos indiretos de
perdas de aprendizagem entre crianças que estão fora da escola. O Brasil está entre
os países mais afetados pela pandemia da COVID-19. Depois de ter experimentado
a maior queda do PIB (-4,1 por cento em 2020) na história recente, a economia
brasileira está se recuperando de forma desequilibrada, com vários indicadores do
mercado de trabalho em níveis mais baixos que no período pré-pandemia.
É fato que o Estado, ao confrontar-se com as necessidades impostas pela
pandemia, sofreu não apenas o baque econômico e sanitário, mas também lidou
com uma crise social. Para Pascoal (2020, s.p.), os efeitos da pandemia decorrente
do novo coronavírus nas contas públicas são graves e ainda imensuráveis. Apesar
de ser uma pesquisa do ano de 2020, mesmo atualmente (2022) ainda não se pode
aprovar com exatidão o quantitativo dos prejuízos da pandemia.
Assim, acrescem Beluzzo e Carrenho (2021, p. 8) que o cenário pandêmico
evidenciou o poder de garantia do Estado como incerto. Esse fato se refere ao
desafio acerca do embate pelo melhor processo de condução política-sanitária, que
se mostrou um dos maiores desafios na atualidade, tanto pelo desconhecimento
científico aprofundado, quanto pela necessidade de agilidade governamental para
tomada de decisões que impactem menos as liberdades e garantias fundamentais
ao mesmo tempo que garanta a saúde e vida de seus cidadãos.

Na análise da experiência brasileira, a própria existência de uma


política pública nacional de combate à pandemia é questionável a
depender do conceito utilizado – a falta de diagnóstico preciso dos
problemas e de suas causas, a ausência de objetivos claros e a falta
de diálogo com outras políticas públicas exitosas em andamento
(como as políticas de vacinação, programas sociais e atuação de
agentes comunitários de saúde, dentre outros) parecem indicar a
existência apenas de uma série de ações isoladas e desarticuladas,
31

não de uma política pública efetivamente planejada, desenhada,


implementada e monitorada. (MOTTA & NETTO, 2021, s.p.)

Ou seja, a principal atuação do Estado na garantia de direitos fundamentais


se dá através de políticas públicas. Expõe Rodrigues (s.d., p. 12) que as políticas
públicas possuem dois elementos fundamentais: a intencionalidade pública e a
resposta a um problema público. De outra forma, a elaboração de uma política
pública é o tratamento ou a resolução de um problema entendido como de
relevância social. Tendo o Estado como protagonista, a fixação das políticas
públicas se dá através dos mecanismos estatais de planejamento das ações,
estratégias e metas para atingir a finalidade pública de forma eficiente, na prestação
de ações e serviços públicos.
Assim, tende-se o conceito atual em tempos de pós-pandemia compreendido
como “novo normal”, apontado por Maria Schirato (2020, s.p.) como um novo padrão
de normalidade, necessário para garantir a sobrevivência da raça humana, como um
todo. A questão é que o avanço tecnológico que combinou o acesso da população à
internet e aos serviços públicos de forma “on-line”, provocou uma onda de prestação
de serviços home office, que dá acesso à população ao ensino, entre outras,
traduziu sim uma nova forma de inclusão social, aumentando eficazmente a
participação da sociedade em tudo quanto diz respeito às instituições e à própria
vida. Contudo, versam as críticas acerca do acesso à internet como um direito, visto
que seu fornecimento é considerado por muitos como oneroso.
Assim, encerra-se este tópico com a indagação de Costa e Duarte (2021, p.
9): Que futuro de normalidade será este onde os direitos sociais poderão sofrer
retrocesso social na medida em que o Estado, responsável pela sua efetivação, não
obter o êxito esperado em políticas públicas inovadoras a um número elevadíssimo
de pessoas sem condições de manter suas famílias e a si próprio?

3 NECROPOLÍTICA EM TEMPOS DE PANDEMIA? PENSAR A


OMISSÃO DO ESTADO COMO POLÍTICA INSTITUCIONAL

xx
32

3.1 O VOCÁBULO “NECROPOLÍTICA” EM DELIMITAÇÃO: UMA ANÁLISE DA


TEORIA DE ACHILLE MBEMBE

Como já visto anteriormente, o termo Necropolítica, utilizado com maestria


por Mbembe, é fruto de um ensaio escrito que, analisa, compara, e nas palavras de
Moreira (2019, s.p.), busca compreender “que a expressão máxima da soberania
reside em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e
quem deve morrer”, razão pela qual “matar ou deixar viver constituem os limites da
soberania, seus atributos fundamentais.” Interessante o uso dessas palavras, não se
pode negar que a relação entre política e morte, bem como a elaboração conceitual
dessa noção, somente foi aprofundada no ensaio do autor.
Entender a necropolítica na atualidade é extremamente relevante, uma vez
que não se trata de um fenômeno isolado. O próprio autor inicia o ensaio com uma
série de perguntas que se relacionam entre si no decorrer da leitura. De acordo com
Bontempo (2020, p. 2), essa noção está interligada à própria reprodução do
capitalismo na atualidade. Nessa perspectiva, a reflexão atrativa na ideia de
necropolítica é o fato de ela carregar toda uma potencialidade de crítica, além de
exercitá-la, a partir da periferia do capitalismo. O que se pretende evidenciar com a
utilização desse termo, é uma sociedade em que o sistema está em crise e faz-se
necessário atacar as suas causas.

Há um cruzamento permanente da precariedade da vida que torna


alguns corpos e suas lideranças políticas mais vulneráveis ao que
Achille Mbembe descreveu como a ‘necropolítica’: políticas de morte
para o controle das populações. Mbembe se inspira em Michel
Foucault, na aula final do curso ‘Em defesa da sociedade’, de 1976.
Nela, Foucault lançou a ideia de como o racismo de Estado seria
uma das táticas do biopoder e da biopolítica. Entre o poder de ‘fazer
viver e deixar morrer’, o racismo de Estado determinaria as
condições de aceitabilidade para quem vive e morre. Mbembe foi
além de Foucault: mostrou como o biopoder é insuficiente para
compreender as relações de inimizade e perseguição
contemporâneas, pois há uma necropolítica em curso para produzir
os ‘mundos de morte’. (DINIZ, 2019, s.p.)

Com base nesses apontamentos iniciais, Mbembe parte da análise do


biopoder de Michael Foucalt e estado de sítio de Giorgio Agamben, como
norteadores do direito justificado de decidir quem vive e quem morre. Acresce
33

Moreira (2019, s.p.) que Mbembe aponta de forma bastante clara como “o estado de
exceção e a relação de inimizade tornaram-se a base normativa do direito de matar”,
e como o poder “apela à exceção, à emergência e a uma noção ficcional do inimigo”
para justificar o extermínio de outrem.
Dessa forma, o autor consegue extrair conceitos que trabalham a ideia
moderna de escravidão, a título de exemplo. Nessa direção, reflete Bontempo (2020,
p. 2), que o entendimento da noção de necropolítica pode possibilitar a oxigenação
dos movimentos que fazem resistência ao capitalismo em sua versão neoliberal. No
momento em que uma política da morte busca eliminar todos aqueles que são
descartados e excluídos do sistema capitalista, sejam eles os moradores da
periferia, negros, desempregados ou refugiados, as análises de Achille Mbembe se
mostram potentes para decifrar o lugar que o racismo estrutural ocupa nesses
processos.
De acordo com a pesquisadora Mariana Castro, da Academia Brasileira de
Letras (s.d., s.p.), o termo Necropolítica se refere a capacidade de estabelecer
parâmetros em que a submissão da vida pela morte está legitimada. Para Mbembe,
a necropolítica não se dá só por uma instrumentalização da vida, mas também pela
destruição dos corpos. Ou seja, não se resume apenas a deixar morrer, também é
fazer morrer. Assim, o poder de morte, ou necropoder, é um elemento estrutural no
capitalismo neoliberal de hoje, atuando por meio de práticas e tecnologias de
gerenciamento de morte de certos grupos e populações.

De um modo geral, Achille Mbembe aborda a noção de necropolítica


a partir de uma atualização da noção de biopoder de Foucault,
enquanto um instrumento de controle que o Estado exerce sobre o
corpo dos indivíduos. Entretanto, o filósofo explicita que a ideia de
biopoder é insuficiente para compreendermos as formas
contemporâneas de submissão da vida ao poder da morte. Assim,
torna-se urgente elucidar os diversos mecanismos de poder no
mundo moderno, os quais se expressam de forma muito dinâmica e
fluida. (BONTEMPO, 2020, p. 3)

Voltando os olhos para o fenômeno da colonização, Moreira (2018, s.p.)


reproduz a analogia de Mbembe acerca das colônias, que se assemelham às
fronteiras, habitadas por ´selvagens`. Essas ‘colônias’, não são organizadas de
forma estatal, nem criaram um mundo humano – são o local por excelência em que
34

os controles e as garantias de ordem judicial podem ser suspensos – a zona em que


a violência do estado de exceção supostamente opera a serviço da ´civilização`.
Trazendo essa relação para o idealismo de Foucault, Mbembe (2016, p. 7)
reafirma que a semelhança da colônia, anteriormente mencionada, é citada por
Foucault claramente na afirmação que o direito soberano de matar (droit de glaive) e
os mecanismos de biopoder estão inscritos na forma em que funcionam todos os
Estados modernos, mascarando a existência de uma forma de ‘colônia”, apontada
no parágrafo anterior. De fato, essas duas formas de poder podem ser vistas como
elementos constitutivos do poder do Estado na modernidade.

Na segunda seção da obra, intitulada como Biopoder e a relação de


inimizade, o filósofo camaronês destaca que a soberania tem o
direito de matar como a sua maior expressão, e desenvolve sua
argumentação retomando o conceito de biopoder de Foucault,
enquanto o controle que é exercido sobre a vida, e o relaciona com
as ideias de Estado de exceção e Estado de sítio. Isso ocorre
porque a legalização do direito de matar é forjada, tanto a partir do
Estado de exceção, como de um Estado de sítio, uma vez que
ambos atuam mediante situações extraordinárias e de emergência.
Na perspectiva de Foucault, o biopoder se mostra como um exercício
do poder que determina quem deve morrer e quem deve viver, o que
pressupõe uma separação dos indivíduos em grupos. Nesse caso,
parece que o biopoder se define a partir de um campo biológico.
(BONTEMPO, 2020, p. 5)

Ao trazer esse conceito para o cenário atual, em pesquisa realizada pela


Academia Brasileira de Letras (s.d., s.p.), é apontado com ênfase por Mbembe o
atual sistema capitalista, regente no Brasil, como um sistema que se baseia na
distribuição desigual de oportunidade de viver e de morrer, apontando ainda que o
capitalismo se baseia na lógica do sacrifício, enraizado no coração do
neoliberalismo, ou como bem ironiza o autor, “o que deveríamos chamar de
necroliberalismo”.
No último tópico de Necropolítica, intitulado Do gesto e do mental, Achille
Mbembe cita a Palestina para mostrar a presença de duas lógicas: ‘a lógica do
martírio’ e a ‘lógica da sobrevivência’, as quais não se mostram opostas. Nelas, o
terror e a morte estão entrelaçados, visto que “o sobrevivente é aquele que, tendo
percorrido o caminho da morte, sabendo o caminho dos extermínios e
permanecendo entre os que caíram, ainda está vivo”(MBEMBE, 2018, p. 62 apud
BOMTEMPO, 2020, p. 11)
35

Rejeitando a crença “romântica” da soberania como algo em “que o


sujeito é o principal autor controlador do seu próprio significado”,
Mbembe preocupa-se, sob uma ótica inteiramente diversa, “com
aquelas formas de soberania cujo projeto central não é a luta pela
autonomia, mas ´a instrumentalização generalizada da existência
humana e a destruição material de corpos humanos e populações`. ”
(Aqui ele revela a influência de Foucault em sua obra, desde a ideia
de “biopoder”, desenvolvida pelo filósofo francês). (MOREIRA, 2018,
s.p.)

O que cabe argumentar como algo curioso (e lamentável), é que a fusão


completa de guerra e política (racismo, homicídio e suicídio), até o ponto de se
tornarem indistinguíveis uns dos outros, caracteriza quase que exclusivamente o
Estado nazista. A percepção da existência do um ser como um atentado contra a
vida do outro ser, como se fosse uma ameaça mortal ou perigo absoluto, cuja
eliminação biofísica reforçaria o potencial para vida e segurança de quem se sente
ameaçado, reforça Mbembe (p. 8), como um dos muitos imaginários de soberania,
característico tanto da primeira quanto da última modernidade.
Realmente, encontra concordância no ponto de vista antropológico, o que
essas críticas discutem como uma definição de política como relação bélica por
excelência. Além dessa percepção, surge como um desafio reflexivo a ideia de que,
necessariamente, a racionalidade da vida passe pela morte do outro, ou que a
soberania consista na vontade e capacidade de matar para possibilitar viver.

3.2 OS INDESEJÁVEIS BRASILEIROS: A VULNERABILIDADE SOCIAL E AS


PRÁTICAS DE (DES)PROTEÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO NO CONTEXTO DA
PANDEMIA

Sabe-se que o principal papel do Estado seria o de dar direcionamento a


toda a população promovendo os direitos básicos concernentes a eles. Nesse
sentido, elencam Gomes e Santos (s.d., p. 2) que um dos primários deveres do
Estado é a efetivação da segurança pública, onde, implementando tal mecanismo,
diante de uma possível ameaça à integridade individual ou coletiva da população,
esta estará resguardada desses atos danosos. Nesse contexto, o Estado tem o
36

dever de desenvolver normas de condutas sociais e jurídicas para a efetivação da


paz social.
Em contrapartida, a título exemplificativo sobre as faces da necropolítica,
expõe Costa (2021, s.p.), que muitos jovens brasileiros têm morrido por causas
externas, que vão de suicídios a acidentes de trânsito. Os dados sobre homicídios
foram de preocupação específica na pesquisa do autor, na medida em que falam por
si quando expostos. No Atlas da Violência 2019 (uma das fontes de dados estatais)
foi apresentada a taxa de homicídio de jovens de 15 a 29 anos de 2017, recorde dos
últimos dez anos a contar daquele ano. Em 2017, portanto, 35.783 jovens foram
assassinados no Brasil, o que significa uma taxa de 69,9 mortos por homicídio, a
cada 100.000 habitantes. Homicídio, de modo mais específico, foi a causa de morte
de 51,8% dos óbitos de jovens de 15 a 19 anos, o que caracteriza o maior risco de
morte na adolescência.
Ainda, o autor reforça que a temática do homicídio de jovens não é novidade
e nem é uma informação restrita ao mundo acadêmico: no noticiário nacional, com
frequência, são veiculadas notícias de jovens mortos, por balas perdidas, ou por
envolvimento em algum tipo de conflito bélico. Em regra, são notícias sobre
adolescentes, negros e pobres que foram mortos, ilustradas com imagens de mães
que choram. A quem se responsabilizam os fatos ocorridos a essas pessoas?
Qual a utilidade e quais os inconvenientes da História para a vida?
Pergunta-se Nietzsche (1990) na Segunda consideração
intempestiva. Mais do que uma mera denúncia do espírito de
gravidade ou da má-consciência em que o exercício individual ou
coletivo da memória pode lastrear-se, a pergunta nietzschiana evoca
uma translação perspectiva da História em relação à vida,
deslocando seu valor canônico, supostamente intrínseco. De um
lado, o passado é denunciado como um fardo que as boas
consciências não cessam de arrastar atrás de si, como grilhões; de
outro, ao colocar a História como elemento indiciário das relações
entre a memória e a vida, marcando-o a fogo com o signo do
intempestivo, Nietzsche convida a descerrar o extemporâneo como
uma força ativa que não cessa de agir no cerne da mais urgente
atualidade, como expressão de uma espécie de força subterrânea
que move o olhar na direção do tempo presente (MACEDO, 2009
apud CORRÊA, VIEIRA, 2019, p. 3).

No recente período de pandemia, objeto desta análise, pode-se observar a


postura de um indivíduo que, indo na contra mão da maioria dos governantes
internacionais e dos governos estaduais e municipais brasileiros, relembra Silva
(2020, p. 71 apud SOUSA, 2021, p. 11), que a postura do até então chefe do poder
37

executivo federal, o presidente Jair Messias Bolsonaro, que começou a produzir um


discurso que vai de encontro – ou melhor, totalmente contra – às “determinações de
prevenção da proliferação do vírus feitas por autoridades e órgãos competentes”.
Contribuem Jesus e Melo (2020, p. 3), ao explanarem que a execução da
estratégia institucional e proposital de propagação do coronavírus, o Governo
Bolsonaro fez do Brasil um dos países mais afetados pela COVID-19 no mundo.
Assim, unindo a discussão acerca da necropolítica de matar ou deixar viver, e quem
exerce esse direito são pontos imperativos para debruçar-se sobre a conjuntura de
barbárie pela qual o Brasil enfrentou nos últimos dois anos. Outro grande nicho que
aponta perfeitamente a necropolítica do Estado em negligenciar setores da
sociedade, trata exatamente do racismo estrutural que gera em torno desta, refilada
pela pandemia.
Destarte, até o período de pandemia, como explanam Gomes e Santos (s.d.,
p. 5), o grande exemplo da utilização desses mecanismos na atualidade brasileira
diz respeito à operação do aparato estatal de segurança pública nas periferias.
Nesses espaços, o poder policial tem o aval estatal para atuar fora dos ditames
constitucionais, e os corpos pretos e pobres ali presentes, construídos como
inimigos, configurariam uma ‘ameaça’ para o restante da população e, por
conseguinte a exclusão e/ou morte desses corpos seriam garantidores de segurança
e saúde para o restante dos cidadãos.

[...] a pandemia é o enfeixamento de um sistema que é letal em


relação ao trabalho, natureza, à “liberdade substantiva” entre os
gêneros, raças, etnias, à plena liberdade sexual, dentre tantas outras
dimensões do ser em busca de sua autoemancipação humana e
social. (ANTUNES, 2020 apud KRENAK, 2019, p. 3)

O genocídio da população negra periférica no Brasil deixa ver o quanto o


Estado brasileiro é um agente necropolítico e essa realidade não se mostrou
somente com a pandemia do coronavírus. A população negra era e ainda é a que
mais morre, apenas trocou-se a arma. A administração da morte que escreve
Mbembe gira em torno da capacidade de gerir a distribuição da mortalidade e das
formas de morrer na sociedade, no Brasil, com o número de mortes por COVID-19
superando os 570 mil, a pandemia do coronavírus se mostrou como um perfeito
demonstrativo de como isso acontece.
38

Isso é um reflexo do que propõe Antunes (2020 apud KRENAK, 2019, p. 3),
evidenciando o período pandêmico como um desdobramento geneticamente forjado
no metabolismo antissocial do capital cujo neoliberalismo globalizado é o agente
catalizador de suas potências mais devastadoras. Portanto, esse cenário mostra
suas estruturas e contradições mais fundamentais.
As doenças não são entidades democráticas. Pelo contrário, elas
têm incidências determinadas pela renda, pela idade, pelo gênero e
pela raça. Diante da pandemia provocada pelo coronavírus (SARS2-
CoV2), diversos segmentos da sociedade estão mais expostos e são
identificados como grupos de risco, por conta de comorbidades
específicas. A população negra, em sua diversidade, também é um
dos grupos de risco, obviamente com gradações internas, variando
tanto por comorbidades que atingem negras e negros em maior
número, caso da hipertensão e da diabetes e, principalmente, a
anemia falciforme, ou mesmo pela letalidade social, motivada por
questões históricas, políticas e sociais estruturantes de nossa
sociedade. (MARTINS, 2020 apud FREITAS; BERG, 2021, p. 9)

Corroborada não somente a atuação negligente do Estado, reforça Sousa


(2021, p. 12), que foi infeliz a demonstração de que o então presidente explanou
abertamente e sem medo um discurso de morte, mas não a morte de qualquer
pessoa, pelo contrário: aqui, a morte é de um grupo historicamente estigmatizado
pela sociedade e pelo próprio Estado, o que reflete uma necropolítica ao “deixar
morrer” os que já estão destinados a morrer. Felizmente, as expectativas de novos
dias no contexto político são positivas, visto que o mandato do presidente Jair
Bolsonaro finda em 31 de dezembro deste ano. Mas o combate à necropolítica ainda
é presente, visto que eram antecedentes ao mandato do mesmo. Afinal, os
conceitos basilares da política antecedem o século atual.

3.3 E O NOVO NORMAL? MORTE, POBREZA E VULNERABILIDADE


AGRAVADA
COMO CONSEQUÊNCIA DO PÓS-PANDEMIA DO CORONAVÍRUS

A pandemia do coronavírus subtraiu mais de 688 mil vidas somente no


Brasil, de acordo com o boletim informativo atualizado diariamente pelo governo
brasileiro. O fato de que o boletim é e será atualizado continuamente, mesmo que a
situação crítica da pandemia tenha sido ultrapassada, remete ao brasileiro a
39

inclusão de uma nova patologia na qual será necessário conviver. Isso aponta que o
novo cenário em que se encontra a população brasileira agora considera-se como
“um novo normal”. Muito se questiona sobre o dito “novo normal”, ainda mais agora
que os números avassaladores de mortes e internações pela Covid-19 diminuiram
em todo o país. Mas, afinal de contas, como se define esse “novo normal”? Começa
quando e termina onde?
Assim, torna-se necessária a análise do já enfrentado, de forma a criar
expectativas de um futuro que já se iniciou, e traçar metas para que se recupere o
que ainda pode ser salvo. Como reverbera pesquisa realizada pelo SINDESPE
(2020, p. 1), pode-se afirmar que no período em que se ultrapassou o cenário
pandêmico, é pouco provável que as coisas voltem ao que era antes, visto que o
cenário caótico foi uma forma de acelerar mudanças que já eram necessárias e
pouco eram exploradas.
É possível dividir as consequências da pandemia em quatro ondas. A
primeira onda se refere à sobrecarga imediata sobre os sistemas de
saúde em todos os países que tiveram que se preparar às pressas
para o cuidado dos pacientes graves infectados pela Covid-19. A
segunda onda está associada à diminuição de recursos na área de
saúde para o cuidado com outras condições clínicas agudas, devido
ao realocamento da verba para o enfrentamento da pandemia. A
terceira onda tem relação com o impacto da interrupção nos
cuidados de saúde de várias doenças crônicas. A quarta onda inclui
o aumento de transtornos mentais e do trauma psicológico
provocados diretamente pela infecção ou por seus desdobramentos
secundários. (CUMINALE, s.d., p. 15)

De acordo com Pellanda (2020, p. 2), a exploração do meio ambiente,


desigualdades, ausência de propósito, incompreensão, intolerância, nunca foram
coisas consideradas normais para se dar continuidade. Isso porque, corrobora o
pesquisador da Fiocruz Adalton dos Anjos (2022, s.p.), o fato de que durante a
pandemia de Covid-19, não faltaram relatos e reportagens que mostravam como
determinados grupos populacionais vivenciaram este período com mais dificuldades
do que outros. O desemprego, a fome, bem como as dificuldades de acesso às
máscaras, álcool gel e até a água atingiram fortemente comunidades
vulnerabilizadas, tanto que foi criado um índice em que podia-se medir e estabelecer
o abismo entre as regiões Norte-Nordeste e Sul-Sudeste, que serviu para confirmar
a desigualdade entre estas quando confrontadas nos efeitos das desigualdades
sociais. Abismo esse que já existia.
40

Os dados oferecidos pelo índice alertam que a situação de


desigualdade social em saúde no Brasil preexistia à Covid-19. Antes
da pandemia, 98% dos municípios da Região Norte estavam nos
agrupamentos 4 e 5, os dois piores grupos classificados pelo IDS-
COVID-19. Na Região Sudeste, eram 35% dos municípios e no Sul,
apenas 7%. “As desigualdades entre as regiões se aprofundaram,
considerando que há uma melhoria dessas desigualdades em alguns
municípios, embora não seja grande, enquanto outros
permaneceram em situação crítica”, destaca a epidemiologista. (DOS
ANJOS, 2022, s.p.)

Infelizmente, outro forte impacto que atingiu uma assombrosa parcela da


população remete-se a saúde mental. Como bem aponta a Organização Pan-
americana da Saúde (2022, s.p.), houve um aumento de 25% nos índices de
depressão e ansiedade em toda população mundial. Fator que gira entre o estresse
sem precedentes causado pelo isolamento social decorrente da pandemia. Como
visto até o ano passado, solidão, medo de se infectar, sofrimento e morte de entes
queridos, luto e preocupações financeiras também foram citados como estressores
que levam à ansiedade e à depressão. Entre os profissionais de saúde, a exaustão
tem sido um importante gatilho para o pensamento suicida. Quão grave será para as
pessoas que não possuem amparo estatal para um simples atendimento
psicológico?

As consequências cognitivas e comportamentais podem ocorrer de


duas formas. Uma delas é por mecanismos biológicos, incluindo
invasão direta do vírus no órgão. Essa invasão acontece a partir da
cavidade nasal e rinofaringe, através dos nervos trigêmeo e olfatório,
ou passando pelo trato respiratório baixo, por meio do nervo vago.
Além disso, a chamada neuroinvasão pode ocorrer também pela
corrente sanguínea. Nesse caso, o vírus transportado pelo sangue
pode cruzar a barreira hematoencefálica, uma estrutura responsável
por proteger o sistema nervoso central, e, então, chegar ao cérebro.
(CUMINALE, s.d., p. 16)

Desigualdade social, saúde mental, crise econômica, etc. O “novo normal” é


uma etapa de recuperação que está realmente baseada no aparato estatal? Em uma
série de artigos dirigidos por Cuminale (s.d., p. 123), explana a autora uma análise
feita por um grupo de cerca de 100 profissionais seniores de todos os continentes,
incluindo acadêmicos, representantes de ONGs, investidores, CEOs de empresas e
outros líderes empresariais, debateram e sugeriram quais os principais domínios do
“novo normal”. Eles apontaram mudanças na ordem global, sociedades e
41

economias, empresas e mercados, no ambiente familiar e nos indivíduos. Através


dessa análise, fica claro que o impulso enorme ao trabalho remoto é uma realidade
inevitável, que está sendo adotada pela maioria das empresas, em maior ou menor
grau, mas certamente continuará em um nível maior do que antes da pandemia. Em
decorrência disso, há um movimento de busca de casas mais confortáveis ao redor
dos grandes centros urbanos, por trabalhadores de classe média e alta. Mas e os
trabalhadores de classe baixa? Pessoas de baixa renda? Pobres? Ou melhor, 70%
da população brasileira?
Nota-se que ao olhar pro futuro, utilizando o conteúdo que se tem
atualmente, as perguntas sempre circundam sobre as parcelas vulneráveis da
população, que representam a grande maioria do povo brasileiro. E essas perguntas
mostram-se sem resposta exatamente porque falta aparato estatal eficiente. Afonso
(s.d., p. 8) escancara que mais uma vez, a covid-19 apenas reafirmou fato de que o
governo federal já tinha abdicado de liderar politicamente e coordenar
administrativamente a federação e, pior, perdido diante da pandemia, transformou-
se em um centro de provocações e conflitos, com outros governos e também com os
demais poderes. No período de eleições, mais uma vez mostrou-se que a
preocupação girava mais em embates políticos do que com demais temas, que
exigiam muito mais atenção do que brigas de ego presidencial. Se o ano de 2022 já
se insere no período considerado como “novo normal”, este mostra-se espantoso.
De nada adianta formular planos para reconstruir a saúde, a
sociedade e a economia se não houver quem os assuma e os
implemente de forma crível e responsável. Por isso, a primeira e
básica etapa da reconstrução nacional passa por desenhar e adotar
um novo arcabouço de relações políticas e governamentais, sempre
respeitadas as cláusulas pétreas da Constituição. (AFONSO, s.d., p.
8)

A necessidade de novas e eficazes políticas públicas necessita mais uma


vez de acessar o passado para a sua reafirmação. Dos Anjos (2022, s.p.) cita a
entrevista com a professora Lúcia Xavier, coordenadora do Observatório de Direitos
Humanos Crise e Covid-19 e a ONG Criola: “O que me chamou mais atenção nesse
processo foi a total dificuldade ou negação do acesso a serviços. Você tinha CRAS
[Centro de Referência da Assistência Social] e creches fechadas, escolas e hospitais
fechadas – só as grandes unidades abertas”. Ela ainda destacou a violência policial
no Rio de Janeiro, cidade onde vive, o isolamento dos sistemas prisionais, a fome e
42

a elevada quantidade de mortes no período. Novamente um exemplo claro da


necropolítica estatal presente nos períodos de pandemia.
A discussão acerca do futuro também deve se voltar para a análise do
sistema prisional nacional, que se configura como outro meio de exclusão da
população socialmente vulnerável, onde a maior parte dos presos são negros e
provenientes das periferias. Como relembram Gomes e Santos (s.d., p. 6), fica
evidenciado o perfil dessa população carcerária a partir da análise dos dados do
Infopen (BRASIL, 2016): esta é composta por maioria negra (64%), jovem (55%) e
de baixa escolaridade (51% com apenas o ensino fundamental incompleto), dados
que corroboram com a tese da necropolítica e da criminalização da pobreza. Nota-se
mais uma necessidade pretérita a pandemia de políticas públicas eficientes que
combatam a necropolítica estatal, que se utiliza desde sempre dos mecanismos do
estado de exceção, já mencionado neste exercício, para aniquilar os direitos das
populações mais vulneráveis.
O Estado, que na teoria tem o papel de promover políticas públicas e
garantir os direitos e bens jurídicos a toda a camada populacional, na
prática não o perfaz para todo o tecido social, mas sim seleciona e
exclui a parcela mais pobre da sociedade, causando diretamente o
extermínio desse povo, a partir da ação do seu aparato policial
nesses locais, executando-os e inserindo-os no sistema prisional. “O
encarceramento serve [...] à regulação da miséria, quiçá à sua
perpetuação, e ao armazenamento dos refugos (restos) do mercado.
(WACQUANT, 2003 apud GOMES; SANTOS, s.d., p. 8)

Ao olhar não apenas para o “novo normal” de agora, mas também mais a
frente, deve-se produzir discussões acerca da problemática da necropolítica como
forma de poder derivada do Estado. Reitera Afonso (s.d., p. 8), que de pouco
adiantará aprovar mudanças nos sistemas tributário, fiscal ou da seguridade social,
dentre outros, se não for alterada a base sobre a qual serão aplicadas. Um dos
maiores ensinamentos a se tirar da tragédia brasileira no enfrentamento da crise é a
descoordenação entre governos e entre poderes e a incapacidade gerencial de dar
resposta à altura do desafio. Esse é o principal objeto de análise para a recuperação
dos prejuízos causados pela pandemia.

CONCLUSÃO
43

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44

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%20isso%20estavam%20as,%C3%A0%20ansiedade%20e
%20%C3%A0%20depress%C3%A3o.

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