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DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS


DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

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Núcleo de Educação a Distância
R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05
Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111
www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.


Material Didático: Ayeska Machado
Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes
Diagramação: Gildenor Silva Fonseca

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes,
Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunidade
de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas
escolhas pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são ou-
tros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmica,
se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um
novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
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rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de


ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa
jornada!
Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção
de novos conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professor: Diêgo Henrique Tuschtler de Carvalho


O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.
Esta unidade analisará alguns dos postulados do Direito da Família (Pá-
trio Poder), relativamente ao casamento e seus desdobramentos fático-
-jurídicos, especificamente quanto: a) à origem histórica do matrimônio,
a significação do casamento enquanto instituição ou fonte instituidora
da família e suas formas admitidas de celebração; b) as correlações
entre o referido instituto jurídico com a religião e a questões atuais, sub-
jacentes jurídicas ou afins, como o hodierno casamento homoafetivo; c)
as práticas consuetudinárias e legais para validade, eficácia e prova do
casamento e os efeitos na esfera civil das celebrações promovidas em
âmbito religioso; d) os direitos e deveres dos cônjuges; e) os diversos
e possíveis regimes de bens no casamento conforme o Código Civil; f)
a dissolução do vínculo conjugal e suas modalidades e g) as políticas
atuais afeitas à proteção da família quando da dissolução da sociedade
conjugal. Trata-se de módulo voltado para a construção de raciocínio
técnico-jurídico para o pós-graduando nas searas privatista/civilista, es-
pecialmente para os atuantes nos ramos jurídicos familiar e sucessório,
pois visa elencar, em análise sistemática (mas não exauriente) o contra-
to de casamento e os institutos incidentes sobre bens pertencentes aos
cônjuges, adquiridos no curso da sociedade conjugal e suas principais
implicações em caso de rompimento do vínculo matrimonial. Justifica-
-se em razão de sua relevância, dados os contextos socioeconômicos e
políticos que a família brasileira vivenciou e vivencia.

Direito de Família. Casamento. Sociedade Conjugal. Religião.


Direito Conjugal. Regime de Bens. Dissolução do Vínculo Conjugal.
Apresentação do módulo __________________________________ 10

CAPÍTULO 01
CASAMENTO

Casamento: Conceitos, Origem, Finalidade e Outros Apontamen-


tos_______________________________________________________ 12
Casamento Religioso: Noções e Efeitos Civis____________________ 16
Casamento Civil e Família: Instituição e Razoes_________________ 21
Recapitulando_____________________________________________ 29
CAPÍTULO 02
DIREITO CONJUGAL

Direitos e Deveres dos Cônjugues: Eficácia do Casamento________ 33


Regime de Bens: Conceitos, Princípios, Regras Gerais e Alteração
de Regime________________________________________________ 36
Recapitulando_____________________________________________ 55

CAPÍTULO 03
DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE CONJUGAL

Conceitos Introdutórios_____________________________________ 60
Separação, Divórcio, Direitos da Mulher e Ritos no Código de Pro-
cesso Civil_________________________________________________ 64
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Constituição Federal e o Amparo à Família_____________________ 76


Recapitulando_____________________________________________ 80
Considerações Finais________________________________________ 85
Fechando a Unidade________________________________________ 86
Glossário__________________________________________________ 90
Referências_______________________________________________ 91

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O Direito de Família, agora sob a novel e moderna nomenclatu-
ra de “Direito das Famílias” ou “Direito da Família”, é um vetusto braço
do Direito Civil/Direito Privado e, certamente, um dos ramos mais remo-
tos do Direito enquanto ciência e enquanto sistema de normas.
Antes mesmo dos primórdios civilizatórios, sempre existiu a fi-
gura da família, construída, conforme pensadores gregos e medievais,
sob a égide do Direito Natural, pois a natureza gregária humana adveio
da formação de grupos familiares, aparentados pela consanguinidade
ou afinidade. Assim, a partir da família, como o primeiro grupo dotado de
regramento interno e hierarquia, foram-se fundando os demais agrupa-
mentos humanos, até chegar-se ao intrincado plexo grupal político-nor-
mativo dos tempos hodiernos.
Assim, o Direito da Família exsurge como expressão da Ciên-
cia do Direito, que estuda as interações normativas entre indivíduos
que, por relações de consanguinidade – ascendência, descendência ou
colateralidade – ou por afinidade vivenciam, permeiam e/ou permutam
situações que vão da afetividade a questões econômico-financeiras, de-
las se originando direitos e deveres juridicamente postos.
Séculos se passaram e tanto o jusnaturalismo como o Direito
Positivo encabeçaram ou provocaram as diversas alterações que de-
ram ao Direito de Família diferentes roupagens, consoante às épocas.
Muitas dessas mudanças, frise-se, ocorreram no século XX, mormen-
te após a Revolução Industrial e no chamado período “Pós-Guerras”,
diante dos eventos danosos e catastróficos perpassados pelos grupos
familiares durante tais momentos políticos e econômicos.
No Brasil não foi diferente. Antes uma nação rural até meados
dos anos 1950 do século passado, o país viu, de forma paulatina e
depois explosiva, a crescente debandada de famílias agrícolas para os
centros urbanos, o que mudou drasticamente as relações familiares: a
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figura do “arrimo” de família já não se concentrava unicamente no ho-


mem/marido/pai, mas passou a ser representada cada vez mais pela
figura feminina.
Logo, o capital intelectual e laboral originado das mulheres
cresceu consideravelmente, afastando-se elas exponencialmente da
figura de “mães e donas de casa”. Com base nessa mudança de com-
portamento pela sociedade no que tange às famílias, também se viu,
em sentido oposto, uma revisão do papel do homem, não como man-
tenedor financeiro da famílias, mas como ativo partícipe de todas as
decisões e atividades que a envolvem, inclusive as domésticas, afetivas
e emocionais, antes relegadas à mulher e tratadas como questões peri-
féricas ou subjacentes ao conceito antigo (e hoje antiquado) de família.
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Dessas mudanças sociais, políticas, econômicas e comporta-
mentais surgiram também as mudanças jurídicas, com novas formas
de direitos e obrigações, inclusive no que concerne à relação conjugal.
Nesta senda, princípios jurídicos afeitos à matéria brotaram ou
foram reformados pela doutrina civilista, como: Princípio da Isonomia
Conjugal, Princípio da Dissolubilidade do Vínculo, Princípio da Função
Social da família, Princípio da Afetividade, Princípio do Livre Planeja-
mento Familiar, Princípio da Monogamia, Princípio da Igualdade Jurí-
dica entre filhos, Princípio da Paternidade Responsável, entre outros.
No que toca ao Casamento, frutificaram-se novos direitos e de-
veres, tanto de cunho patrimonial como de cunho relacional (afetivo e
sexual). Novos regimes patrimoniais foram inseridos no Direito Civil co-
dificado, bem como novas obrigações frente à necessária consideração
das características nucleares da sociafetividade e da busca da felicida-
de (eudemonismo). Ademais, a dissolubilidade da sociedade conjugal
foi repensada, sendo novos institutos trazidos à baila.
Assim, o Direito Familiar não se presta a ser um engessamento
ao trato e convivência parentais pelo Estado, mas possui um escopo: o
Estado, enquanto ente que rege e orienta a sociedade, protegerá e en-
tidade familiar – e em especial, o casamento e seus direitos e deveres
–, em conformidade com a vontade desta.
Ante a importância histórica atribuída a tal área do Direito, é
imperiosa a compreensão acerca de seus institutos especificamente no
que concerne ao casamento e todos os desdobramentos jurídicos, so-
cioafetivos e patrimoniais envoltos a ele, objeto de estudo neste módulo.

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CASAMENTO
CASAMENTO: CONCEITOS, ORIGEM, FINALIDADE E OUTROS APON-
TAMENTOS
O casamento perpassa desde eras quase imemoriais pela in-
tervenção social e estatal, seja por meio da lei positiva ou pelas normas
das religiões. Sua origem remonta à antiguidade e ao início das civiliza-
ções humanas, emergidas nas tradições religiosas de que o casamento
tem cunho sacro ou sacramental (como o é nas Igrejas Cristãs) e que a
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união de um casal deveria ser abençoada para ter validade diante dos
demais membros da coletividade em que se inseriam.
Note-se que, da antiguidade até meados do século XX (e em
alguns países subdesenvolvidos ou extremamente fundamentalistas/
tradicionalistas, até hoje), os casamentos eram em regra contraídos e
formalizados pela vontade dos pais – vontade essa social, econômica
e até politicamente motivada – visando à estabilidade, ao aumento de
status ou à influência junto aos estamentos tradicionais, civis e religio-
sos da época, conforme a motivação direta ou reflexamente exposta.
No Ocidente, sobretudo nas nações de tradição judaico-cristã,
em termos socioculturais, o casamento se traduz como a manifestação
da união de duas pessoas (ou da concretização da intenção e desejo de
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unirem-se) em um vínculo social que resulta na coabitação: a convivên-
cia estável e duradoura, sob uma habitação comum e sob a premissa
da reciprocidade e auxílio (affectio maritalis) em anseios, votos e ações,
com o fim primordial de estruturar uma família, com a procriação e cria-
ção mútua da prole.
Parte-se do pressuposto de que os nubentes (ou noivos, pes-
soas que manifestaram legal e socialmente a intenção de se casar) te-
nham um prévio contexto de relacionamento afetivo e íntimo, ao qual
querem dar ares de legitimidade aos olhos da sociedade e do Estado
por meio do enlace matrimonial solene e devidamente levado a efeito.
Embora culturalmente basilar, a ideia de casar-se para obter-se
com a (possivelmente) futura prole a formação de família não é a única
finalidade ou escopo do casamento: as pessoas se casam (ou “se dão
em casamento”, como rezavam os apóstolos bíblicos) para os mais va-
riados motivos. Motivações sociais, econômicas, financeiras, psicológi-
cas/emocionais e até mesmo sexuais rodeiam as decisões das pessoas
que decidiram ter uma vida em comum, compartilhando e flexibilizando
suas garantias constitucionais de liberdade, intimidade e privacidade.
Juridicamente, o casamento tem sido interpretado e considera-
do um contrato em nosso ordenamento, um contrato civil no âmbito do
Direito de Família. Desse contrato advém uma sociedade, denominada
Sociedade Conjugal, que estabelece o estado de casados entre as par-
te contraentes, que manifestaram livremente sua vontade de ingressar
e permanecer no referido estado.
Para muitos, é um negócio jurídico dotado de solenidade (ca-
ráter solene, formal, revestido na lei), por meio do qual duas pessoas de
sexos opostos manifestam livremente a vontade de formar família pe-
rante a sociedade e as leis cogentes do Estado. Para outros, é o vínculo
jurídico entre o homem e mulher que objetiva o auxílio mútuo material e
espiritual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constitui- DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

ção de uma família. Alguns (DIAS, 2011) sintetizam simplesmente como


a celebração do matrimônio e a relação jurídica que dele redundam (a
relação ou vínculo matrimonial).
Muitos conceitos elaborados pela doutrina clássica acabaram
por se desatualizar diante das mudanças de cultura e comportamento
na sociedade, as quais provocaram rupturas nas bases do que era con-
siderado como casamento tradicional. Soma-se a essa ruptura a mu-
dança paradigmática da jurisprudência dos Tribunais Superiores quanto
à formação de entidades familiares e ao casamento.
Com supedâneo nessas alterações jurídico-sociais, o casa-
mento pode ser conceituado como a união jurídica conjugal entre dois
seres humanos capazes com o objetivo (fim, não requisito) de constituir
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família, gerando responsabilidade e obrigações provenientes do negó-
cio jurídico bilateral (ASSIS NETO et al, 2015, p. 1530).

O casamento é um negócio jurídico bilateral, em que as partes


manifestam livremente seu interesse de ter uma vida em comum, com
reponsabilidades e obrigações de um para com o outro e para com a
manutenção do estado de casado e da família formada ou a formar,
canalizando reciproca e proporcionalmente esforços para tanto. No en-
tanto, o casamento não é um fim em si mesmo e suas finalidades típicas
- ter relações sexuais, ter filhos e estruturar família - não são requisitos
essenciais para a continuidade legal do matrimônio, não podendo o Es-
tado interferir nisso.

Ainda quanto à natureza jurídica do casamento, alguns trata-


mentos são dados pela doutrina. Há correntes que o enxergam como
ato administrativo ou contrato de adesão, dela se extraindo a nomencla-
tura de “Corrente Publicista”.
Essa linha propõe que somente a solenidade (ato administra-
tivo) realizado pelo Estado – o casamento civil – é válida. Todavia, olvi-
da-se que a manifestação do celebrante é ato meramente declaratório,
que exprime a vontade entabulada pelos contraentes, vontade que se
converte em ato solene e pessoal não por desejo do Estado, mas das
partes. Já na Corrente Privatista, o casamento é instituto de Direito Pri-
vado que sofre parcialmente derrogações do Direito Público.
Talvez a melhor teoria seja a de que o casamento é uma “Ins-
tituição Social”, pois como reza o caput do artigo 226 da Constituição
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da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988), a família é a


base da sociedade – como base, alicerce, pedra fundamental, a ótica
meramente jurídica tende a ser fria ao dispensar-lhe o tratamento de
negócio jurídico bilateral, contratual. Melhor seria dizer se tratar de um
contrato sui generis, fundado na afetividade, na reciprocidade e no con-
sentimento.
De acordo com a dogmática jurídica clássica, o casamento
possui requisitos essenciais, sem os quais será considerado inexisten-
te. São eles: o consentimento, a celebração por autoridade competente
na matéria e a diversidade de sexos.
O consentimento é manifestado quando ambas as partes ex-
planam de maneira hialina a intenção de contrair matrimônio. Os nuben-
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tes, entretanto, podem ser representados no ato, desde que outorguem
mandatos para procuradores distintos.
O consentimento é manifestação indene de dúvidas: quaisquer
resquícios de dúvida ou aparente discordância podem resultar na sus-
pensão da celebração, ainda que a dúvida seja suscitada indiretamente
ou em tom jocoso.
Destarte, mesmo que manifestado por meio de procurador, o
consentimento não poderá ser suprimido ou substituído por outro ato
muito menos suprido judicialmente, exceto, neste último caso, se o con-
sentimento – na verdade autorização – for denegada a menores de 18
(dezoito) anos por seus representantes legais.
A celebração pela autoridade com competência material é com-
pulsória, vez que é ato minudentemente cuidado pela legislação pátria.
Por corolário, resta óbvio que a realização por celebrante incompetente
o ato será embebido de invalidez.
O último dos requisitos, a diversidade de sexos, é assunto ain-
da tabu e será discutido em tópico próprio e apartado neste estudo.
No que pertence à capacidade para o casamento, temos que
essa não equivale à capacidade civil.
A idade legalmente mínima para casar é de 16 (dezesseis)
anos, denominada “Idade Núbil”. Todavia, os menores de 18 (dezoito)
anos necessitam de autorização dos genitores ou responsáveis legais
para tanto. Vide disposições do CC/2002:

Art. 1.517. O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-
-se autorização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquan-
to não atingida a maioridade civil.
Parágrafo único. Se houver divergência entre os pais, aplica-se o disposto no
parágrafo único do art. 1.631.
Art. 1.518. Até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar
a autorização. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
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Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida


pelo juiz.
Art. 1.520. Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código. (Re-
dação dada pela Lei nº 13.811, de 2019).

A antiga redação do artigo 1520 do CC previa, excepcional-


mente, que seria permitido o casamento de quem ainda não alcançou a
idade núbil para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou
em caso de gravidez.
Assim, pela novel redação legislativa hoje, mesmo quando se
tratar de adolescentes grávidas, a estas é defeso o casamento. Do mes-

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mo modo, o casamento de menores para afastar a punibilidade penal
não mais pode ocorrer, e já era pacífico na jurisprudência, antes mesmo
do novo texto trazido pela Lei Federal n. 13.811/2019, pois o artigo 107
do Código Penal foi revogado pela Lei 11.106/2005.

CASAMENTO RELIGIOSO: NOÇÕES E EFEITOS CIVIS


No Direito Brasileiro, a Família e o Casamento se confundiram
por muitos anos, pois aquela só era reconhecida se sobreviesse deste
(ASSIS NETO et al, 2015, p. 1530). A assim denominada Família Matri-
monial norteou a sociedade brasileira desde os tempos coloniais, sendo
o único modelo de família aceito pelo Estado. Tal família originava-se de
um casamento constituído nos registros civis (casamento civil) e entre
pessoas de sexos opostos.
Tal arquétipo de família preenche o maior quantitativo de enti-
dades familiares em nossa sociedade, e no seio de agrupamentos hu-
manos mais tradicionais e conservadores, a exemplo de municipalida-
des do interior e populações rurícolas, é o ainda considerado “aceito
socialmente”. Já a aceitação do casamento heteroafetivo como base da
sociedade (sociedade heteronormativa, frise-se) foi (e ainda é) influên-
cia do Cristianismo, sobretudo da vertente católica.
O Catolicismo Romano foi secularmente a religião oficial do
Brasil, enquanto ainda não se admitia ou se pensava a laicidade estatal.
Por muitos anos, o direito pátrio reconheceu o casamento católico como
o único revestido de validade jurídica.
Ao final do século XIX, e com o limiar do século seguinte, toda-
via, foi iniciada a separação do Estado da Igreja pelas constituições e
ordenamentos positivos internacionais, o que não foi diferente no Brasil.
Os Estados Ocidentais passaram paulatinamente a abandonar a ideia
de religião oficial, diante da propagação de novas correntes religiosas,
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provenientes de suas então religiões oficiais, e o surgimento e aceitação


de novas religiões e cultos.
Nesse quadro de mudanças orgânicas dos sistemas jurídicos,
o Brasil, num primeiro momento, já sob o pálio da Primeira República,
editou norma jurídica prevendo a instituição do casamento civil – o De-
creto n. 181, de 24 de janeiro de 1891, cujo autor foi o eminente jurista
Ruy Barbosa.
Cerca de um ano depois, a primeira Constituição republicana
(Constituição Federal de 24 de Fevereiro de 1891) trouxe, no paragrafo
único de seu artigo 72, que somente seria reconhecido o casamento
civil, cuja celebração detém gratuidade. Tal previsão no Primeiro Texto
Magno foi um divisor de águas, um marco na separação do Estado Bra-

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sileiro da influência da Igreja Católica, enaltecendo que aquele deve ser
laico e aceitar todas as formas religiosas possíveis, sem se prender aos
dogmas de apenas uma.
As disposições acima foram concretizadas pelo Código Civil de
1916 e pela atual Constituição (CRFB/1988).
Entrementes, o matrimônio celebrado em sede religiosa conso-
lidou-se como costume, reconhecido cultural e socialmente. Em razão
disso, a celebração cultista foi legalmente admitida como válida, obser-
vando-se, em todo o caso, os regramentos estatuídos para o casamen-
to civil.
Noutras palavras, os ritos e requisitos de habilitação e certi-
ficação desta junto às serventias cartoriais competentes (Registro Ci-
vil) deverão ser igualmente observados para que o casamento produza
efeitos na seara civil. Para que o casamento religioso tenha efetividade
civil (ou seja na esfera privada e de terceiros, incluindo o Estado), faz-se
mister o exaurimento das formalidades previstas na lei.
Com efeito, reza o artigo 1.516 do Código Civil de 2002 (atual
Código Civil – CC/2002):

Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requi-


sitos exigidos para o casamento civil.
§ 1º O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de
noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao
ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja
sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o
referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação.
§ 2º O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas
neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado,
a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a
autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532.
§ 3º Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer
dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil.
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Tal comando legislativo veio procedimentalizar e concretizar


disposição genérica análoga na atual Constituição Federal, em seu art.
226, §2º, que preleciona que “o casamento religioso tem efeito civil, nos
termos da lei” (CRFB/1988).
O matrimônio religioso será celebrado por ministro da religião
escolhida pelos nubentes (ASSIS NETO, 2015, p. 1544), que terá o
encargo de recolher a assinatura dos noivos, das testemunhas e provi-
denciar o registro do enlace celebrado.
Logo, vê-se que o tal modalidade de celebração matrimonial se
sujeita aos mesmos critérios, solenidades e procedimentos de qualquer

17
casamento efetuado no registro civil: terminada a cerimônia religiosa,
com a coleta e lançamento dos nomes de todos os signatários que com-
pulsoriamente devem assinar, o celebrante (padre, pastor ou qualquer
outro cerimonialista encarregado da celebração religiosa, deverá reme-
ter à serventia civil competente no prazo de 90 (noventa) dias contados
da realização do matrimônio.

Para alguns doutrinadores, o casamento espírita não teria va-


lidade e não tem o condão de ter efeitos civis, por não ser o Espiritismo
uma religião, mas uma filosofia que engloba dogmas majoritariamente
cristãos. Em sentido contrário, o Tribunal de Justiça da Bahia decidiu
que o casamento religioso realizado por ministro espírita tem efeitos
civis (TJBA, MS 34739-8) Para saber mais sobre esse assunto, acesse:
https://jus.com.br/pareceres/16 666/ministerio-publico-entende-que-ca-
samento-em-centro-espirita-pode-ter-efeitos-civis

Religião x Modernidade: diversidade de sexos e casamento ho-


moafetivo
Feitas essas considerações, será necessário tecer algumas
ponderações sobre a conjuntura atual do casamento, principalmente
sob a ótica religiosa hodierna.
Como dito anteriormente, a aceitação do casamento heteroafe-
tivo como base da sociedade heteronormativa foi e ainda é influência de
nossas tradições judaico-cristãs herdadas de nossos colonizadores eu-
ropeus, sobretudo da vertente católica do Cristianismo. Pode se frisar,
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assim, que a visão conservadora de grande parte da sociedade quanto


ao padrão de relacionamentos afetivos tem por base o conteúdo de
textos sagrados dessas religiões monoteístas abraâmicas, que vedam e
rechaçam uniões de pessoas de sexos idênticos e as consideram como
abominação e pecaminosas.
Também foi dito em tópico alhures que, ao lado do consenti-
mento e da celebração por autoridade competente, a doutrina clássica
tem a diversidade de sexos como um dos requisitos essenciais do ca-
samento enquanto instituto jurídico.
Neste tocante, a legislação é enfática ao asseverar que o ca-
samento se realiza no momento em que o HOMEM e a MULHER ma-
nifestam, perante o juiz, sua vontade em estabelecer vínculo conjugal,

18
conforme se obtém do artigo 1.514 do Código Civil de 2002.
Igualmente se vislumbra no artigo 1.517, que estatui que o HO-
MEM e a MULHER com dezesseis anos podem casar, exigindo-se auto-
rização de ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto
não atingida a maioridade civil.
Lado outro, a Constituição Federal preceitua que reconhece a
união estável entre HOMEM e MULHER como entidade familiar, deven-
do a lei facilitar sua conversão em casamento (art. 226, §3º).
Ora, fazendo-se uma interpretação literal e sistemática des-
tas e de outras disposições normativas congêneres, percebe-se, num
primeiro momento, que a oposição de sexos é impositiva para que o
casamento se realize, o que denota que somente as relações heteros-
sexuais e heteroafetivas detêm legitimidade jurídica e social.
Com advento da modernidade, o Estado Brasileiro passou a
garantir como família toda união de caráter duradouro e estável, ao que
a doutrina deu o nome de “Família Natural”. Do reconhecimento dessa
família vieram as deliberações políticas e decisórios judiciais quanto ao
reconhecimento dos relacionamentos estáveis entre pessoas do mes-
mo sexo – enlaces homossexuais e famílias homoafetivas –, até então
desguarnecidas da proteção estatal de seus direitos.Com isso, a ques-
tão da diversidade sexual como requisito essencial ao casamento foi
sendo escamoteada paulatinamente.
Na 169ª Sessão Plenária no ano de 2013, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ), por meio de ato normativo de sua alçada (Resolução
n. 175, de 14 de maio de 2013), autorizou e determinou a promoção/
realização de casamento de pessoas de mesmo sexo por todos os car-
tórios extrajudiciais de registro civil do país.
Tal resolução se embasou no acolhimento, pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), da existência e validade jurídicas das uniões
homoafetivas em sede de controle de constitucionalidade na Ação de DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Direta de Inconstitucionalidade – ADI n. 4277/DF e Ação de Descumpri-


mento de Preceito Fundamental – ADPF n. 132/RJ, as quais reconhece-
ram a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões
estáveis constituídas por pessoas de mesmo sexo. Também se lastreou
o CNJ em decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento
do Recurso Especial REsp n. 1.183.378/RS, que decidiu pela inexistên-
cia de empecilhos legais à celebração de casamento entre pessoas de
mesmo sexo.
Diante desse quadro, o elemento ou requisito diversidade de
sexos tornou-se juridicamente inadequado, impróprio e obsoleto como
exigência essencial para configuração e realização do casamento. Os
conceitos de família e casamento vêm sendo atualizados, ganhando
19
roupagens de modernização, vez que a CRFB/1988 estabeleceu uma
nova etapa para esses institutos, fundados numa pluralidade de formas
em que “arranjos multifacetados” são igualmente aptos a constituir os
núcleos familiares, sendo todos eles dignos de atenção e proteção do
Estado (REsp 1183378/RS).
Então, o que se vê é que o ordenamento jurídico brasileiro, em
mudanças paradigmáticas, vem aplicando o Princípio da Dignidade da
Pessoa Humana, positivado nos artigos 1º, inciso III e 226, §7º, ambos
da atual Constituição da República em todas as relações humanas que
possuem desdobramentos ou ligações com familiares, observando-se
as peculiaridades de cada caso. Também os Tribunais vêm aplicando
conjuntamente com a premissa da dignidade humana em comento o
Princípio da Igualdade, reservando a casais ou famílias tidas por “não
habituais” o mesmo tratamento dispensando às antiquadamente con-
sideradas “famílias-padrão” e/ou “uniões-padrão”, recebendo estatal-
mente a mesma proteção e mesmos direitos, sem que seja permitido
quaisquer tipos de preconceitos ou ações (e reações) discriminatórias
por parte de órgãos e serviços públicos ou privados de caráter público.
Apesar desse posicionamento do nosso sistema jurídico, não
é unanimidade na doutrina que o casamento homoafetivo detenha per-
missão legal para ocorrer. Muitos ainda enxergam a diversidade sexual
como requisito intrínseco à realização do matrimônio, embora reconhe-
çam como entidade familiar (ASSIS NETO, 2015, p. 1532).

Se o casamento homoafetivo foi aceito pelos Tribunais Supe-


riores, a união estável entre homossexuais, já aceita pelo ordenamento,
obviamente pode ser convertida em casamento nos moldes do artigo
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

226, §3º da CRFB/1988, mesmo que tal disposição se refira a homem


e mulher. Em verdade, tudo o que os tribunais fizeram foi dar uma in-
terpretação conforme a Lei Maior, resultando numa “Mutação Constitu-
cional” ou “Poder Constituinte Difuso”. Para saber mais, acesse: http://
www.editoramagister.com/doutrina_27728615_O_PAPEL_DO_PO-
DER_CONSTITUINTE_DIFUSO_PARA_A_MAXIMA_EFETIVIDADE_
DOS_DIREITOS_FUNDAMENTAIS.aspx

Analisada brevemente toda essa questão, pode-se inferir que o


reconhecimento, autorização e proteção dos casamentos realizados en-
tre pessoas do mesmo sexo é situação jurídica que não permite o cha-
20
mado “Efeito Cliquet”, a retroação na defesa de direitos já reconhecidos
para deixá-los desguarnecidos, como preceitua o Princípio da vedação
ou proibição ao retrocesso dos Direitos Fundamentais, do festejado au-
tor português José Joaquim Gomes Canotilho.

O Princípio da Vedação ao Retrocesso (Efeito Cliquet) impede


que situações já legitimadas e consolidadas pela jurisprudência, alçadas
ao patamar de direitos fundamentais sociais, tornem a se deslegitimar
em razão de alguma mudança interpretativa ou legislativa, principal-
mente diante de ondas ideológicas de conservadorismo, muito comuns
no meio político, num patente retrocesso social e insegurança jurídica.
Para saber mais sobre esse princípio, acesse: https://joaoamerico.jus-
brasil.com.br/artigos/614642783/o-que-e-efeito-cliquet

CASAMENTO CIVIL E FAMÍLIA: INSTITUIÇÃO E RAZÕES


Consoante leitura do Código Civil de 2002, o casamento, res-
salvada a escolha pela celebração religiosa, é pura e originariamente
civil, ou seja, o reconhecimento e validez jurídica de um matrimônio só
se efetivarão se todas as normas legais e procedimentos ritualísticos
(solenidades) forem observados e cumpridos.
A instituição e a razão do casamento civil se dão por corolário
constitucional: a CRFB/1988: no já estudado artigo 226, §1º, a Carta
Política estabelece que a família é a base da sociedade e tem proteção
especial do Estado.
A Família é instituição social de extrema relevância e, por con- DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

sequência, possui tratamento jurídico particular. De outro lado, o casa-


mento (também a união estável, a seu turno) é tido como fundamental
na constituição e organização da família, uma vez que a partir do enlace
matrimonial, vínculos familiares são criados, os quais são verdadeiros
institutos jurídicos: sociedade conjugal/vínculo conjugal, filiação, paren-
tesco, afinidade etc.
Todo um arcabouço de direitos, garantias, deveres e obriga-
ções nascem da instituição da sociedade conjugal, e quando esta de-
semboca na constituição de uma família, mais direitos e deveres devem
ser estabelecidos pelo Estado. Logo, interessa ao Estado manter as ré-
deas da regulação de todos os institutos e conseguintes atinentes à for-
mação e manutenção de uma entidade familiar, pois um emaranhado de
21
políticas públicas são formatadas com base nas famílias, e até mesmo
imposições e isenções de ordem tributária são idealizadas e efetuadas
com fundamento em vínculos conjugais e familiares.

Validade e Prova do Casamento


A validade do casamento direciona-se intimamente com a pre-
sença dos requisitos autorizativos ou de circunstâncias impeditivas ou
que invalidem o casamento. Primeiramente, faz-se imprescindível dife-
rençar os institutos da incapacidade e do impedimento.
A incapacidade tem um caráter restritivo geral, sendo defeso
à pessoa casar-se com qualquer outra, independentemente de quem
seja: é o que ocorre, por exemplo, quando um dos pretensos nubentes
não possui ainda a idade núbil. Por sua vez, o impedimento configura
uma proibição casuística, circunstancial (ASSIS NETO, 2015, p. 1537),
consistente em não poder casar-se com determinada(s) pessoas(s).
As causas impeditivas ou impedimentos matrimoniais (ou im-
pedimentos dirimentes públicos ou absolutos previstos no CC/1916) são
taxativas, lastreadas em motivos éticos, genéticos, morais e sociais, ca-
pitaneados pelo interesse público. A desobediência a elas resulta em
nulidade do casamento. São situações especiais em que a violação ao
sistema civil e social, revestindo-se de potencial gravidade: relações
incestuosas entre membros do núcleo familiar e a famigerada bigamia.
Os impedimentos podem ser opostos por qualquer pessoa civilmente
capaz, mesmo no momento da celebração, ou ainda serem detectadas
de ofício pelo registrador ou pelo juiz. Havendo a oposição de impedi-
mentos, a certidão de habilitação não será expedida (artigo 1.528 do
CC/2002).
Os impedimentos matrimoniais estão dispostos no artigo 1.521
do Código Civil, enfeixando-se categoricamente que, diante das cir-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

cunstâncias nele elencadas, as pessoas que alguma delas forem in-


sertas NÃO poderão se casar. A interpretação é literal e taxativa, e o
descumprimento (ou cometimento) de alguma das hipóteses ensejará
a nulidade do casamento, conforme estabelecido no artigo 1548, inciso
III do Código Civil.
Cite-se o capítulo em específico:

Dos Impedimentos
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o

22
foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro
grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebra-
ção do casamento, por qualquer pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da
existência de algum impedimento, será obrigado a declará-lo.

De maneira sintética, pode-se asseverar que a lei impede (proí-


be, veda, não possibilita) o casamento entre pais e filhos e entre avós
e netos (inciso I), mesmo em caso de adoção, por questões éticas e
genéticas e evitar o degringolar das relações familiares e a propagação
de distúrbios de saúde de ordem genética; entre sogro e nora ou genro
e sogra (inciso II), também por razões morais além de se ter em con-
sideração que o parentesco por afinidade é perene (artigo 1.595, §2º);
entre o (a) adotante com a ex-esposa ou ex-marido do adotado(a), ou
deste(a) com ex-consorte do adotante (inciso III); entre irmãos, ainda
que um deles seja adotado, e entre tios(as) e sobrinhas(os) (incisos IV
e V); entre o(a) homicida doloso(a) condenado(a) pelo cometimento ou
tentativa de homicídio contra o cônjuge da pessoa com que pretende se
casar (inciso VII).
Como reza o artigo 1.522, os impedimentos podem ser opostos
por qualquer pessoa capaz – incluindo o representante do Ministério
Público –, cabendo ao registrador celebrante e o juiz opô-las ex officio
caso conheçam alguma causa impeditiva.
No tocante às causas suspensivas (também chamadas “impe-
dimentos proibitivos” ou “causas impedientes”), tem-se que essas, ao DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

contrário das impeditivas, são relativas, ou seja, não detêm a taxativida-


de proibitiva destas, pois o núcleo legal se insere na oração “não devem
se casar”.
Para tanto, cite-se o artigo 1.523 e 1.524 do Código Civil:

Art. 1.523. Não devem casar:


I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou
ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da
dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida
a partilha dos bens do casal;

23
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, ir-
mãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada,
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas
as respectivas contas.
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não
lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I,
III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respecti-
vamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada
ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nasci-
mento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo.
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento po-
dem ser arguidas pelos parentes em linha reta de um dos nubentes,
sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau,
sejam também consanguíneos ou afins.

Em verdade, tais disposições do diploma civilista estatuem uma


proteção à possível confusão de patrimônios ou quanto à paternidade
ou filiação, afastando-se ou minorando-se a possibilidade e probabilida-
de de judicialização de longas e estafantes querelas judiciais.

Em outras palavras, pelas causas suspensivas as pessoas po-


dem se casar, não estando impedidas de contrair matrimônio, embora
não devessem em razão das circunstâncias fático-jurídicas elencadas
na lei. Seu casamento terá validez, mas o regime de bens não poderá
ser escolhido pelos nubentes, que ficarão sob o regime de separação
obrigatória de bens previsto no artigo 1.641 do CC/2002, o qual será
estudado à frente.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Exposta a aferição da validade, será necessário falar sobre o


seu oposto, a invalidade. A invalidade, invalidez ou nulidade do casa-
mento está prevista no CC/2002, artigos 1.548 a 1.564. A invalidade do
casamento pode ser absoluta (casamento nulo - nulidade absoluta) ou
relativa (casamento anulável - nulidade relativa), e tais acepções distin-
tas são importantes no que tange à produção de efeitos após o enlace
matrimonial indevidamente celebrado.
O casamento nulo não produz nenhum efeito e, quando decla-
rada a nulidade, esta será ex tunc (retrospectiva), sendo a nulidade ab
ovo ou ab initio. Conforme a lei (artigo 1.548, inciso II do CC), é nulo
casamento contraído por quem não podia se casar, ou seja, por quem

24
infringiu as causas de impedimento anteriormente estudadas. A ação
declaratória de nulidade do casamento é imprescritível e pode ser ajui-
zada por qualquer interessado e pelo Ministério Público.
Importante aduzir que o casamento inexistente é conceito dis-
tinto de casamento nulo. O casamento é inexistente quando não houver
o sujeito de direito (pessoa apta para casar), sendo inexistente o casa-
mento com pessoa morta, não nascida ou com animais (ASSIS NETO,
2015).
Quanto à anulabilidade (nulidade relativa) do casamento, a lei
prevê que são anuláveis determinados casamentos, verbis:

Art. 1.550. É anulável o casamento:


I - de quem não completou a idade mínima para casar;
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante
legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consen-
timento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse
da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.

No que concerne ao inciso III, tem-se que o casamento pode


ser anulado quando presente e comprovada uma vontade viciada por
parte de um dos nubentes, quando consentiu desconhecendo a presen-
ça de circunstância errática (erro essencial quanto ao outro). O erro é
uma falsa representação da realidade, induzindo alguém a emitir sua
declaração de vontade de maneira objetivamente contrária ao que faria
se conhecesse a verdade.
Para provocar a anulabilidade do casamento, o erro essen-
cial ocorrerá quando (i) a pessoa desconhecer a honra, boa-fama e ou
identidade do outro, tornando-se a vida em comum insuportável quan-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

do descoberto o erro; (ii) quando o cônjuge desconhecer a prática de


crime pelo outro, anterior ao casamento, e tal fato torne insuportável a
vida conjugal; (iii) a ocultação, por um dos cônjuges, de doença grave
e transmissível hereditariamente ou por contágio, que ponha em risco a
vida do outro cônjuge e de sua prole e descendência, como tuberculose,
AIDS, hemofilia, ou a ocultação de defeito físico irremediável e que não
caracterize deficiência, a exemplo da impotência sexual gravitacional
(impotência coeundi), anterior ao casamento e absoluta, sem possibili-
dade de correção, e a impotência de gerar (generandi) ou infertilidade,
também anterior ao casamento e quando houver ocultação desta pelo
cônjuge.

25
As ações de anulabilidade são prescritíveis, diferentemente
das de nulidade, como se vê no artigo 1.560 do CC/2002, com prazos
para cada situação. O casamento nulo ou anulável, quando operado de
boa-fé subjetiva por ambos os cônjuges, preservará todos os seus efei-
tos para aqueles e seus filhos até o dia da sentença anulatória (artigo
1.561). Se apenas um dos cônjuges estava de boa-fé, somente a ele e
seus filhos estarão preservados os efeitos do casamento (§1º), mas se
ambos agiram de má-fé, só aos filhos serão preservados os efeitos civis
do matrimônio nulificado ou anulado (§2º).
Por fim, tem-se que o cônjuge responsável pela causa enseja-
dora da nulidade ou anulação perderá todos os direitos que porventura
tiver sobre o patrimônio do cônjuge inocente, devendo ainda cumprir
tudo o que prometera na ocasião da lavratura do pacto antenupcial. Os
terceiros de boa-fé terão seus direitos preservados caso algum bem
ou direito que tenham adquirido dos cônjuges venha a ser questionado
judicialmente (artigo 1.563).
Feitas essas considerações quanto à validade, passemos à
prova do casamento, disposta no artigo 1.543 e seguinte de nosso es-
tatuto civil:

Das Provas do Casamento


Art. 1.543. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do re-
gistro.
Parágrafo único. Justificada a falta ou perda do registro civil, é admissível
qualquer outra espécie de prova.
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as
respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em
cento e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao
Brasil, no cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1 o Ofício da
Capital do Estado em que passarem a residir.
Art. 1.545. O casamento de pessoas que, na posse do estado de casadas,
não possam manifestar vontade, ou tenham falecido, não se pode contestar
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

em prejuízo da prole comum, salvo mediante certidão do Registro Civil que


prove que já era casada alguma delas, quando contraiu o casamento impug-
nado.
Art. 1.546. Quando a prova da celebração legal do casamento resul-
tar de processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro
Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita
aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento.
Art. 1.547. Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-
-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna,
viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.

De acordo com o artigo 1.543, o casamento celebrado em terri-

26
tório brasileiro será comprovado pela Certidão de casamento, expedida
pelo registro civil competente e comumente lavrada após a realização
da celebração e lançamento em livro (registro) próprio.
Todavia, o referido preceptivo traz em seu parágrafo único a fi-
gura doutrinária conhecida por “prova supletória ou supletiva”. Tal figura
consiste na admissibilidade de se comprovar a realização e existência
do matrimônio por qualquer meio probante juridicamente válido quando
ocorrer perda da certidão ou em quando a posse desta for faltosa por
motivos diversos.
O artigo 1.545 do CC/2002, por sua vez, admite a comprova-
ção do casamento por meio daquilo que a doutrina nomeia como “pro-
vas indiretas”, as quais se configuram comprovando-se, entre outras, a
“posse do estado de casado”, a utilização do nome do outro cônjuge, o
tratamento dispensado mutuamente pelos consortes (tratando-se como
casados entre si) e a fama social, que é o tratamento e reconhecimento
pela como casados.
ASSIS NETO (2015, p. 1548) adverte quanto ao postulado do
in dubio pro matrimonio, na hipótese de subsistir dúvidas quanto à exis-
tência ou inexistência do vínculo conjugal: havendo essa dúvida, even-
tual pronunciamento judicial deverá ser proferido favoravelmente pela
existência.

DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

27
MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros
Monteiro França. Curso de direito civil: direito de família. 41ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.

TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil: direito de fa-


mília. 6ª. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
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28
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão MP-RJ Prova: Analista Processual
Nível: Superior.
Eudora e Janice, primas, namoram há três anos e decidiram levar
o relacionamento para um nível mais sério. Por isso, no dia dos na-
morados, noivaram e iniciaram o procedimento de habilitação para
o casamento civil. No ano de 2019, o casamento civil foi celebrado.
De acordo com o atual sistema jurídico brasileiro, o casamento é:
a) nulo.
b) inexistente.
c) válido.
d) anulável.
e) ineficaz.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado Nível: Superior.
Alberto, adolescente, obteve autorização de seus pais para casar-
-se aos dezesseis anos de idade com sua namorada Gabriela. O ca-
sal viveu feliz nos primeiros meses de casamento, mas, após certo
tempo de convivência, começaram a ter constantes desavenças.
Assim, a despeito dos esforços de ambos para que o relaciona-
mento progredisse, os dois se divorciaram pouco mais de um ano
após o casamento. Muito frustrado, Alberto decidiu reunir algumas
economias e adquiriu um pacote turístico para viajar pelo mundo e
tentar esquecer o ocorrido. Considerando que Alberto tinha dezes-
sete anos quando celebrou o contrato com a agência de turismo DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

e que o fez sem qualquer participação de seus pais, o contrato é.


a) válido, pois Alberto é plenamente capaz.
b) nulo, pois Alberto é absolutamente incapaz.
c) anulável, pois Alberto é relativamente incapaz.
d) ineficaz, pois Alberto não pediu a anuência de Gabriela.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: QUADRIX Órgão: CRA-PR Prova: Advogado.
Nível: Superior.
No que tange ao direito de família, julgue o item. De acordo com
a teoria eclética, o casamento é um negócio jurídico bilateral sui
generis, sendo um contrato quanto aos aspectos de sua formação
29
e uma instituição no que toca a seu conteúdo:
a) Errado
b) Certo

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: MPE-PB Prova: Promotor de Justiça
Substituto Nível: Superior.
O Ministério Público pode, mediante ação direta, promover a de-
cretação de nulidade de casamento.
a) por incompetência da autoridade celebrante.
b) realizado entre madrasta, que novamente viuvar-se, e seu enteado.
c) realizado entre primos.
d) do incapaz de consentir ou manifestar de modo inequívoco o consen-
timento.
e) de quem não completou a idade mínima para casar.

QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: CONSULPLAN Órgão: TJMG Prova: Titular Re-
gistros Notas e Registros Nível: Superior.
São impedidos de casar
a) os parentes colaterais até o quarto grau.
b) os afins em linha reta e em linha colateral.
c) o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem
o foi do adotante.
d) o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


A partir dos conceitos doutrinários, comente acerca da significação ho-
dierna do instituto do casamento.
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TREINO INÉDITO
O princípio jurídico do atual Direito da Família que permite ao casal a
opção de não ter filhos:

a) o princípio da paternidade responsável.


b) o princípio do maior interesse da criança.
c) o princípio do livre planejamento familiar.
d) o princípio da liberdade.
e) o princípio da afetividade.

30
NA MÍDIA

Na contramão das demais capitais, promotoria em Florianópolis se opõe


a casamentos homoafetivos

Garantido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e por


uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o direito de
casais homossexuais de se casarem no civil tem sido barrado pela 13ª
Promotoria de Justiça de Florianópolis, responsável pela fiscalização
das habilitações de casamentos. O titular da unidade, promotor Henri-
que Limongi, se opõe às solicitações, usando como justificativa a Cons-
tituição Federal de 1988 (CF/88).
Levantamento do G1 Santa Catarina com os Ministérios Públicos de
todos os estados e do Distrito Federal aponta que a maioria das promo-
torias das capitais não faz distinção entre casamentos homoafetivos e
heterossexuais. Em Florianópolis, do total de 46 habilitações de uniões
entre casais do mesmo sexo em 2019, todas foram impugnadas, mas
autorizadas judicialmente. Em São Luis (MA), o MP local confirmou que
houve pelo menos um caso no ano passado. Os MPs do Acre e de Ser-
gipe não responderam as perguntas da reportagem.
Os casais, sejam heterossexuais ou homossexuais, que querem se ca-
sar devem procurar um cartório para dar início ao processo de habilita-
ção. Após publicação na imprensa local com o pedido, cabe ao Ministé-
rio Público, em até 15 dias, fiscalizar se existe algum impedimento legal
para a união. O MP pode impugnar o casamento, mas a decisão final é
da justiça.
Limongi faz parte dos quadros do MPSC desde 1981. O G1 procurou
o servidor público para falar sobre o assunto, mas, por meio de nota
enviada pela assessoria de imprensa, ele disse que não concede
entrevista, que se manifesta somente nos autos, que é «devoto do DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Estado de Direito» e que a Resolução do CNJ sobre o tema não pode


se sobrepor à CF/88.
O promotor se refere ao parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Fe-
deral, cuja redação é: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhe-
cida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”.
“No caso em tela, a Carta da República (...) é de solar clareza: no Brasil,
casamento somente existe entre homem e mulher. E Resolução – nº 175
do CNJ, que autorizou o enlace entre pessoas do mesmo sexo não pode,
jamais, se sobrepor à Lei, notadamente à Lex Maxima. Daí, e somente daí,
as impugnações que oferta. Daí os recursos que interpõe”, diz a nota. Ele
já afirmou em outras ocasiões não agir por preconceito ou homofobia.
31
Fonte: Jornal Eletrônico G1
Data: 24 jan. 2020.
Leia a notícia na íntegra:
https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2020/01/24/na-contra-
mao-das-demais-capitais-promotoria-em-florianopolis-se-opoe-a-casa-
mentos-homoafetivos.ghtml

NA PRÁTICA

Atendo-se ao princípio da monogamia, é indene de dúvidas que o Di-


reito da Família no Estado brasileiro, por seu sistema jurídico, se funda-
menta nas relações amorosas monogâmicas, na formação de um casal,
independentemente hoje da orientação sexual, por duas pessoas que
assim desejam.
Tramitam no Judiciário pátrio várias ações questionando a legitimidade
e viabilidade da monogamia nos tempos modernos, haja vista a plu-
ralidade de relações afetivas e enlaces amorosos que a modernidade
trouxe, principalmente após a chamada “liberdade sexual”, proclamada
nos anos 1960.
Todavia, mais do que um postulado judaico-cristão, o princípio da mo-
nogamia é interpretado com uma tentativa do Estado de assegurar as
relações, ao largo do dever de fidelidade: noutras palavras, pela preser-
vação da monogamia o Estado evita a existência de relações parale-
las, embora não combata a possibilidade (ou probabilidade) de relações
adúlteras e outras formas de infidelidade.
Logo, o que se objetiva é interpretar o fundamento das relações matri-
moniais brasileiras, dando o norte necessário a conceituações. Malgra-
do essa posição, tem crescido os pedidos judiciais de reconhecimento
de uniões estáveis e até mesmo de casamentos entre mais de duas
pessoas, no que se denomina vulgarmente de “poliamor” ou, ainda, “po-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

lirrelacionamento”.

PARA SABER MAIS

Filme sobre o assunto: História de um Casamento (2019)

Material complementar (Acesse o link):


Portal Grupo TOMANIK – Saiba Tudo Sobre a História do Casamento
https://www.musicascasamentobh.com.br/historia-do-casamento/

32
DIREITO
CONJUGAL
DIREITOS E DEVERES DOS CÔNJUGES: EFICÁCIA DO CASAMEN-
TO
Não há como abordar as implicações jurídicas da sociedade
conjugal, sem antes discorrer sobre os direitos e deveres dela advindos,
no que o Código Civil intitulou como “Eficácia do Casamento”. Sendo
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

válido o casamento, por corolário, dele serão produzidos efeitos civis,


previstos na legislação que rege a matéria.
Dessume-se que esta se traduz nos efeitos produzidos pelo
casamento nos planos fático e jurídico, consoante se vislumbra nos ar-
tigos abaixo citados:

Da Eficácia do Casamento
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a con-
dição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da família.
§ 1 o Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome
do outro.
§ 2 o O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao

33
Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o exercício desse
direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições privadas
ou públicas.
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.
Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração,
pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos.
Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recor-
rer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.
Art. 1.568. Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus
bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e a educação
dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.
Art. 1.569. O domicílio do casal será escolhido por ambos os cônjuges, mas
um e outro podem ausentar-se do domicílio conjugal para atender a encargos
públicos, ao exercício de sua profissão, ou a interesses particulares relevan-
tes.
Art. 1.570. Se qualquer dos cônjuges estiver em lugar remoto ou não sabido,
encarcerado por mais de cento e oitenta dias, interditado judicialmente ou
privado, episodicamente, de consciência, em virtude de enfermidade ou de
acidente, o outro exercerá com exclusividade a direção da família, cabendo-
-lhe a administração dos bens.

Destaca-se entre os efeitos a faculdade (direito subjetivo) de


acréscimo recíproco dos apelidos de família (sobrenomes) de cada
cônjuge, o que antes só ocorria para a mulher, que acrescia ao seu o
sobrenome do marido ou mesmo suprimia todo seu patronímico para
incluir somente o do cônjuge varão – supressão essa que é vedada
atualmente pelo CC/2002.
Também têm-se os deveres comuns a ambos, como o dever de
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

fidelidade conjugal – afetiva ou sexual – recíproca, lembrando-se que


infidelidade e adultério não possuem a mesma conceituação; dever de
convivência mútua, afetiva participativa e sexual, o que não quer dizer
obrigatoriedade de coabitação, pois esta pode e vem sendo relativizada
pelas famílias modernas; dever de mútua assistência e sustento, educa-
ção e guarda aos filhos, nos aspectos material e moral, bem como dever
de tratamento respeitoso e honrado entre si.
Não se pode olvidar, também, do efeito que é um direito e, ao
mesmo tempo, um dever: o planejamento familiar, decorrente do prin-
cípio da Isonomia Conjugal, pelo qual devem concorrer ambos os côn-
juges na condução de seus projetos particulares de moldura de família,
devendo o Estado primar pela defesa e garantia desse direito – ainda

34
que, na realidade, o estado seja falho ou omisso no cumprimento dessa
obrigação.
Aliás, como dito no introito deste trabalho, hoje, a mulher tem
posições de destaque na família e na sociedade, conquistando espaços
que outrora eram do homem enquanto pai, marido e chefe de família. A
figura jurídica do “pátrio poder” foi transformada, dizendo a lei agora a
expressão “poder familiar”, comum a ambos os cônjuges/pais.
Cabe aos cônjuges, conjuntamente, decidir livremente como
farão e como será sua formação filial, número de filhos e até mesmo
a ausência destes, o que tem ocorrido exponencialmente nas últimas
duas décadas.

Em recente apuração promovida no ano de 2015 pelo Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa média de fecundida-
de (estimativa de quantitativo de filhos que uma mulher teria até o fim de
sua vida reprodutiva) no Brasil é de 1,72 filho por mulher, assemelhando
à taxa de países de “primeiro mundo”, além de estar menor que o índice
de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. Para mais
informações, acesse: https://mundoe ducacao.bol.uol.com.br/geografia/
taxa-fecundidade-no-brasil.htm

Paralelamente ao direito à liberdade de planejamento familiar,


tem-se, de outra banda, o dever de sustento, guarda e educação dos
filhos. Tal dever obrigacional é irrenunciável, incumbindo a ambos os
cônjuges/pais, na proporção de seus bens ou dos rendimentos laborais,
para o sustento da família e a educação da prole, qualquer que seja o
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

regime de bens escolhido (artigo 1.568 do CC/2002).


A obrigação material dos cônjuges, como dito retro, dar-se-á
proporcionalmente, na medida dos bens e renda individualmente con-
siderados de cada um, sendo despicienda a modalidade de adminis-
tração patrimonial (regime de bens) escolhida quando do contrato an-
tenupcial e a celebração matrimonial. Ou seja, quem tiver mais bens
ou tiver maior renda, concorrerá com mais recursos financeiros para
manutenção da família e da vida doméstica.
Embora seja tema de tópico ulterior, impede destacar a que a
dissolução do casamento não importa no fim da dependência financei-
ra. Se demonstrada a necessidade e o decréscimo do padrão de vida
em razão da diminuição do rendimento comum (pela saída da renda de
35
um dos cônjuges), a assistência material poderá ser pleiteada e con-
cedida em juízo em favor do cônjuge que comprovar a necessidade,
na forma de prestação de alimentos (a vulgarmente chamada “pensão
alimentícia), que também será devida aos filhos menores ou que estão
em situações peculiares (em estudo de curso superior, por exemplo),
entre outras medidas de cunho material.
Não é demais expor, entretanto, que o deferimento da obriga-
ção alimentar/assistência material observa o binômio possibilidade-ne-
cessidade: a necessidade daquele que postula tem que ser comprova-
da, mas a possibilidade financeira daquele que é demandado também
deve estar demonstrada.
Por fim, voltando-se ao dever de fidelidade recíproca, foi expla-
nado supra que o descumprimento de tal dever – a infidelidade – não
significa exatamente a perpetração de relações libidinosas extraconju-
gais. Mais que uma imposição religiosa, social e ou moral, a fidelidade é
uma obrigação legal: a infidelidade, embora reflexamente, é repudiada
pelo ordenamento, ainda que o adultério não mais seja crime em nosso
sistema jurídico. Todavia, a inobservância desse dever não se dá so-
mente pela prática de relação extramatrimonial adúltera, que tem como
pressuposto a conjunção carnal de um dos cônjuges com outra pessoa.
Outras formas de relação extramatrimonial também caracte-
rizam a infidelidade, como a troca de carícias íntimas, afagos, mensa-
gens românticas ou libidinosas, ainda que em sede virtual (pela Internet
e por redes sociais) configuram traição, não importando, para configu-
rá-la, a prática de ato sexual com pessoa alheia à sociedade conjugal.
Some-se a essas hipóteses o dito “adultério casto”, o qual é definido
como a ação em que o cônjuge virago (mulher) realiza inseminação
artificial heteróloga (com o sêmen de outra pessoa que não o marido)
sem o consentimento do cônjuge varão, alcunhando-se de “casto” por
não ter havido relação sexual fora do casamento.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Após essas breves digressões sobre os direitos e obrigações


legalmente previstas para as pessoas casadas, passa-se ao estudo do
regime de bens, assunto especificamente afeto aos direitos patrimoniais
dos cônjuges e que recebeu regulamentação especial pelo Direito Bra-
sileiro.

REGIME DE BENS: CONCEITOS, PRINCÍPIOS, REGRAS GERAIS E


ALTERAÇÃO DE REGIME
O direito patrimonial das uniões ou sistema de regimes patri-
moniais das uniões recebe esta nomenclatura por alcançar tanto o ins-
tituto do casamento como o instituto da união estável, no que se refere

36
à administração e compartilhamento de bens do casal.
Pertinentemente ao casamento, temos que os nubentes, du-
rante a fase de habilitação do casamento, poderão fazer a opção pelo
regime patrimonial (regime matrimonial de bens ou, simplesmente, regi-
me de bens) que vigerá e regerá o patrimônio do casal durante a cons-
tância do casamento. A espécie escolhida de regime resultará na pro-
dução de efeitos para ambos os cônjuges, conjuntamente e de maneira
isonômica.
No entanto, em situações casuísticas selecionadas pelo legis-
lador, o regime patrimonial a ser adotado está coativamente predefinido,
não havendo possibilidade de escolha pelo casal, o que se pode dizer
se tratam de casos verdadeiramente excepcionais, assim elencados em
razão de uma especial necessidade de proteção ou cuidado.
Em apertada síntese, pode-se dizer que o regime de bens é o
tratamento legal para regular e normatizar a gestão, aquisição e dispo-
sição de bens patrimoniais pelos cônjuges durante a vida conjugal, con-
tando-se a vigência desse regime da data da celebração matrimonial e
vigorando na constância da sociedade conjugal.
Tudo isso se dá porque, como apresentado neste estudo, o ca-
samento é considerado doutrinariamente uma espécie de contrato, da
qual exsurge uma sociedade entre duas pessoas, com direitos, deveres
e concessões recíprocas, sobretudo na esfera patrimonial.
Logo, sendo um contrato e havendo uma sociedade, haverá,
também, por consequência um patrimônio preexistente ou a existir, a
ser compartilhado e administrado conjuntamente, assumindo uma for-
ma de condomínio – o condomínio matrimonial –, pois os bens, ressal-
vadas as exceções trazidas pela própria lei e conforme o tipo e momen-
to do compartilhamento previsto pelo regime adotado, serão de domínio
comum até prova em contrário.
O regime de bens, então, é o estatuto/instituto jurídico que visa DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

a disciplinar as relações patrimoniais entre os cônjuges ou companhei-


ros. Inicialmente era previsto apenas para o casamento, mas com a
edição da Lei nº 9.278/96 foi também estendido à união estável.
Possui princípios regentes, informadores de sua aplicabilidade:
Princípio da Variabilidade, Princípio da Liberdade de Escolha e Princípio
da Mutabilidade, cujas análises levam à compreensão do instituto, com
o devido acréscimo dos dispositivos legais (artigos 1.639 a 1.688 do
CC/2002). Passemos a estudá-los.

I - Princípio da Variabilidade
O Código Civil oferece um cardápio de regimes de bens, a
saber: comunhão parcial; comunhão universal; separação de bens e
37
participação final nos aquestos. Nesse sentido, admite-se a eleição de
qualquer deles. Caso não haja opção, aplica-se a regra do artigo 1.640
do Código Civil:

Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará,
quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão parcial.
Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por
qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á
a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por
escritura pública, nas demais escolhas.

Como se extrai da redação do parágrafo único acima, caso


haja a intenção de eleger qualquer dos regimes previstos no Código Ci-
vil, deverá a opção ser feita por meio de pacto antenupcial por escritura
pública, cuja eficácia se dará com a celebração do casamento, não obs-
tante sua existência e validade sejam reconhecidas desde a lavratura
da escritura pública.

II - Princípio da liberdade de escolha


Consoante se extrai da dicção do artigo 1.639 do Código Ci-
vil, “É lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular,
quanto aos seus bens, o que lhes aprouver”. Essa regra, acrescida da
disposição do artigo 1.640 acima transcrito, demonstra ser livre aos nu-
bentes a eleição de qualquer regime predeterminado pelo Código Civil.
Além disso, hoje permite-se que as partes regulamentem suas relações
econômicas fazendo combinações entre os regimes, criando um regime
misto, bem como elegendo um novo e distinto, salvo nas hipóteses da
separação obrigatória.
Ao fazer uso dessa liberdade de estipulação, não podem os
nubentes, no entanto, prever cláusulas que atentem contra os princípios
da ordem pública ou contrariem a natureza e os fins do casamento.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Afinal, não obstante a disposição do artigo 1.639 do CC, aduz o artigo


1.655 do Código Civil que “É nula a convenção ou cláusula dela que
contravenha disposição absoluta de lei”. Ademais, vale destacar que as
disposições estão adstritas às relações patrimoniais.
A exceção à liberdade de escolha do regime de bens é en-
contrada no artigo 1.641 do Código Civil, ao impor a obrigatoriedade
de separação de bens no casamento para aqueles que o contraírem
sem observar as causas suspensivas (impedimentos proibitivos ou im-
pedientes) do artigo 1.523 do Codex, quando um dos nubentes tiver
mais que 70 (setenta) anos e, ainda, de todos os que dependerem, para
casar, de suprimento judicial. Nesse caso, há que se alertar para o teor
da súmula 377 do Supremo Tribunal Federal (STF):
38
Súmula 377. No regime de separação legal de bens, comunicam-se os ad-
quiridos na constância do casamento.

Esta interpretação jurisprudencial indica que no regime da se-


paração obrigatória, ou seja, a imposta por lei, a separação é relativa,
haja vista poder haver formação de aquestos, com a comunicação de
bens adquiridos na constância do casamento. De maneira diversa, no
regime da separação legal de bens eleito pelos nubentes, não haverá a
formação de patrimônio comum.
Nesse sentido, traz-se o julgado divulgado no Informativo 192
do Superior Tribunal de Justiça (STJ):

REGIME. SEPARAÇÃO LEGAL. BENS. COMUNICAÇÃO. AQUES-


TOS. A viúva foi casada com o de cujus por 40 anos pelo regime de
separação legal de bens, que não se deu pela vontade dos cônjuges,
mas por determinação legal (arts. 258, parágrafo único, I, e 183, XIII,
ambos do CC/1916). A controvérsia surgiu porque a viúva arrolou-se
como meeira tão-somente sobre os aquestos, questionando também
a higidez da Súm. n. 377-STF. A Turma não conheceu do recurso
na medida em que o acórdão reitera a prevalência da citada Súmula
do STF e apoia-se em precedentes deste Superior Tribunal no sen-
tido de que, resultando a separação apenas por imposição legal, os
aquestos se comunicam, independentemente da prova do esforço
comum. Precedentes citados: REsp 1.615-GO, DJ 12/3/1990, e REsp
442.165-RS, DJ 28/10/2002. REsp 154.896-RJ, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, julgado em 20/11/2003.

Ainda com relação à separação obrigatória, merece destaque


o enunciado 261, da III Jornada de Direito Civil do Conselho de Justiça
Federal (CJF): “A obrigatoriedade do regime da separação de bens não
se aplica a pessoa maior de sessenta anos, quando o casamento for
precedido de união estável iniciada antes dessa idade”. Ressalte-se DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

que a partir de dezembro de 2010, a idade foi alterada para 70 (setenta)


anos, porém o fundamento do enunciado permanece hígido. No mesmo
sentido, segue o julgado divulgado no informativo 459 do STJ:

UNIÃO ESTÁVEL. SEXAGENÁRIOS. REGIME. BENS. Trata o caso de defi-


nir se há necessidade da comprovação do esforço comum para a aquisição
do patrimônio a ser partilhado, com a peculiaridade de que, no início da união
estável reconhecida pelo tribunal a quo pelo período de 12 anos, um dos
companheiros era sexagenário. A Turma, ao prosseguir o julgamento, por
maioria, entendeu, entre outras questões, que, embora prevalecendo o en-
tendimento do STJ de que o regime aplicável na união estável entre sexage-
nários é o da separação obrigatória de bens, segue esse regime temperado
pela Súm. n.377-STF, com a comunicação dos bens adquiridos onerosamen-

39
te na constância da união, sendo presumido o esforço comum, o que equiva-
le à aplicação do regime da comunhão parcial. Assim, consignou-se que, na
hipótese, se o acórdão recorrido classificou como frutos dos bens particula-
res do ex-companheiro aqueles adquiridos ao longo da união estável, e não
como produto de bens eventualmente adquiridos antes do início da união,
opera-se a comunicação desses frutos para fins de partilha. Observou-se
que, nos dias de hoje, a restrição aos atos praticados por pessoas com idade
igual ou superior a 60 anos representa ofensa ao princípio da dignidade da
pessoa humana (...). REsp 1.171.820-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti,
Rel. para o acórdão, Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/12/2010.

Nos casos de casamento no exterior, o regime de bens segue a


mesma regra do lugar do domicílio dos nubentes, conforme estabelece
o artigo 7º, §4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –
LINDB:

Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre


o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família.
(...)
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que
tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio
conjugal.

Sobre esse assunto, confira-se julgado divulgado no Informati-


vo 206 do STJ:

CASAMENTO NO ESTRANGEIRO. REGIME. BENS. Trata-se de ação de


conhecimento ajuizada por ex-esposa, objetivando a declaração de que o
regime de bens a orientar a partilha do patrimônio do casal, separado desde
1990, é o de comunhão parcial. A autora casou sem pacto pré-nupcial com
o réu, em Nevada-EUA, em 1975, onde o regime de bens assemelha-se ao
da comunhão parcial atualmente adotado pelo Direito brasileiro, e possuíam
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

domicílios diferentes, pois a esposa morava na Flórida-EUA. Entretanto é


fato incontroverso que o primeiro domicílio do casal foi no Brasil. Note-se
que a pretensão da autora foi lançada com base em um pacto “pós-nupcial”,
bem como em suposto regime de separação total de bens propalado pelo
varão em diversas ocasiões, em negócios jurídicos, junto a terceiros e agora
ele declara que o regime seria o universal de bens, após dilapidar o enorme
patrimônio que possuía. Renovado o julgamento, após empate, a Turma, por
maioria, proveu o REsp, restabelecendo a sentença que reconhecia o regime
da comunhão universal. Apesar de o casamento ter sido realizado nos EUA,
define o regime o fato de o primeiro domicílio conjugal ter sido estabelecido
no Brasil, tendo em vista, ainda, que os cônjuges tinham, antes do casamen-
to, domicílios diversos, conforme o disposto no art. 7º, § 4º, da Lei de Intro-
dução ao Código Civil/1942. Outrossim, na época, era esse o regime legal de
bens no Brasil, já que não foi celebrado pacto antenupcial. REsp 134.246-SP,

40
Rel. originário Min. Ari Pargendler, Rel. para acórdão Min. Carlos Alberto Me-
nezes Direito, julgado em 20/4/2004. Terceira Turma.

III - Princípio da Mutabilidade


O Código Civil de 1916 estabelecia a irrevogabilidade ou inal-
terabilidade do regime de bens entre os cônjuges, que deveria perdurar
enquanto subsistisse a sociedade conjugal. Celebrado o casamento,
pois, tornava-se imutável o regime.
Posteriormente, foi editada a Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio),
na qual se possibilitava a dissolução da sociedade conjugal, mas não
permitia a alteração do regime de bens. Mesmo que voltassem a con-
trair núpcias, o regime deveria voltar ao mesmo que vigia.
O princípio da mutabilidade visa solucionar o problema surgido
a partir da referida Lei do Divórcio, na qual se permitia a dissolução da
sociedade conjugal, porém não admitia a alteração do regime de bens.
Assim, no Código Civil de 2002, o artigo 1.639, §2º, admite a
ação de alteração do regime de bens “mediante autorização judicial em
pedido motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das ra-
zões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”. Observe-se que
a dita alteração não pode ser obtida unilateralmente, ou por iniciativa de
um dos cônjuges em processo litigioso, pois o dispositivo citado exige
pedido motivado “de ambos”.
Contudo, ainda existem críticas quanto a exigência de uma
sentença para se operar a mudança, uma vez que após a edição da Lei
n. 11.441/2007 passou-se a permitir o divórcio extrajudicial (o mais) e,
ainda sim, perdura a necessidade de sentença para alteração do regime
de bens (o menos), mesmo havendo consenso. E, conforme enunciado
260, da III Jornada de Direito Civil do CJF “A alteração do regime de
bens prevista no § 2º do artigo 1.639 do Código Civil também é permiti-
da nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior”.
Soma-se a esse entendimento a conclusão vertida no enuncia-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

do 262, da III Jornada de Direito Civil do CJF, ao afirmar que “A obriga-


toriedade da separação de bens nas hipóteses previstas nos incisos I
e III do artigo 1.641 do Código Civil não impede a alteração do regime,
desde que superada a causa que o impôs”.
Quanto à ação de alteração, o Superior Tribunal de Justiça
também segue o mesmo entendimento, conforme julgados divulgados
nos Informativos 257 e 399:

CÔNJUGES. REGIME DE BENS. ALTERAÇÃO. A Turma proveu o recurso,


decidindo não serem obstáculos os arts. 1.639, § 2º, e 2.039 do novel
Código Civil de 2002, para possibilitar a pretendida alteração do regime ju-
rídico de bens - de comunhão parcial para separação total – de casamento

41
celebrado na vigência do Codex de 1916, revogado. Outrossim, inibir essa al-
teração incidental de regimes matrimoniais de bens na vigência da legislação
anterior desestimula a aplicação teleológica o art. 5°, da LICC, quanto aos
“fins sociais” e “exigências do bem comum”, incentivando, ademais, a fraude
em divórcios para que casais contraiam novo casamento, em função do regi-
me de bens mais vantajoso. REsp 730.546-MG, Rel. Min. Jorge Scartezzini,
julgado em 23/8/2005. (Quarta Turma – Informativo 257)

CASAMENTO. REGIME. ALTERAÇÃO. A Turma reafirmou ser possível alte-


rar o regime de bens de casamento realizado sob a égide do CC/1916, em
razão do disposto no art. 1.639, § 2º, do CC/2002. Assim, deu provimento
ao REsp para que os autos retornem às instâncias ordinárias para o exame
dos requisitos constantes desse último artigo. Precedentes citados: REsp
868.404--SC, DJ 6/8/2007, e REsp 821.807--PR, DJ 13/11/2006. REsp
1.112.123--DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/6/2009. (Terceira
Turma – Informativo 399).

Por fim, destaca-se que a alteração convencional da comu-


nhão universal somente poderá ser autorizada pelo juiz após a divisão
do “ativo e passivo”, para ressalva dos direitos de terceiros, como esta-
tui o artigo 1.671 do Código Civil. Na mesma, linha observa-se o julgado
a seguir, exigindo a partilha amigável como condição necessária para
alteração do regime da comunhão universal:

Alteração de regime de Bens do Casamento. Mudança do regime da comu-


nhão parcial para separação. (...) a pretensão de resolver os poucos bens
adquiridos entre a celebração do casamento e o presente retrata verdadeira
pretensão de fazer “partilha amigável”, o que é inclusive recomendável em
casos como o a pretensão de resolver os poucos bens adquiridos entre a
celebração do casamento e o presente retrata verdadeira pretensão de fa-
zer “partilha amigável”, o que é inclusive recomendável em casos como o
presente, na esteira da jurisprudência deste colegiado sobre o tema (TJRS,
Apelação Cível Nº 70053657052).
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

O consentimento do cônjuge (vênia conjugal) é obrigatório nas


hipóteses do artigo 1.647 do CC/02.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges


pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que
possam integrar futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando
casarem ou estabelecerem economia separada.

42
Note--se que o próprio dispositivo faz exceção ao regime da se-
paração absoluta (parte final do caput); significa dizer que se o casal
adotou o regime da separação absoluta (isto é, aquele que decorre de
pacto antenupcial), os cônjuges não dependerão da vênia conjugal para
a prática dos atos descritos no artigo 1.647. Nesse contexto, erro co-
mum e grave sobre o tema é associar a vênia conjugal à comunicação
patrimonial. Exemplo1: “A” deseja vender um apartamento que recebeu
por herança. Seria necessária a vênia conjugal se “A” é casado pelo
regime de comunhão parcial de bens?
Sim, faz--se necessário o consentimento do cônjuge, muito em-
bora o regime de comunhão parcial não dê ao cônjuge de “A” o direito
aos bens recebidos por herança. Importante perceber, portanto, que
aqui não se está falando sobre a comunicação ou não dos bens, mas
sim sobre o consentimento do cônjuge que, nos termos do artigo 1.647
do CC/02, foi dispensada apenas para aqueles que optaram pelo regi-
me de separação absoluta.
Exemplo2: o apartamento X já era propriedade de “B” antes de
se casar pelo regime da separação obrigatória. Se “B” quiser vender o
apartamento X também será necessária a vênia conjugal, eis que sepa-
ração obrigatória não é separação absoluta.
Se um dos atos previstos no artigo 1.647 for praticado sem a
vênia conjugal ele será anulável, e a decadência de 02 (dois) anos para
anulação do ato não começa a correr de sua prática, mas sim da disso-
lução da sociedade, na forma do artigo 1.649 do CC/2002. Percebe--se
que há um impedimento ao prazo, pois enquanto a sociedade conjugal
não for dissolvida o prazo não começa a correr.
Caso um cônjuge queira praticar um dos atos previstos no
1.647, mas não possua autorização conjugal, terá três alternativas: a)
simplesmente não praticar o ato; ou b) praticar o ato correndo o risco da
anulação; ou, por fim, c) buscar o suprimento ou outorga judicial.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

SUPRIMENTO JUDICIAL: na outorga judicial, o cônjuge que


deseja praticar o ato pode judicializar a ausência do consentimento, le-
vando o caso ao Judiciário para que um juiz analise e decida pela con-
cessão ou não de um alvará, permitindo que o ato seja realizado mesmo
sem a vênia conjugal – artigo 1.648 do CC/02. Concedido o alvará pela
Justiça o ato praticado não mais será anulável.

43
Cabe mencionar ainda o Enunciado n. 114 da I Jornada de
Direito Civil e a Súmula 332 do STJ – ambos fazem referência ao inciso
III do artigo 1.647.

Enunciado 114, I Jornada de Direito Civil “(aval não pode ser anulado por
falta de vênia conjugal (...) apenas caracteriza a inoponibilidade do título ao
cônjuge (...)”.

O Enunciado 114 refere--se ao aval: para que um cônjuge seja


avalista a lei exige que ele tenha a autorização conjugal (exceto, como
já visto, se o regime for de separação absoluta). Nos termos do referido
Enunciado, o aval não poderá ser anulado com base no artigo 1.649 por
falta de vênia conjugal. A ausência do consentimento conjugal apenas
caracteriza a inoponibilidade do título ao cônjuge que não consentiu.
Exemplo3: “A” é casado e torna--se avalista sem autorização de
seu cônjuge. Imagine--se que a dívida por “A” avalizada não foi paga,
motivo pelo qual se instaura uma execução. O credor pode penhorar os
bens do avalista “A”, mas o cônjuge de “A” que não consentiu com o ato
poderá se utilizar dos embargos de terceiro para desconstituir as penho-
ras realizadas sobre sua parte do patrimônio. Assim, apenas a parte do
patrimônio que pertence a “A” responderá pelo aval.
Determinados atos patrimoniais prescindem das regras do re-
gime adotado ou imposto, podendo ser praticados livremente, indepen-
dentemente de outorga uxória ou marital (respectivamente, vênia da
esposa ou do marido).
Tais atos estão prescritos nos artigos 1.642 e 1.643 do Código
Civil, sendo eles: praticar todos os atos de disposição e de adminis-
tração necessários ao desempenho de sua profissão; administrar os
bens próprios; desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido
gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

judicial; demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a


invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge sem autorização; rei-
vindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos
pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não
foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separa-
do de fato por mais de cinco anos; comprar, ainda a crédito, as coisas
necessárias à economia doméstica; obter, por empréstimo, as quantias
que a aquisição dessas coisas possa exigir; praticar atos que não lhes
forem vedados.

44
Além dos atos acima, também se tem que, o empresário casa-
do pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o re-
gime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa
ou gravá-los de ônus real (Artigo 978/CC).

A Súmula 332 do STJ, por sua vez, trata da fiança, também


prevista no inciso III do artigo 1.647. Para o STJ, na ausência da vênia
conjugal, a fiança prestada é garantia totalmente ineficaz, não surtindo
efeito quaisquer efeitos até que sobrevenha a anuência do cônjuge:

Súmula 332 do STJ, “A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges


implica a ineficácia total da garantia. (Súmula 332, CORTE ESPECIAL, julga-
do em 05/03/2008, DJe 13/03/2008).

O Superior Tribunal consolidou esse entendimento em súmula,


pois em um contrato de locação a fiança torna penhorável o bem de fa-
mília. Nesse sentido, a fiança vulnera a dignidade da vida da família na
medida em que permite a penhora do imóvel que lhe serve de moradia.
Assim, para que o ato de apenas um cônjuge não venha a
comprometer a dignidade de uma família inteira, por retirar dela a mora-
dia, o STJ asseverou que não é possível admitir apenas a anulabilidade
do ato, até mesmo porque a anulabilidade permitiria que o ato venha
a se tornar válido pelo decurso do prazo de 2 anos do artigo 1.649.
Ao contrário, afirmou que seria impositivo entender que na hipótese de
fiança a falta do consentimento conjugal importará na ineficácia total da
garantia.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Pacto Antenupcial
O pacto antenupcial é o entabulamento firmado pelos nuben-
tes, pelo qual lançam disposições patrimoniais pretéritas ao matrimônio,
como a opção pelo regime de bens (quando não optam pelo regime or-
dinário, que é da comunhão parcial) e qualquer outro tipo de disposição
congênere, bem como a instituição de cláusula de incomunicabilidade,
caso escolham o regime de comunhão universal. Será obrigatoriamente
aplicável para a comunhão universal de bens, para a separação con-
vencional de bens e para o regime de participação final nos aquestos.

45
Somente é válido se lavrado em escritura pública (em quaisquer das
hipóteses), sendo, portanto, um ato solene.
É pacto válido estabelecido antes do casamento. Entre os nu-
bentes, contudo, o pacto surte efeitos apenas a partir da data do casa-
mento, mas para que na data do casamento produza efeitos, o pacto
tem que ser válido ANTES do casamento. A oponibilidade erga omnes
do pacto antenupcial depende de seu registro no Cartório de Registro
de Imóveis do domicílio do casal – artigo 1.657 do CC/2002.
Em outras palavras: terceiros (ou seja, aqueles que não fa-
zem parte da relação matrimonial) apenas devem sujeição aos efeitos
do pacto quando devidamente registrado. Caso contrário, os terceiros
ficam autorizados a considerar que os cônjuges estão casados pela co-
munhão parcial de bens.
Merece destaque também o artigo 1.654 do CC/2002, que es-
tabelece que a validade do pacto antenupcial do casamento do menor
depende da aprovação do representante legal, sob pena de não surtir
efeitos.

A interpretação do artigo 1.641, III, permite afirmar que é obri-


gatório o regime de separação de bens se o menor precisou de supri-
mento para casar. Ao contrário, se o menor não precisou de suprimento,
aplicar-se-á a regra geral: comunhão parcial. Contudo para que o menor
adote o regime diferente da comunhão parcial, será necessário firmar
um pacto antenupcial, o qual só surtirá efeitos se tiver autorização de
seu representante legal.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Regimes: espécies, diferenças, meação e comunicabilidade


Por muitos anos, oficialmente, o regime patrimonial do sistema
jurídico pátrio foi o Regime da Comunhão Universal de Bens. Com ad-
vento do novo diploma civilista em 2002, passou-se a ser estabelecido
como o regime comum ou ordinário o Regime da Comunhão Parcial de
Bens, o que já era uma praxe desde a edição da Lie n. 6.515/1977, além
da previsão de outras espécies, a seguir estudadas.

a) Participação Final nos Aquestos (artigo 1.672/CC)


Tal regime é uma inovação trazida pelo CC/2002, sendo con-
ceituado como aquele em que cada cônjuge possui patrimônio próprio,

46
e lhe cabe, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito à me-
tade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na constância do
casamento. Nos termos do artigo 1.656, adotado o regime de participa-
ção final nos aquestos haverá a possibilidade de se convencionar, em
cláusula expressa no pacto, a livre disposição dos bens particulares
pelos consortes (isto é, sem o consentimento do cônjuge). Tal regime
deve ser firmado um pacto antenupcial.
A contrario senso, se houver pacto com opção pelo regime de
participação final nos aquestos, mas sem a cláusula expressa de livre
disposição, permanece a necessidade de vênia conjugal para a disposi-
ção dos bens particulares. Nota--se, portanto, que a inclusão da cláusula
é uma faculdade (um direito), ou seja, uma norma dispositiva.
A situação supramencionada abrange tão somente os bens
particulares. Bens particulares para o regime de participação final nos
aquestos são aqueles anteriores ao casamento e aqueles adquiridos
gratuitamente (nos termos do artigo 1.674 do CC/02). Assim sendo,
pode--se dizer que somente haverá direito de participação nos bens ad-
quiridos onerosamente na vigência do casamento.
Importante perceber que a nomenclatura do regime ora estudado
não inclui o termo “comunhão”. A partir disso é possível concluir que não
haverá comunicação patrimonial entre os cônjuges.
Observe--se o esquema abaixo:

Casamento Separação de Fato Partilha


DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

-- Patrimônio do Cônjuge “A”: 2 milhões


-- Patrimônio do Cônjuge “B”: 2,5 milhões
O divórcio ocorre sempre após a separação de fato: primeiro
rompe--se a convivência conjugal para só então divorciar--se. Contudo, é
a separação de fato que dissolve a sociedade conjugal. Por tal motivo,
para todos os fins, os efeitos dos regimes de bens acabam com a sepa-
ração de fato. Como mencionado, no regime de participação final nos
aquestos serão considerados apenas os bens adquiridos onerosamen-
te a partir da data do casamento até a data da ruptura da convivência
conjugal.
Considerando o patrimônio de cada cônjuge no esquema aci-
47
ma e ainda imaginando que o regime não estabelece comunicação pa-
trimonial, tudo o que foi adquirido onerosamente por “A”, na vigência do
casamento, pertencerá somente a “A”. Da mesma forma, tudo aquilo
que foi adquirido onerosamente na vigência do casamento por “B” per-
tencerá somente a “B” (ao contrário, em uma comunhão parcial, por
exemplo, “A” teria um patrimônio de 4,5 milhões e “B” também teria
um patrimônio de 4,5 milhões). À primeira vista, se “A” tem 2 milhões e
“B” 2,5 milhões, poderia parecer que o regime é o da separação total,
porém, se assim o fosse “B” não teria qualquer participação no que “A”
obtivesse e vice--versa.
Não é o caso, pois a lei confere esse direito de participação –
veja-se o que a lei estabelece (artigos 1.675 e 1.678 do CC/02): da data
do casamento até a data da separação de fato tudo aquilo que um dos
cônjuges doar sem a autorização do outro será computado em seus
ganhos no balanço do patrimônio ao longo do casamento. Ainda, as
dívidas de um cônjuge que o outro pagar também serão computadas.
Se eventualmente terminar o casamento, apura-se, no momen-
to da separação, tudo aquilo que “A” construiu durante o casamento e
tudo aquilo que “B” construiu no mesmo período. Levando em conside-
ração os valores supracitados no esquema, até o valor de 2 milhões os
cônjuges estão empatados.
A partir de 2 milhões para cima, “B” tem um superávit sobre
“A” – há 500 mil reais a mais. Esse valor excedente de “B” será dividido
com “A”. Nesse sentido, se “B” assinar um cheque de 250 mil reais, a
princípio, restaria livre de “A”.
Contudo, é possível a “B” alegar e comprovar que durante o
casamento “A” ajudou seus próprios pais a comprarem um apartamen-
to. Além disso, “A” deu um carro para seu filho de outro casamento (isto
é, que não é filho de “B”) e que, dentre outras coisas, “A” ficou desem-
pregado por um certo período, deixando para “B” a responsabilidade de
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

arcar com os custos da família.


Imagine--se, então, que contabilizando-se todas as despesas
excedentes de “B” e os gastos de “A” com o apartamento de seus pais
e o carro de seu filho, o montante do patrimônio de “A” construído ao
longo do casamento chegue a 2,6 milhões. Nesse caso “B” não estaria
mais devendo qualquer valor a “A”, ao contrário: “A” passou a suportar
um superávit de 100 mil.
Se no exemplo esquematizado o regime fosse o da separação
de bens, cada cônjuge faria o que bem entendesse com seus respec-
tivos patrimônios. Contudo, no regime de participação final nos aques-
tos cada cônjuge tem direito de participação ao final do casamento e,
portanto, interessa a “B” o que “A” faz com seu dinheiro ao longo do
48
casamento e vice-versa.
A participação que se tem direito não é sobre os bens do côn-
juge, mas sim sobre o lucro, isto é, sobre aquilo que o cônjuge angariou
ao longo do casamento: uma participação sobre os ganhos (realmente
como se fosse uma sociedade).
O regime de participação final nos aquestos tem por caracterís-
tica a aplicação das regras da separação durante o casamento e regras
parecidas com a da comunhão parcial quando da dissolução do casa-
mento: não há comunhão, mas participação nos ganhos. Cada cônjuge
tem administração própria e, quando da dissolução, deverá ser apurado
o montante dos aquestos. Como já mencionado, a apuração do valor do
montante deve ser feita à época da dissolução da sociedade conjugal,
nos termos do artigo 1.683 do CC/02.
A reposição a ser feita pode ser em bens ou em dinheiro e não
se podendo realizar-se neste modo, serão avaliados e, mediante au-
torização judicial, alienados tantos bens quantos bastarem (artigo
1684, p.u./CC).

b) Comunhão Parcial de Bens (artigo 1.658/CC)


Em síntese, é regime de separação quanto aos bens adquiridos
antes das núpcias e gratuitamente; e regime de comunhão quanto bens
adquiridos onerosamente durante o casamento. É, portanto, um regime
híbrido – mistura comunhão com separação a depender do momento de
referência (antes ou durante o casamento): há bens que se comunicam
(artigo 1.660) e aqueles que não se comunicam (artigo 1. 659).

Bens que não se comunicam:


Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: I - os bens que cada cônjuge possuir
ao casar, e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doa-
ção ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar; II - os bens adquiridos
com valores exclusivamente pertencentes a um dos cônjuges em sub-ro-
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gação dos bens particulares; III - as obrigações anteriores ao casamento;


IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito
do casal; V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; VII - as pensões,
meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.

Bens que se comunicam:


Art. 1.660. Entram na comunhão: I - os bens adquiridos na constância do
casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges;
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de trabalho
ou despesa anterior; III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado,
em favor de ambos os cônjuges; IV - as benfeitorias em bens particulares de
cada cônjuge; V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada

49
cônjuge, percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo
de cessar a comunhão.

Os bens adquiridos gratuitamente a qualquer tempo e bens


adquiridos antes do casamento não se comunicam. Porém, se uma
pessoa utilizando-se dessas verbas particulares obtiver algum bem ao
longo do casamento considerar-se-á que aquela verba particular é que
proveu o novo bem obtido.
Exemplo1: antes de se casar “A” já possuía uma casa. Depois
de casado, “A” vende a casa e compra outra na vigência do casamento.
Deve--se ver essa nova casa comprada na vigência do casamento como
a casa anterior vendida (isto é, não se comunica).
Se a casa anterior só foi suficiente para pagar 50% da casa
nova exatamente até 50% do valor da casa nova deverá ser patrimônio
visto como a casa anterior, ou seja: 50% do valor da nova casa NÃO se
comunica.
Aquilo que ultrapassar 50% (cinquenta por cento) é comunicá-
vel. Imaginando que os outros 50% vieram de verbas adquiridas onero-
samente e posteriormente ao casamento, “A” terá 75% da casa nova e
seu cônjuge 25% (vinte e cinco por cento). Em outras palavras: 50% do
imóvel foi pago somente com o dinheiro de “A” e os outros 50% com o
dinheiro dos dois cônjuges. O mesmo ocorre com os créditos trabalhis-
tas. Observe--se o exemplo a seguir.
Exemplo2: “A” recebeu no curso do casamento verbas traba-
lhistas referentes a períodos laborados ANTES de se casar. Tais verbas
serão patrimônio de “A”, não se comunicando. Ao contrário, se “A” re-
ceber DEPOIS de separado, verbas trabalhistas referentes ao período
trabalhado durante a vigência do casamento, tais verbas se comunicam
(devem ser compartilhadas). É possível concluir que a referência que
importa é a data do crédito, e não a data do pagamento.
Outro caso interessante, ainda, é o de aluguéis gerados por
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imóvel adquirido em momento ANTERIOR ao casamento. Ainda que o


imóvel seja de propriedade anterior ao casamento e, portanto, de ape-
nas um dos cônjuges, os aluguéis gerados na vigência do casamento
devem pertencer aos dois consortes.
Igualmente, um depósito bancário de verbas que não se comu-
nicam podem gerar juros que, por sua vez, se comunicam, devendo ser
repartidos pelos dois cônjuges. O mesmo se pode dizer de cotas de em-
presas (que não se comunicam) e os dividendos e lucros gerados por
essa sociedade, que se comunicam durante a vigência do casamento.
O fundamento para isso está no artigo 1.660, inciso V: os frutos
dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, percebidos na

50
constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comu-
nhão. O mesmo ocorre com as benfeitorias, nos termos do inciso IV: do
1.660 com as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge.

c) Regime da Comunhão Universal de Bens


É o regime pelo qual todos os bens se comunicam (os presentes
e os futuros). Assim, pouco importa se o bem é anterior ao casamento, se
foi adquirido de forma onerosa ou por gratuitamente (doação/herança):
enquanto a comunhão universal surtir efeitos, haverá a formação de um
patrimônio comum.
Importa atentar, contudo, para a data da separação de fato.
Observe-se o esquema a seguir:

$duranteo Pai de “A”


Casamento falece:
herança

Casamento Separação de Fato Divórcio

Exemplo1: imagine--se que o pai de “A” tenha falecido no perío-


do entre a separação de fato e o divórcio. O bem herdado por “A” não
vai se comunicar, mesmo que “A” esteja casado pelo regime da comu-
nhão universal, uma vez que o bem foi adquirido depois da dissolução
da sociedade conjugal. Portanto, não importa a data do divórcio, mas
sim, a data que se comprovar a separação de fato.
Quanto aos bens que não se comunicam no regime de comu-
nhão universal, estão elencados no artigo 1.668 do CC, a saber: os
bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

os sub-rogados em seu lugar; os bens gravados de fideicomisso e o di-


reito do herdeiro fideicomissário, antes de realizada a condição suspen-
siva; as dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despe-
sas com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum; as doações
antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a cláusula de in-
comunicabilidade; os bens referidos nos incisos V a VII do artigo 1.659.
Ademais, cabe ressaltar que os frutos dos bens incomunicáveis pelo
artigo acima serão objeto de percepção por ambos os cônjuges.

d) Separação Convencional de Bens


A separação de bens prevista nos artigos 1.687 e 1.688 é aque-
la que decorre de pacto antenupcial. É também chamada de separação
51
absoluta, convencional ou total. Importante lembrar que a separação
que decorre da lei é chamada de separação obrigatória, que admite a
formação de patrimônio comum em razão da súmula 377 do STF:

STF, SÚMULA 377 -- No regime de separação legal de bens, comu-


nicam--se os adquiridos na constância do casamento.

Nessa linha, como seria possível discutir interesses patrimo-


niais em eventual divórcio em casamento com separação absoluta se
tal regime não admite a formação de aquestos? No entanto, é possível
essa discussão em razão da aplicabilidade da Súmula 380 do STF:

STF, SÚMULA 380 – Comprovada a existência de sociedade de fato entre os


concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum.

A Súmula 380 é dos anos 1960 e refere--se aos concubinos,


mas ainda é aplicável. Na época em que surgiu, a relação afetiva entre
homem e mulher não gerava uma família: somente se formava uma
família através do casamento. As relações afetivas nas quais não havia
casamento denominavam--se concubinato.
O concubinato simplesmente não possuía regramento de regi-
me de bens próprio e, na eventual dissolução dessa sociedade de fato,
cada um teria o direito de reaver aquilo que comprovou ter investido
– caso não comprove ter algo investido, nada terá a retirar. Ora, se a
referida súmula é aplicável aos concubinos até hoje, não faria sentido
impedir os benefícios dela provenientes aos casados pelo regime da
separação de bens.
Como ocorre a aplicação dessa noção na prática da separação
de bens?
Exemplo1: imagina-se que “A”, casado com “B” pelo regime da
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

separação de bens, obteve um financiamento para aquisição de um imó-


vel. O financiamento foi pago e o imóvel é atualmente registrado em
nome de “A”. Nesse caso, em virtude do regime de separação de bens,
“A” e “B” não teriam nada a partilhar: um não tem direito de participar
nos ganhos do outro.
No entanto, nos autos do divórcio “B” prova que quitou (com
seu dinheiro) as dívidas que “A” possuía junto ao agente financeiro que
financiou o imóvel. Através de cálculos, “B” comprova que para quitar a
dívida pagou o valor equivalente a 10% (dez por cento) do imóvel. Com
tal comprovação, “B” terá direito de reaver 10% do valor do imóvel.
Note-se que o imóvel não pertence aos dois: “A” terá 90% e

52
“B” 10%. Como o imóvel está registrado no nome de “A”, exista uma
presunção relativa de que o imóvel pertence 100% a “A”, fazendo com
que “B” precise fazer prova contrária – no sentido de que contribuiu para
a formação do patrimônio.
Portanto, como se admite a aplicação da Súmula 380 para os
concubinos, deve--se admitir sua aplicação também em relação aos côn-
juges (“se pode para o mais, também pode para o menos”).

e) Regime Dotal
O Regime Dotal NÃO é uma espécie de regime trazido pelo
CC/2002. Foi previsto em nosso ordenamento até a entrada em vigor
do atual Código Civil. Foi um regime pouco usual, e historicamente ca-
racteriza-se pela transferência de um montante de bens (o dote) pela fa-
mília do cônjuge virago ao varão, para que pudessem retirar os frutos e
rendimentos necessários para sua sobrevivência, devendo ser devolvido
em caso de dissolução da sociedade matrimonial (ASSIS NETO, 2015, p.
1625). Tal modalidade prevalece em muitos ordenamentos, sobretudo
em nações islamistas.

DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

53
VELOSO, Zeno. Direito hereditário do cônjuge e do companheiro.
1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

VENOSA, Sílvio de Salvo Venosa. Direito Civil: direito de família. 10ª


ed. São Paulo: Atlas, 2010.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

54
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: TJPR Prova: Juiz Substituto Ní-
vel: Superior.
Júlia e Leandro casaram-se no regime obrigatório de separação
de bens. Enquanto estavam casados, Leandro recebeu um terreno
a título de doação, e, alguns meses depois, ele faleceu. Conside-
rando-se essa situação hipotética, é correto afirmar que, à luz do
entendimento jurisprudencial, para fins de partilha, os bens adqui-
ridos na constância do casamento:
a) não se comunicam entre Júlia e Leandro, exceto o terreno doado.
b) não se comunicam entre Júlia e Leandro, ainda que seja comprovado
o esforço comum para sua aquisição.
c) comunicam-se entre Júlia e Leandro, inclusive o terreno doado.
d) comunicam-se entre Júlia e Leandro, desde que comprovado o esfor-
ço comum para sua aquisição.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: DPE-DF Prova: Defensor Público
Nível: Superior. Amélia, casada sob o regime de comunhão univer-
sal de bens, exerce empresa na qualidade de empresária individual.
Ela pretende formalizar a colaboração de seu filho, maior de idade,
que a ajuda informalmente, tornando-o sócio. Uma vez em socieda-
de, pretende instituir filial em cidade vizinha sujeita à jurisdição de
outro registro público de empresas mercantis. Para tanto, planeja
vender um imóvel que integra o patrimônio da empresa. Contudo,
Amélia desconhece os requisitos legais para essas providências.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item. DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Amélia não necessita de prévia outorga conjugal para vender o


imóvel pertencente à empresa.
a) Errado.
b) Certo.

QUESTÃO 3
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: Juiz de Direito
Substituto Nível: Superior.
Sobre o regime de bens entre os cônjuges, assinale a alternativa
correta
a) É obrigatório o regime da comunhão parcial de bens para as pessoas
que contraírem casamento com inobservância das causas suspensivas
55
de sua celebração.
b) No regime da comunhão parcial de bens, comunicam-se os bens que
sobrevierem ao casal, na constância do casamento, incluindo os recebi-
dos por um dos cônjuges via doação.
c) No regime da separação convencional de bens, é válida e eficaz a
fiança prestada por um dos cônjuges sem a autorização do outro.
d) O pacto antenupcial poderá ser celebrado por escritura pública ou
instrumento particular, desde que registrado em cartório.

QUESTÃO 4
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: Juiz de Direito
Substituto Nível: Superior.
De acordo com o Código Civil de 2002, é titular de direito real de
habitação o cônjuge sobrevivente:
a) apenas se for casado pelo regime da separação total de bens, rela-
tivamente ao imóvel destinado à residência familiar, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.
b) apenas se for casado pelo regime da separação total de bens, relati-
vamente ao imóvel destinado à residência familiar, independentemente
da existência de outros bens residenciais a inventariar.
c) qualquer que seja o regime de bens, relativamente ao imóvel
destinado à residência familiar, independentemente da existência de
outros bens residenciais a inventariar.
d) qualquer que seja o regime de bens, relativamente ao imóvel desti-
nado à residência familiar, desde que seja o único daquela natureza a
inventariar.

QUESTÃO 5
Ano: 2019 Banca: VUNESP Órgão: TJ-AC Prova: Juiz de Direito
Substituto Nível: Superior.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

O bem de família é constituído voluntariamente e visa proteger o


ente familiar, de maneira que, se dissolvida a sociedade conjugal,
fica extinto o bem de família.
a) Errado
b) Certo

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Discorra sobre a revogabilidade do regime de bens e o princípio da
mutabilidade.

TREINO INÉDITO
Impedimentos Absolutamente Dirimentes ou Causas Impeditivas do ca-
56
samento tornam o matrimônio:

a) nulo.
b) anulável.
c) irregular.
d) inexistente.
e) N.D.A.

NA MÍDIA

É possível mudar o regime de bens com o casamento em vigência?

Poucas pessoas sabem, mas é possível mudar o regime de bens do


casamento depois do matrimônio realizado. Em 1916, quando foi
criado o Código Civil, a alteração no regime de bens do casamento era
proibido, só passando a ser possível após a entrada em vigor do Código
Civil de 2002, possibilitando que a mudança seja feita se os dois côn-
juges estiverem de acordo, se não prejudicar terceiros e se tiver uma
motivação significativa. Atualmente, os regimes de bens são:
Além dos quatro regimes, o Código Civil de 2002 permite que haja um
regime misto a ser escolhido pelo casal. Para determinados bens pode
vigorar um tipo de regime e para outros, outro tipo de regime.
Debora Ghelman, advogada especialista em Direito Humanizado nas
áreas de Família e Sucessões, afirma que, embora não seja comum
mudar o regime de bens após o casamento, pode ocorrer, e explica
como pode ser feita a mudança: “O casal pode mudar de ideia após o
matrimônio, por não se adaptar ao que foi escolhido primeiro, ou porque
pode estar trazendo complicações para o relacionamento. Muitas pes-
soas não sabem que é possível fazer esta mudança, por isso processos
como este não são frequentes”. DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

De acordo com ela, para dar entrada ao processo é preciso ter auxílio
de um advogado e entrar com uma ação judicial de alteração com um
pedido apresentando a motivação do casal, devendo ser apurada a pro-
cedência das razões incômodas e sem violar direitos de terceiros (como
herdeiros e credores, por exemplo).
“O artigo 734 do Código de Processo Civil de 2015 criou a Ação de Alte-
ração do Regime de Bens, a qual deverá ser proposta perante a Vara de
Família, exigindo a manifestação do Ministério Público. Após isso, será
publicado o edital, e decorridos 30 dias de tal publicação, o juiz decidirá
se autoriza a alteração do regime de bens.” esclarece a advogada. De-
bora ainda relata que apesar de não ser tão conhecida, a mudança do
regime de bens é um processo simples, porém, pode se tornar compli-
57
cado se o juiz entender que não há motivo justo para o requerimento da
mudança: “Muitos doutrinadores criticam essa interferência do Estado
na vida privada de cada indivíduo. Há inclusive o Projeto de Lei conhe-
cido como Estatuto das Famílias, que em seu artigo 39, cria a possibili-
dade de alteração do regime de bens pela via extrajudicial, ou seja, nos
cartórios. Se o casamento é celebrado no cartório, se o regime de bens
é definido no cartório e se o divórcio pode ser realizado no cartório, por-
que não alterar o regime de bens no cartório?”, finaliza a especialista.

Fonte: Revista Eletrônica “BEM MAIS BRASÍLIA”


Data: 06 jan. 2020.
Leia a notícia na íntegra:
https://www.bemmaisbrasilia.com/single-post/2020/01/06/E-possivel-
-mudar-o-regime-de-bens-com-o-casamento-em-vigencia

NA PRÁTICA

A discussão envolta ao regime patrimonial do casamento é um antigo


dilema vivenciado pelas pessoas que querem se casar. Em verdade,
apesar de todo o arcabouço valorativo e emocional que gravita em tor-
no do casamento enquanto instituição, bem como as decisões de um
casal que almeja celebrar o enlace perante a lei e a sociedade, não se
deve olvidar nem menoscabar que a escolha do regime de bens é uma
decisão também conjunta e difícil.
A escolha é difícil porque, olhando-se o lado psicológico, os nubentes,
desejosos em ter uma vida em comum, devem optar por um regramento
que se aplica sobretudo em caso de ruptura da sociedade que eles pre-
tendem firmar. Noutras palavras, ao escolherem o regime de bens, os
noivos escolhem a melhor saída jurídica e econômica para seus bens
caso o casamento venha a se dissolver. É escolher o início pensando-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

-se num eventual fim.


Talvez reduza a carga emocional e psicológica a possibilidade de al-
teração do regime escolhido. Todavia, a alteração do regramento pa-
trimonial é procedimento que deve ser analisado com parcimônia pelo
Judiciário – e pelo Ministério Público, enquanto fiscal da ordem jurídica
–, pois muitas dessas alterações se demonstraram, no futuro, um pano
de fundo para ocultação de patrimônio para esquivar de direitos de ter-
ceiros ou do próprio estado enquanto Fisco.

PARA SABER MAIS

Acesse o link: Regimes de bens no casamento: qual o ideal para você?


58
https://www.parmais.com.br/blog/regimes-de-bens-no-casamento/

Material Complementar (Acesse o link):


Os diferentes regimes de bens do casamento
https://jus.com.br/artigos/64068/os-diferentes-regimes-de-bens-do-ca-
samento

Sete motivos para se casar com separação total de bens (ou ainda sete
vantagens do regime da separação total de bens)
https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI281735,71043-Sete+moti-
vos+para+se+casar+com+separacao+total+de+bens+ou+ainda+sete

DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

59
DISSOLUÇÃO DA
SOCIEDADE CONJUGAL
CONCEITOS INTRODUTÓRIOS
Discorridas as principais considerações quanto ao casamento
e regime patrimonial, ao presente estudo cabe demonstrar, nas poucas
linhas doravante redigidas, os entendimentos atuais sobre o desfazi-
mento do vínculo matrimonial, no que é legalmente nominado de disso-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

lução da sociedade conjugal.


Anteriormente, o casamento era considerado um vínculo indis-
solúvel, somente passível de ser rompido em razão de sua invalidade
(anulação ou nulidade do casamento), ou da morte de um dos cônjuges.
Admitia-se, todavia, a dissolução da sociedade conjugal, por meio do
desquite (artigo 315, Código Civil de 1916):

Art. 315. A sociedade conjugal termina:


I. Pela morte de um dos cônjuges.
II. Pela nulidade ou anulação do casamento.
III. Pelo desquite, amigável ou judicial.
Parágrafo único. O casamento válido só se dissolve pela morte de um

60
dos cônjuges, não se lhe aplicando a presunção estabelecida neste
Código, art.10, segunda parte.

Portanto, os indivíduos desquitados não poderiam constituir


novo casamento, pois somente havia sido rompida a sociedade con-
jugal; o vínculo conjugal, que impede o novo casamento, mantinha-se
preservado.
Entretanto, em 28 de julho de 1977, a Emenda Constitucional
n. 9 (Constituição de 1967/1969) introduz no ordenamento brasileiro a
possibilidade de dissolução do vínculo conjugal por meio do divórcio. Tal
instituto foi posteriormente regulado pela denominada Lei do Divórcio
(Lei n. 6.515/77).
A lei impunha longos prazos para o processo de divórcio. Para
que pudesse ser concedido, era necessário que os cônjuges já tives-
sem passado, há pelo menos três anos, pelo processo de separação
(extremamente humilhante, em virtude da análise de culpa pelo término
do casamento), ou estarem separados de fato por um prazo mínimo de
cinco anos. Além disso, a lei somente permitia a concessão de um único
divórcio.
Todavia, após a entrada em vigor da Constituição da República
de 1988, sobrevieram as leis n. 7.841/89 e n. 8.408/92, que alteraram
a Lei do Divórcio, a fim de adequá-la aos ditames do artigo 226, §6º da
Constituição, cuja redação original previa que o casamento civil pode
ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de
um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato
por mais de dois anos.
Logo, os antigos prazos de três (separação judicial) e cinco
anos (separação de fato) da Lei n. 6.515/77 foram modificados confor-
me os prazos constitucionais, passando a ser de um e dois anos, res-
pectivamente. A Lei n. 7.841/89 também revogou o artigo 38 da Lei do DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Divórcio, excluindo, assim, o dispositivo que impedia que um indivíduo


se divorciasse mais de uma vez.
Até 2007, os processos civis de separação e divórcio eram
exclusivamente judiciais, quando a Lei n. 11.441/07 traz a possibilidade
de que inventário, partilha, separação consensual e divórcio consen-
sual possam ser realizados em cartório de notas, sem a necessidade
de intervenção judicial ou do Ministério Público, desde que o casal não
possua filhos menores ou incapazes:

Art. 3º, Lei n. 11.441/07. A Lei n. 5.869, de 1973 – Código de Processo Civil,
passa a vigorar acrescida do seguinte art. 1.124-A:
“Art. 1.124-A. A separação consensual e o divórcio consensual, não havendo
filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais quan-

61
to aos prazos, poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão
as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão
alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu nome
de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o casamento.§
1º A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil
para o registro civil e o registro de imóveis. § 2º O tabelião somente lavrará
a escritura se os contratantes estiverem assistidos por advogado comum ou
advogados de cada um deles, cuja qualificação e assinatura constarão do ato
notarial. § 3º A escritura e demais atos notariais serão gratuitos àqueles que
se declararem pobres sob as penas da lei.”

Por fim, em 2010, foi editada e Emenda Constitucional n. 66,


que alterou a redação do art. 226, §6º, da Constituição, reduzindo sua
redação à previsão de que o casamento civil pode ser dissolvido pelo
divórcio.
Assim, tem-se que a nova e atual redação do artigo 226, destar-
te, põe fim a qualquer requisito para a concessão do divórcio. O divórcio
passa a ser um direito protestativo não submetido a prazo decadencial;
a parte poderá exercê-lo ou não, a qualquer tempo. Surge, portanto,
um divórcio direto pleno, incondicionado, conquanto não submetido à
separação de fato ou judicial prévias, por determinado período.
Com o divórcio direto, questiona-se se a separação ainda sub-
siste no sistema brasileiro, em razão da desnecessidade de pôr fim pre-
viamente à sociedade conjugal para que, então, dissolva-se o vínculo
conjugal. Além disso, é também discutido se houve a manutenção da
discussão de culpa no término do casamento e, em caso negativo, qual
seria o novo papel dos chamados “deveres conjugais” para o casamen-
to. Nas linhas doravante redigidas serão melhor tratados o sistema de
dissolução do casamento, especificamente quanto às modalidades/ins-
titutos da Separação e do Divórcio.
Primeiramente, deve-se dizer que há distinção entre as for-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

mas de dissolução da sociedade conjugal: há aquelas que põem fim


à sociedade, mantendo-se o vínculo conjugal – separação – e aquelas
que põem fim ao casamento válido, rompendo-se a sociedade e o vín-
culo – morte e divórcio.
Antes da vigência da Emenda Constitucional n. 66/2010, vigo-
rava, incontestavelmente, um sistema “dual” ou “binário” de dissolução
do casamento. Para que houvesse a dissolução do casamento, era ne-
cessário que os cônjuges passassem por um procedimento prévio de
separação judicial ou extrajudicial e, posteriormente, convertessem-no
em divórcio – salvo nas hipóteses de divórcio direto ou de morte.
A justificativa apresentada para o sistema binário ou dual era
conceder um tempo para que os cônjuges, após a separação de direito,

62
pudessem refletir sobre o desejo real de terminar o casamento. Ade-
mais, tal distinção trazia determinados efeitos jurídicos e práticos. Diz o
artigo 1.571 do Código Civil:

Art. 1.571. A sociedade conjugal termina:


I - pela morte de um dos cônjuges;
II - pela nulidade ou anulação do casamento;
III - pela separação judicial;
IV - pelo divórcio.
§ 1o O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos
cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida
neste Código quanto ao ausente.
§ 2o Dissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o
cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso,
dispondo em contrário a sentença de separação judicial.

Conforme a redação do artigo 1.571, por meio da separação ju-


dicial (ou extrajudicial) era possível pôr termo à sociedade conjugal sem
que fosse extinto o vínculo conjugal existente entre os cônjuges; a dis-
solução do vínculo conjugal válido somente ocorreria por meio da morte
ou do divórcio. Portanto, era necessário que aqueles que estivessem
separados judicialmente há mais de um ano promovessem o divórcio,
para que então houvesse o fim definitivo do casamento.
Com o fim da sociedade conjugal, os indivíduos passavam a
adquirir independência na determinação das próprias vidas, sem ne-
cessidade de consultarem o outro cônjuge para tomarem suas próprias
decisões; apesar disso, permanecia o vínculo nupcial.
Por consequência, aqueles que se encontrassem separados
de fato ou de direito poderiam constituir uma nova família por meio de
uma união estável. Contudo, não poderiam contrair novas núpcias, pois
apesar de se encontrarem fática ou legalmente separados, ainda es-
tariam, formalmente, casados; apenas com o fim do vínculo conjugal
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

é que o impedimento legal do artigo 1.521, VI, do Código Civil seria


afastado. Desse modo, o indivíduo divorciado, viúvo ou solteiro pela
anulação/nulidade do casamento estaria apto a um novo casamento,
diferentemente do indivíduo separado.
Tal lógica, para alguns doutrinadores, era extremamente para-
doxal: por que a separação impediria a formação de uma entidade fami-
liar, mas permitiria outra? Tal distinção, segundo a doutrina é fundamen-
tada no sistema dual de dissolução do casamento; caso o casamento
fosse dissolvido somente pelo divórcio, ambas as famílias poderiam ser
constituídas a partir de então, pois o vínculo conjugal teria fim em um
único procedimento. Tal dilema, contudo, teria aparente fim em 2010.

63
Com a Emenda Constitucional n. 66/2010, entendeu a maio-
ria da doutrina e da jurisprudência pela extinção do sistema binário.
Segundo a doutrina majoritária, não teriam subsistido os institutos da
separação judicial ou extrajudicial no sistema de dissolução do casa-
mento, em razão da supressão dos requisitos da redação do artigo 226
da Constituição de 1988.
Entretanto, parcela da doutrina e da jurisprudência ainda en-
tende que a inserção no ordenamento pátrio do divórcio direto pleno,
incondicionado, não significaria a abolição do sistema dual – conforme
será abordado adiante.

SEPARAÇÃO, DIVÓRCIO, DIREITOS DA MULHER E RITOS NO CÓ-


DIGO DE PROCESSO CIVIL

a) Separação
A separação é mecanismo capaz de pôr fim, exclusivamente, à
sociedade conjugal. Consoante artigo 1.576 do CC, são extintas a “co-
munhão plena de vida” e a convivência dos cônjuges pela autorização
da separação dos corpos, bem como os deveres de coabitação e de
fidelidade. Também produz o fim da sociedade conjugal o fim da comu-
nicabilidade patrimonial nos regimes de comunhão de bens.
Há de se dizer que, embora a inteligência do preceptivo legal,
não é a separação de direito que produz o fim dos deveres de coabita-
ção e de fidelidade recíproca, bem como o término do regime de bens:
tal função cabe à separação de fato ou à separação de corpos. A dis-
solução da sociedade conjugal pela separação (judicial, extrajudicial ou
de fato) impede que o cônjuge sobrevivente participe da sucessão do
cônjuge falecido (artigo. 1.830 do CC/2002), salvo prova, no caso de
separação fática superior a dois anos, de que a convivência se tornou
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

impossível sem culpa do supérstite (sobrevivente).


A separação poderá ocorrer de diversas formas, tanto no plano
dos fatos, quanto no plano do direito. Será de fato a separação quando
houver a concretização da separação fática dos corpos, pondo fim à
comunhão de vida. A separação será, ainda, de direito, quando for de-
cretada por autoridade judicial ou por autoridade administrativa, extra-
judicialmente. Além disso, a separação judicial poderá ser litigiosa (nas
modalidades “separação-sanção”, “separação-falência” ou “separação-
-remédio”) ou consensual/amigável.
Haverá a separação litigiosa quando não houver desejo mú-
tuo de pôr fim ao casamento ou quando os cônjuges não concordarem
quanto às cláusulas de uma separação consensual. Esta, por sua vez,

64
ocorre quando há um consenso do casal quanto à separação e a seus
termos. Por fim, determina a Lei n.11.441/07 que a separação extraju-
dicial somente poderá ser realizada nos casos em que a separação for
consensual. Cumpre destacar que, mesmo decretada a separação judi-
cial ou extrajudicial, é possível que seja retomada a sociedade conjugal,
nos termos do artigo 1.577 do Código Civil.

É possível, também, promover a reconciliação do casal por


meio de escritura pública, conforme previsão do artigo 48 da Resolução
n. 35 do CNJ, o qual preleciona que: “o restabelecimento de sociedade
conjugal pode ser feito por escritura pública, ainda que a separação te-
nha sido judicial. Neste caso, é necessária e suficiente a apresentação
de certidão da sentença de separação ou da averbação da separação
no assento de casamento”.
Contudo, havendo acordo de separação consensual, não será
possível a retratação unilateral: Súmula 305, STF. Acordo de desquite
ratificado por ambos os cônjuges não é retratável unilateralmente

a.1) Separação de Fato


O artigo 1.723 do Código Civil, que estabelece as hipóteses de
dissolução da sociedade conjugal, não elenca em seu rol a separação
de fato; somente a separação judicial (ou extrajudicial, Lei nº 11.441/07)
é capaz de pôr fim à sociedade conjugal, nos termos do referido dispo-
sitivo. Entretanto, defendem os professores Renata Barbosa de Almeida
e Walsir Edson Rodrigues Júnior que a separação de fato também seria
causa para a dissolução da sociedade conjugal, pois seria o retrato fático
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

da falência de uma entidade familiar, que somente existiria “no papel”:

A família que merece proteção do Estado é aquela que compreende um am-


biente eudemonista, estável, ostensivo e baseado na comunhão de vida, fa-
vorável ao livre desenvolvimento das pessoas. A ausência desses elementos
fará com que a família deixe de existir e, consequentemente, deixe de produ-
zir efeitos na órbita do Direito como tal. Não resta dúvida de que a separação
de fato entre marido e mulher coloca fim ao objetivo de constituição de família
e, por isso, também deve colocar fim à sociedade conjugal. Assim, é possível
defender que os bens adquiridos após a separação de fato não se comuni-
cam, pois foram adquiridos sem esforço comum. Admitir a divisão de tais bens
caracterizaria, sem sombra de dúvida, enriquecimento sem causa (ALMEIDA;
RODRIGUES JR., 2012, p. 229).

65
Ademais, o artigo 1.723, §1º, do Código Civil, prevê a possibi-
lidade de que o indivíduo casado, embora separado de fato, constitua
uma união estável – o que reforçaria a tese de que a separação de fato
também seria instituto capaz de extinguir a sociedade conjugal.
Por fim, o artigo 1.683 do mesmo diploma civil determina que o
fim da “comunhão plena de vida” seja o marco final para apuração dos
aquestos.

a.2) Separação consensual judicial e extrajudicial


Na separação consensual ou amigável, os cônjuges, por livre
convenção de vontades, acordam as cláusulas separatórias obrigató-
rias para o término amistoso da sociedade conjugal, além de dirimir
consensualmente assuntos que porventura pudessem causar conflitos.
Torna-se, pois, proibido levantar qualquer discussão acerca da causa
ou da culpa no término da sociedade conjugal. Antes de 2007, somente
era possível a separação consensual judicial. Entretanto, com a vigên-
cia da Lei n. 11.441/2007, permitiu-se a possibilidade de realização da
separação consensual diante de uma autoridade notarial, desde que o
casal não tenha filhos menores ou incapazes e observados os prazos
legais.
Como requisito para a separação amigável, além do consenso
entre os cônjuges, faz-se necessário que estes estejam separados há
mais de um ano (artigo 1.574, caput, CC/2002).

O Centro de Estudos Judiciários do Conselho de Justiça Fede-


ral (CJF), por meio do Enunciado n. 515, posicionou-se que a separação
não foi extinta do ordenamento jurídico pela Emenda Constitucional n.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

66/10. As alterações promovidas pela Emenda, no entanto, teriam oca-


sionado o fim do prazo mínimo para a concessão da separação consen-
sual. Saiba mais em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/ enunciado/584.

Antes da edição da emenda, alguns casais já burlavam o prazo


mínimo de casamento de um ano, promovendo a separação consen-
sual de corpos (que não se submete a requisito de prazo) e estipulando
cláusulas temporárias de separação semelhantes às que seriam estipu-
ladas na separação consensual, e oficializando o término da sociedade
conjugal após decorrido o lapso de um ano, com a inserção de todas
as cláusulas da separação. Portanto, atualmente, caso se entenda pela
66
manutenção da separação consensual no Brasil, ela poderá ser reali-
zada a qualquer tempo, independentemente do tempo de duração do
casamento a ser dissolvido.
O acordo judicial de separação consensual deve conter, obri-
gatoriamente, cláusulas dispondo sobre a guarda dos filhos menores
(art. 731, III, do Código de Processo Civil de 2015); a pensão alimentí-
cia aos filhos menores (artigo 731, IV, CPC/2015); e os alimentos entre
os cônjuges, caso um deles não tenham condições econômicas de se
manter (artigo 731, II, CPC/2015).
Ainda, poderá o acordo dispor, facultativamente, acerca da
partilha, que, conforme dispõe o enunciado 255 da III Jornada de Direi-
to Civil do Conselho de Justiça Federal, poderá ser realizada posterior-
mente. (En. 255, CJF – Art. 1.575: Não é obrigatória a partilha de bens
na separação judicial).
Além disso, o acordo deverá atender aos interesses dos filhos
e manter o equilíbrio entre os interesses dos cônjuges, de modo que,
havendo violação a tais determinações, o juiz poderá se recusar a pro-
mover a homologação do acordo de separação, nos termos do artigo
1574 parágrafo único do CC/2002:

O juiz pode recusar a homologação e não decretar a separação ju-


dicial se apurar que a convenção não preserva suficientemente os
interesses dos filhos ou de um dos cônjuges.

Por essa razão, são consideradas vedadas cláusulas que im-


pliquem na renúncia:
(i) de alimentos aos filhos menores e incapazes (artigo 16, Lei
6.515/77 c/c artigo 1.579, CC/2002);
(ii) dos alimentos entre cônjuges (artigo 1707, CC);
(iii) ao poder familiar (artigo 1.579, CC/2002);
(iv) às visitas aos filhos (artigo 1.579, CC/2002);
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

(v) ao interesse na educação e formação dos filhos (artigo


1.579, CC/2002);
(vi) à meação.
Na separação consensual judicial, o artigo 1.122, §1º do
CPC/1973 previa a chamada ratificação judicial, com o intuito de o ma-
gistrado verificar a real intenção dos cônjuges em se separarem, veri-
ficando se haveria uma possível hipótese de reconciliação do casal. O
juiz devia designar uma audiência prévia para ouvir os cônjuges acerca
dos termos do acordo de separação e, percebendo alguma hesitação, o
juiz deveria suspender a audiência e sobrestar o processo por um prazo
de 15 a 30 dias. Após o prazo, os cônjuges retornariam em juízo para

67
ratificar a separação.
Contudo, cada vez menos magistrados vêm promovendo uma
tentativa de reconciliação do casal, especialmente em razão do baixíssi-
mo êxito apresentado. Tal procedimento não possui correspondência no
Novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015 - CPC/2015).

a.2.1) Separação litigiosa judicial “sanção”


Diz o caput do artigo 1.572, do Código Civil que “qualquer dos
cônjuges poderá propor a ação de separação judicial, imputando ao ou-
tro qualquer ato que importe grave violação dos deveres do casamento
e torne insuportável a vida em comum”.
A separação-sanção é uma modalidade de separação basea-
da na imputação causal do término do casamento a um dos cônjuges,
em virtude da culpa pela violação de algum dos deveres matrimoniais,
tornando insuportável a vida em comum. Como hipóteses de violação
desses deveres, o artigo 1.573 do Código Civil lista o adultério, a ten-
tativa de morte, a sevícia ou injúria grave, o abandono voluntário do lar
conjugal por um ano contínuo, a condenação por crime infamante e a
conduta desonrosa.
Tais hipóteses, em verdade, representam violações aos deve-
res conjugais previstos no artigo 1.566 do Código Civil pátrio (fidelidade
recíproca; vida em comum, no domicílio conjugal, mútua assistência,
sustento, guarda e educação dos filhos e respeito e consideração mú-
tuos).
O adultério consiste na violação ao dever de fidelidade recí-
proca, entendido em sua mais ampla extensão. O dever de fidelidade
estabelece um dever de exclusividade dos cônjuges sobre o corpo uns
dos outros, em decorrência da monogamia, da intimidade sexual e da
lealdade esperáveis dos cônjuges em sua relação. A infidelidade, por
sua vez, causaria o fim da “estima, da confiança e da ternura”, necessá-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

rios à comunhão plena de vida.


Pode-se dizer que o ápice ou grau maior de infidelidade con-
jugal seja a consumação do adultério, que ocorre por meio da relação
sexual do cônjuge com terceiro, que, processualmente, poderia ser
comprovada por meio de atos que evidenciem de maneira indene de
dúvidas a conduta infiel.
A tentativa de morte, por sua vez, atenta contra o respeito e
consideração mútuos, no momento em que há a tentativa de homicídio
de um cônjuge realizada pelo outro cônjuge. Não bastam para a confi-
guração da tentativa de morte os atos meramente preparatórios; esses
consistem em espécies de sevícia ou injúria grave.
A sevícia consiste no castigo físico, por meio do uso violento
68
da força, de modo a atentar contra a integridade física do cônjuge. Já
a injúria grave é a ofensa à honra, à respeitabilidade ou à dignidade do
cônjuge, seja em atos ou palavras.
O abandono do lar conjugal, durante um ano contínuo, por sua
vez, consiste na saída voluntária e maliciosa do lar conjugal, pondo fim
à vida em comum, no domicílio conjugal. Tal hipótese demonstra a vio-
lação do dever de coabitação, que, além do requisito da residência “sob
o mesmo teto”, requer que os cônjuges mantenham uma relação de
intimidade, não apenas no campo sexual, mas também no companhei-
rismo, cuidado, atenção. Por fim, a conduta desonrosa é toda condu-
ta inadequada ao extremo, com alto cunho vexatório ou socialmente
reprovado, intolerável ao ponto de macular a vida em comum, não se
tratando de mero dissabor ao outro cônjuge.
O artigo 1.573 apresenta um rol exemplificativo de hipóteses
que caracterizam a inviabilidade da comunhão de vida. Além dessas
hipóteses, o juiz poderia identificar outras que importassem na impossi-
bilidade da manutenção da vida em comum.
A imputação de culpa a um dos cônjuges trazia outros efeitos
ao cônjuge culpado, além do término da sociedade conjugal. Pelo Có-
digo Civil de 1916, o cônjuge culpado pelo fim do casamento perderia o
direito à guarda dos filhos. Caso ambos fossem culpados, estabeleceu-
-se que a mãe teria a guarda das filhas, enquanto menores, e dos filhos
até os seis anos de idade. Após essa idade, os filhos (homens) seriam
entregues à guarda do pai.
A Lei n. 4.121/62 alterou a redação do dispositivo codicista, e
previu que, em caso de culpa recíproca, os filhos menores ficariam sob
a guarda materna, salvo se o juiz verificasse que tal solução trouxesse
prejuízo moral a eles; quanto à disposição de concessão da guarda ao
cônjuge inocente, esta foi mantida pela Lei.
Assim se manteve o sistema até a promulgação da Constitui- DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

ção de 1988, quando foi inserido o princípio do melhor interesse da


criança e do adolescente (princípio da proteção integral). A partir de
então, a discussão de culpa passou a não mais ser fato relevante para
a determinação da guarda dos filhos menores.
A discussão de culpa também em nada afeta a partilha, que
deve ser realizada em conformidade com o regime de bens estabeleci-
do pelo casal. Até 2010, a aferição de culpa somente tinha relevância
quanto à perda do nome do cônjuge e à estipulação de alimentos ao
cônjuge culpado.
O artigo 1.578 do atual CC prevê a possibilidade de perda do
nome do cônjuge pelo cônjuge culpado. Entretanto, a codificação civil
abranda tal efeito, permitindo a manutenção do nome de casada caso
69
haja evidente prejuízo para a identificação da ex-esposa, manifesta dis-
tinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dis-
solvida, ou dano grave reconhecido na decisão judicial.
Quanto aos alimentos, antes da vigência do Código Civil de
2002, o cônjuge culpado não tinha qualquer direito à pensão alimen-
tícia, ainda que dela necessitasse. Com a Emenda Constitucional n.
66/2010, entende a maioria da doutrina e da jurisprudência pelo fim da
discussão de culpa na dissolução do casamento.
Entretanto, parte da doutrina discorda, dizendo que a culpa so-
mente teria perdido sua função na decretação do divórcio, mas manteria
seu papel de auxílio na estipulação de alimentos entre os cônjuges, na
determinação da guarda dos filhos menores, e até mesmo na partilha
dos bens do casal. Ademais, conforme descreve MADALENO (2016),
o modelo de imputação causal ou de culpa pelo término da sociedade
conjugal já apresentava sinais de abandono bem antes do surgimento
da Emenda Constitucional n. 66/10:

Cada vez mais a jurisprudência brasileira andava na salutar direção contrária


ao do direito escrito brasileiro, que teimava e de certa forma, dado muitas
resistências, ainda teima em ocupar o Judiciário com longas demandas pre-
nhes de intensa e inútil carga de litígio. Em reiteradas e ilustrativas decisões
dos tribunais pátrios, vinha sendo afastada a perquirição de culpa, fortemen-
te combatida também pela doutrina e por consequência de toda essa histó-
rica trajetória, é possível afirmar que a discussão de culpa já havia perdido
sua importância muito antes da Emenda Constitucional n. 66/2010, e que
tampouco o retorno do instituto da separação no Código de Processo Civil
de 2015 será capaz de lhe dar uma sobrevida que a cultura jurídica brasileira
definitivamente já apagou.

a.2.2) Separação litigiosa judicial “falência”


A separação litigiosa judicial chamada “separação-falência”,
também chamada separação denúncia-vazia ou consumação, é dispos-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

ta no art. 1.572, §1º do Código Civil brasileiro:

A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges provar


ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade de sua
reconstituição.

Nessa modalidade, há a dispensa da aferição de culpa, em


razão da impossibilidade da vida em comum. Observaria essa modali-
dade, portanto, ao princípio da ruptura objetiva do matrimônio em de-
trimento do princípio da culpa, visto que, para que se conceda a se-
paração, deve-se observar a existência dos pressupostos objetivos da
ruptura da vida em comum num período superior a um ano e a impossi-

70
bilidade de sua reconstituição.
A respeito da “ruptura da vida em comum”, surgiu uma discus-
são doutrinária acerca de seu real conteúdo. A expressão pareceu ser
utilizada pelo legislador como a existência de uma efetiva separação
de fato do casal por mais de um ano, havendo uma efetiva ruptura da
coabitação. Entretanto, é possível que a vida comum seja rompida pela
cessação de uma vida sexual entre os cônjuges, apesar de habitando o
mesmo lar conjugal.

a.2.3) Separação litigiosa judicial “remédio”


Por derradeiro, tem-se a separação litigiosa judicial “remédio”.
Prevê o artigo 1.572, §2º do Código Civil a possibilidade de separação
judicial quando um dos cônjuges estivesse acometido de doença mental
grave que impedisse a continuação de uma vida em comum, e cuja cura
tivesse sido declarada improvável após um prazo de dois anos.
Vários juristas criticaram a previsão da separação-remédio
na codificação civil. A separação-remédio, em seu entender, atentaria
contra os compromissos intrínsecos aos sentimentos de solidariedade
conjugal, ao violar o dever de mútua assistência do artigo 1.566, III, do
Código Civil. O §3º do artigo 1.573 do Código prevê um ganho patrimo-
nial do cônjuge acometido de doença mental em decorrência da partilha
dos bens anteriores e posteriores ao casamento.
Tal dispositivo, entretanto, somente se aplica ao regime de co-
munhão universal de bens, pois, nos demais regimes, não há a comuni-
cabilidade dos bens adquiridos antes do casamento. Portanto, somente
na hipótese de os cônjuges estarem casados no regime de comunhão
universal de bens é que o cônjuge enfermo perceberá vantagem econô-
mica em razão da separação-remédio.
Caso um incapaz seja acionado pelo divórcio incondicionado
trazido pela Emenda Constitucional n. 66/2010, ele deverá ser repre- DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

sentado por seu curador, por ascendente ou pelo irmão (artigo 1.576,
parágrafo único). Por fim, deve-se ressaltar que a chamada cláusula de
dureza não foi recepcionada pelo Código Civil de 2002. Pela cláusula de
dureza, prevista no art. 6º da Lei do Divórcio (Lei n. 6.515/77), o juiz po-
deria obstar a separação judicial se a separação constituísse causa de
agravamento das condições pessoais ou da doença do outro cônjuge.
Tal cláusula se aplicava às separações-falência e às separações-remé-
dio e não tem mais aplicação; observados os requisitos objetivos das
modalidades de separação, o magistrado, necessariamente, deverá de-
cretá-la.

71
a.3) Separação de corpos e Direitos da Mulher
A medida cautelar de separação de corpos é medida preparató-
ria do divórcio judicial ou extrajudicial, com o fim de interromper o dever
de coabitação. Além disso, é possível requerer por meio da separação
de corpos o afastamento compulsório do cônjuge demandado, desde
que observados os requisitos fáticos e jurídicos para a concessão da
medida “unilateral e extrema”.
Ademais, é possível requerer a cautelar de separação de cor-
pos com a intenção de afastar a configuração do abandono do lar. Tal
finalidade, com o fim da discussão de culpa no sistema de dissolução
do casamento não teria muito sentido, pois o abandono do lar não seria
mais relevante para o término ou não do casamento. Porém, tal medi-
da teria particular finalidade quanto a impedir que se configure um dos
requisitos da chamada usucapião familiar, instituto descrito no artigo
1240-A do Código Civil.
Por essa razão, ainda que se considere a culpa excluída do
sistema de dissolução do casamento, a separação de corpos para a
não configuração do abandono familiar tem sentido, ao possibilitar que
o cônjuge que deixe o lar conjugal não tenha seu ato qualificado como
um abandono voluntário do lar. Isso se aplica, inclusive, às mulheres
que sofrem violência doméstica e são obrigadas a deixar o lar conjugal
para que preservem sua integridade física e psicológica.
Por meio da cautelar, a mulher estaria autorizada a afastar-se
temporariamente do lar, retornando após o divórcio judicial ou o recebi-
mento do imóvel em pagamento por seu quinhão na partilha. Pode-se,
ainda, em sentido diverso, requerer o afastamento do cônjuge violento
do lar conjugal por meio da separação de corpos. A Lei n. 11.441/07 e
a Resolução n. 35/2007 do Conselho Nacional de Justiça falam sobre a
possibilidade de haver a escrituração pública da separação de corpos
consensual.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

b) Divórcio
O divórcio também é mecanismo que põe fim tanto à socie-
dade conjugal, quanto ao vínculo conjugal. Constitui um mecanismo
voluntário de dissolução do casamento, conquanto resulta de uma pro-
vocação das autoridades judiciais, ou de seus auxiliares administrativos
(notários) pelos interessados.
O divórcio produz efeitos em relação aos cônjuges, ao seu pa-
trimônio e em relação aos filhos do casal divorciado. Há, como efeitos
pessoais do divórcio, a possibilidade de o cônjuge retornar ao apelido
de solteiro e a permissão de contrair novas núpcias. O divórcio, em re-
lação aos filhos, gera a possibilidade de guarda dos filhos menores (uni-
72
lateral ou compartilhada); o pagamento de alimentos à prole; e o direito
à visitação dos filhos para aquele que não detenha a sua guarda. Final-
mente, na esfera patrimonial, o divórcio produz o dever de alimentos
entre os cônjuges, caso um deles não tenha condições de subsistência;
os alimentos aos filhos; e a partilha dos bens.
Em decorrência da dissolução do vínculo conjugal, há a ex-
tinção de determinados vínculos de parentesco por afinidade. Todavia,
mantém-se a afinidade em linha reta, conforme prevê o artigo 1.595,
§2º, do Código Civil:

Art. 1.595, CC/2002. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do


outro pelo vínculo da afinidade.
§1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descenden-
tes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento
ou da união estável.

Atualmente, com o advento do divórcio direto incondicionado


da Emenda Constitucional n. 66 de 2010, a decretação do divórcio an-
tes mesmo de decididas as demais questões é o que mais se verifica na
prática. Como não se pode colocar qualquer requisito ou impedimento
ao divórcio, o divórcio já é decretado para que, com calma, as partes de-
cidam sobre o resto; esperar que todas as questões afeitas ao divórcio
sejam decididas para que, então, seja declarado o divórcio viola a lógica
da celeridade processual e da razoabilidade.
Assim como o processo de separação, o divórcio pode ser ju-
dicial (litigioso ou consensual) ou extrajudicial (somente na modalidade
consensual). O litígio se limita à discussão de matérias relativas à disso-
lução do casamento, tais como guarda e regime de visitação, alimentos
e partilha. Tais discussões, inclusive, não impedem a decretação do
divórcio.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Além disso, falava-se na existência de um divórcio direto e de


um divórcio indireto. O divórcio direto, antes da sistemática introduzida
pela Emenda n. 66/2010, consistia na decretação do divórcio pela com-
provação da separação de fato há, pelo menos, dois anos (artigo 1.580,
§2º, CC/2002).
O divórcio indireto, por sua vez, ocorria quando os cônjuges
promovessem a conversão da separação de direito (judicial ou extraju-
dicial) após decorrido o prazo de um ano do trânsito em julgado da sen-
tença ou da lavratura da escritura pública de separação (artigo 1.580,
caput, CC/2002).
Atualmente, com a supressão dos requisitos para a concessão
do divórcio, tal divisão apresenta-se praticamente inócua. Entretanto,
73
alguns juristas defendem a manutenção do sistema dual, ainda que fa-
cultativamente, o que ainda daria algum sentido à distinção.
Cabe lembrar que não há reconciliação no divórcio. Havendo
a declaração judicial do divórcio, caso o antigo casal desejar retomar o
casamento, deverá haver um novo processo de habilitação e uma nova
celebração de núpcias.
O mesmo ocorre com o divórcio consensual extrajudicial. A es-
critura pública já é documento suficiente para a dissolução do vínculo
conjugal; posterior averbação da escritura no registro civil das pessoas
naturais teria o condão apenas de dar publicidade ao feito. Por essa
razão, lavrada a escritura pública de divórcio consensual, não cabe re-
tificação da escritura com o intuito de restabelecimento da sociedade e
do vínculo conjugais.
Quanto às questões periféricas ou circundantes ao desfazi-
mento do vínculo conjugal (alimentos, guarda, partilha), prevalece, no
sistema brasileiro, a cindibilidade do divórcio. Na ação de divórcio, é
possível separar a declaração de divórcio da discussão de guarda, ali-
mentos, partilha e dos demais assuntos relativos ao término da socieda-
de e do vínculo conjugais. Tais assuntos podem ser discutidos na mes-
ma ação, entretanto, a concessão do divórcio independerá da resolução
dessas questões.
Esse não era o entendimento esboçado pela Lei do Divórcio,
que, em seu artigo 31, previa:

Art. 31, Lei n. 6.515/77. Não se decretará o divórcio se ainda não houver
sentença definitiva de separação judicial, ou se esta não tiver decidido sobre
a partilha dos bens.

Contrariando a Lei do Divórcio, contudo, o Superior Tribunal de


Justiça já sinalizava entendimento favorável à cindibilidade do divórcio.
Nesse sentido, foi editada a Súmula 197:
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Súmula 197, STJ. O divórcio direto pode ser concedido sem que haja prévia
partilha dos bens.

Posteriormente, com a edição do Código Civil, firmou-se o en-


tendimento expresso na súmula do STJ (artigo 1.581 do CC/2002), es-
tabelecendo que o divórcio pode ser concedido sem que haja prévia
partilha dos bens.
No Código de Processo Civil (CPC/2015), o divórcio litigioso
judicial se submete às regras do procedimento comum. O procedimento
é iniciado por uma audiência de mediação e conciliação, podendo ser
sucedida de quantas audiências mais forem necessárias para que haja

74
a solução consensual do litígio. Não sendo suficientes, é possível a ten-
tativa de acordo ainda na audiência de instrução e julgamento.

c) Efeitos processuais da manutenção e da exclusão da


separação judicial e extrajudicial
Para aqueles que defendem a abolição do sistema dual no Bra-
sil, os processos de separação judicial em curso devem ser convertidos
em divórcio, após serem ouvidos os cônjuges litigantes, tanto na pri-
meira, quanto na segunda instância. É o que vem ocorrendo na prática
forense.
Nesse sentido, tem-se o seguinte julgado do Tribunal da Cida-
dania (STJ):

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 236.619-DF (2012/0207590-3) (...)


DECISÃO Trata-se de agravo interposto contra decisão denegatória de re-
curso especial fundamentado no art. 105, III, alínea “a”, da Constituição Fe-
deral, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios,
assim ementado (e-STJ fl. 527): SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA -AGRA-
VO RETIDO -PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - MANU-
TENÇÃO DE INDEFERIMENTO - COMPETÊNCIA - EMENDA CONSTITU-
CIONAL 66/2010 - DIVÓRCIO DIRETO - PARTILHA - NOME. (...) 2. Após a
EC 66/10 não mais existe no ordenamento jurídico brasileiro o instituto da se-
paração Judicial. Não foi delegado ao legislador infraconstitucional poderes
para estabelecer qualquer condição que restrinja direito à ruptura do vínculo
conjugal. 3. É possível a alteração, em segundo grau de jurisdição, da ação
de separação judicial em ação de divórcio, quando verificado que as partes
manifestam o seu interesse em pôr fim ao casamento. 4. Essa alteração
também é cabível quando verificado que atende aos princípios da razoabili-
dade, da proporcionalidade, da economia processual, efetividade da presta-
ção jurisdicional e por se tratar de demanda que envolve direito de família,
o que, naturalmente, enseja desgaste emocional e psicológico das partes
envolvidas, não sendo viável a simples extinção do processo sem resolução
do mérito para que haja a sua repropositura. (...) 7. Negou-se provimento ao
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

agravo retido e deu-se parcial provimento ao apelo da autora para suspender


a exigibilidade dos ônus da sucumbência e decretar o divórcio do casal com
a manutenção do nome de casada da autora e partilha dos bens no percen-
tual de 50% (cinqüenta por cento) para cada, nos termos contidos no voto do
relator. A parte agravante viola os 2º, 128, 458, 460 e 535, I e II, do Código
de Processo Civil. Assim posta a questão, observo que o acórdão recorrido
se manifestou de forma suficiente e motivada sobre o tema em discussão nos
autos, nos limites em que a questão foi apresentada pelas partes. Ademais,
não está o órgão julgador obrigado a se pronunciar sobre todos os argumen-
tos apontados pelas partes, a fim de expressar o seu convencimento. No
caso em exame, o pronunciamento acerca dos fatos controvertidos, a que
está o magistrado obrigado, encontra-se objetivamente fixado nas razões do
acórdão recorrido. Afasto, pois, a alegada violação dos artigos referidos. Em

75
face do exposto, nego provimento ao agravo em recurso especial. Publique-
-se. Intimem-se. Brasília (DF), 17 de outubro de 2014. Ministra MARIA ISA-
BEL GALLOTTI Relatora (Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, 22/10/2014).

Entretanto, caso os cônjuges mantivessem a intenção de pre-


servar o pedido de separação judicial, o procedimento deveria ser ex-
tinto pela impossibilidade jurídica do pedido - já que não seria mais ad-
mitida a separação judicial com a edição da Emenda 66/2010. Já os
adeptos da corrente minoritária, que entendem pela permanência do
sistema dual, defendem que o magistrado poderá intimar as partes da
ação de separação para que, caso desejem, convertam a demanda em
uma ação de divórcio. A conversão, no entanto, não poderá ser imposta,
mas constar como uma faculdade das partes, em respeito ao contradi-
tório e a não surpresa.
É salutar tecer que a separação consensual (judicial ou ex-
trajudicial) é prevista pelo Novo Código de Processo Civil (Lei n.
13.105/2015), a despeito do entendimento prevalecente na doutrina e
na jurisprudência:

Art. 731, caput, CPC/2015. A homologação do divórcio ou da separação con-


sensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em petição
assinada por ambos os cônjuges (...)

Art. 733, caput, CPC/2015. O divórcio consensual, a separação consensual


e a extinção consensual de união estável, não havendo nascituro ou filhos
incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser realizados por es-
critura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.

O professor Rolf Madaleno (2016) entende pelo total descabi-


mento do divórcio litigioso na sistemática do Novo CPC/2015, a saber:

Também o Código de Processo Civil de 2015, estranhamente, retoma o te-


DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

mário do instituto da separação, quando os tribunais e juízos de primeiro grau


sequer lhe dão trânsito processual, e sobre cuja possibilidade de tramitação
penso só encontrar eco na sua versão consensual (judicial ou extrajudicial),
porquanto, na sua modalidade litigiosa, ela sempre poderá ser absorvida
pelo requerimento do réu pelo provimento mais amplo do divórcio, facultada
a dispensa pelo Código de Processo Civil do ajuizamento de peça processual
específica de reconvenção, podendo o demandado valer-se da sua própria
contestação para requerer em reconvenção (CPC de 2015, art. 343) o divór-
cio direto (MADALENO, 2016).
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O AMPARO À FAMÍLIA
Voltando-se aos axiomas constitucionais, temos que o caput do
artigo 226 da CRFB/1988 dispensou à família grande e fundamental pa-

76
pel na sociedade, vez que é constitucionalmente a base para a formação
individual e coletiva.
Uma família juridicamente amparada é o ponto nodal de esta-
bilização social, o que faz com que o Estado seja e esteja firme diante
de pressões e comoções internas ou externas. E é por essa razão que o
Estado Brasileiro prevê tamanha proteção à figura da entidade familiar,
sobretudo na pessoa da prole, pois cediço que a desestruturação fami-
liar causada pelos rompimentos ou desfazimentos dos vínculos conjugais
afeta sobremaneira a criação, educação e formação pessoal e social dos
filhos. E o Estado sabe que famílias desamparadas material e emocional-
mente geram comunidades desestruturadas.
Assim, com espeque no Princípio da Função Social da Família
(ASSIS NETO, 2015), o ordenamento jurídico brasileiro verificou a ne-
cessidade em manter um caráter protetivo e equilibrante à sociedade por
meio da família, dando a esta uma função e o amparo basilar para que se
mantenha e exerça essa função, buscando primeiramente sempre a esta-
bilidade nas relações e, em segundo plano, o saneamento das questões
subjacentes capazes de influir no ânimo das relações familiares.
A Constituição da República, como já dito em tópicos antece-
dentes neste estudo, tem como um de seus principais escopos a prote-
ção da família. Por tal razão, findado o vínculo matrimonial, demonstra-se
necessária a delimitação da proteção da família, em especial na pessoa
dos filhos, o que faz o Código Civil numa patente horizontalização do
Direito Constitucional.
A guarda dos filhos menores é oriunda da figura do poder fa-
miliar, e, na ausência de um dos cônjuges genitores, será repassada in
totum ao cônjuge sobrevivente.
A guarda unilateral (artigo 1.583 do CC) é designada como aque-
la que será incumbida a um dos cônjuges, em geral o que apresentar con-
dições mais eficazes ou ótimas para a guardiania dos filhos, possuindo o DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

outro ex-cônjuge o direito de visitação e fiscalização da guarda exercida


pelo primeiro. De se frisar que o direito de visita atualmente foi estendido
às relações avoengas (avós ou progenitores).
Ao seu turno, tem-se que a guarda compartilhada, instituída no
CC/2002 pela Lei Federal n. 11698, de 13 de junho de 2008, detém o
intuito de garantir aos genitores/ex-cônjuges a plena e ativa interação e
participação na criação filial, com a divisão equitativa das obrigações e
responsabilidades, sempre objetivando o bem-estar dos infantes (Princí-
pio do Melhor Interesse do Menor).
Inclusive, em razão de tal princípio que a lei previu que a inexis-
tência de acordo quanto ao exercício da guarda dos filhos, caberá ao Po-
der Judiciário decidir pela guarda compartilhada (Lei 13.058/2014), o que
77
denota mais uma vez o amparo dispensado pelo sistema jurídico pátrio à
manutenção das relações familiares.
Especificamente quanto ao amparo constitucional, da constru-
ção jurisprudencial dos Tribunais Superiores originaram-se novos con-
ceitos e figuras, como a família monoparental, a família anaparental, a
família pluriparental, a já abordada família homoafetiva (decorrente desse
tipo de união) e a recentemente reconhecida pelos tribunais pátrios “famí-
lia de um só indivíduo”.
A família monoparental é acolhida pela CRFB/1988, traduzida
no núcleo familiar composto por um só dos genitores e seu(s) filho(s).
Uma evolução tremenda, vez que a sociedade, em tempos não tão dis-
tantes, repudiava a figura da mulher que tinha filhos sem ser casada ou
ter companheiro (“mãe solteira”).
A família anaparental é aquela em que não há liame de ascen-
dência e descendência entre os indivíduos, que podem ser parentes
consanguíneos ou não, sendo constituída por laços de afetividade entre
aqueles, como tios e sobrinhos que junto residem. Já a família pluripa-
rental refere-se àquelas em que cuja formação, duas pessoas outrora
divorciadas de seus antigos cônjuges podem contrair novas núpcias (ca-
samento) e formar uma nova família com núcleos familiares diferentes,
cada um com sua respectiva prole.
Por derradeiro, a doutrina (ASSIS NETO, 2015) também visua-
liza a família de um só indivíduo, ou seja, a pessoa que, por opção, vive
sozinha sem vínculo matrimonial, filial ou de afinidade. Tal aceitação jurí-
dica se dá porque o Superior Tribunal de Justiça, ao editar a Súmula 3641,
posicionou-se pela impenhorabilidade de bens de família de pessoas sol-
teiras, separadas/divorciadas e viúvas.
Destarte, pode-se inferir que a atual Carta Política de 1988 ga-
rante a proteção da família nos mais variados formatos e matizes, pois
como reza seu artigo 226, a entidade familiar é a pedra fundamental da
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

sociedade, dela se originando todos as demais relações humanas, por


mais complexas e intricadas que sejam e, como dito no introito deste es-
tudo, é da família que exsurgem as primeiras noções de conduta e norma
que a pessoa levará por toda a vida. Logo, não é demais afirmar que a
família protegida social e juridicamente e devidamente estruturada nos
aspectos material e emocional interessa ao Estado sobremaneira.

1 SÚMULA N. 364 O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também


o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

78
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias: de acordo com a emenda cons-
titucional n. 66/2010 (Divórcio) 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

__________. Entidades Familiares Constitucionalizadas: para além


do numerus clausus. Artigo publicado na Revista Brasileira de Direito
de Família, n. 12, março 2002.

TERCIOTI, Ana Carolina Godoy. Famílias monoparentais. Campinas


(SP): Millenium Editora, 2011.

DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

79
QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO 1
Ano: 2017 Banca: FGV Órgão: OAB Prova: Exame de Ordem Unifi-
cado Nível: Superior.
Henrique e Ruth se casaram no Brasil e se mudaram para a Holan-
da, onde permaneceram por quase 4 anos. Após um período difícil,
o casal, que não tem filhos, nem bens, decide, de comum acordo,
se divorciar e Ruth pretende retornar ao Brasil. Com relação à dis-
solução do casamento, assinale a afirmativa correta.
a) O divórcio só poderá ser requerido no Brasil, eis que o casamento foi
realizado no Brasil.
b) O divórcio, se efetivado na Holanda, precisa ser reconhecido e homo-
logado perante o STJ para que tenha validade no Brasil.
c) O divórcio consensual pode ser reconhecido no Brasil sem que seja
necessário proceder à homologação.
d) Para requerer o divórcio no Brasil, o casal deverá, primeiramente,
voltar a residir no país.

QUESTÃO 2
Ano: 2014 Banca: FUNCAB Órgão: MPE-RO Prova: Analista Pro-
cessual Nível: Superior.
O divórcio, tal como tratado pela Constituição Federal e pelo Có-
digo Civil.
a) exige a partilha de bens para sua concessão.
b) somente pode ser decretado se comprovada a separação de fato há,
pelo menos, dois anos ou a separação judicial há, pelo menos, um (1)
ano.
c) modifica os direitos e deveres dos pais em relação aos filhos.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

d) exige prévia separação judicial.


e) dispensa motivação.

QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: Própria Órgão: MPE-SP Prova: Promotor de Jus-
tiça Nível: Superior.
Quando os cônjuges decidem pôr fim à sociedade conjugal, pre-
tendendo divorciar-se consensualmente, eles devem levar em con-
sideração:
a) o prazo de 2 (dois) anos a contar da separação judicial por mútuo
consentimento.
b) a possibilidade de o divórcio ser formalizado perante o Cartório de
80
Registro Civil, inclusive com relação aos filhos menores de 16 (dezes-
seis) anos.
c) a guarda compartilhada, com previsão de visita do pai em dias e ho-
rários alternados e opção de a mãe decidir sobre a educação.
d) o fato de as novas núpcias de um dos cônjuges não lhe retirar o direi-
to de guarda antes fixado.
e) a prestação de alimentos aos filhos, que poderá ser compensada
com a proximidade e visitação do cônjuge.

QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: DPE-MA Prova: Defensor Público
Nível: Superior.
Mônica, casada pelo regime da comunhão total de bens, descobre
que seu marido, Geraldo, alienou um imóvel pertencente ao patri-
mônio comum do casal, sem a devida vênia conjugal. A descoberta
agrava a crise conjugal entre ambos e acaba conduzindo ao divór-
cio do casal. Tempos depois, Mônica ajuíza ação em face de seu
ex-marido, objetivando a invalidação da alienação do imóvel.
a) o juiz pode conhecer de ofício do vício decorrente do fato de Mônica
não ter anuído com a alienação do bem.
b) O fato de Mônica não ter anuído com a alienação do bem representa
um vício que convalesce com o decurso do tempo.
c) O vício decorrente da ausência de vênia conjugal não pode ser sana-
do pela posterior confirmação do ato por Mônica.
d) Para que a pretensão de Mônica seja acolhida, ela deveria ter obser-
vado o prazo prescricional de dois anos, a contar da data do divórcio.

QUESTÃO 5
Ano: 2014 Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: Promotor de
Justiça Nível: Superior. DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Arnaldo e Beatriz se casaram em 12 de fevereiro de 2001, pelo re-


gime da comunhão parcial de bens. Do casamento resultou o nas-
cimento de gêmeos, Cesar e Denise, ambos, hoje, com sete anos
de idade. Arnaldo e Beatriz decidem dissolver a sociedade e o vín-
culo conjugal pelo divórcio, ante a insuportabilidade da vida em
comum. Por ocasião do divórcio, optam por realizar a partilha dos
bens. Diante desses fatos, assinale a alternativa correta:
a) a guarda dos filhos do casal será necessariamente compartilhada se
os pais não entrarem em acordo sobre o tema.
b) caso não cheguem a um acordo sobre o divórcio, somente será pos-
sível a Arnaldo e Beatriz obterem a dissolução do vínculo conjugal se
estiverem separados de fato há, pelos menos, um ano.
81
c) o divórcio do casal poderá ser realizado mediante escritura pública,
em que deverá constar, necessariamente, a definição sobre a guarda
e a visitação dos filhos, bem como a fixação da prestação alimentar a
eles devida. .
d) integrarão a comunhão e, portanto, deverão ser partilhados entre os
divorciandos, os frutos advindos dos bens particulares de cada cônjuge,
bem como os bens que em lugar de tais frutos tenham se subrogado.
e) supondo que seja fixada a guarda compartilhada, as crianças residi-
rão, necessariamente, parte do tempo na residência do pai e parte do
tempo na residência da mãe, não havendo necessidade, nesse caso, de
fixação de verba alimentar a ser paga por qualquer dos pais.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Com base nos estudos realizados, distinga a separação falência de se-
paração sanção.

TREINO INÉDITO
Para ocorrência do divórcio direto sob a nova égide constitucional que
rege a matéria, mostra-se necessária a observância de requisitos tem-
porais e fáticos.

a) Verdadeiro.
b) Parcialmente verdadeiro.
c) Parcialmente falso.
d) Falso.
e) N.D.A.

NA MÍDIA

Projeto pune cônjuge que omite bens em partilha de separação


DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

Tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do


Senado um projeto de lei que determina que cônjuge que sonegar bens
da partilha de dissolução do casamento perderá o direito sobre eles
(PL 2.452/2019). A proposta, da senadora Soraya Thronicke (PSL-MS),
aguarda designação do relator.
A proposta altera o Código Civil estabelecendo que, comprovada a prá-
tica de atos de sonegação, o cônjuge prejudicado terá o direito de ficar
com o bem sonegado. Segundo Soraya Thronicke, o ordenamento jurí-
dico brasileiro é omisso em relação a essa prática, não prevendo uma
sanção específica na esfera cível.
A senadora argumenta que o projeto é inspirado no artigo 1.992 do Có-
82
digo Civil, que prevê que aquele que sonegar bens de herança, omiti-los
ou deixar de restituí-los perderá o direito sobre eles.
Soraya argumenta que é preciso dar àquele que “conspurca a partilha
havida por dissolução do casamento” uma punição análoga, que é a
perda total de direitos sobre o bem objeto do ato fraudulento. “Anteve-
mos que a sombra de uma prescrição legal semelhante pairando sobre
esses potenciais trapaceiros há de servir como um eficiente inibidor dos
atos ilícitos que porventura estejam a cogitar”, justifica a autora. (Fonte:
Agência Senado)

Fonte: Site “SENADO FEDERAL – SENADO NOTÍCIAS”


Data: 08. ago. 2019
Leia a notícia na íntegra:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/08/08/projeto-pu-
ne-conjuge-que-omite-bens-em-partilha-de-separacao

NA PRÁTICA

Como todas as relações e figuras geridas e estabelecidas pelo Direito da


família, vê-se que a ruptura da sociedade e vínculo conjugais está entre
as experiências mais impactantes na vida das pessoas, pois se desdo-
bram em múltiplas consequências. Consequências jurídicas, financeiras,
econômicas e, geralmente sobressaindo-se entre estas, as de cunho
emocional.
Como dito ao longo deste estudo, as matizes do Direito de Família são
muitas e todas elas perpassam ou se originam das relações afetivas e
ligações emocionais que as pessoas possuem ou construíram entre si.
Além das questões e discussões patrimoniais que vem à tona, objetivan-
do-se partilhar bens amealhados ou preexistentes, que e na verdade são
embebidas ou ocasionadas pelo rancor advindo da separação, são corri- DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

queiras no meio jurídico as atribulações da odiosa Alienação Parental que


incidem sobre as famílias deterioradas pelo rompimento conjugal.
Infelizmente, na dissolução do casamento, muitos casais não tem aptidão
psicológica para distinguir a relação conjugal da relação filial, trazendo
aos filhos suas mortificações e aflições quanto ao matrimônio rompido,
além de utilizar a prole como instrumento das agressões de um dos ex-
-cônjuges para com o outro.
Com o advento da Lei Federal n. 12.318/2010, a Alienação Parental pas-
sou a ser efetivamente combatida pelo ordenamento, com a imposição
de sanções civis cabíveis ao genitor que promoveu a alienação, visado
resguardar, por conseguinte, o bem estar dos filhos, que muitas vezes
não são o motivo da dissolução.
83
Vídeo o assunto: Separação: Quem sai de casa no fim do relaciona-
mento https://www.youtube.com/watch?v=XEQ8UVnsSe8

Acesse o link:
Divórcio e Separação - Tire suas dúvidas: Consensual (amigável) – Ju-
dicial – Extrajudicial (tabelião) – Guarda dos filhos – Pensão alimentícia.
https://rafael-paranagua.jusbrasil.com.br/artigos/175897192/divorcio-e-
-separacao-tire-suas-duvidas
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

84
O Direito da Família é a expressão maior da tutela estatal so-
bre a vida privada, vez que o Estado de Direito, sabedor das fragilidades
e das complexidades das relações familiares e dos desdobramentos
psicológicos, emocionais, afetivos, econômicos, financeiros e jurídicos
advindos dessas relações, tratou de cuidar delas de maneira minucio-
sa, evitando, de um lado, uma indevida intromissão nos assuntos de
cada família, mas por outro, estabelecendo um mínimo de regramentos,
alguns fechados ou abertos, visando a assegurar direitos sociais e indi-
viduais básicos, afastando, assim, quaisquer tentativas de menoscabar
ou esvaziar tais direitos.
Como exposto neste estudo, as bases sociais do Estado foram
e ainda são montadas nas estruturas da família, primeiro agrupamento
humano que se tem notícia na História.
É em razão da família que a Constituição Cidadão de 1988
erigiu as entidades familiares ao seu patamar, dando-lhe roupagem
positivada supralegal: como base da sociedade, à família devem ser
garantidas as benesses necessárias pra que se mantenha estabilizada,
pois dessa estabilização decorre a estabilidade social e política que o
Estado Moderno almeja.
Se a família é assim, tão protegida, por corolário tal proteção
incide sobre seu principal instituto jurídico – e instituição social –, o ca-
samento. Por meio dele, novas famílias são geradas, bem como as no-
vas concepções de família.
No que toca aos direitos dos consortes, a salvaguarda deles
não só encontra guarida no ordenamento jurídico pátrio, mas, também,
num contexto sociocultural. São direitos individuais de primeira e segun-
da geração que estão em jogo, direitos caros à humanidade.
Diferentemente também não seria a proteção quando os lia-
mes matrimoniais são abalados e rompidos. Tanto a formação quanto DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

a dissolução da sociedade conjugal observam uma série de supostos


e pressupostos, os quais existem para resguardar não só os interesses
dos cônjuges ou de terceiros, mas um interesse maior, da coletividade
e do Estado: a estrutura das entidades familiares, pois sua ruptura é
deveras prejudicial para o grupo de pessoas diretamente envolvidas,
mas também, para a manutenção do plexo de direitos que tendem a ser
violados.

85
GABARITOS

CAPÍTULO 01

Questões de concursos

01 02 03 04 05
C A B B C

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Juridicamente, o casamento tem sido interpretado e considerado um


contrato em nosso ordenamento, um contrato civil no âmbito do Direi-
to de Família. Desse contrato advém uma sociedade, denominada So-
ciedade Conjugal, que estabelece o estado de casados entre as parte
contraentes, que manifestaram livremente sua vontade de ingressar e
permanecer no referido estado.
Para muitos, é um negócio jurídico dotado de solenidade (caráter sole-
ne, formal, revestido na lei), por meio do qual duas pessoas de sexos
opostos manifestam livremente a vontade de formar família perante a
sociedade e as leis cogentes do Estado. Para outros, é o vínculo jurídico
entre o homem e mulher que objetiva o auxílio mútuo material e espiri-
tual, de modo que haja uma integração fisiopsíquica e a constituição de
uma família (DINIZ, 2007, p. 35). Alguns (DIAS, 2011. p. 148) sintetizam
simplesmente como a celebração do matrimônio e a relação jurídica
que dele redundam (a relação ou vínculo matrimonial).
Muitos conceitos elaborados pela doutrina clássica acabaram por se
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

desatualizar diante das mudanças de cultura e comportamento na so-


ciedade, as quais provocaram rupturas nas bases do que era conside-
rado como casamento tradicional. Soma-se a essa ruptura a mudança
paradigmática da jurisprudência dos Tribunais Superiores quanto à for-
mação de entidades familiares e ao casamento.
Com supedâneo nessas alterações jurídico-sociais, o casamento pode
ser conceituado como a união jurídica conjugal entre dois seres huma-
nos capazes com o objetivo (fim, não requisito) de constituir família, ge-
rando responsabilidade e obrigações provenientes do negócio jurídico
bilateral (ASSIS NETO et al, 2015, p. 1530).

86
TREINO INÉDITO
Gabarito: C

CAPÍTULO 02

Questões de concursos

01 02 03 04 05
D B C D A

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O Código Civil de 1916 estabelecia a irrevogabilidade ou inalterabilida-


de do regime de bens entre os cônjuges, que deveria perdurar enquanto
subsistisse a sociedade conjugal. Celebrado o casamento, pois, torna-
va-se imutável o regime.
Posteriormente foi editada a Lei n. 6.515/77 (Lei do Divórcio), na qual
se possibilitava a dissolução da sociedade conjugal, mas não permitia a
alteração do regime de bens. Mesmo que voltassem a contrair núpcias,
o regime deveria voltar ao mesmo que vigia.
O princípio da mutabilidade visa a solucionar o problema surgido a partir
da referida Lei do Divórcio, na qual se permitia a dissolução da socieda-
de conjugal, porém não admitia a alteração do regime de bens. Assim,
no Código Civil de 2002, o artigo 1.639, §2º, admite a ação de alteração
do regime de bens “mediante autorização judicial em pedido motivado
de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e
ressalvados os direitos de terceiros”. Observe-se que dita alteração não DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

pode ser obtida unilateralmente, ou por iniciativa de um dos cônjuges


em processo litigioso, pois o dispositivo citado exige pedido motivado
“de ambos”.
Contudo, ainda existem críticas quanto a exigência de uma senten-
ça para se operar a mudança, uma vez que após a edição da Lei n.
11.441/2007 passou-se a permitir o divórcio extrajudicial (o mais) e, ain-
da sim, perdura a necessidade de sentença para alteração do regime
de bens (o menos), mesmo havendo consenso. E, conforme enunciado
260, da III Jornada de Direito Civil do CJF “A alteração do regime de
bens prevista no § 2º do artigo 1.639 do Código Civil também é permiti-
da nos casamentos realizados na vigência da legislação anterior”.
Soma-se a esse entendimento a conclusão vertida no enunciado 262,

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da III Jornada de Direito Civil do CJF, ao afirmar que “A obrigatoriedade
da separação de bens nas hipóteses previstas nos incisos I e III do arti-
go 1.641 do Código Civil não impede a alteração do regime, desde que
superada a causa que o impôs”.

TREINO INÉDITO
Gabarito: A

CAPÍTULO 03

Questões de concursos

01 02 03 04 05
C E D B D

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A separação litigiosa judicial chamada “separação-falência”, também


chamada separação denúncia-vazia ou consumação, é disposta no art.
1.572, §1º do Código Civil brasileiro.
A separação judicial pode também ser pedida se um dos cônjuges pro-
var ruptura da vida em comum há mais de um ano e a impossibilidade
de sua reconstituição. Nessa modalidade, há a dispensa da aferição
de culpa, em razão da impossibilidade da vida em comum. Observaria
essa modalidade, portanto, ao princípio da ruptura objetiva do matrimô-
nio em detrimento do princípio da culpa, visto que, para que se conceda
a separação, deve-se observar a existência dos pressupostos objetivos
da ruptura da vida em comum num período superior a um ano e a im-
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

possibilidade de sua reconstituição.


A respeito da “ruptura da vida em comum”, surgiu uma discussão dou-
trinária acerca de seu real conteúdo. A expressão pareceu ser utilizada
pelo legislador como a existência de uma efetiva separação de fato do
casal por mais de um ano, havendo uma efetiva ruptura da coabitação.
Entretanto, é possível que a vida comum seja rompida pela cessação
de uma vida sexual entre os cônjuges, apesar de habitando o mesmo
lar conjugal.
Por sua vez, a separação-sanção é uma modalidade de separação ba-
seada na imputação causal do término do casamento a um dos côn-
juges, em virtude da culpa pela violação de algum dos deveres matri-
moniais, tornando insuportável a vida em comum. Como hipóteses de

88
violação desses deveres, o artigo 1.573 do Código Civil lista o adultério,
a tentativa de morte, a sevícia ou injúria grave, o abandono voluntário
do lar conjugal por um ano contínuo, a condenação por crime infaman-
te e a conduta desonrosa. Tais hipóteses, em verdade, representam
violações aos deveres conjugais previstos no art. 1.566 do Código Ci-
vil pátrio (fidelidade recíproca; vida em comum, no domicílio conjugal,
mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos e respeito e
consideração mútuos).

TREINO INÉDITO
Gabarito: D

DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

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JURISPRUDÊNCIA: julgamentos reincidentes acerca do mesmo posi-
cionamento sobre determinada situação e que serve de base para que
novas decisões sejam tomadas sobre novos assuntos correlatos.

FAMÍLIA EUDEMONISTA: a família atual, como base da coletividade,


tem a função social de promover a realização pessoal e a felicidade dos
membros da entidade familiar. Vem de EUDEMONISMO, termo grego
para a busca para a felicidade.

SOCIAFETIVIDADE: consiste na vinculação da família a lações de afe-


tividade, não há imposições do Direito Positivo.
DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

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ALMEIDA, Renata Barbosa de; RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Ed-
son. Direito Civil: famílias. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

ASSIS NETO, Sebastião de Assis; JESUS, Marcelo de; MELO, Maria


Izabel de. Manual de Direito Civil. 4ª ed. ver. atual. Salvador: Juspo-
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília/


DF, Senado Federal, 1988.

______. Lei Federal n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código


Civil. Brasília/DF, Senado Federal, 2018.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8ª ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

IBGE. Projeção da População do Brasil. Instituto Brasileiro de Geo-


grafia e Estatística, 2013.

MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 7ª ed. Rio de Janeiro:


Forense, 2016.

DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

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DIREITO DOS CÔNJUGES - GRUPO PROMINAS

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