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QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


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QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Gildenor Silva Fonseca

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
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outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-


ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu-
ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professores: Milena Barbosa De Melo


Silvia Cristina Da Silva
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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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Esta unidade analisará os aspectos contemporâneos da so-
ciologia da educação. Especificamente, foram enfocadas nos aspec-
tos relacionados com a crise da modernidade, polaridade indivíduo vs.
sociedade, racionalidade individualista, as noções de habitus e campo
e o construtivismo fenomenológico. Trata-se de uma pesquisa desen-
volvida pelo método hipotético-dedutivo, cuja hipótese está relaciona-
da com a aplicação da sociologia no ambiente educacional. Torna-se
importante compreender o funcionamento desta área procedimental,
pois entende-se que a educação é um setor extremamente importante
para a sociedade, pois confere suporte ao desenvolvimento da socie-
dade. Justifica-se por causa da sua real e persistente relevância, dado
que o contexto social, econômico e político depende da aprendiza-
gem. Os resultados revelam que a educação se apresenta como fator
de crescimento ao País.
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Educação. Desenvolvimento. Sociedade. Sociologia.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 10

CAPÍTULO 01
CRISE DA MODERNIDADE

Crise da modernidade, pós-empirismo e a realidade como cons-


trução _________________________________________________________ 11

Recapitulando ________________________________________________ 26

CAPÍTULO 02
INDIVÍDUO E ORDEM SOCIAL

Indivíduo vs. sociedade ________________________________________ 30

Recapitulando _________________________________________________ 46

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CAPÍTULO 03
ASPECTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Contexto, Tradução e Controvérsia _____________________________ 49

Racionalidade individualista _____________________________________ 55

Conflito e Consenso _____________________________________________ 60

Recapitulando __________________________________________________ 65

Fechando a Unidade ____________________________________________ 68

Considerações Finais ____________________________________________ 72

Referências _____________________________________________________ 73

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Nesta unidade será possível compreender um pouco mais dos
aspectos que estão relacionados com a sociologia da educação, nome-
adamente, crise da modernidade, construtivismo estrutural, as questões
relacionadas com a crítica da polaridade indivíduo vs. sociedade, as-
pectos da dimensão simbólica da ordem social, o construtivismo feno-
menológico e, por fim, os limites da racionalidade individualista, conflito
e consenso.
Sendo assim, no primeiro capítulo será possível analisar todos
os elementos que giram em torno da crise da modernidade, como é o
caso da evolução histórica da sociedade, os aspectos valorativos que
podem ser observados no sistema social e, por fim, como a sociedade
se adequa aos novos aspectos.
Em seguida, no segundo capítulo será possível compreender
um pouco do construtivismo fenomenológico e as questões relaciona-
das com o construtivismo estrutural e o funcionamento da ordem social.
Por fim, não menos importante, será possível compreender
como ocorre a racionalidade individualista a partir de uma análise pri-
mária do que seria racionalidade e quais os efeitos que podem ocorrer
na sociedade. Como consequência da compreensão dos limites que a
racionalidade individualista apresenta, surgirá as questões relacionadas
com o conflito e consenso no âmbito da sociologia da educação.

Bons estudos!
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CRISE DA
MODERNIDADE
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CRISE DA MODERNIDADE, PÓS-EMPIRISMO E A REALIDADE
COMO CONSTRUÇÃO

Com o objetivo de compreender um pouco mais sobre as ne-


cessidades e os desafios que a sociedade apresentava, identifica-se
a sociologia, que se torna como uma alternativa viável para identificar
soluções adequadas para os problemas que a sociedade apresenta.

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Figura 1. Problemas da sociedade e sociologia

Fonte: Autora (2021) baseada Nery (2007, p. 09)

O que deve ser levado em consideração é que, em virtude dos


problemas que surgem no ambiente da sociedade, não se pode deixar
de pensar numa resposta adequada, onde todas as necessidades e
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desafios devem ser amparados para os problemas não se perpetuarem.


A sociologia é a parte das ciências humanas que estuda o com-
portamento humano em função do meio e os processos que interligam
os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indiví-
duo na sua singularidade é estudado pela psicologia, a sociologia tem
uma base teórico-metodológica voltada para o estudo dos fenômenos
sociais, tentando explicá-los e analisando os seres humanos em suas
relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades
e culturas é um dos objetivos da sociologia. (FNDE, sem data, online).

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Em termos políticos, a sociologia clássica deve ser entendida
à luz da hegemonia do discurso liberal. Durante a maior parte do século
XIX, século que sucedeu às revoluções democráticas nos Estados Uni-
dos e na França, o liberalismo e a teoria liberal estiveram em evidência
nos debates intelectuais a respeito da política. Até os adversários do
liberalismo se definiam em relação a este, seja como progressistas que
iam além do liberalismo, seja como conservadores que lhe opunham
resistência. No final do século, porém, a maior parte dos intelectuais
concordava com o fracasso da teoria liberal, na política e na economia,
tanto para explicar as mudanças nas práticas sociais quanto para pro-
por critérios que as regulassem. Nesses debates do fin de siècle, a po-
sição dos sociólogos clássicos se caracterizava por sua concordância
com a opinião de que os acontecimentos sociais haviam suplantado o
liberalismo clássico, ao mesmo tempo que insistia na necessidade de
rever aquela tradição política (SEIDMAN, 1983, p. 278).

Os movimentos reformadores da segunda metade do século


XIX tentaram restabelecer, no tecido social, um pouco de solidez e se-
gurança. Muitos reformadores provinham das elites burguesas e sua in-
tenção era, principalmente, salvaguardar a ordem: muitas vezes faziam
uso da ideia de nação no sentido de um coletivo de pessoas que com-

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partilham uma mesma história e desenvolvem uma identidade social
comum. Um aspecto de importância equivalente foi a autoafirmação da
classe operária como um corpo coletivo capaz de definir e representar
seus próprios interesses. O socialismo, os sindicatos e os partidos tra-
balhistas nasceram dessa tentativa de desenvolver respostas planeja-
das à mudança social por parte de um novo coletivo, a classe operária.
Além de seus objetivos econômicos e políticos, o movimento operário
também criou uma nova identidade social, a de operário industrial, que
lutava por um lugar ao sol na sociedade ou entre as forças políticas do
futuro da humanidade.

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Figura 2. Objetivo da sociologia

Fonte: Autora (2021) baseado em FNDE (sem data, online)

Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse


apenas de sociólogos(as). Cobrindo todas as áreas do convívio humano
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— desde as relações na família até a organização das grandes empre-


sas, o papel da política na sociedade ou o comportamento religioso —,
a sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade,
a diversas outras áreas do saber. Entretanto, os maiores interessados
na produção e sistematização do conhecimento sociológico atualmente
são o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta
disciplina científica, e a sociedade civil organizada. (FNDE, sem data,
online).

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A desigualdade é um fenômeno socioeconômico assentado
na integração social, de forma que os desiguais compreendem parte
indispensável da sociedade, contudo ocupantes do setor mais baixo.
Seu grande teorizador é Karl Marx, que enfatizou a desigualdade entre
capital e trabalho. Já a exclusão tem sua base na segregação, confi-
gurando-se como fenômeno sociocultural profundamente desenvolvido
por Michel Foucault. A estes sistemas de hierarquização somam-se o
racismo e o sexismo, figuras híbridas que combinam desigualdade e
exclusão. (TENÓRIO, 2010, p.104).

Dentro dos problemas que surgem no ambiente social, a bus-


ca para as soluções que devem ser aplicadas na sociedade acaba por
se fundamentar nos pressupostos teóricos dos intelectuais, conforme
apresenta Zuin (sem data, p.67):

“Os debates a respeito do papel e da função dos intelectuais na sociedade


contemporânea acompanham, via de regra, o curso aberto pelas investiga-
ções que procuram decifrar o significado das mudanças políticas e econômi-
cas ocorridas na ordem social existente. Toda profunda alteração do sentido
da história prenunciada pelos processos de transformação socioeconômica,
pelas crises e rupturas da ordem política que revelam um mundo que se

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desfaz, possibilita o surgimento de novos debates sobre a missão dos inte-
lectuais na nova ordem social e política”. (ZUIN, sem data, p.67)

Sendo assim, a mudança que deve ser apresentada no am-


biente da sociedade depende, tão somente, da maneira como os atores
envolvidos no processo se comportam frente aos desafios que surgem.
Figura 3. Atores e mudança social

Fonte: Autora (2021) baseado em Zuin (sem data, p.67)

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Percebe-se, portanto, que o processo de gestão das dificulda-
des sociais não é uma tarefa fácil, pois, para além de compreender as
diferenças inerentes à condição social, destaca-se a necessidade de se
encontrar um denominador comum a ser aplicado para toda a socieda-
de que, de acordo com Santos (2008, p.23),

“Esse tipo de gestão passou a ser, devido às pressões sociais, uma preocu-
pação do Estado, cuja proposta, longe de buscar eliminar esses elementos,
corresponde à manutenção da desigualdade dentro de níveis toleráveis, por
meio de políticas sociais, e à relativização da exclusão, a partir da distinção
entre as formas aceitáveis e aquelas não aceitáveis socialmente. O Esta-
do Moderno vive, então, um modelo de regulação social que produz a desi-
gualdade e a exclusão, mas procura mantê-las dentro de limites funcionais”
(SANTOS, 2008 p.23)

Figura 4. Gestão dos problemas sociais

Fonte: Autora (2021) baseado em Santos (2008, p.23)


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Entretanto, de acordo com o que se observa na figura acima


e fundamentado nas diretrizes estabelecidas por Santos (2008), a ges-
tão dos problemas que surgem na sociedade se apresenta como um
sistema que está longe de solucionar os problemas e bem próximo de
manter as desigualdades a partir de índices toleráveis.
Diante do que se observa, a sociologia surge para enfrentar os
desafios a partir das mudanças sociais que surgem a partir das pers-
pectivas culturais, sociais, econômicas e políticas, ou seja, parte-se
do pressuposto que a partir do momento em que as perspectivas que
envolvem o indivíduo se modificam, as necessidades da sociedade se
modificam e, portanto, o Estado precisa se adequar às necessidades.
A sociologia, portanto, vem apresentar instrumentos reais para
compreender os desafios a partir da identificação dos limites, mas sem-
pre dentro da conjuntura de sujeitos sociais.

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A referida questão se materializa quando se compreende que
os fatos sociais estão intimamente relacionados com os aspectos que
ocorrem na sociedade, seja no âmbito social, políticos e econômico,
de maneira que não é possível compreender a sociedade de maneira
total sem os elementos ora apresentados, conforme destaca Frederico
(2005, online):

“Na medida em que não for completada pelas contribuições da outra. Ora
a passagem do abstrato ao concreto não se obtém adicionando duas ima-
gens parciais. Não se pode obter um conhecimento real dos fatos humanos
reunindo resultados parciais e deformantes de uma sociologia coisificante e
psicologista com aqueles de uma história política ou bem simplesmente posi-
tivista. O conhecimento concreto não é a soma, mas a síntese de abstrações
justificadas. No caso a que nos referimos, as abstrações não sendo justifica-
das, sua síntese era impossível. Não se trata, pois de reunir os resultados da
sociologia e da história, mas de abandonar toda a sociologia e toda história
abstratas para chegar a uma ciência concreta dos fatos humanos que não
podem chegar senão uma sociologia histórica”. (FREDERICO, 2005, online)

A maneira como a sociedade se porta deve ser compreendida


a partir dos aspectos apresentados pela reflexão do sujeito, ou seja, a
própria sociedade realizará as contribuições necessárias para o desen-
volvimento social, conforme destaca Frederico (2005, online):

“A historicização da forma levou-o a substituir a vaga consciência coletiva


por um novo sujeito, formado pelas condições históricas e sociais. Mas o
sujeito, nas ciências humanas em geral, não deve ser concebido em rígida
oposição ao objeto, como ocorre nas ciências naturais. O sujeito que observa

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a sociedade e reflete sobre ela, seja o cientista social ou o artista, faz parte
dessa mesma sociedade. A reflexão, portanto, “não se faz do exterior, mas
do interior da sociedade». Por outro lado, a reflexão «é em grande medi-
da organizada pelas categorias da sociedade», e o objeto estudado «é um
elemento constitutivo, e mesmo um dos mais importantes, da estrutura do
pensamento”. (FREDERICO, 2005, online)

O objetivo de uma sociologia da literatura é, portanto, a busca


das homologias, o estudo das estruturas significativas presentes nos
grupos sociais - o substrato social que confere unidade à obra literária.
O projeto de Goldmann procura transpor para a literatura dois movimen-
tos: o estudo da compreensão, isto é, da estrutura significativa imanen-
te da obra e a explicação, a inserção dessa estrutura, enquanto elemen-
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to constitutivo e funcional, numa estrutura imediatamente englobante
[para] tornar inteligível a gênese da obra que se estuda. (FREDERICO,
2005, online).

O período posterior à Segunda Guerra Mundial é caracterizado


pela intervenção do Estado na economia visando controlar as crises
cíclicas do capitalismo. A nova fase, chamada de “capitalismo de organi-
zação”, inaugura um longo ciclo de estabilidade e expansão econômica,
produzindo a impressão de uma ordem autorregulada, uma segunda
natureza, destinada a se perpetuar. A expressão literária do período é
o nouveau roman, que registra a vitória definitiva da reificação, o triunfo
acachapante das coisas sobre os homens. (FREDERICO, 2005, online).
À medida em que a sociedade vai se aperfeiçoando, as modi-
ficações vão surgindo, de maneira que a realidade social vai tomando
novos contornos e passando a exigir da sociedade uma nova maneira
de se compreender os comportamentos, conforme destaca Frederico
(2005, online):

“As transformações na sociedade explicariam o surgimento e a caducidade


dos modos de se entender a realidade. O nouveau roman, segundo Robbe-
-Grillet, é uma tomada de consciência, uma afirmação da impossibilidade de
retratar o real seguindo o velho cânon do realismo clássico. Aliás, ele não se
preocupa mais com a verossimilhança, e nem com as tentativas de utilizar a
literatura para desvendar sentidos exteriores a ela; o foco da narração deve
ser a “significação imediata das coisas”. O novo romance, diz, “não exprime,
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procura. E aquilo que procura é ele mesmo”17. Voltamos aos ensinamentos


de Flaubert: “construir alguma coisa a partir do nada, que fica em pé sem ter
que se apoiar seja no que for do mundo exterior à obra” (FREDERICO, 2005,
online)

Quando se observa as transformações no mundo, não apenas


no sentido econômico, mas também político e social, destaca-se de for-
ma mais real as modificações da sociedade e, portanto, ao invés de se
analisar a partir de uma maneira unificada os aspectos da sociedade,
destaca-se um sentimento de fragmentariedade, onde aquilo que antes
era válido para o mundo dos sentidos, deu lugar ao mundo da razão
humana, conforme apresenta Cabette (2014, online):

“A grande crise surge com o relativismo que provoca um movimento contrá-


rio à tradição secular. Movimento este em direção a uma fragmentariedade
que se contrapõe a qualquer projeto de unidade. O que valia para o mundo
dos sentidos passa a igualmente valer para o mundo da razão humana. Daí
ganha relevância a chamada Filosofia da Linguagem (Wittgenstein – “jogos

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de linguagem”), a crítica da linguagem como cristalizadora artificial de um
mundo dinâmico (Nietzsche), o apontamento da debilidade da razão huma-
na para acessar ao “ser” (Kant). Em resumo, toda uma concepção calcada
na crença de que a razão humana não dá conta do mundo, de que não há
verdade, não há realidade, há apenas “jogos de linguagem”, nomes (nomina-
lismo), categorias mentais, vontade de poder no que tange a eternizar o que
é passageiro. Ou seja, o mundo que vemos, sobre o qual falamos é apenas
e tão somente um construto de nossas mentes”. (CABETTE, 2014 online)

A partir dos novos questionamentos surgidos e, ainda, da pró-


pria maneira que se apresenta os pensamentos, surge a crise da mo-
dernidade, também conhecida como pensamento pós-moderno, onde
a razão passou a se tornar como elemento essencial da construção do
pensamento social.
Dessa aparente denúncia de uma ilusão secular que, na ver-
dade, se constitui em uma tremenda ilusão da filosofia contemporânea,
ela sim, totalmente incapaz de se sustentar para além do papel, advém
uma série de consequências, dentre as quais a mentalidade revolucio-
nária quanto à possibilidade de mudanças radicais da realidade (que
sequer existe, não é mesmo?) através, por exemplo, da mera alteração
vocabular ou da simples satisfação da vontade humana. Como no títu-
lo de um livro de Marshall Berman, “tudo que é sólido se desmancha
no ar”. Tudo se torna proteico, indefinido, passível de manipulação ou
molde. Se na tradição religiosa o Verbo (palavra) Divino era constitutivo
das coisas, agora o verbo (a palavra, o pensamento) humano (novo
“deus”) também se torna constitutivo de uma “realidade” fluida. (CA-
BETTE, 2014, online).

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Sendo assim, o pensamento que surge no sistema pós-mo-
derno é baseado num cenário a defender as percepções novas, onde
aquilo que se encontra no passado, lá deve permanecer, no sentido de
dar lugar ao que é novo, o que pode gerar progresso, desenvolvimento,
renovação.
Ao pensar dessa maneira, o sistema sociológico defenderá os
aspectos de que o pensamento tradicional não possui valor e, por isso,
deve ser substituído pelo novo. Entretanto, convém destacar que nem
sempre o novo é algo melhor do que o antigo, pois em algumas situ-
ações o que é novidade pode trazer algum tipo de comprometimento
para a sociedade, como é o caso, por exemplo, do uso das redes so-
ciais que, quando não é utilizada com o devido cuidado, pode prejudicar
os sujeitos que se utilizam dela. Sobre as questões apresentadas aci-
ma, Cabette (2014, online) destaca que:

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“Inobstante a vacuidade dessas concepções, fato é que a mentalidade mo-
derna ou pós-moderna (como queiram), vem com ares de novidade e traz
consigo exatamente a apologia do “novo” e a demonização do “tradicional”
ou meramente do passado. Em meio a um mundo proteico, amorfo e male-
ável ao extremo emerge um preconceito que leva a pensar que tudo que é
posterior é melhor. Surge então o mito do “progresso”. Diz-se mito, não no
sentido explicativo, mas no sentido de “mentira”, de “falsidade”, de “erro”.
Porque a apologia do “progresso” linear não corresponde à realidade. Nem
sempre o “novo” é melhor que o “anterior”. Nem sempre um progresso efetivo
o é em todos os sentidos possíveis, ou seja, sob todos os ângulos. Afirma-se
que Theodor Adorno, referindo-se a determinados “progressos” que trazem
consigo aspectos altamente negativos e até destrutivos, usou a metáfora do
“progresso do estilingue à bomba atômica”. Ora, é inegável que sob o ponto
de vista armamentista e tecnológico, a superação do estilingue ou da funda
pela arma nuclear é um salto enorme. No entanto, esse salto tecnológico é,
ao mesmo tempo, um mal terrível que pode levar o mundo e com ele a hu-
manidade a um desate fatal”. (CABETTE, 2014, online)

Figura 5. Relativismo difuso da pós-modernidade


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Fonte: Autora (2021) baseado em Cabette (2014, online)

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No âmbito da pós-modernidade, o mundo pós-moderno se de-
para com uma realidade absolutamente fragmentada, onde aquilo que
é considerada uma conduta reprovável, se torna aceita em virtude de
um sistema que passa a diluir um valor importante para sociedade. De
maneira contrária, no pensamento tradicional, havia a consciência de
que determinado ato era errado, reprovável, ou seja, o indivíduo tinha
uma consciência sobre o que fazia era errado, mesmo assim, decidia
por continuar errando.
Portanto, observa-se que os elementos apresentados no âmbi-
to da pós-modernidade se destacam como um sistema de relativização
do certo e do errado e, portanto, considera a conduta como parte natural
de um processo social. Nesse sentido, de acordo com Cabette (2014,
online):

O mundo contemporâneo já não tem como grande mal a “incoerência” ou


a “hipocrisia”. A “fragmentariedade” é atualmente a maior patologia social e
individual porque ela supera em muito o potencial ponerogênico (do grego
“ponerós” – mal) dos males anteriormente citados. (CABETTE, 2014, online)

Figura 6. Modernidade e pós-modernidade

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Fonte: Autora (2021) baseado em Cabette (2014, online)


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O grande problema é que o fragmentado vive em uma situação
de compartimentalização e mutação contínua, onde o próprio pensa-
mento varia, vaga sem rumo, norte ou prumo. A pessoa fragmentada
não percebe a própria fragmentação. O incoerente sabe da sua inco-
erência, ele é hipócrita, mas não é inconsciente. Quando tantas ideo-
logias revolucionárias embasadas nessa característica supostamente
proteica da sociedade e da natureza humana falam em “alienação”, a
maior e mais grotesca “alienação” ocorre justamente no seio da menta-
lidade pós-moderna ou daquela que põe em crise a modernidade e seu
projeto filosófico de 26 séculos. (CABETTE, 2014, online).
Diante do que se observa, o sistema de relativização dos as-
pectos sociais acaba por gerar uma sensação de alienação dos indiví-
duos que assim se comportam, pois acabam por sair da compreensão
da realidade social necessária e passam a entender que os comporta-
mentos desconexos estão longe de materializar uma postura centrada
na concepção de desenvolvimento integral de uma sociedade, ou seja,
encontram-se próximos de um sistema individual do ser humano, sem
pensar que a prática de um determinado ato pode gerar consequências
negativas para a construção de uma sociedade justa e equânime.
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EXEMPLIFICANDO
Um indivíduo frequenta um mosteiro católico, onde entende
conseguir paz espiritual, acompanhando os rituais, sorvendo os incen-
sos e fazendo preces. Sai dali e vai para uma seita “Nova Era”. Ele
descobre que sua namorada está grávida e a leva para abortar a crian-
ça. Depois, participa de uma passeata em defesa do direito à vida dos
animais. Aliás, é vegetariano por convicção. Ocorre que diversamente
do hipócrita, tal pessoa não enxerga em nada disso. Ela não percebe
que matar um feto humano sem dó e sensibilizar-se com a morte de
um bezerro são coisas excludentes. Ela não percebe que entre os ritos
e doutrinas católicos e os cultos de uma seita “New Age” nada há em
comum. (CABETTE, 2014, online).

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Sendo assim, ao passo que o inconsciente possui um compor-
tamento que varia de acordo com seus desejos pessoais, poderá ter
uma variação sobre a maneira de pensar e de agir, ou seja, não existirá
um padrão de ação específico e, portanto, se perderá o foco que deseja
atingir, afinal de contas, o sujeito não estará agindo de acordo com uma
percepção de valor, mas talvez, em virtude de uma motivação social
que se apresenta o momento.
De outra forma, o sujeito incoerente agirá em conformidade
com aquilo que se deseja, mas sabendo exatamente que a sua conduta
violará valores morais, éticos e religiosos. Sendo assim, ao passo em
que a pessoa fragmentada não tem rumo, ou seja, não tem consciência
da sua realidade como pessoa que erra, o sujeito incoerente possui essa
dinâmica e, portanto, passa a ser considerado como sujeito hipócrita.

Figura 7. Alienação e fragmentação

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Fonte: Autora (2021) baseado em Cabette (2014, online)

Como era de se esperar, toda essa arrogância redundou em


fracasso e numa ladeira escorregadia degenerou no relativismo, no
descrédito da razão humana e na fragmentariedade já descrita. Ora,
pretendendo abarcar o todo e não o conseguindo, fracassando frago-
rosamente, todo conhecimento passou a ser dividido em partes, tudo
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se fragmenta e se torna relativo. Não há mais visão total possível. Ao
pretender dar um passo muito largo o homem quebra as pernas. (CA-
BETTE, 2014, online).
Numa derrocada final, emerge um jogo de “tudo ou nada”. A
pretensão de conhecer a totalidade fracassa e fracassam também as
tentativas de conhecimento compartimentado que se conformam como
uma miríade de saberes contrastantes e confusos. Então, em um ato
de puro capricho, de birra pueril, vêm as teorias que desprezam com-
pletamente a capacidade humana de conhecer. A busca obstinada pela
sabedoria, consciente de tratar-se de um trabalho de Sísifo, já não é
honrosa o bastante. Se o homem não pode ser divinizado, então acaba
animalizado e hoje vemos frequentemente zoólogos apresentarem es-
tudos supostamente antropológicos. (CABETTE, 2014, online).
A cisão verificada um século atrás entre a organização das prá-
ticas sociais, as fronteiras políticas e as modalidades de formação de
identidade levaram os sociólogos a defender enfaticamente a necessida-
de de uma nova ordem social coesa. Eles não foram muito felizes na pre-
visão da forma como isso se daria. A divisão do trabalho social não pro-
duziu a “solidariedade orgânica”, ao contrário do que previa Durkheim;
apesar do que disse Weber, a legitimidade das formas vigentes de domi-
nação permaneceu duvidosa nas sociedades europeias durante a primei-
ra metade do século XX. Mas os sociólogos contribuíram para identificar
a problemática política do seu tempo, assim como os recursos sociais e
cognitivos disponíveis para superar as discrepâncias entre identidades,
práticas e ordens políticas. (WAGNER, sem data, online).
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Dessa maneira, não se pode deixar de perceber que a socie-


dade deve ser compreendida a partir de um conjunto complexo de situ-
ações e não de maneira isolada. E, para que isso possa ocorrer, faz-se
necessário estruturar diálogos integrais sobre o funcionamento da so-
ciedade, no sentido de perceber que a sociedade deve ser compreendi-
da de acordo com um quadro social integral.

24
Figura 8. Compreensão da sociedade

Fonte: Autora (2021) baseado em (WAGNER, sem data, online)

Isso é importante no sentido de recuperar, integralmente, a


prudência no que se refere à prática dos atos da sociedade e, quando
se pensa dessa maneira, busca-se algo próximo ao sistema do estrutu-
ralismo, mas sempre no sentido de encontrar valores essenciais para a
sociedade e, mesmo que de maneira parcial, aplicar na sua integralida-
de no sistema social.

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


A sociologia e o pensamento político anteriores raramente fo-
ram capazes de trabalhar sem alguma suposição acerca de uma ten-
dência para a coesão, a ser obtida por mecanismos de ajuste de valores
e normas, ou de alguma hipótese sobre a necessidade da coesão, a
ser preservada e imposta por entidades supraindividuais, na qualida-
de de guardiãs das coisas comuns, tais como o Estado, um mandado
da sociedade ou um discurso universalista sobre princípios morais. Em
sua época, também marcada por transformações sociais, os sociólogos
clássicos avançaram significativamente na formulação desse problema.
(WAGNER, sem data, online).

25
TREINOS INÉDITOS
QUESTÃO 1
Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente.
“A essa arrogância redundou em fracasso e numa ladeira escorre-
gadia degenerou no relativismo, no descrédito da razão humana e
na fragmentariedade já descrita. Ora, pretendendo abarcar o todo
e não o conseguindo, fracassando fragorosamente, todo conheci-
mento passou a ser dividido em partes, tudo se fragmenta e se tor-
na relativo. Não há mais visão total possível. Ao pretender dar um
passo muito largo o homem quebra as pernas”. (CABETTE, 2014,
online).
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 2
Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente.
“Numa derrocada final, emerge um jogo de “tudo ou nada”. A pre-
tensão de conhecer a totalidade fracassa e fracassam também as
tentativas de conhecimento compartimentado que se conformam
como uma miríade de saberes contrastantes e confusos. Então,
em um ato de puro capricho, de birra pueril, vêm as teorias que
desprezam completamente a capacidade humana de conhecer”.
(CABETTE, 2014, online).
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 3
Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente.
“A busca obstinada pela sabedoria, consciente de tratar-se de um
trabalho de Sísifo, já não é honrosa o bastante. Se o homem não
pode ser divinizado, então acaba animalizado e hoje vemos fre-
quentemente zoólogos apresentarem estudos supostamente an-
tropológicos”. (CABETTE, 2014, online).
( ) Certo
( ) Errado

26
QUESTÃO 4
Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente.
“A cisão verificada um século atrás entre a organização das práti-
cas sociais, as fronteiras políticas e as modalidades de formação
de identidade levaram os sociólogos a defender enfaticamente a
necessidade de uma nova ordem social coesa.” (WAGNER, sem
data, online).
( ) Certo ( ) Errado

QUESTÃO 5
Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente.
“A sociedade deve ser compreendida a partir de um conjunto com-
plexo de situações e não de maneira isolada. E, para que isso pos-
sa ocorrer, faz-se necessário estruturar diálogos integrais sobre
o funcionamento da sociedade, no sentido de perceber que a so-
ciedade deve ser compreendida de acordo com um quadro social
integral.”
( ) Certo ( ) Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Explique quais são os efeitos sociais que podem surgir com a crise da
modernidade.

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


NA MÍDIA

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA EM 2019: LINHAS E CORES


Há muitos desafios a serem enfrentados na Educação brasileira em
2019. Posicionado entre os 10 países mais desiguais do mundo, o
Brasil possui quase 12 milhões de analfabetos e mais da metade dos
adultos entre 25 e 64 anos não concluíram o Ensino Médio. São quase
dois milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola e 6,8
milhões de crianças de 0 a 3 anos sem vaga em creche.
Os dados mostram que há sérios problemas com a alfabetização na
idade certa, as crianças e jovens não aprendem o que é esperado, a
evasão escolar no ensino médio é grave e não há um projeto estrutura-
do para a formação e a carreira docente. Esse cenário crítico é fruto de
décadas de descaso, em um país que nunca colocou a Educação entre
as prioridades da agenda política nacional.

27
Fonte: Alessandra Gotti
Data: 2019
Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao-
-brasileira-em-2019-linhas-e-cores?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA-
4c46urFoByD1hbiWjt32eUUCzo935wFuZyXaKT2D4x8HtDLas2jZ-
T0hDjhoC__QQAvD_BwE. Acesso em 20 de outubro de 2021.

NA PRÁTICA

PODE O COLONIALISMO SERVIR COMO TEORIA DA MODERNIDA-


DE? REFLEXÕES DESDE A TEORIA DA MODERNIDADE DE JÜR-
GEN HABERMAS

Argumentamos que a utilização do colonialismo como teoria da moderni-


dade permite a superação da cegueira histórico-sociológica das teorias
da modernidade europeia canônicas em seus cinco problemas e pré-
-conceitos metodológico-programáticos e epistemológico-políticos ba-
silares: (a) a separação purista e simplista entre modernidade europeia
como racionalização e universalismo e todo o resto como tradicionalis-
mo em geral, essencialista e naturalizado, dogmático, fundamentalista
e preso ao seu contexto de emergência; (b) a singularidade absoluta
da modernidade europeia como processo civilizacional em relação a
todo o resto das sociedades-culturas como tradicionalismo em geral,
o que implica na construção de um discurso filosófico-sociológico da
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

modernidade europeia como um processo societal-cultural-civilizacional


autorreferencial, auto-subsistente, endógeno e autônomo, enquanto ba-
sicamente um esforço de si sobre si mesma, por si mesma, como uma
saída de sua menoridade (tradicionalismo) e a conquista de sua maio-
ridade-maturidade (modernidade, racionalização e universalismo), sem
qualquer contato e dependência com o outro da modernidade; (c) não
obstante essa autorreferencialidade, auto-subsistência, endogenia e
autonomia relativamente ao outro da modernidade, a correlação, como
pedra angular do discurso filosófico-sociológico da modernidade euro-
peia, de modernidade-modernização, racionalização, universalismo e/
como gênero humano, o que significa que a modernidade torna-se a
condição da crítica, da reflexividade, do enquadramento e da eman-
cipação para si mesma e para o outro da modernidade, como a base
paradigmática para si e para o outro da modernidade; (d) a separação
entre modernidade cultural e modernização econômico-social, a primei-
ra como esfera normativa e base ontogenética desta, a segunda como
horizonte fundamentalmente instrumental, lógico-técnico, com o que
28
temos a purificação e a santificação da modernidade cultural e a con-
denação da modernização econômico-social como a única culpada das
patologias psicossociais modernas; e, em tudo isso, (e) o silenciamen-
to sobre e o apagamento do colonialismo enquanto parte constitutiva,
dinâmica e consequência do processo de modernidade-modernização
ocidental como um todo.
Fonte: Leno Francisco Danner; Agemir Bavaresco; Fernando Danner.
Data: 2019
Disponível em:
http://seer.ucp.br/seer/index.php/synesis/article/view/1434.
Acesso em 20 de outubro de 2021.

PARA SABER MAIS

Filme sobre o assunto: Sociedade dos poetas mortos


Acesse os links: https://youtu.be/xPRen0Us3p8.
Acesso em: 13/07/2021 e
https://youtu.be/_voyf-ExUC0.
Acesso em: 13/07/2021

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

29
INDIVÍDUO &
ORDEM SOCIAL
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


INDIVÍDUO VS. SOCIEDADE

A partir dos estudos desenvolvidos no ambiente da sociologia,


compreende-se que a sociedade é um tipo de agrupamento de pessoas
que desenvolvem entre si várias relações, podendo ser de cunho eco-
nômico, social, cultural ou político. No ambiente social, os indivíduos
são convidados imperativamente a praticar atividades que os permitem
estar inseridos adequadamente no contexto social.
Nesse sentido, compreende-se que aquele sujeito que não se
encontra em plena harmonização com os demais indivíduos da socieda-
de, favorecerá ao isolamento social e, consequentemente, será respon-
sável pelas consequências da sua omissão social. Nesse sentido, Mello
(sem data, online) destaca que:

30
“Basicamente buscou-se compreender que todas as relações sociais estão
conectadas, formando um todo social, que chamamos de sociedade. A pas-
sagem de uma sociedade rural para uma sociedade urbana, com a formação
de grandes cidades, abriu novos espaços de sociabilidade, em que convive-
ram pessoas diferentes e estranhas umas às outras, com objetivos e motiva-
ções distintas. Esses novos espaços substituíram os espaços tradicionais de
relações. Essa transição é essencial para compreender a sociologia. O rápi-
do processo de urbanização provocou a degradação do espaço urbano ante-
rior, do meio ambiente, e a destruição dos valores tradicionais. As indústrias
atraíram as populações rurais para as cidades”. (MELLO, sem data online)

O exercício da convivência plena em sociedade apresenta a


necessidade da existência de relações interpessoais, mas não uma
ação qualquer, apenas aquela que se determina como essencial para
a construção plena do sistema da ordem social e isso inclui direitos e
deveres.
A sociedade, tal como passou a ser compreendida no início do
século XIX, pressupunha um grupo relativamente autônomo de pessoas
que ocupavam um território comum, sendo, de certa forma, constituin-
tes de uma cultura comum. Além disso, predominava a ideia de que as
pessoas compartilhavam uma identidade. As relações sociais, não só
referentes às pessoas, mas, inclusive, às instituições (família, escola,
religião, política, economia, mídia), moldavam as diversas sociedades.
Assim, havendo uma enorme conexão entre essas relações, a mudança
em uma acarretaria numa transformação em outra. (MELLO, sem data,
online).
Sendo assim, a sociedade compreende-se como um sistema

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


dinâmico, ou seja, capaz de apresentar mudanças sistemáticas em um
pequeno espaço de tempo, onde os indivíduos precisam estar em cons-
tante predisposição para se adequar às novidades que a sociedade
apresenta, conforme destaca Mello (sem data, online):

“A sociedade é entendida, portanto, como algo dinâmico, em permanente


processo de mudança, já que as relações e instituições sociais acabam por
dar continuidade à própria vida social. Torna-se claro, ademais, que existe
uma profunda e inevitável relação entre os indivíduos e a sociedade. As Ciên-
cias Sociais lidaram com essa relação de diferentes modos, ora enfatizando
a prevalência da sociedade sobre os indivíduos, ora considerando certa auto-
nomia nas ações individuais. Para o antropólogo Ralph Linton, por exemplo,
a sociedade, em vez do indivíduo, é a unidade principal, aquela onde os se-
res humanos vivem como membros de grupos mais ou menos organizados”
(MELLO, sem data, online).

31
Figura 9. O indivíduo na sociedade
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Fonte: Autora (2021) baseado em Mello (sem data, online)

De acordo com o que se apresenta, o ato de participar das ati-


vidades sociais é condição essencial para solidificar a experiência em
sociedade e, ainda, para que se compreenda de maneira integral toda
a conduta da sociedade. Nesse sentido, Soldan e Rasia (2015, p.62)
destacam que:
“O ato social dinâmico é pré-condição da consciência (espíritu), que se en-
gendra na experiência social das interações e somente é possível através
da linguagem, ou gesto vocal, socialmente convencionalizada. Sendo assim,
tendo como seu ponto de partida o social (sociedad), Mead (1953) explica
que “a conduta de um indivíduo somente pode ser compreendida em termos
da conduta de todo grupo social do qual é membro” aparecendo aqui a in-
ternalização do outro generalizado (persona). Percebemos que Mead (1953)
propõe para a psicologia social um conductismo social, ou behaviorismo
social, em oposição às análises behavioristas comportamentais da época”.
(SOLDAN; RASIA, 2015, p.62).

32
Não sou obrigado a falar a língua de meu país, nem a usar as
moedas legais, mas é impossível agir de outro modo. Se tentasse es-
capar a essa necessidade, minha tentativa seria um completo fracasso.
Se eu for um industrial, nada me proíbe de utilizar máquinas e equipa-
mentos do século XIX, mas se fizer isso, com certeza vou me arruinar,
pois não poderei competir com os que usam máquinas mais modernas.
Mesmo quando posso libertar-me e desobedecer, sempre serei obriga-
do a lutar contra tais regras. A resistência que elas impõem são a prova
de sua força, mesmo quando as pessoas conseguem finalmente ven-
cê-las. Todos os inovadores, inclusive os bem-sucedidos, tiveram que
lutar contra oposições desse tipo. (DURKHEIM, 1973, p.08).

A referida questão se confirma ao perceber que o processo de


interação social é responsável pela construção da identidade do indiví-
duo e de toda a coletividade e que os aspectos individuais que o sujeito
apresenta, acaba por influenciar diretamente na maneira de vida do su-
jeito coletivo, conforme destaca Strauss (1999, p.26).

“Portanto, é na interação (que possui certa estrutura, é datada temporalmen-


te, e que permite os indivíduos a troca), é que se desenvolvem as identidades
pessoais e coletivas que estão entrelaçadas e se constituem reciprocamente.

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


De acordo com Strauss (1999), “as interações acontecem entre indivíduos,
mas os indivíduos também representam (em termos sociológicos) coletivida-
des diferentes e muitas vezes múltiplas que se estão expressando por meio
das interações” (STRAUSS, 1999, p.26)

33
Figura 10. Indivíduo, interação e sociedade

Fonte: Autora (2021) baseado em Strauss (1999, p.26)


QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

A problemática da relação indivíduo e sociedade é essencial


na modernidade e é tratada frequentemente em termos de um antago-
nismo entre os dois pólos da questão. No entanto, conforme indicações
de Ellias (1994), não se pode considerar tal tema como se fosse uma
questão de fato, no sentido de referir-se ao indivíduo enquanto unidade
que se opõe à sociedade, ou seja, em uma dimensão ontológica, mas
consiste em examiná-la enquanto realidade histórica e, assim, em seu
caráter ético. Desta forma, podemos afirmar que essa questão foi pro-
duzida na modernidade e diz respeito ao fato de que somente o homem
moderno se reconhece como indivíduo. Nesse sentido, se pensa como
autônomo em relação a qualquer instância exterior a ele próprio, toma a
si mesmo como fonte e sede absoluta de todos os sentidos de sua exis-

34
tência, desconhece qualquer dependência de laços sociais. Neste con-
texto, as referências coletivas constituem um problema, surgindo daí
a questão de saber a natureza, as possibilidades e limites da relação
indivíduo e sociedade. (SOLDAN; RASIA, 2015, p.62).

Sendo assim, ao passo em que os indivíduos inseridos em de-


terminado contexto social se relacionam entre si, acabam por criar um
comportamento coletivo. Algumas vezes, por se tratar de diferentes pes-
soas, os comportamentos podem ser distintos e, assim, a maneira como
se manifestam em sociedade representa um tipo de identidade política,
cultural e econômica, podendo influenciar a sociedade em que se en-
contram inseridos, conforme apresenta Soldan e Rasia (2015, p.67):

“Em síntese, compreendemos que os indivíduos (que transitam por diversos


grupos, estão em interação, significando (a partir dos símbolos compartilha-
dos pelos grupos) e nomeando. Desse modo os indivíduos orientam a ação
do grupo, as suas ações, a si mesmos, as ações dos outros e aos outros. Por
fazerem parte de diferentes grupos ao mesmo tempo e estarem em constan-
te interação (que por vezes é conflituosa) os indivíduos assumem diferen-
tes papéis, máscaras e representam. Conscientes constroem e reconstroem
suas identidades, pautando-se nos símbolos construídos e mobilizados den-
tro dos diversos grupos dos quais fazem parte, demonstrando assim o cará-
ter coletivo da identidade e permanente da socialização”. (SOLDAN; RASIA,
2015, p.67).

Figura 11. Indivíduo, interação e coletividade

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Fonte: Autora (2021) baseado SOLDAN; RASIA (2015, p.67)


35
Os homens tornam a realidade inteligível a partir das represen-
tações sociais, e é também a partir dessas que eles se agrupam, levan-
do em conta que “cada grupo possui um universo de opinião particular”.
Ao organizar, traduzir, simbolizar, moldar, reproduzir e socializar esses
conhecimentos, a função da representação social, segundo Moscovici,
é a de elaborar os comportamentos e a comunicação entre os indiví-
duos, ou seja, nas palavras do próprio teórico “possuem uma função
constitutiva da realidade”. (MOSCOVICI, 2012, p.27).

Os homens tornam a realidade inteligível a partir das represen-


tações sociais, e é também a partir dessas que eles se agrupam, levan-
do em conta que “cada grupo possui um universo de opinião particular.
Ao organizar, traduzir, simbolizar, moldar, reproduzir e socializar esses
conhecimentos, a função da representação social, segundo Moscovici,
é a de elaborar os comportamentos e a comunicação entre os indiví-
duos, ou seja, nas palavras do próprio teórico “possuem uma função
constitutiva da realidade.” (MOSCOVICI, 2012, p.32).
Sendo assim, compreendendo que o indivíduo é um ser social
que, a partir de suas práticas sociais, torna-se capaz de dinamizar a
própria sociedade, observa-se que a estrutura do Estado (povo, poder
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

e território) depende das atividades desempenhadas pelo indivíduo, ou


seja, o tipo de poder (governo) vai depender do tipo de indivíduo que
compõe aquela sociedade.

“Estabelece uma dinâmica própria dentro do contexto social que é capaz de


O Estado, o governo com suas funções e seus poderes, torna-se, assim, o
centro de interesse do homem que raciocina” (SOLDAN, RASIA (2015, p.68)

A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental


nas Ciências Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimento
da Sociologia, que surgiu em meio a um crescente processo de indus-
trialização iniciado ainda no século XVIII e que levou ao surgimento de
inúmeros problemas sociais no início do século seguinte, quando sur-
36
giu a disciplina. Podemos dizer que as transformações ocorreram pela
transição de uma realidade rural para um ambiente urbano e industrial.
O advento de estruturas sociais mais complexas fez com que
os homens se vissem na necessidade de compreendê-las. Brota uma
nova ciência que, partindo do instrumental das ciências naturais e exa-
tas, tenta explicar a realidade, estudando sistematicamente o comporta-
mento social dos grupos e as interações humanas. (MELLO, sem data,
online).

Nesse contexto, a relação entre os indivíduos e a sociedade


passa a ter uma visão diferenciada, pois o tipo de que vida que o in-
divíduo passa a ter influenciará no tipo da realidade social, conforme
destaca Mello (sem data, online):

“A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental nas Ciências


Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimento da Sociologia, que
surgiu em meio a um crescente processo de industrialização iniciado ainda
no século XVIII e que levou ao surgimento de inúmeros problemas sociais
no início do século seguinte, quando surgiu a disciplina. Podemos dizer que
as transformações ocorreram pela transição de uma realidade rural para um
ambiente urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais comple-
xas fez com que os homens se vissem na necessidade de compreendê-las.
Brota uma nova ciência que, partindo do instrumental das ciências naturais
e exatas, tenta explicar a realidade, estudando sistematicamente o compor-
tamento social dos grupos e as interações humanas”. (MELLO, sem data
online)

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


E, a partir desta perspectiva, destaca-se o surgimento de algu-
mas teorias específicas, que servem para direcionar os aspectos que
estão relacionados com o indivíduo e a sociedade, como é o caso de
Durkheim e Weber. Dessa maneira, na perspectiva de Durkheim, en-
quanto há a prioridade no processo de análise dos fenômenos sociais
como parte essencial do processo que influencia as ações, ou seja,
elementos externos influenciariam as ações dos indivíduos. Entretanto,
a partir da percepção de Weber, as interações sociais influenciam dire-
tamente os preceitos observados no âmbito social.
“Enquanto Emile Durkheim priorizou a sociedade na análise dos fenôme-
nos sociais, considerando-a externa aos indivíduos e determinadora de suas
ações, Max Weber entendia ser preponderante o papel dos atores sociais e
as suas ações. Weber entendia a sociedade como o conjunto das interações
sociais. A “ação social”, objeto de estudo weberiano, toma este significado
quando seu sentido é orientado pelo conjunto de pessoas que constituem a
sociedade”. (MELLO, sem data, online)

37
Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a existência de
uma sociedade e a coesão social que assegura sua continuidade só se
torna possível quando os indivíduos se adaptam ao processo de so-
cialização, ou seja, quando são capazes de assimilar valores, hábitos
e costumes que definem a maneira de ser e de agir característicos do
grupo social a qual pertencem. (CANCIAN, sem data, online).

Figura 12. Sociedade e socialização

Fonte: Autora (2021) baseado em Cancian (sem data, online)


QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

A consciência coletiva constitui o “conjunto das crenças e dos


sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade,
formando um sistema determinado com vida própria”. A consciência co-
letiva é capaz de coagir ou constranger os indivíduos a se comportarem
de acordo com as regras de conduta prevalecentes. A consciência co-
letiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de
cada um de nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e
é externa a eles. Com base neste pressuposto teórico, Durkheim chama
atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem ser expli-
cados a partir da coletividade e não o contrário. (CANCIAN, sem data,
online).

38
Na perspectiva de Max Weber, as ações dos indivíduos devem
ser consideradas a partir de uma percepção interior e exterior e só as-
sim, será possível compreender o próprio funcionamento da sociedade.
Sendo assim, questões relacionadas com história, política, cultura, eco-
nomia e emoções são capazes de influenciar diretamente o comporta-
mento do indivíduo no sistema social. Nesse sentido, Bastos e Gomes
(2012, online) destacam que:

“O método compreensivo defendido por Weber, consiste que as ações de


um indivíduo contêm não só o aspecto exterior dessas mesmas ações, mas
também o aspecto sentimental, social e histórico de toda sociedade. Weber
propôs uma sociologia que possa compreender e assim explicar melhor de-
terminados fragmentos da realidade social. As ações dos indivíduos na so-
ciedade são inúmeras, tanto no passado, presente e futuro. A racionalidade
dos indivíduos os capacita a exercer a própria vontade, assim os indivíduos
“dão vida” à sociedade através da participação nas instituições sociais como
a família, a escola, o partido político, igreja etc.”. (BASTOS, GOMES, 2012,
online)

A sociologia de Weber nos faz pensar que embora estejamos


obrigados a agir conforme um pacote de regras que regulam a nossa
vida é preciso considerar que essas regras foram criadas por indivíduos
como nós, e que elas estão aí para serem mudadas, educar no sentido
da racionalização passou a ser fundamental para o estado, porque ele
precisa de um direito racional e de uma burocracia montada em moldes
racionais. (BASTOS, GOMES, 2012, online).

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


Figura 13. Weber e sociologia

Fonte: Autora (2021) baseado em BASTOS, GOMES (2012, online)

39
Para Weber a sociedade capitalista moderna precisa de um
maior grau de racionalização para sustentar a ação dos indivíduos, ne-
cessitando estabelecer regras a serem obedecidas. A racionalidade dos
indivíduos os capacita a fazer a própria vontade. Para compreender o
capitalismo precisaríamos fazer um estudo mais aprofundado do pas-
sado comparando várias sociedades e outras civilizações. Compreen-
demos também que o capitalismo moderno estabeleceu novas formas
de ações para os homens, com instituições de leis e princípios burocrá-
ticos. O capitalismo reduzia tudo, inclusive a educação, à mera busca
por riquezas material e estrutural. Weber, por sua vez, defendia que
para todas as disciplinas tanto as ciências naturais como as ciências da
cultura o conhecimento é uma conquista que nunca termina. (BASTOS,
GOMES, 2012 online)

Esta dualidade de posicionamentos gera o que a sociologia


define como polaridade e, de acordo com Bastos e Gomes (2012), pen-
sar de maneira polarizada seria reduzir ambas as estratégias, visto que
consideraria apenas uma via de realização de atos sociais.
Entretanto, existem modelos que pensam na harmonização, ou
seja, na coordenação dos modelos apresentados, de maneira que se
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

considera a possibilidade de uma influência mútua entre ambas as teo-


rias e, assim, os problemas que surgem com o reducionismo estariam
solucionados, conforme destacam Bastos e Gomes (2012, online):

“Ambas as estratégias reducionistas, como vemos, trabalham com uma pers-


pectiva unidirecional da influência de um polo sobre o outro. Há, no entanto,
várias tentativas de conciliação dos dois modelos, assumindo que eles se
influenciam mutuamente: a estrutura social é produzida pelo homem e o pro-
duz. A síntese encontrada reconhece que a estrutura social é uma objetiva-
ção da atividade humana, mas que afeta o indivíduo como um fator externo,
que o limita e o restringe. No entanto, introduz problemas adicionais para a
compreensão de como sociedade e indivíduos se relacionam. A circularida-
de embutida nessa combinação das duas estratégias reducionistas cria, por
exemplo, o problema de como explicar ou compreender os processos de
mudança, quer das sociedades em suas múltiplas coletividades, quer dos
indivíduos. (BASTOS, GOMES, 2012, online)

40
Contudo, existem posicionamentos críticos acerca da possibi-
lidade de coexistência entre as teorias, pois a harmonização entre as
teorias não possibilita integração e crescimento, visto que os problemas
conceituais do indivíduo e da sociedade continuarão a existir.

“Critica-se, portanto, essa estratégia que afirma a coexistência ou a concilia-


ção, articulando os dois reducionismos simultaneamente, na expectativa de
que, assim o fazendo, o problema da relação indivíduo-coletividade fica so-
lucionado. Tal solução, no nosso entendimento, gera um paradoxo por des-
considerar os problemas conceituais e a diferença na condição ontológica
existente entre os conceitos de indivíduo e de sociedade que estão na base
dessa falsa antinomia; em outras palavras, traz um falso dilema que nasce da
pouca atenção que dedicamos aos conceitos e às formas que utilizamos no
campo científico”. O problema está no discernimento da condição ontológica
de indivíduo e sociedade. Seriam elas condições comuns ou diferenciadas?
Na realidade, o indivíduo é mais do que aquilo que a sociedade determina, e
a sociedade é mais do que aquilo que o indivíduo cria. O não esclarecimento
da extensão desses dois conceitos limita a compreensão de como eles se
articulam efetivamente. A seguir, a tensão indivíduo-sociedade será analisa-
da em um contexto específico, a relação indivíduo-organização. (BASTOS,
GOMES, 2012, online)

Há polaridades muito conhecidas e referenciadas. Ao se discu-

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


tir a relação entre indivíduo e ambiente, aparece a tensão construtor/ati-
vo versus construído/passivo. Ao examinar a constituição do sujeito ao
longo do ciclo de vida, deparamo-nos com a tensão do inato versus ad-
quirido, ou de natureza versus cultura. Ao considerarmos a singularida-
de do indivíduo, vemo-nos diante do dilema estrutura versus processo,
ou estrutura versus ação. Ao analisarmos a questão de ajustamento, do
bem-estar e da saúde, enfrentamos a tensão do conceito e dos limites
entre normal versus patológico. Ao tratarmos dos processos de investi-
gação, temos que enfrentar o dilema qualitativo versus quantitativo ou,
mais abrangentemente, ciências naturais versus ciências sociais, decor-
rendo daí outras polaridades como positivismo versus não positivismo,
dialética versus hermenêutica, e assim por diante. Ao pensarmos sobre
o conjunto diversificado de práticas profissionais, nós nos deparamos
com a categorização de práticas individualizantes versus práticas cole-
tivas ou, ainda, de práticas remediativas versus práticas preventivas. Tal
dilema, na realidade, se ancora em outro maior: na relação entre parte

41
e todo, singular e plural, indivíduo e sociedade, e nos diversos níveis e
planos em que as pessoas se agrupam. Assim, trata-se de uma tensão
que atravessa a discussão das relações das pessoas com seus vários
grupos de inserção: família, grupos de amigos, grupos de trabalho, or-
ganizações etc. (BASTOS, GOMES, 2012, online).

Sabendo desta polarização observada entre os aspectos do


indivíduo e da coletividade, destaca-se que é um fenômeno bastante
complexo, visto ser necessário compreender a partir de níveis que se
apresentam de maneira específica, de acordo com o estabelecido por
Bastos e Gomes (2012, online):

“a) um objeto que faz parte de um sistema de totalidades parciais e pode


ser compreendido ele mesmo como um sistema, também incorporando tota-
lidades parciais de nível hierárquico inferior, b) um objeto que não pode ser
explicado por modelos lineares de determinação, (c) um objeto que pode,
metodologicamente, ser apreendido em múltiplos níveis de existência, dado
que opera em distintos níveis da realidade, e (d) um objeto que é multiface-
tado, alvo de diversas miradas, fonte de múltiplos discursos, extravasando
os recortes disciplinares da ciência, ou, como o mesmo autor sintetiza a se-
guir: um objeto complexo é sintético, não linear, múltiplo, plural e emergente.
(BASTOS, GOMES, 2012, online)

Nesse sentido, tendo como pressuposto essencial a compre-


ensão da necessidade de se pensar na relação entre os dois modelos,
de maneira linear, considera-se a recomendação de Bastos e Gomes
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

(2012, online):

“Recomenda-se cautela ao lidar com relações lineares e facilmente identifi-


cáveis entre esses dois complexos fenômenos, em quaisquer das direções
em que tais relações sejam estabelecidas. Primeiro, porque estaríamos in-
correndo em um erro categórico, ao reificarmos o conceito de sociedade/
organização; segundo, porque estaríamos deixando de capturar a natureza
eminentemente processual, dinâmica e fluida dessa rede de relações, que
articula pessoas, suas ações mediadas por artefatos físicos e simbólicos e
os produtos dessas ações, uma rede em que as ações e cognições, indivi-
duais e coletivas, em espiral e recursivamente, vão construindo (criando or-
dem) e dissolvendo (criando desordem) relações, entendimentos recíprocos,
explicações e significados compartilhados. Talvez o grande desafio à com-
preensão de estruturações complexas como as relações entre indivíduos e
sociedade/ organizações esteja no desenvolvimento de estratégias metodo-
lógicas para explorar e intervir nos processos que articulam pessoas, grupos
e organizações”. (BASTOS, GOMES, 2012, online)

42
As polaridades que demarcam o nosso campo de pesquisa e
profissão requerem maiores estudos. Apesar de problema tão central
para a compreensão de qualquer fenômeno psicológico, psicossocial,
psicossociológico ou sociológico, maior clareza de como lidar com a
polaridade indivíduo-coletividade possui implicações nítidas para quais-
quer práticas, tanto no nível dos indivíduos como no dos grupos, das or-
ganizações e da sociedade. O inadequado tratamento dessas tensões
pode levar a entendimentos e explicações que nos aprisionem no redu-
cionismo de ambos os lados, especialmente quando tratamos o coletivo
como coisa, com existência independente das ações humanas que as
concretizam. Isso é muito claro, por exemplo, no caso das organiza-
ções e mesmo quando se utiliza o conceito de cultura. Estamos aqui
diante do reducionismo ao qual se referiu Elias (1994), de transformar
processos em estados, isto é, no primeiro passo para que tais estados
sejam tomados como coisas, como substantivos e, portanto, passem
a integrar o nosso discurso explicativo dos fenômenos psicológicos e
psicossociais. (BASTOS, GOMES, 2012, online).
- O construtivismo fenomenológico
Ainda na perspectiva de tentar compreender o comportamento
no sentido de extrair a realidade social, percebe-se o construtivismo
fenomenológico. Iniciando a compreensão do construtivismo fenome-
nológico, convém destacar que construtivismo é uma acepção filosófica
que faz parte da construção das relações entre o indivíduo pensante e
o objeto definido.
E, para entender melhor esta teoria, convém destacar que se
entende a fenomenologia como um conjunto de pressupostos capazes

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


de analisar a consciência do indivíduo a partir de um fenômeno especí-
fico. Sendo assim, o objeto principal da fenomenologia seria, portanto,
as experiências humanas e não as coisas que estão na vida daquele
indivíduo.

A fenomenologia se caracteriza, principalmente, por estudar os


fenômenos em sua essência pura, seja a essência da percepção, da
consciência ou outras. Mas também a fenomenologia é uma filosofia
que substitui as essências na existência e não pensa que se possa
compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de sua
‘faticidade’. É o ensaio de uma descrição direta de nossa experiência tal
como ela é. (TRIVINOS, 1987, p. 34).
43
Figura 14. Aspectos da fenomenologia

Fonte: Autora (2021) baseado em Vasconcelos (2015, online)

Sendo assim, pensar no construtivismo fenomenológico é uma


maneira de que as realidades concretas surgem de maneira pensada e
diretamente relacionada com os fenômenos sociais.
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Da fenomenologia, Bourdieu rejeita o descritivismo, que con-


sidera apenas como uma etapa do processo de investigação. Mas ab-
sorve o rompimento com o senso comum, com as pré-noções, com as
doutrinas, com os modos de apreender o mundo. Bourdieu segue a
fenomenologia ao abandonar a “atitude natural” e mesmo a atitude in-
telectual ante o objeto, ao assumir uma “atitude fenomenológica”, que
entende o objeto como um todo e a ele integra a reflexão sobre a atitu-
de, tanto dos agentes quanto dos pesquisadores. Absorve igualmente
da fenomenologia o processo de construção do fato social como objeto
e a ideia de que são os agentes sociais que constroem a realidade
social, embora sustente que o princípio desta constituição é estrutural
(BOURDIEU, 2001:209)

44
Desse modo, compreende-se que o conhecimento epistemoló-
gico não é fruto apenas do conhecimento sistêmico, mas também por
meio de processos de sínteses projetivas. A relação da epistemologia
pode interferir com a realidade, sendo que o fato epistemológico interpõe
na correlação de forças na produção do saber epistemológico. Portanto,
nascem de relações complexas de proporcionalidades a construção e a
fenomenalidade. Todo conhecimento surge de fatos fenomenológicos,
ou seja, realidades concretas, sendo o resultado final o objeto construí-
do, como realidade fenomenológica pensada. Entretanto, a razão como
sujeito cognoscente dirige a realidade, o fato fenomenológico, em uma
relação dialética, surgindo o pensamento como análise científica produ-
zida. (VASCONCELOS, 2015, online).

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

45
TREINOS INÉDITOS
QUESTÃO 1
Leia atentamente o trecho abaixo e assinale a alternativa corres-
pondente.
“Recomenda-se cautela ao lidar com relações lineares e facilmente
identificáveis entre esses dois complexos fenômenos, em quais-
quer das direções em que tais relações sejam estabelecidas. Pri-
meiro, porque estaríamos incorrendo em um erro categórico, ao
reificarmos o conceito de sociedade/organização; segundo, por-
que estaríamos deixando de capturar a natureza eminentemente
processual, dinâmica e fluida dessa rede de relações, que articula
pessoas, suas ações mediadas por artefatos físicos e simbólicos e
os produtos dessas ações, uma rede em que as ações e cognições,
individuais e coletivas, em espiral e recursivamente, vão construin-
do (criando ordem) e dissolvendo (criando desordem) relações,
entendimentos recíprocos, explicações e significados comparti-
lhados. Talvez o grande desafio à compreensão de estruturações
complexas como as relações entre indivíduos e sociedade/organi-
zações esteja no desenvolvimento de estratégias metodológicas
para explorar e intervir nos processos que articulam pessoas, gru-
pos e organizações”. (BASTOS, GOMES, 2012, online).
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 2
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Assinale a alternativa que indica qual a consequência que surge


com o tratamento inadequado das polaridades na sociologia.
a) Reducionismo
b) Abstracionismo
c) Casuísmo
d) Ateísmo
e) Negacionismo

QUESTÃO 3
Leia atentamente o trecho abaixo e assinale a alternativa corres-
pondente.
“As polaridades que demarcam o nosso campo de pesquisa e pro-
fissão requerem maiores estudos. Apesar de problema tão central
para a compreensão de qualquer fenômeno psicológico, psicosso-
cial, psicossociológico ou sociológico, maior clareza de como lidar
com a polaridade indivíduo-coletividade possui implicações níti-
46
das para quaisquer práticas, tanto no nível dos indivíduos como no
dos grupos, das organizações e da sociedade”.
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 4
Leia atentamento o trecho abaixo e assinale a alternativa corres-
pondente.
“A fenomenologia se caracteriza, principalmente, por estudar os
fenômenos em sua essência pura, seja a essência da percepção,
da consciência ou outras. Mas também a fenomenologia é uma fi-
losofia que substitui as essências na existência e não pensa que
se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão
a partir de sua ‘faticidade’. É o ensaio de uma descrição direta de
nossa experiência tal como ela é”. (TRIVINOS, 1987, p.34).
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 5
Leia atentamento o trecho abaixo e assinale a alternativa corres-
pondente.
“Da fenomenologia, Bourdieu não rejeita o descritivismo, que con-
sidera apenas como uma etapa do processo de investigação. Mas
absorve o rompimento com o senso comum, com as pré-noções,
com as doutrinas, com os modos de apreender o mundo.” (BOUR-
DIEU, 2001:209).

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Explique se a razão do sujeito cognoscente dirige a realidade.

NA MÍDIA

O QUE É POLARIZAÇÃO E POR QUE É PREJUDICIAL À DEMOCRA-


CIA?
Apesar de ser um fenômeno muito falado hoje em dia, o melhor modo
para começarmos a entender a polarização é olhar para trás. Na verda-
de, bem para trás, em nosso passado como espécie.
Como qualquer outro animal, o corpo do ser humano se modificou ao
longo do tempo com um objetivo claro, apesar de inconsciente: adap-
47
tar-se às circunstâncias e ao ambiente para sobreviver o maior tempo
possível e passar seus genes a seus descendentes. Para cumprir essa
missão, algumas atitudes eram úteis e outras, nem tanto. Por exemplo,
escalar uma montanha trazia riscos de se ferir e morrer; por isso, nosso
cérebro desenvolveu o medo de altura, que tenta nos impedir de correr
esses riscos.

Fonte: Luiz Andreassa


Data: 2020
Leia a notícia na íntegra: https://www.politize.com.br/o-que-e-polariza-
cao/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAiA7dKMBhBCEiwAO_
crFKlY4R4dQztWep3JjziDNjNXq4-gDBPVcBK0PCEhAWEsa6K7nWt-
shhoCHoEQAvD_BwE. Acesso em 17 de novembro de 2021.

NA PRÁTICA

CULTURA, CIVILIZAÇÃO E INDIVÍDUO: MARCUSE, ELIAS E O COM-


PARTILHAMENTO DA PSICANÁLISE FREUDIANA

Neste ensaio procuramos estabelecer algumas afinidades temáticas


entre Herbert Marcuse e Norbert Elias no que diz respeito à relação
entre cultura e civilização, bem como buscar algumas aproximações
teóricas que permitam avançar na superação da dicotomia indivíduo
e sociedade, ainda presentes nas teorias sociológicas e psicológicas
contemporâneas. Por isso, nos dois pensadores interessa-nos explorar
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

o entendimento sobre os processos sociais que constituem os indivídu-


os e modelam suas condutas, bem como os modos como respondem
à problemática das restrições e dos controles que a vida em sociedade
impõe às pulsões. Se entre Marcuse e Elias se registram divergências,
também se encontram convergências decorrentes da partilha de uma
mesma fonte teórica – a psicanálise freudiana.
Fonte: Mirian Jorge Warde; Abel Silva Jorge.
Data: 2019
Leia na íntegra: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/
view/2175-795X.2019.e65087 Acesso em: 20 de outubro de 2021

PARA SABER MAIS

Filme sobre o assunto: A onda


Acesse os links:
https://youtu.be/-ZwT6HEEwSM Acesso em: 13/07/2021
https://youtu.be/r6pEgm98mUQ Acesso em: 13/07/2021
48
ASPECTOS DA
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


CONTEXTO, TRADUÇÃO E CONTROVÉRSIA

O processo de desenvolvimento de uma sociedade decorre do


nível de produção educacional que possui, ou seja, incutir na população
uma educação de qualidade beneficiará a sociedade em larga escala.
Sendo assim, observa-se que quanto mais educada for uma socieda-
de, maior será o seu processo de desenvolvimento social, conforme se
apresenta na Figura 15, apresentada abaixo.

49
Figura 15. Desenvolvimento social e educação

Fonte: Autora (2021) baseado em Durkheim (1973)

Relacionando tais questões com a sociologia, observa-se que


a educação serviria como base fundamental para direcionar os profis-
sionais da educação, no sentido de construir novos contornos no pro-
cesso educacional, inclusive afastando-se de práticas tendenciosas.
Diante do que se observa, o processo educacional se constrói
a partir de um contexto social e, em decorrência deste processo, obser-
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

va-se que tanto o homem é produto de uma sociedade quanto também


a sociedade é um produto do homem.
A própria Sociologia surgiu no intento de se compreender a
forma como as relações sociais se configuravam. Isso eclodiu especial-
mente com a instauração do sistema capitalista e seu desenvolvimento
a partir das revoluções industriais, que modificaram drasticamente as
estruturas dessas relações. Isso nos faz acreditar que a importância da
sociologia para a profissão docente se dá justamente na possibilidade
de oferecer recursos para que esses educadores possam instrumen-
talizar-se desse repertório para desenvolver análises da sociedade e
desse modo ajudá-los a compreender o próprio lugar da educação na
sociedade e também compreender as relações das instituições educa-
cionais com as demais instituições que constituem a sociedade, bem
como família,  igreja, trabalho etc. (SCOTTÁ, 2012, online).

50
Transpondo essa discussão teórica para o campo da Socio-
logia da Educação, é preciso reconhecer o esforço de Bourdieu para
evitar tanto o objetivismo quanto o subjetivismo na análise dos fenô-
menos educacionais. O ator da Sociologia da Educação de Bourdieu
não é nem o indivíduo isolado, consciente, reflexivo, nem o sujeito de-
terminado, mecanicamente submetido às condições objetivas em que
ele age. Em primeiro lugar, contrapondo-se ao subjetivismo, Bourdieu
nega, da forma mais radical possível, o caráter autônomo do sujeito
individual. Cada indivíduo passa a ser caracterizado por uma bagagem
socialmente herdada. Essa bagagem inclui, por um lado, certos com-
ponentes objetivos, externos ao indivíduo, e que podem ser postos a
serviço do sucesso escolar. Fazem parte dessa primeira categoria o
capital econômico, tomado em termos dos bens e serviços a que ele dá
acesso, o capital social, definido como o conjunto de relacionamentos
sociais influentes mantidos pela família, além do capital cultural insti-
tucionalizado, formado basicamente por títulos escolares. A bagagem
transmitida pela família inclui, por outro lado, certos componentes que
passam a fazer parte da própria subjetividade do indivíduo, sobretudo,
o capital cultural na sua forma “incorporada”. Como elementos consti-
tutivos dessa forma de capital merecem destaque a chamada “cultura
geral”, expressão sintomaticamente vaga; os gostos em matéria de arte,
culinária, decoração, vestuário, esportes etc., o domínio maior ou menor

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


da língua culta; as informações sobre o mundo escolar. (NOGUEIRA,
2002, online).

Ainda sobre a relação da sociologia com a educação, desta-


ca-se que a maneira como a coletividade (sociedade) passa a funcio-
nar, se desenvolve a partir de questões apresentadas no ambiente de
ensino e, assim, a partir do processo de aprendizagem observa-se a
promoção dos padrões de comportamento dentro de uma comunidade,
conforme destaca Serpa, Camargo (2018, p.03):
“Seria possível afirmar, por conseguinte, que a ocorrência das disposições
sociais de uma conduta coletiva seria interiorizada por meio da socializa-
ção em ambiente de ensino Seguindo essas proposições, na obra Estrutura,
habitus e prática, Bourdieu preconiza o conceito e utiliza-o para dar início a
discussões sobre o estabelecimento de meios de aprendizagem como uma
forma sistemática de promover a conscientização sobre padrões comporta-
mentais dentro de uma comunidade”. (SERPA, CAMARGO, 2018 p.03)

51
Figura 16. Aprendizagem e conscientização

Fonte: Autora (2021) baseado em SERPA, CAMARGO (2018, p.03)

E, para que a aprendizagem possa funcionar adequadamente,


indica-se a necessidade de organização de um padrão habitual neste
processo de aprendizagem, conforme apresenta Bourdieu (1983, p.65):

“Um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas


QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

as experiências passadas, funciona em cada momento como uma matriz de


percepções, apreciações e ações – e torna possível a realização de tarefas
infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esque-
mas, que permitem resolver os problemas da mesma forma, e às correções
incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente produzidas por esses re-
sultados. (BOURDIEU, 1983, p. 65)

Nesse contexto, se destaca a questão do habitus tradutório


que vem integrar os modelos de análise que se associam às normas e,
de acordo com Serpa e Camargo (2018, p.04), o processo tradutório se
apresenta da seguinte maneira:
“categoria de habitus tradutório integra aos modelos de análise associados
às normas. Nessa leitura, há a ideia de que a conduta do tradutor é coleti-
vamente determinada, mas, ao mesmo tempo, determinadora dos agentes e
produtos. Consolida-se a concepção da prática tradutória como um tipo de
sistematização; e para conceber a interpretação dos dados socioculturais
apresentados pelos textos traduzidos como uma atividade regulada por nor-
matizações”. (SERPA, CAMARGO, 2018, p.04)

52
As normas regulariam a prática tradutória, principalmente no
que diz respeito ao texto como um elemento cultural representativo de
um grupo social específico. As bases para compreender a análise das
normas iniciais fundamentam as escolhas básicas dos tradutores e,
com isso, promovem arquétipos relacionados aos modelos de significa-
do tanto nas sociedades de partida quanto nas de chegada. (SERPA,
CAMARGO, 2018, p.04).

Como forma de distanciamento em relação ao objetivismo,


Bourdieu afirma, então, em primeiro lugar, que a ação das estruturas
sociais sobre o comportamento individual se dá preponderantemente de
dentro para fora e não o inverso. A partir de sua formação inicial em um
ambiente social e familiar que corresponde a uma posição específica na
estrutura social, os indivíduos incorporariam um conjunto de disposições
para a ação típica dessa posição (um habitus familiar ou de classe) e
que passaria a conduzi-los ao longo do tempo e nos mais variados am-
bientes de ação. As normas e constrangimentos que caracterizam uma
determinada posição na estrutura social não operariam, assim, como
entidades reificadas que agem diretamente, a cada momento, de fora
para dentro, sobre o comportamento individual. Ao contrário, a estrutura
social se perpetuaria porque os próprios indivíduos tenderiam a atuali-
zá-la ao agir de acordo com o conjunto de disposições típico da posição

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


estrutural na qual eles foram socializados. (NOGUEIRA, 2002, online).

Observando essa concatenação de princípios, notamos que


seria possível traçar correlações e dizer que as normas estariam pre-
sentes no habitus seguidos ordenadamente pelos tradutores em dadas
situações socioculturais. Haveria, então, certa influência das teorias so-
ciológicas em investigações voltadas à função da tradução no tocante
ao direcionamento de comportamentos sociais. (SERPA, CAMARGO,
2018, p.04).

53
Figura 17. Normas e Tradução

Fonte: Autora (2021) baseado em SERPA, CAMARGO (2018, p.04)

A Sociologia da Educação de Bourdieu se notabiliza justamen-


te pela diminuição que promove do peso do fator econômico, compara-
tivamente ao cultural, na explicação das desigualdades escolares. Em
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

primeiro lugar, a posse de capital cultural favoreceria o desempenho


escolar na medida em que facilitaria a aprendizagem dos conteúdos
e códigos escolares. As referências culturais, os conhecimentos consi-
derados legítimos (cultos, apropriados) e o domínio maior ou menor da
língua culta, trazidos de casa por certas crianças, facilitariam o aprendi-
zado escolar na medida em que funcionariam como uma ponte entre o
mundo familiar e a cultura escolar. (NOGUEIRA, 2002, online).
Portanto, no que se refere ao processo educacional no âmbito
escolar, as crianças que são oriundas de ambientes mais favorecidos,
se demonstram como processo de continuidade da educação familiar,
diferentemente das crianças que não se enquadram naquela situação.
Por isso, compreende-se que o capital cultural de um indivíduo, seja ele
adulto ou criança, favorece no desempenho na verificação da aprendi-
zagem.

54
“A educação escolar, no caso das crianças oriundas de meios culturalmen-
te favorecidos, seria uma espécie de continuação da educação familiar, en-
quanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante ou mesmo
ameaçador. A posse de capital cultural favoreceria o êxito escolar, em segun-
do lugar, porque propiciaria um melhor desempenho nos processos formais
e informais de avaliação. Bourdieu observa que a avaliação escolar vai muito
além de uma simples verificação de aprendizagem, incluindo um verdadeiro
julgamento cultural e até mesmo moral dos alunos. Cobra-se que os alunos
tenham um estilo elegante de falar, de escrever e até mesmo de se com-
portar; que sejam intelectualmente curiosos, interessados e disciplinados;
que saibam cumprir adequadamente as regras da “boa educação”. Essas
exigências só podem ser plenamente atendidas por quem foi previamente
(na família) socializado nesses mesmos valores”. (NOGUEIRA, 2002, online)

Por isso, pode ser afirmado que o processo de aprendizagem


dos alunos é decorrente das cognações estabelecidas em núcleos co-
letivos que se desenvolvem, primeiramente, no ambiente acadêmico,
perpassando os limites dos planejamentos pedagógicos e produzindo
um ciclo de atuação pragmático e analítico.

RACIONALIDADE INDIVIDUALISTA

Para que seja possível compreender o processo de racionali-


dade individualista, faz-se necessário compreender o que seria, a princí-
pio, a própria racionalidade que, em sentido amplo, entende-se como ao
processo de produção do conhecimento ou de saberes. Sendo assim, o
processo de construção da racionalidade está diretamente relacionado

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


com a estruturação da qualificação dos saberes, ideologias, crenças
e mitos que podem ser identificados tanto nas sociedades tradicionais
como também nas sociedades modernas.
Nesse sentido, de acordo com Meireles (2012, p.53), a racio-
nalidade se apresenta da seguinte maneira:

“Teoria da Escolha Racional, como forma de compreensão dos fenômenos


sociais, assume que o comportamento humano pode, em várias medidas,
ser estudado, ou modelado, através do pressuposto da racionalidade. Origi-
nalmente utilizado nas ciências econômicas, tal pressuposto afirma que, em
situações de múltipla escolha, os agentes optam por estratégias que maxi-
mizam seus resultados. Na segunda metade do século XX, essa perspecti-
va teórica tornou-se dominante na ciência política dos países anglo-saxões.
(MEIRELES, 2012, p.53)

55
Figura 18. Aspectos gerais da racionalidade

Fonte: Autora (2021) baseado em (MEIRELES, 2012, p.53)

A noção de racionalidade é vinculada, então, à ideia de consu-


midor da teoria econômica, sendo referida geralmente à conduta que
busca três elementos básicos: riqueza, prestígio e poder. Metodologica-
mente, aponta-se a possibilidade de previsão das escolhas de sujeitos
racionais, o que caracterizaria um método “positivo”, não normativo, que
separa os fatores essenciais das ações de dados secundários. As ati-
vidades seriam descritas em um imaginado estado puro, no qual pode-
riam ser removidas características sem importância do processo social
que são notadas em uma observação direta e não controlada. A meta
da teoria da escolha racional é explicar muito por meio de conceitos
simples, criticando entendimentos pautados por concepções generali-
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

zantes e tidas por inconsistentes, como “estrutura”, “vontade geral” ou


“socialização”. O estabelecimento de padrões predeterminados de ação
conduz ao abandono de postulados que abrangem valores ou crenças
abstratas. (CARVALHO, 2010, p.10).

56
Figura 19. Racionalidade e a produção do conhecimento

Fonte: Autora (2021) baseado em Carvalho (2010, p.10)

Na perspectiva de compreender as questões relacionadas com


a racionalidade individualista, destaca-se uma proposta diferenciada,
onde o sujeito informa que a escolha racional decorre da soma de várias
ações de cunho individual. E, portanto, a referida estrutura é compreen-
dida como o resultado de situações que estão baseadas em interesses
pessoais. Nesse sentido, de acordo com Carvalho (2010, p.11):

“A proposição sociológica fundamental da teoria da escolha racional é que


uma estrutura nada mais pode ser do que uma mera soma de ações individu-
ais. Por conseguinte, tal estrutura é apenas um resultado de trocas pautadas
por interesses pessoais, e só toma alguma forma exclusivamente pelo fato

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


de os agentes não terem controle direto sobre os bens que almejam”. (CAR-
VALHO, 2010, p.11)

E no que se refere ao processo de escolha racional, destaca-


-se que não há o enfoque essencialmente nas crenças ou fatos sociais,
ou seja, em situações que se encontram fora do padrão da escolha do
procedimento, pelo contrário, em questões resultantes dos interesses
pessoais de cada sujeito e, consequentemente, do processo de cons-
trução de prioridades dentre os desejos apresentados.

“A teoria da ação definida pela escolha racional não enfoca a perspectiva de


as crenças ou fatos sociais resultarem de processos históricos ou estruturais,
preferindo ressaltar a relação de desejos pessoais com os limites do ambien-
te externo, o que leva o indivíduo a determinar uma escala de preferências
frente ao contexto de transações que se apresenta-lhe”. (CARVALHO, 2010,
p.12)

57
Figura 20. Processo de escolha racional

Fonte: Autora (2021) baseado em Carvalho (2010, p.12)

A partir das questões apresentadas no sistema de produção


da racionalidade, destaca-se que, mesmo sendo escolhas individuais, o
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

processo de funcionamento do procedimento racional está intimamente


relacionado com aspectos normativos, conforme estabelece Carvalho
(2010, p.13).

“Quando as análises examinam de fato as normas sociais, tendem a ex-


pressar ou um entendimento universalizador, não vinculado a condições his-
tórico-sociais específicas, ou teses que tratam as crenças e normas como
fatores de um bom ou mau funcionamento das condições do mercado social.
De forma geral, os trabalhos da escolha racional tendem a conceber funcio-
nalmente as normas sociais, que aparecem como mecanismo para controlar
um sistema social baseado em relações imprevisíveis de competição. A con-
fiança interpessoal surge, então, como parâmetro teórico central, pois indica
a possibilidade de certos ambientes resolverem problemas de ação coletiva,
permitindo intercâmbios previsíveis em contextos egoístas”. (CARVALHO,
2010, p.13)

58
Ademais, ainda no que se refere ao processo de construção
das escolhas racionais, observa-se que os indivíduos neste processo
acabam por escolher situações que possam beneficiar o crescimento
pessoal, ou seja, favorecer os resultados pessoais, independentemente
de seu no âmbito profissional, conforme destaca Elster (1994 p.30).

Mesmo sugerindo que a escolha racional propõe argumentos válidos em


certos casos, Boudon indica, a partir dos pressupostos de seu individualis-
mo metodológico, que teorias fundamentadas na concepção de ação instru-
mental podem examinar apenas fenômenos específicos e circunscritos, em
que os indivíduos adotam comportamentos consequencialistas que têm em
vista benefícios e resultados pessoais. Todavia, existiriam outros tipos de
ação que expressam uma outra racionalidade, com princípios e característi-
cas diferentes do instrumentalismo. A escolha racional não compreenderia,
sobretudo, situações em que os atores raciocinam a partir de princípios ou
opiniões. (ELSTER, 1994, p. 29).

Figura 21. Os pressupostos da racionalidade

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Fonte: Autora (2021) baseado em Elster (1994, p.30)

59
CONFLITO E CONSENSO

A partir dos estudos sociológicos desenvolvidos no âmbito da


sociedade, é possível afirmar que a produção do conhecimento é um
elemento importante para o fortalecimento de um país, em todos os
aspectos, em especial, na economia.
Como consequência da necessidade de se produzir o conhe-
cimento, observa-se a necessidade da presença do sistema escolar,
visto que a formalização do conteúdo irá favorecer a disseminação nas
classes sociais deste conhecimento. Entretanto, alguns autores, como é
o caso de Rodrigues (1988, p.71), destacam que mesmo sendo impor-
tante a construção do conhecimento através do acesso às instituições
escolares, ainda existe uma limitação significativa (pelo menos no Bra-
sil) da quantidade de pessoas que têm acesso ao ensino e, por isso,
o acesso ao saber estaria relacionado a um tipo de poder, qual seja, o
poder do conhecimento.

“O saber revela-se como instrumento de poder na medida que, quem o de-


têm de forma organizada e sistematizada pode interferir sobre a totalidade da
vida social. O acesso ao saber só é permitido aqueles que detêm o controle
da produção e da distribuição dos bens e riquezas da sociedade”. (RODRI-
GUES, 1988, p.71)

Figura 20. O saber x poder


QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Fonte: Autora (2021) baseado em Rodrigues (1988, p.71)

60
Por isso, se torna importante pensar sempre num sistema de
ensino que esteja voltado para a inclusão social, ou seja, que possibilite
a inserção de várias pessoas neste processo educacional, no sentido
de que se construa uma identidade cidadã nos sujeitos que têm acesso
ao sistema educacional. Esta questão se justifica em virtude da neces-
sidade de o sujeito necessitar de requisitos importantes para o exercício
pleno da cidadania, qual seja, formação educacional ampla e adequa-
da, conforme estabelece Rodrigues (1988, p.71) da seguinte forma:

“O sistema de ensino vigente centrado no saber (poder), exige concreta-


mente ao seu domínio, que se tenha dois outros pré-requisitos: condições
econômicas que dêem sustentação à aquisição dos materiais necessários à
sua manipulação e como segundo, o disciplinado tempo de dedicação aos
estudos. Atualmente, para que o indivíduo possa adquirir requisitos mínimos
de exercício da cidadania na sociedade e instituições familiar, profissional,
política e cultural, precisa receber ampla formação que dificilmente se esgo-
taria em um nível situado aquém dos cursos universitários”. (RODRIGUES,
1988, p.71)

Figura 22. Requisitos para a formação educacional ampla

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Fonte: Autora (2021) baseado em Rodrigues (1988, p.71)

61
Diante do que se observa, a sociologia da educação acaba por
direcionar o sistema educacional a partir de duas realidades específi-
cas, quais sejam, consenso e conflito. Onde, no caso do consenso, a
sociedade é compreendida como um sistema que se baseia na ordem
social, que se caracteriza pela participação espontânea da população
em todo o processo. Ainda no que se refere à perspectiva do consenso,
a educação teria como objetivo principal a manutenção do consumo.
Já no que se refere aos aspectos do conflito, a sociedade é visualizada
como um sistema em pleno conflito em virtude do desequilíbrio causado
pelos elementos do poder que são identificados na sociedade. Nesse
sentido, de acordo com Rodrigues (1988, p.71), observa-se que:

“Os estudos sociológicos desenvolvidos em educação permitiram enfocar a


realidade sob dois prismas: o paradigma do consenso e o paradigma do con-
flito. Segundo o paradigma do consenso, a sociedade é vista como uma uni-
dade baseada numa ordem social, caracterizada por um consenso espontâ-
neo, tendo como preocupação principal os aspectos normativos e formais de
sua estrutura. A educação nessa perspectiva, tem por função integrar e man-
ter o consumo. Tem no evolucionismo, neoevolucionismo e funcionalismo as
linhas teóricas de sua sustentação. Por outro lado, segundo o paradigma do
conflito a sociedade é vista como um sistema de forças em desequilíbrio e
conflito tem marcas permanentes mantida por um consenso ideológico por
meio da força e do poder; cuja mudança social e análise do poder formam
a base de sua preocupação. Neste enfoque, a educação tem por função
estabelecer e manter a dominação. Neomarximo, utopismo e perspectiva we-
beriana são as suas principais linhas teóricas”. (RODRIGUES, 1988, p.72)
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

Figura 23. Consenso x Conflito

Fonte: Autora (2021) baseado em Rodrigues (1988, p.72)

62
Entretanto, a despeito dos tipos específicos que podem ser ob-
servados no processo educacional, seja de consenso ou de conflito,
sempre apresentaram certa fragilidade na consubstanciação dos as-
pectos do aprendizado, ou seja, nunca conseguiram apresentar uma
política educacional que pudesse influenciar diretamente na formação
da sociedade, em virtude de várias questões, como é o caso da má
distribuição de renda e da corrupção, conforme estabelece Rodrigues
(1988 p.72).

“A política educacional brasileira, seja quando marcada pela ideologia católi-


ca, seja quando marcada pela ideologia liberal laica, não alcançou as cama-
das populares do país que constituem a maioria da população brasileira. A
injusta distribuição dos bens culturais continuam correspondendo à desigual
distribuição dos bens econômicos”. (RODRIGUES, 1988 p.72)

E, como resultado deste processo necessário, observa-se que


a sociedade, no sentido de conseguir obter mudanças substanciais no
sistema educacional do país, começa a se organizar no sentido de mo-
bilizar todos os setores da sociedade para que se consiga observar uma
maior integração da sociedade tanto no sistema educacional, como
também, na própria sociedade.

Apesar desse quadro desolador que se estabeleceu na época os setores


políticos progressistas buscavam mobilizar as massas, reivindicando uma
série de reformas de bases para o país, principalmente nos setores eleitoral,
tributário, agrário e educacional. No campo educacional, queriam promover
uma crescente participação do povo no processo político do país; fomentan-

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


do os movimentos de cultura popular e fortalecendo as entidades sindicais e
comunitárias. (RODRIGUES, 1988, p.73)

Na formação social determinada, o sistema de ensino domi-


nante pode constituir o trabalho pedagógico dominante como traba-
lho escolar sem que os que o exercem, como que a ele se submetem,
cessem de desconhecer sua dependência relativa às relações de força
constitutiva da formação social em que ele exerce, porque ele produz
e reproduz, pelos meios próprios da instituição, as condições neces-
sárias ao exercício de sua função interna de inculcação, que são ao
mesmo tempo as condições suficientes da realização de função externa
no processo de reprodução da cultura legítima e da sua contribuição
correlativa à reprodução das relações de força, e porque, só pelo fato
63
de que existe e subexiste como instituição, ele implica as condições ins-
titucionais do desconhecimento da violência simbólica que exerce, isto
é, porque os meios institucionais dos quais dispõe, enquanto instituição
relativamente autônoma, detentora do monopólio do registro legítimo da
violência simbólica, estão predispondo a servir também sob a aparência
da neutralidade. (BOURDIEU e PÂSSERON, 1982, p.75)

A inspiração liberal humanista que caracterizava a Lei de Dire-


trizes e Bases/61 foi sufocada pela tendência tecnicista das Leis 5540
e 5692, que estão mais de acordo com o modelo tecno burocrático-
-capitalista-dependente adotado pelo regime militar. Assim, enquanto
o liberalismo presente na Lei de Diretrizes e Bases/61 preocupava-se
mais com a qualidade da educação, os fins educacionais, as aspirações
da personalidade individual, a cultura geral, o tecnicismo das Leis 5540
e 5692 passou a enfatizar, respectivamente, a quantidade da educação
pela ampliação massiva das escolas, com os métodos da tecnologia
educacional, as necessidades socioeconômicas do mercado de traba-
lho, a formação tecno-profissionalizante. (COTRIM, 1987, p.297).
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

64
TREINOS INÉDITOS
QUESTÃO 1
Leia atentamento o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente:
“A educação serve como base fundamental para direcionar os pro-
fissionais da educação, no sentido de construir novos contornos
no processo educacional, inclusive afastando-se de práticas ten-
denciosas”.
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 2
Leia atentamento o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente:
“O processo educacional se constrói a partir de um contexto social
e, em decorrência deste processo, observa-se que tanto o homem
é produto de uma sociedade quanto também a sociedade é um pro-
duto do homem”.
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 3
Leia atentamento o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente:
“A própria Sociologia surgiu no intento de se compreender a forma

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS


como as relações sociais se configuravam. Isso eclodiu especial-
mente com a instauração do sistema capitalista e seu desenvolvi-
mento a partir das revoluções industriais, que modificaram drasti-
camente as estruturas dessas relações”. (SCOTTÁ, 2012, online).
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 4
Leia atentamento o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente:
“Isso nos faz acreditar que a importância da sociologia para a
profissão docente se dá justamente na possibilidade de oferecer
recursos para que esses educadores possam instrumentalizar-se
desse repertório para desenvolver análises da sociedade e desse
modo ajudá-los a compreender o próprio lugar da educação na so-
ciedade e também compreender as relações das instituições edu-
65
cacionais com as demais instituições que constituem a sociedade,
bem como família, igreja, trabalho etc.” (SCOTTÁ, 2012, online)
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO 5
Leia atentamento o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna-
tiva correspondente:
“O ator da Sociologia da Educação de Bourdieu é o indivíduo iso-
lado, consciente, reflexivo e o sujeito determinado.” (SERPA, CA-
MARGO, 2018, p.03).
( ) Certo
( ) Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Explique o que seria um padrão habitual no âmbito da sociologia da


educação.

NA MÍDIA

SOCIOLOGIA: DEFINIÇÃO DA TEORIA DO CONFLITO DE MARX


A teoria do conflito teve origem na obra de Karl Marx, que focalizou
as causas e consequências do conflito de classes entre a burguesia
(os proprietários dos meios de produção e os capitalistas) e o proleta-
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

riado (a classe trabalhadora e os pobres). Enfocando as implicações


econômicas, sociais e políticas da ascensão do capitalismo na Europa,
Marx teorizou que este sistema, baseado na existência de uma podero-
sa classe minoritária (a burguesia) e uma classe majoritária oprimida (o
proletariado), criou um conflito de classes porque os interesses dos dois
estavam em desacordo e os recursos eram injustamente distribuídos
entre eles.
Fonte: Clara Ribeiro
Data: 2021
Leia a notícia na íntegra: https://noticiasconcursos.com.br/sociologia-de-
finicao-da-teoria-do-conflito-de-marx/. Acesso em 07 de julho de 2021.

NA PRÁTICA

ADESÃO À DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL


(1989–2018): CONSIDERAÇÕES A PARTIR DAS TEORIAS DA LEGI-
TIMIDADE POLÍTICA
66
Teorias da legitimidade possuem expectativas divergentes sobre a re-
lação entre longevidade institucional, escolarização e apoio ao regime.
Enquanto algumas defendem que a democracia equaliza os indivíduos
em termos de recursos, outras afirmam a natureza estrutural da de-
sigualdade. O artigo testa tais expectativas analisando os efeitos da
educação escolar sobre a adesão à democracia entre 1989 e 2018.
Combina dados de pesquisas de opinião de diferentes institutos nacio-
nais e internacionais sobre o Brasil e, por meio de técnicas de análises
de séries temporais e modelos logísticos, não identifica evidências de
ampliação do apoio à democracia entre os brasileiros. Aponta ainda,
que fatores de curto prazo interferem nas medidas de apoio e satisfação
com o regime e que os efeitos da escolaridade sobre atitudes democrá-
ticas são relevantes, especialmente sobre a adesão normativa.
Fonte: Julian Borba Ednaldo e Aparecido Ribeiro
Data: 2021
Leia na íntegra:
https://www.scielo.br/j/es/a/skht45jG8XkczQhPfz8btnH/abstract/?lan-
g=pt/. Acesso em: 20 de outubro de 2021.

PARA SABER MAIS

Filme sobre o assunto: Sociedade dos poetas mortos


Acesse os links: https://youtu.be/Qhg3GMHue-s Acesso em: 07/07/2021
e https://youtu.be/plnVjfpxICA em: 07/07/2021

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

67
CAPÍTULO 01

TREINOS INÉDITOS

GABARITOS

1. Certo
2. Certo
3. Certo
4. Certo
5. Certo

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Sendo assim, ao passo que o inconsciente possui um comportamento


que varia de acordo com seus desejos pessoais, poderá ter uma va-
riação sobre a maneira de pensar e de agir, ou seja, não existirá um
padrão de ação específico e, portanto, se perderá o foco que deseja
atingir, afinal de contas, o sujeito não estará agindo de acordo com uma
percepção de valor, mas talvez, em virtude de uma motivação social
que se apresenta o momento.
De outra forma, o sujeito incoerente agirá em conformidade com aquilo
que se deseja, mas sabendo exatamente que a sua conduta violará
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

valores morais, éticos e religiosos. Sendo assim, ao passo em que a


pessoa fragmentada não tem rumo, ou seja, não tem consciência da
sua realidade como pessoa que erra, o sujeito incoerente possui essa
dinâmica e, portanto, passa a ser considerado como sujeito hipócrita.
Como era de se esperar, toda essa arrogância redundou em fracasso
e numa ladeira escorregadia degenerou no relativismo, no descrédito
da razão humana e na fragmentariedade já descrita. Ora, pretenden-
do abarcar o todo e não o conseguindo, fracassando fragorosamente,
todo conhecimento passou a ser dividido em partes, tudo se fragmenta
e se torna relativo. Não há mais visão total possível. Ao pretender dar
um passo muito largo o homem quebra as pernas. (CABETTE, 2014,
online).
Numa derrocada final, emerge um jogo de “tudo ou nada”. A pretensão
de conhecer a totalidade fracassa e fracassam também as tentativas
de conhecimento compartimentado que se conformam como uma mi-
ríade de saberes contrastantes e confusos. Então, em um ato de puro
capricho, de birra pueril, vêm as teorias que desprezam completamente
68
a capacidade humana de conhecer. A busca obstinada pela sabedoria,
consciente de tratar-se de um trabalho de Sísifo, já não é honrosa o
bastante. Se o homem não pode ser divinizado, então acaba anima-
lizado e hoje vemos frequentemente zoólogos apresentarem estudos
supostamente antropológicos. (CABETTE, 2014, online).
A cisão verificada um século atrás entre a organização das práticas so-
ciais, as fronteiras políticas e as modalidades de formação de identida-
de levaram os sociólogos a defender enfaticamente a necessidade de
uma nova ordem social coesa. Eles não foram muito felizes na previsão
da forma como isso se daria. A divisão do trabalho social não produziu
a “solidariedade orgânica”, ao contrário do que previa Durkheim; apesar
do que disse Weber, a legitimidade das formas vigentes de dominação
permaneceu duvidosa nas sociedades europeias durante a primeira
metade do século XX. Mas os sociólogos contribuíram para identificar a
problemática política do seu tempo, assim como os recursos sociais e
cognitivos disponíveis para superar as discrepâncias entre identidades,
práticas e ordens políticas. (WAGNER, sem data, online).
Dessa maneira, não se pode deixar de perceber que a sociedade deve
ser compreendida a partir de um conjunto complexo de situações e,
não, de maneira isolada. E, para que isso possa ocorrer, faz-se neces-
sário estruturar diálogos integrais sobre o funcionamento da sociedade,
no sentido de perceber que a sociedade deve ser compreendida de
acordo com um quadro social integral.

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

69
CAPÍTULO 02

TREINOS INÉDITOS

1. Certo
2. A
3. Certo
4. Certo
5. Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O conhecimento epistemológico não é fruto apenas do conhecimento


sistêmico, mas também de processos de sínteses projetivas e, por isso,
torna-se necessário a construção. A relação da episteme com a realida-
de é um fato epistemológico, onde interpõe a correlação de forças na
produção do saber epistemológico. Portanto, nascem de relações com-
plexas de proporcionalidades, a construção e a fenomenalidade. Todo
conhecimento surge de fatos fenomenológicos, ou seja, realidades
concretas, sendo o resultado final o objeto construído, como realidade
fenomenológica pensada. Entretanto, a razão como sujeito cognoscen-
te dirige a realidade, o fato fenomenológico, em uma relação dialética,
surgindo o pensamento como análise científica produzida. (VASCON-
CELOS, 2015, online).
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

70
CAPÍTULO 03

TREINOS INÉDITOS

1. Certo
2. Certo
3. Certo
4. Certo
5. Errado

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando


todas as experiências passadas, funciona em cada momento como uma
matriz de percepções, apreciações e ações – e torna possível a reali-
zação de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências
analógicas de esquemas, que permitem resolver os problemas da mes-
ma forma, e às correções incessantes dos resultados obtidos, dialeti-
camente produzidas por esses resultados. (BOURDIEU, 1983, p. 65).

QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

71
Chegamos ao final da unidade, onde foi possível compreender
vários aspectos relacionados com a sociologia da educação através da
análise específica de vários pontos, quais sejam: crise da modernidade,
pós-empirismo e a realidade como construção, construtivismo estrutural
e aspectos macrossociais da realidade, a crítica da polaridade indivíduo
vs. sociedade, a dimensão simbólica da ordem social, as noções de
habitus e campo e, por fim, o construtivismo fenomenológico.
Sendo assim, logo no primeiro capítulo compreendeu-se como
o sistema social era pensado a partir de uma perspectiva tradicional e
como, após a mudança que a própria sociedade apresentou, se entende
os parâmetros da crise da modernidade. Portanto, foi possível entender
quais são os elementos essenciais deste processo e como o sistema
social deve se comportar para superar esta dinâmica social em crise.
Em seguida, analisou-se a situação da polaridade do indiví-
duo, os elementos relacionados com o construtivismo estrutural e seus
aspectos que intervém diretamente no funcionamento da própria socie-
dade. Ademais, foi possível compreender o funcionamento do construti-
vismo fenomenológico e sua relação direta com a ordem social.
Por fim, não menos importante, foi possível compreender a no-
ção sobre habitus e campus, as questões relacionadas com os aspectos
da sociologia da educação frente às teorias do conflito e do consenso.
QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

72
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QUESTÕES SOCIOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS - GRUPO PROMINAS

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