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FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS


FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

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FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu-
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ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo


importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.

Estude bastante e um grande abraço!

Professora: Tana Flávia de Albuquerque Santos


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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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Esta unidade abordará os princípios que fundamentaram a
construção da Fisioterapia, suas bases metodológicas e derivações,
com foco nos aspectos legais, conceitos e diretrizes. O objetivo desta
unidade é contribuir para uma formação abrangente, esquivando dos
modelos minimalistas que caracterizavam o ensino tecnicista que fez
parte do passado da profissão. Por fim, as informações compiladas
nesse material servem de modelo para a construção de uma visão
profissional que antecipe as tendências evolutivas da profissão, corro-
borando para o crescimento individual e consequentemente a valori-
zação da Fisioterapia.
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Fisioterapia. Saúde Coletiva. Sistema Único de Saúde.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA

A Fisioterapia no Mundo: do Surgimento Empírico à Construção


da Ciência _____________________________________________________ 13

História da Fisioterapia no Brasil: a Epidemia de Poliomielite e


o Início do Reconhecimento Profissional _______________________ 19

Recapitulando ________________________________________________ 28

CAPÍTULO 02
BIOÉTICA E ASPECTOS LEGAIS DA PROFISSÃO

Bioética: Uma Breve História, Conceitos e Definição _____________ 32

Bioética no Brasil ______________________________________________ 35

A Criação do COFFITO, CREFITTO e do Código de Ética e Deon-

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tologia da Fisioterapia e Terapia Ocupacional ___________________ 36

Habilidades e Competências do Fisioterapeuta _________________ 44

Legislação Aplicada à Fisioterapia – Leis e Decretos _____________ 46

Recapitulando _________________________________________________ 48

CAPÍTULO 03
ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO

A Construção do Sistema Público de Saúde Brasileiro __________ 53

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Princípios e Diretrizes do SUS ____________________________________ 56

Humanização das Práticas de Saúde Frente ao Paciente e a Po-


lítica Nacional de Humanização _________________________________ 61

Equipe Multidisciplinar de Saúde e Integração Multiprofissional _ 64

Recapitulando __________________________________________________ 68

Fechando a Unidade ____________________________________________ 73

Referências _____________________________________________________ 76
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A história da Fisioterapia é marcada por diversas fases da evolu-
ção sociocultural mundial, e pelos grandes fatos históricos que interferiram
diretamente na saúde física do ser humano. O processo de construção da
profissão seguiu uma linha evolutiva que acompanhou o desenvolvimen-
to econômico, tecnológico e as novas necessidades da sociedade. O in-
teresse inicial pelas terapias que envolvem recursos naturais e corporais
surgiu dos médicos, e isso justifica alguns pontos de interseção entre as
duas profissões, que ainda hoje é motivo de discussão e brigas judiciais.
O surgimento abrupto das práticas reabilitadoras pela medicina,
para atender a um grande contingente de pessoas com sequelas físicas,
devido à epidemia de poliomielite, das duas grandes guerras e da indus-
trialização, fez com que a Fisioterapia carregasse durante muitos anos,
uma característica tecnicista, que foi se dissolvendo ao longo dos anos e
da evolução técnico-científica dos profissionais. Apesar da legislação, na
prática, o Fisioterapeuta ainda precisa modificar o estigma do seu passa-
do e se impor perante a sociedade como um profissional independente.
Ainda que, a origem da Fisioterapia venha de uma profissão
paramédica, a necessidade de desenvolvimento extrapolou o controle
da classe, à medida que o aprimoramento profissional do fisioterapeuta
foi se mostrando necessário, para atender à crescente demanda popu-
lacional frente ao aumento da taxa de urbanização e o surgimento de
novas demandas de saúde.
No Brasil, a luta para a independência e regulamentação da
profissão ganhou força e apoio de grandes nomes da política e de pes-
soas influentes que foram atingidos pela epidemia de poliomielite. A
partir desses fatos deu-se início a construção dessa nova e promissora
área de atuação que trouxe incontáveis benefícios para a população. A
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compreensão desse contexto histórico, permite ao profissional quebrar
paradigmas que assolam a profissão e traçar soluções e estratégias
para desviar-se de obstáculos e modificar o rumo profissional.
O Fisioterapeuta deve abandonar a mentalidade focada exclusi-
vamente nas questões reabilitadoras, e aderir ao modelo de saúde mais
abrangente que a profissão adquiriu ao longo do processo, desde os tem-
pos mais antigos até se tornar uma profissão de nível superior, indepen-
dente, com autonomia profissional e em constante transformação. Para
isso é preciso entender os conceitos éticos que regem a profissão, os prin-
cípios bioéticos adquiridos pela sociedade, a legislação que surge para tra-
zer ordem e manter a paz, além de todas as outras necessidades sociais.
Diante dos fatos expostos, é imprescindível o conhecimento de
conceitos, princípios e diretrizes que regulamentam o sistema de saúde
nacional e as políticas nacionais sobre as práticas em saúde, da qual
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o Fisioterapeuta se tornou parte fundamental para a manutenção do
direito à saúde garantido pela constituição.
A Fisioterapia contemporânea não permite mais ao profissional
restringir-se em aplicar métodos e técnicas com perfeição, o profissional
que insiste nesse modelo retrógrado, contribui para a desvalorização
da classe. Os profissionais devem incorporar as novas tendências da
saúde mundial em sua prática clínica, por isso, a atualização constante
se faz necessária e obrigatória a todos.
Ante a importância da reformulação e envolvimento do profis-
sional com outras áreas do conhecimento, visando suprir as necessida-
des da sociedade e antecipar as tendências do mercado, o profissional
deve adequar a atuação em face dos novos conceitos e as novas políti-
cas nacionais de práticas em saúde.
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HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA

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A FISIOTERAPIA NO MUNDO: DO SURGIMENTO EMPÍRICO À
CONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA

O conhecimento acerca da origem da profissão e de sua cons-


trução cultural é indispensável para a compreensão e representação
dos valores profissionais e do seu objeto de trabalho. O entendimento
da Fisioterapia contemporânea exige uma visão crítica e ampla da his-
tória. Pode -se dizer que a Fisioterapia, não em sua configuração atual,
porém através da utilização de recursos naturais e do próprio movimen-
to do corpo humano, existe desde a antiguidade. Registros arqueológi-
cos ilustram os povos antigos utilizando o sol, água e até o peixe elétrico
(Electrophorus electricus) para o tratamento de enfermidades.
Um nome importante na Grécia antiga, que contribuiu para a
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evolução da terapia através do movimento e do estudo da anatomia,
foi Galeno (130 a 199 d.C.). Ele distinguiu nervos motores e sensiti-
vos, músculos agonistas e antagonistas e descreveu o tônus muscular.
Esses conceitos primários, despertaram o interesse da medicina sobre
novas possibilidades de tratamentos.
Durante a Idade Média, a forte influência religiosa desacelerou
o progresso científico da medicina, nesse período, o corpo era visto
como um recipiente e as enfermidades e incapacidades físicas como
castigo. A medicina, uma prática totalmente empírica naquela época,
passou por um processo de estagnação e desvalorização. A impossibili-
dade de realizar novos estudos de dissecação, prática condenada pela
igreja, gerou uma lacuna na história da medicina que continuou basean-
do seus tratamentos nos estudos rudimentares de Galeno:

As ordens religiosas eram inimigas do corpo. Os hospitais da idade média


tinham caráter eclesiástico estavam juntos dos mosteiros mais importantes e
suas salas de enfermos encontravam-se imediatamente ao lado das capelas,
havia, inclusive, altares nas salas dos enfermos não havendo local apropria-
do para realização de exercícios (LINDMAN,1975 Apud Barros, 2008).

Os egípcios e os persas continuaram os estudos durante a ida-


de média e, nesse período, protagonizaram a revolução dos avanços da
medicina e da descoberta de novas modalidades terapêuticas. Nessa
época, os exercícios e a terapia manual ganhavam espaço na medicina
do oriente, enquanto no ocidente, as influências religiosas e culturais
coibiam os cuidados com a saúde física e a valorização do corpo.
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Filme sobre o assunto: The Physsician/ O Médico (Univer-


sal, 2013)
Observação: o aluno deve refletir sobre os desafios en-
frentados pela ciência e pela medicina na idade média e o quanto
a cultura, os dogmas e paradigmas podem ser fatores limitantes
para o desenvolvimento da saúde.

Após esse período, a época da história compreendida como


Renascimento (séc. XV – XVI), abriu espaço para o movimento huma-
nista , onde havia a valorização da arte, política e dos aspectos rela-
cionados à saúde. Nessa época, a medicina começou a incorporar os
aspectos preventivos e não apenas curativos, além disso, houve um
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amento da preocupação com a manutenção da saúde dos indivíduos.
Em 1569, Jeronimus Mercurialis, lançou o Livro “A Arte da Ginásti-
ca”, que caracterizava cinco princípios para aplicação da ginástica médica:

1) exercícios para conservar um estado saudável já existente; 2) regularida-


de no exercício; 3) exercícios para indivíduos enfermos cujo estágio pode
exacerbar-se; 4) exercícios individuais para convalescentes e 5) exercícios
para pessoas com ocupações sedentárias (CARVALHO, 2018, p.85).

Durante a transição entre o Renascimento e a Industrializa-


ção (período compreendido entre os séculos XVIII e XIX) a medicina
foi incorporando em sua prática novos conceitos para acompanhar a
transformação social. Existem registros da utilização da eletricidade e
da hidroterapia na medicina no final do século XVIII. Embora a utilização
desses recursos constasse nos registros desde a antiguidade Roma-
na, apenas nessa época eles foram desenvolvidos e viraram objeto de
estudos para aplicação clínica na medicina (REBELATTO, 1999). Essa
época foi um marco do desenvolvimento técnico-científico na área da
saúde, impulsionado pelo surgimento e proliferação de novas doenças,
além de doenças ocupacionais e acidente de trabalho devido à debilida-
de das condições de trabalho impostas.
A partir do século XX alguns fatos históricos contribuíram para
a constituição e início da Fisioterapia enquanto profissão em diversos
países do mundo. Nesse século, a humanidade vivenciou três importan-
tes episódios que promoveram um crescimento excessivo de pessoas
que necessitavam de reabilitação: a epidemia de Poliomielite , a primei-
ra guerra mundial (1914-1918) e a segunda guerra Mundial (1939-1945)
(BARROS, 2008).
A primeira grande epidemia de Pólio nos Estados Unidos, em
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1916, infectou mais de 27.000 pessoas resultando em 6.000 mortes e
milhares de casos de paralisia flácida. Ao longo da epidemia, que durou
cerca de 40 anos, sendo controlada em 1955, o número de pessoas in-
fectadas, por ano, chegou a 38.000, sendo o pico de infecção em 1952,
com uma taxa de 35 para cada 100.000 habitantes. (BARROS, 2008).
A reabilitação durante a primeira guerra mundial se desenvol-
veu como uma área da medicina através dos centros de reabilitação.
A necessidade da criação desses centros se deu devido à redução im-
portante da mão de obra ativa de trabalho nos países participantes da
guerra. A partir dessa necessidade, a reabilitação foi tomando formas
e as prescrições médicas voltaram-se para a recuperação funcional do
indivíduo e não mais para o tratamento curativo.

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A Fisioterapia surgiu a partir da transição epidemiológica e
de novas demandas do estado de saúde dos indivíduos. As profis-
sões da área da saúde precisam acompanhar a evolução tecnoló-
gica bem como os profissionais precisam manter-se em constante
atualização, para que seus conhecimentos não se tornem obsoletos.

O surgimento de novos casos decorrentes das sequelas de


poliomielite, o aumento da complexidade, da variedade de casos de
distúrbios motores e as guerras fizeram com que os grupos de profissio-
nais, formados para atuar na reabilitação, organizarem-se para estudar
e evoluir as formas de tratamento.
Um médico militar da Bavária chamado Dr. Lorenz Gleich, em
1851, publicou, pela primeira vez, um artigo em que trazia o termo “Fisio-
terapia” e, posteriormente, em 1894, o médico Dr. Edward Playter sugeriu
a utilização do termo “Fisioterapia” durante uma apresentação na reunião
médica que acontece semestralmente em Montreal, no Canadá, para se
referir aos tratamentos utilizando recursos naturais (SHAIK, 2014).
Nessa reunião o Dr. Playter enfatizou a importância do uso de
agentes naturais antes da prescrição de drogas e encorajou os cole-
gas da medicina a realizarem pesquisas sobre esse campo de atuação.
Mais tarde, no mesmo ano, esse artigo foi publicado no Montreal Medi-
cal Journal e serviu de base para a formação de escolas de reabilitação
que surgiram em outros países.
Os primeiros cursos de Fisioterapia, no mundo, surgiram na
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Alemanha (1902), em Dresden, e na Inglaterra (1918). Nessa época,


estudos com a colaboração entre médicos e Fisioterapeutas deram ori-
gem aos métodos que são utilizados até hoje: Método Klapp para es-
coliose; Cinesioterapia respiratória e o Método Bobath , para tratamento
da paralisia cerebral (PETRI,2006).
A consolidação da Fisioterapia ocorreu nos Estados Unidos,
quando a profissão ganhou grande visibilidade, em decorrência da epi-
demia de Pólio e dos amputados da primeira guerra Mundial. Uma en-
tidade, denominada Mulheres Auxiliares dos Médicos ou Auxiliares de
Reabilitação, que era uma subdivisão do departamento médico do exér-
cito, teve uma grande representante, considerada a primeira Fisiotera-
peuta americana, que trabalhou na primeira guerra Mundial.
Em 1915, Mary McMillan, foi nomeada chefe dos Serviços de
Assistência e Reabilitação do maior Hospital militar da época. A fisiote-
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rapeuta americana foi uma das fundadoras do curso de Formação em
reabilitação de emergência, em 1917, denominado Reconstruction aide
ou auxiliares da reconstrução (LOW, 1992).

Imagem 1- Mary McMillan, primeira Fisioterapeuta (mãe da Fisioterapia).

Fonte: (APTA, 2017).

A parceria entre médicos e fisioterapeutas cresceu, o que impul-


sionou o reconhecimento público da profissão. Em 1921, Mary McMillan
fundou a primeira associação profissional chamada American Women’s
Physical Therapeutic Association, e incluía 274 membros fundadores.
Em 1922, homens foram aceitos e a associação mudou seu nome para
American Physiotherapy Association (APA) (LOW,1992).

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A Fisioterapia, inicialmente, era executada apenas por mu-


lheres. A figura feminina foi escolhida para essa prática porque re-
presentava delicadeza e sutileza. Mas as mulheres, Fisioterapeutas,
vislumbram-se como mulheres fortes. Elas começaram a ganhar
espaço como reabilitadoras e utilizavam recursos rígidos advindos
da medicina, modificando a falsa impressão de que Fisioterapia de-
mandava apenas delicadeza e impuseram sua força aliada à ciência.

Outro fato que marcou a história da Fisioterapia foi a infecção


por pólio do presidente americano, Franklin Roosevelt , em 1921, aos
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39 anos. Roosevelt necessitou da reabilitação e, durante o enfrenta-
mento da epidemia, que durou até a década de 50, ele foi o responsável
por criar a Fundação Nacional de Paralisia Infantil e investiu mais de
um milhão de dólares para o avanço de pesquisas da Fisioterapia no
combate à poliomielite paralítica (BARROS, 2008).

Imagem 2 - FranKlin Roosevelt em sua cadeira de rodas.

Fonte: Disponível em http://www.ibdd.org.br/images/franklin%20roosevelt.jpg


acesso dia 24/04/2020 às 00:51

Durante a Segunda guerra mundial (1939-1945), os fisiotera-


peutas eram responsáveis por toda a parte de reabilitação e os médicos
se dedicavam às cirurgias e outras práticas. O fisioterapeuta assumiu
as práticas de cinesioterapia para atender à grande demanda de pesso-
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as com incapacidades que surgiram nessa época.


Como Parte do processo de desenvolvimento da profissão de
fisioterapeuta a organização mundial da saúde criou a World Confede-
ration Physical for Therapy (WCPT) na Dinamarca, em 1951, e registrou
a adesão inicial de 13 países. A WCPT, até dezembro de 2001, contava
com mais de 82 países participantes, incluindo o Brasil. O congresso
da WCPT aconteceu pela primeira vez em 1953, em Londres, e reuniu
mais de 1500 participantes de 25 países. Esse congresso ainda acon-
tece bienalmente, sendo o último realizado em 2019, em Genebra, e o
próximo acontecerá em 2021 em Dubai (WCPT, 2016).
A Fisioterapia foi ganhando visibilidade, e com a epidemia de po-
liomielite se espalhando pelo mundo, ela chegou ao Brasil e, nessa época,
deu-se início à história da Fisioterapia no nosso país. O próximo tópico
discorrer sobre o surgimento e regulamentação da profissão no Brasil.
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HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA NO BRASIL: A EPIDEMIA DE POLIO-
MIELITE E O INÍCIO DO RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

Na época da colonização, a saúde no Brasil se resume em


tratamentos realizados por padres Jesuítas, pajés, curandeiros africa-
nos e médicos trazidos pelos colonizadores (portugueses, holandeses
e espanhóis). Com a saída da Família Real Portuguesa do Brasil, sur-
giu a necessidade da formação de recursos humanos para atender as
famílias dos grandes monarcas que continuam instalados aqui. Dessa
forma, em 5 de novembro de 1808 surgiu o primeiro curso de Medicina,
pela Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, conhe-
cida atualmente como Faculdade de Medicina da Universidade Federal
do Rio de janeiro (REBELATTO,1999).
Os primeiros médicos formados no Brasil, durante suas via-
gens e contato com médicos de outros países, principalmente do conti-
nente europeu, conheceram a utilização de recursos elétricos e hídricos
para o tratamento de sequelas físicas. O médico Artur Silva, ainda no
século XIX, participou da criação do primeiro Serviço de Fisioterapia do
Hospital da Misericórdia do Rio de Janeiro, em 1884 (BARROS, 2008).
Na virada no séc. XIX para o séc. XX, o interesse dos médicos
pela área da fisioterapia começou a crescer muito. Nessa época surgi-
ram as primeiras defesas de tese para obtenção do título de Doutor cujo
assunto contextualizava o momento vivido pelos médicos e a importân-
cia da utilização da fisioterapia.
Já no século XX, o médico Adolpho Gomes Pereira, defendeu
sua tese de doutorado cujo título era: “Physiotherapia” (como era escrito
na época). Em sua defesa podemos destacar uma citação que demons-
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trava o grande interesse dos médicos a respeito da Fisioterapia e seu
futuro promissor:

O estado actual da Physiotherapia, como o demonstram recentes e impor-


tantíssimos trabalhos, é o mais auspicioso possível, se levarmos em consi-
deração o meticuloso estudo e extensa aplicação que lhe outorgam os paizes
civilizados do velho mundo[...] Guimball em seu arrojo convencido profetiza-
va-lhe (a Physiotherapia) o domínio absoluta na medicina do futuro.” (PEREI-
RA, 1904 apud BARROS, 2008).

Em 1919, a fisioterapia no Brasil inicia sua história com a cria-


ção do departamento de eletricidade médica pelo professor Raphael de
Barros, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Isso
despertou o interesse de outros médicos e, em 1929, o Dr. Waldo Rolim
Moraes instalou o serviço de Fisioterapia no Hospital da Santa Casa de
19
Misericórdia de São Paulo. O Dr. Rolim e o Dr. Raphael de Barros foram
os grandes precursores da fisioterapia no Brasil, enquanto profissão.
(MARQUES,1994)
Alguns anos após a implementação dos serviços de fisiotera-
pia, na década de 30 do século XX, diversas capitais brasileiras foram
fortemente afetadas pela paralisia infantil, provocada pela epidemia de
poliomielite. Então, luta pela implementação da Fisioterapia que já havia
sido estimulada pela primeira guerra mundial, transformou-se em uma
corrida contra o tempo, sendo o período de maior crescimento de estu-
dos e pesquisas sobre reabilitação no país.
O primeiro curso de Fisioterapia no Brasil surgiu em 1951, na
Universidade de São Paulo (USP). A formação era de nível técnico, com
duração de 1 ano, em período integral. Os “Fisioterapistas” como eram
chamados na época, apenas aprendiam a executar técnicas e ligar e
desligar aparelhos. Todas as condutas e diagnósticos eram realizadas
pelos médicos responsáveis pelo setor de reabilitação.
Em 1953, a poliomielite, doença mais temida do século XX,
atingiu uma taxa de infecção de 21,5 pessoas por 100 mil habitantes,
no Rio de janeiro. Nos Estados Unidos, nessa mesma época, o número
de infectados chegou a 57.900 casos. Médicos travavam uma disputa
contra políticos que negavam a epidemia, mas a sociedade já sofria
com o aumento no número de casos de crianças com paralisia cerebral.
Uma matéria publicada no jornal mais circulado da época, Correio da
Manhã, estampava em sua capa o título: “A sombra da invalidez sobre
a coletividade” (BARROS, 2008).
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Filme sobre o assunto: A vacina que mudou o mundo – Do-


cumentário (2010)
Acesse o Link: https://www.youtube.com/watch?v=4Ew-
6TybMTNs e https://www.abbr.org.br/abbr/historico/abbr_na_li-
nha_do_tempo.html
Observação: o documentário descreve os impactos da do-
ença sobre a sociedade e os desafios da medicina para encontrar
a vacina e reabilitar os milhares de infectados que sobreviveram,
mas tiveram que enfrentar a paralisia.

A implementação da Fisioterapia no Brasil sofreu grandes influ-


ências políticas, interesses da classe médica, necessidade social e um
20
fator que faz parte da essência da profissão, a Filantropia. Em 1954 um
grupo da alta sociedade brasileira (classe muito atingida pela pólio, cerca
de 60% dos infectados pertenciam às classes mais favorecidas) se uni-
ram para criar uma associação beneficente com o objetivo de promover a
recuperação das vítimas da paralisia infantil ou acidentes, em um centro
especializado de reabilitação. Foi assim que surgiu a Associação Brasileira
Beneficente de Reabilitação (ABBR), idealizada por dois grandes empre-
sários da época e tendo como primeiro presidente Percy Charles Murray,
paraplégico e presidente do The National Citibank (BARROS, 2008).

Imagem 3: Matéria sobre ABBR no Jornal O GLOBO em 1956

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Fonte: Acesso dia 26/04/2020 às 22:57 Disponível em: https://www.abbr.org.


br/abbr/historico/abbr_na_linha_do_tempo.html

Um dos membros do conselho da ABBR, Celso da Rocha Mi-


randa, tinha fortes ligações com Juscelino Kubitschek e foi um dos prin-
cipais responsáveis pela arrecadação de fundos para a campanha de
JK à presidência. A proximidade entre Juscelino e Celso garantiram o
engajamento do então candidato à Presidência, que enquanto governa-
dor do Estado de Minas Gerais, juntamente de sua esposa Sarah Ku-
bitschek, já eram grandes apoiadores de causas sociais e filantrópicas.
Os primeiros pavilhões da ABBR eram feitos de madeira, cerca de 40
toneladas doadas pela esposa de Juscelino (BARROS, 2008).
21
Sarah Kubitschek foi reconhecida como a primeira dama
mais atuante da história, ela fundou em Minas Gerais, no ano de
1956, a Fundação das Pioneiras Sociais. Em 1960, quando Jusceli-
no se tornou presidente, a fundação se transformou no maior com-
plexo de reabilitação do país, com a primeira sede em Brasília. O
Centro de Reabilitação, que leva o nome da primeira dama, até hoje
é uma das grandes referências em reabilitação do país. Acesse o
link : http://www.sarah.br/a-rede-sarah/nossa-historia/

Imagem 4: O presidente da República Juscelino Kubitschek e sua esposa, jun-


tamente com a Sra. Malu R. Miranda, representante da ABBR na inauguração.
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Fonte: disponível em: http://www.abbr.org.br/relatorios/relatorio2005/historico.


htm acesso dia 26/04/2020 às 23:48.

O surgimento da ABBR marca um fato importante sobre o de-


senvolvimento da Fisioterapia enquanto profissão independente e da au-
tonomia dos futuros reabilitadores da época. Os cursos de formação de
fisioterapeutas no Brasil ainda eram precários e a formação de caráter
técnico dificultava a expansão profissional e, dessa forma, havia pou-
cos profissionais para atender às demandas da associação. Com isso,
a ABBR criou, em 1957, o primeiro curso com a finalidade de diplomar
Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais. Em 1957, o curso sofreu mo-
dificação e a duração foi ampliada para 3 anos (BARROS, 2008).
Para que a formação atendesse aos padrões internacionais e às
22
necessidades da ABBR, foi necessário trazer duas fisioterapeutas estran-
geiras, a Dra. Edith MacConnel (Escócia) e a Dra. Ann Winter (Canadá),
para ministrar as aulas. Como elas não falavam português, as aulas eram
traduzidas pela aluna Wanda Lechowski, esse então se tornou o primeiro
curso a ser ministrado por fisioterapeutas no Brasil (CARVALHO,2018).
Em 1959 foi fundada a Associação Brasileira de Fisioterapeu-
tas (ABF), em São Paulo, com o objetivo de unificar a classe e somar
forças entre os fisioterapeutas de todo o país. Esse fato contribuiu para
o início da luta para o reconhecimento da profissão. A ABF foi reconhe-
cida em nível internacional pela WCPT em 1963, o que assegurou diver-
sos benefícios aos fisioterapeutas da época (BARROS, 2008).
A primeira conferência patrocinada pela ABF ocorreu em 1962,
em uma das publicações realizadas durante a conferência, era notória
a insatisfação dos fisioterapeutas com relação à intervenção de outros
profissionais no processo de reabilitação e citava a importância da auto-
nomia profissional. Além disso, é possível observar a movimentação da
classe em prol do seu objetivo de regulamentação da profissão:

[...] Verificam-se assim intromissões incompreensíveis de certos círculos so-


bre outros que ainda estão em fase de desenvolvimento, negando-se-lhes
assim, a capacidade de dirigirem seus assuntos de Motu Próprio, e resulta
do paradoxo demais, quando isso acontece num país tão exuberante demo-
crático como o Brasil. Deve-se extinguir para sempre, a falsa paternidade
de constituírem-se indevidamente em advogados de terceiros. O direito à
soberania individual e profissional é inviolável. Defendendo e usando desse
direito, nos encontramos perfeitamente aptos e capacitados para traçar o
futuro da profissão de Fisioterapeutas[...] (ABF, 1962 Apud BARROS, 2008).

Após a conferência, a ABBR e a USP entraram com um pedido


de implementação de um currículo mínimo para a Formação do Fisiote-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
rapeuta nas instituições. O conselho federal de Educação, estabeleceu
o parecer 388/63 homologado através da portaria 511/64 do MEC, com
as exigências mínimas para o currículo de formação universitária.
Em 1969, o Brasil ainda não contava com um número de institui-
ções suficiente para formar fisioterapeutas, uma das dificuldades era a falta
desses profissionais com especialização para assumir as cadeiras de do-
centes das instituições. A WCPT, observando a dificuldade dos países, em
especial da América do sul, promoveu o primeiro curso para professores
latino-americanos. Cada país enviou 2 profissionais, o Brasil enviou pro-
fessores da USP, que voltaram com o título de Mestre (MARQUES, 1994).

23
A Regulamentação da Profissão no Brasil

Após o surgimento da ABF, a ABBR começou a empreender


esforços para regulamentar a profissão de fisioterapeuta, tendo em vis-
ta a expansão da reabilitação no país. Dessa forma, as associações ini-
ciaram o processo apresentando dois projetos ao congresso nacional.
O projeto de lei nº 4.789 de 1958, foi apresentado, inicialmen-
te, por um deputado apoiador da causa. O documento elaborado era
um resumo do regimento interno da EERJ e da USP, onde citavam o
processo de formação profissional. A justificativa do deputado perante
a comissão era que a profissão já havia sido regulamentada em países
como Estados Unidos e Inglaterra, além do fato de que centros de rea-
bilitação encontrava-se em pleno funcionamento. Esse projeto passou
pela comissão de educação, mas não foi aprovado pela comissão de
Saúde. Na ocasião, a justificativa do relator foi que os cursos de forma-
ção não atendiam aos padrões internacionais para formação de profis-
sionais e então o projeto foi arquivado (BARROS, 2008).
Diante das dificuldades em aprovar a regulamentação da classe,
após essa primeira tentativa, a ERRJ da ABBR, instituiu uma comissão
para desempenhar o papel de adequar a estrutura do curso e preparar a
documentação exigida. Isso ocorreu em 1961, quando uma nova tentativa,
desta vez através do Conselho Nacional de Educação (CNE) foi aceita e o
processo foi encaminhado para o reconhecimento em outros órgãos res-
ponsáveis. Porém, por um infortúnio do destino ou uma interferência políti-
ca, no final desse mesmo ano a lei de Diretrizes e Bases do sistema edu-
cacional, extinguiu o CNE e fundou o Conselho Federal de Educação, que
ficou responsável pela análise dos processos da CNE (MARQUES, 1994).
Na ocasião, o Médico e ex-Ministro da Educação e Cultura,
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Clóvis Salgado , nomeado relator desse caso, apresentou um parecer


de três páginas em que concluía que: “Fisioterapia, Enfermagem e ou-
tras, eram atos, apenas meras ocupações”. Nesse momento da história,
era nítida a preocupação da classe médica em não perder o controle
sobre as demais profissões (BARROS, 2008).
Em 1963, houve uma nova tentativa de aprovar a regulamen-
tação da profissão no Brasil. Para isso, o deputado João Vieira, acres-
centou uma cláusula no texto apresentado anteriormente pelo deputado
Portugal Tavares. O novo artigo incluía a carga horária mínima de for-
mação de 2500 horas, sendo 1000 horas teórico-práticas e 1500 horas
de treinamento supervisionado. Porém, havia um artigo que condiciona-
va o exercício da fisioterapia e terapia ocupacional à supervisão médi-
ca. Em sua justificativa o deputado citou: “E quem tem a felicidade de ter

24
filhos sadios, tem a obrigação de doar algo para a causa da reabilitação,
esse é o lema da ABBR” (BARROS, 2008, p. 950).

Nessa época iniciou-se a disputada pelo “mercado da saú-


de”, que estava em franca ascensão e era dominado exclusivamen-
te pela medicina. Porém, a necessidade e a luta pelo direto à saúde,
abriu espaço para profissões novas e promissoras, como é o caso
da Fisioterapia. Esse fato desagradou a muitos nomes importantes
da História da medicina, que serão citados nos próximos parágra-
fos. Essa disputa segue até os dias atuais, onde profissões bus-
cam exclusividade em técnicas e práticas que são compartilhadas.

A hipótese de que a classe médica havia se mobilizado para


não perder o controle sobre a área da saúde se reafirma após a publica-
ção do parecer 388/63, também elaborado pelo médico Clóvis Salgado,
em que dizia:

Insisto na caracterização desses profissionais como auxiliares médicos, que


desempenham tarefas de caráter terapêutico sob a orientação e responsabi-
lidade do médico. A esse, cabe dirigir, chefiar e liderar a equipe de reabilita-
ção, dentro da qual são elementos básicos: o médico, o assistente social, o
psicólogo, o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional. Acrescento ainda que
não compete aos dois últimos o diagnóstico da doença ou da deficiência a
ser corrigida. Cabe-lhes, executar, com perfeição, aquelas técnicas, aprendi-
zagens e exercícios recomendados pelo médico (Barros 2008).
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
Esse parecer, emitido pela comissão, que foi ao plenário do
Conselho Federal de Educação, sugeriu ainda que fossem incluídos os
termos “técnico em fisioterapia” e não aceitaram a proposta de currículo
apresentada pela ABBR, alegando que preferiam um currículo exequível,
sugerindo que a formação de um fisioterapeuta deveria ser simplória.
Em 23 de julho de 1964 o ministério da educação, coordenado
pelo Ministro Luís Antônio da Gama e Silva definiu, pela primeira vez, o cur-
rículo mínimo dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. No dia 26
de novembro de 1965, o presidente Castello Branco , concedeu, por meio
do decreto 57.363, à Escola de Reabilitação do Rio de janeiro (ERRJ), per-
tencente à ABBR, o reconhecimento dos cursos de Fisioterapia e Terapia
ocupacional, sendo assim, permitidas a emitir diplomas (BARROS, 2008).
Em 1969, no auge do regime militar, por meio do decreto-lei 938
25
do dia 13 de outubro desse mesmo ano, a Fisioterapia foi regulamentada
enquanto profissão de nível superior. Esse mesmo decreto estabelece
como privativa ao fisioterapeuta a atuação na área da Fisioterapia.

Acesse o Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre-


to-lei/1965 1988/Del0938.htm
Observação: o decreto lei 938/69 é o mais importante da
história da nossa profissão, é importante que o aluno faça a leitura
na íntegra. Além disso, ele está presente nas questões da maioria
dos concursos públicos da nossa área.

A Dra. Sônia Gusman, um grande nome da Fisioterapia no Bra-


sil que, na época, era presidente da ABF, relatou algumas vezes em
entrevistas que um dos fatos que contribuiu para a regulamentação da
Fisioterapia foi o acidente vascular encefálico (AVE) sofrido pelo presi-
dente Costa e Silva. Ele recebeu atendimento fisioterapêutico e passou
a enaltecer a profissão. A junta militar que assumiu o poder após a mor-
te de Costa e Silva regulamentou a profissão.
Em 1970, a Universidade de São Paulo, através da portaria 1025,
decretou que os certificados de conclusão dos cursos de Técnico em Fisio-
terapia e Terapia Ocupacional, expedidos pelo Instituto de Reabilitação da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, nos anos de 1958-
1966, seriam considerados, para efeito de direito, equivalentes aos diplo-
mas expedidos nos termos do regulamento 938/69 (MARQUES,1994).
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Uma tentativa frustrada da comissão de saúde do Congresso


Nacional, formada por médicos, aprovou o projeto de lei nº 2090, que
tinha como objetivo substituir o texto do decreto 938 e acrescentar o ter-
mo técnico em fisioterapia e condicionar a atuação desses profissionais
à supervisão médica. Porém, em votação no congresso ele foi derrota-
do e arquivado em 1972 (BARROS, 2008).
Após a regulamentação da profissão, o número de cursos de
formação e alunos interessados em ingressar foi crescendo exponen-
cialmente. Antes da regulamentação, no Brasil, havia apenas 6 cursos
de Fisioterapia. No período de 15 anos após o decreto surgiram 16 no-
vos cursos, totalizando 22 cursos de Fisioterapia no Brasil no ano de
1984 (BISPO JR, 2009).
Considerando todos os entraves enfrentados pelos profissio-
nais e demais integrantes da sociedade civil interessados na evolução
26
da fisioterapia, é possível compreender fatos que ainda assolam a pro-
fissão na atualidade. A compreensão desse contexto ilustra a disputa
entre fisioterapeutas e médicos sobre o controle do processo de reabi-
litação. Por mais ultrapassado que isso pareça, ainda é uma realidade
em algumas instituições.
O fisioterapeuta, após 50 anos de regulamentação da profissão
como uma área de atuação independente, por vezes, precisa explicar
e orientar o paciente sobre sua autonomia profissional e se posicionar
como um profissional de primeiro contato.
Alguns médicos, principalmente os mais experientes, ainda
mantêm a prática ilegal de encaminhar pacientes aos fisioterapeutas
prescrevendo tratamentos, como acontecia quando a fisioterapia era
ligada à medicina. Cabe aos fisioterapeutas identificarem esses atos e
notificarem aos órgãos competentes para que o profissional seja notifi-
cado do ato ilícito e modifique sua conduta.
A Fisioterapia no Brasil, passou por diversas fases nas últimas
décadas. Em alguns momentos, foi possível observar uma perda da au-
tonomia profissional, desvalorização, profissionais desmotivados e que
acataram as ordens de profissionais de outras áreas como se houvesse
uma hierarquia.
Essa realidade foi se transformando quando o fisioterapeuta
conquistou seu espaço no mercado e alguns nomes importantes da fi-
sioterapia no Brasil se destacaram internacionalmente, elevaram o nível
técnico-científico da profissão, conquistaram o respeito de outros profis-
sionais e o reconhecimento da sociedade.
Com a evolução da atuação do fisioterapeuta, demonstrado atra-
vés de resultados, a sua importância para a qualidade de vida da popula-
ção, a profissão foi seguindo um curso de ascensão e, atualmente, vem
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sendo cada vez mais reconhecida e valorizada por sua complexidade e
importância. Portanto, após ter conhecimento da origem e da evolução
da profissão, torna-se mais fácil compreender a procedência de algumas
práticas que devem ser abolidas para que se possa valorizá-la.

27
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2019 Banca: Inst. AOCP órgão: Prefeitura de Vitória – ES Pro-
va: Inst. AOCP-2019- Fisioterapeuta Nível: Superior.
A fisioterapia é uma arte milenar, profissão que já vem sendo pra-
ticada desde os nossos antepassados, época em que o homem
pré-histórico buscava o sol, as águas frias para amenizar a sua
dor, entretanto, no Brasil, seu reconhecimento ocorreu muito após
essa época e foi um importante marco que reconheceu a profissão
e regularizou suas atribuições. Sobre o reconhecimento da profis-
são de fisioterapeuta, analise as assertivas e assinale a alternativa
que aponta a(s) correta(s):
I. Ocorreu por Meio de c=decreto de lei nº 938, de 13 de outubro de
1969, completando 50 anos de profissão no Brasil em 2019.
II. O conselho Federal de fisioterapia (COFFITO) foi criado antes
do reconhecimento da profissão.
III. Antes do reconhecimento da profissão, o fisioterapeuta era defini-
do como auxiliar do médico e havia cursos de técnico em fisioterapia.
a) Apenas I e II.
b) Apenas I e III.
c) Apenas II e III.
d) Apenas I.
e) Apenas II.

QUESTÃO 2
Ano: 2019 Banda: OPPUS órgão: Crefito-4 Prova: Agente Fiscal Fi-
sioterapeuta-4 Nível: Superior.
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Assinale a alternativa que NÃO pertence ao Decreto-lei nº 938, de


13 de outubro de 1969, que provê sobre as profissões de Fisiotera-
peuta e Terapeuta Ocupacional e dá outras providências:
a) É assegurado o exercício das profissões de Fisioterapeuta e Tera-
peuta Ocupacional, observado o disposto no presente Decreto-lei.
b) É atividade privativa do Fisioterapeuta, executar métodos e técnicas
fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a
capacidade física do cliente.
c) O livre exercício da profissão de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupa-
cional, em todo território nacional, somente é permitido ao portador de
Carteira Profissional expedida por órgão competente.
d) O Grupo da Confederação Nacional das Profissões Liberais, constante
do Quadro de Atividades e Profissões, anexo à Consolidação das Leis do
Trabalho, aprovado pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, é
28
acrescido das categorias profissionais de Fisioterapeuta, Terapeuta Ocu-
pacional, auxiliar de fisioterapia e auxiliar de terapia ocupacional.
e) O Fisioterapeuta e o Terapeuta Ocupacional, diplomados por escolas
e cursos reconhecidos, são profissionais de nível superior.

QUESTÃO 3:
Ano: 2015 Banca: UNIUV órgão: UNIUV Prova: Fisioterapeuta-Pre-
feitura de Jaguariaíva /PR Nível: Superior
Sobre o Decreto Lei n. 938, de 13 de outubro de 1969, que provê
sobre as profissões de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional,
julgue os itens como verdadeiros (V) ou falsos (F) e depois assina-
le a alternativa correta:
( ) O profissional Fisioterapeuta pode, no seu campo de atividade
específica, dirigir serviços em órgão e estabelecimentos públicos
ou particulares;
( ) O Fisioterapeuta pode, no seu campo de atividade específica, su-
pervisionar profissionais e alunos em trabalhos técnicos e práticos;
( ) Ao fisioterapeuta é proibido, no seu campo de atividade espe-
cífica, exercer o magistério nas disciplinas de formação básica ou
profissional, de nível superior.
a) ( ) V, V, V;
b) ( ) F, F, F;
c) ( ) V, F, V;
d) ( ) F, V, F;
e) ( ) V, V, F.

QUESTÃO 4:
Ano: 2015 Banca: CONPASS órgão: CONPASS Prova: Fisiotera-
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peuta-Prefeitura de Teixeira/PB Nível: Superior
O Decreto Lei 938/69 relata em seu artigo 3º que:
a) Os fisioterapeutas são “auxiliares médicos que desempenham tarefas
de caráter terapêutico sob a orientação e responsabilidade do médico”.
b) “Fica aprovado o Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Tera-
pia Ocupacional”.
c) “O fisioterapeuta é profissional competente para buscar todas as in-
formações que julgar necessárias no acompanhamento evolutivo do tra-
tamento do paciente sob sua responsabilidade...”.
d) “É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas
fisioterápicas com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a
capacidade física do paciente”.
e) O referido Decreto Lei cria o Conselho Federal e os Conselhos Re-
gionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
29
QUESTÃO 5:
Referente à Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara
de Ensino Superior nº 4, a formação do Fisioterapeuta tem por obje-
tivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exer-
cício das seguintes competências e habilidades gerais, EXCETO:
a) Práticas profissionais.
b) Tomada de decisões.
c) Atenção à saúde.
d) Comunicação.
e) Liderança.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Conhecer a história da profissão, suas raízes e influências, é de suma
importância para entender os conflitos, avanços e objetivos da formação
profissional. Um dos grandes desafios enfrentados pela Fisioterapia, na
atualidade, é provar para A sociedade que as bases tecnicistas foram rom-
pidas. Para isso, a formação profissional precisa deixar de ser reducionista
e valorizar os conhecimentos que estão além do caráter reabilitador. Co-
mente acerca do trecho publicado por Clóvis Salgado enquanto relator do
processo de regulamentação da profissão através do parecer 388/63.

TREINO INÉDITO
A morte de qual presidente precedeu e influenciou a regulamenta-
ção da Fisioterapia no Brasil?
a) Castello Branco
b) Juscelino Kubitschek
c) João Goulart
d) Costa e Silva
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

e) Jânio Quadros

NA MÍDIA
FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL - HÁ 50 ANOS REABILI-
TANDO VIDAS NO BRASIL
Ao longo desses 50 anos observamos o amadurecimento, a transforma-
ção e o crescimento técnico e científico dessas duas profissões de forma
exponencial. O Fisioterapeuta é o profissional da área da saúde respon-
sável por devolver a funcionalidade da pessoa, permitindo que ela viva
com mais qualidade cada movimento, seja na infância, na vida adulta ou
durante o envelhecimento. Como especialista do movimento humano ele
compreende os impactos das manifestações das doenças e disfunções
no corpo e ajuda a organizá-las, tratando, minimizando incapacidades,
corrigindo, cuidando, fortalecendo para que o indivíduo desenvolva suas
30
atividades sem dor ou dificuldades em sua melhor performance possível.
Hoje o Fisioterapeuta é profissional de primeiro contato, não necessário
encaminhamento de outros profissionais para buscar os seus serviços,
não tendo subordinação a qualquer outra profissão da saúde. Através do
seu diagnóstico ele prescreve seu próprio tratamento e define juntamente
com seu paciente a sua conduta clínica. Essa é a identidade da Fisiotera-
pia, seu DNA e queremos continuar evoluindo em prol de uma sociedade
com mais qualidade de vida por mais 50 anos.
Fonte: G1
Data: 14 de out. 2019
Leia a Notícia na íntegra: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/especial-
-publicitario/conselho-regional-de-fisioterapia/noticia/2019/10/14/fisiotera-
pia-e-terapia-ocupacional-ha-50-anos-reabilitando-vidas-no-brasil.ghtml.

NA PRÁTICA
O Fisioterapeuta, ao longo da sua formação profissional, enfrenta grandes
desafios. Valorização e reconhecimento são lutas que a categoria enfrenta
desde que os primeiros profissionais se formaram, entenderam que reabili-
tar vai além de executar técnicas. Conhecer a origem dos julgamentos tec-
nicistas da fisioterapia, ainda praticado por profissionais de outras áreas,
possibilita ao fisioterapeuta argumentar e impor os direitos que lhe cabe.
Aquele profissional que não conhece as origens da profissão, não será
capaz de compreender seu objeto de trabalho, tampouco valorizar as con-
quistas adquiridas ao longo do tempo. Uma formação voltada para execu-
ção de técnicas, faz parte da história da profissão, uma história em que a
autonomia não fazia parte do contexto vivenciado pelos profissionais.
A formação do fisioterapeuta como profissional da área da saúde, não
pode se limitar a tratar a doença. Para entender isso, é necessário con-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
frontar a realidade da profissão nos primórdios de sua existência com
a complexidade na qual o profissional deve estar preparado para atuar.
Contextualizar e adaptar os conhecimentos adquiridos nesta unidade,
proporcionará autonomia profissional, garantida por lei, na prática. Para
compreender um como um fato ocorreu é necessário utilizar os vestí-
gios deixados no passado.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto: A Primeira Guerra Mundial foi positiva para a
Medicina?
Acesse os links: https://www.nato.int/docu/review/2014/war-medicine/
WWI-WW1-Health-care-medicine/PT/index.htm

31
BIOÉTICA E ASPECTOS LEGAIS
DA PROFISSÃO
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

BIOÉTICA: UMA BREVE HISTÓRIA, CONCEITOS E DEFINIÇÃO

Após o término da segunda Guerra Mundial, registros e relatos


de crimes e atrocidades, praticadas por médicos nazistas nos campos
de concentração, vieram à tona. Pesquisas e fotos com experimentos
cruéis realizados nos prisioneiros, deram início a um longo e importante
julgamento dos médicos que praticam esses crimes em nome da ci-
ência. O Julgamento teve início em 1947 e se prolongou até 1949, foi
necessário reunir uma corte formada por juízes dos Estados Unidos, na
cidade de Nuremberg, na Alemanha (LOPES, 2014).
Esse fato histórico conhecido como Julgamento de Nurem-
berg, resultou na elaboração de um conjunto de preceitos éticos, prin-
cipalmente no que tange às pesquisas clínicas envolvendo pessoas,
3232
conhecido como código de Nuremberg (Nuremberg code, 1949). Um
dos grandes juristas brasileiros e professor de grandes instituições de
ensino de direito, descreveu a importância do julgamento e seu legado,
em um estudo publicado em 2012:

Nuremberg foi a base do atual Tribunal Penal Internacional, órgão capaz de


julgar pessoas que cometem crimes contra a humanidade, crimes contra a
paz e genocídio. Ele representou o primeiro passo na tentativa de preserva-
ção dos direitos humanos (ROCHA, 2012 Apud LOPES 2014).

Filme sobre o assunto: O Julgamento de Nuremberg - 2000


Acesse o Link: https://www.youtube.com/watch?v=qRw1gIp8J_s
Observação: grande parte do contexto do filme demonstra
o início dos questionamentos acerca dos direitos humanos e de
questões éticas, quando a corte contesta os direitos dos acusa-
dos. Apesar de ter sido um fato importante para a história e marcar
a evolução da humanidade diante dos conceitos bioéticos, o julga-
mento foi criticado por ferir o princípio da legalidade.

Embora a criação do Código de Nuremberg tenha sido um mar-


co histórico e importante para a garantia da ética e dos direitos huma-
nos e, apesar de em suas primeiras linhas especificarem que as pes-
soas envolvidas em estudos experimentais deveriam ter a autonomia e
independência para consentir e compreender o processo dos estudos,
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experimentos perversos e abusivos foram largamente praticados nos
Estados Unidos entre as décadas de 60 e 70.
Esse fato ocorrido na medicina Norte-americana, levantou
questionamentos sobre os textos do código de Nuremberg e, em 1966,
um professor acadêmico chamado Henry Beecher, dotado de um pen-
samento progressista citou: “... a ideia de que o consentimento foi obtido
assume pouca importância a não ser se o sujeito ou seu responsável
tenha a capacidade de compreender o que está sendo feito...” (BEE-
CHER, 1966 Apud LOPES, 2014, p.267).
Outro fato histórico que marca o início do surgimento da bio-
ética no mundo foi a Declaração de Helsinki. Em 1964, a Associação
Médica Mundial (AMM) instituiu a Declaração de Helsinki, um documen-
to eximido de direitos legais, mas pelo consenso é ainda hoje uma das
referências éticas mais importantes para a regulamentação das pesqui-
33
sas envolvendo seres humanos.
Após a constatação da insuficiência do tratado de Helsinki, no
final da década de 70, o governo e o congresso norte-americanos cria-
ram uma comissão encarregada de identificar os princípios éticos. Após
alguns anos de pesquisa e desenvolvimento foi instituído o Relatório de
Belmont, em 1978. Esse é considerado o principal relatório da história
para estabelecer e disseminar os princípios da bioética.
A Bioética pode ser definida através do estudo etimológico da
palavra, formada por dois étimos gregos: Bio – que se refere a todos os
seres vivos e ethike – que posteriormente se transformou em ethos – que
significa costumes e/ou hábitos fundamentais, valores, idéias ou crenças,
características de uma determinada coletividade (LOPES, 2014).
Dessa forma, a Bioética foi definida pela enciclopédia de Bioé-
tica, em 1995, baseada nos estudos de Van Rensselaer Potter (1970)
como: “o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências
da vida e da saúde, enquanto essa conduta examinada à luz de valores
e princípios morais” (PESSINI, 2013,p. 33).
Grandes nomes da medicina e da educação, já baseavam seus
pensamentos e condutas nos conceitos bioéticos antes mesmo deles
serem definidos. Em 1927, na Alemanha, Fritz Jahr, pastor protestante,
filósofo e educador citou: “Respeite todo ser vivo, como princípio e fim
em si mesmo e trate-o, se possível enquanto tal” (JAHR, 1927 Apud
PESSINI, 2013, p. 32).
Carl Gustav Jung , um psicanalista suíço, também à frente do
seu tempo e tendo como objeto de estudo o comportamento humano,
citou algumas vezes frases que hoje são compatíveis com os conceitos
bioéticos, que vieram a ser definidos cerca de 20 anos após a sua morte.
A Bioética oferece contribuições para a tomada de decisão do
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

profissional referente à questões relacionadas à saúde, vida, morte, dig-


nidade, solidariedade, confidencialidade, privacidade, vulnerabilidade,
responsabilidade, qualidade de vida e humanização do atendimento na
saúde (KOVÁCS, 2003). Para entender o contexto da Bioética é neces-
sário conhecer alguns dos conceitos principais para depois compreen-
der os princípios da ideologia em que a bioética se fundamentou para
nortear a conduta dos profissionais de saúde de todo o mundo.

34
Os 4 princípios universais que regem a bioética são: autono-
mia, beneficência, não maleficência e justiça. Após o entendimento do
contexto acerca da bioética, ela pode ser conceituada como um estudo
interdisciplinar no âmbito das ciências da vida e da atenção à saúde
com objetivo de orientar as tomadas de decisões, formulação de juízos
práticos sobre as escolhas, decisões voltadas para o juízo de valor e
atos sobre princípios morais.

BIOÉTICA NO BRASIL

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS


A Bioética no Brasil é marcada por um início tardio, por volta da
década de 1990. Isso ocorreu porque nas décadas de 1980 e 1990 o Brasil
passava pelo período do regime militar, até que se conquistou a democra-
cia. A democratização do país, levantou questões éticas que influenciaram
na criação da Constituição da República Federativa do Brasil, sendo um
dos highlights dessa constituição a consideração dos Direitos Humanos.
Como consequência à constituição de 1988, um novo código
de ética da Medicina foi elaborado, dessa vez, considerando questões
éticas inovadoras para o país, porém já praticadas nos países pioneiros.
Foi a partir disso que houve as primeiras defesas sobre a necessidade
da criação de comitês de ética em pesquisa.
Em 1995 -1996, o conselho nacional, vinculado ao ministério da
saúde, aprovou através da resolução 196/96, a criação dos comitês de éti-
ca em pesquisa. O assunto tomou grandes proporções, em 2010 havia cer-
35
ca de 600 comitês de ética e pesquisa cadastrados na Comissão Nacional
de ética e pesquisa - CONEP (BRASIL, 1996). Essas diretrizes eram mar-
cadas por conteúdos bioéticos que ganharam cada vez mais força, abrindo
espaço para o surgimento da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) na
década de 90, pela UNESP (Universidade Estadual Paulista).
Ainda na década de 1990, foi publicada a primeira Revista de
Bioética do Conselho Federal de Medicina, que tornou o assunto mais
acessível a todos os profissionais de saúde, repercutindo de forma po-
sitiva e permitindo questionamentos sobre a prática de saúde no país.
Já no século XXI, a discussão no país sobre a necessidade de imple-
mentar modelos bioéticos, no que diz respeito às questões sociais e
sanitárias, ganharam cada vez mais força. A partir dessas questões,
iniciaram-se os esforços para garantir a universalidade de acesso aos
benefícios tecnológicos e científicos a todos.
Entre os dias 6 e 8 de abril e, posteriormente, de 20 a 24 de ju-
nho de 2005, em Paris, o Brasil, representado pela SBB e pela Delegação
oficial do país na UNESCO, chefiada pelo Embaixador Antonio Augusto
Dayrell de Lima, secundado pelo Ministro Luiz Alberto Figueiredo Macha-
do e pelo Secretário Álvaro Luiz Vereda de Oliveira, apresentou contri-
buições importantes que culminaram na criação da Declaração Univer-
sal Sobre Bioética dos Direitos Humanos, reconhecendo a influência do
contexto socioeconômico e cultural, além de tornar as questões de saúde
pública como questões próprias da bioética (UNESCO, 2005).
Durante muitos anos, a Fisioterapia fundamentou sua atuação
no modelo deontológico, limitando a atuação profissional ao código de
ética e a questões legais. As questões bioéticas relacionadas às práti-
cas clínicas do fisioterapeuta ainda são rudimentares. Existem relatos
do crescimento de questões bioéticas na fisioterapia, à partir de 2002,
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enquanto nos Estados Unidos os profissionais da área atuam em mode-


los baseados na bioética desde 1970 (LORENZO, 2013).

A CRIAÇÃO DO COFFITO, CREFITO E DO CÓDIGO DE ÉTICA E


DEONTOLOGIA DA FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL

Após a regulamentação da profissão em 1969, fez-se necessá-


ria a criação de autarquias fiscalizadoras para garantir as prerrogativas
e regular a atuação profissional. Dessa forma, no dia 17 de dezembro
de 1975, a Lei N. 6.316 decretada pelo congresso nacional e sanciona-
da pelo presidente, criou os Conselhos Federal e Regional de Fisiote-
rapia e Terapia Ocupacional (COFFITO e CREFITO) (BRASIL, 1975).

36
Quadro 1: LEI 6.316 DE 17 DE DEZEMBRO DE 1975 QUE CRIA O COFFITO
E CREFITO

Fonte: Diário Oficial da república Federativa do Brasil, Brasília, 18 dez,1975.


Seção 1, p 2.

Deve-se destacar que a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional


estão juntas no mesmo conselho devido ao fato de haver insuficiência
no número de profissionais fisioterapeutas, com formação acadêmica
reconhecida, para a criação de um conselho. Sendo assim, foi neces-
sário unir as duas profissões para que fosse aprovada a sua criação. A
criação dos conselhos de classe das duas profissões foi uma conquis-
ta decisiva para o crescimento da profissão. A primeira presidente do
COFFITO foi a fisioterapeuta Sônia Gusman, que enfrentou grandes
obstáculos para normatizar a fisioterapia.
Outro fato que corroborou para a união e fortalecimento da
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, foi a criação da Associação Pro-
fissional em 1980, após ser expedida a carta sindical do Ministério do
Trabalho. Logo em seguida, a Associação se transformou no SINFITO
(Sindicato dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais), cujo objeti-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
vo é garantir e defender os direitos trabalhistas da classe.

Conhecer a função de cada órgão é muito importante para


saber a qual deles recorrer quando for necessário. Muitos fisio-
terapeutas não sabem a diferença da atuação do CREFITO e do
SINFITO. O Conselho Regional, tem como função principal, fiscali-
zar o fisioterapeuta e proteger a sociedade contra as más práticas
relacionadas à profissão. A entidade responsável por defender os
direitos trabalhistas do fisioterapeuta é o sindicato, SINFITO.

37
Em 10 de julho de 1978, (todavia somente publicado no Diário
Oficial da União (D.O.U) em 22 de julho de 1978), após a 1ª sessão,
foi aprovado o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia e Terapia
Ocupacional pela resolução Nº10, de 03 de julho de 1978. Os conhe-
cimentos acerca da bioética eram limitados, dessa forma, o código de
ética da profissão apreciava apenas a conduta profissional baseada nos
conceitos deontológicos , sem considerar a abordagem humanizada su-
gerida pela bioética (BRASIL, 1978).
O objetivo principal do código de ética profissional é regular as
relações entre os profissionais da mesma classe e entre os profissionais
e a comunidade, visando solucionar conflitos éticos que surgem durante a
prática profissional. É imprescindível que todo profissional em pleno gozo
das suas atribuições, conheça o código de ética bem como os princípios
bioéticos. O profissional fisioterapeuta deve buscar através dos conheci-
mentos do código de ética e dos princípios bioéticos, estabelecer julgamen-
to moral para embasar a tomada de decisão em um contexto que envolve
o paciente.
Cerca de 30 anos após a criação do primeiro código de ética,
que contemplava as profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
no mesmo código, foi observada a necessidade de reformulação dos
textos e separação das profissões. Dessa forma, a nova versão ganhou
mais elementos de caráter bioético, conferindo mais autonomia ao pa-
ciente durante o tratamento.
O Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia, é previsto em
lei pela resolução 424, de 08 de julho de 2013, D.O.U Nº 147, seção 1
de 01/08/2013. Vale ressaltar que grande parte do conteúdo do novo có-
digo de ética, ainda se baseou nos conselhos deontológicos, porém, as
questões humanistas caracterizadas pela conduta bioética estão mais
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

evidentes nessa atualização. Essas mudanças marcam uma nova era


da profissão, além de um ganho incalculável para a sociedade. É obri-
gatório ao profissional conhecer o código de ética e deontologia, para
atuar em conformidade com as leis (BRASIL, 2013).
O Código de Ética em Vigor, foi subdividido em onze capítulos.
O primeiro capítulo trata das disposições preliminares, cujo objetivo é
especificar as competências e conferir obrigações dos conselhos e do
profissional. Sendo assim, foi conferido ao Conselho Federal a juris-
prudência e aos Conselhos Regionais a observância das diretrizes do
código de ética, além de ser o órgão julgador em primeira instância, em
caso de uma audiência ético-disciplinar. Ao profissional é obrigatório o
conhecimento do código de ética profissional e as infrações por este
cometida estão sujeitas a penas disciplinares.

38
Quadro 2: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Capítulo I - Disposições
Preliminares

Fonte: COFFITO, 2013.

O segundo capítulo, composto por 8 artigos, trata das respon-


sabilidades fundamentais e normatiza as regras para atuação profis-
sional. Esse capítulo também dispõe da responsabilidade sobre a ca-
pacidade técnica, garantindo o princípio da não-maleficência; indica a
responsabilidade do fisioterapeuta sobre imperícia , imprudência e ne-
gligência ; garante o princípio de obrigatoriedade de comunicação em
caso de conhecimento de infração ética, crime ou contravenção; além
de outras atribuições e proibições do profissional.

Quadro 3: Resolução nº 424, de 08 de jul de 2013. Cap. II – Responsabilida-


des Fundamentais.

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

39
Fonte: COFFITO, 2013.

O terceiro capítulo diz respeito à relação terapeuta-paciente.


Destaca também a obrigatoriedade de realizar o diagnóstico fisiotera-
pêutico; zelar pelo prontuário do paciente; deveres fundamentais do
profissional relacionado à assistência e proibições ao profissional com
relação ao paciente em tratamento.

Quadro 4: Resolução nº 424, de 08 de jul de 2013. Cap. III- Do Relaciona-


mento com o Cliente/Paciente/Usuário.
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

40
Fonte: COFFITO, 2013.

Dois artigos do quarto capítulo devem ser destacados pelo


alto índice de descumprimento: o artigo 13º é hoje o responsável
pelo maior número de autuações realizadas pelo CREFITO-4, e diz
respeito à falta de zelo pelo prontuário. Outro que vem sendo infrin-
gido por muitos fisioterapeutas é artigo 15º inciso V, onde fica de-
clarado que é proibido ao profissional divulgar informações sobre o
paciente e fotos com resultados de tratamento (“Antes e Depois”).

O quarto capítulo discorre sobre o relacionamento em equipe,


seja ela multiprofissional ou não. Além disso, esse capítulo faz referên-
cia a comportamentos ofensivos a outros profissionais ou que possa
ofender também a reputação moral, científica e mesmo política.
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
Quadro 5: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Cap. IV- Do Relaciona-
mento com a equipe.

Fonte: COFFITO, 2013.


41
O quinto capítulo faz menção às regras acerca das responsabi-
lidades no exercício da fisioterapia. Neste capítulo é regulada a atuação
do profissional frente ao SUS; a responsabilidade do profissional em
manter e promover a valorização profissional. Além disso, ele apresenta
normas muitas vezes desconhecidas e, com isso, diversos profissionais
atentam contra o código de ética.

Quadro 6: Resolução nº 424, de 08 de jul. de 2013. Cap. V- Das Responsabi-


lidades do Exercício Da Fisioterapia.
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Fonte: COFFITO, 2013.

No sexto capítulo, são abordadas questões do sigilo profissio-


nal, pois as informações relacionadas ao paciente só podem ser cedi-
das pelo fisioterapeuta a outras pessoas que não o próprio paciente ou
seu responsável, através de demanda judicial ou outra demanda legal.

42
Quadro 7: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Cap. VI- Do Sigilo Pro-
fissional.

Fonte: COFFITO, 2013.

O sétimo capítulo aborda brevemente questões relativas às en-


tidades de classe, e faz recomendações sobre a relação de respeito que
o profissional deve ter com a entidade que o representa.
O oitavo capítulo aborda questões dos honorários. Por muitos
anos alguns fisioterapeutas cobravam valores ínfimos por seus servi-
ços, esse fato colaborou para a desvalorização da profissão, e então,
fez-se necessário estabelecer uma tabela de honorários, que indica
valores mínimos a serem cobrados por procedimentos e consultas de
fisioterapia em todas as áreas de atuação.
O Referencial Nacional de Procedimentos - RNPF aprovado
através da Resolução COFFITO nº 428 de 08 de julho de 2013, aponta
o coeficiente de valoração (CV) e deve ser respeitado por todos os pro-
fissionais da área, dessa forma, há um resguardo contra a concorrência
desleal e contribui para a valorização profissional.

Quadro 8: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Cap. VIII- Dos Honorários.

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Fonte: COFFITO, 2013.

O nono capítulo é de interesse, principalmente, dos fisioterapeu-


tas envolvidos na docência, preceptoria, pesquisas e publicações. Esse
capítulo sofreu diversas alterações na nova versão do código de ética,
com intuito de atender às questões bioéticas relacionadas às pesquisas.
A nova versão do código de ética da fisioterapia, em seu dé-
cimo capítulo, também contempla questões relativas à divulgação pro-
fissional em meios digitais. Esse capítulo regulamenta a utilização da
internet para essa finalidade e garante o respaldo legal ao profissional.
O último capítulo aborda as disposições gerais, nele são des-
critas as penalidades em caso de infração bem como o período de pres-
43
crição dos atos infracionais e as regras para instauração dos processos
disciplinares.

Quadro 9: Resolução nº 424, de 08 de jul. de 2013. Cap. X- Da Divulgação


Profissional

Fonte: COFFITO,2013.

HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DO FISIOTERAPEUTA

A resolução nº CNE/CES 4, de 19 de fevereiro de 2002, ins-


titui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Fisioterapia. Es-
sas diretrizes visam garantir ao aluno egresso das instituições de en-
sino superior adquirir as habilidades e competências suficientes para
o exercício da profissão. A complexidade e a autonomia conquistadas
pelo fisioterapeuta, ao longo dos anos, exige que o profissional possua
competência para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, isso
significa, que junto das conquistas alcançadas, o profissional adquiriu
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grandes responsabilidades e deve zelar por elas (BRASIL, 2002).


O profissional fisioterapeuta, ao se formar, deve deter habili-
dades manuais, diagnósticas e ser capaz de conduzir com empatia e
de forma humanizada os atendimentos de fisioterapia. Cabe ainda, ao
fisioterapeuta, desenvolver uma visão ampla e global, respeitando os
princípios éticos, culturais, bioéticos, individuais e de coletividade. Ele
deve ser capaz de desenvolver estudos e atuar na restauração e manu-
tenção do movimento humano, repercussões orgânicas e psicossociais
que venham refletir nos sistemas corporais e, consequentemente, na
saúde do indivíduo (LADEIRA, 2018).
Após a formação, espera-se do profissional fisioterapeuta ca-
pacidades para atuar de forma transdisciplinar, avaliar e tratar o pa-
ciente como um indivíduo composto por organismos indivisíveis, apesar
da fragmentação didática, e considerar os aspectos biopsicossociais.
44
O quarto artigo estabelece seis competências e habilidades gerais do
fisioterapeuta, quais sejam: I) atenção à saúde; II) tomada de decisão;
III) comunicação; IV) Liderança; V) administração e gerenciamento; VI)
Educação Permanente (BRASIL, 2002).

Quadro 10: Nº CNE/CES 4 de 19 de fevereiro de 2002 – Artigo 5º

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS


Fonte: Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p. 11

O artigo 5º estabelece dezessete competências e habilidades


específicas que o Fisioterapeuta deve desenvolver para ser capaz de
atuar. Entre todas as habilidades estabelecidas, as principais encon-
tram-se listadas no quadro 10.
Conhecer a fundo essas competências de habilidades permi-
te ao profissional avaliar sua capacidade de realizar algumas delas e,
em caso negativo, deve buscar aprimoramento. A autocrítica deve ser
praticada por todos os profissionais. Muitos fisioterapeutas sequer co-
nhecem o fato de que estão habilitados a solicitar exames, elaborar
pareceres, laudos e atestados, tampouco sabem fazê-los. Antes que
esse fato representa prejuízos à sociedade ou ao próprio fisioterapeuta,
é importante que o profissional se capacite.
45
LEGISLAÇÃO APLICADA À FISIOTERAPIA – LEIS E DECRETOS

O desenvolvimento profissional do fisioterapeuta abriu espaços


para atuação em diversas áreas. Com o passar dos anos eles assumiram
demandas e se especializaram em técnicas à medida que a necessida-
de da população foi surgindo. Dessa maneira, os profissionais foram se
segmentando em áreas de atuação, conforme identificação individual, e
se especializando no assunto. Observando essa tendência crescente, os
órgãos regulamentadores da profissão criaram as especialidades.
Atualmente, existem 15 especialidades regulamentadas da fi-
sioterapia. É importante lembrar que o profissional que se intitula es-
pecialista em uma área não regulamentada está ferindo o código de
ética, estando sujeito a ação ético-disciplinar. Essa situação atualmente
é muito observada quando se trata do Pilates. A RESOLUÇÃO n° 386,
de 08 de junho de 2011, regulamenta a utilização do método pelo fisio-
terapeuta, porém, não como uma especialidade, portanto, não há como
um profissional se intitular fisioterapeuta especialista em Pilates.

Quadro 11: Especialidades da Fisioterapia reconhecidas pelo COFFITO


FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

46
Fonte: COFFITO,2020.

É importante ressaltar que existem normas e procedimentos


definidos pela RESOLUÇÃO COFFITO nº. 377, de 11 de junho de 2010,
para concessão de títulos de especialistas. O profissional precisa cum-
prir uma série de requisitos, além de se submeter a uma prova, realiza-
da anualmente pelo COFFITO. Essa prova é realizada em três etapas:
prova objetiva, prova discursiva e prova de títulos.
Outra lei importante que se aplica ao fisioterapeuta é a LEI No
8.856, DE 1º DE MARÇO DE 1994, que fixa a jornada máxima de trabalho
do profissional fisioterapeuta e terapeuta ocupacional em 30h semanais.
Essa lei foi sancionada pelo presidente, na época Itamar Franco, tendo
em vista a grande demanda corporal do profissional, a fim de não com-
prometer a qualidade do serviço prestado, essa carga horária máxima foi
estabelecida. Ainda, é comum ver os conselhos regionais entrando com
ações judiciais para alterar editais de concursos públicos, principalmen-
te municipais, desrespeitando essa lei. Todo profissional deve denunciar
tais irregularidades para que os responsáveis sejam notificados a retificar.
Para garantir a segurança do fisioterapeuta e do paciente, o CO-
FFITO estabeleceu, através da RESOLUÇÃO Nº 414/2012 de 23 de maio
de 2012, a obrigatoriedade do registro em prontuário de toda assistência
prestada por ele ao paciente. Deve ser redigido de forma legível, com termi-
nologia adequada, constando todos os dados pessoais do paciente e deve
estar acessível a esse bem como a seu responsável legal. Essa resolução
dispõe ainda da infração caso o prontuário não seja apresentado no mo-
mento da fiscalização dentro dos parâmetros estabelecidos pelo conselho.
A Inserção do fisioterapeuta como profissional integrante e in-
dispensável no Sistema Único de Saúde, bem como no NASF, núcleo
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de apoio à saúde da família, foi regulamentada em 2002, através da
LEI Nº 10.424, DE 15 DE ABRIL DE 2002, que normatiza a assistência
domiciliar do fisioterapeuta no SUS.
O conhecimento da legislação aplicada à profissão, permite ao
profissional identificar os deveres e limites de sua atuação, além de
fazer valer os direitos conquistados pela profissão ao longo dos anos.
Apesar da importância dessa área, esse ainda é um grande entrave.
Desde as civilizações mais antigas, o homem percebeu a necessida-
de de estabelecer regras e normas para tornar pacífica a convivência
em grupo. A Fisioterapia conquistou uma legislação própria, cabe ao
Fisioterapeuta compreender e praticar suas ações baseadas no conhe-
cimento amplo e suficiente da legislação, ética e bioética.

47
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: PM-AP Prova: FCC-2018 PM-AP 2º
Tenente Fisioterapeuta Nível: Superior.
Com base no código de ética, é proibido ao fisioterapeuta:
a) Respeitar o princípio bioético de autonomia, beneficência e não ma-
leficência do cliente/paciente/usuário de decidir sobre a sua pessoa e
seu bem-estar.
b) Informar ao cliente/paciente/usuário quanto à consulta fisioterapêuti-
ca, diagnóstico e prognóstico fisioterapêuticos, objetivos do tratamento,
condutas e procedimentos a serem adotados, esclarecendo-o ou a seu
responsável legal.
c) Solicitar para cliente/paciente/usuário sob sua assistência os serviços
especializados de colega, e não deve indicar a este, conduta profissional.
d) Deixar de cobrar honorários por assistência prestada a colega ou pessoa
que viva sob a dependência econômica deste, ressalvado o recebimento
do valor do material porventura despendido na prestação da assistência.
e) Dar consulta ou prescrever tratamento fisioterapêutico de forma não
presencial, salvo em casos regulamentados pelo Conselho Federal de
Fisioterapia.

QUESTÃO 2
Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT – 9ª Região (PR) Prova: FCC
- 2010 - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Analista Judiciário - Fisioterapia
Nível: Superior.
O artigo que NÃO pertence ao Código de Ética Profissional da Fi-
sioterapia é:
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a) Art. 23. O fisioterapeuta e/ou terapeuta ocupacional solicitado para


cooperar em diagnóstico ou orientar tratamento considera o cliente
como permanecendo sob os cuidados do solicitante.
b) Art. 12. O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional comunicam ao
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional recusa ou de-
missão de cargo, função ou emprego, motivada pela necessidade de
preservar os legítimos interesses de suas profissões.
c) Art. 9º. O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional fazem o diagnós-
tico fisioterápico e/ou terapêutico ocupacional e elaboram o programa
de tratamento.
d) At. 18. É dever do fisioterapeuta e do terapeuta ocupacional: pertencer
a uma entidade associativa da respectiva classe nacional, de caráter cul-
tural e/ou sindical, da jurisdição onde exerce sua atividade profissional.
e) Art. 15. O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional zelam pelo cumpri-
48
mento das exigências legais pertinentes a substâncias entorpecentes e ou-
tras de efeitos análogos, determinantes de dependência física ou psíquica.

QUESTÃO 3
Ano: 2017 Banca: OPPUS Órgão: CREFITO – 4ª Prova: Agente Fis-
cal Fisioterapeuta Nível: Superior.
Qual das seguintes Resoluções do Conselho Federal de Fisiotera-
pia e Terapia Ocupacional (COFFITO) reconhece a Saúde da Mulher
como especialidade do profissional Fisioterapeuta?
a) Resolução nº 337.
b) Resolução nº 372.
c) Resolução nº 260.
d) Resolução nº 225.
e) Resolução nº 439

QUESTÃO 4
Ano: 2017 Banca: OPPUS Órgão: CREFITO – 4ª Prova: Agente Fis-
cal Fisioterapeuta Nível: Superior.
De acordo com o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia,
estabelecido pela Resolução do COFFITO nº 424, de 08 de julho de
2013, assinale a alternativa INCORRETA:
a) A responsabilidade do Fisioterapeuta por erro cometido em sua atua-
ção profissional, não é diminuída, mesmo quando cometido o erro na
coletividade de uma instituição ou de uma equipe, e será apurada na
medida de sua culpabilidade.
b) É dever fundamental do Fisioterapeuta, assumir responsabilidade
técnica por serviço de Fisioterapia, em caráter de urgência, quando de-
signado ou quando for o único profissional do setor, atendendo a reso-
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lução específica.
c) É proibido ao Fisioterapeuta divulgar, para fins de autopromoção,
declaração, atestado, imagem ou carta de agradecimento emitida por
cliente/paciente/usuário ou familiar deste, em razão de serviço profis-
sional prestado.
d) O Fisioterapeuta deve se atualizar e aperfeiçoar seus conhecimentos
técnicos, científicos e culturais, amparando-se nos princípios da beneficên-
cia e da não maleficência, no desenvolvimento de sua profissão, inserin-
do-se em programas de educação continuada e de educação permanente.
e) O Fisioterapeuta protege o cliente/paciente/usuário e a instituição/
programa em que trabalha contra danos decorrentes de imperícia, ne-
gligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de
saúde, sendo obrigatória a comunicação à chefia imediata, à instituição,
ao Conselho Regional de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional e/ou
49
outros órgãos competentes, a fim de que o profissional faltoso seja ad-
vertido e sejam tomadas as medidas cabíveis.

QUESTÃO 5
Ano: 2017 Banca: OPPUS Órgão: CREFITO – 4ª Prova: Agente Fis-
cal Fisioterapeuta Nível: Superior.
O COFFITO entende que o método Pilates é um recurso cinesiote-
rapêutico e mecanoterapêutico que promove a educação e reeduca-
ção do movimento corporal, composto por exercícios terapêuticos
de promoção, prevenção e recuperação da saúde físico funcional.
Em 08 de junho de 2011, foi publicada a Resolução que dispõe sobre
a utilização do método Pilates pelo fisioterapeuta, sendo essa:
a) Resolução nº 394.
b) Resolução nº 414.
c) Resolução nº 398.
d) Resolução nº 400.
e) Resolução nº 386.

QUESTÃO 6
Ano: 2017 Banca: OPPUS Órgão: CREFITO – 4ª Prova: Agente Fis-
cal Fisioterapeuta Nível: Superior.
Em relação à Resolução do COFFITO nº 424, de 08 de julho de 2013,
que estabelece o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia,
analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta o(s) arti-
go(s) pertencente(s) a essa resolução:
I. Artigo 4º – O Fisioterapeuta presta assistência ao ser humano,
tanto no plano individual quanto coletivo, participando da promo-
ção da saúde, prevenção de agravos, tratamento e recuperação da
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sua saúde e cuidados paliativos, sempre tendo em vista a quali-


dade de vida, sem discriminação de qualquer forma ou pretexto,
segundo os princípios do sistema de saúde vigente no Brasil.
II. Artigo 10º – Na ocorrência do exercício ilegal das profissões de
Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, ou do favorecimento des-
se exercício, o CREFITO denunciará o fato à autoridade competen-
te e acompanhará, em todas as fases, o processamento das pro-
vidências respectivas até que cesse a atividade ilegal, recorrendo
em última instância ao Poder Judiciário.
III. Artigo 13º – O Fisioterapeuta deve zelar para que o prontuário
do cliente/paciente/ usuário permaneça fora do alcance de estra-
nhos à equipe de saúde da instituição, salvo quando outra conduta
seja expressamente recomendada pela direção da instituição e que
tenha amparo legal.
50
IV. Artigo 34º – É recomendado ao Fisioterapeuta, com vistas à res-
ponsabilidade social e consciência política, pertencer a entidades as-
sociativas da classe, de caráter cultural, social, científico ou sindical,
a nível local ou nacional em que exerce sua atividade profissional.
a) Apenas I.
b) Apenas II e III.
c) Apenas I e IV.
d) Apenas I, III e IV.
e) I, II, III e IV.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


O CREFITO-4 respondendo a uma denúncia, chegou à Clínica de Fisio-
terapia onde abordou o Fisioterapeuta responsável técnico para atender
aos Fiscais. Os fiscais, por sua vez, encontraram a seguinte situação: os
atendimentos realizados pelos fisioterapeutas que utilizavam o método
Pilates não registravam as evoluções dos pacientes em prontuário; na fa-
chada da Clínica constava o nome do fisioterapeuta responsável técnico
com o número do seu registro do CREFITO e o Título de Especialista em
Pilates; a clínica encontrava-se com registro adequado perante aos ór-
gãos responsáveis. A partir dessa situação, descreva quais as infrações
cometidas, bem como a lei, decreto ou resolução que as regulamenta e a
lei que dá plenos poderes ao Conselho Regional como órgão fiscalizado.

TREINO INÉDITO
Qual foi e quando ocorreu o primeiro fato histórico que culminou
na criação dos preceitos éticos e direitos humanos:
a) Tratado de Helsinki, entre 1974 e 1978.
b) Primeira Guerra Mundial 1914 a 1918.
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c) Relatório de Belmont 1979.
d) Julgamento de Nuremberg 1945 a 1949.
e) Segunda Guerra Mundial 1939 a 1945.

NA MÍDIA
FISIOTERAPEUTAS REALIZAM ATENDIMENTO ONLINE PARA PA-
CIENTES QUE RECEBERAM ALTA DA COVID-19.
A Universidade Veiga de Almeida (UVA) lança nesta terça-feira (21) um
serviço gratuito de atendimento de fisioterapia respiratória por telecon-
sulta para pacientes que receberam alta da Covid-19.A iniciativa é coor-
denada por um grupo de reabilitação pulmonar da UVA criado especifi-
camente para assistir pessoas em recuperação da doença causada pelo
novo coronavírus. As consultas virtuais serão feitas por professores de
fisioterapia da universidade, com apoio de até 200 estagiários do curso,
51
dependendo da demanda. A equipe tem capacidade de atender cerca
de 400 pessoas. É importante salientar que estes atendimentos seguem
a Resolução Nº 516, DE 20 de março de 2020 sobre as teleconsultas,
os telemonitoramentos e as teleconsultoria, que permitiram que as con-
sultas possam ser realizadas por teleatendimento temporariamente.
Fonte: G1 – Rio de Janeiro
Data: 21 de abril de 2020
Leia a notícia na íntegra: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noti-
cia/2020/04/21/fisioterapeutas-realizam-atendimento-online-para-pa-
cientes-que-receberam-alta-da-covid-19.ghtml

NA PRÁTICA
Compreender os princípios Bioéticos eleva o nível profissional de quem
detém o conhecimento, quando comparado com o profissional que ba-
seia sua atuação apenas nos conceitos deontológicos. O paciente ob-
servará a diferença no tratamento, talvez ele não saiba o que há de
diferente entre os profissionais, mas ele com certeza saberá dizer onde
ele se sentiu melhor. Um tratamento humanizado, a relação terapeuta-
-paciente e o próprio ambiente são fatores, cientificamente comprova-
dos, que podem influenciar na recuperação do paciente.
Além de um tratamento humanizado, espera-se do fisioterapeuta atuação
dentro da legalidade. O conselho Regional, órgão fiscalizador, pode com-
parecer a um estabelecimento de fisioterapia em pleno funcionamento.
Irregularidades, mesmo as de cunho administrativos, além de colocar em
risco a carreira do profissional, pode significar, para o paciente, a perda
da confiança. Conquistar a confiança do paciente é um grande desafio
desses profissionais, a fidelização do cliente mantém a saúde do negócio.
Sofrer uma penalidade ético-disciplinar, pode significar para o profis-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

sional, impedimento de participar de alguns concursos, impedimento


de atuação em entidades de classe e, até mesmo, a perda do direito
de exercer a profissão. O desconhecimento da legislação não exime
o profissional das responsabilidades penais, é dever do fisioterapeuta
conhecer as leis e o código de ética que regem a profissão.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto: O escafandro e a Borboleta (Universal, 1988)
Peça de teatro: O menestrel (Universal, 1988)
Acesse os links: https://brasil2018.brasil.com.br e https://brasil2018.bra-
sil.com.br

52
ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA
NO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS


A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE BRASILEIRO

Antes da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o minis-


tério da saúde (MS) desenvolvia estratégias de promoção de saúde e
prevenção de endemias, através das campanhas de imunização e com
auxílio dos estados e municípios (BRASIL, 2002). O ministério da saúde
atuava na assistência à saúde, através do Instituto Nacional de Previdên-
cia Social (INPS). Os atendimentos eram realizados apenas em hospitais
especializados e em poucas áreas de atuação. Porém, a assistência à
saúde prestada pelo INAMPS, Instituto Nacional de Assistência Médica
da Previdência, como passou a ser chamado, atendia apenas à classe de
trabalhadores formais e seus dependentes (BRASIL, 2002).
Antes da constituição de 1988, os brasileiros que tinham aces-
5353
so aos serviços de saúde eram aqueles que possuíam condições fi-
nanceiras para pagar pela assistência ou os trabalhadores formais. Os
brasileiros que não se enquadram nessas classes, não tinham acesso
à serviços básicos de saúde, além das questões morais acerca dessa
iniquidade, essa situação configurava um grande problema de saúde
pública, aumentando o risco de transmissão de doenças infectoconta-
giosas e reduzindo a expectativa de vida da população.
Os recursos financeiros para o INAMPS eram exclusividade
do governo federal. A divisão desses recursos entre as regiões do país
se dava pelo número de beneficiários. Isso significa que, quanto mais
desenvolvida a região, maior o número de trabalhadores formais, dessa
forma, mais recursos eram destinados à saúde dessas regiões. Isso
corrobora para o desenvolvimento de uma desigualdade nos gastos e
na assistência médica no Brasil nas décadas de 60-80 (BRASIL, 2002).
Para atender à demanda gerada pelo desenvolvimento econô-
mico de algumas regiões, em especial a sudeste, que representa 60%
dos gastos do INAMPS, a previdência precisou terceirizar serviços,
contratando instituições da rede privada para garantir a cobertura dos
beneficiários. Isso deu início a uma grande crise financeira que foi um
dos fatores que impulsionou a implementação da política de descentra-
lização (MENDES, 2011).
O crescimento da cobertura da assistência de saúde entre
trabalhadores rurais e o fim da exigência da carteira de segurado do
INAMPS, foram grandes passos para a implementação do SUS na dé-
cada de 80, que já demonstrava um colapso e a necessidade da refor-
ma sanitária em caráter de urgência( BRASIL, 2002).
Em 5 de outubro de 1988, um marco importante para a demo-
cracia e o início da reforma Sanitária, foi promulgada a Constituição da
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

República Federativa do Brasil. Na seção II, ART. 196, a saúde se torna


um direito de todo cidadão e dever do Estado:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).

Outro artigo da constituição que deu início à construção do


SUS foi o artigo 198, parágrafo único, que dispunha do financiamento
do sistema e caracterizava a descentralização:

O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com re-
cursos do orçamento e seguridade social, da união, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios, além de outras fontes (BRASIL, 1988).

54
Além da crise sanitária, outro fato ocorrido na década de 80
que impulsionou a criação do SUS e do princípio da universalidade,
foi o surgimento dos primeiros casos de AIDS no Brasil, notificados
na cidade de São Paulo, em 1983. Nessa época, a Aids se tornou
notícia no cotidiano da população e, a partir disso, a crescente mo-
bilização da sociedade civil, para reforma das políticas de saúde,
foi ganhando grandes proporções, a pressão popular foi um fator
importante para a implementação do SUS e dos seus princípios.

Após a constituição de 1988 e a transição do governo Sarney


para o início do governo de Fernando Collor, foi sancionada a Lei 8.080, de
19 de setembro de 1990, que instituiu o SUS e definiu os princípios e dire-
trizes. O INAMPS foi extinto pela Lei 8.689, de 27 de julho de 1993, cerca
de 3 anos após a promulgação da lei que criava o SUS (BRASIL, 1990).
O SUS é uma rede de assistência complexa, um dos maiores
sistemas públicos de saúde do mundo. Estima-se que 80% da popula-
ção brasileira utiliza o SUS como fonte primária de assistência à saúde,
os outros 20%, apesar de não utilizarem o SUS como fonte primária, uti-
lizam o sistema esporadicamente, seja através dos serviços de urgên-
cia e emergência ou pelos programas de imunização realizados através
das campanhas de vacinação (CREMESE, 2010).
O aumento da cobertura de assistência de saúde conferido pela
constituição de 1988 e pela criação do SUS, corroborou para a modifica-
ção e transição do perfil epidemiológico da população. Antes do acesso
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
universal ao sistema de saúde, doenças infectocontagiosas como: tuber-
culose, malária, varíola e sarampo, que têm grande relação com a falta
de acesso ao sistema de saúde. Logo após a implementação do SUS,
essas doenças foram controladas e a incidência de doenças causadas
pelo novo estilo de vida que acompanhou a economia e a evolução tecno-
lógica, trouxe prejuízos físicos à população onde o papel do fisioterapeuta
foi se tornando cada vez mais importante para o SUS (BISPO JR., 2010).
O aumento da incidência de doenças do aparelho locomotor e
doenças cardiorrespiratórias, áreas de grande atuação da fisioterapia,
fez crescer a necessidade da integração de profissionais nas equipes
que compõem o SUS. Isso se fez extremamente necessário visando um
dos princípios do SUS: a integralidade.
Os objetivos e atribuições do SUS estão detalhados no Art. 5º
da lei 8.080; o inciso III deve ser ressaltado, ele deixa claro os objetivos
55
de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde através de
assistência à saúde e programas de prevenção. Isso marca uma transi-
ção importante na característica sanitária do país que era baseado em
ações curativas (BRASIL, 1990).

Filme sobre o assunto: Cópia de História da Saúde Pública


no Brasil – um século de luta pelo direito da saúde.
Produção: Ministério da Saúde
Acesse os links: https://www.youtube.com/watch?v=-gSI-
BFcnCIs
Observação: O aluno deve manter o foco nos marcos his-
tóricos e evoluções acerca da implementação do SUS e das ques-
tões de saúde pública.

PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SUS

Os princípios são um núcleo comum de valores que deve servir


de base para a estruturação do sistema. Dessa forma, pode-se dizer que
o SUS é constituído por três princípios básicos: universalidade, equidade
e integralidade. Erroneamente, por se tratar de uma questão estruturante
importante da implementação do SUS, a descentralização é considerada,
por alguns autores, como um princípio, porém ela é uma diretriz.
O princípio da universalidade é garantido no art. 196 da cons-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

tituição onde é descrito que a saúde é direito de todo cidadão. Isso ca-
racteriza a saúde como um direito adquirido, não um serviço prestado
que depende de pagamento, o financiamento do sistema se dá através
do recolhimento de impostos.
A universalidade não significa gratuidade, é um direito, não há
nenhuma relação com pagamento aos serviços prestados. É dever do
estado zelar pela prestação dos serviços direcionando arrecadações
de impostos pagos pelos contribuintes e de outras fontes para essa fi-
nalidade. Dessa forma, o princípio da universalidade é garantido a todo
e qualquer cidadão (BISPO JR.,2010). As políticas sociais são muito
importantes para que seja possível garantir o mínimo dos padrões de
saúde a uma sociedade. Isso começa a se tornar possível a partir do
momento que todos têm acesso aos serviços de saúde.
O princípio da universalidade traz consigo dois grandes desa-
56
fios, além de proporcionar acesso às ações e serviços de saúde, o esta-
do deve garantir condições de vida compatíveis com boas condições de
saúde, isso torna o conceito de universalidade muito mais amplo do que
abrir as portas dos serviços de saúde, porém, menos exequível. E isso é
o que observamos na prática, apesar de ser um princípio extremamente
importante e uma conquista irrefutável, esse princípio não é garantido
em sua totalidade. Mas, as novas políticas nacionais de saúde têm em-
penhado esforços para atingir esse objetivo.
Analisando esse princípio, é possível perceber que a criação
do SUS não tinha como objetivo apenas a reformulação do setor da
saúde, o SUS também foi criado pensando na promoção de ações que
visam construir uma sociedade mais justa. Uma sociedade mais justa é
o que garante o princípio da equidade. A equidade, o segundo princípios
do SUS, diz respeito a uma forma de aplicar o direito do indivíduo ou do
coletivo, respeitando as diferenças, mantendo a imparcialidade, porém,
realizando um julgamento mais justo possível para todas as partes en-
volvidas. Esse princípio permite atender cada indivíduo de acordo com
as necessidades específicas de cada um.
O princípio da equidade abre espaço para o diferente, não à
igualdade. Necessidades diferentes necessitam abordagens diferentes,
e é por esse motivo que a terminologia “igualdade”, mesmo constando
no texto da lei do SUS, foi substituído gradativamente pelo termo equi-
dade. Isso não diz respeito apenas à assistência à saúde, mas se es-
tende para a distribuição de insumos, recursos financeiros e humanos,
visando possibilitar a assistência de acordo com a necessidade.

Imagem 5: Diferença entre uma abordagem com igualdade e equidade em


uma mesma situação
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Fonte: NARDI, 2019.

57
O termo equidade não consta na lei 8.080, ele foi imple-
mentado e utilizado em grande escala em documentos técnicos e
normativos e, desde então, vem substituindo o termo igualdade.
Esse conceito surgiu a partir da observância das iniquidades dos
indicadores de saúde entre classe social, raça, cor, bairro, educa-
ção, renda, entre outros.

A integralidade, último princípio básico que rege o SUS, pode


ser entendido a partir de três conjuntos de sentido: 1) integralidade
como um traço da boa medicina; 2) integralidade como modo de orga-
nizar as práticas e 3) a integralidade como respostas governamentais a
problemas de saúde específicos (MATTOS, 2004).
Um atendimento integral, deve considerar a pessoa em sua tota-
lidade, isso significa considerar aspectos biológicos, socioculturais, psico-
lógicos culminando no acolhimento do indivíduo. O sistema, para atender
ao caráter integral, deve articular interações entre diversos setores que
possam ser de interesse da assistência, desenvolver políticas e trabalhos
que representem uma intervenção mais abrangente e completa.
Esses três princípios do SUS, nos permitem identificar carac-
terísticas de humanização nas políticas de saúde nacional, colocando o
indivíduo como centro do processo, evidenciando a promoção da saúde
e desconstruindo o foco na doença. As diretrizes que constituem a orga-
nização do SUS podem ser divididas, didaticamente, em três principais:
1) descentralização, 2) regionalização e hierarquização, 3) participação
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

da comunidade (BRASIL, 2002).


A descentralização corresponde à distribuição do poder políti-
co, das responsabilidades de recursos financeiros e das atribuições le-
gais no que diz respeito ao SUS, entre as três esferas do poder: federal,
estadual e municipal. Essa diretriz é uma estratégia para assegurar o
funcionamento do sistema, segmentando as atribuições.
As diretrizes de regionalização e hierarquização, focam na co-
bertura de todo território nacional, e devem determinar os indicadores
que nortearão as ações de promoção de saúde do SUS, de acordo com
a necessidade populacional local. A distribuição das ações em níveis de
complexidade, caracterizam a hierarquização e garantem adequação
de atendimento de acordo com a necessidade de cada pessoa.
O SUS passou por grandes marcos organizativos, dentre eles a
modificação da estruturação em níveis de complexidade: baixa comple-
58
xidade, média e alta, que segmenta o atendimento em especialidades
e serviços, mas pode provocar o estrangulamento na rede de serviços,
sobrecarregando alguns setores. Esse modelo sofreu diversas modifi-
cações para distribuir os serviços e assistências e atender ao princípio
da integralidade (GONDIM, 2011).
Dessa forma, as modificações de basearam em estudos e mo-
delos internacionais, onde a atenção primária torna-se um centro de
referência para a população, a porta de entrada para o SUS e o encami-
nhamentos para os atendimentos de maiores complexidades, evitando
sobrecargas desnecessárias em níveis de alta complexidade.

A atenção primária ou atenção básica constitui-se no primeiro ponto de aten-


ção à saúde e tem, como um de seus objetivos, o alcance de certo grau de
resolução de problemas, que possa, além de prevenir, evitar a evolução de
agravos, com vistas à redução de situações mórbidas que demandem ações
de maior complexidade ( GONDIM, 2011, p.95).

A Atenção Primária à Saúde (APS) também chamada de Aten-


ção Básica (AB), foi estruturada como parte das políticas de saúde em
diversos países, sua estrutura pode ser comparada a um eixo estraté-
gico para a organização do sistema em redes, não em níveis, como era
feito anteriormente.
As redes de atenção à saúde não são organizadas conforme
uma hierarquia entre os diferentes pontos de atenção à saúde, mas a
conformação de uma rede horizontal de pontos de atenção à saúde de
distintas densidades tecnológicas, sem ordem e sem grau de importância
entre eles. Todos pontos de atenção à saúde são igualmente importantes
para que se cumpram os objetivos das redes de atenção à saúde. Ape-
nas se diferenciam pelas diferentes densidades tecnológicas que carac-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
terizam os diversos pontos de atenção à saúde (MENDES, 2011).
As redes de organização facilitaram a entrada do sujeito no
sistema pela APS, que realiza os atendimentos de menor complexida-
de e serve como triagem da população que necessita de atendimentos
de maior complexidade. A estruturação em redes também aproximou
a população do SUS e facilitou o desenvolvimento dos programas de
saúde da família e outros programas de prevenção e acompanhamento
de doenças crônicas.

59
Imagem 6: O Sistema Hierárquico e as Redes de atenção

Fonte: UFMA/UNA-SUS, 2016.

Imagem 7: Sistema Hierárquico para Rede de atenção à saúde poliárquicas


FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Fonte: Imagem adaptada (GONDIM, 2011).

A diretriz da participação da comunidade aproxima o SUS de um


modelo sanitário humanizado. A lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, re-
gulamenta a participação da comunidade no SUS. Ela prevê a participação
da comunidade na Conferência Nacional de Saúde, que acontece a cada
4 anos, para discutir questões relacionadas ao sistema através dos con-
selhos de saúde. Os conselhos estão presentes nas três esferas: federal,
estadual e municipal. Eles são constituídos por representantes da gestão e
metade por usuários representando a comunidade (BRASIL, 1990).
60
HUMANIZAÇÃO DAS PRÁTICAS DE SAÚDE FRENTE AO PACIEN-
TE E A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO

A evolução da medicina e da ciência fez crescer a complexidade


das práticas de saúde. Com isso, a preocupação e burocratização corro-
boraram para o crescimento da assistência impessoal. As questões bio-
éticas, adquiridas diante de fatos desumanos ocorridos na história, não
podem se perder em meio a práticas de saúde evoluídas pela tecnologia.
Dessa forma, apesar de não ser um princípio do SUS, a huma-
nização se tornou uma forte e consolidada política nacional de saúde,
que veio a ser chamada de Política Nacional de Humanização (PNH),
sendo implementada em 2003, atendendo as reivindicações por parte de
movimentos sociais e associações de defesa dos direitos dos pacientes.
As propostas de atenção à saúde baseadas na humanização
das práticas, destacam o respeito às diferenças, atributos especiais para
atendimento à criança e à saúde da mulher, a valorização do paciente,
do profissional e a centralidade do diálogo permeando as relações.
Assim como a complexidade do ser humano, deve ser a rede
de atenção com todos que a constituem. São inúmeras possibilidades
de modificação para atender aos direitos adquiridos da população com
relação à garantia da saúde. A política nacional de humanização evita a
sobreposição da ciência sobre a experiência do indivíduo, como já ocor-
reu no passado durante a segunda guerra mundial, nos Estados Unidos,
e em outros países ante epidemias e diversas questões de saúde pública.
A humanização da saúde, abandona o modelo cartesiano e me-
canicista dos conceitos biomédicos que caracterizam a doença como um
princípio simples de causa-efeito, separando o indivisível: corpo e mente.
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
Esse modelo biomédico, ignora aspectos fundamentais da saúde do indi-
víduo como: aspectos sociais, psicológicos, comportamentais e culturais.
A política nacional de humanização (PNH) baseia-se em três
princípios:
I) Transversalidade: a Política Nacional de Humanização deve
se fazer presente e estar inserida em todas as políticas e programas
do SUS. A PNH busca transformar as relações de trabalho a partir da
ampliação do grau de contato e da comunicação entre as pessoas e
grupos, tirando-os do isolamento e das relações de poder hierarquiza-
das. Transversalizar é reconhecer que as diferentes especialidades e
práticas de saúde podem conversar com a experiência daquele que é
assistido. Juntos, esses saberes podem produzir saúde de forma mais
corresponsável (BRASIL, 2015).
II) Indissociabilidade (entre atenção e gestão): as decisões da
61
gestão interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso, trabalha-
dores e usuários devem buscar conhecer como funciona a gestão dos
serviços e da rede de saúde, assim como participar ativamente do pro-
cesso de tomada de decisão nas organizações de saúde e nas ações
de saúde coletiva. Ao mesmo tempo, o cuidado e a assistência em saú-
de não se restringem às responsabilidades da equipe de saúde. O usu-
ário e sua rede sócio-familiar devem também se responsabilizar pelo
cuidado de si nos tratamentos, assumindo posição protagonista com
relação a sua saúde e a daqueles que lhes são caros (BRASIL, 2015).
III) Protagonismo (corresponsabilidade e autonomia dos sujei-
tos e coletivos): qualquer mudança na gestão e atenção é mais concreta
se construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas
envolvidas, que compartilham responsabilidades. Os usuários não são
só pacientes, os trabalhadores não só cumprem ordens: as mudanças
acontecem com o reconhecimento do papel de cada um. Um SUS hu-
manizado reconhece cada pessoa como legítima cidadã de direitos e
valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde (BRASIL, 2015).
Diferente desse modelo biomédico, as questões de humanização
trouxeram à tona um novo modelo assistencial, o modelo Biopsicossocial,
que proporciona e valoriza a escuta do paciente e as questões sociais. A
Política Nacional de Humanização é caracterizada por seis objetivos:
1. a valorização da dimensão subjetiva e social dos diferentes
sujeitos implicados no processo de produção da saúde: usuários, pro-
fissionais de saúde e gestores;
2. mudança na cultura do atendimento e gestão vigente, me-
lhorando sua qualidade e eficácia, tendo como foco as necessidades
dos cidadãos e a produção de saúde;
3. capacitar os profissionais de saúde para um novo conceito
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

de assistência à saúde que valorize a vida humana e a cidadania;


4. estabelecimento de vínculos solidários, princípios e valores,
como: solidariedade, respeito e ética na relação entre profissionais e
usuários;
5. identificação das necessidades sociais da saúde;
6. melhoria das condições de trabalho para os profissionais e
de atendimento para os usuários (BRASIL, 20).
As diretrizes que regem a política nacional de humanização, as-
seguram as práticas e estabelecem regras para que os objetivos sejam
atingidos. Dessa forma, a PNH baseia-se em seis diretrizes: acolhimento;
gestão participativa e cogestão; ambiência; clínica ampliada e comparti-
lhada; valorização do trabalhador e defesa do direito dos usuários.
A diretriz do acolhimento orienta o profissional a uma escuta
ativa, qualificada e com foco em compreender a complexidade da ne-
62
cessidade do usuário. Além disso, o acolhimento deve ser de responsa-
bilidade coletiva e deve estar presente na relação de todos os indivídu-
os, desde o gestor até o usuário (BRASIL, 2015).
A gestão participativa e cogestão diz respeito à participação
dos usuários e familiares no cotidiano das unidades de saúde através
de grupos, colegiados e outras formas de inserção na comunidade. O
objetivo é inserir todos os participantes da rede e abrir espaço para pac-
tuação de tarefas (BRASIL, 2015).
A ambiência é a diretriz que estimula a criação de espaços aco-
lhedores, confortáveis e saudáveis. Vale lembrar que o modelo biopsi-
cossocial considera as influências do ambiente sobre o estado de saúde
do indivíduo. A inserção dessa diretriz é mais um esforço das políticas
nacionais em abandonar o modelo de saúde biomédico. Essa diretriz
trata de ambiente confortável no sentido literal da palavra, com relação
à estrutura arquitetônica e ao espaço físico (BRASIL. 2015).
A clínica ampliada e compartilhada é uma ferramenta baseada
em conceitos teórico-práticos, que visa compreender todo o processo
de saúde-doença e encontrar a forma mais eficiente de tratar, através
da atuação multidisciplinar e da participação do paciente no processo do
tratamento, compreendendo e cooperando ativamente (BRASIL,2015).
A valorização do trabalhador está no profissional que atua nos
programas, a PNH acredita na hipótese que só será possível desenvolver
uma experiência satisfatória do paciente se o atendimento prestado atin-
gir um nível desejável de qualidade. Para isso, o profissional deve estar
constantemente atualizado e deve se sentir valorizado (BRASIL, 2015).
A defesa dos direitos dos usuários estimula o conhecimento deles
sobre seus direitos, garantidos por lei, acerca do direito à saúde e dos ser-
viços de saúde. Dessa forma, o paciente será capaz de identificar e apontar
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
as falhas no sistema para que seja avaliado pela gestão (BRASIL, 2015).
O SUS, assim como muitas políticas nacionais, é extremamen-
te complexo e está longe de atingir os objetivos propostos, mas, teorica-
mente, é um sistema bem estruturado, porém com falhas de execução.
Atualmente, o SUS e suas políticas parecem ser uma utopia ou um
sistema não exequível. Mas, analisando a história e a evolução sanitária
no país, devemos nos esforçar para garantir que os princípios e diretri-
zes sejam cada dia mais aplicáveis na prática.

O modelo biomédico, apesar de não contemplar questões


63
importantes relacionadas ao direito do paciente e à política nacio-
nal de humanização, ainda é amplamente desenvolvido e ensinado
em cursos de formação profissional, desconsiderando os concei-
tos bioéticos. Isso é um grande entrave para a humanização das
práticas em saúde. O profissional deve desenvolver sua sensibili-
zação, ainda durante a formação, para que o paciente seja compre-
endido em sua totalidade biopsicossocial.

A humanização das práticas de saúde aborda questões de intera-


ção entre os profissionais da saúde de diversas áreas, objetivando entregar
ao usuário um atendimento integral e integrado. Dessa forma, o modelo de
equipe multidisciplinar segmentado passa a adquirir novas características
e nomenclaturas como: transdisciplinaridade e interdisciplinaridade.

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE SAÚDE E INTEGRAÇÃO MULTI-


PROFISSIONAL

A equipe multidisciplinar de saúde, como o nome sugere, é


composta por profissionais de diferentes áreas. Essa aproximação pro-
fissional tem como objetivo discutir soluções para um problema espe-
cífico, considerando saberes de diversas disciplinas e promovendo a
atenção integral à saúde, por meio da comunicação e da colaboração
entre seus profissionais, em prol da saúde e experiência do paciente.
Enquanto uma disciplina fragmenta os conhecimentos e, iso-
ladamente, não consegue responder às questões de complexidade da
saúde, o trabalho multidisciplinar proporciona essa transição de sabe-
res. Uma equipe composta por vários profissionais, para atingir a in-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

tegralidade, necessita interação, chamada de interdisciplinaridade. O


termo interdisciplinaridade tem sido usado como interação entre uma
ou mais disciplinas, promovendo uma troca desde ideias, integração de
conceitos e discussão de procedimentos.
O fisioterapeuta deve integrar as equipes multidisciplinares
atuando multiprofissionalmente e interdisciplinarmente. Vale ressaltar
que não há hierarquias entre as profissões, deve haver comunicação
e respeito entre as áreas e os profissionais. As decisões conjuntas não
podem ferir o direito de tomada de decisão de cada profissão e o foco
da integração deve ser a promoção, prevenção, recuperação e proteção
da saúde do ser humano, respeitando-o e valorizando-o.
Para garantir os princípios e diretrizes do SUS, bem como o
direito à saúde do Art; 196 da constituição de 1988, o fisioterapeuta
atua em todos os níveis de complexidade do SUS. Apesar da importân-
64
cia desse profissional na equipe que compõe o Programa de Saúde da
Família (PSF), o fisioterapeuta e terapeuta ocupacional não fazem parte
da equipe mínima obrigatória do programa. Em 2019, comemorou-se os
50 anos de regulamentação da profissão, mas a fisioterapia ainda luta
para ter seu reconhecimento e sua importância para integrar obrigato-
riamente os programas do SUS.
No dia 30 de outubro de 2019, o projeto de lei PL 1.111, de 2019,
criado pelo Deputado Federal Célio Studart, que determina a inclusão
obrigatória de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais nas equipes de
estratégia da saúde da família, foi aprovado pela comissão de Segurida-
de Social da Família (CSSF), da Câmara Federal. Na ocasião, o relator
do processo Deputado Federal Eduardo Braide mencionou:

à inserção destas especialidades nas equipes da ESF promoverá, sem dúvi-


das, um avanço no cuidado com a saúde básica da população, contribuindo
para o fortalecimento da integralidade do SUS e preenchendo uma lacuna
na busca por uma atenção integral e de qualidade (BRAIDE, 2019 Apud,
CREFITO-4, 2019).

Em 2002 a atuação do fisioterapeuta, na assistência domiciliar do


sistema único de saúde, foi regulamentada e acrescentada à lei 8.080, de
19 de setembro de 1990 (lei de criação e regulamentação do SUS) através
do Capítulo VI Art. 19-1 através da Lei 10.424, de 15 de abril de 2002:

Acrescenta capítulo e artigo à Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990,


que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação
da saúde, a organização e o funcionamento de serviços correspondentes e
dá outras providências, regulamentando a assistência domiciliar no Sistema
Único de Saúde (BRASIL, 2002).

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS


O Programa de saúde da Família (PSF), criado em 1994 pelo
SUS, tem como objetivo priorizar as ações preventivas, promoção e
recuperação da saúde. O PSF é composto basicamente por médicos,
enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários da saú-
de, sendo o fisioterapeuta parte da equipe de apoio (PSF, 2000).
As propostas de humanização das práticas em saúde do SUS
se perdem a partir do momento que não garantem a integração à pro-
gramas de grande adesão da comunidade, como é o caso do PSF e dos
profissionais como o fisioterapeuta, que tem atuação fundamental na
atenção primária (PSF, 2000).
De acordo com Fontenelle (2001), o PSF é composto por equi-
pes multidisciplinares: médicos que atendem a todos os integrantes de
cada família e desenvolvem com os demais integrantes da equipe ações
65
preventivas e de promoção da qualidade de vida da população. Enfermei-
ros que supervisionam o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde
e dos Auxiliares de Enfermagem, que realizam consultas na unidade de
saúde, bem como assistem às pessoas que necessitam de cuidados de
enfermagem no domicílio. Auxiliares de enfermagem que realizam pro-
cedimentos de enfermagem na unidade básica de saúde, no domicílio e
executam ações de orientação sanitária. Agentes Comunitários de Saúde
que fazem a ligação entre as famílias e o serviço de saúde, visitando
cada domicílio, pelo menos, uma vez por mês, realizam o mapeamento
de cada área, o cadastramento das famílias e estimulam a comunidade
para práticas que proporcionem melhores condições de saúde e de vida.

Apesar da regulamentação do fisioterapeuta nos atendi-


mentos domiciliares do sistema único de saúde, isso não garante a
participação nos programas de saúde da família, por não fazer par-
te da equipe mínima obrigatória. Sendo parte da equipe de apoio,
o fisioterapeuta não está inserido no PSF. O projeto de lei 1.111,
2019, tem como objetivo integrá-lo, como profissional obrigatório
às equipes dos programas de saúde da família.

Quadro 12: Lei 10.424, de 15 de abril de 2002, Capítulo VI Art. 19-1.


FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

Fonte: Diário Oficial da União - Seção 1 – 2002.

A atuação multidisciplinar na fisioterapia ainda não é uma re-


alidade do cotidiano dos profissionais. Atualmente, as autarquias que
defendem as prerrogativas da profissão lutam na justiça para inserir
o fisioterapeuta nas equipes dos programas do SUS, nas equipes de
66
urgência e emergência de instituições públicas e privadas, visto que a
presença desse profissional não é obrigatória, apesar de já se mostrar
essencial e fundamental para a garantia da assistência integral à saúde.
A presença do fisioterapeuta em unidades de terapia intensiva
é indispensável e deve ser tratada como tal, porém, a obrigatoriedade da
presença ininterrupta do Fisioterapeuta nas UTIs ainda está em tramita-
ção na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, através do PL 907/2019,
um projeto de lei estadual que visa garantir a presença do fisioterapeuta
na composição da equipe multidisciplinar (CREFITO-4, 2019).
Essa realidade gera grandes prejuízos para a saúde da popula-
ção e coloca em risco a qualidade do serviço de saúde prestado. Atual-
mente, é inconcebível a ideia de não ter um fisioterapeuta monitorando
a ventilação mecânica, auxiliando na admissão de pacientes, prestando
atendimento a qualquer momento quando houver necessidade de intro-
duzir o suporte ventilatório em um paciente. Por isso, a complexidade
da fisioterapia atingiu um nível que nenhum profissional, que componha
obrigatoriamente uma equipe multidisciplinar de saúde, é capaz de suprir.
Em oposição às políticas nacionais de humanização que apos-
tam e discorrem sobre a valorização dos profissionais que atuam no
SUS, a realidade mostra a face de profissionais exaustos, que lutam
diariamente para garantir seu espaço no sistema. É possível que essa
realidade mude com as novas políticas nacionais de assistência à saú-
de e com a conscientização dos profissionais em oferecer um serviço
cada vez mais qualificado, mostrando, todos os dias e em todos os se-
tores e áreas de atuação, o quanto a fisioterapia é indispensável para
garantir a saúde na sua forma integral.
A complexidade do sistema não pode se tornar uma barreira
para a compreensão do seu contexto pelos profissionais de saúde. Por-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
tanto, mesmo que o profissional atue em instituições particulares ou fi-
lantrópicas, é necessário dominar e entender o SUS. O profissional não
pode esquecer do seu papel como disseminador de orientações para au-
xiliar na promoção da saúde. A promoção da saúde não pode se limitar a
discursos. Todo profissional tem sua parcela de responsabilidade nesse
contexto, a transmissão de informações sobre o sistema é responsabili-
dade de todos, mesmo aqueles que não atuam diretamente nele.

67
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2017 Banca: OPPUS Órgão: CREFITO – 4ª Prova: Agente Fis-
cal Fisioterapeuta Nível: Superior.
Com base na lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, analise as asser-
tivas e assinale a alternativa CORRETA:
A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e deter-
minantes da saúde; a formulação de política de saúde destinada a
promover, nos campos econômico e social, a observância do dis-
posto no § 1º, do art. 2º, desta lei; e a assistência às pessoas por in-
termédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde,
com a realização integrada das ações assistenciais e das ativida-
des preventivas, são objetivos do Sistema Único de Saúde (SUS).
II. A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões
intersetoriais, abrangerá, em especial, as seguintes atividades:
alimentação e nutrição; saneamento e meio ambiente; vigilância
sanitária e farmacoepidemiologia; recursos humanos; ciência e
tecnologia; e saúde da criança e do adolescente.
III. As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único
de Saúde (SUS), seja diretamente ou mediante participação com-
plementar da iniciativa privada, serão organizados de forma globa-
lizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente.
IV. À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete
promover a descentralização para os Municípios dos serviços e
das ações de saúde; acompanhar, controlar e avaliar as redes hie-
rarquizadas do SUS; prestar apoio técnico e financeiro aos Muni-
cípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde; gerir
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

laboratórios públicos de saúde e hemocentros; dentre outros.


a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e IV.
d) Apenas I, III e IV.
e) I, II, III e IV

QUESTÃO 2
Ano: 2016 Banca: Gestão de concursos Órgão: Prefeitura de Ube-
raba-MG Prova: Analista de Auditoria Regularização e Fiscalização
da Saúde – Fisioterapeuta Nível: Superior.
A Política Nacional de Humanização (PNH) se estrutura nos seguin-
tes princípios, EXCETO:
a) Indissociabilidade entre o modelo de gestão e de atenção.
68
b) Gestão centralizada e estrutura organizacional verticalizada.
c) Autonomia e protagonismo dos sujeitos (gestor, trabalhador e usuário).
d) Transversalidade.
e) Corresponsabilidade

QUESTÃO 3
Ano: 2015 Banca: AOCP Órgão: Prefeitura de Jaboatão dos Guarara-
pes - PE Prova: Analista em Saúde – Fisioterapeuta Nível: Superior.
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) foi criado a fim de
apoiar a inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de
serviços e ampliar a abrangência e o escopo da Atenção Primária à
Saúde. O processo de trabalho do NASF atende e está configurado
de acordo com as diretrizes e princípios do SUS e da Atenção Bási-
ca, agregando, principalmente, seu alicerce estrutural, compondo-
-se de 9 (nove) diretrizes. Assinale a alternativa que NÃO faz parte
das diretrizes do NASF.
a) A interdisciplinaridade.
b) A descentralização.
c) A integralidade.
d) O território.
e) O controle social.

QUESTÃO 4
Ano: 2015 Banca: AOCP Órgão: Prefeitura de Jaboatão dos Guarara-
pes - PE Prova: Analista em Saúde – Fisioterapeuta Nível: Superior.
“Deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de
entrada e o centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à
Saúde. Por isso, é fundamental que ela se oriente pelos princípios
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
da universalidade, da acessibilidade, do vínculo, da continuidade
do cuidado, da integralidade da atenção, da responsabilização,
da humanização, da equidade e da participação social.” (PORTAL
DAB, 2015). A qual política nacional de saúde o texto se refere?
a) Saúde da Criança.
b) Atenção Básica.
c) Saúde Mental.
d) Saúde da Mulher.
e) Saúde do Idoso.

QUESTÃO 5
Ano: 2015 Banca: AOCP Órgão: Prefeitura de Jaboatão dos Guarara-
pes - PE Prova: Analista em Saúde – Fisioterapeuta Nível: Superior.
Conforme a lei 8080/90, que estabelece os princípios e diretrizes do
69
SUS (Sistema único de Saúde), das alternativas a seguir, qual NÃO
é considerada um princípio do SUS?
a) Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis
de assistência.
b) Direito à informação às pessoas assistidas sobre sua saúde.
c) Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de
qualquer espécie.
d) A promoção de programas educacionais que disseminem valores éti-
cos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspec-
tiva de gênero, de raça ou etnia.
e) Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saú-
de e a sua utilização pelo usuário.

QUESTÃO 6
Ano: 2015 Banca: AOCP Órgão: Prefeitura de Jaboatão dos Guarara-
pes - PE Prova: Analista em Saúde – Fisioterapeuta Nível: Superior.
Com relação à Política Nacional de Atenção Básica, é correto afir-
mar que:
a) ela preconiza a utilização de tecnologias de cuidado que sejam sim-
ples e com baixa variabilidade, priorizando o manejo das demandas e
necessidades de saúde de maior gravidade.
b) ela considera o termo Atenção Básica à Saúde mais avançado con-
ceitualmente do que Atenção Primária à Saúde.
c) ela tem, na Saúde da Família, sua estratégia prioritária para expan-
são e consolidação da Atenção Básica.
d) suas ações são desenvolvidas por equipes multiprofissionais, coor-
denadas por médico generalista ou especialista em saúde da família.
e) é de responsabilidade exclusiva do governo federal desenvolver, dis-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

ponibilizar e implantar os sistemas de informações da Atenção Básica.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Baseado nos princípios que regem o SUS, discorra sobre a importância
da atualização de conceitos, de acordo com as necessidades da popu-
lação, e sobre os impactos positivos da substituição do termo “igualda-
de” pelo termo “equidade”, abrangendo aspectos que englobam a co-
munidade e as equipes.

TREINO INÉDITO
A lei que regulamenta a atuação do fisioterapeuta na assistência
domiciliar no SUS é:
a) Lei 10.424, de 15 de abril de 2002
b) Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990
70
c) Lei PL 1.111, de 30 de outubro de 2019
d) Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990
e) Lei 8.856, de 01 de março de 1994

NA MÍDIA
PELO SUS, CENTRO DE REABILITAÇÃO DE SÃO LUÍS FOCA TRA-
TAMENTO INTENSIVO
O Centro Especializado em Reabilitação (CER), que oferece rotina in-
tensiva de terapias para crianças autistas com foco na análise comporta-
mental aplicada (ABA).O centro tem capacidade para atender até 70 pa-
cientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que são submetidos a
sete horas e meia de intervenção por semana, pouco mais de uma hora
por dia, com uma equipe de profissionais que inclui psicólogos, psiquia-
tras, psicopedagogos, educadores físicos, Fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais. O foco é uma intervenção intensiva, individualizada e multi-
profissional, e nós fazemos registros de análise comportamental, criamos
gráficos de desempenho. Assim, é possível medir semanalmente como
está o desenvolvimento do paciente com base no programa que a gente
propôs e mensurar se a intervenção está funcionando ou não. É uma te-
rapia baseada em evidência, e isso não é muito comum na rede pública.
Fonte: Estadão
Data: 23 set. de 2018
Leia a notícia na íntegra: https://emais.estadao.com.br/noticias/bem-es-
tar,pelo-sus-centro-de-reabilitacao-de-sao-luis-foca-tratamento-intensi-
vo,70002511398

NA PRÁTICA
A atuação do fisioterapeuta no Sistema Único de Saúde é parte funda-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
mental para a garantia do princípio de integralidade. Na prática, a parti-
cipação do profissional ainda é relativamente pequena quando compa-
rada com outras áreas, e o acesso aos serviços de reabilitação ainda
são burocráticos e ofertados em baixa escala, dificultando a garantia do
princípio da universalidade. Conselhos de Classe que representam a
categoria, ainda lutam para a inserção do fisioterapeuta no SUS como
profissional obrigatório em todos os setores e programas de atenção
à saúde. Além disso, o Programa Nacional de Humanização que visa,
além de outros objetivos, valorizar o profissional, para que este garanta
um atendimento de qualidade e humanizado à população, apresenta
falha nas esferas, principalmente municipal. Concursos públicos que
desrespeitam a carga horária máxima do fisioterapeuta e oferecem sa-
lários incompatíveis com o mercado, ainda são muito comuns. Portan-
to, é importante que o profissional conheça o sistema, bem como seus
71
princípios e diretrizes, para reivindicar sua atuação de forma digna e
respeitando os aspectos legais da profissão.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto: O SUS do Brasil (Fiocruz 2013)
Acesse os links: https://www.youtube.com/watch?v=Cb-cslNmGnE
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

72
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

Com o objetivo de manter a Fisioterapia como uma profissão técnica, che-


fiada pela classe médica, o relator do processo que analisava a proposta
de um currículo mínimo para a formação do Fisioterapeuta, descreveu
em seu parecer que a Fisioterapia deveria manter-se com um currículo
“modesto”. A partir desse comentário fica claro que a classe médica não
tinha interesse no crescimento intelectual do profissional que se forma-
va em Fisioterapia, para que dessa forma, eles mantivessem o controle
sobre a classe. A formação tecnicista, que faz parte da história da Fisio-
terapia, era focada na execução de técnicas nas questões reabilitativas.
A evolução e a conquista de uma formação mais abrangente, garantiu
ao Fisioterapeuta a autonomia profissional, mas ainda hoje é comum
reconhecer essa visão técnica em alguns profissionais. Para garantir a
valorização da profissão, diante da sociedade e das outras profissões, o
Fisioterapeuta deve se manter em constante atualização, com olhar vol-
tado para a saúde do indivíduo e atuação baseada no modelo biopsicos-
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS
social. O desconhecimento acerca dos contextos históricos da profissão,
induzem os profissionais a desvalorizar os conteúdos não reabilitativos
da formação, o que caracteriza uma formação mecanicista e cartesiana.

TREINO INÉDITO
Gabarito: D

73
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

O CREFITO além de outras atribuições, é o órgão fiscalizador que ga-


rante a manutenção das prerrogativas da profissão e protege a socieda-
de do profissional que infringe as leis. A lei que regulamenta a atuação
do CREFITO como órgão fiscalizador e dá plenos poderes para autuar
o profissional é a Lei 6.316 de 17 de dezembro de 1975. As irregularida-
des encontradas pela fiscalização foram a falta de registro em prontuá-
rio previstas na Resolução 414/2012 de 23 de maio de 2012. O Pilates
é um método e sua utilização pelo Fisioterapeuta é regulamenta, porém
essa não é uma especialidade reconhecida, dessa forma, divulgar es-
pecialização em área de atuação não regulamentada e a titulação não
pode ser comprovada pelo profissional é uma prática que fere o código
de ética, Resolução 424 de 08 de julho 2013, Art. 30º inciso II.

TREINO INÉDITO
Gabarito: D
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

74
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE – PADRÃO


DE RESPOSTA

A atualização dos conceitos referentes aos princípios do SUS, garantem


a adequação do sistema às evoluções da sociedade. O conceito de
igualdade, deixava uma lacuna de interpretação que não permitia aten-
der às grandes iniquidades que assolam nossa sociedade. O conceito
de equidade, por sua vez, permite ao profissional que atua no sistema,
identificar as diferentes necessidades entre indivíduos e populações, e
atuar conforme a necessidade de cada um, tratar de forma diferente,
respeitando as diferenças e atendendo à diferentes necessidades sem
ferir os princípios do SUS. Isso garante ao usuário, um serviço voltado
para suas necessidades específicas e individuais de saúde.

TREINO INÉDITO
Gabarito: A

FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

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ALVES, F. D. et al O preparo bioético na graduação de Fisioterapia -
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BRASIL. Ministério da Saúde. Lei nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990.


Brasília, v. 128, n. 249, dez. 1990.

BRASIL. Decreto-lei 938 de 13 de outubro de 1969. Provê sobre as profis-


sões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, n.197, seção 1, p.3658. 16 out. 1969.
FUNDAMENTOS DE FISIOTERAPIA - GRUPO PROMINAS

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80

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