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ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


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ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS
Núcleo de Educação a Distância

PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira.

O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para
a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.

GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO


Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino

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Prezado(a) Pós-Graduando(a),

Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!


Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma
nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a
ascensão social e econômica da população de um país.
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Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-


de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profissionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver
um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu-
ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos
conhecimentos.

Um abraço,

Grupo Prominas - Educação e Tecnologia

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Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas!

É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha


é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização.
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.
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Estude bastante e um grande abraço!

Professor: Cleber Lizardo de Assis

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O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao
seu sucesso profisisional.

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Esta unidade discutirá os primórdios da pena e da penalidade
à luz da lei, para introduzir comentários sobre as diretrizes oficiais de
assistência à saúde no sistema prisional, a partir da Lei de Execução
Penal – LEP, bem como os elementos que constituem o tratamento
nos estabelecimentos penais federais, além de alguns documentos
oficiais importantes para o gestor do sistema prisional, como o Plano
Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) e a Política de
Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sis-
tema Prisional (PNAISP) no âmbito do SUS. Descreve os modos de
assistência no contexto prisional, em especial, a assistência à saúde,
a assistência social e religiosa, e a assistência laboral, desportiva, lú-
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dica e cultural. Finalmente, aponta o lugar da ciência e profissão Psi-


cologia, sua breve história e objetos de estudos, para então se articular
ao tema do Sistema Prisional, introduzindo as demandas e possibili-
dades de atuação da psicologia no sistema prisional, especialmente a
promoção da saúde mental no contexto do encarceramento, além de
algumas possibilidades de atuação da psicologia no sistema prisional.

Gestão. Sistema Prisional. Psicologia. Saúde Mental.

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Apresentação do Módulo ______________________________________ 11

CAPÍTULO 01
DIRETRIZES OFICIAIS DE ASSISTÊNCIA À SAUDE NO SISTEMA PRI-
SIONAL

Sobre Pena e Punição: Algumas Notas Históricas _______________ 12

Tratamento nos Estabelecimentos Penais Federais _______________ 14

Lei de Execução Penal – LEP ____________________________________ 15

Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP) _____ 19

Política de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Li-

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berdade no Sistema Prisional (PNAISP) no Âmbito do SUS ______ 23

Recapitulando _________________________________________________ 25

CAPÍTULO 02
ASSISTÊNCIA À SAÚDE NO ÂMBITO NO SISTEMA PRISIONAL

A Assistência Social e Religiosa _________________________________ 30

Assistência Laboral, Desportiva, Lúdica e Cultural _______________ 33

Assistência a Saúde ____________________________________________ 40

Recapitulando _________________________________________________ 44

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CAPÍTULO 03
A PSICOLOGIA E O SISTEMA PRISIONAL

Psicologias: Introdução aos Diversos Campos da Psicologia ____ 49

Demandas e Possibilidades de Atuação da Psicologia no Sistema


Prisional _______________________________________________________ 54

Recapitulando __________________________________________________ 63

Considerações Finais ____________________________________________ 68

Fechando a Unidade ____________________________________________ 69

Glossário ________________________________________________________ 72

Referências _____________________________________________________ 73
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Historicamente as prisões e o cárcere têm sido utilizados como
espaços especializados em punição e aplicação da vingança social so-
bre o criminoso, como mera instituição de vigilância e punição, segun-
do Foucault. Entretanto, com o aperfeiçoamento jurídico internacional,
respirando ares da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que
tem engendrado processos e diretrizes para um tratamento humano aos
sujeitos encarcerados, o Brasil como signatários desses tratados, vem
procurado realizar sua tarefa de oferecer melhor uma assistência nesse
contexto, embora saibamos fartamente das condições precárias e insa-
lubres dos cárceres brasileiros.
Além disso, se indaga se as prisões seriam lugares ideais para
recuperar ou ressocializar os sujeitos nela “depositados”, posto que
suas condições poderiam apenas potencializar doenças e a própria cri-
minalidade que pretende enfrentar. Por outro lado, a população carcerá-
ria no Brasil cresce a cada ano, e o Estado não consegue acompanhar
tal demanda, em termos de quantidade e qualidade de serviços, insta-
lações e recursos humanos. Nesse contexto, de instituição total, falida
para alguns, e “mal-necessário” para outros, se questiona sobre o papel
da ciência e da profissão de Psicologia.
Deste modo, antes de apontar esse papel da Psicologia, será

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necessário introduzir algumas diretrizes oficiais de assistência à saúde
no sistema prisional, tal como a Lei de Execução Penal – LEP, apon-
tar como deve ser o tratamento nos estabelecimentos penais federais,
o que preconiza o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário
(PNSSP) e a Política de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Priva-
das de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no Âmbito do SUS.
Na sequência, caracterizamos algumas das assistências neces-
sárias ao sujeito preso, como a saúde, a assistência social e religiosa, além
da assistência laboral, desportiva, lúdica e cultural, no sistema prisional.
Finalmente, ao discutir Psicologia e o Sistema Prisional, apresentamos al-
guns campos teórico-técnicos da Psicologia, levantamos demandas e pos-
sibilidades de atuação da Psicologia no Sistema Prisional, especialmente
com a saúde mental do sujeito preso. Tais reflexões levantadas visam o
engendramento de uma Gestão do Sistema Prisional realista, de modo a
considerar as fragilidades e potencialidades nesse contexto, e fomentar o
profissional e um projeto possível de intervenção nesse estado de coisa.

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DIRETRIZES OFICIAIS DE ASSISTÊNCIA


À SAUDE NO SISTEMA PRISIONAL

SOBRE PENA E PUNIÇÃO: ALGUMAS NOTAS HISTÓRICAS

Sabemos historicamente que, desde o começo das primeiras ci-


vilizações, que as sociedades criam leis e ajustam no modo de execução
das mais diversas penalidades, castigos ou mesmo infligir algum tipo de
sanção ao sujeito desviante das normas grupais estabelecidas. Tais siste-
mas de leis e regas funcionam como forma de ordenar o meio, a natureza
e o convívio entre os indivíduos, mesmo que a custo de infligir medo,
terror e excessos de repressão. Ou seja, a criação e a aplicação de pena
é bem antiga e narrada nas escrituras bíblicas, e outros relatos religiosos,
e civis de outros povos, incluindo penas e sentenças de morte, embora
atualmente seja motivo de severas discussões, nas mais diversas esfe-
ras sociais, religiosas e políticas. Não entraremos no mérito de favor ou
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desfavor da pena de morte, mas a sua legalidade ou não, requer uma
consideração para o contexto e parâmetros sociais e culturais da época.
O conjunto de procedimentos que direcionam o indivíduo à mor-
te chama-se “execução” e, durante as diversas culturas, teve um caráter
público e notório, com um efeito exemplar. Como sinaliza Foucault (2011,
p. 101), “a punição ideal será transparente ao crime que sanciona; assim,
para quem a contempla, ela será infalivelmente o sinal do crime que cas-
tiga; e para quem sonha com o crime, a simples ideia do delito despertará
o sinal punitivo”. Alguns historiadores apontam essa prática da pena des-
de as civilizações mais antigas, como exposto no importante Código de
Hamurábi (1728 – 1687 a. C.), na Mesopotâmia, como um conjunto de
leis escritas, onde a pena era tratada como “vingança privada” e onde já
se estabelecia a pena de Talião, “olho por olho, dente por dente”, vida por
vida”, e que depois apareceria na Torá (livro sagrado dos judeus).
Existe ainda uma classificação histórica, de quatro fases que
marcam evolutivamente o processo histórico da pena, que são: vingan-
ça privada, vingança divina, vingança pública e período humanitário.
O período da “vingança privada” é considerado a etapa mais antiga da
pena, caracterizada pela existência de atos primitivos, sem uma puni-
ção amplamente democrática, em que muitas vezes era voltada às pes-
soas mais humildes e sem muitos recursos. No período da “vingança

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divina”, já com associação aos princípios religiosos, com grande ênfase
na divindade e seus oráculos, as leis penais estavam inseridas em li-
vros e códigos sagrados: nesse caso, algum profeta ou sacerdote era
o mediador entre a divindade, a comunidade e o sujeito punido. Aqui,
inclusive, por acreditarem em conceitos como vingança ou benção divi-
na, os deuses eram bajulados e constantemente adorados, para que se
pudessem obter abundância.
No período da “vingança pública”, já havia um tipo de Estado com
execução de penas severas e quando ocorriam as famosas execuções em
praça pública e com um caráter espetacular, quando algum soberano ou
ditador exibia seu poder perante a sociedade. Embora sempre em aperfei-
çoamento, a vingança pública se associa a um período socialmente mais
sistematizado, mesmo ministrando as famosas decapitações, esquarteja-
mento e outros castigos cruéis que ocorriam em praça pública na Europa
no século XVIII, por exemplo (Oliveira, 2003, p.36). Finalmente, o “perío-
do humanitário”, marcado pelo advento da razão, no final do século XVIII,
quando o Iluminismo desencadeava um período considerado mais huma-
no para todas as áreas dos saberes, instituições e para o Direito Penal.
Nesse período vigorou a justiça penal e em relação a pena, através do uso
da razão, o objetivo era justamente reformular os fatídicos acontecimentos
injustos. Desde o advento da Proclamação da República no ano de 1889,
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os acontecimentos relacionados à pena de morte foram excluídos do Có-
digo Penal Brasileiro, e a pena privativa de liberdade foi atribuída como um
instrumento significativo para manutenção do controle social.

TRATAMENTO NOS ESTABELECIMENTOS PENAIS FEDERAIS

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (2014), a partir de


seu Relatório Mensal do Cadastro Nacional de Inspeções nos Estabe-
lecimentos Penais (CNIEP), essa é a quantidade de presos no Brasil:

Eram 700 mil pessoas presas naquela época, sendo que 95%
são homens e 05% de mulheres, mas como tem sido o tratamento dessa
população no Sistema Prisional? Aliás, afinal, os sujeitos presos têm direito
a ser bem tratados após o acometimento de seus crimes? Ou seriam o mal
tratamento e as más condições, como superlotação e condições insalu-
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bres, formas de punir essas pessoas por seus crimes? O Sistema Prisio-
nal Brasileiro possui diretrizes e normativas, além de políticas e planos de
assistência à pessoa presa, de modo a não lhe ferir a dignidade humana.
Conhecer essas diretrizes e documentos oficiais são de funda-
mental importância para uma prática de gestão junto ao sistema prisional,
especialmente, na assistência à saúde e à inserção da Psicologia nesse
contexto. O termo “tratamento” pode adquirir diversos sentidos no contexto
penitenciário, seja relacionado à aplicação da pena (o tratamento jurídico)
ou à execução da pena (como forma de punir determinado delito), ou ain-
da, referir-se aos modos de dispensação de castigos ou medidas repressi-
vas, e ainda, modos mais humanizados de atendimento ao sujeito preso.
Quanto ao primeiro modo, de acordo com o Código Penal Bra-
sileiro, qualquer ato somente pode ser considerado crime, caso haja
uma lei anterior que assim o classifique e estabeleça uma sanção, de
modo que determinado ato infracional receberá da lei, o “tratamento
penal” que lhe cabe por correspondência. A esse modo de tratamento
penal denomina-se individualização da pena, conforme o Código Penal.
Entretanto, há um outro modo de conceber o tratamento penal,
que possui conotações médico-psiquiátricas, em termos de tratar o su-
jeito preso como um “paciente” ou “doente” com o seu delito-doença, e
aqui entra um conjunto de técnicas e formas de dispensação de medi-
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das sobre o sujeito, visando sua “cura”, como trabalhos, estudo, mora-
lização, castigos físicos e até mesmo remédios. É importante salientar
que, ao longo da história, vem ocorrendo diversas concepções de cri-
me, criminoso e a pena-tratamento a que deve ser submetido; neste
caso, o atual preso, ao longo do tempo foi considerado desde um sujeito
que age intencionalmente, ou ainda sem juízo perfeito ou com alguma
doença mental, ou ainda como consequência do seu próprio meio.
Deste modo, o tratamento do sujeito pode ter diversas me-
tas, desde a recuperação do sujeito doente ou a sua reinserção à so-
ciedade, a um estado saudável e à ordem jurídico-legal. Dentre essas
concepções de sujeito e modos de tratamento, aparecem os termos
diversos, com seus horizontes, que se pretende alcançar: recuperar,
ressocializar, reintegrar ou simplesmente punir.

Em vários tempos e locais da história, as punições ao cri-


minoso eram públicas e com caráter de espetáculo:

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“Pouco a pouco deixou de ser uma cena. E tudo o que pu-
desse implicar de espetáculo desde então terá um cunho negativo;
e como as funções de cerimônia penal deixavam pouco a pouco de
ser compreendidas, ficou a suspeita de que tal rito que dava um
“fecho” ao crime mantinha com ele afinidades estúpidas: igualan-
do-o, ou mesmo ultrapassando-o em selvageria, acostumando os
espectadores a uma ferocidade de que todos queriam vê-los afas-
tados, mostrando-lhes a frequência dos crimes, fazendo o carras-
co se parecer com criminoso, os juízes aos assassinos, invertendo
no último momento os papéis do supliciado um objeto de piedade
e de admiração”. (FOUCAULT, 1987, p. 13).

LEI DE EXECUÇÃO PENAL – LEP

A partir de 1988, com a Constituição Cidadã, o país constituiu


um arcabouço jurídico e político em torno da pessoa que comete delito ou
crime, com destaque para a Lei de Execução Penal – LEP, Lei 7.210/84,
de 11 de julho de 1984, que buscar afirmar o princípio da legalidade e
a garantia dos direitos fundamentais dos sujeitos condenados, desde a
promoção da sentença às condições para integração social do conde-
nado. A esse conjunto de dispensação jurídico e institucional, a LEP não
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adota o termo “tratamento”, mas “assistência” ao sujeito criminoso e em
estado de prisão, de modo que no art. 10, tece o seu objetivo maior junto
ao preso: “objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à sociedade”
Temos apontado que a execução penal, ou seja, o cumprimento
da pena tem por objetivo, efetivar as disposições de sentença ou decisão
criminal e proporcionar condições para uma harmônica integração social
do condenado e do internado de volta à sociedade. Toda a jurisdição
penal dos juízes ou tribunais de justiça ordinária deve ser exercida no
processo de execução, de acordo com a Lei de Execução Penal e Código
de Processo Penal, como expresso no Art. 1º. A LEP nesse sentido, deve
ser aplicada tanto ao preso provisório, como ao condenado pela Justiça,
e isso quando o preso estiver recolhido em um presídio e sujeito a uma
jurisdição ordinária. O procedimento previsto na Lei de Execução Penal
se desenvolve perante o juízo de Execução Penal, uma vez que a lei não
pode excluir da apreciação do Poder Judiciário. Essa mesma Lei, nos
seus artigos a seguir, estipula as áreas de assistência ao sujeito preso:
- Art7: Determina a presença do profissional de psicologia
como integrante da Comissão Técnica de Classificação; Já em 02 de
dezembro de 1994, dez anos depois da LEP, se estabelece nas Regras
Mínimas para Tratamento do preso no Brasil, publicada no Diário Oficial
da União, que deve haver a assistência psicológica nos serviços de
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saúde e assistência sanitária.


- Art 11: Assistência nas áreas de saúde, jurídica, educacional,
social, religiosa e material.
- Art 14: Define assistência à saúde como atendimentos médi-
co, farmacêutico e odontológico.
A partir da LEP, o Estado sistematiza o exercício das atividades
punitivas ao sujeito que comete determinado crime, e nesse caso, a
pena é uma sentença penal condenatória, sendo que essa pena pode
ser atribuída como privativa de liberdade, pena restritiva ou pena de
multa. Ou seja, a pena é uma condição estabelecida pelo Estado, em
que o mesmo reprime uma atitude delituosa de um sujeito. No caso da
Lei de Execução Penal, seu objetivo refere-se tanto o cumprimento efe-
tivo da sentença condenatória, como a recuperação do sentenciado e o
seu retorno à convivência social.
Segundo esse fito, a Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84) inicia
retratando o objetivo da execução penal, atribuídos em dois seguimen-
tos: aplicando fielmente a sentença da decisão criminal e a reintegração
social do condenado e internado. E mais, a lei é aplicada ao preso pro-
visório e ao preso pela justiça eleitoral e militar, quando estiver recolhido
em estabelecimento ordinário. Nesse aspecto, mais do que vingança indi-
vidual ou de algum déspota, o aspecto mais significativo do Direito Penal
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expresso na LEP é a obtenção da paz social, e no momento em que uma
pessoa física comete uma infração grave, o Estado atua investigando ou
processando o mesmo para que ocorra a execução da pena. Assim, a Lei
nº 7.210 de 11 de julho de 1984 defende como objetivo da lei de execução
penal no art. 1º: “a execução penal tem por objetivo efetivar as disposi-
ções de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado”.
Nesse sentido, a LEP é ousada, com a finalidade da execução
não apenas punir o sujeito, mas oferecer condições lhe o auxiliem nesse
período de restauração, seja possível reintegrá-lo novamente à socieda-
de, de um outro modo de ser. Ou seja, além de uma busca da harmonia e
integração social do preso, busca-se cuidar do sujeito objeto da execução
e um modo de defesa social. Em suma, a Lei de Execução Penal estabe-
lece um conjunto de direitos e deveres bilaterais entre o sujeito preso e do
Estado, e apresenta avanço ao estipular as áreas de assistência ou tra-
tamento ao sujeito, além de inserir o serviço psicológico nesse contexto.
Entretanto, a partir da Execução Penal atual percebe-se que a
aplicabilidade do expresso na LEP está longe do ideal e, na prática, acaba
deixando a desejar sob diversos setores em que deveria atuar de forma
mais enérgica. Indaga-se se interessa ao Estado prover um ambiente dig-
no à população carcerária, muito menos gerir o assistencialismo neces-

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sário aos desamparados e que padecem no cárcere. Nesse contexto, de
atentado à dignidade da pessoa humana, incluem-se violações diversas,
especialmente as de Direitos Humanos e que, mesmo assim, legitimam o
poder estatal a continuar empilhando mais pessoas em verdadeiras mas-
morras urbanas, sem qualquer estrutura. Vale dizer, preocupa-se muito
mais com a criminalização de condutas, de forma a encarcerar o maior
número de pessoas ditas “desviantes” e, por outro lado, simplesmente
esquece-se de tratar o sujeito quando já em ambiente segregacional.
Embora aponte avanços significativos, há preocupação se o
Estado acaba por desrespeitar praticamente todos os fundamentos da
LEP, que determinam um caráter de cumprimento justo, igualitário e
ressocializador da pena, ao passo que as consequências disso poderão
ser observadas no egresso do detento, para a sociedade que outrora
lhe deu as costas. Sob esse prisma, não é um fracasso somente do
preso, caso este volte a delinquir, mas também da sociedade, por não
prover um sistema de políticas públicas, efetivamente inclusivas, numa
perspectiva humanitária e de redução de danos.
Mirando em nossa Constituição, a execução penal no Brasil
carece de aplicabilidade do expresso na Carta Magna, especialmente
no que tange aos direitos fundamentais dos apenados que, vale dizer,
mesmo em situação de cárcere, ainda são possuidores dessas prerro-
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gativas, pois, estes atingem toda e qualquer pessoa, não importando
seu grau de vulnerabilidade no sistema. Para além do senso comum
punitivista, necessitamos de um aprimoramento das práticas ressociali-
zantes, além da efetivação de políticas públicas que possam acolher o
detento, desde o momento de entrada no cárcere, até o egresso já em
meio à sociedade, sob pena de se continuar com o deplorável quadro de
abandono e de ineficácia estatal que cerca a execução penal no Brasil.
Todos sabemos que o sistema de execução penal brasileiro
e os métodos de cumprimento de pena desrespeitam a legislação em
vigor, e precisam passar por uma reforma. Nesse sentido, é preciso
respeitar a Lei de Execução Penal (LEP) no tocante aos direitos da
pessoa humana encarcerada, pois, se ouvidos e tratados com alguma
equidade, é possível que os presos reformulem seus projetos pessoais.
Embora a LEP seja considerada moderna, o Estado não conse-
gue cumpri-la, causando falhas e distorções que agravam a situação dos
apenados e abrem caminho à reincidência, além do desafio de superar o
conceito de prisão apenas como punição, investindo no caráter de reinte-
gração previsto em lei. Neste caso, o Estado deve deixar de confiar nas
virtudes da LEP, investindo simplesmente em punição, sem se atentar
para o modo, a qualidade e a maneira como essa resposta deve aconte-
cer, perdemos o foco do que havia de mais significativo em uma legisla-
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ção, que buscava a reconciliação do autor de um crime com a sociedade.


À luz da própria LEP, sabemos das violações encontradas nas
superlotações, no descaso com o preso provisório e na mistura deste
com os condenados, assim como entre os detidos por diferentes tipos
penais. Por trás disso ainda há uma falta de diálogo entre os atores es-
tatais envolvidos e dificuldades operacionais e de pessoal, como falhas
no monitoramento dos regimes semiaberto e aberto, e desvalorização
e falta de preparo de agentes penitenciários e profissionais de assis-
tência. Outra fragilidade do sistema prisional, à luz da LEP, é a falta de
ações efetivas voltadas ao egresso, além de políticas preventivas volta-
das aos jovens, principal alvo da criminalidade.
Portanto, o Estado deve se empenhar no combate à ociosida-
de do preso, investindo na ampliação de oportunidades de trabalho e
estudo (hoje existem, mas faltam vagas) e atue para reduzir o estigma
dos ex-condenados junto à sociedade. Também deve incentivar a moti-
vação individual do preso, a aproximação da família e da religião, e o fim
do tráfico e uso de drogas dentro das cadeias, que embora proibidos,
foram amplamente identificados.

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Lei de Execução Penal - LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE
1984. Essa lei tem por objetivo “efetivar as disposições de senten-
ça ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica
integração social do condenado e do internado”
Acesse o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/
L7210.htm.

PLANO NACIONAL DE SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO (PNSSP)

Antes desse Plano Nacional, é importante saber dos seus an-


tecedentes históricos, com destaque para a década de 1970, quando
o Brasil presenciou uma ânsia por democratização, reivindicação por
justiça e proteção social, cidadania e direitos, quando ocorre a Reforma
Sanitária. Na sequência, em 1988, se promulga a Constituição Federal
(CF), considerada um marco da luta pelos direitos fundamentais, de
modo a responder a esses anseios de democracia, liberdade, cidada-

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nia, dignidade da pessoa humana e justiça social. Essa Carta assegura
como princípio que “[...] todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza [...]” (Art. 5º), além de estabelecer que Art. 196 A
saúde é direito de todos e dever do Estado (Art 196).
Importante lembrar que nessa época ganhou destaque o movi-
mento da Reforma Sanitária, responsável pela luta pela democratização
da saúde como direito de todos e pela ampliação do conceito de saúde-
-doença, de forma a considerar a interferência dos determinantes sociais
no processo de encarceramento. Importante ainda, a 8.ª Conferência Na-
cional de Saúde, realizada em 1986, constituiu um verdadeiro marco na
sistematização das propostas desenvolvidas pelo movimento sanitário,
as quais foram incorporadas na Carta Magna de 1988, por meio do SUS.
Nessa perspectiva, a posição que o conceito de saúde atualmente ocupa
no ordenamento jurídico pátrio, como direito fundamental e social, reflete
a preocupação peculiar do constituinte, com o tema e sua direta relação
com a proteção à dignidade da pessoa humana.
Entretanto, ao longo da história, verificou-se um distanciamen-
to entre as propostas da política social e da política prisional, sendo que
a postura do Estado sempre foi a de priorizar ações repressivas, ou
seja, ações não educativas e pouco integradoras às pessoas em situa-
ção de privação de liberdade e conflito com a lei.
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Deste modo, os agravos em saúde que acometem a popula-
ção geral, não apenas são também encontrados no sistema prisional,
como são de maneira potencializada, por conta das condições precárias
de grande parte das unidades prisionais, além do fenômeno do super
encarceramento, como dito. Portanto, é crucial que tais políticas públi-
cas sejam interdisciplinares e transversais, de modo a atender a todos,
quaisquer sejam suas especificidades.
Por outro lado, o crescimento dos índices de encarceramento e as
questões relacionadas à desigualdade social, tencionaram as instituições
à elaboração de políticas sociais que visam melhorar as condições de vida
no sistema carcerário. A questão da saúde prisional, portanto, se apresenta
como um desafio aos gestores públicos e para o sistema de justiça.
No bojo das mudanças e renovação social e política, especial-
mente no campo assistencial, ocorre como marco a 8ª Conferência Na-
cional de Saúde, que sistematiza as propostas do movimento sanitário,
já incorporadas pela Constituição, através do Sistema Único de Saúde
(SUS) e na sequência se promulga a Lei nº 8.080, de 19 de setembro
de 1990, que [...] dispõe sobre as condições para a promoção, proteção
e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Essa Lei institui os princípios
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fundamentais do SUS:

Art. 7º [...] I -universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os


níveis de assistência;
II -integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e con-
tínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
III -preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade
física e moral;
IV - igualdade da assistência à saúde, sempre conceitos ou privilégios de
qualquer espécie. (BRASIL, 1990).

Uma norma importante, nº 7.210, de 11 de julho de 1984, ins-


tituiu a Lei de Execução Penal; o Plano Nacional de Saúde no Sistema
Penitenciário (PNSSP), estabelecido por meio da Portaria Interministe-
rial n.º 1.777MS/MJ, de 9 de setembro de 2003; e, mais recentemente,
a foi proposta a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pes-
soas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), a qual tem
como principal objetivo o acesso ao cuidado integral em saúde.
Com todas as precariedades das prisões brasileiras e à luz
dessas mudanças de concepções em saúde como direito do cidadão e
dever do Estado, e acerca da população carcerária, a Lei de Execução
Penal compreende no seu art. 10que “[...] a assistência ao preso e ao
20
internado é dever do Estado [...]” e destaca no Art 14 que “[...] a assis-
tência à saúde [...]de caráter preventivo e curativo, compreenderá aten-
dimento médico, farmacêutico e odontológico.” (BRASIL, 1984).
De acordo com o Plano PNSSP “[...] É preciso reforçar a pre-
missa de que as pessoas presas, qualquer que seja a natureza de sua
transgressão, mantêm todos os direitos fundamentais a que têm direito
todas as pessoas humanas, e principalmente o direito de gozar dos mais
elevados padrões de saúde física e mental”. Esse trecho merece alguns
destaques: Primeiro – O encarcerado não deixa de ser humano digno,
apesar de sua transgressão, portanto, se equipara em direito à pessoa
não-presa; Segundo – defende o direito de gozar de 'elevados padrões
de saúde', embora saibamos que seja uma idealização do documento,
posto que a própria população em geral não usufrui tal padrão; Terceiro:
destaca a saúde como integral, ou seja, da dimensão física e mental,
onde inserimos a dimensão da subjetividade e das emoções.
Esse Plano foi um marco na atenção em saúde voltada à popula-
ção privada de liberdade, pois, teve como objetivo prover atenção integral
à saúde da população prisional, contribuir para o controle e/ou redução
dos agravos mais frequentes à saúde da população penitenciária brasilei-
ra, a partir de um elenco mínimo de procedimentos no âmbito da promoção
da saúde, prevenção de agravos e assistência, e aproximar a população

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


prisional ao SUS, buscando garantir que o direito à saúde se efetivasse,
a partir de uma perspectiva de direitos humanos e cidadania. Conforme
supramencionado, enquanto a LEP cita a “assistência” ao “preso”, o Plano
abarca a promoção da saúde, ao aludir à atenção integral à população
prisional, ainda que recorte a população penitenciária, pois, contemplou
aqueles recolhidos nas unidades masculinas, femininas e psiquiátricas,
conforme disposto no art. 1.º da Portaria instituidora do respectivo Plano.
O Plano traça, portanto, o elenco mínimo de procedimentos no
âmbito da promoção da saúde, prevenção de agravos e assistência em
unidades de saúde do sistema prisional, no nível de atenção básica e
de média complexidade e ações complementares, destacando o controle
da tuberculose, da hipertensão e diabetes, da dermatologia sanitária –
hanseníase, a saúde bucal, a saúde da mulher, o diagnóstico, aconse-
lhamento e tratamento em doenças sexualmente transmissíveis (DST) e
HIV/AIDS, a assistência farmacêutica básica, as imunizações e a coleta
de exames laboratoriais. No tocante às competências, elas são compar-
tilhadas entre o Ministério da Saúde, responsável pela gestão do Plano
em âmbito federal; o Ministério da Justiça; as Secretarias Estaduais de
Saúde; as Secretarias Estaduais de Justiça ou correspondentes e as Se-
cretarias Municipais de Saúde. Ou seja, a gestão das ações e serviços de
saúde no sistema penitenciário passou a ser de incumbência dos órgãos
21
de saúde das três esferas de governo e as ações preventivas passaram
a ser prioridade, em consonância com a Constituição Federal.
Ainda no contexto da PNAISP, as ações de saúde serão ofer-
tadas por serviços e equipes interdisciplinares. Sobre atenção básica,
será ofertada pelas equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS), de-
finidas no território ou por meio das Equipes de Saúde no Sistema Pri-
sional (ESP), observada a pactuação estabelecida (art. 9º da PNAISP).
Cabe ressaltar que, as equipes atuarão nos complexos penitenciários
e/ou nas unidades prisionais, com população superior a 1.000 (mil) pes-
soas privadas de liberdade e será regulamentada por ato específico do
Ministro de Estado da Saúde (art. 9º, § único da PNAISP). Essa previ-
são normativa aparenta contribuir no sentido de favorecer a redução
dos deslocamentos das pessoas privadas de liberdade.
O Plano se coaduna com a universalidade do acesso aos demais
níveis de atenção à saúde, ou seja, o especializado e não apenas o da
atenção básica. Contudo, o foco era na redução de riscos, prevenção de
agravos e doenças. Aponta a limitação dos dois indicadores normativos
de avaliação previstos no próprio Plano, quanto ao seu objetivo de prover
atenção integral à saúde da população prisional, que são o quantitativo de
estados da federação, qualificados ao Plano e de Equipes de Saúde no
Sistema Penitenciário (EPENs), instaladas em estabelecimentos penais.
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

Segundo tais indicadores, o Plano, em dez anos, seria muito bem-


-sucedido, ainda que deixasse a desejar pelo número de EPENs, cuja co-
bertura da assistência seria de 25 a 30% da população. Passa a considerar
então, outros elementos na avaliação do Plano, como o contraste da cober-
tura assistencial de outros programas governamentais. Um deles seria a
Estratégia de Saúde da Família (ESF), mostrando aumento, mas também
a desproporcionalidade em relação ao crescimento da população carcerá-
ria e da população em geral/nacional. Outro é o da área de saúde mental,
quanto ao número de Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) implantados,
cujas ações e serviços dirigem-se a uma população específica e apresenta
aumento nos últimos anos e, portanto, incremento do acesso. Em ambos
os casos, no entanto, se considerar o tempo isoladamente às respectivas
coberturas, o Plano seria também um sucesso.
Ocorre que, como bem sabemos, nos presídios o saneamento
básico é precário ou inexistente, além de superlotado, o que produz diver-
sas doenças infecto-contagiosas, como a tuberculose, pneumonia, he-
patite, doenças sexualmente transmissíveis, dentre outros. Finalmente,
o Plano prossegue: “As pessoas estão privadas de liberdade e não dos
direitos humanos inerentes à sua cidadania. (BRASIL,2005, p. 12). Em
suma, embora o Plano inove ao propor noções integrais de saúde, equi-
parar em direito o sujeito preso ao cidadão comum e apontar diretrizes
22
para a assistência à saúde, considerando as realidades dos presídios,
sabemos que há um grande hiato entre propor a norma e a situação do
contexto prisional, entretanto, o mesmo Plano serve de norte para profis-
sionais de gestão e saúde considerarem sua atuação nesses espaços.

POLÍTICA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DAS PESSOAS PRI-


VADAS DE LIBERDADE NO SISTEMA PRISIONAL (PNAISP) NO ÂM-
BITO DO SUS

Visando aperfeiçoar a atuação do Estado às pessoas encarcera-


das, após todas as diretrizes e normas apresentadas, mais recentemen-
te, no 2 de janeiro de 2014, foi publicada a Portaria Interministerial nº 1,
que instituiu a PNAISP, com o objetivo de ratificar os princípios de univer-
salidade, integralidade e equidade presentes no SUS, além de fortalecer
a prática da intersetorialidade entre a Justiça e Segurança, o Desenvol-
vimento Social e os Direitos Humanos (BRASIL, 2014a). Em adjunto, no
dia 1º de abril de 2014, a Portaria nº 482 instituiu as normas para a opera-
cionalização da PNAISP no âmbito do SUS (BRASIL, 2014b).
Desta forma, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (em anexo)

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


tenta garantir os direitos previstos na Constituição e nos princípios do
SUS, buscando assegurar o acesso ao cuidado integral em saúde às
pessoas no sistema prisional, sejam aquelas em regimes semiaberto,
aberto, e em medida de segurança(BRASIL, 2014b).
Para efetivar essa assistência, a PNAISP prevê atividades pre-
ventivas e de promoção à saúde, além de controle e redução dos agravos
mais frequentes que acometem a população do cárcere e, para tais obje-
tivos, prevê educação continuada dos profissionais, além de relações in-
tersetoriais entre as equipes de saúde e gestão. A Portaria nº 482, de 1 de
abril de 2014, que institui normas de operacionalização da PNAISP, esta-
belece que as unidades prisionais devem ofertar os serviços de atenção
básica, por equipes multiprofissionais, incluindo profissionais de saúde
mental. Os profissionais da equipe básica prisional são similar à equipe
técnica da Estratégia Saúde da Família (ESF), composta por
enfermeiro, médico, cirurgião-dentista, técnico de enfermagem e técni-
co em saúde bucal, além de profissionais da área de psicologia, farmá-
cia, serviço social, fisioterapia, nutrição, dentre outros.
Finalmente, a política prevê pactuação facultativa entre a Fe-
deração, os estados e municípios que aderem, com previsão de repas-
se de recursos, adequações na implantação, além de monitoramento e
controle, de modo que se constitui num grande avanço, num país que
23
possui a terceira maior população prisional do mundo.

O ano é 1757. Local: ruas do centro de Paris. Ouve-se aos


gritos de “Meu Deus, tende piedade de mim! Jesus, socorrei-me!”.
Era Robert-François Damiens, um condenado por parricídio. Sen-
tença: ter a carne dos mamilos, dos braços, das coxas e da barriga
das pernas arrancada com tenazes; a mão direita (segurando a faca
que serviu como arma do crime) queimada com fogo de enxofre; as
feridas cobertas com chumbo derretido, óleo fervente, piche, cera
quente e enxofre; o corpo puxado e desmembrado por quatro cava-
los; o cadáver reduzido a cinzas e elas espalhadas aos quatro ven-
tos. E ainda não acabou a punição: as tenazes, embora afiadas, não
foram suficientes para arrancar a carne com facilidade, levando o
carrasco a dar vários puxões antes de conseguir, e os cavalos sozi-
nhos não puderam desmembrar o criminoso. Dai, a solução foi usar
uma faca para cortar a carne do sujeito quase até o osso, de manei-
ra que os puxões finalmente pudessem arrancar braços e pernas.
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

Conta-se que ele ainda estava vivo quando o tronco foi jogado na fo-
gueira. (Do livro Vigiar e Punir, de Michel Foucault (vide bibliografia).

Instituição total é aquela que controla ou busca controlar a


vida dos indivíduos a ela submetidos, substituindo todas as possi-
bilidades de interação social por "alternativas" internas. Pode ser
um local onde se vive e trabalha, tal como as prisões, mas também
os asilos, os conventos, por exemplo. O conjunto de efeitos cau-
sados pelas instituições totais nos seres humanos é chamado de
institucionalização. Erving Gofman propõe uma análise aprofun-
dada dessas instituições e seu modo de produzir sujeitos e suas
subjetividades (modos de ser).

24
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
(VUNESP - 2013 - SEJUS-ES - Agente Penitenciário)
A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preven-
tivo do faltoso pelo prazo de até
A) uma semana.
B) 24 (vinte e quatro) horas.
C) 3 (três) dias.
D) 30 (trinta) dias.
E) 10 (dez) dias.

QUESTÃO 2
(VUNESP - 2013 - SEJUS-ES - Agente Penitenciário) Quanto ao cri-
me de tortura previsto na Lei n.° 9.455/97, pode-se afirmar que:
A) incorre na pena prevista para o crime de tortura quem submete pes-
soa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou men-
tal, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultan-
te de medida legal.
B) o cumprimento da pena deve ocorrer integralmente em regime fechado.
C) admite fiança nas hipóteses legais.

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D) não incorre na prática do crime de tortura aquele que se omite em
face de sua prática, ainda que tenha o dever de evitá-la.
E) a condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego públi-
co e a interdição para seu exercício pelo prazo da pena aplicada.

QUESTÃO 3
(VUNESP - 2013 - SEJUS-ES - Agente Penitenciário)
Analise as assertivas a seguir:
I. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a não
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda;
II. submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico
ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo;
III. constranger alguém com emprego de grave ameaça, causando-
-lhe sofrimento mental em razão de discriminação religiosa.
À luz da Lei n.º 9.455/97, constitui crime de tortura o que se afirma em
A) I e III, apenas.
B) II, apenas.
C) I e II, apenas.
D) I, II e III.
25
E) II e III, apenas.

QUESTÃO 4
(VUNESP - 2013 - SEJUS-ES - Agente Penitenciário)
Nos termos da Lei n.° 9.455/97, a pena é aumentada se o crime de
tortura for cometido
A) com abuso de autoridade.
B) por agente público.
C) com emprego de veneno.
D) contra agente público.
E) com violação de dever inerente a cargo.

QUESTÃO 5
(NUCEPE, 2010 - SEJUS-PI, Agente Penitenciário). De acordo com
a Constituição de 1988, é INCORRETO afirmar no que se refere aos
direitos dos presos:
A) o preso tem direito ao respeito a sua integridade física e moral.
B) o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de perma-
necer calado.
C) durante o período de amamentação, às presidiárias serão assegura-
das condições para que possam permanecer com seus filhos.
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

D) o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão


ou interrogatório policial.
E) no caso de prisão ilegal, será concedido mandado de segurança ao
preso.

QUESTÃO 6
(NUCEPE - 2010 - SEJUS-PI - Agente Penitenciário)
Constituem direitos dos presos, previstos na Lei de Execuções Pe-
nais, EXCETO:
a) previdência social.
b) audiência especial com o diretor do estabelecimento prisional.
c) asseio da cela ou alojamento.
d) proteção contra qualquer forma de sensacionalismo.
e) chamamento nominal.

QUESTÃO 7
(NUCEPE - 2010 - SEJUS-PI - Agente Penitenciário)
No que se refere ao trabalho do preso, é INCORRETO afirmar:
a) o trabalho do preso será remunerado, não podendo ser inferior a um
salário mínimo.
b) terá finalidade educativa e produtiva.
26
c) as tarefas executadas como prestação de serviços à comunidade não
serão remuneradas.
d) a jornada de trabalho não será inferior a 6 (seis), nem superior a
8(oito) horas, com descanso nos domingos e feriados.
e) o trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviços ou obras públicas, desde que tomadas as caute-
las contra a fuga e em favor da disciplina.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Há um dito popular que expressa um desejo de vingança com a pena
de morte aplicada ao sujeito que comete algum crime, sob a expressão:
“Bandido bom é bandido morto”. À luz do que estudamos nesse módulo,
argumente o equívoco dessa assertiva.

TREINO INÉDITO
No que concerne à disciplina do preso e às sanções aplicáveis,
especialmente considerando a atuação do gestor prisional, é IN-
CORRETO afirmar que:
a) é vedado o emprego de cela escura.
b) não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior pre-
visão legal.

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c) as sanções coletivas são permitidas, excepcionalmente.
d) comete falta grave o condenado que fugir.
e) no regime disciplinar diferenciado, o preso terá direito à saída da cela
por 2 horas diárias para banho de sol.

NA MÍDIA
A imagem de presos apinhados numa cela, de tão repetida, já anestesia os
paranaenses. Parece se tratar de mais um dos problemas crônicos, como
de resto, com os quais deveríamos nos acostumar – ao lado de morros
desabando e concessões à corrupção. O risco de virar rotina é, de fato,
de alta probabilidade. Como já chegou a declarar o sociólogo Francisco
de Oliveira, o sistema prisional é a única instituição pública mantida pelo
cidadão brasileiro, mas que não lhe diz respeito. Pouco sabe do assunto
e pouco lhe é dito. Por tabela, pouco pergunta, perpetuando a ignorância.
Cadeia e delegacia são vistas como questões do Estado, com as quais
não devemos nos meter. O preço pago por essa cultura é alto – estamos
entre as nações de destaque no desrespeito aos direitos humanos nas
prisões. Somos de ponta em administração do mundo do crime pelos que
estão atrás das grades. Tão grave é que uma das frases de 2012 foi a
do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declarando preferir mor-
rer a ir para uma prisão brasileira. Poderia ser repetida em coro por 190
27
milhões em ação. Em meio a esse cenário, uma boa notícia, publicada
quinta-feira passada nesta Gazeta do Povo. Nos dois últimos anos, o go-
verno do estado conseguiu reduzir em 40% o número de presos em de-
legacias. Foram transferidos para espaços adequados. É quase metade
da bomba desarmada – eram 16,2 mil presos; sobraram 9,1 mil à espera
de tratamento adequado: eles ainda dormem na delegacia. O interior, em
particular, ressente de medidas, é verdade, mas nada que tire o brilho da
notícia – a melhor dos últimos tempos em se tratando do sistema prisional
no Paraná. As delegacias funcionam como escoadouro das cadeias. São
sempre o pior remendo para o soneto. Impossível esquecer as descrições
que os presos dão dos pequenos espaços divididos por multidões. Cheiros
insuportáveis, três camas para 30 pessoas, hierarquias absurdas, ditando
quem manda e quem obedece. Tão absurdo quanto é deduzir que o está-
gio a que se chegou é resultado do descaso geral da nação com o assunto,
fazendo crescer o obscurantismo em torno das matrizes da violência. São
variações para o tema, é verdade. Se a palavra de ordem for olhar para
frente, a palavra certa é mirar no exemplo dado pela secretária de Estado
da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Maria Teresa Uille Gomes. Ela
agarrou esse touro à unha e seus esforços merecem continuidade. Sim,
porque a redução de 40% deixa ainda 60% por vir. Faltam 5.634 vagas
para sanar o déficit, como informa a reportagem, extirpando de vez a prá-
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tica ilegal de prender nas delegacias e não em unidades prisionais ou em


centros de triagem. Em paralelo às delegacias sendo usadas para o que
de fato se destinam, devem ser impulsionados outros processos, capazes
de reabilitar. E, o mais difícil, devolver a credibilidade ao sistema prisional.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo
Data: 05 de janeiro de 2013
Leia a notícia na íntegra: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/edi-
toriais/boas-novas-na-delegacia-9zyja1cupt5schmaoiso20oaw/.

NA PRÁTICA
Se por um lado há um crescimento da criminalidade em todas as suas
formas, ocorre no outro arco uma crescente superlotação dos presídios e
penitenciárias, enquanto o Governo corre atrás de modo lento na garantia
da segurança pública, seja no aspecto de construções e reformas de ins-
tituições prisionais, na criação de alternativas ao cárcere e especialmente,
na melhoria das condições socioeconômicas que andam intimamente liga-
das à criminalidade. Nesse caso, o próprio Estado brasileiro tem sido, vez
e outra, convocado a dar explicações e até mesmo sendo advertido por
cortes e tribunais internacionais, como omisso e criminoso. Nesse quadro,
teríamos um Estado que, ao não garantir condições justas e dignas a crian-
ças e jovens, os colocaria em estado de vulnerabilidades que os levariam
28
à prática criminal, para depois condenar esses sujeitos como se fossem
algozes e, por fim, lançando esses sujeitos num cárcere sem aquelas mes-
mas condições de existência que falharam na etapa anterior. Ou seja, o
Estado torna-se potencialmente criminoso dos seus próprios cidadãos, que
se deitam em berço nada esplêndido, de conivência e omissão.

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

29
ASSISTÊNCIA À SAÚDE NO
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

ÂMBITO NO SISTEMA PRISIONAL

A ASSISTÊNCIA SOCIAL E RELIGIOSA

A profissão de assistente social começou a surgir no Brasil a


partir da década de 1930, quando se criou a primeira escola de Serviço
Social na cidade de São Paulo, e em 1940, a primeira escola de Serviço
Social no Rio de Janeiro, e partir dessas experiências, surgem novas
escolas de Serviço Social nas capitais dos estados, com um perfil muito
associado a uma profissão feminina e religiosa, com atuação predomi-
nante junto à infância e juventude. Com o desenvolvimento profissional,
os assistentes sociais do sexo masculino passam a atuar nas penitenci-
árias brasileiras, principalmente nos estados de São Paulo e do Rio de
Janeiro. O assistente social ao iniciar as suas atividades na esfera da
Justiça da Juventude na década de 1940 (YAMAMOTO, 1991, 2008).
3030
Se, por um lado, do ponto de vista do tratamento penal, entre
as décadas de 80 e de 90 do século a atuação do pessoal técnico (as-
sistentes sociais, psicólogos e pedagogos) era o que propunha uma
ação voltada à reabilitação, com foco na pena e com objetivo de “moldar
o preso de acordo com os padrões de comportamento aceitáveis social-
mente” (PARANÁ, 2011, p.61), entretanto, a assistência social ganha
“novos paradigmas de intervenção”, quando busca uma articulação do
serviço com as políticas públicas, que visam a inclusão social e, por
conseguinte, o direito à cidadania do sujeito preso.
Desse modo, a assistência social visa a finalidade de amparar
o preso e o internado, e prepará-los ao retorno à liberdade, através
de diversos procedimentos estabelecidos pela Lei de Execução Penal
e pelos Conselhos da profissão, desde a triagem, entrevistas, seleção
para serviços e cursos, implantação de serviços, acompanhamentos e
pareceres sociais, intervenção familiar do preso, apoio na emissão de
documentos, credenciamento de visitas e encaminhamentos à assis-
tência externa à saúde. Assim, se nos primórdios, a assistência social
na prisão possuía um caráter menos politizado e mais assistencialista,
atualmente segundo CHUAIRI (2001):

O Trabalho do assistente social no campo sóciojurídico se caracteriza por uma

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


prática de operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas so-
ciais enfrentados pelos sujeitos no seu cotidiano e suas inter-relações com o
sistema de justiça. Além disso, esse espaço profissional permite a reflexão e a
análise da realidade social, da efetivação das leis e de direitos na sociedade,
possibilitando desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos
humanos e a eficácia da ordem jurídica em nossa sociedade. (CHUAIRI, 2001).

De modo associado à assistência social no contexto prisional,


importa salientar a importância da assistência religiosa ao sujeito preso,
considerando a importância da religião em nosso mundo ocidental e a
marcação do religioso no comportamento do brasileiro, dentro ou fora da
prisão. Nesse sentido, cabem considerações sobre esse tipo de assistên-
cia religiosa para se pensar a gestão do sistema prisional. Inicialmente é
importante salientar que a Constituição da República aponta que é invio-
lável a liberdade de consciência e de crença, de modo a ser assegurado o
livre exercício dos cultos religiosos, bem como a prestação de assistência
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
Por outro lado, as Regras Mínimas da Organização das Na-
ções Unidas (ONU) para Tratamento de Reclusos preveem a assistên-
cia religiosa em estabelecimentos penais, quando existir um número
relevante de presos da mesma religião, bem como o acesso dos presos
aos representantes religiosos para satisfazer as necessidades de sua
31
vida espiritual, assistindo aos serviços ministrados no estabelecimento
ou tendo em sua posse livros de rito e prática religiosa da sua crença.
A própria Lei de Execução Penal prevê a assistência religiosa
aos presos, bem como a liberdade de culto, garantindo-lhes a participa-
ção nos serviços organizados no estabelecimento penal. A Lei Federal
nº. 9.982/2000 dispõe sobre a prestação de assistência religiosa em
estabelecimentos penais e a Resolução nº. 14/1994 do Conselho Na-
cional de Política Criminal e Penitenciária prevê a assistência religiosa,
com liberdade de culto e a participação nos serviços organizados pelo
estabelecimento penal, assegurando a presença de representantes reli-
giosos, com autorização para organizar serviços litúrgicos e fazer visita
pastoral a adeptos de sua religião. Em suma, os sujeitos encarcerados
têm o direito de receber assistência religiosa, de modo que os estados-
-partes da federação têm organizado essa assistência, para facilitar o
acesso das religiões e seus oficiantes nos presídios, e colaborar para o
bem-estar e reinserção social do apenado.
Entretanto, embora a Lei de Execuções Penais aponte de
modo sucinto, ao assegurar o direito ao culto e a liberdade de crença,
com menção à posse de artigos religiosos e disponibilização de espa-
ços para realização de atividades e cultos, não faz contemplar nos pre-
sídios a diversidade religiosa presente no país, de modo a predominar
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

cultos religiosos católicos e protestantes, especialmente pentecostais


e neopentecostais (BRASIL, 2016, p. 94). A partir dessas lacunas da
Lei, em contemplar e promover a diversidade, o Conselho Nacional de
Política Criminal e Penitenciária elaborou a Resolução Nº 08, de 09 de
novembro de 2011, que estabeleceu, dentre outras diretrizes, que:

Art. 1º . Os direitos constitucionais de liberdade de consciência, de crença e de


expressão serão garantidos à pessoa presa, observados os seguintes princípios:
I - será garantido o direito de profecia de todas as religiões, e o de consciên-
cia aos agnósticos e adeptos de filosofias não religiosas;
II- será assegurada a atuação de diferentes confissões religiosas em igualda-
des de condições, majoritárias ou minoritárias, vedado o proselitismo religio-
so e qualquer forma de discriminação ou estigmatização;
III- a assistência religiosa não será instrumentalizada para fins de disciplina,
correcionais ou para estabelecer qualquer tipo de regalia, benefício ou privilé-
gio, e será garantida mesmo à pessoa presa submetida a sanção disciplinar;
IV- à pessoa presa será assegurado o direito à expressão de sua consciên-
cia, filosofia ou prática de sua religião de forma individual ou coletiva, deven-
do ser respeitada a sua vontade de participação, ou de abster-se de partici-
par de atividades de cunho religioso;
V- será garantido à pessoa presa o direito de mudar de religião, consciência
ou filosofia, a qualquer tempo, sem prejuízo da sua situação prisional;
VI-o conteúdo da prática religiosa deverá ser definido pelo grupo religioso e

32
pelas pessoas presas.
Art. 2º Os espaços próprios de assistência religiosa deverão ser isentos de
objetos, arquitetura, desenhos ou outros tipos de meios de identificação de
religião específica.

Cabe-nos tecer algumas considerações acerca do exposto,


pensando em uma gestão democrática do sistema prisional, que fa-
voreça que a assistência religiosa seja um fator pró-reinserção social,
com base no respeito à diversidade de pensamento, sem que o espaço
prisional se torne num campo de batalha e de discriminação religiosasI-
nicialmente, tanto os religiosos como os não religiosos têm direito a se
manifestar, sem uma imposição dos primeiros sobre os seguintes; neste
caso, o direito de não crer ou professar uma religião, deve ser assegura-
do pelo gestor prisional. É importante que quaisquer que sejam as mani-
festações religiosas, que elas tenham o mesmo direito de manifestação
e espaço no sistema prisional, sem privilégio de algum segmento, que
seja maioria entre os profissionais ou sujeitos presos.
A assistência religiosa não pode ser utilizada como forma de pu-
nição moral ou de mecanismo de privilegiamento ao sujeito que adere a
um determinado culto ou corrente religiosa. Ou seja, o engajamento re-
ligioso não implica e colocar o sujeito em maior ou menor condição de

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cidadania dentro do presídio. A assistência religiosa deve ser respeitada
em seu modo individual ou coletivo, respeitando a liberdade de escolha
do sujeito sobre sua forma de expressar; deve permitir a indivíduos e gru-
pos mudarem o seu modo de pensar, crer e expressar suas crenças; deve
constituir um espaço arquitetônico mais neutro para que sirva às diversas
expressões religiosas presentes no espaço prisional. A nossa cultura bra-
sileira está impregnada de pensamentos religiosos diversos, de matrizes
europeias, semíticas e africanas, que permearão o espaço fechado do pre-
sídio, cabendo ao Estado e seus gestores o respeito a esse direito, em um
clima de diversidade. E se a religião, ou qualquer outro sistema filosófico,
têm sido considerados como grande fator de mudança, enfrentamento e de
colaboração à reinserção do sujeito preso à sociedade, possibilitando-lhe
repensar valores e comportamentos e elaborar novos projetos de vida, que
sejam acolhidos no seio prisional de modo respeitoso e diverso.

ASSISTÊNCIA LABORAL, DESPORTIVA, LÚDICA E CULTURAL

Assistência Material

A Lei de Execução Penal assim prevê a assistência material


33
aos sujeitos presos:

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no forneci-


mento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas.
Art. 13. O estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam
aos presos nas suas necessidades pessoais, além de locais destinados à
venda de produtos e objetos permitidos e não fornecidos pela Administração.

Embora essa assistência seja pouco explorada na LEP e na


própria Lei Orgânica da Assistência Social (Lei 8.742, de 1993), e na
Política Nacional da Assistência Social (Resolução CNAS Nº 145, de
15 de outubro de 2004) e ainda no Sistema Único de Assistência Social
(CNAS Norma Operacional Básica, aprovada em 14 de julho de 2005),
é um conjunto de serviço de vital importância, posto que dele depende
a boa condição de saúde do sujeito preso, entretanto, bem sabemos
da precariedade física do espaço prisional e da escassez de recursos
materiais para a sobrevivência dos sujeitos, o que acarreta nas famosas
entradas ilegais de itens de todos os tipos nas instituições prisionais.
Essa assistência envolve ainda o fornecimento de alimenta-
ção, acomodação e vestimentas dignas, bem como para os requisitos
básicos de higiene e salubridade que preservem as condições de saúde
física e mental, de modo que a assistência material não se caracteriza
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

pela mera disponibilização e itens básicos, mas por sua integração num
conjunto mais amplo de assistências.A ONU estabeleceu As Regras Mí-
nimas da ONU que orienta essa assistência:
I - Regra 10: Todos os locais destinados aos presos, especial-
mente aqueles que se destinam ao alojamento dos presos durante a
noite, deverão satisfazer as exigências da higiene, levando-se em conta
o clima, especialmente no que concerne ao volume de ar, espaço míni-
mo, iluminação, aquecimento e ventilação.
II – Regra 12: As instalações sanitárias deverão ser adequadas
para que os presos possam satisfazer suas necessidades naturais no
momento oportuno, de um modo limpo e decente.
III – Regra 13: As instalações de banho deverão ser adequadas
para que cada preso possa tomar banho a uma temperatura adapta-
da ao clima, tão frequentemente quanto necessário à higiene geral, de
acordo com a estação do ano e a região geográfica, mas pelo menos
uma vez por semana em um clima temperado.
IV – Regra 14: Todos os locais de um estabelecimento peniten-
ciário frequentados regularmente pelos presos deverão ser mantidos e
conservados escrupulosamente limpos.
V- Regra 17: 1. Todo preso a quem não seja permitido vestir suas
próprias roupas, deverá receber roupas apropriadas ao clima e em quanti-
34
dade suficiente para manter-se em boa saúde. Ditas roupas não poderão
ser, de forma alguma, degradantes ou humilhantes. 2. Todas as roupas
deverão estar limpas e mantidas em bom estado. A roupa de baixo será
trocada e lavada com a frequência necessária à manutenção da higiene.
VI – Regra 20: 1. A administração fornecerá a cada preso, em
horas determinadas, uma alimentação de boa qualidade, bem prepara-
da e servida, cujo valor nutritivo seja suficiente para a manutenção da
sua saúde e das suas forças. 2. Todo preso deverá ter a possibilidade
de dispor de água potável quando dela necessitar.
Sabemos da precária realidade das prisões e instituições pe-
nais, sem as condições mínimas de sobrevivência, com algumas exce-
ções, como essa escassez material fosse uma maneira de infligir algu-
ma forma de punição e sofrimento ao sujeito preso, embora o mesmo
continue digno de tratamento humano apesar do crime cometido.

Assistência Laboral

O homem é um ser que trabalha e produz o mundo e a si mesmo


e, dessa forma, o trabalho é uma ação dirigida por finalidades conscien-
tes, como resposta aos desafios da natureza na luta pela sobrevivência,

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


além de tornar fonte de ideias e uma experiência propriamente dita. Além
disso, pelo trabalho, o homem se autoproduz, altera sua maneira de per-
ceber, de pensar e de sentir. Ou seja: O trabalho é condição de transcen-
dência e expressão da liberdade. (ARANHA e MARTINS, 1993).
A Lei de Execuções Penais aponta o trabalho do sujeito preso
como “dever social e condição de dignidade humana” e com a “finalidade
educativa e produtiva” (art 28), faz precauções relativas à segurança e
à higiene, destaca que não acompanha o regime da Consolidação das
Leis do Trabalho e, portanto, apenas será remunerado, caso acordado
previamente, sendo que o produto da remuneração pelo trabalho deverá
atender: a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que de-
terminados judicialmente e não reparados por outros meios; b) para a as-
sistência à família; c) à pequenas despesas pessoais; d) ao ressarcimen-
to ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado,
em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas
letras anteriores, podendo ainda ser depositado em caderneta de pou-
pança, que deverá ser devolvida ao sujeito quando de sua saída (Art29).
Ou seja, em relação às outras assistências já descritas, o trabalho
no contexto prisional é muito normatizado, de modo a ser um mecanismo
de proteção às pessoas privadas de liberdade, quanto aos riscos de explo-
ração ou uso do trabalho em relação escravista ou de castigo. Deste modo,
35
as normativas internacionais destacam essa perspectiva no Princípio XIV
da Declaração “Princípios e boas práticas” da OEA: Toda pessoa privada
de liberdade terá direito a trabalhar, a oportunidades efetivas de trabalho e
a receber remuneração adequada e equitativa, de acordo com sua capaci-
dade física e mental, a fim de que se promova a regeneração, reabilitação
e readaptação social dos condenados, estimule e incentive a cultura do tra-
balho e combata o ócio nos locais de privação de liberdade. E nesse caso,
em nenhum o trabalho terá caráter punitivo (OAS, 2013, Princípio XIV).
Entretanto, conhecendo a realidade nas prisões brasileiras, no-
tamos que trabalho desenvolvido nas prisões, com raras exceções, não
cumprem com sua finalidade educativa, não geram renda condizente
com as necessidades dos sujeitos ou com os parâmetros legais de re-
muneração, e poucos geram condições de empregabilidade futura.

O animal não produz a sua existência, mas apenas a con-


serva agindo instintivamente ou, quando se trata de animal de
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

maior complexidade orgânica, "resolvendo" problemas. Esses


atos visam a defesa, a procura de alimentos e de abrigo, e não de-
vemos pensar que o castor, ao construir o dique, e o joão-de-barro,
a sua casinha, estejam "trabalhando". Já o ser humano, através do
trabalho, ao mesmo tempo que transforma a natureza, adaptando-a
às necessidades humanas, altera a si próprio, desenvolvendo suas
faculdades. Isso significa que, pelo trabalho, o homem se auto-
produz. Enquanto o animal permanece sempre o mesmo em sua
essência, já que repete os gestos comuns à espécie. O homem
muda as maneiras pelas quais age sobre o mundo, estabelecendo
relações também mutáveis, que por sua vez, alteram sua maneira
de perceber, de pensar e de sentir. (Aranha e Martins, 1993)

Assistência Educacional-Cultural

A oferta de educação nas prisões, embora assegurada pela


Lei de Execução Penal desde 1984, apenas foi regulamentada nas Re-
soluções Nº- 03 do CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL
E PENITENCIÁRIA, DE 11 DE MARÇO DE 2009, e Nº 02, DE 19 DE
MAIO DE 2010, DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, quando
propuseram como objetivo dispor sobre as responsabilidades, as for-
36
mas e finalidades da oferta de educação em prisões e a tarefa de arti-
cular os sistemas de ensino à gestão prisional.
Embora saibamos que a educação seja um direito subjetivo e ina-
lienável de qualquer cidadão, essa assistência ao sujeito preso é precária
no sistema prisional, embora os textos legais o apontem como condição
para um processo de ressocialização, afinal, privar de educação é privar da
liberdade (Freire, [1967] 1983). A educação no contexto prisional deve con-
siderar as próprias condições limitadas do espaço precário do cárcere e as
condições prévias do sujeito preso, para inseri-lo de modo diferenciado no
sistema educacional nacional. E importa destacar que esse processo edu-
cativo não deve se reduzir apenas a escolarização formal, mas envolver
também as formas de educação não-formal no cotidiano do sujeito preso.
Deste modo, a educação não deve ser pensada como um pro-
cesso isolado, no formato regular da escola, mas como aponta a Políti-
ca de Educação para as Pessoas em Privação de Liberdade e “Marco
de Belém”, que se baseia nas propostas e resoluções da VI Confintea –
Conferência Internacional de Educação de Adultos, realizada em Belém
do Pará, Brasil, em abril de 2010, quando destaca que o papel da apren-
dizagem ao longo da vida é fundamental para resolver questões globais
e desafios educacionais. E que a aprendizagem ao longo da vida, “do
berço ao túmulo”, é uma filosofia, um marco conceitual e um princí-

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


pio organizador de todas as formas de educação, baseada em valores
inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abran-
gente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento
(UNESCO; Ministério da Educação, 2010, p. 06). Onofre e Julião (2013)
apontam alguns procedimentos indispensáveis para fazer avançar uma
Política de Educação para as Pessoas em Privação de Liberdade:
- Tomar como ponto de partida as rotinas e relações típicas do
convívio prisional, afirmando o direito humano inalienável à educação
como princípio para superar as barreiras institucionais que impedem a
garantia dos direitos;
- reconhecer e considerar as trajetórias individuais e coletivas
como fonte de potencialidades e capacidades; - superar a visão reducio-
nista da educação como escolarização, compreendendo que todos os
espaços da prisão podem ser vistos como espaços de aprendizagem,
de “desconstrução/reconstrução de ações e comportamentos” (idem, p.
60), desde que não sejam operados como espaços de adaptação para
a vida em privação de liberdade;
- compreender que todos os profissionais que atuam em pri-
são devem contribuir para transformá-la numa comunidade de apren-
dizagem, na qual o espaço escolar desempenha o papel de “ponto de
encontro” e sistematização dessa multiplicidade de atores, o que exige,
37
por seu turno, a compreensão, formação e colaboração com os profis-
sionais que atuam neste espaço escolar.
A organização dos Estados Americanos orienta aos Estados-
-membros sobre a promoção nos locais de privação de liberdade, a ofer-
ta do ensino médio, técnico, profissional e superior, segundo a capaci-
dade e aptidão de cada sujeito (OAS, 2011, Princípio XIII) e a UNESCO
e Ministério da Educação (2010, p. 09) defendem que haja a integração
entre a educação escolar e outras formas não escolarizadas de apren-
dizagem, de modo que a educação de adultos precisa ser abrangente,
inclusiva e integrada na perspectiva de aprendizagem ao longo da vida,
com base em abordagens setoriais e intersetoriais, abrangendo e arti-
culando todos os componentes da aprendizagem e da educação.
Finalmente, assistências mínimas e possíveis no contexto pri-
sional são as ações de incentivo à leitura, à participação e ao desen-
volvimento de atividades culturais, através de bibliotecas, com número
suficiente de livros, jornais e revistas educativas, de modo que as pes-
soas privadas de liberdade tenham o direito a essa liberdade simbólica
via educação. Assistência Desportiva e Lúdica

“A gente não quer só comida


A gente quer comida, diversão e arte...
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

A gente não quer só comida


A gente quer saída para qualquer parte...”
Titãs, 1987

A todas essas formas de assistências mencionadas e conside-


radas de “primeiro escalão”, precisamos mencionar uma outra ordem de
demandas do sujeito em situação de cárcere, de vital importância para sua
“supravivência”: arte, cultura, desporto, lazer. Essas também são neces-
sidades humanas e são importantes para assegurar o direito ao convívio
entre as pessoas privadas de liberdade, facilitando laços de sociabilidade
e solidariedade e promovendo o bem-estar desses sujeitos que vivem em
espaços confinados, com pouca ocupação e um grande período de tempo.
Elaborada em maio de 2015, as Regras Mínimas aprovadas
pela Assembleia Geral da ONU, trazem de modo articulado a garantia
de direitos e serviços, por meio de políticas intersetoriais, especialmen-
te integrando as assistências de saúde, educação, trabalho e renda,
cultura e esporte. Deste modo, nessa mesma linha da complementarie-
dade entre as ações que preparam o sujeito preso à liberdade e à assis-
tência após a obtenção a liberdade civil, o Departamento Penitenciário
Nacional – DEPEN também propõe como objetivo:

desenvolver, junto aos governos e à sociedade civil, estratégias de assistência

38
multidisciplinar aos egressos do sistema prisional e seus familiares em políticas
setoriais diversas, tais como: acesso à Educação, Qualificação Profissional,
Saúde, Cultura, Esporte, Trabalho e Geração de Renda, Assistência Social.
Essas políticas serão geridas e implementadas nos âmbitos local, estadual e
federal. Com essa política formulada, pretende-se fomentar sua implantação
nos estados e municípios, de modo que se proporcione suporte integral aos
egressos de forma eficiente e com uma abordagem humana, contribuindo sig-
nificativamente para a redução da reincidência criminal (Depen, 2015).

A própria LEP prevê que seja disponibilizado o “banho de sol”


para todas as pessoas privadas de liberdade, como recurso em prol da
saúde física e mental dos sujeitos, embora se saiba das dificuldades
para sua execução, tais como a superlotação e falta de espaços, além
da grande movimentação e da pouca quantidade de profissionais. En-
tretanto, esse tipo de assistência ao sujeito implica em uma gestão que
pense na organização dos espaços e tempos de convívio e de ativida-
des no cotidiano prisional, numa tentativa de superar a cena clássica
da ociosidade, especialmente em confinamento improdutivo das celas
ou alojamentos. Aqui, a ideia de “tempo livre” se torna, diferente do dito
popular, em oficina de criatividade e de invenção de autonomia.

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


As diferenças entre o homem e o animal não são apenas de
grau, pois, enquanto o animal permanece mergulhado na natureza,
o homem é capaz de transformá-la, tornando possível a cultura. O
mundo resultante da ação humana é um mundo que não podemos
chamar de natural, pois, se encontra transformado pelo homem.
A palavra cultura também tem vários significados, tais como o de
cultura da terra ou cultura de um homem letrado. Em antropologia,
cultura significa tudo que o homem produz ao construir sua exis-
tência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais
e espirituais. Se o contato que o homem tem com o mundo é inter-
mediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elabo-
rados por um povo em determinado tempo e lugar. Dada a infinita
possibilidade de simbolizar, as culturas dos povos são múltiplas e
variadas. A cultura é, portanto, um processo de autoliberação pro-
gressiva do homem, que o caracteriza como um ser de mutação,
que ultrapassa a própria experiência.

39
ASSISTÊNCIA A SAÚDE

Temos discutido que um dos problemas fundamentais para a


efetivação de políticas públicas voltadas à saúde das pessoas privadas
de liberdade é a superação das dificuldades impostas pela própria con-
dição de confinamento, o que dificulta o acesso às ações e serviços de
saúde de forma integral e efetiva. Por outro lado, a consequência eco-
nômica e social dessa desconformidade implicou, por parte do Governo
Federal, na elaboração e pactuação de uma política que considerasse,
primariamente, o princípio do acesso universal e igualitário às ações e
serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde das pes-
soas privadas de liberdade.
Nesse sentido, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacio-
nal de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no
Sistema Prisional (PNAISP), instituída pela Portaria Interministerial nº 1,
de 2 de janeiro de 2014, com o objetivo de ampliar as ações de saúde
do Sistema Único de Saúde (SUS) para a população privada de liberda-
de, fazendo com que cada unidade básica de saúde prisional passasse
a ser visualizada como ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde.
Esse PNAISP nasceu da avaliação dos dez anos de aplicação
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), quan-


do se constatou o esgotamento deste modelo, que se mostrou restrito
por não contemplar em suas ações, entre outras coisas, a totalidade do
itinerário carcerário – delegacias e distritos policiais, cadeias públicas,
colônias agrícolas ou industriais e, tampouco, penitenciárias federais.
Relacionado a essa política, existem objetivos e ações bem delimitadas
para cumprir a LEP no tocante à assistência à saúde da pessoa presa.
Nesse sentido, objetiva-se:
- Garantir o acesso à Rede de Atenção à Saúde no território
com mais agilidade, equidade e qualidade.
- Promover ações para prevenção de doenças transmissíveis,
doenças não transmissíveis e dos agravos decorrentes do confinamento.
- Melhorar as ações de vigilância sanitária na alimentação e
nas condições de higiene dentro das unidades prisionais, e para garan-
tir a salubridade ambiental.
- Operar estendendo e aprofundando as ações de todos os
programas do Ministério da Saúde.
- Atuar na prevenção do uso de álcool e de drogas e na reabi-
litação de usuários.
- Garantir medidas de proteção, como a vacinação para hepa-
tites, influenza e outras do calendário de adultos.
40
- Garantir ações de promoção de saúde bucal (ex.: palestras,
escovação e avaliação bucal) e tratamento.
- Garantir o acesso aos programas de saúde mental, gerais e
específicos.
- Garantir a aquisição e repasse de medicamentos da farmácia
básica às equipes de Saúde e distribuição de insumos (preservativos,
absorventes, entre outros) para as pessoas presas.
- Multiplicar as unidades básicas de saúde prisional e promover
o seu funcionamento na lógica do SUS.
Nesse sentido, garantir o direito à saúde para todas as pesso-
as privadas de liberdade no Sistema Prisional é o principal objetivo da
Pnaisp. Além disso, a Política visa a garantia do acesso dessa popula-
ção ao Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando os preceitos dos
direitos humanos e de cidadania.
A unidade de saúde prisional será um ponto de atenção da
Rede de Atenção à Saúde do SUS, qualificando a atenção básica no
âmbito prisional e articulando com outros dispositivos dessa Rede no
território. Cada unidade prisional do itinerário carcerário, - sejam elas
delegacias de polícia, cadeias públicas, penitenciárias, presídios, colô-
nias agrícolas ou agroindustriais ou hospitais de custódia e tratamento
psiquiátrico -, deverá contar com uma Unidade Básica de Saúde Pri-

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


sional que, por sua vez, contará com equipes multiprofissionais, que
ofertarão ações de promoção da saúde e prevenção de agravos. Caso
não haja ambiência na unidade prisional, a Unidade Básica de Saúde
do território poderá se responsabilizar por essas ações.
Mas para que esses objetivos e diretrizes sejam alcançados, a
assistência à saúde no sistema prisional deverá se integrar à Rede de
Atenção à Saúde do território, de modo que haja:
- Atenção oferecida pelas equipes da Estratégia de Saúde de Fa-
mília do território ou por equipes de Atenção Básica Prisional equivalentes.
- Equipes dimensionadas para o tamanho e para o perfil epide-
miológico das populações que serão atendidas.
- Equipes de Saúde Materno‐Infantil nas unidades que custo-
diam mulheres e garantia de qualidade pela Rede Cegonha.
- Equipes de Saúde Mental para identificar, prevenir e tratar os
transtornos gerados pelo confinamento e pelo uso de drogas.
- Acesso às redes de atenção especializada, hospitalar, urgên-
cia e redes temáticas.
- Vigilância epidemiológica efetiva e em tempo oportuno.
- Vigilância Sanitária.
- Ações de Saúde dirigidas ao trabalhador prisional.
Se temos mencionado que a Constituição Federal de 1988 afir-
41
ma em seu artigo 196 que “A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e iguali-
tário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”,
entendemos que nesse universo do direito igualitário a todo cidadão,
situamos o livre acesso da Pessoa Privada de Liberdade – PPL à assis-
tência a saúde, tal como preconiza a Lei de Execuções Penais – LEP,
Lei Nº 7.210 de 11 de julho de 1984 em seu artigo 10: “A assistência ao
preso e ao internado é dever do Estado [...]” e no artigo 11 “A assistência
será: II – à saúde; [...]”, explicitando no artigo 14 que “A assistência à
saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compre-
enderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico”.
Se a PPL está sob a responsabilidade do Estado, cabe a este
desenvolver ações de saúde voltadas à prevenção e cura de patologias
adquiridas ou não no período de internamento ou reclusão no Sistema
Penitenciário, e deve desenvolver as seguintes ações dentro das prisões:
- Ações de imunização: realizada em todas as unidades a vaci-
nação volante, sendo centralizada na gerência de saúde que facilita as
articulações necessárias para o controle de estoque e dispensação das
vacinas. São emitidos os cartões de vacinas, os quais ficam no prontu-
ário do reeducando.
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

- Coleta de exames (laboratoriais): realização de exames em


amostras biológicas (sangue, urina, fezes, cultura, citologia, histopatoló-
gico, baciloscopia) periódicos para reeducandos e funcionários, efetiva-
dos nas unidades e encaminhados a centros de patologia médica para
exames e laudos.
- Prevenção e tratamento de dst’s/aids: em parceria com as
secretarias municipais de saúde, onde pode-se realizar entrega mensal
de preservativos para cada unidade prisional, de acordo com a neces-
sidade, bem como orientação durante atendimentos individuais. a de-
tecção das dst’s, notificação, investigação dos casos e tratamento, são
realizados pela equipe de saúde da unidade.
- Ações em saúde mental: atendimento psiquiátrico e psico-
lógico aos pacientes e reeducandos de todas as unidades prisionais,
que apresentam algum transtorno psiquiátrico, com posterior assistên-
cia psicofarmacológica. Desenvolvimento de ações de prevenção dos
agravos psicossociais decorrentes do confinamento (acompanhamento
psicológico individual).
- Saúde da mulher/planejamento familiar– assistência gineco-
lógica às reeducandas dos estabelecimentos prisionais femininos, tais
como: controle do câncer cérvico-uterino e de mama; realização de cito-
logia e cultura na própria unidade e encaminhado ao cpml para análise
42
e emissão de laudo. Realização de exames do pré-natal e preventivo,
além de orientação acerca do planejamento familiar.
- Saúde da criança: atendimento pediátrico destinado aos fi-
lhos das reeducandas do estabelecimento prisional feminino santa lu-
zia, assegurando assistência médica e farmacêutica às crianças, assim
como a administração das vacinas inseridas no calendário oficial. Tal
atendimento pode ser realizado por médicos e enfermeiros voluntários.
- Programas de controle da tuberculose e hanseníase: detec-
ção, notificação, investigação e tratamento dos reeducandos acometi-
dos por tais enfermidades; todos os procedimentos são realizados pela
equipe de saúde da unidade e supervisionados pela coordenação de
enfermagem/gerência de saúde.
- Central de marcação de consultas e exames: organização e
encaminhamento às unidades dos agendamentos realizados em siste-
ma online de marcação de consultas e exames.

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43
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTAO1
(CESPE/UnB – DEPEN/2013)
Com relação às políticas de educação e trabalho no âmbito do sis-
tema penitenciário, julgue os próximos itens e aponte a incorreta:
A) são previstas políticas de atendimento educacional à criança que esteja
em estabelecimento penal devido à privação de liberdade de sua genitora.
B) o trabalho serve como instrumento de ressocialização e além disso,
favorece ganhos financeiros para a família fora do sistema penal.
C) a remuneração do trabalho da pessoa condenada à privação de liber-
dade deve atender, entre outros destinos, à indenização de danos causa-
dos pelo crime, desde que seja determinado judicialmente e não repara-
do por outros meios, e ao ressarcimento do Estado quanto às despesas
realizadas com a manutenção do condenado, em proporção definida.
D) o sistema prisional é contemplado apenas pela educação básica na
modalidade de educação de jovens e adultos.
E) acerca do Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Pri-
sional (PEESP), julgue o item a seguir. Um dos objetivos do PEESP é
oferecer condições para que os egressos do sistema prisional deem
continuidade aos seus estudos.
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QUESTÃO 2
(Concurso Público: SEAP-PR - 2013)
É atribuição do Departamento Penitenciário Nacional
A) supervisionar os patronatos, bem como a assistência aos egressos.
B) emitir parecer sobre indulto e comutação de pena.
C) requerer a aplicação de medida de segurança.
D) requerer a internação, a desinternação e o restabelecimento da si-
tuação anterior.
E) inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimentos e servi-
ços penais.

QUESTÃO 3
(Concurso Público:SEAP-PR - 2013) Quanto aos atendimentos de
caráter preventivo que integram a assistência à saúde do preso e
do internado, considere os itens a seguir.
I. Psicológico.
II. Médico.
III. Farmacêutico.
IV. Odontológico.
Assinale a alternativa correta.
44
A) somente as afirmativas I e II são corretas.
B) somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

QUESTÃO 4
(Concurso Público: SEAP-PR - 2013)
Sobre os elementos que constituem direitos do preso, considere
as afirmativas a seguir.
I. Previdência social.
II. Constituição de pecúlio.
III. Chamamento numérico.
IV. Escolha de local de trabalho.
Assinale a alternativa correta.
A) somente as afirmativas I e II são corretas.
B) somente as afirmativas I e IV são corretas.
C) somente as afirmativas III e IV são corretas.
D) somente as afirmativas I, II e III são corretas.
E) somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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QUESTÃO 5
(FGV - 2013 - SEGEP-MA - Agente Penitenciário)
Com relação à Declaração Universal dos Direitos Humanos, ado-
tada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em
1948, analise as afirmativas a seguir.
I. Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante, salvo quando suspeito de ter co-
metido crime hediondo.
II. Toda pessoa tem direito, sem qualquer distinção, a igual prote-
ção da lei, exceto quando suspeito de envolvimento em atos lesi-
vos à ordem pública.
III. Toda pessoa acusada de ato delituoso tem o direito de ser pre-
sumida inocente, até que sua culpabilidade venha a ser provada de
acordo com a lei.
Assinale:
A) se somente a afirmativa I estiver correta.
B) se somente a afirmativa II estiver correta.
C) se somente a afirmativa III estiver correta.
D) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
E) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.

45
QUESTÃO 7
(FGV - 2013 - SEGEP-MA - Agente Penitenciário) O Decreto Fede-
ral n. 678/92, que ratifica a Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, estabelece os procedimentos que devem ser seguidos
quando da prisão de uma pessoa. Sobre esses procedimentos,
analise as afirmativas a seguir.
I. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo
em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a trata-
mento adequado à sua condição de pessoa não condenada.
II. As pessoas detentoras de diploma de nível superior devem ficar
separadas dos presos com formação inferior.
III. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser se-
parados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a
maior rapidez possível, para seu tratamento.
Assinale:
A) se somente a afirmativa I estiver correta.
B) se somente a afirmativa II estiver correta.
C) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
E) se todas as afirmativas estiverem corretas.
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QUESTÃO 8
(FGV - 2013 - SEGEP-MA - Agente Penitenciário) O Capítulo IX da
Resolução n. 14/94 estabelece as regras mínimas para o tratamen-
to do preso. Acerca do uso de algemas e de camisa de força, anali-
se as afirmativas a seguir.
I. O uso de algemas é permitido, durante o deslocamento do preso,
como medida de precaução contra fuga.
II. O uso de camisa de força é permitido, segundo recomendação
médica, por motivo de saúde.
III. O uso de algemas é proibido por humilhar o detento.
Assinale:
A) se somente a afirmativa I estiver correta.
B) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
C) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
D) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
E) se todas as afirmativas estiverem corretas.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Considerando o último senso penitenciário brasileiro, a maior faixa etá-
ria de sujeitos presos encontra-se entre 18 a 29 anos, com 53% (maté-
ria abaixo). Argumente sobre quais motivos essa faixa etária é aquela
46
mais presa no Brasil.

TREINO INÉDITO
De acordo com o preceituado no Decreto nº 40/1991 (Convenção
Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desuma-
nos ou Degradantes), não deve ser considerada “tortura”:
A) qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou men-
tais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa, a fim de obter dela,
ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões.
B) qualquer ato pelo qual dores físicas venham a ser impostas para infli-
gir castigo por ato que uma terceira pessoa tenha cometido.
C) qualquer ato pelo qual sofrimentos agudos de natureza mental venham
a ser infligidos para o fim de intimidar ou coagir determinada pessoa.
D) qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou men-
tais, são infligidos por qualquer motivo, baseado em discriminação de
qualquer natureza.
E) qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos que sejam consequência
unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais san-
ções ou delas decorram.

NA MÍDIA

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QUALIFICAÇÃO
Não existe um consenso sobre se a elite também vai para a cadeia nos
países desenvolvidos porque as cadeias são melhores ou se as cadeias
são melhores porque a elite as frequenta, Não importa. O fato é que se
pode prever um sensível aprimoramento de instalações e serviços nas
nossas prisões com a qualificação progressiva da sua população.
Um sistema de cotações - cinco estrelas para prisões com celas executivas,
por exemplo - e a possibilidade de o condenado escolher sua penitenciária
assegurariam o funcionamento do sistema em bases saudavelmente em-
presariais. As empreiteiras teriam interesse redobrado em construir boas
penitenciárias, e as financeiras em financiá-las, para garantir sua participa-
ção num novo e lucrativo mercado e porque a qualquer hora elas poderiam
receber seus executivos, para os quais reservariam as coberturas.
O novo e saudável hábito de prender corruptos pode ter desdobramen-
tos inesperados. A inevitável melhora dos serviços penitenciários serviria
como incentivo para confissões voluntárias. Acabariam as lutas jurídicas,
a indústria de liminares e a proliferação de habeas-corpus, desafogando
o nosso sistema judiciário, já que muitos acusados prefeririam reconhe-
cer sua culpa e ir logo para a cadeia, escolhendo a que tivesse melhor bar
ou ginásio, ou de acordo com a programação da TV a cabo.
Conhecendo-se a nossa indústria construtora, haveria o risco de as
47
construções de luxo excluírem as construções populares, como já acon-
tece no mercado de imóveis, e de os criminosos comuns ficarem sem
cadeia, o que aumentaria a insegurança das ruas. Mas dentro dos mu-
ros de penitenciárias modernas e confortáveis, a elite brasileira viveria
o seu sonho de segurança total: guardas 24 horas por dia e o convívio
exclusivo dos seus pares. (VERÍSSIMO, Luís Fernando).
Fonte: Jornal O Globo
Data: 2/7/2000

NA PRÁTICA
A primeira etapa de implantação do Banco Nacional de Monitoramento
de Prisões (BNMP 2.0) resultou no cadastramento individual de 602
mil presos, quase a totalidade das pessoas privadas de liberdade no
país. Balanço do Cadastro Nacional de Presos permitiu extrair um perfil
da população carcerária nacional, apresentado na tarde de terça-feira
(7/8), pela a presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra
Carmen Lúcia, que elegeu o BNMP 2.0 como prioridades da sua gestão.
De acordo com os dados do BNMP 2.0 do último dia 6 de agosto, havia
no país 262.983 pessoas condenadas ao regime fechado. Outros 85.681
brasileiros cumpriam pena no regime semiaberto e 6.078, no regime aber-
to, principalmente em instituições conhecidas como casas do albergado.
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O balanço parcial do BNMP 2.0 já indica qual tipo de crime mais leva
pessoas à prisão no Brasil. O roubo representa 27% dos crimes co-
metidos pela população carcerária. O tráfico de drogas corresponde a
24% do total de tipos penais atribuídos aos presos brasileiros. O ter-
ceiro artigo do Código Penal que mais motivou prisões – o homicídio –
vem atrás, com 11%. Em comparação, a Lei Maria da Penha representa
0,96% dos crimes que levaram pessoas à prisão.
No estágio atual do Cadastro Nacional de Presos pelos tribunais, já estão
disponíveis informações também sobre idade e nacionalidade da massa
prisional. Mais da metade dos presos brasileiros tem até 29 anos de ida-
de. A maioria dos presos (30,5%) tem entre 18 e 24 anos, a segunda faixa
etária mais populosa (23,39%) do sistema é a de 25 a 29 anos.

Fonte: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/87316-bnmp-2-0-revela-o-per-
fil-da-populacao-carceraria-brasileira.
48
A PSICOLOGIA E O SISTEMA

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PRISIONAL

PSICOLOGIAS: INTRODUÇÃO AOS DIVERSOS CAMPOS DA PSI-


COLOGIA

O objeto da Psicologia, como da Antropologia, a Economia, da


Sociologia e todas as ciências humanas, é o homem. Entretanto, como
esse campo do conhecimento tem se constituído como área do conheci-
mento científico só muito recentemente (final do século 19), de modo que,
como se constitui como Ciência e não mais da filosofia, desenvolvendo
desde 1875, quando Wilhelm Wundt criou o primeiro Laboratório de Ex-
perimentos em Psicofisiologia, em Leipzig, na Alemanha. Desta forma, ao
se criar a Psicologia como ciência, havia uma tentativa de desligamento
de ideias místicas e religiosas (tal como a existência de uma alma, por
exemplo) e na defesa da existência de um ser humano autônomo.
4949
Mas bem antes de haver uma Ciência organizada, já existiam
“ideias filosóficas” sobre o ser humano e sobre temas estudados atual-
mente em Psicologia. Na Grécia, as 'coisas do espírito', que atualmente
nos referimos a temas psicológicos, eram atribuídos à filosofia e à arte,
cabendo aos filósofos gregos uma primeira tentativa de sistematizar
uma Psicologia, tanto que o próprio termo “psicologia” vem do grego
psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão.
No mundo antigo, elementos como pensamento, os sentimen-
tos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a per-
cepção eram considerados pelos gregos como componentes da alma
(psique). Para o filósofo Sócrates, a principal característica humana era
a razão, que distingue o humano do animal, e que permite sobrepor-se
aos instintos. Já para Platão, a alma (psique) era imortal e separada do
corpo, enquanto que, Aristóteles afirmava a mortalidade da alma e a sua
relação de pertencimento ao corpo.
Mas qual é então o objeto específico do estudo da Psicolo-
gia? Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá:
que é o comportamento humano. Se a palavra for dada a um psicólogo
psicanalista, ele dirá: o inconsciente. Outros dirão que é a consciência
humana, e outros ainda, a personalidade. Ou seja, se o objeto de estu-
do da Psicologia é o homem, há diversas concepções de ser humano.
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Alguns exemplos de concepções de humano:


- Natural, formulada pelo filósofo francês Rousseau, que imagi-
na que o homem era puro e foi corrompido pela sociedade, e que cabe
então ao filósofo reencontrar essa pureza perdida.
- O homem como ser abstrato, com características definidas e
que não mudam, a despeito das condições sociais a que esteja submetido.
- Homem como ser datado, determinado pelas condições histó-
ricas e sociais que o cercam.
- E ainda, outras que enfatizam o biológico, o social-ambiental,
o psíquico, mas também, que articulam as concepções.
Embora seja uma ciência, a Psicologia possui diversidade te-
órica e técnica muito ampla. E mesmo como profissão, possui diversas
áreas de atuação, como por exemplo: Psicologia Clínica, Psicologia
Organizacional, Psicologia Esportiva, Psicologia Hospitalar e da Saú-
de, Psicologia do Trânsito, Psicologia da Educação, Neuropsicológica,
etc. A história da Psicologia é marcada por uma sucessão de nomes, e
suas proposições teóricas, técnicas e éticas, bem como suas concep-
ções de ser humano. Mas antes, é importante salientar que a Psicologia
teve seus primórdios junto à Filosofia, com pensadores como Platão,
Descartes, Aristóteles e outros, para então chegar aos mais modernos
como S. Freud, B. Skinner, J. Watson e tantos outros.
50
Como objetos de estudo, ela pode estudar as bases biológi-
cas do comportamento, ou seja, como ocorrem os processos mentais,
qual a principal finalidade pela qual se propagam os impulsos nervo-
sos, como são feitas as conexões existentes entre as partes do nosso
cérebro e o nosso corpo, etc. Pode atuar no campo da Psicometria em
laboratórios, utilizando cálculos estatísticos a fim de avaliar e predizer o
comportamento humano através de testes. Uma das mais “famosas” e
que muitos associam à Psicologia propriamente dita, é a Psicologia Clí-
nica, que trata em consultórios, dos transtornos e sofrimentos mentais
de crianças, adolescentes, adultos, casais e grupos em geral, através
de avaliação, diagnóstico, prevenção e intervenção terapêutica, a fim de
restaurar o equilíbrio psicológico e melhorar o seu bem-estar.
Na Psicologia do Desenvolvimento busca-se estudar as mu-
danças comportamentais e psicológicas que as pessoas sofrem ao lon-
go do seu ciclo de vida, ou seja, as mudanças que ocorrem desde o
nascimento até a morte, numa interação com o meio físico, nas várias
fases da vida: infância, adolescência, idade adulta e velhice. Associada
a esse campo, temos ainda a Neuropsicologia em franco crescimento,
dentro das ciências neurológicas, como disciplina que estuda a relação
entre o cérebro e o comportamento dos indivíduos, através de técnicas
experimentais e testes que fornecem imagens das áreas cerebrais.

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A Psicologia da Aprendizagem busca estudar o comportamen-
to humano e suas formas de aprender, em temas como hábitos, habili-
dades, valores e conhecimento, de modo que são famosas as teorias da
aprendizagem de Jean Piaget e Lev Vygotsky. Já a Psicologia Social, o
estudo dos processos psicológicos que influenciam no funcionamento
da sociedade, ou o seu contrário, a forma que são realizadas as intera-
ções sociais e como os processos sociais moldam a personalidade e as
características de cada indivíduo. Outros temas nessa área seriam os
grupos, a liderança, o preconceito, as interações sociais e outros.
Além desses campos ou áreas da Psicologia, ainda temos as
principais Abordagens Epistemológicas da Psicologia: A Psicanálise foi
criada por s. Freud e investiga das bases inconscientes dos transtornos
mentais, do desenvolvimento humano, da personalidade e das moti-
vações. Freud argumenta sobre a existência de níveis de consciência
(consciente, pré-consciente e inconsciente), e uma divisão estrutural de
personalidade (id, ego e superego), além de uma forte ênfase no desen-
volvimento psicossexual deste a infância e por toda a vida.
No Behaviorismo (nome forte: Skinner), trabalha-se diretamen-
te no comportamento das pessoas, numa complexa interação com o
ambiente, sem qualquer noção de inconsciente ou algo similar: o ser
humano muda o seu comportamento de acordo com o ambiente em que
51
está inserido. No Humanismo (nome forte: Carl Rogers), há uma forte
ênfase na concepção de que toda pessoa tem capacidade de cresci-
mento, autorealização e desenvolvimento.
A Psicologia Cognitivo-Comportamental ou tcc (nome forte: A.
Beck) tem o foco voltado para mudar “pensamentos disfuncionais”, ou
seja, aqueles distorcidos que desencadeiam os distúrbios emocionais,
mas que podem ser pensamentos ou crenças a serem modificados, trei-
nados. Na Psicologia Analítica (nome forte: Carl Jung), há discordância
de algumas teorias de Freud e tem como objeto de estudo principal os
sonhos de um modo singular: neles são encontrados personagens e
símbolos que, de tempos em tempos, vão mudando e possuem relação
com um inconsciente coletivo e atemporal.
A Psicologia Corporal (nome forte: W. Reich) trabalha sobre
o fato de que toda mobilização emocional gera uma reação corporal e
vice-versa, com isso se propõe que todo distúrbio psicoemocional está
associado a distúrbios corporais. Como pudemos observar, em relação
aos objetos de estudo da Psicologia e as concepções de ser humano,
há teorias psicológicas que enfatizam o biológico, o social-ambiental, o
psíquico, mas também aquelas que articulam as diversas concepções.
A diversidade de objetos justifica-se porque os fenômenos psi-
cológicos são tão diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo
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nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos


padrões de descrição, medida, controle e interpretação: por isso há
também uma diversidade metodológica (Schultz e Schultz, 1992). Em
suma: a Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos
de estudo, logo temos 'Psicologias'. Deste modo, a Psicologia seria uma
forma particular, específica de contribuição à compreensão da totalida-
de da vida humana. O homem em todas as suas expressões:
- As visíveis (nosso comportamento).
- As invisíveis (nossos sentimentos).
- As singulares (porque somos o que somos).
- As genéricas (porque somos todos assim).
Dessa forma, estuda o homem-corpo, o homem-pensamen-
to, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo
“subjetividade”. E nesse caso, a subjetividade é a síntese singular e
individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos
desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural.
É ainda, o mundo de ideias, significados e emoções construído interna-
mente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e
de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações
afetivas e comportamentais. (Schultz e Schultz, 1992).
Deste modo, no estudo da Subjetividade, a Psicologia busca
52
investigar o homem em todas as suas expressões, as visíveis (nos-
so comportamento) e as expressões humanas invisíveis (nossos senti-
mentos), as expressões humanas singulares (porque somos o que so-
mos) e aquelas expressões humanas genéricas (porque somos todos
assim), ou mesmo a síntese singular e individual que cada um de nós
vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as
experiências da vida social e cultural.
De outro modo, a subjetividade é a maneira de sentir, pensar,
fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. Para o gestor e profissional
que pretenda atuar ou já trabalhe em prisões e penitenciárias, é impor-
tante saber, mesmo que de forma sucinta, algumas teorias sobre como
os sujeitos aprendem, de modo a facilitar manejo de ações que visem ser
implementadas junto ao sujeito preso. São denominadas de “teorias de
aprendizagem”, quando apontaremos as mais clássicas e conhecidas.
Os modos de aprendizagens são tão diversos, tais como as
concepções de ser humano, que também são diversas as teorias que
explicam os modos de aprender. Mas antes de entramos nas “teorias”
propriamente ditas, importa sabermos o que é uma “teoria”. Teoria, em
termos filosóficos, é uma construção lógico-explicativa para interpretar
sistematicamente uma área de conhecimento. As teorias são construí-
das para prever e explicar os fenômenos humanos, biológicos ou cultu-

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rais, bem como os físicos, químicos etc. As teorias são constituídas de
conceitos e princípios, e esses conceitos são signos que apontam regu-
laridades em objetos e eventos, logo são usados para pensar e dar res-
postas rotineiras e estáveis. Já os princípios são relações significativas
entre conceitos. As teorias são, portanto, mais amplas que os princípios.
Deste modo, o conceito de aprendizagem tem vários significa-
dos não compartilhados entre os teóricos da área, e assim, as Teorias
de Aprendizagem se constituem em diferentes modelos de compreen-
são, construídas para interpretar a área do conhecimento que chama-
mos “aprendizagem”. Nesse caso, podem representar o ponto de vista
de um autor ou vários autores, além de mudar com o tempo, por conta
de fatores sociais, políticos, culturais e econômicos da época em que
são forjadas. Atualmente as teorias de aprendizagem podem ser classi-
ficadas em grupos por similaridade teórico-conceitual:
- Comportamentalista (Pavlov, Skinner, etc.).
- Cognitiva (Piaget, Vygotsky, Johnson-Laird, etc).
- Afetiva (Rogers, Novak).
- Psicomotora (Gestalt, Lewin, etc).
Para o Cognitivismo, o ser humano teria a capacidade criativa de
interpretar e representar o mundo, não somente de responder a ele, a partir
de conhecimentos prévios. O aluno deixa de ser visto como mero receptor
53
de conhecimento e passa ser considerado agente da construção de sua
estrutura cognitiva. Para o Humanismo, há ênfase na autorrealização da
pessoa, além do intelecto, considerando sentimentos e ações, o domínio
afetivo, um ensino “centrado no aluno” e defesa de “escolas abertas”.
Para o Comportamentalismo, a ênfase será nos comportamen-
tos observáveis e controláveis. Ou seja, expostas aos estímulos exter-
nos, o comportamento é controlado por suas consequências e nesse
caso, não há hipóteses sobre as atividades mentais que ocorrem entre
o estímulo e a resposta.

Abaixo, um esquema bem sintético do modo como essas teo-


rias pensam a aprendizagem e se propõe a alcançá-la, ressaltando que
tratam-se de apenas algumas teorias e de um modo bem simplificado
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de apresentá-las:

DEMANDAS E POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA


NO SISTEMA PRISIONAL

Após uma contextualização legal e oficial sobre os diversos


modos de assistência ao sujeito encarcerado, especialmente, a partir de
54
referenciais internacionais e de nossa legislação federal, com destaque
para os tipos de assistência que se constituem direito do sujeito, importa
uma reflexão sobre a saúde mental e o sistema prisional, além de des-
taque sobre as possibilidades de contribuição à saúde da pessoa presa.
No Brasil, houve um crescimento de 575% do número de pessoas
presas entre 1990 e 2014, sendo a maior parte delas oriunda de comunida-
des desfavorecidas, com acesso limitado à saúde. Sua história de desvan-
tagem social começa muito antes do confinamento em prisões insalubres e
superlotadas. Portanto, não causa surpresa que seu estado de saúde seja
deplorável e que, nos cárceres se encontrem prevalências elevadas de
violência, tuberculose, infecção pelo HIV e transtornos mentais.
O direito dos presos à saúde é garantido, no Brasil, pela Lei de
Execução Penal, pela Política Nacional de Proteção Integral à Saúde das
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional e várias normativas.
Entretanto, a efetividade das ações é muito precária. E a atuação de or-
ganismos de fiscalização e defesa dos direitos humanos como o Ministé-
rio Público, a Defensoria Pública, as ONG e as comissões parlamentares
esbarram na indiferença dos responsáveis e na inércia das instituições.
Sabe-se que para enfrentar os problemas de adoecimento e
de prevenção aos agravos, o sistema de saúde prisional é subfinan-

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ciado e subequipado. Em geral, os profissionais que aí atuam são des-
motivados e utilizam estratégias quase sempre prescritivas. Ademais,
o acesso aos serviços, geralmente, é controlado pela hierarquia dos
presos e por agentes penitenciários. Nesse contexto, como assegurar
a saúde dos presos? É evidente que se deve, incansavelmente, atuar
para dar maior visibilidade ao problema, introduzi-lo no debate público
e melhorar as condições de encarceramento. Isto implica em levar em
conta, não só as exigências de segurança, mas também as condições
mínimas ambientais nas celas, acabando com a superlotação, e promo-
ver o acesso ao serviço de saúde e à alimentação adequada. E também
não negligenciar os agentes penitenciários, expostos ao estresse e ao
risco compartilhado de infecções.

Saúde Mental e Sistema Prisional

Diversas pesquisas sobre a saúde mental nas prisões têm sido


feitas a partir do “Projeto de Saúde no Sistema Prisional”, da Organi-
zação Mundial de Saúde, em 1995, que integra o “Guia de Saúde nas
Prisões” (WHO, 2007), que tem sido referência à elaboração de nor-
mas internacionais para esse contexto, onde se busca uma melhoria de
assistência e qualidade de vida. A partir de então, tem vigorado um o
55
seguinte princípio: os presos não devem sair da prisão em pior situação
de saúde do que quando nela entraram.
Há um conjunto de estudos e pesquisas que apontam altas
taxas de transtornos mentais em populações encarceradas (10 a 15%),
especialmente em comparação com a comunidade em geral (média de
2%) (BUTLER T et all,2005; GUNTER et all, 2008; TEPLIN et all, 1996;
LAMB et all,1999. Como exemplo, no Brasil, apenas no Estado de São
Paulo, num estudo de 2006, apresentava uma prevalência importante
de transtornos mentais entre as mulheres, e que 61,7% dos presos tive-
ram ao menos uma ocorrência de transtorno mental ao longo da vida,
que cerca de 25% dos sujeitos presos em regime fechado apresenta-
vam critérios diagnósticos para um ou mais transtornos mentais no ano
anterior ao estudo, sendo que 11,2% dos detentos homens e 25,5% das
mulheres apresentavam transtornos mentais graves. Ou seja, naquele
ano poderia haver no Brasil de 60 mil sujeitos presos com transtornos
mentais graves (ANDREOLI et al, 2008; ANDREOLI et al, 2012).
Dentre esses transtornos, os sintomas depressivos são os mais
frequentes entre pessoas presas, seja a presença de humor persistente-
mente deprimido, perda de interesse e alegria, reduzida energia, aumento
da fadiga, atividade diminuída, sendo que 22,9% dos homens e 33,1% das
mulheres presas na Paraíba, apresentaram depressão de moderada a gra-
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ve; Já num estágio grave são 10,5% dos homens e 17,2% das mulheres
(ARAUJO et al, 2009). Os estudos de Constantino, Assis e Pinto (2016)
apontaram uma elevada prevalência de estresse (35,8% em homens e
57,9% em mulheres) e de sintomas depressivos moderado e grave (entre
31,1% e 47,1%, respectivamente) entre indivíduos encarcerados no estado
do Rio de Janeiro. Já a pesquisa de Lizardo de Assis e Vitória (2016), reali-
zado com mulheres numa penitenciária de Rondônia apontou que 76,47%
das encarceradas apresentaram sinais indicativos de depressão, e 47,05%
indicaram episódio depressivo grave. Segundo Constantino, Assis e Pinto
(2016), acerca da promoção da saúde mental no sistema prisional, espe-
cialmente para se pensar numa gestão dos serviços:

para além do diagnóstico e atenção aos problemas de saúde mental e outras


demandas de saúde da população carcerária, o próprio sistema penitenciário
precisa ser repensado, pois são muitos os elementos desse universo que se
configuram como fatores de risco ao adoecimento: superlotação, condições
das celas, ociosidade, alimentação inadequada, entre outros fatores (p. 2097).

Atualmente os discursos sobre saúde e cuidado passam a cir-


cular cada vez mais nos espaços prisionais. No entanto, trata-se de um
contexto marcado por estar sob o controle da Segurança Pública, com
regras rígidas e que propõem a imanente perda da autonomia das pes-
56
soas que estão presas. Entretanto, tem sido marcado como lugar em
que se presencia uma série de violações de direito e nem sempre quem
o ocupa é visto como cidadão. O desrespeito à cidadania dos presos se
relaciona com a permanência da tortura em muitas unidades prisionais,
superpopulação carcerária, autoritarismo, ausência de projetos educa-
tivos e esportivos, e o desrespeito aos direitos humanos, à Constituição
de 1988 e à Lei de Execução Penal.
O profissional de saúde e a gestão, especialmente o Psicólo-
go, devem produzir transformações nos modos de produzir saúde nas
instituições penais acarreta pensar a relação entre o dentro/fora das
prisões e o posicionamento dos diversos atores sociais que compõem
esse contexto e as tensões que ele abriga. Torna-se então relevante
compreender as concepções de sujeitos presentes nos discursos de
profissionais de saúde, inseridos nos estabelecimentos prisionais, e os
desafios de conectar os territórios produzidos nas prisões, com a rede
de relações e instituições que se encontram do "lado de fora".
Nesse sentido, novas maneiras de pensar o espaço prisional
são trazidas pelas vivências dos trabalhadores de saúde, e que vão
repercutir em discussões sobre novas possibilidades de compreender
quem são os sujeitos que vivem nas prisões, e como podem estabe-
lecer suas práticas no campo da saúde. Os territórios vão se construir

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diante dos diversos modos de vida e de relações, em muitos casos,
partindo de uma perspectiva desigual e conflituosa, conforme se dá a
dinâmica da nossa sociedade atual.
Em relação ao preso portador de sofrimento mental, motiva-
do pela re-democratização do país na segunda metade da década de
80, grande número de trabalhadores de saúde mental denunciou, por
meio de campanhas, a situação dos hospitais psiquiátricos, em relação
às situações de maus tratos e violên¬cia aos pacientes. Tal movimen-
to intensificou esforços para demonstrar, na prática, a necessidade de
substituição do modelo hospitalocêntrico por diversas iniciativas políti-
cas, científicas, socioculturais, administrativas e jurídicas, no sentido de
transformar a relação da sociedade com as pessoas com transtornos
mentais, permitindo a garantia do seu direito de cidadania.
Em 1987 estabeleceu-se o lema do movimento “Por uma socieda-
de sem manicômios”, sendo a data de 18 de maio definida como o Dia Na-
cional da Luta Antimanicomial e no lastro da proclamação da Constituição,
em 1988, cria-se o Sistema Único de Saúde (SUS) e são estabelecidas as
condições institucionais para a implantação de novas políticas de saúde. Já
a partir da década de 90, o Ministério da Saúde, consoante com diversas
experiências de reforma da assistência psiquiátrica no mundo ocidental,
chegou à saúde mental nos presídios. Atualmente, o governo brasileiro tem
57
como principais objetivos à política de saúde mental:
- Reduzir progressivamente os leitos psiquiátricos.
- Qualificar, expandir e fortalecer a Rede de Atenção Psicosso-
cial (RAPS).
- Incluir as ações da saúde mental na atenção básica.
- Implementar uma política de atenção integral a usuários de
crack, álcool e outras drogas.
- Fortalecer o programa “De Volta Para Casa”.
- Manter um programa permanente de formação de recursos
humanos à reforma psiquiátrica.
- Promover direitos de usuários e familiares, incentivando a
participação no cuidado.
- Garantir tratamento digno e de qualidade ao louco infrator
(superando o modelo de assistência centrado no Manicômio Judiciário).
- Avaliar continuamente todos os hospitais psiquiátricos.
Tais ações se justificam pelos dados de 2003 do Ministério da
Saúde: 3% da população geral sofre com transtornos mentais severos e
persis¬tentes; 6% da população apresenta transtornos psiquiátricos graves
decorrentes do uso de álco¬ol e outras drogas; 12% da população necessi-
ta de algum atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual.
Estes dados refletem também no sistema prisional brasileiro
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que, segundo informações do Sistema de Informações Penitenciárias -


IN¬FOPEN (2014), possui 813 homens e 33 mulhe¬res com deficiência
intelectual e 2.497 pessoas em cumprimento de Medida de Segurança
na modalidade de internação psiquiátrica. Aproximadamente 85% des-
tas pessoas estão em Alas Psiquiátricas ou Hospitais de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico (HCTP) e 15% em unidades prisionais comuns.
Entretanto, o atendimento à pessoa com transtorno mental em
conflito com a lei, no âmbito da justiça criminal, tem sido consignado em
marcos legais importantes, que estabelecem diretrizes para atenção aos
pacientes judiciários, a saber: Resolução CNPCP nº 5, de 04/05/2004,
que dispõe a respeito das Diretrizes para o cumprimento das Medidas
de Segurança; Resolução CNPCP nº 4, de 30/07/2010, que dispõe
sobre as Diretrizes Nacionais de Atenção aos Pacientes Judiciários e
Execução da Medida de Segurança, adequando-as à previsão contida
na Lei nº10.216/200116; Resolução CNJ nº. 113, de 20/04/2010, que
dispõe sobre o procedimento relativo à execução de pena privativa de
liberdade e medida de segurança; e Recomendação CNJ nº 35, de
12/07/2011, sobre as diretrizes a serem adotadas em atenção aos pa-
cientes judiciários e a execução da medida de segurança.
Nesse sentido, o grande marco legal à avaliação e o acompa-
nhamento de medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com transtorno
58
mental em con¬flito com a lei foi a partir da publicação da Por¬taria
nº 94, de 14 de janeiro de 2014, resultado dos debates realizados por
diversas instituições, por meio de um grupo técnico que tratou das ques-
tões pertinentes às medidas de segurança, em âmbito nacional, tais
como o Ministério da Saúde, o Ministério da Justiça, o Conselho Na¬-
cional de Justiça (CNJ), a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão
(PFDC), dentre outras instituições. A presente normativa surgiu como
alternativa à constituição de um mecanismo “conector” entre o sistema
de saúde, por meio das políticas de saúde do privado de liberdade e de
saúde mental, o sistema de assistência e proteção social, dentre outras
políticas setoriais, e o sistema de justiça criminal.
Trata-se de um serviço de saúde do SUS que conta com 5 (cin-
co) profissionais com as seguintes formações em nível superior: 1 (um)
Enfermeiro; 1 (um) Médico Psiquiatra ou Médico com experiência em
Saúde Mental; 1 (um) Psicólogo; 1 (um) Assistente Social; e 1 (um) pro-
fissional com formação em ciências humanas, sociais ou da saúde. São
destacadas as atribuições dessa equipe, convocada a atuar pela gestão
do SUS, baseada em demandas apresentadas por diversos atores: coor-
denações e serviços de saúde da PNAISP, Juizado, Ministério Público, o
próprio paciente judiciário ou seu representante e os serviços de referên-
cia da rede. Estes profissionais deverão realizar as seguintes atribuições:

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


- Estudos multifacetados e integrais sobre as condições sociais
e de saúde das pessoas com transtorno mental em conflito com a lei e
seu conjunto de relações (familiares e sociais), indicando medidas tera-
pêuticas, ao contrário das medidas de internação e asilamento;
- O mapeamento das redes existentes (de saúde e de assis-
tência social) e agenciamento da produção de medidas pautadas em
premissas da “clínica am¬pliada”, contribuindo à realização do projeto
terapêutico singular e dos processos de desinstitucionalização daque-
les que ainda estiverem sob custódia das administrações prisionais;
- Articulação com o poder judiciário, influenciando-os no senti-
do da adoção das conversões de medida de segurança para tratamento
ambulatorial ou à extinção da medida; a contribuição para que o sistema
de saúde, em consonância com o sistema de justiça criminal, garanta a
individualização das medidas, nos termos da Lei 10216/2001, acompa-
nhando e avaliando-as;
- A atuação como referência técnica e como polos de apoio e
capacitação dos que atu¬am no conjunto de instituições que propiciam
tais medidas, para sensibilização e recebimento dos desinstitucionaliza-
dos na Rede de Atenção à Saúde e na Rede Socioassistencial.

59
Possibilidades de Atuação da Psicologia no Sistema Prisional

A assistência à saúde no sistema prisional, especialmente, no


que tange a saúde mental, que o Conselho Federal de Psicologia (2010,
2016), órgão responsável pela profissão no país, vem elaborado docu-
mentos que oferecem diretrizes para se pensar o local e modo de atu-
ação dessa ciência e profissão dentro do cárcere, incluindo críticas ao
sistema prisional e apontando possibilidades de uma prática condizente
com as orientações internacionais e nacionais. A partir de parceria entre
CFP e o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), foi realizado em
2005, o I Seminário Nacional sobre a Atuação do Psicólogo no Sistema
Prisional que, por sua vez, norteou ações junto aos 16 Conselhos Regio-
nais da época e, na sequência, realizou outros eventos similares, além de
edição de Resolução sobre a atuação do psicólogo no sistema prisional.
Esses eventos tratam de uma multiplicidade de temas relacio-
nados ao sistema prisional, desde a configuração do próprio sistema
no ocidente, as formas e modos de criminalizações de determinados
sujeitos ao longo da história, atravessamentos e críticas econômicas,
políticas, jurídicas, científicas às noções de criminalidade e seu trata-
mento nas sociedades atuais, e até mesmo indagações sobre o sentido
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

do sistema prisional, em recuperar os sujeitos: são textos densos que


remetemos ao leitor, para um maior aprofundamento posterior.
No campo da prática, a Psicologia tem se situado no sistema pri-
sional, muito especialmente a partir das demandas de avaliação psicológi-
ca, do tipo criminológica, nas Comissões Técnicas de Classificação (CTC)
em elaboração de exame criminológico, por exemplo, mas sem muita influ-
ência sem o estado de coisa do sistema, a não ser uma permanente tenta-
tiva de construir espaços criativos através de ações, na maioria das vezes,
isoladas. Nesse contexto de limitações para o desempenho profissional do
Psicólogo, Silveira da Silva (2010, p. 48) assim, aponta que:

O psicólogo é um ator privilegiado; ele tem essa função investigativa, normaliza-


dora, informativa. Para os internos, os psicólogos podem ser a sua salvação ou
porque cumprem com uma burocracia institucional, de cumprimento do que exi-
ge a lei, ou porque estão disponíveis para o acolhimento, a atenção, o cuidado.

Deste modo, em meio a essa limitação para uma atuação am-


pliada da Psicologia, Schaefer (2010), procura delimitar o papel do Psi-
cólogo em termos daquilo que é da sua ordem ética e técnica, daquilo
que deve desocupar:

A CTC nos coloca como profissionais de controle ou no lugar de juízes, pois

60
temos que apurar e emitir pareceres sobre infrações disciplinares, opinando
quanto à culpabilidade do apenado e propondo punições, que vão desde ad-
vertência verbal até restrição de direitos e isolamento, podendo este chegar
a 30 dias sem sair da cela.
Quanto ao EC exigido do psicólogo, pretende inferir sobre a periculosidade
do sujeito, tendendo a naturalizar as determinações do crime, ocultando os
processos de produção social da criminalidade.
Desnaturalizar, ouvir, incluir, respeitar as diferenças, promover a liberdade
são missões do psicólogo. Classificar, disciplinar, julgar, punir são missões
impossíveis para o psicólogo. (p. 55).

Entretanto, para além dessas ações mais formais e estipuladas


pela Lei de Execuções Penais, e pela tradição que insere o psicólogo como
profissional a serviço da máquina prisional, inclusive, a serviço da punição,
há espaços de inventividade, através de ações como acolhimento indivi-
dual e coletivo, rodas de conversas, criação de espaços de convivência e
biblioteca, grupos terapêuticos, grupos de familiares, assessorar em mo-
dificações arquitetônicas dos espaços insalubres, criações de grupos cul-
turais e delimitar com muita resistência e articulados interdisciplinarmente
com outros profissionais, uma ciência e profissão que persiga as pistas de
ações possíveis em prol da humanização dos sujeitos presos.
Nesse contexto, a Resolução n. 12/2011 veda ao psicólogo que

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


atua nos estabelecimentos prisionais elaborar prognóstico criminológico
de reincidência, a aferição de periculosidade e o estabelecimento de nexo
causal, a partir do binômio delito-delinquente e participar de ações e de-
cisões que envolvam práticas de caráter punitivo e disciplinar, bem como
veda ao psicólogo de referência que acompanha a pessoa em cumprimen-
to de pena ou medida de segurança a elaboração de documentos com fins
de subsidiar decisão judicial durante a execução da pena do sentenciado.

Art. 2º. Em relação à atuação com a população em privação de liberdade ou


em medida de segurança, a (o) psicóloga (o) deverá: ...
Parágrafo Único: É vedado à (ao) psicóloga (o) participar de procedimentos
que envolvam as práticas de caráter punitivo e disciplinar, notadamente os de
apuração de faltas disciplinares.
Art. 4º. Em relação à elaboração de documentos escritos para subsidiar a
decisão judicial na execução das penas se das medidas de segurança:
a) A produção de documentos escritos com a finalidade exposta no caput deste
artigo não poderá ser realizada pela (o) psicóloga (o) que atua como profissional
de referência para o acompanhamento da pessoa em cumprimento da pena ou
medida de segurança, em quaisquer modalidades como atenção psicossocial,
atenção à saúde integral, projetos de reintegração social, entre outros. ...
§ 1º. Na perícia psicológica realizada no contexto da execução penal ficam
vedadas a elaboração de prognóstico criminológico de reincidência, a aferi-
ção de periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio

61
delito delinquente.

Este Parecer Técnico tem como objetivo desconstruir alógica que


embasa o exame criminológico, bem como esclarecer e oferecer argumen-
tos contrários à sentença que suspendeu a Resolução n. 12/2011. Portan-
to, a intervenção realizada pelo (a) psicólogo (a) dentro do sistema prisional
está ligada a uma atuação em que se procura promover mudanças satisfa-
tórias, não só em relação às pessoas em cumprimento de pena privativa de
liberdade ou medida de segurança, mas também de todo sistema.
Visando qualificar as intervenções psicológicas no Sistema
Prisional, é preciso mencionar que nossas praticasse encontram hoje
perpassadas pelas graves dificuldades, pelas quais este sistema passa,
dificuldades derivadas de sua precarização, das péssimas condições es-
truturais da superlotação e consequente dificuldade no estabelecimento
do sigilo profissional. Isso se expressa nas deficiências das condições
de trabalho, decorrentes dos pequenos, ou muitas vezes, inexistentes
quadros de profissionais nas unidades, e da primazia dos procedimen-
tos de segurança, práticas punitivas e disciplinares, em detrimento das
práticas preventivas, de reinserção social, de saúde, pedagógicas, pro-
moção de cidadania, saúde mental, responsabilização, por exemplo.
Toda essa busca pela qualificação profissional (estima-se que
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

existam 500 psicólogos atuando em 1440 presídios brasileiros, com


uma população prisional de aproximadamente 620 mil presos. Fonte:
Depen) ainda é agravada pelo imperativo categórico de se fazer repen-
sar a prática psicológica voltando à perspectiva da reintegração social,
superando o modelo de classificação e estigmatização do indivíduo.
Finalmente, no contexto do sistema prisional, o Conselho Fe-
deral de Psicologia e os Conselhos Regionais de Psicologia entendem
que, muitas vezes, apenas parte restrita desse complexo trabalho esteja
sendo demandada aos (as) psicólogos (as) dessa seara. Outras vezes,
essa demanda judiciária ultrapassa as possibilidades técnicas e éticas da
profissão, extrapolando as condições que dispõem as ciências e práticas
psicológicas de responder a questões não condizentes a conceitos e ma-
térias psicológicas. Como exemplo claro, a imposição do Poder Judiciário
da realização do “exame criminológico” por parte das (os) psicólogas (os).
Além da impossibilidade de qualquer profissional, com qual-
quer instrumento, prever as ações futuras de uma pessoa, as celas es-
tão superlotadas, não há separação de presos por crime cometido ou
tempo de reclusão, e não há projetos que garantam os direitos legais
previstos pela LEP para os presos, como escolas, oficinas profissionais,
trabalho, etc. Dessa forma, não é possível avaliar mérito individual, se
os presos não têm como exercer sua autonomia na prisão.
62
QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
(TJ/MG – 2005)
Considerando-se as relações entre a Psicologia e o Sistema Penal,
é INCORRETO afirmar que:
A) a Criminologia Crítica considera impossível estudar o fenômeno crime
sem se levar em conta a ação seletiva e configuradora de carreiras crimi-
nais exercidas pelas agências de controle social — como os processos de
criminalização e a seletividade das leis, das polícias e do sistema judiciário.
B) a estrutura da execução penal no Brasil é moldada pelo sistema pro-
gressivo, segundo o qual, após o cumprimento de um determinado pe-
ríodo de tempo, o apenado pode ser transferido para um regime menos
gravoso dependendo de seus méritos e da avaliação da personalidade
realizada por Técnicos Especializados, entre eles, o Psicólogo.
C) o Psicólogo, em atuação no sistema prisional, deve compreender
que o fenômeno criminal é encontrado em todo tipo de sociedade, ou
seja, não há nenhuma em que não exista criminalidade; portanto o de-
lito faz parte da sociedade como elemento funcional da fisiologia dele e
não, de sua patologia.
D) o trabalho a ser realizado por um Psicólogo com um condenado con-

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


siste em, a partir da coleta de dados sobre a vida deste, determinar um
programa de gradual tratamento, objetivando a redução dos danos a ele
causados pelo cárcere.
E) a Psicologia, como ciência e profissão regulamentada no Brasil, deve
respeitar, além das diretrizes de seu Conselho e Código de Ética, as
convenções e tratados internacionais que tratam do tratamento e assis-
tência da pessoa encarcerada.

QUESTÃO 2
(PM de Angra dos Reis/RJ, 1995)
A percepção da saúde como direito de cidadania é um dado novo
na história das políticas sociais brasileiras. Nesse contexto, a no-
ção de saúde tende a ser percebida como:
A) conjunto de condições coletivas de existência com qualidade de vida.
B) expressão de decisão e gestão exclusiva do Estado.
C) visão medicalizada da saúde de forma globalizada.
D) compreensão da saúde como um estado biológico.
E) estado de ausência de patologia.

QUESTÃO 3
(SAD-MT, 2009)
63
Segundo a Lei de Execução Penal, n° 7210, de 17 de julho de 1984,
"a classificação do condenado deve ser feita segundo seus ante-
cedentes e personalidade para orientar a individualização da exe-
cução penal", em programa individualizado, o qual é baseado na
análise de uma Comissão Técnica de Classificação.
De acordo com o art. 7° da LEP, além do psicólogo, quais outros
membros fazem parte dessa comissão?
A) o diretor da penitenciária, um psiquiatra, um psicólogo e um assis-
tente social.
B) o diretor da penitenciária, um chefe de serviço e dois assistentes sociais.
C) um psiquiatra, um assistente social, dois diretores da penitenciária e
dois chefes de serviço.
D) o diretor da penitenciária, dois chefes de serviço, um psiquiatra e um
assistente social.
E) o diretor da penitenciária, um defensor público, um psiquiatra e um
assistente social.

QUESTÃO 4
(SAD-MT, 2009)
Compete ao Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá-
ria, no exercício de suas atividades, em âmbito federal ou estadual
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

nos estritos termos do art. 64, da Lei nº 7.210/84, exceto:


A) estimular e promover a pesquisa criminológica.
B) estabelecer os critérios para a elaboração da estatística criminal.
C) acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal em todo
o Território Nacional.
D) elaborar programa nacional penitenciário de formação e aperfeiçoa-
mento do servidor.
E) propor diretrizes da política crimina quanto à prevenção do delito,
administração da Justiça Criminal e execução das penas e medidas de
segurança.

QUESTÃO 5
(SAD-MT, 2009)
A função do psicólogo, como membro de equipe de uma institui-
ção prisional, deve ter como foco:
A) o reeducando ou preso, que deve ser acolhido como se fosse acolhi-
do em consultório particular.
B) o cumprimento das determinações judiciais, já que há uma hierarquia
institucional que não poderá ser destituída.
C) as técnicas e testes psicodiagnósticos, já que estes se constituem
como práticas específicas do trabalho do psicólogo.
64
D) o trabalho para a manutenção do bom relacionamento interpessoal,
mediando as relações entre a equipe e a administração.
E) além do reeducando, as questões institucionais e sua relação com a
sociedade, lutando por políticas públicas que visem saúde, educação e
inclusão social.

QUESTÃO 6
(SAD-MT, 2009)
Dentro das possibilidades contidas na Lei de Execução Penal, o
fato de um apenado ser beneficiado a sair do regime fechado para
o regime semiaberto caracteriza:
A) a regressão da pena.
B) a progressão da pena.
C) o indulto.
D) a conversão da pena.
E) a individualização da pena.

QUESTÃO 7
(SAD-MT, 2009)
Goffman denomina os hospitais psiquiátricos, as prisões e os con-
ventos como "instituições totais".

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


Quais são as características comuns a estas instituições que fa-
zem com que o autor assim as denomine?
A) são instituições nas quais há uma anulação do sujeito (tanto do in-
ternado, quanto daquele que lá trabalha) em prol do funcionamento das
regras institucionais, que são fechadas.
B) são instituições com a finalidade de aprimorar o sujeito de modo in-
tegral, por isso, "totais".
C) são instituições que contribuem de modo generalizante e adaptativo
com a manutenção da ordem social.
D) são instituições que possuem vínculo intenso com a comunidade
externa a ela.
E) são instituições que levam à mudança total de comportamento, rea-
bilitando integralmente o sujeito.

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE


Segundo o art. 8º da LEP 7210/1984, o Exame Criminológico somente
será necessário à adequada classificação, com vistas à individualização
da execução da pena, em casos de condenação ao cumprimento de
pena privativa de liberdade, em regime fechado. Acerca dessa estipula-
ção legal, comente o limite e as possibilidades de atuação do Psicólogo
junto ao sujeito preso.
65
TREINO INÉDITO
O Código de Ética Profissional do Psicólogo é norteado por sete
princípios fundamentais. O primeiro Princípio Fundamental deste
Código está apoiado nos valores de qual documento público?
A) constituição Federal Brasileira de 1988.
B) leis de Execução Penal.
C) código de Ética Profissional do Médico.
D) declaração Universal dos Direitos Humanos.
E) declaração da Organização Mundial de Saúde.

NA MÍDIA
POUCOS DETENTOS TRABALHAM NAS PENITENCIARIAS
Uma lei sancionada pelo governo do Estado de Santa Cataria há menos
de um mês busca ampliar as parcerias com empresas privadas para
aumentar a quantidade de detentos envolvidos em alguma atividade la-
boral. Tal lei defende que, se os sujeitos presos ganham uma profissão,
geram renda e têm reduzidas as chances de voltarem ao crime. Atual-
mente, dos 620 detentos que cumprem pena na Penitenciária de Blu-
menau, 168 trabalham (27%, enquanto a média nacional fica em 11%).
A psicóloga social Catarina Gewehr explica que o trabalho também tem
papel importante no futuro processo de ressocialização do apenado, no
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

que ela chama de redefinir os horizontes. “O trabalho é um regulador im-


portante para ele (detento) se perceber como um sujeito capaz de construir
novos caminhos além daqueles que o levaram para a prisão” – argumenta.
Fonte: Jornal NSC Total
Data: 15 de janeiro de 2019
Leia a notícia na íntegra: https://www.nsctotal.com.br/noticias/percentual-
-de-detentos-trabalhando-na-penitenciaria-de-blumenau-e-inferior-a-30

NA PRÁTICA
Em tese se prevê que, após cumpridas as obrigações jurídicas e pe-
nais, que haja o retorno sujeito preso ao convívio social, numa outra e
melhor condição, se comparada a sua entrada no sistema penal. Assim,
espera-se que sujeito saia pronto para se reinserir na sociedade, e que
o Estado, a quem lhe foi confiado e que possui o dever de conferir tal
condições, apresente um indivíduo sem risco de reincidência da prática
delituosa. Nesse sentido, como estudado, o art. 10 da Lei de Execuções
Penais – LEP dispõe que a assistência ao preso e ao internado é dever
do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivên-
cia em sociedade.
Se durante o encarceramento, a LEP prevê as assistências material, à
saúde, jurídica, educacional, social e religiosa, a própria legislação brasi-
66
leira prevê uma assistência que deve ser estendida também ao egresso,
pelo prazo de um ano, a contar da saída do estabelecimento prisional, de
modo a lhe facilitar a reinserção social. Nesse caso, prevê-se formas de
apoio como alojamento e alimentação, ajuda na busca de trabalho.
Ocorre que, se o Estado mal consegue assegurar aquelas assistências
primeiras, quando do período de encarceramento do sujeito, inclusive
colaborando com sua educação e profissionalização, muito menos exer-
ce papel no momento da saída do sistema e que demanda esse “meio
de campo” para a reinserção social, de modo que o sujeito sai de um
estado institucional-confusional para vácuo em que, além de perda de
vínculos, enfrentará discriminações e um grande desafio na contextua-
lização ao novo meio. Nesse cenário, muitos sujeitos voltam a delinquir,
posto que haveria nesse papel uma maior “segurança”.

PARA SABER MAIS


Filme sobre o assunto:
Ao Mestre com carinho (1967) e Escritores da liberdade (2007): Embora
ambos os filmes abordem o público adolescente, há algo em comum
entre eles: a prática criativa da educação como modo de ressignificação
de si, da vida e construção novos modos de ser no mundo

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

67
Se por um lado, o ato criminoso precisa ser corrigido por um apa-
rato legal e jurídico eficiente, por outro, precisa existir um sistema prisional
ou algum outro dispositivo que execute a sentença promulgada, em nome
da sociedade que clama por justiça, mesmo quando busca vingança.
Como bem conhecido de todos, nosso sistema penal mais pune
que educa, e mais castiga que redime, apesar de termos inúmeros docu-
mentos oficiais e diretrizes que pregam uma assistência digna ao sujeito
encarcerado. É a famosa distância entre o ideal da letra e o real da prática.
Entretanto, essas leis, diretrizes e políticas devem se constituir
em horizonte para qualquer gestor de políticas prisionais, e qualquer
profissional que atue no sistema prisional, caso se queira uma mudança
desse estado de coisas.
E nesse contexto, esse gestor precisará dos aportes teóricos,
técnicos e éticos da Psicologia, ciência e profissão que tem se consolida-
do como instrumento de humanização de sujeitos, que têm sido tratados,
milenarmente, como objetos ou bestas, sem a devida dignidade humana.
O espaço é precário e insalubre, o contexto apresenta inúme-
ras falhas e lacunas históricas, o horizonte brasileiro não parece otimista,
entretanto, qualquer que seja o profissional que ouse gerir esse sistema,
precisará de uma postura criativa e tenaz, de enfrentamento e inventivi-
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

dade, de modo a fazer o possível dentro da impossibilidade encarcerada.

68
GABARITOS

CAPÍTULO 01

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Acercado do dito popular “Bandido bom é bandido morto” representa


um equívoco em termos do tratamento aplicado ao sujeito praticante
de crime. Em primeiro lugar e mais importante, a nossa Constituição
Federal não admite a pena capital a ser aplicada a esse sujeito, mas
prevê todo um arcabouço jurídico e processual, que estabelece penas e
modos de aplicação da justiça, sem reduzi-la à mera prática da vingan-
ça com as próprias mãos. E mesmo o condenado e em estado prisional,
não se justifica qualquer tipo de aplicação de castigos ou torturas que
levem à execução da pessoa, cabendo ao Estado fazer cumprir a sen-

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tença judiciária do modo expresso na Lei de Execuções Penais, que
garante uma aplicação das penalidades de modo digno.

TREINO INÉDITO
Gabarito: C

69
CAPÍTULO 02

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Considerando o último senso penitenciário brasileiro, a maior faixa etária


de sujeitos presos se encontra entre 18 a 29 anos, com 53%. Argumente
sobre quais motivos essa faixa etária é aquela mais presa no Brasil.
Resposta: Essa faixa etária é marcada por diversos fatores que podem
estar levando-a ao sistema prisional: primeiro, é uma faixa etária jovem
e, portanto, saindo da adolescência marcada por certa confusão identi-
tária, inclusive sobre a própria identidade profissional. Articulado a isso,
é uma fase que marca a entrada no mercado do trabalho e, no caso do
Brasil, há uma forte crise de desemprego, além da falta de oportunida-
des para o jovem iniciar no mundo do trabalho. Ainda de modo associa-
do aos fatores anteriores, essa faixa, como todo o cidadão, demanda
acessar bens e consumos para existir no mundo, e sem emprego e
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

renda, torna-se vulnerável a modos de acesso ilícitos, como na crimi-


nalidade. Finalmente, trata de uma população com baixa escolaridade,
oriunda de classes sociais economicamente inferiores, em sua maioria
composta de negros e, nesse sentido, parece compor um grupo conde-
nado ao sistema prisional.

TREINO INÉDITO
Gabarito: B

70
CAPÍTULO 03

QUESTÕES DE CONCURSOS

QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE

Embora a LEP especifique o papel da Psicologia quanto ao exame cri-


minológico, nesse caso específico de condenação ao cumprimento de
pena privativa de liberdade, em regime fechado, existe um imaginário
e uma expectativa no próprio sistema prisional de que o profissional da
psicologia tenha sua função reduzida a aplicar testes e laudos, espe-
cialmente criminológicos. Entretanto, sua atuação extrapola essa fun-
ção, com possibilidade de implementação de atividades de assistência
à saúde, em parceria com outros profissionais do sistema prisional.
Sua atuação, portanto, não se reduz a responder ao judiciário ou uma
gestão da punição, mas a uma prática profissional técnica e ética com-
prometida com as diretrizes internacionais e da própria profissão, que

ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS


visa a promoção da dignidade humana, mesmo do sujeito preso.

TREINO INÉDITO
Gabarito: D

71
ONU: É uma organização intergovernamental criada para promover a
cooperação internacional. Uma substituição à Liga das Nações, a orga-
nização foi estabelecida em 24 de outubro de 1945, após o término da
Segunda Guerra Mundial, com a intenção de impedir outro conflito como
aquele. Na altura de sua fundação, a ONU tinha 51 estados-membros;
hoje são 193. Os seus objetivos incluem manter a segurança e a paz
mundial, promover os direitos humanos, auxiliar no desenvolvimento eco-
nômico e no progresso social, proteger o meio ambiente e prover ajuda
humanitária em casos de fome, desastres naturais e conflitos armados.

Declaração Universal dos Direitos Humanos: A Declaração Univer-


sal dos Direitos Humanos (DUDH), que delineia os direitos humanos
básicos, foi adotada pela Organização das Nações Unidas em 10 de
dezembro de 1948. Abalados pela recente barbárie da Segunda Guerra
Mundial, e com o intuito de construir um mundo sob novos alicerces
ideológicos, os dirigentes das nações que emergiram como potências
no período pós-guerra, liderados por Estados Unidos e União Soviéti-
ca. Embora não seja um documento com obrigatoriedade legal, serviu
como base para os dois tratados sobre direitos humanos da ONU de
força legal: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto
ASSISTÊNCIA À SAÚDE E PSICOLOGIA APLICADA AO SISTEMA PRISIONAL - GRUPO PROMINAS

Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Sistema Único de Saúde: O Sistema Único de Saúde (SUS) é a deno-


minação do sistema público de saúde no Brasil, inspirado no National
Health Service Britânico. Considerado um dos maiores sistemas públicos
de saúde do mundo, "um sistema ímpar no mundo, que garante acesso
integral, universal e igualitário à população brasileira, do simples atendi-
mento ambulatorial aos transplantes de órgãos".Foi instituído pela Cons-
tituição Federal de 1988, em seu artigo 196, como forma de efetivar o
mandamento constitucional do direito à saúde como um “direito de todos”
e “dever do Estado” e está regulado pela Lei nº. 8.080/1990,a qual opera-
cionaliza o atendimento público da saúde. Com o advento do SUS, toda
a população brasileira passou a ter direito à saúde universal e gratuita,
financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Es-
tados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme rege o artigo 195
da Constituição. Fazem parte do Sistema Único de Saúde, os centros e
postos de saúde, os hospitais públicos - incluindo os universitários, os
laboratórios e hemocentros (bancos de sangue), os serviços de Vigilância
Sanitária, Vigilância Epidemiológica, Vigilância Ambiental, além de funda-
ções e institutos de pesquisa acadêmica e científica, como a FIOCRUZ-
Fundação Oswaldo Cruz- e o Instituto Vital Brasil.
72
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