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Segunda edição - 2023

Jaquelini Doula
ÍNDICE
PARTO NORMAL
O parto medicalizado;
Posição Ginecológica;
Manobra de Kristeller;
Puxo dirigido;
Episiotomia;
Ponto do marido;
Exame de toque;
Ocitocina;
Restrição de dieta;
Procedimentos invasivos;
Negar acompanhante;
Violência psicológica;
Cesariana desnecessária;

CESÁREA
Amarrar as mãos;
Manobra de retirada violenta;
Negar acompanhante;
Impedir hora de ouro;
Ocultar riscos;
Falha da anestesia;

BÔNUS:
ATENDIMENTO AO RN
Impedimento da hora de ouro;
Corte precoce do cordão umbilical;
Aspiração;
Colirio nítrato de prata;
Banho em menos de 24 horas;
Por todas aquelas que, assim
como eu, não tem um dia feliz
para se lembrar.

Jaquelini doula
PARTO NORMAL

O Parto medicalizado
A violência obstétrica nasceu da necessidade de intervenção do homem, da
necessidade de entender o funcionamento do nascimento da vida. Ao longo
da história, foram inventados instrumentos, condutas testadas, e hoje ainda
temos uma gama de violências naturalizadas.

As violências obstétricas se popularizaram com a medicalização do parto.


Antes dos anos 60, os nascimentos eram via de regra, todos com parteiras,
até que veio a crise e a popularização de novas profissões, dentre elas, a
obstetrícia. Com isso, foram criadas revistas e periódicos científicos, onde
eram publicados estudos, artigos e novas evidências.

O problema é que, para acessar esses dados, era obrigatório ser médico. As
parteiras foram sendo descredibilizadas, pois, como continuar confiando
quando surgiram um “monte de problemas” que só médicos sabiam
solucionar?

Isso, somado ao fato de que não havia curso superior, apenas conhecimento
passado de parteira para parteira através do tempo e vivência, fizeram com
que a sociedade passasse a confiar somente em médicos.

A medicina nasceu da necessidade de intervenção, e nessa necessidade de


controlar tudo, morreu o respeito ao natural e nasceu o culto a
medicalização.

Dificilmente a violência obstétrica vai acabar, pois ainda são ensinadas


violências obstétricas nas faculdades. Médicos e enfermeiras saem das
universidades prontos para cortar mulheres e intervir e processos naturais,
pois foi assim que foram ensinados.

Precisamos quebrar esse ciclo, é por isso que


esse E-book foi feito. Se a revolução não
começa de cima, a gente tenta de baixo.
PARTO NORMAL

Posição ginecológica
É a posição mais vista nos
partos cinematográficos: a
mulher na maca, com as
pernas pra cima e aberta para
o médico ter uma melhor visão
do nascimento. Apesar de ser
bem popular, é a pior posição
pra parir.

A posição ginecológica é a posição que facilita todas as outras violências


obstétricas, porque é a que deixa a mulher mais vulnerável. É nela que
acontece a manobra de kristeller, episiotomia, tricotomia, puxo dirigido,
amarrar braços e pernas... e isso é facilitado com a nossa cultura de
medo do parto.

Precisa ter um obstetra o tempo todo, ele precisa ter o controle porque
né, vai que algo dá errado... mas na verdade, estar nessa posição, sem
ouvir o próprio corpo já é por sim só uma complicação. A maior arma que
eles tem contra nós, que os facilita tanto estar sempre cometendo
violência obstétrica, é o fato de não confiarmos em nós mesmas, e
dependermos deles para nos dizer o que fazer.

Complicações que essa posição pode causar


Além do motivo dito no tópico anterior, existem outros diversos fatores
para não aceitar parir assim. O primeiro é o de que dificulta o expulsivo
do bebê, pois a posição vai contra a gravidade. O bebê esta descendo,
esta em posição horizontal dificulta este processo, fazendo inclusive com
que demore mais.
Outro bom motivo para não aceita-la é que estar assim facilita que
lacerações aconteçam, pois é preciso maior força e resistência perineal
para o nascimento, o que implica em mais lacerações que poderiam ser
evitadas com uma medida simples: estar posicionada verticalmente.

Precisar de maior força também pode prejudicar a oxigenação fetal, uma


vez que a mulher não consegue respirar enquanto faz força, e,
consequentemente o bebê recebe menos oxigênio.

Estar em posição ginecológica também aumenta a dor, e diminui a


sensação de satisfação na experiência da mulher. Partos onde a
movimentação foi livre e espontânea são melhor avaliados.

Ela também é contra indicada pela OMS e pelo Ministério da Saúde, na


nossa cartilha de boas diretrizes para o parto, por todos esses motivos e
por ausência de beneficio.

A importância do livre parir

A melhor posição para parir é a que a mulher se sente mais confortável,


com menos dor e com segurança de o fazer, nem que seja em pé. Se
movimentar também ajuda a engrenar o trabalho de parto, pode ajudar
na dilatação, na experiência positiva da mulher, no alivio da dor sem
métodos farmacológicos, pode ajudar o bebê que está mal posicionado a
rotacionar, pode ajudar na efetividade das contrações...

Percebe o tanto de benefícios ao se movimentar?

Não faz sentido que profissionais atualizados exijam ou indiquem


litotomia. Porém, importante lembrar que trabalho de parto não é
maratona, deixar a mulher livre e incentivar a movimentação, não significa
que ela não possa descansar ou que tenha que ficar o tempo fazendo
exercícios. pra parir, é necessário energia.

Caso essa seja a posição que VOCÊ ESCOLHEU e se sentiu mais


confortável, tudo bem. O que não pode é estar restrita a ela pela equipe
médica para comodidade deles.
PARTO NORMAL

Manobra de kristeller
Manobra de kristeller é a manobra inventada pelo obstetra alemão
Samuel Kristeller em 1867, que consiste em fazer pressão na região do
fundo uterino com o objetivo de empurrar o bebê pra fora e abreviar os
partos. Naquela época, a crença era de que, se o parto demorasse muito,
era perigoso para mãe e bebê, e por isso vários métodos e manobras
foram inventadas, sendo a manobra de Kriusteller a mais famosa.

Por sorte, hoje sabemos que essa manobra é extremamente nociva e


perigosa a saúde do binômio mãe-bebê e que deve ser erradicada das
cenas de parto.

Apesar da manobra de Kristeller ser desencorajada por todos os manuais


de saúde da mulher e boas práticas no parto, ela ainda é muito utilizada
e inclusive muito ensinada nas universidades, pois mesmo com todos os
estudos contra, muitos médicos burlam os protocolos e continuam
aplicando.

A falta de legislação acerca do que é ou não violência obstétrica facilita


para que a manobra continue sendo realizada, sobretudo porque os
profissionais de saúde costumam omitir a realização da mesma dos
prontuários, e isso somado ao fato de que a lei do acompanhante ainda é
muito desrespeitada, dificulta as denúncias.
Posicionamentos dos conselhos regionais
Os conselhos regionais de medicina (especialmente o do Rio de Janeiro)
não tem um parecer especifico acerca da prática, mas já é popular o
fato de que eles defendem os médicos que ainda realizam. Prova disso é
que poucos médicos tem seu registro caçado por realização de violência
obstétrica, e, inclusive em 2019 houve uma grande polêmica sobre o
assunto.

Eles emitiram uma resolução que autorizava médicos a passarem por


cima de pacientes para tomarem decisões sobre procedimentos no parto,
e também se posicionaram contra a realização do plano de parto, dando
direito ao médico de recusa-lo.

Muitos ainda consideram o termo violência obstétrica um modismo (foram


essas as palavras da CREMERJ), e acham que médicos são incapazes de
realizar violências contra pacientes, pois "tem a vida de pessoas nas
mãos", mas isso é medicina, eles já sabiam que seria assim, por isso a
obrigação é de estudar, se atualizar e não por pacientes em riscos
desnecessários.

Ironicamente, o conselho federal de enfermagem tem um parecer bem


claro sobre a prática, onde enfermeiros são PROIBIDOS de realizarem a
manobra, através da resoluções estaduais facilmente aprovadas.

O primeiro a lançar essa resolução foi o COREN-RS, logo em seguida o


COREN-MT e assim seguiram outras regiões do Brasil. Ainda não existe
uma resolução válida para todos os estados conjuntamente.

Mesmo com essa resolução, muitos enfermeiros se juntam a médicos para


a prática, sejam coagidos ou por acreditarem que existem indicações
reais, já que sabemos que a maior parte das formações acadêmicas
ignoram que a prática seja violenta e continuam ensinando.

Inclusive, já existem processos judiciais que citam a manobra como lesão


corporal e homicídio culposo, mostrando que a prática além de ser
desencorajada, pode ser denunciada como crime já existente. Mesmo
assim, a manobra continua comum no dia a dia das maternidades
brasileiras.
Riscos da manobra pra mulher
Dor abdominal presente no pós parto;
Escoriações abdominais; Fratura nas costelas;
Lesões perineais: fator de risco para trauma de esfíncter anal e
lacerações de 3º e 4º grau;
Ruptura do baço, fígado e útero;
Trauma de pedículo tubo-ovariano;
Aumenta o risco de hemorragia pós parto;
Inversão uterina.

Riscos da manobra pro bebê


Maior risco de hematoma encefálico;
Fraturas na clavícula e no crânio;
Problemas a longo prazo, como apresentar convulsões ao longo da
infância;
Aumento do risco de distócia de ombros;
Aumento do índice baixo de apgar, abaixo de 7 após 5 minutos;
Hipoperfusão;
Risco aumentado de paralisia cerebral;
Óbito fetal;

Leia a reportagem completa, clicando aqui


´PARTO NORMAL

Puxo dirigido
Também conhecido como manobra de valsalva

Consiste em fazer força cronometrada, quando dirigida pelo médico e


segurando a respiração. É uma manobra perigosa, inclusive fora de
trabalho de parto e que, infelizmente, ainda é muito comum no nosso
cenário obstétrico, tão comum que muitas sequer sabem que existem
puxos naturais. Ela também é fator de risco para pessoas cardiopatas.

As vezes, é difícil de identificar quando ela acontece, mas é só se


lembrar das cenas de filme onde a mulher faz "respiração de
cachorrinho" e "força de coco" que logo você vai se lembrar e perceber
que até hoje, você nunca nem pensou que fosse errado.

Como saber a hora de fazer força?

Não tem nem como confundir quando esse momento chegar. Você vai
sentir uma ardência na entrada da vagina, literalmente como se estivesse
pegando fogo e seu corpo vai fazer força sozinho, incontrolável e no
tempo correto. Todo o seu corpo vai trabalhar para que o bebê saia, é
impossível segurar ou impedir que isso aconteça.

Inclusive, com esse puxo involuntário você faz a força correta e diminui
drasticamente a chance de lacerações. Portanto, a melhor alternativa
ainda é esperar o puxo vir de forma natural.
Analgesia
Também não deve ser realizada, pois em analgesias bem aplicadas e em
dose correta não some a sensibilidade da mulher com relação ao puxo
natural. Se isso acontecer, o médico deve ajudar a mulher na percepção
desses puxos naturais, e não aplicar a manobra de valsalva.

Inclusive, o risco de perder a sensibilidade deve ser avisado previamente


a mulher, porque muitas vezes o trabalho de parto diminui o ritmo pela
analgesia em momentos de alta dilatação, e, mesmo assim a manobra é
aplicada, causando danos a mulher.

Evidencias cientificas

Alguns estudos trouxeram evidências de que, fazer força na hora errada


e de forma errada aumentam as chances de lacerações de grau 3 e 4,
sobretudo porque, quando o corpo está pronto para a expulsão do feto,
ele mesmo faz força naturalmente, através de puxos voluntários, não
sendo assim necessário forçar o assoalho pélvico.

Ela também aumenta a pressão arterial, e isso em gestantes,


principalmente no parto é extremamente perigoso, podendo
comprometer o funcionamento da placenta e do cordão umbilical.

Prender a respiração pode comprometer a a oxigenação sanguínea, e


durante o parto isso não é diferente. Acontece que esse
comprometimento pode chegar também a oxigenação placentária,
diminuindo os nutrientes e aumentando o risco de hipóxia fetal. Isso
porque, considerando que você precisa respirar bem pra manter você e o
bebê oxigenados, ficar sem fôlego ou sem respirar por muito tempo pode
comprometer o quanto de oxigênio vai pro bebê.

Além disso, estudos mostraram que bebês nascidos após o puxo dirigido,
tem maiores de chances de receber nota menor que 5 de apgar (que vai
de 0 a 10) por asfixia fetal.
´PARTO NORMAL

Episiotomia
Episiotomia é um corte na entrada vaginal, mais exatamente no períneo
(espaço entre vagina e ânus), que visa abrir passagem para o bebê, no
momento do expulsivo. Foi inventado no século XVIII por um homem
chamado Sir Fielding Ould para solucionar partos difíceis.

O problema é que esse corte não deveria mais ser feito sob nenhuma
hipótese, pois existem estudos comprovados de que ele não traz nenhum
benefício, ao contrário, traz prejuízos a longo prazo pra vida sexual e
reprodutiva de mulheres. Lá no século XVIII eles faziam o que dava na
cabeça, mas hoje já temos estudos para nos basear, e em cima disso,
sabemos que a episiotomia deveria ser abolida.
Existem vários mitos acerca da prática, que convencem as pessoas de
que o corte é necessário. A mais comum de todas é a de que episiotomia
previne lacerações, mas como se a própria já é uma laceração de
segundo grau? A realidade é que ela é ainda pior, pois, lacerações
naturais acontecem no sentido da fibra muscular, e não pra qualquer
lado, como a episio. Além disso, a chance de não lacerar é muito maior,
ou seja, ao invés de um períneo integro, você vai ter um períneo cortado
por medo de rasgar. Não faz sentido.

Outro mito comum é a de que a episiotomia abrevia o período do


expulsivo quando há alguma emergência ou quando é a vontade da
paciente, mas não há estudos que sustentem essa afirmativa, sobretudo
porque a episiotomia corta somente pele, e pele não impede ou
atrapalha o nascimento de um bebê. Logo, como continuar afirmando
que funciona quando, por mais pesquisas que sem façam, não aparecem
provas?

Há também a crença de que Episiotomia é uma solução rápida em


momentos em que o bebê corre o risco de sofrer asfixia, mas estudos
mostram que a prática não mudou os resultados e as estatísticas, ou seja,
mais uma vez temos uma crença, mas não temos a comprovação.

Também é importante salientar que a episiotomia NÃO deve ser


realizada para uso do fórceps ou da ventosa, cabe ao médico saber
manusear os instrumentos sem necessidade de cortar a paciente.

Complicações
Maior perda de sangue;
Maior risco de incontinência fecal;
Tempo de recuperação pós parto mais longo;
Maior risco de complicação na sutura;
Maior risco de infecções
Tempo de cicatrização mais longo do que lacerações naturais;
Endometriose na cicatriz;
Dor para se movimentar a longo prazo;
Dispareunia (dor no sexo);
Risco aumentado de laceração em partos futuros;
Baixa auto estima pela aparência da cicatriz;
Risco de necrose;
Risco de queloide na cicatriz;
´PARTO NORMAL

Ponto do marido

Clique na
imagem e leia
a reportagem

O ponto do marido é uma prega vaginal, feita no corte da episiotomia,


afim de deixar a entrada da vagina menor. Isto é, é feito um ponto a
mais no corte para que a vagina seja mais apertada e isso beneficie o
homem a aumentar o seu prazer sexual.

Apesar de essa prática ser considerada crime de lesão corporal, e


condenada inclusive pelo código de ética médica, ainda é muito comum
no cenário obstétrico brasileiro. Algumas mulheres relatam piadinhas
ditas pelo médico, avisando em tom de deboche que a paciente "voltou
a ser virgenzinha".

Esse ponto destrói a vida da mulher. A grande maioria relata dores


durante o sexo, coceiras na cicatriz, sensibilidade, incontinência urinaria,
perda de força no assoalho pélvico entre outras complicações, durante
anos.

Quase não existem processos na justiça pelo ponto do marido, porque,


apesar de ser um crime, é muito difícil para a paciente provar que o
abuso aconteceu, sobretudo porque a imensa maioria das mulheres não
sabem de que isso é violência, e apesar do incomodo, se sentem
inseguras em questionar a conduta médica.

Por isso é tão importante falar sobre o assunto, informar mulheres, pois
sem informação não tem como se defender, questionar, dizer não. Uma
mulher mal informada é presa fácil.
´PARTO NORMAL

Exame de toque
O Exame de toque consiste em enfiar os dedos pela vagina da mulher
para conferir o colo do útero, a vagina e o útero. Nas gestantes ele tem
suas necessidades, como medir dilatação durante trabalho de parto,
identificar algum possível problema, mas, também pode se tornar uma
violência obstétrica. Ele não deve ser feito durante o pré-natal ou fora
do trabalho de parto, pois sua prática envolve riscos.

Somente alguns profissionais são habilitados a fazer o exame de toque:


enfermeiras, enfermeiras obstétricas, obstetrizes e médicos. Doula NÃO
FAZ exame de toque.

Quando o toque vira violência


O toque durante uma contração pode ser extremamente desconfortável
e doloroso pra mulher, não só pelo toque mas também pela necessidade
de estar completamente parada e deitada. Não custa nada o
profissional de saúde esperar a contração acabar para fazer o exame.
Você tem todo o direito de exigir que esperem sua contração passar ou
até mesmo o de não querer que o exame seja feito.
Outro momento em que o toque pode ser violento é no descolamento de
membranas, que é método de indução do parto, que muitas vezes é feito
de forma compulsória, sem que a paciente saiba. Nele, o obstetra
descola a parte da bolsa amniótica que está encostada no colo do útero,
induzindo assim o trabalho de parto. Pode ser bastante doloroso. Este
procedimento só deve ser feito com o seu consentimento.

O exame de toque deve ser feito rapidamente e por uma pessoa só, o
seu corpo não deve servir de cobaia para várias pessoas diferentes. Sua
parte intima deve ser respeitada e preservada. Excesso de exames de
toque inclusive pode causar infecção e parto prematuro.

O que preciso sobre este exame?


O exame de toque, em teoria, não deveria doer, mas alguns profissionais
não tem muita delicadeza em realiza-lo, e acabam por causar dores
muito maiores do que simples desconforto. Além disso, o exame de toque
dependendo de como é feito e do estado da paciente, pode ocorrer
sangramentos pontuais.

O toque serve não só para ver a dilatação, como o posicionamento do


bebê, se há alguma necessidade de exercicios, se a bolsa está ou não
rompida, situação do colo do útero e em que altura o bebê esta na
pelve.

Outro ponto importante do exame de toque é que ele não é o único e


principal meio de saber se uma mulher está em trabalho de parto, por
isso, o exame de toque é superestimado e deveria ser usado de outras
formas. Ele pode por exemplo mostrar quando um bebê está mal
posicionado, quando a prolapso parcial de cordão, quando um bebê
está pélvico e a mulher nem imaginava... uma série de utilidades que
nem são informadas as mulheres.

A Organização Mundial da saúde recomenda que o exame de toque seja


realizado de 4 em 4 horas, mas na verdade o exame deveria ser
realizado apenas com necessidade e consentimento. Não podemos
esquecer que se trata de uma mulher tendo seu corpo tocado através de
um órgão sexual.
Sim, você pode negar o exame de toque
Muitas mulheres acham que não podem negar o toque porque podem
colocar o seu bebê em risco, ou porque veem no profissional de saúde
uma pessoa de autoridade, mas é importante dizer que sim, você pode
dizer não em qualquer momento, e que você deve ser informada da
necessidade, sem ser coagida.

Dizer "olha, preciso realizar o exame para saber se o seu bebê está em
posição favorável" é diferente de dizer "preciso fazer o toque ou seu
bebê vai nascer sem você estar preparada", coagindo indiretamente a
mulher a aceitar um toque que ela não quer. Violências são sutis, mas
estão ali, prontas pra confundir e causar estragos. Se você se sentiu
desconfortável ou obrigada a aceitar, então sim, foi uma violência
obstétrica.

Esse é um dos motivos pelos quais mulheres deveriam ser bem informadas
durante o pré-natal, para que sua experiência não se torne um trauma,
tanto obstétrico quando sexual.
´PARTO NORMAL

Ocitocina
Ocitocina é o hormônio que rege o parto. Ele é mais conhecido como o
hormônio do amor, porque é produzido pelo nosso cérebro quando
fazemos coisas que amamos. Na década de 50, cientistas americanos
desenvolveram a ocitocina em laboratório, sinteticamente, para algumas
necessidades especificas, mas, como quase tudo na medicina, a
ocitocina é mais uma das intervenções que deveriam ser pro bem, mas
acabam se tornando perigosas.

Quando produzida pelo nosso cérebro, ela é extremamente benéfica pro


nosso organismo, parto e amamentação, mas, a produzida
sinteticamente não afeta nosso sistema nervoso de forma positiva, por
isso deve ser usada com bastante cautela.
Ocitocina pode ser violência quando...
A ocitocina é usada em casos bem específicos, como quando é
necessário induzir o parto, ou quando ocorre um abortamento retido.
Também pode ser utilizada de forma a ajudar a produção de leite
materno.

Se você já esta em trabalho de parto ativo, dilatando naturalmente, se


movimentando, sentindo contrações, não tem porque utilizar o soro, o seu
corpo vai trabalhar de forma a garantir que o seu parto aconteça.

Luz baixa, movimentação livre, chuveiro, música, manter a mulher


confortável e segura garante que sua produção natural de ocitocina se
mantenha positiva e que tanto o parto quanto o pós sejam muito mais
positivos e benéficos para ambos, uma vez que a ocitocina atravessa a
placenta e chega no bebê.

O que ocorre é que os médicos não tem paciência de esperar que o


parto aconteça naturalmente, e utilizam a ocitocina de forma rotineira,
causando mais problemas e complicações. ela inclusive quase sempre
vem acompanhada das anteriores: kristeller e episiotomia. Percebe o
despreparo e o desespero dos médicos para que mulheres tenham partos
rápidos? Você não precisa disso. Confie no seu próprio corpo e na sua
própria natureza. Na era medieval até era compreensível que se
acreditasse na necessidade de partos rápidos, mas hoje, com todas as
informações disponíveis, não.

A bola de neve das intervenções


Muitas mulheres caem na bola de neve das intervenções e terminam com
um parto violento ou na cesariana, e elas quase sempre começam com a
ocitocina.

O profissionais colocam o soro mentindo pra mulher, dizendo ser só um


soro com glicose, pra não desidratar, e colocam ali sem aviso prévio. As
dores aumentam, as contrações aumentam e a mulher perde a noção do
tempo, do que está acontecendo e ai aparecem as outras vioilências:
posição ginecológica, kristeller, puxo dirigido e episiotomia, todas juntas.
Por isso é importante não aceitar nenhum soro durante o parto, ou no
minimo, saber reconhecer quando tem ocitocina.
Como identificar ocitocina no soro?
A ocitocina, além de aumentar a dor e a frequência com que vem a
contração, também tem alguns outros efeitos colaterais. Os mais comuns
são: náusea, pressão baixa, cefaléia (forte dor de cabeça), boca seca e
taquicardia. Ela ainda fica no organismo 20 minutos após ser retirada da
veia.

Se você estava bem, e após o soro passou a sentir algum desses


sintomas, saiba que você está copm ocitocina e pode exigir que seja
retirado (o acompanhante também pode pedir a retirada).

Importante que isso esteja no prontuário, caso seja da sua vontade


denunciar, pois eles também costumam ocultar do documento quando
não há real indicação.

Riscos do uso rotineiro


Hiperestimulação uterina que pode ocasionar mecônio;
Aumento da taxa de cesariana por sofrimento fetal;
Rotura uterina pela ausência de intervalo nas contrações;
Apgar menor que 7;
Convulsões;
Edema agudo pulmonar;
Asfixia e óbito fetal;
Prejudica a oxigenação fetal;
Cefaléia;
Atonia uterina;
Sofrimento materno;
Hemorragia pós parto;
Sofrimento fetal agudo;
´PARTO NORMAL

Restringir dieta
Restringir dieta é o fato de negarem água ou alimentos a mulher durante
o trabalho de parto com a justificativa de, caso haja uma necessidade
de cesariana, a mulher já estar preparada e em jejum. Isso acontecia
porque antigamente, a cesariana era feita com anestesia geral, hoje
raramente ela é usada, sendo substituída pela Raqui.

A anestesia geral, quando feita de barriga cheia, causa enjoo, vómito,


dor de cabeça e isso era perigoso, pois com a pessoa desacordada
ficava difícil saber quando esses sintomas apareciam, correndo risco de
asfixia. Hoje com a Raqui, a paciente fica acordada e consciente o
tempo todo, apenas não sente a dor, e por isso quando estes sintomas
aparecem, são facilmente controlados e medicados.

Consequências de restringir dieta


O trabalho de parto exige muito do nosso corpo, necessitando de
energia e hidratação. Quando ficamos sem comer em situações normais,
nossa pressão baixa, sentimos desconforto, tontura, irritação e fadiga,
agora, imagine tudo isso enquanto você está em trabalho de parto?

Existem estudos que mostram que manter a mulher em dieta zero durante
o parto aumenta as taxas de cesariana, parto instrumental, necessidade
de intervenções que, em condições normais não aconteceriam, desmaios,
aumento no tempo de trabalho de parto, desidratação e dificuldades em
realizar a golden hour.

Eu, particularmente absurdo a gente ainda ter que brigar pelo direito de
se alimentar e se hidratar durante o trabalho de parto, porque não faz
nenhum sentido pra mim em deixar uma mulher parindo com fome e com
sede, com mais desconfortos e correndo mais riscos por uma ideia
hipotética que, hoje em dia, ja sabemos ser desnecessária.
O que comer durante o parto
Em gestações de risco habitual, sem necessidade de dieta especial, você
pode comer o que quiser, desde um copo de água a uma refeição
completa, tudo depende de como você está se sentindo. O mais
indicado em geral é que se consuma pequenos lanches calóricos, que
dão energia e diminuem a chance de você vomitar, pois a imensa maioria
das mulheres apresenta enjoo durante o trabalho de parto.

Antigamente a crença de que cortar açúcar e carboidrato no fim da


gestação ajudava a diminuir o tempo de trabalho de parto, mas ao longo
do tempo os estudos mostraram que não há evidências suficientes para
submeter mulheres a dietas restritivas com essa finalidade.

Alimentos que podem ajudar durante o trabalho de parto:

Oleaginosas como amendoim, castanha, nozes...


Frutas secas ou cristalizadas;
Água de cocô e água com limão;
Mel ou melaço de cana;
Chocolate;
Doce de leite;
Açai;

Ps: Essas recomendações são para mulheres em gravidez de risco


habitual. Mulheres com diabetes gestacional e problemas hipertensivos
devem consultar um nutricionista ou obstetra;

Sobre as tamaras: mentira! Os estudos feitos foram todos de caráter


observacional, o que não torna evidencia cientifica, pois pode ser
alterado pela percepção ou engano do observador. Além disso, os
estudos foram feitos com tâmaras in natura, e não cristalizadas, secas ou
caramelizadas como sao consumidas aqui no Braisl. Inclusive, o principal
estudo sobre o assunto foi feito no oriente médio, local onde as tâmaras
são consumidas em abundância por serem tipicas do país. Ou seja, não
consomem só na gestação.
´PARTO NORMAL

Procedimentos
invasivos
Amniotomia
Amniotomia é a ruptura da bolsa feita pela obstetra, afim de induzir o
trabalho de parto ou acelerá-lo, pois a ruptura libera a prostaglandina
do líquido para a cavidade uterina, aumentando as contrações uterinas e
causando uma aceleração do trabalho de parto. Mas, a prática tem
riscos e não deveria ser feita de rotina como é, atualmente.

Existe a indicação da amniotomia para corrigir possíveis distócias de


ombro, ou posições desfavoráveis, mas estas com muita cautela e como
última opção. Inclusive, importante citar que, no grupo onde foi realizado
amniotomia, existiu um leve aumento nas taxas de cesarianas.

PS: Estudos indicaram um aumento significativo de prolapsos de cordão


no grupo onde foi realizada a amniotomia, sendo assim, desencorajada
pela Organização Mundial da Saúde como procedimento de rotina,
justamente com outros riscos associados:

Desconforto e aumento da dor;


Infecção uterina, em alguns casos chegando a septicemia;
Batimentos cardíacos não tranquilizadores (bebê);
Hemorragia;
Aumento das taxas de cesariana;
Em alguns estudos, foi relacionada a apgar menor que 7 no primeiro
minuto de vida.
Enema
Enema é a lavagem intestinal, feita antes do parto para limpar o intestino
e assim prevenir que a mulher não faça coco durante o trabalho de
parto. É um procedimento invasivo, perigoso e violento, pois, além de ter
que lidar com as dores e desconfortos do fim da gravidez e trabalho de
parto, a mulher vai ter que lidar com a dor e o constrangimento do
procedimento, que vem atrelado a episiotomia, e trazem consequências
graves.

Os motivos para se fazer enema foram todos tirados de lugar nenhum.


Muitas se submetem por medo de fazer cocô na hora do parto, pois se
sentem constrangidas em evacuar na frente de outras pessoas e medo
de sujar o bebê. Outro motivo é o de existia a crença de que isto
abreviava o tempo do trabalho de parto e do expulsivo.

Não há indicações para a realização;


Não diminuiu taxas de contaminação fecal no parto;
Não há diminuição no trabalho de parto;
Não foi associado a aumento de dor no parto, mas também não
diminuiu;
Muitas mulheres submetidas ao enema tendem a ter opinião positiva,
mas porque acreditam que isso as ajudou, quando na verdade, não;
Mulheres que não foram submetidas tem tendência a recusar a
realização, por acreditar que cause dor ou incômodo;
Tende a prejudicar a flora intestinal e facilitar infecções.
Tricotomia
Tricotomia é o ato de raspar os pêlos pubianos antes do parto ou da
cesárea. A prática é feita quase sempre sem o consentimento das
mulheres e causa constrangimento. Não existem evidências de benefício,
e sim de complicações que podem, muitas vezes, tomarem proporções
grandiosas. Muitos estudos mostraram que o ato de raspar os pêlos tem
mais chances de facilitar infecções e contaminações, uma vez que a
pele raspada pode ser cortada, irritada e abrir espaço para agentes
infecciosos.

Além disso, raspar os pêlos também aumenta a dor do parto, pois, com a
pele sensível e irritada, a manipulação da vagina, exames de toque e até
fricção da pele com o tecido aumentam o desconforto e causam coceira
e ardência local. Apesar de muitas mulheres mostrarem-se insatisfeitas
com o ato, isso se deve ao constrangimento social de que mulheres com
pêlos são vistas como sem higiene, mas a ciência mostra que os pêlos
diminuiram as infecções e o desconforto.

Cardiotocografia em fase ativa


Muitos hospitais tem como rotina, realizar o exame de cardiotocografia
em fase ativa do trabalho de parto por pura rotina, e isso pode se tornar
uma tortura para as mulheres.

Inicialmente, o cardiotoco é indolor, porém, quando uma mulher está com


dores e contrações da fase ativa, restringir a movimentação dela, o seu
modo de aliviar a dor e manter sensores presos a ela podem aumentar o
desconforto e o grau de dor. Justamente para esses momentos, o sonar
doppler serve muito bem ao propósito de verificar os batimentos do
bebê. Diversos estudos já comprovaram que cardiotoco em fase ativa
aumenta o número de cesáreas desnecessárias.
´PARTO NORMAL

Violência
psicológica
Três em cada quatro mulheres sofrem violência obstétrica no Brasil,
sendo a mais comum a violência psicológica. Ela se caracteriza por
ameaças, piadas e comandos ofensivos, que causam constrangimento e
diminuem a paciente como mulher, mãe e ser humano.

Infelizmente, essa é uma das formas mais difíceis de provar, porque a


maioria das pessoas não tem costume de gravar o parto e acabam não
tendo como denunciar, então uma dica que dou para todas as mulheres
que vão parir: gravem o máximo que puderem enquanto tiver profissional
da saúde perto de vocês.

Muitas vezes, os profissionais de saúde mentem informações para que as


pacientes sejam levadas por caminhos que, muitas vezes, além de mais
arriscados, jamais seriam tomados plenamente informadas. Seja para
aceitar um procedimento invasivo, seja para ir para uma cesariana, ainda
assim é uma violência. Com medo, a mulher aceita o qu é oferecido e
sofre as consequências sem que o profissional seja responsabilizado.

Um exemplo é ameaçar o bebê, indiretamente, para que as mulheres


aceitem procedimentos:

"Se eu não cortar você, seu bebê vai morrer"


"Faça força comprida, ou seu bebê não vai nascer a tempo"
"Se você não aceitar esse soro, seu bebê vai ficar ai sofrendo"

Nenhuma dessas falas é verdadeira, mas, na hora da dor e com o


psicológico abalado, aceitamos de tudo pela segurança dos nossos
filhos, e eles sabem e se aproveitam disso para mandarem a gente fazer
qualquer coisa, por mais prejudicial que seja.
Outro exemplo, e mais comum, é o de zombar e ironizar pacientes,
diminuindo a intensidade da dor, diminuindo o quanto a mulher está
cansada, impedindo de se expressar, gritar, coisas como:

"Não quis parto normal? agora aguenta a dor ai quietinha"


"Ta aqui gritando mas ano que vem ta de novo tendo filho"
"Na minha época não era cheio de frescura assim não, a gente fazia
força logo, essas meninas de hoje só sabem reclamar"

Falar coisas deixando a mulher mais abalada, se sentindo insuficiente e


com medo de conversar com a equipe. Cada mulher vai ter seu parto,
cada mulher vai reagir de um jeito, não cabe aos profissionais decidirem
como e quando a mulher vai sentir e expressar a sua dor.

Ofensas e ameaças são comuns no atendimento de gestantes de todo


nosso país, e são as mais dificieis de comprovar, porque nesses
momentos, dificimente estamos gravando alguma coisa, temos
testemunhas que não façam parte da equipe ou que sejam consideradas
violências, mas são.

Se, de alguma forma, você se sentiu agredida verbalmente pela equipe


que te atendeu, saiba que sim, foi violência. Você não é louca, não está
cheia de frescura, não foi coisa da sua cabeça, foi realmente má
conduta da equipe que te atendeu.

Consequências no pós parto


Pesquisas realizadas por todo o mundo mostram que, mulheres que
sofreram violência psicológica no parto tendem a desenvolver depressão
pós parto e stresse pós traumático. A incidência de baby blues também
aumenta.

Isso acontece porque, coisas que foram ditas duranteo parto podem
influenciar no puerpério de maneira extremamente negativa. Muitas
mulheres não se sentem o suficiente porque foram levadas para a
cesariana, ou sentem culpa pelo parto não ter sido da forma que
sonharam, e que não são boas mães.
´PARTO NORMAL

Cesárea eletiva

No Brasil, os planos de saúde pagam valores muito parecido aos médicos


para que acompanhem cesarianas e partos normais, porém essa prática
criou o que chamamos de Indústria da Cesariana.

Em resumo, os médicos não acham vantajoso monetariamente falando


acompanhar parto normal pelo plano de saúde, pois, o tempo em que
fariam algumas dezenas de cesarianas, eles levam para acompanhar um
único parto normal. Para levar a maioria das pacientes para a mesa
cirúrgica, eles inventam os mais variados motivos e histórias diferentes,
convencendo assim essas mulheres de que a via cirúrgica é a melhor e
mais segura para ela e seu bebê.

Infelizmente, somos o segundo país do mundo a realizar o maior número


de cesarianas, que totalizam 55% dos números totais de nascimento,
segundo dados da última pesquisa Nascer realizada em 2018. Para se ter
uma noção da gravidade, a taxa aceitável segundo a Organização
Mundial da saúde é de 10% a 15%. Existem maternidades privadas com
taxas acima de 90% de nascimentos via cesárea. Essa epidemia de
cesarianas criou novos problemas de saúde e, consequentemente,
contribui para que violências obstétricas sejam cada vez mais
naturalizadas.
Mortalidade materna e prematuridade
Segundo o conselho federal de medicina, a taxa de morte materna em
casos NÃO COMPLICADOS é de 20,6 a cada 1000 cirurgias realizadas, o
que é muito alto considerando que a mesma taxa em partos normais é de
1,73 a cada 1000 nascimentos.

Olha quantas mulheres estariam vivas e com suas famílias se não


tivessem sido levadas a acreditar que a cesariana era a sua melhor
opção. Isso é uma consequência de como os médicos deixam a ética de
lado em troca de dinheiro. Existem profissionais com taxas de 98% de
cesarianas, como acompanhariam um parto normal depois de anos?
praticando violência obstétrica.

Além da taxa de mortalidade materna, temos a alta de bebês que


necessitam de internação em UTI'S neonatais por prematuridade
Iatrogênica, que nada mais é que uma prematuridade provocada,
quando o bebê é retirado do útero sem estar preparado para nascer e
necessita de auxilio para seguir se desenvolvendo.

A taxa de nascimentos prematuros no Brasil é de 11,5%, isto significa que,


por ano, em média 351.750 crianças nascem antes de completar 37
semanas de gestação. Cerca de 9645 bebês nascem por dia
prematuramente, 7 a cada 10 minutos segundo dados da pesquisa Nascer
no Brasil, da Fiocruz em 2016.

Estima-se que, no Brasil, 90% dos prematuros nascem em cesarianas sem


trabalho de parto, as famosas cesarianas eletivas, que tem ganhado
cada vez mais espaço na elite brasileira.

Ironicamente, a esmagadora maioria da população desconhecem esses


dados alarmantes, e continuam por cair nas armadilhas da indústria do
nascimento, aumentando cada vez mais a mortalidade materna e a
prematuridade, indo na contramão do resto do mundo, que busca
aumentar os índices de saúde pública, consequentemente, melhorando a
forma de nascer.
Cesárea não é parto
Importante entender de onde vem essa cultura tão forte de que a
cesariana é mais segura que o parto normal, mesmo que todos os índices
de saúde indiquem o contrário: Violência obstétrica.

As mulheres tem medo de sofrer violência e acabam por correr para as


cesarianas, acreditando assim que vão se livrar de sofrer e mais seguras.
Isso porque elas acreditam que a cesárea é um parto mais rápido e com
hora marcada, ideia que precisamos combater.

Outro motivo para as altas taxas é a cultura do medo através da fake


news. Partos são demorados, doem como quebrar 22 ossos, bebês
morrem por passar do tempo, o mito do cordão assassino, do medo do
"cocô' na barriga... tudo isso faz com que mulheres acreditem que parir é
algo horrível e prefiram a falsa sensação de segurança e rapidez da
cesárea. Ironicamente, essas mulheres lutam pelo direito de chamar a
cesariana de parto, pois sentem que a cesariana as diminui como mãe e
mulher.

Isso acontece porque o medo empurra essas mulheres na contramão do


natural e respeitoso e faz com que elas se sintam inseguras com suas
experiências e precisem ter certeza de que fizeram boas escolhas.
Quando as falhas do sistema são expostas, é como se ofendêssemos o
nascimento de seus filhos ao invés de informa-las e alerta-las.

Para além disso, é importante alertar que cesarianas NÃO SÃO PARTOS
para que os riscos sejam respeitados, pois, ao ver como parto, ignora-se
todas as complicações cirúrgicas e pós cirúrgicas que podem vir a
acontecer. A palavra trás um peso necessário ao momento e faz com
que as mulheres repensem sobre suas "escolhas".

Precisamos que os debates acerca de parto x cesariana saiam do âmbito


pessoal e entrem como politica e informação na sociedade, para que
vidas sejam, literalmente, salvas. Uma taxa de mortalidade tão alta não
deveria ser escondida das mulheres que acham que escolhem o melhor.
Riscos para a mulher
Risco aumentado de hemorragia (a perda de sangue é 2 vezes maior
na cesariana comparada ao parto normal);
Risco aumentado em 3x de morte;
Risco de contrair uma infecção pós operatória;
Risco de trombose;
Risco de cefaleia decorrente da anestesia;
Risco de embolia pulmonar;
Risco aumentado de gravidez ectópica e e aborto em gestações
futuras;
Maior risco de infertilidade;
Riscos de perfurações e cortes a órgãos durante a cirurgia;
Maior risco de Histerectomia;
Maior chance de desenvolver depressão pós parto;
Dificulta a amamentação;
Maior risco de placenta acreta;
Maior risco de placenta prévia em futuras gestações;
Queloides;
Desenvolvimento de endometriose;

Riscos para a mulher


Risco aumentado de morte se comparado ao parto normal;
Risco de laceração acidental pelo bisturi;
Risco aumentado de ir para UTI por prematuridade;
Risco 25% maior de morte súbita;
Risco de desmame precoce;
Aumento das chances de problemas intestinais e respiratórios;
Déficit de hormônios que ocorrem durante o parto e aumentam
vínculo mãe-bebê;
Maior chance de desenvolver alergias;
Risco aumentado de desenvolver diabetes;
Aumenta o risco de desenvolver doença auto imune;
Cesárea
CESÁREA

Violências na
cesárea
Amarrar as mãos
Não existe motivo, nem cientifico,
nem médico e nem nenhum
beneficio em amarrar as mãos, na
verdade:

Atrapalha a hora de ouro;


Trás ainda mais estresse e
insegurança pra mulher;
Facilita violência neonatal;

Justificavam antigamente que se


amarravam as mãos para que a
mulher não contaminasse o campo cirurgico e a cirurgia em si, mas pra
isso, basta conversar com a mulher, dar suporte e acolhimento, não
amarrar. Impedir a mulher de movimentar os braços é sim violência
obstétrica.

Retirada do bebê de forma violenta


Alguns obstetras não sabem realizar a cirurgia de forma não agressiva, e
muitas vezes sobem em cima da mulher, chacoalham, fraturam costela,
deixam hematomas, seja por uma extração mais complicada ou porque
acham que precisam de força pra tirar o bebê, e não de técnica.

Muitas mulheres relatam falta de ar, dores, incômodos e algumas


chegam a vomitar pela pressão exercida. Sim, precisa que se faça certa
pressão pra retirada, mas não a ponto de a mulher passar a mal.
Negar acompanhante
A lei do acompanhante no brasil é a lei de número 11.108/2005. Ela é
válida tanto para parto normal quanto para cesárea, mas, uma coisa que
a maioria não sabe é que ela é válida PRÉ PARTO, ou seja, caso você vá
realizar uma cesárea, O ACOMPANHANTE DEVE ESTAR O TEMPO
TODO COM VOCÊ.

Na anestesia, na colocação da sonda, na prepração cirurgica... em todo


momento, é necessário um acompanhante com você. Após o bebê
nascer, o bebê deve permanecer com você o tempo todo, de modo que
tanto você quanto o bebê tenham a presença dele. Exceto em casos
muito especiais, a regra é o bebê estar o tempo todo com a mãe. No pós
cirurgico você também deve ter a presença do acompanhante, para seu
cuidado, conforto e recuperação.

Impedir hora de ouro


A hora de ouro é a primeira hora de vida do bebê, e como tal, deve ser
respeitada também na cesárea. Quando o bebê nasce, ele deve ser
entregue a você imediatamente, para contato pele a pele e
amamentação. Pesar, medir, limpar etc. etc. somente após o fim da hora
de ouro. O fato de não entregar diretamente o bebê faz com que ele
perca diversos beneficios, e você também.
Ocultar riscos
Muitas mulheres não fazem ideia dos riscos de uma cesariana, e por isso
acham que se submeter a ela dá na mesma que parir normalmente.
Mesmo que sejam obrigadas a assinar termos de responsabilidade, onde
atestam que sabem dos riscos, elas não fazem ideia de quão comuns
eles são, acreditam que com elas nunca acontecerá porque confiam na
equipe.

E assim, muitos profissionais não fazem questão de reforçar todos eles,


seja porque não querem perder a comissão do parto, seja porque acham
que com eles nunca vai acontecer... e assim a taxa de mortalidade só
aumenta.

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Falha da anestesia
Parece algo impossível de se imaginar, mas é uma prática bastante
comum, infelizmente. Muitos profissionais não esperam a anestesia fazer
efeito e já saem cortando, causando em mulheres traumas e dores
inesquecíveis.

Uma parcela desses acidentes acontecem também em cidades


interioranas, onde os insumos são escassos e ocorre de faltar anestesia
suficiente para todas as mulheres. Isso quando a maternidade possui
médico anestesista, o que também contribui para anestesias mal
aplicadas.
Uma busca rápida mostra diversos casos ocorridos aqui mesmo, no Brasil,
relatos de vitimas e processos criminais escancaram como o atendimento
ao nascimento aqui no brasil é preconizado e precisa urgente de uma
reforma, tanto para as cesarianas quanto para o atendimento ao parto
de forma humanizada.

O que mais chama atenção é que não existem dados oficiais sobre
quantas mulheres passaram por uma cesariana sem anestesia, o que
impede que politicas publicas sejam criadas em torno de impedir que
estes "acidentes" aconteçam. Sem dados, o governo ignora a prática e
não se importa em reformular o atendimento as gestantes.

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CUIDADOS COM O RECÉM NASCIDO

Hora de ouro
Hora de ouro é a primeira hora de vida do bebê. Se inicia assim
que ele nasce, independente da via, e é extremamente
importante para o seu futuro. É nela que ele vai ter seu primeiro
contato com o mundo extrauterino, conhecer sua mãe, se
alimentar... enfim, seu momento de transição de um mundo
seguro, quente e escuro pra um completamente diferente.
Algumas coisas podem ser feitas para que essa transição seja
mais segura, benéfica e confortável.

Contato pele a pele


O contato pele a pele é uma das práticas de boa assistência ao parto
do ministério da saúde e também da OMS - Organização mundial da
saúde. Existem benefícios para ambos os envolvidos no processo do
parto, mulher e bebê, físicos e emocionais. O contato pele a pele
consiste basicamente em entregar o bebê a mãe assim que nasce para
que ele, em contato com a pele da mãe, tenha sua primeira hora de vida
segura e respeitosa. O contato pele a pele tem como benefícios:

Índice de apgar maior que 7


O APGAR é a nota que o bebê recebe de acordo com sua vitalidade ao
nascer. O contato pele a pele mostrou em alguns estudos que bebês
submetidos ao contato pele a pele tem o APGAR maior do que o de
bebês que não tiveram. Ou seja, bebês com o contato pele a pele tem
seus primeiros minutos de vida mais saudáveis do que bebês que tiveram
esse direito negado.
Regulação corporal
O contato pele a pele ajuda a regular a temperatura corporal do bebê
através do calor corporal da mãe. Por isso, é importante que, assim que
ele nasça seja posto em contato com a mãe, afim de prevenir possíveis
problemas advindos da mudança brusca de temperatura, principalmente
em centros cirúrgicos. O contato pele a pele também ajuda a regular os
batimentos cardíacos do bebê.

Vínculo
O contato pele a pele ajuda a promover melhor vínculo entre mãe e
bebê, ajudando na prevenção de doenças como depressão pós parto e
psicose puerperal.

Microbiota
O contato pele a pele transfere a microbiota da mãe e do ambiente ao
bebê, que cria sua imunidade através disso. Portanto, a mãe é a pessoa
ideal para ter esse contato inicial com o bebê e assim adapta-lo ao
ambiente de maneira segura.

Sucesso na amamentação
O contato pele a pele também aumentou os índices de sucesso na
amamentação, pois a adaptação imediata ajuda na produção de leite e
na efetividade da mamada.
Amamentar
Razões pelas quais amamentar na primeira hora de vida é importante
para o bebê:

Amamentar na primeira hora de vida reduz a mortalidade neonatal,


aquelas que acontecem até 28 dias após nascer. Na prática, 41% dos
bebês serão salvos da morte se forem amamentados na primeira hora
de vida, adiar esse processo em até um dia pode aumentar em 2,4%
a chance de morte (FIOCRUZ).
Bebês que receberam leites não provenientes de humanos ANTES da
amamentação tiveram um índice maior de morte neonatal;
Glicemia estabilizada e ganho de peso mais acentuado;
Amamentar na primeira hora de vida aumentam os índices de bebês
que continuam mamando após um ano de vida, ou seja, aumenta os
índices de sucesso de lactação. Outro índice importante que sofreu
alterações positivas com a prática foi o índice de bebês
amamentados exclusivamente até os 6 meses, chegando a 45,8% de
todos os bebês nascidos no Brasil (ENANI, 2011).
Diminui o risco de algumas doenças, como: otite, gastroenterite,
infecções no trato respiratório, dermatite atópica, Obesidade,
Diabetes tipo I e II, leucemia infantil, Morte súbita entre outras;
Ajuda no desenvolvimento motor e cognitivo; Alguns estudos sugerem
que, bebês amamentados tem maior índice de QI;

Para as mães também tem beneficios:

Diminui o risco de câncer de mama e de ovários;


Amamentar produz ocitocina, o que diminui o rico de hemorragia pós
parto e a chance de depressão pós parto;
Previne diabetes tipo I e II;
Ajuda a preservar as reservas de ferro materna e assim prevenindo
anemia;
Pode ser usado como contraceptivo aliado a outros métodos;
CUIDADOS COM O RECÉM NASCIDO

Clampeamento
do cordão
Cortar o cordão precocemente pode impedir o bebê de receber até 30%
de todo o seu sangue, o que pode causar anemia e diminuir a imunidade
do bebê. Por isso é importante esperar que o cordão pare de pulsar,
fique com a coloração branca, significando que ele recebeu todo o
sangue que tinha pra receber. Isso ajuda a manter as reservas de fero
altas, o fluxo sanguíneo ideal e evita complicações neonatais futuras.

Essa simples ação ajuda o bebê a se manter com os níveis hematológicos


normais até 4 meses de idade, e mantém as reservas de ferro até os 6
meses. Ou seja, o clampeamento é uma ação simples, que pode diminuir
e muito as mortes neonatais. Importante dizer que, o cordão para de
pulsar minutos após o nascimento e deve ser feito em mães HIV positivas
com contagem negativa de vírus, ou seja, não há desculpas para não ser
feito.
CUIDADOS COM O RECÉM NASCIDO

Nítrato de prata
Recentemente, a sociedade brasileira de pediatria lançou uma nota
falando sobre o uso do nítrato de prata. Nele, a SBP explica que o nítrato
era usado para prevenção de infecções e conjuntivites transmitidas de
mãe para bebê por meio de secreções vaginais. Porém, esse meio de
prevenção começou a ser questionado por diversos motivos.

Os índices de conjuntivite permaneceram altos, justamente porque o


próprio nítrato causa um tipo de conjuntivite, a conjuntivite química. O
segundo motivo a ser questionado é o quão doloroso é o uso, queimando
os olhos de bebês que acabaram de nascer, alguns perdendo a visão.

Países mais desenvolvidos começaram a pesquisar outros métodos de


prevenção, que não fossem agressivos ou dolorosos aos bebês, e
chegaram a conclusão de que de o nítrato pode ser substituído por PVPI
2,5%, eritromicina 0,5% ou tetraciclina 1%. Ou, caso não haja fatores de
risco (como doenças sexualmente transmissiveis) nem ocorra a aplicação
de nenhum medicamento.

Portanto, o ideal é que o bebê não receba o nítrato de prata.


CUIDADOS COM O RECÉM NASCIDO

Aspiração
Durante muito tempo bebês foram aspirados assimq ue nasciam, para
retirada de secreção, porém, com os novos estudos, foi descoberto que
os bebês são capazes de expulsar essas secreções sozinhos, e que isso
beneficia os pulmões e a capacidade respiratória do bebê.

Além disso, muitos estudos apontam que a aspiração trás diversos riscos,
como taquicardía e piora da frequência respiratória, feridas e infecções.
O único motivo plausível para a aspiração, comprovadamente, é a
necessidade entubação, quando as vias aéreas precisam ser limpas para
a passagem do tubo e não se tem tempo de esperar que o bebê faça
isso sozinho.

Em casos de síndrome da aspiração meconial, também não houveram


beneficios, uma vez que a aspiraçao não chega no pulmão, local que
ocorre a infecção.

Portanto, idealmente, não existe necessidade de aspirar o bebê, a


própria natureza faz o trabalho.
CUIDADOS COM O RECÉM NASCIDO

Banho antes de
24 horas

O bebê não nasce sujo e sim envolto em vérnix, uma secreção branca e
com cheiro agradável que ajuda a pele do bebê a se adaptar.
Anteriormente ele estava envolto em água, e, num processo bem rápido,
ele veio para o ambiente seco. Esse "creme" ajuda a pele do bebê a se
adaptar fora do liquido, ajuda a criar a microbiota do bebê, protege a
pele de ressecamentos e acne neonatal, além de hidratar.

Dar banho antes das primeiras 24 horas, pode remover essa camada de
proteção e propiciar o bebê a alergias, ressecamento, feridas e
prejudicar a imunidade.
Muito obrigada
pela confiança!
Espero que esse guia ajude você a conquistar o
parto dos teus sonhos, proteja você e o seu bebê e
torne a sua maternidade, mais informada e segura.

Jaquelini doula

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