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Em que medida a Teologia tornou-se uma área importante de conhecimento nos dias atuais e

como esta seu dialogo com outras ciências sociais ?

Rafael Amoreira da Paixão

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BRAGA - PORTUGAL
2022

É notória a velocidade com que a sociedade moderna avança em direção ao que

desconhece. A busca por conhecer e entender a origem, a natureza e o destino de toda a

criação, tem ao longo dos anos proporcionado respostas e avanços na solução de

problemas que afligiam e atentavam contra a vida no sentido mais amplo da palavra.

Porém estes avanços nem sempre refletem um caráter construtivo e realista. O

pensamento científico acadêmico, por mais que busque ser acertivo, por muita das vezes

é incapaz de prever os efeitos e resultados do que produz, sejam no curto, médio ou no

longo prazo, sejam tais resultados bons ou sejam ruins. Prova disso é o fato de que

muitas de nossas descobertas científicas se deram e se dão acidentalmente, podemos

citar como exemplo o viagra, penicilina, marca-passo, LSD, raio-x, radioatividade,

insulina entre muitos outros. O ímpeto humano tem impulsionado uma gigantesca

mudança no mundo, seja padrão comportamental de tudo o que vive, seja no ambiente

que a humanidade se coloca a desbravar. O tempo se tornou o único limite para o

avanço do homem.

Vemos uma atitude bem diferente daquela no qual a história nos aponta. O

homem deixou de temer o desconhecido e passou a “odiá-lo” ou talvez o termo mais

apropriado seja combate-lo. A sede pelo conhecimento e pelo domínio ao meio acabou

por despertar na humanidade uma visão diferente do mundo em suas diferentes áreas do

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saber. Surge na idade média a percepção de que o desconhecido pode ser útil, logo

precisamos investiga-lo e não ignora-lo. Motivados por este sentimento que se traduz

em um constante desenvolvimento do método cientifico, homens como Francis Bacon

(1561- 1626) e René Descarte (1595 – 1650) implementaram um caráter mais funcional

quebrando o dogma dedutivo que desde Aristóteles predominava sobre a ciência

propondo uma abordagem indutiva. Porém surge Augusto Comte (1798-1857),

defendendo afirmando que o conhecimento humano evoluiu do estado teológico para o

metafísico. Comte defendia que já que a natureza é composta por classes de fenômenos

a ciência deveria obedecer esta ordem para descrevê-la. Assim organiza em cinco

ciências distintas: astronomia, física, química, filosofia, e a física social além da

matemática que estava em um patamar de superioridade, pela sua abstração e o fato de

que as outras dependeriam dela. Este método perdurou até a descoberta de Eistein sobre

a relatividade e de Niels Bohr, que colocaram em cheque o modelo mecanicista que

ignora a Teologia. A ciência vive em constante evolução e não se pode fechar os olhos e

mentes para nada.

Através deste impulso, desta visão aberta a tudo, vivemos nos últimos 100 anos

um salto gigantesco na descoberta de inovações em todas as áreas do conhecimento

humano. Enfrentamos e vencemos doenças terríveis, chegamos a Lua, entendemos parte

do genoma humano e construímos conhecimento como nunca antes na história

conhecida. A busca pela informação significativa passou a ser uma realidade diária na

vida do homem e descobrimos ao longo da historia que o saber pode ser libertador e

positivo no enfrentamento de questões do cotidiano e com isso colaborar para o

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desenvolvimento de uma sociedade justa, saudável e madura.

Diante do exposto, porque a Teologia, que para muitos da academia é a mãe de

todas as ciências, deveria deixar de dialogar e figurar no rol dos temas de investigação

da ciência contemporânea? Sabemos que grande parte do desenvolvimento artístico,

social e cultural, se originou do interesse do homem em buscar representar o que

entendia como divindade ou divino. Entre as razões para que essa ruptura não ocorra,

vejo o fato de que conhecendo o homem o que entende ser superior a ele, seja no

aspecto moral, ético, visual ou em sua natureza, surge a possibilidade de tentar de

alguma forma imitá-lo. Conhecer e entender o divino, bem definir o que é sagrado, foi

e é interesse de muitos, por se tratar da referência moral e ética a ser alcançada pela

sociedade, individual ou coletivamente. Saber de onde viemos e para onde vamos

sempre foi um assunto no mínimo intrigante e de interesse da comunidade científica e

da sociedade.

Filosofia, sociologia, psicologia e historia estão intimamente ligadas à Teologia,

pois ideias e observações sociais que são o alicerce para a construção das ciências

humanas e sociais, são transcendentais. E o que pode ser mais transcendental do que o

que é divino? Filosoficamente podemos afirmar que a natureza do homem controla suas

crenças, se não houver um padrão moral, ético e comportamental, todo conhecimento

científico construído pelo homem estaria contaminado por seu interesse em satisfazer e

cumprir seus objetivos, tornando o resultado de suas pesquisas questionáveis. A

construção científica precisa de padrões e métodos que sejam justos e realista. Entendo

que toda a argumentação de princípios e valores necessários para esta construção, se

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fossem buscadas dentro da consciência humana, seriam por si só argumentos falaciosos.

Precisávamos e precisamos estabelecer e respeitar os padrões e métodos necessários

para a avaliação do que aconteceu e do que acontece dentro de um experimento, e tais

padrões precisam estar fora do observador ou do experimento para que se encontre um

resultado isento e real.

Como exemplo podemos apresentar uma luta de boxe. Sabemos que o objetivo é

que um dos lutadores consiga levar o outro a lona somente usando as mãos. Porém as

regras para este experimento, o combate, foram estabelecidas antes do início do

combate, não pelos participantes. Partamos do pressuposto que fosse facultado a cada

um dos lutadores a possibilidade de lutar da forma que lhe fosse conviniente. Primeiro,

poderíamos iniciar com luvas de pesos distintos, lutadores com pesos distintos,

pontapés, cabeçadas, mordidas. Haveria combate, mas não seria boxe, teria outro nome.

Ou imaginem que depois de cumpridas as exigências como luvas iguais, pesos iguais,

um dos lutadores quando alertado pelo seu corner que esta perdendo a luta decide usar

seus cotovelos, pernas e joelhos para golpear seu oponente. Vemos que se faz

necessário um responsável isento e conhecedor das regras para intervir, inibir, fiscalizar

e julgar o comportamento dos lutadores durante o combate.

No episódio narrado encontramos elementos relacionados com psicologia,

sociologia, educação e todos partindo de uma premissa de que existe a necessidade de

um padrão que precisa ser respeitado, um modelo ético, moral, social e de caráter. Que

precisa ser respeitado para que haja justiça nas relações e construção de conhecimento

humano. Richard Swinburne, professor emérito de filosofia da Universidade de Oxford,

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reconhece que os “seres humanos”, como nós, “são criaturas de inteligência limitada e

notoriamente suscetíveis a esconder de si mesmos as conclusões que parecem desafiá-

las, quando tais conclusões não são bem-vindas”. Julgo que grande parte das resposta

para o preenchimento das lacunas e requisitos são encontradas na teologia. Sendo ela

por definição o estudo do que é divino, seus atributos, característica, natureza e a

relação entre o que é divino e o homem e sendo Deus, segundo a Bíblia, justo, bom e a

fonte de todo conhecimento e ainda Ele, a própria sabedoria, torna-se natural e essencial

que exista um dialogo entre as ciências humanas e a teologia. Entendo ser até inata esta

relação. O puritano inglês John Owen afirmou: É necessário para a autossuficiência

ilimitada de Deus que somente ele próprio se conheça perfeitamente. A sua

compreensão é perfeita e não tem limites. Portanto, como esse atributo de Deus, pelo

qual ele compreende a si mesmo e todas as suas perfeições, é um atributo infinito, ele

não pode ser tido por nenhum outro ser. Somente o próprio Deus é onisciente e todo-

sábio e, portanto, o conhecimento em sua verdadeira plenitude só pode repousar no

próprio Deus (Biblical Theology, 15). Nesta lógica, somente conhecendo a Deus

encontraremos respostas verdadeiras para o desenvolvimento de conhecimento real e

puro. Plantinga, filosofo analítico americano, especializado em lógica, justificação,

epistemologia e filosofia cristã reforça minha tese a afirmar que ”o sensus divinitatis é

uma faculdade que produz crenças que, nas condições certas, produzirão outras crenças

que não são baseadas em evidências de outras crenças”.

Grande parte dos registros históricos documentais, que servem de base para o

desenvolvimento da antropologia, sociologia, que tem como objetivo a busca das raizes

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humanas, apontam na direção que nossas origens estão intimamente ligadas ao divino.

Civilizações como os sumérios, egípcios, babilônicos, acadianos, organizadas e

desenvolvidas para a época apontavam na direção da existência de uma intima relação

entre o homem e a divindade. Com base nisso não há como negar a necessidade de que

exista dialogo entres tais ramos da ciência e a Teologia, pois caso isso não ocorra

estaríamos torturando, ou no mínimo oprimindo a história, a antropologia a sociologia e

a arqueologia. Trato desta forma por acreditar que a boa ciência necessita, como já

defendido nas linhas anteriores, de isenção. Ignorar os fatos que apontam para uma

longínqua ligação entre o homem e o que é divino configuraria uma prova inegável de

oprimir a realidade e a verdade. Em seu livro a pedagogia do oprimido, Paulo Freire,

pode ser útil a nos ajudar na avaliação desta dinâmica. Ele levanta a ideia de que o

oprimido passa a condição de opressor quando passa a ter o controle do experimento

social. Para que fique clara a proposição, quando os resultados encontrados no

experimento científico contraria os objetivos e o interesse do investigador, normalmente

ele abandona a posição de oprimido que o foi imposto pelo resultado e passa a condição

de opressor. Lord Acton, concorda com a ideia quando afirma que “o poder tende a

corrupção e o poder absoluto corrompe absolutamente”, e observe que ele se referia a

poder religioso, que outrora reprimido, passou a oprimir quando assumiu a soberania no

continente europeu.

Concluo com uma citação que é atribuída a Eisntein, retirada do livro o

ceticismo da fé, do Phd Rodrigo Silva, “ Se eu tivesse uma hora para resolver um

problema e minha vida dependesse da solução, eu gastaria os primeiros 55 minutos

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determinando a pergunta certa a se fazer, e uma vez que eu soubesse a pergunta, eu

poderia resolver o problema em menos de 5 minutos”. Vemos que perguntas e respostas

fazem parte do cotidiano da construção do saber e da solução de problemas, tapar os

ouvidos ou calar a voz da historia, sociologia, antropologia em relação a teologia ou

vice-versa é abdicar da busca de um conhecimento verdadeiro, produtivo, prático e

realístico. Que derrubemos o estereótipo de que só existe boa ciência quando a

divindade não esta envolvida ou que a divindade é suficiente e por isso devemos

abandonar a boa ciência. A comunhão de ambas, ao meu ver, proporciona muito mais

boas perguntas para a humanidade do que sua ruptura poderá oferecer boas respostas.

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