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PENSAMENTO CIENTÍFICO

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

CONHECENDO A DISCIPLINA
A disciplina de Pensamento Científico tem como objetivo proporcionar maior facilidade de
compreensão da importância do conhecimento no mundo real, tanto na solução de problemas
teóricos como práticos, favorecendo a identificação dos diversos tipos de conhecimentos,
distinguindo suas principais particularidades e, principalmente, identificando seus limites para a
solução de problemas cotidianos.

Ao longo da disciplina, com base em exemplos objetivos, exploraremos as distinções entre o


conhecimento vulgar e o científico, desconstruindo mitos popularmente aceitos sobre suas
aplicabilidades e enfatizando seus desafios no mundo globalizado.

Examinaremos também os diversos tipos de conhecimentos filosóficos existentes


frequentemente associados com o científico, destacando seus aspectos valiosos e suas
dificuldades que se refletem no estabelecimento de uma aceitação universal por parte de
pesquisadores acadêmicos no campo da ciência e da filosofia.

Finalmente, avaliaremos a relação entre o conhecimento filosófico e o religioso, com o objetivo


de proporcionar clareza e entendimento profundo das consequências da aplicabilidade desses
conhecimentos na realidade.

O estudo desta disciplina favorecerá a fomentação de uma cultura intelectual mais sofisticada,
contribuindo para melhores tomadas de decisão frente aos desafios globais, sobretudo na
problemática da mudança climática e da saúde pública, e ajudando na resolução dos
problemas pertinentes à vida cotidiana.

NÃO PODE FALTAR


QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO COMUM E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

CONVITE AO ESTUDO
Caro aluno,

Observe o quanto o mundo real é baseado em dois principais pilares: ciência e tecnologia.
Hoje, mais do que em outras épocas, a relação desses dois campos proporcionou inovação
global e facilidade de acesso à informação.

A inovação contribuiu para o rápido progresso tecnológico da sociedade, principalmente com a


automatização provocada pelo uso de Inteligência Artificial, e o acesso à informação aumentou
com a ascensão da Internet. Os mecanismos de buscas das grandes empresas, como o
Google e o Bing, unificaram esses dois elementos e, com base em algoritmos cada vez mais
refinados, proporcionaram a emergência de anúncios e resultados de buscas cada vez mais
personalizados de acordo com os dados de acessos dos usuários. No entanto, o rápido
progresso tecnológico não preparou cognitivamente a população para a avaliação crítica das
informações recebidas nos meios digitais com acesso à Internet.

Atualmente, em todo o mundo, enfrentamos o problema da fake news, que é um conceito em


inglês para designar notícia falsa. A fake news atinge todos os setores da atividade humana,
trazendo sempre algum dano real, como a consequência dos boatos do movimento antivacina,
que contribuíram para que doenças até então erradicas no Brasil, como a febre amarela,
voltassem à tona.

A fake news se aproveita da falta de entendimento do grande público sobre o que é


conhecimento e como avaliá-lo. Dessa forma, o indivíduo-alvo acaba não tendo o fundamento e
as ferramentas necessárias para identificar o quão real é a informação recebida.

Ao decorrer do livro, você será capaz não apenas de entender os diversos tipos de
conhecimentos, mas também de identificar um tipo peculiar de crença psicológica que finge ser
científica, geralmente sustentando narrativas fantasiosas ou sensacionalistas.

O resultado será a compreensão da atividade científica, da importância de sua aplicação na


vida cotidiana e do impacto que o falso conhecimento, elemento de estrutura das fake news,
provoca na sociedade contemporânea.

PRATICAR PARA APRENDER


Você já precisou procurar alguma informação para a realização de um trabalho? É muito
provável que sim. Qual o principal meio de busca para encontrar a resposta que você precisa?
Provavelmente, você responderá Google, Bing ou algum outro site de pesquisas online.
Diferentemente, nas gerações anteriores ao surgimento e popularização da Internet, as buscas
eram realizadas através de bibliotecas, livros, sumarizações e enciclopédias.
A Era da Informação trouxe uma enorme facilidade, no sentido de praticidade, do encontro de
informações. No entanto, com o excesso de informações, é possível que não tenhamos acesso
a algo verídico. Portanto, será necessário questionar: “As primeiras respostas do Google
realmente são o conhecimento mais coerente frente à realidade?”

Com o advento do mundo contemporâneo, o indivíduo que tem um conhecimento sólido em


sua prática profissional é muito valorizado, mesmo sendo preciso que ele esteja disponível para
aprender e atualizar sua formação profissional, exigindo cada vez mais uma busca por
conhecimentos mais avançados em sua área de atuação.

Pensar cientificamente é uma ótima maneira para garantir uma progressão de aprendizado,
autocorreção e adaptação conforme a necessidade. Sendo assim, o profissional cientificamente
orientado pensará nos meios de maximizar sua produtividade, levando em conta os impactos
que o trabalho excessivo poderia causar em seu estado de saúde e, ao mesmo tempo,
proporcionando maior capacidade de gestão na organização de tarefas em equipe.

Em uma sala de aula, quatro estudantes são desafiados pelo professor de Filosofia a
responderem a três questões, que são recorrentes ao longo da história da humanidade.

De onde viemos?
Para onde vamos após a morte?
Por que estamos aqui?
Cada aluno, em seu modus operandi, adota uma postura diferente em relação às respostas.
Um vê o mundo a partir do (A) conhecimento científico; outro, do (B) religioso; o seguinte, do
(C) filosófico e, por fim, o último, através do (D) senso comum. Diante dessa situação, a
resposta de cada um é:

Aluno A: Tudo se iniciou no Big Bang, e através de um processo de evolução por meio da
seleção natural. Após a morte, nossa consciência não mais existe. Não há nenhum propósito
especial, com base no que conhecemos através da ciência.

Aluno B: Deus criou o Céu e a Terra tal qual está escrito na Bíblia. Para o paraíso ou inferno.
Para atender aos desígnios de Deus.

Aluno C: Qual é a origem do Universo? Qual é a melhor teoria científica? Podemos advogar
pela defesa do Big Bang? É necessário submeter ao escrutínio da filosofia analítica a análise
semântica das teorias científicas. Do mesmo modo, é necessário clarificar o conceito de morte,
olhando pelas implicações do conhecimento científico. Essa pergunta traz problemas de ordem
metafísica, portanto, é necessário analisar o significado do conceito de propósito.

Aluno D: Depende do contexto. Um indiano, provavelmente, responderia com base em suas


crenças culturais regionais, manifestando explicações de caráter hinduísta. Se fosse um
japonês, provavelmente advogaria pelo zen budismo. Um brasileiro responderia conforme as
crenças compartilhadas de sua região, por exemplo, existem regiões no Brasil onde há
prevalência de mitos da origem da vida e do universo que têm uma relação intrínseca com
crenças religiosas africanas, enquanto outras são fortemente influenciadas pelo catolicismo
europeu. Nesse sentido, como foi explicado no texto, o conhecimento popular absorve sempre
aspectos de outros conhecimentos quando incorporados fortemente pela cultura.

Nessa interação, percebemos que cada aluno apresenta sua perspectiva pessoal frente às três
grandes questões. Assim, recomenda-se instigá-los sobre as possíveis consequências das
adoções de certos tipos de conhecimento e crenças para os desafios de sua vida diária e do
mundo contemporâneo, tratando de fazê-los responder qual o melhor tipo de conhecimento
para uma situação específica e como conciliá-lo com outros. Por exemplo, como a adoção de
uma crença oriunda do conhecimento religioso poderia impactar em questões de saúde
individual e coletiva? Qual consequência o conhecimento vulgar, aquele de senso comum,
traria para a sociedade ao enriquecer mais rapidamente do conhecimento científico? A
absorção do conhecimento científico, tanto no âmbito individual como coletivo, nos tornaria
melhores tomadores de decisão? Essas questões, consequentemente, reforçariam a existência
de diferentes tipos de conhecimentos no âmbito da vida cotidiana e fomentariam o pensamento
crítico dos alunos.

Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma que você recolhe, julga,
maneja e, sobretudo, onde e como aplica esta informação.

Carl Sagan, trecho do documentário Cosmos (1980).


CONCEITO-CHAVE
DOXA, O CONHECIMENTO VULGAR DA SOCIEDADE
Desde Aristóteles, o conceito de conhecimento tem sido central no debate filosófico.
Inicialmente, conhecimento era tratado como um tipo de crença racional, verdadeira e
justificada. Crença, porque faria relação com um estado psicológico do sujeito; racional, porque
envolveria o exercício de nossas faculdades cognitivas; verdadeira, porque faria alusão a
objetos ou fenômenos da realidade; e, principalmente, justificada, porque requereria um
conjunto de enunciados estruturados logicamente. Essa definição, porém, não dá conta dos
diversos tipos de conhecimentos existentes, alguns dos quais serão tratados ao longo do livro.

Para começar nossa jornada, vamos entender um pouco o conceito de conhecimento vulgar,
também chamado senso comum ou saber popular. Etimologicamente, refere-se ao conceito
aristotélico de doxa, ou simplesmente opinião.

O conhecimento vulgar trata-se de um conhecimento que não quer nenhum tipo de exercício
crítico, também não envolve nenhum tipo de verificação experimental. Geralmente, ele é
transmitido culturalmente, de gerações a gerações, muitas vezes preservando mitos que eram
aceitos em determinada época. Por exemplo, o mito de que o chinelo virado com a sola para
cima traz azar, ou a ideia de que um trevo de quatro folhas traz sorte. No entanto, também é
verdade que alguns ensinamentos transmitidos pelo conhecimento vulgar possam ser
verdadeiros, como a ideia de não colocar a mão no fogo para não se queimar, ou mesmo não
entrar em uma lagoa se não souber nadar, porque é possível se afogar.
O conhecimento vulgar também pode se enriquecer do conhecimento científico, especialmente
quando este último se torna bastante popularizado ao ponto de seu entendimento se tornar
familiar por quase toda população. Por exemplo, a ideia de que certos alimentos, como carnes,
são mais bem preservados quando congelados, evitando sua contaminação e exposição a
microrganismos no ambiente aberto.

Apesar de estabelecer uma pequena relação com o conhecimento científico, o conhecimento


vulgar não é suficiente para explicar a realidade, exatamente por preservar em seu núcleo
ensinamentos que podem ser falsos ou simplesmente mitos.

CONHECIMENTO RELIGIOSO
O conhecimento religioso pode se enriquecer do conhecimento vulgar, especialmente das
tradições culturais e religiosas cultivadas ao longo do tempo. Por exemplo, na preservação dos
mitos gregos de que os deuses reinavam nos céus, apropriada pelas religiões politeístas.

Esse tipo de conhecimento requer um elemento-chave para alcançá-lo, ao menos da forma


como defenderam diversos pensadores da Idade Média, que é a iluminação religiosa como
método para conhecer a verdade ou a Deus.

Essa iluminação religiosa seria como um sentimento de vislumbre por uma paisagem
maravilhosa, como relatou o cientista Francis Collins (apud SHERMER, 2012) em sua
experiência pessoal. É como um sentimento de inspiração e encantamento com algo
notoriamente belo, diante do qual uma pessoa não encontra palavras para expressar tal
sensação. No entanto, essas experiências religiosas podem ser despertadas mediante o uso
de substâncias psicoativas, como alucinógenos ou antidepressivos, ou podem ser vivenciadas
igualmente por qualquer pessoa que tenha apreço pela natureza, de modo que seu principal
método não caracteriza uma forma autêntica e racionalmente justificada para conhecer a
realidade. Por conta da subjetividade envolvida durante a iluminação religiosa, não é possível
demonstrar que a observação pessoal produziu cenas reais no cérebro dessas pessoas.

Outro método comumente cultivado na construção do conhecimento religioso é a


hermenêutica. A hermenêutica é um tipo de filosofia subjetivista, como defendeu o cientista e
filósofo argentino Mario Bunge, porque ela dependeria simplesmente da interpretação do autor
para trazer à luz dos escritos bíblicos a extração de um suposto fato vivenciado em tempos
remotos.

A hermenêutica é uma abordagem problemática, pois ela não exige a investigação empírica da
realidade, como a recolha de dados para contrastar fatos históricos bem documentados com a
interpretação pessoal do hermeneuta ou teólogo.

O hermeneuta e o teólogo são os responsáveis por construir esse tipo conhecimento, embora o
primeiro contemple uma atividade mais geral, podendo abarcar o uso da hermenêutica para
textos literários ou filosóficos. No entanto, como foi apontado anteriormente, o simples fato de
invocar a subjetividade do interpretador, ao invés de fatos objetivos, lança um desafio na
validade desse tipo de conhecimento.

O CONHECIMENTO FILOSÓFICO: EMPÍRICO E RACIONALISTA


O conhecimento filosófico é amplo, abarcando diversos posicionamentos ao longo da história
da filosofia, especialmente o empírico e o racionalista. Esse tipo de conhecimento também
pode incluir o religioso, uma vez que a base de todo conhecimento são os pressupostos
filosóficos. Noções de verdade, intuição, dedução, cognoscibilidade, crença, realidade,
fenômeno, utilidade e outras são conceitos filosóficos indispensáveis em qualquer tipo de
conhecimento. O conhecimento empírico pressupõe a cognoscibilidade dos fenômenos com
base nas experiências sensíveis do sujeito, enquanto o racional pressupõe que o conhecimento
já é derivado da mente do sujeito, independentemente de qualquer experiência empírica.

David Hume e John Locke eram filósofos empiristas e, portanto, defendiam que a fonte de
conhecimento derivava dos dados sensíveis. René Descartes, por outro lado, acreditava que o
conhecimento eterno ou matemático poderia ser alcançado pelo simples uso da razão, sem a
necessidade de qualquer experiência empírica. Embora seja verdade também que ele tenha
defendido que uma junção de mais fatores era condição necessária para alcançar verdades
absolutas ou irrefutáveis, por via de seu método cartesiano, que estabelecia, no mínimo, quatro
condições, como evidência, análise, ordem e enumeração, ele deduzia que todos esses
princípios eram alcançados mediante o uso da razão.

Embora Descartes tivesse defendido o papel da razão como principal responsável pelo
conhecimento absoluto, ele fez investigações empíricas durante toda sua vida, especialmente
nos campos da anatomia e da fisiologia, contribuindo para uma descrição de partes do cérebro
humano, como a glândula pineal, e especulando sobre sua real função no organismo.

Houve também pensadores de grande importância da filosofia que tentaram unir os dois tipos
de conhecimentos, sendo o mais famoso o filósofo Immanuel Kant, que lançou as bases de seu
método racioempirista. Esse método consistia em tomar elementos que ele considerava
verdadeiros do empirismo e do racionalismo. Kant apropriou-se do fenomenismo dos
empiristas, em que a fonte de conhecimento se dá através dos fenômenos, e não da realidade
em si. Kant acreditava que não poderíamos conhecer nada além das aparências, de modo que
todo o mundo estaria subordinado a impressões ou dados sensíveis, tal como acredita Hume.
Mais ainda, Kant buscou resgatar o apriorismo do racionalismo, argumentando sobre a
plausibilidade de verdades independentes da experiência, que, segundo ele, estariam ali,
prontas na mente.

O racioempirismo kantiano levou a discussões calorosas no campo da filosofia e, junto com


outros pensadores, inspirou posições bem diferentes entre si na filosofia – especialmente, a
fenomenologia e o positivismo lógico.

O incômodo com a posição de Kant é que ele havia se apropriado de elementos problemáticos
de ambos os conhecimentos empírico e racionalista, não levando em consideração a própria
ciência da época na elaboração de sua filosofia. Os astrônomos Galileu Galilei e Johannes
Kepler, por exemplo, já investigavam a realidade além dos fenômenos limitados a dados
sensíveis. Galileu estendeu sua percepção com um telescópio que ele havia aprimorado e
descobriu três satélites de Júpiter, enquanto Kepler havia calculado a trajetória das elipses
planetárias usando ferramentas matemáticas, hipóteses auxiliares e instrumentação de
medidas. Isaac Newton, um dos maiores nomes da revolução científica, estabeleceu leis
científicas que poderiam se aplicar a quaisquer objetos não diretamente observáveis, mas com
velocidades menores do que a da luz. Isso, porém, não foi suficiente para ruir a possibilidade
de unificação entre empirismo e racionalismo.

No século XX, o cientista e filósofo Mario Bunge procurou unificar o empirismo com o
racionalismo, resgatando o conceito de racioempirismo, mas se desvinculando das posições
kantianas notoriamente emblemáticas. Bunge uniu a experiência empírica com a condição de
exercê-la mediante uso crítico da razão como forma de investigar a realidade. Mais ainda, ele
estabeleceu que seria necessária a unificação do realismo com o cientificismo proclamado dos
filósofos da ala radical do iluminismo francês, sobretudo com Condorcet, para formular
verdades mais profundas sobre o mundo.

O realismo é a filosofia que advoga a existência de um mundo independente do sujeito


(realismo ontológico) e que ele pode ser conhecido (realismo epistemológico), mesmo que
indireta e parcialmente, enquanto o cientificismo é a posição segundo a qual a ciência pode
produzir o conhecimento mais profundo e verdadeiro da realidade, em comparação com outras
formas de conhecimentos, como o religioso proveniente da iluminação religiosa ou mesmo do
interpretacionismo hermenêutico. Porém, diferente da concepção caricata difundida sobre o
conceito de cientificismo, ele não é uma posição preconceituosa e nem autorrefutável, mas
uma atitude esperada de qualquer pesquisador interessado em investigar a realidade e que
acredita que o progresso científico é possível e desejável. Mais ainda, o cientificismo é um tipo
de filosofia que enriquece a ciência, favorecendo a investigação científica, em vez de focar a
atenção exclusiva na contemplação excessiva de leituras sagradas ou de ideias do próprio
indivíduo, como faziam os filósofos irracionalistas e teólogos, que negligenciaram séculos de
progressos científicos. O cientificismo, hoje, está entrelaçado com o realismo, dando origem à
posição conhecida como realismo científico.

O realismo científico é a filosofia que admite que podemos tratar teorias científicas como
descrições ou representações verdadeiras do mundo, mesmo que sejam, por vezes,
incompletas. É a posição mais defendida dentro da filosofia da ciência, em comparação com
sua concorrente antirrealista. O antirrealismo, por sua vez, evita fazer uso de afirmações ou
teorias que não correspondam diretamente à observação pura da realidade, desconsiderando o
progresso contínuo provocado pela física de partículas ao estudar acontecimentos ou
elementos que são imperceptíveis diretamente à nossa experiência sensível ou mesmo a
teorização ou modelagem matemática de fenômenos macrossociais que escapam da
observação individual do pesquisador sociológico.
Em resumo, o conhecimento filosófico é amplo, contemplando posições muitas vezes
compatíveis ou relacionáveis com a ciência, enquanto outras vezes apresentando um tipo de
conhecimento totalmente oposto ao científico. Sua característica mais fundamental é o
exercício de análise lógica dos enunciados e das teorias científicas, geralmente realizadas por
filósofos analíticos ou filósofos da ciência. Seu mérito reside no fato de que ele alimenta
tacitamente a ciência em um processo de feedback positivo, proporcionando um vocabulário
mais refinado para a ciência e, ao mesmo tempo, alimentando seu repertório de problemas
com os novos dados da investigação científica.

ASSIMILE
No mínimo, existem quatro tipos de conhecimentos, cada qual com sua utilidade e aplicação no
mundo real.
O conhecimento filosófico também tem uma relação de absorção com outros tipos de
conhecimentos, principalmente com o científico, contribuindo para o fornecimento de um
tratamento conceitual adequado e o levantamento de problemas sobre a realidade.
Apenas o conhecimento científico possui um mecanismo de autocorreção com o qual ajuda a
ciência a se ajustar cada vez mais à realidade.
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico é um tipo de conhecimento sui generis, ou seja, uma classe de
conhecimento único em sua forma. Esse tipo de conhecimento levou séculos para que fosse
desenvolvido e teve a participação de diversos filósofos ao longo da história, especialmente o
egípcio Ibn al-Haytham e o filósofo inglês Robert Grosseteste, além de figuras notoriamente
conhecidas como Francis Bacon, Galileu Galilei e David Hume.

Haytham é considerado o primeiro cientista, porque aplicou métodos empíricos de investigação


para estudar a óptica, sobretudo os efeitos da luz. Grosseteste, por outro lado, é uma figura
comumente negligenciada em livros históricos, mesmo tendo importância central no
desenvolvimento das bases do método científico. Por outro lado, a literatura vigente considera
apenas as contribuições de Bacon, Galileu, Hume e Descartes.

Bacon advogava pela noção de conhecimento intuitivo, ou seja, a ideia de que, com base em
observações particulares, era possível realizar generalizações. Galileu, por outro lado, é
conhecido por realmente ter aplicado um método científico para a investigação de objetos
celestes, indo além do que os empiristas defendiam, ao usar o raciocínio abstrato, a
imaginação e a instrumentalização adequada para ultrapassar suas experiências sensíveis.
Hume, porém, limitava-se a propor um método atrelado à percepção, de modo que se
fôssemos levar ao pé da letra sua posição, não seria possível algo como biologia molecular,
cosmologia e principalmente mecânica quântica, já que essas disciplinas transcendem a pura
percepção do investigador científico.

Descartes, no entanto, conciliou um aspecto importante que Hume também defendia, o


chamado ceticismo metodológico. O ceticismo metodológico é a posição que nos permite
duvidar de certas conjecturas ou hipóteses que não foram submetidas à prova. Essa posição é
basicamente uma dúvida razoável, nunca absoluta, na falta de boas evidências. Em resumo,
essa é a posição que norteia toda a atividade científica ainda hoje.

Com base numa compreensão mais profunda da realidade, os filósofos do século XX tentaram
caracterizar de forma objetiva o conhecimento científico, buscando delimitá-lo de outras formas
de conhecimentos, sendo a figura mais importante dessa atitude o filósofo austríaco Karl
Popper.

REFLITA
O que torna o conhecimento científico confiável?
Como o conhecimento filosófico pode contribuir com o conhecimento científico?
De forma satisfatória, é possível estabelecer um critério de demarcação entre ciência e
pseudociência, indo além das concepções propostas no século XX?
Karl Popper (2013) tentou propor um critério de demarcação entre ciência e não ciência (onde
se incluem artes, filosofia e pseudociência), com o objetivo também de responder ao problema
de Hume. Sua ideia era de que nenhuma observação é suficiente para confirmar uma teoria,
que bastaria um contraexemplo para demonstrar sua falsidade. Analogamente ao exemplo
mais tipicamente usado, o fato de observar cisnes brancos em uma região não permite fazer
uma generalização apressada de que todos os cisnes são brancos, pois a observação de um
cisne negro refutaria a teoria. Então, Popper lançou a condição de que toda teoria, para ser
científica, deveria ser passível de falseabilidade ou falseacionismo, ainda mais porque
contribuiria para seu refinamento. A falseabilidade é a condição de que teorias devem ter a
capacidade de serem provadas falsas em alguma circunstância.

Popper argumentava que a confirmação trivial não assegurava uma boa teoria, utilizando a
psicanálise como exemplo de caso para mostrar que a observação do analista geraria uma
confirmação excessiva, embora não suficiente para avaliar seu grau de verdade. Mais ainda,
ele argumentou que a falta de condições de refutação da teoria psicanalítica seria um elemento
vital para sua fossilização, como o caso do inconsciente freudiano, que admite a existência de
três instâncias psíquicas ou entidades desencarnadas (id, ego e superego), mas que nunca é
clarificado se são conceitos meramente simbólicos ou objetos tão reais quanto axônios,
neurônios, sinapses e partículas.

Com seu critério de demarcação, Popper foi duramente criticado pelos filósofos irracionalistas,
sobretudo Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn (2017) defendeu que existiam, no mínimo,
duas ciências: a normal e a extraordinária. A normal é a ciência acerca da qual existe
minimamente um consenso estabelecido entre a comunidade científica. Em seguida, dentro da
ciência normal, segundo Kuhn, ocorre uma crise sem precedentes, ocasionada por uma nova
descoberta, passando a existir a dificuldade de estabelecimento de um consenso. Quando essa
nova descoberta se consolida, ocorre uma revolução científica, dando início à etapa de uma
nova e extraordinária ciência, rompendo com velhas concepções de mundo. Pense, por
exemplo, na revolução científica ocasionada pela emergência da teoria da relatividade geral,
que, embora seja sempre lembrada como fruto do trabalho de Albert Einstein, também teve a
contribuição de outros grandes nomes da física, como Henri Poincaré. A relatividade provocou
uma reação de incerteza na comunidade científica por conta de sua aceitação total ao longo de
anos e das limitações físicas agora evidentes das teorias newtonianas para o estudo de objetos
de grande massa. Isso, porém, não significa que a relatividade geral demoliu a física de
Newton. Isso também não sustenta a defesa de Kuhn de que não existe algo como progresso
científico. A teoria da relatividade e o uso da mecânica de Newton têm permanecido de pé
ainda hoje, sendo a última responsável pela possibilidade de envio de foguetes ao Espaço.

Feyerabend (2011), por outro lado, foi ainda mais radical e sentenciou que não existe algo
como método científico e que, na ciência, “tudo vale”, de modo que não existiriam regras para
serem seguidas, a ponto de, segundo ele, os cientistas diversos romperem com os protocolos
de investigação para formularem suas ideias. Feyerabend foi seduzido por essa visão por conta
de sua descrença na medicina científica e a suposta experiência de cura por uma curandeira, o
que o levou a relativizar o status epistemológico da medicina em seus trabalhos. Sua posição
ficou conhecida como anarquismo epistemológico. Embora essa seja a visão que mais
prevalece na academia, ela é falsa, porque ignora que não existe ciência sem método científico
(ou seja, sem regras minimamente estabelecidas e/ou procedimentos experimentais de
investigação, principalmente de acordo com os princípios da pesquisa bioética) e,
principalmente, sem ethos (ou código de conduta) tacitamente aceito pela comunidade
científica. Uma ciência sem método não seria capaz de investigar a realidade em todos os seus
níveis, também não seria capaz de progredir ao longo dos anos e, mais importante, sem ethos
tanto a verdade como a mentira teriam pesos igualmente válidos dentro da comunidade
científica.

O ethos da ciência foi primeiramente clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton
(1968). Ao investigar a comunidade científica, ele identificou alguns princípios que norteavam a
pesquisa científica, sendo eles: comunismo epistêmico, universalismo, desinteresse, ceticismo
coletivo e originalidade.

O comunismo epistêmico enfatiza que o conhecimento científico é propriedade de todos,


portanto, ele deve ser sempre acessível; o universalismo advoga que todos os cientistas,
independente de sua etnia ou localização geográfica, podem contribuir com a ciência; o
desinteresse destaca que os cientistas devem agir conforme a comunidade, de acordo com os
interesses coletivos, sempre acima dos interesses pessoais; o ceticismo coletivo determina que
as reivindicações científicas devem ser submetidas à análise crítica da comunidade; e,
finalmente, a originalidade diz respeito à ideia de que as demandas científicas devem contribuir
com a novidade, seja na formulação de novos problemas, dados ou teorias. A suspensão do
ethos leva ao florescimento da pseudociência.

O conceito de pseudociência, de antemão, exige uma compreensão do que é a ciência. No


entanto, nenhum filósofo havia sido capaz de conceituar a ciência de forma adequada,
deixando sempre espaço para que reivindicações não científicas se passassem como ciência.
O filósofo Mario Bunge (2010) mostrou que a concepção popperiana de ciência deixava espaço
para que reivindicações parapsicológicas fossem tratadas como ciência, simplesmente porque
satisfaziam o critério de falseabilidade. Porém, como Bunge enfatizou, o que torna um campo
científico não é sua condição de falseabilidade, mas uma série de princípios, entre os quais
estão incluídos um fundo de conhecimento, uma base formal, uma epistemologia realista, uma
ontologia materialista, um ambiente livre de pesquisa e, principalmente, a prática de um ethos
entre membros da comunidade científica. Nesse sentido, Bunge (2014) define a ciência como
um sistema de ideias caracterizados como um conhecimento sistemático, racional, exato,
verificável e, portanto, falível, sendo uma representação conceitual do mundo. Além disso,
quando um campo falha em satisfazer a maior parte dos princípios de cientificidade, ele pode
ser considerado pseudocientífico.

A pseudociência, consequentemente, pode ser conceituada de forma oposta à ciência, como


sendo um sistema de crenças subjetivas, irracionalistas ou puramente intuicionistas, inexata,
inverificável e, portanto, dogmática, pois ela não submete à prova suas crenças, não exige uma
linguagem clara, precisa e objetiva, nem um vocabulário articulado de ideias inter-relacionadas,
e, quando se mostra falha, como na hipótese da existência do inconsciente freudiano da
psicanálise ou das ondas psi da parapsicologia, ela permanece estagnada no tempo, não
atualizando suas crenças à luz de novas evidências.

Em resumo, o conhecimento científico é um tipo especial de conhecimento, que possui em seu


aspecto central a revisão constante de hipóteses e teorias científicas, sempre submetendo à
prova conjecturas e, mais ainda, proporcionando a melhor representação da realidade em
todos os seus níveis (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.). Por ser um
tipo de conhecimento antidogmático por princípio, ele não deve ser confundido com a
pseudociência, em que, em sua característica mais essencial, o livre debate de ideias é
substituído pelo culto à autoridade e pela salvação contínua de crenças falsas, por conta do
sentimento de incerteza provocado pelo mal entendimento da ciência.

EXEMPLIFICANDO
O conhecimento vulgar (ou senso comum) absorve todos os tipos de conhecimentos ao longo
dos anos. No entanto, ele pode conservar em seu núcleo crenças falsas sobre a realidade. Por
sua vez, o conhecimento religioso possui, ao menos, duas abordagens principais, como a que
é baseada na iluminação religiosa e a interpretacionista, advogada por teólogos ou
hermeneutas. De forma semelhante ao conhecimento vulgar, esse tipo de conhecimento pode
manter ideias falsas em seu núcleo, sobretudo por focar sua abordagem mais no indivíduo
subjetivo do que na investigação da realidade externa.
O conhecimento filosófico é amplo em sua forma, sendo difícil delimitá-lo. Por essa razão, ele
pode ser desenvolvido em uma relação de dependência do conhecimento científico, como
também é possível fazê-lo de forma independente. No entanto, sua característica mais
fundamental tem sido a clarificação dos conceitos utilizados em diversos tipos de
conhecimentos. Além disso, ele é um tipo de conhecimento que permite fazer certas
generalizações sobre a realidade. Por exemplo: todos os objetos existentes são materiais;
todos os objetos reais possuem propriedades físicas, como energia; a realidade é um grande
sistema emergente e material; as leis da natureza revelam a impossibilidade da existência de
entidades desencarnadas, como almas, espíritos, inconsciente freudiano ou cérebros
dualísticos.
O conhecimento científico é único em sua forma. É o tipo de conhecimento que produz o
entendimento mais profundo e verdadeiro sobre a realidade, indo além das percepções
empiristas, a partir do momento que destaca o importante papel da teorização e modelagem
para representar a realidade com base nas evidências. Sua característica mais fundamental é o
mecanismo de autocorreção, que permite corrigir imprecisões e, então, refinar cada vez mais
as explicações sobre o mundo. Por sua natureza particular, é um conhecimento antidogmático
por princípio.
No decorrer do livro, foram exemplificados os diversos tipos de conhecimentos existentes, bem
como os desafios que cada um deles enfrenta. Também foi explicado como diferentes tipos de
conhecimentos podem ser relacionados com outros, como na relação recíproca entre o
conhecimento filosófico e o científico, em que um enriquece o outro, proporcionando um
aumento gradual do conhecimento na esfera da atividade humana. Dessa forma, espera-se
que, com base nessa introdução, você tenha a capacidade de distinguir os diversos tipos de
conhecimentos, bem como de procurar aprofundar seu conhecimento ao longo dos anos.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A falseabilidade é o princípio filosófico no qual uma teoria, para ser considerada científica, deve
ser capaz de realizar predições que sejam possíveis de serem provadas falsas em alguma
circunstância. Um exemplo bastante difundido para expressar a ideia é a observação de um
grupo de cisnes brancos não ser suficiente para afirmar que todos os cisnes são brancos, já
que a observação de um cisne negro refutaria a afirmação.

Qual o primeiro filósofo a propor a falseabilidade como um critério de demarcação para a


ciência?

a. David Hume.
b. Karl Popper.
c. Francis Bacon.
d. René Descartes.
e. Robert Grosseteste.
Questão 2
O ethos da ciência é o conjunto de princípios éticos coletivos que norteia a comunidade
científica. Esses princípios foram percebidos, pela primeira vez, pelo sociólogo da ciência
Robert K. Merton, que destacou seus aspectos principais.

Quais princípios formam o ethos da ciência?

a. Autoritarismo - universalismo - niilismo - desinteresse - originalidade.


b. Comunismo - universalismo - ceticismo - desinteresse - originalidade.
c. Socialismo - relativismo - ceticismo - interesse - familiaridade.
d. Dogmatismo - irracionalismo - individualismo - interesse - falsidade.
e. Comunismo - absolutismo - ceticismo - desinteresse - originalidade.
Questão 3
A pseudociência é conhecida por conta de sua marginalidade frente ao conhecimento científico
do momento, de modo que ela não segue nenhum critério objetivo de investigação e nem
sequer cultiva uma comunidade crítica para a análise de suas ideias.

Quais são as características fundamentais da pseudociência?

a. Originalidade, ceticismo, racionalismo e claridade conceitual.


b. Falsidade, dogmatismo, relativismo e claridade conceitual.
c. Originalidade, ceticismo, racionalismo e obscurantismo.
d. Falsidade, subjetivismo, dogmatismo e obscurantismo.
e. Falsidade, obscurantismo, ceticismo e claridade conceitual.

REFERÊNCIAS
BUNGE, M. Caçando a Realidade: a luta pelo realismo. Tradução de Gita K. Guinsburg. [S.l.]:
Editora Perspectiva, 2010.

BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014.

BUNGE, M. Las pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.l.]: Editora Laetoli, 2014.

BUNGE, M. In Defense of Realism and Scientism. Annals of Theoretical Psychology, Boston, v.


4, p. 23-26, 1986. Springer US. Disponível em: https://bit.ly/3b59Qg3. Acesso em: 24 nov.
2020.

BUNGE, M.; SCHLÖTTER, P.; RAYNAUD, D.; ROMERO, G. E.; MOLINA, E.; PIEVANI, T.;
LARRINAGA, V. J. S.; ELÍAS, C.; CAMPO, A. C.; FISAC, M. Á. Q. Elogio del Cientificismo.
Tradução de Gabriel Andrade. [S.l.]: Editora Laetoli, 2017.
DESCARTES, R. Discurso Sobre o Método. [S.l.]: Editora Vozes de Bolso, 2018.

FEYERABEND, P. Contra o Método. 2. ed. [S.l.]: Editora Unesp, 2011.

KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. [S.l.]: Editora Perspectiva, 2017.

MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica.


[S.l.]: Editora Zahar, 2016.

MERTON, R. K. Sociologia: teoria e estrutura. [S.l.]: Editora Mestre Jou, 1968.

POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013.

SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro.
[S.l.]: Editora Companhia das Letras, 2006.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO COMUM E O CONHECIMENTO CIENTÍFICO?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

SEM MEDO DE ERRAR


Para resolver o problema, é necessário entender o contexto histórico e filosófico por trás da
origem de cada tipo de conhecimento, destacando os aspectos fundamentais que levaram à
sua aceitação ou rejeição, fazendo analogias ou experimentos mentais (ou seja, imaginando
circunstâncias nas quais certos tipos de conhecimentos poderiam ser aplicados, levando em
consideração seus possíveis impactos na esfera da vida cotidiana) para reforçar a
aprendizagem.

Um caminho para levar à resolução da situação-problema consiste na utilização da analogia do


conhecimento científico com a atividade política, entendendo suas principais diferenças, mas
destacando seus aspectos de interdependência. Por exemplo, embora a ciência dependa da
política para uma série de condições, sobretudo no direcionamento de recursos para suas
atividades, ela não é decidida de modo semelhante, de modo que a ciência não advoga pela
democracia para chegar a um consenso, mas opera com base nos estudos e na qualidade da
evidência resultante da investigação da realidade, confrontando muitas vezes uma visão
dominante dentro da ciência, ou mesmo crenças políticas e religiosas individuais dos próprios
cientistas, até a aceitação plena de teorias mais bem confirmadas, como ocorreu
historicamente no processo de aceitação da teoria da evolução de Charles Darwin e sua
implicação filosófica e política no contraste com o criacionismo bíblico, e na emergência da
mecânica quântica, da qual alguns físicos, como Albert Einstein, resistiram-se a aceitar a
natureza indeterminística da realidade.

Isso significa que muitas vezes seremos confrontados com visões que entram em desacordo
com nossas preferências políticas, ideologias e crenças religiosas, mas isso não é um sinal de
que devemos abrir mão do conhecimento científico. Na verdade, devemos trabalhar
criticamente para absorvê-lo da melhor forma possível, especialmente para ajustar nossas
crenças e visões de mundo à realidade. Pense, por exemplo, no caso das Testemunhas de
Jeová e o embate notório em questões de ordem filosófica, sobretudo ética, e de saúde
pública, que norteiam as ciências da saúde, no que se refere à rejeição de práticas e cuidados
médicos relacionados ao uso da técnica de transfusão de sangue por seus seguidores. A
rejeição do conhecimento científico levaria essas pessoas a permanecerem em sofrimento, a
adoecerem progressivamente, simplesmente porque não conseguiram conciliar suas crenças e
visões de mundo com o conhecimento científico.

O conhecimento vulgar também está enraizado em diversas concepções equivocadas do


mundo, principalmente nas que trazem algum dano não apenas à humanidade, mas à natureza
e aos animais. Por exemplo, a crença social compartilhada de que gatos pretos trazem azar, o
que instiga o comportamento de maus-tratos contra animais, simplesmente porque a população
não teve acesso ao conhecimento científico para entender a origem e a consequência dos
mitos ao longo da história. Apenas o conhecimento científico pode elucidar essas questões,
mostrar seus impactos no mundo real e avaliar o quão realistas são as crenças culturais ou
religiosas mais bem difundidas. Em outras palavras, o conhecimento científico enriquece a
cultura e alimenta a sociedade, contribuindo para que o senso comum se afaste cada vez de
concepções equivocadas do mundo.

Um elemento-chave que contribui para a absorção do conhecimento científico pelo senso


comum é entender que a formulação desse tipo de conhecimento que se dá através da
construção das teorias científicas não surge espontaneamente do nada, nem de forma isolada
com a pura observação de um fenômeno, mas se baseando em um problema e um fundo de
conhecimento anterior. Contrastar a ciência e a pseudociência também ajuda a entender os
aspectos que influenciam os grupos humanos. Evidenciar o princípio de abertura às novas
ideias que o conhecimento científico proporciona e sua característica de testar ideias que não
nos parecem razoáveis à primeira observação, como quando estamos pensando em comprar
um carro usado e fazemos perguntas sobre a condição atual do automóvel, contribui para
ajustar nossa visão de mundo a uma posição mais crítica e realista. Mais ainda, a
consequência fundamental do senso comum absorver a ciência é, a curto prazo, a formação de
melhores tomadores de decisões.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A CIÊNCIA E A SAÚDE MENTAL
Uma pessoa cientificamente orientada, responsável pela análise da gestão da equipe de uma
empresa, poderia identificar que a saúde e a qualidade de vida no trabalho (QvT) estão
prejudicadas no setor em que trabalha, o que refletiria diretamente na queda dos índices de
rendimento e produtividade da equipe. Como o conhecimento científico poderia auxiliar na
resolução desse problema?

RESOLUÇÃO
A própria pessoa com competências científicas, sobretudo em psicometria aplicada às
organizações, poderia pôr em prática seu conhecimento para verificar a possível solução do
problema, ou mesmo indicar a contratação de um consultor científico mais especializado. Em
um exemplo específico, pode ser que um colega ou chefe seja responsável por boa parte
dessa queda da QvT. Então, o consultor poderia desenvolver estratégias eficazes, baseadas
no conhecimento científico, para aumentar o nível da QvT.

NÃO PODE FALTAR


QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

PRATICAR PARA APRENDER


Provavelmente, você já se perguntou o que torna o conhecimento científico diferenciado em
comparação com outras formas de conhecimento, razão pela qual diversas grandes potências
reservam uma parcela de seu PIB para investir em ciência e tecnologia, mas não encontrou
nenhuma explicação dentro de um contexto histórico apropriado que detalhasse as principais
características do conhecimento científico.

Sem um contexto adequado é impossível discutir o que é conhecimento científico, bem como
explicar quais seriam suas características e o porquê desse tipo de conhecimento ser único em
sua espécie. Por causa dessa dificuldade de entendimento da ciência, você, em alguma parte
de sua vida, perguntou: “Por que os cientistas estudam planetas distantes em vez de
concentrarem seus esforços em problemas sociais vigentes, como a desigualdade social, a
extrema pobreza e a desnutrição?” ou “Por que investir milhões de dólares em pesquisas
básicas?”

Com um pouco de tratamento filosófico e história da ciência, seria possível responder que
diversos esforços coletivos promovidos dentro do contexto da história da Era Espacial
contribuíram direta e indiretamente para o surgimento de tecnologias usadas no dia a dia, como
travesseiros, painéis solares, satélites artificiais, detectores de fumaça e muitos outros. Poderia
também ser respondido que uma compreensão profunda da genética levou ao desenvolvimento
de alimentos transgênicos, que são ricos em proteínas, contribuem para a redução do uso de
agrotóxicos e auxiliam diretamente no combate à desnutrição em países do continente africano.

Explicar a origem de todo esse processo de construção de conhecimento enriquece a cultura à


medida que revela como as características do conhecimento científico auxiliam no progresso
tecnológico, principalmente na produção de vacinas em contextos de pandemias, como a da
Gripe Espanhola e do novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Em uma sala de aula, um professor de Filosofia da Ciência escolhe três alunos com o objetivo
de atribuir a cada escolhido uma disciplina que alegue o status de ciência: a primeira disciplina
é a Astronomia (atribuída ao aluno A), a segunda disciplina é a Sociologia (atribuída ao aluno
B) e a terceira disciplina é a Psicanálise (atribuída ao aluno C).

Em seguida, os alunos são convidados a aplicar o ceticismo científico na disciplina atribuída a


eles para avaliar suas hipóteses e teorias, bem como questionar suas bases analisando a
possível compatibilidade com os resultados da ciência.

Supondo que os alunos tiveram êxito no trabalho proposto, considere o resultado a que cada
aluno chegou:

A astronomia é uma ciência porque suas teorias são compatíveis com os dados disponíveis
das melhores agências espaciais.
A sociologia é uma ciência porque suas teorias são baseadas em evidências. Além disso, a
sociologia consegue, com base no uso de modelagem computacional, realizar predições sobre
fenômenos sociais com alto nível de acurácia.
A psicanálise não parece ser uma ciência, ou talvez seja uma pseudociência, porque suas
principais hipóteses não constituem uma teoria científica. Mais ainda, algumas alegações sobre
possíveis entidades ou objetos não podem ser testadas ou demonstradas empiricamente. Ela
também tem outro ponto falho, que consiste na ausência de uma formalização lógica adequada
da qual seja possível a extração objetiva do significado de um conceito central no campo.
Normalmente, o próprio aluno C poderia indagar sobre o motivo pelo qual a psicanálise ainda
mantém um local prestigiado em universidades públicas e particulares, sendo que ela falha em
cumprir os requisitos mínimos esperados de um campo que alega produzir conhecimento
científico.
Quais seriam os possíveis indicadores que revelariam o porquê de certas pseudociências,
como a psicanálise, ainda manterem algum prestígio na academia, mesmo não cumprindo
requisitos esperados de uma atividade que preza pela verdade?

A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma cética de
interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não estamos aptos a
fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que algo é verdade, e sermos
céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê do próximo charlatão político
ou religioso que aparecer.

Carl Sagan, entrevista de 1996.


CONCEITO-CHAVE
CONHECIMENTO CIENTÍFICO: SISTEMATICIDADE, FALIBILIDADE E
QUESTIONABILIDADE
Algumas características essenciais do conhecimento científico mostram como ele é um
conhecimento único em sua espécie, trazendo maior nível de confiabilidade em comparação
com outros tipos de saberes no mundo contemporâneo. Um aspecto central é seu princípio de
sistematização, que é basicamente a forma como seus enunciados são estruturados
logicamente, evitando confusões da linguagem ordinária, como contradições lógicas e
polissemia.

A sistematização do conhecimento científico permite que seus enunciados não entrem em


contradição ao longo de uma explicação a respeito de algum fenômeno da realidade, evitando
a utilização de jargões desnecessários e, por vezes, incompreensíveis, como sentenças que
fazem parte de muitos sistemas filosóficos dos chamados filósofos do irracionalismo, como
Friedrich Hegel e Martin Heidegger.

A adoção de uma estrutura lógica dentro de enunciados científicos permitiu que qualquer
discurso ou método dialéticos fosse extirpado do conhecimento científico, contrariando a
crença popular de que a dialética é um elemento indispensável na atividade científica. Isso
ocorre desde o surgimento da ciência moderna, admitindo tacitamente o Princípio da Não
Contradição de Aristóteles, que assegura que afirmações contraditórias não podem ser
verdadeiras ao mesmo tempo. Portanto, a ciência evita o uso de proposições contraditórias,
como “esse círculo é quadrado”, “toda verdade é uma mentira” e “tudo é relativo”.

A dialética é um conceito problemático desde Heráclito, significando em seus primórdios a ideia


de que existe um Princípio da Unidade dos Contrários, ou seja, a ideia de que todas as coisas
que existem possuem uma contraparte ou uma entidade oposta (por exemplo, partículas e
antipartículas). Muitos séculos depois, o filósofo Hegel buscou desenvolver a dialética dentro
de seu sistema filosófico, admitindo alguns pressupostos da tese original, como a ideia de que
existe uma unidade dos opostos e a noção segundo a qual todas as coisas mudam. No
entanto, Hegel foi muito pouco claro sobre o que ele queria dizer com “dialética”, de modo que
até hoje não existe um consenso entre filósofos sobre o que ela é: uma lógica não clássica, que
romperia com o Princípio da Não Contradição da ciência moderna; uma ontologia das coisas;
ou simplesmente ambas. Apesar do extenso debate filosófico sobre a dialética, ela não
conseguiu ganhar espaço em nenhuma ciência natural, social ou biossocial – nem mesmo na
ciência formal, com a lógica e a matemática.

Outro aspecto central do conhecimento científico é a falibilidade, que significa que todo
discurso científico é passível de correção, evitando assim qualquer tipo de dogmatismo, como a
estagnação de uma hipótese científica e o culto à autoridade. Esse conceito está presente na
tese do filósofo da ciência Karl Popper (2013), que estipulou que a falseabilidade ou
refutabilidade é a condição para refinar cada vez mais hipóteses e teorias científicas.

Esse princípio de falseabilidade é importante para a estruturação de hipóteses iniciais ou


primitivas, por polir afirmações destituídas de evidências científicas, mas não é um critério de
demarcação satisfatório para produzir conhecimento científico. Na verdade, mesmo que alguns
cientistas considerem que a ciência siga o modelo popperiano, nenhum filósofo da ciência
considera-o como um critério satisfatório – especialmente porque a pseudociência também
mantém um nível de conciliação com o respectivo critério de demarcação.

A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo também
com que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade, produzindo um
conhecimento diferenciado em comparação com os outros, sendo então mais profundo e
verdadeiro. Essa posição também é admitida por filósofos científicos – ou seja, filósofos que
estão em dia com os resultados da ciência e tecnologia –, que assumem que a ciência produz
um tipo de conhecimento mais profundo e verdadeiro.

A ciência também mantém em seu núcleo um aspecto de questionabilidade ou ceticismo, que


significa dúvida metodológica e consiste na adoção do ceticismo científico, que é o princípio
segundo o qual todas as hipóteses e teorias devem ser questionadas de forma metódica,
responsável e cientificamente orientada. Isso significa que a ciência não adota um tipo de
ceticismo conhecido como radical, em que tudo deve ser questionado, que advoga por um
questionamento absoluto, irresponsável, descontrolado e, portanto, dogmático. A
questionabilidade promovida na ciência é a que submete alegações e hipóteses destituídas de
evidências razoáveis à crítica de outros cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e
útil para o desenvolvimento da ciência.

O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, que é a posição
que defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O negacionismo da
ciência está atrelado a posições ideológicas de seus praticantes, entrando em cena quando a
ciência revela um fato em relação ao qual a pessoa está em desacordo por alguma razão
política, religiosa ou cultural. Alguns exemplos de negacionismo da ciência incluem a negação
de efetividade das vacinas, a rejeição da circunferência da Terra, a depreciação das
consequências das mudanças climáticas e a resistência em aceitar a evolução biológica das
espécies através do processo de seleção natural.

OBJETIVIDADE, POSITIVIDADE, RACIONALIDADE E EXPLICABILIDADE


No contexto do conhecimento científico, o conceito de objetividade não deve ser confundido
com objetivismo, que é doutrina ideológica e pseudofilosófica de Ayn Rand. A objetividade se
refere à pretensão clara e objetiva na formulação de enunciados científicos, evitando o
subjetivismo interpretativo, que é a noção segundo a qual é possível a extração de diversas
interpretações e múltiplos significados de um determinado texto. Por conta de a linguagem
científica ser diferente da linguagem ordinária, principalmente pela sua construção lógica e
sistematização, o subjetivismo não faz parte das proposições científicas.

A objetividade é atrelada a uma concepção positiva de ciência, cujo papel é o acúmulo gradual
de conhecimento por meio da confirmação empírica, em vez de uma estrutura desordenada
que desmorona a cada nova revolução científica, como defendeu de forma irresponsável o
filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn. Segundo Kuhn (2017), a ciência muda como a
moda, de modo que o objetivo da ciência não seria mais a verdade. No entanto, essa
concepção ignora que todas as revoluções científicas são sempre parciais, que elas nunca
rompem totalmente com o conhecimento anterior, como é o caso da mecânica clássica de
Newton, que, mesmo após o surgimento da teoria da relatividade geral e da mecânica quântica,
ainda permanece válida para calcular a trajetória de objetos terrestres e continua sendo usada
para enviar foguetes ao espaço.

A teoria da evolução de Charles Darwin também é outro exemplo dessa característica positiva
da ciência, pois ela foi atualizada com os dados da genética e da biologia molecular, revelando
um panorama ainda mais abrangente sobre a evolução das espécies, explicando até a origem
de certos traços comportamentais nos seres humanos modernos. No entanto, a ciência não
progride apenas com base em experimentos, ela precisa de racionalidade.

A racionalidade presente no conhecimento científico pode ser explicada de duas formas, pelo
menos: a ideia de que todo discurso científico é debatível de forma organizada (com o exercício
do uso da razão) ou a ideia de que o raciocínio formal é um alicerce na construção do
conhecimento científico. A primeira ideia pressupõe tacitamente características anteriormente
explicadas, como as noções de sistematização e de objetividade, de modo que apenas com
uma linguagem compreensível, logicamente e objetivamente coerente, é possível discutir
racionalmente conhecimentos e problemas científicos, enquanto a segunda exprime a ideia de
que a construção de conceitos lógicos e formais serve para representar objetos que possuem
existência concreta, material e real na realidade, como campos, partículas e cérebros.

De acordo com a última definição, sem o raciocínio formal, o qual consiste na ciência formal da
lógica e da matemática, nenhum conhecimento seria possível, pois são necessários sempre
símbolos e expressões matemáticas não apenas para representar objetos, mas também para
quantificar os dados oriundos da investigação científica. Até mesmo a filosofia contemporânea,
como a filosofia analítica e a filosofia científica, trata o raciocínio lógico-matemático como
essencial para a produção de conhecimento filosófico. No entanto, o conhecimento científico
busca trabalhar com o raciocínio formal visando fornecer uma explicação mais adequada com
base nos dados e nas evidências da investigação científica, de modo que não é um mero
exercício lógico destituído de valor empírico.
A pretensão de elaborar cada vez mais proposições e teorias ajustadas à realidade revela o
aspecto de explicabilidade da ciência. Sem a pretensão de explicar a realidade, ou algum de
seus níveis em particular (físico, químico, biológico, psicológico, social, artificial, etc.), os
cientistas não teriam qualquer motivo para investigar o mundo e produzir conhecimento
científico. A explicabilidade, portanto, refere-se simplesmente ao papel da ciência em investigar
o mundo e prover conhecimentos cada vez mais profundos sobre as coisas.

ASSIMILE
O conhecimento científico advoga pelo princípio de racionalidade, de modo que seu discurso é
universalmente compreensível.
O aspecto corretivo do conhecimento científico é sempre guiado pelas evidências da realidade.
Toda a atividade científica cultiva o questionamento cético moderado ou razoável, que é
orientado pela evidência.
REVISIBILIDADADE, AUTONOMIA, ACUMULABILIDADE E VERIFICABILIDADE
O conhecimento científico é justamente difícil de definir por conta de suas diversas
características. Em comparação com o conhecimento religioso, por exemplo, apenas o
conhecimento científico tem como preocupação a revisibilidade de seus conceitos e teorias
mediante a investigação científica. Enquanto o conhecimento religioso admite múltiplas
interpretações de um texto como igualmente válidas, o que importa no conhecimento científico
é a compatibilidade de seu corpo de conhecimento com as evidências, independente do que
um cientista pensa a respeito. Pelo mesmo motivo, a ciência não deve ser comparada com a
política, pois seu conhecimento não é decidido como verdadeiro mediante uma votação por
decreto ou escolha da população. O conhecimento científico é tratado como verdadeiro quando
os resultados de uma investigação apontam numa determinada direção.

Já a autonomia existente na ciência pode se referir ao âmbito individual e coletivo, como


quando um cientista tem liberdade para investigar - seguindo os protocolos éticos da pesquisa
científica - e quando a ciência tem liberdade para investigar problemas que contradizem
anseios políticos. Por exemplo, quando os cientistas sociais podem estudar livremente os
impactos das desigualdades sociais nas populações de baixa renda, ou quando o objeto de
estudo são os efeitos sistêmicos das mudanças climáticas, que, normalmente, contradizem
interesses privados de empresas ou políticos. Contraexemplo: quando os cientistas são
impedidos de investigar por conta de sua nacionalidade ou etnia, como ocorreu com os físicos
judeus durante a emergência do nazismo na Alemanha, ou quando os pesquisadores são
perseguidos pelo governo com a desculpa de serem infiltrados de uma potência mundial rival
ou advogarem por uma suposta ideologia contrária à aceita pelo Estado, como aconteceu no
caso dos geneticistas de plantas na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS).

Mesmo com todas as dificuldades que a história da ciência revela sobre o processo de
construção do conhecimento científico ao longo dos séculos, toda a experiência passada é
traduzida em conhecimento sociológico, revelando que a ciência e a política, embora sejam
atividades completamente distintas, dependem de uma relação amigável para prosperarem,
seja para promover a investigação científica fornecendo recursos financeiros do Estado, seja
para usar os resultados científicos na elaboração de políticas públicas mais justas.

A acumulabilidade do conhecimento científico é o que justifica seu aspecto de progresso,


justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são considerados, não apenas
para refletir sobre os desafios metodológicos e epistemológicos da ciência, mas também para
aumentar o rigor necessário durante a avaliação dos trabalhos que são submetidos para
revistas científicas. Mais ainda, os resultados negativos na ciência, com base no olhar
sociológico, podem revelar aspectos que foram negligenciados sistemicamente durante a
época de aceitação ou implementação de uma ideia. Por exemplo, a aplicação política de
ideias pseudocientíficas, que já não eram muito bem aceitas, no início do século XX, como a
eugenia e o darwinismo social, levou ao extermínio de judeus, negros, pobres e pessoas com
deficiência, sob o pretexto de “busca pela pureza genética”.

A elucidação da pseudociência só foi possível graças ao princípio de verificabilidade da ciência,


que é a ideia segundo a qual um enunciado, uma hipótese ou uma teoria deve ser passível de
ser colocada à prova. No entanto, o conceito de verificabilidade requer um contexto adequado
por conta de sua polissemia.

A noção mais forte de verificabilidade foi apresentada pelo lógico Rudolph Carnap, durante a
emergência do positivismo lógico do Círculo de Viena. Esse círculo era formado por um grupo
de cientistas e filósofos interessados nos problemas filosóficos, históricos e sociológicos da
ciência. A despeito dos mitos que circulam sobre o círculo, eles defendiam teses bastantes
heterogêneas, tinham preocupações políticas e sociais sobre a atividade científica, não eram
ingênuos e nem reducionistas (não reduziam todo o conhecimento às ciências naturais) e
buscavam uma linguagem universal para a ciência. No entanto, a tese de Carnap ficou
imensamente conhecida ao ponto de ser tratada equivocadamente como representativa de
todo o círculo.

A tese verificacionista de Carnap postulava que uma proposição tem sentido se, e somente se,
existir alguma circunstância que permita sua verificação. Se não existisse alguma possibilidade
de verificação, a proposição seria considerada como destituída de sentido e significado e,
portanto, ela não faria outra coisa a não ser trazer pseudoproblemas. Essa tese foi duramente
golpeada, justamente por outro filósofo que era simpatizante do círculo, mas que não fazia
parte dele: Karl Popper.

Karl Popper enfatizou que a tese não era suficiente como um critério para proposições, além de
diversos outros problemas enumerados em sua obra A Lógica da Pesquisa Científica (2013),
argumentando que a condição de verificabilidade não é suficiente para que uma proposição ou
teoria seja considerada científica, mas simplesmente a condição de sua possível refutação.
Para Popper, uma teoria é científica se, e somente se, existir alguma circunstância que permita
sua refutação. Se não existir nenhuma circunstância passível de refutação, a teoria não é
considerada científica. Com isso, Popper lançou as bases de sua hoje conhecida tese: o
falseacionismo.
REFLITA
Dado o sucesso do conhecimento científico na explicação de diversos fenômenos da realidade,
o que torna a ciência um campo confiável?
Dado o contexto de negacionismo anticientífico na sociedade contemporânea, por que é
importante adotar o ceticismo científico?
Por que a lógica é um elemento indispensável dentro do conhecimento científico?
FACTUALIDADE, ANALITICIDADE E COMUNICABILIDADE
A ciência não se resume a uma atividade puramente empírica. Ela também contempla
disciplinas que lidam com aspectos formais do método científico, que usam seu aspecto de
racionalidade para investigar problemas matemáticos, lógicos e semânticos. Para clarificar
essa abrangência, é necessária uma distinção rápida sobre esses dois tipos de ciências: a
ciência fática (ou factual) e a ciência formal.

Como explica o filósofo Mario Bunge em seu livro La Ciencia, su Método y su Filosofía (2014),
a ciência fática lida com entes concretos ou materiais (como campos, partículas, animais,
pessoas), adequa-se aos fatos e possui consistência empírica (como a física, a química, a
biologia, a psicologia, a sociologia), enquanto a ciência formal lida com entes ideais (como
números, conceitos, axiomas), adequa-se a um conjunto de regras e possui consistência
racional (como a lógica e matemática). No entanto, tanto a ciência fática como a ciência formal
normalmente se cruzam em um processo de enriquecimento contínuo.

A ciência formal fornece à fática a analiticidade essencial para sua sistematização,


formalização e objetividade. Com esse tratamento analítico, o conhecimento científico se torna
mais exato, porque evita-se a ambiguidade e a armadilha da linguagem ordinária. Desse modo,
justifica-se a definição de Bunge (2014) da ciência como um tipo de conhecimento sistemático,
racional, exato, verificável e, portanto, falível, sendo a melhor reconstrução conceitual do
mundo do qual fazemos uso.

Finalmente, a ciência preza pela comunicabilidade, ou seja, os resultados científicos são


passíveis de serem comunicáveis de forma objetiva para quaisquer pesquisadores ao redor do
mundo. Mais ainda, os resultados podem ser traduzidos na linguagem ordinária com o objetivo
de visar à popularização da ciência e ao enriquecimento cultural através da atividade de
divulgação científica.

EXEMPLIFICANDO
O conhecimento científico tem uma estrutura lógica ordenada, a qual permite a extração de
proposições objetivas.
O conhecimento científico visa explicar a realidade em sua totalidade, adequando sua
metodologia científica para o estudo de cada nível (físico, químico, biológico, psicológico, social
e artificial).
O conhecimento científico progride ao longo do tempo, ajustando suas teorias às evidências,
corrigindo imprecisões e mantendo seu aspecto questionador frente a uma gama de hipóteses
sobre o mundo.
Devido à natureza peculiar do conhecimento científico, suas diversas características revelam o
porquê de ele poder ser considerado como um tipo de conhecimento mais profundo, verdadeiro
e confiável. Embora muitos argumentem que o aspecto autocorretivo seja uma sentença de
risco, o que levaria a duvidarmos cada vez mais do nível de verdade e profundidade desse tipo
de conhecimento, ignora-se que a requerida compatibilidade das teorias com as evidências é o
que aproxima a ciência da descrição mais precisa o possível da realidade.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
O ceticismo científico é uma das características fundamentais da ciência e de toda a atividade
intelectual. O astrônomo e divulgador científico Carl Sagan escreveu uma obra chamada O
Mundo Assombrado Pelos Demônios (2006), em que ele descreve exemplos de aplicação do
ceticismo científico na vida cotidiana. O ceticismo, argumenta Sagan, é uma ferramenta
indispensável para não deixar enganar a nós mesmos.

Qual é a definição de ceticismo científico?

a. Uma abordagem filosófica que adota a suspensão de juízo pela impossibilidade de provar
algum fenômeno.
b. Uma abordagem niilista que considera a ciência isenta de valores.
c. A negação absoluta do conhecimento científico.
d. Uma abordagem que consiste na dúvida metódica ou razoável aplicada a situações e
afirmações destituídas de boas evidências.
e. A crença religiosa no poder da ciência.
Questão 2
A verificabilidade é a noção que advoga a preocupação com o teste experimental. No entanto,
essa posição não pode ser confundida com o verificacionismo do Círculo de Viena e nem com
o falseacionismo do filósofo da ciência Karl Popper.

O que significa verificacionismo?

a. Um critério de demarcação entre ciência e pseudociência.


b. Um critério para verificar através da observação se certos enunciados são significativos.
c. Um critério ético para a ciência.
d. Um axioma matemático.
e. Uma lógica não clássica.
Questão 3
A lógica é uma ciência formal, embora possa ser aplicada na ciência fática com o objetivo de
proporcionar melhor clareza e objetividade para os enunciados científicos. Seu uso evita a
ambiguidade da linguagem ordinária, facilita o entendimento conceitual e impede a contradição
no conhecimento científico. A dialética, por outro lado, tolera contradições e ambiguidades da
linguagem ordinária. No entanto, ela ainda é considerada por muitos como uma ferramenta
essencial para a ciência, os quais acabam ignorando suas implicações com o Princípio da Não
Contradição de Aristóteles e defendendo que ela serve como uma técnica de comparabilidade
entre ideias aparentemente distintas, a partir da qual, de alguma forma, seria possível a
extração de uma nova ideia ou hipótese.

Historicamente, qual pensador é considerado o pai da dialética?

a. Friedrich Hegel.
b. Friedrich Nietzsche.
c. Martin Heidegger.
d. Aristóteles.
e. Heráclito.

REFERÊNCIAS
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014.

CARNAP, R. The Logical Structure of the World and Pseudoproblems in Philosophy. [S.l.]:
Editora Open Court, 2003.

MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução científica.


[S.l.]: Editora Zahar, 2016.

POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013.

SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro.
[S.l.]: Editora Companhia de Bolso, 2006.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

SEM MEDO DE ERRAR


Para resolver o problema, é necessário pensar nas circunstâncias sociais que moldam a
administração e gestão universitária.
Desse modo, pode-se concluir que a pseudociência mantém algum nível de prestígio e lugar na
universidade, não por razões teóricas ou níveis de verdade, mas simplesmente pela pressão
social exercida pelos próprios praticantes da disciplina, de modo que a simples existência de
grupos fechados, onde apenas profissionais certificados da área sejam tolerados, contribui para
o impedimento da livre circulação de ideias sobre os problemas que o campo enfrenta.

Ao impedir que profissionais de outros campos relacionados tenham direito ao debate, como
psicólogos experimentais, neurocientistas cognitivos e biólogos evolutivos, revela-se o
indicador de dogmatismo, que está presente em qualquer pseudociência e visa impedir o
fomento da crítica científica responsável com o objetivo não apenas de análise dos problemas
de um campo, mas também de procurar ajustar suas hipóteses aos melhores dados
disponíveis da investigação comportamental.

Revelados seus aspectos opostos ao do conhecimento científico, justifica-se que um campo ou


disciplina não se constitui de um saber científico autêntico. Então, é necessário também
procurar saber as motivações que os envolvidos na prática teriam apenas para manter o ensino
de psicanálise em instituições de educação, como a questão da remuneração excessiva
envolvida e a reputação da qual gozam em certos setores universitários e da grande mídia.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ANÁLISE DA SUPOSTA REIVINDICAÇÃO CIENTÍFICA POR COACHES
O mundo empresarial está repleto de “choaches profissionais”, que são sujeitos que alegam
dedicar-se ao desenvolvimento cognitivo, comportamental e organizacional da classe
trabalhadora por meio de técnicas que devem ser aplicadas diariamente para maximizar a
capacidade de trabalho. O coaching, porém, não é uma profissão regulamentada e,
constantemente, choca-se com o mesmo tipo de problema que é tratado por profissionais
certificados, como psicólogos, psiquiatras, técnicos de administração e de gestão de empresas.
Os coaches, de forma rotineira, fazem uso do jargão científico, alguns reivindicam até que suas
ideias são compatíveis com a física quântica, com o objetivo de enfatizarem que suas técnicas
possuem respaldo da ciência. Com base no que você aprendeu ao longo do livro, como alguém
poderia saber se as reivindicações dos coaches são realmente baseadas em evidência?

RESOLUÇÃO
O primeiro indicativo de que o coaching não é baseado em evidência é a falta de
regulamentação profissional para um campo que reivindica técnicas para a saúde mental, a
segurança e a gestão no trabalho.

O segundo indicativo é o excesso de autodenominados coaches que alegam possuir técnicas


próprias e/ou originais baseadas em ciência, porque uma técnica testada não é um produto
“original”. Uma técnica baseada em ciência geralmente é aperfeiçoada ao longo do tempo, por
mais de uma pessoa, de modo que sua originalidade individual é extirpada pelo enriquecimento
da contribuição coletiva da ciência. No entanto, os coaches não alegam que sua técnica foi
produto de estudo colaborativo da ciência, embora reivindiquem o status de cientificidade.
O terceiro indicativo é a busca por papers, ou seja, artigos científicos que são publicados em
revistas acadêmicas especializadas. Esses papers passam por um processo de revisão por
pares, que é basicamente um processo de crítica responsável feita por pesquisadores
independentes para avaliar a consistência dos dados com a hipótese proposta e procurar
possíveis indicações de fraudes e/ou falhas metodológicas ao longo da estrutura do trabalho
submetido. Se o coaching, por exemplo, não tem trabalhos publicados em revistas
especializadas com alto fator de impacto, confirmando assim suas principais hipóteses, então o
campo é qualquer coisa, exceto ciência e técnica baseada em evidência.

O quarto indicativo é o apelo à física quântica, uma falácia lógica contemporânea, que consiste
em reivindicar a autoridade da teoria quântica para supostamente embasar alguma afirmação
extraordinária. Pelo fato de a física quântica possuir uma matemática complexa, ela geralmente
acaba sendo mal compreendida pelo público leigo, de modo que hoje coaches e outros
pseudocientistas a invocam para explicar qualquer coisa sobre o mundo. A física quântica, no
entanto, não lida diretamente com aspectos comportamentais dos seres humanos e nem
endossa qualquer alegação de autoajuda individual e empresarial. Ela também não diz nada
sobre o pensamento alterar a realidade. Normalmente, a física quântica lida com o estudo de
objetos pequenos, como campos e partículas elementares, bem como algumas de suas
aplicações para estudar fenômenos biológicos (como a bússola magnética dos pássaros) e
químicos. Essas concepções equivocadas da teoria quântica surgem de uma confusão
envolvendo o conceito de observador (uma noção propagada pelo documentário
pseudocientífico Quem Somos Nós, de 2004), que, contrariamente à crença popular e ao
significado da linguagem ordinária, não significa consciência, pensamento ou seres humanos,
mas, sim, instrumento de medida – ou seja, o aparato técnico que faz a medição da partícula.
Então, quando um suposto profissional diz que a física quântica explica o comportamento, a
sociedade, a mente, ou que ela alega que o pensamento pode mudar realidade, significa que
essa pessoa não entende de física quântica ou está sendo bem mal-intencionada para vender
alguma receita milagrosa e, consequentemente, falsa.

Por conta desses indicativos, é razoável supor, com um grande nível de certeza, que a
disciplina reivindicada, como o coaching (autoajuda empresarial), constitui um exemplo de
campo não baseado em evidência. Mais ainda, em razão de o campo apelar à ciência para
justificar suas alegações que carecem de evidências (ou simplesmente são falsas), é seguro
sentenciar que o coaching constitui um exemplo de pseudociência.

NÃO PODE FALTAR


COMO AGIR COM ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira
PRATICAR PARA APRENDER
Provavelmente, em algum momento de sua vida, você já pensou sobre as possíveis
consequências éticas do uso de animais na pesquisa científica, ou mesmo sobre os
experimentos nazistas com humanos. Com base nesses exemplos, é possível que você tenha
considerado que a ciência poderia estar isenta de princípios éticos, ao menos é o que algumas
pessoas defendem.

No entanto, será que a ciência é um “tudo vale”, em que reflexões sobre a ética e a saúde dos
indivíduos ou animais de laboratórios não são consideradas? Será que a ética representa um
empecilho para o desenvolvimento pleno da ciência? Até que ponto devemos estar cientes da
importância dos postulados éticos que norteiam a pesquisa científica?

Na corrida não apenas por um entendimento profundo sobre doenças emergentes, mas
também pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas, certos protocolos éticos
desempenham sua importância na investigação científica. Além disso, a ética, enquanto campo
de investigação, tem conseguido acompanhar a ciência com o objetivo de enriquecê-la ao
estudar seus potenciais problemas éticos.

Com base no estudo recíproco entre ciência e ética, alternativas cada vez mais humanísticas
para o estudo em laboratório têm sido apresentadas, com o objetivo de evitar o uso e o teste
desenfreados com animais. Mesmo o campo da tecnologia, que mantém uma relação bilateral
com a ciência, também tem levado em consideração o raciocínio ético, principalmente ao
pensar nas possíveis consequências sobre o desenvolvimento de armas e robôs
automatizados em um contexto de guerra.

Aqui, convido você a concentrar-se nos fundamentos éticos da pesquisa científica, analisando
seus possíveis impactos e benefícios no desenvolvimento da ciência.

Um grupo de cientistas quer investigar o cérebro humano e, para isso, eles lançam uma ficha
de inscrição solicitando voluntários para sua pesquisa. A pesquisa é apresentada como tendo
grande potencial para a área da saúde, com o objetivo de testar um futuro medicamento para a
doença de Alzheimer. No entanto, a ficha de inscrição não diz nada sobre os possíveis riscos
aos voluntários ao serem submetidos ao teste experimental. Em resumo, não há avaliação dos
riscos sendo apresentada para os voluntários.

Mesmo na ausência de protocolos de riscos, diversos voluntários assinam a ficha de inscrição


com o objetivo de contribuírem para a ciência. Então, o grupo de cientistas inicia sua pesquisa
neurocientífica.

No experimento, os cientistas dividem seus voluntários em dois grupos: o grupo A e o grupo B.


O grupo A recebe uma droga com potencial de reparar danos nas células cerebrais e
maximizar a memória, enquanto o grupo B recebe placebo. Quem está incumbida de ministrar
os comprimidos é uma enfermeira voluntária.
No decorrer do experimento, o grupo A começa a relatar cefaleia, náuseas, vômitos, diarreias e
perda de apetite. O grupo B, no entanto, relata apenas uma sensação de relaxamento. Então,
após os cientistas decidirem dosar uma segunda leva de comprimidos, ocorre a morte de um
voluntário no grupo A.

O grupo de cientistas, então, decide que o experimento deve ser encerrado, por conta da morte
e dos efeitos graves provocados pela ingestão da substância.

acordo com a situação-problema, quais foram as violações éticas que o grupo de cientistas
cometeu e que contribuíram para o fracasso do experimento científico?

O progresso científico, guiado pelos princípios morais delineados nos demais mandamentos, é
a condição indispensável do progresso humano e das liberdades individuais e por isso ele não
será jamais obstado por qualquer princípio religioso, por relativismos culturais ou
particularismos sociais que possam existir."

Richard Dawkins.
CONCEITO-CHAVE
A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA: A QUESTÃO DOS VOLUNTÁRIOS
A ética é um campo de conhecimento filosófico que estuda os princípios éticos. No entanto,
existe também uma ética científica, que é o enfoque multidisciplinar que, em conjunto com a
ciência, busca avaliar a plausibilidade da adoção de certos princípios éticos e normas sociais.
No geral, esse campo pode ser visto como o estudo do comportamento moral com base na
antropologia, na psicologia, na sociologia e na história, tratando de abordar o surgimento, a
manutenção, a reforma e o declínio das normas sociais, enquanto a ética filosófica analisa
conceitos éticos, como altruísmo, bondade e cooperação, bem como filosofias éticas ou
simplesmente preceitos morais, ou seja, ações justificadas por princípios éticos filosóficos que
podem ser benéficas ou nocivas para outras pessoas.

A ética também estuda a ciência – especialmente, as normas éticas que vigoram na


comunidade científica. Ela estuda ainda o impacto ético de certos estudos que são feitos com
animais e humanos. Além disso, a ética está interessada no comportamento inadequado
durante o desenvolvimento de uma pesquisa – principalmente, na motivação do cientista em
fraudar resultados. De fato, a ética é uma disciplina abrangente por conta de sua ampla gama
de problemas estudáveis, sobretudo da ciência.

Entre os diversos problemas éticos que advém da atividade científica, três merecem atenção: a
questão do consentimento dos voluntários para o desenvolvimento de uma pesquisa, o
problema da preservação de identidade e integridade e, por último, a relação entre voluntários
e pesquisadores no decorrer da investigação científica.

O primeiro problema ético, que envolve a questão do consentimento dos voluntários, refere-se
à autorização prévia de uso de certos dados dos participantes na pesquisa científica. De outro
modo, uma pesquisa que utiliza de forma indevida dados de seus voluntários sem o
consentimento necessário está violando princípios éticos e, consequentemente, prejudicando a
qualidade da pesquisa.

O segundo problema ético, referente à preservação de identidade e integridade, refere-se à


proteção de informações sensíveis dos participantes de um estudo experimental. Também se
refere ao princípio de que os participantes devem estar cientes dos riscos envolvidos no teste
experimental do qual serão voluntários – nesse caso, é importante deixar claros os possíveis
riscos trazidos aos voluntários ao se submeterem ao experimento.

O terceiro problema ético envolve a relação entre voluntários e pesquisadores. Nesse sentido,
o problema mais evidente é a possível manipulação do comportamento dos voluntários de
acordo com a intenção do cientista de obter um resultado específico em um estudo clínico. Por
exemplo, um voluntário poderia agir de acordo com as expectativas do pesquisador ao ser
submetido a um teste clínico para investigar a eficácia de algum fármaco – o que,
consequentemente, enviesaria os resultados, prejudicando a qualidade da evidência. O
voluntário poderia dizer que, ao ingerir o fármaco testado, ele conseguiu obter os melhores
benefícios à saúde, mesmo que o relato, de fato, não proceda. Portanto, durante a condução
de testes clínicos, principalmente no âmbito da saúde, é necessário que os voluntários sejam
selecionados de forma aleatória (randomizados), que exista uma amostragem significativa para
ser representativa e, mais ainda, que existam grupos de controle de placebo – especialmente
para identificar a possibilidade de o resultado obtido sobre a eficácia do fármaco ser
estatisticamente significativo quando comparado ao grupo que tomou placebo (por exemplo,
uma pílula de farinha que visivelmente parece ser o fármaco real, mas sem suas propriedades
farmacológicas).

ÉTICA COM OS DADOS DA PESQUISA


A ética também está relacionada à forma como o trabalho científico é produzido e apresentado
na hora da avaliação pelos pares, de modo que plágios, manipulações de dados estatísticos e
falsificações não são tolerados quando descobertos pelos revisores. Na pseudociência,
acontece o contrário: a manipulação e falsificação de dados é sempre tolerada em nome do
convencimento público em favor de uma hipótese. Por exemplo, o caso envolvendo o hoteleiro
Erich von Däniken, autor do livro Eram os Deuses Astronautas? (2018), que falsificou dados
para apoiar a sua reivindicação de que os alienígenas teriam visitado a Terra no passado e
ajudado as civilizações antigas a construírem artefatos megalíticos; e o caso relatado pelo
crítico literário Frederick Crews, em seu livro Freud: The Making of an Illusion (2017), que
expõe diversas fraudes cometidas pelo médico e neurologista Sigmund Freud no decorrer da
história da psicanálise – especialmente, quando Freud mentiu sobre os benefícios da cocaína
em pacientes viciados em morfina, ou quando se apropriou dos escritos de outros autores que
já haviam produzido trabalhos sobre o inconsciente e quando reforçou, sem qualquer
evidência, a histeria como um comportamento estereotipado do sexo feminino.

A parapsicologia é um excelente exemplo histórico que mostra como a ética pode ser vital para
a questão da validade de um campo de investigação, pois é uma disciplina que nasceu no
século XIX como sendo um exemplo de ciência, mas que caiu no esquecimento após um
enriquecimento de seus protocolos éticos de pesquisa. Basicamente, a parapsicologia nasceu
com o objetivo de estudar o suposto fenômeno paranormal, que era tratado como real pelos
parapsicólogos. No entanto, com o auxílio de mágicos e ilusionistas entre o final do século XIX
e início do século XX, como o famoso cético Harry Houdini, o fenômeno paranormal começou a
ser identificado como meros truques de ilusão, sendo apenas produtos de fraude intencional,
nos quais os cientistas acreditavam porque não estavam instruídos sobre seus pontos cegos.
Com a orientação de Houdini e, muito mais tarde, de outros mágicos que surgiram em meados
dos anos 1980, como James Randi, os protocolos de pesquisa científica de pesquisa
parapsicológica começaram a ser projetados por ilusionistas e céticos interessados nesse tipo
de investigação. Após a implementação desses protocolos, seguida pela constante revisão de
estudos do campo da parapsicologia, absolutamente nenhuma evidência foi encontrada a favor
do suposto fenômeno paranormal. Desde então, estudos do campo da ética sobre a pesquisa
científica têm utilizado a parapsicologia como um expressivo exemplo de como fraudes e
manipulação de dados levam à degradação de um campo de investigação e à consequente
classificação de pseudociência, pois ainda que a hipótese do fenômeno paranormal nunca
fosse confirmada experimentalmente, os parapsicólogos, caso estivessem orientados pela ética
em sua pesquisa, poderiam realizar estudos investigando os fatores sociais que levariam as
pessoas a acreditarem em crenças paranormais ou espirituais, sem precisarem pressupor que
elas são reais.

Na comunidade científica, esses exemplos de comportamentos antiéticos não são tolerados


sob nenhuma forma – por isso, nenhum astrônomo ou astrobiólogo responsável considera
como plausível a noção de que extraterrestres já visitaram a Terra; nenhum filósofo científico,
psicólogo experimental ou neurocientista cognitivo considera a psicanálise como um campo
válido do conhecimento científico; e, claro, nenhum físico ou psicólogo experimental considera
a parapsicologia uma ciência.

Um trabalho científico orientado eticamente é original, com dados normalmente refletindo as


consequências reais do estudo. De fato, podem ocorrer casos em que os revisores
independentes encontram falhas, mas um cientista que preza pela ética buscará corrigir o
trabalho que apresentar problemas. Também é possível a violação dessas condutas éticas
durante a investigação científica, mas quando isso acontece, os pesquisadores são punidos,
em vez de recompensados – por exemplo, na pseudociência, como nos casos de Däniken e de
Freud, eles são considerados revolucionários, em vez de charlatões, pelo grande público.

ASSIMILE
A ética é um campo de investigação filosófico que pode usar os dados da ciência para avaliar
princípios éticos ou normas sociais.
A ética também é um princípio filosófico que norteia a pesquisa científica, de modo que não é
possível a existência da ciência sem princípios éticos ou normas sociais (como o ethos da
ciência clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton).
Apenas a pseudociência negligencia os princípios éticos, de modo que a trapaça é considerada
válida para moldar a crença ou opinião de algum indivíduo.
ÉTICA COM O RIGOR CIENTÍFICO
A atitude ética na investigação científica representa o cuidado que os pesquisadores devem ter
ao elaborarem seus projetos de pesquisa, pois existem órgãos reguladores que avaliam as
consequências sobre certos tipos de estudos que usam animais e humanos – por exemplo,
estudos com impactos nocivos à saúde dos indivíduos geralmente não são aprovados,
especialmente por conta de experiências relatadas anteriormente em investigações
psicológicas, como o famoso experimento de aprisionamento de Stanford, cujo objetivo era
analisar o comportamento humano numa sociedade na qual os indivíduos eram apenas
definidos pelo grupo. Esse experimento teve que ser interrompido bem antes de sua conclusão
porque os voluntários começaram a usar formas de tratamento abusivas com outros
participantes, como violência física e verbal.

A orientação ética na pesquisa científica destaca que o cientista também deve ter cuidado
durante a coleta de dados, de modo a evitar possíveis contaminações e/ou enviesamento
cognitivo, pois poderiam prejudicar a qualidade do trabalho. Resultados obtidos de forma
duvidosa levam ao desperdício de recursos essenciais – às vezes, dinheiro público –, que
poderiam ser usados em pesquisas mais bem projetadas. Por essa mesma razão, a replicação
de estudos é vista como uma tarefa fundamental para identificar o risco de contaminação e
enviesamento nos resultados de um estudo individual.

Um cientista deve ser orientado pelos riscos que uma pesquisa malfeita pode trazer a longo
prazo, principalmente em uma sociedade com recursos escassos que esteja passando pelo
enfrentamento de crises econômicas ou pandemias. A ética revela o nível de responsabilidade
do cientista com sua produção intelectual, de modo que negligenciá-la só contribuirá para a
justificação ideológica de corte orçamentário da pesquisa científica – pelo menos, é o pretexto
mais frequentemente utilizado por governos anticientíficos, pois não enxergam a ciência como
um investimento vital para o progresso social, mas como um gasto desnecessário, sob a
desculpa do suposto excesso de fraudes, vieses cognitivos e erros ao longo da história da
ciência.

REFLITA
Qual lição podemos aprender ao adotarmos princípios éticos na elaboração das pesquisas
científicas?
Como a ciência pode contribuir com a ética?
Por que a rejeição dos princípios éticos leva ao florescimento da pseudociência?
INSTÂNCIAS ÉTICAS
Quando um cientista é denunciado por fraude, uma comissão de ética pode ser convocada
para analisar o caso, podendo ocorrer até a perda da titulação acadêmica do pesquisador. Em
outras situações, dependendo do nível da ocorrência, a retratação pública do próprio cientista
pode ser vista como suficiente em um caso não intencional de erro na elaboração de sua
pesquisa.

Órgãos regulatórios também contribuem para analisar de que forma os animais usados em
experimentos estão sendo tratados, de modo que a violência e o sofrimento não são toleráveis
no ato da pesquisa científica. A violação das normas éticas de proteção animal pode levar ao
encerramento imediato da investigação científica e o autor poderá responder a processo por
conta dessa violação – além, é claro, do possível impedimento no exercício de futuras
pesquisas experimentais.

Finalmente, os cientistas adotam tacitamente um conjunto de princípios éticos em comunidade,


também chamados de ethos da ciência – primeiramente percebido e estudado pelo sociólogo
da ciência Robert K. Merton –, que consistem em universalidade, desinteresse, ceticismo
coletivo, comunismo epistêmico e originalidade. A universalidade se refere à ciência poder ser
praticada por qualquer pessoa, independentemente de sua etnia ou localização geográfica. O
desinteresse se refere à necessidade de os anseios coletivos estarem acima dos interesses
individuais/privados. O ceticismo coletivo (ou ceticismo científico) se refere à dúvida metódica,
em que hipóteses e teorias são sujeitas à crítica responsável pela comunidade científica. O
comunismo epistêmico, que não tem nenhuma relação com o conceito de comunismo político,
refere-se à noção de que a ciência é uma propriedade de todos, acessível a todos,
independente da situação socioeconômica. Por último, mas não menos importante, a
originalidade se refere ao estimulo à produção de novas pesquisas e teorias.

EXEMPLIFICANDO
A ética orienta os cientistas na produção de pesquisas mais sofisticadas, proporcionando o
conhecimento dos impactos que afetariam sua qualidade.
A ética é um incentivo na busca pela verdade, porque contribui para a rejeição de atitudes que
possam levar ao comportamento fraudulento.
Existem órgãos e comissões de ética responsáveis por avaliar um projeto de pesquisa, tendo a
cautela de olhar para a questão do cuidado animal e humano na investigação científica.
A ética é o princípio norteador da investigação científica, contribuindo não apenas para a
elaboração de pesquisas mais bem executadas, mas também para que os cientistas
mantenham um elevado nível de responsabilidade com seus projetos experimentais. Sem ética,
a ciência não seria possível, pois a preocupação coletiva com a saúde dos indivíduos,
sobretudo dos voluntários de pesquisa, seria substituída pelo interesse individual. O princípio
ético humanista, cultivado nas ciências da saúde e na prática da medicina, seria substituído
pelo comercialismo. A preocupação com a verdade daria cada vez mais espaço para a
necessidade de ganho financeiro elevado. Portanto, uma disciplina ausente de princípios
éticos, principalmente em nível de comunidade, não pode ser considerada uma ciência, mas
uma pseudociência em sua mais pura essência.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A ética é um campo de investigação filosófico e, ao mesmo tempo, o princípio que norteia a
atividade científica. Ela contribui de diversas formas para o conhecimento científico e
tecnológico e tem servido como indicador em inúmeros trabalhos de filosofia da ciência para
detectar produções de qualidade altamente duvidosa e disciplinas com tendências
pseudocientíficas. Inclusive, a ética já foi usada em conjunto com procedimentos experimentais
para avaliar os experimentos conduzidos por um campo que nasceu como ciência, mas se
tornou pseudociência.

Qual é o campo que nasceu como ciência e se tornou pseudociência com a aplicação de
princípios éticos na avaliação dos trabalhos experimentais?

a. Astronomia.
b. Psicologia.
c. Psicanálise.
d. Ufologia.
e. Parapsicologia.
Questão 2
O ethos da ciência é o conjunto de princípios éticos ou normas sociais que norteia toda a
comunidade científica. Esses princípios são conhecidos como Normas de Merton. No entanto,
existem também as chamadas contranormas, que são atitudes as quais não se esperam de
uma comunidade científica. Algumas dessas normas opostas às da ciência são facilmente
identificáveis em exemplos de pseudociência.

Quais são as contranormas identificadas pelo sociólogo da ciência Robert K. Merton?

a. Ceticismo, comunismo, desinteresse e originalidade.


b. Dogmatismo, isolamento, particularismo e desinteresse.
c. Dogmatismo, isolamento, particularismo e interesse.
d. Ceticismo, socialismo, comunismo e desinteresse.
e. Dogmatismo, comunismo, ceticismo, individualismo.
Questão 3
Os princípios éticos norteiam não apenas a prática da atividade científica, mas também a
atividade médica, pois levam aos médicos e pesquisadores a reflexão sobre a importância de
todos os envolvidos numa pesquisa médica. O princípio ético humanista, por exemplo, enfatiza
que a prática médica deve ser vista como destituída de motivações financeiras, de modo que
seu foco é centrado no bem-estar, e não no lucro comercial.

Por que os princípios éticos são essenciais para a elaboração de experimentos nas ciências da
saúde?

a. Os princípios éticos levantam preocupações legítimas sobre os potenciais riscos envolvidos


no quadro de saúde dos voluntários e auxiliam na informação prévia para consentimento das
pessoas que participarão dos experimentos como voluntárias.
b. Os princípios éticos servem para alertar os voluntários de que a ciência não é confiável.
c. A ciência funciona de forma isenta de valores e princípios éticos.
d. Os princípios éticos são adotados durante a investigação pseudocientífica.
e. Os princípios éticos não desempenham nenhuma tarefa na ciência, pois são considerados
exemplos que freiam o progresso científico.
REFERÊNCIAS
BUNGE, M. Ética, ciencia y técnica. [S.l.]: Editora Sudamericana, 1996.

BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 2014.

MERTON, R. K. Sociologia: teoria e estrutura. [S.l.]: Editora Mestre Jou, 1968.

SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro.
[S.l.]: Editora Companhia de Bolso, 2006.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


COMO AGIR COM ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

SEM MEDO DE ERRAR


Ocorreram diversas violações éticas no desenvolvimento do projeto de pesquisa e na forma
como foi apresentada a ficha de inscrição para os voluntários.

Primeiro: os cientistas desconsideraram potenciais riscos na ingestão da substância prometida


para contribuir para a melhora cognitiva. Em uma pesquisa científica, os cientistas devem
avaliar as condições de risco, incluindo possíveis sintomas e a possibilidade de morte de
voluntários.

Segundo: o grupo não deixou totalmente claros os eventuais riscos aos quais os voluntários
estariam expostos ao participar da pesquisa científica. Na investigação científica, os riscos
devem ser claros para os voluntários que decidirem participar, até mesmo para se avaliar a
compatibilidade do grupo-alvo com o objetivo da pesquisa e salientar possíveis problemas de
saúde dos participantes, já que integrar a pesquisa poderia contribuir para seu agravamento
clínico.
Terceiro: o experimento não deveria seguir sem a aprovação de uma comissão regulatória de
ética. Normalmente, os cientistas interessados em testar a eficácia de alguma substância
devem submeter seus protocolos com o “desenho” de pesquisa (projeto experimental),
destacando os objetivos e os possíveis riscos à saúde dos voluntários. Além disso, o projeto
deve passar por uma banca para avaliação e, consequentemente, aprovação, rejeição ou
melhor adequação com os protocolos éticos de pesquisa biomédica.

Um experimento bem projetado informaria os participantes com os dados necessários sobre os


possíveis riscos de participação causados pelos experimentos, utilizando uma linguagem clara
e solicitando consentimento para uso e extração de dados relevantes para o desenvolvimento
do estudo. Além disso, o grupo de cientistas submeteria o projeto de pesquisa a uma comissão
de avaliação para averiguar a adequação aos protocolos éticos de investigação científica.
Dessa forma, punições por não cumprimento de normas da pesquisa científica seriam evitadas.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A EMPRESA QUE BUSCOU ESTUDAR O COMPORTAMENTO DE SEUS FUNCIONÁRIOS
Uma empresa estava interessada em estudar o comportamento de seus funcionários durante o
horário de trabalho, na intenção de usar os resultados para estabelecer políticas mais efetivas
que ajudassem a maximizar a produtividade de cada setor. Então, a empresa decidiu: (A)
monitorar o acesso, (B) filmar as expressões faciais com a webcam dos computadores, (C)
instalar escutas em cada computador e (D) monitorar à distância a tela dos celulares. A
empresa conseguiu: (A) registrar dados de login dos usuários, com base no monitoramento de
acesso; (B) detectar expressões faciais de insatisfação após receberem a ordem de um chefe;
(C) ouvir a insatisfação dos funcionários com o trabalho, o chefe e as políticas da empresa,
bem como registrar conversas de natureza altamente íntima; e (D) capturar mensagens
privadas de funcionários, trocadas com suas famílias e amigos.

Em seguida, a empresa, com base nos dados recolhidos, decidiu demitir os funcionários
insatisfeitos por justa causa, fortificou as políticas de monitoramento e começou a oferecer
recompensas financeiras para quem conseguisse ser mais produtivo durante o mês.

Com base no que foi visto no texto, a empresa agiu de forma ética? Justifique sua resposta.

RESOLUÇÃO
A empresa não agiu de forma responsável, porque violou diversos protocolos éticos e a
privacidade de seus funcionários ao capturar dados particulares sem qualquer consentimento,
incluindo informações sobre a vida privada e dados de acesso de contas não correspondentes
aos serviços da empresa. A empresa também agiu de má-fé ao decidir demitir os funcionários
insatisfeitos, ao invés de ter sido mais clara e aberta sobre seus objetivos profissionais e
estratégicos para aumentar a produtividade
A empresa poderia, por exemplo, criar uma enquete em que os funcionários pudessem opinar
sobre o que contribuiria para elevar seus níveis de produtividade no trabalho. Com base nos
resultados, ela poderia propor políticas mais eficazes, sem a necessidade de violar a
privacidade e a conduta ética de seus funcionários – evitando, inclusive, a recolha de dados
que sequer seriam úteis para a proposta inicial do estudo da empresa.

NÃO PODE FALTAR


QUAIS OS PRINCIPAIS TIPOS DE PESQUISA?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

CONVITE AO ESTUDO
Caro aluno,

Veja como a ciência está em todos os lugares. Hoje, ela é um dos elementos mais básicos em
todos os aparatos tecnológicos, como no celular, na televisão, no computador e,
principalmente, nos dispositivos de GPS.

No entanto, todos esses aparatos tecnológicos não surgiram do nada. Essas tecnologias são
produtos de investigações científicas mais elementares, principalmente com base no estudo
com partículas elementares, estudo exige a adoção de um método para avaliar o nível de
verdade das hipóteses e das teorias.

Esse é o método científico. Embora muito pouco compreendido, ele também nos auxilia na
hora de avaliarmos afirmações que nos parecem duvidosas, como quando vamos avaliar a
existência de evidência para alguma substância ou terapias que nossos amigos e familiares
nos recomendaram para um problema específico.

Devido ao fato desse momento único na história ser altamente dependente da ciência e
tecnologia, é necessário entendermos como o conhecimento científico é produzido, quais
passos nos levam cada vez mais próximos à verdade e, principalmente, quais os limites desse
tipo único de conhecimento – é isso que veremos ao longo desta unidade.

PRATICAR PARA APRENDER


Você sabe o que é o método científico? Talvez você já deve ter pensado que é uma fórmula
secreta para produzir conhecimento científico. Uma sugestão para essa resposta é geralmente
apresentada em diagramas e infográficos, que reduzem a concepção de método científico a
algo análogo a uma receita de bolo, porém, isso não é uma representação fidedigna do método
científico nem representa o grau mais elementar da pesquisa científica.

O método científico, que será apresentado ao longo do livro, deve ser visto como um conjunto
de procedimentos teóricos, experimentais e, principalmente, éticos, que podem ser usados não
apenas na ciência, mas na filosofia, tecnologia e até mesmo na vida cotidiana para a resolução
de problemas.
Um exemplo de aplicação do método científico na vida cotidiana para avaliação de um
problema é na hora de averiguar a plausibilidade da reivindicação de um farmacêutico que
tenha como objetivo vender um produto homeopático ou qualquer tipo de medicina alternativa.
Para isso, seria necessário apenas um celular com acesso à internet para consultar –
especialmente, na base de dados de um periódico de medicina baseada em evidências –
estudos de revisão de literatura científica, com o objetivo de extrair da conclusão a resposta
mais adequada para contrastar com a reivindicação do farmacêutico. Suponha-se, para fins
didáticos, que o farmacêutico tenha afirmado que a homeopatia é recomendada para a gripe,
sobretudo, para melhorar o sistema imunológico, enquanto que o estudo de revisão aponta
que, com base na avaliação de 500 estudos randomizados e com controle de placebo, a
homeopatia não tenha apresentado nenhum efeito clínico significativamente estatístico. A partir
dessa informação, você pode desconsiderar a afirmação do farmacêutico e,
consequentemente, evitar que seu dinheiro seja desperdiçado com homeopatia e outros tipos
de pseudomedicinas.

Porém, existem diversas outras formas de avaliar certas reivindicações, principalmente com
base na realização de pesquisas experimentais. Devido à abrangência dos diferentes tipos de
técnicas e metodologias científicas, bem como de sua importância na vida cotidiana, convido-
lhe a mergulhar no processo de construção do conhecimento, analisando suas diferentes
abordagens na solução de problemas.

Um grupo de cientistas quer investigar os possíveis efeitos da homeopatia no organismo de


pessoas com gripe. Para isso, o grupo decidiu fazer uma pesquisa exploratória - especialmente
um ensaio observacional.

Os cientistas selecionaram cerca de 20 voluntários gripados para ingerir doses de comprimidos


homeopáticos. Cerca de 4 horas após a ingestão de substâncias homeopáticas, os
pesquisadores perguntam aos voluntários o que eles sentem. Todos eles, sem exceção,
relataram algum nível de melhoria em sua condição de saúde.

Então, os pesquisadores encerram o experimento e escrevem suas descobertas em trabalho


formalizado e, consequentemente, submetem para uma revista científica.

Tendo como base a descrição desse tipo de experimento, é seguro afirmar que ele foi bem
conduzido?

O método científico é comprovado e verdadeiro. Não é perfeito, é apenas o melhor que temos.
Abandoná-lo, junto com seus protocolos céticos, é o caminho para uma idade das trevas."

Carl Sagan
CONCEITO-CHAVE
TIPOS DE PESQUISAS CIENTÍFICAS
Há diversos tipos de pesquisas científicas, cada qual com seus objetivos, particularidades e,
principalmente, objetos de estudos. A diversidade da pesquisa científica permite estudar
diversos problemas, da origem do Universo ao comportamento humano, também permite
estudar um mesmo problema sob diferentes perspectivas metodológicas, com o objetivo de
enriquecer o conhecimento científico, proporcionando uma visão de mundo mais ampla e
consistente com as evidências científicas.

Por causa dessa ampla variedade metodológica de pesquisas, uma consequência inevitável é
o investimento diversificado para cada tipo de pesquisa, de modo que um físico experimental,
por conta da necessidade de instrumentação adequada e a necessidade de exportar ainda
mais ferramentas para empreender sua pesquisa, acaba recebendo mais verba para sua
pesquisa do que um filósofo ou sociólogo literário, que desenvolve pesquisas de cunho teórico,
geralmente revisando a literatura acadêmica vigente para desenvolver seu trabalho.

Isso, no entanto, contribui para uma visão valorativa incorreta da ciência - especialmente pela
crença de que maior investimento em uma ciência é um critério que define sua qualidade
metodológica ou seu nível de importância. Um exemplo didático que refuta essa concepção
equivocada da ciência é dado por cientistas e filósofos, que desenvolveram pesquisas
bibliográficas que tinham como objetivo analisar a metodologia de estudos da psicologia
evolutiva sobre a questão da divisão do trabalho, diferenças de gêneros e, sobretudo,
desigualdades sociais.

Esse tipo de estudo da psicologia evolutiva tem tido ampla repercussão e tem sido considerado
útil em decisões políticas que envolvem a possibilidade de rejeitar a implementação de políticas
públicas. Uma ideia constantemente propagada para reforçar a posição contrária às políticas
sociais é de que a pobreza e a desigualdade social estão nos genes, de que políticas sociais
são inúteis e que o quociente de inteligência (Q.I.) é determinado pela genética. No entanto,
diversos cientistas e filósofos têm argumentado amplamente contra a metodologia desses
estudos dizendo que “são apenas histórias”, ou seja, que não possuem qualquer tipo de
correspondência empírica entre a hipótese e a afirmação do qual os proponentes do campo
defendem. Por causa dos críticos da psicologia evolutiva que enfatizaram sobre o possível
impacto da implementação de ideias “evolutivas” no âmbito político, os cientistas e filósofos
contribuíram para reforçar a importância das ciências sociais – mesmo com o campo
recebendo pouca verba para a pesquisa e sendo constantemente ameaçado por ideólogos e
pseudocientistas.

Os tipos diversificados de pesquisas científicas incluem a pesquisa bibliográfica, a pesquisa


documental, a pesquisa de campo, a pesquisa de laboratório, a pesquisa qualitativa, a
pesquisa quantitativa, a pesquisa exploratória, a pesquisa descritiva e a pesquisa explicativa.
Cada tipo de pesquisa tem sua importância dentro da ciência, mas elas também podem ser
conduzidas em outros campos de conhecimento, como na filosofia, no jornalismo e,
principalmente, na tecnologia - especialmente nas tecnologias sociais, como a administração, o
direito e a pedagogia.
A pesquisa bibliográfica, utilizada amplamente em estudos de revisões de literatura científica,
refere-se a um tipo de estudo que busca consultar amplas bases de dados, sobretudo
indexadores de artigos científicos e livros-textos com o objetivo de procurar saber o quanto um
problema já foi estudado e o quão significativo é a sua evidência. Um exemplo prático desse
tipo de estudo é quando o objetivo do pesquisador é identificar a reivindicação de eficácia de
alguma terapia ou técnica médica para algum problema de saúde. O pesquisador, dessa
maneira, consulta a base de dados, filtra os resultados de buscas, escolhe os estudos, analisa
suas discrepâncias metodológicas, emprega uma técnica estatística adequada e extraí a
porcentagem de evidência resultante da revisão dos estudos selecionados. Digamos, por
exemplo, que o cálculo estatístico, após a análise dos estudos selecionados, revelou que a
acupuntura não produziu nenhum efeito clínico estatístico significativo para o tratamento da dor
lombar. Então, o autor adiciona sua metodologia, procedimento e conclusão em sua pesquisa
bibliográfica.

A pesquisa documental é amplamente utilizada na história, porque ela envolve a investigação


primária de algum fenômeno ou ocorrência do passado com base na coleta de documentos,
livros, testamentos, gravações, fotografias, cartas, artefatos e mais outras coisas das quais
seriam úteis na condução da investigação. Ela também tem aplicação no âmbito da
investigação forense, contribuindo para a solução de crimes com base na sua metodologia de
extração de dados com o objetivo de fornecer a melhor evidência para o julgamento criminal.

A pesquisa de campo é importante para estudar fenômenos naturais e climáticos, como a


atividade vulcânica em uma área geologicamente ativa, coletando rochas vulcânicas na área de
ocorrência do evento com o objetivo de estudar sua estrutura, composição e sua possível
utilidade para prever a ocorrências de novas erupções vulcânicas. Esse tipo de pesquisa
também tem utilidade na solução de acidentes tecnológicos, contribuindo, por exemplo, para
decifrar a causa de acidentes aéreos ao analisar o local da queda.

A pesquisa de laboratório é uma forma de estudar problemas de forma direta, com o objetivo
de produzir ou reproduzir pequenas condições em seu objeto de estudo e avaliar suas
possíveis implicações, como para testar a efetividade de uma vacina em camundongos ou
mesmo para reproduzir as circunstâncias ambientais da Terra primitiva com o objetivo de
estudar a origem da vida. Esse tipo de pesquisa também é empregado no campo da
tecnologia, com o objetivo de produzir e testar a segurança dos organismos geneticamente
modificados.

A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os


dados e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da
realidade. Nesse tipo de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem
utilizar estatística inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a
ocorrência de um fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades
sociais e o impacto da implementação de uma política pública.
A pesquisa quantitativa visa a implementação de ferramentas estatísticas para quantificar os
dados e resultados alcançados após a investigação de um fenômeno ou problema da
realidade. Nesse tipo de estudo, também utilizado em ciência social, os pesquisadores podem
utilizar estatística inferencial e deduzida, bem como modelagem computacional para prever a
ocorrência de um fenômeno em termos quantificáveis, como crises econômicas, desigualdades
sociais e o impacto da implementação de uma política pública.

A pesquisa exploratória é uma abordagem inicial para o estudo de um problema ou fenômeno


da realidade. Esse tipo de pesquisa não tem como objetivo proporcionar um conhecimento
aprofundado sobre qualquer coisa. Na sua aplicação na área da saúde, por exemplo, os
pesquisadores utilizam poucos voluntários, uma amostragem pouco ou nada representativa da
população, para testar algum novo medicamento ou terapia. Essa pesquisa serve de base para
outras mais aprofundadas e pode ser facilmente conduzida por alunos de iniciação científica ou
estagiários de laboratórios.

A pesquisa descritiva tem como objetivo interpretar e mapear a ocorrência de um fenômeno


com base em técnicas de observação e análise de dados. Ela pode ser empregada no estudo
de eventos astronômicos, como supernovas, com o objetivo de estabelecer as condições
iniciais do fenômeno e relacionar variáveis para chegar à melhor interpretação dos dados.

A pesquisa explicativa busca estabelecer um conhecimento avançado sobre um fenômeno


natural ou social procurando explicar sua origem, evolução e impacto na realidade. Nesse tipo
de pesquisa, o pesquisador busca analisar a compatibilidade de uma ideia com o conhecimento
do momento, emprega pesquisas empíricas e tenta explicar as causas de um evento. No caso
das ciências naturais, por exemplo, esse evento pode ser a evolução das espécies, com
pesquisadores engajados em fornecer a melhor explicação dos mecanismos envolvidos na
transmissão de genes entre parentescos e sua implicação no comportamento humano. No caso
das ciências sociais, por exemplo, um típico evento estudado são as crises econômicas, com
cientistas tentando identificar as variáveis importantes do sistema político-econômico do
momento a fim de prever quais razões poderiam levar um país ao colapso financeiro.

Cada tipo de pesquisa tem sua importância e utilidade, de modo que elas não podem ser vistas
com base numa visão hierárquica. Todos esses tipos de pesquisa auxiliam a ciência, ajustando
as teorias à realidade e, até mesmo, proporcionando um amplo conhecimento sobre problemas
que ainda não foram explorados.

ASSIMILE
Existem diversos tipos de pesquisas científicas, cada uma com um objetivo específico, que são
igualmente importantes para a construção de conhecimento científico.
Existem diversos modelos de métodos científicos. Entre eles, se destacam o método hipotético-
dedutivo, a falseabilidade popperiana e a concepção bungeana.
O anarquismo epistemológico, cuja a posição é exposta na máxima “tudo vale” ou “qualquer
coisa serve”, é incompatível com a investigação científica.
MÉTODOS CIENTÍFICOS
O “método científico” é um conceito difícil de definir, embora seja constantemente tratado de
forma incorreta e, às vezes, pejorativa. Na literatura filosófica do século XX, por exemplo, o
método científico chegou a ser considerado como um mito, como um elemento não existente
na investigação científica, de modo que essa visão inspirou a ideia de que a ciência é um
campo onde “tudo vale” ou “qualquer coisa serve”, tratando a ciência como um terreno baldio e
equivalente a crenças religiosas, superstições e pseudociências. Essa foi uma visão inspirada
no filósofo austríaco Paul Feyerabend que foi considerada como razoável em determinados
setores das humanidades, bem como no campo da filosofia da ciência, mas incorreta sobre a
ciência e o método científico.

Outras visões de método científico, embora incorretas, também ganharam uma ampla
aceitação nos setores mais atrasados da ciência básica; em particular, duas visões tiveram
uma ampla aceitação: a visão de que a ciência funciona mediante a aplicação do método
indutivo.

Karl Popper foi um dos filósofos mais críticos desse pensamento que buscava comprovar
teorias mediante a observação ou coleta de dados particulares. Isto é, digamos que um
pesquisador tenha observado um grupo de ursos pretos numa floresta e, então, tenha deduzido
uma regra geral de que todos os ursos são pretos. Uma observação de um urso polar no
continente antártico, portanto, falsearia a proposição de que “todos os ursos são pretos”, o que
levaria a um problema epistemológico, conhecido como problema da indução. Popper, então,
estabeleceu que o que determina as condições de cientificidade não é a observação particular
da suposta regularidade de um evento, mas a falseabilidade de uma hipótese ou teoria
científica, ou seja, a hipótese ou teoria científica deveria ter consequências das quais fossem
possíveis de extrair sua refutação.

O exemplo que corrobora com o modelo de Popper é fornecido pelo próprio naturalista inglês
Charles Darwin, em seu livro A Origem das Espécies, que descreve que sua teoria da evolução
poderia ser falseada, caso alguém conseguisse demonstrar que algum órgão complexo existiu
e que não poderia ter sido formado por leves modificações numerosas e sucessivas ao longo
do tempo.

Popper propõe o método hipotético-dedutivo que, em síntese, passa pelas seguintes etapas:

Elaboração do problema (decorrente, muitas vezes, de conflitos de teorias existentes).


Construção de um modelo teórico (em que há a formulação das hipóteses centrais).
Tentativa de falseamento das hipóteses por meio da observação e da experimentação.
Caso a hipótese não seja verificada por meio dos testes, ela estará falseada, exigindo uma
nova reformulação da hipótese ou do problema. Caso ela se supere os testes rigorosos, então
ela estará parcialmente confirmada, mesmo que provisoriamente.

Embora o critério de Popper estivesse alinhado a algumas características das teorias


científicas, como no caso da própria teoria da evolução, ele era insuficiente para demarcar a
ciência de qualquer atividade não científica, na qual inclui não apenas a filosofia, mas também
a pseudociência. Um exemplo é fornecido pelo filósofo Mario Bunge, em sua obra
Pseudociência e Ideologia, que argumenta que levar em consideração a falseabilidade,
enquanto critério de demarcação, exigiria considerar todas as teorias falsas como científicas, e
também exigiria descartar teorias científicas de alto nível que não são falseáveis, como a
Teoria Geral dos Campos e a Teoria Geral da Informação, que, sendo tão gerais, só podem ser
testadas indiretamente por meio de sua especificação.

Em resposta às propostas simplistas de cientificidade, Bunge desenvolveu sua própria tese,


distinguindo o critério de demarcação do modelo de método científico. Para Bunge, o que
demarca a ciência de outros campos cognitivos, como a filosofia e a pseudociência, é a
presença de uma comunidade de pesquisadores, uma sociedade tolerante à atividade
científica, o domínio sobre entidades reais, uma base filosófica (envolvendo a pressuposição de
que [a] o mundo é composto de coisas concretas que mudam, segundo leis, [b] uma
epistemologia realista, [c] um sistema de valores que enaltece a claridade, a exatidão, a
profundidade, a coerência e a verdade, [d] e o ethos da busca livre da verdade), uma base
formal (coleção de teorias lógicas ou matemáticas do momento), uma base específica (coleção
de dados, hipóteses e teorias do momento), uma problemática (problemas cognitivos relativos
à natureza dos objetos concretos), um fundo de conhecimento (específico e acumulado),
objetivos racionais (descobrir ou utilizar leis, sistematizar hipóteses e refinar métodos), uma
metódica bem delineada (procedimentos verificáveis e justificáveis) e um campo cognitivo
sendo componente de um campo de conhecimento mais abrangente.

Bunge considerou o método científico como sendo um conjunto de procedimentos gerais


mutáveis, ajustados para cada problema e objeto estudado, constando com (a) a identificação
de um problema envolvendo o reconhecimento de um fato, a descoberta de um problema e, em
seguida, a formulação do problema; (b) a construção de um modelo teórico envolvendo a
seleção de fatores pertinentes do problema, a invenção de hipóteses centrais e suposições
auxiliares e, principalmente, tradução matemática; (c) a dedução de características particulares
envolvendo a busca por suportes racionais e empíricos, (d) a demonstração da prova ou
evidência da hipótese envolvendo a representação e execução da prova ou evidência, a
elaboração de dados e a inferência da conclusão; (e) a introdução das consequências na teoria
envolvendo a comparação das conclusões com as predições e o reajuste de modelo; e (f),
finalmente, a sugestão referente ao trabalho anterior.

Essas características apresentadas por Bunge também rompem com concepções que levavam
em consideração a unidade do método científico como sendo algo imutável, ou mesmo
semelhante a uma receita de bolo para produzir conhecimento. Para Bunge, o método
científico, mesmo sendo único e universal, deve ser visto como um conjunto de procedimentos
amplos que mudam conforme o tempo e se ajustam a cada ciência em particular, de modo que
a forma como os biólogos investigam microrganismos não envolve o emprego das mesmas
técnicas de investigação utilizadas pelos sociólogos para estudar comportamentos sociais ou
crises econômicas. De fato, há algumas exceções, como o uso de ferramentas matemáticas e
lógicas semelhantes, bem como a atitude de busca pela verdade e admissão de
cognoscibilidade da realidade, mas não é como advogam os naturalistas metodológicos, que
defendem que o método das ciências naturais deve ser o mesmo das ciências sociais. Essa
proposta também rompe com o anarquismo epistemológico de Feyerabend, a ideia segundo a
qual não existiria um método científico e universal, pois Bunge reconhece que ele existe e pode
ser – e está sendo – aplicado para estudar problemas cognitivos, bem como todos os objetos
existentes da realidade, como partículas, elementos químicos, moléculas, planetas, estrelas,
supernovas, microrganismos, cérebros, consciência, comportamento, sociedade, ética,
experiência estética, artes, cultura, política, linguagem, economia, filosofia e muitas outras
coisas, como a própria ciência (sociologia da ciência ou ciência da ciência), diferente da crença
falsa compartilhada em diversos campos das humanidades.

REFLITA
O que torna o método científico uma abordagem confiável?
Qual a importância das revisões sistemáticas no contexto das investigações científicas na área
da saúde?
Quais elementos contribuem para a objetividade científica?
PESQUISA COM PESQUISA: METANÁLISES E REVISÕES
Nenhuma pesquisa individual é suficiente para conduzir ou representar uma verdade no
mundo, pois ela pode estar sujeita a falhas metodológicas, vieses cognitivos e fraudes
intencionais. Também pode ser o caso de um estudo individual ser conduzido sem um grupo de
controle adequado para avaliar de forma rigorosa a efetividade um medicamento ou terapia.
Talvez um estudo individual não tenha uma amostragem suficientemente representativa para a
população, ou pode ser que os animais utilizados para um determinado experimento tenham
predisposição a alguma doença, de modo que um teste experimental poderia não representar
fielmente as possíveis consequências da ingestão de uma determinada substância. Nesse
contexto, entra a importância de conduzir mais experimentos com o objetivo de tentar
reproduzir os mesmos resultados – a tal chamada “reprodutibilidade”.

Na reprodutibilidade, ocasionalmente, ocorre de os cientistas chegarem a resultados


discrepantes do estudo original. Na verdade, tem-se argumentado que a ciência está
enfrentando uma crise de reprodutibilidade por conta das divergências nos resultados
experimentais alcançados por pesquisadores independentes ao tentarem replicar experimentos
anteriores. Por causa dessas diferenças nos resultados experimentais e, principalmente, nas
potenciais falhas metodológicas dos diversos estudos científicos desenvolvidos ao longo dos
anos, tornou-se necessária a utilização de estudos de revisão sistemática para avaliar a
qualidade da evidência produzida ao longo da análise de dezenas, centenas ou mais de artigos
científicos.

Esses estudos de revisão sistemática são extremamente importantes no campo da medicina,


porque, com base neles, é possível identificar potenciais falhas, vieses e limitações nos
estudos realizados até o momento, contribuindo para fornecer uma visão sobre o estado atual
das coisas, como para identificar a qualidade e o nível da evidência produzida até o momento.
Em resumo, a revisão sistemática é um tipo de pesquisa secundária com o objetivo de reunir
estudos semelhantes, publicados ou não, a fim de avaliá-los criticamente e, quando possível,
reuni-los numa ampla análise estatística, chamada metanálise.
A metanálise é uma técnica estatística utilizada para combinar resultados oriundos de
diferentes estudos, geralmente aplicada na revisão sistemática. A metanálise ajuda a extrair
resultados estatísticos com base na análise geral dos estudos. No entanto, a revisão
sistemática pode ser feita de forma independente das técnicas estatísticas, pois não é sempre
possível e nem mesmo adequado aplicá-las em todos os casos.

Existem diversos estudos com medicina alternativa indexados no repositório do PubMed,


revelando possíveis efeitos benéficos à saúde humana, mas isso não significa que esses
estudos tenham sido bem conduzidos. Na verdade, existir um estudo não significa que ele seja
bom nem que seja “científico”, pois a pseudociência também produz estudos, embora de baixa
qualidade, sem o controle adequado, mergulhado em vieses cognitivos e, às vezes, até com
indícios de falsificações. Esse é o caso das medicinas alternativas, como acupuntura,
homeopatia, quiropraxia, naturopatia, ozonoterapia, antroposofia, reiki, cura quântica,
hidroterapia de cólon e, principalmente, psicanálise, que são exemplos típicos de
pseudociências, pseudoterapias ou pseudotecnologias, que negligenciam os resultados
extraídos das revisões sistemáticas, que normalmente revelam que elas não produzem
nenhum efeito estatisticamente significativo, exceto efeitos placebos – que não são causados
pela suposta eficácia da medicina alternativa, mas simplesmente por conta do estado
psicológico do paciente, bem como de sua relação de confiança com seu médico. Efeitos
placebos também não curam absolutamente nada, ao contrário da crença equivocada
amplamente divulgada pelos “médicos alternativos”, o efeito placebo está relacionado
simplesmente ao alívio de sintomas subjetivos, como dor, por exemplo.

As revisões sistemáticas, com ou sem abordagem metanalítica, são necessárias até mesmo na
elaboração de políticas públicas baseadas em evidências, pois, com base nelas, podemos
guiar o financiamento para técnicas e terapias realmente eficazes, evitando o desperdício de
dinheiro público com medicina alternativa e oferecendo o melhor tratamento disponível à
população. Em resumo, as revisões sistemáticas produzem o tipo mais confiável de evidência
científica e podem ser guias úteis em nossas escolhas da vida cotidiana, principalmente
quando estamos procurando cuidados médicos.

ESTRUTURA E ELEMENTOS
O método científico é a estrutura geral da ciência moderna, de modo que não é possível
conceber uma ciência sem método. No entanto, ainda existem mais algumas particularidades,
por exemplo, a estrutura do método científico é ordenada logicamente, o que significa que é
permitido contradição. Consequentemente, a dialética, por violar o princípio da não contradição,
não faz parte da ciência nem do método científico.

Essa estrutura permite que o método científico, enquanto um conjunto de procedimentos


teóricos, experimentais e éticos, seja aplicado na ciência com o objetivo de fornecer a melhor
explicação da realidade. Uma consequência inevitável é que a estrutura do método requer um
nível de compatibilidade das hipóteses com as teorias mais bem confirmadas do momento, o
que significa que uma hipótese deve estar em concordância com as leis que regem o mundo,
portanto, hipóteses sobre a existência de almas, espíritos ou instâncias psíquicas
psicanalíticas, por conflitarem com o princípio de conservação de energia das leis da
termodinâmica, não são científicas, mas pseudocientíficas.

O método científico também faz uso de elementos ou símbolos formais, de modo que é
possível aplicar ferramentas da lógica e da matemática para extrair das proposições a melhor
precisão e objetividade possível, evitando, dessa forma, a ambiguidade da linguagem ordinária
e, principalmente, a armadilha da polissemia com certos conceitos. Além disso, adoção de
certos elementos ou símbolos formais refuta a crença de que não existe objetividade na
ciência.

Mesmo na construção de hipóteses científicas, esses elementos são adicionados ou


incrementados com o objetivo de analisar logicamente a compatibilidade das proposições com
a conclusão. Mas isso não é uma coisa exclusiva da ciência, pois, atualmente, a filosofia
científica é desenvolvida com essas mesmas ferramentas formais e aplica o método científico
para avaliar hipóteses filosóficas pela compatibilidade com o conhecimento científico do
momento.

O entendimento claro, preciso e profundo do conhecimento científico, bem como a capacidade


de comunicar descobertas científicas em diversos países e línguas, é o que revela o aspecto
de objetividade da ciência, que não é apenas possível, mas desejável para evitar a confusão e
o autoengano. O que não devemos fazer é cair no erro de pensar que objetividade é sinônimo
de neutralidade, pois a ciência advoga por princípios éticos de busca pela verdade,
racionalidade, humanismo e comprometimento com a investigação da realidade mediante
contribuição da comunidade científica. Além disso, os cientistas podem ser inspirados por
posições pessoais, bem como políticas, ideológicas e religiosas, de modo que essas posições
possam contribuir com alguma nova ideia para resolver um problema. Então, a ciência não é
neutra, mas isso não significa que as ideologias pessoais dos cientistas determinem o que é
verdade, pois a ciência, enquanto comunidade, advoga por princípios éticos que neutralizam as
preferências individuais dos pesquisadores. Daí a importância das revisões sistemáticas e da
reprodutibilidade na ciência, pois são formas de identificar exceções das quais as intenções
pessoais sobrepuseram à vontade coletiva da comunidade científica pela verdade.

EXEMPLIFICANDO
O método científico não é uma receita de bolo para produzir conhecimento, mas um conjunto
de procedimentos teóricos, experimentais e éticos que auxiliam na investigação de um
problema.
O método científico pode ser aplicado não apenas na ciência, mas também na filosofia e na
vida cotidiana.
As ferramentas formais da matemática e da lógica contribuem para que a ciência mantenha
sua objetividade e exatidão, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade
interpretativa.
Como foi apresentado, existem diversos tipos de pesquisas científicas que norteiam a ciência,
cada qual com sua importância e aplicação para o estudo de um problema específico. A
pluralidade de investigação permite a extração de um conhecimento mais amplo sobre a
realidade mediante uso de método científico. No entanto, o conceito de método científico é
pouco claro, de modo que diversas tentativas de modelos foram apresentadas ao longo da
história da ciência e da filosofia com o objetivo de classificá-lo, sendo os mais conhecidos o
Método Hipotético-Dedutivo (inspirado na indutivismo do filósofo Francis Bacon), a
Falseabilidade do filósofo da ciência Karl Popper e a Concepção Sistêmica da Ciência, do físico
e filósofo científico Mario Bunge. Embora a ciência leve em consideração um conjunto de
procedimentos teóricos, experimentais e éticos ao longo de sua investigação e construção de
conhecimento, existem diversas ferramentas formais que contribuem para sua melhor
objetividade, evitando as armadilhas da linguagem ordinária e a subjetividade interpretativa.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
O campo de conhecimento responsável em estudar a ciência, incluindo seus limites e o próprio
método científico. Também busca analisar as distinções entre ciência e pseudociência com o
objetivo de resolver o problema da demarcação.

Qual o nome da disciplina responsável pela tarefa descrita no enunciado?

a. Linguística da ciência.
b. Sociologia da ciência.
c. Psicologia da ciência.
d. História da ciência.
e. Filosofia da ciência.
Questão 2
Pesquisa conduzida por cientistas e tecnólogos, geralmente em ambiente controlado, que tem
a intenção de estudar microrganismos, camundongos ou simplesmente o próprio ambiente da
Terra primitiva.

Assinale o tipo de pesquisa descrita no enunciado.

a. Metanálise.
b. Pesquisa laboratorial.
c. Pesquisa exploratória.
d. Pesquisa bibliográfica.
e. Revisão sistemática.
Questão 3
Um tipo de pesquisa que visa extrair diversos estudos semelhantes para avaliar o nível de
evidência de uma intervenção específica que pode usar uma técnica estatística de metanálise
para quantificar os dados, sendo essencial para avaliar reivindicações no campo da saúde.

Assinale o nome desse tipo de pesquisa.

a. Pesquisa exploratória.
b. Hipotético-dedutivo.
c. Pesquisa bibliográfica.
d. Revisão sistemática.
e. Pesquisa laboratorial.

REFERÊNCIAS
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.L.]: Editora Sudamericana, 2014.

BUNGE, M. Las pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.L.]: Editora Laetoli, 2014.

BUNGE, M. Seudociencia e ideología. [S.L.]: Editora Alianza, 1986.

FEYERABEND, P. Contra o Método. 2. ed. [S.L.]: Editora Unesp, 2011.

POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.L.]: Editora Cultrix, 2013.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAIS OS PRINCIPAIS TIPOS DE PESQUISA?
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

SEM MEDO DE ERRAR


O experimento não foi bem delineado, porque um estudo mais rigoroso deveria considerar um
número de amostragem maior para ser representativo. Também seria necessário um estudo
randomizado e controlado por placebo com o objetivo de reduzir a possibilidade de vieses e
possibilitar uma comparação estatística entre a substância homeopática e o efeito placebo.

Também seria importante avaliar a condição de saúde dos indivíduos e não apenas colher seus
relatos subjetivos de suposta melhora para avaliar de forma mais significativa os possíveis
efeitos na saúde dos pacientes.

O tempo da condução do experimento também deveria ser maior a fim de avaliar possíveis
implicações na saúde dos pacientes ao longo do dia, mesmo com a possibilidade sendo
extremamente baixa. Portanto, também seria necessário deixar os voluntários cientes dos
riscos envolvidos antes de conduzir o experimento.

Depois de um experimento bem delineado, os cientistas poderiam submeter suas descobertas


relatadas no trabalho à revisão por pares em uma revista científica conceituada.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA EMPRESA
Uma empresa está interessada em avaliar o nível de felicidade de seus funcionários. Para
realizar esse feito, ela aplicou um questionário padrão a todos seus colaboradores. No
questionário, por exemplo, havia itens como nível de estresse, grau de satisfação com o
trabalho e com o chefe.

O objetivo da empresa, após obter os resultados sobre os níveis de felicidade de seus


funcionários, era melhorar a relação entre os diversos cargos e setores responsáveis pelos
ativos da empresa, melhorando, dessa forma, a produtividade de seus funcionários e
promovendo a cooperação.

Qual tipo de pesquisa foi implementado pela empresa para avaliar o nível de felicidade de seus
funcionários?

RESOLUÇÃO
A empresa aplicou uma pesquisa qualitativa, pois tinha como pretensão apenas descrever os
níveis de felicidades de seus funcionários, bem como alguns aspectos de seus
comportamentos, sem a necessidade de quantificar estatisticamente os resultados.

NÃO PODE FALTAR


QUAIS MÉTRICAS SÃO UTILIZADAS NA PESQUISA?
Amanda Soares de Melo

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

O conhecimento científico desfruta de grande prestígio na sociedade em virtude da alta


confiabilidade do conhecimento científico. Com a democratização do fazer científico, a
construção de universidades, agências e centros de pesquisa, a literatura científica expandiu
enormemente, tornando a comunicação científica um nicho de mercado altamente rentável. A
pressão por publicações decorrente da concorrência do campo científico produziu um efeito
negativo sobre a qualidade das publicações.

A fim de organizar esse volume de publicações, filtrando as boas e más produções científicas,
surgiram os indicadores e indexadores, por meio dos quais conseguimos ter uma base dos
periódicos e pesquisadores mais relevantes em determinado campo de conhecimento. Como
você sabe, conhecer a literatura científica estabelecida de uma área é importante no início de
qualquer pesquisa, tanto para fundamentá-la, quanto para extrair as questões que merecem
uma investigação mais profunda.
Conhecendo indicadores e indexadores, você estará mais próximo de encontrar as produções
científicas mais relevantes para sua área de estudo. Geralmente, as boas pesquisas também
possuem boas fundamentações teóricas. Tais plataformas também dispõem de redes e mídias
sociais de colaboração que podem auxiliar no processo de comunicação entre você e
pesquisadores de todo o mundo.

Um parecerista contratado por uma agência de fomento à pesquisa é responsável pela análise
técnica de dois projetos de pesquisa que buscam financiamento. O parecerista deve analisar
não apenas os objetivos e a relevância de cada pesquisa, mas também o currículo acadêmico
desses pesquisadores.

As tabelas a seguir apresentam respectivamente a produção de cada pesquisador.

Pesquisador A
Artigos
Nº de Citações
Artigo 1 30
Artigo 2 28
Artigo 3 20
Artigo 4 10
Artigo 5 4
Pesquisador B
Artigos
Nº de Citações
Artigo 1 59
Artigo 2 45
Artigo 3 39
Artigo 4 2
Artigo 5 1
Considerando os dados apresentados, indique qual é o índice H de cada pesquisador e qual
deveria ser o pesquisador contemplado com o financiamento da pesquisa.

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.

Paulo Freire
CONCEITO-CHAVE
INDICADORES E MÉTRICAS NA PESQUISA CIENTÍFICA
Depois de desenvolver a pesquisa, entramos no campo da comunicação científica. É o dever
de todo pesquisador divulgar os resultados de sua pesquisa a fim de contribuir com o avanço
daquela área de conhecimento. Além disso, as publicações servem como um indicador de
produtividade científica do pesquisador, o que pode se transformar tanto em oportunidades e
reconhecimento acadêmico, quanto em obtenção de maior apoio financeiro para as pesquisas
da área.
A forma de comunicação mais usual dos resultados de uma pesquisa é através da publicação
de artigos científicos, que são publicados em periódicos ou anais de eventos científicos e
acadêmicos.

Os primeiros periódicos (revistas) foram criados em 1665 e, com o passar do tempo, o número
de periódicos só cresceu. Atualmente, há um grande número de periódicos, o que
desencadeou grandes volumes de artigos de baixa qualidade. Por essa razão, foram
desenvolvidos métricas e indicadores capazes de auxiliar na avaliação da qualidade de um
periódico ou de um pesquisador, de forma a separar o joio do trigo.

É importante que os pesquisadores analisem cuidadosamente o periódico que pretendem


publicar, e os indicadores de qualidade podem ajudar nesse processo. A avaliação da
qualidade do trabalho de um pesquisador ou periódico usualmente se dá com o auxílio de uma
análise bibliométrica realizada por indicadores. Adicionalmente, existem ferramentas analíticas
de produção científica, como InCites, SciVal, VantagePoint e Google Scholar Metrics.

De acordo com a Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA), os principais


indicadores de qualidade da pesquisa científica são:

Produção científica (scholary outputs): esse indicador mede volume e produtividade, mostrando
o número total de itens publicados em um dado período, por exemplo.
Contagem de citações (citation count): esse indicador mede o total de citações que um autor,
uma instituição ou um país acumulou durante um período, e têm como uma das vantagens a
comparação dos pesquisadores entre si.
Citações por publicação (citation per publication): esse indicador mostra o número de citações
de um artigo ou trabalho. Indica também uma média do impacto das citações.
Índice H (h-index): esse indicador é um dos mais utilizados atualmente, ele mede o equilíbrio
entre a produtividade e o impacto das citações. O índice pode ser calculado manualmente,
ordenando as publicações com o número de suas citações de forma decrescente. O índice é o
ponto de encontro entre a quantidade de publicação com o número de citações. Exemplo, o
Índice-H 8 significa que um autor tem, no mínimo, 8 artigos publicados e estes receberam pelo
menos 8 citações cada um.
Impacto de citação (citation impact): esse indicador mostra o número médio de citações que um
artigo recebeu em um período, ele é calculado pela divisão do número total de citações pelo
número total de publicações.
Impacto de citação ponderado por área de conhecimento (field-weighted citation impact): esse
indicador tem a vantagem de comparar publicações similares em termos de citação, por
exemplo, se a publicação se sobressai ou não em relação à média das citações das
publicações nesse campo.
Fator de impacto do periódico (journal impact factor): esse indicador mostra quantas vezes o
artigo foi citado em relação ao total de trabalhos já publicados pelo periódico em determinado
período de tempo.
Fator de impacto do periódico sem autocitações (journal impact factor without self cites): esse
indicador adiciona uma exceção ao anterior – as citações que provém de outros trabalhos do
pesquisador são excluídas do cálculo.
Fator de impacto do periódico em 5 anos (five year journal impact factor): esse indicador mostra
o número de vezes que os trabalhos de um periódico têm sido citados no ano, de acordo com o
JCR (Journal Citation Reports).
Produção no top percentis (outputs in the top percentiles): esse indicador mostra o grau em que
as publicações estão presentes em termos percentis no universo de dados analisado. Ele
mostra, por exemplo, quantas publicações de um grupo, instituição ou país estão no topo de
1%, 10% ou 25% dos trabalhos mais citados. Esse indicador também serve para comparar
pesquisadores que possuem índices semelhantes pelos fatores anteriores.
Colaboração (collaboration): esse indicador mostra o número de publicações de uma
instituição, pesquisador ou grupo que são produzidas com coautoria. Autorias únicas podem
ser contabilizadas.
Impacto das colaborações (collaboration impact): esse indicador mostra o impacto da citação
de uma publicação em colaboração, por exemplo, quantas citações recebeu em nível nacional,
internacional etc.
Além dos indicadores, temos ferramentas analíticas digitais que podem ser úteis para mensurar
a qualidade das pesquisas. O Incites é uma plataforma on-line de avaliação de citações e tem
como base de dados o Web of Science. O SciVal também é uma ferramenta de análise que
tem como base o Scopus e o Science Direct. O VantagePoint é uma ferramenta de mineração
e análise de dados que realiza análises bibliométricas bastando que se tenha a base de dados.
O Publish ou Perish é um software gratuito que analisa os dados do Google Scholar obtendo
várias estatísticas sobre o impacto das pesquisas. Por fim, o Google Scholar Metrics é uma das
ferramentas mais conhecidas e fácil de utilizar para avaliar rapidamente a visibilidade e a
influência de produções na ciência.

ASSIMILE
O uso de indicadores de produção científica tem sido muito utilizado na avaliação da qualidade
de pesquisadores e produções acadêmicas. As análises bibliométricas realizadas por meio de
indicadores são utilizadas também para fomento de recursos às pesquisas científicas.

ALTMETRIAS NA CIÊNCIA
Há formas de bibliometrias não tradicionais que surgem como alternativas ou complementos às
métricas tradicionais. Chamadas de altmetrias (altmetrics), não são baseadas em contagens de
citações, mas sim no impacto acadêmico medido com base nas pesquisas on-line, mídias
sociais, mídias on-line etc.

O surgimento da altmetria pode ser explicado por fatores como: a insatisfação com os
medidores tradicionais de impacto das pesquisas científicas; a ampliação das ferramentas de
rede e das formas de comunicação como um todo; a carência de filtros para a seleção de
informações relevantes; o movimento open access, que visa democratizar o acesso aos
resultados das pesquisas científicas.
Tais ferramentas analisam a quantidade de compartilhamentos em redes sociais, como
Facebook, Twitter, Blogs etc., citações, menções, comentários, curtidas, downloads,
tagueamento, visualizações, notícias etc. A altmetria se preocupa com o debate e a
repercussão das publicações científicas em toda a sociedade; nesse sentido é importante
compreender como os resultados das pesquisas têm sido vistos e utilizados. São algumas
delas:

Altmetric: é uma empresa que rastreia onde as pesquisas publicadas são mencionadas,
fornecendo formas de monitorar as publicações no meio digital.
Impactstory: é uma ferramenta de código aberto que ajuda os pesquisadores a medir o impacto
dos resultados de pesquisa em periódicos, blogs, base de dados etc.
Plum Analytics: é uma empresa de altimetria, pertencente à Elsevier, que realiza a mensuração
de artigos e trabalhos acadêmicos considerando uma ampla base de dados.
Como acontece com os outros indicadores, cabe lembrar que a altmetria não mede de maneira
automática a qualidade de um artigo científico, mas auxilia no processo de avaliação do
impacto deste. Artigos bem citados e publicados em periódicos relevantes têm uma grande
chance de serem bons. Todavia, é possível existir casos de artigos citados repetidamente pelo
fato de terem cometidos grandes erros, o que mostra que uma análise da qualidade dos artigos
apenas por indicadores de citações nem sempre é confiável. Sendo assim, para medir de fato a
qualidade de um artigo é indispensável uma análise rigorosa sobre o seu conteúdo,
metodologia e resultados.

REFLITA
A expressão “publish or perish” (publique ou pereça) é uma expressão comum utilizada para
exemplificar a pressão por publicações no meio científico. Em sua visão, quais são as
principais vantagens e desvantagens de um ambiente competitivo na produção de
conhecimento científico?

MARKETING CIENTÍFICO DIGITAL


Com as redes de internet, as formas de comunicação passaram por grandes transformações.
Devido à grande presença de pessoas on-line, cresceu a necessidade de que a comunicação
científica chegue nesses espaços. Dada essas novas necessidades, novas práticas de
publicação das pesquisas e de mensuração de relevância têm sido adotadas no mundo todo,
levando à criação da ciência 2.0.

A ciência 2.0 é pensada a partir da aplicação das tecnologias de redes sociais nos processos
de produção do conhecimento científico, em especial, no processo de comunicação científica.

Com o objetivo de melhorar a comunicação científica nesses espaços e seu engajamento,


surgiram iniciativas como o marketing científico digital. O marketing científico digital é uma
modalidade de marketing que está sendo utilizada para auxiliar no processo de consumo do
conhecimento científico. Dessa maneira, ele é utilizado para alavancar uma boa imagem da
ciência e de seus resultados (produtos), tendo como um dos fins a ampliação da confiança e do
investimento nas pesquisas científicas.
Segundo Araújo (2015), o marketing científico busca uma adesão ampla pelo público do
discurso científico, a promoção e divulgação dos trabalhos visando o reconhecimento das
pesquisas em diversos âmbitos e a projeção de autores a fim de conquistarem o prestígio e a
visibilidade.

As estratégias de marketing científico digital são definidas com base no tipo de imagem que se
quer transmitir para o público-alvo. De acordo com Araújo (2015), os pesquisadores, os
editores e as instituições que buscam o marketing científico precisam observar três fatores
indispensáveis:

A presença on-line: é importante que os interessados visem o alcance de um público amplo.


Criar blogs ou perfis em mídias sociais são ações que auxiliam nesse objetivo.
Oferecimento de um conteúdo adequado ao ambiente: o conteúdo a ser transmitido nas redes
deve ser criativo e a linguagem adequada à mídia social em questão.
Atuação responsiva: é necessário que se atente à interação com os usuários consumidores do
conteúdo para que se tenha um bom desempenho no ambiente digital. Sugere-se a criação de
espaços de participação e colaboração pelos usuários.
VISIBILIDADE CIENTÍFICA
Dada a importância das redes de internet no mundo atual, a visibilidade nestas redes tem sido
cada vez mais almejada pelo impacto social que gera tanto na ampliação do debate acadêmico
quanto na popularização da ciência. Todavia no âmbito da comunicação científica digital cabe
diferenciar as diferentes expressões e modalidades de divulgação.

Por comunicação científica, entende-se a produção e circulação de dados sobre a ciência,


tecnologia e inovação. Em geral, a comunicação científica se destina a um público
especializado, de modo que ela se dirige aos periódicos, eventos acadêmicos etc., e
geralmente possui a linguagem formal utilizada nas pesquisas.

Por divulgação científica, entende-se um processo de difusão de informação científica ao


público mais amplo, especializada em um público leigo. Dessa maneira, o discurso e a
linguagem científica são adequados para atender esse público, pois há a necessidade de
tradução de termos científicos para termos de entendimento mais popular; o objetivo é fazer
com a audiência entenda o assunto.

Por jornalismo científico, entende-se uma publicação que é produzida e tratada por
profissionais de jornalismos que têm acesso a dados das pesquisas científicas. O objetivo
muitas vezes é comunicar em meios de comunicação de massa a informação científica de
interesse público, todavia, há casos em que as pesquisas são tratadas com sensacionalismos e
distorcidas, visando apenas uma maior audiência e engajamento do público. Por meio desses
canais, os cientistas podem buscar a visibilidade de suas pesquisas. Além disso, um fator que
tem contribuído para o aumento da visibilidade são as redes de colaboração entre os cientistas.
Atualmente, há uma tendência crescente do processo de internacionalização da ciência que é
percebida como uma forma de melhoria na qualidade de conhecimento produzido e de
democratização da produção científica. Essa internacionalização tem sido expressa a partir da
participação de autores de outros países nas publicações regionais (coautoria), da difusão dos
resultados das pesquisas em outros idiomas e periódicos internacionais e, também, na
mensuração dos impactos das publicações internacionais que mostram a influência das
pesquisas em outros países. Uma expressão de suas vantagens está na contestação realizada
por estudos de que o número de citações das publicações que envolvam pesquisadores de
diferentes países é superior quando comparado ao número de citações das publicações
estritamente nacionais (GHENO, 2020).

EXEMPLIFICANDO
O indicador impacto da citação é calculado dividindo o número total de citações obtidas pelo
número total de publicações. O IC mostra o número médio de citações que uma publicação
recebeu em determinado período de tempo. Entretanto, o indicador ignora o volume total da
produção e isso pode causar distorções. Exemplo, o pesquisador X publica um artigo que
obtém 50 citações. Por sua vez, o pesquisador Y publica 10 artigos com receberam 200
citações. No cálculo do impacto de citação, o pesquisador X tem um maior número que o
pesquisador Y, mesmo que ele tenha publicado mais.

Esse caso ilustra que é preciso ter cuidado na interpretação e no uso dos indicadores.

Assegurar a qualidade da produção científica é parte constitutiva de sua credibilidade. Tão


fundamental quanto conhecer as etapas da produção científica é saber encontrar produções de
qualidade. Os indicadores e as ferramentas digitais altimétricas estão disponíveis para nos
auxiliar com essa tarefa.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Os indicadores de produção científica surgiram da necessidade cada vez mais crescente de
avaliar a qualidade de pesquisadores e produções acadêmicas para fins de reconhecimento e
mérito acadêmico, bem como avaliação comparativa para fomento de recursos às pesquisas
científicas.

Assinale a alternativa que contém um indicador de produção científica.

a. Scholary Count.
b. Citation per count.
c. Scholary Impact.
d. Citation Impact.
e. Ten year scholary impact.
Questão 2
As redes de internet provocaram enormes transformações na comunicação humana e afetaram
também a forma como se dá o reconhecimento da produção científica, isso porque a
insatisfação com os medidores tradicionais de impacto de pesquisas levou a um movimento
que buscava incluir as redes de internet como formas legítimas de mensuração de impacto das
produções científicas.

Assinale a alternativa que nomeia a forma alternativa de bibliometria que o texto se refere:

a. Scholar Metrics.
b. Altmetrics.
c. Open Access.
d. Scientific Analytics.
e. Paywall.
Questão 3
A comunicação on-line se consagrou como uma das formas de comunicação mais importantes
do nosso século. A comunidade científica percebeu a necessidade de ocupar esse espaço,
ampliando as formas de divulgação científica para as redes sociais. O marketing científico
digital surge para aumentar a visibilidade da ciência e dos pesquisadores nas redes de internet.

Assinale a alternativa que contém três fatores a serem observados, considerando uma
estratégia de marketing científico digital:

a. Presença on-line, oferecimento de conteúdo inadequado ao ambiente e atuação responsiva.


b. Presença off-line, oferecimento de conteúdo adequado ao ambiente e atuação interativa.
c. Presença on-line, oferecimento de conteúdo inadequado ao ambiente e atuação prescritiva.
d. Presença off-line, oferecimento de conteúdo adequado ao ambiente e atuação interativa.
e. Presença on-line, oferecimento de conteúdo adequado ao ambiente e atuação responsiva.

REFERÊNCIAS
Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA). Indicadores e Métricas. Publicado
em novembro, 2016. Disponível em: http://bit.ly/3qcOtO1. Acesso em: 10 dez. 2020.

ARAÚJO, R. F. Marketing científico digital e métricas alternativas para periódicos: da


visibilidade ao engajamento. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 20, n. 3, p. 67-84,
2015.

GHENO, E. M. et al. Impacto da internacionalização na visibilidade da produção científica do


Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas: BIOQUÍMICA/UFRGS (2007-2016).
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 25, p. 01-25,
2020.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAIS MÉTRICAS SÃO UTILIZADAS NA PESQUISA?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


A situação apresenta um parecerista que deve analisar dois projetos de pesquisa que buscam
financiamento. O parecerista faz análise do currículo acadêmico dos pesquisadores. Pela
análise da tabela anteriormente apresentada, o estudante deve perceber que o pesquisador A
tem um índice H maior que o pesquisador B e, portanto, deve ser escolhido em uma análise
que segue esse critério.

O pesquisador A tem o índice H = 4, porque o índice H é calculado verificando a quantidade


dos artigos e a quantidade de citações que eles tiveram. Sendo assim, o pesquisador A tem
pelo menos 4 artigos com pelo menos 4 citações.

No caso do pesquisador B, ele possui um índice H = 3, porque ele tem pelo menos 3 artigos
com pelo menos 3 citações.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
BUSCANDO O MARKETING CIENTÍFICO DIGITAL
O editor chefe de uma revista científica recém-lançada contrata uma agência de marketing com
o objetivo de aumentar a visibilidade de suas publicações. A agência traz a estratégia do
marketing científico digital que busca ampliar a comunicação científica ao público mais leigo por
meio das mídias sociais.

Para que essa revista ganhe visibilidade nas redes de internet, quais os três fatores
indispensáveis a serem observados por seus editores, considerando uma estratégia de
marketing científico digital?

RESOLUÇÃO
A situação apresenta o editor chefe de uma revista científica que procura uma agência de
marketing para alavancar a visibilidade nas redes sociais. O estudante deveria relembrar que,
de acordo com Araújo (2015), os pesquisadores, os editores e as instituições que buscam o
marketing científico precisam observar três fatores indispensáveis: 1. a presença on-line em
mídias como Facebook, 2. o oferecimento de um conteúdo adequado ao ambiente (com uma
linguagem adequada à internet e 3. uma atuação responsiva, procurando ter uma relação
interativa com os usuários consumidores do conteúdo.

NÃO PODE FALTAR


É POSSÍVEL CONFIAR EM UMA PESQUISA CIENTÍFICA?
Amanda Soares de Melo
PRATICAR PARA APRENDER
Caro estudante,

Você já deve ter ouvido falar em Fake News. As Fake News são notícias fabricadas que
propagam mentiras a respeito de um assunto em particular ou sobre uma pessoa, em geral,
pública. Elas são extremamente danosas à sociedade e muitas vezes causam danos
irreversíveis, como a queda brusca nas taxas de vacinação de uma população.

As Fake News devem ser combatidas com informação e conhecimento de qualidade e nós
sabemos que o conhecimento científico pode ser muito útil nessa tarefa. Devemos criar o
hábito de sempre checar as informações antes de compartilhá-las. De preferência, devemos
nos informar por meios confiáveis, incluindo publicações científicas de periódicos de qualidade.

Atualmente, o processo de avaliação dos manuscritos científicos inclui a utilização de


indicadores e métricas que auxiliam na garantia da confiabilidade e segurança das informações
publicadas. Nesta seção, você aprenderá como identificar as Fake News e as formas de
combatê-la. É importante saber diferenciar as informações de forma genuína, portanto, você
também aprenderá sobre as ferramentas e os processos envolvidos na análise da qualidade de
publicações e pesquisadores, incluindo o controle dos interesses que podem interferir
negativamente na produção do conhecimento científico.

Um parecerista contratado por uma agência de fomento à pesquisa é responsável pela análise
técnica de dois projetos de pesquisa que buscam financiamento. Os recursos são limitados,
portanto, de acordo com a avaliação do parecerista, o melhor projeto receberá todos os
recursos.

Nos projetos não constam os nomes dos pesquisadores participantes a fim de evitar conflito de
interesses, todavia, o parecerista percebe que um dos projetos envolve a pesquisa no
laboratório Finz, em que é colaborador. A decisão do parecerista é favorável ao financiamento
desse projeto.

Explique se há indícios de conflito de interesses nessa avaliação e quais providências deveriam


ter sido tomadas.

Nossas preferências não determinam o que é verdade.

Carl Sagan
CONCEITO-CHAVE
QUALIDADE DAS PUBLICAÇÕES
Como se sabe, a produção de conhecimento científico envolve algumas etapas, dentre elas
duas são essenciais: a produção de conhecimento – dada pela condução da investigação – e a
divulgação dos resultados – feita pelas publicações e comunicações em meios especializados.
Ao submeter um artigo a uma revista, o manuscrito é geralmente submetido à revisão por pares
e sua aprovação se dá quando os critérios e as condições que regem uma boa pesquisa são
seguidos pelos cientistas.

O número de artigos submetidos para publicação cresce vertiginosamente. Por conta desse
crescimento, os sistemas de avaliação passaram por mudanças como a criação de métricas e
indicadores que facilitassem na avaliação da qualidade dos trabalhos publicados. Um dos
indicadores mais utilizados se chama Fator de Impacto (FI). O FI mostra quanto um periódico
contribuiu para o avanço de uma área a partir do número de citações dos artigos publicados
por ele. Esse indicador é utilizado para avaliar as revistas científicas do mundo todo, se utiliza
do International Scientific Indexing (ISI), um banco de dados com periódicos selecionados.

Com a popularização do FI, muitas revistas também passaram a utilizá-lo na avaliação dos
pesquisadores, abrindo uma tendência que hoje é denominada de “produtivismo acadêmico” e
também muito criticada por exigir que o pesquisador publique cada vez mais, acarretando,
muitas vezes, que ele não dê a importância devida para a qualidade do que é publicado.

O FI é calculado levando em conta um ano como período, trata-se de ver a soma de todas as
citações que a revista recebeu nos dois anos anteriores e fazer a divisão pelo total de artigos
publicados dentro desse período. Surgiram também variações desse índice, como o Índice de
Imediatez, que faz o mesmo cálculo, mas não leva em conta o período de dois anos,
favorecendo a análise das revistas criadas a pouco tempo.

Apesar da relevância do FI para a bibliometria na ciência, pondera-se que o FI pode apresentar


distorções, afinal, artigos com erros grosseiros podem ser citados como uma forma de
exemplificar o que não deve ser feito. Nesse sentido, há a necessidade de uma análise global
que leve em conta outros fatores a fim de garantir a qualidade do periódico e dos artigos
publicados.

Na esteira da busca por métricas de avaliação de periódicos, surgiu o processo de indexação.


A indexação se tornou um reflexo da qualidade dos periódicos, uma vez que as revistas
indexadas são consideradas de maior qualidade científica. Um periódico indexado nada mais é
do que uma revista que faz parte de uma base de dados reconhecida como Scopus, Web of
Science, Scielo etc.

Considera-se que as revistas indexadas possuem um trabalho metodológico rigoroso na


avaliação dos artigos submetidos. Os editores almejam que suas revistas sejam indexadas de
modo a atestar o patamar de qualidade de suas publicações. Um dos indexadores mais
conhecidos é Scopus, uma base multidisciplinar relevante na área médica, assim como o
PubMed. Temos também a SciELO, que abrange uma coleção de periódicos brasileiros,
considerada a maior base de acesso aberto da América Latina.

Há outras bases de dados indexadoras como a Directory Open Access Journals (DOAJ), que é
um diretório on-line de acesso aberto e independente; seu financiamento se dá por doações.
Temos a Redalyc, uma base de revistas em acesso aberto ibero-américas. Além dessas, uma
das mais conhecidas e relevantes indexadoras é a Web of Science, baseada em assinatura e
permite uma exploração profunda dos campos e subcampos de uma área de pesquisa.

Tanto o Scopus quanto o Web of Science são consultados somente mediante o pagamento de
um plano de assinatura. Todavia, é prática comum as universidades públicas possuírem
acesso, como acontece aqui no Brasil.

Por fim, no campo da educação, temos como mais conhecidas as bases Educ@ e Edubase.
Há ainda outras bases indexadoras, caberá o pesquisador buscar conhecer quais são as mais
relevantes na sua área de estudos.

ASSIMILE
O Fator de Impacto (Impact Factor) é uma das métricas mais utilizadas na avaliação de revistas
científicas atualmente. Ele contabiliza as citações recebidas, sendo utilizado no Brasil até por
comissões que compõem a Qualis Periódicos. O cálculo é feito somando todas as citações que
a revista recebeu no prazo de dois anos e dividindo pelo número total de publicações desse
mesmo período. O fator de impacto é criticado principalmente por não distinguir as revistas
mais recentes das revistas tradicionais, além de não distinguir áreas que podem possuir
características de produção diferentes.

QUALIDADE DOS PESQUISADORES


Os pesquisadores fazem da ciência um processo contínuo de investigação, são eles que
desenvolvem as pesquisas e publicam os resultados, que, muitas vezes, configuram-se como o
ponto de partida da investigação. São os pesquisadores também que avaliam seus pares,
recompensam os méritos ou aplicam punições quando se infringe as regras e os valores da
ética científica. A organização da ciência se dá com base em uma troca de informações
visando reconhecimento social. Segundo Bourdieu (1994), o campo científico é um campo de
disputas em que os cientistas concorrem entre si pelo alcance da autoridade científica e do
poder social que isso traz. Por essas razões, o campo científico é permeado de diversos
interesses.

É um mito comum achar que os cientistas são desinteressados em suas investigações. Na


verdade, como todos os seres humanos possuem motivações para realizar determinadas
tarefas, os pesquisadores possuem motivações para realizar suas pesquisas. Eles podem se
importar com o avanço da ciência, mas também com o ganho da autoridade científica ou ainda
com a vontade de aprenderem e crescerem intelectualmente. O pesquisador compartilha de
anseios que são da própria natureza científica, como a vontade de trazer algum avanço na sua
área de pesquisa, bem como anseios pessoais, como o desejo de sucesso profissional.

Tais motivações acabam afetando a prática científica no sentido de que, muitas vezes, os
pesquisadores vão se interessar pelas questões mais relevantes de uma área pelo desejo de
que os outros percebam da mesma maneira a relevância de sua pesquisa. Os anseios
pessoais, segundo Bourdieu (1994), não só podem influenciar na escolha dos objetos da
pesquisa, como também nos métodos empregados na pesquisa, isto é, o cientista que se
preocupa com o reconhecimento social buscará métodos que são aceitos e reconhecidos pelos
seus pares.

Dessa maneira, a contribuição que o pesquisador faz à sociedade é um dos aspectos


relevantes que contam para seu reconhecimento no meio científico. Como os outros
pesquisadores também possuem a vontade de serem reconhecidos, eles competem entre si,
de forma que a análise de seus pares se torna extremamente rigorosa.

Para Merton (1985), dado esse contexto, além de buscar a aceitação por seus pares, o objetivo
do pesquisador é afirmar sua autoridade científica. Para isso, os pesquisadores precisam saber
escolher problemas que sejam relevantes para toda a comunidade e não só para eles próprios,
na intenção de propor uma solução adequada a ele.

A reputação junto com seus pares também pesa no alcance desse reconhecimento. Bolsas de
pesquisa e prêmios obtidos pelos pesquisadores são formas de obter seu reconhecimento.
Pesquisadores que cometem fraudes podem tornar sua imagem negativa na comunidade
científica de uma forma irreversível.

Como a ciência é um campo em disputa, de acordo com Bourdieu (1994), os pesquisadores


mais antigos e que ocupam as posições de prestígios terão resistências quanto a novas teorias
ou corroborações que questionem seus trabalhos e ameacem seu status de autoridade no
assunto. Essas novas teorias que provocam rupturas com os conhecimentos estabelecidos
enfrentam muita dificuldade e críticas, todavia, caso o cientista consiga superá-las, ele ganhará
grande destaque profissional. É por essa razão que, atualmente, quanto mais impacto uma
publicação científica tem, maior qualidade se atribui a ela.

Com o intuito de avaliar a excelência acadêmica de um cientista utiliza-se indicadores que


traçam análises sobre a quantidade de pesquisas publicadas, o número de citações em
determinada área etc. Um dos indicadores mais utilizados é o Índice H (h-index), que mede o
equilíbrio entre a produtividade e o impacto das citações. Por exemplo, um índice h de 10
indica que 10 artigos foram citados pelo menos 10 vezes cada. Todavia, hoje se sabe que
essas avaliações devem contemplar a qualidade do conteúdo dessas publicações.

A busca por reconhecimento pessoal, incentivos financeiros, questões sociais e geopolíticas,


conflitos de interesses, são fatores que influenciam na produção científica e,
consequentemente, ditam a qualidade dos artigos e a qualidade dos pesquisadores. É
necessário analisar a ciência como atividade humana em construção que tem como
característica seu caráter colaborativo. O modo como o campo científico se configurou inibe
quaisquer romantismos e idealismos em relação à produção de conhecimento científico. Assim,
não se trata de impedir que os pesquisadores tenham seus próprios interesses, trata-se de
colaborar para que a vontade de contribuir com o avanço da ciência e da sociedade prevaleça
em relação às demais.

REFLITA
É comum dizer que as crianças são cientistas natos, todavia, nem todo mundo segue a carreira
de cientista na fase adulta. Em sua visão, o que motiva um cientista a fazer seu trabalho?
Quais fatores podem inibir essa motivação?

CONFLITO DE INTERESSES
Como dito anteriormente, os cientistas são responsáveis pela produção de conhecimento
científico em diversos âmbitos e, como seres humanos, os cientistas possuem motivações e
interesses tanto compartilhados quanto pessoais. A fim de que a motivação principal seja
sempre a contribuição genuína com a área de estudo, os pesquisadores desenvolvem
mecanismos para inibir os conflitos de interesse que porventura surgem durante as
investigações. Conflitos de interesse podem interferir negativamente na credibilidade da
produção científica.
cientificamente válidos.

Tais conflitos se referem tanto a problemas com financiamentos de pesquisas e patrocinadores,


por exemplo, como também se somam aos interesses relacionados ao prestígio acadêmico,
aos poderes sociais e ao reconhecimento almejados pelos cientistas. Em situações em que há
conflito de interesses, o julgamento do pesquisador é potencialmente afetado, isto é, o cientista
pode manipular os resultados de uma pesquisa a fim de que corroborem com os resultados
esperados pela empresa que patrocina o estudo. Se não há um controle rigoroso sobre esse
processo e se o conflito de interesse não for identificado, a credibilidade da pesquisa pode ser
minada.

Para melhor ilustrar uma situação de conflito de interesses, suponhamos um caso comum do
meio médico. Antes de um medicamento ser colocado à venda, ele precisará passar por testes
para que sua eficácia e segurança sejam comprovadas. Todavia, muitas vezes as pesquisas
são financiadas pelas empresas que possuem interesse na venda desse medicamente, além
disso, os pesquisadores são, geralmente, funcionários dessas empresas e, por consequência,
também estão interessados na manutenção dos seus empregos e no sucesso comercial da
empresa.

Pode ser que tais interesses, ainda que existam e que devem ser reconhecidos, não
atrapalhem a boa condução da pesquisa, porque os pesquisadores seguiram a metodologia
científica com o máximo de rigor e possuem o interesse ético em contribuir positivamente com
a sociedade, reduzindo ao máximo os riscos de efeitos colaterais no uso desse medicamento.
Todavia, pode ser também que tais interesses conflitem e o interesse da empresa de colocar o
medicamento para ser vendido prevaleça frente à questão da segurança do mesmo.

A responsabilidade por observar esses conflitos de interesse é de todos os atores envolvidos


na produção de conhecimento científico: pesquisadores, orientadores, editores, universidades,
patrocinadores etc. Todos eles podem se encontrar em meio a situações de conflito de
interesses pelas mais variadas motivações e devem identificar prontamente a natureza desse
conflito. Em geral, sugere-se que a identificação desse conflito também seja inserida no artigo,
na seção de discussão, por exemplo.
A revisão por pares, a qual os artigos são submetidos antes de serem publicados, geralmente
ocorre em uma abordagem duplo cego para inibir conflito de interesses. Os avaliadores dos
manuscritos não podem ter ciência dos autores dos artigos, a fim de preservar o julgamento
estritamente profissional, eliminando qualquer interferência de questões pessoais, como
relações pessoais ou profissionais favoráveis ou desfavoráveis entre o avaliador e o avaliado,
decorrentes da competição acadêmica, por exemplo.

Diversos conflitos de interesses podem aparecer durante a condução de uma pesquisa e é


tarefa do pesquisador reconhecê-los. Além disso, deverá demonstrar quais medidas foram
tomadas para controlar tais influências com o propósito de não comprometer a credibilidade
dos resultados. Cada caso pode exigir uma estratégia diferente, o que dificulta a explanação de
fórmulas prontas de resolução desses conflitos.

Ainda assim, dois princípios podem ser observados: o princípio da plena informação e o
princípio da verificabilidade. O primeiro atesta que toda a sociedade deve ser informada sobre
os potenciais conflitos de interesse de uma pesquisa. O segundo preza pelo tratamento crítico
dos resultados de pesquisas antes de serem considerados cientificamente válidos.

EXEMPLIFICANDO
Suponha que um pai seja o árbitro no jogo de futebol do seu filho. Apesar do pai ser uma
pessoa absolutamente íntegra, temos aqui um exemplo de conflito de interesses: a vontade de
que seu filho tenha um bom desempenho conflita com a necessidade de conduzir a partida com
imparcialidade. Muitas decisões que o árbitro toma envolvem sua percepção e, portanto, sua
subjetividade. Nessas circunstâncias, nem todas as decisões parciais podem ser controladas
ou evitadas. A regra geral para evitar o conflito de interesses é afastar todos aqueles que serão
potencialmente beneficiários da função de juízes e avaliadores. Entretanto, pode haver
situações mais complexas que fogem da aplicação dessa regra de forma integral e requerem
uma avaliação minuciosa caso por caso.

CIÊNCIA VERSUS FAKE NEWS


Nos dias de hoje, o termo Fake News tem sido adotado como referência às notícias que
divulgam informações falsas ou manipuladas e que têm dominado as mídias digitais em escala
global. A ciência, embora preserve sua integridade pelo rigor na aplicação do método científico,
não está imune de seus efeitos.

As Fake News também podem se perpetuar utilizando de bases supostamente científicas a fim
de convencer o maior número de pessoas. Sua atuação pode ser vista tanto em reportagens
sensacionalistas sobre assuntos científicos na mídia em geral, que podem ser mal-
intencionadas ou não, quanto por notícias falsas deliberadamente fabricadas.

Falsificações que se pretendem científicas podem exercer efeitos extremamente negativos em


uma sociedade, como exemplificado por Peter Schulz por meio do caso “O Projeto Huemul”,
desenvolvido de 1948 a 1952, na Argentina, sob o comando do presidente Juan Perón.
Perón foi profundamente influenciado por um autoproclamado cientista alemão chamado
Ronald Richter, que migrou para a Argentina depois da derrota do nazismo, a desenvolver esse
projeto. Segundo Richter, seria possível, através de um projeto de controle de fusão nuclear,
produzir energia barata e sem lixo radioativo, o que elevaria a Argentina ao título de primeira
potência mundial. Perón investiu enorme esforço governamental e muito dinheiro público para
que esse projeto fosse desenvolvido e os experimentos de Richter não resultaram em nada. A
fraude foi desmascarada por José Antônio Balseiro, um cientista de verdade.

Além disso, as Fake News podem provocar sequelas permanentes em pessoas quando
divulgam supostos efeitos negativos das vacinas, por exemplo. Alegações totalmente falsas
como “vacina contra meningite vai dar meningite” são comuns nas redes, mas carecem
totalmente de comprovação científica e se contrapõem ao conhecimento já seguramente
estabelecido sobre as vacinas. As Fake News já levaram a uma queda expressiva na
vacinação em diversos lugares do mundo.

A melhor forma de combater as Fake News é pela informação, mas não basta afirmar a
autoridade científica, é preciso contribuir no sentido de fazer as pessoas entenderem o porquê
tais afirmações são falsas. É necessário levar o conhecimento básico científico até as pessoas,
além disso, é preciso incentivar o pensamento científico para que se desenvolva o pensamento
crítico.

Há alguns passos básicos para identificar se uma notícia é falsa. O primeiro deles é verificar a
fonte da informação, o site em que está sendo divulgado e o autor do conteúdo. Todavia,
muitos sites possuem nomes semelhantes a sites confiáveis, sendo necessário estar atento à
autenticidade daquele endereço.

O segundo passo é verificar a estrutura do texto, pois as Fake News frequentemente


apresentam erros de português que mostram que o texto não foi revisado. Também
apresentam um teor sensacionalista e muitas afirmações, com explicações rasas e simplórias
dos assuntos.

O terceiro passo é verificar a data de publicação. Muitas vezes notícias antigas são divulgadas
como sendo novas. Além disso, é necessário ir além do título e do subtítulo. Frequentemente, o
conteúdo contradiz o que se está dizendo no título.

O quarto passo é checar as afirmações feitas em outros sites, utilizando mecanismos de


pesquisa como Google, Bing etc., também é importante acessar os indexadores de artigos e
revistas de referência, como PubMed para a área médica, que divulga informações
especializadas sobre o assunto e tais informações são publicadas apenas quando já se deu a
revisão por pares. Há também diversos blogs e sites que se preocupam em desmentir as
notícias falsas que estão circulando na web, além de agências de checagem que fazem esse
trabalho de monitoramento e correção.
Por fim, cabe frisar que, se tratando de assuntos complexos, não existem respostas absolutas.
É prudente sempre adotar uma postura questionadora, compatível com o pensamento
científico, a fim de evitar consumir conteúdos de pessoas que parecem donos da verdade e
que pregam conspirações ou pseudociências. Além disso, o não compartilhamento dessas
notícias, mesmo que para criticá-las, é importante, porque o compartilhamento em si traz
engajamento ao conteúdo e, com frequência, ajuda a disseminá-las.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Os indicadores de produção científica surgiram como reação ao grande volume de publicações
científicas a partir dos anos 1960. A necessidade de avaliar as boas e más produções se
alinhou à constatação de que os recursos para pesquisa são limitados e devem ser dados
àquelas que trazem contribuições positivas à sociedade.

Assinale a alternativa que contém um indicador de produção científica:

a. Fator de Citação.
b. Fator de Publicação.
c. Fator de Relevância.
d. Fator de Impacto.
e. Fator de Confiança.
Questão 2
É importante ter muito cuidado ao navegar na internet. Em uma pesquisa rápida, encontramos
milhões de sites e portais de notícias que nem sempre constituem fontes seguras de
informação. Em verdade, atualmente, alguns deles foram criados para enganar e manipular a
opinião pública, dando origem à explosão de notícias falsas que conhecemos atualmente.

Assinale a alternativa que contém o termo utilizado para nomear o fenômeno que o texto se
refere:

a. Fake Fact.
b. Fake View.
c. Fake News.
d. Fake Idea.
e. Fake Count.
Questão 3
Os ___________ são comuns na avaliação da ___________. Como os ___________, em
geral, também são pesquisadores, eles podem conhecer os ___________ do projeto avaliado
ou ainda estar ligado às ___________ em que tais projetos são desenvolvidos. Entretanto, o
conflito de interesse deve ser imediatamente controlado, a fim de garantir a ___________ da
avaliação.

Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas:


a. conflitos de interesse; pesquisa acadêmica; avaliadores; participantes; habitações;
parcialidade.
b. conflitos de interesse; pesquisa científica; avaliadores; desenvolvedores; instituições;
integridade.
c. conflitos de interesse; pesquisa acadêmica; redatores; participantes; habitações;
maleabilidade.
d. conflitos de interesse; pesquisa científica; redatores; participantes; instituições; parcialidade.
e. conflitos de interesse; pesquisa acadêmica; avaliadores; desenvolvedores; habitações;
comunicabilidade.

REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. Trad.
de Paula Montero e Alícia Auzmendi. São Paulo: Ática, 1983 b, p.122- 155.

DELMAZO, C.; VALENTE, J. C.L. Fake news nas redes sociais online: propagação e reações à
desinformação em busca de cliques. Media & Jornalismo, v. 18, n. 32, p. 155-169, 2018.

DROESCHER, F. D.; SILVA, E. L. da. O pesquisador e a produção científica. Perspectivas em


ciência da informação, v. 19, n. 1, p. 170-189, 2014.

GREGOLIN, J. A. R. et al. Capítulo 5-Análise de Indicadores de Produção Científica. 2004.

MERTON, R. K. La sociología de la ciencia. Madri, Alianza Editorial, 2 vol., 1985.

REGO, S.; PALÁCIOS, M. Conflitos de interesses e a produção científica. Revista Brasileira de


Educação Médica, v. 32, n. 3, p. 281-282, 2008.

SANTOS, G. C.; XAVIER, I. D. C. M. Fontes de indexação importantes para a pesquisa. Blog


PPEC, Campinas, v.2, n.2, fev. 2018. ISSN 2526-9429. Disponível em: https://bit.ly/3sOHs7U.
Acesso em: 20 jan. 2021.

SANTOS, L. H. L. dos; PEREZ, J. F. Conflito de interesses: um desafio inevitável. Revista


Pesquisa FAPESP, n. 62, p. 12, 2001.
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
É POSSÍVEL CONFIAR EM UMA PESQUISA CIENTÍFICA?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


A situação-problema envolve um parecerista que é responsável pela avaliação de dois projetos
de pesquisa que buscam financiamento. O projeto de pesquisa escolhido pelo avaliador é o
projeto que se desenvolverá em um laboratório no qual o parecerista é colaborador. Nesse
caso, está claro a presença de um conflito de interesses: o parecerista procurará escolher o
projeto em questão porque os recursos disponíveis irão para o laboratório onde é colaborador.

Ao invés de tomar uma decisão, o parecerista deveria notificar o conflito de interesse para a
agência de fomento, a fim de que eles troquem de especialista na avaliação dessa demanda.
Não sendo possível a troca do parecerista, ele deve deixar claro que é parte interessada e
caberá uma revisão da administração ao dar a decisão final.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
COMBATENDO FAKE NEWS
Como pesquisador científico, você é convidado por um jornal de grande circulação para falar
dos efeitos nocivos que as Fake News podem causar à sociedade como um todo. O jornal pede
que você formule um roteiro com os principais meios para reconhecer a falsidade de uma
notícia. Elenque cinco passos a serem seguidos pelos leitores que os auxiliarão nessa tarefa.

RESOLUÇÃO
Alguns passos básicos para identificar fake news:

Ir além do título. Muitas vezes os títulos contradizem ou distorcem o conteúdo publicado.


Verificar a fonte da informação. Existem sites confiáveis em que a notícia foi publicada?
Verificar a gramática e estrutura lógica do texto. As notícias falsas frequentemente possuem
erros de português ou mesmo contradições.
Verificar a data da publicação. Muitas vezes notícias antigas são republicadas a fim de
modificarem alguma circunstância atual. É comum o uso delas durante as eleições.
Verificar as informações por meio de pesquisas sobre o tema e em sites que fazem
sistematicamente a verificação de notícias falsas, como agências de checagem de fatos.
NÃO PODE FALTAR
QUAL É SUA PERGUNTA E COMO RESPONDÊ-LA?
Amanda Soares de Melo

CONVITE AO ESTUDO
Caro estudante,

Você já deve ter feito perguntas como “Por quê?” e “Como?” muitas vezes na vida. Essa é uma
facilidade especialmente das crianças. Nós nascemos curiosos para saber a origem das coisas
e a causas dos fenômenos que observamos. A curiosidade é uma das características
elementares do ser humano.

O ser humano encontrou muitas formas de sanar suas dúvidas. Uma dessas formas,
considerada a mais confiável, é o método científico. Ao longo das tentativas da humanidade de
desenvolver um conhecimento seguro, foram desenvolvidas regras e procedimentos básicos
que colocavam o ser humano mais próximo do conhecimento verdadeiro. Tais regras formam o
método científico, que tem como etapa inicial a elaboração de um problema ou uma questão a
ser investigada pelo pesquisador.

Na pesquisa científica, as perguntas ganham uma forma específica, seguindo certas regras e
princípios, com a finalidade de tornar possível a condução de uma pesquisa com metodologia e
rigor científico. Por essa razão, as perguntas científicas geralmente são menos vagas e mais
claras dos que as que fazemos no nosso dia.

Fazer perguntas em ciência é uma prática constante que não termina com a elaboração do
projeto de pesquisa. Na verdade, a todo o momento da pesquisa, o cientista pode se sentir
motivado a fazer perguntas, especialmente quando suas hipóteses não são corroboradas pela
experiência, isso deve fazer o cientista se perguntar como e por quê a experiência é diferente
do que se pensava. Dessa forma, fazer ciência implica em saber fazer as perguntas da maneira
correta.

Convido-lhe a exercitar a sua curiosidade a partir da abordagem da ciência que envolve, entre
outras coisas, investigar as causas, elaborar hipóteses, resolver problemas, criar soluções.

Caro estudante,

Você já deve ter visto como a ciência e a tecnologia estão presentes em nossa vida cotidiana
em diversos segmentos. Por trás de toda construção desses artefatos ou conhecimentos estão
as perguntas, elas são muito importantes porque configuram a motivação do cientista para
iniciar uma investigação. Toda pesquisa deve conter um problema a ser tratado ou uma
pergunta como fio condutor. Tais problemas ou perguntas possuem fontes diversas, que
podem surgir a partir de conversa com familiares, de uma reflexão individual, de uma conversa
com colegas de faculdade ou trabalho. Mas há uma série de adaptações a serem feitas para
que essa curiosidade inicial se torne uma pergunta científica que possibilite o desenvolvimento
de uma pesquisa.

No desenvolvimento da pesquisa, há a formulação inicial do problema, a elaboração do projeto


de pesquisa (que consiste em um planejamento rigoroso de cada etapa da pesquisa), a criação
de um modelo de análise (as hipóteses a serem testadas), que é a forma do pesquisador
quantitativo de testar a resposta que acha mais plausível para sua pergunta, a coleta e análise
de dados e a comunicação dos resultados.

Saber conduzir uma boa pesquisa é essencial tanto a produção de conhecimento básico,
quanto para a produção de conhecimento aplicado, financiados por empresas ou governos.

O conhecimento dessas etapas e desses procedimentos que envolvem todo o método científico
não só possibilitará o desenvolvimento de uma boa pesquisa, mas também exercitará o seu
pensamento crítico. A partir do conhecimento de como uma pesquisa deve ser conduzida, você
se tornará mais capaz de julgar quando uma pesquisa é rigorosa ou não com seus resultados.
Por sua vez, ficará mais difícil de acreditar em notícias sensacionalistas, pseudociências e
fórmulas mágicas de resolução de problemas que não são verificadas ou que ainda não foram
replicadas por uma comissão independente.

Imagine que você trabalha em uma empresa química em que o departamento de marketing
quer verificar o efeito da propaganda na venda de álcool em gel. Com as informações dos
faturamentos anteriores desse produto, a empresa começa a fazer grandes campanhas
publicitárias e o faturamento desse produto no mês seguinte, fevereiro, é significativamente
maior.

O departamento de marketing imediatamente comemora os resultados e supõe que a


propaganda provocou um efeito positivo nas vendas do produto. Para comprovar essa
hipótese, você é convocado enquanto pesquisador a realizar o teste da hipótese. Você elabora
os seguintes enunciados:

Observação 1: As vendas do álcool em gel aumentaram no mês de fevereiro.

Hipótese básica: Elas aumentaram em decorrência do investimento em propaganda pela


empresa.

Hipótese alternativa: Há algum outro fator externo, como preocupação com a saúde, que
elevou o faturamento do produto.

Quais seriam os possíveis procedimentos a serem realizados a fim de confirmar ou refutar as


hipóteses?
“A ciência é muito mais do que um corpo de conhecimento. É uma maneira de pensar.”

Carl Sagan
CONCEITO-CHAVE
COMO FAZER PESQUISA CIENTÍFICA: ELABORANDO PERGUNTAS
Um dos primeiros passos ao desenvolver uma pesquisa científica passa por elaborar a
pergunta de pesquisa, isso porque, ao desenvolver uma pesquisa, o pesquisador tem em si
alguma inquietação, dúvida ou problema que almeja sanar. A pergunta da pesquisa é
justamente essa incerteza que o pesquisador possui sobre determinado assunto e que o
encoraja a desenvolver uma investigação, mas, se engana quem pensa que o produto final de
toda investigação é a solução dessa pergunta. Na verdade, mesmo quando é possível produzir
respostas satisfatórias a uma dada pergunta (e nem sempre é possível), outras questões
surgem decorrentes da investigação, além da existência própria daquelas que tangenciam a
pesquisa e sequer foram tratadas.

Há ainda as questões-problemas que surgem a partir de um avanço na ciência. As novas


tecnologias e os novos instrumentos utilizados pela ciência geraram uma série de perguntas
sobre questões já conhecidas que originaram novos paradigmas de pesquisa. Essa capacidade
de gerar novas perguntas é uma marca do pensamento científico. Dessa maneira, não faltam
incertezas a serem trabalhadas em projetos de pesquisa. O desafio que se coloca ao
pesquisador é conseguir elaborar uma questão que possa ser transformada em um “plano de
estudo factível e válido” (HULLEY, 2008, p. 36).

São muitas as origens dos problemas de pesquisa. Um pesquisador mais experiente


geralmente toma como questão de pesquisa os problemas encontrados em seus estudos
anteriores. Um pesquisador iniciante pode e deve revisar a literatura sobre determinado tema, a
fim de encontrar questões abertas. Ele deve procurar ter um certo domínio sobre a literatura do
campo de estudo que almeja começar uma investigação. Os livros, as revisões sistemáticas e
os eventos de comunicação de pesquisa são bons pontos de partida tanto para quem sabe ou
não se sabe qual questão estudar. Os eventos de comunicação científica são grandes
oportunidades de conhecimento para o pesquisador iniciante porque ele terá contato com
pesquisas mais recentes da sua área, poderá conversar com pesquisadores experientes que já
passaram pela fase que ele está, poderá sanar dúvidas sobre as referências bibliográficas mais
relevantes, além de formar parcerias de pesquisa. Não se esqueça: a ciência é uma construção
coletiva e não individual!

Para elaborar um projeto de pesquisa, aconselha-se que o pesquisador procure um orientador


que pode ser tanto um professor quanto um profissional especialista na área. Ele ou ela saberá
avaliar se, à luz do campo estudado, a questão elaborada pelo pesquisador é adequada
visando os métodos e as ferramentas da área disponíveis, isso porque algumas questões são
interdisciplinares ou muito abrangentes e precisam ser delimitadas para garantir a boa
condução do estudo. Há também pesquisas que contam com mais de um mentor. De maneira
geral, uma boa pergunta de pesquisa tem como característica ser: factível, interessante, nova,
ética e relevante (FINER).

Factível: diversos estudos não alcançam seus objetivos porque não conseguem delimitar o
tamanho da sua amostra. É preciso planejar o número de pessoas participantes que serão
suficientes para a coleta de dados e isso implica em uma análise de adequação de estratégia,
tempo e critérios de inclusão ou exclusão de participantes. Além disso, o pesquisador deverá
ter acesso às técnicas que precisa para o desenvolvimento da pesquisa, isso inclui
equipamentos e habilidades como: fazer a delimitação do estudo, recrutar os participantes
quando for o caso, conhecer os métodos de coleta e análise de dados e variáveis, etc.
Também há que se ver quanto tempo o estudo irá durar e quanto irá custar, pois dependendo
da pesquisa, os custos são altos. O pesquisador deve ter o planejamento de tempo por etapa e
de insumos antes de iniciar a pesquisa, incluindo imprevistos. Uma situação que pode
acontecer sem o planejamento adequado é o encerramento da pesquisa ainda na fase de
desenvolvimento por falta de recursos. Nem sempre, é claro, isso é uma responsabilidade dos
pesquisadores. As agências que financiam pesquisas com bolsas e recursos para o
desenvolvimento dos testes são, em sua maioria, financiadas pelo governo. Um corte
significativo de gastos poderá comprometer muitas pesquisas em andamento. Por fim, o
pesquisador deve ter um escopo bem definido, caso contrário poderá se perder tentando
responder mais questões do que lhe seriam pertinentes. Mesmo que problemas secundários
sejam interessantes, é importante focar em uma questão específica a fim de conseguir se
dedicar a ela e entregar resultados relevantes. Já dizia o ditado: “mais vale um pássaro na mão
do que dois voando”.

Interessante: a questão precisa ser interessante para a ciência, porque não basta que ela seja
interessante apenas para o pesquisador que a faz. Para conseguir aporte financeiro, muitas
vezes, é preciso que outros pesquisadores da área reconheçam a pertinência da questão. Os
especialistas e orientadores são essenciais nesse momento pois poderão dar o feedback
necessário para saber se o projeto de pesquisa é pertinente à luz dos seus objetivos.

Nova: Nem sempre é preciso inovar em ciência, mas com uma questão bem delimitada, é
possível e desejável a produção de novas informações a partir da pesquisa. Além disso, um
avaliador do projeto de pesquisa pode achar que um estudo que não produz nada novo não
vale os recursos reivindicados pelo pesquisador. A questão não precisa ser completamente
original, mas novas informações sobre o assunto constituem um resultado esperado de boas
pesquisas.

Ética: a pergunta de pesquisa deve ser ética, de modo que não cause risco de vida para os
participantes, nem uma completa invasão de suas privacidades. Geralmente, os projetos de
pesquisa que envolvem testes em humanos ou animais não humanos passam por uma
comissão de ética para serem aprovados e as pesquisas devem seguir suas normatizações
com extremo rigor. Uma pesquisa que incorra em infrações éticas também não consegue
produzir resultados relevantes em ciência.
Relevante: A relevância tem um papel central na busca por uma boa pergunta de pesquisa.
Uma forma de pensar a relevância da pergunta é imaginar as conclusões que a pesquisa
poderá chegar e pensar quais contribuições e avanços essa conclusão pode trazer à
sociedade; vale aqui também discutir com os orientadores e especialistas da área a relevância
da pergunta, bem como do projeto de pesquisa como um todo.

Desenvolver uma boa pergunta de pesquisa, embora pareça uma tarefa individual, é, antes,
uma elaboração coletiva que envolve a participação de especialistas, professores, amigos,
colaboradores e certo domínio da literatura. São alguns exemplos de perguntas de pesquisa: A
redução da gordura alimentar pode reduzir a câncer de mama? Qual a origem dos índios
americanos? Qual a composição da atmosfera de Marte? Qual a relação entre
subdesenvolvimento e dependência econômica? “A criatividade, a persistência e a capacidade
de julgamento são qualidades necessárias a serem exercitadas nessa tarefa” (HULLEY, 2008,
p. 43).

ASSIMILE
A pergunta de pesquisa é o ponto de partida de todos os estudos científicos. Ela expressa a
dúvida, inquietação e incerteza do pesquisador frente a uma parte do campo de estudo de uma
disciplina.
Para elaborar uma boa pergunta de pesquisa, é necessário ter um certo domínio da literatura
da área de estudos. Também é recomendável que o pesquisador discuta sobre ela com os
seus pares.
Uma boa pergunta de pesquisa tem cinco características, sob o acrônimo FINER. Ela é:
factível, interessante, nova, ética e relevante.
A CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES
Uma vez elaborada a questão de pesquisa pode ser necessária a elaboração de hipóteses a
serem testadas que darão uma resposta quanto ao problema colocado pelo pesquisador. As
hipóteses são uma espécie de diretrizes da pesquisa; elas indicam o que os pesquisadores
estão buscando ou o que eles estão tentando comprovar, sendo tentativas prévias de
explicação do fenômeno analisado e devem ser formuladas de forma clara e concisa. A
hipótese não deve ser confundida com pressuposto teórico, uma vez que no decorrer da
pesquisa, ela pode ser descartada e avaliada. A hipótese é sempre provisória e provável.

Nem todas as pesquisas formulam hipóteses. A formulação de hipóteses é dada apenas em


estudos correlacionais ou explicativos, isto é, que preveem um dado acerca do fenômeno
analisado. Em geral, pesquisas apenas exploratórias não formulam hipóteses. As pesquisas
que formulam hipóteses se utilizam do método hipotético-dedutivo que consiste na construção
de conjecturas, isto é, premissas altamente prováveis baseadas em hipóteses que, se
confirmadas, confirmam também sua veracidade. Um estudo que busque medir o índice de
delitos de uma cidade pode ter como hipótese que o índice para determinado semestre será
menor que o semestre anterior baseado em determinados fatores. Mais exemplos de
hipóteses: quanto maior variedade houver no trabalho, maior será a motivação do trabalhador;
o índice de câncer pulmonar é maior entre fumantes que não fumantes; a psicoterapia aumenta
gradativamente a expressão do paciente sobre o futuro e diminui a expressão sobre os fatos
passados.

Uma hipótese é diferente de uma afirmação, pois o pesquisador não tem plena certeza de sua
comprovação. As fontes comuns para formulação de hipóteses são as teorias, generalizações
empíricas sobre o problema de pesquisa e estudos revisados, mas elas também podem surgir
em campos de estudo pouco explorados. Nesse caso, quanto menor o fundamento empírico da
hipótese, maior o cuidado que o pesquisador deve ter quanto a sua aceitação ou rejeição. Um
erro grave ao elaborar hipóteses se faz quando o pesquisador não revê a literatura do campo
de estudo e formula hipóteses que já foram significativamente aceitas ou descartadas por
outros estudos.

Lakatos e Marconi (1991) listaram onze características que uma boa hipótese deve conter:

Consistência Lógica: o enunciado da hipótese não deve ser contraditório, além disso, deve ser
compatível com o conhecimento científico já existente.
Verificabilidade: a hipótese deve ser passível de verificação.
Simplicidade: a hipótese deve ser simples, evitando enunciados obscuros ou complexos
demais.
Relevância: a hipótese deve poder explicar ou prever algum dado significativo para a pesquisa.
Apoio teórico: a hipótese precisa ser baseada em uma teoria já estabelecida, a fim de que haja
uma probabilidade maior de produção de conhecimento relevante.
Especificidade: a hipótese deve indicar as operações de sua verificabilidade.
Plausibilidade e clareza: a hipótese deve ser provável e seu enunciado claro.
Profundidade, fertilidade e originalidade: a hipótese deve indicar os mecanismos que podem
levar o conhecimento a um nível de maior complexidade do problema. Deve facilitar que mais
deduções sejam feitas e expressar uma resolução inédita para a questão.
Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), as hipóteses se dividem em duas categorias:
hipóteses básicas e hipóteses secundárias. As hipóteses básicas são aquelas escolhidas pelo
pesquisador e que respondem o problema diretamente, por sua vez, as hipóteses secundárias
indicam respostas complementares ou outras possibilidades de resposta para o problema em
questão. Além dessa classificação, há outras maneiras de classificar hipóteses mais gerais que
variam de acordo com o objetivo da pesquisa como: hipóteses de pesquisa, hipóteses nulas,
hipóteses alternativas e hipóteses estatísticas. As hipóteses de pesquisa podem ser entendidas
como proposições acerca das possíveis relações entre duas ou mais variáveis. Comumente se
representa essas variáveis como H11, H2, H3, etc. E há ainda uma classificação para os tipos
de hipóteses de pesquisa, sendo:

Descritivas: as hipóteses desse tipo são utilizadas em estudos descritivos, por exemplo, “a
expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre 800 e 1.000 reais”.
Correlacionais: as hipóteses desse tipo explicam as relações entre variáveis, por exemplo,
“quanto maior a autoestima, menor o medo da rejeição”.
Da diferença entre grupos: as hipóteses desse tipo têm a finalidade de comparar grupos,
exemplo, “o efeito persuasivo para deixar de fumar será maior em adolescentes que adultos”.
Causalidade: as hipóteses desse tipo estabelecem relações bem mais fortes entre duas
variáveis, em que uma variável estabelece com a outra uma relação de dependência, por
exemplo, “a ausência da figura paterna contribui para uma maior probabilidade de conduta
antissocial”.
Além das hipóteses de pesquisa, temos as hipóteses nulas. Elas são os opostos das hipóteses
de pesquisa, pois as refutam. Retomando os exemplos anteriores, uma hipótese nula seria “a
expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x varia entre 800 e 1.000 reais”. Ou ainda,
“não há relação entre autoestima e o medo de sucesso”.

Há ainda, as hipóteses alternativas e as hipóteses estatísticas. A primeira são as possibilidades


de respostas alternativas ao problema de pesquisa. Assim, poderíamos dizer, como no
exemplo anterior, que “a expectativa de salário dos trabalhadores da empresa x oscila entre
1.200 e 1.500 reais”. As hipóteses estatísticas, por sua vez, são exclusivas das pesquisas
quantitativas e representam as hipóteses (pesquisa, nula e alternativa) em símbolos
estatísticos.

REFLITA
Além do valor das hipóteses para a obtenção de resultados, no que as hipóteses podem
contribuir para a pesquisa científica?
O que pode ser feito quando a hipótese básica é rejeitada?
Qual relação entre a pergunta de pesquisa e a elaboração da hipótese?
A CONDUÇÃO DA PESQUISA
Para que a pesquisa científica seja conduzida da forma correta, é necessário que o
pesquisador observe uma série de regras e princípios. De acordo com Academia Brasileira de
Ciências (ABC, 2013), os princípios gerais que todo pesquisador deve seguir são: honestidade
na apresentação e descrição dos procedimentos da pesquisa; confiabilidade na execução e
comunicação da pesquisa; objetividade na coleta e no tratamento de informações;
imparcialidade na execução da pesquisa; cuidado na coleta, no armazenamento e no
tratamento de dados; respeito pelos voluntários e animais que participarem de testagens;
veracidade na atribuição dos créditos aos outros; e, por fim, responsabilidade com a formação
e supervisão de novos cientistas.

Além disso, a ABC recomenda uma série de boas práticas que garantem a boa condução da
pesquisa. Em resumo, no que concerne ao planejamento da pesquisa, o pesquisador deve
observar:

Os recursos e materiais necessários à execução do projeto.


A averiguação da capacidade científica do pesquisador em dar procedimento à pesquisa.
A documentação de dados e informações prévias relevantes para a pesquisa.
Reconhecimento dos possíveis conflitos de interesse que possam atrapalhar a pesquisa.
A análise sobre propriedade intelectual quando for pertinente à pesquisa.
No que concerne ao manuseio de dados, o pesquisador ou a equipe responsável deve:

Registrar os dados coletos de forma fidedigna.


Guardar os dados da melhor forma.
Arquivar os dados da pesquisa por prazo razoável.
Colocar os dados à disposição para que outros pesquisadores possam replicar o estudo.
No que concerne a execução do projeto, o pesquisador ou a equipe responsável devem:

Conduzir a pesquisa visando a prevenção de falhas e desperdício de recursos.


Tratar todos os objetos de pesquisa com respeito, incluindo artefatos culturais.
Ter compromisso com a saúde dos participantes da pesquisa.
Garantir a confiabilidade dos dados e resultados.
Dar crédito aos financiadores dos seus projetos.
A integridade da pesquisa é um valor absoluto. Tais regras gerais valem para todo tipo de
pesquisa, embora haja regras mais pertinentes a algumas pesquisas que outras. Isso porque
há, ao menos, duas abordagens em pesquisa: as pesquisas qualitativas e as pesquisas
quantitativas. As pesquisas quantitativas se debruçam sobre dados que podem ser
quantificados, usualmente recorre à linguagem matemática, especialmente à estatística, a fim
de mostrar as causas e relações de determinado fenômeno. A pesquisa qualitativa, por sua
vez, não se preocupa com a representação matemática dos fenômenos e sim com a
compreensão mais geral deles. Os seus objetos não são quantificáveis, centrando-se na
compreensão e explicação de dinâmicas sociais.

De acordo com as características de cada projeto de pesquisa, são escolhidas diferentes


formas de pesquisa, sendo que não há uma melhor que a outra, mas a que mais se adequa
aos seus objetivos. É possível, inclusive, aliar a pesquisa qualitativa com a quantitativa.

As pesquisas diferem-se também quanto a sua natureza: a pesquisa básica enfoca em


construir conhecimentos novos sem aplicação prática prevista, enquanto a pesquisa aplicada
visa os resultados práticos desse novo conhecimento, dessa maneira, como as pesquisas
visam objetivos diferentes, é possível classificá-las de maneira mais específica. De maneira
geral, as pesquisas exploratórias têm como objetivo tornar o problema mais explícito ou
elaborar hipóteses, isso envolve levantamento bibliográfico, entrevistas (pesquisa
semiestruturada) e análise de exemplos do problema. A pesquisa descritiva visa descrever os
fatos e fenômenos de determinada realidade, sendo exemplos: estudos de caso, análise
documental e pesquisa ex-post-facto. A pesquisa explicativa visa determinar os fatores
responsáveis pela ocorrência de determinados fenômenos.

Os procedimentos de pesquisa também variam. As pesquisas experimentais seguem um


planejamento extenso e rigoroso. Usualmente tais pesquisas definem o objeto, suas variáveis e
a elaboração de instrumentos para a coleta de dados, podendo ser desenvolvidas em
laboratório ou no campo. Já a pesquisa bibliográfica é feita a partir da obtenção de referências
teóricas como livros e artigo científicos, com o objetivo de recolher neles informações que
ajudem a solucionar o problema inicial. A pesquisa documental segue caminho semelhante,
mas também pode recorrer a fontes mais diversificadas como cartas, filmes, fotografias,
pinturas, jornais etc.
Há ainda pesquisas de campo, etnográficas, de levantamentos (censos) e estudos de caso.
Cada pesquisa tem sua particularidade, mas em termos gerais, as pesquisas científicas
seguem as seguintes etapas: reconhecimento e formulação do problema, exploração do
problema na bibliografia ou coleta de dados exploratória, planejamento da pesquisa e
elaboração da problemática, elaboração de um modelo de análise (hipóteses), coleta de dados,
análise dos dados e comunicação dos resultados.

ACEITAÇÃO E REJEIÇÃO DE HIPÓTESES


Em algumas pesquisas, principalmente se correlacionais ou explicativas, se faz necessário a
elaboração de hipóteses, a fim de que possa se obter informações que ajudam a responder o
problema de pesquisa. Cada pesquisa é diferente, portanto, algumas podem ter mais de uma
hipótese analisada, principalmente quando o problema de pesquisa é complexo. Uma etapa
central da pesquisa é avaliar se a hipótese foi aceita ou rejeitada no confronto com os dados
empíricos. À rigor, um estudo não é capaz de aceitar ou rejeitar uma hipótese de maneira
definitiva, o estudo apenas indica evidências a favor ou contra. Lembre-se que na ciência não
há certezas absolutas ou indiscutíveis.

Há vários métodos para testar as hipóteses. Um deles é o Método Hipotético-Dedutivo,


elaborado pelo filósofo da ciência Karl Popper na obra Conjecturas e Refutações: o
desenvolvimento do conhecimento científico (2003). Segundo Popper, quando os
conhecimentos acerca de determinado tema são insuficientes, surgem os problemas. Visando
explicar o problema, as hipóteses são formuladas. São elas que ditam as consequências que
terão de ser testadas ou falseadas. A partir dessa etapa, procura-se evidências empíricas que
contradizem a hipótese. Quando não se consegue derrubá-la, então a hipótese é corroborada.
Assim temos o esquema: PROBLEMA – HIPÓTESE – PREVISÃO – TENTATIVA DE
FALSEAR – CORROBORAÇÃO.

Há também o método hipotético-indutivo quando se constrói as hipóteses a partir da


observação da experiência. Quando se tem alguma informação que dá à hipótese um certo
nível de probabilidade, é mais comum o uso do método hipotético-dedutivo. Todavia, na
prática, os dois métodos se articulam, pois os modelos elaborados na ciência geralmente
atendem tanto um quanto o outro.

Os resultados encontrados na tentativa de falsear a hipótese devem ser comparados com os


resultados esperados para que se possa tirar conclusões. Se houver divergência entre eles, é
necessário fazer uma análise que contemple saber: qual a causa dessa divergência, no que a
experiência é diferente do que se presumia na hipótese e, a partir de uma nova análise de
dados disponíveis, agora é possível elaborar novas hipóteses e examinar em que medida elas
respondem melhor o problema colocado. Nem sempre as hipóteses são aceitas nas pesquisas,
mas isso não significa que a pesquisa não tenha utilidade. O simples fato de eliminar uma das
hipóteses, ainda que provisoriamente, faz com que os cientistas fiquem mais próximos da
resposta do problema de suas pesquisas.

EXEMPLIFICANDO
Veja o exemplo prático de formulação hipótese em uma pesquisa sobre as cobras corais.

Observação 1: As cobras corais são coloridas.

Pergunta: Por que essa espécie tem esse tipo de coloração?

Hipótese básica: As cores fortes servem para afastar possíveis predadores.

Hipótese secundária ou alternativa: Na natureza, as cores fortes servem de camuflagem.

Previsão: se colocarmos cobras de borracha uma com cores e uma marrom em fundos brancos
com a presença de pássaros, os pássaros tentaram atacar a de borracha, em vez da colorida
(H1), ou atacaram as duas igualmente (H2).

Coleta de dados: Nos testes efetuados, os pássaros atacaram significativamente mais as


cobras marrons.

Interpretação dos resultados: A hipótese básica é mais provável e foi corroborada.

A elaboração de boas perguntas, a construção de hipóteses significativas e a testagem delas


de forma adequada são fundamentais em uma pesquisa quantitativa. Além disso, o
pesquisador deve estar sempre atento aos princípios e valores éticos tais como honestidade,
respeito, imparcialidade, responsabilidade, entre outros, a fim de garantir uma condução
adequada da pesquisa. Uma boa pesquisa, mesmo sem a corroboração de hipótese, colabora
com o avanço da ciência.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A pesquisa científica exige uma série de regras e boas condutas para garantir a obtenção de
bons resultados. Sem o cumprimento dessas regras e práticas, teríamos uma menor
confiabilidade dos resultados científicos, um atraso no avanço da ciência e, por consequência,
um desperdício de recursos.

Segundo a Academia Brasileira de Ciências, qual dos princípios a seguir são esperados na
condução de uma pesquisa científica?

a. Subjetividade.
b. Responsabilidade.
c. Desonestidade.
d. Passividade.
e. Cordialidade.
Questão 2
A pesquisa começa por uma pergunta. Essa pergunta pode surgir a partir de uma curiosidade,
dúvida, incerteza ou problema que o pesquisador identifica em uma determinada área de
estudo. Ela expressa a motivação do pesquisador para fazer uma investigação. Sem a
capacidade humana de fazer perguntas, o surgimento das ciências ficaria comprometido.

Qual acrônimo expressa as características que uma boa pergunta de pesquisa deve conter?

a. FIVER.
b. FOPER
c. FAER.
d. FERA.
e. FINER.
Questão 3
Depois da elaboração e exploração do problema de pesquisa, os pesquisadores desenvolvem
as hipóteses explicativas do fenômeno estudado. As hipóteses, quando elaboradas, devem
seguir certas características para garantir que sejam compatíveis com o método científico.

Segundo Lakatos e Marconi (1991), quais são as características que uma hipótese de pesquisa
deve possuir?

a. Consistência Lógica, Simplicidade, Destreza, Apoio Teórico, Especificidade, Plausibilidade,


Clareza, Profundidade, Verificabilidade e Cognoscibilidade.
b. Consistência Lógica, Complexidade, Significância, Apoio Teórico, Especificidade,
Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Verificabilidade e Eticidade.
c. Consistência Lógica, Simplicidade, Relevância, Apoio Teórico, Especificidade,
Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Fertilidade e Originalidade.
d. Consistência Lógica, Complexidade, Relevância, Apoio Teórico, Especificidade,
Marcabilidade, Clareza, Profundidade, Fertilidade e Eticidade.
e. Consistência Lógica, Simplicidade, Significância, Apoio Teórico, Especificidade,
Plausibilidade, Clareza, Profundidade, Verificabilidade e Cognoscibilidade.

REFERÊNCIAS
ABC. Rigor e integridade na condução da pesquisa científica. 2013.

HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica. 4 ed. Artmed Editora, 2015.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas,


1991.

POPPER, K.; BETTENCOURT, B.; ESPADA, J. C. Conjecturas e refutações: o


desenvolvimento do conhecimento científico. 2003.
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
QUAL É SUA PERGUNTA E COMO RESPONDÊ-LA?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


Um dos procedimentos possíveis a serem feitos pelo pesquisador são:

Pesquisa semiestruturada: realizar uma pesquisa com os novos clientes a fim de entenderem a
motivação da compra do produto e o meio publicitário no qual elas encontraram o produto.
Pesquisa exploratória: verificar se há outros fatores atualmente relevantes que poderiam
causar esse aumento como: surtos de doenças altamente transmissíveis pelo contato, grandes
eventos previstos para o mês de fevereiro, etc.
Na pesquisa com os novos clientes, a amostra indicou que 30% deles compraram o produto
por preocupação com a saúde; 50% pelos benefícios do produto em relação aos concorrentes
e os outros 20% por motivos diversos. Além disso, na pesquisa exploratória, foram rejeitadas
as hipóteses de surto por doenças ou de grandes eventos.

O pesquisador, analisando os dados, observou que há mais evidências a favor dos efeitos
positivos da pesquisa publicitária do que de efeitos externos, apontando então que poderia
existir de fato uma correlação entre o investimento em publicidade.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
AVALIANDO A BOA CONDUÇÃO DA PESQUISA
Você é o supervisor do departamento científico nessa empresa química. Após a realização do
teste de hipóteses, a fim de verificar o efeito positivo nas vendas do álcool em gel, você
recebeu o relatório da pesquisa e deve fazer uma análise sobre a condução da pesquisa.

Você observa que o pesquisador responsável não considerou a sazonalidade de compras do


álcool em gel como fator externo a ser descartado na hipótese alternativa. Além disso, o
pesquisador cometeu diversas falhas éticas como plágio e manipulação de dados na
elaboração da pesquisa.

Dada a situação apresentada, qual seria a recomendação do supervisor ao pesquisador


responsável pelo experimento?
RESOLUÇÃO
O supervisor recomendou ao pesquisador responsável que refizesse desde o início sua
pesquisa, pois o resultado poderia ser totalmente diferente do que o que foi constatado. Além
disso, o supervisor orientou sobre as falhas éticas graves cometidas pelo pesquisador na
condução do experimento, como plágio e manipulação de dados dos entrevistados. O
supervisor proibiu que o estudo fosse publicado até a sua correção completa.

NÃO PODE FALTAR


COMO COLETAR DADOS E
ANÁLISÁ-LOS?
Amanda Soares de Melo

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

Você já deve ter percebido como o conhecimento científico é cercado de prestígio e autoridade.
Até os dias de hoje, há uma crença de que a ciência é, de algum modo, superior aos outros
conhecimentos. Produtos e técnicas produzidos por pesquisa científicas são quase
imediatamente aceitos pela sociedade. Na verdade, o selo “comprovado cientificamente” é um
fator relevante para muitas pessoas na hora de decidir comprar ou não determinado produto.
Além disso, diversos conhecimentos procuram se passar por científicos buscando, de alguma
forma, alcançar sua credibilidade. Esse prestígio da ciência deve muito aos seus resultados
práticos nos diversos segmentos da sociedade. Tais resultados, considerados confiáveis e
bem-sucedidos, só foram alcançados por meio de um método especial que, quando seguido
rigorosamente, produz conhecimento confiável e verdadeiro. Assim, o método científico tem
uma série de regras e procedimentos a serem conduzidos e que não podem ser
negligenciados. Uma das etapas mais importantes, o núcleo da confiabilidade científica, é a
etapa de análise e coleta de dados. Convido-lhe ao estudo das fontes, técnicas e formas de
coletar e analisar dados brutos ou secundários, tão essenciais à integridade da pesquisa.

Em uma indústria química, o departamento de marketing quer verificar o efeito da propaganda


na venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos anteriores desse produto, a
empresa começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o faturamento desse produto no
mês seguinte, fevereiro, é significativamente maior. O departamento de marketing
imediatamente comemora os resultados e supõe que a propaganda provocou um efeito positivo
nas vendas do produto. Para comprovar essa hipótese, a empresa financia uma pesquisa
científica.

Na etapa de coleta de dados, o pesquisador responsável define “estado civil” como uma das
variáveis do estudo. Isto é, na amostra de 1.050 pessoas entrevistadas, 1.000 disseram ser
solteiras. A atribuição de “estado civil” como variável nesta etapa a pesquisa está correta?
Justifique.

“O conhecimento científico é independente dos conhecimentos da fé que são imutáveis, a fé


nos faz dizer creio, e a ciência, sei”

Blaise Pascal
CONCEITO-CHAVE
COMO COLETAR DADOS: FONTE DE DADOS
A pesquisa científica geralmente tem pelo menos cinco fases: a elaboração e exploração do
problema, o estabelecimento de um modelo de análise (hipóteses), a verificação e coleta de
dados, a análise de dados e os resultados. A coleta de dados é uma etapa essencial a
qualquer pesquisa científica, todavia, os métodos e procedimentos de coleta serão diferentes
para cada tipo de pesquisa. Por exemplo, temos ao menos dois tipos gerais de pesquisa: a
pesquisa experimental, que envolve a coleta de dados em campo ou laboratório, podendo ser
tanto qualitativa quanto quantitativa, e a pesquisa bibliográfica, que envolve a procura na
literatura existente de uma resposta para o problema tratado. Ela também é essencial para a
fundamentação teórica de qualquer pesquisa.

Como se pode observar, ambas abordagens são complementares e geralmente trabalham


juntas. Na pesquisa experimental, as fontes dos dados mais comuns são: experimentos
laboratoriais, estudos de campo, entrevistas, estudos de caso, observações empíricas,
experimentos computacionais, etc. Na pesquisa bibliográfica, as fontes são documentos,
registros, atas, cartas, livros, teses, artigos científicos, relatórios, periódicos técnicos, estudos
gerais, metanálises, bancos de dados digitais etc. Cada fonte exige um tratamento específico
da informação.

Há pesquisas que contam com fontes secundárias e fontes primárias de informação. As fontes
secundárias são geralmente dados que já foram coletados por outros estudos e estão
disponíveis por meio de alguma listagem de informação. As fontes primárias seriam os dados
brutos a serem coletados na pesquisa, como os dados obtidos de um questionário elaborado
pelo pesquisador.

Na pesquisa quantitativa, com relação a suas fontes primárias, em geral elas podem vir da
observação ou da utilização de instrumentos como levantamentos ou survey, que são formas
de descobrir o que existe e como existe no ambiente social analisado; em geral, são descritivos
e visam determinar as características, opiniões de populações, a partir de amostragens
representativas. Têm como vantagem a aplicação simples, fácil decodificação e análise dos
dados. Como desvantagem, há o problema de confiabilidade, pois uma vez que se faz
perguntas às pessoas, elas podem se recusar a prestar informações verídicas, por isso é
necessário muito cuidado na análise dos dados coletados.

Devido ao grande volume de informações disponíveis nas pesquisas bibliográficas, que


ocorrem tanto para fundamentar teoricamente a pesquisa quanto para dar respostas ao
problema tratado, deve-se ter muito cuidado com a confiabilidade e autenticidade das
informações coletadas. Em geral, as fontes de pesquisa e bancos de dados são a base para
verificar o que já existe publicado e o que está em pauta na comunidade científica. Ao longo do
tempo, muitas teorias foram consagradas e conhecê-las é tarefa indispensável de um
pesquisador iniciante.

Procurar conhecer fontes seguras sobre o assunto tratado é fundamental. As informações


servem à tomada de decisão nas pesquisas. Dessa maneira, o pesquisador precisa ter a
capacidade de saber filtrar, verificar consistência, validade e pertinência das informações que
encontra. Com informações mais consistentes, chegamos a decisões mais corretas e, por
consequência, a resultados melhores.

Na pesquisa bibliográfica, recomenda-se o fichamento de artigos, teses ou demais materiais.


São perguntas essenciais a serem feitas quando se ficha o artigo: como se procedeu a
pesquisa? Quais foram os caminhos para alcançar o objetivo proposto? Qual foi o tipo de
pesquisa? Como foi utilizada a amostragem? Quais instrumentos utilizados para a coleta de
dados? Quais foram os resultados? (BARLETA et al., 2018, p. 8).

A maioria das bases de dados confiáveis estão vinculadas ao trabalho realizado em


universidades. Essas são algumas bases de dados de acesso gratuito: BV – Biblioteca Virtual,
Periódicos CAPES, SIB, Livres, BDTD, Biblioteca digital de Produção Intelectual, Portal de
Livros Abertos USP, SciELO, ERIC, Educ@, WebQualis, Dedalus, Biblioteca digital de teses,
entre outros. Há também fontes seguras para a pesquisa bibliográfica que são pagas ou por
convênio, algumas delas: Scopus, Web of Science, JSTOR, LISA, Academic Search Premier,
Project Muse, ANPAD, entre outras. Outras fontes de busca possíveis: Google Scholar, Books,
Open Library, Bioline International, Arca, Directory of Open Acess Journal, SpringerLink, Scirus,
Inomics, BPubs, EconLit, American History Online, Ethnologue, Political Information, WikiArt,
WorldWideScience, MathGuide, Academic Index, Lexis, entre outros.

ASSIMILE
Há dois tipos gerais de pesquisa: experimental e bibliográfica. A pesquisa experimental envolve
a coleta de dados brutos, sendo possível mesclar com a bibliográfica. A pesquisa bibliográfica
envolve a coleta de dados produzidos anteriormente por outros estudos.
As fontes de pesquisa devem ser confiáveis. É necessário checar a consistência lógica,
validade e pertinência das informações antes de adotá-las.
Na pesquisa bibliográfica, recomenda-se o fichamento dos artigos, teses, livros, estruturando e
elencando os objetivos, a metodologia e os resultados do estudo analisado.
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
Há diversas técnicas de coletas de dados. Cada pesquisa utilizará uma técnica que esteja mais
adequada aos seus objetivos. Nas pesquisas quantitativas, as fontes dos dados podem vir da
observação, levantamentos ou survey. Comecemos pela observação, que pode ser classificada
em seis tipos:

Estruturada: em que é especificado o que deve ser observado e como deve ser sua coleta.
Não estruturada: o problema ainda não foi formulado, apenas se orienta a observação.
Natural: no ambiente em que a situação ocorre.
Planejada: em um ambiente artificial.
Disfarçada: entrevistados não sabem que estão sob observação.
Não disfarçada: entrevistados sabem que estão sob observação.
A observação é muito importante na pesquisa científica e, em relação a outros métodos, ela
traz a vantagem de que os dados são apreendidos diretamente, sem intermediação. Contudo,
uma possível desvantagem é que o próprio pesquisador pode provocar alterações nos
fenômenos observados, podendo dar uma interpretação deslocada do objeto, produzindo
resultados pouco confiáveis. Por essa razão, o pesquisador observador deve estar atento para
não contaminar sua observação com suas crenças, pensamentos e opiniões.

Os levantamentos, por sua vez, examinam amostras de uma população ou grupo por meio de
documentos, questionários, entrevistas e formulários. A entrevista é a técnica em que o
pesquisador formula perguntas ao sujeito observado. As questões devem ser elaboradas
pensando nas mais relevantes ao estudo, além de estarem baseadas em uma bibliografia
atualizada do assunto. Todos os dados coletados devem ser verificados em termos da sua
credibilidade.

Como vantagem, a entrevista: é eficiente na obtenção de dados com profundidade, os dados


são suscetíveis à classificação e quantificação, permite a avaliação de informações não
previstas anteriormente, etc. As desvantagens seriam: fornecimento de respostas inverídicas,
influência exercida pelo entrevistador no entrevistado, etc. A entrevista ainda pode ser
classificada como sendo: estruturada (roteiro previamente estabelecido), não estruturada (sem
direcionamento do processo pelo pesquisador) e semiestruturada (roteiro básico flexível).

O questionário é uma série de perguntas que devem ser respondidas pelo público pertinente à
pesquisa. Ele deve ser objetivo e com uma extensão limitada, estando acompanhado de
instruções que esclareçam o propósito e facilite o preenchimento pelo público-alvo. As
vantagens dos questionários são: menor curso, anonimato das respostas, menor influência dos
entrevistadores, etc. As desvantagens podem ser: baixo índice de retorno, limitado a quem
saiba ler e escrever, etc. É preciso que o número de questões não seja extenso. Os tipos de
questões podem ser classificados em abertas (em que o informante pode responder
livremente), fechadas (escolha entre duas opções disponíveis de resposta) e múltipla escolha
(dispõe uma série de respostas possíveis).

Os formulários, por sua vez, são coleção de questões anotadas pelo entrevistador na presença
do público-alvo que pode ser configurado como um meio termo entre entrevista e questionário.
Suas vantagens são: a presença do pesquisador. que pode elucidar os objetivos da pesquisa, e
ser amplamente utilizado e flexível. Como desvantagens possíveis do formulário temos: menor
liberdade de respostas dada a presença do pesquisador, tempo de resposta mais demorado e
risco de distorções pela presença do pesquisador entrevistador.

Na elaboração do projeto e no planejamento de pesquisa, caberá ao pesquisador indicar qual


método de coleta de dados mais se adequa a sua pesquisa e aos seus objetivos. Também é
possível que o pesquisador insira outros métodos quando os dados obtidos não parecerem
atender suficientemente à demanda da pesquisa.

REFLITA
Em sua opinião, como o pesquisador pode fazer para diminuir as chances de interferência da
sua própria subjetividade no objeto observado?

METODOLOGIAS E PROCEDIMENTOS
As metodologias e os procedimentos em pesquisa devem responder as perguntas “como” e
“onde”, porque são elas que ditam o trajeto a ser seguido para o alcance dos objetos de
pesquisa. Assim, o primeiro passo para coleta de dados é determinar qual o método de análise
adequado à pesquisa. Além disso, deve-se determinar qual a natureza da pesquisa: qualitativa
ou quantitativa.

Deve estar claro o tipo de pesquisa que será trabalhada: bibliográfica, documental ou de
campo. A pesquisa bibliográfica é obtida a partir de material já existente presente em teses,
livros e artigos. A pesquisa documental é similar, a diferença é a natureza das fontes, pois as
informações dos documentos não necessariamente foram anteriormente tratadas e analisadas.
Já a pesquisa de campo consiste na produção dos dados no ambiente observado.

Também é preciso indicar as modalidades da pesquisa, isto é, o papel do pesquisador e dos


participantes na pesquisa.

Pesquisa participante: trata-se do envolvimento do pesquisador com o objeto observado, o


pesquisador interage com os participantes em todas as situações acompanhando-os bem de
perto.
Pesquisa ação: o pesquisador não só acompanha o ambiente, como também intervém para
modificá-lo. Existe um objetivo de alterar a situação dos participantes.
Estudo de caso: o pesquisador traça um estudo profundo sobre um objeto particular que pode
ser representativo dos demais.
História oral: os participantes são protagonistas nos registros dos fatos; é um método que se
utiliza de entrevistas e retratos autobiográficos.
Vale lembrar que tais métodos não são excludentes entre si, eles podem ser utilizados em
conjunto na pesquisa. Os pesquisadores devem ter ciência do tipo de universo e amostragem
da pesquisa, bem como das técnicas que podem ser utilizadas, como observação,
questionários, formulários, entrevistas.
O universo trata do conjunto da população a ser estudada e a amostragem é a base lógica do
estudo que serve de referencial do todo. A amostragem para ser representativa precisa
oferecer a melhor descrição da população. Ela é exclusiva da pesquisa quantitativa, na qual
temos: amostragem probabilísticas e não probabilísticas. A primeira busca uma maior
imparcialidade, pode ser aleatória, sistemática, estratificada ou de conglomerados. É o único
método que permite a representação do todo. A segunda consiste em uma escolha dos
elementos que irão compor a amostra, embora exija uma análise imparcial, podendo ser dos
tipos: conveniência, intencional ou cotas.

A coleta de dados também pode ser classificada em termos de contínuas, periódicas ou


ocasionais. A primeira ocorre quando as informações dos eventos que acontecem são
coletadas à medida que eles ocorrem. A segunda acontece em ciclos, como os levantamentos
(censos). Por fim, a terceira ocorre sem preocupação de continuidade ou periodicidade. Nas
pesquisas em que são realizadas coletas de dados contínuas ou periódicas, o objetivo é a
enumeração total. A estatística participa desse processo dando organização e delineamento
aos dados a fim de permitir inferências a partir das informações coletadas.

ANÁLISE DE DADOS
Depois de feita a coleta, os dados estão desorganizados e pouco claros, então, a primeira
coisa a fazer é tratá-los. A apresentação dos dados pode se dar por meio de tabelas, quadros e
gráficos que permitam ao pesquisador fazer inferências e chegar a conclusões. Para a
elaboração desses, há inúmeros recursos digitais que auxiliam a apresentação dos dados,
como o Excel.

As tabelas são formas não discursivas, representadas por números e códigos, dispostos em
ordem, segundo as variáveis analisadas do fenômeno. As tabelas, preferencialmente, devem
ser completas para que dispense a consulta ao texto, contenha os dados necessários, tenha
uma estrutura simples, objetiva e certa consistência lógica.

Os quadros podem ser entendidos como arranjos de palavras dispostas em colunas e linhas,
com ou sem números. Eles possuem um teor esquemático e descritivo, não estatístico como as
tabelas, mas suas formas de apresentação são bastante semelhantes.

Por sua vez, os gráficos representam a forma dinâmica dos dados, sendo mais eficientes na
visualização de tendências. Não se deve utilizar tabela e gráfico para uma mesma informação.

O gráfico pode ser particularmente útil para traduzir dados de difícil compreensão em uma
linguagem simples.

As escalas dividem-se em duas: nominais e de ordem. As nominais consistem na atribuição de


nomes a eventos ou objetos: gênero, local de nascimento. As ordinais são atribuição de ordem,
hierarquia a dados qualitativos como: classe social (A, B, C), estado geral do paciente (ruim,
regular, bom).
Na análise de dados, também é importante o procedimento de operacionalização dos dados,
que consiste em transformar os dados em variáveis para que depois sejam expressos em
tabelas, gráficos e quadros.

Uma variável é simplesmente alguma coisa que muda, ou seja, as variáveis devem assumir
valores diferentes ou categorias diferentes. Exemplo, as variáveis de valor podem ser as
idades: 17, 18, 20, 32, 45. As variáveis de categoria podem ser os gêneros: feminino,
masculino, não binário etc.

As variáveis são muito importantes porque, através delas, observamos as variações dos
fenômenos analisados na pesquisa. Elas podem ser de dois tipos: qualitativas e quantitativas.
As variáveis qualitativas são os dados de atributos ou qualidades, por exemplo, sobre o
assunto que você mais lê: Literatura. Já as variáveis quantitativas são números em certa
escala, por exemplo, quantos livros você lê ao ano: 12.

As variáveis também se dividem por tipos:

Independentes: são explicativas das variáveis dependentes, consistem em fatores


determinantes, causas, de certo resultado. Exemplo: testagem da temperatura como fator
modificador da taxa de crescimento de determinado organismo. A variável independente é a
temperatura, enquanto a dependente é a taxa de crescimento.
Dependentes: são afetadas pelas variáveis independentes, constituem o resultado ou a
resposta de algo que foi estimulado.
Moderadoras: também pode ser condição, causa, estímulo, contudo, são menos importantes
que as independentes. Por exemplo, o desempenho do aluno pode variar dependendo do
número de horas de estudo (variável independente) e da iluminação do ambiente (variável
moderada).
Intervenientes: são as variáveis que estão entre as independentes e dependentes. Elas afetam
o fenômeno observado, mas não podem ser mensuradas devido ao seu caráter puramente
hipotético. Exemplo: menor nº de dias trabalhados -> satisfação no trabalho -> produtividade.
De controle: as variáveis de controle são neutralizadas ou anuladas de propósito para não
interferirem na análise da relação entre variável independente e dependente. Por exemplo,
sexo e idade. A hipótese colocada: as variáveis “sexo” e “idade” influenciam a relação entre
asma e alergia. Assim, o pesquisador saberá que variações próximas dessas hipóteses não
são significativas, porque a hipótese não é verdadeira.
As variáveis também expressam relações: lineares, curvilíneas ou exponenciais. Isso significa
analisar se, por exemplo, caso X mude, há mudanças em Y? Caso aumente Y, X também
aumenta? Se Y diminui, X aumenta? etc.

EXEMPLIFICANDO
Na realização de pesquisas com questionários, cada questão se torna uma variável. Cada
variável deve ser codificada em uma coluna de uma planilha e cada questionário ocupa uma
linha da planilha.
Você deve ter notado que os procedimentos metodológicos podem variar de acordo com o
escopo, o objetivo e a natureza da pesquisa. Por essa razão, o planejamento deve ser feito
levando em conta as características do objeto de estudo, dos objetivos da pesquisa e do
problema que se propõe resolver.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A circulação de notícias falsas tem levado a um crescente ceticismo quanto à veracidade e
confiabilidade das informações disponíveis na internet. Todavia, atualmente, a internet é um
lugar imprescindível para a divulgação da pesquisa científica. Dessa maneira, sabendo filtrar, é
possível chegar a informações certas e seguras.

Quando se pesquisa na internet, qual é o procedimento que deve ser realizado acerca das
informações?

a. É necessário checar a inteligibilidade, a validade e relevância das informações, antes de


adotá-las.
b. É necessário checar a gramática, invalidade e utilidade das informações, antes de adotá-las.
c. É necessário checar a consistência, invalidade e relevância das informações, antes de
adotá-las.
d. É necessário checar a consistência lógica, validade e pertinência das informações, antes de
adotá-las.
e. É necessário checar a inteligibilidade, validade e utilidade das informações, antes de adotá-
las.
Questão 2
A entrevista é uma técnica de coleta de dados em que o pesquisador tem um contato direto
com a pessoa ou grupo observado a fim de coletar suas impressões acerca de um assunto.
Esse método não dispensa um planejamento adequado de seus objetivos, desenvolvimento e
aplicação. Caso contrário, a entrevista pode não gerar dados confiáveis.

Assinale a alternativa que completa correta e respectivamente:

As _________ da entrevista devem ser elaboradas pensando nas mais ________ ao estudo e
devem estar baseadas em uma _____________ do assunto. Todos os dados coletados devem
ser _________ em termos da sua ___________.

a. teorias, irrelevantes, bibliografia atualizada, clonados, plausabilidade.


b. hipóteses, relevantes, bibliografia desatualizada, verificados, credibilidade.
c. questões, irrelevantes, bibliografia atualizada, apagados, razoabilidade.
d. teorias, relevantes, bibliografia desatualizada, direcionados, confiabilidade.
e. questões, relevantes, bibliografia atualizada, verificados, credibilidade.
Questão 3
Na pesquisa quantitativa, após a coleta dos dados brutos, é necessário organizá-los em termos
de variáveis ou constantes e em termos de apresentação que podem ser por gráficos, quadros
e tabelas. Esse procedimento garante que as informações estejam claras e organizadas para a
visualização das causas, efeitos e tendências do fenômeno observado.

Em relação às variáveis dependentes e independentes, assinale a alternativa correta:

a. A primeira é explicada pela segunda, a segunda é determinante da primeira.


b. A primeira é determinante pela segunda, a segunda é explicada pela primeira.
c. A primeira é causada pela segunda, a segunda é determinante da primeira.
d. A primeira é explicada pela segunda, a segunda é causada pela primeira.
e. A primeira é causada pela segunda, a segunda é explicada pela primeira.

REFERÊNCIAS
DA SILVA, D.; LOPES, E. L.; JUNIOR, S. S. B. Pesquisa quantitativa: elementos, paradigmas e
definições. Revista de Gestão e Secretariado, v. 5, n. 1, p. 01-18, 2014.

BARLETA, M. et al. Fontes de pesquisa e bases de dados especializadas, PUC, 2018.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas,


1991.

SEVERINO, A. Metodologia do Trabalho Científico. Cortez, 2002.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAL É SUA PERGUNTA E COMO RESPONDÊ-LA?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


Um dos procedimentos possíveis a serem feitos pelo pesquisador são:

Pesquisa semiestruturada: realizar uma pesquisa com os novos clientes a fim de entenderem a
motivação da compra do produto e o meio publicitário no qual elas encontraram o produto.
Pesquisa exploratória: verificar se há outros fatores atualmente relevantes que poderiam
causar esse aumento como: surtos de doenças altamente transmissíveis pelo contato, grandes
eventos previstos para o mês de fevereiro, etc.
Na pesquisa com os novos clientes, a amostra indicou que 30% deles compraram o produto
por preocupação com a saúde; 50% pelos benefícios do produto em relação aos concorrentes
e os outros 20% por motivos diversos. Além disso, na pesquisa exploratória, foram rejeitadas
as hipóteses de surto por doenças ou de grandes eventos.

O pesquisador, analisando os dados, observou que há mais evidências a favor dos efeitos
positivos da pesquisa publicitária do que de efeitos externos, apontando então que poderia
existir de fato uma correlação entre o investimento em publicidade.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
AVALIANDO A BOA CONDUÇÃO DA PESQUISA
Você é o supervisor do departamento científico nessa empresa química. Após a realização do
teste de hipóteses, a fim de verificar o efeito positivo nas vendas do álcool em gel, você
recebeu o relatório da pesquisa e deve fazer uma análise sobre a condução da pesquisa.

Você observa que o pesquisador responsável não considerou a sazonalidade de compras do


álcool em gel como fator externo a ser descartado na hipótese alternativa. Além disso, o
pesquisador cometeu diversas falhas éticas como plágio e manipulação de dados na
elaboração da pesquisa.

Dada a situação apresentada, qual seria a recomendação do supervisor ao pesquisador


responsável pelo experimento?

RESOLUÇÃO
O supervisor recomendou ao pesquisador responsável que refizesse desde o início sua
pesquisa, pois o resultado poderia ser totalmente diferente do que o que foi constatado. Além
disso, o supervisor orientou sobre as falhas éticas graves cometidas pelo pesquisador na
condução do experimento, como plágio e manipulação de dados dos entrevistados. O
supervisor proibiu que o estudo fosse publicado até a sua correção completa.

NÃO PODE FALTAR


ESCREVER E PUBLICAR: COMO LEVAR A CIÊNCIA PARA AS PESSOAS?
Amanda Soares de Melo
PRATICAR PARA APRENDER
Caro estudante,

Atualmente, a informação científica é um recurso valioso para o desenvolvimento da sociedade


em seus diversos setores: acadêmico, industrial, governamental, empresarial, etc. Esse tipo de
informação é gerido por uma grande indústria de editores de revistas e livros a nível mundial.
Conhecer o contexto de transformação desse processo, os meios de publicação científica, a
estrutura e os formatos dos textos científicos são fundamentais para que se possa produzir
ciência. Também é necessário conhecer as tecnologias que trouxeram muitas ferramentas
positivas para o desenvolvimento das pesquisas científicas e comunicação dos resultados. Há
ferramentas digitais que auxiliam na pesquisa de fontes bibliográficas, na análise de dados, na
revisão de textos e no gerenciamento das referências bibliográficas.

Convido-lhe a refletir sobre a dimensão da produção de conhecimento científico e tecnológico


em nossos tempos.

Em uma indústria química, o departamento de marketing quer verificar o efeito da propaganda


na venda de álcool em gel. Com as informações dos faturamentos anteriores desse produto, a
empresa começa a fazer grandes campanhas publicitárias e o faturamento desse produto no
mês seguinte, fevereiro, é significativamente maior. O departamento de marketing
imediatamente comemora os resultados e supõe que a propaganda provocou um efeito positivo
nas vendas do produto. Para comprovar essa hipótese, a empresa financia uma pesquisa
científica.

Após a conclusão da pesquisa, o pesquisador inicia o processo de publicação dos resultados.


Para isso, ele resolve fazer uma busca nas revistas científicas mais relevantes disponíveis na
internet sobre a temática do estudo. Qual o principal critério que o pesquisador deve observar
na hora de escolher uma revista a fim de alcançar esse objetivo?

“A nossa geração tem que escolher o que ela valoriza mais: lucros de curto prazo ou
habitabilidade de longo prazo no nosso lar planetário?”

Carl Sagan
CONCEITO-CHAVE
FORMATOS E NORMAS DE PUBLICAÇÃO CIENTÍFICA
A publicação científica ocorre quando os pesquisadores buscam tornar acessíveis a outros os
resultados de suas investigações. A divulgação dos resultados da investigação pode ser
expressada por diversas formas de publicação. A publicação científica faz parte de um ramo
mais amplo denominado de Comunicação Científica, que envolve diferentes formas de
comunicação dos resultados (formais, informais, escritas, verbais) e que, por sua vez, se insere
no contexto mais amplo da Investigação Científica. A preocupação com a difusão do
conhecimento existiu quase sempre, no entanto, ao longo do tempo ocorreram transformações
na sociedade que afetaram a comunicação científica. São exemplos:
O surgimento das tecnologias de informação afetou enormemente os sistemas de produção e
divulgação da ciência. Como exemplo, temos a migração do papel para os meios digitais.
O crescimento do número de revistas científicas e também o aumento na formação de
pesquisadores.
A parte editorial da publicação científica deixou de ser acadêmica e passou a ser comercial.
A comunicação científica acaba envolvendo diversos atores da sociedade como acadêmicos
(responsáveis pela investigação), universidades (instituições que possuem os recursos e
ambiente necessário para a investigação), financiadores (órgãos do governo ou agências que
financiam bolsas e materiais da pesquisa), editores (gerem o controle de qualidade, produção e
distribuição do conhecimento), bibliotecários (fazem a gestão da informação e sua
preservação) e a população geral (todos nós que somos indiretamente e diretamente
beneficiados com a pesquisa).

Os formatos mais comuns de publicação são: artigo científico, artigo de revisão, comunicações,
cartas ao editor, working papers. O artigo científico é o formato mais comum, em geral, eles
comunicam os resultados da pesquisa científica. Sua estrutura é normalizada, isto é, segue
uma série de padrões e regras. Os artigos são estruturados em: Introdução, Método,
Resultados e Discussão. Esse tipo de artigo passa por um processo chamado de Peer-Review
ou revisão por pares (especialistas na área) antes de ser publicado.

O artigo de revisão traça uma avaliação crítica sobre diversos artigos com o assunto de
interesse da pesquisa, apresentando uma visão comparativa entre eles. São bons para ter uma
visão geral do assunto. Metanálises ou revisões sistemáticas fazem parte desse nicho e
também passam por Peer-Review.

As comunicações são apresentações resumidas da pesquisa a fim de divulgá-las, que


compõem uma síntese geral da pesquisa e podem ser feitas enquanto a pesquisa está em
desenvolvimento. Em geral, tais comunicações, apesar de passarem por Peer-Review, são
publicadas em um curto espaço de tempo. Essa é uma de suas vantagens.

As cartas ao editor são expressões de opinião sobre um artigo publicado na revista que
constitui um tema em discussão na comunidade científica. Esse formato não apresenta
resultados, apenas opiniões do autor. Não passa por Peer-Review.

Working papers são artigos em fase de elaboração disponíveis, normalmente, em programas


de pós-graduação das universidades. Costuma conter informações bastante atualizadas sobre
diversos temas.

Independente do tipo de publicação que o pesquisador irá escolher, recomenda-se que o autor
consulte a seção “Diretrizes para publicação” da revista que ele está interessado em publicar.
Isso porque os artigos científicos têm uma estrutura bastante definida e padronizada. O autor
precisa adequar sua pesquisa ao tipo de normalização que a revista em questão adota.
A normalização refere-se ao processo de aplicação de normas previstas para a publicação
científica. Ela fixa regras para o tratamento das publicações referenciadas no trabalho
científico, isto é, elas padronizam e uniformizam as referências bibliográficas da pesquisa. Esse
processo traz vantagens como:

Garante a veracidade e segurança das informações.


Protege os direitos autorais dos estudos citados.
Facilita a comunicação das informações, sejam elas primárias ou secundárias.
Evita duplicidade de fontes.
As regras da normalização técnica são feitas por órgãos especializados. No Brasil, a
normalização se dá pela entidade privada e sem fins lucrativos ABNT – Associação Brasileira
de Normas Técnicas, fundada em 1940. Cada país tem seu órgão responsável pela
padronização de informações. Nos Estados Unidos, por exemplo, é a APA - American
Psychological Association.

Atualmente, a norma brasileira de padronização de Referências Bibliográficas é a NBR


6023/agosto 2002. Ela fixa as condições a serem seguidas na padronização das referências de
um trabalho. Tais normas podem ser acessadas através de manuais simplificados que
faculdades e universidades, em geral, disponibilizam na internet, a fim de orientar estudantes,
docentes e pesquisadores.

ASSIMILE
A normalização acadêmica consiste no processo de organização dos conteúdos da pesquisa
visando a prevenção de problemas, cooperação entre os pares e economicidade. Elas existem
para facilitar e organizar o acesso ao conteúdo científico produzido. Possui, ao menos, quatro
vantagens: garante a veracidade e segurança das informações, protege os direitos autorais,
facilita a comunicação das informações e evita a duplicidade de fontes.

FERRAMENTAS DIGITAIS
Um dos maiores desafios em uma pesquisa científica é capturar, organizar, consultar e utilizar
as informações obtidas durante todo o processo da pesquisa. Atualmente, há inúmeras
ferramentas digitais que auxiliam na organização das informações e referências bibliográficas,
como Mendeley, Zotero, Endnote e fastformat.co.

O Mendeley, fundado em 2008, é um gerenciador de referências bibliográficas e também uma


rede social. Por meio dele é possível organizar as bibliografias automaticamente, colaborar
com outros pesquisadores, importar com facilidade artigos, encontrar informações relevantes
no artigo que está lendo, além de acessar e ler seus e outros artigos de qualquer lugar. Com
esse software é possível gerar estatísticas de número de artigos, regiões geográficas e
identificação de leitores por área do conhecimento, entre outros recursos.

O Zotero, fundado em 2006, também é um gerenciador de bibliografia, em que é possível


registrar dados bibliográficos de livros, artigos, páginas web, etc. Um dos seus diferenciais é o
fato de ser gratuito e de Código Aberto. Com esse software é possível gerar citações e
referências de acordo com as normalizações, como ABNT, APA, Chicago, etc.

O EndNote, fundado em 1988, também é um gerenciador de referências bibliográficas. Ele


dispõe de recursos que permitem a busca, o armazenamento e a organização das referências
recolhidas em bases de dados credenciadas. O software é integrado a diversas bases de
dados confiáveis. Enquanto o Mendeley e o Zotero são gratuitos, o EndNote é pago.

O fastformat.co, por sua vez, é uma ferramenta gratuita de formatação de texto que deixa suas
informações totalmente de acordo com as regras ABNT, entre outras. A ferramenta formata
todo o texto da forma correta, com caixas para que você escreva dentro, permitindo visualizar o
arquivo durante esse processo. É muito útil, principalmente, para dissertações, teses e
monografias.

REFLITA
Como os conflitos de interesse econômicos na ciência podem afetar os princípios e valores que
regem a pesquisa científica como objetividade, positividade, racionalidade e explicabilidade?

PUBLICAÇÃO DOS RESULTADOS: ACESSO ABERTO E ACESSO PAGO


Antigamente, os principais financiadores das pesquisas científicas eram pessoas ricas que
utilizavam seus recursos para apoiar o avanço da ciência. Com o passar do tempo, a ciência foi
aumentando em importância na sociedade e os investimentos no avanço científico foram
institucionalizados, tornando-se um foco de questões políticas, sociais e empresariais. A
motivação para tal é que a ciência se tornou um diferencial competitivo na sociedade
capitalista. Atualmente, os países com as maiores economias do mundo investem milhões de
dólares em ciência e tecnologia.

As inovações são dadas pela ciência e ter acesso à informação científica é crucial no
desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologias. Desse modo, os canais de
comunicação científica e publicação do conhecimento ganham cada vez mais relevância. No
entanto, a cobrança de assinaturas com preços muito elevados, pelos editores comerciais das
revistas científicas, tem impedido que informações novas a partir de estudos realizados sejam
acessadas por grande parte da comunidade científica que não dispõe de recursos para tal. O
paywall ou acesso pago na ciência tem provocado inúmeros problemas: o orçamento de
bibliotecas tem ficado quase totalmente comprometido, o acesso pago impede que diversos
cientistas altamente qualificados tenham acesso a informações relevantes para suas próprias
pesquisas em andamento, além de contribuir para a exclusão de pessoas da atividade
científica.

Nesse contexto, surgiram iniciativas de plataformas de compartilhamento e colaboração


gratuitas, visando a comunicação científica em sua forma mais ampla e inclusiva. O open acess
ou ciência aberta é um meio de fazer o conhecimento voltar a circular entre os cientistas. A
internet amplificou e fortaleceu esse movimento pois forneceu novas formas de publicação e
compartilhamento das pesquisas. Esse movimento incentiva a transparência na ciência,
promove esclarecimento na gestão dos dados científicos, que passam a estar acessíveis a toda
sociedade e, por consequência, amplia a participação e o conhecimento de outros grupos
sobre a ciência que está sendo desenvolvida.

Nesses bancos de dados gratuitos é possível encontrar artigos publicados com revisão por
pares, pré-prints, deixando que a pessoa leia, distribua, imprima, copie e use em sua pesquisa.
As únicas restrições são dos direitos autorais, em que o autor precisa ser reconhecido e citado.
Além disso, há modelos de comunicação científica em que a pesquisa é compartilhada desde o
início. Conclui-se que o modelo de ciência aberta contribui enormemente com a transparência,
aprendizado, colaboração, reutilização e inclusão social no meio científico.

DIVULGANDO A PESQUISA
A publicação de um artigo científico passa por diversas etapas, em geral, segue a seguinte
ordem: seleção da revista, submissão do artigo, avaliação inicial do editor (aceitação do artigo,
peer-review (revisão por pares), atualização do artigo (propostas pelos pares), submissão do
artigo revisado e publicação. O processo de publicação é frequentemente demorado e
raramente decorre em menos de seis meses entre a submissão e a aceitação para publicação.
Em muitos casos, as revistas mencionam a data de submissão e a de aceitação quando o
artigo é publicado. Além disso, é cada vez mais comum a disponibilização digital do artigo, ao
invés da publicação impressa.

Existem três modelos principais de publicação:

Publicação Tradicional: este modelo se baseia na venda de artigos por subscrição, isto é, os
autores publicam seus artigos que só são acessados mediante pagamento de assinatura.
Acesso Aberto: neste modelo, os autores submetem seus artigos, podendo ou não pagar uma
taxa de submissão, porém os utilizadores têm acesso livre ao artigo, contribuindo para a
eliminação de barreiras no acesso ao conhecimento científico.
Modelo Híbrido: o modelo híbrido é uma opção que mescla os dois anteriores, em que se
mantém o pagamento de acesso, mas existe a opção de publicação em acesso aberto. São
exemplos: Elsevier, Taylor & Francis ou Springer.
A publicação Acesso Aberto aplica-se tanto a artigos como a dados científicos resultantes das
pesquisas que não foram utilizados. Há duas vias de publicação:

Via Dourada: o acesso aos artigos é gratuito através do site da revista, mas cobra-se o
pagamento de taxas de publicação. Nessa via, o acesso é imediato após a publicação, que
passa pela análise Peer-Review.
Via Verde: o acesso aos artigos também é gratuito através do depósito dos artigos em
repositórios de acesso aberto (institucionais ou temáticos). Os artigos também se submetem ao
peer-review e podem ficar retidos por um período.
Alguns desses repositórios são: DOAJ (Directory of Open Access Journals), OpenDOAR (The
Directory of Open Access Repositories), ROAR (Registry of Open Access Repositories),
ROARMAP (The Registry of Open Access Repository Mandates and Policies), Sherpa / Juliet
(Research Funders' Open Access Policies), SPARC (Scholarly Publishing and Academic
Resources Coalition).

O processo de peer-review pode identificar más posturas na pesquisa científica. A pressão


para a publicação tem ficado cada vez maior. É necessário que autor pense na qualidade do
seu trabalho, pois isso pode afetar sua reputação acadêmica. Fraudes, plágios, conflitos de
interesse não divulgados, manipulação de dados, submissões simultâneas de um mesmo artigo
em duas revistas, duplicação de artigos, pode marcar de forma negativa a imagem dos
pesquisadores.

O plágio destaca-se por ser considerado uma das piores posturas no âmbito da publicação
científica. É preciso que o artigo a ser publicado seja original. Caso você queira sanar sua
dúvida em relação ao plágio, muitos autores recorrem a softwares detectores de plágio. Um
dos mais utilizados pelos editores é o Thenticate, no entanto, existem também outros gratuitos
como o Plagiarism Tools.

Se o artigo for aceito ou publicado, é importante conhecer, de preferência antes da submissão,


o fator de impacto das revistas. O fator de impacto é um meio de avaliar a qualidade e
relevância das revistas. Esse impacto da publicação pode ser avaliado por meio de indicadores
bibliométricos, para avaliação dos autores, que se baseiam no número de citações do artigo.
Esses indicadores bibliométricos permitem saber, por exemplo, quais são os autores mais
citados em uma área científica específica e quais revistas têm o maior impacto em uma
determinada área. É imprescindível conhecer e se manter atento a esses indicadores tanto
para a publicação quanto para o almejado reconhecimento profissional de um pesquisador.

EXEMPLIFICANDO
De maneira geral, o processo de peer-review se dá pelas seguintes etapas:
o recebimento do manuscrito; a verificação se o manuscrito atende os pré-requisitos, por
exemplo, o número de palavras, padronização de referências, etc.; avaliação da qualidade e
relevância do manuscrito pela revista; escolha de um a três revisores especialistas na área
para conferirem um parecer. A partir daí, com base no parecer dos revisores, o editor da revista
toma a decisão de aceitação ou rejeição do manuscrito. Se aceito, o manuscrito entra no
processo de publicação.

A ciência como atividade humana é profundamente afetada pelas demandas e relações de uma
época. A publicação científica deve ser vista como parte do processo de desenvolvimento da
pesquisa. Como a ciência nos beneficia coletivamente, não se pode esconder os resultados de
uma pesquisa, é necessário divulgá-los para que, assim, eles tragam inúmeros retornos
práticos à sociedade como um todo.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A normalização acadêmica consiste no processo de organização dos conteúdos da pesquisa
visando a prevenção de problemas, cooperação entre os pares e economicidade. Elas existem
para facilitar e organizar o acesso ao conteúdo científico produzido.

Assinale a alternativa que contém a sigla do órgão responsável pela normalização dos
trabalhos técnicos no Brasil.

a. APAC.
b. CMS.
c. APA.
d. ANPOF.
e. ABNT.
Questão 2
O modelo mais atual de divulgação do conhecimento é o que dá acesso à pesquisa disponível
gratuitamente, sem restrições de uso. Essa ideia se baseia na visão de que as informações
científicas devem estar disponíveis a todos e se põe àqueles que obriga a assinatura de
revistas para ter acesso aos conteúdos publicados.

Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa a que ele se refere:

a. Acesso livre.
b. Acesso pago.
c. Acesso restrito.
d. Acesso hibrido.
e. Acesso aberto.
Questão 3
Atualmente, a pesquisa científica ganhou tanta credibilidade quanto o interesse de vários
setores da sociedade nas informações produzidas por ela. Isso acarretou em uma
transformação significativa da maneira como se dá a produção e divulgação do conhecimento
científico.

Assinale a alternativa que mostra algumas das transformações sociais que afetaram a forma de
produzir e publicar conhecimento científico.

a. Surgimento das tecnologias analógicas, aumento no número de pesquisadores e revistas


científicas e ênfase na dimensão qualitativa da ciência.
b. Surgimento das tecnologias digitais, diminuição do número de pesquisadores e revistas
científicas e a ênfase na dimensão quantitativa da ciência.
c. Surgimento das tecnologias digitais, aumento no número de pesquisadores e revistas
científicas e a ênfase na dimensão comercial da ciência.
d. Surgimento das tecnologias analógicas, diminuição no número de pesquisadores e revistas
científicos e a ênfase na dimensão quantitativa da ciência.
e. Surgimento das tecnologias digitais, aumento no número de pesquisadores e revistas
científicas e a ênfase na dimensão qualitativa da ciência.
REFERÊNCIAS
CASARIN, H. C. S.; CASARIN, S. J. C. Pesquisa Científica: da teoria à prática. Curitiba: Ibpex,
2011.

ÖCHSNER, A. Introduction to scientific publishing: Backgrounds, concepts, strategies.


Heidelberg: Springer, 2013

YAMAKAWA, E. K. et al. Comparativo dos softwares de gerenciamento de referências


bibliográficas: Mendeley, EndNote e Zotero. Transinformação, v. 26, n. 2, p. 167-176, 2014.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


ESCREVER E PUBLICAR: COMO LEVAR A CIÊNCIA PARA AS PESSOAS?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


Após a conclusão da pesquisa, o pesquisador iniciou o processo de publicação dos seus
resultados. Ele resolve buscar na internet as revistas mais relevantes no tema do artigo em
questão. O principal critério para avaliar a relevância de uma revista é o fator de impacto. Em
geral, esse fator de impacto é um índice gerado a partir da avaliação dos autores já publicados
e a quantidade de citações dos artigos publicados. Além disso, há critérios, como a submissão
dos artigos à revisão por pares, que devem ser observados na hora de escolher uma revista
que preze pela qualidade do conteúdo publicado.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
UTILIZANDO AS FERRAMENTAS DIGITAIS DISPONÍVEIS
Você submete um artigo a uma revista especializada na sua área de estudos. No processo de
revisão por pares, o parecerista retorna com a posição de que o artigo deve ser publicado após
alguns ajustes. O parecerista comenta que algumas referências bibliográficas não se
encontram no padrão ABNT necessário para a publicação. Um exemplo de referência errada
encontrada no texto: “Principles of Marketing. J. Rowe. F. Clark. 1927. Economica”

Quais ferramentas digitais você poderia utilizar para resolver esse problema?

RESOLUÇÃO
Visando normalizar a pesquisa, você poderia ter utilizado os softwares Mendeley, Zotero,
EndNote ou fastformat.co que são, além de outras coisas, gerenciadores de referências
bibliográficas. Eles dispõem de recursos em que as referências podem ser automaticamente
padronizadas, de acordo com as regras das normas ABNT, por exemplo. Utilizaremos o
Mendelely como ilustração.
Com o Mendeley instalado e configurado, vá na aba “View” e clique em “Citation Style”. Procure
por ABNT, clique em “Install”. Não se esqueça de instalar também o plugin para o Word.

Feito isso, vá em “Literature Search” no Mendeley, procure o título do artigo e clique em “Save
Reference”.

Agora, abra o Word e clique na guia Referências e na aba do Mendeley, clique em “Insert
Citation”, busque pelo título do texto e adicione a citação (no lugar em que ela deve aparecer
no texto). Depois de inserida a citação, vá em “Insert Bibliography” para inserir a referência de
acordo com ABNT. Procure pela referência e clique em ok.

Resultado da referência no padrão ABNT:

NÃO PODE FALTAR


COMO ANALISAR UM TRABALHO CIENTÍFICO?
Amanda Soares de Melo

CONVITE AO ESTUDO
Caro estudante,

Ao final de um curso ou disciplina, muitas vezes você é encorajado a escrever uma monografia
sobre o assunto que estudou. Os trabalhos de final de curso ou monografias te preparam para
a redação científica, em que quase sempre é necessário seguir uma estrutura que conta com
etapas de introdução, desenvolvimento, conclusão, etc. A escrita científica é parte da
metodologia a ser seguida no desenvolvimento das pesquisas, por isso é importante conhecê-
la. Dada a enorme quantidade de artigos e pesquisas publicados atualmente, se faz necessário
distinguir as pesquisas que seguem o maior rigor e excelência científica.

Nesta unidade, você aprenderá como analisar e redigir um artigo científico, a modalidade mais
comum de divulgação científica. É importante conhecer o que se espera de cada seção do
artigo, com particular atenção à seção de metodologia e resultados que contempla, dentre
outras coisas, a coleta e o tratamento dos dados da amostra. Não obstante, a partir da
experiência com a redação científica de artigo, você conseguirá alinhar o conteúdo da sua
pesquisa com os outros diversos formatos de comunicação científica já conhecidos por você,
sejam eles, resumos, comunicações, revisões, entre outros.

PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

A essa altura, você já deve saber que a informação mais qualificada da atualidade é a
informação científica. A credibilidade da ciência foi construída por meio da aplicação de
metodologias rigorosas do início ao fim da pesquisa, capazes de produzir resultados
efetivamente confiáveis. Você já deve saber também que a comunicação científica é
indispensável nesse processo, pois é por ela que os cientistas e toda a sociedade ficam cientes
do surgimento de novos problemas, bem como de soluções para os problemas.

Assim, dado seu papel crucial, a produção de artigos científicos também deve seguir uma
metodologia rigorosa que permita a explanação clara dos resultados e a plena comunicação
com seus pares. Os artigos possuem uma estrutura que comumente consiste em introdução,
desenvolvimento, metodologia e resultados, mas que pode variar dependendo do campo de
pesquisa. Saber como redigir artigos científicos, bem como saber interpretá-los, é parte
essencial na busca por informações qualificadas nos dias atuais e pode contribuir em muito
com o aprimoramento e a atualização da prática profissional em qualquer área de atuação.

Você construiu sua carreira como pesquisador e foi contratado por uma empresa
automobilística para desenvolver um estudo sobre a eficiência energética de dois tipos de ar-
condicionado para automóveis. A ideia apresentada pela equipe é encontrar o aparelho com
maior eficiência energética para ser instalado em um novo modelo de carro.

Sendo assim, você deve elaborar a metodologia que deve ser empregada na condução do
estudo, indicando o método de coleta de dados, os possíveis cálculos efetuados para
mensuração da eficiência energética e qual seria a melhor ferramenta estatística para a
apresentação dos dados coletados.

Quando se é alfabetizado cientificamente, o mundo parece diferente à sua vista, e essa


compreensão dá-lhe poder. – Neil de Grasse Tyson

CONCEITO-CHAVE
ENTENDIMENTO DA METODOLOGIA
Saber redigir e analisar artigos científicos é uma habilidade essencial a ser adquirida pelo
pesquisador. Antes de tudo, é necessário compreender a estrutura de um artigo que
geralmente passa por introdução, metodologia, resultados e discussão. Cada etapa da
pesquisa possui uma série de critérios e procedimentos a serem seguidos, os quais podem
variar conforme o tipo de pesquisa. Todavia, em geral, construímos uma análise fundamentada
de um artigo observando se ele cumpre adequadamente os seguintes aspectos (CASARIN,
2012; PEREIRA, 2018):

Tema: inicialmente, deve-se ficar claro o tema do trabalho analisado. Esse tema deve ser
relevante na área de conhecimento ao qual se enquadra, pois assim se justifica o emprego dos
recursos.
Título: o título do artigo deve ser elucidativo, preciso e curto. Os leitores que buscam o artigo
devem conseguir saber pelo título se o artigo atende suas necessidades de pesquisa. Para
isso, é aconselhável que tenha entre 10 a 12 palavras.
Autores: são aqueles que efetivamente contribuíram no desenvolvimento da pesquisa e deve-
se observar suas instituições de origem ou qualificação de cada um deles. Também
recomenda-se incluir formas de contato.
Resumo: tem a finalidade de síntese da pesquisa, dando uma ideia de quais foram os objetivos
e os caminhos encontrados. Inclui-se aqui os métodos utilizados. Geralmente, também se
coloca uma versão do resumo em outro idioma.
As palavras-chave identificam o tema do artigo por meio da catalogação.
Introdução: é a parte do trabalho em que é apresentado o problema da investigação, as
justificativas da pesquisa, a fundamentação teórica da pesquisa, bem como os objetivos do
trabalho, as hipóteses e variáveis utilizadas. A fundamentação teórica se baseia, em geral, nas
últimas pesquisas da área de estudo.
Justificativas da pesquisa: o relatório da pesquisa deve incluir uma consideração sobre a
relevância do tema ou problema a ser investigado, o que e onde se pode contribuir com a
realização da pesquisa.
Objetivos gerais e específicos: o artigo deve ser claro quanto aos seus propósitos, os objetivos
devem ser bem definidos e coerentes, além de compatíveis com os métodos e o corpo de
conhecimento estabelecido da área.
Hipóteses e variáveis: as variáveis são os parâmetros que irão variar, os atributos que se
pretende investigar. Elas devem estar bem definidas e explícitas no artigo. Além disso, deve
haver uma previsão do comportamento destas (hipótese) que é apoiada na literatura da área.
Metodologia: o artigo deve informar claramente quais são os procedimentos e métodos
utilizados a fim de testar as hipóteses. O nível de detalhamento deve ser alto para permitir que
outro pesquisador replique o experimento. Inclui saber qual o tipo de pesquisa, a abordagem, o
lócus da pesquisa, a população, a amostra, os instrumentos utilizados, os cuidados técnicos, as
medidas éticas e a forma de análise de dados.
Amostra: o artigo deve detalhar muito bem a população do estudo para que outras pesquisas
possam ter parâmetros de comparação. A análise desse conteúdo deve ser meticulosa porque
podem esconder falhas que comprometem os resultados da investigação.
Instrumento de coleta de dados: o artigo deve ser explícito quanto aos procedimentos utilizados
na coleta de dados, aos meios e instrumentos utilizados, às variáveis de estudo e escalas de
variação. A utilização de um instrumento não confiável pode comprometer totalmente o
resultado obtido. Além disso, deve-se dizer quem coletou, qual período da coleta, os cuidados
tomados durante, etc.
Validade interna e externa: consiste em uma das etapas mais importantes nas análises dos
artigos. Aqui é necessário observar criticamente se, por exemplo, não há situações
intervenientes que convergem com a variável independente e podem afetar a variável
dependente; se a forma de seleção da amostra é adequada quando não é aleatória, se não há
enviesamento na amostragem, etc.
Em suma, é necessário verificar se não há possibilidades de interferência dos resultados que
não tenham sido levadas em conta. Há que se verificar também a validade externa, o quanto os
resultados conseguem gerar generalizações em outros ambientes ou com outras amostragens.
A avaliação também inclui uma análise da confiabilidade e validade dos instrumentos utilizados
na coleta de dados.
Dimensão Ética: o artigo deve respeitar os princípios e as diretrizes éticas determinados pelo
Comitê de Ética da instituição a que ele está vinculado, principalmente durante a
experimentação com humanos e animais não humanos. Sem esse controle, os resultados da
pesquisa são severamente comprometidos.
Resultados, discussão e conclusão: o artigo deve apontar claramente quais foram os
resultados, de forma lógica, objetiva e ordenada, podendo utilizar para isso tabelas, gráficos,
como material complementar. O artigo deve ser capaz de responder diretamente e
objetivamente a questão-problema colocada na introdução. Após essa etapa, os resultados
devem ser discutidos à luz do conhecimento da literatura, comparando-os com outros estudos,
a fim de reforçar a validade de sua resposta ou solução.
Parece óbvio, mas um dos aspectos importantes de análise é a coerência geral do artigo desde
a introdução até a discussão final. Ele não deve conter contradições, mas sim uma harmonia
lógica entre as ideias. A falta de coerência pode ser uma das fontes de erros e falhas da
pesquisa científica. Não menos importante, o artigo deve indicar adequadamente todas as
referências utilizadas para sua composição. É muito comum que as referências sejam
normalizadas para facilitar a comunicação com os outros pesquisadores. Uma boa pesquisa,
em geral, conta com um número razoável de referências, indicando que se conhece bem a
literatura disponível sobre o tema.

ASSIMILE
Conforme explica Casarin (2012), os trabalhos científicos são frequentemente estruturados em
ordem cronológica: Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão, Conclusão e
Referenciais Bibliográficos.

A seção “Introdução” contém as razões que motivaram a investigação e mostra para os leitores
como o artigo está estruturado.
A seção “Metodologia” fornece detalhes suficientes para outros cientistas reproduzirem os
experimentos descritos no artigo.
As seções “Resultados” e “Discussão” apresentam e discutem os resultados da pesquisa,
respectivamente. Essas duas seções frequentemente são combinadas para que os leitores
entendam o que os resultados significam.
A seção “Conclusão” apresenta o resultado do trabalho interpretando os achados em um nível
de abstração mais alto do que a Discussão e relacionando esses achados ao problema de
pesquisa declarado na Introdução.
LEITURA DOS RESULTADOS
Dada sua importância, abordaremos mais profundamente a análise dos resultados de um artigo
científico. A seção dos resultados indica o que foi encontrado na pesquisa, isto é, mostra os
dados relevantes obtidos pelo pesquisador. Segundo Pereira (2013), é importante que se
apresente as características “demográficas, socioeconômicas, clínicas ou de outra natureza” do
objeto estudado. Tais dados podem ser alocados em tabelas para uma melhor visualização.
Essa parte serve como indicativo das condições a serem observadas para o estudo poder ser
replicado. Também deve-se indicar os critérios de exclusão dos participantes na amostra.

Após a explicitação da amostragem, os resultados devem ser elencados em uma ordenação.


Primeiro, os mais relevantes, aqueles que respondem diretamente à questão do artigo. O
pesquisador, na sequência, poderá expor os resultados secundários, aqueles achados que não
eram esperados, mas que são relevantes. Há algumas dicas que podem ser seguidas para
facilitar a elaboração da seção de resultados, são elas:

Apresentar os resultados de forma ordenada e lógica.


Dar ênfase somente a informações imprescindíveis.
Não emitir opiniões ou julgamentos sobre o que foi encontrado, pois a parte interpretativa cabe
à seção de discussão.
Não replicar no texto os resultados que estão nas ilustrações.
Indicar a significância estatística dos resultados.
Assim, espera-se que na seção de resultados se encontre as informações mais relevantes que
a pesquisa obteve. A seção de resultados deve ter um texto curto, simples, objetivo, que preze
pela clareza e pela ordenação lógica, seguindo sempre as regras da comunicação científica.
Muitas vezes, se faz necessário redigir o texto mais de uma vez, até alcançar a clareza
pretendida.

REFLITA
Na hora de interpretar os dados e expor os resultados, o pesquisador deve ter muito cuidado
para não enviesar e comprometer esses dados com sua análise. Na sua visão, quais práticas
podem ser feitas durante a pesquisa a fim de minimizar uma análise tendenciosa dos dados
coletados?

ANÁLISE DE TABELAS, QUADROS E GRÁFICOS


Na etapa da análise de dados, é comum o uso de estatística descritiva que auxilia na forma de
obter informações a partir dos dados coletados. São utilizadas para essa tarefa, resumos,
gráficos e tabelas. Muitas vezes, a simples visualização dos dados coletados não consegue
expressar todas as informações contidas neles, pois existem informações escondidas que só
podem ser visualizadas com aplicações de técnicas e métodos estatísticos. Antes de resumir
em gráficos, tabelas e quadros, precisamos saber sobre o que iremos falar, isto é, qual o tipo
de variável que estamos interessados. Segundo Da Silva (2011), elas podem ser:

Qualitativas: as variáveis desse tipo medem a qualidade, podendo ser ordinais, como o índice
de aprovação de um político (péssimo, ruim, regular, bom ou ótimo), ou podem ser nominais,
como o sexo de uma pessoa, feminino ou masculino.
Quantitativas: as variáveis desse tipo medem a quantidade, podem ser discretas (os valores
são contáveis) ou contínuas (os valores dentro de um intervalo), por exemplo, a altura de uma
pessoa.
Existem também métodos específicos quando queremos descrever duas ou mais variáveis e
como se relacionam entre si. As ferramentas descritivas e analíticas de dados são inúmeras e
devem ser utilizadas conforme os objetivos da pesquisa, são algumas delas:

Tabela de frequência: indica a frequência observada de um fenômeno. Essa frequência pode


ser classificada em absoluta ou relativa – absoluta como o número de eventos e relativa como
o percentual. Podemos utilizá-la, por exemplo, quando queremos observar a variável “torcedor
de time” em uma turma com 20 alunos em São Paulo, conforme a Tabela 4.1.
Tabela 4.1 | Exemplo de tabela de frequência
Categoria Frequência
Absoluta
Frequência
Relativa
Corinthians 10 0,50
Palmeiras 7 0,35
São Paulo 2 0,10
Santos 1 0,05
Total 20 1,00
Fonte: Elaborada pela autora.
Gráfico de barras: o gráfico de barras apresenta a frequência absoluta ou relativa de uma
observação ou fração de observações. A altura das barras representa o que mais foi
observado. Um exemplo desse tipo de gráfico ilustra a nota de cada aluno em uma turma
(Figura 4.1).
Figura 4.1 | Exemplo de gráfico de barras

Fonte: Elaborada pela autora.


Gráfico de setores (pizza): esse gráfico apresenta uma frequência relativa de uma observação.
Eles não são bons para comparações temporais. A Figura 4.2 traz um exemplo desse tipo
aplicado às notas dos alunos.
Figura 4.2 | Exemplo de gráfico de setores (pizza)

Fonte: Elaborada pela autora.


Histograma: se parece com o gráfico de barras, mas possui diferenças. O histograma mede
um grupo de dados e não uma certa informação como o gráfico de barras. Note que, em
relação ao gráfico de barras, no histograma não é possível identificar a nota de cada aluno.
Figura 4.3 | Exemplo de histograma

Fonte: Elaborada pela autora.


Tabulação cruzada: quando queremos descobrir se há alguma relação entre duas variáveis
diferentes, podemos utilizar a tabulação cruzada. Por exemplo, podemos fazer uma tabulação
cruzada com duas variáveis: preço da refeição (R$ 10 a R$ 40) e avaliação da qualidade (ruim,
bom, ótimo, excelente) pelos entrevistados. Note que a tabela a seguir indica que conforme
aumenta o preço, a satisfação com a qualidade aumenta.
Tabela 4.2 | Exemplo de tabulação cruzada
Preço da Refeição
Qualidade R$ 10-20 R$ 20-40
Bom 15 1
Muito Bom 10 10
Excelente 1 37
Total 26 48
Fonte: Elaborada pela autora.
Diagramas de dispersão: mostra a relação de duas variáveis quantitativas. Cada par observado
de duas variáveis (x, y) é marcado como um ponto a partir das coordenadas. O diagrama é
usado para verificar a existência de uma relação de causa e efeito entre duas variáveis
quantitativas. A Figura 4.4 traz um exemplo de gráfico comparativo entre idade da mulher e do
marido. Como se observa, à medida que a idade da mulher aumenta, a idade do marido
também aumenta.
Figura 4.4 | Exemplo de diagrama de dispersão

Fonte: Martins (2014, s/p)


Gráfico temporal ou sequencial: esse tipo de gráfico mostra a evolução de uma variável ao
longo do tempo. É semelhante ao de dispersão, mas neste caso, pode-se unir os pontos
consecutivos (Figura 4.5).
Figura 4.5 | Exemplo de gráfico sequencial

Fonte: Elaborada pela autora.


Cabe lembrar que não basta apresentar os dados em formas de gráficos ou tabelas sem ter
uma teoria estabelecida que ajude a interpretá-los corretamente e fundamente a leitura. Caso
contrário, pode-se incorrer nas chamadas relações espúrias. As relações espúrias são
correlações estatísticas entre variáveis que não possuem significado teórico, isto é, não existe
nenhuma relação de causa e efeito entre elas. Elas podem acontecer por pura coincidência ou
por uma terceira variável. Um caso muito conhecido desse tipo é a relação estatística existente
entre um aumento nos números de afogamentos e os lançamentos de filmes com o ator
Nicolas Cage.

Figura 4.6 | Exemplo de correlação espúria


Fonte: Brenner (2019, s/p).
CENÁRIO DA PESQUISA
O cenário da pesquisa consiste na descrição do lugar onde o pesquisador estudará o
fenômeno observado, da população ou tamanho da amostra a ser utilizada e dos eventos a
serem observados naquele ambiente. Por exemplo, o cenário de uma pesquisa sobre o
trabalho rural pode ser as próprias propriedades rurais, como fazendas, e os sujeitos
entrevistados podem ser posseiros.

O lócus da pesquisa irá variar de acordo com o tipo de pesquisa. As pesquisas de campo
podem ser classificadas em três tipos, de acordo com os objetos de estudo e metodologias:
pesquisas exploratórias, quantitativas-descritivas e experimentais.

As pesquisas exploratórias objetivam uma compreensão mais ampla do tema estudado, as


quantitativas uma compreensão mais detalhada do objeto em dados quantitativos e as
experimentais se objetiva o conhecimento das variáveis que produzem o efeito analisado no
objeto estudado.

Apesar das particularidades de cada pesquisa, em geral, sugere-se que uma descrição
detalhada do lócus da pesquisa inclua uma definição adequada da população, o método a ser
utilizado na coleta de dados, o tipo de abordagem da pesquisa, quais fenômenos serão
estudados e quais eventos serão observados, os métodos de mensuração utilizados e a
fundamentação teórica do problema investigado.

EXEMPLIFICANDO
O cenário da pesquisa consiste em uma descrição detalhada de todo o ambiente onde a
pesquisa será desenvolvida, os atores envolvidos, as características relevantes do lugar para a
pesquisa. É extremamente importante escolher corretamente o cenário da pesquisa. Por
exemplo, para verificar uma mudança nos padrões de competitividade da indústria de
automóveis, pode ser feita uma pesquisa dentro de empresas de automóveis do Grande ABC,
em São Paulo. A escolha desse lugar não é arbitrária, uma vez que a região abriga e já abrigou
inúmeras empresas de automóveis, tornando-se um polo relevante desse setor.

Escrever um artigo científico pode exigir muito tempo e esforço, mas os seus resultados
contribuem para o avanço do conhecimento científico, o que torna o processo gratificante. Com
as ferramentas adequadas e a metodologia correta, a escrita científica pode ser facilitada. A
prática constante da redação científica é a garantia para um aprimoramento contínuo da
comunicação científica pelo pesquisador.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Nesta seção, foi apresentado o problema da investigação, as justificativas da pesquisa, a
fundamentação teórica da pesquisa, bem como os objetivos do trabalho, as hipóteses e
variáveis utilizadas.
Assinale a alternativa que representa corretamente a seção descrita.

a. Introdução.
b. Resumo.
c. Resultados e discussão.
d. Conclusão.
e. Metodologia.
Questão 2
Os artigos científicos são frequentemente estruturados em ordem cronológica: Introdução,
Metodologia, Resultados e Discussão e Conclusão, Referenciais Bibliográficos.

Além da estrutura formal, um artigo científico deve conter:

a. O projeto de pesquisa.
b. Dados originais.
c. Consistência lógica.
d. Agradecimentos.
e. O salário dos pesquisadores.
Questão 3
Consiste na descrição do lugar onde o pesquisador estudará o fenômeno observado, da
população ou tamanho da amostra a ser utilizada e dos eventos a serem observados naquele
ambiente.

Assinale a alternativa que apresenta corretamente a ideia referida no texto.

a. Cenário da Universidade.
b. Lócus dos Dados.
c. Cenário de Pesquisa.
d. Lócus da Habitação.
e. Cenário da Investigação.
REFERÊNCIAS
BRENNER, W. Por que toda vez que o Nicolas Cage aparece em um filme, várias pessoas
morrem afogadas? Up date or die, 2019. Disponível em: https://bit.ly/38btNj5. Acesso em: 20
dez. 2020.

CASARIN, H. C. S; CASARIN, S. J. Pesquisa científica: da teoria à prática. Curitiba:


InterSaberes, 2012.

DA SILVA, T. R. Avaliação da Disciplina de Tratamento e Análise de Dados/Informações. São


Paulo: JupiterWeb, 2011.

FIRMINO, C. Aprenda como reduzir o custo de produção na sua indústria de alimentos. MF


Consultoria, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3eakOTm. Acesso em: 20 dez. 2020.
GREENHALGH, T. Como ler artigos científicos. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

KOLLER, S. H.; DE PAULA COUTO, M. C. P.; VON HOHENDORFF, J. Manual de produção


científica. Porto Alegre: Penso Editora, 2014.

MARTINS, E. G. M. Diagrama ou gráfico de dispersão, Rev. Ciência Elem., V2(3), 2014.

PEREIRA, M. G. A seção de resultados de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de


Saúde, v. 22, n. 2, p. 353-354, 2013.

PEREIRA, M. G. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


COMO ANALISAR UM TRABALHO CIENTÍFICO?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


Você foi contratado por uma empresa automobilística para desenvolver uma pesquisa sobre
eficiência energética de ar-condicionado para automóveis. Ao elaborar a metodologia, você
definiu que mensuraria o consumo de energia dos equipamentos em diferentes intervalos de
tempo e em temperaturas variadas, a fim de avaliar qual deles apresentaria uma melhor
eficiência energética.

Assim, em um intervalo definido de tempo, como a cada duas horas, por exemplo, com
intervalos de temperatura graduais, sob condições controladas em laboratório, é possível
mensurar qual dos aparelhos consome mais energia. Em uma conta simples, a eficiência
energética pode ser mensurada por meio da quantidade de energia gasta dividida pelo total
oferecido pela rede elétrica durante a atividade. O ar-condicionado que tem maior eficiência
energética será o que dá o resultado mais próximo de 1.

Para exposição dos dados coletados, o gráfico sequencial é o mais indicado, pois esse tipo de
gráfico mostra a evolução de uma variável ao longo do tempo. A variável em questão é a
temperatura.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
AVALIANDO UM MANUSCRITO CIENTÍFICO
Um parecerista é contratado para avaliar a aceitação de um manuscrito submetido a uma
revista científica de alto impacto na literatura. Contudo, ao ler o manuscrito, o parecerista se
depara com o seguinte trecho na seção de “Introdução”:

Os testes foram aplicados em jovens de 15 a 19 anos. Os jovens, a princípio, respondiam a


perguntas de aquecimento sobre o tema de pesquisa. Em seguida, os jovens respondiam a
perguntas sobre comportamentos-alvo. Os resultados mostraram que 45,4% dos jovens
responderam...

(KOLLER, 2014, p. 133)


Considerando o contexto apresentado, escreva a indicação do parecerista com os erros
cometidos pelo autor na redação deste trecho e indique de que maneira tais erros podem ser
corrigidos.

RESOLUÇÃO
Em primeiro lugar, a introdução é a seção em que se apresentam as motivações da pesquisa,
os problemas a serem investigados e uma breve revisão literária. Portanto, a disposição dos
resultados não poderia estar na seção de Introdução. Em segundo lugar, a redação do texto
mostra que o manuscrito não foi submetido à revisão antes do envio para a revista. Uma má
escrito do texto compromete o objetivo da comunicação científica. O trecho em questão pode
ser corrigido e reescrito da seguinte forma:

Os testes foram aplicados em jovens de 15 a 19 aos. A princípio, os participantes respondiam a


perguntas de aquecimento sobre o tema da pesquisa. Em seguida, eram questionados sobre
os comportamentos-alvo. Os resultados mostraram que 45,4% dos entrevistados indicaram...”.

(KOLLER, 2014, p. 134)

NÃO PODE FALTAR


QUAIS FATORES PODEM INTERFERIR EM UMA ANÁLISE
Amanda Soares de Melo

Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

Você já deve ter notado que muitas vezes tratamos dados como sinônimo de informação e
informação como sinônimo de conhecimento, mas essas são associações enganosas. Os
dados necessitam da interpretação e, portanto, da informação para que tenham significado. A
informação, por sua vez, é construída por um arranjo de dados visando um objetivo específico.
Não há realmente informação desinteressada, desconectada de um sujeito que realiza a
organização dos dados. Por essa razão, como os dados precisam ser interpretados e
analisados, é bem possível – na verdade, muito provável – que sejam interpretados
incorretamente, em algum momento.

No desenvolvimento de uma pesquisa científica, é crucial que o pesquisador tenha noção de


seus próprios vieses cognitivos a fim de minimizar a interpretação incorreta dos dados. Muitas
vezes, nós ficamos cegos dos nossos próprios vieses e apenas um observador externo
consegue nos indicar esses problemas. Nesta seção, convido você a compreender a dimensão
de responsabilidade e cuidado exigidas no tratamento de qualquer tipo de dados. Reconhecer
o papel do sujeito na interpretação e no tratamento de dados é fundamental ao
desenvolvimento de um pensamento mais criterioso na busca pela informação e pelo
conhecimento.

Uma indústria automobilística está preocupada com os defeitos que um de seus produtos vem
apresentando. A fim de sanar o problema na escala de produção, a empresa contrata você,
pesquisador da área, para a composição de um levantamento detalhado da produção desse
item. Ao iniciar a investigação, você elabora uma tabela com os tipos de problemas
encontrados e a frequência com que eles têm ocorrido após cada item produzido ser analisado.

Tabela | Problemas e frequência na produção


Problemas Frequência Problemas Frequência
A 10
B 15
C 25
Defeito na tampa plástica.
Defeito na placa de processamento.
Soldas soltas.
Considerando o contexto apresentado, indique se os dados apresentados com a variável
“Problemas” são nominais, ordinais, contínuos ou discretos. Além disso, justifique sua resposta.

Os números não falam por si próprios. Nós falamos por eles. Nós os imbuímos de significado. –
Nate Silver.

CONCEITO-CHAVE
INFORMAÇÕES, DADOS E CONHECIMENTO
Nos dias atuais, temos um grande volume de informação disponível a nós apenas por um
clique. Antigamente, reis e rainhas eram privilegiados por possuírem uma, duas ou três
centenas de livros. Atualmente, qualquer pessoa pode ter facilmente essa quantidade de livros,
principalmente em formatos digitais. Com tanta informação disponível, é comum nós
assimilarmos inteligência com quantidade de informação, mas essa conexão pode ser bastante
enganosa.

Tratar a informação e o conhecimento como sinônimos é uma crença bastante comum nos
nossos tempos. Nós lidamos com dados, informações e conhecimento diariamente, todavia
muitas vezes os tomamos como sinônimos e cabe saber diferenciá-los.

Dados podem ser definidos como a matéria-prima da informação, eles representam


significados que isoladamente não transmite nenhuma mensagem ou conhecimento. Em uma
pesquisa de opinião sobre a qualidade de um produto, por exemplo, a coleta da opinião de
cada pessoa só poderá produzir alguma informação significativa sobre a satisfação com o
produto depois de ser tratada e agregada às demais.

As informações, por sua vez, são os dados tratados. A informação é resultado do


processamento dos dados coletados que interessam ao pesquisador. Como elas possuem
significado, auxiliam no processo de tomadas de decisão.

No exemplo anterior, a informação expressaria os níveis de satisfação das pessoas


entrevistadas com o produto, revelando se a imagem que elas possuem é positiva ou negativa.
Frequentemente, se utiliza ferramentas estatísticas como indicadores para tratar os dados e
obter alguma informação que antes não poderia ser vista.

O conhecimento está além da informação porque tem tanto significado como aplicação. O
conhecimento envolve nossa faculdade de abstração, em que se é capaz de produzir novas
ideias a partir das informações que temos em dado momento. Ele exige que um sujeito seja
capaz de processar as informações identificando o que ali é importante e as direcione para
algum fim. Nesse sentido, a informação é como se fosse a matéria-prima do conhecimento.

ASSIMILE
Os dados são observações simples sobre do mundo, facilmente estruturados e que podem ser
obtidos por meio de maquinários. São quantificáveis e transferíveis.

As informações são dados tratados em termos de relevância e propósito. Necessariamente,


exige a intervenção humana, pois também exige um consenso acerca de seu significado.

O conhecimento é a informação tratada em termos de reflexão, síntese e contexto. Sua


estruturação é difícil, também não é fácil de ser construído por máquinas e frequentemente é
difícil de ser transferível.

Há ainda uma quarta diferenciação possível: a diferença entre sabedoria e conhecimento.


Segundo Ackoff (1999), sabedoria é um processo extrapolativo e não determinístico que invoca
os outros níveis de conhecimento, informação, dados e também princípios valorativos como
códigos morais, éticos, etc. Ao contrário dos níveis anteriores, a sabedoria é essencialmente
filosófica, pois coloca perguntas para as quais não há uma resposta fácil, em alguns casos,
pode não haver uma resposta. Sabedoria envolve um processo pelo qual discernimos o que é o
certo e o errado, o bom e o mau. Por ser um estado exclusivamente humano, os computadores
ainda não têm (e talvez nunca tenham) a capacidade de possuir a sabedoria.

Para que você consiga compreender plenamente, o Quadro 4.1 demonstra com exemplos as
diferenças que podemos encontrar entre os assuntos trabalhados anteriormente.

Quadro 4.1 | Diferenças entre dados, informação, conhecimento e sabedoria


Dados
Os dados representam um fato ou uma declaração de evento sem relação com outras coisas.

Exemplo: Está chovendo.

Informação
A informação incorpora a compreensão de uma relação de algum tipo, possivelmente causa e
efeito.

Exemplo: A temperatura caiu 15 graus e começou a chover.

Conhecimento
O conhecimento representa um padrão que conecta e geralmente fornece um alto nível de
previsibilidade, como o que é descrito ou o que vai acontecer a seguir.

Exemplo: Se a umidade for muito alta e a temperatura cair substancialmente, é improvável que
a atmosfera seja capaz de reter a umidade, então chove.

Sabedoria
A sabedoria incorpora mais uma compreensão dos princípios fundamentais incorporados no
conhecimento que são essencialmente a base para o conhecimento ser o que é. A sabedoria é
essencialmente sistêmica.

Exemplo: O fenômeno chuva ocorre porque engloba uma compreensão de todas as interações
que acontecem entre chuva, evaporação, correntes de ar, mudanças de temperatura, etc.

Fonte: Elaborado pela autora.


DADOS ISOLADOS
Os dados, como vimos, constituem a matéria-prima da informação. Dados isolados são dados
que não têm nenhum significado ou nenhum sentido objetivo. Por exemplo, queremos saber se
uma empresa está sendo bem sucedida em determinado ramo. Sabe-se que a empresa teve
um faturamento no 2° semestre do ano passado de meio milhão de reais. O que isso significa?
O que se diz da empresa a partir disso? É possível dizer que é uma empresa de sucesso ou
não? Provavelmente você acha que não, porque não podemos aferir essa informação apenas
com esse dado isolado. Para fazer avaliações como essas é necessário cruzar, organizar e
alinhar dados isolados. Esse tratamento pode ser feito por meio de ferramentas estatísticas,
gráficos, tabelas, figuras. Quando fazemos isso, nós transformamos os dados em informações
que serão úteis para qualquer análise que se almeje fazer.

Quando temos um histórico de faturamento crescente no semestre, informação que obtemos a


partir do alinhamento dos dados isolados de faturamento de cada mês, podemos afirmar o que
está ocorrendo com a empresa, por exemplo. Somente por meio do processamento desses
dados, obtemos respostas para a nossa investigação. Os dados podem ser classificados em
duas grandes categorias:

Dados qualitativos: esses dados são considerados não numéricos, por exemplo, a cor dos
olhos, a cor da pele, a textura do cabelo etc.
Dados quantitativos: esses dados são especificamente numéricos e através dos números são
apresentados. Tais dados estão ligados a perguntas como “quanto?”, “qual valor de?”, etc.
Há, ainda, uma classificação mais específica. Os dados qualitativos apresentam sempre uma
característica de atributo ou qualidade do objeto de pesquisa. Tais dados podem ser divididos
em dois tipos gerais: nominal e ordinal. O dado nominal é o dado que não exige nenhuma
ordenação para a interpretação de seus resultados. Exemplos podem ser: tipo sanguíneo, sexo
etc. Já o dado ordinal, ao contrário, exige uma ordem para a interpretação de seus resultados,
como de pequeno a grande, bom a mau etc. Exemplos podem ser: grau de instrução
(fundamental, médio, superior), ordem de chegada (primeiro, segundo, terceiro).

Os dados quantitativos, por sua vez, podem ser divididos em contínuos e discretos. Dados
contínuos são medidos e não contados, são dados em que todos os valores são possíveis. Por
exemplo, a medição da altura de uma pessoa é um dado contínuo e pode ser dada em metros,
centímetros, milímetros etc. Assim como a definição da idade de uma pessoa em anos, meses
ou dias. Já os dados discretos são utilizados com números que contam e não medem. São
utilizados números inteiros apenas. Por exemplo, a quantidade de alunos em uma sala sempre
será um número inteiro.

INFORMAÇÕES CONTEXTUALIZADAS
A informação é uma espécie de conjunto de dados contextualizados. Isto é, os dados brutos ou
isolados só ganham significado ou se transformam em informações a partir da experiência do
pesquisador e do que ele almeja obter nesse processo. Sendo assim, a partir dos objetivos da
pesquisa definidos pelo pesquisador, os dados são organizados de forma a constituírem
informações.

A informação, por exemplo, é fabricada a partir da experiência dos indivíduos e de acordo com
suas preferências. Muitas vezes ela aparece atrelada a um contexto de aplicação. Nesse
sentido, o olhar do pesquisador sobre os dados definirá a aplicabilidade das informações. Por
exemplo, pode ser que em uma pesquisa sobre a obesidade, a coleta de dados sobre a cor dos
olhos do público analisado não seja relevante, assim, para essa pesquisa o dado “cor dos
olhos” não terá nenhuma significação e será descartado. Por outro lado, os dados sobre as
idades ou gênero do público podem ser úteis quando cruzados com outras informações.

Já o conhecimento provém de uma sábia utilização das informações. Essa tarefa também é
influenciada da experiência e perspectiva do pesquisador, muitas vezes pessoas diferentes
produzem conhecimentos diferentes. Dado, informação e conhecimento são muito valiosos
para nossa compreensão de mundo.

REFLITA
Você já se deparou com a percepção de que quanto mais nos aprofundamos em um assunto,
muitas vezes as coisas se tornam cada vez mais abstratas e deslocadas da realidade? Ao
refletirmos sobre o papel do pesquisador e as metodologias científicas, vemos, entretanto, que
por mais abstrata que a pesquisa possa parecer, ela tem a função de interpretar a realidade
que vivemos a partir de nossas necessidades. Além disso, a todo momento o pesquisador é
convocado a tomar decisões que refletem sua experiência e bagagem profissional. Em sua
visão, a investigação científica pode ser considerada uma prática social de conhecimento?

INDICADORES PONDERADOS
Frequentemente, os dados coletados de pesquisas não são exatamente representativos da
população-alvo. A ponderação é uma técnica estatística que pode ser usada para corrigir
quaisquer desequilíbrios nos perfis de amostra após a coleta de dados. Imagine que temos
uma população-alvo dividida igualmente por gênero. Se entrevistarmos uma amostra de 400
pessoas nessa população, dos quais 300 são homens e 100 mulheres, saberemos que nossa
amostra representa mais homens. Ponderar os dados resultantes pode nos ajudar a corrigir
esse desequilíbrio.

As proporções desejadas para homens e mulheres são 50%. A proporção de homens, portanto,
precisaria ser “reduzida” de 75% (300 em 400 entrevistas) para 50%, enquanto a proporção de
mulheres precisaria ser “ponderada” de 25% para 50%. Nesse caso, a ponderação multiplicaria
as entrevistas com as mulheres por 2, de modo que a resposta feminina fosse ampliada nos
dados. Por exemplo, na questão de gênero, temos 100 pessoas respondendo do sexo
feminino, mas após a ponderação, isso se torna 200, pois os dados "feminino" são contados
duas vezes.

As entrevistas com homens precisam ser correspondentemente reduzidas. Nesse caso,


precisamos obter 300 respostas para contar efetivamente como 200, portanto, multiplicamos as
respostas masculinas por dois terços. Antes de ponderar, tínhamos 300 homens codificados na
questão de gênero. A multiplicação por dois terços nos dá 200 homens, igualando o número de
respostas femininas após a ponderação.

Os números usados para multiplicar as respostas de cada proporção da amostra são


chamados de fatores de ponderação. Normalmente, a ponderação é usada para combinar o
perfil da população em mais de uma variável para obter uma amostra mais representativa
possível. Por exemplo, para obter uma amostra representativa da população de um país,
podemos ponderar uma série de variáveis demográficas, como sexo, idade, região e nível
social.

A ponderação pode alterar a estrutura de seus dados de maneira negativa, portanto, é


necessário cautela ao aplicá-la. Não é aconselhável, por exemplo, aumentar o peso de
pequenos grupos de entrevistados para que representem uma proporção significativa da
amostra total, pois isso significa que os resultados da pesquisa são desproporcionalmente
afetados por uma pequena minoria de entrevistados.

Há inúmeros recursos estatísticos de ponderação. A média ponderada é um dos indicadores de


ponderação. Nos cálculos em que se utiliza a média aritmética simples, todos os valores têm o
mesmo peso ou importância. Ponderar significa pesar, então, na média ponderada,
multiplicamos cada valor por um peso que expressa sua importância relativa. Em geral, calcula-
se a média aritmética ponderada da seguinte maneira: soma-se os produtos dos valores pelos
seus pesos e depois divide-se esse resultado pela soma dos pesos.

EXEMPLIFICANDO
Suponha que você tenha prestado um concurso em que as disciplinas da prova detinham
pesos diferentes. As disciplinas eram Português, Matemática, Informática e Direito
Administrativo, cada disciplina tinha o respectivo peso 3, 3, 2 e 2. Ao olhar o resultado
preliminar, você constata que acertou 8 em Português, 7 em Matemática, 5 em Informática e 4
em Direito Administrativo.

Dessa maneira, o cálculo da sua nota é a média ponderada desses valores. Sendo assim, no
numerador temos: . No denominador temos os pesos: 3 + 3 + 2 + 2 = 10. Assim, a divisão de
63/10 dá 6,3 como sua média ponderada e nota final.

Nesta seção, você aprendeu a diferenciar informação, dados e conhecimento. Aprendeu


também as diferentes classificações dos dados e soube da importância de saber aplicá-los à
sua pesquisa. O tratamento dos dados é uma das partes mais importantes na apresentação
dos resultados da pesquisa, pois ainda que sua pesquisa possa trazer avanços significativos,
um tratamento deficiente dos dados pode colocar tudo a perder.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
Existe uma diferença entre dados e informações. Dados são os fatos ou detalhes dos quais as
informações são derivadas. Dados individuais raramente são úteis sozinhos.

Para que os dados se mostrem úteis, eles precisam passar pelo processo de:

a. Contextualização.
b. Pressurização.
c. Experimentação.
d. Apropriação.
e. Automatização.
Questão 2
Dados são fatos brutos e desorganizados que precisam ser processados. Os dados podem ser
algo simples, aparentemente aleatório e inútil até que sejam organizados.

Os dados podem ser classificados de diferentes maneiras. Assinale a alternativa que apresenta
uma forma correta de classificação de dados qualitativos.

a. Contínuo.
b. Discreto
c. Nominal.
d. Organizacional.
e. Cardinal.
Questão 3
Esses dados assumem valores em um intervalo constante de números. Em geral, este tipo de
dado é proveniente de medições de uma característica da qualidade de uma peça ou produto.
Os possíveis valores incluem "todos" os números do intervalo de variação da característica
medida.

Assinale a alternativa que apresenta o tipo correto de dado que o texto se refere.

a. Dados contínuos.
b. Dados discretos.
c. Dados nominais.
d. Dados ordinais.
e. Dados intercalares.

REFERÊNCIAS
ACKOFF, R. L. Ackoff’s Best. John Wiley & Sons, New York, 1999, p. 170-172.
BURCH, S. Sociedade da informação/sociedade do conhecimento. In: AMBROSI, A.;
PEUGEOT, V.; PIMENTA, D. Desafios das palavras. Paris: C&F Editions, 2005. Disponível em:
https://bit.ly/3kJgJXr. Acesso em: 28 jan. 2021.

BUSSAB, W. O.; MORETIN, P. A. Estatística básica. 4. ed. São Paulo: Atual Editora, 1987..
Acesso em: 28 jan. 2021.

MAGALHÃES, M. N.; LIMA, C. P. Noções de probabilidade e estatística. 3. ed. São Paulo:


EDUSP, 2001.

FOCO NO MERCADO DE TRABALHO


QUAIS FATORES PODEM INTERFERIR EM UMA ANÁLISE?
Amanda Soares de Melo

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Você é contratado por uma indústria automobilística para sanar os problemas de um dos
produtos de sua linha de produção. Ao analisar o caso, você mapeia três tipos de problema e a
frequência com que eles aparecem, tal como indica a Tabela.

Para a elaboração da tabela, os dados apresentados na variável “A” devem ser qualitativos
nominais, pois para cada item do produto você verificou um defeito A, B ou C. Todos os
defeitos possuem o mesmo grau de severidade, afinal, qualquer um deles afeta a qualidade de
produção. Sendo assim, não há uma ordem entre eles e, portanto, tais dados podem ser
considerados qualitativos nominais.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
SUBTÍTULO DE CONTEÚDO
Imagine que você trabalha em um grande hospital como pesquisador e a sua equipe médica
está conduzindo uma pesquisa sobre fatores de internação e está interessada em saber
quantas pessoas internadas naquele estabelecimento têm diabetes. Sua equipe faz um
levantamento com 7 grupos de 50 pessoas cada. A Tabela a seguir representa um resumo dos
dados coletados.

Tabela | Resumo do número de pessoas com diabetes.


Nº de Pessoas com Diabetes Grupos
5 1
6 2
7 3
8 4
9 5
10 6
11 7
Considerando o contexto apresentado, avalie se os dados da variável “nº de pessoas com
diabetes” são nominais, ordinais, contínuos ou discretos. Além disso, justifique sua resposta.

RESOLUÇÃO
No hospital que você trabalha, sua equipe médica conduziu uma pesquisa sobre fatores que
levam à internação, mapeando quantas pessoas internadas naquele estabelecimento possuem
diabetes. Ao avaliar a tabela apresentada por seus colegas, você deve ter identificado que a
variável “nº de pessoas com diabetes” traz valores quantitativos discretos, porque a quantidade
de pessoas com diabetes é contada e, portanto, assume valores inteiros, configurando um caso
de dado quantitativo discreto.

NÃO PODE FALTAR


COMO TRADUZIR PESQUISAS PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL?
Amanda Soares de Melo

Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante,

Veja como a ciência está na vida cotidiana. Alimentos, celulares, refrigeradores, GPS,
computadores, televisores, medicamentos, vestimentas, políticas públicas – a ciência está por
trás de todos eles. A cada dia surge um novo produto ou conhecimento a partir das pesquisas
científicas e de seu aprimoramento. Pela importância que a ciência detém na nossa sociedade,
ela passou a ser considerada um bem público.

Seja para o nosso consumo ou para nossa prática profissional, o conhecimento científico é
muito valioso. É possível aplicar o método científico para contextos amplos, como em negócios
e empresas. A mentalidade científica aplicada ao ambiente profissional contribui para a
inovação, criatividade e resolução de problemas.

Com a velocidade de produção do conhecimento científico cada vez maior, também é


importante ficar atento aos novos métodos, procedimentos e conhecimentos na sua área
profissional. Assim, ser um bom profissional hoje em dia, em qualquer área, exige estar
atualizado quanto ao que de novo é produzido.

Convido você a conhecer as modalidades da formação continuada que auxiliam nessa


atualização profissional.

Você é contratado por uma empresa automobilística para a elaboração de um projeto de


melhoria de uma peça metálica defeituosa. A equipe de profissionais aplica o método científico
do início ao fim dos estudos. A análise inicial aponta que:

A peça metálica possui um grande risco em um dos seus componentes.


Foi constatado que a máquina responsável pela manufatura estava suja durante a produção do
componente.
A hipótese básica elaborada pelos pesquisadores é que o risco pode ter sido proveniente da
sujeira da máquina.
Considerando o contexto apresentado, esboce as próximas etapas do estudo utilizando o
método científico, incluindo a predição da hipótese, experimentação e possíveis resultados.

Os benefícios da ciência não são apenas para os cientistas, mas para toda a humanidade. –
Louis Pasteur.

CONCEITO-CHAVE
PESQUISA TRAZENDO AVANÇOS NA PRÁTICA
Além de sanar a curiosidade humana, a ciência é importantíssima para achar soluções aos
problemas que a humanidade enfrenta. A ciência, tecnologia e inovação se consagraram como
fundamentais para o desenvolvimento da sociedade em muitos aspectos, como educação,
crescimento econômico, geração de emprego e renda. Por essa razão, investir em ciência se
tornou uma necessidade pelo seu diferencial competitivo. No mundo todo, a pesquisa científica
possibilitou enormes avanços na saúde, alimentação, produção de energia, entre outros
setores. Isso porque uma das suas características é a capacidade de produzir inovações, de
especial interesse no contexto empresarial, ambiental ou econômico.

A inovação pode agregar valor em produtos de uma empresa, diferenciando-os, promovendo


vantagens competitivas, mesmo que momentaneamente. Em mercados competitivos como de
commodities, ela é ainda mais fundamental. Aqueles que conseguem inovar neste contexto
ficam em posição de vantagem em relação aos demais, alavancando suas vendas e seus
lucros, permitindo o acesso a novos mercados ou até mesmo novos modelos de negócio.
Atualmente, pela importância que desempenha na sociedade, a pesquisa científica é vista
como um bem público. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 reserva os artigos 218 e 219
para a promoção da pesquisa e da capacidade tecnológica (BRASIL, 1988). O
desenvolvimento de qualquer país está diretamente ligado à aplicação de investimentos nesse
setor. As pesquisas científicas não só produzem produtos e inovação, mas também auxiliam na
busca por soluções definitivas para problemas relacionados a políticas públicas de Estado,
como o combate à pobreza, educação desigual, melhora da educação, melhora da saúde etc.

Os investimentos em ciência podem ser feitos em duas dimensões complementares: a ciência


básica e a ciência aplicada. A ciência básica produz conhecimento que alimenta os processos
de inovação, como carros, máquinas de raios-X, computadores, vacinas, etc. Ela é feita a longo
prazo, de modo que não se esperam retornos financeiros de forma imediata. Já a ciência
aplicada estuda formas de aplicação do conhecimento científico em benefício da sociedade,
buscando a solução de problemas práticos, visando uma utilidade econômica e o
desenvolvimento tecnológico.

Assim, enquanto a ciência básica produz conhecimentos novos, a ciência aplicada reinterpreta
esses conhecimentos com uma finalidade pragmática. Ambas são complementares e muito
importantes para o avanço científico. Todavia, a pesquisa básica é muitas vezes negligência
pela demora de trazer resultados. Não há como esperar inovação sem o investimento em
pesquisa básica.

As pesquisas trazem implicações para questões que enfrentamos, das mais básicas às mais
complexas. O simples ato de lavar as mãos é um hábito fruto do avanço do conhecimento
científico. Há 150 anos, não era um ritual comum, inclusive pelos médicos, mas a partir da
teoria microbiana desenvolvida pelos biólogos, se constatou que a lavagem das mãos evitava
infecções e sua propagação.

Uma pessoa nascida no final do século 18, morreria sem completar os 40 anos de idade.
Todavia, alguém que nasce hoje provavelmente poderá viver até os 70 anos, no mínimo.
Diversos fatores decorrentes dos avanços científicos são responsáveis por isso, como o
avanço na prevenção e no combate das doenças, o desenvolvimento da produção de
alimentos, a melhora nas condições de trabalho e redução da carga horária de trabalho, etc.
Tudo isso foi construído durante os séculos através de pesquisas científicas.

Uma visão científica de mundo ainda pode proporcionar outros benefícios que podem ser
utilizados no dia a dia. Utilizar o raciocínio científico, buscar evidências, elaborar soluções da
mesma forma que o cientista, pode ajudá-lo a resolver problemas cotidianos, inclusive na
prática profissional, como a melhoria de processos administrativos ou de engenharia, por
exemplo.

ASSIMILE
Commodities são produtos que funcionam como matéria-prima e indiferenciados, que não há
diferença em função do produtor, produzidos em larga escala. São exemplos de commodities:
soja, milho, minérios, petróleo, café.

FORMAÇÃO CONTÍNUA
A formação é o motor de evolução da carreira profissional de qualquer pessoa. Atualmente, a
formação contínua ganhou força, dada a rapidez que o conhecimento científico se desenvolve.

A formação contínua envolve um processo de constante aprimoramento e um esforço contínuo


de atualização dos saberes necessários à área de atuação profissional. Para ser um bom
profissional é necessário estar atento à atualização do conhecimento aprendido. Cursos de
atualização e especialização complementam a formação obtida no ensino superior, ampliando
ideias já adquiridas, modificando-as e propondo novos conceitos.

À medida que as teorias de uma área de estudo vão sendo testadas, novas linhas de pesquisa
e conclusões surgem, abrindo novos caminhos e formas de aplicar esses conhecimentos, com
técnicas aprimoradas, mais eficientes, etc. A pós-graduação é a modalidade de ensino que
abarca as especializações ministradas presencialmente ou a distância, ela serve para
alavancar a carreira, proporcionando muitas vezes melhores salários e cargos de liderança no
mercado de trabalho.

Existem diversos tipos de pós-graduação, são alguns deles:

Especialização: é um tipo que enfoca no nível técnico profissional, fornecendo o título de


especialista no campo de estudo e objetiva o aprofundamento dos conhecimentos da sua área
de formação, fazendo o direcionando da graduação. Para obter o título de especialista, é
necessário a entrega de uma monografia.
Aperfeiçoamento: são similares às especializações, com a diferença que dispensam os
requisitos gerais das especializações, não exigindo a entrega de monografia.
MBA: o significado da sigla é Mestre em Administração de Negócios e é voltado para a atuação
profissional, com foco na área de negócios e administração. Compreendido muitas vezes como
uma especialização do ramo corporativo. O trabalho final é sempre feito com ênfase na prática,
na realidade das corporações.
Mestrado acadêmico – Stricto Sensu: esse tipo de pós-graduação tem o período fixo de dois
anos e é voltado para a pesquisa cientifica. O seu objetivo é aprofundar e direcionar os
conhecimentos obtidos na graduação e formar pesquisadores e professores de ensino superior.
Ele conta com a supervisão de um orientador e exige defesa de uma dissertação para a
obtenção do título de mestre.
Mestrado profissional: possui as mesmas exigências que o acadêmico, todavia têm como foco
o desenvolvimento de técnicas e estudos voltados ao mercado de trabalho.
Doutorado: objetiva um aprofundamento maior que o mestrado e também é voltado para a
pesquisa científica. Esse tipo de formação leva quatro anos e exige a elaboração de uma tese
sobre uma área a ser defendida como requisito para obtenção do título. Essa tese, em geral,
deve possuir um conteúdo original que contribuía com o avanço do campo de estudos.
REFLITA
Dada a rapidez como o conhecimento é produzido hoje em dia, em sua visão, por que ser um
profissional atualizado no mercado de trabalho? Quais os diferenciais competitivos que esse
profissional ganha com a formação continuada?

CIÊNCIA DO COTIDIANO
Os avanços da ciência trouxeram muitas mudanças na vida cotidiana, são inúmeros os
exemplos: meios de comunicação rápida, computadores, celulares, eletricidade, máquinas,
carros, vacinas, tratamentos, cirurgias, medicamentos, entretenimento, internet, etc. Imagine
como era o mundo sem muitas dessas invenções. Tais avanços mudaram completamente
nossos hábitos, aumentou a velocidade da vida, ampliou nossas ocupações, os limites de
nossas curiosidades, as formas de lazer e o conforto que jamais foram sonhados por nossos
antepassados.

Nossa alimentação, vestimenta, higiene devem muito ao conhecimento científico acumulado


durante séculos. Esse conhecimento ajudou a humanidade de diversas formas, contribuindo
inclusive para manutenção da espécie, ao diminuir e até mesmo erradicar doenças
consideradas graves que já mataram muitas pessoas, colaborando para a duplicação da
expectativa de vida em diversos países.

Desde os tempos da revolução industrial, no século XVIII, houve enormes esforços para
baratear uma série de matérias-primas como aço, vidro, cobre, que seriam utilizadas em novos
processos de fabricação e de geração de energia. A partir desse contexto, o aumento
crescente das indústrias, a expansão das telecomunicações e o avanço da medicina trouxeram
para a ciência uma dimensão global (MACHADO, [s.d]).

Atualmente, estamos no desenvolvimento de uma quarta revolução, a da informação


(SCHWAB, 2016). Muitos artefatos, recursos, processos de organização estão migrando para o
ambiente virtual. Desde a comunicação até moedas virtuais, tudo a partir do avanço das áreas
de biotecnologia, computação, nanotecnologia, robótica, quântica, etc. Nesse processo,
surgem novas necessidades e ferramentas que auxiliam em nossas atividades diárias. Se hoje
a sociedade desfruta diariamente de todos os benefícios dessas inovações é em decorrência
do investimento de recursos públicos e privados no financiamento das pesquisas científicas.

Sendo assim, a ciência deixou de ser um empreendimento de poucos para ser parte integrante
do nosso dia a dia. Matemática, Biologia, Química não são disciplinas meramente abstratas,
são conhecimentos que ancoram nossas principais ferramentas, utensílios, conhecimento e
recursos diários. A mesa em que estuda, o papel em que lê, a casa, o avião, praticamente tudo
está ancorado direta ou indiretamente em conhecimento científico.

EXEMPLIFICANDO
Pode parecer estranho nos dias de hoje, mas um século atrás a notícia de que você ou um
familiar seu tinha diabetes era praticamente uma sentença de morte. Foi graças à descoberta
da insulina, em 1921, por Frederick Banting e Charles Best que possibilitou a criação de um
tratamento, permitindo que os diabéticos tivessem uma vida normal (PIRES e CHACRA, 2008).
Graças à ciência, uma pessoa com diabetes, nos dias de hoje, tem a expectativa de vida
equiparável a de uma pessoa saudável.

APLICANDO NOVOS CONHECIMENTOS NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL


Atualmente é crescente a preocupação para se adotar uma mentalidade científica na prática
profissional. Toda profissão requer uma ampla e diversificada gama de habilidades. Os
cientistas têm habilidades e maneiras de trabalhar que são relevantes e transferíveis para
problemas fora da ciência.

Você se lembra como funciona o método científico. Iniciamos com um problema de pesquisa
que pode ser tanto uma lacuna no conhecimento quanto um problema real que precisa ser
solucionado. Na prática profissional, muitas vezes encontramos problemas que precisam ser
explicados e solucionados, seja um processo que não funciona como deveria, um produto
defeituoso, uma logística ou gestão ineficiente.

Começamos sempre elaborando uma hipótese. A hipótese deve indicar e explicar a causa do
problema trabalhado. Além disso, é muito importante que da hipótese derive-se predições. Tais
predições são maneiras de solucionar o problema que serão testadas, a fim de verificar qual
traz a melhor solução. É importante que, sendo pesquisador ou não, você explicite qual
hipótese é, em sua visão, a mais explicativa. Além disso, também é essencial ter mais de uma
hipótese para qual você irá recorrer caso a sua hipótese básica seja descartada.

Vamos dar um exemplo prático. Uma empresa preocupada com a baixa produtividade dos
funcionários busca meios de alcançar uma melhoria nesse aspecto. A hipótese inicial é a de
que a baixa produtividade está relacionada a uma motivação deficiente por parte dos
funcionários. A empresa pode, a fim de testar sua hipótese, implementar uma política de
incentivos salariais e progressão salarial por produtividade. Durante um período de tempo,
pode-se observar se a motivação dos funcionários aumentou ou não através de levantamentos
e entrevistas. A partir disso, busca-se encontrar uma correlação entre maior motivação e
produtividade. Em caso de negativa, a hipótese deve ser reformulada.

Vemos então que podemos incorporar uma mentalidade científica à nossa prática profissional
por meio da aplicação do raciocínio científico. Temos pelo menos três atitudes que contribuem
para o pensamento científico e podem ser aplicadas a contextos mais amplos.

Questionar sempre: os cientistas precisam ser céticos. Como seus colegas de negócios e da
indústria, eles também devem inovar. À medida que questionam o estabelecido, os cientistas
inovam, surgem novos produtos, designers, áreas. Inovação e questionamento andam juntos.
Na prática, pense se determinado processo é o mais adequado, se existiria outra forma de
aumentar sua eficiência. A atitude de curiosidade e ceticismo diante da vida são fundamentais
para a inovação.
Competitividade colaborativa: os melhores cientistas competem e colaboram prontamente uns
com os outros. Alguém em um campo ou organização diferente pode ter a chave para
desvendar o problema no qual está trabalhando. Quando os problemas ficam difíceis, os
cientistas querem formar a melhor equipe, mesmo que o parceiro seja um competidor feroz.
Observe que muitos problemas não podem ser resolvidos isoladamente. Em muitos casos, a
elaboração de uma equipe ou a colaboração de outras pessoas é necessária para desenvolver
a solução de um problema complexo. Colabore como um cientista.
Não ter medo de problemas: o negócio do cientista é o desconhecido. Muitas vezes é
necessário encarar o desconhecimento, o difícil e o incerto. Para o cientista, o desconhecido é
uma oportunidade a ser perseguida e não evitada. Nesse sentido, quando surgem problemas,
deve-se racionalizar: divida o problema em hipóteses menores a serem testadas. Avalie as
probabilidades e a inter-relação entre os fatores que afetam a causa do problema. É importante
construir uma equipe que saiba lidar com a incerteza e volatilidade do conhecimento.
Incorporar um pensamento científico sólido às decisões do dia a dia na prática profissional
pode ajudar a inovação, ao estimular o pensamento ousado e criativo. Uma mentalidade
científica apreende o mundo de uma forma sistemática: comece com alguma pergunta geral
baseada em sua experiência; formule uma hipótese que resolveria o quebra-cabeça e que
também gere uma previsão testável; reúna dados para testar sua previsão; e, finalmente, avalie
sua hipótese em relação às hipóteses concorrentes.

No entanto, muitas vezes, precisamos agir em estado de ignorância parcial, com pouco ou
nenhum conhecimento acumulado sobre o assunto. Nesses casos em que não podemos testar
nossas hipóteses, o método científico nos ensina a não inferir muito de qualquer resultado. Às
vezes, a única resposta verdadeira é que simplesmente não sabemos.

O método científico é instrutivo, não para extrair respostas, mas para destacar os limites do que
pode ser conhecido. Uma mente científica deve sempre permanecer cética sobre o que sabe.
Seja cético em relação aos dados por todos os meios, mas também seja cético em relação a
explicações plausíveis, sabedoria convencional, ideologias inspiradoras, anedotas
convincentes e, acima de tudo, sua própria intuição. O resultado não deve ser uma paralisia
total, nem uma adesão servil aos dados, muito menos excluir a criatividade ou a imaginação.
Em vez disso, deve nos levar a um mundo mais racional e baseado em evidências.

Nesta seção você refletiu sobre a presença e a importância da ciência na vida cotidiana, o
modo como a produção científica revolucionou as relações sociais, os hábitos e as
necessidades de grande parte da humanidade. A ciência se destaca não só por seus feitos,
mas por ser uma maneira de pensar. O pensamento científico, ao induzir a criatividade e
inovação, se mostra importante até mesmo para os negócios.

FAÇAVALER A PENA
Questão 1
A ciência e seus frutos são muito úteis para a sociedade de forma em geral, mas ela não é
reduzida ao trabalho em laboratórios. Na verdade, o pensamento científico pode ser aplicado a
contextos mais amplos.
Assinale a alternativa que contém um exemplo de contexto em que é possível aplicar o método
científico.

a. Relacionamentos.
b. Administração de negócios.
c. Crítica de cinema.
d. Avaliação artística.
e. Tratado filosófico.
Questão 2
É uma modalidade de formação continuada que visa o aprofundamento na área de formação,
exige a entrega de uma dissertação e tem o período de 2 anos.

Assinale a alternativa que apresenta a modalidade que o texto se refere.

a. Especialização.
b. Aperfeiçoamento.
c. Mestrado.
d. Doutorado.
e. Pós-doutorado.
Questão 3
Hoje em dia, dada a velocidade em que o conhecimento é produzido, mesmo as pessoas
recém-formadas necessitam de atualização profissional. Essa atualização pode ser obtida com
programas de formação continuada.

Assinale a alternativa que contém um dos principais benefícios da formação continuada:

a. Garantia de empregabilidade.
b. Diferencial competitivo.
c. Mudança de escolaridade.
d. Publicação de uma tese.
Contato com pesquisadores de outras áreas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal. Presidência da República, v. 1, 1988.

MACHADO, F.. Revolução Industrial - Evolução tecnológica transforma as relações sociais.


Pedagogia & Comunicação. UOL Educação. [s.d]. Disponível em: https://bit.ly/2PzGZrL. Acesso
em: 5 fev. 2021.

PASTERNAK, N.; ORSI, C. Ciência no cotidiano: Viva a razão. Abaixo a ignorância! São Paulo:
Editora Contexto, 2020.

PIRES, A. C.; CHACRA, A. R. A evolução da insulinoterapia no diabetes melito tipo 1. Arquivos


Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 52, n. 2, p. 268-278, 2008.
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
COMO TRADUZIR PESQUISAS PARA A PRÁTICA PROFISSIONAL?
Amanda Soares de Melo

SEM MEDO DE ERRAR


Você foi contratado por uma empresa a fim de promover melhorias na produção de uma peça
metálica. Aplicando o método científico do início ao fim dos estudos, você tira algumas
conclusões e elabora um teste de hipótese baseado em duas observações: I. A peça metálica
possui um grande risco em um dos seus componentes. II. Foi constatado que a máquina
responsável pela manufatura estava suja durante a produção do componente. Sua hipótese
básica pode ser a de que o risco foi ocasionado pela sujeira da máquina. Com base nessa
hipótese, temos de elaborar um teste para que ela seja corroborada ou falseada.

Intuitivamente, a predição é que após a máquina ser limpa, não irá ocorrer mais riscos. Assim,
a experimentação será feita em um ambiente controlado com a utilização de uma máquina em
condições semelhantes àquela inicial que passe por uma limpeza padronizada. Após esse
procedimento, deve-se verificar em uma certa amostragem, como em uma amostragem de
1.000 peças, se há algum risco semelhante ao reportado inicialmente.

Após a realização dos testes, inicia-se a análise dos dados e resultados. Alguns dos resultados
possíveis podem ser:

O risco sumiu em todas as peças e ao final da produção a máquina estava limpa.


O risco não sumiu em todas as peças e ao final da produção a máquina estava suja.
O risco não sumiu em todas as peças e ao final da produção a máquina estava limpa.
A análise aponta que se o resultado for A, então provavelmente a hipótese pode ser
corroborada.

Caso o resultado seja B, então a máquina está se sujando durante a produção e produzindo o
risco em algumas peças. Se C for verdadeiro, então a sujeira pode não ser a causa dos riscos,
ainda que possa ser um efeito secundária da causa.

Caso B seja verdadeira, precisamos reformular as hipóteses. A nova hipótese para B, pode ser:
a máquina está se sujando durante o processo e a sujeira é responsável pelo defeito.
Assim, o novo teste de predição poderia ser a elaboração de um novo procedimento que limpe
a máquina durante o seu funcionamento.

Caso C seja verdadeira, também precisamos reformular as hipóteses. A nova hipótese para C
depende do levantamento de outras possíveis causas para o defeito da máquina, uma vez que
a sujeira é, nesse caso, descartada como agente causador do risco. Ela pode ser um efeito
secundário do mal funcionamento ou estar relacionada com a manutenção de outro
componente que foi corrigido durante a limpeza.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
PENSAMENTO CIENTÍFICO APLICADO AOS NEGÓCIOS
O diretor do RH de uma empresa elabora um novo treinamento para os funcionários com uma
metodologia de ensino que se baseia no pensamento científico. O objetivo desse treinamento é
promover entre os funcionários a criatividade, a inovação, o espírito colaborativo e uma
maneira mais produtiva de lidar com os desafios. Para auxiliá-lo, você deve indicar quais
possíveis fundamentos e pilares que esse treinamento deve ter, visando o alcance dos
objetivos definidos pelo diretor.

RESOLUÇÃO
Para a situação problema em questão, a partir da aplicação do pensamento científico à esfera
profissional, temos pelo menos três posturas que podem ser incentivadas no treinamento a
serem adotadas pelos funcionários da empresa. São elas:

Questionar sempre: os cientistas precisam ser céticos. Como seus colegas de negócios e da
indústria, eles também devem inovar. À medida que questionam o estabelecido, os cientistas
inovam, surgem novos produtos, designers, áreas. Inovação e questionamento andam juntos.
Competitividade colaborativa: os melhores cientistas competem e colaboram prontamente uns
com os outros. Em muitos casos, a elaboração de uma equipe ou a colaboração de outras
pessoas é necessária para desenvolver a solução de um problema complexo.
Não ter medo de problemas: para o cientista, o desconhecido é uma oportunidade a ser
perseguida e não evitada. Nesse sentido, quando surgem problemas, deve-se racionalizar:
dividir o problema em hipóteses menores a serem testadas, avaliar racionalmente as
probabilidades e a inter-relação entre os fatores causadores do problema.

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