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MUSEUS E PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS/CULTURAIS

Dra. Ana Kalassa El Banat

GUIA DA
DISCIPLINA
2022
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância

1. OS MUSEUS E SUA HISTÓRIA

Objetivo

Estudar os conceitos, aspectos históricos e fundamentos ligados aos museus.

Introdução
O primeiro conceito sobre o qual vamos dialogar é o de museu. “O termo “museu”
tanto pode designar a instituição quanto o estabelecimento, ou o lugar geralmente
concebido para realizar a seleção, o estudo e a apresentação de testemunhos materiais e
imateriais do Homem e do seu meio” (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 – 67)

1.1. O campo museal


O adjetivo “museal” serve para qualificar tudo aquilo que é relativo ao museu.

O ICOM [Conselho Internacional de Museus] definiu o museu como uma


instituição permanente, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento.
Nesse sentido, a instituição constitui um conjunto de estruturas criadas pelo
Homem no campo museal, e organizadas com o fim de que este possa
estabelecer uma relação sensível com os objetos. (DESVALLÉES; MAIRESSE.
2013, pp. 32 – 67)

Criado em 1946, o ICOM (Conselho Internacional de Museus) é a única


organização internacional que representa os museus e seus profissionais à
escala mundial. O ICOM é uma organização internacional não-governamental
que mantém relações formais com a UNESCO. No seio das Nações Unidas, o
ICOM tem um estatuto consultivo no Conselho Económico e Social.

O ICOM é: Um fórum diplomático que reúne representantes de 137 países e


territórios.

Padrão de excelência para os museus, incluindo em termos de ética (Código


de Deontologia para Museus).

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Uma rede única de mais de 30,000 profissionais de museus em todo o mundo.

Um centro de intercâmbio de inteligência mundial composto por 31 Comités


Internacionais que representam as especialidades dos museus.

Missões de serviço público internacional, mais particularmente na luta contra


o tráfico ilícito de propriedade cultural, bem como programas de emergência
em caso de desastres naturais ou conflitos armados.

Fonte: http://www.museums.gov.mo/por/imd2012/icom.html

Mas, definir museu não é tarefa fácil, por isso traçaremos um panorama histórico que
auxilie na compreensão de suas características e dos principais fundamentos para a
compreensão de sua importância para a sociedade.

A etimologia do termo vem do grego: mouseion, que poderia ser traduzido por
templo das musas. Na mitologia grega o templo das musas era “dedicado às
nove Musas, filhas de Zeus com Mnemosine, a deusa da Memória. No entanto,
foi só a partir do Renascimento que este termo passou a ser aplicado em
relação a coleções de objetos de valor histórico e artístico”. (FALCÃO, 2009.
pp. 10 - 14)

Em busca das origens dos museus “alguns autores sugerem que deveríamos
considerar que os museus teriam começado com a lendária Biblioteca de Alexandria, com
seu complexo de salas de estudo, bibliotecas, jardim botânico, parque zoológico e
observatório astronômico” (FALCÃO, 2009. Pp. 10 - 14), mas será só com a Revolução
Francesa, a partir da criação do Museu do Louvre, que teremos um espaço com as
características modernas.

O hábito de colecionar determinados objetos remonta, à pré-história, como


testemunham os “sambaquis” encontrados em sítios arqueológicos. Conforme
referências registradas em textos clássicos, como em Homero e Plutarco,
historiadores afirmam que já se encontravam na Antiguidade, coleções de
objetos de arte ou de materiais raros ou preciosos. Sabemos também que

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reunir obras de arte, durante a Idade Média, era visto como uma
demonstração de prestígio. A partir do advento das grandes navegações e da
descoberta de novos continentes, a formação de coleções de objetos artísticos
ou curiosidades naturais foi bastante estimulada, servindo, inclusive, de base
para os famosos gabinetes de curiosidades. (Adaptado de FALCÃO, 2009. pp.
10 - 14)

Hoje, alguns dos museus mais importantes criados na Europa a partir dos anos de
1700 tiveram sua origem ligada às coleções de reais ou de particulares.

Os primeiros museus surgiram de coleções privadas de pessoas, famílias ou


instituições muito ricas. Estes museus, no entanto, eram acessíveis apenas
para uma minoria bem restrita de pessoas. O primeiro museu
verdadeiramente público, como se compreende hoje, foi o Museu do Louvre,
aberto após a Revolução Francesa. Esta foi a primeira vez na história que se
permitiu acesso livre às antigas coleções da realeza francesa para pessoas de
todos os estratos sociais. (Adaptado de FALCÃO, 2009. Pp. 10 - 14)

A função desses espaços mesclava abrigar essas coleções, mas principalmente


educar as massas.

Só posteriormente começaram a surgir os museus modernos especializados


em determinados temas ou áreas: museus universitários; museus de história,
de ciências e artes. Porém, muitas e intensas foram as transformações a que
estiveram sujeitas estas instituições ao longo dos séculos XIX e XX, culminando
com críticas severas sobre o papel e a função dos museus, ao longo da década
de 1970, oriundas dos mais diversos campos do saber. FALCÃO, 2009. pp. 10 -
14)

Entre as críticas afirmou-se que o museu representa a sede da história oficial, e o


autoritarismo de uma elite. O desenvolvimento da mídia de massa teria acelerado ainda
mais o desgaste social dessas instituições. “Segundo um dos diretores do Museu Britânico,

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a imagem de sua instituição na época era a de uma instituição poeirenta, atrasada e repleta
de múmias decadentes e mármores sem sentido”. (FALCÃO, 2009. pp. 10 - 14)

A segunda metade do século XX foi chamada, por muitos, de era dos museus. As
grandes exposições criaram fenômenos de sucesso de público e, ainda que a atuação
desses espaços tenha sido criticada pela aproximação do setor cultural à grande mídia, as
propostas multiculturais, com narrativas que escaparam às proposições tradicionais,
tornaram-se muito mais presentes, efetivando o atendimento a diferentes públicos.

Talvez, pela primeira vez na história, o museu, em seu sentido mais amplo,
tenha assumido o lugar do filho favorito entre as instituições culturais. O mu-
seu, como espaço da preservação da cultura das elites e do discurso oficial,
teria sido substituído por uma instituição que se abre aos meios de comuni-
cação de massa e ao grande público. A transformação do papel social dos
museus em sociedades contemporâneas abre um leque de possibilidades e
desdobramentos às práticas expositivas. (Adaptado de FALCÃO, 2009. pp. 10 -
14)

Falcão (2009) assinalada ainda que embora o museu seja um espaço que tem a
prerrogativa de mostrar o passado ao público, não podemos esquecer que isso é feito por
uma variedade de instituições, meios e práticas. No entanto, não devemos ignorar o fato
de que os museus, como instituições dedicadas a celebrar o passado, à memória, atuam,
forjando aspectos ideológicos e de identidade do país e da sociedade.
Foi nesse contexto que surgiu o que foi chamado de Nova Museologia.

A nova museologia influenciou amplamente a museologia dos anos 1980,


reunindo primeiro alguns teóricos franceses e, a partir de 1984, difundindo-se
internacionalmente. Este movimento ideológico – baseado num número de
precursores que, a partir de 1970, publicaram textos inovadores – enfatizou a
vocação social dos museus e seu caráter interdisciplinar, ao mesmo tempo que
chamou a atenção para modos de expressão e de comunicação renovados. O
seu interesse estava principalmente nos novos tipos de museus concebidos em
oposição ao modelo clássico e à posição central que ocupavam as coleções
nesses últimos: tratava-se dos ecomuseus, dos museus de sociedade, dos

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centros de cultura científica e técnica e, de maneira geral, da maior parte das


novas proposições que visavam à utilização do patrimônio em benefício do
desenvolvimento local. O termo em inglês New Museology, que apareceu no
final dos anos 1980 (Vergo, 1989) e se apresenta como um discurso crítico
sobre o papel social e político dos museus, gerou certa confusão na difusão do
vocábulo francês (pouco conhecido do público anglo-saxônico). (DESVALLÉES;
MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67)

Os novos desafios desenharam-se ampliando também as funções que um museu


deve desempenhar:

Novas funções apareceram durante a segunda metade do século XX,


conduzindo, especialmente, a modificações arquiteturais maiores:
multiplicação das exposições temporárias, permitindo uma distribuição
diferente das coleções entre os espaços de exposição de longa duração e os
das reservas técnicas; desenvolvimento de estruturas de acolhimento, espaços
de criação (ateliês pedagógicos) e áreas de descanso, o que se deu
particularmente com a criação de espaços multiuso; e desenvolvimento de
livrarias e restaurantes, além da criação de lojas para a venda de produtos
derivados. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 – 67)

DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia.


Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury, tradução e comentários. São Paulo:
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado
de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013.

FALCÃO, Andréa. Apresentação – Museu e escola: educação formal e não-


formal In: Museu e escola: educação formal e não-formal. Salto para o Futuro.
Brasília. MEC/SED. Ano XIX – Nº 3 – Maio/2009.

IBRAM. ICOM 2019. Disponível em: https://www.museus.gov.br/tag/icom/


Acesso em: fevereiro 2020.

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2. A MUSEOLOGIA E OS DESAFIOS PARA OS MUSEUS NO SÉCULO


XXI

Objetivo
Compreender alguns dos principais desafios para a museologia no século XXI.

Introdução
O termo museologia refere-se, em síntese, ao estudo sobre os museus, em oposição
à prática, chamada de “museografia”. “Ela o estuda em sua história e no seu papel na
sociedade, nas suas formas específicas de pesquisa e de conservação física, de
apresentação, de animação e de difusão, de organização e de funcionamento, de
arquitetura nova ou musealizada, nos sítios herdados ou escolhidos, na tipologia, na
deontologia” (RIVIÈRE, 1981 Apud DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67).

Nesse sentido a museologia busca compreender o museu como instituição.

Criada e mantida pela sociedade, [que] repousa sobre um conjunto de normas


e de regras (medidas de conservação preventiva, interdição de tocar nos
objetos ou de expor substitutos apresentados como originais, etc.), elas
mesmas fundadas sobre um sistema de valores: a preservação do patrimônio,
a exposição de obras-primas e de espécimes únicos, a difusão de
conhecimentos científicos modernos, etc. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp.
32 - 67)

2.1. Desafios contemporâneos


Entre os desafios para a manutenção e garantia de funcionamento dos museus como
instrumentos de transformação social que permitam a “preservação do patrimônio, a
exposição de obras-primas e de espécimes únicos, a difusão de conhecimentos científicos
modernos” entre outras funções, o século XXI tem enfrentado dificuldades de manutenção
dos espaços, crises econômicas e lutas ideológicas.

Para compreender melhor algumas das dificuldades a serem enfrentadas é possível


destacar os problemas causados pelas políticas de expansão do turismo, que ao

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avançarem sem estudos ou cuidados com o patrimônio geram desgaste e ou depredação


em monumentos, museus e mesmo em cidades, como no caso de Veneza, na Itália e de
Dubrovnik, na Croácia.

Para entender melhor esses problemas gerados pelo turismo, por exemplo,
impulsionado pelos transatlânticos, pesquise:

http://viajari.com/por-que-veneza-odeia-os-turistas/

http://italiaperamore.com/por-que-os-navios-de-cruzeiro-sao-uma-ameaca-
para-veneza/

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40759936

https://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/multidoes-de-fas-de-game-
of-thrones-ameacam-cidade-historica-na-croacia-23041169

https://geografiavisual.com.br/fotografias/a-cidade-medieval-ameacada-
pelo-turismo-de-massa-apos-game-of-thrones

Outro exemplo é a dificuldade em conter a aglomeração dentro dos principais


museus da Europa e EUA, como em frente à Mona Lisa, no Museu do Louvre, em Paris.

Admirar obras de arte pode ser um rito cultural de passagem que faz bem à
alma, mas a crescente visitação transformou muitos museus em espaços
superlotados que parecem saunas, forçando instituições a debater sobre como
manter o equilíbrio entre acessibilidade e a preservação das obras. Há alguns
anos, os museus vêm tomado medidas para lidar com as aglomerações. A
maioria oferece entradas com tempo cronometrado. Outros tem estendido o
horário de visitação. Para proteger suas obras, muitos investiram em novos
sistemas de ar condicionado. Mesmo assim, muitos críticos dizem que tais
medidas não bastam. No ano passado [2013], o Museu do Vaticano, teve um
recorde de 5,5 milhões de visitantes. Este ano, graças a popularidade do novo
Papa Francisco, espera que este número aumente para 6 milhões. O Vaticano
está instalando um novo sistema de climatização na Capela Sistina para ajudar
a preservar os afrescos de Michelangelo da umidade gerada pela presença de
2 mil pessoas que lotam o espaço a qualquer hora do dia, recentemente o
número chega a 22 mil pessoas por dia. [...] Silanteva [chefe do departamento
de serviços de visitação do Museu Hermitage] disse que o objetivo é tornar o

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museu acessível ao maior número de pessoas possível, mas, admitiu que as


lotações e aglomerações representam um problema. (DONADIO, 2014)

Aglomeração comum em frente à Mona Lisa. Museu do Louvre. Fonte:


https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:gShSJMjE_NkJ:https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo
,museus-europeus-sofrem-com-a-superlotacao,10331,0.htm+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

Se o excesso de visitação criou problemas para garantir acessibilidade, e ao mesmo


tempo a integridade do público e das obras, entre outros desafios, em países onde as
questões econômicas se agravaram, em crises que atingem diretamente o campo da
cultura, os problemas são outros.

A falta de recursos financeiros compromete a manutenção preventiva dos edifícios


e das obras, dificulta a manutenção das exposições e novos projetos e alija os setores
educativos. O exemplo trágico dessa situação é o incêndio do Museu Nacional do Rio de
Janeiro, em 2018.

No dia 2 de setembro, o Museu Nacional foi consumido por um incêndio de


grandes proporções, no que já é considerado a maior tragédia museológica do
Brasil. O acidente aconteceu justamente no ano em que a instituição
comemorava 200 anos de existência. Funcionários avaliam que cerca de 90%
do acervo em exposição foi consumido pelas chamas. “O dano é irreparável”,
diz João Carlos Nara, diretor do Museu Nacional. Localizado no Rio de Janeiro,
o museu é a instituição científica mais antiga do país e uma das mais

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importantes do mundo. Foi fundado pelo rei Dom João VI em 1818, e seu
primeiro acervo surgiu a partir de doações da Família Imperial e de
colecionares particulares. Atualmente ele tinha o maior acervo da história
natural da América Latina, com 20 milhões de itens. As peças tinham um valor
incalculável e a maioria nunca mais poderá ser vista pessoalmente. (CUNHA)

Estátua de Dom Pedro II e ao fundo, edifício em chamas. Fonte:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_no_Museu_Nacional_do_Rio_de_Janeiro

Vista aérea do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído após incêndio de domingo (2) — Foto: Thiago
Ribeiro/AGIF/Estadão Conteúdo. Fonte: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/09/04/o-que-se-sabe-sobre-o-
incendio-no-museu-nacional-no-rio.ghtml

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Para saber mais sobre o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46721344

https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_no_Museu_Nacional_do_Rio_
de_Janeiro

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/09/02/incendio-atinge-
a-quinta-da-boa-vista-rio.ghtml

A necessidade de atentar para as ações de manutenção preventiva veio somar-se


aos desafios que o ICOM - Internacional Council of Museums já enfrentava. E um dos mais
expressivos é a efetivação da “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”,
documento em que os países signatários (Ligados à ONU - Organização das Nações
Unidas) se comprometeram-se a tomar medidas de erradicação da pobreza.

O encontro do ICOM, de 2019, em Kyoto, teve como parte dos objetivos discutir a
participação dos museus nessa agenda. “Na programação do evento, o debate sobre a
prevenção de desastres em museus, a busca da sustentabilidade econômica, social e
ambiental dos museus em contextos de crise e o papel dos museus para o desenvolvimento
local foram temas abordados na conferência”. (Adaptado de IBRAM). O Brasil esteve no
centro das discussões sobre a manutenção dos espaços e a prevenção de incêndios.

O plano da Agenda 2030 “indica 17 Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável, os ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida
digna para todos, dentro dos limites do planeta” (Agenda 2030)

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Fonte: http://www.agenda2030.org.br/sobre/

O que é a ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

https://nacoesunidas.org/

Para saber mais sobre a Agenda 2030:

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável - "A Agenda 2030 é a


nossa Declaração Global de Interdependência”. Por António Guterres,
Secretário Geral da ONU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS: Em setembro
de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU se reuniram em
Nova York e reconheceram que a erradicação da pobreza em todas as suas
formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e
um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Ao adotarem
o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável”, os países comprometeram-se a tomar
medidas ousadas e transformadoras para promover o desenvolvimento
sustentável nos próximos 15 anos sem deixar ninguém para trás. A Agenda
2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que
busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas, para erradicar a pobreza
e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta. São objetivos

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e metas claras, para que todos os países adotem de acordo com suas próprias
prioridades e atuem no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas
necessárias para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro. (Agenda
2030)

A relação dos museus com a Agenda 2030 é estabelecida a partir de sua atuação
como instituição cultural e de educação não formal, com ação social direta e impacto
destacado no desenvolvimento do país.

Entre os objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a Cultura na Agenda 2030


temos que:

Cultura é quem somos e o que molda nossa identidade. A cultura contribui


com a redução da pobreza e prepara o caminho para um desenvolvimento
centrado nos seres humanos, inclusivo e equitativo. Nenhum desenvolvimento
pode ser sustentável sem esses valores. Colocar a cultura no centro das
políticas de desenvolvimento constitui um investimento essencial no futuro do
mundo e uma pré-condição para processos de globalização bem-sucedidos
que levem em consideração o princípio da diversidade cultural. (Adaptado de
Culture for the 2030 Agenda)

Esse caminho em busca de tornar os museus espaços cada vez mais inclusivos e
bem-sucedidos em apoiar a diversidade cultural gerou o tema de 2020 - MUSEUS PARA A
IGUALDADE: DIVERSIDADE E INCLUSÃO.

Todos os anos desde 1977, o Conselho Internacional de Museus


(ICOM) organiza o Dia Internacional dos Museus. O objetivo é aumentar a
conscientização sobre o fato de que os museus são um importante meio de
intercâmbio cultural, enriquecimento de culturas, bem como para o
desenvolvimento de entendimento mútuo, colaboração e paz entre os povos.
(IBERMUSEOS)

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Cartaz do ICOM 2020 com o tema para a Semana de Museus. Fonte: http://www.ibermuseos.org/pt/recursos/noticias/o-
tema-do-dia-internacional-dos-museus-2020-e-museus-para-a-igualdade-diversidade-e-inclusao/

Em meio a esse planejamento para o desenvolvimento dos museus a pandemia de


COVID – 19 causou o fechamento das instituições, demissões de funcionários, fechamento
ou redução dos projetos e dos serviços educativos e a reabertura ainda é incerta.

Para saber mais sobre a reabertura dos museus no segundo semestre de 2020:

https://www.youtube.com/watch?v=9MNxEa0wV0s

https://veja.abril.com.br/entretenimento/mona-lisa-sem-aglomeracoes-a-
reabertura-do-museu-do-louvre/

https://super.abril.com.br/cultura/museu-do-louvre-vai-reabrir-mas-sem-
aglomeracoes-na-mona-lisa/

https://exame.com/mundo/louvre-reabre-apos-quatro-meses-e-restringe-
mona-lisa-veja-fotos/

O Museu do Louvre em Paris vai retomar as atividades no dia 6 de julho, após


três meses fechado por causa da quarentena imposta pela pandemia do
corona vírus. Museu de maior visitação no mundo, com 10 milhões de pessoas

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por ano, agora terá um número restrito de frequentadores e algumas galerias


ficarão fechadas. Em entrevista ao jornal The New York Times, o presidente do
Louvre, Jean-Luc Martinez, conta que o número de ingressos vendidos será
reduzido, que haverá sinalizações para distanciamento social, e o uso de
máscaras será obrigatório para pessoas acima de 11 anos de idade. Uma das
principais mudanças será diante da pop Mona Lisa. O quadro de Leonardo da
Vinci costuma atrair aglomerações de turistas em busca de uma boa selfie.
Agora, os visitantes terão que esperar em duas filas separadas antes de chegar
próximo ao quadro. “Cada pessoa terá a chance de ficar a 3 metros de distância
da Mona Lisa. Será um momento especial”, conta o presidente. (CARNEIRO).

Reabertura do Louvre. Fonte: https://veja.abril.com.br/entretenimento/mona-lisa-sem-aglomeracoes-a-


reabertura-do-museu-do-louvre/

Visitantes em fila para ver a "Mona Lisa": portas barram acesso à obra para evitar aglomeração (Charles
Platiau/Reuters). Fonte: https://exame.com/mundo/louvre-reabre-apos-quatro-meses-e-restringe-mona-lisa-veja-fotos/

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Além do ICOM, no Brasil há também i IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus, que


atua para organizar e supervisionar as ações museais dos museus federais e, nesse
momento de isolamento social, está acompanhando e organizando as diretrizes de retorno
às atividades.

O Instituto Brasileiro de Museus foi criado em janeiro de 2009, com a


assinatura da Lei nº 11.906. Vinculada ao Ministério do Turismo, a autarquia
sucedeu o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nos
direitos, deveres e obrigações relacionados aos museus federais.

O órgão é responsável pela Política Nacional de Museus (PNM) e pela melhoria


dos serviços do setor – aumento de visitação e arrecadação dos museus,
fomento de políticas de aquisição e preservação de acervos e criação de ações
integradas entre os museus brasileiros. Também é responsável pela
administração direta de 30 museus. (IBRAM. Sobre o órgão)

Ibram publica recomendações para reabertura pós-pandemia está disponível


em: https://www.museus.gov.br/ibram-publica-recomendacoes-aos-museus-
em-tempo-de-covid-19/

Agenda 2030. Disponível em: http://www.agenda2030.org.br/sobre/ Acesso


em 12 julho 2020.

CARNEIRO, Raquel. ‘Mona Lisa’ sem aglomerações: a reabertura do Louvre.


Disponível em: https://veja.abril.com.br/entretenimento/mona-lisa-sem-
aglomeracoes-a-reabertura-do-museu-do-louvre/

Culture for the 2030 Agenda. Disponível em:


http://www.unesco.org/culture/flipbook/culture-2030/en/Brochure-
UNESCO-Culture-SDGs-EN2.pdf Acesso em 12 de julho 2020.

CUNHA, Carolina. Ciência - o que o Brasil perdeu com o incêndio do Museu


Nacional? Disponível em: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-
disciplinas/atualidades/ciencia-o-que-o-brasil-perdeu-com-o-incendio-do-
museu-nacional.htm Acesso em 12 de julho 2020.

DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia.


Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury, tradução e comentários. São Paulo:

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Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado


de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013.

DONADIO, Rachel. Museus europeus sofrem com a superlotação. Instituições


debatem como manter o equilíbrio entre acessibilidade e preservação das
obras, 2014. Disponível em:
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:gShSJMjE_NkJ:htt
ps://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,museus-europeus-sofrem-com-
a-superlotacao,10331,0.htm+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br Acesso em: 12
de julho de 2020.

FALCÃO, Andréa. Apresentação – Museu e escola: educação formal e não-


formal In: Museu e escola: educação formal e não-formal. Salto para o Futuro.
Brasília. MEC/SED. Ano XIX – Nº 3 – Maio/2009.

IBERMUSEOS. O tema do Dia Internacional dos Museus 2020 é “Museus para


a igualdade: diversidade e inclusão”. Disponível em:
http://www.ibermuseos.org/pt/recursos/noticias/o-tema-do-dia-
internacional-dos-museus-2020-e-museus-para-a-igualdade-diversidade-e-
inclusao/

IBRAM. ICOM 2019. Disponível em: https://www.museus.gov.br/tag/icom/


Acesso em: fevereiro 2020.

IBRAM. Sobre o órgão. Disponível em: https://www.museus.gov.br/sobre-o-


orgao/ Acesso em: 13 de julho 2020.

UNESCO. 2030 Agenda for sustainable development. Disponível em:


http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/2030-agenda-for-sustainable-
development/unesco-and-sustainable-development-goals/sustainable-
development-goals-for-culture-on-the-2030-agenda/ Acesso em fevereiro
2020

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3. MUSEUS E EXPOSIÇÕES

Objetivo
Compreender as funções dos museus.

3.1. Funções museais


Para compreender melhor as funções de um museu precisamos analisar dois
fundamentos: musealização e visualização.

Quais são as funções do museu? Ele desenvolve uma atividade que podemos
descrever como um processo de musealização e de visualização. De maneira
mais geral, falamos de funções museais que foram descritas de formas
diferentes ao longo do tempo. Baseamo-nos em um dos modelos mais
conhecidos, elaborado no final dos anos 1980 pela Reinwardt Academie de
Amsterdam, que distingue três funções: a preservação (que compreende a
aquisição, a conservação e a gestão das coleções), a pesquisa e a comunicação.
A comunicação, ela mesma, compreende a educação e a exposição, duas
funções que são, sem dúvida, as mais visíveis do museu. Neste sentido, parece-
nos que a função educativa cresceu suficientemente nas últimas décadas para
que o termo mediação lhe seja acrescentado. Uma das maiores diferenças que
se pode apontar entre o trabalho realizado anteriormente em museus e o dos
últimos anos reside na importância que vem sendo dada à noção de gestão,
de modo que, em razão de suas especificidades, somos levados a tratá-la como
uma função do museu. O mesmo se percebe em relação à noção de
arquitetura de museu, cuja importância crescente leva a uma transformação
do conjunto de outras funções. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67)

A musealização ou patrimonialização está relacionada a formação das coleções.

Musealização designa o tornar-se museu ou, de maneira mais geral, a


transformação de um centro de vida, que pode ser um centro de atividade
humana ou um sítio natural, em algum tipo de museu. A expressão
“patrimonialização” descreve melhor, sem dúvida, este princípio, que repousa

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 17


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essencialmente sobre a ideia de preservação de um objeto ou de um lugar,


mas que não se aplica ao conjunto do processo museológico. (DESVALLÉES;
MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67)

Há ainda o termo “museificação”, que é um neologismo.

O neologismo “museificação” traduz a ideia pejorativa da “petrificação” (ou


mumificação) de um lugar vivo, que pode resultar de um processo e que
encontramos em diversas críticas ligadas à ideia de “musealização do mundo”.
(DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67 )

Em última instância a “musealização” este ligada a transformação de um objeto da


vida cotidiana, ordinário, em um objeto que pertence a um museu.

De um ponto de vista mais estritamente museológico, a musealização é a


operação de extração, física e conceitual, de uma coisa de seu meio natural ou
cultural de origem, conferindo a ela um estatuto museal – isto é,
transformando-a em musealium ou musealia, em um “objeto de museu” que
se integre no campo museal. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67)

A musealização de objetos não é apenas o limite físico da transferência desses


objetos para o museu. A presença no museu altera o contexto, o processo de escolha e de
apresentação desse objeto, alterando o estatuto do objeto. Se este é um objeto de
adoração, um objeto prático ou divertido, de caráter animal ou vegetal, ou mesmo algo que
não é explicitamente considerado um objeto “uma vez dentro do museu, assume o papel
de evidência material ou imaterial do homem e do seu meio, e uma fonte de estudo e de
exibição”. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 18


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A musealização começa com uma etapa de separação ou de suspensão: os


objetos ou as coisas (objetos autênticos) são separados de seu contexto de
origem para serem estudados como documentos representativos da realidade
que eles constituíam. Um objeto de museu não é mais um objeto destinado a
ser utilizado ou trocado, mas transmite um testemunho autêntico sobre a
realidade. Essa remoção da realidade já constitui em si uma primeira forma de
substituição. Um objeto separado do contexto do qual foi retirado não é nada
além de um substituto dessa realidade que ele deve testemunhar. (Adaptado
de DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67 )

Outro termo fundamental para a compreensão dos museus é a coleção. Uma


coleção pode ser material ou imaterial, e está no centro das ações desenvolvidas em um
museu. “A missão de um museu é a de adquirir, preservar e valorizar suas coleções com o
objetivo de contribuir para a salvaguarda do patrimônio natural, cultural e científico” (Código
de Ética do ICOM, 2006 Apud DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67). Por coleção
entendemos:

Um conjunto de objetos materiais ou imateriais (obras, artefatos, mentefatos,


espécimes, documentos arquivísticos, testemunhos, etc.) que um indivíduo,
ou um estabelecimento, se responsabilizou por reunir, classificar, selecionar e
conservar em um contexto seguro e que, com frequência, é comunicada a um
público mais ou menos vasto, seja esta uma coleção pública ou privada.
DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 - 67)

Para formar uma coleção, o conjunto desses objetos deve formar um acervo
(relativamente) consistente e significativo. Além disso, coleção e fundo não são a mesma
coisa. “No caso de um fundo, contrariamente a uma coleção, não há seleção e raramente
há a intenção de se constituir um conjunto coerente”. DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013,
pp. 32 - 67)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 19


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É importante não confundir coleção e fundo, que designa, na terminologia


arquivística, um conjunto de documentos de todas as naturezas “reunidos
automaticamente, criados e/ou acumulados, e utilizados por uma pessoa física
ou por uma família em exercício de suas atividades suas funções.” (Bureau
Canadien des Archivistes, 1990 Apud DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 32 -
67)

A coleção de bens imateriais tem algumas particularidades.

As coleções mais evidentemente imateriais (de conhecimentos locais, de


rituais e mitos na etnologia, bem como de performances, gestos e instalações
efêmeras em arte contemporânea) incitam o desenvolvimento de novos
dispositivos de aquisição. Por vezes, a mera composição material dos objetos
torna-se secundária, e a documentação do processo de coleta – que sempre
foi importante na arqueologia e na etnologia – agora se torna a informação de
maior importância, a qual acompanhará não apenas a pesquisa, mas também
os dispositivos de comunicação com o público. A coleção do museu sempre
teve de ser definida em relação à documentação que a acompanha e pelo
trabalho que resultou dela, para ter a sua relevância reconhecida. Esta
evolução levou a uma acepção mais ampla da coleção, como uma reunião de
objetos que conservam sua individualidade e reunidos de maneira intencional,
segundo uma lógica específica. Esta última acepção, a mais aberta das que
foram citadas, engloba tanto as coleções mais específicas quanto as coleções
tradicionais dos museus, mas também coleções de testemunhos da história
oral, de memórias ou de experimentos científicos. DESVALLÉES; MAIRESSE.
2013, pp. 32 - 67)

Dentro do museu a coleção ou acervo é objeto de exposições. O termo exposição


“designa ao mesmo tempo o ato de expor coisas ao público, os objetos expostos, e o lugar
no qual se passa a exposição” (Davallon, 1986 Apud DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp.
32 - 67). E, a partir da definição do ICOM “de Instituição permanente, sem fins lucrativos, a
serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva,
investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 20


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educação e deleite da sociedade” (FALCÃO, 2009, p. 13) os espaços museológicos para a


organização de exposição não são apenas os museus.

– Os sítios e monumentos naturais, arqueológicos e etnográficos


– Os sítios e monumentos históricos de caráter museológico, que adquirem,
conservam e difundem a prova material dos povos e de seu entorno
– As instituições que conservam coleções e exibem exemplares vivos de
vegetais e animais – como os jardins zoológicos, botânicos, aquários e
vivários
– Os centros de ciência e planetários
– As galerias de exposição não comerciais
– Os institutos de conservação e galerias de exposição, que dependam de
bibliotecas e centros arquivísticos
– Os parques naturais
– As organizações internacionais, nacionais, regionais e locais de museus
– Os ministérios ou as administrações sem fins lucrativos, que realizem
atividades de pesquisa, educação, formação, documentação e de outro tipo,
relacionadas aos museus e à museologia
– Os centros culturais e demais entidades que facilitem a conservação e a
continuação e gestão de bens patrimoniais, materiais ou imateriais
– Qualquer outra instituição que reúna algumas ou todas as características
do museu, ou que ofereça aos museus e aos profissionais de museus os
meios para realizar pesquisas nos campos da Museologia, da Educação ou
da Formação. (FALCÃO, 2009. P. 14)

3.2. Exposições virtuais


É importante ainda pontuar as chamadas exposições virtuais e seu papel como porta
de entrada para os espaços museais.

O desenvolvimento das novas tecnologias e do design por computadores


popularizou a criação de museus na internet e a realização de exposições que
podem ser visitadas na tela ou por meio de suportes digitais. Mais do que
utilizar o termo “exposição virtual” (que designa, mais precisamente, uma
exposição em potência, isto é, uma resposta potencial à questão do
“mostrar”), preferimos os termos “exposição digital” ou “ciberexposição” para
evocar essas exposições particulares que se desenvolvem na internet. Estas
oferecem possibilidades que não permitem exposições clássicas de objetos
materiais (agrupamentos de objetos, novos modos de apresentação, de
análise, etc.). (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 30 - 87)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 21


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Durante o período de isolamento social vivenciado no primeiro semestre de 2020 as


visitas e exposições virtuais tornaram-se importantes instrumentos de relação entre os
museus e o público. Desvallées e Mairesse já antecipavam o potencial em incentivar novos
métodos de diálogo e educação nos museus. “Mas se, por enquanto, elas são apenas
concorrentes das exposições com objetos reais nos museus clássicos, não é impossível,
por outro lado, que o seu desenvolvimento influencie os métodos atualmente empregados
no seio desses museus”. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 30 - 87)

Entre os espaços de oferecimento de mostras e exposições virtuais o Google art and


culture é um dos mais importantes. No link:
https://artsandculture.google.com/search/partner?q=museus%20brasileiros

Você encontra os museus brasileiros que estão integrados ao google e possibilitam


visitas pela internet. Além disso foi também um período de muita interação com arte e
patrimônio a partir de ações organizadas por museus, professores ou por artistas.

O MASP, por exemplo, criou Ação Masp [Desenho] em Casa que tem premiado
participantes com acesso gratuito, por um ano, ao museu. As mídias sociais têm sido boas
aliadas nessa difusão da arte e do trabalho realizado nos museus.

Toda semana, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand (Masp)


disponibiliza em seu Instagram (@masp) a imagem de uma obra de seu acervo
para que o público, em casa, possa criar releituras em desenho. A iniciativa
Masp [Desenho] em Casa escolhe as melhores reproduções, que recebem
como prêmio um ano de acesso gratuito ao museu. Para participar, é preciso
ficar atento à obra publicada às terças-feiras, fazer o desenho, publicar em seu
perfil no Instagram marcando o Masp e usando o #maspdesenhosemcasa até
às 23h59 do domingo. Os vencedores serão conhecidos às segundas-feiras.
(Adaptado de CARVALHO)

A circulação de imagens e de recriações foi destaque no primeiro semestre de 2020.


Artistas, museus e associações criaram estímulos para repensar essas relações. Um
exemplo é a “Obra de Banksy em cidade inglesa ganha máscara facial contra coronavírus”

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 22


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(Você pode ver o resultado em:


https://entretenimento.uol.com.br/noticias/reuters/2020/04/23/obra-de-banksy-em-cidade-
inglesa-ganha-mascara-facial-contra-coronavirus.htm) e a intervenção em que “Banksy
alerta sobre uso de máscaras em nova intervenção no metrô de Londres” (Conheça a
imagem em: https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2020/07/14/banksy-
aborda-uso-de-mascaras-em-nova-obra-no-metro-de-londres.htm).

Abaixo você tem alguns links para conhecer um pouco mais de ações realizadas
pelas pessoas em casa, a partir do estímulo dos museus.

Desde que o coronavírus se espalhou pelo mundo, museus de vários países


tiveram de repensar a forma de apresentar a arte para o público. Além de
exposições por meio de realidade virtual e postagens educativas sobre as
coleções, uma ação bastante lúdica tem ganhado força nos últimos tempos: o
incentivo à recriação de obras de arte pelo público. A aposta nesse tipo de
brincadeira acompanha uma onda de postagens espontâneas que se
popularizaram nas redes sociais e deram origem a páginas de sucesso como
a Tussen Kunst & Quarantaine (“Entre Arte & Quarentena”). De origem
holandesa, o perfil do Instagram (@tussenkunstenquarantaine) foi criado em
14 de março e hoje conta com quase 200 mil seguidores. (CORREA)

• Pesquise algumas das recriações divulgadas pelo ARTE 1


• https://www.facebook.com/canalarte1/posts/2847685828649863
• https://www.facebook.com/canalarte1/posts/2943596372392141
• E em Museus internacionais
• https://www.boredpanda.com/art-painting-recreations-
quearteencasa/?fbclid=IwAR2dANpM58wArNl-AaRpP-
UNNlhaTDY9gfcPwqg45g3GtUQ4D_4eowpe20Y&utm_source=facebook&utm_m
edium=social&utm_campaign=organic.

Essas iniciativas abriram caminhos que devem trazer ainda muitos novos frutos e
ligam às exposições às ações educativas, sobre as quais falaremos mais adiante.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 23


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DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia.


Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury, tradução e comentários. São Paulo:
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado
de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013.

FALCÃO, Andréa. Apresentação – Museu e escola: educação formal e não-


formal In: Museu e escola: educação formal e não-formal. Salto para o Futuro.
Brasília. MEC/SED. Ano XIX – Nº 3 – Maio/2009.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 24


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4. PATRIMÔNIO CULTURAL E PRESERVAÇÃO

Objetivo:
Conhecer os principais conceitos e caminhos percorridos para sua definição e
preservação.

Introdução
Para iniciar esse caminho de reconhecimento dos principais conceitos ligados ao
estudo do patrimônio cultural faremos um exercício de sensibilização:

Imagine sua carteira de identidade. Agora visualize cada um dos dados que consta
nessa carteira: seu nome, sua data de nascimento, nomes dos seus pais, local e ano do
seu nascimento. Visualizou? Agora imagine cada uma dessas informações desaparecendo
lentamente do seu documento.

Seu documento de identidade fica vazio, há apenas uma fotografia um tanto


esmaecida que diz que aquele é você.

Você não sabe mais quando ou onde nasceu, como foi sua infância ou de onde você
veio. Não sabe os nomes dos seus pais, nem mesmo o nome que seus pais deram a você.
Não tem lembranças sobre o que aconteceu com você nos últimos anos da sua vida.

Quem você seria sem as memórias da sua história pessoal?

É difícil imaginar uma situação como essa? Mas, ao apagarmos as memórias da


nossa história coletiva, nossas formas de construir, cozinhar, vestir, transportar mercadorias
e pessoas estamos apagando nossa identidade enquanto sociedade, perdemos nosso
patrimônio cultural.

Em sentido etimológico, patrimônio advém de patrimonium, uma junção de


“patri”, termo designador de “pai”, com “monium”, que exprime “recebido”,
para referir-se à “herança”. Desde a noção mais antiga que manifesta o
desejo de transmitir os bens da família, até a noção mais contemporânea,
que desenvolve a ideia de um patrimônio a ser transmitido para as gerações

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 25


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futuras, nota-se como o conceito é uma construção social. O patrimônio


pode ser, então, tudo o que alguém diz e faz a respeito dele, expandindo o
sentido de herança reivindicado e/ou apropriado. Daí o termo
patrimonialização ser empregado para designar todo o processo de
constituição de patrimônios na sociedade. (Formação de Mediadores de
Educação para Patrimônio)

4.1. Caminhos do patrimônio na contemporaneidade


O conceito de patrimônio estabelecido principalmente a partir da Revolução
Francesa está ligado a existência de itens cuidadosamente construídos, únicos, que foram
de alguma forma destacados da vida cotidiana e adquirem o status de excepcionalidade e
que podem ser preservados de tal forma que parecem ter sido congelados no tempo.

Entretanto, a partir do século XX, as discussões sobre o que é ou não patrimônio e


o que deve ou não ser preservado ou esquecido transformou-se por questionamentos que
não vieram dos centros de cultura estabelecidos. Muitas das expressões culturais dos
países colonizados e do chamado terceiro mundo não se enquadram nas definições
padronizadas. Constituem manifestações culturais que se relacionam a rituais, formas de
ser, viver e produzir de comunidades que estão a margem, analfabetos, indígenas e
escravizados, para quem as organizações culturais baseadas na oralidade são essenciais
para a vida de suas manifestações, danças, festas, cerimônias entre outras.

Mas, para organizarmos o estudo devemos compreender o referencial teórico e


conceitual para o estudo do patrimônio no Brasil e podemos eleger alguns pontos que
sinalizam discussões ou acontecimentos decisivos, que vinculam esse desenvolvimento à
espaços e discussões mais amplos e internacionais.

A constituição de um campo para a definição do patrimônio acompanha a história da


cultura ocidental desde a Antiguidade. O primeiro ponto está relacionado ao Império
Romano, na ideia fundamental do poder do pai para a família, como o proprietário dos bens
e detentor de direitos sobre o grupo familiar. Esse pai tem a autoridade para determinar a
passagem dos bens, como móveis e edifícios e mesmo escravos, pessoas da família, entre
outros para a próxima geração. Uma forma de herança ligada a elite.

A Revolução Francesa é segundo ponto desse processo no Ocidente. Desde a


revolução, o poder da monarquia foi desafiado. O conflito causado por esse desafio

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 26


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questiona o direito à propriedade, destruição e destituição de edifícios, como monumentos


e castelos. Em meio ao questionamento sobre o poder da monarquia colocou-se em
discussão também quais bens seriam importantes para o país, abordando ideias sobre o
que seria patrimônio, quais patrimônios deveriam ser mantidos, preservados por sua
particularidade ou como produtos dos métodos e técnicas que caracterizam a produção, a
história e o desenvolvimento da sociedade, sob o olhar da elite da época.

A Segunda Guerra Mundial é o terceiro ponto que marca esse desenvolvimento das
noções ligadas ao patrimônio. Num ambiente de confrontos ideológicos acirrados entre
fascismo e nazismo houve uma intensificação do nacionalismo e de ações de exclusão,
racismo, genocídio, perseguição a judeus e homossexuais e a todas as ideias que não
estão de acordo com os fundamentos hegemônicos defendidos por esses grupos. Por outro
lado, a sociedade também se organizou para desafiar essas ideologias. Críticas ao racismo,
à exclusão por gênero, sexualidade, a desigualdade racial ou social, alavancam discussões
sobre patrimônio: identificação, valorização e preservação que caminham de mãos dadas
com a luta por direitos civis, liberdade religiosa e liberdade de expressão.

Nesse momento histórico, foi decisiva a participação das Organização das Nações
Unidas - Organização das Nações Unidas e a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura na argumentação sobre a preservação do patrimônio.

Essas discussões tiveram um impacto nos chamados países do terceiro mundo


(ou seja, países coloniais pobres ou em desenvolvimento) cujas formas
culturais não estão necessariamente em construções de valor devido à sua
singularidade ou raridade (que era o principal campo do patrimônio até
então). Para encontrar lugar no conceito de patrimônio expandiu-se as
discussões para outros tipos de expressões culturais. As reflexões geradas
nesses países exigem valorização das formas culturais locais, para que estas
também fossem entendidas como patrimônio. Mas essa compreensão não era
compatível com o conceito de patrimônio preconizado na época. É nesse
contexto de conflitos entre conceitos e práticas que as discussões sobre o
reconhecimento dos bens culturais foram revisadas e expandidas.
.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 27


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No México, em 1982, quando o conceito de patrimônio intangível ou imaterial foi


incluído no Mapa do Patrimônio da UNESCO, ocorreu um marco na revisão do conceito de
patrimônio. O patrimônio intangível não é precisamente feito de pedra e cal, mas sim das
vivências socialmente organizadas em práticas culturais vivas e em constante
transformação. Está relacionado ao espírito, ao encontro, às expressões populares e às
histórias dos grupos e comunidades. Ações relacionadas à vida cotidiana e à vida de grupos
sociais a partir das quais estes tecem suas identidades.

Na segunda metade do século XX, a compreensão das pessoas sobre o patrimônio


(incluindo o patrimônio natural e a concepção de paisagem cultural) aumentou, e essas
heranças naturais são consideradas, hoje, igualmente territórios a serem mantidos e
valorizados. Neste ponto, podemos ver o surgimento de um método do patrimônio, a partir
do qual podemos entender que o patrimônio não está apenas na Europa e sim em qualquer
lugar em que exista vida humana em sociedade.

4.2. O valor cultural


Foi na Constituição de 1988 que a responsabilidade pela atribuição do valor cultural
do patrimônio foi modificado e passou do Estado para a sociedade, por seus cidadãos.

Nesse contexto Ulpiano Meneses apresenta contribuições para a compreensão do


valor cultural como algo que não é próprio às coisas, não é natural. Os valores cognitivos,
formais, afetivos, pragmáticos e éticos são socialmente atribuídos e “não existem isolados,
agrupam-se de forma variada, produzindo combinações, recombinações, superposições,
hierarquias diversas, transformações e conflitos” (MENESES, 2009, p. 35 Apud Formação
de Mediadores de Educação para Patrimônio)

Para exemplificar esses valores, observe um dos bens culturais [...] o Edifício
São Pedro, localizado na orla da Praia de Iracema, na cidade de Fortaleza, cuja
situação foi escolhida pela capacidade de sintetizar uma série de problemas
com uma sensibilidade própria da força criativa dos artistas.

a. O valor cognitivo costuma tomar o bem como um documento, ao possibilitar


uma fruição intelectual e técnica, que pode apontar para o padrão estilístico
que orientou o pedido de tombamento deste prédio, um dos primeiros
construídos no local.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 28


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b. O valor formal ou estético é perpassado por um tipo de apreço sensorial,


como aquele que desponta em torno de seu formato metaforizado de navio,
ao ser contemplado por um habitante ou visitante da cidade, num dos pontos
mais badalados à beira-mar.

c. O valor afetivo, muito relacionado à memória, deriva de vinculações


subjetivas de identificação com o bem, como os dos antigos moradores e
sujeitos que frequentam o seu entorno.

d. O valor pragmático é mais um valor de uso percebido como qualidade, como


os dos projetistas que tentam requalificá-lo diante da especulação imobiliária
característica da área onde está localizado.

e. O valor ético seria aquele associado não somente ao bem, mas às interações
sociais nas quais ele é apropriado, tendo como referência o lugar do outro, a
exemplo dos artistas que o tomam como símbolo da cidade para pensar os
desafios e possibilidades do convívio entre o antigo e contemporâneo na
trama urbana. (Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio)

BRASIL. Lei n. 378 de 13 de janeiro de 1937. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/uploads/legislacao/Lei_n_378_de_13_de_janeiro_
de_1937.pdf. Acesso: 07 de julho de 2020.

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio / vários autores;


organizado por Raymundo Netto; coordenação de Cristina Rodrigues Holanda;
ilustrado por Daniel Dias. - Fortaleza, CE: Fundação Demócrito Rocha, 2020.

IPHAN. Patrimônio Cultural. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

PELEGRINI, Sandra; FUNARI, Pedro Paulo. O que é Patrimônio Cultural


imaterial. SP: Brasiliense, 2008.

PELEGRINI, Sandra. Patrimônio Cultural: consciência e preservação. SP:


Brasiliense, 2009.

REZENDE, GRIECO, TEIXEIRA, THOMPSON. Serviço do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional (SPHAN) 1937-1946. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Servi%C3%A7o%20do
%20Patrim%C3%B4nio%20Hist%C3%B3rico%20e%20Art%C3%ADstico%20Na
cional.pdf. Acesso em: 8 de julho de 2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 29


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5. A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

Objetivo
Compreender os aspectos históricos da organização dos instrumentos de
preservação do patrimônio.

Introdução
Para entender a importância da preservação dessa memória coletiva temos de,
inicialmente, definir patrimônio, mas essa não é uma tarefa fácil, porque esse conceito não
é estático. Ele tem mudado ao longo do tempo, à medida que as sociedades passam a
valorizar essa ou aquela manifestação, a compreender que uma determinada obra ou
atividade é merecedora ou não de permanecer e ser registrada, enquanto outras podem
desaparecer.

5.1. Os mecanismos de preservação


O IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão oficial de
preservação do patrimônio nacional apresenta um histórico das principais mudanças
ocorridas, indicando que um Decreto, de 1937, estabelecia como patrimônio “o conjunto de
bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público,
quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico” (IPHAN. Patrimônio Cultural).

Inicialmente chamou-se: SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional, atuando desde 1936, quando Gustavo Capanema era ministro da
Educação e Saúde Pública, a pedido da presidência da república e teve Rodrigo
Melo Franco de Andrade como seu primeiro diretor e foi inspirado pela Lei
Francesa, de 1913 (RUBINO).

O SPHAN surgiu com o objetivo de “promover, em todo o País e de modo


permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do
patrimônio histórico e artístico nacional” (BRASIL, 1937, art. 46) com texto de Rodrigo de
Melo Franco.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 30


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A Lei nº. 378 criou, ainda, o Conselho Consultivo do SPHAN, como um órgão
necessário ao funcionamento do Serviço, e determinou sua composição: “o
Conselho Consultivo se constituirá do diretor do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, dos diretores dos museus nacionais de coisas
históricas ou artísticas, e de mais dez membros, nomeados pelo Presidente da
República” (BRASIL, 1937, art. 46, § 2º Apud REZENDE, GRIECO, TEIXEIRA,
THOMPSON).

A atuação da SPHAN foi decisiva para que os conceitos, ações e decisões sobre o
patrimônio e sua preservação tivessem sucesso no Brasil, entretanto as diretrizes nacionais
nascem entre conflitos, disputas e exclusões, quer marcam as diretrizes da proteção do
patrimônio.

Essas atribuições iniciais foram revisadas em 1988, a partir da definição da


Constituição Federal que ampliou a definição inicial e recolocou a discussão do
âmbito da cultura. A nomenclatura foi alterada, passando de Patrimônio
Histórico e Artístico para Patrimônio Cultural Brasileiro. Essa mudança foi
fundamental, especialmente para a afirmação da cultura imaterial como
detentora de bens passíveis de reconhecimento.
.

Nessa redefinição promovida pela Constituição, estão as formas de expressão;


os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico. (IPHAN. Patrimônio Cultural).

A existência de uma legislação não garante seu cumprimento e o Iphan é o órgão


responsável “pelo cumprimento dos marcos legais, efetivando a gestão do Patrimônio
Cultural Brasileiro e dos bens reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio da Humanidade” (IPHAN.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 31


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Patrimônio Cultural). Essa trabalho é realizado em parceria com os governos estaduais


o Sistema Nacional do Patrimônio Cultural.

Todo esse mecanismo está em função da preservação do patrimônio para garantir


às gerações futuras o direito à memória.

De acordo com a classificação da UNESCO, o Patrimônio Cultural é composto


por monumentos, grupos de edifícios ou sítios que tenham valor universal
excepcional do ponto de vista histórico, estético, arqueológico, científico,
etnológico ou antropológico. Incluem obras de arquitetura, escultura e pintura
monumentais ou de caráter arqueológico, e, ainda, obras isoladas ou
conjugadas do homem e da natureza. São denominadas Patrimônio Natural as
formações físicas, biológicas e geológicas excepcionais, habitats de espécies
animais e vegetais ameaçadas e áreas que tenham valor científico, de
conservação ou estético excepcional e universal. O Patrimônio Imaterial
contempla os saberes, práticas, representações, expressões, conhecimentos e
técnicas - com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes
são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os
indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio
cultural. Uma das formas de proteção dessa porção imaterial da herança
cultural é a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,
adotada pela Unesco em 2003. (IPHAN. Patrimônio Mundial).

A Convenção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, adotada em 1972


pela Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (UNESCO), tem
como objetivo incentivar a preservação de bens culturais e naturais
considerados significativos para a humanidade. Trata-se de um esforço
internacional de valorização de bens que, por sua importância como referência
e identidade das nações, possam ser considerados patrimônio de todos os
povos. Cabe aos países signatários desse acordo indicar bens culturais e
naturais a serem inscritos na Lista do Patrimônio Mundial. As informações
sobre cada candidatura são avaliadas pelos órgãos assessores da Convenção
(Icomos e IUCN) e sua aprovação final é feita, anualmente, pelo Comitê do
Patrimônio Mundial, composto por representantes de 21 países. O Brasil
ratificou a Convenção, em 1978. (IPHAN. Patrimônio Mundial)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 32


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O Sistema Nacional do Patrimônio Cultural (SNPC) é a quinta meta do Plano


Nacional de Cultura (PNC) e tem como objetivo implementar a gestão
compartilhada do Patrimônio Cultural Brasileiro, visando a otimização de
recursos humanos e financeiros para sua efetiva proteção. Além disso, o
Sistema atua no desenvolvimento de uma política de preservação do
patrimônio que regulamenta princípios e regras para as ações de conservação,
especialmente na coordenação das ações entre cidades, estados e Governo
Federal e na criação de um sistema de financiamento que fortaleça as
instituições, estruture o sistema e consolide as execuções. (IPHAN.SNPC).

5.2. A composição do patrimônio


O termo patrimônio cultural é abrangente e, dentro dessa concepção, é possível
reconhecer formas distintas de existência. É importante compreender o que caracteriza
cada uma delas e as consequências e necessidades específicas de preservação a serem
observadas.

A primeira divisão a ser feita, dentro da terminologia de patrimônio cultural, é a


distinção entre patrimônio material e imaterial efetivada na Constituição Federal de 1988,
nos artigos 215 e 216, que ampliou a noção de patrimônio cultural ao acatar a realidade de
bens de natureza imaterial e material como distintas.

5.2.1. Patrimônio Material


Entende-se por patrimônio material o “conjunto de bens culturais classificados
segundo sua natureza, conforme os quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e
etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas”. (IPHAN. Patrimônio Material)

Os bens tombados de natureza material podem ser imóveis como as cidades


históricas, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; ou móveis,
como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais,
bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos.
(IPHAN. Patrimônio Material)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 33


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5.2.2. Patrimônio Arqueológico


Os sítios arqueológicos são considerados locais onde são encontrados vestígios de
ocupação humana, cemitérios, sepulturas ou locais em se estabeleceram há muito tempo,
"sítios" e "cerâmicas", cavernas, lapas e bunkers de rochas. Inscrições rupestres ou locais
com ranhuras polidas, assim como sambaquis. Proprietários ou outros que encontrem
traços de atividade humana podem ser processados por danos à propriedade da União se,
em até 60 dias, os achados arqueológicos não forem comunicados ao IPHAN.

O Brasil possui mais de 26 mil sítios arqueológicos cadastrados e reconhece a


importância desses bens como representantes dos grupos humanos
responsáveis pela formação da identidade cultural da sociedade brasileira. A
proteção dos bens de natureza arqueológica está presente, desde a criação do
Iphan, no texto do Decreto-Lei nº 25, de 1937. (IPHAN. Patrimônio
Arqueológico).

5.2.3. Paisagem cultural


A paisagem cultural é um dos conceitos mais recentes, uma nova tipologia de
aprovação dos bens culturais, concebida a partir de 1992. “Duas décadas depois, em 6 de
julho de 2012, reconheceu o Rio de Janeiro como a primeira área urbana do mundo a
receber a chancela de paisagem cultural. Os locais da cidade valorizados com o título da
Unesco são o Pão de Açúcar, o Corcovado, a Floresta da Tijuca, o Aterro do Flamengo, o
Jardim Botânico, a praia de Copacabana, e a entrada da Baía de Guanabara”. (IPHAN.
Paisagem Cultural)

A paisagem cultural brasileira é uma parte única do território do país e representa o


processo de interação humana com o ambiente natural. A vida e a ciência humanas são
marcadas ou valorizadas nesse processo.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 34


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Paisagem cultural: a ocorrência, em determinada fração territorial, do convívio


entre a natureza, os espaços construídos e ocupados, os modos de produção
e as atividades culturais e sociais, numa relação complementar capaz de
estabelecer uma identidade que não possa ser conferida por qual quer um
desses elementos isoladamente. Este conceito, como instrumento de
preservação, também é utilizado em outras partes do mundo como, por
exemplo, Espanha, França e México, onde viabiliza a qualidade de vida da
população e a motivação responsável pela preservação do patrimônio
cultural. (IPHAN. Paisagem cultural)

Os lugares que recebem esse reconhecimento podem desfrutar do título, desde que
mantenham as características de sua classificação da paisagem cultural. É necessário
desenvolver um plano de gestão e estabelecer um acordo entre as autoridades públicas, a
sociedade civil e o setor privado para gerenciar conjuntamente essa parte do território do
país. Se os membros não cumprirem essas decisões - se as características da paisagem
descaírem ou se perderem - a organização responsável (neste caso, Iphan) pode cancelar
o carimbo.

5.2.4. Patrimônio Imaterial ou intangível


Patrimônio cultural imaterial diz respeito às ações culturais intangíveis que estão
relacionadas às práticas da vida social e áreas que se refletem no conhecimento, na
habilidade e nas maneiras de fazer das coisas como celebrações, organização das
paisagens, das formas, das músicas entre outras expressões de entretenimento e a certos
lugares que permitem práticas culturais coletivas como mercados, bazares e abrigos. Os
artigos 215 e 216, da Constituição Federal de 1988, expandiu o conceito de patrimônio
cultural, reconhecendo a existência de produtos culturais de natureza material e imaterial.

O patrimônio intangível é um legado, passado de geração em geração, que é


continuamente reconstruído devido à interação das comunidades e grupos sociais com a
natureza e a história, resultando em um senso de identidade e continuidade, promovendo
o respeito à cultura e à diversidade cultural.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 35


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Segundo a UNESCO, patrimônio imaterial diz respeito: “As práticas, representações,


expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os
indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”. (IPHAN.
Patrimônio Imaterial).

Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio / vários autores;


organizado por Raymundo Netto; coordenação de Cristina Rodrigues Holanda;
ilustrado por Daniel Dias. - Fortaleza, CE: Fundação Demócrito Rocha, 2020.

IPHAN. Instrumentos de Proteção. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/275 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Livros de Registro. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Livros do Tombo. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/608 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Paisagem Cultural. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/899/ . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Patrimônio Cultural. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Patrimônio Material. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/276/ . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Patrimônio Mundial. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/24 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. SNPC. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/217


. Acesso em: 10 de julho de 2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 36


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PELEGRINI, Sandra; FUNARI, Pedro Paulo. O que é Patrimônio Cultural


imaterial. SP: Brasiliense, 2008.

PELEGRINI, Sandra. Patrimônio Cultural: consciência e preservação. SP:


Brasiliense, 2009.

REZENDE, GRIECO, TEIXEIRA, THOMPSON. Serviço do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional (SPHAN) 1937-1946. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Servi%C3%A7o%20do
%20Patrim%C3%B4nio%20Hist%C3%B3rico%20e%20Art%C3%ADstico%20Na
cional.pdf. Acesso em 08 de julho de 2020.

RUBINO, Silvana. Mito de Origem do SPHAN. Ocupação Mário de Andrade


(2013). Parte 4/5. Vídeo disponível em:
http://www.itaucultural.org.br/ocupacao/mario-de-andrade/patrimonio-
artistico/. Acesso em 08 de julho de 2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 37


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6. INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO

Objetivo
Conhecer os instrumentos de proteção do patrimônio e sua organização.

6.1. Preservação dos bens materiais


As ferramentas usadas pelo Iphan para proteger o patrimônio material visam garantir
legalmente a proteção de bens culturalmente significativos no país. Com o tempo, eles
foram estabelecidos por leis diferentes e, dependendo da natureza da propriedade,
atualmente constituem uma série de opções.

Tombamento - É o mais antigo instrumento de proteção em utilização pelo


Iphan, tendo sido instituído pelo Decreto Lei nº 25, de 30 de novembro de
1937, e proíbe a destruição de bens culturais tombados, colocando-os sob
vigilância do Instituto. Para ser tombado, um bem passa por um processo
administrativo, até ser inscrito em pelo menos um dos quatro Livros do
Tombo instituídos pelo Decreto: Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e
Paisagístico; Livro do Tombo Histórico; Livro do Tombo das Belas Artes; e Livro
do Tombo das Artes Aplicadas.

Valoração do Patrimônio Cultural Ferroviário - Quando da extinção da Rede


Ferroviária Federal (RFFSA), a Lei No. 11.483/2007 atribuiu ao Iphan a
obrigação de “receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor
artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta RFFSA, e zelar pela sua guarda
e manutenção”. Para tanto, o Iphan instituiu, por meio da
Portaria No. 407/2010, a Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário, onde são
inscritos os bens oriundos do espólio da extinta RFFSA. Os bens não
operacionais ficam sob a responsabilidade do Instituto, enquanto os
operacionais permanecem sob a responsabilidade Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT). É importante destacar que não cabe aos
bens ferroviários que não fazem parte do espólio da RFFSA a aplicação dessa
Lei, mas sua proteção pode ser feita por meio de tombamento.

Chancela da Paisagem Cultural - Instituída por meio da Portaria Iphan


No. 127/2009, reconhece a importância cultural de porções peculiares do
território nacional, representativas do processo de interação do homem com
o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou
atribuíram valores. Pressupõe o estabelecimento de um pacto entre o poder
público, a sociedade civil e a iniciativa privada, visando a gestão compartilhada
da porção do território nacional assim reconhecida. (IPHAN. Instrumentos de
Proteção)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 38


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Cada Livro de Tombo tem uma especificidade:

Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico - Onde são inscritos


os bens culturais em função do valor arqueológico, relacionado a vestígios da
ocupação humana pré-histórica ou histórica; de valor etnográfico ou de
referência para determinados grupos sociais; e de valor paisagístico,
englobando tanto áreas naturais, quanto lugares criados pelo homem aos
quais é atribuído valor à sua configuração paisagística, a exemplo de jardins,
mas também cidades ou conjuntos arquitetônicos que se destaquem por sua
relação com o território onde estão implantados.

Livro do Tombo Histórico - Neste livro são inscritos os bens culturais em


função do valor histórico. É formado pelo conjunto dos bens móveis e imóveis
existentes no Brasil e cuja conservação seja de interesse público por sua
vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil. Esse Livro, para melhor
condução das ações do Iphan, reúne, especificamente, os bens culturais em
função do seu valor histórico que se dividem em bens imóveis (edificações,
fazendas, marcos, chafarizes, pontes, centros históricos, por exemplo) e
móveis (imagens, mobiliário, quadros e xilogravuras, entre outras peças).

Livro do Tombo das Belas Artes - Reúne as inscrições dos bens culturais em
função do valor artístico. O termo belas-artes é aplicado às artes de caráter
não utilitário, opostas às artes aplicadas e às artes decorativas. Para a História
da Arte, imitam a beleza natural e são consideradas diferentes daquelas que
combinam beleza e utilidade. O surgimento das academias de arte, na Europa,
a partir do século XVI, foi decisivo na alteração do status do artista,
personificado por Michelangelo Buonarroti (1475 - 1564). Nesse período, o
termo belas-artes entrou na ordem do dia como sinônimo de arte acadêmica,
separando arte e artesanato, artistas e mestres de ofícios.

Livro do Tombo das Artes Aplicadas - Onde são inscritos os bens culturais em
função do valor artístico, associado à função utilitária. Essa denominação (em
oposição às belas artes) se refere à produção artística que se orienta para a
criação de objetos, peças e construções utilitárias: alguns setores da
arquitetura, das artes decorativas, design, artes gráficas e mobiliário, por
exemplo. Desde o século XVI, as artes aplicadas estão presentes em bens de
diferentes estilos arquitetônicos. No Brasil, as artes aplicadas se manifestam
fortemente no Movimento Modernista de 1922, com pinturas, tapeçarias e
objetos de vários artistas. (IPHAN. Livros do Tombo)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 39


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• Conjuntos Urbanos Tombados (Cidades Históricas)


• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/123
• Bens tombados do patrimônio cultural brasileiro acesse o Arquivo
Noronha Santos: http://portal.iphan.gov.br/ans/.
• Museus e Acervos Tombados pelo Iphan
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1843/
• Embarcações Tombadas
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/413/
• Fortificações Brasileiras
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1609/
• Patrimônio Arqueológico
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/315/
• Patrimônio Ferroviário
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/127

6.2. Salvaguarda dos bens culturais imateriais


O reconhecimento, valorização e preservação dos bens intangíveis tem instrumentos
próprios de salvaguarda que são o chamado Registro de Bens Culturais de Natureza
Imaterial além do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) e do Inventário
Nacional de Referências Culturais (INCR).

Em 2004, uma política de salvaguarda mais estruturada e sistemática começou


a ser implementada pelo Iphan a partir da criação do Departamento do
Patrimônio Imaterial (DPI). Em 2010 foi instituído pelo Decreto nº. 7.387, de
9 de dezembro de 2010 o Inventário Nacional da Diversidade Linguística
(INDL), utilizado para reconhecimento e valorização das línguas portadoras de
referência à identidade, ação e memória dos diferentes grupos formadores da
sociedade brasileira. (IPHAN. Patrimônio Imaterial)

A preservação dos bens imateriais está fundamentada no reconhecimento da


diversidade cultural como determinante para a identidade cultural. As medidas de
salvaguarda levam em consideração o modo de vida e a caracterização do mundo coletivo
humano e o princípio do relativismo cultural que respeita formas, valores e referências
culturais diferentes, e devem ser entendidas a partir de sua organização e valores próprios.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 40


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Os bens que atendem aos requisitos do IPHAN “são aqueles que detém continuidade
histórica, possuem relevância para a memória nacional e fazem parte das referências
culturais de grupos formadores da sociedade brasileira” (IPHAN. Reconhecimento de bens
culturais) e são passíveis de registro nos Livros de Tombo do patrimônio imaterial.

Os Livros de Registro são quatro: dos saberes, das celebrações, das formas de
expressão e dos lugares.

Livro de Registro dos Saberes - Criado para receber os registros de


bens imateriais que reúnem conhecimentos e modos de fazer enraizados no
cotidiano das comunidades. Os Saberes são conhecimentos tradicionais
associados a atividades desenvolvidas por atores sociais reconhecidos como
grandes conhecedores de técnicas, ofícios e matérias-primas que identifiquem
um grupo social ou uma localidade. Geralmente estão associados à produção
de objetos e/ou prestação de serviços que podem ter sentidos práticos ou
rituais. Trata-se da apreensão dos saberes e dos modos de fazer relacionados
à cultura, memória e identidade de grupos sociais.

Livro de Registro das Celebrações - Reúne os rituais e festas que marcam


vivência coletiva, religiosidade, entretenimento e outras práticas da vida
social. Celebrações são ritos e festividades que marcam a vivência coletiva de
um grupo social, sendo considerados importantes para a sua cultura, memória
e identidade, e acontecem em lugares ou territórios específicos e podem estar
relacionadas à religião, à civilidade, aos ciclos do calendário, etc. São ocasiões
diferenciadas de sociabilidade, que envolvem práticas complexas e regras
próprias para a distribuição de papéis, preparação e consumo de comidas e
bebidas, produção de vestuário e indumentárias, entre outras.

Livro de Registro das Formas de Expressão - Criado para registrar as


manifestações artísticas em geral. Formas de Expressão são formas de
comunicação associadas a determinado grupo social ou região, desenvolvidas
por atores sociais reconhecidos pela comunidade e em relação às quais o
costume define normas, expectativas e padrões de qualidade. Trata-se da
apreensão das performances culturais de grupos sociais, como manifestações
literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, que são por eles consideradas
importantes para a sua cultura, memória e identidade.

Livro de Registro dos Lugares - Nele são inscritos os mercados, feiras,


santuários e praças onde se concentram e/ou se reproduzem práticas culturais
coletivas. Os Lugares são aqueles que possuem sentido cultural diferenciado
para a população local, onde são realizadas práticas e atividades de naturezas
variadas, tanto cotidianas quanto excepcionais, tanto vernáculas quanto

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 41


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oficiais. Podem ser conceituados como lugares focais da vida social de uma
localidade, cujos atributos são reconhecidos e tematizados em representações
simbólicas e narrativas, participando da construção dos sentidos de
pertencimento, memória e identidade dos grupos sociais. (IPHAN. Livros de
Registro)

• Para conhecer mais dos mecanismos de preservação pesquise:


• Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/685/
• Reconhecimento de Bens Culturais
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/606/
• Dossiês dos Bens Imateriais Registrados
• http://portal.iphan.gov.br/publicacoes/lista?categoria=22&busca=
• Banco de Dados de Bens Culturais Imateriais Registrados
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/228
• Lista Indicativa a Patrimônio Mundial
• http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/813

A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a


Cultura, confere o título de Patrimônio da Humanidade ou Patrimônio Mundial a um sítio ou
manifestação cultural que é considerado único para a humanidade. Investido em
salvaguardas buscando garantir a preservação desse bem para as gerações vindouras.

• UNESCO
• https://nacoesunidas.org/agencia/unesco/
• Lista de Património Mundial
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_Patrim%C3%B3nio_Mundial#:~:tex
t=Um%20local%20listado%20como%20Patrim%C3%B3nio,garantir%20sua
%20preserva%C3%A7%C3%A3o%20para%20as
• Lista do Património Mundial em África
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_em_
%C3%81frica
• Lista do Património Mundial na América
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_na_A
m%C3%A9rica
• Lista do Patrimônio Mundial no Brasil

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 42


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• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B4nio_Mundial_no_B
rasil
• Lista do Património Mundial na Ásia e Oceania
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_na_%
C3%81sia_e_Oceania
• Lista do Património Mundial nos Estados Árabes
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_nos_
Estados_%C3%81rabes
• Lista do Património Mundial na Europa
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_na_E
uropa
• Lista do Património Mundial em Portugal
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_em_P
ortugal
• Lista de obras-primas do Património Mundial
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_obras-
primas_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial
• Lista do Património Mundial em perigo
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_do_Patrim%C3%B3nio_Mundial_em_p
erigo

IPHAN. Instrumentos de Proteção. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/275 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Livros de Registro. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/122 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Livros do Tombo. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/608 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Paisagem Cultural. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/899/ . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Patrimônio Cultural. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/218 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 43


Universidade Santa Cecília - Educação a Distância

IPHAN. Patrimônio Material. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/276/ . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. Patrimônio Mundial. Disponível em:


http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/24 . Acesso em: 10 de julho de
2020.

IPHAN. SNPC. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/217


. Acesso em: 10 de julho de 2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 44


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7. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E EM MUSEUS

Objetivo
Estudar os conceitos e fundamentos da Educação Patrimonial.

Introdução
O patrimônio é um campo interdisciplinar que envolve história, arqueologia, arte,
arquitetura e geografia no escopo da cultura de um país.

Para que esses itens colecionáveis alcancem verdadeiramente o objetivo de formar


uma memória social de uma comunidade, país ou cultura em particular, é necessário
divulgar o valor dos itens colecionáveis ao público por meio de trabalhos educacionais,
expandindo assim a possibilidade de reconhecimento, apreciação, atribuição de significado
e preservação de atitudes.

7.1. Educação Patrimonial


Pode-se dizer que a educação patrimonial é uma prática educacional destinada a
organizar atividades interdisciplinares de pesquisa e ensino. Como atividade educativa
cabe esclarecer o que entendemos como educação:

O termo “educação” vem do latim educere [conduzir para fora de, ou seja, para
fora da infância], o que supõe uma dimensão ativa do acompanhamento nos
processos educativos de transmissão. Tem ligação com a noção de despertar,
que visa a suscitar a curiosidade e a conduzir os indivíduos à interrogação e ao
desenvolvimento de reflexões. A educação, particularmente a informal, visa,
então, a desenvolver os sentidos e a tomada de consciência. Ela é um processo
de desenvolvimento que pressupõe mudança e transformação ao invés de
condicionamento ou repetição, noções que ela tende a opor. A formação do
espírito passa, então, por uma instrução que transmite saberes úteis e uma
educação que os torna transformáveis e suscetíveis de serem reinvestidos pelo
indivíduo em benefício de sua humanização. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013,
pp. 30 - 87)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 45


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Em outras palavras, essa é uma estratégia para divulgar o valor dos produtos
culturais a partir de uma perspectiva de valorização e preservação das expressões
culturais.

A Educação Patrimonial constitui-se de todos os processos educativos formais


e não formais que têm como foco o Patrimônio Cultural, apropriado
socialmente como recurso para a compreensão sócio-histórica das referências
culturais em todas as suas manifestações, a fim de colaborar para seu
reconhecimento, sua valorização e preservação. Considera ainda que os
processos educativos devem primar pela construção coletiva e democrática do
conhecimento, por meio do diálogo permanente entre os agentes culturais e
sociais e pela participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras
das referências culturais, onde convivem diversas noções de Patrimônio
Cultural. (IPHAN, 2014, P. 19)

O patrimônio é uma construção social, por isso sua definição se transforma com o
tempo e se adapta aos valores que cada sociedade atribui às suas expressões culturais.

É fora de dúvida que as experiências educativas são mais efetivas quando


integradas às demais dimensões da vida das pessoas. Em outras palavras,
devem fazer sentido e ser percebidas nas práticas cotidianas. Em lugar de
preservar lugares, edificações e objetos pelo seu valor em si mesmo, em um
processo de reificação, as políticas públicas na área deveriam associar
continuamente os bens culturais e a vida cotidiana, como criação de símbolos
e circulação de significados. (IPHAN, 2014. P. 21)

Uma referência importante para a compreensão da educação patrimonial é Carlos


Rodrigues Brandão.

Não se trata, portanto, de pretender imobilizar, em um tempo presente, um


bem, um legado, uma tradição de nossa cultura, cujo suposto valor seja
justamente a sua condição de ser anacrônico com o que se cria e o que se
pensa e viva agora, ali onde aquilo está ou existe. Trata-se de buscar, na

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 46


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qualidade de uma sempre presente e diversa releitura daquilo que é


tradicional, o feixe de relações que ele estabelece com a vida social e simbólica
das pessoas de agora. O feixe de significados que a sua presença significante
provoca e desafia (BRANDÃO, 1996, p.51 Apud IPHAN, 2014. P. 21)

Quando ingressarmos em todos os aspectos da educação tradicional, enfrentaremos


um complexo sistema de relacionamento existente em objetos do cotidiano, casas,
expressões populares, cidades etc. Essas redes de significado dão sentido à evidência
cultural, permitindo-nos entender a continuidade contínua e a mudança de estilos de vida
das pessoas. Entre os objetivos de se realizar essa forma de educação temos “o empenho
em identificar e fortalecer os vínculos das comunidades com o seu Patrimônio Cultural,
incentivando a participação social em todas as etapas da preservação dos bens” (IPHAN,
2017. p. 21).

Conforme Grunberg: “Chamamos de Educação Patrimonial o processo


permanente e sistemático de trabalho educativo, que tem como ponto de
partida e centro o Patrimônio Cultural com todas as suas manifestações. Mas
o que é Patrimônio Cultural? São todas as manifestações e expressões que a
sociedade e os homens criam e que, ao longo dos anos, vão se acumulando
com as das gerações anteriores. Cada geração as recebe, usufrui delas e as
modifica de acordo com sua própria história e necessidades. Cada geração dá
a sua contribuição, preservando ou esquecendo essa herança”. (2007, p.3)

E chama a nossa atenção para a educação patrimonial em relação ao tempo


presente:

Patrimônio Cultural não são somente aqueles bens que se herdam dos nossos
antepassados. São também os que se produzem no presente como expressão
de cada geração, nosso “Patrimônio Vivo”: artesanatos, utilização de plantas
como alimentos e remédios, formas de trabalhar, plantar, cultivar e colher,
pescar, construir moradias, meios de transporte, culinária, folguedos,
expressões artísticas e religiosas, jogos etc. (GRUNBERG, 2007. p.3)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 47


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A partir dessas questões e ao considerar a educação patrimonial, percebemos que


essa abordagem pode trazer a experiência direta de produtos e fenômenos culturais para
sua valorização. E, como finalidade maior “supõe o empenho em identificar e fortalecer os
vínculos das comunidades com o seu Patrimônio Cultural, incentivando a participação
social em todas as etapas da preservação dos bens” IPHAN, 2014. P. 21.

7.2. Mediação
Um conceito importante nesse contexto é o de mediação:

Interessante para a atuação na área de Educação Patrimonial é o conceito de


mediação, cunhado pelo psicólogo e educador russo Lev Vygotsky. Em
Pensamento e Linguagem (1998), ele mostra que a ação do homem tem
efeitos que mudam o mundo e efeitos exercidos sobre o próprio homem: é
por meio dos elementos (instrumentos e signos) e do processo de mediação
que ocorre o desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores (PPS), ou
Cognição. Vygotsky considera que os PPS se desenvolvem durante a vida de
um indivíduo, a partir da sua atuação em situações de interação social, da qual
participam instrumentos e signos que o levam a se organizar e estruturar seu
ambiente e seu pensamento. Os instrumentos e signos, social e historicamente
produzidos, em última instância, mediam a vida. Os diferentes contextos
culturais em que as pessoas vivem são, também, contextos educativos que
formam e moldam os jeitos de ser e estar no mundo. Essa transmissão cultural
é importante, porque tudo é aprendido por meio dos pares que convivem
nesses contextos. Dessa maneira, não somente práticas sociais e artefatos são
apropriados, mas também os problemas e as situações para os quais eles
foram criados. Assim, a mediação pode ser entendida como um processo de
desenvolvimento e de aprendizagem humana, como incorporação da cultura,
como domínio de modos culturais de agir e pensar, de se relacionar com
outros e consigo mesmo. (IPHAN, 2014. P. 22).

A partir dessa ideia é importante conhecer o que está sendo discutido sobre a
derrubada ou ressignificação de esculturas e outros monumentos ligados à dominação
imperialista e ao racismo. Esse conceito de mediação será tratado novamente para
falarmos sobre a educação nos museus.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 48


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Nas duas últimas semanas, estátuas e monumentos de personagens


associados à escravidão, ao colonialismo e ao racismo foram derrubadas em
diversas cidades da Europa e dos Estados Unidos por ativistas que
participavam de marchas do “Black Lives Matter”, movimento internacional
surgido em 2013 para protestar contra a violência direcionada as pessoas
negras e que ressurgiu com ainda mais força este ano, depois que o afro-
americano George Floyd foi brutalmente assassinado no dia 25 de maio por
Derek Chauvin, policial branco de Minneapolis. (LEAL)

• Derrubada de estátuas: vandalismo ou reparação histórica?


https://veja.abril.com.br/brasil/derrubada-de-estatuas-vandalismo-ou-
reparacao-historica/
• Especialistas debatem sobre retirada de estátuas de figuras ligadas à
escravidão. Disponível em:
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/06/11/especialistas-
debatem-sobre-retirada-de-estatuas-de-figuras-ligadas-a-escravidao
• Opinião: Vamos derrubar estátuas para descolonizar. Disponível em:
• https://www.dw.com/pt-br/opini%C3%A3o-vamos-derrubar-
est%C3%A1tuas-para-descolonizar/a-53862190
• 'Destruir uma estátua não resolve, é preciso discutir a memória', diz
historiador. Disponível em:
• https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/06/11/destruir-uma-
estatua-nao-resolve-e-preciso-discutir-a-memoria-diz-historiador.htm
• NÃO HÁ UMA SÓ HISTÓRIA. Em busca de narrativas apagadas pelo racismo,
grupos reconstroem memórias urbanas com roteiros, livros e mapas.
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-
especiais/grupos-trazem-a-frente-narrativas-negras-apagadas-das-
cidades-brasileiras/#page9

DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia.


Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury, tradução e comentários. São Paulo:
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado
de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013. Disponível em:
http://www.icom.org.br/wp-content/uploads/2014/03/PDF_Conceitos-
Chave-de-Museologia.pdf Acesso em: 14 de julho 2020.

FALCÃO, Andréa. Apresentação - Museu e escola: educação formal e não-


formal In: Museu e escola: educação formal e não-formal. Salto para o Futuro.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 49


Universidade Santa Cecília - Educação a Distância

Brasília. MEC/SED. Ano XIX – Nº 3 – Maio/2009. Disponível em:


http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012191.pdf
Acesso em: 14 de julho 2020.

GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de educação patrimonial.


Brasília, DF: IPHAN, 2007. Disponível em:
https://educacaopatrimonial.files.wordpress.com/2010/08/maualatividadesp
raticas_evelina_03mar08web.pdf Acesso em: 14 de julho 2020.

HORTA, M.L.P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A.Q. Guia Básico de Educação


Patrimonial. Brasília, IPHAN, Museu Imperial, 1999. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pd
f Acesso em: 14 de julho 2020.

LEAL. Bruno. Especialistas comentam derrubadas de monumentos e estátuas


pelo mundo. https://www.cafehistoria.com.br/especialistas-comentam-
derrubada-de-estatuas-pelo-mundo/ Acesso em: 14 de julho 2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 50


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8. ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Objetivo
Estudar as principais propostas de Educação Patrimonial.

Introdução
Podemos dizer que a educação patrimonial é um método que atribui importância aos
produtos culturais a partir da expressão de objetos ou materiais, num processo contínuo de
experimentação e descoberta.

8.1. Prática da Educação Patrimonial


Grunberg (2007), no Manual de Atividades Práticas indica como metodologia a
organização de ações que trabalham com: organização, observação, registro, exploração
e apropriação das expressões culturais.

Existe uma metodologia, Educação Patrimonial, que auxilia no trabalho que


pretendemos desenvolver. Esta se apresenta em quatro etapas que são as
seguintes:

Observação - Nesta etapa, usamos exercícios de percepção sensorial (visão,


tato, olfato, paladar e audição) por meio de perguntas, experimentações,
provas, medições, jogos de adivinhação e descoberta (detetive), etc., de forma
que se explore, ao máximo, o bem cultural ou tema observado:

Registro - Com desenhos, descrições verbais ou escritas, gráficos, fotografias,


maquetes, mapas, busca-se fixar o conhecimento percebido, aprofundando a
observação e o pensamento lógico e intuitivo.

Exploração - Análise do bem cultural com discussões, questionamentos,


avaliações, pesquisas em outros lugares (como bibliotecas, arquivos, cartórios,
jornais, revistas, entrevistas com familiares e pessoas da comunidade),
desenvolvendo as capacidades de análise e espírito crítico, interpretando as
evidências e os significados.

Apropriação - Recriação do bem cultural, através de releitura, dramatização,


interpretação em diferentes meios de expressão (pintura, escultura, teatro,
dança, música, fotografia, poesia, textos, filmes, vídeos, etc), provocando, nos
participantes, uma atuação criativa e valorizando assim o bem trabalhado. Os
resultados da aplicação desta metodologia desenvolvem atividades que levam

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 51


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os participantes à reflexão, descoberta e atitude favorável a respeito da


importância e valorização do nosso Patrimônio Cultural. (GRUNBERG, 2007.
S.p.)

Seguindo com a compreensão dessa metodologia, Grunberg propõe, como exemplo


da aplicação prática dessa proposta uma atividade chamada: “A descoberta de uma
edificação”:

“Uma edificação, uma descoberta – Uma observação detalhada”.


Esta atividade poderá ser desenvolvida a partir de uma edificação (bem
material) que poderá ser uma casa, um museu, um edifício público ou privado,
um mercado, um cinema, uma escola, um shopping etc. Convide os
participantes para fazer um passeio pelo bem escolhido, observando,
atentamente, todos os detalhes, pelo lado de fora, cada um levando
prancheta, papel e lápis. Defronte à fachada principal, peça para observarem
todos os detalhes e elementos durante alguns minutos. Passado esse tempo,
e virados de costas, solicite que descrevam, através de desenho ou escrita, o
que eles se lembram do observado (números de portas, janelas e pavimentos:
tipo de material; estado de conservação; cor; decoração; etc). Uma vez
terminado esse registro, peça para que voltem a observar e comparar com o
que eles descreveram nas suas anotações. Promova, a partir dessa
experiência, uma reflexão sobre a diferença entre o olhar e o ver e sobre a
importância da observação detalhada para a compreensão e a descoberta de
outras informações que o olhar superficial não permite. Continue com o
percurso pela parte interna do bem e repita esse exercício em outros lugares
e espaços que você considere interessantes, para fixar esses conceitos
permitindo a sua compreensão. Batize esse olhar de observação com o nome
de olhar de detetive e repita, tanto quanto for necessária a aplicação dos
exercícios, lembrando sempre de colocar um elemento lúdico (de brincadeira)
para manter o interesse e a atenção dos participantes.
O bem cultural e sua investigação Em sequência à atividade anterior, reúna os
participantes e convide-os novamente para fazerem uma outra visita de
“descoberta” com olhos de detetive: um percurso por outro bem ou espaço,
pela parte interna e pela parte externa. De prancheta, papel e lápis na mão,
peça, desta vez, para que escrevam todas as coisas que mais chamaram a
atenção, tanto as boas quanto as ruins. Você pode sugerir estas perguntas: *
Como se apresenta? * Como é a sua construção? * Quantos andares têm? *
Quantas salas ou habitações têm e como são? * Como os espaços estão
distribuídos e organizados? * Quais as atividades realizadas neles? * Qual é o
estado de conservação e limpeza ...: ... dos móveis das salas, das janelas, das
portas e do telhado? ... das áreas externas, dos pátios (se tiver)? ... das salas

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 52


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de visita, dos quartos? ... dos banheiros? ... do jardim ou da área externa? ...
da rua por aonde se chega a ele? * O que foi que lhe chamou mais a atenção?
Podem ser acrescentadas várias outras perguntas, de acordo com o bem
escolhido. Uma vez completada a observação, reúna novamente os
participantes e promova um debate entre eles. A partir dessa atividade, pode-
se propor que efetuem uma pesquisa a respeito da história do bem cultural.
Qual a sua função? Quando foi construído? Quando foi inaugurado (se for
público)? Durante que governo? Algum fato importante aconteceu nele? Foi
construído para a função que tem ou foi posteriormente adaptado? O que
funcionava nele antes? Por que tem esse nome? Caso tenha o nome de
alguém, quem foi essa pessoa? Por que foi homenageada? Qual a sua
profissão? É viva ainda ou já morreu? Quando nasceu? Qual a sua atuação?
Quantas pessoas trabalham ou moram nele? Que fazem? Como elas são?
Quantas atividades se desenvolvem? Cada um dos participantes pode procurar
dados diferentes e juntar os resultados para que possam ser partilhados com
todos. Promova também com eles e pessoas que trabalham ou utilizam o bem,
entrevistas contando as suas atividades, a história e o funcionamento do
mesmo. Essa atividade deverá ser combinada, previamente, com os
participantes e os moradores e/ou usuários. Como resultado dessa pesquisa,
proponha que encontrem uma forma de apresentar esses dados à
comunidade, aos familiares ou a outras pessoas, através de uma dramatização,
um jornal, uma exposição etc. De acordo com a forma escolhida, poderão ser
promovidas atividades como fotografias, desenhos, redações, dança, teatro,
filmes e outras formas de expressão (4ª etapa da metodologia). [E a atividade
pode ter ainda mais sequencias. Para conhecer consulte o Guia completo]
(GRUNBERG, 2007. S.p.)

Além desse exemplo o seu Manual de Atividades Práticas de Educação Patrimonial


apresenta ainda propostas para a prática da Educação Patrimonial, entre elas: “O nosso
primeiro patrimônio”, “Uma caminhada diferente”, “Um júri popular” entre outras ações.

Horta, Grunberg e Monteiro são autores pioneiros que desenvolveram um método


de "educação patrimonial" que explora como ensinar esse conhecimento na sala de aula.
Sua metodologia é baseada em questionamentos conducentes à reflexão. Eles enfatizaram
que cada objeto cultural tem múltiplos aspectos. Nesse caso, é necessário apreender o
objeto de conhecimento nas sucessivas etapas de percepção, análise e interpretação das
expressões culturais, a fim de definir o objetivo e a meta da atividade de acordo com o que
as pessoas desejam alcançar. Para organizar esse projeto é possível organizar fichas que
indiquem as etapas a percorrer, a exemplo das fichas abaixo.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 53


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A análise de um objeto ou fenômeno cultural pode ser feita através de uma série de perguntas e reflexões.
Fonte: Horta; Grunberg; Monteiro, 1999. p. 8.

Essas ideias podem ser expressas também na forma abaixo.

Investigando um objeto cultural - fazer perguntas sobre:


Aspectos Desenho/forma Função/uso Construção/processo Valor/significado
físicos/materiais

Observação Pesquisa/estudo Discussão

Conclusões conhecimento do objeto

Quando fazemos perguntas na primeira linha, encontraremos objetos de


observação, pesquisa e discussão e, em seguida, tiramos conclusões e buscamos pelo
conhecimento dos objetos. Após determinar o objeto ou tema da pesquisa, você pode
formular ações educacionais através de etapas do método. Ainda se referindo aos autores,
eles indicam como etapas metodológicas (Horta, Grunberg e Monteiro, 1999. p. 9):

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 54


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Etapas Recursos/atividades Objetivos

1) Observação Exercícios de percepção visua/sensorial por Identificação do objeto/função/significado.


meio de perguntas, manipulação, Desenvolvimento da percepção visual e
experimentação, anotações, comparação, simbólica
dedução, jogos, etc.
2) Registro Desenhos, descrição verbal ou escrita, Fixação do conhecimento percebido,
gráficos, fotografias, maquetes, mapas e aprofundamento e análise crítica;
plantas baixas. Desenvolvimento da memória, pensamento lógico,
intuitivo e operacional.
3) Exploração Análise do problema, levantamento de Desenvolvimento das capacidades de análise e
hipóteses, discussão, questionamento, julgamento crítico, interpretação das evidências e
avaliação, pesquisa em outras fontes como significados.
bibliotecas, arquivos, cartórios, jornais,
instituições e entrevistas.
4) Apropriação Recriação, releitura, dramatização, Envolvimento afetivo, internalização,
interpretação em diferentes meios de desenvolvimento da capacidade de auto
expressão como pintura, escultura, drama, expressão, apropriação, participação criativa,
dança, musica, poesia, texto, vídeo ou filme. valorização do bem cultural.

Em cada estágio, você pode expandir e aprofundar o conhecimento sobre o objeto


selecionado. Para essa proposta, o professor deve determinar suas metas educacionais,
definindo as habilidades, conceitos e conhecimentos que os alunos serão capazes de
adquirir e, em seguida, selecionar o objeto, a construção, a arte ou a partir da qual construir
o conhecimento. (Horta, Grunberg e Monteiro, 1999. p. 9)

Agora amplie seus conhecimentos lendo diretamente o Guia de Educação


Patrimonial, disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pd
f e o Manual de Atividades Práticas de Educação Patrimonial disponível em:

Conheça também o Educação Patrimonial : Manual de aplicação : Programa


Mais Educação, disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/EduPat_EducPatrimonialProgr
amaMaisEducacao_m.pdf

E pode ampliar ainda mais seus conhecimentos com: IPHAN. EDUCAÇÃO


PATRIMONIAL: Histórico, conceitos e processos. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Educacao_Patrimonial.
pdf

Educação patrimonial: políticas, relações de poder e ações afirmativas /


organização, Átila Bezerra Tolentino, Emanuel Oliveira Braga. João Pessoa:
IPHAN-PB; Casa do Patrimônio da Paraíba, 2016. – (Caderno Temático; 5)
Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/caderno_tematico_educacao
_patrimonial_05.pdf

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 55


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ZANON; MAGALHÃES; BRANCO. Educação Patrimonial: da teoria à prática.


Londrina: UNIFIL, 2009. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4201520/mod_resource/content/1
/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Patrimonial.%20Introdu%C3%A7%C3%A3o%20
ao%20Conceito.pdf

DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia.


Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury, tradução e comentários. São Paulo:
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado
de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013. Disponível em:
http://www.icom.org.br/wp-content/uploads/2014/03/PDF_Conceitos-
Chave-de-Museologia.pdf Acesso em: 14 de julho 2020.

FALCÃO, Andréa. Apresentação - Museu e escola: educação formal e não-


formal In: Museu e escola: educação formal e não-formal. Salto para o Futuro.
Brasília. MEC/SED. Ano XIX – Nº 3 – Maio/2009. Disponível em:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000012191.pdf
Acesso em: 14 de julho 2020.

GRUNBERG, Evelina. Manual de atividades práticas de educação patrimonial.


Brasília, DF: IPHAN, 2007. Disponível em:
https://educacaopatrimonial.files.wordpress.com/2010/08/maualatividadesp
raticas_evelina_03mar08web.pdf Acesso em: 14 de julho 2020.

HORTA, M.L.P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A.Q. Guia Básico de Educação


Patrimonial. Brasília, IPHAN, Museu Imperial, 1999. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/guia_educacao_patrimonial.pdf.pd
f Acesso em: 14 de julho 2020.

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 56


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9. EDUCAÇÃO EM MUSEUS

Objetivo
Estudar os conceitos e fundamentos para a prática da educação em museus.

9.1. Mediação
Em geral, educação refere-se à implementação dos meios necessários para criar
situações de aprendizagem e desenvolver conhecimentos, ligados a competências e
habilidades, em um grupo ou em alguém. O caráter dessa aprendizagem se manifesta a
partir do que podemos chamar de mediação cultural:

Na museologia, o termo “mediação”, depois de mais de um século, veio a ser


utilizado com frequência, principalmente na França e nos países francófonos
da Europa, onde se fala em “mediação cultural”, “mediação científica” e
“mediador”. O termo designa essencialmente toda uma gama de intervenções
realizadas no contexto museal, com o fim de estabelecer certos pontos de
contato entre aquilo que é exposto (ao olhar) e os significados que estes
objetos e sítios podem portar (o conhecimento). A mediação busca, de certo
modo, favorecer o compartilhamento de experiências vividas entre os
visitantes na sociabilidade da visita, e o aparecimento de referências comuns.
Trata-se, então, de uma estratégia de comunicação com caráter educativo,
que mobiliza as técnicas diversas em torno das coleções expostas, para
fornecer aos visitantes os meios de melhor compreender certas dimensões das
coleções e de compartilhar as apropriações feitas. (DESVALLÉES; MAIRESSE.
2013, pp. pp. 30 - 87)

Desvallées e Mairesse (2013) apresentam a mediação cultural até mesmo como


caminho de autoconhecimento:

Com efeito, pela mediação dá-se o encontro com as obras produzidas por
outros humanos, o que permite que se atinja uma subjetividade tal que
promova autoconhecimento e a compreensão da própria aventura humana
que cada um vive. Tal abordagem faz do museu detentor de testemunhos e
signos da humanidade, um dos lugares por excelência dessa mediação
inevitável que, ao oferecer um contato com o mundo das obras da cultura,
conduz cada um pelo caminho de uma maior compreensão de si e da realidade
por inteiro. (RICŒUR Apud DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. pp. 30 - 87)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 57


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9.2. Educação não formal


Essa mediação se configura na organização dos museus como espaços de
educação não formais. Segundo Falcão (2013) quanto a organização do ensino, a
educação pode ser dividida em três categorias: escola ou educação formal, desenvolvida
na escola; educação informal produzida pelo processo natural e espontâneo de transmissão
da família e de outros espaços sociais; educação não formal, ou seja, prática educacional
estruturada realizada fora das instituições escolares.

(…) educação formal, educação não formal e educação informal. A educação


formal pode ser resumida como aquela que está presente no ensino escolar
institucionalizado, cronologicamente gradual e hierarquicamente estruturado,
e a informal como aquela na qual qualquer pessoa adquire e acumula
conhecimentos, através de experiência diária em casa, no trabalho e no lazer.
A educação não-formal, porém, define-se como qualquer tentativa
educacional organizada e sistemática que, normalmente, se realiza fora dos
quadros do sistema formal de ensino. (BIANCONI; CARUSO Apud FALCÃO,
2013 p. 14 - 21)

A partir de uma perspectiva: de que o museu também é um espaço de educação –


não formal - um dos setores fundamentais é o “Setor Educativo”, em que se organiza o
projeto de educação ligado às propostas do espaço museológico.

Podemos considerar que a educação em um contesto museológico “está ligada à


mobilização de saberes relacionados com o museu, visando ao desenvolvimento e ao
florescimento dos indivíduos, principalmente por meio da integração desses saberes, bem
como pelo desenvolvimento de novas sensibilidades e pela realização de novas
experiências”. (ALLARD; BOUCHER, 1998 Apud DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. pp.
30 - 87). Esses autores abordam a questão a partir do termo pedagogia museal:

“A pedagogia museal é um quadro teórico e metodológico que está a serviço


da elaboração, da implementação e da avaliação de atividades educativas em
um meio museal, atividades estas que têm como objetivo principal a
aprendizagem dos saberes (conhecimentos, habilidades e atitudes) pelo
visitante” (Allard e Boucher, 1998 Apud (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. pp.
30 - 87)

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 58


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Os museus são em princípio, de natureza educacional, desde às suas próprias


origens, porque desde o início foram configurados como espaços de pesquisa e ensino.

Se nos propusermos a estudar a história das ações educativas nos museus


brasileiros, podemos ver que ela engloba desde ações pontuais de caráter
experimental local até estratégias institucionais e políticas setoriais de
abrangência nacional. Trata-se de um campo bastante amplo e muito
diversificado. FALCÃO, 2009. pp. 14 - 21)

E a quem se destina esse processo educativo? Ao público dos museus e das


instituições culturais e ligadas a preservação do patrimônio.

9.3. Público de museus

Como substantivo, a palavra “público” designa o conjunto de usuários do


museu (o público dos museus), mas também, por extrapolação a partir do seu
fim público, o conjunto da população à qual cada estabelecimento se dirige.
Presente em quase todas as definições atuais de museu, a noção de público
(DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 30 - 87)

É no público, a partir das vivências reais experimentadas pelas pessoas, que a


missão do museu se concretiza.

A noção de público associa estreitamente a atividade do museu a seus


usuários, mesmo àqueles que deveriam se beneficiar de seus serviços, embora
não o façam. Os usuários são os visitantes do museu – o público mais amplo –
sobre quem somos levados a pensar em primeiro lugar, esquecendo que eles
nem sempre ocuparam o papel central que o museu lhes confere hoje, porque
existem vários públicos específicos. Lugar de formação artística e território da
“república dos sábios” em sua origem, o museu só se abriu a todos
progressivamente ao longo de sua história. Essa abertura, que conduziu a
equipe do museu a se interessar cada vez mais pelos visitantes, mas

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 59


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igualmente pela população que não frequenta museus, favoreceu a


multiplicação possibilidades de leituras de seus usuários, para os quais se
voltam novas formas de categorias ao longo do tempo: povo, grande público,
público amplo, não-público, público distanciado, impedido ou fragilizado,
utilizadores ou usuários, visitantes, observadores, espectadores,
consumidores, plateia, etc. (DESVALLÉES; MAIRESSE. 2013, pp. 30 - 87)
.

Como consequência os museus têm investido no que é chamado de “formação de


público”, isto é, ações que visam trazer para o museu pessoas que não costumam visitar
esses espaços e estimular a criação de vínculos significativos, com estes.

9.4. Atividades educativas


Entre as atividades que podem ser consideradas educativas, e que compõe o
mosaico de ações que um museu pode organizar, há uma gama bem variada:

Podem ser entendidas como práticas educativas atividades tais como: visitas
“orientadas”, “guiadas”, “monitoradas” ou mesmo “dramatizadas”,
programas de atendimento e preparo dos professores, oficinas, cursos e
conferências, mostras de filmes, vídeos, práticas de leitura, contação de
histórias, exposições itinerantes, além de projetos específicos desenvolvidos
para comemorar determinadas datas e servir de suporte para algumas
exposições. Além dos materiais educativos e informativos editados com a
finalidade de servir a estas práticas, tais como: edição de livros, jogos, guias,
folders e folhetos diversos, folhas de atividades, kits de materiais pedagógicos,
áudio-guide (guia auditivo), aplicativos multimídia, CD-ROM, site institucional
na internet, etc. FALCÃO, 2009. pp. 14 - 21)

É importante atentarmos para as oportunidades de aprendizagem que as ações


educativas em museus podem proporcionar:

Ao oferecer acesso a novas linguagens, tecnologias, conhecimentos e valores,


estimulando a curiosidade dos visitantes, museus e centros culturais são
reconhecidamente instrumentos que favorecem o aprendizado. No entanto, é

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 60


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importante, que se faça uma análise mais atenta sobre o espaço que se
pretende visitar e a maneira como o conteúdo é nele veiculado para que
possamos ter um melhor aproveitamento da visita, tanto por parte dos
professores como pelas escolas. Entendemos, assim, que espaços não formais
de educação podem ser bons aliados, complementando o trabalho escolar.
(FALCÃO, 2009. pp. 14 – 21)

Destaca-se que essas ações são voltadas a aproximar o museu de todas as formas
de público e, para que isso se torne realidade, as situações de aprendizagem precisam ser
significativas para cada um dos públicos: infantil, jovem, especial, terceira idade, do em
torno da instituição, entre outros.

Uma vez que ensinar é bem mais que promover a fixação de termos e
conceitos; é privilegiar situações de aprendizagem que possibilitem ao aluno a
formação de sua bagagem cognitiva, entendemos que as coleções e os
museus, pelas possibilidades que oferecem como base de investigação e
também por sua capacidade de estimular debates e experiências
diferenciadas, constituem-se em um recurso de elevado potencial científico,
político e cultural, e desta forma devem ser usados e aproveitados pelos
professores, alunos, ou seja, pela comunidade escolar como um todo.
(FALCÃO, 2009. pp. 14 – 21)

Ainda segundo o ICOM, os “museus são importantes meios para o intercâmbio


cultural, para o enriquecimento das culturas e para o desenvolvimento do
entendimento mútuo, cooperação e paz entre os povos”. (FALCÃO, 2009. P.
14) e assim sendo tem um importante papel para o desenvolvimento das
sociedades.

CORREA. Durante isolamento, recriação de obras de arte vira fenômeno na


internet. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/blogs/divirta-
se/durante-isolamento-recriacao-de-obras-de-arte-vira-fenomeno-na-
internet/?fbclid=IwAR3DGnREPlxDmvXIzLFn4qO-
BkSgqUCYbeWzCQpqSio22yaJTkZpamnjX1I

Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 61


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DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de Museologia.


Bruno Brulon Soares e Marília Xavier Cury, tradução e comentários. São Paulo:
Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus: Pinacoteca do Estado
de São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013. Disponível em:
http://www.icom.org.br/wp-content/uploads/2014/03/PDF_Conceitos-
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Museus e Patrimônios Históricos e Culturais 62

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