AULA 1 • - Breve história dos museus e colecionismo • - A ressignificação do espaço expositivo • - O curador e sua atuação • - Instruções para realização de um exercício prático • As coleções são apontadas como origens dos museus, sejam elas religiosas ou não. O colecionismo é muito antigo, com uma herança que vem da Pré-História. • Para começar uma coleção, primeiro precisa haver uma preocupação além da utilidade. Essa preocupação talvez tenha começado a surgir há mais ou menos 400-600.000 anos, com fragmentos de ocre vermelho, lascas de ossos, pedras de calcário com incisões intencionais. • No Paleolítico Superior, já havia uma certa divisão entre objetos úteis e aqueles não úteis, aqueles objetos que têm significados. Vale lembrar que as pinturas rupestres são do período Paleolítico, assim como esculturas sobre fertilidade feminina, como a Vênus de Willendorf. • Na Idade dos Metais, por volta de 5.000 a.C, as grandes aldeias crescem e surgem as primeiras cidades, sendo que as que puderam ser denominadas de sociedades urbanas foram as situadas na Mesopotâmia e no Egito. • Na Mesopotâmia surgem os primeiros livros da humanidade, a escrita cuneiforme, e as primeiras bibliotecas, sendo a mais famosa a de Nínive, fundada na época no imperador Assurbanipal, que governou de 668 a 627 a.C. Além das bibliotecas, o colecionismo se mostrava também em atitudes de saques, quando obras eram roubadas de seu lugar de origem. Assurbanipal, por exemplo, tirou do Egito dois obeliscos e 32 esculturas. • Já na chamada Antiguidade Clássica, a Grécia é importante para entender o colecionismo e os museus. A palavra museu vem da Grécia, dos chamados Museions, os Templos das Musas. • Os museus devem os seus nomes aos antigos templos das musas, que os gregos em sua mitologia consideravam "filhas da memória". Isso nos leva a pensar a criação dessas instituições - voltadas para a conservação de acervos históricos, culturais, científicos e artísticos, e para a organização de exposições públicas - como parte de um processo histórico de expansão da memória escrita e iconográfica. Os museus são formados, diz o historiador Jacques Le Goff (1924-2014), no bojo de um movimento de expansão da memória, com o qual contribuem as enciclopédias, os dicionários, as bibliotecas e os arquivos. • Desde a Idade Média, a aristocracia e a Igreja são as grandes responsáveis pela organização de coleções, que estão na origem dos museus. A partir da segunda metade do século XIV, formam-se novos grupos sociais definidos em função do monopólio de conhecimentos e capacidades específicos: os humanistas, os antiquários, os artistas e os cientistas. Com eles, surgem novos locais em que se formam coleções: as bibliotecas e gabinetes. Da expansão das viagens ultramarinas a partir do século XV, por sua vez, resultam objetos variados - tecidos, porcelanas, pedras, conchas etc. - que se acumulam nos "gabinetes de curiosidades" de príncipes e sábios. • Se até o século XVIII, a maior parte da população não tem acesso às coleções particulares - com exceção dos acervos da Igreja -, a partir de então verifica-se a criação de fundos públicos; primeiro as bibliotecas, em seguida os museus. Ao contrário das coleções particulares, os museus têm caráter público e permanente. Sua criação, de modo geral, coincide com doações e compra de coleções particulares pelo Estado, ou se relaciona de perto com a nacionalização das antigas propriedades reais, nobiliárias ou eclesiásticas. • Vale lembrar que as fundações sem fins lucrativos estão na origem dos grandes museus americanos. Ao contrário do que se passa com as coleções privadas, nos museus, as autoridades públicas ou a coletividade assumem as despesas com a organização e conservação de acervos, bem como os custos com exposições e mostras. O uso de um espaço designado como galeria para conservar obras de arte se difunde em fins do século XVI, conhecendo amplo desenvolvimento nos séculos posteriores. • Exemplo precoce da exposição de coleções em galerias é o Palácio de Uffizi (1581), em Florença, e a criação da Tribuna de Buontalenti (1585), projetada em função das obras exibidas. O primeiro museu de que se tem notícia é fundado quando Elias Ashmole (1617-1692) doa suas coleções para a Universidade de Oxford, que se tornam acessíveis em 1683. O núcleo do Ashmolean Museum, primeiro museu público da Grã-Bretanha, é formado pelo "gabinete de raridades" do viajante e jardineiro John Tradescant (1608-1662). Em 1734, é criado em Roma o Museu Capitolino, uma fundação do papa. Em 1743, as coleções dos Médici são oferecidas ao estado da Toscana. Em 1753, é inaugurado o British Museum pelo Parlamento britânico. • Tentativas de disponibilizar grandes coleções e acervos ao público verificam-se ao longo do século XVIII por toda a Europa: o Ermitage em São Petesburgo (1764), o Museu Clementino do Vaticano (1773), o Museo del Prado, em Madri (1785). Nesse contexto, a criação do Museu do Louvre, em Paris, é exemplar, oferecendo um modelo de acervo público e de democratização de acesso aos tesouros culturais, até então bem mais restritos. Com uma história que remonta ao ano de 1190, quando é construído o primeiro edifício, o Louvre passa por várias remodelações até que com Luís XVI (1754-1793) tem início a transformação da grande galeria em museu. • Como um dos resultados do processo deflagrado pela Revolução Francesa de 1789 - e do espírito de democratização que a acompanha -, o Louvre é inaugurado em 1793 como a primeira galeria pública nacional. Em 1803, Napoleão rebatiza o museu como Musée Napoleón, expondo ali as obras conseguidas nos territórios conquistados (a maior parte delas devolvida após a deposição do imperador). O Louvre é reaberto por Napoleão III (1808- 1873) em 1851, concebido como uma coleção de arte europeia. Em 1818, com a criação do Palácio de Luxemburgo, destinado à arte francesa contemporânea, o acervo francês e a arte internacional são transferidas para o Louvre. • O século XIX conhece o apogeu dessas instituições, sendo frequente designar o período compreendido entre fins do século XIX e meados da década de 1920 como a "era dos museus". Diversos museus são criados na Europa nessa época: Museu de Versailles (1833), Museu de Cluny e o Museu Saint-Germain (ambos fundados por Napoleão em 1862), o Museu de antiguidades nacionais de Berlim (1830), o Museu Nacional de Bargello, Florença, 1859, o Kunsthistoriches Museum, em Viena (1891), entre outros. O museu vienense se destaca por reunir - em um edifício em estilo renascentista, especialmente construído para esse fim - grande parte das coleções imperiais dos Habsburgos. • A marca distintiva da museologia do século XIX é a especialização dos museus e, fundamentalmente, a separação entre "beleza" e "instrução", que resulta na criação de museus que lidam com artefatos científicos - os museus de história natural - e os que lidam com objetos estéticos, os museus de arte. • Nota-se também a emergência de museus de artes decorativas e aplicadas e a forte inclinação didática dessas instituições, pensadas em estreita relação com as escolas de arte. • No correr do século XX, os museus conhecem novas especializações. São criados, por exemplo, museus especificamente dedicados à arte do século XIX (o Musée d'Orsay, em 1986, voltado para a arte da segunda metade do século XIX), outros dirigidos à arte moderna e à arte contemporânea (por exemplo, The Museum of Modern Art, MoMA, 1929 e o Whitney Museum of American Art, 1931, ambos em Nova York). Além disso, museus organizados em torno de um artista se sucedem: o Museu Picasso de Barcelona (1963) e o Museu Van Gogh em Amsterdã (1973), entre muitos outros. Brasil • A história da criação de museus de arte no Brasil remonta à fundação da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), no Rio de Janeiro, em 1826, responsável pela organização de exposições, conservação de patrimônio, criação de pinacotecas e coleções. As Exposições Gerais de Belas Artes, implantadas em 1840, no interior da Aiba - como mostras anuais periódicas, abertas a todos os interessados - evidenciam o papel da Academia como local público de exposições. Já na República, é criado o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), subordinado ao Ministério de Educação e Cultura, por meio de decreto datado de janeiro de 1937. O edifício, projetado por Adolfo Morales de los Rios Filho (1887-1973), é construído entre 1906 e 1908 para abrigar a Escola Nacional de Belas Artes (Enba). • Com a criação do MNBA separam-se os espaços de ensino (a escola) e os de conservação e exposição de obras de arte (o museu). O acervo do MNBA tem origem nas 54 obras trazidas ao Brasil por Joachim Lebreton (1760-1819), chefe da Missão Artística Francesa de 1816, sendo ampliado pela coleção pessoal de D. João VI (1767-1826) e pelo acervo da Aiba. Será apenas em meados do século XX que os mais importantes museus de arte brasileiros serão criados. • O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) é fundado em 1947 por Assis Chateaubriand (1892-1968). Funciona no centro da cidade - rua Sete de abril - até 1968, quando é transferido para o atual edifício da Avenida Paulista, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi (1915- 1992). O seu acervo é um dos mais importantes da América Latina. Nesse mesmo período são inaugurados museus dedicados à arte moderna. O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), fundado em 1948 pelo empresário Ciccillo Matarazzo (1892-1977), é inaugurado em 1951 com a exposição "Do figurativismo ao abstracionismo". Em 1948 é fundado no Rio de Janeiro o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), considerado de utilidade pública pelo governo federal em 1954. O curador • O curador de arte é a peça-chave de toda exposição. Do latim “tutor”, a palavra curador é definida como alguém que zela por algo. No entanto, no cenário artístico, essa expressão remete a um significado muito mais importante. Afinal, esse profissional faz com que as obras dos artistas apresentem relevância e consigam ser assimiladas por seu público. • O papel do curador de arte abrange mais atividades do que muita gente imagina. Isso porque, além de ser o responsável pela concepção das peças de uma mostra, ele também desenvolve e gerencia a exposição. Esse profissional também atua na produção e revisão do registro da mostra. • A figura do curador de arte evoluiu muito nos últimos anos, principalmente a partir da década de 60. Uma prova disso é que muitos desses profissionais não apresentam vínculos com os lugares em que trabalham. Assim, atuam de forma mais independente. • O curador de arte é alguém que cuida, seleciona, organiza e exibe uma mostra. Esse processo engloba tanto a concepção da exposição como a sua administração. Dessa forma, o papel do curador abrange muitas atividades e é ele que decide como o orçamento será orientado e quais trabalhos serão expostos. • O curador de arte também precisa saber interpretar as obras e conseguir transmitir a ideia do artista para seu público. Dessa forma, oferece diferentes possibilidades de leitura para seus espectadores. Porém, ao mesmo tempo, deve cuidar para que o contexto e a intenção do artista sejam preservados. • Além de proporcionar diferentes leituras, o curador também deve compreender e acompanhar o conceito do artista e, assim, oferecer a ele um olhar diferente e apurado sobre o seu trabalho. • O curador de arte seleciona, organiza e exibe as obras de arte. Nesse cenário, ele administra, identifica e registra itens. No entanto, muito mais do que selecionar e exibir, esse profissional deve saber contextualizar a proposta da exposição, dialogando com o espaço que a exibirá, com o artista e o público. • Essa figura também atua na montagem da mostra, elencando suas peças e as preservando. Além disso, gerencia a apresentação e a divulgação das exposições. • Outras responsabilidades típicas dos curadores incluem: • desenvolver e organizar novas coleções; • pesquisar, negociar preços e adquirir itens; • manter os catálogos atualizados e registrados; • entrevistar, contratar e treinar funcionários; • assegurar a preservação das obras; • coletar doações. • Vale destacar que o papel do curador e suas atividades variam de acordo com a instituição que ele representa. Ou seja, se trabalhar em uma pequena galeria, ele pode ser o responsável pela maioria das tomadas de decisão. Porém, caso atue em um grande museu, é possível que existam vários outros curadores. Assim, sua função poderá ser determinada de acordo com sua especialização ou projeto específico. Repertório cultural • antropologia; • arqueologia; • arte; • história da arte; • administração de artes; • gestão de eventos/exposições; • história. • Frequentar eventos culturais Experiência • se voluntariar para trabalhar em um museu; • candidatar-se a estágios em galerias e outras instituições que trabalhem com arte; • trabalhar meio-período em diferentes, mas importantes áreas, como a comercial; • construir uma rede de contatos. Proposta de Exercício Erika & Javier O Peso da Memória 2007 Impressão digital em vinil 315 x 210 cm