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Filosofia e Educação: da antítese a síntese

            Ao analisarmos o contexto da educação brasileira, não é novidade, como nos diz Da Silva [1], ouvir a
expressão “crise da educação”. Numerosos estudiosos, principalmente a partir da década de 1980, procuraram
diagnosticar essa crise, sendo que, hoje, existe um certo consenso ao se afirmar que essa crise, mais do que
ao seu aspecto econômico, é devida, principalmente, à qualidade da educação, em si mesma [2].

             O boom das “tecnologias cibernéticas informo-comunicacionais”, segundo alguns pensadores [3],


seriam os responsáveis, ainda de acordo com estes, por minar a base da educação e da cultura clássicas, em
que estava baseada a cultura ocidental. Isso levaria a uma série de consequências, sendo que a mais grave
delas é a explicitada pelo crítico americano Harold Bloom, ao questionar [4]: “nos dias de hoje, a informação é
facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria ?”
           
Porém, deve ser dito que a principal causa daquilo a que nós podemos chamar de crise da Educação é, na
verdade, a crise da Filosofia.

            Com efeito, Rorty[5] afirma que a Filosofia, no âmbito da Educação é importante porque:  1) é relevante
para as decisões de política educativa, no sentido de que boa parte das atuais questões polemicas de política
educativa retomam questões polemicas clássicas de filosofia da educação, que as pode clarificar e enquadrar,
e, logo, propiciar uma melhor decisão; 2) nos leva a conhecer e investigar as  implicações pedagógicas das
diversas  teorias filosóficas formuladas e defendidas por pensadores das mais diversas épocas e tendências.

Logo, como afirma Duarte[6], não existe Educação sem uma relação com a Filosofia. Isso porque respiramos e
vivenciamos Filosofia no nosso dia a dia, que se manifesta através da nossa visão de vida, do exercício dos
nossos valores e dos nossos processos hermenêuticos, de atribuir e descobrir significados.

Educar, de um lado, é conduzir, orientar (agein) o pais, ou o educo, procurando o desenvolvimento harmonioso


do que Aristóteles e Santo Tomás de Aquino chamavam de potencialidades do ser humano. A filosofia, por outro
lado, tende a despertar o senso crítico e, conseqüentemente, auxiliar a construir uma nova visão de sociedade.

Porém, o objetivo da educação vai sempre de acordo com a época e, principalmente, com a corrente filosófica
adotada. Por exemplo: apenas poucos dos atuais críticos de nosso modelo educacional, baseado na
instrumentalização, na especialização e na separação dos saberes, têm consciência de que tal concepção
educacional é, na verdade, resultado da aplicação dos princípios filosóficos positivistas, na alvorada da
republica brasileira. E, por outro lado, o modelo educacional centrado na interdisciplinaridade, é produto de uma
outra concepção filosófica, atrelada, principalmente, com a escola francesa e em Edgar Morin.

Toda essa mudança - e por isso nossa compreensão em relação a ela é importante - deve levar em conta o
bom senso na adoção de uma visão de educação, que, ao mesmo tempo, deve procurar aproveitar tudo de bom
que existe nas outras correntes filosóficas.

Ademais, de acordo com Amorim[7] nos artigos 35 e 36 da Lei 9.394/96, da Lei das Diretrizes e Bases da
Educação, se reafirma a importância da Filosofia na formação cidadã, pois a Filosofia, além de intencionar a
busca do Verdadeiro, do Belo e do Bom, nasce também com a vocação de buscar a “totalidade através de uma
interdisciplinaridade”, intencionando compreender a sociedade e seus mecanismos. E, por último, afirmamos,
com Thomas[8], que, algumas idéias propostas pelos primeiros filósofos estão presentes e vividos, ainda hoje,
dentro da Educação.

Em conseqüência do que foi exposto, uma especialização em “Filosofia e Educação” se justifica pelos seus
objetivos, a saber: 1) a necessidade de se dá uma visão mais aprofundada acerca da Educação e de sua
problemática, levando em conta as concepções filosóficas em relação às quais podem e devem estar
fundamentadas. Essas concepções são: os aspectos epistemológicos, éticos, históricos, antropológicos,
hermenêuticos, críticos, psicológicos, estéticos e de concepção sobre o corpo humano; 2) fazer com quem os
pós-graduandos se inteirem dos problemas filosóficos propriamente ditos, inicialmente, os problemas clássicos,
e, depois, como essa problemática pode ser aplicada na educação; 3) desenvolver o senso crítico afim de ser
uma alavancagem para todo o processo pedagógico e de formação dos educandos.
Fazemos nossas as palavras de Merleau-Ponty[9], para quem o papel da Filosofia na Educação é o de
estabelecer a situação de dialogo, através do que ele chama de uma mediação infinita, em que o educando
toma consciência, dentro do tempo, dentro do espaço e dentro da sociedade, para que, como afirma Husserl, se
estabeleça uma última subjetividade, aquilo que os filósofos chamam de “subjetividade transcendental” que é,
em si, a própria intersubjetividade.

Com isso, o objetivo final de toda a Filosofia e toda Educação é buscar a melhor referencia educacional,
buscando a vanguarda das transformações, sem perda de valor e qualidade, aprimorando as relações com as
pessoas e a comunidade a quem estiver servindo, cumprindo com dedicação a responsabilidade pedagógica.
Isso para, através da busca de um adequado sistema pedagógico, desenvolver as potencialidades do educando
para que se torne uma personalidade bem estruturada, criativa, que dialoga com o mundo contemporâneo, em
busca da Sabedoria, mas, preparada, principalmente, para o AMOR [10].

[1] http://www.ieps.org.br/ARTIGO-FILOSOFIA.pdf, acessado em 24/02/2011


[2] DA SILVA, op.cit
[3] vide MARCONDES FILHO, Ciro. Super Ciber e LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência.
[4] BLOOM, 2001, p. 15

[5] apud CUNHA http://criticanarede.com/html/ens_filedu.html, acessado em 24/02/2011
[6] http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/401105, acessado em 24/02/2011
[7] http://www.uniesp.edu.br/revista/revista7/pdf/12_da_filosofia.pdf
[8] http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/a-importancia-da-filosofia-para-a-ducacao.-8374/artigo/
[9] apud  REBOUÇAS, p. 151
[10] REBOUÇAS, p. 150-151

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